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JOÃO PAULO MARTINS PENHA – 2115133

CONSIDERAÇÕES SOBRE AS PRODUÇÕES APRESENTADAS (AV2)

Fortaleza – CE
2023
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................... 2
2. DESENVOLVIMENTO ...................................................... 2
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................. 6
4. REFERÊNCIAS................................................................... 6

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1. INTRODUÇÃO

No dia 05 de maio, uma equipe, para a realização de seu trabalho para segunda
avaliação da cadeira de Psicopatologia Geral, produzira dois vídeos. Em um deles
possui atuações dos alunos, chamado “psiquiatrização da vida”, e o segundo, sem
título, sobre, como os integrantes se referiram como, formas alternativas de
tratamento. O primeiro vídeo é uma crítica caricatural sobre os excessos de
diagnósticos, principalmente também sobre a consequente medicalização dos
sofrimentos psíquicos. Já o segundo vemos uma continuação da crítica com base não
só dos medicamentos, mas também do esquecimento das alternativas, e como elas
também podem ser importantes para o processo de melhora.

Usando os vídeos propagandeados durante a aula como base, foram


desenvolvidas contemplações, reflexões e argumentações relacionando-os com duas
fontes que vieram dessa cadeira, o livro escrito por Peter C. Gøtzsche titulado de
“Medicamentos Mortais e Crime Organizado: Como a Indústria Farmacêutica
Corrompeu a Assistência Médica” e o texto escrito por Eliane Brum, chamado de
“Acordei Doente Mental”.

Esta é uma atividade para a segunda avaliação da cadeira de Psicopatologia


Geral, para aqueles que não desenvolveram os vídeos.

2. DESENVOLVIMENTO

Na cadeira de psicopatologia geral, vemos e estudamos muito sobre a questão


da medicalização e diagnósticos numerosos, e nos estudos, e leituras complementares,
percebermos que não é apenas aquele psiquiatra que receita, o problema, mas todo um
grande esquema por trás que envolve desde as farmácias, hospitais, corrupção e muito
mais.

No livro intitulado “Medicamentos Mortais e Crime Organizado”, um dos


capítulos é apenas sobre os crimes corporativos de empresas farmacêuticas famosas
que aconteceram o início dos anos 2000 até 2012. Por exemplo, ele traz a conhecida
Hoffman-La Roche, empresa suíça, como a maior “traficante de drogas”, pois os
executivos da empresa, nos anos 90, lideravam um cartel que juntavam altos
empresários e executivos de empresas europeias e asiáticas para se encontrarem em
quartos de hotéis para discutirem o mercado mundial, a divisão de mercado e

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orquestrar os preços ao redor do mundo (GØTZSCHE, 2016). Com esse esquema, a

empresa obteve um rendimento, apenas nos Estados Unidos, de 3,3 bilhões de dólares
(GØTZSCHE, 2016). Infelizmente essa história é verdade e a empresa chegou a pagar
1 bilhão de dólares para encerrar as acusações e apenas dois executivos foram presos
por 4 meses (GØTZSCHE, 2016). Além da Roche, temos empresas que ficaram mais
conhecidas durante a época da pandemia aparecendo em escândalos corporativos,
como a Pfizer, AstraZeneca e Johnson & Johnson, todas com histórias parecidas com a
empresa suíça já citada. Esses casos acontecem até os dias de hoje e como diz
Gøtzsche (2016): “o crime corporativo é comum e ... os delitos são implacavelmente
executados, com gritante desrespeito pelas mortes e outros danos”.

Descendo na hierarquia, a corrupção dos médicos começa cedo. Gøtzsche


(2016), que é médico, relata que por apenas contribuir para uma reunião de uma
empresa, na qual ele não cita o nome, ganhou um envelope que continha uma carta de
agradecimento e mil dólares em dinheiro vivo. Como o dinheiro era em espécie, o
rastreamento era impossível, e se você não retornasse o dinheiro, era um sinal para a
empresa de poder contar com aquele profissional de forma corrupta (GØTZSCHE,
2016). Com o depoimento do autor, podemos imaginar o quão grave isso pode ser no
mundo todo. Não são todas as pessoas que se preocupam de fato com toda essa
questão da indústria e saúde das pessoas, com toda certeza há muitos que começaram
do mesmo jeito que tentaram com Gøtzsche.

