Você está na página 1de 718

Teologia e

Metodologia da<~>

Editor
Elias Brasil de Souza

C ach o eira, BA
Brasil

CePLiB

Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia

201 1
Copyright © CePLiB

Centro de Pesquisa em Literatura Bíblica (CePLiB)


Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia

Br 101, Km 197, Estrada de Capoeiruçu


Caixa Postal 18 - Cachoeira, BA, Brasil
CEP: 44300-000
www.seminarioadventista.edu.br

IMPRESSO NO BRASIL/Printed in Brasil

Ia Edição, 2011

Direção editorial: Elias Brasil de Souza


Secretária: Tânia Maria Gomes de Sousa
Projeto gráfico e editoração: Patrick Ferreira
Supervisor de revisão: Tiago Henrique N. Vasconcelos
Assistentes de revisão: Makson Castelo, Edivandro de Todos os direitos reservados. Proibida a
Paula Castro, Weverton de Paula Castro e reprodução total ou parcial, incluindo textos,
Willemani Becker imagens e desenhos, por qualquer meio, quer
Revisão em espanhol: Nancy Raquel Wabeke dos Santos por sistemas gráficos, reprográficos, fotográ-
Revisão em português: Adenilton Tavares Aguiar e ficos, etc., assim como memorização e/ou
Everton Cardoso dos Santos recuperação parcial, ou inclusão desse trabalho
Capa: Naassom Azevedo (NBAz - Artes Gráficas) em qualquer sistema ou arquivo de processa-
Diagramação: Patrick Ferreira e Makson Castelo mento de dados, sem prévia autorização escrita
Tradução: Rejane Célia de Souza Godinho do autor e da editora, sujeitando o infrator as
Impressão e acabamento: Editora Parma LTDA penas da lei disciplinadora da espécie.

Ficha catalográfica elaborada pelo


Bibliotecário Uariton Boaventura CRB 5/1587

T3143 Teologia e metodologia da missão: palestras teológicas


apresentadas no VIII simpósio bíblico-teológico sul-americano /
Editado por Elias Brasil de Souza: CePLiB, 2011
742 p . ; 23 cm.
Contém notas
ISBN: 978-85-88818-14-9
1. Missiologia. 2. Evangelização. 3. Teologia - Igreja
Adventista do Sétimo Dia. I. Titulo.
CDD 266.001

índices para catálogo sistemático:

1. Missiologia. 266.001
2. Evangelismo. 269
3. Teologia - Igreja Adventista do Sétimo Dia 286.732
SUMARIO

mmtiiiiiiimiiiniijn ‫׳‬imiuimi

PREFÁCIO ■iiitiiiiiiiiiiiiiiiiiimiiiiiiiiiiimiiinimmmiiiiiiiimi l1IIJrllltlll1m1l1r1lll!lll!1m!lltllllIllllllllllllllMIItllllll!llllllll|]||lllllll|j|||JIMIIII)ll]l"llr1l imiiiiiui xi

PALESTRA DE ABERTURA

Missiologia adventista do sétimo dia, 1844-2010: breve panorama


histórico
Alberto R. Timm lllIIIIIIIII11n1m1llllllllrllllllll1r1lllll1mm1Illll!llt!IIIIIIIIIIIIIIINIIII1:llllll|[l1m1l1lllllllllllIlllllllllllll)l1m1IIIIIIIIIIIIIINIIIllNlllllllllllllllllllllillllllllm1r! 03

TEOLOGIA DA MISSÃO

A missão e a obra de Deus entre os gentios no Antigo Testamento


Jiri Moskala 1111111111111111111111111111111111111111M1111(11111111m11i111111111111m11111111j111111r11111111)!1111111N1m11m1111111111111111111111!1111111111111111M1111111111111m1mm111111111111111111111111111111lM11 31

La misión de Ia Iglesia a Ia luz de los oráculos contra Ias naciones en el


Antiguo Testamento
Carlos Elias Mora 59 .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1. . . . . . . . . . . i i i i i i i i i i i i i i i . . . . . . .

Daniel ejemplo de compromiso con la vision integral de Ia misión y unidad


de Ia iglesia
Merling Alomía ......................................... ......... . 85

Cheios do Espírito: a missão nos Evangelhos e em Atos


Clinton W ahlen 1111111111111!11m111111]11111111i1m!111111[111111111m111111!!11r11m1111111m11111]111111mM111111111m11111111111j111111111111!11m1111m111111111111111m11111l1m11111(1111111111111111!111111111111111 103
vi

A substituição do templo no evangelho de João e suas implicações


missiológicas
Samuel Muniz Bastos iimiiiiiiiiiiiiimimimiiiiiiiiiimiiiimiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimiiiiiiiiiiiiiiiiiimiiiiimiiiiiiiiiiimmiiiiiiiiiiiiiiiiiii 11 1

Missão no Apocalipse
Ekkehardt Mueller m!1111111m111111111m!m111111111111'11mmm1111111mm1m11H1111111M1M1111m1111m1m111111111!11m1111111111111111m111111111 129

Transformação da cosmovisão e missão: narrativa, teologia e ritual no


Apocalipse
Larry L. Lichtenwalter ................................................. . 171

El mensaje del remanente en el tiempo del fin: el mensaje de los tres


ángeles de Apocalipsis 14:6-1 2
Oscar Mendoza Orbegoso 207 iiiiiiiiiiiiiiiMiimiiiiiiiiiiiiiimiimiiiiiiiiiiiiiiiiiiimiiiimiiiiiiiiiiiiiiiiimiiiimiiiiiimiiiiiiiiiiKiiiiimmiiiiiiiiiimiiiiiii

La misión como vínculo real del creyente con Cristo y con Ia Iglesia, según
Colosenses 1:24-2:3
Mario Veloso 241 iiimiiiiiiuiiiiiiiiiimiiniiiiiiiin: niiiiiiiniiiimin 1111iiiiiiiiitiiniin iiiiiiiiiiiiimiiiiiiiimiimimiiiiii

O Espírito da missão: um paradigma pneumatológico para a atividade


evangelizadora da igreja
Marcos de Benedicto 267
1m!11m1m111!11111m111111t111111111j11111111111111m111]11m111111111111m1t11m!!111m111m111m!1m11m1111111111!11111111111m111111111m1m111111m1mm111[

Religiões mundiais e salvação: ponto de vista adventista


Ángel Manuel Rodriguez mmiiiiiimimmmitiiiiiiMiiiiimiiiiiiimiiiimiiiiimiiiiiiiiiiimiiiiiiiiiiiiiiiiimiiiimiiiiiiiiiiiiiiiiimiiiiiiimimiuimiiiiiiiiiiiiii! 325

Os pequenos grupos e a hermenêutica: evidências bíblicas e históricas em


perspectiva
Wilson Paroschi 343
..................................................................................................................................................... ............. ...................... uniu..................................................
vii

O método crítico-histórico e suas consequências missiológicas na Igreja


Luterana dos Estados Unidos
Leonardo Godinho Nunes .............................................................. ......... 371

Aspectos missiológicos e históricos da Igreja Adventista do Sétimo Dia


Wilson Borba 401 1::1!11mm11111111ru1 ‫!׳‬t1111t111111!111t1111111l1!m;

METODOLOGIA DA MISSÃO

El Todopoderoso en Ia misión de bendecir a todas Ias etnias de Ia Tierra


Daniel Rode 423
iiiiiiiiiiimiiiiiiiiiiiiiiiiiiiniiiiiiiiiiiiiiminiiiiiiiiiiiiiiNiiiiiiiiiiiiiiiiiiuiiiiiimmiiMimiiiiiiiiiimiiiiiiiiiKiiiiiiiiiiiiiiiiiinimiiiiiiiiiiiii

Educação missiológica e a missão global: perspectivas teológicas e


metodológicas para a Igreja Adventista
Wagner Kuhn 1 ............... .... ................ iiiiiiiiiii !‫ווו וווו‬.. .... . 443

Hacer discípulos: mandato y recomendaciones


Bruno Alberto Raso 111111111111[1m111111>111r!mm11111111111m1t1111111!111{1111111111M111m111(1111111111111111J1m1111111111m11111t11111111m111111111111111‫׳‬J11111111m11111111111m11f1111111m 465

Serviço Voluntário Adventista: motivando e treinando futuras gerações de


missionários
Marly L. Timm ...................................................................................... 483

Los dones espirituales y los ministérios: herramientas efectivas para


cumplir Ia misión hoy
Miguel Angel Salomon iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiMiimiiiiiiiiiniiiiimiiMiiiiiimiiiimiiiiiiiiiiiiiJiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimimiMimiiimiiiitiiiiiiiiiiiiiiiiiiimiiiimimiiii 497

Las publicaciones y Ia evangelización


C arlo s A. Steger iriiiiiiiiiiimiriiiuiiimiiiimiiNiiiiiiimmiiiiiiiiiiiNimiiiiiiiiiiiiimiiiiiKiiiiiiiiiiiiiiimiiii ............. 51 1
VIII

La plantación de iglesias en territórios no alcanzados: un axioma para el


cumplimiento de Ia misión en Ia DSA
Cristhian Álvarez Zaldúa 523 iiNiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiMiiiiiimiiiimiiiiiimimiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiMiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiifiiiiiiiiiiiimiiiiiiiiimiiiiiiiiiiiiiiiiim

Comercializando o Evangelho
Ed Zinke imiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiitiiiiiiimmiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimiiiiiimiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimniiiiiiiimiiiiimiiKiimiiiiiiiiiiiiii 539

Modelo de desenvolvimento de líderes apostólicos


Emilio Abdala .................. ...............................................................................1...... ...... ............ ..... .......................mm......... ‫נו‬....... iiiiuiin..... ........ mim 551

Ministrando a las multitudes de las metropolis


Juan Carlos Pizarro 111111111111111111!111!11u1mh111j11111111111r111m1m11mm11111!mm1m1111111111111r1111111111m1m11111111m111!1111111m111!11m11111111111!11m111111111J111111m1111 575

Relación entre misiología y salud a Io largo de Ia historia


Paulo dos Santos .....................................................................................................................................................................................................................................mim 585

As relações de poder na Igreja e suas implicações para o modelo


congregacionalista e a missão da Igreja
Ozeas C. Moura .......................................................... .............. 605

La obra humanitaria en Ia misión de Ia Iglesia Adventista


Sergio Becerra ........................................................... .................................. ........................................... um..... ........................................... min............. . 619

Missão e ministério no mundo pós-moderno


Zinaldo A. Santos 11N111!11111m111m111111111111m1m1m11j111!11m1m11111m111111m1t1111111m1m1m11!111111111m1M!1111111!11m11J1111111111m1N1111111111r111111!111111111111m1111111m111111 631

A importância da cosmovisão para o ministério no século XXI


Paulo C ândido de O live ira IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIimiMIIIIIIIIIIIIIINIIIIIIIIIIIIIIIINIIIllllimmlIlllllllllllllllllllllllllllllllllllimillIllltllll 641
IX

MENSAGEM DE ENCERRAMENTO

“É chegada a hora do seu juízo”


Ted N. C. Wilson .......... 669

APÊNDICE

A missão adventista no mundo


Declaração de Consenso ..... ............ .................... 685 ‫״‬

ÍNDICES

índice de autores .......................................................................................................... 691

índice de referências bíblicas ................................................................................ 71 1


PREFÁCIO

1111111m111M1111111m1mm11111111!11m1n111:1111111!11111111m111N11111u1111111111mm11111111!11mm1111111111111111m111111111m11111111111111111111111m1!um1u

A presente obra contém palestras apresentadas no VIII Simpósio


Bíblico-Teológico Sul-Americano, sob o tema “Teologia e Metodologia da
M issão”, realizado no período de 16 a 19 de julho de 2009, no Seminário
Adventista Latino-Americano de Teologia (SALT), situado no campus das
Faculdades Adventistas da Bahia. Palestrantes de diferentes regiões do
Brasil e de outros países se reuniram em Cachoeira (Bahia), objetivando
apresentar palestras sobre a missão da igreja em suas várias perspectivas
a um a vasta e ávida audiência. As diferentes abordagens enriqueceram o
evento, contribuíram para uma percepção mais ampla da importância da
missiologia e demonstraram a vitalidade deste tema entre pesquisadores e
líderes adventistas.
N a preparação deste volume, as palestras foram organizadas em
duas seções principais, segundo o tema geral do simpósio e título desta
obra. A seção Teologia da Missão contém as palestras mais diretamente
pertinentes à missão em suas abordagens exegéticas e teológicas, incluindo-
se temas de caráter hermenêutico e histórico. Na seção Metodologia da
Missão, foram incluídos os temas que tratam dos aspectos metodológicos
da missão. Nem sempre foi fácil atribuir um determinado artigo a sua
seção correspondente, uma vez que alguns trabalhos combinam aspectos
teológicos e metodológicos. Nestes casos, o editor se valeu de sua
percepção e tomou a decisão que lhe pareceu mais coerente com a obra
como um todo.
O editor reconhece que a realização do Simpósio e a edição e
publicação desta obra só foram possíveis devido à contribuição de várias
XII

instituições e indivíduos. Vale ressaltar e agradecer 0 apoio dado ao evento


pela Divisão Sul-Americana, União Nordeste Brasileira e Faculdades
Adventistas da Bahia. De fundamental importância para o êxito do evento
foi o apoio da Reitoria do SALT na Divisão Sul-Americana em conjunto
com as sedes regionais do SALT nas seguintes instituições: Universidade
Peruana Union, Colégio Adventista del Ecuador, Universidad Adventista
de Bolivia, Universidad Adventista de Chile, Universidad Adventista
del Plata, Centro Universitário Adventista de São Paulo e Faculdade
Adventista da Amazônia. Destaca-se também o apoio da União Noroeste
Brasileira, União Norte Brasileira, União Centro-Oeste Brasileira, União
Este-Brasileira, União Central-Brasileira e União Sul-Brasileira.
Cabe ainda mencionar 0 inestimável apoio da Associação Geral,
Biblical Research Institute, Adventist Theological Society, Casa
Publicadora Brasileira e Asociación Casa Editora Sudamericana.
Agradecimentos também são devidos aos palestrantes que, ao apresentaram
os temas missiológicos sob várias perspectivas, enriqueceram o evento e
justificaram a publicação da presente obra.
Algumas pessoas contribuíram para a revisão e editoração do
presente volume, cujos nomes devem ser mencionados: Patrick Ferreira
(atualmente pastor na Associação Paulista Leste), que, além de contribuir
significativamente na organização do evento, trabalhou ativamente na
editoração e diagramação do presente volume; Nancy Raquel Wabeke dos
Santos (Universidad Adventista de Bolivia), que ofereceu uma inestimável
colaboração na revisão dos artigos em espanhol; Tiago Henrique Nogueira
Vasconcelos (formando em teologia pelo SALT na Bahia), que colaborou
ativamente no processo de revisão do material em todas as fases da
produção da presente obra.
E importante agradecer também a Tânia Sousa, secretária da sede
regional do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia na Bahia,
por sua dedicação e incansáveis esforços por ocasião do Simpósio e na
XIII

coordenação das atividades diárias do Seminário de Teologia, incluindo-se


aquelas que facilitaram a produção do presente volume.
Principalmente, a Deus, razão de tudo o que somos e fazemos, seja
a glória, pois a Ele devemos a gratidão pelas bênçãos proporcionadas pelo
evento do Simpósio. A Ele oramos para que a contribuição desta obra não
se restrinja à esfera do conhecimento intelectual, mas se reflita na prática
ministerial, estimulando estratégias missionais cada vez mais eficazes.
Que esta obra contribua para conscientizar cada leitor da responsabilidade
que temos de pregar “este evangelho do reino por todo o mundo, para
testemunho a todas as nações. Então, virá 0 fim” (Mt 24:24).

