Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
net/publication/346028065
CITATIONS READS
0 38
1 author:
SEE PROFILE
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
All content following this page was uploaded by Jônatas Ferreira de Lima Souza on 19 November 2020.
Resumo
Diante das novas concepções intelectuais do século XIX, arqueólogos e historiadores buscaram
no (Antigo) Oriente Próximo a origem da grande e desenvolvida Civilização européia ocidental.
Essa civilização dever-se-ia enquadrar nos principais estudos da época, como: “Modos de
Produção e Sociedade de Classes” (marxismo), “Política e Arquitetura” (positivismo). Desde o
século XIX, arqueólogos trabalham em conjunto com historiadores. Isso pode gerar os seguintes
questionamentos: Mas que fontes históricas eles utilizariam para desenvolver tal
empreendimento? Quais conceitos definiriam ou explicariam essa “civilização oriental” para se
chegar a um consenso? O que levou os europeus ocidentais a buscarem essas origens? Porque
“Oriente Próximo”? Próximo de que ou quem? Quem auxiliaria os historiadores a formular este
conhecimento? Quem são os estudiosos deste assunto? Esses estudiosos se prendiam ao estudo
das civilizações tradicionais do Oriente Antigo? À luz dessas questões, como a Bíblia Sagrada
ajudou todos estes empreendedores a chegar a um entendimento que levaria aos mais diversos
conceitos que mudariam o modo de compreender este mundo tão enigmático do Oriente
Próximo? Era a Bíblia, a única fonte para compreensão deste oriente? O campo de estudos da
História tem ampliado seus horizontes, tomando uma dimensão que o torna presente nas mais
variadas ações humanas no tempo, desde uma carta privada a um discurso público. O uso da
Bíblia como fonte, objetivará proporcionar uma melhor compreensão do que seria ser um
arqueólogo e/ou um historiador diante dos enigmas do Oriente Próximo no século XIX.
16. Gênesis 10 e 11. Os três filhos de Noé, Sem, Jafé e Cão, nascidos
cem anos antes do dilúvio, foram os primeiros a deixar as montanhas
para morar nas planícies, o que os outros não ousavam fazer,
assustados ainda com a desolação universal causada pelo dilúvio. Mas
o exemplo daqueles animou estes a imitá-los. Deram o nome de Sinar
à primeira terra em que habitaram. Deus ordenou que mandassem
colônias a outros lugares, a fim de que, multi-plicando-se e
estendendo-se, pudessem cultivar mais terras, colher frutos em maior
abundância e evitar as divergências que de outro modo poderiam ser
suscitadas entre eles. Porém esses homens rudes e indóceis não
obedeceram e, pelo seu pecado, foram castigados com os males que
lhes sucederam. E Deus, vendo que o seu número crescia sempre,
ordenou-lhes segunda vez que formassem novas colônias. [...]19. Os
filhos de Cão ocuparam a Síria e todos os países que estão além dos
montes de Amane e do Líbano até o oceano, dando-lhes nomes dos
quais alguns são hoje inteiramente desconhecidos, e outros,
modificados de tal modo que mal se poderiam reconhecer. Somente
os etíopes, dos quais Cuxe, filho de um dos quatro filhos de Cão, foi
príncipe, conservaram o nome ancestral [...] Os mizraenses,
descendentes de Mizraim, também conservaram o seu nome, pois nós
chamamos Mizrau ao Egito e mizraenses aos egípcios. Pute povoou a
Líbia e chamou a esses povos com o seu nome: puteenses. Existe
ainda hoje, na Mauritânia, um rio que tem esse nome, e vários
historiadores gregos o mencionam [...] Quanto a Ninrode, sexto filho
de Cuxe, ficou entre os babilônios e tornou-se senhor deles [...]
Mizraim foi pai de oito filhos, que ocuparam todos os países que
estão entre Gaza e o Egito. Mas somente um desses oito, Filistim,
manteve o nome no seu país — os gregos deram o nome de Palestina
a uma parte dessa província. Quanto aos sete outros irmãos,
chamados Ludim, Anamim, Leabim, Naftuim, Patrusim, Casluim e
Caftorim, com exceção de Leabim, que fundou uma colônia na Líbia
e lhe deu o seu nome, nada sabemos de suas obras, porque as cidades
que construíram foram destruídas pelos etíopes, [...] De Elão, o mais
velho, vieram os elameenses, e dele os persas tiveram a sua origem.
