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Reduzir o sinthoma à face real do sintoma no fim do tratamento. Isso impede de localizar o
sinthoma e verificar seu funcionamento no tempo prévio do tratamento.
Sinthoma como 4º elemento, responsável pelo enodamento de seus três registros. Não só por
aquele que terminou sua análise, mas também por quem nunca se psicanalisou: Joyce.
Recusa: psicose.
Desmentido: perversão.
S. VII: Supõe um gozo que não convoca a interpretação do Outro. Mas um gozo que se basta a
si mesmo, que não se dirige ao Outro, mas à Coisa. Esse gozo refratário ao Outro passa a fazer
parte essencial da natureza do sintoma. O artifício para torná-lo interpretável é desnaturalizá-
lo por meio da transferência.
Do sujeito enfim em questão: sintoma como retorno da verdade na falha do saber. Sintoma
entre verdade e gozo.
Da psicanálise em sua relação com a realidade: A verdade encontra no gozo como resistir ao
saber. O sintoma como verdade que se faz valer no descrédito da razão.
O sintoma entre S e R
A escritura nodal do sintoma conduz a localizá-lo não mais entre S e I – sintoma metáfora –
mas entre S e R – sintoma letra, em que se enfatizam mais os efeitos de gozo.
O sintoma como o que vem do real, que não funciona, em oposição ao discurso do mestre (o
que funciona). No discurso do mestre, a copulação significante nos adormece de sentido.
S1-S2. O sintoma se desprega no gozo fálico na medida em que explicita a não relação sexual.
A ausência de relação sexual retorna na anomalia do gozo fálico.
40 dias mais tarde (RSI): somos capazes de operar sobre o sintoma, na medida em que o
sintoma é efeito do S no R.
21 de janeiro 75: o que, do inconsciente, faz ex-sistência. O inconsciente se traduz por uma
letra separada de toda qualidade. Do inconsciente como Uno que sustenta o significante. Não
se trata do inconsciente cadeia-significante (S1-S2). Trata-se do inconsciente dos Unos soltos,
dos há-do-um, do enxame. O inconsciente traduzido pela letra. S1 essaim.
Saia.
Se o sintoma metáfora supõe a articulação de dois significantes, esta nova versão do sintoma
letra ressalta a distância entre o significante que representa um sujeito para outro significante
e a letra como identidade de si separada de toda qualidade.
A letra do sintoma é a escritura selvagem desse Uno, dobra sempre disposta a acolher o gozo.
Sintoma como sede de fixação de um gozo que é produto do transtorno que lalíngua introduz
traumaticamente no corpo. O sintoma como acontecimento de corpo, donde deriva sua fixidez
e resistência. O que importa é a referência à escritura.
Esta fixação de gozo faz do sintoma sintoma-letra. O que o distingue das demais formações do
inconsciente. As formações do inconsciente se caracterizam por sua fugacidade. O sintoma
supõe a fixidez e a repetição. O sonho se torna sintoma quando se repete traumaticamente. O
inconsciente sintoma como enxame de que se goza pela via da tradução de um desses unos na
letra do sintoma.
Diferenciar o Ics dos Unos do que provem o sintoma como retorno do recalcado que engendra
as formações do Inconsciente.
O Ics dos unos, do qual se extrai a letra sintomática, não se sobrepõe ao inconsciente cadeia
significante como retorno do recalcado. O inconsciente-cadeia-significante fomenta a cópula
S1-S2, produz efeitos de significação ordenados pelo NP. Está ordenado pela lógica do Todos e
da exceção (lado masculino).
Já o Ics do “há do Um” contesta a cadeia e faz enxame dos S1 soltos. Seu efeito é menos de
significação do que de gozo, gozo de lalíngua. Coloca-se no lado feminino como conjunto
aberto, sem exceção.
É a partir do real dos Unos dispersos que o sintoma se estabelece na fixação do gozo à letra
traumática.
Mas sintoma letra e sintoma metáfora não são duas vertentes do sintoma relativos a primeira
e a última fase do ensino de Lacan. O forçamento do dispositivo que conduz o sintoma a passar
para o campo do Outro não é completo. O sem sentido do sintoma não se anula
completamente. Há sempre o intransferível, o ininterpretável. O núcleo incurável que se pode
isolar, mas não eliminar.
