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DNIT/Divulgação
Caminhos a percorrer
Desenvolvimento da hidrovia Paraguai-Paraná depende de
investimentos e ajustes no acordo entre Brasil e vizinhos
Danilo Oliveira
A
hidrovia Paraguai-Paraná é Maior da América drovia poderá movimentar um volu-
apontada como um dos mais me total de 287 milhões de toneladas.
importantes eixos de inte- Latina, a hidrovia O estudo foi feito em parceria com o
gração política, econômica,
social e econômica da América do Sul.
passa por Brasil, Instituto Tecnológico de Transportes e
Infraestrutura da Universidade Fede-
Considerada a maior hidrovia interna- Paraguai, Bolívia, ral do Paraná (ITTI/UFPR). Em 2015,
cional da América Latina, ela passa por o volume total exportado foi da ordem
cinco países: Brasil, Paraguai, Bolívia, Argentina e Uruguai de 75 milhões de toneladas. No atual
Argentina e Uruguai. O estudo de viabi- cenário, a Argentina é o país com o
lidade técnica, econômica e ambiental maior volume exportado nesse corre-
(EVTEA) desse sistema hidroviário des- dor (60,31 milhões de toneladas). No
taca o potencial de exportação de cargas entanto, o Paraguai é o país que melhor
como a soja e o milho de Mato Grosso. utiliza a via proporcionalmente ao uso
No Mato Grosso do Sul, há potencialida- dos outros modais. Apesar da área de
des para: complexo de soja, madeira, influência da Paraguai-Paraná englo-
cana-de açúcar, milho e derivados. bar uma das regiões mais exportado-
Um relatório recente da Agência ras do Brasil, este é o país que menos
Nacional de Transportes Aquaviários utiliza a hidrovia, escoando apenas 8%
(Antaq) projeta que, em 2030, essa hi- do que a região exporta pela via.
36 PORTOS E NAVIOS SETEMBRO 2018
De acordo com o Departamento Principais trechos da hidrovia
Nacional de Infraestrutura de Trans-
portes (DNIT), a hidrovia tem um total Cáceres
de 3.442 quilômetros entre o municí-
pio de Cáceres (MT) e Nova Palmira,
Corumbá
no Uruguai. A área estudada incluiu
ainda o trecho de 680 quilômetros do BOLÍVIA
Rio Paraná, compreendido de Foz do BRASIL
PARAGUAI
Iguaçu a Corrientes, na Argentina, to-
talizando 4.122 quilômetros de exten- Assunção
são. No trecho de 1.270 km entre Cá- Corrientes
ceres e Porto Murtinho (MS) analisado
no EVTEA foram projetadas potencia- ARGENTINA
lidades futuras da hidrovia, ações para
melhoria da infraestrutura, aumento Santa Fé Trecho Cáceres - Corumbá
da segurança na navegação, transpor- URUGUAI Trecho Corumbá - Assunção
te de novas cargas, implantação e re- Nova Palmira Trecho Assunção - Santa Fé
estruturação de terminais portuários. Buenos Aires Trecho Santa Fé - Nova Palmira
O DNIT diz que garantiu em junho Trecho Foz do Iguaçu - Corrientes
a continuidade da manutenção da si-
nalização náutica e da atualização car-
Trecho I - Rio Paraguai
tográfica do tramo sul do Rio Paraguai. (eminentemente brasileiro) de sob a forma de tufos isolados ou gran-
Segundo o órgão, serão investidos R$ Cáceres e Corumbá (680 Km) des aglomerados que podem atingir
17,7 milhões até maio de 2020, no tre- Trecho II - Rio Paraguai - de 100 m² de área e mais de 1,5 metros de
cho que separa Corumbá (MS) e a Foz Corumbá a Assunção (1.132 Km) espessura. O Paraguai é um rio conhe-
do Rio Apa. Os trabalhos serão execu- Trecho III - Rios Paraguai e Paraná - cido pela presença em suas águas de
tados pelo Serviço de Sinalização Náu- de Assunção a Santa Fé (1.040 Km) grandes quantidades dessas plantas
tica do Oeste e pelo Centro de Hidro- Trecho IV - Rio Paraná/Rio da Prata aquáticas.
