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Benjamin Breen
Introdução
187 Existem evidências emergentes mas cada vez mais sólidas a respeito dos contatos entre os
marinheiros pré-colombianos oriundos do Pacífico e o litoral Oeste da América do Sul, assim
como um bem-atestado (ainda que curto) período de contato entre os nórdicos e os povos do
atual Canadá. Ver Andrew Lawler, “Epic pre-Columbian voyage suggested by genes”, in Science
346.6208 (2014) e Antonio Arnaiz-Villena et al., “Pacific Islanders and Amerindian relatedness
according to HLA autosomal genes”, in International Journal of Modern Anthropology 1.7 (2015),
pp. 44-67; Annete Kolodny, In Search of the First Contact: The Vikings of Vinland, the Peoples of the
Dawnland, and the Anglo-American Anxiety of Discovery. Durham, NC: Duke University Press,
2012. Entretanto, talvez por causa de suas durações relativamente curtas, nenhum destes conta-
tos pré-colombianos entre o Novo e o Velho Mundos parece ter levado à pandemia global e ao
trânsito de longa distância de flora e fauna que caracterizou a era pós-columbiana.
188 Com a notável exceção da galinha e do inhame, que parecem ter sido carregados em dire-
ção ao Leste por navegadores pré-colombianos através do Pacífico. Cf. Terry Jones, Polynesians
in America: Pre-Columbian Contacts with the New World. London: AltaMira Press, 2011. Existe
alguma evidência de uma transmissão do coco das Filipinas ao Panamá no século XVI, porém
não se sabe se isso resultou de contatos pré-colombianos pelo Pacífico ou das primeiras nave-
gações ibéricas; ver Charles R. Clement et. Al, “Coconuts in the Americas”, in The Botanical
Review 79.3 (2013), pp. 342-370.
189 Alfred Crosby, The Columbian Exchange: Biological and Cultural Consequences of 1492. Santa
Barbara: Greenwood Press, 1972.
As Américas na Primeira Modernidade (1492-1750) 245
interoceânicas dos séculos XVI, XVII e XVIII emergem como o prin-
cípio de uma extensa – e contínua – globalização de plantas, animais,
germes e pessoas. Não é coincidência que quando os cientistas contem-
porâneos debatem o alvorecer do antropoceno – uma nova era geológica
de mudança ecológica induzida pelos humanos – eles apontam para um
conjunto de transformações que se originaram nos três séculos que se
seguiram às viagens de Cristóvão Colombo e Vasco da Gama.190
Esta, ao menos, é a perspectiva épica que ganhou crédito nas
histórias ambientais recentes do mundo da primeira modernidade.
Os trabalhos que fundaram este campo são The Columbian Exchange
(1972) e Ecological Imperialism (1986), de Alfred Crosby, nos quais o
historiador da Universidade do Texas retratou a narrativa familiar da
expansão europeia sobre o pano de fundo mais amplo da transforma-
ção ecológica, da transmissão epidêmica de doenças e das mudanças
nas relações homem-animal.191 The Columbian Exchange, publicado pela
pequena Greenwood Press após um prolongado período de dificuldade
em encontrar um editor, necessitou de muitos anos para emergir como
o texto fundador pelo qual nós o conhecemos hoje.192 As primeiras re-
censões foram escassas, indo de avaliações positivas até qualificações que
não eram tão amistosas.193 Nas últimas duas décadas, contudo, a tese de
Crosby se inseriu fortemente tanto na produção historiográfica quan-
to na imaginação pública, especialmente via popularizações como a de
Jared Diamond, Guns, Germs and Steel (1999), e ambiciosos panoramas
como o de John F. Richard, The Unending Frontier (2006).194
190 Simon L. Lewis; Mark A. Maslin, “Defining the Anthropocene”, in Nature, 519 (March,
2015), pp. 171-180.
191 Alfred Crosby, Columbian Exchange e Ecological Imperialism: The Biological Expansion of
Europe, 900-1900. Cambridge: Cambridge University Press, 1986 (edição brasileira em Impe-
ralismo ecológico: a expansão biológica da Europa, 900-1900. São Paulo: Companhia das Letras,
1993, reedição pela Companhia de Bolsa em 2011). Para uma visão ampla de trabalhos mais
recentes acerca do intercâmbio colombiano, ver Nicole Boivin et al., “Old World globalization
and the Columbian exchange: comparison and constrast”, in World Archaeology, vol. 44, nº 3,
setembro de 2012, pp. 452-469.
192 William McNeil, “Forward”, in Alfred Crosby, The Columbian Exchange: Biological and
Cultural Consequences of 1492. Westport, CT: Praeger, 2003, p. IX.
193 Por exemplo, a resenha por Richard S. Dunn em The Journal of American History, vol. 60, nº 2,
setembro de 1973, pp. 420-422 notou que Crosby “não fez nenhuma pesquisa original” e tinha uma
preferência por “simplificações” onde “um tratamento mais preciso e detalhado” era necessário. A
resenha de Edward E. Berry em The American Historical Review, vol. 80, nº 1, fevereiro de 1975, p.
67 também notou que “uma certa quantidade de generalizações ingênuas são questionáveis”.
194 Jared M. Diamond, Guns, Germsn, and Steel: The Fates of Human Societies. New York: W. W.
Norton, 1999 (edição brasileira Armas, germes e aço. Rio de Janeiro: Record, 2001); Charles C.
246 As Américas na Primeira Modernidade (1492-1750)
A fascinação popular e científica com essas trocas na primei-
ra modernidade deriva em parte do interesse intelectual inerente das
questões que elas provocam. Como os tomates, a pimenta, o milho ou
o tabaco, todos provenientes do Novo Mundo, se adaptaram às culi-
nárias e ao modo de vida do Velho Mundo?195 A sífilis realmente foi
transmitida da Mesoamérica à Europa na época de Carlos V?196 O que
os nativos americanos pensavam a respeito dos animais afro-eurasianos
domesticados?197 Mas, além disso, a história ambiental do mundo atlân-
tico também ajuda a compreender duas das mais colossais catástrofes da
história humana recente. A primeira é a impenetrável tragédia ocasio-
nada pelas mortes de dezenas de milhões de nativos americanos devido
a doenças infeciosas como a gripe, o sarampo e a varíola, contra as quais
os indígenas não possuíam resistência.198 A segunda é a contínua di-
minuição da biodiversidade global, a qual muitos ecologias identificam
agora como a maior extinção em massa desde o desaparecimento dos
dinossauros há 65 milhões de anos.199 Ao conectar os estudos acerca da
história do período colonial a preocupações contemporâneas a respeito
tanto da sobrevivência de culturas não-ocidentais quanto da preservação
da biodiversidade restante no planeta, o estudo do intercâmbio colombia-
no emergiu como uma das mais dinâmicas subáreas da historiografia. O
objetivo deste capítulo é destacar a ampla gama de interesses e métodos
Mann, 1491: New Revelations of the Americas Before Columbus. New York: Knopf, 2005; John F.
Richards, The Unending Frontier: An Environmental History of the Early Modern World. Berkeley/
Los Angeles: University of California Press, 2006.