O editor
PALESTRA DE
ABERTURA
MISSIOLOGIA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA,
1844-2010: BREVE PANORAMA HISTÓRICO

Alberto R. Timm
Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia
Reitor

11111m1111m1111111111111!1111M1111111111111111111111111111111111111111M11m1111111111111u1111111111111111mm

A Igreja Adventista do Sétimo Dia é uma denominação movida pela


missão, com propósito específico de proclamar o “evangelho eterno” a
“cada nação, e tribo, e língua, e povo” (Ap 14:12).1 O cumprimento dessa
tarefa é motivada pela promessa de Mateus 24:14: “E será pregado este
evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações.
Então, virá o fim.” De acordo com o autor não-adventista Booton Hemdon,

Certamente não existem outras vinte e quatro palavras [como


as de Mateus 24:14, em inglês] que tiveram um impacto tão
direto em tantos povos do mundo. Pois os adventistas do
sétimo dia aceitam esta mensagem literalmente. Para eles ela
significa o seguinte: quando as boas novas da vinda de Cristo
tiverem sido pregadas a cada pessoa viva em particular, então
o mundo chegará ao fim, Cristo voltará, e os justos viverão
felizes para sempre.
Nenhum empreendimento humano poderia ter um fim mais
glorioso! E para apressar o dia em que o evangelho terá sido
pregado ao último homem sobre a terra, os adventistas do
sétimo dia têm ido a todo o mundo.2

1Todas as citações bíblicas sem uma referência específica são de João Ferreira de
Almeida, Versão Revista e Atualizada no Brasil, 2a edição.
2Booton Hemdon, The Seventh Day: The Story o f the Seventh-day Adventists (New
York: McGraw-Hill, 1960), 23. Ver a resenha crítica por Η. Μ. Tippett sobre The Seventh Day
4 I Alberto R. Timm

Estudos elucidativos expõem o desenvolvimento do pensamento


missionário adventista e da expansão missionária adventista. Entre as
exposições mais significativas do pensamento missionário estão as teses
doutorais Foundations o f the Seventh-day Adventist Message and Mission
(1977), de P. Gerard Damsteegt,3 e “The Development o f Seventh-day
Adventist Missionary Thought: A Contemporary Appraisal” (1983), de
Borge Schantz.4 O crescimento e a expansão das missões adventistas
têm sido expostos em Historical Sketches o f the Foreign Missions o f the
Seventh-day Adventists (1886)5 e Our Story o f Missions for Colleges &
Academies (1921), de William A. S picer6; bem como em algumas das
principais histórias do adventismo como A History o f the Origin and
Progress o f Seventh-day Adventists (1925), de M. Ellsworth Olsen7;
Origin and History o f Seventh-day Adventists, 4 vols. (1961-1962), de
Arthur W. Spalding8; Seventh-day Adventist Encyclopedia, 2“ ed. rev.,
CommentaryReference Series, vols. 10-11 (1996)9; e Light Bearers (2000),
de Richard W. Schwarz e Floyd Greenleaf.10

em The Advent Review and Sabbath Herald (doravante RH), 24 de novembro de 1960,25.
3P. Gerard Damsteegt, Foundations o f the Seventh-day Adventist Message and
Mission (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1977).
4Borge Schantz, “The Development o f Seventh-day Adventist Missionary
Thought: Contemporary Appraisal” (tese de Ph.D., Fuller Theological Seminary, 1983).
5Historical Sketches o f the Foreign Missions o f the Seventh-day Adventists. With
Reports o f the European Missionary Councils o f 1883, 1884, and 1885, and a Narrative
by Mrs. E. G. White o f Her Visit and Labors in These Missions (Basel: Imprimerie Ply-
glotte,1886).
6William A. Spicer, Our Story o f Missions for Colleges & Academies (Mountain
View, CA: Pacific Press, 1921).
7M. Ellsworth Olsen, A History o f the Origin and Progress o f Seventh-day Adven-
tists (Washington, DC: Review and Herald, 1925).
8Arthur W. Spalding, Origin and History o f Seventh-day Adventists, 4 vols. (Wash-
ington, DC: Review and Herald, 19611 9 6 2 ‫) ־‬.
9Don F. Neufeld, ed., Seventh-day Adventist Encyclopedia, 2nd rev. ed., Commen-
tary Reference Series, vols. 10-11 (Hagerstown, MD: Review and Herald, 1996), passim.
10Richard W. Schwarz and Floyd Greenleaf, Light Bearers: A History o f the Sev-
enth-day Adventist Church, rev. ed. (Nampa, ID: Pacific Press, 2000); publicada empor-
tuguês como Portadores de Luz: História da Igreja Adventista do Sétimo Dia (Engenheiro
Coelho, SP: Unaspress, 2009).
Missiologia Adventista do Sétimo Dia, 1844-2010 | 5

Existem também algumas tentativas esclarecedoras de categorizar o


desenvolvimento da missiologia adventista do sétimo dia. Por exemplo, o
livro Misión de la Iglesia Adventista (1980), de W emer Vyhmeister, divide
o desenvolvimento nas seguintes cinco fases: (1) “Missão Limitada aos
‘Adventistas’ (1844-1852)”; (2) “Missão Limitada à América do Norte
(1852-1874)”; (3) “Missão Limitada aos Países Cristãos (1874-1901)” ; (4)
“Missão a Todo o Mundo (1901 -c. 1950)”; e (5) “Esforços Para Sistematizar
a Missão (c. 1950- )”.‫ ״‬George R. Knight, em seu artigo “From Shut
Door to Worldwide M ission” (1992), sugere quarto fases: (1) “O Povo
Anti-M issão” (1844-1850); (2) “Um Porta Parcialmente Aberta” (1850-
1874); (3) “Missão às Nações Cristãs (‘Protestantes’)” (1874-1889); e (4)
“Missão ao M undo” (1890- ).112 Posteriormente (2005), Knight propôs as
seguintes cinco fases: (1) “O Período da Missão da Porta Fechada (1844-
1852)”; (2) “Uma Porta Parcialmente Aberta (1852-1874)” ; (3) “Missão
às Nações Cristãs (‘Protestantes’) (1874-1889)” ; (4) “Missão ao Mundo
(1890-década de I960)”; e (5) “Missão com uma Consciente Intenção
(década de 1960s-presente)” .13
O presente artigo prove uma breve descrição histórica do
desenvolvimento da missiologia adventista do sétimo dia entre 1844 e 2010.
Esse desenvolvimento é considerado dentro de quatro períodos distintos:
(1) Missão Restrita à América do Norte (1844-1874); (2) Missão a Todos
os Continentes (1874-1901); (3) Missão a Todos os Países (1901-1990); e
(4) Missão a Todos os Povos (1990- ). O conteúdo básico gravita ao redor
do escopo, da mensagem e dos métodos. As informações fornecidas neste
artigo podem prover uma moldura básica para outros estudos.
11Wemer Vyhmeister, Misión de la Iglesia Adventista (Brasilia, DF: Seminário Ad-
ventista Latinoamericano, 1980), 39-60.
12George R. Knight, “From Shut Door to Worldwide Mission: The Dynamic Con-
text o f Early German Adventism”, em Baldur Ed. Pfeiffer, Lothar E. Trader, e George R.
Knight, eds., Die Adventisten und Hamburg: Von der Ortsgemeinde zur internationalen
Bewegung (Frankfurt am Main: Peter Lang, 1992), 46-69.
13George R. Knight, “Historical Introduction”, na reimpressão de Historical
Sketches o f the Foreign Missions (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2005),
v-xxvi.
6 I Alberto R. Timm

Missão restrita à América do Norte (1844-1874)

A experiência adventista do sétimo dia inicial confirma o princípio


de que a mensagem precede a missão. Após o desapontamento milerita
de outubro de 1844, os fundadores do emergente adventismo sabatista
começaram um período de dedicado estudo da Bíblia, culminando na
formação de um sistema de restauração da “verdade presente” . Esse
sistema abrangia (1) “as doutrinas escatológicas derivadas do cumprimento
histórico e/ou supra-histórico das profecias escriturísticas específicas do
tempo do fim” (como o juízo investigativo pré-advento) e (2) “as doutrinas
históricas da Escritura que haviam sido ignoradas e desconsideradas pela
maior parte da igreja cristã, mas que seriam restauradas no tempo do fim”
(como o sábado do sétimo dia).14 Ao redor dos fatores integrativos do
santuário de Daniel 8:14 e das três mensagens angélicas de Apocalipse
14:6-12 se agruparam doutrinas distintivas como (1) a perpetuidade da lei
de Deus e o sábado do sétimo dia, (2) o ministério celestial de Cristo, (3)
a segunda vinda de Cristo, (4) a imortalidade condicional da alma, e (5) o
dom profético.15
O processo de formação doutrinária gerou uma crescente consciência
missionária adventista, grandemente em termos de restauração das
verdades bíblicas dentro do contexto escatológico do tempo do fim. Várias
imagens bíblicas foram usadas para ilustrar esse processo de restauração.16
Uma delas foi 0 conceito de restaurar “a brecha” na lei de Deus feita pelo
descaso geral ao sábado do sétimo dia entre os cristãos (Is 58:12-14).17

14Alberto R. Timm, O Santuário e as Três Mensagens Angélicas: fatores integrati-


vos no desenvolvimento das doutrinas adventistas, 5a ed. (Engenheiro Coelho, SP: Unas-
press, 2009), 119.
15Ibid., a obra toda.
16Ibid., 120.
17Joseph Bates, Seventh Day Sabbath, a Perpetual Sign, from the Beginning, to
the Entering into the Gates o f the Holy City, according to the Commandment, 2a ed., rev.
e ampl. (New Bedford, [MA]: Benjamin Lindsey, 1847), 60; [James White], “Repairing
the Breach in the Law o f God”, Present Truth (doravante PT), n° 4, setembro de 1849,
25-29; Hiram Edson, “An Appeal to the Laodicean Church”, Advent Review (doravante
AR) Extra, setembro de 1850, 2, 5, 7, 12.
Missiologia Adventista do Sétimo Dia, 1844-2010 | 7

Outra imagem, intimamente relacionada à anterior, era a da restauração a


ser produzida pela vinda do profeta Elias antes do “grande e terrível Dia
do Senhor” (Ml 4:5). Como João Batista havia vindo no espírito e poder de
Elias para preparar o caminho para a primeira vinda de Cristo (Mt 17:10-
13), assim o adventismo sabatista havia sido suscitado no mesmo espírito
com 0 propósito de preparar o caminho para a segunda vinda de Cristo.1819
Uma terceira imagem (a mais usada de todas) era a associada com a missão
do terceiro anjo de Apocalipse 14:9-12. Hiram Edson equacionou a missão
de Elias com a do terceiro anjo ao se referir à voz de Elias “na mensagem
do terceiro anjo” .14
O escopo missional dos primeiros adventistas sabatistas foi fortemente
influenciado pela assim-chamada teoria da “porta fechada”.20 Até o início
da década de 1850, os adventistas sabatistas mantinham geralmente que,
sendo que a porta da graça havia se fechado para o mundo em 1844, a
missão deles se restringia a pregar a terceira mensagem angélica (Ap 14:9-
12) àqueles que previamente haviam aceitado a mensagem da Segunda
Vinda. Mas a partir do início da década de 1850, os adventistas sabatistas
se convenciam cada vez mais de que sua mensagem era pertinente à
comunidade cristã mais ampla e mesmo ao mundo em geral.21 O número

18H. Edson, “Appeal to the Laodicean Church”, AR Extra, setembro de 1850, 5-8,
11-13.
19Ibid., II.
20Para um estudo mais detido da teoria da “porta fechada”, ver Francis D. Nichol,
Ellen G. White and Her Critics (Washington, DC: Review and Herald, 1951), 161-252,
598-642; Damsteegt, Foundations, 104-135, 149-164, 271-282; R olf J. Poehler, and
the Door Was Shut’: Seventh-day Adventists and the Shut-door Doctrine in the Decade
after the Great Disappointment” (monografia, Andrews University, 1978); Robert W. Ol-
son. “The ‘Shut Door’ Documents” (document do Ellen G. White Estate, 1982); Arthur
L. White, “Ellen G. White and the Shut Door Question: A Review o f the The Experience
o f Early Seventh-day Adventists Believers in Its Historical Context”, ed. rev. (documento
do Ellen G. White Estate, 1982); George R. Knight, Millennial Fever and the End o f the
World (Boise, ID: Pacific Press, 1993), 236-242; Herbert E. Douglass, Mensageira do
Senhor: O ministério profético de Ellen G. White (Tatuí, SP Casa Publicadora Brasileira,
2001), 500-512. 549-569.
21Ver Vyhmeister, Misión de la Iglesia Adventista, 40-43. Ver também Neufeld, ed.,
Seventh-day Adventist Encyclopedia (ed. 1996), ver “Open and Shut Door”; Damsteegt,
Foundations, 149-164, 271-293; G. R. Knight, “From Shut Door to Worldwide Mission”,
em Pfeiffer, Trader, e Knight, eds., Die Adventisten und Hamburg, 50-57.
8 I Alberto R. Timm

de adventistas sabatistas foi mencionado por Tiago W hite como sendo


“aproximadamente cem” em 1849.22 Este número aumentou para cerca de
duzentos em 1850, dois mil em 1852,23 e 3.500 em 1863.24
Até 1849, o adventismo sabatista estava confinado à Nova Inglaterra
e ao estado de Nova York.25 As reuniões de Joseph Bates em Jackson,
Michigan, no verão de 1849, representaram um marco importante na
expansão do movimente para o oeste.26 Em 1852, o adventismo sabatista
já estava presente também em Michigan, Indiana, Wisconsin, e Canadá.27
Seguindo a expansão do movimento para o oeste, Tiago e Ellen White se
mudaram em 1855 para Battle Creek, Michigan,28 que se tom aria sede
da Igreja Adventista do Sétimo Dia até 1903.29 Em 1863, os estimados
3.500 adventistas do sétimo dia eram “encontrados ao longo de todo o

22J[ames] W[hite], “The Cause”, RH, 23 de julho de 1857, 93.


