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Uma História do Antiatomismo:

Possibilidades para o Ensino de


Química
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
DISCIPLINA HISTÓRIA DA QUÍMICA
DOCENTE MARIA ÂNGELA VASCONCELOS
DISCENTE MARIA GABRIELE DE ACIOLI SERPA
Introdução
O tema Modelos Atômicos é comumente abordado pela perspectiva histórico-
filosófica nos livros didáticos;
Nesse recurso, dificilmente se contempla os debates e controvérsias acerca da
teoria atômica na comunidade acadêmica;
Não apresentar essa parte da histórica dificulta o entendimento dos estudantes
quanto ao valor e alcance dessa teoria para a época, bem como mascara a
realidade do fazer ciência (atividade humana);
Assim, o objetivo deste artigo é apresentar alguns momentos históricos relevantes
sobre o antiatomismo;
Oposição ao Atomismo Filosófico
Nas escolas, o atomismo filosófico é apresentado como solução para o problema
de constituição da matéria. Na realidade, o atomismo foi dado como solução a
questões filosóficas sobre o uno e o diverso, sobre o macro e micro.
Parmênedes (séc. V a.c):

"Pois impossível é que algo nasça do que não existe, assim como é impossível que o
que existe possa ser completamente destruído. Onde quer que alguém o coloque, aí,
por certo, sempre se há de encontrar”

"Nada pode surgir do que não é, ou algo que é deixe de ser"

" Se o que é real é eterno, e acreditamos que o mundo físico é real, por que o mundo
físico sofre mudanças?"
Oposição ao Atomismo Filosófico

Atomismo 4 Elementos 5 Elementos

Leucipo e Demócrito Empéndocles defenfia Aristóteles defendia a


defendiam que as que os quatro elementos existência dos 4
mudanças no mundo - terra, água, fogo e ar - elementos e acrescentou
eram apenas aparentes, formavam todas as um quinto, o éter, que
mas a real essência das coisas. Para ele, esses seria a substância
coisas (minúsculas elementos jamais incorpórea do céu e dos
partículas indivisíveis que perderiam a identidade, astros. Segundo ele, os 4
chamaram de átomos) apenas se uniriam ou se elementos possuíam uma
permaneceria imutável. separariam através da qualidade distintiva entre
força do amor e ódio. seco, frio, úmido e
quente. Para ele, as
mudanças ocorriam
como resultado da
natureza dos elementos.
Oposição ao Atomismo Filosófico
Críticas de Aristóteles aos filósofos atomistas

Seres vivos são muito complexos para serem entendidos por união e separação de
partículas;
Os atomistas não apontaram a causa do movimento dos átomos;
Evaporação da água era a transformação do elemento água no elemento ar;
As mudanças qualitativas não podiam ser completamente explicadas pelas
interações físicas dos átomos, mas sim por princípios intrínsecos à natureza, como
as qualidades ou mudanças delas.
Corpúsculos e Essências para a
Compreensão da Natureza
Essências

Alquimia árabe unia filosofia, misticismo e saberes manipulativos para compreensão de fenômenos naturais,
como a transformação da matéria.

Jabir ibn Hayyan (séc. IX d.C.): Teoria do Enxofre e Mercúrio

Afirmava que os metais eram constituídos de enxofre (essência masculina - combustibilidade) e mercúrio
(essência feminina - metalicidade) em diferentes proporções.
Corpúsculos e Essências para a
Compreensão da Natureza
Corpúsculos

A relação comercial entre Europa e povos árabes na Idade Média ressignificou a filosofia natural na Europa,
trazendo interpretações cristãs para os conhecimentos e saberes de alquimistas árabes e filósofos clássicos,
como Aristóteles.

Exemplo: A interconversão dos quatro elementos de Aristóteles explicavam a transformação do corpo e


sangue de Cristo.

