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Ano 24 | Edição 139 | Janeiro/Fevereiro 2022 | Conselho Regional de Psicologia do Paraná

Q DE QUÊ? É HORA DE FALAR SOBRE A


POPULAÇÃO QUEER
QUEER.





ENTREVISTA EDUCAÇÃO DEMOCRACIA


Alienação Parental: conceito importado “Escola sem Partido”: as professoras Democracia sob a ótica
para o Brasil de forma acrítica demanda que reproduzem ideais do movimento da Psicologia Social
avaliação cuidadosa de Psicólogas(os) mesmo sem o apoiarem formalmente
©Fotógrafo: Psic. Leandro Rodrigues Dias (CRP-08/27309)
Retratado: Psic. Rogério Amador de Melo (CRP-08/22606)
05 Curtas
Como o CRP-PR atuou durante a imunização de Psicólogas(os)?

06 Resenha
Três estranhos idênticos: qual o limite da ética para a ciência?

07 COREP/Eleições
Categoria participa de construção democrática das diretrizes para próxima gestão do CRP-PR

09 Políticas Públicas
Plano decenal estadual para a população em situação de rua: sobre o que estamos falando?

11 CREPOP
Referências Técnicas para atuação de Psicólogas(os) da Atenção Básica à Saúde: uma carta

SUMÁRIO
aberta precisa e preciosa ao Brasil de hoje

13 Entrevista
Alienação parental: conceito importado para o Brasil de forma acrítica demanda avaliação
cuidadosa de Psicólogas(os)

16 Educação
“Escola sem Partido”: as professoras que reproduzem ideais do movimento mesmo
sem o apoiarem formalmente

18 Capa
Q de quê? É hora de falar sobre a população Queer

23 Democracia
Democracia sob a ótica da Psicologia Social

27 Orientação e Fiscalização
A(O) Psicóloga(o) é um sujeito de direitos? Por uma ética implicada no respeito ao sujeito
humano e seus direitos fundamentais

29 Ética
Postura ética da Psicologia em contextos de intolerância religiosa

33 Administrativo-Financeiro
O que você precisa saber sobre a anuidade do CRP-PR em 2022?

34 Espaço Psi Ψ
Encarar a vida como um poema

35 Sindicato
Atendimento online e as mudanças pós-pandemia

Conselho Regional de Psicologia - 8ª Região (CRP-PR)


Produção: Revista Contato: Informativo Bimestral do Conselho Regional de Psicologia 8º Região (ISSN – 1808-2645) • Site: www.crppr.org.br
Endereço (sede): Avenida São José, 699, Cristo Rei, Curitiba-PR | CEP 80050-350 • Contatos: (41) 3013-5766 | ellen.nemitz@crppr.org.br
Tiragem: 25 mil exemplares • Impressão: Lunagraf • Jornalista responsável: Ellen Nemitz (17.589/RS) • Estagiária de jornalismo: Valkyria Dantas
Rattmann • Redação: Ellen Nemitz, Rebeca Amaral e Valkyria Dantas Rattmann • Coordenador da Comissão de Comunicação Social: Pedro
Braga Carneiro • Revisão: Ellen Nemitz e Pedro Braga Carneiro
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"in memoriam" (CRP-08/23802), Psic. Luccas Danniel Maier Cechetto (CRP-08/27520), Psic. Luciana de Almeida Moraes (CRP-08/14417), Psic. Marcel
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(CRP-08/28273), Psic. Vanessa Jacqueline Monti Chavez (CRP-08/19849).

CONTATO 139 | 3
EDITORIAL

Olá, profissionais de Psicologia do Paraná e todas as pessoas que nos leem.


Iniciamos 2022 repletas(os) de esperanças, reconhecendo tudo o que conse-
guimos produzir no ano que passou, mas também as dificuldades que
ocorreram no período, e almejando novas conquistas, encontros, trocas e
realizações. Que possamos retomar tantos sonhos e desejos que foram tão
prejudicados no contexto da pandemia.
Vale ressaltar que este é um ano muito importante para a Psicologia brasilei-
ra. É ano de Congressos Regionais e Nacional de Psicologia (COREPs e CNP)
e de eleição no Sistema Conselhos. Ou seja, é um ano em que se firmam
posições para a nossa ciência e profissão frente aos desafios em socieda-
de. Deste modo, a participação de todas(os) nas atividades e espaços do
CRP-PR é fundamental.
Nesse sentido, destacamos que a Revista Contato, assim como a Revista
CadernoS de PsicologiaS e as redes sociais do CRP, além de instrumentos
de orientação, são também importantes estratégias de aproximação entre
categoria profissional e autarquia. Acompanhem, estamos sempre produ-
zindo muitos conteúdos relevantes com a participação de inúmeras(os)
profissionais.
Desejamos a todas as pessoas uma boa leitura!
COMO O CRP-PR ATUOU
DURANTE A IMUNIZAÇÃO DE
PSICÓLOGAS(OS)?

D
urante a pandemia da Covid-19, o Psicólogas(os) foram enviadas às secreta-
Conselho Regional de Psicologia rias de saúde – respeitando a Lei Geral de

CURTAS
do Paraná (CRP-PR) reafirmou seu Proteção de Dados Pessoais (LGPD) –, e
compromisso com a orientação das(os) formulários para atualização cadastral de
Psicólogas(os) e com a sua proteção. Entre profissionais foram disponibilizados. Além
as ações realizadas, destacam-se as Notas da comunicação por ofícios, o CRP-PR par-
Técnicas e os diversos conteúdos no site ticipou de reuniões exigindo transparência
e nas redes sociais, o suporte para cadas- e celeridade de gestoras(es) e apresentando
tro no e-Psi e atendimentos online, além as principais dificuldades relatadas pelas(os)
de lives semanais durante vários meses de Psicólogas(os). Quando algumas prefeituras
2020 e atendimento ininterrupto pelos ca- encaminharam ao Conselho dados de horá-
nais de atendimento remotos. rios e locais de vacinação, muitas vezes com
pouca antecedência, as equipes se mobiliza-
Quando a vacina foi disponibilizada para al-
ram para repassar as informações da manei-
guns grupos e as informações de cada mu-
ra mais rápida possível, de forma que sua
nicípio eram constantemente atualizadas
imunização não fosse prejudicada.
pelos órgãos competentes, o CRP-PR criou
a Central de Informações: uma seção espe- Gradualmente, a imunização foi disponibi-
cífica do site que reuniu os principais dados lizada a todas(os) as(os) Psicólogas(os) no
sobre a imunização e seus desdobramentos. Paraná, e o CRP-PR segue comprometido
Além disso, os canais de atendimento foram com a promoção da saúde para toda a so-
ajustados para receber perguntas sobre a ciedade e com a execução de po-
vacinação de profissionais, com equipes líticas públicas que prote-
dedicadas à orientação, ao acolhimento de jam e preservem a vida.
expectativas e à elucidação acerca das exi-
gências cadastrais e critérios de prioridade
estabelecidos pelos planos nacional, esta-
dual e municipais de imunização. Ao todo,
mais de 2 mil e-mails foram respondidos.
Durante este processo, surgiram entraves
como o não cumprimento de critérios pre-
viamente divulgados pelos municípios e até
o silêncio de algumas prefeituras, apesar
dos reiterados questionamentos do CRP-
PR. Em Curitiba, por exemplo, foi necessá-
rio acionar o Ministério Público para que a
Prefeitura alterasse o plano de vacinação e
COVID 19
incluísse as(os) profissionais autônomas(os)
de clínicas e similares.
Vacina
A execução do plano de imunização não é
atribuição do Conselho, mas o órgão atuou
no limite de suas funções legais. Listas de

CONTATO 139 | 5
TRÊS ESTRANHOS IDÊNTICOS: QUAL O
LIMITE DA ÉTICA PARA A CIÊNCIA?
Por Valkyria Dantas Rattmann

O
documentário “Três Estranhos colocaram cada um em um lar de nível
Idênticos” (Three Identical socioeconômico diferente com o objetivo
Strangers, 2018), dirigido por de identificar o papel da criação e dos es-
Tim Wardle, conta a história tilos de parentalidade no desenvolvimen-
real de três irmãos gêmeos que foram to do comportamento e personalidade
RESENHA

separados ao nascer e adotados por fa- humanos. O estudo sobre dinâmica fami-
mílias diferentes. As famílias de Robert liar foi conduzido em 1960 por pesquisa-
Shafran, Eddy Galland e David Kellman dores de diferentes áreas, com destaque
não sabiam que seus filhos tinham ir- para a Psicologia e a Psiquiatria — e este
mãos gêmeos e tampouco imaginavam recorte temporal é fundamental para en-
as razões para que não tivessem acesso a tender como foi possível realizar um ex-
essa informação quando os adotaram. perimento como este sem escandalizar
o mundo científico.
Após uma série de coincidências e 20 anos
depois, os três se conheceram em 1980. O Além das questões éticas envolvidas em
encontro foi amplamente noticiado nos pesquisas com seres humanos, o filme
Estados Unidos, despertando a curiosidade traz inquietações e questionamentos va-
de muitos jornalistas e apresentadores de liosos para diversos campos do conheci-
Para assistir mento — em especial para a Psicologia e a
programas televisivos. Mas, as razões para
e indicar a separação, mesmo que reais, parecem Psiquiatria. Em nível pessoal, os espectado-
vir de uma obra de ficção de tão insólitas. res podem se questionar sobre o quanto a
herança genética e a criação têm influência
Três Estranhos A narrativa construída a partir de relatos no resultado do que nos tornamos. Estas
Idênticos (EUA), 2018, dos gêmeos, seus familiares e pessoas inte- reflexões tornam o filme envolvente para o
Documentário. ressadas na história tem ritmo ágil e retém público, que é convidado a revisitar memó-
a atenção do espectador — que se sente rias de sua infância e juventude ao escutar
parte de uma investigação para entender os entrevistados.
os motivos dos laços cortados ao nascer.
O desenrolar da história, inicialmente po- O filme “Três Estranhos Idênticos” não é
sitivo e recheado de curiosidades divertidas apenas uma história surreal e sensível. A
sobre o trio e suas vidas paralelas, apresen- obra estimula a reflexão sobre temas sérios
ta uma mudança de tom expressiva quan- e delicados que tocam a vida dos irmãos,
do descobrimos que as vidas dos três foram mas as dos espectadores também. Vale a
pena acompanhar essa história fascinan-
moldadas por um experimento científico.
te com atenção e sair dessa experiência
Graças às descobertas de um jornalista, reve- cinematográfica com mais dúvidas do
la-se que pesquisadores, deliberadamente, que respostas.

6 | CONTATO 139
Categoria participa de construção
democrática das diretrizes para
próxima gestão do CRP-PR

A
cada três anos, a categoria de a todas(os) as(os) Psicólogas(os) e tam-
Psicólogas(os) deve eleger os gru- bém estudantes, bem como demais inte-
pos de conselheiras(os) que guia- ressadas(os) – o direito ao voto é restrito
rão os Conselhos Regionais e Federal de às(aos) Psicólogas(os) regularmente inscri-
Psicologia pelo triênio seguinte. A participa- tas(os) e adimplentes no CRP-PR. Já nos 11º
ção no processo democrático, no entanto, COREP e 11º CNP, a categoria será repre-
não se limita ao momento do voto. Desde sentada pelas(os) delegadas(os) eleitas(os)
outubro de 2021, o Conselho Regional de em cada Pré-Congresso.
Psicologia do Paraná (CRP-PR) vem pro-
CERCA DE 200 PROPOSTAS DEBATIDAS
movendo encontros preparatórios para o
11° Congresso Regional da Psicologia do
Os Pré-COREPs realizados entre outubro e

COREP/ELEIÇÕES
Paraná (COREP-PR), que acontecerá entre
dezembro debateram cerca de 200 propos-
os dias 08 e 10 de abril de 2022.
tas. Entre os principais temas, destacam-se
Até o fechamento desta edição, os chama- aqueles concernentes aos: direitos huma-
dos Pré-COREPs haviam reunido cerca de nos de populações vulneráveis ou excluídas
120 Psicólogas(os) e estudantes em nove socialmente; direitos trabalhistas e condi-
encontros realizados em quase todas as ções de trabalho da(o) Psicóloga(o); pro-
regiões do Estado. Em janeiro, outros dois moção e valorização da Psicologia enquan-
Pré-COREPs fecham a programação, abar- to ciência e profissão junto à sociedade;
cando todo o Paraná. aprimoramento das Resoluções e outros
documentos do CRP-PR; oferta de orien-
As etapas regionais acontecem em todos
tação e fiscalização (individual e coletiva);
os Estados brasileiros sob o tema do 11º
discussão sobre a ética em pesquisas; apro-
Congresso Nacional da Psicologia (CNP): “O
ximação com entidades de formação em
impacto psicossocial da pandemia: de-
Psicologia; continuidade e fortalecimento
safios e compromissos para a Psicologia
do CREPOP e do Controle Social; incidência
brasileira frente às desigualdades so-
sobre a comercialização de testes psicoló-
ciais”. O 11º CNP, por sua vez, reunirá as(os)
gicos; incidência sobre áreas de interface
delegadas(os) eleitas(os) em cada Estado
da Psicologia com outras profissões, como
entre 02 e 05 de junho de 2022.
o Sistema de Justiça e o Trânsito; fortale-
A importância destes espaços é vital cimento de debates interinstitucionais so-
para o funcionamento dos Conselhos. bre temas como pessoas com deficiência e
É com base nas propostas que compo- LGBTQIA+; participação em Frentes e ins-
rão o Caderno de Deliberações que todo tituição de parcerias em prol dos direitos
o planejamento estratégico da gestão humanos e da promoção da Psicologia nos
eleita em 2022 se baseará, assim como diferentes âmbitos de atuação; manuten-
suas ações, decisões, campanhas, etc. ção posicionamento em prol da Redução
A participação nos Pré-COREPs é aberta de Danos, entre outros temas.

