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REDESENHO DO KARMANN-GHIA: UMA REVISÃO SOBRE

ASPECTOS ESTÉTICOS E FUNCIONAIS

GRADUANDO ALVARO DE ALMEIDA SILVA

Orientador: PROF. DR. MARCELO MARTEL

Porto Alegre, 2013/2


1

UNIRITTER – LAUREATE INTERNATIONAL UNIVERSITIES

FACULDADE DE DESIGN

ALVARO DE ALMEIDA SILVA

REDESENHO DO KARMANN-GHIA: UMA REVISÃO SOBRE


ASPECTOS ESTÉTICOS E FUNCIONAIS

Trabalho apresentado ao Curso de Design como


requisito da disciplina Trabalho de Conclusão de
Curso II, sob orientação do Professor Marcelo
Martel.

Porto Alegre, 2013/2


2

Dedico este trabalho a minha querida família que, sempre junto de mim, me apoia e
acredita nos meus sonhos.
3

Agradeço aos professores orientadores Marcelo Martel e Mauro Martin, por me


guiarem e apoiarem a confeccionar este trabalho.
4

"Dreams and passions, the only things that really matter"

Horacio Pagani
5

RESUMO

Este trabalho objetiva redesenhar o Karmann-Ghia Coupé, produzido nos anos 50, 60
e 70, levando-se em conta os padrões estéticos, a confiabilidade e a atratividade
característicos do carro, porém com tecnologias atuais. Analisa-se sua história no
mercado de carros no Brasil e no mundo, os materiais e processos de fabricação da
época e os atuais. Consideram-se os valores estéticos, questões ergonômicas e a
adequação do projeto à sustentabilidade. A pesquisa é de caráter exploratório e
fundamenta-se principalmente em estudos de Sandler, Löbach, Filho e Larica.
Comparam-se modelos de outras marcas e empregam-se noções da Gestalt para que
o carro atenda, além da racionalidade, a uma demanda emocional do consumidor.
Opta-se por um produto com a excelência da marca Volkswagen e mantém-se o
design clássico Karmann-Ghia. Conclui-se que o mercado de automóveis valoriza um
produto não somente pelos aspectos de durabilidade e baixo custo de manutenção,
mas também pelo que o fabricante representa enquanto marca consolidada e atenta
às necessidades subjetivas dos usuários.

Palavras-chave: Karmann-Ghia. Design de automóveis. Redesenho.


6

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Fábrica da Karmann-Ghia do Brasil.....................................................15


Figura 2 – Ecosport..................................................................................................17
Figura 3 – Complexo automotivo brasileiro...........................................................18
Figura 4 – Etapas no processo de design..............................................................20
Figura 5 – O Chrysler D’elegance...........................................................................23
Figura 6 – Karmann-Ghia Coupé na fábrica de Osnabrück..................................24
Figura 7 – O processo de montagem do Karmann-Ghia…...................................25
Figura 8 – O processo de montagem do Karmann-Ghia (continuação)…..........26
Figura 9 – Publicidade do Karmann-Ghia .............................................................28
Figura 10 – Grupos de Materiais, esquematizados por Jim Lesko......................32
Figura 11 – Informações sobre propriedades dos materiais...............................35
Figura 12 – Grupos de processos de fabricação esquematizados por Marco
Lima...........................................................................................................................36
Figura 13 – Métodos de manufatura esquematizados por Jim Lesko.................37
Figura 14 – Anatomia de um automóvel.................................................................46
Figura 15 – Aspectos do design de Automóveis...................................................47
Figura 16 – Valores de estética...............................................................................48
Figura 17 – Lexus LF-MX.........................................................................................49
Figura 18 – Jaguar C-X17.........................................................................................50
Figura 19 – Volkswagen Jetta vista lateral ............................................................51
Figura 20 – Volkswagen Jetta, exemplo de continuidade e alinhamento...........51
Figura 21 – Volkswagen Jetta, vista frontal...........................................................52
Figura 22 – Volkswagen Jetta, exemplo de fechamento e alinhamento.............52
Figura 23 – Porsche 911, exemplo de pregnância, hierarquia e semelhança....53
Figura 24 – Porsche 911 (986) e Porsche 911 (991)..............................................54
Figura 25 – Fiat 500..................................................................................................54
Figura 26 – Gráficos do Fiat 500.............................................................................55
Figura 27 – Fiat 500 do passado e do presente.....................................................55
Figura 28 – Fiat 500, nota 5 estrelas para ocupantes adultos..............................56
Figura 29 – Volkswagen Fusca do presente e do passado..................................56
Figura 30 – Formas icônicas do Volkswagen Fusca.............................................57
Figura 31 – Proporção Fusca..................................................................................57
7

Figura 32 – Karmann-Ghia.......................................................................................58
Figura 33– Linhas do Karmann-Ghia......................................................................59
Figura 34 – Detalhes do Karmann-Ghia.................................................................60
Figura 35 – Carroceria sendo integrada ao Chassi...............................................61
Figura 36 – Raio X do Karmann-Ghia.....................................................................62
Figura 37 – Infográfico Karmann-Ghia...................................................................63
Figura 38 – Motor do Karmann-Ghia......................................................................64
Figura 39 – Porta malas do Karmann-Ghia............................................................65
Figura 40 – Linha do tempo do Karmann-Ghia......................................................66
Figura 41 – Linha do tempo do Karmann-Ghia (cont.)..........................................67
Figura 42 - Infográfico sobre o Karmann-Ghia......................................................68
Figura 43 – Valores da Volkwagen..........................................................................71
Figura 44 – Características Volkswagen................................................................72
Figura 45 – Inspirações do presente......................................................................73
Figura 46 – Inspirações do presente (cont.)..........................................................74
Figura 47 – Grupo Volkswagen...............................................................................75
Figura 48 – Gama de produtos................................................................................76
Figura 49 – Planejamento Volkswagen..................................................................77
Figura 50 – Plataformas Volkswagen.....................................................................78
Figura 51 – Plataformas Volkswagen.....................................................................79
Figura 52 – Evolução de plataformas Volkswagen...............................................81
Figura 53 – Inspirações na linha Volkswagen.......................................................83
Figura 54 – Plataforma MQB....................................................................................84
Figura 55 – Golf GTI.................................................................................................85
Figura 56 – Golf GTI.................................................................................................86
Figura 57 – CrossBlue Coupe Concept..................................................................86
Figura 58 – CrossBlue Coupe Concept..................................................................87
Figura 59 – Geração de alternativas.......................................................................88
Figura 60 – Geração de alternativa elaborada no computador............................89
Figura 61 – Comparação entre o Golf GTI e o Volkswagen Karmann-Ghia........90
Figura 62 – Comparação da posição dos ocupantes do Karmann-Ghia em
relação ao Golf GTI...................................................................................................91
Figura 63 – Posição dos ocupantes do Karmann-Ghia........................................91
Figura 64 – Ângulo de visão do motorista.............................................................92
8

Figura 65 – Desenho técnico lateral.......................................................................92


Figura 66 – Desenhos técnicos da frente e traseira..............................................93
Figura 67 – Imagem comparativa da frente e traseira...........................................93
Figura 68 – O novo Karmann-Ghia.........................................................................94
Figura 69 – Comparativo entre silhuetas...............................................................95
Figura 70 – Comparativo entre vistas.....................................................................95
Figura 71 – Comparativo entre vistas (cont.).........................................................96
Figura 72 – Visão em perspectiva do novo Karmann-Ghia..................................97
Figura 73 – 3D vista frontal......................................................................................98
Figura 74 – 3D perspectiva......................................................................................98
Figura 75 – 3D detalhe perspectiva........................................................................99
Figura 76 – 3D detalhe traseira...............................................................................99
Figura 77 – 3D traseira...........................................................................................100
Figura 78 – Prototipagem do modelo...................................................................100
Figura 79 – Modelo em escala...............................................................................101
Figura 80 – Modelo em escala (cont.)...................................................................101
Figura 81 – Modelo em escala (cont.)...................................................................102
Figura 82 – Modelo em escala (cont.)...................................................................102
Figura 83 – Modelo em escala (cont.)...................................................................103
Figura 84 – Modelo em escala (cont.)...................................................................103
9

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Relação entre formatos e materiais....................................................33


10

LISTA DE SIGLAS

APS Association for Psychological Science

CNI Confederação Nacional da Indústria

MERPS Minimum Energy Performance Standards


11

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................13
2 JUSTIFICATIVA .....................................................................................................15
3 OBJETIVOS ...........................................................................................................19
3.1 OBJETIVO GERAL ..............................................................................................19
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...............................................................................19
4 METODOLOGIA.....................................................................................................20
5 FUNDAMENTAÇÃO................. .............................................................................22
5.1 A HISTÓRIA DO KARMANN-GHIA .....................................................................22
5.1.2 A Karmann.......................................................................................................28
5.1.3 A Carrozeria Ghia............................................................................................29
5.2 MATERIAIS E PROCESSOS DE FABRICAÇÃO................................................ 29
5.3 ERGONOMIA....................................................................................................... 37
5.3.1 Ergonomia Física.............................................................................................38
5.3.2 Ergonomia cognitiva.......................................................................................40
5.4 SUSTENTABILIDADE..........................................................................................43
6 DESENVOLVIMENTO.............................................................................................45
6.1 GESTALT AUTOMOTIVO....................................................................................45
6.1.2 Geometria.........................................................................................................51
6.1.3 Semiótica .........................................................................................................53
6.1.4 Análise de redesenho automotivo .................................................................54
6.2 ANÁLISE DO KARMANN-GHIA............................................................................58
6.2.1 Análise de Gestalt............................................................................................58
6.2.2 Análise estrutural.............................................................................................61
6.2.3 Análise Diacrônica...........................................................................................65
6.3 ANÁLISE VOLKSWAGEN....................................................................................69
6.3.1 DNA Volkswagen.............................................................................................69
6.3.2 A Volkswagen no mercado..............................................................................75
6.3.3 Tecnologia Volskswagen................................................................................78
6.4 PROJETO DE REDESENHO DO KARMANN-GHIA.............................................82
6.4.1 Geração de alternativas...................................................................................87
6.4.2 Definição do redesenho do Karmann-Ghia...................................................90
12

7 CONCLUSÃO ..........................................................................................................104
REFERÊNCIAS........................................................................................................105
ANEXO.....................................................................................................................110
13

1 INTRODUÇÃO

Tema: O tema da presente pesquisa envolve o design automobilístico,


objetivando o redesign do automóvel Karmann-Ghia Coupé.
A escolha deste tema se deu por diversos fatores. Primeiramente, pelo
interesse por automóveis e, em segundo lugar, pelo objetivo do autor em trabalhar
como designer de automóveis no futuro, sendo este o principal motivo para estar
cursando o curso de Design de Produto no UniRitter.
O Designer de Automóveis possui a importante tarefa de definir a imagem de
uma marca em seus carros, definir a proporção e os materiais utilizados na sua
construção e transformar oportunidades de mercado encontradas pelo departamento
de marketing da empresa automotiva em produtos de sucesso. Além disso, este
profissional deve fazer com que o automóvel não seja apenas um meio de locomoção,
mas sim um objeto que desperte emoções e que represente até mesmo a realização
de um sonho.
De acordo com The carreer art Project (2012), o design automotivo é o processo
de projetar a aparência e a funcionalidade de automóveis – incluindo carros,
caminhões, vans, ônibus – e até mesmo bicicletas. A renomada Universidade Royall
College of Art, da Inglaterra, vai mais longe e afirma que design de automóveis é um
assunto complexo, preocupado com aerodinâmica, impacto ambiental, ergonomia,
leis, materiais, produção, segurança e tecnologia1.

Problema: como redesenhar o clássico Karmann-Ghia Coupé adaptado à realidade, à


tecnologia e à cultura na atualidade?

Este trabalho pretende redesenhar o automóvel Karmann-Ghia Coupé para a


atualidade, evoluir o antigo carro, revisar sua forma e características, além dos
materiais e tecnologia, tornando-o mais sustentável e adequado ao mercado atual.
A primeira etapa deste trabalho é composta da fundamentação teórica,
desenvolvida através do estudo de informações destacadas por autores especialistas

1 Vehicle Design is a complex subject, concerned with aerodynamics, environmental impact,

ergonomics, legislation, materials, production, safety and technology. (Royal College of Art, 2013,
tradução do autor).
14

em design de produto e também de automóveis, relevantes para o desenvolvimento


do carro, apontando pontos importantes a serem considerados no redesenho. Estas
informações serão divididas em capítulos que tratam de aspectos históricos, materiais,
sustentabilidade e ergonomia.
A segunda etapa do trabalho compõe-se do levantamento destas informações,
a fim de identificar as mais relevantes para o projeto e relacioná-las com o método
escolhido na etapa projetual.
A terceira etapa mostra o desenvolvimento do projeto de redesenho do
Karmann-Ghia realizado ao longo da disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso
(TCC2), no qual serão feitas análises e estudo da Gestalt, demonstrados o uso de
processos criativos, os desenhos e desenhos técnicos, o modelo CAD e a
prototipação.
15

2 JUSTIFICATIVA

No mesmo período de realização deste Trabalho de Conclusão de Curso


(TCC), foi divulgado o Concurso Universitário Karmann Ghia de Design, realizado pela
Karmann-Ghia do Brasil para comemorar os mais de 50 anos do Karmann-Ghia
nacional. O concurso propunha a alunos de graduação ou pós-graduação em algumas
áreas do design uma releitura do desenho do modelo. A ideia serviu de desafio para
a realização deste TCC, por significar uma oportunidade única de demonstrar
conhecimentos e habilidades em relação a este campo do design.
Atualmente, o mercado brasileiro de automóveis de luxo vem crescendo,
mesmo com o alto preço deste produtos devido ao aumento de 30 pontos percentuais
no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de carros importados para o Brasil.
Segundo notícia publicada pelo Valor Econômico (2013), as marcas de luxo europeias
vem melhorando seu desempenho, e marcas como Mercedes Benz e Porsche mais
do que dobraram suas vendas comparadas ao mesmo período do ano passado.
Entretanto, o crescimento das vendas destas marcas está limitado à liberação de até
4,8 mil carros por ano sem a diferenciação de IPI, graças ao decreto do novo regime
automotivo, editado no dia 3 de outubro de 2012. Isso faz com que produtos nacionais
tenham vantagem competitiva em relação a preço.
A Karmann-Ghia do Brasil está localizada em São Bernardo do Campo, no
estado de São Paulo, e foi adquirida em outubro de 2012 pelo Grupo ILP Industrial.
Segundo reportagem publicada pela ISTOÉ Dinheiro (2013), a Karmann-Ghia já
recebeu investimento de 15 milhões de dólares na modernização da unidade,
incluindo a compra de seis prensas importadas da Alemanha.
Figura 1 – Fábrica da Karmann-Ghia do Brasil