23C. Mervyn Maxwell, História do Adventismo (Santo André, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 1982), 130, 151. A sugestão de Borge Schantz de que haviam apenas 250 ad-
ventistas sabatistas em 1852 (Schantz, “Development o f Seventh-day Adventist Missionaiy
Thought”, 225) parece não estar em harmonia com a informação contemporânea de Tiago
White em “A Brief Sketch o f the Past”, RH, 6 de maio de 1852,5. Cf. Andrew G. Mustard,
James White and SDA Organization: Historical Development, 1844-1881, Andrews Uni-
versity Seminary Doctoral Dissertation Series, vol. 12 (Berrien Springs, MI: Andrews
University Press, 1987), 124, n. 3.
24Neufeld, ed., Seventh-day Adventist Encyclopedia (ed. 1996), ver “SDA Church”.
25[J. White], “Brief Sketch o f the Past”, RH, 6 de maio de 1852, 5.
26J. C. Bowles, “Dear Brother White”, PT, n° 4, setembro de 1849, 32; [J. White],
“Brief Sketch o f the Past”, RH, 6 de maio de 1852, 5. Ver também Brian E. Strayer, “The
First Church Built by Sabbathkeeping Adventists”, Adventist Review (doravante AtR), 2 de
março de 1989,25.
27J. Lindsey, “Letter from Brother Lindsey”, AR, n° 1, agosto de 1850, 13; S.. W.
Rhodes, “Letter from Bro. Rhodes”, PT, n° 11, novembro de 1850, 84-85; [J. White], “Brief
Sketch of the Past”, RH, 6 de maio de 1852, 5.
28James White, Life Incidents, in Connection with the Great Advent Movement, as
Illustrated by the Three Angels o f Revelation xiv (Battle Creek, MI: Steam Press o f the
Seventh-day Adventist Publishing Association, 1868), 297-298.
29Relatos elucidativos da experiência adventista em Battle Creek, Michigan, apare-
cem em Milton R. Hook, Flames over Battle Creek: The Story of George W. Amadon, Review
and Herald Printer, Who Shared in the Early Successes and Tragedies o f the Seventh-day
Adventist Church (Washington, DC: Review and Herald, 1977); Larry B. Massie e Peter J.
Schmitt, Battle Creek: The Place Behind the Products (Woodland Hills, CA: Windsor Pub-
lications, 1984), passim.
Missiologia Adventista do Sétimo Dia, 1844-2010 | 9

norte dos Estados Unidos, do Maine a Minnesota e M issouri”.30 Antes do


final da década de 1860, os adventistas do sétimo dia realizavam reuniões
evangelísticas também em São Francisco, Califórnia.31
Já em 1858, Tiago White mencionou a existência de adventistas
sabatistas na América do Norte que falavam “alemão, francês, norueguês,
sueco holandês, etc.” e cujo desejo era “ver publicações sobre a verdade
presente impressas em suas línguas maternas, para circularem na América
e na Europa”.32 Aquele ano viu a tradução e publicação de Nature and
Obligation o f the Sabbath, de J. H. Waggoner,33 em alemão34 e holandês,35
bem como a publicação em francês de um livreto sobre o sábado36 e de
outro sobre a Segunda Vinda.37 A publicação de literatura adventista
sabatista em outras línguas tomou-se um dos mais influentes meios de se
alcançar populações não de fala inglesa na América do Norte e além mar.
Cmcial para o estabelecimento e a expansão do adventismo do sétimo
dia fora da América do Norte foi a obra do ministro de origem polonesa

30Schwarz e Greenleaf, Portadores de Luz, 94.


31Ibid., 132-135.
32James White, “Publications in Other Languages”, RH, 6 de maio de 1858,200.
33J. H. Waggoner, The Nature and Obligation o f the Sabbath o f the Fourth Command-
ment: With Remarks on the Great Apostasy and Perils o f the Last Days (Battle Creek, MI:
Review and Herald Office, 1857).
34[J. H. Waggoner], Die Natur und Verpflichtung des Sabbaths durch das vierte Ge-
bot. Mit Bemerkungen iiber den grosen Ubfall und den Leiden der lesten Page (Battle Creek,
MI: Dampfpresse des “Review und Herald,” 1858). As imprecisões desta tradução levaram
à publicação em 1859 de uma nova tradução deste livreto ao alemão, sob o título Das Wesen
des Sabbaths und unsere Verpflichtung auf ihn nach dem vierten Gebote. Mit Bemerkungen
über den grosen Ubfall und die Gefahren der lesten Tage (Battle Creek, MI: Dampfpresse
des “Review und Herald,” 1859).
35[J. H. Waggoner], De Natuur en Verbinding van den Sabbath volgens het vierde
Gebodt; met Aanmerkingen op den groten Afval en zware Tyden in de laatste Dagen, trad.
John Fisher (Stoom Press van de “Review and Herald Office,” 1858).
36D. T. B[ourdeau], Le Sabbat de la Bible ([Battle Creek, MI: Steam Press o f the
Review and Herald Office, 1858]).
31La Grande Statue de Daniel ii, et les Quatre Betes Symboliques de Daniel vii; et
quelxues remarques sur la Seconde Venue de Christ, et sur le Cinquieme Royaume Univer-
sel, traduit de !’Anglais (Battle Creek, MI: [Steam Press o f the Review and Herald Office],
1858).
10 I Alberto R. Timm

Michael Belina Czechowski (1818-1876).38 Patrocinado pelos leitores da


revista cristã adventista World s Crisis e da revista adventista evangélica
Advent Herald, Czechowski deixou a América rumo à Europa como
missionário no dia 14 de maio de 1864.39 No velho continente, ele pregou
a mensagem adventista do sétimo dia, especialmente no norte da Itália, na
Suíça, na Hungria e na Romênia, deixando um número significativo de
conversos. Como primeiro missionário não oficial adventista do sétimo dia
além mar, Czechowski preparou o caminho para J. N. Andrews e outros
missionários oficiais que seriam enviados àquele continente.
E digno de nota que na Conferência Geral de maio de 1869, em
Battle Creek, Michigan, foram aprovados os estatutos de uma Sociedade
Missionária Adventista do Sétimo Dia, como segue:

SOCIEDADE M ISSIONÁRIA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA

Na Conferência Geral foi considerado o assunto das missões em


terras estrangeiras e lugares distantes do nosso próprio país, e foram
adotadas as seguintes regras:

ART. I- N O M E

Esta sociedade será conhecida como Sociedade Missionária dos


Adventistas do Sétimo Dia.

ART. II - OBJETIVO

O objetivo desta sociedade será enviar as verdades da Mensagem do

38Ver Michael Belina Czechowski, 1818-1876: Results o f the Historical Sympo-


sium About His Life and Work Held in Warsaw, Poland, May 17-23, 1976, Commemora-
tiong the Hundredth Anniversary o f His Death (Warsaw, Poland: “Znaki Czasu”, 1979);
Maxwell, História do Adventismo, 163-169.
39Maxwell, História do Adventismo, 166-167.
Missiologia Adventísta do Sétimo Dia, 1844-201 0 | 11

Terceiro Anjo a terras estrangeiras e a lugares distantes do nosso próprio


país através de missionários, revistas, livros, livretos, etc.

ART. Ill - MEMBROS

Qualquer pessoa que guarda os mandamentos de Deus e a fé de Jesus


pode ser membro desta Sociedade mediante o pagamento de cinco dólares
ao tesoureiro da Sociedade.

ART. IV - OFICIAIS E SEUS DEVERES

O presidente, 0 secretário e a Comissão Executiva da Associação


Geral ocuparão precisamente as mesmas funções nesta Sociedade, e
administrarão todos os assuntos pertinentes à Sociedade; mas não terão
direito a qualquer compensação financeira pelos seus serviços.

ART. V - ANGARIAR FUNDOS

Para implementar o objetivo da Sociedade, além das taxas de


ingresso, apelos serão feitos aos amigos da causa por doações de acordo
com seus recursos e a benevolência do seu coração.

ART. VI - EMENDAS

Estes regulamentos poderão ser acrescidos, alterados ou emendados


por voto de dois terços dos membros presentes em qualquer reunião regular
da Sociedade.

JAMES WHITE, presidente.


URIAH SMITH, secretário.4°*15
40James White e Uriah Smith, “Seventh-day Adventist Missionary Society”, RH,
15 de junho de 1869,197.
12 [ Alberto R. Timm

Pouco depois da organização desta Sociedade Missionária, outras


sociedades foram formadas. Por exemplo, no dia 8 de junho de 1869, um
grupo de mulheres em South Lancaster, Massachusetts, organizou-se na
primeira “Vigilant M issionary Society”,41 com o propósito de “manter
correspondência com todos que possam se beneficiar da circulação de
tratados, visita a enfermos, etc.”42 No dia 6 de novembro de 1870, em
uma Reunião Geral em New Ipswich, New Hampshire, foi estabelecida
a “Missionary and Tract Society o f the New England Conference o f S.
D. Adventists”, com o objetivo de “visitar, circular livros e tratados, e
conseguir assinaturas para os nossos periódicos” .43 O estabelecimento de
tais sociedades foi crucial para expandir a missão da igreja na América do
Norte e além-mar.

Missão a todos os continentes (1874-1901)

No dia 15 de setembro de 1874, J. N. Andrews,44 com seus dois


filhos Charles e Mary, deixou os Estados Unidos a bordo do navio Atlas
para a Europa, como o primeiro missionário oficial adventista do sétimo
dia para aquele continente. Aquele evento marcou o início do movimento
missionário adventista do sétimo dia além-mar. Em 1885 S. N. Haskell e
alguns outros partiram para a Austrália; e em 1887, D. A. Robinson foi
para a África do Sul. No dia 20 de outubro de 1890, a escuna adventista
Pitcaim deixou San Francisco, Califórnia, rumo aos Mares do Sul.45 Em

41Norma J. Collins, Heartwarming Stories o f Adventist Pioneers (Hagerstown,


MD: Review and Herald, 2007), 2:95-96.
42S. N. Haskell, “The New-England Conference Tract Society”, RH, 28 de fever-
eirode 1871,86.
43J. H. Waggoner e Μ. E. Cornell, “General Meetings in New Ipswich, N. H.”, RH,
22 de novembro de 1870, 183. Cf. “Revised Constitution o f the International Tract and
Missionary Society”, RH, 4 de dezembro de 1883, 759.
44Ver Harry Leonard, ed., J. N. Andrews: The Man and the Mission (Berrien Springs,
MI: Andrews University Press, 1985).
45Ver Fred M. Harder, “Pitcaim: Ship and Symbol”, Adventist Heritage 6 (Summer
1979): 3-15.
Missiologia Adventista do Sétimo Dia, 1844-2010 | 13

1894 F. H. Westphal foi para a América do Sul; e em 1895 D. A. Robinson


estabeleceu um posto missionário na índia. Em 1901 a denominação
alcançou um total de 78 mil membros e “havia organizado 41 missões em
todas as importantes regiões do mundo, exceto a China” .46
Entrementes, significativos desenvolvimentos doutrinários
deram uma nova forma à mensagem adventista. O mais significativo
deles foi a ênfase na justificação pela fé, após a Conferência Geral de
1888 em Minneapolis, re-energizando a denominação com uma nova
motivação espiritual (cf. 2C0 5:14).4748Mas, como subproduto, essa ênfase
acabou movendo o centro teológico do sistema doutrinário adventista
“gradualmente do extremo mais-saníndr/o-do-que-Cristo para o extremo
m ais-Cráto-do-que-santuário, sem permanecer no equilíbrio Cris to-cm-
Seu -santuário”.4i
Da perspectiva metodológica, no período em consideração foram
lançados três importantes e duradouros programas. Um foi a formação da
primeira sociedade de jovens adventista do sétimo dia por Luther Warren e
Harry Fenner em 1879. Isso foi o início das Sociedades MV (Missionários
Voluntários) que foram estabelecidas em muitas igrejas locais com o
propósito de estimular e treinar os jovens para a obra missionária.49 Outro
programa significativo derivou da sugestão de George A. King em 1881
que “livros podiam ser vendidos por pedidos”, o que marcou o início da

46Schwarz e Greenleaf, Portadores de Luz, 241.


47Para um estudo mais detido da Conferência Geral de 1888 em Minneapolis, ver A.
V. Olson, Thirteen Crisis Years, 1888-1901: From the Minneapolis Meeting to theReorga-
nization o f the General Conference (Washington, DC: Review and Herald, 1981); George R.
Knight Angry Saints: Tensions and Possibilities in the Adventist Struggle over Righteous-
ness by Faith (Washington, DC: Review and Herald, 1989); idem, A Mensagem de 1888
(Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2003).
48Alberto R. Timm, “The Seventh-day Adventist Doctrine o f the Sanctuary (1844-
2007): A Brief Historical Overview”, em Martin Prõbstle, ed., “For You Have Strengthened
M e”: Biblical and Theological Studies in Honor o f Gerhard Pfandl in Celebration o f His
Sixty-fifth Birthday’ (St. Peter am Hart, Austria: Seminar Schloss Bogenhofen, 2007), 338.
49Ver Nathaniel Krum, The AAVStory (Washington, DC: Review and Herald, 1963);
Matilda Erickson, Missionary Volunteers and Their Work (Washington, DC: Review and
Herald, s.d.).
4‫ו‬ I Alberto R. Timm

obra da colportagem adventista do sétimo dia.50 Colportores, também


conhecidos como “evangelistas da literatura” introduziram a mensagem
adventista em muitas regiões do mundo. Um terceiro programa duradouro
começou em maio de 1883, em uma reunião campal no sul da Califórnia,
na qual a chuva impediu que S. N. Haskell realizasse uma reunião regular,
e ele “reuniu um grupo ao redor dele ao centro da tenda e começou a
anunciar textos bíblicos a serem lidos por várias pessoas em resposta a
perguntas relacionadas ao assunto em discussão”.51 Este se transformou no
método adventista tradicional de preparar pessoas para o batismo.
Marcos importantes no desenvolvimento da missiologia adventista
foram as reuniões anuais do Concilio Europeu de Missões Adventistas
do Sétimo Dia realizadas na década de 1880.52 As primeiras três reuniões
ocorreram em Basiléia, Suíça, em 14-17 de setembro de 188253; de 28
de maio a I o de junho de 188454; e em 15-29 de setembro de 1885,55
respectivamente. O quarto concilio foi realizado em Great Grimsby,
Inglaterra, de 27 de setembro a 4 de outubro de 188656; o quinto, em Moss,
Noruega, em 14-21 de junho de 188757; e o sexto, em Tram elan, Suíça, no
dia 26 de agosto de 1888.58 Essas reuniões ajudaram a fortalecer a Igreja
Adventista na Europa, que se tom ou uma das mais importantes bases

50A. W. Spalding, Origin and History o f Seventh-day Adventists, 3:221.