Assur, o segundo, construiu a cidade de Nínive e deu o nome de
assírios aos seus súditos, os quais foram extraordinariamente ricos e
poderosos. Arfaxade, o terceiro, também chamou aos seus pelo seu
nome, isto é, arfaxadeenses, que são hoje os caldeus. De Arã, o
quarto, vieram os arameenses, aos quais os gregos chamam sírios, e
de Lude, o quinto, vieram os ludeenses, que hoje são chamados lídios.
[...] Reú teve Serugue, Serugue teve Naor e Naor teve Terá, pai de
Abraão, que assim foi o décimo desde Noé e nasceu duzentos e
noventa e dois anos após o dilúvio [...] (JOSEFO, 1992: 52-54).
3
1
Sabemos que os Renascentistas, tacharam o período medieval de “Idade das Trevas” devido ao suposto
bloqueio intelectual causado pela Igreja Católica e seus dogmas.
2
O historiador Josep Fontana, comenta que o que mais distingue o esquema da historiografia cristã do da
clássica não é, como se costuma dizer, a contraposição entre um modelo cíclico e outro linear – da criação
do mundo ao fim dos tempos -, mas sim o fato de que a greco-romana buscava a explicação dos
fenômenos históricos no interior da própria sociedade, fazendo uso de uma causalidade
fundamentalmente terrena, enquanto que a cristã supõe que existe um esquema determinado vindo de fora
da sociedade humana, por desígnio divino, que marca o curso inelutável da evolução histórica
(FONTANA, 1998: 28-29).
3
Renovada, pois não se pretende mais relacionar-se com o passado “medíocre” (uma atitude de iniciativa
elitista, uma vez que os mais abastados ainda eram, até de certa maneira, fortemente ligados a esse
cotidiano da Idade Média).
4
É conhecida como Antigo Testamento entre os cristãos e não-cristãos.
5
O século XIX foi marcado por uma série de debates intelectuais na Alemanha e havia também, uma
disputa no que dizia respeito à interpretação da história, até o momento, dos outros, neste caso os
franceses.
4
6
Antes desse fato, quem produzia o conhecimento histórico, em grande parte, eram os sociólogos.
7
Para a escola Positivista, o historiador, através dos documentos, reconstituiria descritivamente, ‘tal como
se passou’, o fato do passado, que, uma vez reconstituído, se tornaria uma ‘coisa-aí’, que fala por si’. Ao
historiador não competia o trabalho da problematização, da construção de hipóteses, da reabertura do
passado e da releitura de seus fatos. Ele reconstituiria o passado minuciosamente, por uma descrição
definitiva (REIS, 2003: 29).
8
Do grego archaios, velho ou antigo, e logos, ciência, arqueologia é uma ciência social (isto é, que
estuda as sociedades), podendo ser tanto as que ainda existem, quanto as atualmente extintas, através de
seus restos materiais, sejam estes objectos móveis (como por exemplo objeto de arte, como as vênus) ou
objetos imóveis (como é o caso de estruturas arquitectónicas). Também se incluem as intervenções no
meio ambiente efetuadas pelo homem (Wikipédia).
9
Historiografia (de "historiógrafo", do grego Ιστοριογράφος, de Ιστορία, "História" e -γράφος, da raiz de
γράφειν, "escrever": "o que escreve, ou descreve, a História" é uma palavra polissêmica. Designa não
apenas o registro escrito da História, a memória estabelecida pela própria humanidade através da escrita
do seu próprio passado, mas também a ciência da História.
5
Oriente Próximo
Fonte: AZEVEDO JÚNIOR, Mariano. O antigo Oriente Próximo. Natal, 2008.
26 slides, color.
6
escrita cuneiforme, que podemos ler mesmo sem compreende-los. Tal sistema gráfico,
inventado provavelmente pelos sumérios, constitui-se primitivamente de desenhos que
representavam objetos ou composições simbólicas. “[...] Cada signo tinha um sentido
básico, ao qual podiam se acrescentar alguns significados aparentados”.