Fonte:http://www.karmannghia.com.br/sitekarmannghia/index.php/quem-somos/historia
Acesso em: 08/06/2013
16

O Karmann-Ghia Coupé foi fabricado apenas no Brasil e na Alemanha e teve


uma vida longa e bem sucedida. Foi produzido por 19 anos, no período entre 1955 e
1974, sendo vendidas mais de 400 mil unidades. Ainda hoje, o modelo desperta
desejo e fascínio, mesmo com a fabricação encerrada há mais de meio século
(SANDLER, 2010).
Segundo artigo publicado pela organização APS (Association for Psychological
Science), em 14 de dezembro de 2008, os seres humanos têm tendência a serem
nostálgicos. Nos século 17 e 18, a nostalgia era vista como uma doença, porém
estudos recentes mostram que a nostalgia é algo positivo para a mente humana.
Conforme Sedikides et al (2008, p.307), "nostalgia is uniquely positioned to offer
integrative insights across such areas of psychology as memory, emotion, the self and
relationships. Nostalgia has a long past and an exciting future”2. A história do
Karmann-Ghia acrescida do sentimento nostálgico de seus compradores e/ou de
pessoas que têm alguma relação afetiva com o modelo antigo representa, portanto,
um forte aspecto a ser explorado no desenvolvimento do novo projeto.
O campo de trabalho relacionado ao design de automóveis no Brasil vem
crescendo cada vez mais a cada ano, segundo a Organização Design Brasil:

O Brasil abriga hoje importantes centros de desenvolvimento do setor


automotivo, alguns dos quais representam investimentos da ordem de
centenas de milhões de dólares em instalações, equipamentos e recursos
humanos. As diversas empresas multinacionais instaladas no Brasil possuem
núcleos locais de design de automóveis, tais como a Volkswagen, General
Motors, Fiat, Ford e mais recentemente a Renault. Essa prática vai de
encontro à necessidade de apresentar soluções que se adaptem à
necessidade local de produtos resistentes, de baixo custo de aquisição e que
tenham forte apelo emocional. (ORGANIZAÇÃO DESIGN BRASIL, 2013).

Os centros de design das marcas acima mencionadas são responsáveis até


mesmo por projetos globais. No centro de design da Ford em Camaçari (BA), por
exemplo, foi desenvolvido a nova EcoSport que, segundo a Ford, é o primeiro
lançamento global da marca desenvolvido no Brasil. Na Chevrolet, em São Caetano
do Sul (SP), os designers brasileiros da marca são responsáveis pelo
desenvolvimento de projetos em toda a América do Sul. Considere-se o fato de que

2
A nostalgia está singularmente posicionada para oferecer perspectivas de integração em toda
as áreas da psicologia como a memória, a emoção, o self e os relacionamentos. A nostalgia tem um
longo passado e um futuro promissor (SEDIKIDES et al, 2008, p. 307, tradução do autor).
17

este centro de design é um dos quatros centros globais da marca, os quais trabalham
de forma totalmente integrada.
Figura 2 – Ecosport (Ford)

Fonte: http://www.ford.com.br/showroom.asp?veiculo=51&secao=1 Acesso em: 15/05/2013

Segundo ao Confederação Nacional da Indústria (CNI) (2012), a indústria


automobilística e o mercado automotivo brasileiros estão entre os dez maiores do
mundo, sendo o Brasil o 4° maior mercado e o 6° maior produtor automotivo mundial,
fazendo com que mais de 200 mil empresas no país tenham suas atividades ligadas
ao setor:

Estão empregados diretamente na indústria montadora mais de 145 mil


trabalhadores. Porém, o grau de capilaridade do setor é tamanho que,
somando-se os trabalhadores da cadeia industrial anterior às linhas de
montagem e os da rede de distribuição e serviços automotivos em geral,
cerca de 1,5 milhão de pessoas têm seu trabalho diretamente ou
indiretamente relacionado com a indústria automobilística e os produtos
automotivos (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA, 2012, p. 21).
18

A figura a seguir demonstra alguns dados relacionados a indústria automotiva


no ano de 2010:

Figura 3 – Complexo automotivo brasileiro

Fonte:http://arquivos.portaldaindustria.com.br/app/conteudo_24/2012/09/03/184/20121122163714127
349o.pdf Acesso em: 08/06/2013

A CNI afirma ainda que cada emprego criado na indústria montadora pode
gerar cerca de outros dez empregos em atividades ligadas à indústria e produtos
automotivos.
19

3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

O objetivo geral deste trabalho é de redesenhar o automóvel esportivo


Karmann-Ghia Coupé produzido durante os anos 50, 60 e 70, atualizando sua
tecnologia e estética.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Organizar referencial teórico em relação à história do automóvel Karmann-


Ghia;
 Estudar os materiais e processos produtivos;
 Apontar pontos importantes em relação a ergonomia, objetivando o tema
automóvel;
 Adequar o projeto a sustentabilidade;
 Redesenhar o novo Karmann-Ghia Coupé.
20

4 METODOLOGIA

Como já dito anteriormente, o presente trabalho será dividido em duas etapas.


A primeira etapa trata da fundamentação teórica, efetuada por meio de revisão
bibliográfica, pelo método proposto por Gil (2002). Essa fundamentação será
exploratória, a fim de expor informações importantes para o projeto. Em relação a
pesquisas exploratórias o autor afirma:

Estas pesquisas tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o


problema, com vistas a torna-lo mais explícito ou a construir hipóteses. Pode-
se dizer que estas pesquisas tem como objetivo principal o aprimoramento
de ideias ou a descoberta de intuições. Seu planejamento é, portanto,
bastante flexível, de modo que possibilite a consideração dos mais variados
aspectos relativos ao fato estudado. (GIL, 2002, p.41).

Neste trabalho, se destacam estudos de autores como Sandler (2010), Löbach


(2009), Filho (2006), Larica (2003), entre outros, além de periódicos e artigos. Após a
realização da fundamentação teórica, será feita a análise das informações adquiridas.
Na segunda etapa, será empregada uma metodologia projetual, momento em
que as informações adquiridas e analisadas serão utilizadas para o projeto do
automóvel. As metodologias utilizadas serão a de Baxter (2005), juntamente com a de
Marcey & Wardle (2009), focadas no projeto de automóveis e baseadas nos processos
de design das grandes montadoras.
Figura 4- Etapas no processo de design

Fonte : Marcey & Wardle, 2009, p.22. Nota: tradução do autor

Segundo Marcey & Wardle (2009), o processo de design de um automóvel-


conceito é divido em cinco partes, são elas:

a) Planejamento de produto e pesquisa: a primeira fase no processo é a


de pesquisa do mercado desejado, podendo incluir a pesquisa de
tecnologias;
21

b) definição de objetivos funcionais: são definidas as primeiras metas para


o projeto, levando em conta o consumidor e os fatores relacionados à
empresa;
c) geração de alternativas e configuração: os primeiros rabiscos são feitos
juntamente com o layout básico do produto;
d) referência de tamanho e proporção: são analisados e comparados
produtos similares a fim de estabelecer as proporções básicas;
e) configuração de design avançada e desenvolvimento de modelo: assim
que o conceito e suas dimensões básicas são definidos, é feito um
modelo em tamanho real ou em escala.
22

5 FUNDAMENTAÇÃO

5.1 A HISTÓRIA DO KARMANN-GHIA

A história do Karmann-Ghia começou em 1952, quando as primeiras ideias do


carro começaram a ser discutidas, a partir do desejo de construir um projeto de carro
que, além de contemplar as qualidades de carros existentes na época, fosse capaz
de atender a um consumidor mais refinado.

Os desenhos daquele que seria o primeiro esportivo da Volks começaram


a ser esboçados em 1952, pela Karmann Karosseriewerk em parceria com
a Carrozzeria Ghia. Nessa época, a Volks fabricava a Kombi, o Fusca e o
Fusca Conversível, mas queria ir além da imagem de resistência e
praticidade, e conquistar clientes mais refinados. Foi então que os diretores
decidiram produzir um esportivo na base do Fusca. (LARANJEIRA, 2006).

O Volkswagen esportivo era prioridade na Carrozzeria Ghia, onde os


funcionários trabalhavam em tempo integral. Em cinco meses apenas, a empresa
construiu um protótipo (SANDLER; PAULO, 2010).
Steinbruch (2002) menciona que a proposta de fabricar o carro veio da
montadora alemã Volkswagen, utilizando a mesma plataforma e mecânica do Fusca,
para alcançar o mercado dos carros esportivos. Seu projeto foi aprovado e, em 1955,
no Salão de Frankfurt, o Karmann-Ghia foi lançado ao público.
De acordo com Sandler (2010), antes do lançamento em Frankfurt, o carro foi
apresentado para um pequeno grupo de convidados na França, em 14 de julho de
1955 – dia da queda da Bastilha – uma data de enorme valor emocional para o povo
francês, o que conferiu ao evento um valor simbólico muito grande. O autor ressalta
ainda que a aprovação do carro naquele dia foi unânime e que muitos convidados
presentes comparavam o Karmann-Ghia com os Porsches, considerando-o
“estonteante”. Para Berezovsky (2002), “a ideia era fabricar um carro com linhas
esportivas para bolsos menos abonados. Logo no início da produção, 50% dos carros
eram exportados para outros países europeus, além de Estados Unidos e Canadá”.
23

As linhas do Karmann-Ghia baseiam-se, segundo Sandler (2010), em um


modelo desenhado também pela Ghia, o Chrysler D’elegance, um carro de apenas
quatrocentas unidades apresentado em 1953, apenas dois anos antes da
apresentação oficial do Karmann-Ghia:

Boa parte dos artigos de revistas nacionais e estrangeiras afirmava que o


Karmann-Ghia era apenas a cópia reduzida do Chrysler Thomas D’elegance.
Para chegar a essa conclusão, os autores se baseavam em um fato real: o
Chrysler foi apresentado à imprensa em 1953 e o Karmann-Ghia em 1955.
(SANDLER, 2010, p. 36).

Abaixo, pode-se observar o design – arrojado para a época – do Chrysler


D’elegance:
Figura 5 – O Chrysler D’elegance

Fonte: Sandler, 2010, p.36.

O lançamento do Karmann-Ghia foi um sucesso. Laranjeira (2012) afirma que


em apenas um mês após o lançamento do Karmann-Ghia Coupé na Europa as listas
de espera já eram suficientes para vender dois anos de produção, obrigando a
Karmann a transferir a produção do Volkswagen Sedan Conversível para Suíça e
Bélgica, liberando espaço nas suas duas fábricas em Osnabrück, Alemanha.
24

Figura 6 – Karmann-Ghia Coupé na fábrica de Osnabrück

Fonte: Sandler, 2010, p.49

Sandler (2010) cita que, apesar do preço elevado de 7500 marcos na época
por conta da dificuldade de produção de sua carroceria, a Karmann vendeu, em um
ano e meio, 10 mil unidades nas redes Volkswagen da Europa e Estados Unidos, um
marco totalmente único para época em se tratando de um carro esportivo. Tudo isso,
graças ao desejo das pessoas de dirigir um automóvel esportivo, mas com custos de
manutenção baixos e sem os problemas que os esportivos da época normalmente
apresentavam.
A história do Karmann-Ghia no Brasil começou nos anos 60. Segundo a
Karmann-Ghia do Brasil (2013), devido à grande expansão da Volkswagen do Brasil
– que havia chegado em 1953 graças à eleição de Juscelino Kubitschek – no ano de
1959 foi proposta ao grupo alemão Karmann AG a criação de uma companhia
brasileira, a fim de fornecer peças estampadas e ferramentaria para outras empresas.
Além disso, a Volkswagen tinha a pretensão de lançar em solo brasileiro o Karmann-
Guia Coupé.

O primeiro Karmann-Ghia saiu da linha de montagem nacional no dia 2 de


maio de 1962, mas só dois meses depois, em julho do mesmo ano, o modelo
estava disponível em todas as revendas Volkswagen do Brasil. O esportivo
de duas portas tinha um desenho muito atraente, com poucos cromados,
acabamento artesanal e 13 combinações de cores (LARANJEIRA, 2012).
25

A fábrica da Karmann-Ghia ficava estrategicamente localizada a apenas dois


quilômetros da Volkswagen, em São Bernardo do Campo (SP), e foi inaugurada em
maio de 1960 (KARMANN-GUIA DO BRASIL, 2013).

No início dos anos 60, chassis de Fusca saíam rodando da fábrica da


Volkswagen, na Via Anchieta. Alimentados por latas de gasolina, que faziam
as vezes de tanque, seguiam em direção à sede da Karmann-Ghia, distante
alguns quilômetros. Lá era assentada a carroceria, num processo totalmente
manual, em que cada KG ganhava de 10 a 14 quilos de estanho durante a
montagem. Graças a esse peso extra, ele não tinha "emendas" aparentes.
Depois de pronto, cabia à rede de concessionários da VW a comercialização
e a assistência técnica (BEREZOVSKY, 2002).

Nas duas figuras a seguir, pode-se observar algumas das várias fases do
processo de montagem do Karmann-Ghia:
Figura 7 – O processo de montagem do Karmann-Ghia – 1. Copiadeira; 2. Montagem do capô; 3.
Montagem no gabarito para soldar o teto; 4. Montagem no gabarito para soldar a frente; 5.
Montagem no gabarito para unir o teto a frente; 6. Prensagem das portas.

Fonte: Sandler, 2010, p.48.


26

Figura 8 – O processo de montagem do Karmann-Ghia (continuação) - 7. Montagem das portas;


8. Ajustes para a colocação das portas; 9. Soldagem das portas e das tampas do capô e do
porta-malas; 10. Aplicação de primer e polimento manural; 11. Pintura manual; 12. Junção final
do chassi.