CONTATO 139 | 7
Cerca de 200 propostas já foram compiladas durante os Pré-COREPs. Elas serão debati-
das no 11º COREP e, se aprovadas, remetidas ao 11º CNP, que elaborará então o Caderno
de Deliberações. Confira, abaixo, alguns trechos de propostas já debatidas:

Intensificar campanhas sobre o que é a Estabelecer um diálogo contínuo com o


prática profissional da Psicologia e sua im- Sistema de Justiça e sindicatos a fim de
portância para a sociedade de forma geral, evitar a precarização da prática profissio-
enfatizando o debate sobre autonomia nal e contribuir com a manutenção de um
profissional. trabalho de qualidade.

Promover junto à categoria a criação de Promover, em articulação com o Sistema


protocolos para recursos em avaliação Conselhos, espaços de discussão que consi-
psicológica em seus diferentes contextos. derem as conjunturas sociais e econômicas
como contribuintes para o adoecimento psi-
Fortalecer e garantir espaços que dialo- cológico para além dos aspectos individuais,
guem com profissionais e sociedade em sobretudo em momentos pandêmicos.
geral acerca das possíveis práticas e limites
da(o) Psicóloga(o) com a temática da reli- Reforçar mecanismos para efetivar a im-
gião, fundamentalismo e não moralismo, plantação da Lei nº 13.935/2019, que implan-
considerando a laicidade da Psicologia. tou os serviços de Psicologia e Serviço Social
na rede pública de educação básica.
Que o Sistema Conselhos de Psicologia
promova orientações constantes à cate- Ampliar e intensificar a presença do CRP-
goria e à sociedade sobre a necessária in- PR nas microrregiões do Paraná, visando ao
tervenção de Psicólogas e Psicólogos com apoio e à orientação ao poder público e à
as populações vulnerabilizadas e invisibi- sociedade quanto ao cuidado das crianças e
lizadas, contribuindo para a promoção da adolescentes órfãos da Covid-19.
equidade social e em defesa intransigente
dos Direitos Humanos.

ELEIÇÕES DO SISTEMA CONSELHOS


Historicamente, é durante o COREP que se formam as chapas que concorrerão à ges-
tão dos Conselhos Regionais de Psicologia e, de forma semelhante, as que pleitea-
rão ao Conselho Federal de Psicologia se registram durante o CNP. A partir de então,
baseado em um Regimento Eleitoral a ser definido e sob a tutela de uma Comissão
Eleitoral que rege o processo, os grupos passam a ter espaço para divulgar e debater
ideias nos meios de comunicação do Conselho, bem como em debates. As eleições
deverão acontecer nacionalmente no dia 27 de agosto, Dia da(o) Psicóloga(o).

Para mais informações, acompanhe as notícias pelo site


www.crppr.org.br e pelas nossas redes sociais.

8 | CONTATO 139
PLANO DECENAL ESTADUAL PARA A
POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA:
SOBRE O QUE ESTAMOS FALANDO?
Por Psic. João Victor da Silva (CRP-08/25123), mestre em Ensino nas Ciências da Saúde
(FPP), e Psic. Julia Mezarobba Caetano Ferreira (CRP-08/25872), mestre em Bioética
(PUCPR), ambos representantes do CRP-PR no CIAMP Rua Paraná e CIAMP Rua Curitiba

O
contexto pandêmico afetou de entregar cobertores e alimentos quen-
modo ímpar a população em situa- tes nas noites de frio intenso, e também
ção de rua (PSR) e exigiu de nós, so- para sensibilizar a PSR sobre a vacinação
ciedade civil organizada em prol desse gru- contra a Covid-19.
po populacional, a agilidade para a garantia
De fato, a pandemia tornou ainda mais
dos direitos mais básicos à manutenção de
escancarada a negligência governamen-
uma vida: acesso à alimentação de qualida- tal para com a PSR. Não bastasse o fecha-
de e à água potável. Além disso, assumimos mento de vários dos serviços que a aten-
o trabalho de educação em saúde sobre os diam, ainda houve diversas tentativas de
cuidados sanitários demandados pela pan- minar os esforços da sociedade civil que,
demia – lavar as mãos, usar máscara, não historicamente – e ainda mais durante
partilhar objetos e evitar aglomerações. este período de pandemia –, busca preen-
Em 2019, lutávamos por moradia, pela rea- cher o "vácuo" deixado pelas atuações do
lização da pesquisa censitária sobre a PSR Estado, como é o caso da alimentação
na cidade de Curitiba e pela construção de insuficiente para a PSR.
um Plano Estadual para essa população. É justamente nesse contexto que frisamos a

POLÍTICAS PÚBLICAS
Mas, com a eclosão da pandemia, tivemos importância da construção de um plano es-
que dar alguns passos atrás para atender às tadual, sancionado por lei, que verse sobre
demandas mais urgentes daqueles que não as políticas públicas para essa população,
possuem uma residência para se proteger. reafirmando ao governo sua responsabili-
É importante pensar no impacto que a dade em proteger e promover autonomia
pandemia e o isolamento social têm sobre deste grupo, bem como a superação da si-
a PSR, que do dia para a noite viu as ruas tuação de rua.
ficarem vazias. Restaurantes, lojas, equi- É de suma importância que haja uma lei
pamentos da prefeitura, todos fechados e chancelando o plano, uma vez que a ex-
as poucas pessoas domiciliadas nas ruas periência nacional demonstra que a apro-
usavam máscaras e se distanciavam de- vação de um plano para a PSR via decreto
les ainda mais que o normal. As fontes de não traz a segurança jurídica e institucional
alimento e doações em geral simplesmen- visada – em 2019, o Presidente da República
te se encerraram – todas de uma só vez. Jair Bolsonaro tentou revogar o Decreto
O tão divulgado “Fique em casa” apenas Presidencial nº 7.053, de 23 de dezembro
mostrou o quanto a PSR foi e é deixada de de 2009, demonstrando a fragilidade de
lado pela sociedade. um decreto em comparação a uma lei.
Como resposta a esta situação, fomos às Felizmente, encerramos o ano de
ruas para entregar panfletos informativos, 2021 com um sopro de esperança: o
distribuir alimentação e água, colher de- Comitê Intersetorial de Acompanhamento
núncias sobre violações de seus direitos, e Monitoramento da Política para População

CONTATO 139 | 9
em Situação de Rua do Paraná (CIAMP Rua a apresentar propostas nas áreas em que as
Paraná) está trabalhando no Projeto de Lei políticas para a PSR devem ser desenvolvidas.
que institui a Política Estadual para a PSR. É
com orgulho que representamos nossa ca- O Plano Decenal Estadual (PDE) está sendo
tegoria neste processo. Temos cautela, no desenvolvido, aqui no Paraná, a partir de
entanto, uma vez que o Plano Estadual visa oito eixos. São eles:

1 3
Habitação, Moradia e Direitos Humanos e
Desenvolvimento Urbano Segurança Pública

Trabalho, Emprego e Assistência Social e Segurança


Geração de Renda Alimentar e Nutricional
2 4

5 7
Cultura, Esporte
Educação e Lazer

Cidadania, Mobilização, Participação Saúde


e Controle Sociais
6 8

Estes eixos contemplam todas as esferas que consideram importantes de serem con-
que o Estado deve considerar para a for- templados pelo plano, considerando suas
mulação de políticas públicas às pessoas áreas de especialidade.
em situação de rua. A discussão sobre po-
Assim, as considerações da Psicologia so-
líticas públicas para essa população deve
bre a dura realidade da vida nas ruas e suas
ser intersetorial e estar comprometida com
a ampla gama de demandas da PSR, que é subjetividades são de grande importância.
um grupo plural e heterogêneo. Por isso, Somos propulsores dos direitos humanos,
estamos realizando reuniões com outras da autonomia e, enfim, da qualidade de
Comissões e Núcleos temáticos do CRP- vida em todas as suas esferas para as pes-
PR para compreender quais são os pontos soas em situação de rua.

10 | CONTATO 139
REFERÊNCIAS TÉCNICAS PARA ATUAÇÃO DE
PSICÓLOGAS(OS) DA ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE:
uma carta aberta precisa e preciosa ao Brasil de hoje
Por Psic. Altieres Edemar Frei (CRP-08/20211), Assessor Técnico de Pesquisa do CRP-PR

E
m 2019 a Rede CREPOP lançou as Quem dera fosse só exercício de retórica,
“Referências Técnicas para atuação mas cuidar das outras pessoas é só um
de Psicólogas(os) na atenção básica efeito colateral do projeto de cuidar de
à saúde”: trata-se de um material preciso e algumas pessoas e, ao mesmo tempo, a
precioso, digno de ser, cada vez mais, “in- oportunidade de controlar em nome da
censado” e saudado pela categoria. Você já ideia de saúde e de somar uns votos: é
deu uma olhadinha neste documento? como unir o útil ao agradável. Conhecemos
bem a história, e a vemos se repetir como
Fica o convite (ou o “jabá”, como se diz)
tragédia, farsa e dito popular.
com a recomendação de que os preceitos
ali expostos são bem dosados e que são jus- Um exemplo disso aparece com refinamen-
tos os tributos e referências aos conceitos to conceitual na citada Referência Técnica

CREPOP
que R. Romagnoli e M. Alexandre, E. Mehry, (RT): as críticas de Sérgio Arouca aos mo-
G. Campos e tantas(os) pensadoras(es) que delos preventivistas neoliberais atrelados
o campo produziu e produz hoje. ao ideal de doenças crônicas “a la postinho
de saúde” desde os anos 1970, que vêm
Sim, não cansamos de dizer: não é apenas
atreladas às noções de promoção da saúde
uma questão de disputa conceitual por mo-
pautadas na lógica individualista. Está tudo
delos de cuidado. Nisso fomos e ainda so-
ali mapeado e são um prato cheio (com o
mos “topzêra”, obrigado. O mundo e a ciên-
perdão da expressão para quem, no Brasil
cia reconhecem. É “clínica ampliada” pra
de hoje, vive de ossos) para Psicólogas(os)
cá, “contratualidade” pra lá. O SUS é nosso
entenderem a hegemonia do paradigma
patrimônio também quando nos referimos
biomédico e da indústria farmacêutica via
à produção de conhecimentos.
Fundo Monetário Internacional e outros
É, antes, uma disputa por dinheiro. É, além “conselheiros internacionais”.
disso, uma disputa sobre corpos – se pos- Por isso a RT é texto ainda fresco, sincero
sível cada vez mais corpos quietos e indi- e direto que, de imediato, relembra à ca-
viduais ao invés de corpos singulares e su- tegoria que aquelas práticas atreladas à
jeitos coletivos. Saber é poder – ainda mais lógica de uma clínica estéril, centrada nas
quando se sabe sobre os determinantes so- patologias individuais, não cabem no en-
ciais dos processos de saúde-doença. tendimento de uma saúde que se faz co-
Vale lembrar que a saúde pública e suas letiva. Aqui a bússola aponta ao trabalho
zonas de contato com as populações multiprofissional, cuidado compartilhado
desassistidas não nascem por uma be- e Apoio Matricial em Saúde
nevolência ou beneficência. Este direi- Mental, entre
to, no Brasil, foi conquistado também outras “tec-
graças à Reforma Sanitária que culmina
na Luta Antimanicomial.