Lacan: Freud suspeitava de que R, S e I não bastavam para produzir o enlaçamento. Propõe um
4º elo, que chama de realidade psíquica, para enlaçar essas 3 consistências. A realidade
psíquica é o complexo de Édipo. A realidade psíquica é uma realidade religiosa. Função de
sonho que Freud instaura o laço de S, I e R. Freud se torna religioso, na queixa de Lacan:
função dormitiva e religiosa do complexo de Édipo. Lacan afirma que Freud jamais desistiu
dessa babaquice religiosa. Ele não acredita em Deus porque opera em sua linha. Freud não era
lacaniano porque sua conta começava em 4; porque não sabia prescindir do NP.
(02/75): Um ano mais tarde Lacan modera o tom, se torna mais interrogante, menos
judicativo. Pergunta se seria necessária essa função suplementar de um toro a mais. Ao
mesmo tempo modifica sua consideração sobre a função paterna, com relação à nomeação.
Passa do Nome do pai ao pai do nome, pai nomeador, reduz o pai à função radical de dar
nome às coisas. A função nomeadora permanece instalada no registro simbólico. Lacan não a
propõe como um 4º anel, que segue supérfluo.
Questão: por que o 4º termo é imprescindível? Por que razão o nó tem de ser tetrádico?
Cada uma das nomeações se inscreve redobrando um dos três registros. Pode-se ir contando
de 4 até 6. Mas Lacan não prossegue nesta direção.
Sinthoma: sofrer por ter uma alma, uma alma é o que há de mais fatigante. Sinthoma:
psicopatia, pathos da psique.
Chama-se alma o que permite a um ser falante suportar o intolerável do mundo, o que supõe a
alma alheia ao mundo, ou seja, que ela seja fantasmática. A psique é fantasmática. Isso que a
permite suportar o intolerável do mundo: o real. Nos permite adormecer do real, temperá-lo
pela absorção do fantasma, dar-lhe sentido: função de sonho da realidade psíquica. Fantasma
que veda na estrutura a falha do Outro: S (A barrado). O sinthoma se articula à função
homeostática do fantasma.
Para abordar o caso Joyce (S23), Lacan articula o sinthoma com o que chamou de “lapso do
nó”. Operatividade clínica e estabilidade conceitual: função de reparação do lapso do
enodamento. Articulação proposta entre as lições 10 e 17 de fevereiro 1976. Sobre o nó do
trevo.
Ver (89): nó de trevo falhado, nó de trevo reparado pelo sinthoma. Correção, compensação ou
suplência a partir da instalação do sinthoma: o nó de trevo não se desarma. O resultado não é
um simples trevo, mas um trevo consertado. O saldo não é um nó, mas uma cadeia: tem-se
dois anéis agora.
Figura p. 91: se a falha de nó está em 2, mas se inserta o anel reparador em 1. O trevo não se
converte em nó trivial, mas perde sua forma: se faz uma cadeia em forma de 8. Se o reparo se
dá no lugar do lapso, isso permite que a forma de trevo se sustente. Se introduzimos o reparo
em outros pontos onde não se produziu o lapso, isso nos dá a forma de 8. Os elos do trevo e o
da reparação são intercambiáveis, sem que se produza uma cadeia diferente.
Mas quando se corrige no lugar do lapso, isso gera um encadeamento distinto. O elo original e
o remendo não são equivalentes.
Resultado: no caso de uma cadeia em que os elos não são equivalentes, falamos de um nó
corregido por um sinthoma. O sinthoma se produz onde o nó falha. Conclusão: onde há
sinthoma, não há equivalência. Onde há equivalência não há sinthoma. Onde não há sintoma,
não há relação. Onde há sintoma, há relação. Se a não relação depende da equivalência, na
não equivalência se estrutura a relação. O sinthoma é o que sustenta a relação sexual. Faz com
que ela exista.
Função do sinthoma:
97: o 4o elo negro (em forma de orelha) é o sinthoma que repara dois lapsos reenlaçando-os
aos três registros.
