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Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10 -


Diretrizes Diagnósticas e de Tratamento para Transtornos Mentais em
Cuidados Primários

Article  in  Revista Brasileira de Psiquiatria · June 1999


DOI: 10.1590/S1516-44461999000200014 · Source: DOAJ

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Livros

Classificação deTranstornos Mentais e o mesmo marcador F32 para de-


de Comportamento da CID-10 - pressão, ou F10 para transtornos
por uso de álcool. No entanto, há
Diretrizes Diagnósticas e várias inovações, algumas até au-
de Tratamento para Transtornos daciosas. Com apresentação bas-
Mentais em Cuidados Primários tante didática e convidativa, neste
Organização Mundial da Saúde. 1998. Porto Alegre: Artes Mé- livro há duas páginas para cada
dicas. 105 páginas. ISBN 85-7307-326-8 um dos transtornos mentais: na pri-
meira delas, a página de diretrizes
Nós, psiquiatras, pouco duvidamos da importância do nosso diagnósticas, sempre na página à
papel diagnóstico e terapêutico diante de pessoas portadoras de esquerda de quem abre o livro, há
transtornos mentais, principalmente aquelas com transtornos mais um resumo das principais queixas apresentadas pelos pacientes,
graves e debilitantes como a esquizofrenia e outros transtornos um resumo dos aspectos diagnósticos relevantes e alguns da-
psicóticos. No entanto, sabemos também que nossos esforços dos para um diagnóstico diferencial. A segunda página, sempre
especializados, por mais valiosos que sejam, são dedicados ape- à direita, traz a novidade deste livro: ela contém as diretrizes de
nas a uma pequena parcela do total de pessoas que têm suas tratamento, com informações essenciais para o paciente e famili-
vidas prejudicadas por algum tipo de transtorno mental. Como já ares, recomendações para os mesmos tentarem manejar os sinto-
demonstraram diversos estudos epidemiológicos, inclusive al- mas, alguns dados sobre o uso de medicação e até sugestões de
guns realizados no Brasil, a maioria dos portadores de transtor- quando consultar um especialista. Os apêndices são bem inte-
nos mentais não se encontra nos ambulatórios e consultórios de ressantes, contendo inclusive um índice de sintomas e dois flu-
psiquiatria, e muito menos nos hospitais psiquiátricos, mas sim xogramas para auxiliar a tarefa diagnóstica.
na rede básica de saúde, também chamada de rede de cuidados Apesar de claramente dirigido à equipe de cuidados primári-
primários. Fazem parte desta rede os serviços de pronto-atendi- os de saúde, este livro deveria fazer parte da biblioteca pessoal
mento, os centros e postos de saúde, os ambulatórios e consul- de todos os psiquiatras. Poderia, quem sabe, de início, servir
tórios de clínica médica, de gastroenterologia, cardiologia, neu- como facilitador da comunicação entre estes e os demais pro-
rologia, etc. E são justamente os médicos — não os psiquiatras fissionais que atuam nesta vasta rede de atendimento primário.
— e demais membros das equipes de saúde que atuam na rede de Todos teriam muito a ganhar com esta maior aproximação, prin-
cuidados primários, aqueles que de fato detectam e tratam da cipalmente nós, psiquiatras, que temos muito o que aprender
maior parte da morbidade psiquiátrica de uma comunidade. Só com os nossos colegas que de fato cuidam da maioria dos trans-
para se ter uma idéia, calcula-se que cerca de 90% dos indivíduos tornos mentais da população. Sabemos que, com muita freqüên-
com algum tipo de transtorno mental procuram atendimento na cia, esses colegas prescrevem psicotrópicos e utilizam inter-
rede de cuidados primários, enquanto menos de 10% deles (certa- venções psicoterápicas de vários tipos, principalmente de ca-
mente aqueles mais graves) recebem atenção na rede especializada ráter suportivo. Com muita freqüência também, a reação dos
de ambulatórios e hospitais psiquiátricos. psiquiatras é crítica, dizendo que as doses de psicotrópicos
Com base nesses fatos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) são subterapêuticas, e que a psicoterapia é inadequada. Será
tem feito de tudo ao seu alcance para sensibilizar médicos e de- mesmo? Onde está a evidência que os transtornos que o psi-
mais agentes de saúde para essa difícil tarefa de detectar e tratar quiatra diagnostica são os mesmos que o clínico geral atende
também os transtornos mentais. É dentro da ampla iniciativa de na sua rotina diária? Será que a evidência que justifica as inter-
facilitar esta tarefa que a OMS compila e publica pela primeira venções terapêuticas para os transtornos mentais pode ser tão
vez, em 1996, essas Diretrizes Diagnósticas e de Tratamento simplesmente transportada para os transtornos observados na
para Transtornos Mentais em Cuidados Primários, agora dis- rede primária? O tema é complexo, e este livro está longe de
poníveis em português. Para um bom conhecedor do capítulo V resolvê-lo. Mas se ele puder ser útil também para os psiquia-
(dos transtornos mentais) da décima versão da Classificação In- tras, terá mais do que cumprido o seu objetivo principal.
ternacional de Doenças (CID-10), basta folhear rapidamente este
pequeno livro para notar que as diretrizes diagnósticas para a Eduardo Iacoponi
rede de cuidados primários nele apresentadas são versões resu- Departamento de Psiquiatria e Psicologia Médica da Faculdade
midas das diretrizes propostas na CID-10. Nota-se, por exemplo, de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo

