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DIA DAS MÃES NA INTERNET

Categoria: atração
Tipo: peça de teatro com sombra chinesa
Tema: dia das mães

Resumo: Um rapaz, fanático da internet, é assaltado por um ladrão, que ele pensava ser
entregador de compras eletrônicas. O ladrão também é fanático por internet e tenta roubá-lo
com auxílio do computador. Aproveitando sua distração, o rapaz chama a polícia. Depois
que a polícia leva o ladrão, o jovem tenta ligar para sua mãe pela internet, mas não
consegue. Fica muito deprimido. Toca novamente a campainha. O rapaz apavora-se, mas
abre quando percebe que é seu primo que vem visitá-lo. O primo reanima o rapaz contando-
lhe uma história. Esta passa-se em sombra chinesa. Narra a história de um filho que, por um
milagre de Nossa Senhora, consegue salvar sua mãe, condenada à morte num país do antigo
oriente, onde a Religião Católica era perseguida. O primo conclui convidando o rapaz para a
comemoração na sede. O rapaz se alegra muito ao saber que sua mãe estava indo para lá
também, levada pela mãe do outro.

Registrada em: 15/3/2000

1 - Divisão: Três atos, o segundo em sombra-chinesa

2 - Personagens:
E - Eufrásio
L - Ladrão
P - Policial (pode ser acompanhado de mais um ou dois policiais-figurantes)
F - Fernando, primo do Eufrásio
R - Rapaz da sombra-chinesa
G1 - guarda 1
G2 - guarda 2
Os personagens E, F e R devem ter entre 16 e 17 anos. Os outros devem ser mais
velhos, representando adultos.

3 - Cenário: Para o primeiro e terceiro atos, uma sala de estar de apartamento com sofá e
poltrona, alguns outros móveis, mesa com computador (completo, com mouse, etc), telefone
sobre esta mesa, cadeira giratória. O cenário precisa estar junto a uma porta e, se possível,
ter uma janela (dispensável). Para o segundo ato (sombra chinesa) o suficiente para montar
uma sombra de uma parede em ruínas, com mato em volta. O ideal é que o primeiro cenário
esteja à esquerda, e o segundo, ou seja, a tela atrás do qual se passa a sombra chinesa, à
direita de quem olha.

4 - Roupas: De maníaco da informática para o E, de ladrão para o L, policial para o P e


ajudantes, de rapaz do curso para o F. Roupas orientais para os personagens da sombra-
chinesa: turbantes, túnicas, capas, sapatos pontudos e imitações de espadas orientais
(cimitarras).

5 - Providências: Computador completo com mesa de trabalho, telefone sobre esta mesa,
mobília de sala moderna. Campainha de porta com som forte. Prancheta com papéis, armas
e algemas de brinquedo para os policiais. Pacote grande vazio, arma de brinquedo, e
máscara para o ladrão. Três garrafas vazias simbolizando o aguardente para os guardas
orientais. Cimitarras ou outra imitação de espadas orientais para estes. Um papel dobrado
que será levado dentro da túnica do G2. Tela e iluminação para sombra chinesa. Armação
imitando uma ruína de parede, arbustos e mato para o cenário desta. Um slide de uma
imagem de Nossa Senhora (pode ser de Gennazzano, do Perpétuo Socorro, de Ivers ou outra
invocação cujos traços sejam meio orientais) que será projetado sobre a "ruína de parede".
Uns seis ou dez slides de ambientes e prédios orientais (vide observação abaixo). Uma fita
com músicas gloriosas, religiosas triunfantes. Outra com músicas orientais. Outra com
música moderna "nhô-nhô", e trechos de música de perigo e de suspense. Foco de luz no
teto que incidirá sobre o rapaz da sombra chinesa.

6 - Observação: A trilha sonora está indicada ao longo do texto, e pode ser adaptada em
função das músicas de que se disponha. Se o E tiver dificuldade de decorar todas as suas
falas, o texto da peça pode ser colocado no computador diante dele, para ajudá-lo. De
propósito, o ambiente oriental não é especificado. Pode ser da Índia, da Arábia, etc. As
características serão escolhidas em função dos slides e das música orientais de que se
dispuser. Se o contingente da sede for pequeno, as mesmas pessoas podem representar mais
de um personagem, principalmente na sombra-chinesa.

Primeiro ato.

Abrem-se as cortinas. Música "nhô-nhô, que vai diminuindo de volume quando o E


começa a falar. O E está todo contente mexendo no computador, meio hipnotizado por ele.
Logo, pára, bate na testa, olha no relógio e diz:

E - Ih, já tá passando da hora de ligar pro Astrogildo, prá mandar vir uma pizza. A vó tá
viajando e se eu perder a hora vou ficar sem jantar. Puxa, porque é que ele não tem internet?
(Pegando o telefone e discando o número) Olha só que amolação... Agora, tem que pôr o
dedo aqui, digitar o zero, o código da prestadora, o ddd, o núuuuumero, espeeeeera... Ahhh,
de novo! "Não foi possível completar sua ligação"... Mas não é possível! Isso parece a idade
da pedra! (Volta a discar no telefone) Se ele tivesse internet, bastava eu "clicar" em cima do
nome dele, que o computador ficava discando para ele em meu lugar, enquanto eu ia
fazendo outra coisa... Grrrrr! (passa mão no rosto com impaciência) "Sua prestadora
informa: este número não existe..." (Volta a discar, irritado) Olha, se eu não tivesse que
jantar, não telefonava mais prá ele... Ih, agora deu, pegou! Tá chamando! (Espera um pouco.
Torce, começa a roer unha) Será que ele já saiu? Ah, alô, alô, Astrogildo? Alô? (Pausa
breve).