CONTATO 139 | 11
nologias leves” e “leve-duras” de cuida- pedra-da: a Nota Técnica para Organização
do. Entendedores entenderão: a premis- da Rede de Atenção à Saúde com foco na
sa é a de que todos são usuários da UBS Atenção Primária à Saúde e na Atenção
(Unidade Básica de Saúde) – podem estar Ambulatorial Especializada, escrita em
no CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) parceria com o Ministério da Saúde e uma
ou no ambulatório, mas pertencem ao ter- “Sociedade Beneficente” que também é
ritório da Atenção Primária pela lógica da grande empresa do mercado da saúde e,
integralidade. além de hospital-palácio, detém sob admi-
nistração via Organização Social de Saúde
É com o território, portanto, que resgata-
uma série de equipamentos do SUS, incluin-
mos o postulado: se toda saúde é coletiva,
do UBSs. Sinais dos tempos.
toda clínica é política. Um dos eixos da RT,
que versa sobre a prática clínica na aten- A guinada da atenção psicossocial para o
ção primária, é bem nutrido com acentos modelo biomédico das doenças crônicas
ao acolhimento, à clínica ampliada (vista passíveis de nomes, números e receitas
enquanto uma tecnologia de cuidado in- perpétuas de clonazepans e fluoxetinas e
dividual e coletiva, ao mesmo tempo) e à “conselhos para focar em si e pensar po-
interdisciplinaridade. sitivo” é explícita com o foco à Atenção
Ambulatorial Especializada. Poderão tais
Outro eixo, que versa sobre a gestão dos
alterações minar de vez as potências da
processos de trabalho, é igualmente feliz atenção básica atenta aos Determinantes
ao sublinhar o preceito da indissociabili- Sociais dos processos de saúde que ainda
dade entre atenção e gestão, presentes vicejam na Política Nacional da Atenção
desde a Política Nacional de Humanização Básica?
do SUS. Também lista os obstáculos que
parecem atualizar-se e, infelizmente, pro- Para tentar alcançar tais questões, a leitura
liferar-se: questões salariais, regimes de atenta desta RT presta-se excelente exercí-
contratação e problematizações acerca da cio. Vista assim, tal documento se comuni-
terceirização via modelo das Organizações ca com um público muito maior que a ca-
Sociais de Saúde são atravessamentos tegoria de Psicólogas(os). Diria, sem risco
diretos no cotidiano da(o) Psicóloga(o). de hipérbole, tratar-se de mais uma carta
Não bastasse os obstáculos mapeados, nes- aberta ao Brasil de hoje, escrita com tinta
sa altura do caminho, em 2021, mais uma ainda fresca.

Leia mais

Confira nos links abaixo as Referências Técnicas e outros


documentos e legislações citados no texto:

Referências Técnicas para Nota técnica para organi- O dilema preventivista: con- Portaria nº 2.436, de 21 de
atuação de Psicólogas(os) na zação da Rede de Atenção à tribuição para a compreensão setembro de 2017 | Aprova a
atenção básica à saúde Saúde com foco na Atenção e crítica da medicina preven- Política Nacional de Atenção
Primária à Saúde e na Atenção tiva | Tese de doutorado de Básica, estabelecendo a revi-
bit.ly/3D4aLaV Ambulatorial Especializada Antônio Sérgio da Silva Arouca são de diretrizes para a orga-
– Saúde Mental | Sociedade 'defendida em 1975 no depar- nização da Atenção Básica,
Beneficente Israelita Brasileira tamento de Ciências Médicas no âmbito do Sistema Único
Albert Einstein | Hospital da Universidade Estadual de de Saúde (SUS) | Diário Oficial
Israelita Albert Einstein, 2021: Campinas. da União, 2017
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12 | CONTATO 139
Alienação
parental:
conceito importado para o Brasil de
forma acrítica demanda avaliação
cuidadosa de Psicólogas(os)

A
alienação parental é um conceito Confira a seguir a entrevista completa com
que tem sido cada vez mais utilizado a Psicóloga, professora universitária e pes-
no meio jurídico, nem sempre de quisadora Analicia Martins, que atua com o
forma idônea, em processos de separação tema junto a famílias e órgãos de justiça,
litigiosa e disputa de guarda. Em tese, re- além de ser autora dos livros “Síndrome da
fere-se ao proposital afastamento de uma Alienação Parental: um novo tema nos juí-
criança de um de seus genitores – pai ou zos” e “Bullying, Assédio Moral e Alienação
mãe. No entanto, o que está por trás disso é Parental – A produção de novos Dispositivos
muito mais complexo. de Controle Social”.

ENTREVISTA
As mães são as que mais sofrem acusações Contato: A Psicologia reconhece o
de prática de alienação parental. Segundo conceito da alienação parental em
Analicia Martins (CRP-0531168), elas são algum estudo ou base teórica?
“cada vez mais descritas nos processos ju-
Analicia Martins: No Brasil, especialmente
diciais como loucas, doentes, más, vinga-
desde a aprovação da Lei nº 12.318/2010,
tivas, sórdidas, possessivas, etc.” Ou seja,
que define o ato de alienação parental, o
a alienação parental se tornou mais um assunto vem sendo abordado por diferen-
elemento de ameaça e desqualificação das tes campos de saber. No caso da Psicologia
mães com o objetivo de se vencer a querela brasileira, observamos pelo menos duas
a qualquer preço. vertentes no modo de abordar o assunto.
Quando pedidos de laudos ou “diagnós- De um lado, temos uma Psicologia Jurídica
ticos”, nos termos da Lei nº 12.318/2010, que, numa perspectiva social crítica, apon-
a qual caracteriza a alienação parental ta que o legislador, ao privilegiar uma res-
como ilícito civil, chegam a Psicólogas(os), posta punitiva e patologizante para as
é fundamental que as(os) profissio- situações de disputa envolvendo a guarda
nais tenham atenção redobrada com a e a convivência familiar de crianças e ado-
ética e a avaliação crítica das relações fa- lescentes, contribuiu para incrementar o ce-
miliares, levando em conta os efeitos des- nário de ataques e desqualificações mútuas
te trabalho na vida das pessoas avaliadas. entre genitores nas Varas de Família. Ou

CONTATO 139 | 13

O trabalho
da Psicóloga
deve ser o de
seja, a alienação parental, como um novo
ilícito civil, serve como argumento jurídico
a ser empregado por advogadas(os) que
buscam fundamentalmente ganhar a cau-
sa para seu/sua cliente. Para isso, buscam
sejam produzidas posteriormente por aque-
la autarquia orientações quanto às práticas
psicológicas em torno do assunto.
Contato: Existe alguma relação en-
tre a alienação parental e a conste-
laudos ou relatórios na Psicologia Forense
contextualizar e/ou Clínica com um "diagnóstico" (termo lação familiar?
os conflitos empregado pela Lei nº 12.318/2010), espe- Analicia: Diante do modo como esses te-
familiares, cialmente sobre as mães, as quais são cada mas foram difundidos no Brasil, é possível
vez mais descritas nos processos judiciais observarmos algumas proximidades entre
problematizar como loucas, doentes, más, vingativas, sór- elas: a alienação parental e a constelação
as mudanças didas, possessivas, etc. familiar foram importadas para o Brasil e
e os impasses Contudo, para a Psicologia Social Jurídica, promovidas especialmente no âmbito do
vividos pela nas referidas situações de disputa, o traba- judiciário, sem qualquer diálogo com es-
lho da Psicóloga deve ser o de contextuali- tudos e pesquisas nacionais feitas sobre
família em o tema separação conjugal e guarda de
zar os conflitos familiares, problematizar as
crise e intervir mudanças e os impasses vividos pela famí- filhos; as questões de gênero que perpas-
buscando a lia em crise e intervir buscando a constru- sam os temas são basicamente ignoradas
por seus defensores ou apontadas como
construção ção de recursos que possam lhe auxiliar na
"coisa de feminista".
resolução dos conflitos, dentre outras pos-
de recursos sibilidades de atuações. À frente do Projeto de Lei que deu origem
que possam à Lei nº 12.318/2010 havia um juiz que so-
De outro lado, percebemos uma Psicologia
lhe auxiliar Jurídica de viés experimental, com enfoque fria pessoalmente as consequências de uma
na resolução na perícia/avaliação psicológica individual, disputa de guarda; a constelação familiar,
por sua vez, teve como "pioneiro" no Brasil
dos conflitos, e também uma Psicologia Clínica voltada
um juiz que igualmente havia passado
especialmente para o atendimento de crian-
dentre outras ças; ambas comumente desprezam as críti- problemas pessoais. Ambos os conceitos
possibilidades cas e a história do tema alienação parental foram assimilados de forma acrítica por
de atuações. no Brasil, o qual está intimamente ligado profissionais da Psicologia e do Direito que
à polêmica teoria norte-americana sobre atuam com questões de família, promoven-


a síndrome da alienação parental que, por do o rápido surgimento de "especialistas
aqui, ganhou ares de verdade incontestável em alienação parental" e "consteladores"
em sua divulgação inicial pelas associações de olho em um "mercado em expansão".
de homens-pais separados, alinhadas a Alienação parental e constelação familiar
institutos de direito de família. são tidas, especialmente por operadores do
Direito, como "solução" (acrescente-se, má-
Diante dessas diferentes perspectivas sobre gica) para os impasses vividos por famílias
o tema alienação parental na Psicologia em conflito.
brasileira, o Conselho Federal de Psicologia
vem promovendo desde 2019 ações que Contato: A alienação parental é
visam a qualificar o debate na categoria de alguma forma utilizada como
profissional, contribuindo, assim, para que “moeda de troca” em processos de

14 | CONTATO 139
separação litigiosa, disputa de guar-
da ou pensão alimentícia?
Analicia: Não diria "moeda de troca", mas
sim ameaças de acusação de alienação pa-
rental na justiça, feita por um homem-pai
pede de emitir um documento parcial, sem
fundamentação técnica e teórica no âmbi-
to da Psicologia como ciência e profissão.
Entendo que, enquanto as Psicólogas igno-
rarem que o tema alienação parental está

Enquanto as
Psicólogas
ignorarem que o
envolto por aspectos sociais, históricos,
contra a ex-parceira diante da iminência do
políticos, legislativos e de gênero, focando tema alienação
pedido de separação, por exemplo. Outras
vezes, tal ameaça ou a qualificação da mãe
exclusivamente os de ordem individual psi- parental está
como alienadora é feita pelo homem-pai
cológica sobre genitores em disputa, tere- envolto por
mos cada vez mais denúncias éticas contra
durante a separação. Isso pode ocorrer por
profissionais no Conselhos Regionais.
aspectos sociais,
diversos motivos como, por exemplo, dis-
históricos,
puta de poder entre o ex-casal e também Contato: Que reflexões críticas você
como forma de manutenção da violência deixaria para Psicólogas(os) que se políticos,
contra a mulher. deparam com acusações de aliena- legislativos e de
ção parental e pedidos de laudos gênero, focando
Contato: Os documentos elabo-
e pareceres sobre o assunto, feitos
rados por Psicólogas(os), como exclusivamente
tanto por pais e mães em disputa
laudos e pareceres, podem acabar os de ordem
como por juízes?
sendo objetos de disputa por pro-
fissionais do direito, por exemplo? Analicia: Considero fundamental que as individual
Isso pode explicar o grande núme- Psicólogas às quais são encaminhados pe- psicológica
ro de processos éticos derivados didos de avaliação de alienação parental sobre genitores
de documentos produzidos para examinem de forma crítica tais demandas,
o sistema judiciário? buscando compreender o contexto em que em disputa,
elas surgem, o que se pretende com elas teremos cada vez
Analicia: Os pedidos de avaliação de alie-
nação parental feitos no âmbito da Clínica
e quais os seus efeitos tanto na vida das mais denúncias
pessoas avaliadas como alienadas/aliena-
ou do Judiciário têm como objetivo a pro-
doras. Aliado a isso, importa que se ampa-
éticas contra
dução de prova técnica que será utilizada profissionais
rem em estudos atuais sobre divórcio, pa-
por advogados para referendar, na maioria
das situações, o argumento de que os pro-
rentalidade, gênero, arranjos familiares na no Conselhos
contemporaneidade, dentre outros temas,
blemas em torno da guarda e da convivên- Regionais.
o que pode ser feito especialmente a par-
cia dos filhos com o pai (não residente) são


tir de um maior diálogo com a Psicologia
exclusivamente causados pela mãe, a qual,
Social Jurídica. Desse modo, entendo que
portanto, deve sofrer medida judicial como
a inversão da guarda, por exemplo. Muitas as profissionais se afastam de uma abor-
vezes, vemos Psicólogas Clínicas contra- dagem parcial que basicamente categoriza
tadas por um pai para atender a criança os indivíduos como “alienados/vítimas” e
que emitem um documento psicológico, a “alienadores/malvados”, restringindo as-
pedido do contratante ou de seu advoga- sim o entendimento sobre as famílias em
do, sem terem tido contato com a mãe da conflito e as práticas psicológicas na inter-
criança ou, quando o fazem, isso não as im- face com a justiça.
“ESCOLA SEM
PARTIDO”:
as professoras que reproduzem
ideais do movimento mesmo sem
o apoiarem formalmente
Por Ellen Nemitz