Essencial que o nó falhe: R, S e I não podem enlaçar-se por si mesmos. Necessidade de uma
clínica de reparação deste lapso. O Inconsciente não é o que produz o lapso, mas o que se
compõe sobre ele. 98
Razão pela qual o nome próprio é nele algo estranho, o nome que ele valoriza em detrimento
do pai. Seu nome próprio como o que vem remediar esse lapso, o anel que impede que o trevo
se desfaça.
Suas epifanias se caracterizam como consequência desse erro, no que o Inconsciente aparece
ligado ao real. As epifanias se situam no nível do que faz sintoma como palavra imposta.
Epifanias: revelações.
Lacan: que inconsciente é este que, enganchado ao real, dá conta da palavra que se impõe
como sintoma em Joyce no nível da escritura e das epifanias? Certamente um inconsciente
distinto do inconsciente cadeia do qual Joyce se desabona e que não se confunde tampouco
com o simbólico enlaçado ao real. Joyce se encontra desabonado do inconsciente.
O simbólico alude à parelha S1-S2 que o sintoma derroga, impondo seu estatuto de S1. Joyce
se desabona do inconsciente cadeia S1-S2, mas não do inconsciente enxame de S1, de S
enganchado em R, pelo lapso do enodamento. Ele dá conta do sintoma como palavra imposta
na escrita, nas epifanias. 105
Lacan se aproxima, nessa localização do sintoma entre R e S, do modo como havia colocado a
letra do sintoma em A terceira ou em RSI. A letra de gozo do sintoma entre R e S. Todavia, se o
que em Joyce se apresenta como palavra imposta se funda na interpenetração de R e S, a letra
de gozo do sintoma (em Seminário 22) é um efeito do S no R, extração de um S1 do
inconsciente que passa ao real.
2.5.3 Joyce, o sinthoma
Lacan termina por chamar de ego aquilo que na cadeia se localiza como reparação
sinthomática de Joyce: o que consegue reter I, impedindo que se desprenda, embora o nó não
se torne borromeano, mantendo S e R interpenetrados: desenho p. 107.
Lacan, abertura do V Simpósio Internacional James Joyce: Joyce goza escrevendo Finnegans
Wake. Gargalhadas estridentes que incomodavam Nora em sua escrita noturna. Gozo autista
que não passa ao Outro.
Seu sinthoma resolve essa situação tornando o Outro, no lugar do leitor, um decifrador de
enigmas. O exército de joyceanos decifradores de enigmas. A isso se agrega a função
reparatória do ego-sinthoma. Seu desejo de ser um nome toma corpo com a publicação da
obra. Finalizar o Finnegans Wake o permitiu fazer-se um ego, construir um escabelo para se
apresentar ao Outro.
Relação de Joyce com Nora: Lacan: direi que é uma relação sexual, embora sustente que não
haja. A luva esquerda revirada que encaixa na mão direita. Nora lhe cai como uma luva. Nora
se torna um sinthoma como seu ego, impedindo que seu imaginário se solte, dando-lhe um
limite corporal preciso. Onde há sinthoma há relação, uma estranha relação sexual. A relação
sexual é uma relação intersinthomática.
A imaginação de Joyce de ser o Redentor como protótipo da père-version: essa ideia surge na
medida em que há relação do filho ao pai, o sadismo para o pai, o masoquismo para o filho.
Protótipo delirante da père-version.
O sinthoma supõe um saber se virar de tal maneira que clausura o ingresso ao dispositivo
analítico. Comporta uma ordem de funcionamento que impede o surgimento do que Lacan
chama de psicanalisante em sentido estrito. A psicanálise é supérflua se isso funciona.
O caminho da psicanálise se abre quando essa solução sinthomática que nos mantém mais ou
menos estáveis e mais ou menos adormecidos vacila, quando não desmorona
estrondosamente.
S XI: encontro com o real sob as espécies da tiché. Em 1976: encontro com fragmentos do real
cujo estigma é o de não se enlaçar com nada.
A psicanálise não é um sinthoma, porém sim o psicanalista. O sinthomanalista que vem reatar
o que o sintoma anuncia como desatado. Isso é o que suporta os primeiros passos terapêuticos
da psicanálise. 119
Lacan (11/01/76): entre loucura e debilidade mental, não temos senão a escolha.