Fonte: Sandler, 2010, p.49

Steinbruch (2012) destaca que o Karmann-Ghia era disponibilizado em dezoito


cores e, ao longo dos anos, conforme a mecânica Volkswagen evoluía, os Karmann-
Guia Coupé iam absorvendo as novidades, recebendo os motores 1300, 1500 e 1600
ao longo da sua produção. Segundo Laranjeira (2012), “fabricado no Brasil até 1971,
foram produzidas 23,5 mil unidades, sendo 176 conversíveis. Ao todo, 420 mil
Karmann-Ghia foram fabricados em todo o mundo. Ironicamente o modelo foi ainda
mais valorizado e reconhecido, depois que deixou de ser fabricado”.
O Karmann-Ghia possuía aparência muito esportiva, porém comportamento
comum, dando ao carro uma personalidade dupla, fazendo com que o Karmann-Guia
Coupé recebesse apelidos como “Porsche de pobre” ou “Volkswagen de rico”
(SANDLER, 2010). Embora o preço fosse elevado, a fabricação do carro teve bons
resultados de venda:

Seu preço de lançamento era o mesmo valor cobrado por um Simca


Chambord ou por um Aero Willys 2600. Ou seja, bem caro para a
época. Mesmo assim, o modelo foi um sucesso absoluto: em algumas regiões
do País, a fila de espera para a compra de um Karmann-Ghia chegava a um
ano. Em 1962, foram fabricadas 759 unidades, que passaram a 2.500
exemplares no ano seguinte. (LARANJEIRA, 2012).

Os custos de produção do Karmann-Guia Coupé eram depois compensados


pelas vendas. De acordo com Sandler (2010, p.59), “engenharia superior nunca pode
ser barata: a alta qualidade dos matérias e da construção e o excelente serviço de
27

pós-venda, principalmente se comparado ao da concorrência, compensavam o


investimento inicial, criando um mercado muito amplo”.
Sandler (2010) destaca também que, ao ser lançado, não se sabia se o
Karmann-Ghia Coupé era um carro destinado ao público masculino, por atrair os
olhares das mulheres, ou para o público feminino, pela docilidade de condução e
facilidade de manutenção. No Brasil, era comprado por homens ricos que, muitas
vezes, davam o carro de presente aos filhos que ingressavam na universidade. O
Coupé era também utilizado como segundo carro em famílias mais abastadas
(Rodrigues, 2012). Sandler também observa esta predileção em outros países:

Quem comprava o Karmann-Ghia? A própria fábrica se preocupou com a


questão, o que se refletiu na campanha publicitária. Nos Estados Unidos, na
Alemanha e na França, entre os compradores de primeira hora do Karmann-
Ghia, por incrível que pareça, estavam os donos dos Porsches mais caros
das grandes Cidades. O desempenho mais elevado do tipo S em relação ao
Porsche normal era obtido à custa de uma indocilidade no comportamento
cotidiano. Por essa razão, o Karmann-Ghia era cada vez mais escolhido
como o segundo veículo de quem desejava transporte pessoal rápido e
econômico. (SANDLER, 2010, p.61).

A seguir, as figuras demonstram fragmentos da publicidade feita para atingir ao


público diverso que adquiria o Karmann-Ghia na época da sua fabricação.
28

Figura 9 – Publicidade do Karmann-Ghia

Fonte: Sandler, 2010, p.61.

5.1.2 A Karmann

A Wilhelm Karmann GmBH foi fundada por Wilhelm Karmann e se tornou uma
das fabricantes de carrocerias mais importantes do mundo, apesar dos obstáculos
enfrentados:

Desde a fundação, em 1901, ela está sediada em uma pequena cidade na


Baixa Saxônia, Osnabrück, perto de onde se instalaria, tempos depois, a
Volkswagen. Durante seus mais de cem anos de existência, a Karmann
sobreviveu a uma guerra local, a duas guerras mundiais e às inúmeras
29

intempéries sociais, políticas e econômicas pelas quais passou em sua


história, encerrada em 2008 (Sandler, 2010, p.15).

Sandler adiciona que a parceria entre os dois fabricantes – Karmann e


Volkswagen – começou em 1949, no período pós guerra, quando a Karmann começou
a fabricar as carrocerias dos fuscas conversíveis. A partir daí, fabricou outras diversas
carrocerias para a Volkswagen ao longo do tempo, fazendo com que este se tornasse
sua principal cliente. Também fabricou carrocerias para Ford, Mercedes, BMW, Audi,
entre outros fabricantes. Atualmente, a fábrica da Karmann na Alemanha pertence a
Volkswagen que, com base na tradição centenária na fabricação automotiva de
Osnabrück, instalou lá uma filial:

[...] a Volkswagen Osnabrück GmbH, uma filial 100% da Volkswagen AG, foi
fundada em dezembro de 2009. Atualmente, há mais de 1.900 empregados
que trabalham nas áreas de desenvolvimento, metais e grupo técnico. O
modelo de negócio permite o mapeamento de toda uma cadeia de processos,
a partir dos conceitos iniciais e cálculos de recursos para projetar um carro
pronto. A principal competência da nossa empresa encontra-se
principalmente nas áreas de conversíveis e roadsters, bem como pequenas
séries. Dentro do grupo, a Volkswagen Osnabrück GmbH pertence à marca
Volkswagen, mas age como uma empresa multi-marca. Ou seja, nós
apresentamos as habilidades existentes para todas as marcas da
Volkswagen AG. O site de 426.000 metros quadrados localizado no distrito
de Fledder tem capacidade técnica de cerca de 100 mil veículos/ano
atualmente. O primeiro veículo fabricado no novo complexo é o Golf VI
Cabriolet, que é fabricado desde março de 2011. E, desde o início da
produção em setembro de 2012 dos Porsche Boxster e Cayman, foi
comprovado nosso papel como uma empresa multi-marca. (VOLKSWAGEN,
2013).

5.1.3 A Carrozeria Ghia

A Carrozeria Ghia, foi um dos mais importantes estúdios de design de


automóveis de todos os tempos. Segundo Sandler(2012), foi fundada em Turim, na
Itália, em 1915, por Giacinto Ghia. Negyesi (2005) acrescenta que a Ghia desenhou
automóveis para diversas importantes montadoras, como Fiat, Volvo e Lancia. Nos
anos 90, a Ghia fazia parte da Ford desenhando protótipos, atualmente, é uma marca
usada pela Ford para designar as versões mais luxuosas de alguns de seus modelos.

5.2 MATERIAIS E PROCESSOS DE FABRICAÇÃO

Ter conhecimento dos possíveis materiais a serem utilizados, como eles se


comportam, e os processos de fabricação envolvidos, é de extrema importância para
realizar o redesenho do Karmann-Ghia.
30

Larica (2003) define que “matéria é qualquer substância sólida, líquida ou


gasosa que ocupa lugar no espaço. Material é a expressão concreta desta matéria”.
Para um produto ser funcional, a escolha dos materiais que irão compô-lo é de
extrema importância:

Funcionalidade tem a ver com dar a vida a um produto. Pode significar fazê-
lo funcionar ou se mover, ou ainda escolher os materiais certos para construir
a forma e os componentes. A maioria dos designers gosta de ter uma ideia
acerca de quais materiais diferentes podem ser usados para quais propósitos
distintos. O conhecimento exaustivo e a experiência ajudam, mas entender
as propriedades básicas dos matérias permite uma compreensão melhor do
processo de seleção. (MORRIS, 2010, p. 112).

De acordo com Löbach (2009), a escolha dos materiais e processos de


fabricação no projeto de um produto também está ligada diretamente a fatores
econômicos.

A configuração de um produto não resulta apenas das propostas estéticas do


designer industrial, mas também – fortemente – do uso de materiais e de
processos de fabricação econômicos. Um dos critérios principais da produção
industrial é o uso econômico dos materiais mais adequados [...] Assim, a
escolha de um material mais adequado para um produto e sua fabricação
(que, entre outros, também é um problema estético) depende principalmente
de considerações econômicas. Por exemplo, se um novo tipo de material
precisa ser vendido porque proporciona maiores lucros, passará a ser um
fator determinante do produto. (Löbach, 2009, p.162).

Larica (2003, p.125) destaca ainda que “os materiais devem ser selecionados
corretamente pelo designer, pois os mesmos estão ligados a materialização da ideia,
considerando suas potencialidades e limitações, além de seus processos de
fabricação”. Os materiais estão diretamente relacionados à forma do produto. Lobach
(2009) ressalta que a superfície do produto influencia o seu visual e que esta relação
com os materiais pode causar diferentes sensações ao usuário:

A superfície polida, reluzente, imaculada de muitos produtos industriais lhes


confere um ar de limpeza, perfeição e ordem. Estes são, sem dúvida, critérios
valorizados em nossa sociedade. A superfície perfeita, sem falhas, dos
produtos industriais sugere uma perfeição das suas características de uso,
que nem sempre é real. As superfícies perfeitas dos produtos (o automóvel é
um exemplo disto) podem provocar um cuidado exagerado do usuário, que
pode ser denominado de fetichismo das superfícies. Este exemplo mostra
como os produtos industriais, através de sua configuração, são capazes de
influir profundamente no comportamento humano. (LÖBACH, 2009, p. 163).
31

Conforme Filho (2006), a variedade de materiais que podem ser escolhidos


para agregar um produto é extensa. O autor desdobra grande parte dessa variedade
de materiais nas seguintes principais categorias:
a) materiais naturais: de origem mineral, vegetal e animal em forma bruta,
sendo a própria matéria-prima, como minério de ferro, madeiras e
couros. Muitos destes materiais podem ser empregados em produtos na
sua forma original, constituindo objetos como joias, esculturas e móveis;
b) materiais naturais transformados: materiais naturais que sofrem
alterações em um determinado processo de fabricação para fazer parte
de um objeto, adequando-se ao design do produto. Estes materiais
sofrem alterações como polimento, pintura, entre outras. Os materiais
naturais modificados são os mesmos materiais que, a partir de suas
matérias-primas, são reelaborados para se transformarem em outros
materiais, como metais, plásticos, cerâmicas, papéis e tecidos. Esses
materiais, em seguida, são transformados em subprodutos beneficiados,
como chapas, placas, lingotes, trefilados e bobinas, por meio de
processos industriais, como a fundição, laminação, moldagem,
calandragem, entre outros.
c) polímeros naturais: são materiais de ocorrência natural, como queratina,
celuloide e silicone;
d) polímeros sintéticos: são materiais artificiais de origem orgânica
sintética. Matérias-primas para a produção de plásticos são materiais
naturais como a celulose, carvão e petróleo. Os polímeros são definidos
como variado grupo de materiais formados pela combinação de
elementos como carbono com hidrogênio e outros elementos orgânicos
ou inorgânicos de origem direta ou indireta do petróleo. Esses plásticos
que compõem a categoria de polímeros sintéticos podem ser
classificados de acordo com seus comportamentos à moldagem e
fusibilidade. Também são classificados em termoplásticos e termofixos,
dependendo de sua fusibilidade ao calor. Os termoplásticos são os
polímeros sintéticos mais empregados na indústria de plásticos, são
sólidos à temperatura ambiente e se fluidificam com presença de calor
ou pressão, sendo perfeitamente fusíveis, pois escoam quando
aquecidos e solidificam quando esfriam. Os termofixos, ao contrário dos
32

termoplásticos, se apresentam no estado viscoso ou em pastilhas à


temperatura ambiente, porém, também podem ser moldados por
aquecimento, mas ao esfriarem, retêm permanentemente a forma na
qual foram moldados, portanto, só podem ser moldados uma vez em
consequência das reações químicas irreversíveis.
e) materiais compostos: foram desenvolvidos como materiais leves e fortes
para a indústria aeroespacial no século XX e são fabricados
combinando-se dois ou mais materiais, para maximizar suas
propriedades e minimizar falhas. A maioria dos compostos modernos
são feitos de fibras de um material ligado a outro, denominado matriz. A
matriz une as fibras como um adesivo, tornando-as mais resistente,
enquanto as fibras fazem com que a matriz se torne mais rígida e forte.
Essas fibras normalmente são feitas de vidro, carbono, carbureto, silício
ou amianto, enquanto a matriz normalmente é formada por um polímero
plástico, um metal ou material cerâmico. Os materiais compostos são
aproveitados por uma grande variedade de produtos, desde aviões até
tacos de hóquei.
Figura 10 – Grupos de Materiais, esquematizados por Jim Lesko

Fonte: LESKO, 2004, p.07

Essa ampla gama de materiais possuem diferentes formatos. Segundo Lima


(2006), os diferentes tipos de materiais podem ser encontrados em diferentes
formatos, respeitando limitações impostas como sua constituição estrutural,
33

transporte, manuseio, estocagem, entre outros. As matérias-primas podem se


apresentar em formato de blocos, placas, grãos, líquidos entre outros, e o formato do
material define a maneira de como o material será transformado, definindo,
consequentemente, o processo.
Quadro 1 – Relação entre formatos e materiais

Fonte: LIMA, 2006, p.12

Filho (2006) aborda o conceito de materiais como componentes de mercado.


Os materiais definidos como componentes do mercado são os materiais que foram
trabalhados ou transformados pela indústria e que agora passam a figurar como
componentes. Esses materiais podem ser adquiridos no mercado consumidor em
fornecedores diversos, mas, ainda assim, sofrem algum tipo de retrabalho para se
adequarem, se adaptarem ou se ajustarem como peça específica, a fim de se
incorporar a um produto específico, como por exemplo, chapas metálicas utilizadas
em carrocerias de veículos.
Em relação às potencialidades e limitações de um material, Morris afirma:

As propriedades mais comuns que um designer de produtos exige dos


materiais são de natureza mecânica: dureza, força, resistência e
maleabilidade. Essas propriedades possuem significados específicos em
engenharia e valores definidos usados para calcular a espessura exata que
uma peça deve ter a fim de evitar falhas. A maioria dessas propriedades é
constante, mas pode mudar de acordo com a temperatura ou pressão, e uma
“falha por fadiga” abaixo do esperado. Para funções específicas do produto,
às vezes é necessário considerar outras propriedades, como elétricas,
térmicas, químicas, magnéticas e ópticas. (MORRIS, 2010, p.112).