E - (Com alívio) Alô, Astrogildo, aqui é o Eufrásio (dizer o nome em voz alta e clara, para
caracterizar o personagem)... Puxa, Astrô, pensei que você já tinha se mandado. E aí? Tudo
on line ("on laine"")? É, on line, cê não sabe o que é on line? Ah, dá licença... É o mesmo
que "tudo bom", meu!... É, Astrogildo, você tá sempre por fora, tá sempre "off". Não, não
me vem com desculpa, não. Você precisa evoluir, meu! Ó, por falar nisso, fala pro teu
patrão aí colocar logo um site ("saite") na internet. Site, endereço eletrônico na internet...
(Indignado) O quê? O que é que cê tá dizendo? Ele nem tem computador ainda? Mas será
que ele tá louco, cara?! Tá no mundo da Lua?! (Acalmando-se) Ah, já tá comprando um,
humm, tá bom... Mas olha aqui, é bom ir botando logo o site prá funcionar, tá? Se não, vou
começar a procurar outra pizzaria (pausa).

E - Não, num tô nervoso, não. É que simplesmente eu não admito que em pleno século vinte
e um ainda tenha gente que não dependa inteiramente da internet. Sim, é claro, depender
mesmo, porque não? Se a net me dá tudo que eu quero, porque é que eu não vou depender
dela? Compra aqui na casa da vó, eu faço tudo pela internet: supermercado, pão, leite,
material escolar, roupa. Depois, o filme que eu quero, eu rodo pela net. Música também.
Banco, é tudo pela web ("ueb"): extrato, saldo, pagamento... que é que você quer mais?
(Pausa)

E - Isolado, coisa nenhuma! Tenho uma rede enorme de amigos, com quem converso todo
dia pela net. E se eu não encontro a pessoa na hora que eu quero, passo um e-mail ("ê-mêil")
para ela... Isso, correio eletrônico...(Pequena pausa) Se eu não saio do apartamento? Claro
que não, sair prá quê? Qualé meu, você tá ainda no século pas-sa-do! Hoje o mundo todo
vem até mim através do computador! E depois, com essa falta de segurança que existe hoje
em dia, nada melhor do que ficar em casa mesmo. Você põe o pé na rua e vai logo sendo
assaltado! Não, eu fico aqui quietinho, o prédio tem um sistema de segurança
computadorizado, de maneira que tá tudo garantido aqui prá mim... (Toca a campainha).

E - Ah, tá tocando a campainha aqui. Deve ser uma eletronic delivery ("eltrônik delíveri")...
Eletronic delivery, seu burro, um delivery de compras eletrônicas, compra pela internet.
Ééé, "entregador", é... E vê se manda logo o teu... "entregador" (com desprezo) trazer a
minha pizza, tá? Tchau.

E - (Fala enquanto levanta-se e vai abrir a porta) Puxa, não dá mais! Vou ver se encontro
outra pizzaria... Aposto que o forno dele nem tem softer para controlar a temperatura...
(Abre a porta, sorridente) E aí, que é que tá trazendo prá gente hoje?

L - (Entra o ladrão com um pacotão cobrindo o rosto. Rapidamente põe o pacote no chão, e
tira uma arma de brinquedo de dentro. Música de perigo) Isso aqui, ó...

E - (Susto, pulo para trás, pânico) Mas o que é isso? O que é isso?

L - Um assalto, você não está vendo? Vamos logo, passa todo o dinheiro prá cá! (apontando
a "arma" para o E, que fica se encolhendo todo).

E - Mas, mas, mas...

L - Deixa de onda, moleque, e fala logo onde que tá a grana! Cadê a carteira?

E - Carteira? Mas eu não uso carteira...

L - Bom, então o cofre, onde é que tá o cofre! (olhando para todos os lados).

E - (Com medo) Aqui não tem cofre. Acredite! Olha, eu vou lhe explicar. Eu moro aqui com
minha vó, prá estudar na cidade. Depois que eu botei a internet, a gente faz tudo pela
internet. Deu um trabalho danado, mas eu convenci ela. Tanto que de vez em quando ela
não agüenta e viaja pro interior, como nessa semana. É por isso que a gente não tem
carteira, nem cofre, nem dinheiro em casa. A gente não precisa. Tá tudo no computador, na
conta eletrônica da vó...

L - Ah, sei... Quer dizer que você é alta-tecnologia, né? E tá pensando que o papai aqui é um
ladrãozinho atrasado, né? Nada disso, eu, além de ladrão, sou hacker ("ráquer"). É... sou
pirata eletrônico. Foi por isso que eu invadi seu site ("saite") na internet, descobri seu
endereço, seus fornecedores, o dia que você ia tá sozinho, a hora que você ia receber uma
encomenda... Depois invadi o site da empresa de segurança do seu prédio prá conseguir
entrar aqui numa boa, com todos os códigos e todas as senhas... Você tá falando com um
cara entendido no assunto, meu... (Apontando a cadeira do computador com a arma) Ó senta
aí! Já que você faz tudo pela internet, você vai ser assaltado pela internet também!