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ao tratamento farmacológico, nu-


Psiquiatria Geriátrica trição, dieta e exercícios. No capí-
Por Ewald W. Busse e Dan G. Blazer. 1999. Porto Alegre: Editora tulo relativo à psicoterapia é res-
Artes Médicas Sul. 496 páginas. ISBN 85-7307-486-8 saltada a superestimação das di-
ficuldades que nutrem o mito de
Este livro, cujo título original é Textbook of Geriatric que os idosos são “rígidos” de-
Psychiatry (publicado pela American Psychiatry Press em mais para se beneficiar de uma in-
1996) está dividido em quatro partes: Ciência Básica da Psi- tervenção psicoterapêutica. As
quiatria Geriátrica, Avaliação Diagnóstica do Paciente Idoso, principais modalidades
Transtornos Psiquiátricos no Idoso e Tratamento dos Trans- psicoterapêuticas são descritas. O
tornos Psiquiátricos no Idoso. capítulo sobre o “Continuum de
A primeira metade do livro oferece ao leitor uma perspec- Tratamento: Aproximação com a
tiva histórica da evolução das teorias biológicas e psicoló- Comunidade” traz uma discussão muito atual sobre a orga-
gicas do envelhecimento. O capítulo sobre fatores sociais e nização e o financiamento dos serviços de saúde para trata-
econômicos relacionados aos transtornos psiquiátricos no mentos de longo prazo, onde “há uma contínua sensação de
idoso é muito interessante, pois chama a atenção para a im- incapacidade de oferecer atendimento adequado de saúde a
portância destes no planejamento de sistemas de saúde, em custos toleráveis, além de um contínuo interesse em alterna-
que o modelo médico tradicional pode não ser tão adequado tivas para a institucionalização”.
para o tratamento do idoso com transtorno psiquiátrico. O Em resumo, este livro fornece uma visão abrangente deste
capítulo de entrevista psiquiátrica traz uma seção sobre ava- crescente campo da psiquiatria geriátrica e certamente inte-
liação familiar muito útil, além de introduzir algumas das es- ressará àqueles que trabalham com o idoso, mesmo os não-
calas e entrevistas estruturadas mais usadas em pesquisas e psiquiatras.
mesmo na prática clínica. A última seção deste capítulo trata
da transferência e contra-transferência, de maneira breve, Sérgio Tamai
mas que certamente será proveitosa na orientação de possí- Universidade de Idosos (Unid), Departamento de Psiqui-
veis problemas na relação médico-paciente. atria e Psicologia Médica da Faculdade de Ciências
A segunda parte do livro se concentra na descrição e tra- Médicas da Santa Casa de São Paulo
tamento dos transtornos psiquiátricos em idosos. O capítu-
lo relativo aos transtornos cognitivos inclui uma extensa e
detalhada descrição de subtipos de demência e evolução
clínica, além de uma breve discussão de novos achados na
O Universo Psicológico do Futuro
genética e fisiopatologia da Doença de Alzheimer, demência Médico: Vocação, Vicissitudes
vascular, demência por HIV, e o manejo farmacológico das e Perspectivas
demências. O capítulo relativo à esquizofrenia e transtornos Por Luiz Roberto Millan, Orlando Lúcio Neves De Marco, Eneiza
paranóicos faz um resumo das perspectivas históricas e in- Rossi e Paulo Corrêa Vaz de Arruda. 1999. São Paulo: Casa do
troduz a questão da distinção entre parafrenia tardia e esqui- Psicólogo. 282 páginas. ISBN 85-7396
zofrenia paranóide clássica e estados paranóides transitóri-
os. No capítulo relativo aos transtornos de ansiedade e pâ- “Antigamente, a medicina era considerada eminentemente
nico há uma tabela útil resumindo as alternativas e estratégi- como uma ‘arte’, um conjunto de conhecimentos pragmáticos
as de tratamento farmacológico. Os transtornos do sono e e de receitas. Na atualidade ela está em vias de vir a ser a
distúrbios cronobiológicos são abordados de maneira direta ciência das ciências. Todas as ciências vão, gradativamente,
e sucinta. Os autores enfatizam a valorização dos distúrbios convergir para a sua elevação.”
de sono como sintoma e fator de institucionalização do ido- Encontramos esta afirmação no primeiro capítulo deste livro
so. Aspectos importantes da psiquiatria geriátrica, o luto e que busca, através dos estudos realizados pelo grupo Grupo
os transtornos de ajustamento são abordados com uma mai- de Assistência Psicológica ao Aluno (Grapal) – da Faculdade
or profundidade. São discutidas definições de luto “normal” de Medicina da Universidade de São Paulo, funcionando há
e “anormal”, as perdas intra e interpessoais na velhice. Estu- 12 anos – , não só avaliar e detectar as dificuldades dos estu-
dos longitudinais de luto, fatores de risco para luto compli- dantes de medicina, mas também orientá-los e tratá-los atra-
cado e intervenções terapêuticas são apresentadas. Uma dis- vés de psicoterapia breve, orientação familiar e grupos de re-
cussão sobre transtornos de ajustamentos encerra o capítu- flexão sobre identidade médica e relação médico-paciente.
lo, ressaltando a raridade de estudos sobre uma condição No livro, os autores fazem uma gostosa viagem, começan-
tão comumente observada em idosos. do pela vocação médica, falando das aptidões menores com a
A última parte do livro é dedicada ao tratamento dos trans- escolha profissional. São temas sobre os quais os autores
tornos psiquiátricos em idosos e inclui capítulos relativos levantam hipóteses e sugestões para a continuidade dos