Robert Boyle (1627-1691) e Pierre Gassendi (1592 - 1655): críticas ao atomismo clássico

A ideia de átomos e vazio não era suficiente para explicar as transformações do mundo. Eles acreditavam
que os átomos eram pequenas peças de engrenagens de uma máquina criada por um intelecto superior.
Instrumentalismo e Antiatomismo no
século XIX
Teoria Atômica de Dalton (1766 - 1844)

Definiu átomo como a menor unidade participante das reações químicas (indivisível);

Adotou a ideia de Lavoisier para elemento (substâncias simples);

Criou o conceito de pesos atômicos (massa atômica);


Instrumentalismo e Antiatomismo no
século XIX
Antiatomistas: Posturas Céticas

Louis Gay­-Lussac (1778­ - 1850)  Jean ­Baptiste Dumas (1800 - ­1884)  Marcellin Berthelot (1827 - 1907)

Gay-Lussac defendia que a ciência deveria investigar a matéria sensível, e não corpúsculos inobserváveis;

Dumas considerava relevantes fenômenos observáveis e grandezas mensuráveis (comportamento


empirista);
Não consideravam a teoria útil para resolução de problemas científicos, preferiam a noção de pesos
equivalentes;
"A questão não é se a teoria atômica  é útil ou inútil, mas se ela é verdadeira ou falsa”
(George Foste, 1869)
Instrumentalismo e Antiatomismo no
século XIX
Instrumentalitas: Posturas Moderadas

Humphry Davy (1778­ - 1829)   Friedrich A. Kekulé (1829­ - 1896)  

Negavam a existência dos átomos, mas consideravam-os entidades úteis para os


problemas de Química, como o comportamento das substâncias;
"A questão de saber se os átomos existem ou não tem pouca significância de
um ponto de vista químico: é uma discussão muito própria da metafísica.
Eu não hesito em dizer que, de um ponto de vista filosófico, eu não acreditona real exist
ência de átomos, levando a palavra em seu significado literal de partículas indivisíveis.
Como um químico, contudo, eu considero a hipótese de átomos, não apenas  
aconselhável, mas como totalmente necessária na química" (Kekulé, 1870)
Instrumentalismo e Antiatomismo no
século XIX
Atomistas

J. J. Berzelius (1779­ - 1848)   William Henry (1774 - 1854) Thomas Thomson (1773 - 1852)
 

Alguns químicos importantes apoiaram a hipótese atômica, aprimorando as ideias


daltonianas.
" Ele [Dalton] descreveu visões novas e engenhosas dos fenômenos observados; sobre
essas visões ele fundou concepções distintas de uma lei geral da Natureza; e ele
traçou a conformidade dessa lei com uma extensa classe de fatos, muito dos quais ele
mesmo primeiro revelou através de experimentos bem planejados" (Henry, 1854)
A Química sem átomos de Wilhelm
Ostwald
Wilhelm Ostwald: O porta-voz do programa energeticista

Defendia que os conceitos de energia e as leis que descrevem as transformações eram suficientes para
abordar os fenômenos químicos, substituindo o uso de entidades inobserváveis como os átomos.

Ganhou adeptos como Pierre Duhem (1861 - 1916) e Georg Helm (1851 - 1923), e opositores Max Planck
(1858 - 1947), Albert Einstein (1879 - 1955) e Ludwing Boltzmann (1844 - 1906)
Apesar de ser convencido da utilidade da teoria de atômica, nunca deixou de reconhecer a importância da
energia para ciência, permanecendo energeticista até o fim.
" O que nós chamamos de matéria é apenas um complexo de energias que
encontramos juntas em um mesmo lugar. Nós estamos ainda perfeitamente livres, se
nós quisermos, para supor que ou a energia preenche o espaço homogeneamente, ou
de uma forma periódica ou granulada. A última hipótese pode ser um substituto à
hipótese atômica. A decisão entre essas possibilidades é uma questão puramente
experimental" (Ostwald, 1904)
As Complexas
Características do
Atomismo Contemporâneo
O modelo atômico quântico é um sistema constituído por um núcleo positivo
em torno do qual os elétrons se movimentam. Entretanto, a trajetória e
natureza dos elétrons não é definida, devido o princípio de incerteza de
Heinsenberg e às interpretações de Louis de Broglie (dualidade onda-
partícula).

A nível filosófico, a questão da realidade atômica não foi solucionada, agora


envolve a natureza das entidades do átomo, que é alterada por instrumentos
de medida.
"A interação finita entre o objeto e os instrumentos de medida, condicionada pela
própria existência do quantum de ação, acarreta (…) a necessidade de uma renúncia
definitiva ao ideal clássico de causalidade e de uma revisão radical de nossa atitude
perante o problema da realidade física" (Bohr, 1935)
Considerações Finais
O atomismo nem sempre foi considerado uma ideia plausível.
Assim, a abordagem de controvérsias é essencial para que os
alunos entendam que é nas dúvidas e conflitos que a ciência
se desenvolve. Além disso, é importante que eles entendam
que a ideia de átomo ainda é controversa e complexa, sendo
necessária uma reflexão crítica dessa teoria.

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