Segundo Lima (2006), nem todas as propriedades são aplicadas para avaliação
do comportamento de um material. O autor cita como exemplo o poliuretano e a
borracha natural, que não podem serem aplicados ao teste de resistência ao impacto
34

com entalhe, pois ambos não quebram nessas condições. Lima também comenta as
principais propriedades dos materiais:
a) resistência à tração: também chamada de resistência à ruptura ou tenacidade,
avaliada de acordo com a ação de forças coaxiais opostas, que tendem a
esticar o material. Os materiais metálicos são destaque pela excelente
resistência à tração, juntamente com o pet, que, dentre os plásticos, apresenta
ótimos valores em relação a esta propriedade;
b) resistência à compressão: são forças coaxiais e opostas, que tendem a
amassar um determinado material, são a tensão máxima suportada sob
compressão longitudinal por um material rígido. Materiais como o aço e
alumínio resistem notavelmente à compressão;
c) resistência à flexão: a tensão é consequência de forças coaxiais opostas
situadas sobre eixos distintos e correspondem à tensão máxima desenvolvida
na superfície de um material submetido ao dobramento. Materiais compostos,
como a resina de poliéster reforçada com fibra de vidro, apresentam elevada
resistência nesse sentido;
d) resistência ao impacto: é a resistência que um material rígido apresenta ao
receber um impacto de um corpo em alta velocidade. Entre os materiais
conhecidos, o aço e o policarbonato possuem excelente resistência ao impacto;
e) dureza: é a resistência que a superfície de um determinado material apresenta
ao risco. Para a dureza dos materiais ser determinada, pode ser usada uma
escala de 1 a 10, onde 1 representa o talco, que é o mineral menos duro
conhecido pelo homem, e o 10 representa o diamante, o mineral mais duro.
f) condutividade térmica: é a capacidade do material conduzir ou não calor. É
medida de acordo com a quantidade de calor transferida em um determinado
período de tempo por unidade de área. Os metais como o alumínio – metal
empregado na fabricação de blocos de motores e radiadores – são ótimos
condutores de calor e frio;
g) densidade: a densidade é uma propriedade importante para o aspecto
econômico do projeto, tanto no transporte quanto no consumo da matéria-
prima, pois corresponde à massa por unidade de volume de um material,
também chamado de massa ou peso específico. Os metais apresentam valores
altos de densidade, representada pelas unidades g/cm³ ou kg/cm³.
35

h) rigidez dielétrica: demonstra a capacidade de isolamento do material, medida


pela tensão elétrica que o material suporta antes da perda das propriedades
isolantes. Não se pode avaliar neste teste os matérias metálicos, que são bons
condutores de eletricidade, ao contrário dos plásticos que, em geral, são maus
condutores;
i) transparência: é a quantidade de luz visível que passa pelo material, sendo
expressada em percentual (%). O acrílico e o policarbonato são materiais com
elevado nível de transparência.
j) estabilidade dimensional: é a capacidade de um determinado material em
manter suas dimensões originais quando submetido à umidade, calor etc.
Figura 11 – Informações sobre propriedades dos materiais

Fonte: LIMA, 2006, p. 6.

Também de extrema importância para a escolha dos materiais são os


processos de fabricação do produto projetado:
36

A fabricação muitas vezes parece pouco glamorosa para ser levada em conta
pelo designer, que prefere deixar essa tarefa aos engenheiros de produção.
No entanto, é fundamental dedicar atenção à área. Um produto que utiliza
métodos mais lentos, mais materiais ou que leva mais tempo na montagem
em comparação aos seus concorrentes já tem uma grande desvantagem
competitiva, independentemente da qualidade do design. Portanto, o
designer deve entender e trabalhar com tecnologias e sistemas de fabricação
para garantir que seus produtos sejam fáceis de fabricar. Com isso, ele
também consegue aprender e expandir as fronteiras da fabricação, abrindo
caminho para novos e inovadores produtos. Ainda, é preciso considerar
outros fatores. A natureza global da fabricação levanta questões sobre a
sociedade e a saúde de nosso planeta que os designers não podem ignorar.
(MORRIS, 2010, p. 127).

De acordo com Lima, (2006) pode-se considerar a existência de quatro grandes


grupos de processos que, combinados de forma coerente, propiciam a transformação
do material em um produto ou componente. Esses processos são chamados de
conformação, melhoria, separação e união, conforme se verifica no quadro a seguir:
Figura 12– Grupos de processos de fabricação esquematizados por Marco Lima

Fonte: LIMA, 2006, p.21


37

Figura 13 – Métodos de manufatura esquematizados por Jim Lesko

Fonte: LESKO, 2004, p.7

Em relação à indústria automotiva, Larica (2003) menciona que, na fabricação


de veículos, os materiais tradicionais como chapas e perfilados metálicos, juntamente
com ligas metálicas ferrosas, ligas metálicas não-ferrosas, tais como ligas de alumínio
e magnésio, elastômeros, borrachas, vidros e tecidos, são utilizados juntamente com
diversos tipos de espumas, compósitos e plásticos.

5.3 ERGONOMIA

Existem diversas definições de ergonomia, todas relacionadas à interação


homem produto. Segundo Gomes (2004), a ergonomia objetiva sempre a melhor
adequação ou adaptação possível do objeto ao seres vivos em geral, sobretudo no
que diz respeito à segurança, ao conforto e à eficácia de uso ou de operacionalidade
dos objetos, mais particularmente nas atividades e tarefas humanas. Nesse contexto,
compreende-se a palavra objeto num sentido amplo e, portanto, significando produtos
de uso e sistêmicos em geral: máquinas, equipamentos, ferramentas, postos de
trabalho, postos de atividades, ambientes e outros”.
Morris enfatiza que “ergonomia (ou engenharia de fatores humanos) é o nome
dado ao processo de criar design de acordo com as necessidades humanas para
38

melhorar o bem-estar e o desempenho geral do sistema” (MORRIS, 2010, p.89). De


acordo com Filho, “as bases conceituais da ergonomia do produto são intimamente
ligadas às bases conceituais de uso, de operacionalidade e dos níveis de informações
do produto, no contexto das inter-relações das funções prática e estética” (FILHO,
2006, p.71). Para Lidra (2005), a ergonomia é composta por três pilares:
f) ergonomia física: se refere às características da anatomia humana
relacionados com a atividade física, biomecânica, antropométrica e
fisiológica, como manuseio de materiais, postura no trabalho, segurança
e saúde do trabalhador, entre outros;
g) ergonomia cognitiva: é o pilar da ergonomia que contempla os processos
mentais, como memória, percepção, raciocínio, entre outros. Esses
processos mentais podem estar relacionados com a interação entre
pessoas ou com outros elementos de um sistema, como tomadas de
decisões, carga mental, interação homem-computador, entre outros;
h) ergonomia organizacional: contempla as estruturas políticas,
processuais e organizacionais, abordando a otimização do sistemas
sócio técnicos.
Para este projeto, será estudada a ergonomia física, a fim de se entender a
relação física do usuário com o produto automóvel, e a ergonomia cognitiva, para se
explorar o design emocional, a satisfação sensorial e a percepção do usuário do
Karmann-Ghia.

5.3.1 Ergonomia física

Ao se desenvolver um produto, devem ser levadas em conta as situações de


uso. A interação entre usuário e produto se estabelece atendendo estudos
desenvolvidos sob a ótica da ergonomia física:

Por ergonomia física entenderemos o foco da ergonomia sobre os aspectos


físicos de uma situação de trabalho. E eles são inegavelmente reais: trabalhar
engaja o corpo do trabalhador exigindo-os de várias formas ao longo da
jornada de trabalho. A ergonomia física busca adequar estas exigências aos
limites e capacidades do corpo, através do projeto de interfaces adequadas
para o relacionamento físico homem-máquina: as interfaces de informação
(displays) as interfaces de acionamentos (controles). Para tanto são
necessários diversos conhecimentos sobre o corpo e o ambiente físico onde
a atividade se desenvolve. (VIDAL, p.16).
39

Lobach (2001) aborda a ergonomia física de outra forma, referindo-se à função


prática do produto. Segundo o autor, no desenvolvimento de produtos industriais, os
aspectos fisiológicos do homem têm especial importância. O objetivo principal do
desenvolvimento de produtos é cumprir as necessidades físicas do usuário, através
da criação de funções práticas. Essas funções preenchem e mantêm as condições
fundamentais para a saúde física do ser humano.
São funções práticas todas as relações entre um produto e seus usuários que
se situam no nível orgânico-corporal, isto é, fisiológicas (GROSS apud LÖBACH,
2001, p.58). Nesse sentido, Lobach (2001) exemplifica que “por meio das funções
práticas de uma cadeira se satisfazem as necessidades fisiológicas do usuário,
facilitando ao corpo assumir uma posição para prevenir o cansaço físico” (LOBACH,
2001, p.58).
Vidal demonstra a utilidade e preocupação com a praticidade que a ergonomia
física apresenta, além de suas aplicações, todas relacionadas ao ambiente de
trabalho, mas que podem ser aplicadas a utilização de um produto:
a) utilidade: a ergonomia física contribui de forma decisiva a muitos problemas
existentes em sistemas de trabalho. Problemas antropométricos e posturais,
são comuns; as contribuições da Ergonomia Física em relação a esses
problemas são tão grandes, que o Governo dos Estados Unidos promulgou um
grande programa de ação ergonômica a nível governamental, incentivando as
empresas a adotarem programas de ergonomia, com grande ênfase no campo
da ergonomia física;
b) praticidade: a ergonomia física orienta modificações nos postos de trabalho,
todas num contexto físico que evitem a produção de esforços inadequados ou
excessivos. Essas especificações acabam exigindo reconfigurações do posto
de trabalho que implicam em mudanças na tecnologia física, podendo se
tornarem inviáveis do ponto de vista financeiro. A praticidade das
especificações de ergonomia física é sempre necessária, mas requer a
combinação de criatividade, argumentação e pertinência;
c) aplicação: a ergonomia física pode ser aplicada na realização de
especificações relativas ao método e posto de trabalho, como sobre ambiente.
Suas aplicações se destinam principalmente ao projeto de novos postos de
trabalho e especificações ambientais.
40

Larica (2003) ressalta aspectos importantes da ergonomia física aplicados ao


projeto de um veículo. São eles:

a) a atividade de dirigir: envolve uma postura fixa com pés e mãos ocupados no
controle do veículo e olhar focado na estrada e sinais. Esta situação pode se
tornar mais flexível, levando em conta condições ambientais adversas, como
dia/noite, chuva, etc. A visão antropocêntrica do motorista, é um dado físico e
psíquico que precisa ser considerado pelo designer no projeto. Outros fatores
importantes, são os elementos que interferem na visão do mundo exterior pelo
motorista, como a postura possível do banco, a sua altura em relação a linha
de cintura do carro, o posicionamento das colunas e retrovisores, etc. A visão
do designer deve ser privilegiada, que consiga ver em conjunto todos os
elementos que compõem o sistema homem-máquina-ambiente;

b) a habitabilidade: se refere ao interior do veículo e à forma de habitá-lo. Leva


em conta diversas características, como o espaço livre interior, conforto dos
bancos, praticidade dos controles, isolamento acústico, etc. Está diretamente
ligado ao estado de bem-estar e a facilidade de entrada e saída do motorista e
seus passageiros.

Para o autor, há um conjunto de medidas precisas para compor


adequadamente o package de um carro:

O design da carroceria de um veículo é feito a partir da definição do seu


package, que por sua vez, é definido pelo posicionamento do motorista em
relação aos comandos principais, pelo posicionamento do painel frontal da
cabine (dash panel) e do grupo motor + transmissão ligado ao eixo de tração,
pela determinação da altura do assoalho em relação ao solo em função do
diâmetro externo da roda ( aro + pneu), pelo posicionamento do eixo traseiro
em função do layout interno da cabine (n° de assentos, largura do veículo,
abertura de portas etc.) e pela determinação da altura do teto da cabine em
função da posição dos ocupantes do banco traseiro. (LARICA, 2003, p.116).

5.3.2 Ergonomia cognitiva

Em um sentido amplo, Vidal define ergonomia cognitiva da seguinte forma:

A cognição trata da ergonomia dos aspectos mentais da atividade de trabalho


de pessoas e indivíduos, homens e mulheres. O olhar do ergonomista não se
contenta em apontar características humanas pertinentes aos projetos de
postos de trabalho ou de se limitar a entender a atividade humana nos
processos de trabalho de uma ótica puramente física. Nesse movimento de
41

ideias apreende-se - o que os filósofos gregos já discutiam - a importância


dos atos de pensamento do trabalhador na consecução de suas tarefas. E
com isso, apreendemos que os trabalhadores não são apenas simples
executantes, são capazes de detectar sinais e indícios importantes, são
operadores competentes e são organizados entre si para trabalhar. E que,
nesse contexto, podem até cometer erros. (VIDAL, p.19).

Tal definição está focada em ambientes de trabalho, mas sua ideia também
pode ser aplicada na ergonomia cognitiva relacionada a um objeto. Löbach (2001,
p.38) se refere a percepção cognitiva de forma diferente, chamando-a de função
estética. Segundo ele, “a função estética é a relação entre um produto e um usuário
no nível dos processos sensoriais”. A partir daí, pode-se definir a função estética dos
produtos como um aspecto psicológico da percepção sensorial durante seu uso.
Morris (2010) fala sobre design afetivo, uma “ramificação” da ergonomia cognitiva.
Segundo o autor, dependendo da forma como uma pessoa se relaciona com
um determinado produto, pode-se produzir nela uma resposta emocional ou
comportamental dedicando-se mais profundamente ao seu design. Segundo Löbach
(2001), a função estética de um produto que atenda às condições de percepção do
seu usuário é a tarefa principal do designer industrial que, para além da racionalidade,
atende a uma demanda subjetiva:

A função estética dos produtos promove a sensação de bem-estar,


identificando o usuário com o produto, durante o processo de uso. Em
paralelo ao mundo da racionalidade e do pensamento lógico há o mundo dos
sentimentos, que, nos dias atuais, vai se separando rapidamente de uma
atitude racional remetendo á forma primitiva da experiência humana.
(LÖBACH, 2001, P.64).

Norman (2004) menciona também o caráter subjetivo e único que um objeto


pode assumir na vida das pessoas, desconectado muitas vezes do valor material a
ele associado:

Beyond the design of an object, there is a personal component as well, one


that no designer or manufacturer can provide. The objects in our liver are more
than mere material possessions. We take pride in them, not necessarily
because we are showing off our wealth or status, but because of the meanings
they bring to our lives. A person’s most beloved objects may well be
inexpensive trinkets, frayed furniture, our photographs and books, often
tattered dirty or faded. A favorite object is a symbol, setting up a positive frame
of mind, a reminder of pleasant memories, or sometimes an expression of
42

one’s self. And this object always has a story, and something that ties us
personally to this particular object, this particular thing (NORMAN, 2004, p.6).3

Esta relação entre o usuário e o objeto é chamada de função simbólica,


“[...]determinada por todos os aspectos espirituais, psíquicos e sociais de uso”.
(LÖBACH 2001, p.64). Quando o designer projeta algum produto para o mercado de
luxo, a função simbólica está muito presente. Segundo Faggiani(2006), valores e
significados específicos são atribuídos a artigos de luxo pelo design. São eles:
a) Valor de raridade da origem e/ou do material: com relação aos fatores
ergonômicos e comerciais, o luxo tem total relação com o raro, com a restrição,
com o incomum. Por estabelecer relação com a qualidade, diferenciação,
satisfação pessoal, reconhecimento, predileção, ambição, sonho, fantasia, ao
inatingível e também à admiração, o luxo é uma distinção;
b) Valor cultural e histórico: aqui desponta outra palavra de grande valor à
compreensão de mais um dos significados do luxo: a tradição. Isso não quer
dizer ficar alienado, mas principalmente valorizar e sustentar raízes, origens,
peculiaridades e estilos, valores culturais, memórias do passado, herança dos
ancestrais, reconhecimento e preservação das tradições históricas e, portanto,
valorizar o tradicional;
c) Valor afetivo e subjetivo: hoje esse valor não se refere ao exagero ou à
ostentação, mas ao conforto e à qualidade, portanto, está ligado à realização
de um sonho, um desejo;
d) Valor do design: forma, aparência; conforme Lipovetsky (1989), hoje o mundo
está totalmente sob o domínio do estilismo e da imposição das aparências. “O
design tronou-se parte integrante da concepção dos produtos” diz ele,
mostrando que a aparência tem lugar determinante e decisivo para o sucesso
no mercado. O indivíduo é influenciado em parte pela aparência exterior dos
objetos.