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estudos deste tão delicado proble- mos distúrbios do comportamento que podem agravar a re-
ma que é o desvendar da vocação mé- lação médico-paciente e aumentar os problemas psiquiátri-
dica. cos entre acadêmicos, chegando até os suicidas, já que eles
Nos capítulos seguintes, passa- procuram o serviço de aconselhamento somente em perío-
mos para o curso médico, a dificul- dos de crise. Neste capítulo podemos nos avaliar e
dade de se chegar ao curso, o mode- reavaliarmos a conduta de colegas que não entendíamos na
lo de escolha dos futuros médicos, época da faculdade . Este é um exercício bastante interes-
as novas idéias e novos currículos sante. Quanto a considerações sobre erro médico, a discus-
para a Faculdade de Medicina da Uni- são é elucidativa, a conclusão nos leva a reflexões quanto à
versidade de São Paulo e outras fa- formação nos cursos de medicina, permitindo que também
culdades, assim como outros méto- extrapolemos o assunto para a nossa prática diária.
dos de aprendizagem. Na conclusão, dados reveladores de Finalizando, o livro traz várias entrevistas com professores
uma profissão que coloca o jovem médico em estado de eméritos que falam de suas vidas como acadêmicos e professores,
estresse antes mesmo de entrar no mercado de trabalho. As das quais extraímos lições imediatas. Nas entrevistas com estu-
relações entre alunos, professores e pacientes são tratadas dantes do primeiro ao sexto ano, temos toda a trajetória de um
de forma clara e objetiva, conceitos são elucidados e sonho até o encontro com a realidade que é ser médico. Este livro
distorções são apontadas. Neste capítulo a ética é discutida é uma luz que começa a ganhar força e iluminar um horizonte maior,
e é sugerida a sua inclusão em cursos de pós-graduação. principalmente neste momento, em que várias faculdades surgem
Quando os autores avaliam o estudante de medicina e o lançando ainda mais jovens no mercado de trabalho.
seu estado emocional ao longo de três capítulos e culminam
com o tratamento nas diversas universidades, mostram-nos José Manoel Bombarda
uma realidade assustadora, principalmente hoje, onde o aca- Psiquiatra, membro do Conselho
dêmico de medicina é ainda mais jovem e inexperiente. Te- Regional de Medicina do Estado de São Paulo

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