E - Tá, tá, calma, calma, já vai... (O E vai se sentando, temeroso. O L fica apontando a
"arma" para o E)

L - Digita aí ligeirinho o acesso ao banco, a senha, e faz uma transferência prá minha conta
eletrônica! (O E vai datilografando e movendo o mouse, nervoso).

L - Vamos logo, vamos logo! Tá demorando muito! Num tenta enrolar não que eu te
acerto! (Apontando a "arma").

E - É que tá dando sobrecarga na linha...

L - Ué, e você não tem ainda acesso a um serviço de banda larga?

E - Ainda não. Eu tô esperando uma conexão com sistema de microondas MMDS...

L - Roda o gerenciador de busca rápida, então...

E - Deixa eu clicar no assistente prá acessibilidade...

L - Ah, sai prá lá! (empurra o E e senta-se na cadeira) Vou dar uma navegada na net aqui e
pegar tua conta ligeirinho... (Põe o "revólver" sobre a mesa. Vai datilografando e mexendo
no mouse. Vai ficando meio hipnotizado e falando sozinho, intercalando pausas, algumas
frases como:) agora download ("daumloud") no padrão ICC... digitaliza o alvo do AGFA...
clica aqui nesse aplicativo ... roda esse macro aqui... faz um mapeamento de caracteres...
roda uma busca em HTML... hummm, tem que despersonalizar os links todos... dá control
alt del... reinicializa tudo... função de páginas de códigos concluída... desconfigura o pass-
word ("péss-uôrd")... reconfigura o painel de controle... modifica a barra de tarefas... clica
no perfil de definições virtuais... acessa a rede dial-up ("dial-âp")... sai do gerenciador de
acessibilidade... entra no visualizador do envoy... dá exibir canais...tenta um outlook
("âutluk")...

(Enquanto isso, o E vai se afastando de mansinho, chega na porta, ou numa janela de


preferência, faz sinais para chamar a atenção do "vizinho" - que não aparece na cena -, faz
gestos simbolizando que está sendo assaltado, faz gestos como mandando o vizinho ir
correndo chamar a polícia, olha para o bandido, olha para o "vizinho" mandando-o correr,
volta para junto do bandido e fala:)

E - E aí? Tá conseguindo? (Ficam os dois olhando para a tela, concentrados nela e tensos.
Se esquecerem as frases, é só ir lendo na tela).

L - Heim? Ah, tá uma tartaruga isso aqui! Quanto é que você tem de RAM? (Vai falando e
continua mexendo no aparelho).

E - De RAM? Ah, uns 128 megabytes...

L - Não, a RAM tá boa... Então é o HD que não presta...

E - Nada disso. Tem doze gigas de memória...

L - E a linha? Decádica?

E - Tudo digital. E com fibra óptica, tá sabendo?

L - E o modem? É tipo two-way ("thu-uei") ou telco return ("telco-ritârn")?

E - Opcional. Depende do up-load ("âp-loud") que a gente queira dar...

L - Puxa vida, mas tá muito devagar, muito devagar!

E - Pois é, nesse horário sempre dá sobrecarga mesmo...

L - Ah, mas que saudades da época em que a gente não precisava de computador prá
roubar...

E - Ó, parece que tá entrando alguma coisa aí agora...

L - É, é ... Olha lá, olha lá... Ih... Nada... vai ter que rodar outro macro aqui...

E - (Olha para o relógio, nervoso, procurando ganhar tempo) Não, deixa eu ver... Será que
não dá prá gente acessar outro provedor? Tenta h t t p arroba ponto com...

L - Ih, vai travar, vai travar...

E - Reinicializa tudo, clica aqui, ó... (Apontando na tela).

L - Não, vamos fazer um logoff agora...

E - Quem sabe o problema não tá no gerenciador de perfis de usuários?(Olha para o relógio


e para a porta).

L - Ih, vai demorar prá acessar. Será que não dá navigator ("navigueitôr") direto?...
E - Ah, já sei, tem que inicializar o desfragmentador de disco...

L - Cê tá brincando...

E - (Nervoso) Chama ferramentas de sistema, chama ferramentas de sistema...

L - (Impaciente) Ah, quer saber de uma coisa, não vou esperar mais não! Já que essa droga é
a única coisa de valor que você tem aqui, eu vou levar ele mesmo! (E começa a levantar o
monitor).

E - Não, pera aí! Não arranca, não, que isso aqui é um modelo de última geração! (Segura o
monitor).

L - Não quero nem saber, vou levar, vou levar! É a única coisa de valor que você tem aqui!

E - ("Dramático". Agarrando-se no monitor e teclado) Não! Meu computador, não!

L - (Apontando a "arma") Olha que eu atiro!

E - Pode me matar se quiser, mas não mexa no meu computador!

L - (Dando um empurrão no E, que cai para trás) Sai prá lá, imbecil! (Põe a "arma" na
cintura e começa mexer no computador para levá-lo. Nisso, entram os policiais pela porta,
com as "armas" nas mãos).