3 Além do design de um objeto, existe um componente pessoal também, um componente que nenhum
designer ou fabricante pode oferecer. Os objetos em nossa vivência são mais do que meros bens
materiais. Temos orgulho deles, não necessariamente porque estamos mostrando a nossa riqueza ou
status, mas por causa dos significados que eles trazem para nossas vidas. Os objetos mais adorados
de uma pessoa pode muito bem ser bugigangas baratas, móveis desgastados, fotografias e livros,
muitas vezes, esfarrapados sujos ou desbotados. Um objeto favorito é um símbolo, criando um estado
de espírito positivo, uma lembrança de memórias agradáveis, ou às vezes uma expressão de si mesmo.
E esse objeto sempre tem uma história, e algo que nos une pessoalmente a este objeto em particular.
(LÖBACH 2001, p. 64, tradução nossa).
43

e) Valor da marca: criador, identidade; a marca é outro fator de muita importância


na agregação de valor a um produto, pois permite que se reconheça
rapidamente um objeto de luxo. A notoriedade de uma marca é uma promessa
de qualidade superior. Um produto pode ser copiado pelo concorrente, já a
marca é única e exclusiva.
f) Valor ecológico dos materiais: segue as tendências de uso de materiais
alternativos e o novo paradigma mundial, que diz respeito ao desenvolvimento
sustentável e à valorização da diversidade biológica e cultural; surge daí o
ecodesign.

5.4 SUSTENTABILIDADE

Em relação a sustentabilidade, Morris (2010) destaca um conceito que envolve


o homem e o ambiente através dos tempos:

O termo “desenvolvimento sustentável” foi definido pela comissão


Brundtland, em 1987, como “desenvolvimento que atende às necessidades
do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras
atenderem suas próprias necessidades”. A sustentabilidade, portanto, inclui
conceitos amplos de economia e política, além das questões ambientais
conhecidas. (MORRIS, 2010, p.71).

Krucken (2009) menciona em seus estudos que o conceito de design para


sustentabilidade foi desenvolvido graças a busca por soluções que ampliassem ainda
mais o foco de análise, envolvendo pessoas que participam da produção e consumo
dos bens e serviços, possibilitando equalizar as necessidades de satisfação das
necessidades e de preservação dos meios naturais.

Essa abordagem pode ser considerada uma visão estratégica da concepção


e do desenvolvimento de soluções sustentáveis, promovendo estilos de vida
também sustentáveis – como aponta Manzini (2002). A visão estratégica da
sustentabilidade considera os sistemas de produtos e serviços (envolvendo
os modos e níveis de produção, de distribuição, de consumo de descarte e
reuso), que possibilitam às pessoas viver melhor, consumindo menos
recursos ambientais e melhorando seus contextos de vida. (KRUCKEN, 2004,
p.48).

De acordo com Larica(2003), o designer tem o poder de influenciar nas


mudanças voltadas à sustentabilidade, através de soluções criativas no projeto de
sistemas e produtos, na utilização de materiais ecologicamente corretos e com
44

simplicidade. O designer deve ter consciência do poder que ele possui e deve assumir
sua responsabilidade criativa, reformulando ideias e padrões, e projetando objetos
sem exageros ou desperdícios. O autor também destaca alguns conceitos ambientais:
a) Desenvolvimento Sustentável: nova opção de vida das sociedades, que
permite o progresso através da evolução simultânea de condições naturais,
sociais e econômicas, sendo o principal regulador do uso de recursos naturais
não renováveis. É fundamental para este conceito, a adaptação de processos
produtivos, além da revisão de premissas de uso e dos conceitos do projeto de
produto;
b) Tecnologia Apropriada: utilização de tecnologia na medida coerente em relação
as necessidades de uma comunidade ou região geográfica. Este conceito deve
sempre ser adotado quando possível, pois o projeto de produto pode conciliar
os interesses dos fabricantes e investidores, com os benefícios proporcionados
ao meio ambiente e o consumidor, observando sempre a preocupação com o
meio ambiente e produção descentralizada;
c) Ecoeficiência: percepção de a questão ambiental é uma oportunidade para as
organizações reduzirem os impactos ambientais, mas aumentem a
produtividade e a rentabilidade;
d) Sistema de Gestão Ambiental: conjunto de procedimentos estabelecidos pelas
normas da série ISSO 14000, avaliando a Qualidade em conformidade com a
preservação ambiental;
e) Análise do Ciclo de Vida: compreende procedimentos estabelecidos pelas
normas de subsérie ISO14040, definindo requisitos para avaliar o ciclo de vida
de produtos e serviços, através da estimativa do impacto causado ao meio
ambiente.
45

6 DESENVOLVIMENTO

Nesta parte do trabalho, pretende-se demonstrar as análises que envolvem o


projeto de redesenho do Karmann-Ghia Coupé. De início, foi feito um estudo de
Gestalt automotiva para se compreender melhor o que envolve o design de um
automóvel. Além de examinar especificamente o Karmann-Ghia dos anos 50,
procedeu-se a uma análise diacrônica e estrutural do carro. Além disso, foi analisado
o Grupo Volkswagen de forma ampla, especificando-se o DNA da marca Volkswagen,
sua posição no mercado e suas tecnologias. Após as análises, mostra-se o resultado
deste estudo definindo o projeto, com os respectivos desenhos técnicos e imagens.

6.1 GESTALT AUTOMOTIVA

Antes de se começar a falar sobre Gestalt automotiva, é importante entender a


anatomia de um automóvel. A imagem a seguir demonstra os diferentes elementos
que compõem o desenho de um carro. Utiliza-se para isso termos em inglês, porém
de uso universal:
46

Figura 14 – Anatomia de um automóvel

Fonte: MARROCCO, 2011, p.10. Nota: tradução do autor


Para melhor entender como as linhas de um automóvel influenciam em seu
visual e analisar com maior clareza o design do Karmann-Ghia, participou-se de um
curso de Gestalt Automotivo durante o período de 22 a 26 de julho deste ano, na
empresa Icon Design, localizada em São Paulo, com o designer Nelson Lopes. Ele já
trabalhou na Volkswagen, na matriz alemã da marca, participando do projeto do
47

automóvel Polo da quarta geração. As informações a seguir, utilizadas para realizar


as análises, são de LOPES (2013).
Figura 15 – Aspectos do design de automóveis

Fonte: LOPES, 2013 Nota: dados trabalhados pelo autor

No design de automóveis, diversos valores de estética devem ser levados em


conta. Na realização do projeto de um automóvel, cada valor estético influencia no
desenho e deve ser utilizado de maneira correta para que esta influência não seja
negativa. A imagem a seguir demonstra os valores de estética:
48

Figura 16 – Valores de estética

Fonte: LOPES, 2013 Nota: dados trabalhados pelo autor

Para analisar esses valores de estética em um automóvel e verificar como eles


podem impactar positivamente, utiliza-se como exemplo dois automóveis conceitos da
mesma categoria, os utilitários esportivos Lexus LF- NX e o Jaguar C-X17 (fig. 17, a
seguir).
49

Figura 17 – Lexus LF-NX

Fonte: http://www.netcarshow.com/lexus/2013-lf-nx_concept/1280x960/wallpaper_02.html Acesso em:


21/10/2013

Analisando as linhas do LF-NX, pode-se perceber a falta de valores de estética,


tais como equilíbrio, simetria, estabilidade e continuidade, o que faz com que o carro
possua formas dinâmicas, porém exageradas.
50

Figura 18 – Jaguar C-X17

Fonte: http://www.netcarshow.com/jaguar/2013-c-x17_concept/1280x960/wallpaper_0e.htm Acesso


em: 21/10/2013

Em contrapartida, o desenho do C-X17 possui valores de estética bem


definidos, com um visual bem equilibrado, seu design contém continuidade e
estabilidade, o que resulta em um design dinâmico, sem exageros.
Além dos valores de estética, a Gestalt possui duas principais leis que
influenciam no design de um automóvel, as leis da Geometria e da Semiótica, que
demonstram-se a seguir em modelos disponíveis no mercado atual – o Volkswagen
Jetta e o Porsche 911, respectivamente – para depois percebê-las atuando no
redesenho do Fiat 500 e do Volkswagen Fusca.
51

6.1.2 Geometria

A geometria de um automóvel é influenciada por 3 diferentes características:


continuidade, alinhamento e fechamento. Para demonstrar aspectos como
continuidade e alinhamento no design de automóveis, serão analisadas as linhas do
Volkswagen Jetta, carro que exemplifica muito bem o tema do design de marca.

Figura 19 – Volkswagen Jetta, vista lateral

Fonte: http://www.netcarshow.com/volkswagen/2011-jetta/ Acesso em: 21/10/2013

Figura 20 – Volkswagen Jetta, exemplo de continuidade e alinhamento

Fonte: http://www.netcarshow.com/volkswagen/2011-jetta/ Acesso em: 21/10/2013


52

Pode-se reparar que os gráficos do carro percorrem toda a lataria, uma mesma
linha percorre o para-choque frontal, passando para a lateral do automóvel, até chegar
ao para-choque traseiro. Isso contribui para um desenho equilibrado e também para
se ter a sensação de o carro ser mais longo.

Figura 21 – Volkswagen Jetta, vista frontal

Fonte: http://www.netcarshow.com/volkswagen/2011-jetta/ Acesso em: 21/10/2013

Ao se analisar a vista frontal, é possível ver com clareza os aspectos de


fechamento e alinhamento.

Figura 22 – Volkswagen Jetta, exemplo de fechamento e alinhamento.

Fonte: http://www.netcarshow.com/volkswagen/2011-jetta/ Acesso em: 21/10/2013


53

Os faróis são integrados e alinhados com a grade, formando um fechamento


juntamente com a entrada de ar inferior, sem divisões na cor do carro.

6.1.3 Semiótica

Na lei da Semiótica, três aspectos muito importantes devem ser considerados.


São eles: pregnância, hierarquia e semelhança. Um bom exemplo da relevância da
Semiótica e de seus valores para o design automotivo observa-se no Porsche 911.
Figura 23 – Porsche 911, exemplo de pregnância, hierarquia e semelhança

Fonte:http://designiscooler.blogspot.com.br/2012/04/designer-of-timeless-products-ferdinand.html
Acesso em: 22/10/2013

Durante cinquenta anos o Porsche 911 passou por evoluções, porém sempre
manteve seu formato e proporção únicos (pregnância da forma) e a semelhança com
o carro fabricado no início, seguindo a hierarquia da marca.
54

Figura 24 – Porsche 911 (986) e Porsche 911 (991)

Fonte: http://www.motoringme.com/features/evergreen-porsche-911-50-years-young/ Acesso em:


18/10/2013

6.1.4 Análise de redesenho automotivo

Para melhor entender como funciona o redesenho de um automóvel, serão


analisados aqui dois modelos presentes no mercado, o Fiat 500 e o Volkswagen
Fusca.

Figura 25 – Fiat 500

Fonte: http://www.greencar.com/articles/56-mpg-fiat-500-returns.php Acesso em: 22/10/2013

Analisando-se o desenho do Fiat 500, pode-se perceber que o veículo possui


os mesmos gráficos de seu predecessor, fabricado em 1957.
55

Figura 26 – Gráficos do Fiat 500

Fonte: http://www.motoringme.com/features/classics-fiat-500-old-and-new/ Acesso em: 18/10/2013

Apesar de os gráficos serem basicamente os mesmos, eles são redesenhados


para acompanhar a proporção e a escala do novo carro e evoluem de acordo com a
tecnologia atual. Pode-se usar como exemplo disso o para-choque de ferro do antigo
modelo, pois, hoje em dia, não é mais utilizado esse material para fabricá-lo. Para
representá-lo, no entanto, no novo modelo foi usado um filete cromado, como
acabamento somente.

Figura 27 – Fiat 500 do passado e do presente

Fonte: http://www.fiatforum.com/members-motors/170288-36-years-apart-old-new-500-a.html Acesso


em: 20/10/2013
56

Outro aspecto que se pode analisar é o aumento do tamanho do carro novo em


relação ao antigo. Isso se deve por um principal motivo: atualmente existem leis
rigorosas para segurança, o que implica no uso de diversas tecnologias para aumentar
a segurança dos ocupantes de um automóvel. O Fiat 500, comparado ao antigo, pode
possuir até sete airbags, freios com sistema antitravamento, além de controles de
estabilidade e tração. Tudo isso faz com que os carros redesenhados atualmente
sejam maiores comparados aos seus antecessores.

Figura 28 – Fiat 500, nota 5 estrelas para ocupantes adultos

Fonte: http://www.euroncap.com/tests/fiat_500_2007/298.aspx Acesso em 22/10/2013

Analisando-se o Volkswagen Fusca, pode-se perceber o quão importante é


manter a proporção e as formas pregnantes no redesenho de um automóvel.

Figura 29 – Volkswagen Fusca do presente e do passado

Fonte: http://www.netcarshow.com/volkswagen/2013-beetle_gsr/1280x960/wallpaper_08.html Acesso


em: 21/10/2013

O novo Fusca possui as mesmas formas pregnantes do antigo, o que preserva


um tema de design único e resulta em um carro com uma identidade fortíssima.
57

Figura 30 – Formas Icônicas do Volkswagen Fusca

Fonte: http://www.netcarshow.com/volkswagen/2013-beetle_gsr/1280x960/wallpaper_08.html Acesso


em: 21/10/2013

Também é possível verificar que, apesar de o carro novo ter maior tamanho,
sua proporção se mantém a mesma, fazendo com que tenha maior semelhança com
o antigo.

