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Sue Arnold
“Todos os lugares fáceis já estão tomados.” Esse axioma das missões modernas resume
que lugares ainda precisam de missionários. Há um motivo para os grupos de povos não
alcançados e não engajados (PNAs) ainda não terem acesso às boas novas:[1]
Esses grupos de pessoas que não sabem sobre Jesus estão tipicamente em áreas
onde a igreja é perseguida ou em regiões geograficamente isoladas.
Os PNAs frequentemente estão no topo de montanhas, no meio de desertos, em
selvas escondidas, perdidos em favelas urbanas, vivendo uma vida nômade, ou
vivendo em pequenas ilhas no meio dos grandes oceanos.
Alcançá-los não será fácil por diversos fatores: perseguição governamental, hostilidade
dos moradores locais, estradas perigosas, guerras, política, crime, terrorismo ou clima
extremo são apenas alguns dos fatores.
Muitos cristãos tem aversão ao risco e não estão dispostos a irem para esses povos.
Aversão ao risco?
Muitos cristãos tem aversão ao risco e não estão dispostos a irem para esses povos. Pode
ser também que outros cristãos são insensatos. Ficou claro em novembro do ano
passado, quando o missionário John Chau da All Nations foi morto ao tentar alcançar os
sentineleses, que existe uma discordância disseminada entre os cristãos sobre sua
missão:
O propósito desse artigo não é analisar esse incidente específico, mas sim ressaltar a
necessidade de ponderarmos sobre o risco.[2]
O que espero fazer com esse artigo é tomar um passo para trás e sobriamente (apesar da
parcialidade) responder às seguintes questões: o que a Bíblia diz sobre isso? Como as
agências missionárias e igrejas locais podem responder com sabedoria e obediência à
grande comissão? Como podemos equilibrar a segurança para missionários e compaixão
pelos povos que não tem acesso ao evangelho?
Ficou claro que nem todos os cristãos possuem a mesma compreensão sobre missões.
Portanto, eu gostaria de esclarecer três das minhas crenças teológicas, que (talvez)
devam ser explicitadas aqui:
1. Deus, em Jesus, é digno do louvor de todas as nações e receberá todo o louvor
de todas as nações.
2. Deus nos dá escolhas. É um direito fundamental humano o direito a escolher ou
não seguir a Jesus. Consequentemente, nenhuma pessoa ou povo tem o direito de
decidir por outra pessoa ou povo se eles devem ou não seguir a Jesus. Logo é
uma necessidade fundamental humana ter acesso ao conhecimento das boas
novas. Os missionários ajudam a oferecer essa escolha.
3. Deus escolhe trabalhar através dos seus agentes humanos. Ele poderia ter feito
nossas escolhas por nós e, às vezes, de fato ele faz outras escolhas. No entanto,
seu plano normal é convidar seus filhos a irem e convidarem aqueles que não
conhecem o nome de Jesus para o experimentarem e conhecerem sua bondade.
Quando Jesus enviou os doze discípulos em uma viagem missionária em Mateus 10, ele
oferece um de seus ensinamentos mais explícitos sobre o sofrimento e perseguição.
Desde o começo, o conceito de enviar, ir e sofrer eram um só nos ensinamentos e ações
de Jesus. Por exemplo:
Jesus “promete” que os apóstolos sofrerão e serão presos em seu nome, serão
traídos pelas suas próprias famílias, flagelados e terão que lutar contra o medo.
Ele os encoraja a fugirem e a ficarem firmes, um equilíbrio que tem sido difícil
para os fiéis compreenderem desde que essa ordem foi dada.
Jesus também deixou claro que se os fiéis amarem suas famílias mais do que a
ele, se recusarem a tomarem sua cruz ou tentarem se agarrar às suas vidas, não
estarão trilhando o caminho estabelecido por ele. (Mt 10:37-39).
Em diversos incidentes, a igreja primitiva parece ter discordado sobre os níveis de risco
aceitáveis. Por exemplo:
Em Éfesos, Paulo queria falar com uma multidão, apesar do levante perigoso
que ocorria.
Alguns, inclusive os discípulos e amigos de Paulo, tentaram convencê-lo a não
fazer isso (At 19:30-31).
No fim, parece que não era necessário que Paulo se dirigisse à multidão.
No entanto, fica claro que houve dissenção entre os crentes bem-intencionados
sobre o que era e não era um risco aceitável.
No próximo capítulo, em Atos 20, Paulo vai decididamente rumo a Jerusalém. Ele sabe
que o cativeiro e dificuldades o aguardam lá, mas ele considera que o custo vale a pena
para cumprir a tarefa que Deus o deu (At 20:22-24). A decisão fez os irmãos chorarem,
abraçá-lo e até a se lamentarem (At 20:37-38). Ágabo profetizou que Paulo seria
amarrado e entregue aos gentios (At 21:11).
É interessante notar que Ágabo não finalizou sua palavra profética aconselhando Paulo
a não ir para Jerusalém. De fato, olhando o texto, sabemos que nada do que Ágabo disse
era uma revelação nova para Paulo. No entanto, quando os fiéis ouviram isso,
imploraram a Paulo que não fosse a Jerusalém (At 21:12). As pessoas pareceram tirar a
conclusão de que o perigo significava que Paulo não deveria ir, mas não foi isso que
Paulo concluiu à partir da mesma profecia. De fato, Paulo falou aos irmãos que eles
estavam o deixando triste por chorarem e que ele se recusava a ser convencido por eles
(At 21:12-14). O apóstolo sabia do perigo e sentiu que deveria ir para Jerusalém mesmo
assim.
Às vezes, eu penso como seria essa cena se tivesse acontecido na minha igreja ou
agência missionária. No texto fica claro que crentes sinceramente não entendiam ou
abraçavam o risco no mesmo nível. Me pergunto se minha igreja ou agência
concluiriam que Paulo cometeu um erro quando acabou sendo preso. Lamentaríamos “a
perda de um grande líder”?
Essas não são decisões ou discussões fáceis. No entanto, são necessárias e honram a
Deus e os povos do mundo que ainda não tiveram a chance de ouvir sobre Jesus. As
decisões de abraçar o risco envolvem amar aos outros mais do que amamos a nós
mesmos. Não são decisões que devem ser feitas de forma leviana, mas cada vez mais as
agências missionárias e igrejas estarão escolhendo enviar seus amados para lugares de
risco, pelo bem do evangelho. Façamos isso com sabedoria e ousadia para a glória de
Jesus Cristo.