195 Rachel Laudan, Cuisine and Empire: Cooking in World History. Berkeley/Los Angeles: Uni-
versity of California Press, 2013.
196 Kristin N. Harper et. Al, “The origin and antiquity of syphilis revisited: an appraisal of
Old World pre-Columbian evidence for treponemal infection”, in American Journal of Physical
Anthropology 146.S53, 2011, pp. 99-133.
197 Virginia DeJohn Anderson, “King Philip’s Herds: Indians, Colonists, and the Problema of
Livestock in Early New England”, in The William and Mary Quarterly, Third Series, vol. 51, nº
4, outubro de 1994, e, da mesma autora, Creatures of Empire: How Domestic Animals Transformed
Early America. Oxford: Oxford University Press, 2004.
198 O autor usa a expressão “’virgin-soil’ epidemic diseases”, conceito cunhado por Alfred
Crosby em seu The Columbian Exchange para se referir justamente a epidemias de doenças com
as quais a população afetada não teve nenhum contato prévio e, portanto, estão indefesas em
termos imunológicos. A opção pela paráfrase adotada aqui não altera o sentido da frase, mas
torna-se interesse ao leitor saber que Benjamin Breen está se referindo a um conceito específico
originado do livro que inicia sua área de estudos [N.T.].
199 Anthony D. Barnosky et al., “Has the Earth’s sixth mass extinction already arrived?”, in
Nature 471.7336, 2011, pp. 51-57.
As Américas na Primeira Modernidade (1492-1750) 247
que convergem atualmente na história ambiental do mundo atlântico.
A primeira seção examinará novas abordagens que “descentralizam” a
formulação inicial de Crosby, enquanto a segunda e a terceira seções
considerarão o papel complementar de animais e doenças, assim como
a interpenetração entre as histórias da religião, da ciência e da medicina.
Na conclusão, exporei algumas observações a respeito de para onde o
campo pode estar indo no futuro.
200 Alfred W. Crosby, Ecological Imperialism: The Biological Expansion of Europe, 900-1900.
Cambridge: Cambridge University Press, 1986, p. 131. A importância da tecnologia das “armas
e velas” foi explorada em grande detalhe pelo economista italiano Carlo M. Cipolla em seu
Guns, Sails, and Empires: Technological Innovation and the Early Phases of European Expansion,
1400-1700. New York: Pantheon Books, 1966.
248 As Américas na Primeira Modernidade (1492-1750)
perspectivas europeias. Em geral, as primeiras histórias ambientais do
mundo atlântico, como os trabalhos de Crosby e o influente livro de
William Cronon, Changes in the Land, procuravam colocar uma nova
pátina, ecologicamente centrada, na narrativa familiar da imigração bri-
tânica na América.
Mais recentemente, Judith Carney contestou a ênfase de
Crosby em atores europeus ao destacar a importância de cultivos e do
conhecimento natural africano.201 A ênfase de Carney nas histórias pro-
fundas da agricultura africana subsaariana coloca o intercâmbio colom-
biano sob uma nova luz: ao invés de conceber o encontro pós-colombia-
no entre cultivos europeus, ameríndios e africanos como uma imposição
feita por sujeitos europeus móveis sobre populações indígenas estáticas,
“tradicionais”, Carney demonstra como os agricultores e curandeiros
africanos moldaram ativamente a construção de uma esfera ecológica
híbrida na bacia Atlântica. Este não era um novo processo iniciado pe-
los europeus, mas uma elaboração e uma expansão de um padrão de
deslocamento de longa distância de biota202 e conhecimento natural que
já ocorria dentro da África há milhares de anos. Há até mesmo “quatro
mil anos atrás”, Carney e Rosamoff afirmam, “plantas alimentícias afri-
canas estavam em movimento”.203 Enquanto o primeiro livro de Carney,
Black Rice, traçou o caminho da transmissão de um único cultivo (Oryzo
glaberrima) da África Ocidental às depressões da Carolina do Sul, In
the Shadow of Slavery oferece um panorama muito mais extenso da glo-
balização de um jardim repleto de cultivos africanos.204 Estes incluem
tudo indo do painço (Brachiaria deflexa), melancia (Citrullus lanatus),
sésamo (Sesamum alatum), sorgo (Sorghum bicolor), pimenta malague-
ta (Afromomum melegueta), café (Coffea robusta), inhame (Dioscorea
rotundata), quiabo (Hibiscus esculentus) até o todo-poderoso algodão
(Gossypium herbaceum).
Historiadores da ciência e da medicina também reformularam
o modelo de Crosby. Como notou Paula de Vos, a busca por novos tem-
peros e plantas curativas americanas trouxe “um tipo muito particular
201 Judith Carney com Richard Nicholas Rosamoff, In The Shadow of Slavery: Africa’s Botanical
Legacy in the Atlantic World. Berkeley: University of California Press, 2010.
202 Biota se refere ao conjunto de todos os seres vivos de um determinado local ou período [N.T.].
203 Carney; Rosamoff, Shadow of Slavery, 2010, p. 1.
204 Judith Carney, Black Rice: The African Origins of Rice Cultivation in the Americas. Cambri-
dge, Mass.: Harvard University Press, 2001.
As Américas na Primeira Modernidade (1492-1750) 249
de agência humana e padrão de intenções ao intercâmbio colombiano”
que os trabalhos de Crosby em larga medida ignoraram. Ainda que a
compreensão dos deslocamentos ecológicos exija pensar numa escala
global, também é necessário atenção a contextos altamente específicos:
um bando de agentes imperiais procurando novas fontes de riqueza para
dar conta dos hábitos de gastança de seus monarcas, por exemplo, ou um
curandeiro africano trazendo um requisitado medicamento através da
Passagem do Meio,205 ou os ecléticos hábitos de coleção de um filósofo
natural ávido por coletar curiosidades exóticas.206
O intercâmbio colombiano, em suma, foi uma processo multilo-
cal e que envolveu uma gama de sujeitos agindo a partir de propósitos
cruzados e motivos altamente individuais. Estudos recentes têm abor-
dado desde xamãs indígenas americanos e guias para escravos africanos
até curandeiros como Domingos Álvares, o feiticeiro207 cujas estadas em
Brasil e em Portugal foram narradas por James Sweet.208 Estes traba-
lhos enfatizam as maneiras através das quais sociedades hibridizadas
como aquelas das lavouras brasileiras ou os portos da costa africana re-
pensaram o papel de novos cultivos agrícolas, do conhecimento natural
e de seu consumo para se enquadrar em padrões culturais, climáticos
e sociais locais.209 Recentralizar a hipótese do intercâmbio colombia-
no implica em se afastar da América britânica enquanto modelo nor-
mativo,210 mas isso também significa prestar maior atenção a contextos
culturais e epistemológicos específicos que moldaram as relações das
pessoas na primeira modernidade com relação à natureza. Ao abordar as
cosmologias dos africanos escravizados e das populações indígenas ca-
205 Passagem do Meio traduz a expressão inglesa Middle Passage, que se refere à parte mais
dificultosa do trajeto que levava os escravos da África à América [N.T.].
206 Paula de Vos, “The Science of Spices: Empiricism and Economic Botany in the Early
Spanish Empire”, in Journal of World History, 17, nº 4, dezembro de 2006.