51D. F. Neufeld, ed., Seventh-day Adventist Encyclopedia, ver “Bible Studies”.
52Ver Historical Sketches o f the Foreign Missions o f the Seventh-day Adventists
(1886). Cf. ibid., 109-10, 0 Segundo Concilio Missionário Europeu foi postergado de
1883 para 1884 devido em parte à morte de J. N. Andrews.
53A. A. John, “General Meetings at Bale, Switzerland”, RH, 17 de outubro de
1882, 648-49.
54G. I. Bfutler], “The European Council”, RH, 14 de junho de 1884, 408-9; idem,
“European Council o f Seventh-day Adventists”, ibid., 413-14.
55B. L. Whitney e A. B. Oyen, “European Council o f Seventh-day Adventist Mis-
sions”, RH, 3 de novembro de 1885, 682-85.
56B. L. Whitney e A. B. Oyen, “European Missionary Council”, RH, 2 de novem-
bro de 1886, 683-85.
57B. L. Whitney e J. H. Durland, “Report o f European Council”, RH, 19 de julho
de 1887,461-62.
58O. A. Olsen e E. W. Whitney, “The European Council o f Seventh-day Adven-
tists”, RH, 9 de outubro de 1888, 634.
Missiologia Adventista do Sétimo Dia, 1 8 4 4 1 5 | 2010‫־‬

missionárias de denominação. Muitos missionários europeus foram para a


América do Sul, África e outras partes do mundo.
Outros passos significativos foram dados para promover o espírito
missionário entre os membros da Igreja. Por exemplo, em novembro de
1885 a Sociedade Internacional de Tratados e Missionária votou que “ 0
quarto sábado de cada mês” deveria ser dedicado “aos interesses da obra
missionária” , quando “ofertas voluntárias” deveríam ser coletadas “para
a obra missionária”.59 Por algum tempo o plano do quarto sábado foi
sustentado por “leituras missionárias” mensais enviadas às igrejas. Mas
em janeiro de 1889 a Sociedade lançou o periódico mensal The Home
Missionary, com aquelas leituras e outros assuntos “pertinentes às missões
domésticas e estrangeiras”.60 Nove anos mais tarde (janeiro de 1898) esse
periódico foi substituído pelo The Missionary Magazine, “o órgão oficial
do Comitê de Missões Estrangeiras Adventistas do Sétimo Dia”.61 Em seu
ultimo número (maio de 1902), 0 Magazine mencionaria sua fusão “na
Review” com o propósito de alcançar “um maior número” de leitores.62
Em 1883 Ellen G. White afirmou na Review: “A verdadeira religião
é livre de egoísmo. O espírito missionário é um espírito de sacrifício
pessoal. Devemos trabalhar em todo e qualquer lugar, com o melhor de
nossas habilidades, para a causa do nosso M estre.”63 Cheia deste espírito,
a Sra. White trabalhou por dois anos na Europa (1885-1887)64 e por nove
anos na Austrália, Nova Zelândia e Tasmânia (1891-1900).65 Entre 1889

59O. A. Olsen e M. L. Huntley, “International Tract and Missionary Society”, RH,


8 de dezembro de 1885, 758. Ver também Geo. I. Butler, “The Fourth Sabbath in Each
Month”, RH, 15 de dezembro de 1885, 778-779.
60Editorial, “The Home Missionary and Fourth Sabbath Exercises”, The Home
Missionary, janeiro de 1889, 3-4.
61Editorial, “This Magazine”, The Missionary Magazine, janeiro de 1898, 1-2.
62Editorial, “This Magazine to Be Dropped”, The Missionary Magazine, maio de
1902, 196.
63E. G. White, “The True Missionary Spirit”, RH, 10 de julho de 1883, 433.
64Ver D. A. Delafield, Ellen G. White in Europe, 1885-1887 (Washington, DC:
Review and Herald, [1975]) Athur L. White, Ellen G. White, 6 vols. (Washington, DC:
Review and Herald, 1981-86), 3:287-373.
65Ver A. L. White, Ellen G. White, vol. 4.
16 I Alberto R. Timm

e 1890, S. N. Haskell e Percy Magan viajaram ao redor do globo em


busca de oportunidades missionárias para a igreja na África, na índia e no
Oriente. Muitos jovens foram inspirados pela série de 49 partes por Magan
no The Youth s Instructor, descrevendo sua viagem por aquelas regiões do
mundo.66
Mas o notável crescimento numérico e a expansão geográfica das
décadas de 1880 e 1890 geraram sérias dificuldades para a denominação.
A estrutura organizacional, estabelecida no início da década de 1860,
precisava ser revisada para atender melhor os múltiplos desafios de uma
igreja mundial.

Missão a todos os países (19011990‫)־‬

A estrutura organizacional da Igreja Adventista do Sétimo Dia foi


modificada significativamente no início do século 20.67 Algumas revisões

66Ver P[ercy] T. M[agan], “Round the World”, série de 49 partes em The Youth’s
Instructor, Io de janeiro de 1890,2; 8 de janeiro de 1890,6; 15 de janeiro de 1890,10; 22
de janeiro de 1890,13; 29 de janeiro de 1890, 18; 5 de fevereiro de 1890,21-22; 12 de fe-
vereiro de 1890,26; 19 de fevereiro de 1890,30; 26 de fevereiro de 1890, 34; 5 de março
de 1890, 38; 7 de maio de 1890, 74; 14 de maio de 1890, 78; 21 de maio de 1890, 81-82;
28 de maio de 1890, 86; 4 junho de 1890, 89-90; 11 de junho de 11, 1890, 94; 2 de julho
de 1890,106; 9 de julho de 1890,110; 16 de julho de 1890,114; 23 de julho de 1890,118;
30 de julho de 1890, 122; 6 de agosto de 1890, 125-126; 13 de agosto de 1890, 129-130;
20 de agosto de 1890, 133-134; 27 de agosto de 1890, 137-138; 10 de setembro de 1890,
145-146; 17 de setembro de 1890, 149-150; 24 de setembro de 1890, 153; Io de outubro
de 1890, 157-158; 8 de outubro de 1890, 161-162; 15 de outubro de 1890, 165-166; 22
de outubro de 1890, 170-171; 29 de outubro de 1890, 173-174; 5 de novembro de 1890,
177-178; 12 de novembro de 1890, 181-182; 19 de novembro de 1890, 185-186; 26 de
novembro de 1890, 189; 3 de dezembro de 1890,193-194; 10 de dezembro de 1890,197-
198; 17 de dezembro de 1890, 201-202; 24 de dezembro de 1890, 205-206; 7 de janeiro
de 1891, 1-2; 14 de janeiro de 1891, 5-6; 21 de janeiro de 1891, 9-10; 18 de fevereiro de
1891, 25-26; 10 de junho de 1891, 89-90; 17 de junho de 1891, 93-94; 24 de junho de
1891,97; Io de julho de 1891, 101-102.
67Ver Barry D. Oliver, SDA Organizational Structure: Past, Present and Future,
Andrews University Seminary Doctoral Dissertation Series, vol. 15 (Berrien Springs, MI:
Andrews University Press, 1989); George R. Knight, Organizingfo r Mission an Growth:
The Development o f Adventist Church Structure (Hagerstown, MD: Review and Herald,
2006), 75-144.
Missiologia Adventista do Sétimo Dia, 1844-2010 | 17

cruciais ocorreram na Conferência Geral de 1901 em Battle Creek,


Michigan, incluindo as recomendações que (1) fossem estabelecidas
“Uniões Associações”; (2) “a administração da obra de Missões
Estrangeiras” fosse colocada “sob a supervisão do Comitê da Associação
Geral”; (3) as “Associações, se foram capazes e estiverem dispostas”,
deveríam “enviar um número de seus obreiros para o campo missionário,
e sustentá-los lá”; e (4) “todas as Associações” deveríam “ser encorajadas
a adotar e aperfeiçoar o Plano dos Dez Centavos por Semana para a
manutenção de nossa obra estrangeira, como estabelecido ano passado pelo
Comitê de Missões Estrangeiras” .68 Após a reorganização da Associação
Geral em 1901, a denominação experimentou uma explosão significativa em
sua obra missionária. Wemer Vyhmeister explica que apenas “entre 1901 e
1926, incluídos, 2.937 missionários foram enviados, i.e. uma média de 112
por ano”.69
Durante o período em consideração (1901-1990), o teor escatológico
básico da mensagem adventista do sétimo dia foi alterado um pouco. As
idéias de Uriah Smith sobre a assim-chamada “questão oriental”, com
sua interpretação literalista do Armagedom (Ap 16:12-16),70 continuou
inquestionada até meados do século 20. No contexto da I Guerra Mundial,
muitos evangelistas e autores adventistas mencionavam a Turquia como
o “rei do norte” (Dn 11:40-45) e consideravam aquela guerra como
culminando na batalha do Armagedom; mas durante a II Guerra Mundial,
foi tomada uma abordagem bem “mais calma” .71 No entanto, já nas décadas
de 1930 e 1940 o australiano Louis Were estava expondo o conceito de que
0 Armagedom deveria ser considerado como a última batalha cósmica entre
68“General Summary o f Organizations and Recommendations, as Adopted by the
General Conference and the General Conference Committee, April 2 to May 1, 1901”,
The General Conference Bulletin, Segundo Trimestre de 1901, 501-502.
69Vyhmeister, Misión de la Iglesia Adventista, 58.
70[Uriah Smith], “Thought on the Revelation”, RH, 2 de dezembro de 1862, 5; idem,
Thoughts, Critical and Practical, on the Book o f Revelation (Battle Creek, MI: Steam Press
o f the Seventh-day Adventist Publishing Association, 1865), 255-262.
71Howard B. Weeks, Adventist Evangelism in the Twentieth Century (Washington,
DC: Review & Herald, 1969), 77-81, 184-186.
18 I Alberto R. Timm

as forças do bem e os poderes do mal (cf. Ap 19:19).72A despeito de alguma


oposição, suas idéias foram bem-aceitas em 1950 por vários membros do
Bible Research Fellowship,73 e ajudaram a establecer uma escatologia mais
cristocêntrica. Porém, desde o final da década de 1970, sob a influência de
Morris Venden,74 a ênfase escatológica da mensagem adventista estava sendo
ofuscada por um apelo mais existencialista.75
Uma nova classificação das doutrinas adventistas do sétimo dia foi
proposta no livro Seventh-day Adventists Answer Questions on Doctrine
(conhecido popularmente apenas como Questions on Doctrine) (1957).
Todas as doutrinas foram consideradas como se enquadrando em uma das
três seguintes categorias: (1) muitas doutrinas “em harmonia com os cristãos
conservadores e os credos protestantes históricos” ; (2) uma de duas ou mais
opiniões alternativas “sobre determinadas doutrinas controvertidas entre
cristãos conservadores” ; e (3) doutrinas distintivas “em poucas áreas do
pensamento cristão”.76 Esta nova classificação se harmoniza com o conceito
de que se deve começar com os “assuntos em que possais concordar” .77
Mas, por outro lado, ela colocou em evidência as doutrinas comumente
compartilhadas, em detrimento das doutrinas adventistas distintivas.

72Ver Louis F. Were, The Moral Purpose o f Prophecy (Berrien Springs, MI: First
Impressions, 1980 [publicado originalmente em 1949]).
73R. F. Cottrell, “The Bible Research Fellowship,” AtH 5 (verão de 1978): 39-52,
passim.
74Ver, por exemplo, Morris Venden, Salvation by Faith and Your Will (Washington,
DC: Review and Herald, 1978); idem, Faith that Works (Washington, DC: Review and Her-
aid, 1980); idem, How to Make Christianity Real (Arroyo Grande, CA: Concerned Commu-
nications, 1982); idem, Love God and Do as You Please (Nampa, ID: Pacific Press, 1992).
75Ver Alberto R. Timm, “Podemos ainda ser considerados o ‘povo da Bíblia’?” Re-
vista Adventista (Brasil), junho de 2001,14-16.
™Seventh-day Adventists Answer Questions on Doctrine: An Explanation o f Cer-
tain Major Aspects o f Seventh-day Adventist Belief (Washington, DC: Review and Her-
aid, 1957), 21-25; publicado em português como Questões Sobre Doutrina: O clássico
mais polêmico da história do adventismo, ed. Anotada (Tatuí, SP: Casa Publicadora Bra-
sileira, 2009), 50-52.
77Ellen G. White, Evangelismo 3a ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,
1997), 446.
Missiologia Adventista do Sétimo Dia, 1844-2010 | 19

Várias estratégias/instituições importantes foram implementadas


para promover a missão da igreja. O interesse em alcançar os judeus e os
muçulmanos levou à publicação dos livros The Jewish Problem (1940),
de F. C. Gilbert.78 e Bridge to Islam (1950), de Erich W. Bethmann.79 Na
tentativa de envolver em programas missionários 0 maior número possível
de estudantes universitários, Monte Sahlin iniciou nas décadas de 1960
e 1970 0 Adventist Collegiate Taskforce (ATC) nos campi de várias
instituições educacionais adventistas de ensino superior.80 O treinamento
de novos missionários para o campo mundial recebeu um novo impulso
com o estabelecimento, em 1966, do Institute o f World M ission no campus
da Andrews University.81 Por ocasião do Concilio Outonal da Associação
Geral, em 1968, o “Adventist Volunteer Service Corps” foi autorizado a
enviar voluntários para servir por um ou dois anos “além-mar em atividades
missionárias de sustento próprio”.82Em 1982,0 European Institute o f World
Mission foi fundado para realizar institutos de missões de forma alternativa
no Saleve Adventist Institute (França) e no Newbold College (Inglaterra).83
Importantes apelos em favor da priorização do foco missionário da igreja
foram providos por Goodfried Oosterwal em seu livro Mission: Possible
(1972),84 e por Oosterwal e outros em Servants for Christ (1980).85

78F. C. Gilbert, The Jewish Problem (Washington, DC: Review and Herald, 1942).
79Erich W. Bethmann, Bridge to Islam: A Study o f the Religious Forces o f Islam
and Christianity in the Near East (Nashville, TN Southern Publishing Association, 1950).
80Ver Monte Sahlin, Student Power in Christian Action: The ACT Movement
(Mountain View, CA: Pacific Press, 1972).
81Ver http://iwm.adventistmission.org.
82F. Donald Yost, “Autumn Council Concludes Its Work,” RII, 31 de outubro de
1968, 1; “Adventist Volunteer Service Corps Authorized,” Atlantic Union Gleaner, 28 de
janeiro de 1969, 7-8.
s3Neufeld, ed., Seventh-day Adventist Encyclopedia (1996 ed.), ver “European Insti-
tute o f World Mission”.
84Goodfried Oosterwal, Mission: Possible: The Challenge o f Mission Today
(Nashville, TN: Southern Publishing Association, 1972).
85Goodfried Oosterwal et al., Servants for Christ: The Adventist Church Facing
the ’80s (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1980).
20 [ Alberto R. Timm

O Concilio Anual de 1976 aprovou o documento “Evangelism and


Finishing G od’s Work”,86 desafiando a denominação em todos os seus
níveis e suas frentes a dar absoluta prioridade ao evangelismo. O “objetivo”
da Igreja Adventista do Sétimo Oia foi definido como proclamar a todo o
mundo o evangelho eterno de Jesus Cristo no contexto das três mensagens
angélicas de Apocalipse 14, que, além das doutrinas primordiais da igreja
cristã, incorporam as verdades distintivas do santuário e da justificação
pela fé.