Com a chegada do DSM-V, lançada pela American Psychiatric Association


(APA), houve um aumento de transtornos mentais listados, e que de acordo com Brum
(2013): “está cada vez mais difícil não se encaixar em uma ou várias doenças do
manual”. Brum (2013) até brinca, pois existe um transtorno que tem como destaque a
dificuldade de se desfazer de lixo e objetos, e de fato parece até piada quando você lê
pela primeira vez. Dessa forma podemos começar a pensar sobre o que é normal e o
que é patológico. Isso é um assunto muito interessante e complicado, pois não há uma
definição para o normal, na verdade, existem várias, como a normalidade como
ausência de doença, normalidade ideal, estatística, como bem-estar, funcional, como
processo, subjetiva, liberdade e operacional. Com a facilidade que o DSM-V
proporcionou para definir praticamente qualquer pessoa com algum tipo de transtorno
psiquiátrico, e interligando com a corrupção existente, possuímos médicos psiquiatras

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poucos interessados indubitavelmente com a saúde mental do paciente e com o
processo que aquele paciente deve ter. Gøtzsche, em seu livro, traz mais um assunto
interessante que são psiquiatras que trocam o medicamento do paciente por propina.
Muitos psiquiatras colocam um medicamento “básico” para o paciente, depois de
algumas sessões, os profissionais corruptos, de forma combinada com as corporações
farmacêuticas, intrujem as prescrições para os medicamentos daquela empresa
(GØTZSCHE, 2016). No mesmo capítulo que se trata esse assunto, ele traz o exemplo
da insulina, onde a Novo Nordisk estava envolvida em um desvio de pacientes, porém
nada foi feito.

Nas produções realizadas pela equipe, composta por João Pedro, Carmen,
Juliana, Barbara, Marina, Nivea e Melina, foram retratadas situações sobre
diagnósticos e a medicalização. O primeiro vídeo começa com um médico em seu
consultório esperando a paciente, quando a paciente chega percebemos ela com uma
postura curvada e cabeça baixa. O médico começa falando que é um especialista em
sofrimento e que vai melhorá-la com evidências científicas. Nessa parte podemos ver
um tratamento inicial muito biomédico, e com a tentativa de parecer ser inteligente e
que irá resolver os problemas da paciente de forma super eficiente. Isso é algo que fica
bem evidente no vídeo, porém em um atendimento real isso acontece de forma mais
discreta. Após essa fala, o doutor pergunta: “O que você deseja consumir hoje?”, um
claro deboche sobre como a medicalização na área psiquiatra está atualmente. Quando
a paciente vai contando sua história, o médico sempre a interrompe dizendo que ela
pode ser o número X ou Y do manual (DSM-V). Sem a paciente acabar a história, ele
prescreve um medicamento e a diagnóstica com depressão. As outras representações
de outros casos psiquiátricos possuem o mesmo padrão: um atendimento muito
biomédico sem uma escuta adequada, sempre como base o manual e um descuido com
o diagnóstico. Este vídeo representa perfeitamente o ambiente de uma consulta com
um psiquiatra, deixando claro que não estamos falando de todos, mas da maioria.
Gøtzsche (2016), fala sobre um rastreamento de transtornos mentais, onde para deixar
com que as pessoas sejam colocadas como loucos é preciso localizar sintomas, e o
DSM-V ajuda nisso. No vídeo, o médico passa todas as consultas rastreando sintomas
para encontrar uma classificação adequada, e após disso passando um
medicamento de acordo com aquela categorização. Por essas características
demonstradas que Gøtzsche (2016) ressalta no título de um capítulo e em diversas

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outras partes: “Psiquiatras são traficantes de drogas altamente eficazes”. Além do
mais, com as descrições que o médico dava para encontrar uma classificação, você
acaba que se identificando com muitas. E, voltamos a perguntar: O que é normal e o
que é patológico?