Figura 31 – Proporção do Fusca

Fonte: http://www.netcarshow.com/volkswagen/2013-beetle_gsr/1280x960/wallpaper_08.html Acesso


em: 21/10/2013
58

6.2 ANÁLISE DO KARMANN-GHIA

Neste tópico, o Karmann-Ghia será analisado de forma que se conheça de


modo amplo as especificidades quanto ao seu desenho singular, sua estrutura e
evolução ao longo dos anos.

6.2.1 Análise de Gestalt

O Karmann-ghia, assim como o Fusca, possui um tema de design bastante


representativo, seus para-lamas frontais e traseiros são de grande tamanho e suas
linhas invadem a lateral da carroceria.
Figura 32 – Karmann-Ghia

Fonte: http://www.flickr.com/photos/auto-clasico-mallorca/5327804010/ Acesso em: 20/10/2013

Essas formas são bastante pregnantes, e seria impossível imaginar um novo


modelo sem estas linhas representadas, pois os para-lamas, juntamente com a
proporção geral do modelo, definem seu design.
59

Figura 33 – Linhas do Karmann-Ghia

Fonte: http://www.lotpro.com/blog/2013/08/21/the-ghia-turns-60/ Acesso em: 20/10/2013

Desse modo, para redesenhar o Karmann-Ghia, é de extrema importância


manter a proporção e as linhas icônicas, tomando como exemplo o Volkswagen
Fusca, adequando esses fatores ao tamanho do carro, a fim de manter a sua
identidade. Além da proporção e das linhas, vários detalhes que fazem a diferença
podem ser vistos a seguir, nos faróis, para-choques, etc.:
60

Figura 34 – Detalhes do Karmann-Ghia

Fonte: Elaborado pelo autor Nota: Imagem girada em 90° graus para melhor visualização

Todos esses detalhes, linhas e formas presentes nos carros analisados foram
levados em conta no projeto de redenho do Karmann-Ghia.
61

6.2.2 Análise estrutural

Como já foi citado anteriormente, o Karmann-Ghia Coupé utilizava o mesmo


chassi e mecânica do Volkswagen Fusca, o que era um ponto positivo na época por
se tratar um conjunto extremamente confiável e de qualidade. O chassi do Fusca era
unido à carroceria, feita de aço e soldada com estanho.
Figura 35 – Carroceria sendo integrada ao chassi

Fonte: http://showroomimagensdopassado.blogspot.com.br/2010/11/v-salao-do-automovel-de-1966-2-
parte.html Acesso em: 19/11/2013

Em relação à carroceria do Karmann-Ghia, Sandler relaciona vários


procedimentos adotados do projeto à montagem. Isso mostra o quanto o carro se
tornou confiável e seguro à medida que o máximo cuidado foi dispensado nessas
etapas:

Do ponto de vista histórico, na verdade, o Karmann-Ghia se encaixava no que


havia de mais moderno na época: o método das carrocerias “monobloco”, em
62

que todas as forças físicas em jogo eram cuidadosamente calculadas para


não haver um ponto de maior esforço que produzisse rachaduras. A “concha”
era parafusada ao chassi, e tudo ficava muito resistente às forças torcionais.
O teto do karmann-Ghia, apesar de apoiado em finas colunas, era
componente integral dessa resistência torcional geral. A alta taxa de
“sobrevivência” do Karmann-Ghia e o fato de ele rodar macio e eficientemente
ainda hoje, oferecendo uma solidez que muitos carros modernos não têm, é
fruto de um desenho que dispunha de alta qualidade de engenharia
embarcada. O trabalho manual de soldagem estanhada era tão extenso, que,
calcula-se, havia quase 3,50 m de solda somente na parte externa
(SANDLER, 2010, p. 50).

A imagem a seguir demonstra bem a configuração do Karmann-Ghia:


Figura 36 – Raio X do Karmann-Ghia

Fonte: http://www.shorey.net/Auto/German/VolksWagon/htmltree.html Acesso em: 19/11/2013

Utilizando-se esta imagem, foi possível realizar um infográfico (fig. a seguir)


detalhando as áreas do carro.
63

Figura 37 – Infográfico Karmann-Ghia

Fonte: Elaborado pelo autor Nota: Imagem girada em 90° graus para melhor visualização
64

Ao se analisar o infográfico, pode-se perceber que o motor é de posição


traseira, isso é, se encontra atrás do eixo traseiro. Apesar dos atributos relacionados
à carroceria, a posição do motor afeta a dinâmica do carro, fazendo com que a perda
de controle da traseira em acelerações e curvas seja comum, até mesmo pelo peso
excessivo nesta parte do carro. Sandler relaciona a esse fato à baixa performance do
carro em velocidades mais elevadas:

Bem, então, para dirigir o Karmann-Ghia, que não é um verdadeiro carro


esporte, o piloto tem de ter a perícia de um corredor? A resposta é sim e não.
Sim, para velocidades maiores que 70 km/h. Se não se dominar minimamente
a técnica, o risco de colisão ou capotagem é real. Na melhor das hipóteses,
inopinadamente o veículo dá um giro em torno de si mesmo, ficando na
contramão. Com um carro da linha Volkswagen de motor traseiro, é mais
seguro manter-se dentro desse limite (SANDLER, 2010, p.188).

A figura abaixo permite uma melhor visualização da área ocupada pelo motor
traseiro e da sua posição em relação ao eixo:
Figura 38 – Motor do Karmann-Ghia

Fonte:http://media.photobucket.com/user/riva65/media/karmannghia19605.jpg.html?filters[term]=karm
ann%20ghia&filters[primary]=images&sort=1&o=149 Acesso em: 20/11/2013

Outro aspecto importante a ser reparado e que representa uma desvantagem


são as áreas para bagagem. A frontal é de pequeno tamanho e ainda conta com o
estepe no meio, que foi colocado na tentativa de equilibrar o peso, juntamente com o
65

tanque de gasolina. A área de bagagem traseira é de difícil acesso, fazendo com que
o ocupante tenha que rebater o banco traseiro para ter acesso a ela.
Figura 39 – Porta malas do Karmann-Ghia

Fonte:
http://media.photobucket.com/user/riva65/media/karmannghia19609.jpg.html?filters[term]=karmann%
20ghia&filters[primary]=images&sort=1&o=158 Acesso em: 20/11/2013

6.2.3 Análise diacrônica

Por meio da análise do material relacionado à história do Karmann-Ghia


revisado para a fundamentação teórica deste trabalho, foi possível organizar a linha
do tempo e um infográfico mostrando as informações mais importantes a respeito do
carro e suas mudanças ao longo do tempo, conforme se pode verificar na página a
seguir:
66

Figura 40 – Linha do Tempo Karmann-Ghia

Fonte: Sandler, 2010. Nota: dados trabalhados pelo autor - Imagem girada em 90° graus para melhor
visualização
67

Figura 41 – Linha do tempo Karmann-Ghia (cont.)

Fonte: Sandler, 2010. Nota: dados trabalhados pelo autor - Imagem girada em 90° graus para melhor
visualização
68

Figura 42 – Infográfico Karmann-Ghia

Fonte: Sandler, 2010. Nota: dados trabalhados pelo autor - Imagem girada em 90° graus para melhor
visualização
69

6.3 ANÁLISE VOLKSWAGEN

Para se projetar o redesenho do Karmann-Ghia, é necessário compreender a


marca Volkswagen na atualidade. Esta parte do trabalho estuda as características
inerentes à identidade da marca e a sua participação no mercado de automóveis,
demonstrando seu planejamento para o futuro e as tecnologias hoje utilizadas.

6.3.1 DNA Volkswagen

A excelência de uma marca depende de vários fatores. Na indústria


automobilística, isso vem se confirmando, e convém destacar aqui o êxito da
Volkswagen quanto à permanência de modelos no mercado, cujos projetos foram
desenvolvidos aliando-se alto padrão tecnológico com design de vanguarda:

There is an intrinsic link between Strong design and a strong brand. In the
world of automobiles, Volkswagen has been a prime example of this
interaction for decades: From the legendary “Käfer” through the golf to the
new Beetle – the world over, these cars stand for inimitable, timeless and yet
emotional design. […] Volkswagen is Italian design coupled with German
engineering – an unbeatable combination in my view (Winterkorn, 2011, p.2).4

Ao idealizar um novo modelo, no entanto, é necessário desenvolver um


planejamento em que todas as áreas envolvidas no projeto participem para que haja
a concepção de um produto excepcional. Para Bischoff, é importante se ter visão a
longo prazo e uma base forte. Além disso, convém começar todo o projeto pela
arquitetura do carro para então ser definida a forma, até se chegar a um produto
diferenciado:

Everything starts from an understanding of the proportions of a form. The first


step consist of deciding how we can affect the package, the architecture and
the ensuing functionality. Before we draw a single line, we must organize the
elements so as to achieve outstanding proportions. When this is done, our
work focuses on simplified forms, with pure lines, to obtains an iconic design,
each line follows a function, has a meaning, to create an architecture that is
immediately comprehensible and in keeping with volkswagen’s principles
(BISCHOFF, 2011, p.4)5

4 Há uma ligação intrínseca entre um forte design e uma forte marca. No mundo dos automóveis, a
Volkswagen tem sido um excelente exemplo dessa interação ao longo de décadas: desde o lendário
“Käfer” passando pelo Golf até o novo Fusca – em todo o mundo, esses carros representam design
inimitável, atemporal e emocional. (...) Volkswagen é o design italiano casado com a engenharia alemã
– uma combinação imbatível no meu ponto de vista (WINTERKORN, 2011, p.2, tradução do autor).
5 Tudo começa de uma compreensão das proporções de uma forma. O primeiro passo consiste em

decidir como podemos afetar a configuração, arquitetura e funcionalidade. Antes de desenharmos uma
70

O que se observa é que, muitas vezes, nesse processo uma quebra de


paradigmas é bem sucedida. De acordo com Walter de Silva (2011), chefe de design
do Grupo Volkswagen, a marca não segue as tendências do momento e acaba criando
o desejo por produtos que os consumidores não esperavam. O resultado disso se
reflete positivamente no mercado, e a marca se consolida como uma das campeãs de
venda no mundo todo. Bischoff (2011) afirma que em 2011 a Volkswagen começou a
apresentar modelos únicos, “que fazem o coração bater mais rápido”, representando
para o consumidor algo especial e com grande potencial emocional.
A imagem a seguir demonstra os principais valores de design encontrados nos
automóveis da marca Volkswagen:

simples linha, nós devemos organizar os elementos para alcançar proporções excepcionais. Quando
isso é feito, nosso trabalho é focado em simples formas, com linhas puras, para obter um design icônico,
cada linha tem uma função, um significado, para criar uma arquitetura que é imediatamente
compreensível e de acordo com os princípios da Volkswagen (BISCHOFF, 2011, p.4, tradução do
autor).
71

Figura 43 – Valores da Volkswagen

Fonte: Auto & Design, 2011, p.14 Nota: tradução do autor - imagem girada em 90° graus para melhor
visualização
72

Além desses valores destacados, existem algumas características presentes


na linha de automóveis da marca, desde o compacto up! até o luxuoso Phaeton. É o
que se pode ver na imagem a seguir:
Figura 44 – Características Volkswagen

Fonte: Auto & Design, 2011, p.15 (tradução do autor)

Para este projeto, além de buscar inspiração no antigo Karmann-Ghia, também


foi buscada inspiração nos modelos de produção e de protótipos atuais da
Volkswagen, a fim de adequar o carro à linguagem de design praticada hoje pela
marca. Detalhes dos seguintes carros da linha Volkswagen foram analisados: Golf
GTI, Beetle R, Passat CC, XL1, Golf Sportsvan concept, CrossBlue Concept e
CrossBlue Coupe Concept.
73

Figura 45 – Inspirações do presente

Fonte: Elaborado pelo Autor Nota: Imagem girada em 90° graus para melhor visualização
74

Figura 46 – Inspirações do presente (cont.)

Fonte: elaborado pelo autor. Nota: Imagem girada em 90° graus para melhor visualização.
75

6.3.2 A Volkswagen no mercado

O grupo Volkswagen conta com diversas marcas de automóveis, atuando em


diversas áreas do mercado.
Figura 47 – Grupo Volkswagen

Fonte:http://www.volkswagenag.com/content/vwcorp/info_center/de/publications/2011/04/Volkswagen
_Group_-_Factbook_2011.bin.html/binarystorageitem/file/Factbook+2011.pdf Nota: Tradução do Autor
Acesso em: 20/10/2013

Em relação ao grupo Volkswagen, pode-se afirmar que o êxito das marcas têm
relação com a diversificação dos modelos fabricados e a atenção às especificidades
de cada uma, visando atender à demanda mundial:

Volkswagen is the most successful Multibrand group in the automotive


industry. The Group consists of nine brands from seven European countries:
Volkswagen Passenger Cars, Audi, Škoda, SEAT, Bentley, Volkswagen
Commercial Vehicles, Scania, Bugatti and Lamborghini. Each brand has its
own character and operates as an independent entity in the market to better
satisfy the specific needs of the different segments and countries. In addition,
Volkswagen holds a 49.9% stake in Porsche Zwischenholding GmbH.
Volkswagen is working towards an integrated automotive group with Porsche
(VOLKSWAGEN, 2011, p.9).6

6A Volkswagen é o grupo multimarcas mais bem sucedido na indústria automotiva. O grupo consiste
em nove marcas de sete países europeus: Volkswagen Carros para Passageiros, Audi, Škoda, SEAT,
Bentley, Volkswagen Veículos comerciais, Scania, Bugatti e Lamborghini. Cada marca tem sua própria
76

Essa diversificação de marcas, faz com que o grupo Volkswagen possua uma
ampla gama de produtos, atingindo grande parte do Mercado.
Figura 48 – Gama de produtos

Fonte:
http://www.volkswagenag.com/content/vwcorp/info_center/de/publications/2011/04/Volkswagen_Grou
p_-_Factbook_2011.bin.html/binarystorageitem/file/Factbook+2011.pdf Nota: Tradução do Autor
Acesso em: 20/10/2013

The product range extends from low-consumption small cars to luxury class
vehicles. In the commercial vehicle sector, the product offering spans pick-
ups, buses and heavy trucks. This huge portfolio enables us to reach all major
target customer groups. (Volkswagen, 2011, p.10).7

A Volkswagen já tem uma estratégia traçada para até 2018 com vistas a se
tornar o fabricante de automóveis mais bem sucedido e admirado até esta data. Essa
estratégia será atingida mantendo o foco da marca em seis diferentes dimensões.