Existem muitos programas e projetos excelentes que são muito


úteis para serem usados no contexto pré-evangelístico, tais
como os relacionados com a alimentação, o fumo, assistência
social, e outras ajudas sociais. Porém, úteis como possam
ser, se não conduzirem à experiência do novo nascimento
em Cristo e à aceitação dos postulados doutrinários da igreja
remanescente de Deus, eles consumirão o tempo, a atenção, o
dinheiro e os recursos da igreja sem alcançar o objetivo último
de Deus de salvar o homem para a eternidade.

Portanto, através de decisões administrativas, deve ser deixado


claro por preceito e exemplo que só receberão atenção e
financiamento os programas da igreja que ajudam a cumprir a
missão básica da igreja.87

Inspirada por esse documento, a liderança da denominação


implementou na década de 1980 uma “série de iniciativas evangelísticas
centralizadas”.88 Com um forte foco na “missão” da Igreja,89 o Concilio
Anual de 1981 aprovou o assim-chamado programa “Mil Dias de Colheita”.
Esse plano estabeleceu

86“Evangelism and Finishing God’s Work”, RH , 2 de dezembro de 1976, 14-15.


87Ibid., 14.
88Malcolm Bull e Keith Lockhart, Seeking a Sanctuary: Seventh-day Adventism
and the American Dream , 2nd ed. (Bloomington, IN: Indiana University Press, 2007), 144.
89Ver William G. Johnsson, “‘M ission’ Keynotes Annual Council”, AtR, 12 de no-
vembro de 1981, 3-9.
Missiologia Adventista do Sétimo Dia, 1844-2010 | 21

uma responsabilidade mundial, sem precedentes, de salvar


almas, dando inquestionável prioridade ao evangelismo em
todas as suas formas e em todos os níveis, por dedicar os mil
dias que precedem a Conferência Geral de 1985 em New
Orleans, Louisiana, à conquista de um milhão de almas para
Cristo. Os MIL DIAS DE COLHEITA serão lançados no
sábado 18 de setembro de 1982 em igrejas ao redor do mundo,
e terminarão no dia 15 de junho de 1985, dois sábados antes da
Conferência Geral.90

N a Conferência Geral de 1985 a igreja adotou o plano “Colheita 90


- Alcançando os Não Alcançados” para o qüinqüênio de 19851990‫ ־‬, com
os dois propósitos seguintes:
1. Duplicar, em cada divisão, união associação, campo local e igreja,
o número de batismos alcançados durante os Mil Dias de Colheita.
2. Duplicar o número de membros treinados para as atividades de
conquista de almas, de acordo com os seus dons espirituais, transformando
cada igreja adventista do sétimo dia em um centro de treinamento para o
serviço.91
Esses programas com ênfase numérica prepararam o caminho para
um plano mais ambicioso de alcançar os mais importantes segmentos
populacionais sem presença adventista ou com uma presença insignificante.

Missão a todos os povos (1990- )

O Concilio Anual da Associação Geral, de 1989, aprovou o plano de


“Estratégia Global” (renomeado depois para “Missão Global”),92com o alvo
de estabelecer, até 0 ano 2000, a presença adventista em cada um dos 1.800
segmentos populacionais do mundo com um milhão ou mais de habitantes

90“Prioratizing Evangelism - One Thousand Days o f Reaping”, AtR, 12 de novem-


bro de 1981, 8.
91“Harvest ’90 - Reaching the Unreached”, AtR, Io de julho de 1985, 26-27.
92Ver “Global Strategy o f the Seventh-day Adventist Church”, AtR, 11 de janeiro
de 1990.21-23.
22 I Alberto R. Timm

que nunca ouviram o nome de Cristo.93 O plano foi aceito e endossado


entusiasticamente pelos delegados da Conferência Geral de 1990, em
Indianápolis, com o alvo específico de mobilizar “cada crente e todas as
igrejas organizadas e instituições no cumprimento de nossa missão global” .94
Um dos empreendimentos missionários adventistas mais bem-
sucedidos é o assim-chamado “ 1000 M issionary M ovement” (1000
MM), com sede em Silang, Filipinas.95 Em 1991 a Divisão Ásia-
Pacífico (anteriormente Divisão do Extremo Oriente) votou aprovar
o 1000 Missionary M ovement como elaborado e apresentado por
Jairyong Lee, reitor do AIIAS Theological Seminary. O movimento
iniciou em 1992 como um projeto de missão global do AIIAS, mas em
1995 ele passou a ser um projeto da Divisão Ásia-Pacífico. Atualmente
ele está sob a supervisão das Divisões Ásia-Pacífico Norte e Ásia-
Pacífico Sul. Os três objetivos básicos do movimento são (1) “proteger
os jovens adventistas das más influências do mundo”; (2) “concluir
rapidamente a obra do evangelho, especialmente os territórios não
alcançados das Divisões Ásia-Pacífico Norte e Ásia-Pacífico Sul”; e (3)
“fortalecer as igrejas locais com um espírito missionário voluntário”.96
N a primavera de 1993, a Comissão Executiva da Associação Geral
aprovou a seguinte “Declaração de Missão da Igreja Adventista do Sétimo
Dia” :

A missão da Igreja Adventista do Sétimo Dia é proclamar


a todos os povos o evangelho etemo, no contexto das três
mensagens angélicas de Apocalipse 14:6-12, persuadindo-
os a aceitar a Jesus como Salvador pessoal e a unirem-se à

93“Global Strategy Goals Readied”, AtR, 3 de agosto de 1989, 7.


94“Global Strategy Resolutions”, AtR, 9 de julho de 1990, 10.
95Ver 1000 Missionary Movement, Missionary Training Manual (Silang, Philip-
pines: 1000 Missionary Movement Main Training Center, s.d.); 1000 Missionary Move-
ment Missionary Training Manual, ed. rev. (Silang, Philippines: 1000 Missionary Move-
ment Main Training Center, 2003). Mission
96“ 1000 Missionary Movement”, em www.wvc-adventist.org, acessado em
07/11/2009. Ver também w w w .1000missionary.org.
Missiologia Adventista do Sétimo Dia, 1844-2010 | 23

Sua Igreja, edificando-os em preparação para Seu iminente


retom o.97

Posteriormente (2000), Raoul Dederen falou da missão da igreja


como envolvendo as seguintes quatro dimensões: (1) ‘“ Fazer Discípulos de
Todas as N ações’”; (2) “Instruir os Crentes”; (3) “Cuidar dos Necessitados
e Sofredores”; e (4) “Glorificar a Deus” .989
Vários elucidativos estudos missiológicos foram lançados desde
meados da década de 1990. Por exemplo, em 1994 a Andrews University
Press publicou a tese doutorai de Reinder Bruinsma, intitulada Seventh-
day Adventist Attitudes Toward Roman Catholicism, 1844-1965."
Em 1998, uma importante obra foi publicada sob o título Re-Visioning
Adventist Mission in Europe, editada por Erich W. Baumgartner.100
No mesmo ano, o livro Recovering an Adventist Approach to the Life
& Mission o f the Local Church, de Russell C. Burrill, foi lançado.101
Em 1999, o livro Adventist Mission in the 21st Century, editado
por Jon L. Dybdahl, foi publicado pela Review and Herald.102 No
mesmo ano (1999) o livro Passport to Mission foi disponibilizado.103

97 “Mission Statement o f the Seventh-day Adventist Church”, AtR, 22 de abril de


1993,7.
98Raoul Dederen, “The Church”, in idem, ed., Handbook o f Seventh-day Adventist
Theology, Commentary Reference Series, vol. 12 (Hagerstown, MD: Review and Herald,
2000), 549-550.
99Reinder Bruinsma, Seventh-day Adventist Attitudes Toward Roman Catholicism,
1844-1965 (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1994).
100Erich W. Baumgartner, ed., Re-Visioning Adventist Mission in Europe (Berrien
Springs, MI: Andrews University Press, 1998).
,01Russell C. Burrill, Recovering an Adventist Approach to the Life & Mission o f
the Local Church (Fallbrook, CA: Hart Books, 1998).
102Jon L. Dybdahl, ed., Adventist Mission in the 2T 1Century: The Joys and Chal-
lenges o f Presenting Jesus to a Diverse World (Hagerstown, MD: Review and Herald.
1999).
103Ver Erich W. Baumgartner, ed., Passport to Mission, 2" ed. (Berrien Springs,
MI: Institute o f World Mission, 1999); Dheryl Doss, ed., Passport to Mission, 3" ed., rev.
(Berrien Springs, MI: Institute o f World Mission, 2009).
24 I Alberto R. Timm

Em 2005, dois importantes empreendimentos literários foram


lançados na Andrews University. Um foi a Journal o f Adventist Mission
Studies, publicado duas vezes ao ano pelo International Fellowship o f
Adventist Mission Studies (IFAMS). Como revista temática, ela cobriu
ao longo dos anos uma variedade de temas - “Bridges to Islam: Helping
Christians Understand Islamic Culture and Values”104; “Contextualization:
Presenting the Gospel in Culturally Relevant Terms” 105; “Polygamy:
Between the Biblical Ideal and Reality” 106; “Postmodernism and Secularism:
Challenges and Opportunities”107; “M ission and Church Structure: Past,
Present, and Future”108; “Short-Term Mission: The Way o f the Future?” 109;
“Who Needs Mission Theology?”110; “Mission Among Muslim Women:
A Shared Journey”111; “Responding to the Challenges: Mission Strategies
in South America.” 112 O segundo importante empreendimento literário
lançado em 2005 foi a série “Andrews University Mission Studies” -
volume 1: A Man with a Mission: A Festschrift honoring Russell L. Staples
(2005)113; volume 2: Faith Development in Context: Symposium Papers
(2005)114; volume 3: Adventist Responses to Cross-Cultural Mission,
Volume I (2006)115; volume 4: Adventist Responses to Cross-Cultural

104Journal o f Adventist Mission Studies (doravante JAMS), vol. 1, n° 1 (primavera


de 2005).
105JAMS, vol. 1, n° 2 (outono de 2005).
106JAMS, vol. 2, n° 1 (primavera de 2006).
101JAMS, vol. 2, n° 2 (outono de 2006).
mJAMS, vol. 3, n° 1 (primavera de 2007).
'09JAMS, vol. 3, n° 2 (outono de 2007).
"0JAMS, vol. 4, n° 1 (primavera de 2008).
"'JAMS, vol. 4, n° 2 (outono de 2008).
"1JAMS, vol. 5, n° 1 (primavera de 2009).
113Rudi Maier, ed., A Man with a Mission: A Festschrift Honoring Russell L, Sta-
pies, Andrews University Mission Studies, [vol. 1] (Berrien Springs, MI: Department o f
World Mission, Andrews University, 2005).
114Bruce L. Bauer, ed., Faith Development in Context: Symposium Papers, An-
drews University Mission Studies, vol. 2 (Berrien Springs, MI: Department o f World
Mission, Andrews University, 2005).
115Bruce L. Bauer, ed., Adventist Responses to Cross-Cultural Mission, Volume 1
[1998-2001], Andrews University Mission Studies, vol. 3 (Berrien Springs, MI: Depart-
ment o f World Mission, Andrews University, 2006).
Missiologia Adventista do Sétimo Dia, 1844-2010 | 25

Mission. Volume II (2007V16; e volume 5: Working with the Poor: Selected


Passages from Ellen G. White on Social Responsibility’ (2007).*11718
Um importante passo para o evangelismo via-satélite foi a “NET
'95" norte-americana, por Mark Finley. ' a qual estabeleceu a base para
um amplo uso do evangelismo de mídia pela igreja na América do Norte e
outros lugares do mundo. Além do tradicional uso do rádio e da televisão
com propósitos evangelísticos, a igreja vem expandindo significativamente
o uso do evangelismo pela internet.119Alguns dos mais ousados programas
adventistas de evangelismo integrado estão sendo implementados desde
2008 pela Divisão Sul-Americana, sob os nomes de “ Impacto Esperança”
e “Lares de Esperança”. No sábado 6 de setembro de 2008, os membros da
igreja daquela divisão saíram às ruas para distribuir aproximadamente 45
milhões de revistas e panfletos.120 No dia 30 de maio de 2009, mais de 400
mil lares adventistas foram abertos para receber famílias não-adventistas
com o propósito de estabelecerem um pequeno grupo. Em 2010, a ênfase
geral foi sobre a mensagem do sábado do sétimo dia - o dia 15 de maio foi
dedicado ao Impacto Esperança, e o dia 22 de maio, ao Lares de Esperança,
com uma distribuição em massa total de quase 11 milhões de cópias do
livro de Mark Finley intitulado Tempo de esperança (português)121 e

"6Bruce L. Bauer, ed., Adventist Responses to Cross-Cultural Mission, Volume II


[2002-2005], Andrews University Mission Studies, vol. 4 (Berrien Springs, MI: Depart-
ment o f World Mission, Andrews University, 2007).
117Rudi Maier, comp., Working with the Poor: Selected Passages from Ellen G.
White on Social Responsibility, Andrews University Mission Studies, vol. 5 (Berrien
Springs. MI: Department o f World Mission, Andrews University, 2007).
118William G. Johnsson, “The Most Ambitious Evangelistic Project Ever”, AtR,
fevereiro de 1995, 8-10; Monte Sahlin, “NET ’95 Brings Families Together” e “’The Story’
Behind NET ’95”, ibid., maio de 1995, 6-7, 20; “NET ’95 Brings Nearly 5,000 Baptisms”,
ibid., 17 de agosto de 1995, 6.
119Ver, por exemplo, Jobson D. Santos, “Uso da Internet na Evangelização Adven-
tista no Brasil” (tese de Doutorado em Teologia Pastoral, Seminário Adventista Latino-
Americano de Teologia, Centro Universitário Adventista de São Paulo, 2009).
1:0Ver Alberto R. Timm, “‘Impact Hope’ Project: An Integrated Missional Experi-
ment”, JAMS, vol. 5, n° 1 (primavera de 2009): 60-67.
11‫־‬Mark A. Finley, Tempo de esperança: 24 horas para você renovar suas ener-
gias. trad. Célia Eller Nascimento (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2009).
26 I Alberto R. Timm

Tiempo de esperanza (espanhol).122 Esses programas têm demonstrado ο


potencial missionário da igreja trabalhando de maneira integrada.

