O desenvolvimento do sistema nervoso está incluso em uma série de eventos e
transformações denominada embriogênese. Esta por sua vez, engloba algumas fases: gametogênese, fertilização, clivagem, gastrulação, organogênese. A fase da gametogênese ocorre nas gônodas femininas e masculinas e tem finalidade de produzir gametas diferenciados morfologicamente para que seja possível a fertilização. No sexo feminino é denominada de ovogênese por ocorrer nos ovários e tem como resultado a produção os ovócitos. Já no sexo masculino acontece nos testículos e recebe o nome de espermatogênese. A segunda fase, fertilização, é caracterizada pela união do espermatozoide e ovócito na tuba uterina gerando uma nova célula denominada zigoto. Na clivagem, o zigoto sofre divisões mitóticas até formar uma esfera nomeada mórula que após o surgimento de uma cavidade, é nomeada blastocisto. A quarta fase ou gastrulação que tem relevância pela formação dos três folhetos germinativos, ectoderma, mesoderma e endoderma, destacando-se aqui o ectoderma que sofre dobramento e forma o tubo neural. Na última fase, a organogênese os começos dos órgãos sofrem diferenciações até formar os órgãos e sistemas orgânicos.
Figura 1 - Etapas iniciais do desenvolvimento embrionário.
Como descrito anteriormente, o desenvolvimento do sistema nervoso está incluso nas fases da embriogênese. Porém destaca-se alguns eventos da gastrulação. Nesta fase, o disco embrionário bilaminar se torna trilaminar, além de serem formadas a linha primitiva, as camadas germinativas e a notocorda. A partir de então, ocorre um processo denominado neurulação, que envolve quatro eventos principais: formação da placa neural, dobramento da placa neural e fechamento do sulco neural, que originará o tubo neural. Formação No 18º dia da gestação, o ectoderma sofre um espessamento formando a placa neural. A placa neural se forma primeiramente na extremidade cefálica do embrião e diferencia-se na porção craniocaudal. Suas bordas laterais originam a células da crista neural (que durante a formação do tubo neural migram para o interior do embrião e formam muitas estruturas). Caracteriza-se por ser mais larga na porção cranial e mais fina na porção caudal. A primeira, mais larga, dará origem ao cérebro enquanto a segunda, mais fina, formará a medula espinhal. Modelagem Neste processo, a placa neural sofre um afinamento transversal e um alongamento longitudinal. Como desde o início é mais alargada cranialmente do que na parte caudal, a região da placa neural no nível do futuro cérebro permanece muito mais amplo do que no nível da futura medula espinhal. Dobramento Envolve a formação de dobras neurais nas bordas laterais da placa neural formando um sulco: o sulco neural. Fechamento Ocorre a adesão das dobras neurais uma na outra e após, a reogarnização das células da dobra que formarão duas camadas: a placa do teto do tubo neural e o ectoderma cutâneo. Entre essas duas camadas se formam então as células da crista neural. A neurulação é concluída com o fechamento do neuroporo caudal. A formação do tubo neural caudal ocorre por neurulação secundária. Durante este processo, o broto da cauda origina o cordão medular, que depois sofre cavitação para formar a cavidade do lúmen. No final da sexta semana, este lúmen se funde com o canal neural do tubo neural mais rostral. Figura 2- Sequência esquemática mostrando o crescimento da placa neural e a regressão da linha primitiva entre o 18 o e o 19 o dia. A linha primitiva encurta-se levemente, mas ocupa uma proporção progressivamente menor do comprimento do disco embrionário à medida que crescem a placa neural e o disco embrionário.
Figura 3- Neurulação secundária em humanos.
A porção superior do tubo neural apresenta três dilatações ou vesículas. A vesícula
prosencéfalo origina o telencéfalo e diencéfalo; a vesícula mesencéfalo origina a parte superior do tronco encefálico; a vesícula rombencéfalo origina ponte, bulbo e cerebelo. A porção inferior, origina a medula espinhal. Figura 4- O rudimento do sistema nervoso central.