E
m rodas de conversa organizadas como trabalhar essa questão de outras fa-
pelo então mestrando em Sociedade mílias, porque família para mim é pai, mãe
e Desenvolvimento pela Unespar/ e filho’”. O pesquisador recorda ainda que
Campo Mourão Jean Pablo Guimarães Rossi esta educadora mencionou a religião das
(CRP-08/24039), treze educadoras da pe- famílias como fator preponderante para a
EDUCAÇÃO

quena cidade de Iretama, no interior do educação. “Eu não sei para onde a escola
Paraná, trocaram ideias sobre temas relati- vai porque agora o ateu está ganhando
vos às aulas, à maneira como cada assunto proporção, em alunos que têm uma família
deve ser tratado com as(os) estudantes e católica ou evangélica você já vê que tem
até mesmo sobre igualdade de gênero em uma direção melhor”, opinou a educadora.
suas casas e ambientes de trabalho.
As falas, segundo o pesquisador, foram se
O pesquisador tinha uma hipótese: a de revelando contraditórias. Se, por um lado,
que alguns preceitos do movimento Escola as professoras se manifestavam contrárias
sem Partido (EsP) estão se arraigando entre aos “lemas” do movimento que nasceu em
professoras da educação básica mesmo que 2004 a partir das demandas de um pai insa-
elas não percebam e se coloquem formal- tisfeito com o professor da filha, por outro
mente contra. “As compreensões delas a advogavam por uma educação escolar su-
respeito de gênero, sexualidade e o papel postamente neutra. A formação do caráter
da escola poderiam abrir algumas lacunas e das opiniões sobre temas que dividem
para a entrada deste movimento na escola”, setores mais conservadores da socieda-
contou o Psicólogo em entrevista à Revista de – como sexualidade, gênero e direitos
Contato. humanos – ficariam a cargo exclusivo das
famílias.
Sem falar explicitamente sobre o EsP, Jean
Pablo levou cartazes com os “mandamen- O resultado das conversas está publicado
tos” do movimento conservador. “Uma pro- no livro “Gênero e educação em tempos
fessora disse que era contra”, relata, “mas de Escola sem Partido: compreensões de
em outros momentos ela disse: ‘eu não sei educadoras em debate”, o qual compila as

16 | CONTATO 139
análises de campo em duas categorias: as se- Outro ponto citado pelo autor é a prevenção
melhanças dos discursos que separam família da violência sexual contra crianças e adoles-
e escola como se cada qual tivesse papéis bas- centes. “A escola é canal de prevenção, for-
tante limitados e nunca interconectados em mação e denúncia. Lutar para que nenhuma
relação à educação, e os medos, opressões e criança sofra violência sexual só é possível se
silenciamentos sobre a atividade docente. discutirmos sexualidade na escola, com edu-
cação sexual”, defende.
“Não basta dizer ‘tem que trabalhar’. É preci-
so formar essas professoras, e essa formação A PSICOLOGIA NA ESCOLA
precisa abarcar as representações pessoais
delas, porque elas levam isso para a escola”, Com a aprovação da Lei nº 13.935/2019,
explica Jean Pablo. “A gente precisa proble- que institui a presença de Psicólogas(os) e
matizar as crenças pessoais, religiosas e bio- Assistentes Sociais nas escolas públicas bra-
médicas que elas têm e reproduzem”, conclui. sileiras, estas(es) profissionais devem ganhar
ainda mais importância no ambiente escolar
Se uma professora se abstém de ensinar al-
pois, ao ser implementada, a lei torna obriga-
gum assunto – e há relatos de turmas que
tória a contratação.
passaram até dois anos sem aprender sobre
reprodução sexuada, por exemplo, ou de Diante deste cenário em que educadoras(es)
professoras que não conseguem nomear ór- podem estar deixando suas crenças pessoais
gãos genitais humanos por vergonha – há interferir no trabalho, a(o) Psicóloga(o) tem
consequências de curto, médio e longo pra- um dever fundamental de se posicionar em
zos, como a falta de preparo para as demais prol da democracia, do Estado laico e dos di-
etapas da formação escolar e universitária e reitos humanos.
mesmo de conhecimentos necessários para a
A(O) profissional da Psicologia, segundo ele,
cidadania adulta plena e responsável.
não pode ficar apenas em uma sala prestando
A ideologia de gênero, explica o Psicólogo, atendimento individual, mas deve percorrer a
é um significante vazio, que tem “1001 uti- escola e entender o que acontece naquele es-
lidades, é tudo e não é nada”. A qualquer paço, formando e conscientizando as pessoas
momento, um conteúdo que desagrada edu- que o compõem.
cadoras(es) ou responsáveis pela criança ou
adolescente pode ser apontado como ideolo- “Diante de situações de machismo, racismo
gia de gênero. No retrocesso conservador que ou LGBTIfobia, a Psicologia vai silenciar? Isso
atualmente vivemos, o conceito pode servir seria corroborar o retrocesso conservador vi-
como balizador para a exclusão de temas que venciado na atualidade. Se isso acontecer, va-
são, a rigor, científicos. “O que o Escola sem mos voltar para os primórdios da Psicologia
Partido faz é uma confusão muito grande en- Escolar e da Educação, que tinha como fun-
tre o que é público e o que é privado. A família ção aplicar testes para padronizar, quantificar
é um campo privado, enquanto a escola é um e normatizar e, consequentemente, separar e
campo público da sociedade.” estigmatizar”, finaliza o profissional.

Para ler
Gênero e educação em tempos de Escola sem Partido: compreensões de edu-
cadoras em debate | Jean Pablo Guimarães Rossi | Pedro e João Editores | 2021

CONTATO 139 | 17
Q DE QUÊ? É HORA DE FALAR SOBRE A
POPULAÇÃO QUEER
QUEER.
Por Ellen Nemitz e Rebeca Amaral

A
s siglas que representam as popu- binária, levando em conta os marcadores
CAPA

lações não cis-heteronormativas já biológicos de sexo e a construção cultural


passaram por diversas mudanças da definição binária”, explica a Psicóloga
ao longo das últimas décadas para abarcar Naíra Frutos Gonzalez (CRP-08/15075),
as transformações do movimento. Hoje, coordenadora do Núcleo de Diversidade
as letras LGBTQIA+ são algumas das mais de Gêneros e Sexualidades do CRP-PR em
usadas, juntamente com o sinal matemáti- Foz do Iguaçu.
co de soma, o que representa a pluralida-
E é aí que entram as populações queer, pa-
de e diversidade de identidades de gênero
lavra derivada da língua inglesa e que signi-
e de sexualidade.
fica algo como “pouco usual”. Aqui, é usada
Mas, se lésbicas, gays, bissexuais, travestis e para designar as pessoas que não se encai-
transexuais são expressões e identidades re- xam nesses padrões binários. A definição da
lativamente mais conhecidas da sociedade palavra representada pela letra Q na sigla
– o que não significa mais aceitas ou que so- LGBTQIA+, no entanto, não é simples ou
fram menos preconceito – outras cos- possível de ser feita em tão poucas palavras
tumam gerar dúvidas até mesmo como em um dicionário inglês-português.
em quem busca compreender as Além disso, requer um olhar múltiplo e livre
diversas identidades de gênero. de marcadores que usualmente propiciam
a exclusão.
Se alguém não se “parece” uma
mulher ou um homem, todas as Por um lado, podemos recorrer à classifica-
certezas que nos foram ensina- ção da pesquisadora Ligia Gomes Victoria,
das e construídas por toda uma que assina o artigo Genderqueer no livro
vida caem por terra. “Acredita- “Gênero e sexualidade na infância e na
se que que os ideais de gê- adolescência” e traz definições fisiológicas,
nero feminino e mascu- como androgenia, ou de autoidentificação,
lino são construções como no caso das pessoas agêneras ou que
sociais estrutu- transitam entre dois ou mais gêneros (pes-
radas há milha- soas não binárias). No entanto, a compreen-
res de anos, que são das pessoas queer perpassa também
tentam definir o aspectos históricos e o que essa identidade
gênero de forma representa na luta pela diversidade.

18 | CONTATO 139
O Psicólogo Rogério Amador de Melo (CRP- tico, não necessariamente a um termo para
08/22606), pesquisador e estudioso em se referir à identidade das pessoas.”
gêneros, sexualidades e políticas de sub-
jetivação, hesita em cravar uma definição, A dificuldade em definir as pessoas queer,
lembrando que esta busca é um grande no entanto, representa a própria caracte-
impasse que envolve a epistemologia do rística de subversão dos padrões binários
termo e a sua chegada ao Brasil, nos anos de homem e mulher. “A confusão que exis-
1990. “Meu posicionamento em relação te entre os termos ‘queer’ e ‘não binário’ é
ao que seria o queer, aqui no Brasil, se- parte do processo das discussões de gênero.
riam corpos que tencionam a colonização Pode até ser produtivo por ajudar a gente a
cis-heteronormativa que impõe sobre nós entender essas discussões, que gêneros, se-
padrões de vida, dentro de uma binaridade xualidades e corporalidades não são fixas”,
que captura, subjetiva, delimita e aprisiona destaca Herbert. O profissional lembra, no
a existência em um sistema de sexo/gêne- entanto, que isso não nos desresponsabili-
ros/desejos/práticas sexuais, agenciados za de entender, conhecer e se apropriar dos
por uma normatização cisgênera e heteros- termos e dos debates que têm acontecido.
sexual impondo-as como ideais, normais e “É parte do nosso compromisso acompa-
naturais a todos os corpos e corpas.” nhar os processos sociais, estudar, investir
na formação continuada. É um compromis-
Já o Psicólogo Herbert de Proença Lopes so ético entender as relações de poder que
(CRP-08/14517), pesquisador das questões constituem as pessoas, as relações”, afirma.
de gênero e professor da PUCPR/Campus
Londrina, faz uma importante diferencia- O QUE DIZEM AS TEORIAS?
ção entre o termo “queer” e “não binarida-
A Psicologia como ciência ainda busca com-
de”. “Muitas pessoas que reivindicam para
preender este fenômeno que, com cada vez
si uma identidade não binária não necessa-
mais frequência, chega aos consultórios e
riamente se reconhecem como queer. Do
aos equipamentos públicos nos quais a(o)
mesmo modo, o termo queer aparece em
Psicóloga(o) atua. Desde os idos dos anos
outros contextos, em outras reivindicações
1980, quando Psicólogas(os) e Psicanalistas
de identidades que também não se restrin-
foram fortemente influenciados pela teó-
gem às expressões não binárias”, explica o
rica estadunidense Judith Butler, até hoje,
pesquisador. “Então a gente observa que
ainda há um longo caminho a se trilhar.
o queer, às vezes, está sendo reivindicado
para outras identidades do guarda-chuva “Depois de longos anos com as problemati-
LGBTIQIA+. O queer também está associa- zações feitas pela Psicologia Social Crítica,
do a um campo de estudos, a um campo por Psicólogas(os) que questionavam as
de práticas artísticas, a um movimento polí- proposições psi que faziam uma dicotomia
entre indivíduo e sociedade, mundo interno E O QUE ISSO SIGNIFICA NA PRÁTICA
e mundo externo, fomos percebendo a plu- DO ATENDIMENTO?
ralidade da vida produzida em diferentes
contextos históricos, ao mesmo tempo que Na opinião do Psicólogo Rogério Melo, é pre-
se começou a dar-se conta de que existem ciso deixar de lado, ao menos momentanea-
diferentes demandas, diferentes comunida- mente, alguns referenciais teórico-metodo-
des, diferentes corpos e que não existe uma lógicos no momento de atender uma pessoa
essência de mulher/homem, mas que esta- queer. Ele sustenta que Psicólogas(os) devem
mos constantemente em processo”, explana considerar as metodologias e práticas inter-
o mestre e doutor em Psicologia e Sociedade ventivas de forma que seus posicionamentos
Rogério Melo. “Isso levou à ampliação dos éticos, estéticos e políticos sejam repensados.
diálogos e alianças teórico-metodológicas, “É preciso tirar os ‘óculos’ do repertório sub-
nos aproximando de outras áreas de conhe- jetivo existencial próprio, e assim passamos
cimento e também das discussões e lutas dos a olhar, perceber, ouvir e nos encontrar com
movimentos sociais, nos levando a debruçar- outras existências que não necessariamen-
mos sobre as questões de gêneros e sexuali- te legitimam ou correspondem aos padrões
dades”, complementa o profissional. cisheteronormativos idealizados, dissemina-
dos e impostos como os únicos modos possí-
O professor Herbert de Proença Lopes pensa
veis e ideais para escrevermos nossa história”,
de forma semelhante. Para ele, as teorias ba-
explica o profissional.
silares da Psicologia não dão conta de com-
preender as formas mais fluidas de pensar Seja na clínica ou em qualquer outro espaço
gênero e sexualidade, até pelo momento his- de atendimento, como equipamentos de saú-
tórico em que foram pensadas. “A gente pode de pública e assistência social, por exemplo,
olhar ao longo da história e em outras socie- a escuta continua sendo a maior aliada da(o)
dades muitas expressões não binárias, muitas Psicóloga(o). É preciso ouvir atentamente o
formas de vivenciar sexualidade e gênero que que aquela pessoa tem a dizer, já que deman-
a gente hoje chamaria de queer, mas isso a da que ela traz pode ou não estar relacio-
gente vai encontrar em outras culturas que nada ao fato de vivenciar aquela identidade
não numa cultura hegemônica, eurocêntrica, de gênero e sexualidade – por outro lado, a
com base nesses princípios da sociedade mo- naturalização dos preconceitos pode levar as
derna ocidental com a qual nós fomos coloni- vítimas das violências a não perceberem a re-
zados”, destaca. lação daquelas situações com a sua saúde
mental.
“Por um lado dar nomes, nomear [as
vivências] é importante. Mas, não ter