207 Em itálico no original [N.T.].
208 James H. Sweet, Domingos Álvares, African Healing, and the Intellectual History of the Atlan-
tic World. Chapel Hill, NC: University of North Carolina Press, 2011; Alida C. Metcalf, Go-Be-
tweens and the Colonization of Brazil 1500-1600. Austin: University of Texas Press, 2005.
209 Elinor G. K. Melville, “Land Use and the Transformation of the Environment”, in Victor
Bulmer-Thomas et al (eds.), The Cambridge Economic History of Latin America, vol. 1. Cambridge:
Cambridge University Press, 2006, p. 125. Sobre as “neo-Áfricas” ver também James Belich,
Replenishing the Earth: the Settler revolution and the Rise of the Anglo-World, 1783-1939. Oxford:
Oxford University Press, 2009, pp. 25-27 e Carney e Rosamoff, In The Shadow of Slavery.
210 Jorge Cañizares-Esguerra; Benjamin Breen, “Hybrid Atlantics: Future Directions for the
History of the Atlantic World”, in History Compass, 11.8, 2013, pp. 597-609.
250 As Américas na Primeira Modernidade (1492-1750)
ribenhas em seus próprios termos, por exemplo, Susan Scott Parish, em
seu American Curiosity: Cultures of Natural History in the Colonial British
Atlantic World (2006), questionou como epistemologias não-cristãs in-
fluenciaram a transmissão do conhecimento natural no mundo atlânti-
co.211 Se estudarmos as relações mais amplas entre homens e a natureza
nos locais de contestação dos impérios europeus, sugere Parish, o que
encontraremos não será a imposição de uma “racionalidade” europeia
sobre a “espiritualidade” indígena, mas uma complexa hibridização entre
cosmologias e conhecimento natural.212 Nature, Empire and Nation, de
Jorge Cañizares-Esguerra, explorou temas similares colocando a ênfase
em como tipologias religiosas influenciaram as concepções criollas da
natureza no Novo Mundo.213 Outros estudiosos têm explorado o papel
da violência na história ambiental, chamando a atenção para a termino-
logia relativamente abstrata empregada frequentemente para descrever
as mudanças ambientais do mundo atlântico – “encontros”, “intercâm-
bios, “trocas” e “hibridização” – tendem a “diminuir os aspectos muitas
vezes atrozes da violência no intercâmbio colombiano”.214
Além de historiadores que enfatizam as particularidades e as
agências locais, outros pesquisadores têm sublinhado que a bacia atlân-
tica é um âmbito demasiadamente reduzido para compreender a mu-
dança ecológica: seria necessária uma visão global. Estudiosos como
211 Susan Scott Parish, American Curiosity: Cultures of Natural History in the Colonial British
Atlantic World. Chapel Hill, NC: University of North Carolina Press, 2006. Em seu ensaio
“Diasporic African Sources of Enlightenment Knowledge”, in James Delbourgo; Nicholas Dew
(eds.), Science and Empire in the Atlantic World. London: Routledge, 2007, a autora situa as cren-
ças a respeito das “potências máginas do mundo natural” no contexto de um contínuo “embate
epistemológico” entre as diferentes tradições de conhecimento – europeia, africana e indígena
– nas Américas, uma perspectiva que eu considero proveitosa para minha própria pesquisa.
212 Outros trabalhos que seguem por linhas parecidas observaram a relação entre os curan-
deiros escravos e a natureza. Muitos destes trabalhos se centraram no caribe francês e britânico;
ver Karol K. Weaver, Medical Revolutionaries: The Enslaved Healers of Eighteenth Century Saint
Domingue. Champaign: University of Illinois Press, 2006; Juanita de Barros, “’Setting Things
Right’: Medicine and Magic in British Guiana, 1803-1838”, in Slavery and Abolition, 25:1,
April 2004; Christiane Bougerol, “Medical Practices in the French West Indies: Master and
Slave in the 17th and 18th centuries” in History and Anthropology, 2, 1985. Para uma fonte primá-
ria escriva por um escravo que descreve rituais de cura, ver a tradução feita por Miguel Bartnet
das memórias do escravo cubano Esteban Montejo, Biography of a Runaway Slave. Evanston,
CT: Curbstone Press, 1997.
213 Jorge Cañizares-Esguerra, Nature, Empire and Nation. Explorations of the History of Science
in the Iberian World. Stanford: Stanford University Press, 2006, p. 24 [N.T.].
214 Brian Sandberg, “Beyond Encounters: Religion, Ethnicity, and Violence in the Early Mo-
dern Atlantic World, 1492-1700”, in Journal of World History, vol. 17, nº 1, março de 2006, p. 2.
As Américas na Primeira Modernidade (1492-1750) 251
Kris Lane, J. R. McNeil, Molly Warsh, Sanjay Subrahmanyam e Jan
de Vries e outros têm traçado as redes de intercâmbios comerciais, ma-
teriais e econômicos de certas mercadorias-chave do período como o
açúcar, o chocolate, o tabaco, a cochonilha e o café (assim como para do-
enças como a malária e a febre amarela) que se afastam da esfera atlân-
tica em direção a locais como o Sudeste asiático, a Índia e o Pacífico.215
Entretanto, para obter uma perspectiva realmente global, estas histórias
precisam se restringir ao estudo da circulação de uma única mercadoria
ou apenas um objeto.216 Rachel Herrmann apontou que a tendência de
muitos destes estudos em escolher apenas um alimento ou mercadoria
pode ter o efeito de obscurecer os contextos culturais, políticos e ma-
teriais em que eles estavam inseridos.217 O trabalho recente de David
Hancock a respeito do comércio de vinho Madeira pode indicar um ca-
minho produtivo para futuros desenvolvimentos na área. Seu Oceans of
Wine aprimora os estudos acerca dos padrões de produção, distribuição
e consumo de uma única substância – o vinho – mas ainda assim mapeia
como a circulação de uma mercadoria específica afetou as formações
sociais e materiais mais amplas, como o design dos artigos em vidro
e a performance masculinidade nos banquetes setecentistas. Hancock
também conecta fatores ambientais a mudanças culturais, mostrando
como a cambiante ecologia das ilhas atlântica portuguesas influenciou
215 Kris Lane, Color of Paradise: the Emerald in the Age of Gunpowder Empires. New Haven:
Yale University Press, 2010; Molly Warsh, American Baroque: Pearls and the Nature of Empi-
re, 1492-1700 (no prelo); Sanjay Subrahmanyam, Courtly Encounters: Translating Courtliness
and Violence in Early Modern Eurasia. Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 2010; J.R.