Até o presente momento, observamos como alguns textos bíblicos do
Antigo Testamento puderam orientar arqueólogos, orientalistas, e outros estudiosos
perante o obscuro mundo do antigo Oriente e claro, com a formação dos sítios e novas
evidencias, descobertas importantíssimas como a da escrita cuneiforme (sul
mesopotâmico) e as descrições em grego observada na Pedra de Rosetta10 (Egito) em
1799, tornaram-se marcos cruciais para a escrita histórica, dentre os quais a decifração
dos signos (também hieróglifos) e a tradução dos documentos, possibilitaram
juntamente com os achados ceramistas, relevos e ruínas, narrativas sobre o surgimento
da civilização. Porque civilização? Ainda estamos no século XIX, onde a busca pela
origem da civilização européia vigorava. As viagens realizadas para o Oriente estavam
relacionadas com busca pela sociedade que melhor se acoplaria aos ideais de civilização
européia. Essa sociedade precisaria ser grandiosa, imponente, influenciável, uma
civilização que deixasse seus “caracteres”, suas marcas na civilização européia
(ocidental). Essa marca, identificada desde os séculos XV e XVI, são as “relações
econômicas”. O egiptólogo e estudioso de sociedades antepassadas Ciro Flamarion
Cardoso em um de seus livros Sociedades do Antigo Oriente Próximo diz que
10
Os egípcios nos deixaram inúmeros vestígios materiais de sua cultura, mas nenhum deles foi tão
festejado como a Pedra de Rosetta. Até a sua descoberta, em 1799, e sua decodificação, em 1822, as
escritas egípcias mais importantes – os hieróglifos e o demótico – não podiam ser lidas pelos estudiosos.
A Pedra de Rosetta traz um decreto emitido em 27 de março de 196 a.C. pelo faraó Ptolomeu V [...]
Olhando-se a Pedra de Rosetta, pode-se observar as suas três seções distintas: a superior grafada em
hieróglifos, a mediana escrita em demótico e a inferior em grego. A equivalência das três seções permitiu,
partindo-se do grego, a decodificação das escritas utilizadas pelos egípcios. [...] Champollion foi a
primeira pessoa em 1500 anos a ler o que os egípcios haviam escrito sobre eles mesmos e sua cultura. Seu
feito, mais do que as informações obtidas com a transcrição da Pedra de Rosetta, causou efeito
bombástico em Paris. [...] Apenas em 1823, após a decifração da Pedra de Rosetta e com a publicação de
seu trabalho Précis du Système Hiéroglyphique, os hieróglifos puderam ser finalmente lidos e
compreendidos (Revista Ciência Hoje 147).
11
O Sânscrito é uma língua clássica da Índia, uma língua litúrgica do Hinduísmo, Budismo, Jainísmo, e
uma das 23 línguas oficiais Índia influenciou praticamente todos os idiomas ocidentais. O alfabeto
original do sânscrito é o devanagari, um composto bahuvrīhi formado pelas palavras deva ("deus") e
nāgarī ("cidade"), que significa "a escrita da cidade dos deuses". É uma das línguas mais antigas da
família Indo-Européia (Wikipédia).
8
12
Expressão usada por Marx uma única vez, mas que se tornou usual entre os marxistas para designar
determinado tipo de sociedade em que uma ‘comunidade superior’, mais ou menos confundida com o
Estado e que se encarna num governante ‘divino’, explora mediante tributos e trabalhos forçados as
comunidades aldeãs – caracterizadas pela ausência de propriedade privada e pela auto-suficiência,
permitida pela união do artesanato e da agricultura (CARDOSO, 2005: 82).
13
Em árabe pode significar monte ou colinas naturais.
9
14
Por volta de 7800 a.C., foi desenvolvido o primeiro estabelecimento estável: a cidade de Jericó. Num
primeiro momento foi ocupada pelo povo natufense da Palestina, marcando o fim do regime de coleta e o
início do estágio agrícola. Posteriormente, em cerca de 6000 a.C., os tahunenses habitaram na região da
Síria-Palestina, consolidando de uma vez por todas um regime social baseado na agricultura (GARELLI,
1982: 51-52).
10
britânicos trouxeram à luz uma dezena de níveis,15 cuja duração total compreende cerca
de 6500 a 5500 a.C., conforme indicações radiocarbônicas.16 Com 16 ha de superfície,
Çatal Hüyük devia parecer com uma metrópole, em comparação com as aldeias
encontradas na planície. Ela não possuía muralhas, mas as próprias casas, apertadas
umas nas outras e sem nenhuma abertura, compunham um conjunto cerrado, a cujo
interior só se tinha acesso através dos tetos, com o auxílio de escadas. De acordo com
Garelli, os habitantes obtinham o essencial de seus recursos da agricultura, mas a caça
conservava sua importância.