20 | CONTATO 139
rótulos... transbordar esses nomes também mas a gente também está lá para aprender
é importante. Inclusive os nomes e a teoria sobre essas expressões.”
queer vão se pautar nessa afirmativa de que
a definição das identidades é muitas vezes li- E SE EU AINDA TIVER DÚVIDAS?
mitante às expressões que nós podemos ter.
Então a gente sempre transborda, e nomear, A disponibilidade para aprender é o primeiro
muitas vezes, é limitar”, afirma Herbert. passo para superar a falta de conhecimento
sobre um assunto que pode, frequentemen-
ELA, ELE OU ELU? te, levar ao espraiamento do preconceito. É
assim com pessoas LGBT, e ainda mais com
Outra dúvida bastante comum é sobre os pro- pessoas queer. O encontro da Psicologia com
nomes de tratamento. Diante de uma pessoa pessoas queer e sua profusão de expressões
queer, deve-se usar pronomes femininos, mas- pode acontecer em qualquer espaço de atua-
culinos ou neutros – como elx/delx ou elu/ ção, a qualquer tempo. Portanto, é preciso
delu? “Acho que tem um ponto de vista ma- ter um preparo consistente para que estes
cro-social e político, que é o uso da linguagem encontros não (re)produzam preconceitos
neutra nos diferentes espaços, nas mídias, sofridos nas relações familiares, de trabalho,
etc. e que influências isso tem ou não sobre com amigas(os) ou cotidianas – e até mesmo
o uso da língua pelas pessoas. Essa dimensão dentro do núcleo dos movimentos LGBTQIA+
não está dissociada de uma outra micro, que –, as quais levam ao adoecimento mental
é no atendimento ou na relação com essas destas pessoas.
pessoas”, explica Herbert.
A resposta para a maior parte dos dilemas
Assim como a escuta é uma aliada, a pergunta que possam surgir ao se deparar com uma
também é. “Perguntar para a pessoa como ela demanda desconhecida pode ser encontra-
quer ser chamada e quais são os pronomes que da no Código de Ética da profissão (CEPP) e
ela utiliza para ser tratada é um bom princípio nas demais legislações do Sistema Conselhos,
que já parte da desnaturalização de um pressu- que condenam veementemente qualquer
posto de que essa pessoa é um homem, é uma tipo de preconceito, exclusão ou patologi-
mulher e de que ela vai ser tratada de um jei- zação de identidades de gênero ou sexuali-
to ou de outro.” Para além de evitar constran- dade. O mesmo CEPP dá à(ao) Psicóloga(o) o
gimentos e reproduções das violências, esta dever de encaminhar demandas para as quais
simples pergunta pode ter outro efeito muito não sinta aptidão técnica, pessoal ou teóri-
benéfico na relação entre Psicóloga(o) e ca. “Cabe à(ao) profissional de Psicologia
paciente. “Fazer essa pergunta é um estar atenta(o) às questões de gênero e se-
gesto que tende a criar um vínculo xualidade, oferecendo escuta e acolhimen-
e também a desdobrar em to para que, no atendimento de sujeitos
outros conhecimentos, LGBTQIA+, a(o) Psicóloga(o) não seja mais
outras aprendizagens ao um agente replicador da violência”, resume a
longo desse proces-
Psicóloga Naíra.
so. A gente está se
dispondo a ofere- Para auxiliar profissionais que, ao atender
cer um trabalho, pessoas LGBTQIA+, deparam-se com dúvidas
uma escuta, um e inseguranças, Rogério Melo aliou a expe-
acolhimento, riência que teve no doutorado em 'Psicologia

CONTATO 139 | 21
e Sociedade pela Universidade Estadual ços, aumentando sua visibilidade. Naíra des-
Paulista (Unesp) para oferecer uma taca a importância da autoaceitação para
mentoria em gênero e sexualidade. a ampliação desses lugares e rompimento
O processo consiste na orientação e de preconceitos, que são “estruturais e es-
acompanhamento em qualquer circuns- truturantes no sujeito”. “Por demonstrarem
tância que abarque pessoas LGBTQIA+. algo ‘indefinido’, pessoas queers passam
“Algumas(uns) Psicólogas(os) nem sabem pelo olhar social da estranheza; e a cons-
o que é nome social ou a diferença entre trução da identidade decorre, também, da
identidade de gênero e expressões de gê- autoaceitação. Ainda que certas pessoas
nero, por exemplo”, recorda. passem pelo processo de identificação com
qualquer sigla, elas não estão imunes ao
Enquanto a supervisão tradicional já preconceito contra si mesmas e socialmen-
possui entendimento e compreensão de- te. Portanto, precisam também conseguir
marcados e ocorre entre Psicólogas(os) fortalecer sua aceitação, a fim de conseguir
com uma linha teórica comum sobre sobreviver às violências sociais decorrentes
casos nos quais há dificuldades de aten- do preconceito que ainda vem sendo des-
dimento, a mentoria elucida e orienta construído socialmente, e que acontece
profissionais a fim de contribuir para a em forma de violências contra as pessoas
garantia de respeito e acolhimento mais
LGBTQIA+”, afirma.
humanizado a pessoas LGBTQIA+. Além
disso, não somente a clínica pode se be- Não se trata, obviamente, de respon-
neficiar, mas também Unidades Básicas sabilizar sujeitos pela dimensão da sua
de Saúde (UBS), Centros de Referência de (in)visibilidade, mas sim de reconhecer que
Assistência Social (CRAS), instituições es- a sociedade, ao estabelecer rígidos padrões
colares, entre outras. de gênero e sexualidade, impõe a certos
grupos um olhar de autocrítica e dúvida
SUPERAÇÃO DOS PRECONCEITOS quanto à própria identidade. Caberá a to-
Aos poucos, fruto de muita luta indi- das e todos nós, mas em especial às(os)
vidual e coletiva, as pessoas queer e Psicólogas(os), contribuir para a ressigni-
as demais que integram a população ficação destes construtos tão arraigados
LGBTQIA+ têm conquistado mais espa- quanto anacrônicos em nossa sociedade.

22 | CONTATO 139
DEMOCRACIA
DEMoCRACIA
SOB A ÓTICA DA PSICOLOGIA SOCIAL
Por Rebeca Amaral
N
a Grécia Antiga, Platão escreveu A Universidade do Estado do Rio de Janeiro
República, uma das obras mais notá- (UERJ) Daniel Sarmento lembra, na obra
veis da história sobre governo, política “Direito Constitucional: teoria, história e mé-
e justiça. As ideias foram registradas há mais todos de trabalho”, que a democracia não se
de dois milênios e, naquele contexto, demo- esgota no respeito ao princípio majoritário e
cracia já era um termo usado para designar o inclui, também, a garantia de direitos básicos
modelo político vigente, analisado e criticado visando à participação igualitária da(o) cida-
pelo filósofo, que se viu abatido com a morte dã(o) na esfera pública, assim como a pro-
de Sócrates, seu mestre. Acusado de corrom- teção às minorias. É transpassada por esse
per os jovens de Atenas com ensinamentos ponto que a Psicologia se encontra com o ins-
que desagradavam o Estado, Sócrates foi tituto democrático para colocar em prática o
“democraticamente” julgado e condenado respeito aos direitos humanos e a eliminação
à morte por envenenamento. Aceitou a sen- de discriminações, violência e opressão.
tença sem resistência. Ao contrário de Platão,
DEMOCRACIA BRASILEIRA: REMINISCÊN-
não deixou escritos, mas nem por isso o seu
CIAS E PROJEÇÕES
legado é menor: o diálogo foi a principal fer-
ramenta de Sócrates para suscitar reflexões Pensar em democracia no Brasil, cuja história
críticas e buscar soluções para os mais diver- tem um enredo violento, escravista e exclu-
sos impasses, inclusive os de ordem política. dente, também é pensar no enfrentamento
das reminiscências de um passado que não
A concepção democrática grega não era
a mesma dos dias atuais e, embora sua eti-
mologia exprima o conceito de governo do
povo, poucos homens formavam o grupo
que definia os rumos políticos de Atenas, ao
passo que mulheres, escravas(os) e estran-
geiras(os) eram excluídas(os) do processo de
tomada de decisões. Ainda assim, a palavra é
a referência moderna que define a expressão
da vontade popular e satisfação dos anseios
sociais em países do Ocidente, como o Brasil.
MAS, AFINAL, O QUE É DEMOCRACIA E DE
QUE FORMA A PSICOLOGIA SE RELACIONA
COM ELA?
Para entender o que é democracia, antes de
tudo é necessário sair do lugar-comum que
a estabelece como a vontade da maioria,
pois suas implicações são por demais com-
plexas para que se encaixem em um concei-
to que se aproxima da banalização. O juris-
ta e professor de direito constitucional da
foi superado. Apesar dos tempos modernos, nessa crise, avaliada como a pior do período
é difícil não relacionar a antiga democracia pós-democrático brasileiro, em termos sani-
grega com a que é praticada hoje: a exclusão tários, econômicos e político-institucionais.
não é um instituto formalmente elaborado
O profissional reflete sobre o papel da
como na época de Platão e Sócrates, mas ela
Psicologia na manutenção e construção da
continua em voga, seja velada ou explicita-
democracia no país, que precisa de maior
mente, pois certos grupos sociais permane-
transparência das(os) agentes e instituições
cem ignorados.
públicas. “É importante que Psicólogas(os)
Para o Psicólogo Roberth Miniguine Tavanti respondam a esse cenário catastrófico consi-
(CRP-08/15295), a pandemia salienta essa cir- derando não só a sua participação e respon-
cunstância. “Se antes de 2020 já estávamos sabilidade no campo das políticas públicas,
entre os países mais desiguais do mundo, mas também engajadas(os) ética e politica-
com problemas relacionados à violência e mente pela superação das desigualdades,
violação de direitos que atingem, sobretudo, injustiças e vulnerabilidades que atingem
mulheres, adolescentes e jovens negras(os), as(os) brasileiras(os)”, afirma. Esperançoso,
idosas(os) e população LGBTQIA+, o agrava- Roberth argumenta a favor da vida e do diá-
mento da pandemia indica que os grupos logo entre as(os) diferentes, crê na força da
mais afetados por ela são os mesmos que, resistência e da perseverança, e na ação cole-
historicamente, encontram-se em situação tiva mobilizada pelos movimentos sociais em
de vulnerabilidade social”, afirma Roberth, conexão com a sociedade para mudar a rea-
que também é professor do departamen- lidade desproporcional que nos cerca. Sobre
to de Psicologia Social e Institucional da isso, ele diz: “Precisamos nos envolver diaria-
Universidade Estadual de Londrina (UEL). mente como Psicólogas(os) e cidadãs(os) na
construção de novas perspectivas para a vida
Apesar disso, o Psicólogo e vice-presidente da
coletiva, com base em valores democráticos
regional paranaense da Associação Brasileira
e luta contínua pela defesa e efetivação dos
de Psicologia Social (Abrapso) destaca a in-
direitos de cidadania”.
serção gradual, nos últimos trinta anos, de
Psicólogas(os) em programas, projetos e ser- POR QUE A LIBERDADE INCOMODA?
viços no vasto campo das políticas públicas
Além das políticas públicas, a Psicologia incli-
sociais. Esse dado temporal coincide com a
na-se sobre as relações humanas que se de-
promulgação da Constituição Federal brasi-
senvolvem em grupos e entre eles, as quais
leira, que ocorreu há pouco mais de três dé-
compõem cenários refletidos em aspectos
cadas, em 1988, e marcou o fim da ditadura
políticos e sociais de um país. No Brasil,
no Brasil. O momento, entretanto, tem sido
a condição tem se projetado nos ânimos
de desmonte e enfraquecimento das políti-
das(os) brasileiras(os) por meio do acirramen-
cas públicas, como Roberth observa, e por
to político, inflamado pelo apreço explícito a
isso ele enfatiza a atuação
práticas que não condizem com a democra-
das(os) profissionais
cia, como pedidos de extinção de instituições
previstas constitucionalmente e até mesmo
de militarização do Estado.
A excentricidade das propostas se choca com
o usufruto de direitos e traz um questiona-
mento à mente: por que a liberdade incomo-
da tanto, ainda que as pessoas que pedem o