Origem das células neurais
O neuroepitélio do tubo neural (camada interna) é quem origina as células neuroepiteliais: neurônios, astrócitos, oligodendrócitos e células ependimárias. Já as células da camada externa do tubo neural originam células mesenquimais: células da glia. Os neurônios unipolares dos gânglios espinhais derivam das células da crista neural, assim como as Células de Shwann, que formam mielina em torno de um segmento de axônio . Figura 5 Representação da origem das células neurais.
Desenvolvimento da medula espinhal
As paredes do tubo neural se espessam reduzindo gradualmente até o canal central da medula espinhal restarem. O espessamento diferencial da medula espinhal, produz o sulco limitante. Este sulco separa a parte dorsal, a placa (lâmina) alar, da parte ventral, a placa (lâmina) basal. Os corpos celulares das placas basais formam as colunas cinzentas, ventrais, e laterais, cornos ventrais e laterais. Os axônios do corno ventral formam as raízes ventrais do corno espinhal, eferentes, motoras. As placas alares formam os cornos dorsais cinzentos (funções aferentes) e as placas basais, os cornos cinzentos ventrais e laterais (funções eferentes). O sulco limitante se estende por toda a medula espinhal e até o encéfalo médio, cranialmente. Além do corno dorsal e do corno ventral, existe o corno intermediário, nas porções torácica e lombar superior da medula espinhal, contendo neurônios da parte simpática do sistema nervoso autônomo.
Externamente, a medula espinhal embrionária encontra-se delimitada por uma camada
fibrosa de prolongamentos de células da glia, a membrana limitante externa formada inicialmente pelos prolongamentos das células ependimárias, os quais posteriormente se retraem. Os neurônios unipolares dos gânglios espinhais derivam das células da crista neural. Inicialmente são bipolares, depois seus prolongamentos se unem, formando um T. O processo periférico dos gânglios espinhais vai para as terminações sensitivas das estruturas somáticas ou viscerais. O processo central penetra na medula espinhal e constituem as raízes dorsais dos nervos espinhais.
Figura 6 - Exemplificação do desenvolvimento da medula espinhal.
Mielinização das fibras nervosas
Na medula, as bainhas de mielina começam a formar-se durante o final do período fetal e continuam a formarem-se durante o primeiro ano pós-natal. As bainhas de mielina que envolvem as fibras nervosas situadas na medula, são sintetizadas por oligodendrócitos. Nas fibras nervosas periféricas (originárias da crista neural) são formadas pelas células de Schwann. Com 20 semanas, as fibras periféricas tornam-se esbranquiçadas, pelo depósito de mielina. As raízes motoras mielinizam-se antes das sensitivas. Figura 7 - Mielinização. A a E - células de Schwann: no SNP. F a H – Oligodendrócitos no SNC.
Formação das meninges
As meninges são formadas pela dura-máter, pia-máter e aracnóide. A dura-máter é proveniente do mesênquima que circunda o tubo neural. E a Pia-máter e a aracnóide são derivadas das células da crista neural. O líquido cerebroespinhal (LCE) embrionário começa a se formar durante a 5ª semana, produzido pela tela corióide dos ventrículos laterais, 4º ventrículo e 3º ventrículo. Através das aberturas mediana e lateral, o LCE passa para o espaço subaracnóide. É absorvido pelas vilosidades aracnóideas, que são protusões da aracnóide nos seios venosos da dura-máter.
Defeitos no tubo neural
Trata-se de má formações congênitas que ocorrem devido ao não fechamento correto do tubo neural durante a gestação. Pode se manifestar como anencefalia quando há a ausência completa ou parcial do cérebro e do crânio Quando o defeito é no fechamento ósseo posterior a coluna vertebral, gera a espinha bífida. Esse defeito pode ser recoberto por pele essencialmente normal (espinha bífida oculta), ou associar-se com uma protrusão cística, podendo conter meninges anormais e líquido cefalorraquidiano - meningocele; ou elementos da medula espinhal e/ou nervos - mielomeningocele. Outra forma clínica encontrada é a encefalocele, na qual há a formação de hérnia no cérebro e nas meninges através de um defeito na calota craniana. Aproximadamente 20% das crianças afetadas por DFTN apresentam algum outro defeito congênito associado.