Considerações finais

A Igreja Adventista do Sétimo Dia tem tomado a sério a seguinte


declaração de Ellen G. White: “A igreja é o instrumento apontado
por Deus para a salvação dos homens. Foi organizada para servir, e
sua missão é levar o evangelho ao mundo.” 123 Com alguns dispersos e
desapontados mileritas em meados da década de 1840, aquele pequeno
movimento cresceu até se tom ar uma pujante denominação presente ao
redor do globo. Mesmo assim, existem grandes desafios a serem superados
para aumentar ainda mais seu crescimento e expansão. Um deles é o de
envolver cada membro pessoalmente em algum projeto missionário. De
acordo com Ellen G. White, “todo verdadeiro discípulo nasce no reino
de Deus como missionário. Aquele que bebe da água viva, faz-se fonte
de vida. O depositário toma-se doador.”124 Outro desafio é o de levar
o “evangelho eterno” a “cada nação, e tribo, e língua, e povo” (Ap
14:12), incluindo os mais resistentes grupos étnicos da janela 10/40.
Um terceiro desafio é 0 de superar o risco de perder a identidade
profética da igreja.125 Isto tem muito a ver com a maneira como se define
a mensagem a ser pregada, e como inter-relacioná-la com os métodos
evangelísticos. Houve uma época em que os adventistas do sétimo dia
estavam mais interessados na mensagem que deviam pregar ao mundo do
que nos métodos para comunicá-la. Mas hoje, alguns segmentos adventistas

122Mark A. Finley, Tiempo de esperanza: 24 horas para renovar tus energias, trad.
Claudia Blath (Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 2009).
123Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, 8a ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasi-
leira, 1999), 9.
124Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, 22a ed. (Tatuí, SP: Casa Publi-
cadora Brasileira, 2003), 195.
125Ver George R. Knight, A Visão Apocalíptica e a Neutralização do Adventismo:
Estamos apagando nossa relevância? (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2010).
Missiologia Adventista do Sétimo Dia, 1844-2010 | 27

estão enfatizando mais os métodos sociológico-antropológicos do que a


mensagem bíblica. Em outras palavras, parece haver maior preocupação
com a pregação e o testemunho do que com o próprio conteúdo comunicado
por esses meios. Intimamente relacionado à questão da perda da identidade
profética está também o problema da secularização.126 LeRoy E. Froom
declara que “enquanto a Igreja está evangelizando o mundo, o mundo está
secularizando a Igreja”.127
Em meio a todos os desafios de pregar o evangelho eterno aos
segmentos fundamentalistas, modernos e pós-modemos do mundo,
devemos reconhecer que “Deus vai conduzir a nobre nau que transporta
o Seu povo, em segurança, para o porto” .128 Todos os fiéis missionários
que sacrificaram sua vida no cumprimento da missão, quer em seu próprio
país ou além-mar, serão reunidos “diante do trono e diante do Cordeiro,
vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos” (Ap 7:9), a fim de
receberem a recompensa de sua obra. Então “os que forem sábios, pois,
resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos conduziram
à justiça, como as estrelas, sempre e temamente” (Dn 12:3).

1:6Ver George R. Knight, The Fat Lady and the Kingdom: Adventist Mission Con-
fronts the Challenges o f Institutionalism and Secularization (Boise, ID: Pacific Press,
1995).
‫ ־‬LeRoy E. Froom, A Vinda do Consolador (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasi-
leira. 1988), 132.
1:sEllen G. White, Mensagens Escolhidas, 2a ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Bra-
sileira. 1986), 2:390.
TEOLOGIA DA MISSÃO
A MISSÃO E A OBRA DE DEUS ENTRE OS GENTIOS
NO ANTIGO TESTAMENTO

Jiri Moskala
Andrews University e Adventist Theological Society, EUA

“Quem foi o primeiro missionário no tempo do Antigo Testamento?”


Eu fiz esta pergunta a meus alunos na índia, durante um curso intensivo.
A reação imediata deles foi mencionar vários personagens cruciais do
.Antigo Testamento: Jonas, Moisés, Abraão, Noé, Adão. Boas escolhas,
mas discordei, porque Deus foi o primeiro missionário! Desde o início, Ele
esteve envolvido em relacionamento com Sua criação.1Ele se comunicava
com Adão e Eva (Gn 3:8), procurou-os (Gn 3:9), tomou-se o Salvador da
humanidade (Gn 3:15, 21), e tentou reconquistar os pecadores antes do
dilúvio (Gn 6:3). Bosch sabiamente afirma: “Se há um missionário no Antigo
Testamento, é o próprio Deus quem trará as nações a Jemsalém para adorá-
10 junto com sua aliança, como uma ação escatológica por excelência”.2
Seu campo é o mundo todo e Sua missão (missio Dei)3 é salvar a todos:
“Olhai para mim e sede salvos, vós, todos os limites da terra; porque eu sou
Deus, e não há outro” (Is 45:22). M cIntosh define a missão de Deus como

1Deus como missionário, ver John R. W. Stott, Christian Mission in the Mod-
ern World (Downers Grove, IL: Inter-Varsity Press, 1975); Jon L. Dybdahl, “Missionary
God Missionary Church,” em Re-Visioning Adventist Mission in Europe, ed. Erich W.
Baumgartner (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1998), 8-14.
2David J. Bosch, Transforming Mission: Paradigm Shifts in Theology o f Mission
(Maryknoll, NY: Orbin Books, 1991), 19.
3A expressão latina missio Dei significa literalmente “ 0 enviado de Deus” ou “mis-
são de Deus”.
32 I Jiri Moskala

fazendo todo 0 possível para comunicar a salvação ao mundo.4 Deus não


fará essa obra sozinho. Em Seu método de trabalho, utilizará seres humanos
para realizar Seu objetivo (Gn 12:1-3; Êx 19:4-6). Wright apropriadamente
afirma que “a missão de Deus é abençoar todos os povos da terra... No
Antigo Testamento, Israel não foi escolhido por ser superior às demais
nações, mas por causa delas”.5 Assim, a atividade universal de Deus é, na
realidade, a “base para uma mensagem missionária do Antigo Testamento”.6
Deus tem uma missão e os crentes participam em Sua missão.7 Assim,
missão não é nosso desempenho, mas um compromisso com a obra de Deus.
A missão de Deus culmina no tempo escatológico, mas começa
na Criação. A teologia da missão está enraizada na teologia da criação.
Deus criou a humanidade, o que significa que todos os seres humanos
pertencem a Ele e todas as pessoas são objeto de Seu amor e missão.
Ele está buscando a humanidade.8 A salvação não pode ser separada da
Criação. Sem 0 Deus da Criação e Sua contínua atividade, não havería
missão. Uma pessoa pode experimentar a recriação e ter esperança na
nova criação no tempo do fim porque o Deus bíblico é o Criador e Doador
da vida.9 Ele não remove pessoas do mundo, mas as orienta a envolver-

4John A. McIntosh, “M issio Dei,” em Evangelical Dictionary o f World Mission,


ed. A. Scott Moreau (Grand Rapids, MI: Baker, 2000), 631-632.
5Christopher J. H. Wright, Knowing the Holy Spirit through the Old Testament
(Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2006), 99-100.
6Johannes Blauw, The Missionary Nature o f the Church: A Survey o f the Biblical
Theology o f Mission (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1974), 17.
7Moltmann destaca um excelente ponto ao escrever sobre a missão da igreja: “Não
é a igreja que tem uma missão de salvação para realizar no mundo; é a missão do Filho
e do Espírito através do Pai que inclui a igreja, criando uma igreja, conforme ela cami-
nha” (Jürgen Moltmann, The Church in the Power o f the Spirit: A Contribution to Mes-
sianic Ecclesiology [New York: Harper and Row, 1977], 64). John Stott, ao comentar 0
Congresso Internacional sobre Evangelizaçâo Mundial em Lausanne 1974, afirma que a
missão da igreja origina-se na missão de Deus: “Não podemos falar sobre missão e evan-
gelismo sem primeiro falar sobre Deus. Missão e evangelismo não são idéias originais
dos homens modernos, mas partem do eterno propósito de Deus”. John R. W. Stott, ed.,
Making Christ Known: Historie Mission Documents from Lausanne Movement 1974-
1989 (Grand Rapids, MI: W. B. Eerdmans, 1997), 9, 29-30.
SJ. L. Hromádka, Evangelium o ceste za clovekem (Praha: Kalich, 1958).
9Bernhard W. Anderson, From Creation to New Creation: Old Testament Perspec-
A missão e a obra de Deus entre os gentios no Antigo Testamento | 33

se com 0 mundo, que é objeto do amor de Deus, enquanto esperam o


restabelecimento de um novo mundo. Da posição humana, Rooy salienta:

A Criação confirma a unidade essencial da humanidade, feita à


imagem de Deus. Essa unidade fundamental é a base e o primeiro
nível de contato para toda missão entre os povos. Assim, nos
relacionamos com os povos em missão, em primeiro lugar,
firmados na humanidade deles e não em sua pecaminosidade.10

Quando o Deus Criador chamou Seu povo à existência, deu-lhe uma


missão. Não houve povo de Deus no Antigo Testamento sem uma missão;
não há eleição sem comissão. O chamado de Deus pressupõe um chamado
para a ação. A teologia bíblica é uma teologia orientada para a missão.11 As
Escrituras Hebraicas nada sabem sobre uma eleição para a salvação, mas
conhecem uma eleição para missão (Êx 3:7-10; 7:1-2; 19:5-6; Jr 1:5). A

m es (Minneapolis, MN: Augsburg Fortress, 1994); W. A. Dymess, Let the Earth Rejoice:
A Biblical Theology o f Holistic Mission (Westchester: Crossway, 1983); K. Koyama,
"New World-New Creation: Mission in Power and Faith,” Mission Studies 10 (1993): 59-
77; P. J. Robinson, “Integrity o f Creation and Christian Mission,” Missionalia 19 (1991):
144-153; C. Millar, The Gift o f the World (Edinburgh: T & T Clark, 2000).
10Sidney H. Rooy, “Creation/Nature” in Dictionary o f Mission Theology: Evan-
gelical Foundations, ed. John Corrie (Downers Grove, IL: Inter-Varsity Press, 2007), 77.
“Para teologia da missão baseada em material bíblico, consultar Daniel I. Block,
The Gods o f the Nations: Studies in Ancient Near Eastern National Theology, foreword
by Alan R. Millard, ed. David W. Baker, 2 ed., Evangelical Theological Society Studies
(Grand Rapids, MI: Baker Academic, 2000); Walter C. Kaiser, Jr., Mission in the Old Tes-
tament: Israel as a Light to the Nations (Grand Rapids, MI: Baker Books, 2000); Jon L.
Dybdahl, “Doing Theology in Mission: Part I”, Ministry (November 2005): 19-22; idem,
"Doing Theology in Mission: Part II”, Ministry (January 2006): 19-23; Howard Peskett
and Vinoth Ramachandra, The Message o f Mission: The Glory o f Christ in All Time and
Space, The Bible Speaks Today (Downers Grove, IL: InterVarsity, 2003); and Russell L.
Staples, Community o f Faith: The Seventh-day Adventist Church in the Contemporary
World (Hagerstown, MD: Review and Herald, 1999); Gerald Anderson, Theology o f the
Christian Mission (New York: McGraw-Hill, 1961); David Filbeck, Yes, God o f the Gen-
tiles Too: The Missionary Message o f the Old Testament (Wheaton, IL: Billy Graham
Center. Wheaton College, 1994); Roger E. Hedlund, The Mission o f the Church in the
World: A Biblical Theology (Grand Rapids, MI: Baker, 1991); Richard D. Ridder, Disci-
plining the Nations (Grand Rapids, MI: Baker, 1975).
34 I J iri Moskala

missão e a mensagem do povo do Antigo Testamento,12 apesar da possível


separação entre ambas, integram um todo. A missão inclui a proclamação da
mensagem.13
Não obstante, alguns estudiosos acham que é um oxímoro falar em
missão no Antigo Testamento e argumentam que na Bíblia Hebraica não
há chamado específico para evangelizar o mundo, como no caso da grande
comissão de Jesus em Mateus 28:18-20. Schnabel, por exemplo, desafia os
estudiosos, teólogos e missiólogos do Antigo Testamento com a afirmação
de que não há comissão no Antigo Testamento (em contraste com o Novo
Testamento) para ir e “evangelizar” o mundo. Abraão, Israel entre outros,
foram somente passivas testemunhas de Deus, “uma luz para o mundo”,
mas não participaram verdadeiramente da missão. Argumenta que não
há nada como um ativo plano pragmático para proclamar a mensagem
de Deus ao mundo durante o tempo da monarquia de Israel ou judaísmo
intertestamentário e, dessa forma, não se comprometeram com a m issão.14

12A doutrina da igreja é uma batata quente e uma interpretação do ensino bíbli-
co relacionado a esse assunto é uma dinamite. A primeira reforma (principalmente por
John W ycliff e João Huss nos séculos 14 e 15 A.D.) começou com uma aguda revisão
da eclesiologia. Colocou a igreja cristã em tumulto, agitou enorme controvérsia e levou
milhares de pessoas à severa perseguição e morte. Para demonstrar essa sensibilidade
eclesiológica, basta mencionar o caso de John Huss que foi 0 primeiro, a escrever e pu-
blicar uma obra sobre a igreja em latim, a fim de que fosse amplamente lida entre pessoas
instruídas (ver Mistr Jan Hus, O církvi [Praha: Nakladateltví eskoslovenské Akademie
Vod, 1965] finalizado sua obra De Ecclesia [On the Church] in 1413. Hus proclamou sua
desobediência a Roma, aceitou somente a Jesus Cristo como cabeça da igreja, e exigiu
que o mundo soubesse o motivo. O material que apresentou foi muito explosivo, e ele foi
queimado numa estaca em Konstanz, Alemanha, em 6 de julho de 1415. Desse modo, a
primeira pessoa que escreveu sobre a igreja não foi Johann de Rafusa em 1433/34 como
afirmado equivocadamente por Veli-Matti Kaerkkaeinen em An Introduction to Ecclesio-
logy: Ecumenical, Historical and Global Perspectives [Downers Grove, IL: InterVarsity
Press, 2002], 11).
13Para um resumo e características da mensagem do Antigo Testamento, ver meu
artigo “The Message o f God's People in the Old Testament” in Journal o f the Adventist
Theological Society 19, no. 1-2 (2008): 18-39. É enganoso especular qual foi a primeira
comissão ou mensagem. É como fazer a pergunta: Quem veio primeiro, a galinha ou o
ovo? Missão sem conteúdo, por si só é uma contradição, uma experiência vazia; e não há
missão, porque não havería nada pelo qual viver e/ou proclamar. Conteúdo sem missão é
árido e muito perigoso.
14Eckhard J. Schnabel, Early Christian Mission, 2 vols. (Downers Grove, IL: In-
A missão e a obra de Deus entre os gentios no Antigo Testamento | 35

Para responder a essa afirmação, primeiro deve-se reconhecer que


o leitor moderno das Escrituras Hebraicas pode ter diferentes questões e
expectativas do que pode ser prontamente respondido pelo texto bíblico,
porque a característica básica do Antigo Testamento é de um livro de histórias,
que contém a metanarrativa da salvação e não um manual de missão contendo
sua filosofia, nem um plano explicativo para o comportamento missiológico
pragmático. A linguagem e imagens bíblicas empregadas com relação à missão
são diferentes das utilizadas hoje. Não deve ser surpresa o fato de não encontrar
ordem diretas para a missão, e em lugar delas, histórias que expressam dicas e
observações bem como algumas afirmações explícitas que revelam a missão
do povo de Deus nas Escrituras Hebraicas. Essas expressões acidentais
testemunham sobre a estratégia de missão numa forma diferente e não de um
modo fácil de entender como muitos desejam. Além disso, a metanarrativa do
Antigo Testamento apenas desdobra progressivamente o plano universal de
Deus para todo o mundo. Ajuda a perceber que Deus tem um plano global, um
plano para o povo de Deus cumprir, mas nem sempre claramente percebido.