CONTATO 139 | 25
seu cerceamento sejam igualmente prejudi- turbar a ordem das instituições, engessadas
cadas pela supressão de direitos? em verdades que não dão espaço para di-
versidade de visões e de práticas. “Embora
A Psicóloga Cláudia Cibele Bitdinger
seja uma submissão que possa causar sofri-
Cobalchini (CRP-08/07915), professora de
mento, ela permite que as pessoas se sin-
Psicologia Social, Comunitária e da Saúde,
tam relaxadas porque há certezas em voga
reflete com cautela, indicando que a liber-
que administram a realidade sem surpresas.
dade pode ter mais de um conceito. Em um
Estarmos atentas(os) à responsabilidade so-
deles, as sociedades capitalistas restringem
bre nossas decisões nos mantém em tensão,
sujeitos e grupos à liberdade de mercado e
e isso é cansativo, ainda mais na ausência de
consumo, com pouca preocupação acerca
mobilizações coletivas que endossem uma
dos efeitos disso. Para ela, há uma aliena-
sociedade mais justa”, avalia a Psicóloga.
ção sobre a constituição social e sistêmica
em relação ao ambiente, o que cria a falsa Sobre a Psicologia no contexto social e
ideia de liberdade. o despertar de uma consciência que deve
promover a igualdade, a profissional é in-
Por outro lado, há o conceito da liberdade
cisiva: “A formação em Psicologia vai além
de ampliação de consciência que, como a
da graduação, passando por atividades ex-
profissional explica, produz a responsabili-
tracurriculares, quando o encontro com ou-
dade. “Em nosso projeto de sociedade, ven-
tras áreas leva à construção de fazeres que
de-se a ilusão de que só sobrevive quem se
buscam melhores condições de vida para
destaca a qualquer custo, sem exercitar a
todas(os)”. Ela conclui, ainda, que a resis-
alteridade e a compreensão sobre a nossa
tência se forma coletivamente.
relação direta com a produção das condi-
ções de vida. Assim, há um apartamento A democracia brasileira, portanto, precisa
da identificação enquanto gênero humano, se recuperar e se fortalecer para que dela
fazendo-nos padecer da falta de senso de resultem o exercício da cidadania, o pleno
coletividade e, nesse caso, o que vale é o desfrute dos direitos humanos e a inclusão
exercício do meu direito, que não se apli- de grupos ainda tão vulnerabilizados. Para
caria de modo igualitário a outrem”, expli- isso, é necessário entender o real propósito
ca a Psicóloga, doutoranda em Educação, democrático e olhar para o passado a fim
Trabalho e Subjetividade na Universidade de não o repetir.
Federal do Paraná (UFPR).
O cenário atual, porém, desafia
Cláudia comenta o fascínio de algumas pes- Psicólogas(os) enquanto elas(es) refletem,
soas por regimes antidemocráticos. Para trabalham e resistem – inquietas(os) e críti-
aquelas(es) que defendem a volta ao esta- cas(os) – às tentativas de supressão de liber-
do ditatorial, segundo ela, as referências dade de direitos e de exclusão social. Que
(sentido) são tomadas como positivas e de a Psicologia e os diferentes saberes sejam
pouca responsabilidade sobre as decisões, compartilhados, e que as vozes do diálogo
uma vez que caberia ao governo ditá-las. jamais se calem diante daquilo que promo-
Logo, pede-se a punição de quem ousa per- ve ou tenta promover injustiças.

Para ler mais:


Direito Constitucional: teoria, história e métodos de trabalho, de Cláudio Pereira
de Souza Neto e Daniel Sarmento (2ª edição, Belo Horizonte, Ed. Fórum, 2014).
A(O) Psicóloga(o) é um
sujeito de direitos?
Por uma ética implicada no
respeito ao sujeito humano
e seus direitos fundamentais

Por Psic. Thainã Eloa Silva Dionisio (CRP-08/26927) e Psic. Bruna Frogeri
Fernandes (CRP-08/19294), com colaboração da Comissão de Orientação e
Fiscalizaçao (COF) CRP-PR

J
aneiro contempla diversas comemora- nário social vem motivando a adoção de
ções e datas de visibilidade. Uma de- algumas medidas. Um marco importante
las, foco desta coluna, é a Visibilidade é a Resolução CFP nº 10/2018, que assegura
Transexual. O Conselho Regional de o direito de ter o nome social na Carteira
Psicologia do Paraná (CRP-PR) já produziu de Identidade Profissional (CIP), garantindo

ORIENTAÇÃO E FISCALIZAÇÃO
diversos conteúdos sobre o papel da(o) assim um direito básico e fundamental para
profissional de Psicologia ao atender pes- estas(es) profissionais.
soas transexuais, seja em textos publicados
Além disso, pensando em amparar profis-
nesta revista, no site www.crppr.org.br ou
sionais que sofrem preconceito no exercí-
mesmo a Nota Técnica CRP-PR nº 002/2018,
cio profissional da Psicologia e não denun-
que orienta a atuação neste contexto
ciam a situação por receio de retaliações
com base no respeito, na autonomia e
no âmbito profissional, a Comissão de
na despatologização. Orientação e Fiscalização (COF) traz algu-
Além de orientar acerca da atuação de pro- mas orientações.
fissionais no atendimento, considerando os É POSSÍVEL QUE A(O) PSICÓLOGA(O) EN-
direitos das(os) usuárias(os) atendidas(os), o CERRE O ATENDIMENTO FRENTE A SITUA-
CRP-PR busca considerar em suas ações não ÇÕES EM QUE NÃO SE SENTE CONFORTÁ-
apenas os deveres, mas também os direitos VEL OU SEGURA(O) PARA ATENDER?
de profissionais da Psicologia, fomentando
Os Princípios Fundamentais do CEPP ressal-
o exercício da profissão de forma crítica e
tam que profissionais basearão o seu traba-
consonante ao Código de Ética Profissional
lho no respeito e na promoção da liberdade,
do Psicólogo (CEPP).
dignidade, igualdade e integridade do ser
A categoria é, antes de tudo, formada por humano e contribuirão para a eliminação
pessoas, e cada profissional tem suas par- de quaisquer formas de negligência, discri-
ticularidades e vivências. A luta de profis- minação, exploração, violência, crueldade e
sionais trans por visibilidade em nosso ce- opressão. Para a COF do CRP-PR, esse com-

CONTATO 139 | 27
promisso inclui a(o) própria(o) Psicóloga(o) que, dos Psicólogos do Paraná (Sindypsi-PR), que tem
em situações em que não se sente confortável como função organizar e defender os interesses
ou segura(o) para prestar o serviço, pode encer- da categoria nos assuntos trabalhistas.
rar o atendimento, realizando os encaminha-
A ATUAÇÃO DO CRP-PR FRENTE A
mentos cabíveis (conforme artigo 1º, alínea “k”,
QUESTIONAMENTOS EM RELAÇÃO AO
e artigo 6º do CEPP). EXERCÍCIO PROFISSIONAL
FRENTE A SITUAÇÕES EM QUE UMA AMEA- A atuação da COF do CRP-PR é guiada pela
ÇA, OU VIOLAÇÃO EM RELAÇÃO À(AO) Resolução CFP nº 10/2017, que institui a Política
PSICÓLOGA(O) TENHA OCORRIDO, QUAIS de Orientação e Fiscalização (POF) do Sistema
SÃO AS ORIENTAÇÕES DO CRP-PR? Conselhos de Psicologia. Essa normativa esta-
Profissionais podem registrar boletim de ocor- belece que as ações da COF devem primar pela
rência (B.O.) e denunciar caso sintam sua inte- orientação e diálogo, fomentando a aproximação
gridade física ameaçada pela conduta de usuá- com a categoria e visando à garantia de direitos.
rios(as) do serviço, ou recebam diretamente Toda(o) profissional de Psicologia pode ser ques-
ameaças durante ou por decorrência de seu tionada(o) quanto a sua conduta profissional. No
exercício profissional. Em caso de dúvidas, re- caso da abertura de um processo disciplinar ético,
comendamos a realização de supervisão técnica da mesma forma que a(o) denunciante apresenta
para auxílio nessa avaliação. suas acusações ao CRP-PR, a(o) Psicóloga(o) de-
Além disso, o CEPP considera a prerrogativa da nunciada(o) possui o direito de ampla defesa as-
quebra de sigilo profissional, conforme aponta o segurado, sendo ambas(os) as(os) envolvidas(os)
artigo 10. A decisão pela quebra de sigilo é da au- ouvidas(os) no processo.
tonomia e responsabilidade da(o) Psicóloga(o), QUAL É A ÉTICA QUE O CRP-PR VEM FOMENTAR?
sendo necessário estar fundamentado e basear
É compromisso do CRP-PR fomentar o respeito
sua decisão na busca do menor prejuízo. Frente
ao sujeito humano e seus direitos fundamentais
a tal decisão, é necessário compreender quais as
– sejam usuárias(os) do serviço psicológico ou
informações estritamente necessárias a serem
profissionais da Psicologia. Assim, almeja-se que
transmitidas, a quem encaminhá-las e como re-
a sociedade receba serviços de qualidade e que
passar a informação.
respeitem os direitos humanos.
É importante ainda que a(o) Psicóloga(o) man-
Uma importante instância de debate no CRP-
tenha o registro da sua avaliação técnica e in-
PR é o Núcleo de Diversidade de Gênero e
tervenções nos registros documentais ou pron-
Sexualidades (Diverges), vinculado à Comissão
tuário (conforme a Resolução CFP nº 001/2009).
de Direitos Humanos (CDH). Para participar
Recomendamos que, frente a essas situações, dessas e outras discussões, informe-se em:
as(os) profissionais busquem auxílio do Sindicato www.crppr.org.br/comissoes

Saiba mais

Para acessar as Notas Técnicas e Resoluções mencionadas neste artigo, bem como o
Código de Ética Profissional do Psicólogo, utilize os links ou QR Codes abaixo.