característica e opera como entidade independente no mercado para melhor satisfazer as


necessidades especificas dos diferentes segmentos e países. Em adição, Volkswagen possui uma
parcela de 49,9% da Porsche. A Volkswagen está trabalhando em direção a um grupo automotivo
integrado com a Porsche (VOLKSWAGEN, 2011, p.9, tradução do autor).
7A gama de produtos se estende de carros pequenos de baixo consumo até carros de luxo. No setor

de veículos comerciais, os produtos oferecidos são de Picapes, ônibus e caminhões pesados. Esse
gigante portfolio permite a nós alcançar todos os principais grupos de consumidores (VOLKSWAGEN,
2011, p.10, tradução do autor).
77

Figura 49 – Planejamento Volkswagen

Fonte:http://www.volkswagenag.com/content/vwcorp/info_center/de/publications/2011/04/Volkswagen
_Group_-_Factbook_2011.bin.html/binarystorageitem/file/Factbook+2011.pdf Nota: Tradução do Autor
- Imagem girada em 90° graus para melhor visualização Acesso em: 21/10/2013
78

6.3.3 Tecnologia Volskswagen

Como pôde-se ver anteriormente, a Volkswagen está apostando em


tecnologias modulares, o que resulta em diversas vantagens em relação a custos e
processos produtivos. O grupo Volkswagen aposta em chassis divididos em grupos
de montagem (Assembly Kits). Cada grupo de montagem corresponde a uma
configuração diferente de posição de motor e diversos tipos de chassis. Na imagem a
seguir, pode-se observar os diferentes chassis presentes na linha Volkswagen que
apostam nesses diferentes tipos de modulação.
Figura 50 – Plataformas Volkswagen

Fonte:http://www.fourtitude.com/news/publish/Features/article_7484.shtml Nota: tradução do autor


Acesso em: 22/10/2013

Analisando-se a imagem, pode-se perceber que as plataformas MLB e MSB


foram desenvolvidas pelas marcas Audi e Porsche respectivamente, enquanto que a
79

arquitetura MQB foi desenvolvida pela Volkswagen e consegue ser aplicada a veículos
de segmentos compactos, até sedans médios e crossovers. A imagem a seguir
demonstra a que corresponde cada sigla:

Figura 51 – Plataformas Volkswagen

Fonte:http://www.volkswagenag.com/content/vwcorp/info_center/de/talks_and_presentations/2013/09/
Investor_Day_Dr_Neusser.bin.html/binarystorageitem/file/20130909+Volkswagen+Investor+Day_Neu
%C3%9Fer_WEBSITE_final.pdf Nota: Tradução do Autor Acesso em: 22/10/2013

O kit de montagem MQB – Modular transverse kit (Kit modular transversal)


corresponde a carros com motores frontais posicionados transversalmente e, segundo
a Volkswagen, agrega muitas vantagens aos modelos que o utilizam. O MQB é
utilizado atualmente no Golf MK7 e Audi A3:

The Modular Transverse Matrix signifies the next quantum leap in the
extension of the cross-brand platform and modular strategy. As an extension
of the modular strategy, this toolkit can be deployed in vehicles whose
architecture permits a transverse arrangement of the engine components. The
MQB enables us to meet costumer’s expectations for a growing variety of
vehicle models, equipment features and design, reducing the complexity,
costs incurred and time required for development at the same time. From
2012, the Volkswagen Passenger Cars, Volkswagen Commercial Vehicles,
Audi, Seat and Skoda brands will develop a wealth of models based on the
MQB toolkit, at of which will feature innovations in the field of infotainment and
driver assistance (Volkswagen, 2011, p.51). 8

8 O MQB significa o próximo salto quântico na extensão das plataformas e estratégia modular
multimarcas. Como uma extensão da estratégia modular, esse kit de montagem pode ser usado em
veículos nos quais sua arquitetura permite um arranjo transversal do motor e seus componentes. A
MQB permite-nos alcançar as expectativas dos consumidores por uma crescente variedade de modelos
80

O kit MLB – Modular longitudinal kit (Kit modular longitudinal) é utilizado em


carros com motores frontais posicionados longitudinalmente. Segundo a Volkswagen,
“this modular arrangement of all components enables maximum synergies to be
achieved between the vehicle families. This concept is already used at Audi since 2007
to develop vehicles”9. (VOLKSWAGEN, 2011, p.51). Essa modulação é utilizada em
veículos de classe B, como Audi A4, Audi A5 e Audi Q5.
A MSB – Modular Standard Drive Train Kit (Kit modular padrão) ainda está
sendo desenvolvido pela Porsche e irá equipar futuros veículos da marca, além de
outros automóveis de alta classe do grupo Volkswagen:

Under the leadership of the Porsche brand, the Group is taking the next step
in the enhancement of this strategy with the Modular Standard Toolkit (MSB).
The MSB is the basis for vehicles whose engine is installed in a longitudinal
direction and that feature rear-wheel drive in the base version (Volkswagen,
2012).10

Também se pode perceber que é possível a utilização de diversos tipos de


motores, chassis, eletrônica e materiais no corpo e estrutura do veículo em um mesmo
kit de montagem. A imagem a seguir mostra a evolução da Volkswagen nesta área
desde a estratégia de plataformas utilizadas antigamente até a estratégia de kits de
montagem:

de veículos, equipamentos e design, reduzindo a complexidade, custos e tempo requerido para


desenvolvimento ao mesmo tempo. A partir de 2012, as marcas Volkswagen, Volkswagen Veículos
Comerciais, Audi, Seat e Skoda, irão desenvolver uma extensa gama de modelos baseados no kit de
montagem MQB, que contará com inovações no campo de entretenimento e assistência ao condutor
(VOLKSWAGEN, 2011, p.51, tradução do autor).
9
Esse arranjo modular de todos os componentes permite atingir uma sinergia máxima entre as famílias
de veículos. Esse conceito é usado pela Audi para desenvolver veículos desde 2007 (VOLKSWAGEN,
2011, p.51, tradução do autor).
10 Sob o comando da marca Porsche, o Grupo está dando o próximo passo para o aprimoramento desta

estratégia com o Kit Modular Padrão (MSB). O MSB é a base para veículos nos quais o motor é
instalado longitudinalmente e que possuem tração traseira (VOLKSWAGEN, 2012, tradução do autor).
81

Figura 52 – Evolução de plataformas Volkswagen

Fonte:http://www.volkswagenag.com/content/vwcorp/info_center/de/talks_and_presentations/2013/09/
Investor_Day_Dr_Neusser.bin.html/binarystorageitem/file/20130909+Volkswagen+Investor+Day_Neu
%C3%9Fer_WEBSITE_final.pdf. Nota: tradução do tutor Acesso em: 22/10/2013

Como se pode ver, uma plataforma comum só poderia ser utilizada em uma
classe de veículo, enquanto que a estratégia de montagem em kits permite uma
sinergia entre todos os tipos de carrocerias, desde as de um veículo compacto até as
de um sedan de grande porte.
82

6.4 PROJETO DE REDESENHO DO KARMANN-GHIA

Em relação à releitura do Karmann-Ghia, a intenção é de buscar a emotização


da marca Volkswagen, a fim de criar um conceito único, sendo fiel ao design do
Karmann-Ghia dos anos 50 e, ao mesmo tempo, mantendo o melhor da tecnologia
presente na Volkswagen. O Karmann-Ghia atual seria um carro de características
únicas no porftólio da marca, um coupé esportivo 2+2, com duas portas, desenvolvido
com alta tecnologia, com a durabilidade e a ampla rede de pós-vendas da Volkswagen
– características que fizeram com que o Karmann-Ghia dos anos 50 fosse um
sucesso, vendido durante dezenove anos.
Através de análise tecnológica, optou-se por transferir o motor para a posição
frontal, a fim de proporcionar mais espaço para os ocupantes traseiros e para a
bagagem e, com disso, tornando-o um carro mais amigável para o dia a dia. A seguir,
pode-se verificar no infográfico diversos carros cupês de duas portas do grupo
Volkswagen, demonstrando onde são buscadas as inspirações e quais as
características que se deseja alcançar para o redesenho do Karmann-Ghia.
83

Figura 53 – Inspirações na linha Volkswagen

Fonte: elaborado pelo autor. Nota: imagem girada em 90° graus para melhor visualização
84

Para o redesenho do Karmann-Ghia, a base utilizada será o kit MQB, por ser
desenvolvida pela marca Volkswagen e possuir inúmeras vantagens tecnológicas.
Além disso, devido a questões de custo, é uma tecnologia de grande futuro, visto que,
segundo informa a empresa, há o planejamento de lançamento numeroso de modelos
que a utilizarão em todo o mundo:

The platform enables much less waste, which in turn lowers costs. And at the
end of the day, that is what MQB is all about. “The greatest complexity and
variety of parts is in the front end,” explains Jan Isenhuth. Not only the engine,
but also the constructive parts are very expensive. So in a few years, when
the distance between the pedals and the middle of the front wheel are the
same in all Volkswagen models, down to the millimeter, and the engine is
always mounted exactly the same way, the savings in resources will be
immense. The Golf VII is only the beginning at the Wolfsburg plant. Synergies,
transport cost optimization, concentration of suppliers – the Modular
Transverse Matrix will have a direct impact on every part of the group. MQB
is slated for use in more than 40 models worldwide and across the group by
2018 (VOLKSWAGEN, 2013).11

A imagem a seguir demonstra a plataforma MQB e sua versatilidade:


Figura 54 – Plataforma MQB

Fonte: http://www.fourtitude.com/news/publish/Features/article_7484.shtml Nota: Tradução do Autor


Acesso em: 22/11/2013

11
A plataforma permite desperdícios muito menores, o que resulta em custos mais baixos. No fim do
dia, é sobre isso que a MQB tem tudo a ver. “A maior complexidade e diversidade de peças está na
dianteira”, explica Jan Isenhuth. Não apenas o motor, mas também as partes construtivas são bastante
caras. Então em alguns anos, quando a distância entre os pedais e o eixo frontal for o mesmo em todos
os modelos Volkswagen, até nos milímetros, e o motor for sempre montado exatamente na mesma
posição, a economia em recursos será imensa. O Golf VII é apenas o começo na planta em Wolfsburg.
Sinergia, optimização no custo de transportes, concentração de fornecedores – A MQB vai ter um
impacto direto em cada parte do Grupo. MQB será utilizada em mais de 40 modelos em todo o mundo,
através de todo o Grupo Volkswagen para 2018 (VOLKSWAGEN, 2013, tradução do autor).
85

Na imagem anterior, pode-se verificar que grande parte da plataforma MQB


pode ser mudada. Porém, segundo a Volkswagen, algumas dimensões devem
permanecer as mesmas:

Some dimensions, such as the distance between the accelerator pedal and
the front wheel center, are always the same and enable the front carriage to
have a standardized structure. At the same time, MQB is highly flexible.
Length, width, height, wheelbase, wheel size and seating position are all
variable, even if not continuously so (VOLKSWAGEN, 2012).12

A seguir, pode-se observar a versatilidade da plataforma MQB na prática:


Figura 55 – Golf GTI

Fonte: http://www.netcarshow.com/volkswagen/2014-golf_gti/1280x960/wallpaper_14.htm Acesso em:


21/11/2013

Segundo a Volkswagen, o novo Golf GTI tem 4268mm de comprimento e


largura de 1799 mm.

12
Algumas dimensões, como a distância entre o pedal do acelerador e o centro do eixo frontal, é sempre
a mesma e permite com que a estrutura frontal seja padrão. Ao mesmo tempo, a MQB é altamente
flexível. Comprimento, largura, altura, entre eixos, tamanho da roda e posição dos bancos são todos
variáveis, mesmo que não continuamente (Volkswagen, 2012, tradução do autor).
86

Figura 56 – Golf GTI

Fonte: http://www.netcarshow.com/volkswagen/2014-golf_gti/1280x960/wallpaper_34.htm Acesso em:


21/11/2013

Já o conceito Volkswagen CrossBlue Coupé tem medidas de 4,889 mm de


comprimento e 2,015mm de largura.

Figura 57 – CrossBlue Coupe Concept

Fonte:http://www.netcarshow.com/volkswagen/2013crossblue_coupe_concept/1280x960/wallpaper_0
7.htm Acesso em: 22/11/2013
87

Figura 58 – CrossBlue Coupé Concept

Fonte:http://www.netcarshow.com/volkswagen/2013-
crossblue_coupe_concept/1280x960/wallpaper_06.html Acesso em: 22/11/2013

Ambos os modelos, Golf GTI e Volkswagen CrossBlue Coupé, utilizam a plataforma


MQB, sendo o Golf GTI, a principal referência de dimensões e proporção desse
projeto.

6.4.1 Geração de alternativas

Para o projeto de redesenho do Karmann-Ghia, inicialmente foi planejada e


desenhada a geração de alternativas, a fim de se encontrar as formas e proporções
do Karmann-Ghia dos anos 50. Porém, pretendeu-se torná-lo mais esportivo e
dinâmico, testando-se no novo desenho diversas características de veículos atuais da
Volkswagen. Para isso, além das análises aqui expostas, levou-se em conta para
desenvolver o projeto, uma entrevista realizada por e-mail com Nilo Laschuck,
projetista do esportivo Miura – um clássico esportivo produzido em Porto Alegre na
década de 70 (ANEXO).
Em um primeiro momento, foram feitos desenhos a mão. Depois, foi escolhido
o desenho que pareceu ser mais adequado e feita uma renderização mais elaborada
no computador, a fim de se testar o contraste de luzes e sombras da forma alcançada.
As imagens a seguir demonstram isso:
88

Figura 59 – Geração de alternativas

Fonte: elaborado pelo autor


89

Figura 60 – Geração de alternativa elaborada no computador

Fonte: Elaborado pelo autor


90

6.4.2 Definição do redesenho do Karmann-Ghia

Utilizando-se como base a geração de alternativa elaborada no computador,


foi elaborada e definida a visão lateral, a mais importante do carro. Como referência
de escala, utilizou-se desenhos técnicos do Volkswagen Golf GTI.