Missão dupla

A missão do povo do Antigo Testamento era dupla:15 (1) para os filhos


de Israel e as gerações seguintes - um foco interno (centrípeto). Os pais tinham
que repetir as histórias de livramento aos seus filhos (Êx 12:24-27; Dt 6:4-9; Is
38:19): “Uma geração louvará a outra geração as tuas obras e anunciará os teus
poderosos feitos. Meditarei no glorioso esplendor da tua majestade e nas tuas

terVarsity Press, 2004). Ver também Ferdinand Hahn, Mission in the New Testament (Na-
perville, IL: Allenson, 1965), 20: “Há uma ausência da comissão divina com o propósito
e intenção de ir aos gentios e ganhá-los para a crença em Deus”. Blauw afirma: “Quando
alguém se dirige ao Antigo Testamento para encontrar justificação e base para missões
no significado atual, isto é, como ‘missão estrangeira’, pode se desapontar” (Blauw, 42).
Bosch alega que “não há indicação no Antigo Testamento de que os crentes da antiga
aliança fossem enviados por Deus para atravessar fronteiras geográficas, religiosas ou
sociais a fim de ganhar outros para a fé em Yahweh” (Bosch, Transforming Mission, 17).
15Kaiser, Mission, 9.
36 I Jiri Moskala

maravilhas” (SI 145:4-5). O relato da bondade de Deus deveria ser passado de


uma geração à outra. “Para que contes a teus filhos e aos filhos de teus filhos”
(Êx 10:2) é a instrução crucial de Deus. E (2) para as outras nações, o mundo
gentio (até às ilhas; Is 66:19) - u m foco externo (centrífugo). A missão do povo
do Antigo Testamento foi dirigida a outros que não pertenciam à comunidade
de fé. Há um crescente número de estudiosos que tomam o Antigo Testamento
como base da missão bíblica.16 Henry, por exemplo, fala sobre Moisés como
“o primeiro missionário do qual temos conhecimento”.17Bosch menciona que
“histórias de pagãos como Rute e Naamã, que aceitaram a fé de Israel” indica a
natureza missionária do Antigo Testamento.18 Outros reconhecem a indivíduos
como Abraão, Melquisedeque, Jetro, Balaão e Jonas como agentes da missão
de Deus.19 Os profetas de Deus não falavam somente a seu próprio povo, mas
profetizaram acerca de muitas nações: Ele julgará a todos (ver especialmente
Is 2:4; 13-23; Jr 46-51; Ez 25-32; Am 1-2; J1 3:12; Jn; Ob; Mq 4:3). Deus se
preocupava com todas as nações, e a mensagem do povo do Antigo Testamento
transcendia os limites de Israel. Deus não avisava aos povos sem um propósito.
Ele sempre desejava conduzi-los ao arrependimento (ver Gn 6:3; Jn 3).20

16Robert Martin-Achard, ‘Israel’s Mission to the Nations”, International Review o f


Missions 51, no. 4 (Oct 1962): 482-484; Johan H. Bavinck, An introduction to the Science
o f Missions (Grand Rapids, MI: Baker, 1960); Johannes Verkuyl, Contemporary Missiol-
ogy (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1978); Francis M. Debose, God Who Sends: A Fresh
Quest fo r Biblical Mission (Nashville, TN: Broadman, 1983); Ferris L. McDaniel, “Mis-
sion in the Old Testament”, in Mission in the New Testament: An Evangelical Approach,
ed. William J. Larkin, Jr., and Joel F. Williams (Maryknoll, NY: Orbis, 1998), 12-13;
Walter C. Kaiser, Jr., “Israel’s Missionary Call”, in Perspectives on the World Christian
Movement: A Reader, ed. Ralph D. Winter and Steven C. Hawthorne, 3 ed. (Pasadena,
CA: William Carey Library, 2000), 11. Kaiser utiliza três textos básicos (Gn 12:1-3; Êx
19:4-6; e SI 67) para tomar claro que Deus enviou Israel em missão aos gentios.
17Harold Henry, The Missionary Message o f the Old Testament (London: Kings-
gate, 1944), 15.
18David J. Bosch, “Reflection on Biblical Models o f Mission”, in Towards the 21st
Century in Christian Mission, ed. James M. Phillips and Robert T. Coote (Grand Rapids,
MI: Eerdmans, 1993), 175-176.
19Kaiser, Mission in the Old Testament; Bryant Hicks, “Old Testament Founda-
tions for M ission”, in Missiology: An Introduction to the Foundations, History, and Strat-
egies o f the World Mission, ed. John Mark Terry, Ebbie Smith, and Justice Anderson
(Nashville, TN: Broadman & Holman, 1998), 53-62; Verkuyl, 96.
20Por exemplo, Deus não enviou Jonas a Nínive a fim de que os ninivitas viessem
A missão e a obra de Deus entre os gentios no Antigo Testamento 37

Missão universal

Alguns podem falar sobre a missão do povo do Antigo Testamento


somente depois do surgimento do pecado, quando foram escolhidos dois
caminhos diferentes para a vida (ver as duas linhas genealógicas - Caim e Sete
- em Gn 4 e 5). Os seguidores de Deus foram levar a mensagem de salvação
a outros (Is 66:19; SI 67:2; 96:3). Essa missão era de alcance universal e
foi divulgada gradualmente. Infelizmente, nem sempre o povo de Deus era
bem sucedido em sua missão. Por causa da queda no pecado, Adão, 0 cabeça
da humanidade, falhou em sua missão de levar toda sua família a Deus.21
Glasser afirma apropriadamente: “Deus chamou Adão e Eva para aceitar
responsabilidade por esse mundo como vice-regentes, para servir e controlá-lo
sob a direção de Deus e para a glória Dele’’.22O poder do mal era como uma força
destruidora: prejudicava os bons enquanto deixava o mal triunfar e degradou as
pessoas a tal ponto que Deus teve que intervir com o Dilúvio (Gn 6:5-6,11 -13).23
A primeira sugestão sobre atividades missionárias intencionais na
Bíblia pode ser encontrada em Gênesis 4:26b, quando Sete “começou a
proclamar/pregar o nome do Senhor”. Essa possível interpretação pode ser
encontrada nas versões de M artin Luther e Robert Young. Parece que essa
missão foi orientada primeiro à família, e então ampliada gradualmente

a morrer como pecadores informados. A mensagem tinha 0 poder de criar uma resposta
adequada neles.
21Uma alusão a essa função pode ser vista em Gênesis 1:28. Essa função implícita
a Adão e Eva também deriva do fato de terem sido criados por Deus e os primeiros a ser
criados. Segue-se que deveríam manter a ordem da criação e conduzir a humanidade em
respeito, admiração e obediência a Deus a fim de desenvolver um relacionamento ade-
quado com Ele.
22Arthur F. Glasser, “Biblical Theology o f M ission”, in Evangelical Dictionary o f
World Mission, ed. A. Scott Moreau (Grand Rapids, MI: Baker, 2000), 127.
23O relato do Dilúvio bíblico revela a graça de Deus em salvar e oferecer diversas
oportunidades para que as pessoas se arrependam (Gn 6:3, 8; 8:1). Se Deus não intervies-
se naquele tempo, a avalanche do mal teria destruído tudo que é bom e valoroso (naquele
ponto da história, somente oito pessoas estavam dispostas a cooperar com Deus). Não
havería nenhuma possibilidade da Semente Prometida (Gn 3:15) ter nascido numa família
temente a Deus e nosso inimigo não teria sido derrotado. Consequentemente, a palavra de
Deus teria falhado e os seres humanos teriam perdido toda esperança de salvação.
38 I Jir! Moskala

conforme a humanidade cresceu.24A posteridade dos descendentes de Sete


continuou a proclamação, como sugerido pela frase “Enoque andou com
Deus” (Gn 5:24; compare com Gn 6:9; M q 6:8; Jd 14-15).25 Mas ao se
misturarem com os descendentes da linhagem de Caim, eles fracassaram e
o povo fiel quase desapareceu (ver Gn 6:l-8).26
Gênesis 1-11 é universal na abrangência.27Antes do dilúvio, quando
a iniquidade estava crescendo rapidamente, o Espírito de Deus estava
tentando de todas as formas atrair as pessoas ao arrependimento, mas
infelizmente, em vão (Gn 6:3, 5). Além disso, Deus chamou Noé para ser
seu mensageiro, para ser um pregador da justiça ao mundo antediluviano
(2Pd 2:5; compare com Am 3:7), e para chamar todas as pessoas a fazer
a decisão certa e entrar na arca. O dilúvio bíblico foi mundial,28 portanto,
sua missão também deveria ser mundial. Ele era como um salvador para
sua geração, mas a Torre de Babel logo acabou com o bom começo
depois do Dilúvio (Gn 11:1-9). Deus, pela terceira vez, tinha que começar
de novo, do início, mas desta vez foi com Abraão (Gn 12:1; 15:7).
A universalidade da missão foi mencionada explicitamente pela
primeira vez com relação a Abraão. A Grande Comissão do Antigo

24Para detalhes, ver meu artigo “The Concept and Notion o f the Church in the Pen-
tateuch” in “For You Have Strengthened Me:” Biblical and Theological Studies in Honor
o f Gerhard Pfandl in Celebration o f His Sixty-Fifth Birthday, ed. Martin Proebstle, Ger-
aid A. Klingbeil, and Martin G. Klingbeil (St. Peter am Hart, Austria: Seminar Schloss
Bogenhofen, 2007), 13-14.
25A expressão “andou com Deus” substitui a palavra “viveu” em descrições simi-
lares a outros indivíduos, evidenciando a qualidade de relacionamento entre Enoque e
Deus - ele não apenas “viveu”. Essa frase pode sugerir as atividades de testemunho de
Enoque (ver Jd 1:14-16).
26Sven Fockner, “Reopening the Discussion: Another Contextual Look at the Sons
o f God,” Journal fo r the Study o f the Old Testament 32 (2008):435-456.
27Claus Westermann, Beginning and End in the Bible, Biblical Series, vol. 31
(Philadelphia: Fortress Press, 1972), 21.
28Richard M. Davidson, “Biblical Evidence for the Universality o f the Genesis
Flood”, in Creation, Catastrophe, and Calvary: Why a Global Flood Is Vital to the Doc-
trine o f Atonement, ed. John Templeton Baldwin (Hagerstown, MD: Review and Herald,
2000), 79-92; idem, “The Flood”, Evangelical Dictionary o f Biblical Theology, ed. by
Walter A Elwell (Grand Rapids, ME Baker Books, 1996), 261-263; Gordon J. Wenham,
Genesis 1-15, Word Biblical Commentary (Waco, TX: Word Books, 1987), 155-166.
A missão e a obra de Deus entre os gentios no Antigo Testamento | 39

Testamento declara: “Em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn


12:3).29 O Senhor salientou isso a Abraão três vezes (Gn 12:3; 18:18;
22:18). Ele deve ser uma bênção a “todas as famílias na terra”, i.e., uma
luz a todo 0 mundo. A múltipla bênção de Deus continha a frase imperativa
(na posição central): “Te abençoarei,” “sê tu uma bênção”, “em ti serão
benditas todas as famílias da terra” (Gn 12:2-3).30 Note o imperativo
na afirmação divina que usualmente é negligenciado. Deus ordena a
Abraão que ele seja uma bênção aos outros, porque Deus o abençoou.
A bênção do Senhor não pode e não deveria ser tomada egoistamente.
Abraão precisava viver para os outros.31 Gênesis 12:2-3 era, portanto,
uma afirmação pragmática de Deus a Abraão e àqueles que seguiríam a
mesma fé. Walter Kaiser articula com precisão que esse texto prove “a
teologia formativa” para “um plano divino para glorificar a Ele mesmo
por trazer salvação a todo o planeta terra” .32 Abraão, assim, tomou-se o
mensageiro especial, missionário, para o mundo todo33 com uma missão
29A versão Almeida Revista e Corrigida traduz esse texto da seguinte maneira: “E
em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12:3). A tradução apropriada depende
da compreensão da preposição hebraica “ti" (“em”, “por”, “através de”, “sobre”, etc.) e
sua função sintática (tomado aqui como um instrumental bet).
30Minha tradução. A promessa de Deus que abençoaria, através de Abraão, a “to-
das as famílias da terra” (kol mishpechot ha-arets) é repetida de várias formas em Gênesis
18:18; 22:18; 26:4 e 28:14. A frase hebraica kol mishpechot é traduzida na Septuaginta
como passai hai phylai “todas as raças” (12:3; 28:14); mas a expressão hebraica kol
goyeh é utilizada em Gênesis 18:18; 22:18; e 26:4 e é traduzida na LXX como panta ta
eth7K (“todas as nações”). A intenção do texto foi formar uma imagem mental de todo o
mundo com todas as famílias ou clãs (essa palavra é utilizada no caso da família/clã de
Acã, ver Js 7:14).
31Paul Borgman, Genesis: TheStory We Haven’t Heard (Downers Grove, IL: Inter-
Varsity, 2001), 124: “A última promessa de Deus a Abraão, um desafio também, repousa
em trazer bênçãos a outros”. Sarna comenta a afirmação “você será uma bênção” da se-
guinte forma: “Como consequência, você [Abraão] servirá como um padrão por meio do
qual a bênção é invocada” (Nahum Sarna, Genesis [Philadelphia: The Jewish Publication
Society, 1989], 89).
32Kaiser, The Messiah, 13.
33E significativo que a sétima promessa seja citada em Atos 3:25 referindo-se ao
povo judeu que ouvia ao sermão de Pedro, mas em Gálatas 3:8 é utilizada em referência
aos gentios. Dessa forma, os descendentes físicos e espirituais de Abraão estão incluídos.
A missão da igreja cristã é a mesma: ser uma bênção a todo o mundo (Mt 5:16; Jo 15:5,
16; E f 2:10; lPd 2:9).
40 I J iri Moskala

que só podería ser levada, mais tarde, por Israel e plenamente cumprida
pelo Servo do Senhor (Is 42:1-9; 49:1-7; 50:4-9; 52:13-53:12; 61:1-3)
em uma escala ainda maior, porque Ele seria a Salvação (não somente o
que Ele declararia, traria ou proclamaria) para todo o mundo (Is 49:6).34
Em vários lugares por onde Abraão viajou e morou, construiu
altares e invocou o nome do Senhor (Gn 12:7, 8; 13:4,18; 22:9-13). Dessa
forma, testemunhou acerca de seu único Deus. Porém, a primeira viagem
“missionária” de Abraão ao Egito falhou por causa de sua descrença, e ele
teve que sair de lá escoltado (Gn 12:10-20). Mais tarde ele cumpriu seu
papel profético com relação ao rei de Sodoma (Gn 14:17-24). Cresceu por
meio de suas derrotas (descrita em Gn 16 e 20), lutas e vitórias (ver Gn
18:16-33; 22:1-19) de tal forma que no final Deus afirmou que “Abraão
obedeceu à minha palavra e guardou os meus mandados, os meus preceitos,
os meus estatutos e as minhas leis”. (Gn 26:5). O conhecimento sobre o
Deus de Abraão cresceu no mundo de tal modo que mesmo os soberanos
das nações se [juntarão] ao povo do Deus de Abraão (SI 47:9). O Deus
de Abraão se aproximaria deles e eles O seguiríam. “Nele serão benditas
todas as nações da terra” (Gn 18:18), porque o desejo final de Deus sempre
é abençoar toda a humanidade.35 Abraão é um modelo da missão de Deus.
Gênesis 10, um capítulo prévio contendo um catálogo de setenta
nações (um número simbólico diante da totalidade das nações),36 introduz
a narrativa sobre Abraão, o que significa que este deveria ser uma bênção a
todo o mundo. No entanto, Abraão também precisava ser um professor aos
seus filhos. Ele os ensinava sobre o Deus verdadeiro, instruía-os sobre os