McNeill, Mosquito Empires: Ecology and War in the Greater Caribbean, 1620-1914. Cambridge:
Cambridge University Press, 2010; Jan de Vries, “The Limits of Globalization in the Early
Modern World”, in Economic History Review, 63 (3), 2010, pp. 710-733; Matthew Sargent, The
birth of globalization: cross-cultural knowledge transfers along European-Asian trade routes
and the rise of the multinational corporation (1250-1750). Berkeley: University of California,
Berkeley, 2013, PhD Dissertation. Ver também Stuart B. Schwartz (ed.), Tropical Babylons: Su-
gar and the Making of the Atlantic World, 1450-1680. Chapel Hill: University of North Carolina
Press, 2004; Marcy Norton, Sacred Gifts, Profane Pleasures: A History of Tobacco and Chocolate
in the Atlantic World. Ithaca: Cornell University Press, 2008; Amy Butler Greenfield, A Perfect
Red: Empire, Espionage, and the Quest for the Color of Desire. New York: Harper Perennial, 2006;
Michelle Craig McDonald, “The Chance of the Moment: Coffe and the New West Indies
Commodities Trade”, in William and Mary Quarterly, 3rd series, 62:3, July 2005, pp. 441-472;
Mark Kurlansky, Cod: A Biography of the Fish that Changed the World. New York, 1997.
216 Ver, por exemplo, a crítica de Bruce Robbins a estes trabalhos como uma variação do “fetiche
da mercadoria” em “Commodity Histories”, PMLA, vol. 120, nº 2, março de 2005, pp. 454-463.
217 Rachel B. Herrmann, “’The tragical historie’: Cannibalism and Abundance in Colonial
Jamestown”, in The William and Mary Quarterly, vol. 68, nº 1, janeiro de 2014, pp. 47-74.
252 As Américas na Primeira Modernidade (1492-1750)
na politização do hábito social de beber em ambos os lados do atlântico
britânico antes da revolução.218
Ainda que muitos dos novos trabalhos sobre a circulação pós-
-colombiana de produtos naturais se ocupe apenas do Império britâni-
co, os mundos comerciais do Atlântico Sul têm recebido uma atração
renovada. Mariana Candido, por exemplo, descobriu novas fontes de
arquivo relacionadas com o movimento dos pombeiros, mercadores itine-
rantes no interior da África centro-ocidental – intermediários frequen-
temente mestiços que difundiram os cultivos ameríndios, europeus e
asiáticos para muito além das regiões costeiras da África com as quais os
historiadores do mundo atlântico tradicionalmente têm se ocupado.219
Da mesma maneira, as pesquisas dos historiadores brasileiros Rafael
Chambouleyron e Júnia Furtado, além do geógrafo norte-americano
Richard A. Voeks, exploraram como as interações entre o conhecimento
médico americano, africano e europeu não apenas influenciaram os con-
tornos do colonialismo no Brasil e na Amazônia mas alteraram também
a própria paisagem.220
Também vale a pena notar que as mercadorias atlânticas não
eram substâncias necessariamente estáveis, imutáveis e inertes. Algumas
delas, como os peixes atlânticos estudados por W. Jeffrey Bolster, esta-
vam vivas e se movimentavam.221 Os primeiros colonizadores da região
ao Norte da América que depois seria chamada de Cape Cod222 diziam
218 David Hancock, Oceans of Wine: Madeira and the Emergence of American Trade and Taste.
New Haven, CT: Yale University Press, 2009.
219 Mariana Candido, An African Slaving Port in the Atlantic World: Benguela and its Hinter-
land. Cambridge: Cambridge University Press, 2013.
220 Rafael Chambouleyron, Povoamento, ocupação e agricultura na Amazônia colonial (1640-
1706). Pará: Editora Açaí, 2011; do mesmo autor, “Portuguese Colonization of the Amazon
Region, 1640-1706). Cambridge: University of Cambridge, UK, tese de doutoramento, 2005;
Júnia Ferreira Furtado, “Barbeiros, cirurgiões e médicos na Minas colonial”, in Revista do Arquivo
Público Mineiro, 2005, pp. 88-105; “Tropical Empiricism: Making Medicinal Knowledge in Co-
lonial Brazil”, James Delbourgo; Nicholas Dew, Science and Empire in the Atlantic World. London:
Routledge, 2008, e “The eighteenth-century Luso-Brazilian journey to Dahomey: West Africa
through a scientific lens”, in Atlantic Studies, 11:2, 2014, pp. 256-276; Robert A. Voeks, “Dis-
turbance Pharmacopeias”, in Annals of the Association of America Geographers, 2004, pp. 870-871.
221 Jeffrey Bolsters, The Mortal Sea Fishing in the Atlantic in the Age of Sail. Harvard: Harvard
University Press, 2012.
222 Península no estado norte-americano de Massachussetts, conhecida atualmente como um
destino de verão para a alta sociedade da Nova Inglaterra, foi um dos primeiros locais de colo-
nização britânica na América do Norte. Como a sequência da frase indica, cod indica bacalhau,
então se poderia traduzir o toponímico como “Cabo do Bacalhau” [N.T.].
As Américas na Primeira Modernidade (1492-1750) 253
que o bacalhau era tão numeroso que às vezes pulavam, por vontade
própria, para os barcos dos pescadores. Os holandeses não tardaram
em ganhar dinheiro em cima das riquezas marítimas do Atlântico, e
muitas fortunas de Amsterdã foram feitas com base em seu sofisticado
sistema para conservar bacalhau e arenque e transportá-los através de
vastas distâncias utilizando fluytschips de grande calado. Na Pensínsula
Ibérica da primeira modernidade, assim como nos impérios coloniais
ibéricos, peixe salgado do Atlântico Norte se tornou um prato típico
da culinária nacional.223 Em seu Fish into Wine, Peter E. Pope enfatizou
a importância do conhecimento local compartilhado oralmente pelos
pescadores na criação dos mercados de pesca atlânticos e outras redes de
mercadorias.224 O estudo de Pope a respeito dos contornos da economia
baseada na pescaria da Terra Nova, no atual Canadá, também empregou
evidências arqueológicas. Umas perspectiva oceânica também altera o
modo como pensamos acerca do comércio de longa distância de plantas
e animais vendidos como alimento ou remédio. Uma análise recente da
documentação hispânica relacionada com os carregamentos de baca-
lhau seco e salgado indicou que o custo de transportá-lo mil milhas por
mar era cerca de 25 vezes menor que o de levá-lo por terra. De fato, o
transporte no interior da Espanha – por exemplo, de Bilbao a Toledo –
custava significativamente mais que o transporte de longa distância por
mar, como entre Bilbao e Boston.225
Porém, o que dizer a respeito de intercâmbios ecológicos que
não foram ativamente liderados por mercadores ou marinheiros? Como
a segunda seção explorará, ainda que os humanos tenham alterado a
paisagem do comércio atlântico, às vezes a paisagem alterava eles.
223 Mário Moutinho, História da Pesca do Bacalhau. Lisboa: Editorial Estampa, 1985.
224 Peter E. Pope, Fish into Wine: The Newfoundland Plantation in the Seventeenth Century.
Chapel Hill, NC: University of North Carolina Press, 2004.
225 Regina Grafe, “Turning maritime history into global history. Some conclusions from the
impact of globalization in early modern Spain”, in Research in Maritime History, 2011, p. 258
e, da mesma autora, Distant Tyranny: Markets, Power, and Backwardness in Spain, 1650-1800.
Princeton: Princeton University Press, 2011.
254 As Américas na Primeira Modernidade (1492-1750)
A transmissão de animais e epidemias
226 Cartas portolanas são mapas de navegação construídos a partir das direções do compasso
e do astrolábio. Eles surgiram no século XIII, na Itália, e foram depois melhor desenvolvidos no
contexto da expansão ibérica dos séculos XV e XVI [N.T.].