P - Que é que está acontecendo aqui?!

(A cena agora deve ser rápida e movimentada. Música de perigo. O L assusta-se, põe
as mãos na cabeça, tenta correr para um lado, tenta correr para o outro, esbarra no
computador, tromba no E que acabava de se levantar e limpar as roupas, derrubando-o de
novo. Os policiais figurantes prendem o L, colocam-lhe as algemas de brinquedo, e levam-
no embora dizendo que agora ele vai ter bastante tempo para mexer no computador da
prisão. O E corre para o computador, afaga-o, limpa-o com as mãos, verifica se não quebrou
nada. O P aproxima-se do E e fala:)

P - Então, está tudo bem? Não aconteceu nada?

E - Com meu computador? Felizmente não! Tá tudo em ordem.

P - Não, eu pergunto se o bandido...

E - Não quebrou nada! Tá tudo on line direitinho! Olha só que maravilha.

P - (Aproximando-se do computador) Bem, eu queria saber se ele não tinha te machucado...


É, realmente parece que você tem aqui um bom equipamento...

E - Bom, só? Nada! Isso aqui é um pentium ("pêncium") de última geração. Tem até
programa voice para conversar com a gente!
P - (Olhando para o público, passando a mão na têmpora e disfarçando ajeitando o quépi,
para indicar que o sujeito é meio louco) Eeh, bem vamos mudar de assunto. (Mostrando a
prancheta) A gente precisa agora fazer um boletim de ocorrência...

E - Que é isso? Boletim de ocorrência a gente faz hoje em dia pela internet. (Aproximando-
se do computador) Sai num instantinho, olha só...

P - Bem, já que você faz sozinho, eu vou chegando então...

E - (Aproximando-se novamente do P) Não, espera um pouco, deixa eu agradecer.


(Apertando a mão do P) Olha eu não tenho palavras para agradecer... o que vocês fizeram
pelo meu computador! (O P olha para o público) Ainda bem que meu vizinho tem internet e
chamou vocês rapidinho...

P - Não, mas não foi pela internet que ele chamou a gente...

E - Ué, então como é que vocês chegaram tão depressa?

P - Bem, internet até que a gente tem, mas hoje nosso computador ficou o dia todo fora do
ar outra vez. Seu vizinho tentou também telefonar para a gente, mas as linhas estavam
congestionadas. Por sorte ia passando um soldado da cavalaria. Ele correu até o soldado,
pediu socorro, o soldado veio galopando até o posto policial e...

E - Ga-ga-galopando?!

P - É isso mesmo. Eta cavalinho bom aquele, seu!

E - Mas em pleno século vinte e um!

P - Agora, se você dá licença, a gente precisa ir chegando para atender um outro chamado
urgente.

E - Da cavalaria?

P - Não, esse até que veio pela internet... Só que na semana passada...

E - Semana passada?!

P - Pois é. Deu um problema nos computadores lá da central e os técnicos passaram a


semana inteirinha trabalhando. O comandante está achando que foi um vírus que os
bandidos colocaram no nosso sistema. Os técnicos ainda não deram a volta no problema,
mas conseguiram por os aparelhos para funcionar um pouquinho. Anotaram no papel os
chamados, tiraram cópia carbono, passaram para a gente, e agora (fala com orgulho) a gente
vai atender os chamados que vieram pela internet!... Afinal, já estamos em pleno século
vinte e um, não?

E - Ehh, bem, quer dizer, é, né?


P - Então, boa noite, passe bem... E cuidado que estão dando muito golpe com esse negócio
de entregador de compra pela internet...

E - Ah, sim, sim, tá certo. Muito obrigado, viu. Bom serviço...

(O E fecha a porta à chave. Verifica se fechou mesmo. Sai, anda alguns passos, volta
para verificar a porta de novo, encosta nela, dá um "uufff", passa a mão esquerda pela testa,
olha maquinalmente para o relógio, baixa a mão, levanta-a de novo agitado, olha para o
relógio, bate na testa e fala:)

E - Ih, já tá passando da hora de ligar pro site da mãe! Barbaridade!


Ela já deve estar esperando na sala de bate-bapo eletrônico. (Senta-se diante do computador,
começa a mexer no teclado e no mouse nervosamente. Passa alguns segundos assim, cada
vez mais aflito)

E - Chii, será que eu não vou conseguir? Tá dando uma sobrecarga danada! Mas logo hoje,
dia das mães, eu não vou conseguir falar com minha velhinha! Ah, minha internetininha, dá
uma chance, vai... Mas será possível? Será um bug no programa do provedor?... Será que eu
não peguei um outro vírus? Ih, vai ver que é isso! Vai ver que deu vírus de novo no meu
computador. Ai, ai, ai, tá passando da hora! Vamos ver se eu consigo pelo telefone...

(Pega o telefone. Tenta discar. Pausa. Tenta de novo. Desespera-se.)

E - Ai, não tô conseguindo nem pelo telefone. As linhas tão tudo congestionadas também.
Puxa, mas que coisa... (Olhando para o público) De que é que adiantou comprar aquele
super computador prá mãe, ela fazer aquele curso de informática super complicado, e agora
eu não consigo falar com ela... Nem hoje, no dia das mães! (Pausa. Continua tentanto
discar) E o pior é que já faz uns quinze dias que é sempre a mesma coisa...