Código de Ética Nota Técnica CRP-PR Resolução CFP Resolução CFP Resolução CFP
Profissional do nº 002/2018: nº 10/2018: nº 001/2009: nº 10/2017:
Psicólogo (CEPP):
bit.ly/3lB4QnY bit.ly/3dlHL42 bit.ly/3dp9P6E bit.ly/3DoSvt1
bit.ly/31vdTjp

28 | CONTATO 139
POSTURA ÉTICA
DA PSICOLOGIA
EM CONTEXTOS DE
INTOLERÂNCIA RELIGIOSA
Por Psic. Flávio Voigt Komonski (CRP-08/19733), membro da
Comissão de Ética do CRP-PR

N
o dia 21 de janeiro, promove-se no Psicologia deve ser pautada pelo respeito
Brasil o Dia Nacional de Combate às subjetividades de pessoas em qualquer
à Intolerância Religiosa. Essa data, denominação religiosa.
criada em 2007, provém do tardio reconhe-
Manter-se balizada pela laicidade não é uma
cimento do Estado brasileiro em relação às
orientação para evitar o tema da religião.
violações da liberdade de crença no país e
Há importância nas produções subjetivas
da necessidade de afirmar o direito das cida-
que podem ser derivadas do encontro entre
dãs e cidadãos brasileiras(os) à liberdade de

ÉTICA
a Psicologia e as crenças espirituais de cada
consciência e de crença.
pessoa. Em 1988, a Organização Mundial da
O Código de Ética Profissional da Psicologia Saúde (OMS) incluiu a espiritualidade em seu
(CEPP) faz várias referências à questão da conceito multidimensional de saúde, definin-
liberdade religiosa desde os seus Princípios do-a como a interface humana em relação a
Fundamentais. Estes princípios preconizam questões como significado e sentido da vida,
uma atuação profissional baseada "no respei- não limitada a um único tipo de crença ou
to e na promoção da liberdade, da dignidade, prática religiosa.
da igualdade e da integridade", assim como
Essa inclusão traz visibilidade à importância
a eliminação de quaisquer formas de discri-
dessa dimensão para uma experiência huma-
minação. Além disso, preveem que a atuação
na carregada de sentido. Sendo assim, a pos-
da(o) profissional de Psicologia seja capaz de
tura da(o) profissional de Psicologia precisa
fazer uma análise crítica e histórica da reali-
se organizar a partir de uma escuta sensível
dade política, econômica, social e cultural.
e respeitosa às realidades espirituais, mas
Estes princípios parecem reconhecer que, ain- também mantendo atenção às dinâmicas
da que seja um país fortemente permeado ali presentes que possam vir a violar direitos
por religiosidade, o Brasil contém dinâmicas humanos fundamentais.
discriminatórias à liberdade religiosa.
Vale também lembrar o que diz o artigo 2º,
Em geral, tais dinâmicas afetam principal- alínea “b” do Código de Ética Profissional,
mente grupos religiosos afro-brasileiros, que veda à(ao) Psicóloga(o) "induzir a con-
nichos religiosos minoritários e o ateísmo. vicções políticas, filosóficas, morais, ideo-
Entretanto, a postura da(o) profissional de lógicas, religiosas, de orientação sexual ou

CONTATO 139 | 29
a qualquer tipo de preconceito, quando do
exercício de suas funções profissionais". Isto
quer dizer que, ainda que possa haver uma
dimensão religiosa na pessoa da(o) profissio-
nal de Psicologia, esta jamais deve pautar sua
atuação no contexto do seu ofício.
Para ler e
saber mais
Entretanto, numa realidade em que a intole-
rância religiosa se faz presente, faz parte de
uma conduta ética desenvolver uma postura
crítica em momentos em que o saber psicoló- Coleção Psicologia,
gico fundamentado na ciência e no respeito Laicidade e as Relações
aos direitos humanos é atacado pelo funda- com a Religião e a
mentalismo religioso. Espiritualidade São
Paulo · 2016 · 1ª Edição
Os exemplos são vários e cotidianos, desde a Conselho Regional de
tentativa de grupos fundamentalistas de co- Psicologia SP - CRP 06:
agir Conselhos Profissionais a inserir no set-
ting terapêutico práticas pautadas por suas
bit.ly/31wePnA
crenças religiosas, passando por comunida-
des terapêuticas que podem não respeitar a
liberdade religiosa de seus clientes, até reali-
dades jurídicas em que a participação de uma
pessoa em determinadas confissões religio-
sas possa influenciar nas decisões de disputa
pela guarda dos filhos.
A prática da Psicologia precisa sempre buscar
separar sua atuação pautada pela ciência dos GT Nacional Laicidade
conhecimentos dogmáticos da religião, lem- e Psicologia – Texto
brando sempre que, apesar de a Psicologia aprovado na APAF de
poder ter uma dimensão espiritual, ela não maio de 2013:
tem uma dimensão religiosa. Mesmo assim, é
possível e encorajado que nos aprofundemos bit.ly/3psMJlt
no debate das relações da Psicologia com a
espiritualidade, produzindo a partir de um
olhar respeitoso aos mais diversos conheci-
mentos populares e tradicionais presentes em
nosso território nacional.
Essa atenção respeitosa pode ser uma fon-
te muito rica para expandir a compreensão
dessa dimensão tão importante do ser hu-
mano, sem violentar subjetividades e res-
peitando a diversidade em mais um aspecto
da experiência humana.

30 | CONTATO 139
EDITAL DE CENSURA PÚBLICA
COE 001/2021
O Conselho Regional de Psicologia - 8a Região, em obediência ao dispos- b) Assumir responsabilidades profissionais somente por atividades
to na Lei no 5.766/71, Decreto no 79.822/77 e Código de Processamento para as quais esteja capacitado pessoal, teórica e tecnicamente;
Disciplinar, pelo presente Edital, torna pública a decisão do Conselho c) Prestar serviços psicológicos de qualidade, em condições de tra-
Regional de Psicologia, no Processo Ético Disciplinar no 008/2016, em apli- balho dignas de conhecimento e técnicas reconhecidamente fundamenta-
car a pena de CENSURA PÚBLICA, cumulada de MULTA 01 (uma) anuidade, dos na ciência psicológica, na ética e na legislação profissional.
tendo como referência o valor da anuidade praticada por este CRP-08 no
Art. 2º - Ao psicólogo é vedado:
exercício de 2021, para a Psicóloga Bruna Carlos Marques, CRP-08/14798,
por infração ao Princípio Fundamental VII; Art. 1º, alíneas “a”, “b” e “c”; Art. a) Praticar ou ser conivente com quaisquer atos que caracterizem
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade ou opressão;
2º, alíneas “a”, “g” e “h” do Código de Ética Profissional do Psicólogo, e
Resolução CFP n° 007/2003. g) Emitir documentos sem fundamentação e qualidade
técnico-científica;
Do Código de Ética Profissional dos Psicólogos:
h) Interferir na validade e fidedignidade de instrumentos e técnicas
Princípio Fundamental:
psicológicas, adulterar seus resultados ou fazer declarações falsas.
VII. O psicólogo considerará as relações de poder nos contextos em
que atua e os impactos dessas relações sobre suas atividades profissionais, Curitiba, 25 de outubro de 2021.
posicionando-se de forma crítica e em consonância com os demais princípios
deste Código. Psic. Celia Mazza de Souza - CRP-08/02052
Conselheira Presidente do CRP-08
Art. 1º - São deveres fundamentais dos psicólogos:

a) Conhecer, divulgar, cumprir e fazer cumprir este Código;

COE 002/2021
O Conselho Regional de Psicologia - 8a Região, em obediência ao dispos- em que atua e os impactos dessas relações sobre as suas atividades
to na Lei no 5.766/71, Decreto no 79.822/77 e Código de Processamento profissionais, posicionando-se de forma crítica e em consonância com
Disciplinar, pelo presente Edital, torna pública a decisão do Conselho os demais princípios deste Código.
Regional de Psicologia, no Processo Ético Disciplinar no 006/2017, em Art. 1º - São deveres fundamentais dos Psicólogos:
aplicar a pena de CENSURA PÚBLICA, cumulada de MULTA 01 (uma)
a) Conhecer, divulgar, cumprir e fazer cumprir este Código;
anuidade, tendo como referência o valor da anuidade praticada por
este CRP-08 no exercício de 2021, para o Psicólogo Ricardo Baracho i) Zelar para que a comercialização, aquisição, doação, em-
dos Anjos - CRP-08/12643, por infração aos Princípios Fundamentais préstimo, guarda e forma de divulgação do material privativo do psicó-
III, IV, V, VI e VII; Art.1º, alíneas “a” e “i”; Art. 2º, alínea “a”; Art. 18 e Art. logo sejam feitas conforme os princípios deste Código.

20, alínea “h” do Código de Ética Profissional do Psicólogo: Art. 2º - Ao psicólogo é vedado:

Princípio Fundamental: a) Praticar ou ser conivente com quaisquer atos que caracte-
rizem negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade ou
III. O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisan-
opressão;
do crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e
cultural. Art. 18 - O psicólogo não divulgará, ensinará, cederá, emprestará ou
venderá a leigos instrumentos e técnicas psicológicas que permitam
IV. O psicólogo atuará com responsabilidade, por meio do contí-
ou facilitem o exercício ilegal da profissão.
nuo aprimoramento profissional, contribuindo para o desenvolvimento
da Psicologia como campo científico de conhecimento e de prática. Art. 20 – O psicólogo, ao promover publicamente seus serviços, por
quaisquer meios, individual ou coletivamente:
V. O psicólogo contribuirá para promover a universalização do
acesso da população às informações, ao conhecimento da ciência psico- h) Não fará divulgação sensacionalista das atividades
lógica, aos serviços e aos padrões éticos da profissão
profissionais.
VI. O psicólogo zelará para que o exercício profissional seja efe-
tuado com dignidade, rejeitando situações em que a Psicologia esteja Curitiba, 27 de outubro de 2021.
sendo aviltada.
Psic. Celia Mazza de Souza - CRP-08/02052
VII. O psicólogo considerará as relações de poder nos contextos
Conselheira Presidente do CRP-08
COE 003/2021 - EDITAL DE PENALIDADE
O Conselho Regional de Psicologia - 8a Região, em obediência ao dispos- Art. 1º - São deveres fundamentais dos psicólogos:
to na Lei nº 5.766/71, Decreto nº 79.822/77 e Código de Processamento
c) Prestar serviços psicológicos de qualidade, em condições de tra-
Disciplinar (Res. CFP 011/2019), pelo presente Edital, torna pública a de- balho dignas e apropriadas à natureza desses serviços, utilizando princípios,
cisão do Conselho Federal de Psicologia, no Processo Ético Disciplinar conhecimentos e técnicas reconhecidamente fundamentados na ciência
no 016/2015, em aplicar a penalidade de MULTA de 05 (cinco) anuidades, psicológica, na ética e na legislação profissional.
tendo como referência o valor da anuidade praticada por este CRP-08 no
f) Fornecer, a quem de direito, na prestação de serviços psicológi -
exercício de 2021, para a Psicóloga Lara Arguello Aires Barbosa, CRP-
cos, informações concernentes ao trabalho a ser realizado e ao seu objetivo
08/09880, por infração aos Princípios Fundamentais II, IV e VI; Artigo profissional.
1º, alíneas “c” e “f”; Artigo 2º, alíneas “g” e “h”, todos do Código de Ética
Art. 2º - Ao psicólogo é vedado:
Profissional do Psicólogo; Resolução CFP nº 007/2003 (revogada pela
Resolução CFP 006/2019). g) Emitir documentos sem fundamentação e qualidade
técnico-científica.
Do Código de Ética Profissional dos Psicólogos:
h) Interferir na validade e fidedignidade de instrumentos e técnicas
Princípio Fundamental: psicológicas, adulterar seus resultados e fazer declarações falsas.
II. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualida- Outrossim, conforme prescreve o Artigo 146 do CPD vigente (Res. CFP
de de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação 011/2019), a penalidade aplicada será anotada em seu prontuário.
de quaisquer formas de negligencia, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão.

IV. O psicólogo atuará com responsabilidade, por meio do conti - Curitiba, 27 de outubro de 2021.
nuo aprimoramento profissional, contribuindo para o desenvolvimento da
Psicologia como campo cientifico de conhecimento e prática. Psic. Celia Mazza de Souza - CRP-08/02052
Conselheira Presidente do CRP-08
VI. O psicólogo zelará para que o exercício profissional seja
efetuado com dignidade, rejeitando situações em que a Psicologia
esteja sendo aviltada.