Figura 61 – Comparação entre o Golf GTI e o Volkswagen Karmann-Ghia

Fonte: elaborado pelo autor

Pode-se reparar que o entre-eixos se manteve o mesmo, na medida de 2631


milímetros. As principais modificações em relação à configuração original da
plataforma MQB no Golf GTI foram as seguintes: o rebaixamento da carroceria – a fim
de tornar o carro mais estável e com aparência mais esportiva –, a diminuição do
overhang frontal – tornando a frente do carro mais próxima do eixo frontal e mantendo
uma proporção parecida com a do Karmann-Ghia original – e a posição dos bancos
do motorista e passageiros – que ficaram mais baixos para se adequar à posição mais
baixa do volante, para-brisa e teto do carro. A imagem a seguir compara as posições
dos ocupantes do Karmann-Ghia e do Golf GTI:
91

Figura 62 – Comparação da posição dos ocupantes do Karmann-Ghia em relação ao Golf GTI

Fonte: elaborado pelo autor

Os ocupantes em azul (percentil 95% masculino) e vermelho (percentil 95%


feminino) são os ocupantes do Karmann-Ghia, enquanto que os ocupantes em cinza
são os ocupantes do Golf GTI. Repare-se como a posição dos bancos é mais baixa
no primeiro carro. Essa mudança foi mais significativa no banco do ocupante traseiro,
privilegiando-se este espaço a pessoas de estatura menor e a crianças, devido à
posição mais baixa do teto – característica comum entre esportivos e coupés 2+2.

Figura 63 – Posição dos ocupantes do Karmann-Ghia

Fonte: elaborado pelo autor

A figura 63 demonstra de forma mais clara a posição dos ocupantes do


automóvel. Priorizou-se uma posição para dirigir mais esportiva do motorista e
reposicionou-se o banco traseiro, tornando-o mais baixo e menor, podendo receber
com conforto ocupantes menores.
Outro detalhe importante a ser percebido é a visão do motorista, que
permanece quase idêntica à do motorista do Golf GTI. O ângulo central inferior é de
6.40°, o que se deve a posição mais angulosa e baixa do capô. Observe-se na imagem
a seguir:
92

Figura 64 – Ângulo de visão do motorista

Fonte: elaborado pelo autor

O ângulo central superior é de 22.46 – um número alto comparando-se ao


padrão existente – graças ao para-brisa avançado.
A seguir, pode-se verificar os desenhos técnicos do novo Karmann-Ghia:
Figura 65 – Desenho técnico lateral

Fonte: elaborado pelo autor

Devido ao overhang menor, o novo Karmann-Ghia ficou 113 milímetros menor


comparado ao carro usado como referência.
93

Figura 66 – Desenhos técnicos da frente e traseira

Fonte: elaborado pelo autor

A largura de 1799 milímetros foi mantida, não necessitando ser maior para o
carro parecer ser mais esportivo. Este efeito se conseguiu graças à mudança feita na
altura do teto, que se encontra 67 milímetros mais baixo comparado ao Golf GTI. A
seguir podemos ver uma imagem comparativa:

Figura 67- Imagem comparativa da frente e traseira

Fonte: elaborado pelo autor

O resultado desses redimensionamentos, tais como como o teto mais baixo, é


um design esportivo e atlético, como se pode ver na imagem a seguir:
94

Figura 68 – O novo Karmann-Ghia

Fonte: elaborado pelo autor


95

Na imagem a seguir, pode-se visualizar a evolução da silhueta do carro


comparando-se à do Karmann-Ghia dos anos 50. A silhueta superior é a do antigo e
a inferior é a do novo carro:

Figura 69 – Comparativo entre silhuetas

Fonte: elaborado pelo autor

Esta imagem demonstra bem a evolução geral da carroceria, exemplificando


um visual esportivo, porém robusto, com linhas que percorrem toda a carroceria e se
conectam, dando continuidade ao design do carro e tornando-o contemporâneo. Além
disso, pode-se perceber que o design tem linhas que seguem uma lógica e que
representam bem as formas icônicas do antigo Karmann-Ghia. A seguir, podemos ver
um comparativo entre as vistas técnicas do Karmann-Ghia antigo e o atual.

Figura 70 – Comparativo entre vistas

Fonte: elaborado pelo autor


96

Figura 71 – Comparativo entre vistas

Fonte: elaborado pelo autor

O redesenho evoluiu o desenho original e adequou-se ao DNA da marca


Volkswagen na atualidade. Pode-se afirmar que todas essas mudanças, adequadas
à nova plataforma MQB da Volkswagen, representam um grande salto em tecnologia,
redução de gastos e produção otimizada.

A seguir podemos ver uma figura em perspectiva e outras figuras em diversos


ângulos do modelo do carro desenvolvido através de modelagem 3D.
97

Figura 72 – Visão em perspectiva do novo Karmann-Ghia

Fonte: elaborado pelo autor


98

Figura 73 – 3D vista frontal

Fonte: elaborado pelo autor

Figura 74 – 3D perspectiva

Fonte: elaborado pelo autor


99

Figura 75 – 3D detalhe perspectiva

Fonte: elaborado pelo autor

Figura 76 – 3D detalhe traseira

Fonte: elaborado pelo autor


100

Figura 77 – 3D traseira

Fonte: elaborado pelo autor

Para a realização do modelo em escala, foi utilizado o material Isofoam, no


qual foi usinado no laboratório de prototipagem, sendo utilizado o modelo 3D e a
prototipadora Roland, tendo o auxílio dos professores Marcelo Pradella e Bruno
Rosseli A escala escolida foi 1:21.

Figura 78 – Prototipagem do modelo

Fonte: elaborado pelo autor


101

Após a prototipação do modelo em escala, com o uso do ferramental presente


no laboratório de prototipagem, foi feito a casca do modelo, através do processo de
vacum form, utilizando o material acetato.

Figura 79 – Modelo em escala

Fonte: elaborado pelo autor

Figura 80 – Modelo em escala

Fonte: elaborado pelo autor


102

Figura 81 – Modelo em escala

Fonte: elaborado pelo autor

Figura 82 – Modelo em escala

Fonte: elaborado pelo autor


103

Figura 83 – Modelo em escala

Fonte: elaborado pelo autor

Figura 84 – Modelo em escala

Fonte: elaborado pelo autor


104

7 CONCLUSÃO

As inovações tecnológicas vem apresentando à indústria automotiva vários


materiais novos ao longo do tempo. Muitas mudanças ocorreram nesta área em
termos de conforto, segurança, durabilidade, embora isso não garanta que um carro
se destaque no mercado quando esses itens são atendidos a contento. É necessário
que a indústria privilegie também os aspectos psicológicos que ligam o consumidor a
uma marca ou modelo de carro.
O Karmann-Ghia Coupé, por ser um carro que literalmente “fez corações
baterem mais forte”, chamando a atenção tanto de homens quanto de mulheres nas
décadas de 50, 60 e 70, se consolidou como um carro esportivo elegante e robusto.
Neste trabalho, o redesenho produzido procurou contemplar as necessidades acima
mencionadas e, com isso, se obteve sucesso em representar o carro original.
Manteve-se suas formas icônicas, e ao mesmo tempo, adequou-se à linha
Volkswagen, conservando as características visuais da marca. Além disso, encaixou-
se na nova plataforma MQB, sendo esta uma peça essencial para o futuro da empresa
Volkswagen nos próximos anos, por ser altamente manipulável e por representar um
baixo custo.

A partir deste estudo, torna-se imaginável a produção deste novo conceito no


mercado atual sem que se percam as características originais que fizeram o Karmann-
Ghia Coupé um ícone automotivo.
105

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PHOTOBUCKET. Riva65. Karmannghia 1960 – 09. Disponível em:


<http://media.photobucket.com/user/riva65/media/karmannghia19609.jpg.html?filters[
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nov 2013.

SANDLER, Paulo Cesar. Karmann-Ghia: o Design que Virou História. São Paulo:
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SEDIKIDES et al. Nostalgia: Past, Present, and Future. Current Directions in


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109

SHOWROOM IMAGENS DO PASSADO. V Salão do Automóvel de 1966 – 2ª Parte.


Disponível em: <http://showroomimagensdopassado.blogspot.com.br/2010/11/v-
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WINTERKOM, Martin. View from the top: Strong design, strong brand, Auto &
Design, Itália, n.190, p.2, Setembro/Outubro, 2011.
110

ANEXO – Transcrição de entrevista realizada via e-mail ao Sr. Nilo Laschuck,


projetista do carro Miura – esportivo clássico brasileiro fabricado em Porto
Alegre nos anos 70.

“Sr. Nilo, Sou estudante de design de produto pela Uniritter, tenho 21 anos e
sou apaixonado por automóveis e automobilismo. No momento estou realizando meu
trabalho de conclusão de curso, cujo tema é o redesenho do Karmann-Ghia Cupê dos
anos 50. [...] O Miura foi um carro que marcou minha infância, talvez o primeiro carro
esportivo com o qual tive contato. Estou fazendo esta entrevista porque acredito que,
para recriar um automóvel que foi tão expressivo em sua época, é necessário ter a
opinião e a visão de quem viveu os anos em que ele era fabricado, ainda mais de uma
pessoa que entende do assunto. Pergunto:
1. Soube que você também é apaixonado pelo Karmann-Ghia. O que te faz ser
apaixonado por esse carro?
2. Para você, o que faz um carro se tornar um clássico?
3. Quais foram as principais dificuldades em projetar o Miura em relação ao seu
desenho? Qual foi a principal inspiração de todos os envolvidos na época?
4. Olhando o Karmann-Ghia, existe algum aspecto do carro que você mudaria?
Muito obrigado!”

Resposta do sr. Nilo Laschuck:

“Olá Álvaro... É muito bom saber que modelos bem sucedidos no passado
ainda despertam a atenção e paixão por suas formas, conceito e beleza. Por muito
pouco o Karmann-Ghia não foi o meu primeiro carro. Em duas ocasiões estive muito
próximo. Particularmente me sentia atraído por sua forma e linhas bem desenhadas.
Era um conceito esportivo que expressava a paz e a descontração da sociedade
naquele momento. Hoje, caso desejasse curtir o lado romântico da vida, certamente
escolheria o Karmann-Ghia como parceiro automotivo. Quem sabe com motor AP
para torná-lo mais silencioso. A cor verde escuro ou vermelho com a capota branca.
Ou totalmente branco. Branco Lotus como era a referência. O Karmann-Ghia tem uma
particularidade única entre os carros esportivos. Trata-se de um carro pequeno, mas
com muito espaço interno, principalmente para seus ocupantes.
111

Caso fosse redesenhar o Karmann-Ghia, independente de regras ou opiniões


adversas, usaria todas as tecnologias disponíveis atualmente, principalmente
relacionadas ao conforto acústico, mecânico e eletrônico. Quanto ao design externo,
retrabalharia de forma exploratória as linhas mais marcantes no primeiro momento.
Ou seja, não faria uma reprodução gráfica do DNA, mas sim um aperfeiçoamento das
linhas básicas e, num segundo momento, a busca da integração com as formas de
volume. Tema para uma intensa exploração formal. Considero esta fase muito
importante para a conceituação e criação do redesign. Os primeiro traços podem
facilmente ser superados pelas propostas seguintes. Quando apreciamos um forma
clássica, existem atributos que nos atraem ou que faz nos identificarmos com esta
forma. Estes atributos de expressão que dão vida a forma referida devem continuar
existindo de forma mais afinada ao expectador. Não devem ser excluídos. É muito
importante questionar a razão de todos os detalhes da composição formal. Cada
detalhe tem um histórico, e a compreensão ajuda na formação do contexto e extensão
do conhecimento.
O Karmann-Ghia modelo 1968, recebeu algumas melhorias. A mecânica foi
substituída por uma nova plataforma com bitola mais larga, rodas com quatro furos,
freio a disco nas rodas dianteiras e principalmente um motor mais potente de 1500cc.
Na carroceria, os para choques foram redesenhados, mantendo as mesmas
proporções e as lanternas traseiras mais altas. Tudo de forma harmônica e bem
equilibrada. Na minha opinião o para-lamas traseiro foi o item mais importante. O
antigo era um pouco caído e o novo foi corrigido proporcionalmente ao corpo da
carroceria. Este modelo teve a forma otimizada a tal ponto que para a época não havia
mais o que fazer para melhorar o design. Em 1970 o Karmann-Ghia passou por uma
mudança radical e, ao que parece, os principais atributos de características foram
esquecidos. Desconheço as razões.
Na minha opinião, um clássico pode se caracterizar por várias razões. Uma
delas, o tempo de vida ou de sobrevivência. Para sobreviver, é muito importante a
qualidade do produto que irá sustentar a sua beleza e conquistar o interesse de
apaixonados ou colecionadores. Já se disse muitas vezes, "se tornou um clássico".
Mas o que considero como a característica mais forte de um clássico é a perfeita
sintonia entre o atributo e a qualidade de expressão. Vale para qualquer modal de
veículo. A Vespa tinha como principal atributo ser um veículo de passeio.
Principalmente acompanhado da carona. Suas formas eram perfeitamente
112

sintonizadas com o estilo de expressão que foi atribuído e ainda associado ao estilo
de vida de uma época romântica dos italianos. Geralmente, um clássico vem
acompanhado de ótimas soluções de conceitos, e a beleza é capaz de superar os
tempos. Ou seja, será bonito por um longo tempo.
As dificuldades para projetar o Miura foram muitas. O trabalho de projeto foi
incessante, pois os recursos tecnológicos eram poucos. Pensar em desenvolver
fornecedores era quase impossível. Hoje, sem dúvida, seria muito mais fácil, porém
as dificuldades seriam outras. Principalmente as de mercado.
Na minha visão, a inspiração é uma constante na vida de um designer. É o que
mais motiva a sonhar em fazer um projeto. A inspiração gera o insight e dá o start ou
o desejo de fazer.
Na época, 1976, ainda se fazia estilo. O design já ganhava força principalmente
com o Giugiaro, pois além de relacionar a forma com a função, desenvolvia novos
processos de fabricação e montagem nos seus produtos. Via, na sua característica,
uma mescla de identidade da marca do produto com identidade Giugiaro ou
ItalDesign. Geralmente linhas limpas e bem definidas de características levemente
geométricas. Não se prendia à identidade do produto. Posso dizer que era uma das
minhas referências preferidas, principalmente porque era quem quebrava os
paradigmas de característica temporal e industrial.
Mudanças no Karmann-Ghia... Hoje, se pratica hábitos relacionados à uma vida
mais saudável. Seja praticando esporte ou fazendo exercícios de malhação. Acho que
uma remodelagem física deixaria o Karmann-Ghia mais atleta, porém, na dosagem
certa. Se comparar os para-choques anteriores com os posteriores a 1968, pode servir
como exemplo. A altura do solo pode dar mais leveza e praticidade. Quanto a motor
traseiro ou dianteiro, a solução necessita ser extremamente racional.
Os argumentos ou opiniões aqui expostos são pessoais e gerados à partir de
conhecimentos e experimentos vivenciados.
Espero ter sido útil e, qualquer dúvida, será um prazer ajudar.

Sds... Nilo Laschuck”

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