(Desiste. Põe o telefone no gancho. Deprime-se. Apóia a cabeça na mão, depois põe a
cabeça no braço, sobre a mesa. Levanta a cabeça e apóia-a novamente na mão.)

E - (Voz meio chorosa) Puxa, mas que tristeza... Que solidão... E eu que pensei que o
computador ia resolver todos os meus problemas... Nem com minha mãezinha eu estou
conseguindo falar... Será que pelo menos eu consigo comprar um remédio para depressão
pela internet agora?

(Nisso, toca a campainha. O E se assusta, levanta-se e corre até a porta. Pára, volta
correndo para o computador. Fica nervoso e agitado.)

E - Ih, será que é ladrão de novo? (Rói unhas) E agora, o que é que eu faço? (Senta-se e põe-
se a mexer, nervosamente, no computador) Será que o sistema da polícia já tá funcionando?
Ai, ai, ai... Deixa eu rodar o programa antivírus... Vamos, vamos, roda logo, roda logo!
(Toca a campainha de novo).

E - Cadê o site, cadê o site?! (Sacode o computador. "Falando" com ele:) Ai, me ajuda, me
ajuda, liga logo no site da polícia, vai!
(Importante: O modo de ser e de falar do F, que vai entrar agora, deve tender, tanto
quanto possível, para o sacral. Deve demonstrar serenidade, seriedade e afabilidade ao
mesmo tempo, mas sem chegar ao artificial. Assim o contraste entre os tipos humanos se
fará notar naturalmente).

F - (Fala com voz forte e calma, fora da cena) Eufrásio, você está em casa?

E - (Grita, apavorado) Não estou não!

F - (Fora da cena) Como não está? Então quem está falando?

E - Hem? Não tem ninguém falando não, quer dizer, eu tô falando aqui mas não é o Eufrásio
não!

F - Claro que é, conheço sua voz! Eufrásio, aqui é teu primo Fernando! Vim te visitar.

E - (Falando de si para consigo) Fernando? Mas é o Fernando mesmo? Será que não é outro
hacker que descobriu o nome do meu primo pela internet?

F - Como é? Não estou entendendo nada. Eufrásio, você está aí sim. Abre aqui que eu vim
fazer uma visita.

E - Não, é o Fernando mesmo. Essa voz sincera assim só ele tem. (Abrindo a porta e
abraçando o F) Ô Fernando! Puxa, que alegria!

F - A alegria é toda minha. Mas o que é isso. Estou notando que você está meio nervoso,
meio abatido...

E - Ih, nem queira saber. O dia hoje tá dando todo errado prá mim...

F - Isso de dia dando errado não existe, rapaz.

E - Como não existe? Hoje eu fui assaltado, não consegui falar com a mamãe e, pior de
tudo, me decepcionei com o computador...

F - Como é? Você foi assaltado?

E - Pois é, tocaram a campainha, eu abri, era um assalto.

F - Mas você não sofreu nenhum ferimento?

E - Não, felizmente. Eu avisei o vizinho, ele chamou a polícia, ela chegou logo e prendeu o
bandido...

F - Ah, agora entendo porque você estava tão assustado... E o que foi que houve com a tia,
que você falou?
E - Ah, Nando... Acho que isso é que me deixou triste mesmo... O pai tinha comprado um
computador novinho prá ela. Pagou uns cursos de informática prá ela... coitadinha, deve ter
quebrado a cabeça prá aprender. A gente ainda colocou uns programas de última geração no
computador, prá poder conversar com ela pela internet e... e... (cabisbaixo, quase chorando)

F - E conseguiu?

E - Estou sem conseguir falar com ela há mais de quinze dias. Nem hoje, que é dia das
mães, eu consegui falar com ela. Esse danado desse computador só está servindo para me
atormentar (chora um pouco).

F - Vamos, rapaz, confiança! Eu lhe disse que não existe dia ruim ou dia bom, e vou provar
(sentam-se nas poltronas).

E - Ah, é? E você acha que meu dia hoje foi o quê? Ótimo, é?

F - Não, nada disso. O que existe é a Divina Providência. Nada acontece com a gente sem
que Deus permita. Se alguma coisa nos trás alegria ou sofrimento, é porque Deus permitiu
primeiro. O objetivo dEle, mais alto, é fazer o bem para nossas almas. Ainda que seja
preciso a gente passar por alguma provação.

E - Como é que é mesmo? Eu nunca vi isso aí na internet, não...

F - Olha, você lembra daquelas histórias que a vovó contava para nós quando a gente era
criança? Você lembra como você ficava animado, alegre?

E - Puxa... É mesmo... Mas isso já faz tanto tempo...

F - Não importa. Vou lhe contar uma história que vi outro dia. É uma história imaginária.
Mas serve para entender melhor o papel da Providência na vida da gente. É uma história
para o dia das mães. Só que num país muito longe daqui, há muitos séculos atrás. Num país
onde nem existia dia das mães. Porque para os verdadeiros filhos, todo dia era dia das
verdadeiras mães...

E - Que interessante, em que site você...

F - ... Esse país estava passando por uma grande provação. Muito grande mesmo. (Baixa-se
a tela, apaga-se o cenário do primeiro ato. Começa a sombra chinesa)

Segundo ato. Sombra chinesa.