COE 004/2021 - EDITAL CENSURA PÚBLICA


O Conselho Regional de Psicologia - 8a Região, em obediência ao disposto na f) Prestar serviços ou vincular o título de psicólogo a serviços de
Lei no 5.766/71, Decreto no 79.822/77 e Código de Processamento Disciplinar, atendimento psicológico cujos procedimentos, técnicas e meios não este-
jam regulamentados ou reconhecidos pela profissão;
pelo presente Edital, torna pública a decisão do Conselho Regional de
Psicologia, no Processo Ético Disciplinar no 023/2015, em aplicar a pena de i) Induzir qualquer pessoa ou organização a recorrer a seus
CENSURA PÚBLICA a Psicóloga Darlene Schlemper Correa, 08/12921, por serviços.
infração aos Princípios Fundamentais III, V e VI; Artigo 1º alíneas “a”, “b”, “e” Art. 20 – O psicólogo, ao promover publicamente seus serviços, por quais-
e “j”; Artigo 2º, alíneas “a”, “f” e “i”; Artigo 20, alíneas “a”, “b”, “c”, “d”, “e”, quer meios, individual ou coletivamente:
“f”, “g” e “h” do Código de Ética Profissional do Psicólogo; Resolução CFP Nº a) Informará o seu nome completo, o CRP e seu número de
011/2012, Art. 2º. registro;

Do Código de Ética Profissional dos Psicólogos: b) Fará referência apenas a títulos ou qualificações profissionais
que possua;
Princípio Fundamental:
c) Divulgará somente qualificações, atividades e recursos relativos
III. O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica a técnicas e práticas que estejam reconhecidas ou regulamentadas pela
e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural. profissão;
V. O psicólogo contribuirá para promover a universalização do acesso d) Não utilizará o preço do serviço como forma de propaganda;
da população às informações, ao conhecimento da ciência psicológica, aos
serviços e aos padrões éticos da profissão. e) Não fará previsão taxativa de resultados;

VI. O psicólogo zelará para que o exercício profissional seja efetuado f) Não fará autopromoção em detrimento de outros profissionais;
com dignidade, rejeitando situações em que a Psicologia esteja sendo aviltada.
g) Não proporá atividades que sejam atribuições privativas de ou-
Art. 1º – São deveres fundamentais dos psicólogos: tras categorias profissionais;

a) Conhecer, divulgar, cumprir e fazer cumprir este Código; h) Não fará divulgação sensacionalista das atividades profissionais.

b) Assumir responsabilidades profissionais somente por atividades Da Resolução CFP 011/2012:


para as quais esteja capacitado pessoal, teórica e tecnicamente;
Art. 2º - Quando os serviços psicológicos forem prestados regularmente pelo
e) Estabelecer acordos de prestação de serviços que respeitem os di- profissional, este está obrigado à realização de cadastramento desses servi-
reitos do usuário ou beneficiário de serviços de Psicologia;
ços no Conselho Regional de Psicologia no qual está inscrito.
j) Ter, para com o trabalho dos psicólogos e de outros profissionais,
respeito, consideração e solidariedade, e, quando solicitado, colaborar com
estes, salvo impedimento por motivo relevante;
Curitiba, 25 de outubro de 2021.
Art. 2º – Ao psicólogo é vedado:
Psic. Celia Mazza de Souza - CRP-08/02052
a) Praticar ou ser conivente com quaisquer atos que caracterizem ne-
Conselheira Presidente do CRP-08
gligência, discriminação, exploração, violência, crueldade ou opressão;
$$$

O QUE VOCÊ
PRECISA SABER
SOBRE A ANUIDADE
DO CRP-PR EM 2022?

C
om a chegada do início do ano, sem- capital social acima de R$ 50.000,01 (valores
pre surgem dúvidas sobre o paga- já incluindo o fundo de seção de R$ 6,79).
mento das anuidades do Conselho
QUAIS AS FORMAS DE PAGAMENTO?
Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR).
Muitas informações já foram repassadas ao As anuidades podem ser pagas à vista ou
longo dos últimos meses, e a seguir você parceladas em até cinco vezes (com venci-
confere um compilado de tudo que precisa mentos entre janeiro e maio). Os boletos
saber para estar em dia com a sua anuidade com as duas possibilidades de pagamento
em 2022. são enviados juntos. Se optar pela modali-

ADMINISTRATIVO-FINANCEIRO
dade parcelada, basta separar os cinco bo-
HOUVE REAJUSTE NAS ANUIDADES PARA letos sequenciais e respeitar os vencimentos
2022? indicados, desconsiderando o boleto de cota
Não! Em 2022, as anuidades praticadas única.
pelo CRP-PR terão o mesmo valor pelo se- HÁ FORMAS DE SE OBTER DESCONTO?
gundo ano consecutivo, conforme decisão
Sim! É possível usufruir de um desconto de
firmada pela categoria na Assembleia Geral
15% para pagamento à vista até 31 de janeiro
Orçamentária realizada em agosto de 2021.
de 2022. Além disso, recém-formadas(os) há
Mesmo com os reajustes anuais em contra-
até 24 meses têm 20% de desconto na pri-
tos e salários, o resultado foi possível graças
meira anuidade do registro, para pagamen-
à reorganização do orçamento do CRP-PR.
to à vista.
QUAIS OS VALORES PARA A ANUIDADE
COMO VOU RECEBER MEU BOLETO?
2022?
Da mesma maneira que em 2020, o envio dos
As anuidades para Pessoa Física têm o va- boletos será feito exclusivamente por e-mail
lor de R$ 507,00 mais um fundo de seção e ficará disponível para reemissão pelo site
no valor de R$ 6,79, totalizando R$ 513,79. w w w.c rp p r.org . b r/boleto - anui dad e .
Já as anuidades para Pessoa Jurídica variam Atenção: não haverá envio de boletos im-
de acordo com o capital social: R$ 260,29 pressos pelos Correios, uma medida que ga-
para empresa com capital social até R$ rante economia de recursos e maior pratici-
50.000,00 e R$ 513,79 para empresas com dade para as(os) profissionais.

DICA: para evitar problemas no recebimento dos arquivos, recomenda-se


que a categoria atualize seus dados com antecedência. Para atualizar o cadas-
tro, a(o) Psicóloga(o) deve entrar na aba de Serviços, no site do CRP-PR, e sele-
cionar a opção “Pessoa Física”. Na página, basta encontrar o item “Atualização
Cadastral” e prosseguir com a atualização dos dados.

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CONTATO 139 | 33
Encarar a vida como
um poema
Por Psic. Vinícius Romagnolli Rodrigues Gomes (CRP-08/16521), psicanalista, mestre
e doutorando em Psicologia, autor do livro "30+1: vida como poema"

F
reud tinha uma atitude ambivalente em quem acolhe o heroísmo da vida vivida em
relação aos poetas, ora admirando, ora seus dias banais e extraordinários.
invejando a capacidade destes de fanta-
Na obra “Poesia, psicanálise e conhecimen-
siar e criar. Podemos dizer que os poetas se
to”, Eduardo Rodrigues Peyon nos elucida
tornaram aliados do pai da psicanálise em
que a poesia é uma possibilidade de res-
sua investigação, como trazem os autores J.B.
posta humana frente aos mistérios da vida,
Pontalis e Edmundo Gómez Mango na obra
uma tentativa de compreensão do ser, do
ESPAÇO PSI Ψ

“Freud com os escritores". Freud reconheceu


desejo e que por isso mesmo nunca houve e
na Dichtung – atividade poética – um acesso
nem haverá superação do poético, pois não
privilegiado para a verdade psíquica. Para ele,
há construção de conhecimento sem a di-
tanto a literatura como a psicanálise visam,
mensão do poético, da sensibilidade, da in-
por meio de seus procedimentos próprios, a
tuição e da imaginação na relação com ou-
explicar a complexidade da alma humana e
tro íntimo e estranho, próximo e distante.
seus conflitos obscuros.
É certo que mesmo o poeta, tão admira-
Em “O poeta e o fantasiar” (1908/2015),
do por Freud, não alcança o desvelamento
Freud buscou compreender de onde o es-
completo do inconsciente, mas re-vela o
critor retira seu material e como nos toca
desconhecido, ou seja, renova o enigma e
profundamente com seus escritos, provo-
relança a verdade. O poeta constrói uma
cando em nós profundas emoções. Nesta
sabedoria sobre o desconhecido sem ter
obra, considera o escritor um “sonhador em
necessariamente consciência disso. O psica-
pleno dia”, e a obra literária e o devaneio
nalista teoriza sobre ou a partir da verdade
como a substituição daquilo que um dia foi
que o poeta re-vela. De certo modo, ser psi-
a brincadeira infantil.
canalista é possibilitar que o analisando es-
Pois foi a partir da brincadeira com creva sua poesia, re-lançando sua narrativa,
as palavras, numa disciplina sobre re-construindo seu passado e tecendo um
Mitologia e Psicanálise, que surgiu novo mito sobre seu existir. Assim tenho en-
meu primeiro poema, ao qual se carado minha prática clínica, mas também
seguiram outros tantos que, compila- minha vida, seguindo a frase do grande mi-
dos, compõem o livro “30+1: vida como tólogo Joseph Campbell: “Encarar a vida
poema”. Nele abordo os afetos cotidia- como um poema e você mesmo como par-
nos com a lente da psicanálise, como ticipante de um poema”.

Para ler mais e saber mais:


- “30+1: vida como poema”, de Vinícius Romagnolli Rodrigues Gomes (Editora Iperfil, 2021)
- O poeta e o fantasiar, de Sigmund Freud, disponível em Obras completas de Sigmund -
Freud (Companhia das Letras - trabalho original publicado em 1908)
- Poesia, psicanálise e conhecimento, de Eduardo Rodrigues Peyon (Editora Escuta, 2011)
- Freud com os escritores, de J. B. Pontalis / Edmundo Gómez Mango (Editora Três
estrelas, 2014).

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34| | CONTATO
CONTATO139
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ATENDIMENTO ONLINE E AS
MUDANÇAS PÓS-PANDEMIA
Está explícito que o atendimento online ganhou seu espaço durante a pandemia, não sendo esperado que
ele desapareça ou diminua sua importância após este período. Por isso, vale falar um pouco mais a respeito.
Primeiro: atendimento, online ou não, exige conhecimento técnico e postura ética por parte da(o) profis-
sional. Segundo: o posicionamento do Conselho Federal de Psicologia (CFP) mudou ao longo dos anos em
relação à utilização do atendimento online, conforme pesquisas foram sendo desenvolvidas. E essas posições
se refletiram em cinco diferentes Resoluções emitidas pelo CFP. São elas a 03/2000, a 12/2005, a 11/2012, a
11/2018 e a 04/2020.
À época da Resolução CFP nº 003/2000, a psicoterapia intermediada por computadores (assim era deno-
minada) não era prática reconhecida, mas poderia ser realizada como pesquisa científica. No entanto, orien-
tações pontuais e informativas eram aceitas e, para tanto, a(o) Psicóloga(o) devia providenciar seu cadastro
eletrônico junto ao CRP.
A Resolução CFP nº 12/2005 não alterou o entendimento do CFP, que manteve a permissão de psicoterapias
mediadas por computadores apenas para fins de pesquisas científicas, mas detalhou como deveria ser reali-
zado o cadastro eletrônico da(o) Psicóloga(o) junto ao CRP, especificando a necessidade de análise do pedido
de cadastramento pela Comissão Nacional de Credenciamento de Sites. Após a análise, se aprovado, a(o)
Psicóloga(o) pesquisador(a) recebia uma certificação eletrônica para proceder a pesquisa.
Por sua vez, a Resolução nº CFP 11/2012 reconheceu a orientação psicológica em até 20 sessões e outras
modalidades de atendimentos psicológicos como possíveis com a intermediação de computadores (mas, ain-
da não reconhecia a psicoterapia). Além disso, a Resolução aceitava a supervisão eventual e para formação
profissional, o atendimento eventual de clientes em trânsito e, para atendimento de crianças e adolescentes,
segundo as formas previstas, havia regras específicas.
A Resolução CFP nº 11/2018 passou a adotar a expressão “prestação de serviços psicológicos realizado
por meio de tecnologias da informação e da comunicação” – TIC. Essa resolução autorizou atendimentos
e consultas psicológicas por meio das TICs, além de processos de seleção de pessoal, supervisão técnica
e utilização de instrumentos psicológicos com parecer favorável do SATEPSI para uso via Tecnologia da
Informação e Comunicação. É essa resolução que, devido à pandemia, teve alguns artigos suspensos, de for-
ma TEMPORÁRIA E EXCEPCIONAL, por meio da Resolução CFP nº 04/2020. Ou seja, algumas flexibilizações
que hoje, em virtude da pandemia, são permitidas, poderão deixar de ser quando declarado o fim o evento
sanitário. Dessa forma, a(o) Psicóloga(o) deve ficar atenta(o), em suas relações de trabalho, para o eventual
retorno da validade integral da Resolução CFP nº 11/2018.
As situações que podem deixar de ser permitidas após a pandemia são: possibilidade de atendimento
remoto logo após cadastro na plataforma E-Psi, sem necessidade de aguardar parecer do CRP, e atendi-
mentos online a grupos e/ou pessoas em situação de urgência, emergência, desastres, violação de direitos
humanos ou violência.

Portanto, após ser declarado o fim da pandemia da Covid-19, as(os) Psicólogas(os) deverão estar
atentas(os) ao eventual retorno, na íntegra, da Resolução CFP nº 011/2018, para não incorrerem em faltas
disciplinares e/ou éticas.

Dúvidas quanto às relações trabalhistas?


Entre em contato com o SINDYPSI!
WhatsApp: (41) 99285-1280
E-mail: sindypsipr@sindypsi.com.br
Quem são as
Psicólogas e os Psicólogos
do Paraná?

PRAZO PRORROGADO

Participe da pesquisa e informe sua área


de atuação e tipo de vínculo de trabalho.

Assim poderemos criar ações e


comunicações mais assertivas e direcionadas
aos interesses de cada profissional!

Acesse: bit.ly/3vtYafn

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