227 Esta descrição é adaptada de Brian Jones, “Inventing the Ocean: Early Spanish Mariners
and the Creation of Oceanic Space”. Austin: University of Texas, 2014; PhD dissertation.
As Américas na Primeira Modernidade (1492-1750) 255
de navegadores espanhóis e portugueses.228 Estas formas improvisadas
de manipulação ecológica foram frequentemente negligenciadas pe-
los historiadores (e até mesmo pelos próprios observadores da épo-
ca) porque o conhecimento de informações geográficas e ambientais
potencialmente valiosas era muitas vezes guardado com zelo. Como
Maria Portuondo observou, o conhecimento marítimo ibérico era uma
“ciência secreta”.229 Os porcos e cágados deixados por Gamboa eram
uma informação com dono, não menos que os contornos das ilhas que
navegara ou as profundezas que sondara.
O papel mais amplo dos animais como uma força de mudança
ecológica tem recebido, no geral, menos atenção que outros componen-
tes do intercâmbio colombiano.230 Da tríade composta por “germes, plan-
tas e animais” frequentemente utilizada por historiadores ambientais,
nós tendemos a enfatizar mais os dois primeiros que o último. Motivos
para esta ênfase não são difíceis de encontrar: a enorme taxa de morta-
lidade de doenças contagiosas na primeira modernidade como a varíola,
a gripe, a febre amarela e a malária, e a importância econômica de mer-
cadorias oriundas de plantas como a cinchona (fonte de quinino),231 anil
e açúcar. Com a notável exceção do que Elinor Melville denominou “a
erupção dos ungulados”,232 de animais domesticados da Eurásia para o
Novo Mundo, as histórias ambientais de animais na primeira moderni-
dade não deram origem a narrativas igualmente estimulantes. Um olhar
mais atento, porém, aos registros textuais e visuais das trocas marítimas
entre os séculos XVI e XVIII – como os relatos acobertados de Gamboa
e outros navegadores ibéricos – revela a proeminência dos intercâmbios
animais. Estes incluíam não apenas o gado domesticado estudado por
228 Jones, 2014 e também Richard H. Grove, Green Imperialism: Colonial Expansion, Tropical
Island Edens and the Origins of Environmentalism, 1600-1860. Cambridge: Cambridge Univer-
sity Press, 1996, o qual mostra como esta forma primitiva de manipulação ambiental de ilhas
levou ao pensamento ecológico no século XVIII.
229 Maria M. Portuondo, Secret Science: Spanish Cosmography and the New World. Chicago:
University of Chicago Press, 2009.
230 Ver, porém, Virginia DeJohn Anderson, Creatures of Empire: How Domesticated Animals Trans-
formed Early America. Oxford: Oxford University Press, 2004; Elinor Melville, A Plague of Sheep: En-
vironmental Consequences of the Conquest of Mexico. Cambridge: Cambridge University Press, 1996.
231 O autor utiliza a expressão Jesuit’s bark, que era um nome popular em inglês para os re-
médios contra a malária [N.T.].
232 No original, “ungulate eruption”. Ungulados são os grandes mamíferos terrestres, como o
gado, o porco e o cavalo [N.T.].
256 As Américas na Primeira Modernidade (1492-1750)
Melville e Crosby mas também criaturas exóticas alimentadas durante
longas viagens para servir de presentes dignos de serem dados a monar-
cas. Animais usados como presentes exóticos no período iam do coitado
do rinoceronte que o rei D. Manuel de Portugal famosamente forçou a
lutar com um elefante até o peru norte-americano presentado pelo vi-
ce-rei da Índia portuguesa ao imperador mogol233 Jahangir em 1612.234
Figura 1
233 Mughal ou Mogol designa o império que resultou da dominação turco-mongol do Norte
da Índia no século XVI [N.T.].
234 Felipe Vieira de Castro, The Pepper Wreck (Texas A&M Press, 2005); Benjamin Bre-
en, “The Emperor’s Turkey”, in The Appendix, November 28, 2013 [http://theappendix.net/
blog/2013/11/the-emperors-turkey].
As Américas na Primeira Modernidade (1492-1750) 257
que todas as oito figuras estejam vestidas à maneira do Portugal qui-
nhentista, o artista claramente se esforçou para diferenciá-las ao nível
étnico ou fenotípico: os dois carregadores de pele escura são, prova-
velmente, ou africanos ou escravos do Sudeste Asiático. O artista tam-
bém estava claramente fascinado pelas mercadorias que estes exóticos
estrangeiros carregavam: um macaco, um pequeno animal que lembrava
um cervo com manchas no couro, uma ave-do-paraíso e um galo bran-
co. As figuras representadas aqui, como Gamboa e outros navegadores
engajados em implantar e transportar animais, praticavam uma espécie
de ciência vernácula, não-elitista. Essa ciência dependia de improvisos
e acasos: encontrar um par compatível de papagaios,235 por exemplo, e
decidir mantê-los presos juntos para ver se eles cruzavam. Mas ela tam-
bém dependia de uma capacidade de previsão, do empirismo e de uma
espécie de nascente consciência ecológica – o tipo de pensamento que
Richard Grove descreveu em seu livro Green Imperialism.236
Um missionário em Angola em 1678, por exemplo, registrou
seus experimentos privados com cavalos e o clima local. Ele notou que
“cavalos trazidos do Brasil e terras estrangeiras (...) [tendiam a] morrer,
ou se tornavam incapacitados, devido à mudança de clima, sobretudo no
interior” e ele descreveu “testes” (experimenta) envolvendo tentativas de
adaptar cavalos não-nativos à paisagem local.237 O missionário concluiu,
porém, que “cavalos nativos do clima local são mais fortes e com menor
tendência a ficarem doentes, como foi testado com três ou quatro [cava-
los] nativos da terra”. Aqui, e talvez também nos casos de marinheiros
“semeando” ilhas com porcos e cabras, o animal se transforma efetiva-
mente num substituto do colonizador, uma cobaia destinada não apenas
240 Amy Kohout, “From the Aviary: Haliaeetus leucocephalus”, in The Appendix 1:2, April 2013,
pp. 64-66.
241 Virginia DeJohn Anderson, Creatures of Empire: How Domestic Animals Transformed Early
America. Oxford: Oxford University Press, 2004.
242 Christopher Parsons; Cameron Strang, “Old Roots, New Shoots: Early American En-
vironmental History”, in Early American Studies: An Interdisciplinary Journal, volume 13, nº 2,
Spring 2015, p. 281.
260 As Américas na Primeira Modernidade (1492-1750)
mação das crenças religiosas e epistemologias da natureza. Go-Betweens
in the Colonization of Brazil, de Alida Metcalf, desenvolve as conexões
entre a mudança ambiental, a identidade cultural e o conhecimen-
to natural no contexto do Brasil.243 Mas nem tudo era transformação.