F - (A voz do F pode ser gravada.Vai figurar durante a sombra-chinesa apenas como


narrador. Sua voz deve tomar um tom um pouco mais sacral, para ajudar a elevar para a
clave do maravilhoso. Vão-se projetando alguns slides de prédios e ambientes orientais,
acompanhados de fundo musical congênere, compatíveis com a seguinte narração, que deve
durar não mais que 5 minutos:) Era um país do antigo oriente. Esse país havia sido
evangelizado por fervorosos missionários e tinha-se tornado católico. Entretanto, tendo
morrido seu piedoso Rei, alguns aventureiros tomaram o poder, passaram a governar com
mão de ferro, e a perseguir a Religião Católica. Muitos fiéis foram martirizados. Os
missionários foram todos expulsos. Os que tentaram ficar, foram perseguidos e mortos. Suas
almas subiram ao Céu como raios de luz, de onde continuaram a rezar e interceder por
aquele pobre país...

F - Com o passar dos anos, entretanto, o primitivo fervor do povo católico foi diminuindo.
Os que não foram mortos nem fugiram, foram pouco a pouco esfriando na devoção a Nossa
Senhora... e, em conseqüência, foram esfriando em tudo mais na prática da Religião...
Emboram sentissem uma profunda tristeza na alma, foram voltando aos vícios do
paganismo. (Breve pausa) Passaram-se muitos e muitos anos. O Catolicismo era
considerado praticamente extinto naquele país. Foram destruídas todas as igrejas. Numa
aldeia do país, restavam apenas algumas ruínas da igrejinha do local, já tomadas pelo mato.
Praticamente só uma parede havia ficado de pé. Era justamente a parede onde antes ficava o
altar com uma imagem milagrosa de Nossa Senhora.

F - Mas aquelas ruínas não tinha sido abandonadas. Todas as noites, apesar de todos os
perigos, uma pessoa caminhava pelas sombras e ia rezar junto daquelas pedras sagradas. Era
uma senhora, já de meia idade, que conservava com entusiasmo a Fé que havia recebido de
seus piedosos pais.

F - Sua vida era dura. Seu marido havia falecido há muitos anos. Trabalhava o dia inteiro
no campo, cuidava de tudo na casa e passava boa parte da noite rezando. Ela tinha apenas
um filho... Mas esse filho, seu único filho, infelizmente estava começando a ficar...
diferente. Apesar de todo o carinho com que ela o tinha educado na Religião Católica, ele
estava começando a juntar-se com más companhias. E fugia da companhia da mãe. Já não
queria mais rezar junto com ela. Tinha medo da perseguição, de um lado. E de outro, queria
gozar a vida, apesar da pobreza em que viviam.

F - Um dia, sua mãe foi rezar e não voltou. Ele sabia o que tinha acontecido. Ela tinha sido
presa pelos guardas, pois era rigorosamente proibido ir rezar naquele lugar. E a pena, era
pena de morte! (Breve pausa. Música triste) Que tristeza, que desolação... Num relance, o
rapaz sentiu toda a vergonha de ter se afastado de sua mãe tão bondosa, de ter se afastado da
Religião, de ter se afastado de Deus...

F - Mas, agora, o que fazer? Não tinha amigos poderosos a quem recorrer. E depois, se
pedisse ajuda a alguém seria preso também, pois as leis não admitiam que ninguém ajudasse
os "fanáticos supersticiosos"... Entretanto, não havia tempo a perder. Os carrascos pagãos
costumavam matar os condenados logo pela manhã, e a noite já ia alta. Percebendo que não
havia solução humana para o caso, o rapaz se enche de coragem e vai pedir ajuda à única
pessoa que ele sabe que não o abandonaria nessa situação. Ele corre até a ruína da antiga
igrejinha.

(Acende-se a luz do fundo do cenário da sombra chinesa. Entra o rapaz, em sombra,


andando depressa. Mostra-se consternado, com as mãos no rosto, chorando. Pára diante da
parede por um momento, afasta os "matos", ajoelha-se, faz o Sinal da Cruz e, com as mãos
postas e porte varonil, fica em oração).
F - Fazia muito, muito tempo que ele não rezava. Mas aquela aflição em que se encontrava,
tinha reacendido em sua alma a chama da Fé. (Breve pausa) Em certo momento, sentiu que
uma luz lhe iluminava (incide um foco de luz sobre o rapaz. Música religiosa). Certamente
sua mãe, de dentro de uma fria prisão, estava rezando por ele, e lhe obteve de Deus, por
meio de Nossa Senhora, uma graça que tocou a fundo seu coração. (O rapaz olha para as
próprias mãos e braços iluminados, olha para cima para o foco de luz, com movimentos
calmos e recolhidos).

(Nesse momento, projeta-se uma imagem de Nossa Senhora com o Menino Jesus nos
Braços. Pode ser de Nossa Senhora de Genazzanno, do Perpétuo Socorro, de Ivers, ou de
alguma outra invocação cujos traços tenham algo de oriental. A imagem projetada deve
ficar sobre a "ruína de parede", a pouca distância do rapaz, para simbolizar uma aparição
para ele. A música deve ser tocante e gloriosa. O rapaz fica maravilhado. Deve procurar
demonstrar muita paz de alma, em contraste com a aflição em que estava).