Em uma experiência particular, pude ver essa questão da medicalização


pessoalmente em um ambiente acadêmico. Em um congresso de psiquiatria realizada
na faculdade que estudo, em uma mesa justamente sobre a medicação de doenças
como a depressão, os médicos brincavam sempre sobre “quando não sabe o que fazer,
receite Quetiapina”. Eu achei isso um absurdo, se médicos, em um ambiente formal e
nesse contexto acadêmico falam de forma livre isso, imagine o que acontece por trás
de tudo isso.

No segundo vídeo produzido, no começo vemos várias fotos que demonstram


certas doenças mentais, após isso nos é apresentado uma frase: “Não são pílulas, mas
também curam”, logo depois vemos imagens de alternativas de tratamento como
substitutos do medicamento, é possível visualizar exercício físico, sol, leitura, viagens,
animais domésticos, pintura, igreja, etc. E, de fato é interessante esse vídeo, pois
demonstra que o tratamento não está apenas ali numa sala fechada, às vezes sem
janela, com um atendimento que não dura 15 minutos, mas também em outros
aspectos que até esquecemos que existe. Gøtzsche (2016) salienta que de fato muitas
pesquisas estão sob controle da indústria, e em uma de suas pesquisas percebeu que
pacientes com depressão, após um mês e meio de uso dos medicamentos, 60% deles
foram vistos com melhoras. No entanto, com um grupo se tratando com um placebo
cegado, 50% foram vistos com melhoras, e com isso ele recomenda que seria melhor,
invés de passar remédio, receitar o exercício físico, pois em outra pesquisa dele,
envolvendo o exercício e pessoas que tomam setralina, percebeu que com o grupo
apenas com os exercícios físicos obtiveram uma melhora equivalente aos que
tomavam o medicamento e se exercitavam, e maior que os que só tomavam o
medicamento.

Concordo com a ideia de ter alternativas para substituir os medicamentos, e


uma frase dita na aula ficou presa na minha cabeça: “A psicologia e terapia não estão
apenas no consultório, mas em todas as coisas”. No entanto, no momento de falas dos
integrantes, pessoas defenderam firmemente a igreja como uma alternativa, e foi nisso

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que fiquei intrigado. Nós psicólogos em formação e até mesmo os já graduados, não
devemos atribuir nossa religião para o outro, principalmente em atendimento.
Obviamente depende de um contexto, mas, na minha opinião, não concordo em
defender uma religião específica em uma situação de tratamento. Também discordo
em defender a constelação familiar, onde, em meu entendimento, é uma terapia
alternativa que não possui comprovação cientifica e que existem diversos casos de
surtos durante as terapias.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ideia do vídeo foi muito interessante, pois a crítica realizada, além de estar em
uma conexão com o conteúdo, podemos ver de forma clara como é um
atendimento psiquiátrico de forma caricata. E, a oportunidade desta atividade de
podermos relacionar com o conteúdo fez com que obtivesse um olhar mais crítico
para tal assunto. Porém, no final ainda ficam dúvidas, como: sou normal? Posso
confiar em um psiquiatra? Mas também fica uma afirmação: Sou mais que uma
classificação de um livro.

4. REFERÊNCIAS

GØTZSCHE, Peter. Medicamentos Mortais e Crime Organizado: como a indústria


farmacêutica corrompeu a assistência médica. Porto Alegre: Bookman, 2016. 300 p.

BRUM, Eliane. Acordei Doente Mental. 2013. Disponível em:


https://epoca.oglobo.globo.com/colunas-e-blogs/eliane-brum/noticia/2013/07/acordei-doente-
mental.html. Acesso em: 09 maio 2023.

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