A loucura como produto do desenlace dos registros por um encontro com um fragmento do
real. O que questiona as soluções sinthomáticas.
A psicanálise não consiste em liberar um sujeito de seus sinthomas, mas permiti-lo saber
porque está enredado neles. Não se deve crer que o sinthoma é o melhor dos mundos, há
reparações sinthomáticas tão funestas que obrigam o analista a interpor sua função de análise.
CASO MARINA
Caso Marina
USOS DO NB NO ÚLTIMO LACAN 129
NB aplicado à cadeia significante (...ou pire, 9/02/72): tratamento do aforisma: te peço que
recuse o que te ofereço porque não é isso. Nela, os verbos pedir, recusar e oferecer estão
atados borromeanamente. Se soltarmos um dos três, o sentido se dissipa. O nó como
metáfora do Um.
As frases interrompidas de Schreber (mensagens de código): agora vou..., vocês deveria..., vê-
se que na falta de um dos elos, os demais se soltam, se perde o Um.
Lacan: Crítica de Função e Campo: disse que os significantes formavam cadeia. Só há dois
porque se agrega o decifrado. Importância dada ao significante isolado. Os significantes por si
só não formam cadeia.
Sintoma: efeito de S em R;
Angústia: transbordamento de R em I.
O caso do obsessivo que se lava 50 vezes por dia. Ou de Taylor, neurótico obsessivo criador do
modo de produção em série conhecido como taylorismo, que não conseguia caminhar sem
contar os passos. E que se vale de sua atitude de controle compulsivo para organizar o modo
de produção do capitalismo.
Paradigma que se encontra no caso do primeiro neurótico obsessivo que Freud atendeu: o
funcionário público que lhe entrega cédulas limpas e passadas no pagamento. Freud interpreta
os exagerados escrúpulos deste homem referidos ao pagamento com cédulas limpas como um
deslocamento conveniente que provém da estranha ordem que impunha a sua vida sexual:
excursões campestres com garotinhas de boa família que enganava perdendo o trem de volta
para passar uma noite com ela, em que terminava masturbando-a com sua mão imunda.
A extrema elegância na entrega das cédulas ao próximo que ele manifesta não é por ele
percebida mais do que como um traço de sua personalidade que, longe de colocar alguma
questão ou ser motivo de padecimento, deixa-o em posição de felicitar-se por salvaguardar
seu semelhante das perigosas bactérias que poderiam ser nocivas a seu receptor. É mais
conveniente exceder-se em seus cuidados com o próximo do que questionar suas excursões
campestres. Há um ganho da enfermidade correlativo da política da avestruz que nunca faltam
nessas posições tão decididas a manter o adormecimento. Trata-se de um firme não querer
saber que gera uma solução soporífera.
Mas haveria sintoma sem que seu portador o reconheça como tal. Freud não deixa de
considerar sintomático isso que ele chama de defesa lograda.
Em Lacan, o sinthoma não se reduz ao resultado da análise. Nem tampouco equivale a uma
redução ao real do sintoma. O sinthoma é o que estabiliza a estrutura nodal.
Para ser captado na experiência da análise, não se vai do sintoma ao sinthoma. É preciso ir do
sinthoma que adormece e encadeia para o sintoma que, em seu desencadeamento, dá acesso
ao despertar que se depara ao ser que fala.
A mulher como sintoma do homem. Nora tornou-se sinthoma para Joyce, funcionava como
uma luva, em encaixe perfeito. Em contraponto, a mulher sintoma que impede que as coisas
andem para o homem da esferográfica. Problema da parceria: quem vou encontrar em casa: o
sintoma ou o sinthoma?
Questão do sinthomanalista.
Pode-se operar como sinthoma de alguém sem operar como psicanalista. A parceira sintoma
não é uma invenção da psicanálise.
No caso da psicose, Lacan define o analista sinthoma como uma submissão completa, embora
ciente, às posições subjetivas do paciente. Não é qualquer parceiro sintoma que consente a
essa submissão, que permite a operação de reatamento do sinthomanalista na psicose.