F - O rapaz, naquele momento, recebeu uma grande graça. Uma graça realmente
extraordinária. Ele viu Nossa Senhora, exatamente como era representada na antiga igreja
de sua aldeia. Nossa Senhora sorriu para ele, e lhe infundiu, ao mesmo tempo, um grande
arrependimento pelos seus erros, arrependimento por puro amor de Deus, e uma grande
confiança na ajuda dEla. No fundo de sua alma, ele sentiu como se Nossa Senhora lhe
estivesse dizendo: "Meu filho, tenha confiança, sua mãe vai ser salva".

F - Logo depois, a visão desapareceu (apaga-se lentamente o slide com a imagem). O rapaz
levantou-se, todo maravilhado, mas não teve tempo para pensar no que havia ocorrido.
Ouve vozes e passos. São dois homens que se aproximam. Eram guardas. Os guardas que
tinham prendido a sua mãe. Rapidamente, ele se esconde por trás das ruínas. (As cenas e
ruídos vão se dando à medida em que são narradas).

(Toca uma música de suspense. Entram os guardas. Vêm cambaleando, rindo e


bebendo nas garrafas. Param diante da ruína. Um deles joga uma garrafa para trás e tira
outra de dentro de sua roupagem. Os dois comemoram e voltam a beber e gesticular, dando
gargalhadas. Vão falando e bebendo. O G1 fala, com voz de bêbado):

G1 - Com essa recompensa que nós vamos ganhar, vamos comprar um monte de
aguardente! Huá, há-há-há!

G2 - Um tonel! Um tonel cheinho! (Vão falando e bebendo. Enquanto um fala, o outro


bebe).

G1 - Huá, há-há-há. Mas que golpe de sorte a gente teve prendendo aquela velha que vinha
rezar aqui. Há muito tempo não se encontrava mais desses fanáticos prá prender e por isso
aumentaram a recompensa prá quem prendesse...

G2 - Rezar... veja só que coisa imbecil. O negócio é gozar a vida, comer, beber, beber até
cair! E se for preciso roubar ou matar, nem perde tempo...

G1 - Claro! E esses cretinos falam que isso é pecado. Essa religião deles é maluca. A nossa,
sim é que é boa. Tem os ídolos para adorar: um ídolo é o deus da vingança, outro o da
inveja, outro é o do prazer, outro é o do dinheiro. E tem o melhor de todos: é o ídolo da
cachaça! ("Bebe" muito) Há-há-há-há-há!

G2 - Cada vício da gente tá representado num ídolo! Isso, sim, é que é religião boa! Porque
assim, nossa religião acaba sendo a gente mesmo! Há-há-há-há!

G1 - Isso! Adorando os ídolos e estou adorando eu mesmo! E quer ver como nós que tamos
certos? A gente faz tudo que quer e ainda fica rico, ganha a recompensa! A velha só reza e
faz o bem pros outros, e agora vai morrer! Huá-há-há-há!

G2 - É! E tem mais, eu acho que a gente vai ser promovido... (Vão ficando com a voz cada
vez mais bêbada).

G1 - Eeeu, vou ser promovido a condutor de elefante!

G2 - E eu vou virar paxá! Vou comprar um escravo só prá ficar me abanando, assim
(gesticula, cambaleando)...

G1 - E, e, e, eu... vou comprar um monte de almofadas para poder dor-dor-dormir à


vontade...

G2 - (Tirando um papel da túnica) Esse papel a-a-aqui é o nosso te-tesouro! E-e-e-ele tem a
ordem para a gente ti-tirar a mulher da cadeia e levar pro palácio do califa, onde ela vai ser
morta... De-de-de-pois, nós va-va-vamos receber um montão de ouro de recompeeeensa!

F - Ao ouvir isso, o rapaz, atrás das ruínas, começou a rezar com toda confiança. Se ele
conseguisse se apoderar desse papel, sua mãe estava salva!

G1 - (Afastando o mato, para se sentar) Eu vou só me sentar aqui um po-po-pouquinho


(boceja forte). Afi-fi-fi-nal, nós já trabaaaalhamos muito hoje (sentando-se e bebendo)...

G2 - Éééé... Hic! (soluço) Só prá de-de-descansar um pouquinho (tira sua capa e sua
cimitarra, cambaleando, coloca-as no chão, senta-se apoiando as costas nas costas do G1,
vão tentando levar as garrafas às bocas, mas já nem conseguem mais).

