Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
e ovos do tinguaçu-ferrugem,
Attila cinnamomeus
(Passeriformes: Tyrannidae)
Glauko Correa da Silva1, Ricardo Parrini2
& Marco Aurélio Crozariol3
(Bromeliaceae). Apenas um indivíduo foi observado construindo o provavelmente também retiradas da própria palmeira onde havia
ninho. Os ovos são cor de salmão-rosado com manchas marrom- sido construído. Havia três ovos no ninho (Figura 4), semelhantes
-avermelhadas sobre marcações arroxeadas. Bota entre dois e três àqueles já descritos anteriormente, porém a coloração da base do
ovos, com tamanho médio de 22,5 x 18,2 mm. ovo era rosa, bastante claro. No dia 18 de janeiro GCS retornou ao
local e encontrou o ninho com sinais de predação e os ovos ausen-
Nossas observações tes. Os ovos e ninho não foram medidos.
O primeiro ninho aqui descrito foi encontrado em 01 de dezem- Nossa revisão, somada aos dois registros aqui apresentados, indi-
bro de 1996 por RP no município de Alta Floresta, Mato Grosso, no cam um período de reprodução que varia de setembro a maio, depen-
Cristalino Lodge. Estava em uma pequena palmeira em um tipo de dendo da região (Penard & Penard 1910, Hellebrekers 1942, Pinto
pomar do próprio Lodge (Figura 1), construído a 2,2 m do solo, em 1953, Haverschmidt & Mees 1994, Robbins et al. 2007, Walther
um nicho na base das frondes da palmeira. Tinha forma de semiesfe- 2016). No Brasil, os registros variam entre dezembro (Mato Grosso,
ra apoiado pela base e foi construído, aparentemente, com algumas este trabalho e Pará, Pinto 1953) e janeiro (Rondônia, este trabalho).
poucas fibras vegetais da própria palmeira, dispostas em círculo, sem Como bem citado por Lanyon (1985), no geral, os ninhos das
apresentar um forro diferenciado para acomodar os ovos. A coloração espécies do gênero Attila não estão inseridos em uma “cavidade
geral do material usado no ninho e aqueles presentes ao redor (vide verdadeira”, sendo um pouco mais expostos, construídos em ni-
detalhe da Figura 1), lembra a coloração ferrugínea da espécie. Havia chos ou fendas. Pela classificação de Simon & Pacheco (2005),
três ovos no ninho, de coloração creme-claro com manchas marrom- ambos os ninhos aqui descritos são do tipo “cesto baixo/base”.
-avermelhadas ou vináceas, principalmente ao redor do polo mais Porém, essa seria uma classificação muito simplificada, visto que
rombo. Tanto o ninho quanto os ovos não foram medidos. os ninhos foram encontrados em uma espécie de nicho, mas, que
O segundo ninho foi encontrado em 03 de janeiro de 2015 por pelas sugestões propostas por eles, não se encaixaria em um tipo de
GCS no município de Porto Velho, Rondônia, margem direita do rio cavidade, onde aqui concordamos com Lanyon (1985). Penard &
Madeira, próximo ao distrito de Nova Mutum Paraná. No momento Penard (1910), no entanto, citam ninhos encontrados em cavidades
do encontro, dois indivíduos adultos foram observados saindo do abandonadas por Picidae e cupinzeiros e Harverschmidt & Mees
ninho, de forma bastante discreta. Na primeira de duas tentativas (1994), em fendas, o que poderia indicar certa plasticidade na hora
de aproximação, os adultos saíram e apenas um ficou próximo, a da escolha do local de nidificação, podendo assim, segundo a classi-
cerca de 10 m, arrumando suas penas em local de vegetação seca e ficação de Simon & Pacheco (2005), ser também do tipo “cavidade/
quase fechada, vocalizando baixinho (“reclamando”) em intervalos sem túnel/cesto baixo”.
irregulares (de 3, 5 e 7 min), mas sem muito alarde ou display reco- Dentre as espécies do gênero Attila, apenas A. rufus parece nidi-
nhecível; o segundo indivíduo manteve o mesmo padrão de vocali- ficar em cavidades mais profundas e, segundo Höfling & Camargo
zação, porém mais afastado e escondido na vegetação densa. Esse (1999), podem construir ninhos em barrancos e em ocos de árvores
ninho, assim como aquele de Alta Floresta, também foi construído com até 20 cm de profundidade, embora às vezes apenas entre aglo-
na base das frondes de uma palmeira (Figura 2), no caso um buri- merados de bromélias (Simon 2000).
ti (Mauritia flexuosa - Arecaceae), que estava quase morto e com De qualquer forma, fica aparente que A. cinnamomeus parece
parte submersa pela inundação do reservatório artificial da Usina ter preferência por construir seus ninhos nas bases das frondes de
Hidrelétrica Jirau. O ninho estava a cerca de 2 m acima da água palmeiras (vide Penard & Penard 1910, Pinto 1953 e as presentes
(Figura 3) e também possuía forma semiesférica apoiado pela base, descrições), sendo então bastante possível que na ausência desse
porém um pouco mais exposto, ou seja, menos escondido pela fo- tipo de recurso a espécie possa utilizar outros locais que apresentem
lhagem, que o anterior. Foi construído com fibras vegetais variadas pequenas cavidades, onde consiga esconder seu ninho, como abai-
dispostas em círculos, de coloração mais clara, como palha seca, xo de bromélias (Haverschmidt & Mees 1994).