Recreating Africa, de James Sweet, se baseou em arquivos portugueses
pouco consultados para defender que as religiões e práticas culturais
da África Central e Ocidental foram recriadas integralmente nas co-
munidades escravas do Brasil colonial.244 Levando o argumento mais
além, ele sustentou que “recriar a África” nos novos espaços da escravi-
dão americana oferecia aos africanos um certo grau de resistência, um
que estava centrado em torno ao poder espiritual – especialmente a di-
vinação e as práticas curandeiras, muitas vezes usando drogas nativas e
africanas – mais do que a violência física.
A compreensão mais matizada dos papeis exercidos pelas prá-
ticas ameríndias e africanas de produção do conhecimento que ajudaram
a moldar a ciência global da primeira modernidade que esta abordagem
enfatiza tem o potencial de desestabilizar alguns pressupostos acerca da
expansão imperial e do comércio seiscentistas. Pode se tornar difícil, por
exemplo, continuar a considerar as trocas de mercadorias como existin-
do numa esfera separada das práticas religiosas quando prestamos maior
atenção às concepções indígenas de mercadorias enquanto imbuídas de
propriedades “sobrenaturais”, ou as práticas equivalentes em torno dos
feitiços centro-africanos, para não mencionar nada das muitas crenças
“mágicas” a respeito de drogas medicinais como bezoares245 no contexto
cultural europeu). O potencial de uma história trans-imperial das tro-
cas de mercadorias que integre a compreensão espiritual e religiosa em
torno aos bens materiais é sugerida no recente livro de Kris Lanes, The
Colour of Paradise, que mostra como o comércio global de esmeraldas
– uma das gemas mais valorizadas na primeira modernidade – se desen-
volveu a partir de crenças dos Andes pré-colombianos e da dominação
243 Alida C. Metcalf, Go-Betweens and the Colonization of Brazil 1500-1600. Austin: Univer-
sity of Texas Press, 2005.
244 James Sweet, Recreating Africa: Culture, Knowledge and Religion in the African-Portuguese
World. Chapel Hill: University of North Carolina Press, 2003.
245 Bezoar é uma pedra formada no trato gastrointestinal que resulta de uma incapacidade
de digestão pelo organismo. No período medieval e na Idade Moderna, acreditava-se que os
bezoares eram capazes de desfazer a ação nociva de diferentes venenos, constituindo-se, assim,
em um procurado remédio [N.T.].
As Américas na Primeira Modernidade (1492-1750) 261
mughal da Índia que apreciavam as esmeraldas por causa de sua conexão
ao divino.246 Este trabalho, que transita com delicadeza entre a Nova
Granada e o Oceano Índico, também aponta para as maneiras que uma
demasiada dependência aos limites do paradigma atlântico podem nos
cegar às circulações de conhecimento e objetos que rapidamente cruza-
vam estas fronteiras.
O volume Searching for the Secrets of Nature: the Life and Works
of Dr. Francisco Hernández (2000) explora a fascinação que a “caçada” por
fenômenos sobrenaturais no Novo Mundo exerceu sobre filósofos e mé-
dicos na primeira modernidade. Um ensaio no volume, ao apresentar uma
lista dos remédios passíveis de serem encontrados na Cidade do México
em 1706, fornece uma impressão vívida da variedade de materiais que
estas investigações haviam tornado disponíveis já por aquela época:
246 Kris Lane, The Colour of Paradise: The Emerald in the Age of Gunpowder Empires. New Ha-
ven: Yale University Press, 2010.
247 Jon Jay Tepaske, “Regulation of Medical Practioners in the Age of Francisco Hernández”,
in Simon Varey (ed.), Searching for the Secrets of Nature: the Life and Works of Dr. Francisco Her-
nández. Stanford: Stanford University Press, 2000, p. 61, citando remédios de Félix Palacios,
Palestra Farmacéutica chimica-galénica (Madri, 1706, 1723, 1730 etc.).
262 As Américas na Primeira Modernidade (1492-1750)
of Drugs Unlock’d incluía um catálogo de drogas exóticas que provinham
de 36 regiões específicas fora da Europa, incluindo 46 drogas das Índias
Orientais, 23 das Índias Ocidentais e cinco da “Guiné”, ou seja, da costa
da África ocidental.248 As funções destas substâncias eram muitas vezes
tanto físicas quanto espirituais: curar uma alma possuída pelo demônio
era muitas vezes equivalente a aplicar uma erva em pó ou cataplasma no
corpo do paciente. Além disso, a eficácia medicinal dessas drogas não
derivava das crenças a respeito de seus constituintes farmacêuticos ou
químicos, mas sim de um entendimento holístico do funcionamento das
forças humanas e divinas. O papel das configurações astrológicas sobre
a saúde humana explorado por Cañizares-Esguerra em “New World,
New Stars” se aplica igualmente aos produtos vegetais e animais que
os pacientes da época consumiam para se curarem. Em outras palavras,
se considerava que os remédios naturais eram influenciados pelas mes-
mas forças misteriosas – as poderosas conjunções de planetas e estrelas,
“miasmas” de vapores nocivos, maldições demoníacas ou mesmo do pró-
prio Satã – que se considerava ter causado a doença em primeiro lugar.249
Estes “portentos” sobrenaturais nos circuitos comerciais atlân-
ticos, explorados por Joyce Chaplin e, mais recentemente, por Benjamin
Schmidt, também apontam para a integração deste emergente comércio
de drogas medicinais com correntes espirituais mais amplas que inte-
gravam teorias da natureza de origem ameríndia, africana e europeia.250
A crença de que os sábios europeus deviam conhecer toda a variedade da
criação divina para entender a ordem estabelecida por Deus – notoria-
mente descrita por Francis Bacon em sua Nova Atlântida – era central
248 John Jacob Berlu, The Treasury of Drugs Unlock’d or a Full and True Description of all sorts of
Drugs and Chemical Preparations, sold by Drugists, Whebery yoy may know the place of their growth,
and from whence they come, etc. London: John Harris and Tho. Hawkins, 1690. Vasos de remédios
preservados no Museu da História da Ciência, em Oxford, atestam para o amplo uso de farinha
de pulmão de raposa, bezoares e “cranium humanum” (bem literalmente, a “caveira de um huma-
no”) de forma muito parecida com os dos boticários da Nova Espanha. Ver também Pierre Po-
met, Histoire générale des drogues, traitant des plants, des animaux et des minéraux, etc. (Paris, 1694).
249 Jorge Cañizares-Esguerra, “New World, New Stars: Patriotic Astrology and the Invention
of Indian and Creole Bodies in Colonial Spanish America, 1600-1650”, in American Historical
Review, 104:1 (1999).
250 Benjamin Schmidt, Inventing Exorcism: Geography, Globalism, and Europe’s Early Modern
World. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 2015; Joyce Chaplin, Subject Matter: Te-
chnology, the Body, and Science on the Anglo-American Frontier, 1500-1676. Cambridge, Mass.:
Harvard University Press, 2001.
As Américas na Primeira Modernidade (1492-1750) 263
à empresa colonial europeia.251 Porém obter acesso aos novos fenôme-
nos naturais que a expansão atlântica tornava disponível era um negó-
cio difícil que dependia de uma longa cadeia de informantes indígenas,
mestiços e criollos, assim como de uma complexa rede de transportado-
res, mercadores, marinheiros e outros intermediários. Como a compli-
cada história editoral dos esforços do próprio Hernández para decifrar
o mundo natural da Nova Espanha deixou claro, as vastas distâncias,
as incongruências culturais e as divisões políticas do mundo atlântico
seguidamente mais atrapalhavam a venatio dos segredos da natureza do
que contribuíam para ela.