(Logo, deixam cair as garrafas das mãos e começam a roncar alto. Música de perigo.
O rapaz pula das ruínas, tira seu turbante, transforma-o numa longa tira, corta dois pedaços
menores, fazendo tudo rapidamente. Amarra os dois guardas, que estão sentados apoiados
um nas costas do outro, com as tiras menores amordaça os guardas, que continuam
dormindo com as cabeças pendentes. Tira o papel da túnica do G2 e guarda-o em sua túnica.
Tira o turbante de G1, pega a capa e as armas do G2, veste-as, volta-se para a parede onde
viu a imagem, faz o Sinal da Cruz, põe as mãos em prece por um momento e parte em
disparada. Apagam-se as luzes da tela. Música oriental. Projeta-se um slide de um prédio
oriental qualquer, enquanto o F diz:)

F - O rapaz correu em direção à aldeia, pois o dia já estava nascendo. Apresentou-se ao


chefe da prisão, que não o conhecia e pensou tratar-se do guarda do palácio do califa que ia
levar a prisioneira. Perguntou se ele não tinha um companheiro, mas o rapaz respondeu que
seu colega tinha sofrido um pequeno acidente e não tinha podido continuar. O chefe da
prisão não perguntou mais nada. Mandou trazer a mãe do rapaz, que quando o viu vestido
daquele modo percebeu tudo num instante, e não demonstrou a menor emoção, embora seu
coração estivesse saltando de alegria. O rapaz pegou a corda que prendia as mãos da santa
senhora e levou-a com indiferença, como se nunca a tivesse visto. Mas logo que se
afastaram da cadeia, o rapaz cheio de alegria, soltou-a, abraçou-a carinhosamente, e ambos
correram para o porto, onde tomaram uma embarcação para fugir do país.

(Projeta-se na tela o mesmo slide de Nossa Senhora, só que agora com maior
tamanho. Música religiosa triunfante).

F - (Tom quase de proclamação) Nossa Senhora, que é Mãe de Deus e Mãe dos homens,
havia obtido da Divina Providência que aquela grande provação se transformasse numa
ocasião de conversão para o jovem e santificação para a mãe. Mãe e filho viajaram naquela
mesma manhã para outro país, onde puderam voltar a praticar livremente a Religião. Lá
encontraram também novos e santos missionários. Com o tempo, voltaram com eles para
seu país, onde pouco a pouco foram reconduzindo as almas para a Fé e o amor a Jesus
Cristo...

Terceiro ato.

Apaga-se o slide e a tela. Acendem-se as luzes do outro cenário. O E está aplaudindo


e dizendo "Nossa, fenomenal!". O F olha para ele calmamente.

E - Puxa, Fernando, muito obrigado. Você não sabe como me fez bem essa história. Eu
estava triste, amargurado, decepcionado. Agora estou me sentindo mais leve, mais
desanuviado...

F - Isso é sinal de que você recebeu uma graça. As coisas que vêm de Deus, vêm sempre
junto com a calma, a paz e a leveza de alma. As coisas que vêm do demônio, vêm com
agitação, perturbação e tristeza.

E - Eu fico impressionado como é que você sabe essas coisas. Eu passo o dia todinho na
internet e nunca vejo nada parecido...

F - É que lá no curso o pessoal sabe muito mais. Precisa ver as aulas de catecismo e História
Sagrada que o professor fulano dá.

E - (Entristecendo-se) É... Mas foi só eu me lembrar da internet, que eu lembrei também da


tristeza que eu tive hoje...

F - O que é que foi?

E - É que eu não consegui falar com a mãe pela internet... E logo hoje, no dia das mães...

F - Pois olhe, eu acho que essa sua tristeza vai logo se transformar em alegria.
E - Como é que é?

F - É isso mesmo. Sabe porque é que eu estou vindo aqui? Vim lhe trazer um convite. Hoje
vai haver uma comemoração do dia das mães lá na sede do curso. E você não sabe do
melhor. Sabe quem vai estar lá? A titia, sua mãe.

E - Sério?!

F - É isso mesmo. Minha mãe não perde nenhuma comemoração na sede. E esse ano ela foi
buscar pessoalmente a sua mãe no interior para participar também. Sua mãe falou que não
podia vir, porque você queria conversar com ela pelo computador. Mas mamãe garantiu que
você iria lá pessoalmente. E assim, ela se convenceu e veio. Elas certamente já estão lá a
essa hora. A gente tentou lhe avisar por telefone, mas está sempre ocupado...

E - É por que ele fica ligado na internet quase o tempo todo... Nossa, e eu pensando em
conversar com ela através dessa... dessa droga aqui! (apontando para o computador). Claro
que vou! Vou agora mesmo. E eu que ia ficar comendo pizza aqui sozinho... Vou ligar pro
Astrogildo para cancelar o pedido...

F - Porque você não deixa a pizza de presente para o vizinho? E amanhã você agradece
pessoalmente a ajuda dele.

E - Isso, boa idéia! Falo com o porteiro lá em baixo. Vamos lá.

F - Mas, olhe, você não vai desligar o computador antes de sair?

E - Não precisa... Ele está equipado com o programa eletronic-ressentiment...

F - Como é?

E - É isso mesmo. Ressentimento eletrônico... Se a gente passa algum tempo sem mexer no
computador, ele se desliga sozinho. Fica "ressentido"...

F - Eu, hein...

E - Pois é. E vai ficar "ressentido" por bastante tempo, agora. Olha, Fernando, foi Deus
quem trouxe você aqui (põe a mão nas costas do F e vão saindo) Eu já estava ficando com a
alma do tamanho daquela telinha...

F - Você gosta de bolo?


E - Bolo? Claro que gosto!
F - Então você precisa ver o bolo que as mães prepararam para a festa. Só de lembrar já dá
água na boca... (e saem os dois de cena).

Nesse momento, pode entrar uma pessoa da sede e convidar os presentes a irem ver -
e degustar - o bolo também.

Regina Apostolorum, ora pro nobis!

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