grafia da Marinha (CHM). - de Santa Fé à Foz (Nova Palmira)
(aproximadamente 590 Km)
Como os rios têm grande variabi- O estudo da Antaq analisou as van-
lidade geomorfológica e hidrológica, Trecho V - Rio Paraná - de Foz do tagens competitivas de utilizar a hi-
Iguaçu à Corrientes (680 Km)
principalmente quanto à distância en- drovia, inclusive comparando cinco
tre margens, ter sinalização adequada países. A Argentina tem em seu terri-
e cartas náuticas atualizadas é impor- tório aproximadamente 30% da ex-
tante para garantir confiabilidade aos tensão total da hidrovia, ante 22% em
transportadores. “Esses serviços são áreas brasileiras, 14% em território
essenciais para o desenvolvimento da paraguaio e 34% sob a jurisdição com-
navegação hidroviária segura e susten- DNIT/Divulgação
tável porque esses dispositivos orien-
tam os condutores de embarcações
quanto ao melhor trajeto a ser percor-
rido”, destaca o diretor de infraestrutu-
ra aquaviária do DNIT, Erick Moura.
O DNIT também contratou serviços
de controle e prevenção de formação
de um tipo de vegetação, conheci-
da como “balseiros” no Rio Paraguai.
As intervenções, avaliadas em R$ 375
mil, foram contratadas em maio para
o trecho de 568 quilômetros entre a
ponte rodoviária da BR-262 e a foz do
Rio Sararé, em Mato Grosso. A expec-
tativa é que elas sejam concluídas em
setembro, com a retirada do material
para prevenir o acúmulo dessa vege- Em 2030, a hidrovia poderá movimentar
tação, que provoca a obstrução da via de 287 milhões de toneladas
navegável. Os balseiros se apresentam
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PORTOS E LOGÍSTICA
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dragagem há mais de cinco anos. “O
governo contratou a universidade para
fazer o estudo e até hoje não dragou. É
contraditório”, comenta.
Ratton acredita que, se o país se de-
dicasse um pouco mais ao desenvol-
vimento das hidrovias, seria possível
contrabalancear a matriz nacional de
transportes, cuja participação rodo-
viária no transporte de cargas hoje é
da ordem de 65%. Ele acrescenta que
o produtor precisa de incentivos para
continuar a produzir. “Estamos num
apagão logístico e o governo preci- EDUARDO RATTON
sa ter estratégia e saber investir para O Brasil utiliza pouco a hidrovia
ter retorno rápido disso, sob a pena e tem um grande potencial de
de não conseguirmos mais exportar desenvolvimento
nossa produção. Custo logístico vai
ficando mais caro, inviabilizando ex-
portação de commodities”, aponta o
professor.
O superintendente do ITTI/UFPR
compara ao setor rodoviário, onde sistemas, custos e potenciais. A UFPR
existe uma base de dados calcada na fez uma proposta recentemente para o
série histórica de projetos, o que per- órgão fazer uma consolidação de estu-
mite saber com mais precisão o custo dos feitos em épocas diferentes, já que
de implantação e manutenção das ro- isso dificulta novas análises. O profes-
dovias. No caso das hidrovias, cada vez sor acredita que manter os estudos das
é necessário fazer um novo estudo por hidrovias brasileiras atualizados seja
falta de histórico. “Não se sabe se dra- desejo do órgão, o que pode ter esbar-
gando o Rio Paraguai hoje quando ele rado na falta de recursos em razão da
será dragado de novo”, afirma. Argentina é o país com o maior situação econômica dos ministérios.
Ratton espera que o DNIT conso- volume exportado enquanto o “Se não houver essa série histórica de
lide diversos estudos de hidrovias a Paraguai é o país que melhor utiliza a dados nunca vamos conseguir ter o
fim de comparar a viabilidade desses via em comparação a outros modais planejamento adequado”, alerta.
O professor aponta necessidade de
estabelecer um plano de monitora-
mento. Ele acredita que passarão a ser
feitos contratos de dragagem por perí-
odos de cinco anos, pelo menos, a fim
de manter empresas com essa respon-
sabilidade. Ratton observa empresas
que executam o serviço, mas que não
constituem históricos com informa-
ções sobre sedimentação que permi-
tam fazer a gestão adequada daquele
curso d’água para ter planejamento
mais efetivo, sobre recursos necessá-
rios e frequência de dragagens.
O diretor de infraestrutura aquaviá-
ria do DNIT disse que nesse momento
o órgão está empenhado na conclusão
dos estudos em andamento. Na visão
do DNIT, é necessário investir em pro-
jetos estruturantes e que garantam a
continuidade e a evolução dos inves-
timentos. O órgão planeja lançar tam-
40 PORTOS E NAVIOS SETEMBRO 2018
O DNIT dará continuidade à
manutenção da sinalização
náutica do tramo sul