251 Ver a discussão em James Delbourgo e Nicolas Dew, The Far Side of the Ocean”, in
Delbourgo e Dew (eds.), Science and Empire in the Atlantic World. New York: Routledge, 2008.
252 Joyce Chaplin, “The Other Revolution”, in Early American Studies, vol. 13, nº 2 (Spring
2015), pp. 284-308.
253 Idem, p. 286.
264 As Américas na Primeira Modernidade (1492-1750)
próximo com climatologistas e ecologistas cujas pesquisas tendem a ser
delimitadas pela ausência de dados confiáveis para o período antes de
1800. Colaborações entre historiadores, geógrafos, etnobotânicos, eco-
logistas históricos e cientistas do clima oferecem a possibilidade de uma
compreensão holística e interdisciplinar da transição entre tecnologias
pré-industriais e industriais. Pesquisas futuras conseguirão, desse modo,
iluminar as origens humanas do antropoceno, a nova era geológica na
qual a mudança climática induzida pelos humanos e a perda de espécies
se tornaram os fatores ambientais dominantes numa escala planetária.
Um artigo recente e que teve muita repercussão afirma que as
origens do antropoceno se encontram por volta de 1650, o que demons-
tra o papel que os historiadores podem ter no desenvolvimento dos de-
bates e descobertas futuras a respeito da trajetória histórica do papel
ambiental da humanidade.254 Ainda que o artigo, intitulado “Defining
the Anthropocene”, tenha lidado com fontes secundárias relacionadas
à crise do século XVII e a história ambiental da era colonial, nenhum
historiador esteve diretamente envolvido em sua criação, e, por conse-
guinte, o artigo sofre de uma falta de contextualização histórica e de
uma compreensão demasiadamente determinista de como a expansão
colonial influenciou a mudança ambiental.
Outra abordagem que vem ganhando espaço no que toca à
história ambiental do Atlântico busca compreender por que certos pro-
dutos falharam em se movimentar através de culturas e oceanos.255 Um
clássico exemplo destes fracassos é a planta de coca: ainda que missio-
nários nos Andes reportassem as propriedades miraculosas deste esti-
mulante natural já no século XVI, as folhas de coca não se globaliza-
ram. Num olhar rápido, isso é surpreendente, afinal outros estimulantes,
como o chá, o café e o chocolate, ganharam enorme popularidade no
século XVII e emergiram, no século seguinte, como algumas das mais
importantes mercadorias e cultivos no comércio global. Dados os ób-
vios benefícios de introduzir uma nova planta estimulante aos mercados
globais, por que os espanhóis falharam em explorar a coca andina da
254 Simon L. Lewis; Mark A. Maslin, “Defining the Anthropocene”, in Nature, 519, Mar-
ch, 2015, pp. 171-180. Para uma replica, ver Clive Hamilton, “Getting the Anthropocene so
wrong”, in The Anthropocene Review, vol. 2, nº 2, August 2015, pp. 102-107.
255 Londa Schiebinger, “Agnotology and Exotic Abortifacients: The Cultural Production of
Ignorance in the Eighteenth-Century Atlantic World”, in Proceedings of the American Philoso-
phical Society, vol. 149, nº 3, September 2005, pp. 316-343.
As Américas na Primeira Modernidade (1492-1750) 265
mesma maneira? Responder a esta questão necessita do tipo de exper-
tise transdisciplinar discutida acima: a planta de coca é notoriamente
difícil de ser cultivada fora de seu espaço nativo de grande altitude, e os
estudos farmacológicos modernos têm demonstrado que o alcaloide da
cocaína (que é responsável pelas propriedades estimulantes da planta
não-processada) se quebra rapidamente, tornando o transporte de lon-
ga distância inviável. Apenas com a invenção da química moderna no
começo e em meados do século XIX é que surgiu uma rota alternativa
para a transmissão da coca.256 Ao invés de tentar transportar as folhas
ou tentar crescer esta difícil planta em novos climas, se tornou possível
isolar e transportar o princípio ativo dentro das folhas: a cocaína.
Porém entender o fracasso de transferências ecológicas no
mundo atlântico envolve mais do que um conhecimento de farmacolo-
gia ou botânica. É necessário considerar os fatores contextuais que de-
terminavam como os indivíduos na primeira modernidade consumiam,
cultivavam e pensavam a respeito de produtos natural pouco familiares.
Por exemplo, os temores de que os escravos envenenassem seus senho-
res tinham um papel altamente significativo na recepção europeia de
cultivos medicinais africanos. James Sweet identificou a dificuldade de
se saber se estes remédios não podiam também ser venenos como “uma
tensão central no entendimento brasileiro das práticas africanas”.257
Além disso, Sweet aponta que muitos produtos se moviam não apenas
entre as categorias conceituais de remédio ou veneno mas também na-
vegavam o que o autor chama de uma “confusa fronteira entre ‘ciência’
e o ‘sobrenatural’”. O trabalho de Londa Schiebinger sobre o oculta-
mento intencional do conhecimento indígena sobre plantar abortivas
nas Índias Ocidentais forneceu um influente modelo para compreender
estas falhas na transmissão ecológica.258 Mas são necessários mais traba-
lhos para entender como as teorias da espiritualidade e do sobrenatural
– como a crença ao mesmo tempo generalizada mas amplamente diver-
sificada na possessão espiritual no mundo atlântico – moldou a recepção
e a transmissão de produtos naturais.
Outro rico campo para pesquisa futura envolve as conexões
ambientais entre os mundos do Atlântico e do Pacífico. Ainda que mui-
256 Paul Gootenburg, Andean Cocaine: the Making of a Global Drug. Chapel Hill: The Univer-
sity of North Carolina Press, 2009.
257 Sweet, Domingos Álvares, op. cit., 2011.
258 Schiebinger, “Agnotology and Exotic Abortificients”, op. cit., 2005.
266 As Américas na Primeira Modernidade (1492-1750)
tos trabalhos sobre o “mundo ibérico atlântico” tenham aparecido em
anos recentes, a ênfase até agora tem sido sobre a América hispânica.