Outra cidade descoberta pelas escavações na península anatoliana, foi a
curdistã (alta Djezireh) – hoje conhecida como os curdos (na Turquia). Os estudos
afirmam que, nessa região, no período de 6500 a.C., surgem as primeiras comunidades
rurais e em meados de 6000 a.C. pode ser apontada uma certa “revolução agrícola”. Os
arqueólogos descobriram a presença de vários tipos de grãos que atestam a prática
agrícola mais farta, bem como ossadas de animais domesticáveis, como porcos, cães e
bois. Essa tal “revolução agrícola” significou possivelmente, a instalação das
populações nas planícies e nas encostas das montanhas.
Então podemos traduzir o presente momento da seguinte forma: Através de
passagens bíblicas, chegamos a uma região do Oriente Próximo que foi dividida em
Alta (área montanhosa) e Baixa (área de planície) Mesopotâmia (provável Sinar) na
busca incansável pelas origens da civilização européia. Com os estudos de Marx,
podemos, através do conceito de Modo de Produção Asiático, afunilar as buscas por
essa sociedade ideal no Oriente Próximo.
Vejamos agora as escavações realizadas na baixa Mesopotâmia, mas antes é
necessário trazer os motivos para essa mudança de sítio.
Por volta de 5000 a.C., na região antiga do Curdistão desenvolveu-se, como
afirma Garelli, uma “civilização original” (seria a civilização ideal?). Chamada de Tell
Hallaf, nela, pôde-se encontrar uma quantidade enorme de cerâmicas, juntamente com a
riqueza de seus detalhes os quais permitiram aos arqueólogos e historiadores designar
essa civilização a partir de uma cultura própria, a cultura Hallaf. Dentre outros achados
(como objetos de cobre e chumbo), essa civilização foi a mais desenvolvida entre as da
alta mesopotâmia. O brilho dessa civilização provavelmente se apagou após uma série
de invasões sofridas por parte de povos que habitariam o sul mesopotâmico.
Tendo Tell Hallaf como a civilização mais desenvolvida da área norte,
15
São medidas definidas pelo arqueólogo para os trabalhos de escavação. Geralmente adota-se 0,10m
(10cm) ou 0,20m (20cm) para cada nível escavado. Assim, com a mesma metodologia aplicada para
analisar as camadas naturais do solo (decapagens, etiquetagens, etc.), o sítio arqueológico também é
pesquisado por níveis artificiais. Então, somando os elementos arqueológicos (cerâmica, instrumentos em
pedra, ossos, dentre outros elementos) com as informações obtidas das camadas do solo e do meio
ambiente em que foi realizada a escavação, o arqueólogo terá provas para contar como ocorreu a vida dos
povos primitivos durante a pré-história e, também, durante os períodos históricos. Em função da
responsabilidade que o arqueólogo terá para contar a história destes povos, a partir dos dados advindos
das suas pesquisas, as escavações devem ser muito bem documentadas (fotografias, filmagens e
anotações) para que, em caso de qualquer dúvida que venha a surgir, durante a interpretação do modo de
vida dos grupos estudados, estas informações possam ser reavaliadas.
16
O método radiocarbônico é o mais importante utilizado por arqueólogos na atualidade, e as primeiras
datas radiocarbônicas foram obtidas pelo químico norte-americano Willard Libby em 1949, em
decorrência de pesquisas desenvolvidas durante a Segunda Guerra Mundial. O princípio era a
regularidade da taxa de desintegração do C14. O método, apesar de ser o mais utilizado por sua
confiabilidade, não tem 100% de precisão, havendo uma margem de erro que acompanha as datas obtidas.
11
observemos agora as que possivelmente serão encontradas na área sul. Vejamos o mapa:
sul:
REFERÊNCIAS
BRAUDEL, Fernand. Gramática das Civilizações. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
CARDOSO, Ciro Flamarion. Sociedades do antigo Oriente Próximo. 4.ed. São Paulo:
Ática, 2005.
COSTA, Vera Rita da. Chave para os enigmas do Antigo Egito. Revista CH, São
Paulo, n.147, mar. 1999. Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/view/349>.
Acesso em: 18 jun. 2008.
14
FINKELSTEIN, Israel; SILBERMAN, Neil Asher. A Bíblia não tinha razão. São
Paulo: A Girafa, 2003. pp. 30-31;35-36.
GARELLI, Paul. Oriente Próximo Asiático: das origens às invasões dos Povos do
Mar. São Paulo: EDUSP, 1982.
REIS, José Carlos. A escola metódica, dita “positivista”. In.: ____. A História entre a
filosofia e a Ciência. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.