Um modelo para pensar nestes intercâmbios ecológicos numa forma
transcultural é dada em The Monkey and the Inkpot, de Carla Nappi, que
estuda um manual boticário chinês e as mudanças no conhecimento e
materiais que acompanharam traduções entre diferentes idiomas, fos-
sem eles o português, o tupi, o mandarim ou o manchu.259 Assim como
no contexto atlântico, esta maior abertura da esfera chinesa de influência
possibilitou novas maneiras de pensar a respeito (e pensar com) espéci-
mes botânicos ou animais pouco usuais que a expansão imperial tinha
encontrado. Uma pergunta que não foi respondida, contudo, no trabalho
de Nappi é até que ponto o entendimento chinês da função das drogas e
remédios “exóticos” foram comunicadas através das fronteiras culturais e
linguísticas das tradições médicas do Sul da Ásia e da Europa. Que esta
é uma fronteira de investigação que vale a pena ser explorada é dado nos
primeiros capítulos de Golden-Silk Smoke: A History of Tobacco in China,
de Carol Benedict, onde se sugere que uma ampla gama de conexões
– particularmente o pouco explorado caminho do comércio de plantas
entre a China quinhentista com o México via Manila – ainda aguardam
maiores estudos.260
Outras pesquisas importantes têm vindo de historiadores da me-
dicina no Império português, tais como Timothy Walker e Júnia Ferreira
Furtado.261 Ao esclarecer o papel do que se pode chamar de “informantes
indígenas” e “curandeiros nativos” na compreensão científica da nature-
za tropical na primeira modernidade, estes trabalhos buscam ir além da
distinção “metrópole/periferia” de muitos dos estudos anteriores sobre a
ciência e a medicina coloniais prestando uma atenção mais detida nos
modos que o conhecimento natural surgiu de conexões transimperiais
entre diferentes zonas de contato “periféricas”. Exemplos representativos
incluem o médico João Curvo de Semedo, que popularizou uma tintura
feita de cinchona amazônica (a Água da Inglaterra) que se tornou popular
na Grã-Bretanha e no Brasil, ou o pirata e naturalista amador William
259 Carla Nappi, The Monkey and the Inkpot: Natural History and its Transformation in Early
Modern China. Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 2009.
260 Carol Benedict, Golden-Silk Smoke: A History of Tobacco in China, 1550-2010. Berkeley:
University of California Press, 2011.
261 Ver Sidney Chalhoub et al (eds.), Artes e ofícios de curar no Brasil: capítulos de história social.
Campinas: Editora da Unicamp, 2003.
As Américas na Primeira Modernidade (1492-1750) 267
Dampier, cujos diários de suas circum-navegações estão repletos de re-
ferencias portuguesas a mestiços e criollos que lhe ofereciam amostras de
plantas e informação que ele, então, levava através do globo.262
Como Parsons e Strang notam, a história ambiental do
Atlântico é uma história de perpétua mudança.263 Compreender a his-
tória ambiental do espaço atlântico significa reconstruir mundos per-
didos, naturais ou humanos, dos quais hoje existem apenas os obscuros
contornos. É quanto a este aspecto – o enorme grau de mudança ao
longo do tempo, a quase total obliteração da flora, da fauna e das socie-
dades humanas – que as histórias ambientais da bacia atlântica mais di-
ferem daquelas de outros tempos e lugares. Enquanto Fernand Braudel
podia abrir sua famosa história do Mediterrâneo com um elogio das
montanhas Atlas, no Marrocos, meditando sobre a longue durée do re-
lacionamento da humanidade com a natureza mediterrânica, como os
movimentos dos pastores ou a enchente dos rios, a história ambiental
do Atlântico sustenta pouco panoramas estáticos no que toca à geogra-
fia ou à história.264 É uma história de contínuo improviso, adaptação e
mudança, caracterizada mais pela destruição do que pela persistência
de padrões de longa duração, como no caso da Mata Atlântica, hoje
virtualmente extinta quando comparada a seu alcance original. Também
é uma história desequilibrada, lidando tanto com momentos aparen-
temente triviais como o peru do imperador Jahangir e com alguns dos
mais trágicos episódios da história comum da humanidade. Ambos, as
peregrinações do cultivo do tomate e as mortes de milhões, caem sob
o manto da história ambiental. O desafio colocado ao campo e àqueles
que trabalham nele é dançar entre os diferentes assuntos que o compõe
sem perder o equilíbrio.
262 Benjamin Breen, “Tropical Transplantations; Drugs, Nature, and the Globalization in the
Portuguese and British Empires, 1640-1755”. Austin: The University of Texas at Austin, 2015,
PhD dissertation.
263 Parsons; Strang, “Old Roots, New Shoots”, op. cit., 2015.
264 Fernand Braudel, La Méditerranée et le monde Méditerranéen à l’Epoque de Philippe II (1949).
268 As Américas na Primeira Modernidade (1492-1750)
Roteiro bibliográfico
265 Giovanni Antonio Cavazzi (traduzido por Jean-Baptiste Labat), Relation historique de
l’Ethiopie occidentale. Paris, 1732, I, pp. 79-82.
As Américas na Primeira Modernidade (1492-1750) 273
bebida. Estes povos também estão sujeitos a um horrível inflamação da
boca, que se espalha para o pescoço, se tornando maior que a cabeça,
e acompanhado de grandes dores e muito risco de sufocamento. Eles
chamam isso de garamma.
Encontra-se neste país um pequeno animal chamado Ban-zo.
É de coloração cinza, grande como as moscas que atormentam os cava-
los. Seu estômago é inteiramente contornado por seus pés. Sua mordida
ou picada é fatal, se o atingido não é sangrado adequadamente. Isso
causa dor excessiva e uma febre que tira toda a razão da vítima e a lança
num intenso frenesi. Diz-se que aqueles que sobreviveram a ela podem
ficar doentes uma segunda vez sem terem sido picados, como uma lem-
brança da doença que eles passaram: eles então entram num segundo
frenesi que é tão horrível que eles mesmos se matam.
Os padres de seus ídolos fingem ter o segredo de curar este
mal com seus encantos e pelo remédio que eu descreverei. Não há dú-
vida que estas pessoas entram num pacto com o diabo. Eles procuram
um dos animais [o Ban-zo] e o matam; eles então colocam o corpo do
animal numa cova que cavaram na terra, com fumigações, cerimônias e
invocações que são familiares a eles. Eles jogam uma grande quantidade
de terra na cova; diluem e diluem de novo a terra desta cova e, quando a
água está mais ou menos clara, eles a dão de beber para a pessoa doente;
ainda que escura e espessa, de péssimo gosto e odor, o doente não deixa
sobrar nem um pingo. Eles induzem o doente a vomitar, rejeitando o
veneno, ao menos em parte; frequentemente isso mata vários doentes,
e aqueles que não são mortos ficam paralisados, ficando aleijados das
pernas e dos pés e seus nervos se tornam para sempre sensíveis a este
pernicioso veneno.
Esta doença é tão forte que os europeus não são capazes de
suportá-la sozinhos, eles têm tentado, infelizmente, conservar suas vidas
perdendo suas almas e tomando este remédio, após terem concordado
com os Sacerdotes do demônio a recompensa que estes irão receber, e
são curados com este remédio detestável, apesar da proibição expressa
da Igreja e dos perigos e efeitos adversos que acabaram de ser relatados”.
266 Duarte Madeira Arraiz, Methodo de conhecer e curar o morbo gallico; primeira [e] segunda
parte: propoemse definitivamente a essencia, species, causas...et cura do morbo gallico. Lisboa, 1683,
pp. 72-73 [como se trata de texto cujo original é em língua portuguesa, consultei a edição citada,
apenas atualizando a ortografia (N.T.)]
As Américas na Primeira Modernidade (1492-1750) 275
ou menstruo corruptos, nem à impureza dos alimentos, nem a comer
carne humana, nem finalmente a outras causas particulares, que os au-
tores antes de lhes constar desta verdade dando tratos ao entendimento
quiseram esquadrinhar”.