34A tradução literal de Isaías 49:6 destaca esse ponto claramente: E ele diz: É pou-
ca coisa que você seja meu servo para erguer as tribos de Jacó e restaurar e preservar a
Israel. Te darei como luz aos gentios (nações) para que você seja minha salvação para a
extremidade da terra (Minha tradução).
35Christopher J. H. Wright, An Old Testament Theology o f Mission, in Evangelical
Dictionary o f World Mission, ed. A. Scott Moreau (Grand Rapids, MI: Baker, 2000), 707.
36O número setenta em Gênesis 10 inclui: os jafetistas, 14 nações; os canaanitas,
30 nações; e os semitas, 26 nações. Para 0 simbolismo dos números, ver John J. Davis,
Biblical Numerology (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1968).
A missão e a obra de Deus entre os gentios no Antigo Testamento | 41

caminhos de Deus e os orientava a guardar sua lei a fim de que pudessem


viver de acordo com “o caminho do Senhor” e fazer todas as coisas de
acordo com a vontade do Senhor (Gn 18:19).37
A missão universal de Abraão foi repetida a Isaque (“E por meio de
sua descendência todos os povos da terra serão abençoados”; [Gn 26:4]), e
reafirmado a Jacó (Gn 28:13-15; 35:11-12; 46:3) e Moisés (Êx 3:6-8; 6:2-
8). Moisés e Israel precisavam continuar essa missão universal ao mundo
todo juntos, iniciando como sendo luz aos egípcios espalhando-se pelo
Êxodo (Js 2:8-12) e dando continuidade através dos séculos (Is 42:6-7). O
propósito das dez pragas no Egito e da travessia no M ar Vermelho não era
somente demonstrar que os deuses egípcios não eram nada (Êx 12:12) mas
também ajudar “os egípcios a conhecer” que Deus era o Senhor (Êx 7:5,
17; 8:22; 14:4, 18).
Deus chamou Israel a uma distinção ética (Lv 11:44-45; 18:3; 18-19;
Dt 14:1-3; Mq 6:6-8). Eles estavam empenhados em ter uma vida santa,
porque somente dessa forma viveríam para a glória de Deus e Seu nome,
atrairíam pessoas a Ele, seriam uma luz para as nações e as nações veríam
Sua sabedoria (Dt 4:6; Is 58:8; 60:1-3; 62:1-2; Ez 36:23). O discurso de
exortação de Moisés a Israel, quando sublinhou a importância da obediência
a Deus e Sua lei (Dt 4:5-8), comunica a ideia de visibilidade e uma espécie
de atividades missionárias de Israel.
A missão do povo do Antigo Testamento pode ser resumida no ideal
de Deus para Israel: “Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz
e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar
dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me sereis reino

37Abraão orientou sua família a guardar “o caminho do Senhor”, 0 que indica que
foram ensinados por Abraão não somente e fazer “o que é certo e justo”, mas também, a
viver por outros, pois é do interesse divino abençoar o mundo todo. Assim, o “caminho do
Senhor” toma-se um paradigma missionário para os seguidores de Deus a fim de que seja
uma bênção a todos os povos. E interessante salientar que a igreja do Antigo Testamento
foi estabelecida primeiro ao redor do círculo familiar: as orientações divinas para a vida
são muito importantes para todos e, dessa forma, a família deve ser a luz do mundo, não
somente um indivíduo.
42 I Jiri Moskala

de sacerdotes [assim, é antecipada a Israel um a função de mediador para


as outras nações; deveríam ser o meio de trazer pessoas a Deus] e nação
santa” (Êx 19:5-6); e também Isaías 42:6: “Eu, o SENHOR, te chamei em
justiça, tomar-te-ei pela mão, e te guardarei, e te farei mediador da aliança
com o povo e luz para os gentios”. O propósito de Deus era abençoar todas
as nações através de Israel.38

Exemplos específicos de atividades missionárias

A questão permanece: O testemunho de Israel era ativo ou passivo?


Eles realmente foram a países estrangeiros para falar sobre o seu Deus vivo,
santo e amoroso? Como mencionado acima, as opiniões são divergentes.
Há poucos exemplos de testemunho ativo. Consideremos alguns casos de
como Deus chamou pessoas ou povos específicos e os enviou a realizar
tarefas particulares. Por exemplo:
1. José foi trazido ao Egito pela inveja e intrigas de seus irmãos, mas
Deus transformou a situação e ele tomou-se o Salvador para o Egito e sua
família, e uma testemunha do Deus verdadeiro (Gn 45:5-8; 50:19-21).
2. Deus chamou M oisés e o enviou ao Egito para enfrentar o faraó e
os deuses egípcios (Êx 12:12; Nm 33:4). Está explícito que Deus o enviou,
o que significa que Moisés foi comissionado por Deus para apresentar o
Senhor vivo ao Egito (Êx 3:10-15; Dt 34:11; ISm 12:8; SI 105:26).
3. No caso de Naamã, o comandante do exército do rei da Síria, foi
através da iniciativa e testemunho de uma jovem escrava israelita anônima
que estava em cativeiro na Síria, que ele conheceu o verdadeiro Deus do
céu (2Rs 5:15).
4. Deus enviou Elias à viúva de Sarepta, em Sidom (lR s 17:9-24).

38C. Gordon Olson, What in the World Is God Doing?: The Essentials o f Global
Missions (Cedar Knolls, NJ: Global Gospel, 1989), 17.
A missão e a obra de Deus entre os gentios no Antigo Testamento | 43

5. O profeta Eliseu foi a Damasco e quando estava lá, Ben-Hadade,


rei da Síria enviou um mensageiro para perguntar se ficaria curado de sua
doença (2Rs 8:7-15).
6. A atividade missionária mais óbvia está registrada no livro de
Jonas. Esse profeta não estava disposto a ir e cumprir a comissão de
Deus. No final ele perguntou o que havia de errado com Deus quando Ele
salvou os cruéis ninivitas. Jonas viu a salvação dos ninivitas como má,
e recusou se harmonizar com a compaixão de Deus (Jo 3:10; 4:1).39 De
modo dramático, Deus ensinou a Seus seguidores sobre a universalidade
da salvação divina (Jn 4:6-11). O Senhor demonstrou Seu amor altruísta
por todos, mesmo pelos inimigos de Seu povo.
7. O profeta Isaías, na conclusão de seu livro, declara que Deus
enviará missionários a todo o mundo. Diz o Senhor: “alguns [do povo
de Israel] dos que foram salvos enviarei às nações, a Társis, Pul e
Lude, que atiram com o arco, a Tubal e Javã, até as terras do mar
mais remotas, que jam ais ouviram falar de mim, nem viram a minha
glória; eles anunciarão entre as nações a minha glória” (Is 66:19).
O resultado será que “de um sábado a outro, virá toda a carne [isto é,
todas as nações] a adorar perante mim, diz o SENHOR (Is 66:23)”.
8. Os profetas Amós, Isaías, Jeremias e Ezequiel dedicaram grandes
porções de seus livros (e todo o livro de Obadias) a pronunciar julgamentos
contra outras nações, o que sugere que Deus estava trabalhando
intencionalmente com essas nações. Eles eram responsáveis por seu
comportamento e ações diante do Senhor.
9. Jeremias enviou Seraías à Babilônia com um rolo que,
primeiramente, deveria ser lido em voz alta e então lançado no rio Eufrates
como um ato simbólico (Jr 51:59-64). O caso de Seraías oferece um
exemplo único de uma mensagem profética que deveria ser ouvida numa

59Jonas 4:1 lido de forma literal: “Pareceu mau a Jonas, um grande mal, e ele se
1rou”. Esse grande mal é descrito no verso anterior (Jn 3:10), como a compaixão divina
aos ninivitas. A salvação parecia má a Jonas.
44 I J iri Moskala

terra estrangeira e evidencia que os oráculos contra nações estrangeiras


poderíam ser entregues em países estrangeiros.40
10. Daniel e seus três amigos testemunharam aos altos funcionários
e ao rei da Babilônia sobre o verdadeiro Deus (ver Daniel, caps. 1-3). Eles
ajudaram Nabucodonosor a conhecer ao Deus Altíssimo. Depois da sua
conversão, descrita em Daniel 4, o rei escreveu um a carta a todas as nações
acerca do Deus Altíssimo e o Rei do céu, que o humilhou e reinará para
sempre (Dn 4:1-3, 37). Daniel testemunhou também diante de Beltesazar,
o último rei babilônico (ver Dn 5), de Dario, o Medo, dos altos oficiais
medo-persas (ver Dn 6) e possivelmente também a Ciro (Dn 1:21; 6:28;
10:1) que emitiu o decreto permitindo o retomo dos judeus do cativeiro
babilônico (2Cr 36:22-23; Ed 1:1-4). Glover acertadamente descreve
Daniel como um missionário.41
11. Esdras e Neemias trabalharam e testemunharam sobre seu
Deus na corte real persa, e, como resultado, o rei Artaxerxes deu-lhes
permissão para reconstruir a cidade de Jerusalém (Ed 7:11-28; Ne 2:1-10).

40Deus deu a mensagem a Jeremias para ser proclamada no Egito, em algumas


das cidades importantes, a respeito da vinda de Nabucodonosor, rei de Babilônia, para
atacar o Egito. A mensagem também falava sobre o julgamento contra os deuses deles (Jr
46:13-14,25-26). Não sabemos exatamente como a mensagem foi entregue ao Egito, mas
havia colônias judias no Egito nessa época (ver Jr 43:5-7; 44:1; comparar com 2Rs 23:34)
e alguma comunicação estava acontecendo entre Israel e o Egito. Repare como outra
mensagem de Jeremias foi rejeitada por uma grande assembléia de judeus que viviam no
Egito (ver Jr 44:15-18).
41Robert El. Glover, The Bible Basis o f Mission (Los Angeles, CA: Bible o f Los
Angeles, 1946), 21: “Daniel foi outro grande missionário estrangeiro [junto com Jonas]
cuja comissão dada por D eu s... levou-o perante reis e governantes. Ele testemunhou por
Deus na corte pagã de quatro reis monarcas, sucessivamente, e foi eficaz em conduzi-los
a reconhecer e proclamar seu Deus sendo o Altíssimo Deus. Cujo reino é universal e
eterno”. Ver também John N. Oswalt, “The Mission o f Israel to the Nations”, in Through
No Fault o f Their Own?: The Fate o f Those Who Never Heard, ed. William V. Crockett
and James G. Sigountos (Grand Rapids, MI: Baker, 1991), 93-94. Sung Ik Kim conclui
seu estudo “Proclamation in Cross-Cultural Context: M issiological Implications o f the
Book o f Daniel” (Ph.D. diss., Andrews University, 2005): “Daniel e seus amigos estavam
conscientes da soberania de Deus na história humana e do propósito salvífico divino para
todos os povos. Além disso, o livro de Daniel demonstra algumas estratégias utilizadas
na missio Dei, como Deus utiliza indivíduos comprometidos, sonhos e visões, oração e
formação espiritual, confronto de poder e conflito espiritual” (285).
A missão e a obra de Deus entre os gentios no Antigo Testamento | 45

12. Ester foi eleita para tomar-se rainha na Pérsia e, devido à sua
lealdade a Deus, ela pôde ajudar no livramento do povo de Deus (Et 4:12-
14; 8:15-17).
13. O testemunho aos gentios é apresentado nos Salmos, o livro
missionário por excelência: “Eu te louvarei, ó Senhor, entre as nações;
cantarei teus louvores ente os povos” (SI 57:9); “Louvem o SENHOR,
todas as nações; exaltem-no, todos os povos” (SI 117:1-2).
Também é verdade que a localização geográfica de Israel (atado no
cruzamento das principais rotas internacionais no Oriente Médio, entre
o Egito e Assíria ou Babilônia) foi um fator muito significante em seu
testemunho por Deus e um a lição objetiva para as nações.42 Diferentes
culturas, comerciantes, religiões, nações e povos encontravam-se lá, e as
pessoas foram confrontadas com um sistema diferente de crenças.
A importância da missão mundial de Israel é sublinhada no fato de
que o templo em Jerusalém seria o mega centro mundial para a verdadeira
adoração (Is 2:2) e que todos iriam até lá e aprenderíam como adorar
ao verdadeiro Deus (Is 2:3-4; 56:2-8; 62:9-11; Jr 3:17; 33:9; Mq 4:1-
2). Os israelitas se tomariam mestres da justiça: “Assim diz o SENHOR
dos Exércitos: Naqueles dias, dez homens de todas as línguas e nações
agarrarão firmemente a barra das vestes de um judeu e dirão: ‘Nós vamos
com você porque ouvimos dizer que Deus está com o seu povo’” (Zc
8:23).43 Durante o período do exílio, Daniel pronunciou uma bênção aos
que conduziam outros à justiça (Dn 12:3). É digno de nota acentuar que sua
mensagem tem conotação e perspectiva universais. (Dn 2:31-47; 7:1-14).
E Deus quem “muda as épocas e as estações; destrona reis e os estabelece”

42A importância da geografia bíblica e da posição geográfica de Israel é salientada


por William S. LaSor, “Biblical Geography” in The International Standard Bible Encyclo-
pedia , gen. ed. Geoffrey W. Bromiley, vol 2 (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1982), 445-
446; C. C. McCown, “Geography o f Palestine” in The Interpreter's Dictionary o f the
Bible, ed. George A. Buttrick, vol. 3 (Nashville, TN: Abingdon Press, 1962), 626-639.
43É significante observar, nesse contexto, que Isaías fala sobre “Galileia dos gen-
tios” (Is 9:1), porque a Galileia se tomaria uma parte do território onde adorariam ao
verdadeiro Deus, ao Deus vivo de Israel.
46 I Jiri Moskala

(Dn 2:21). Blauw aponta que Dn 7 apresenta o propósito de Deus para o


mundo todo.44
Apoio bíblico adicional

Os atos de justiça de Deus durante o Êxodo foram ouvidos por muitas


outras nações (ver, por exemplo, Js 2:8-11). Hirão, rei de Tiro, falou muito
bem sobre o Senhor, Deus de Salomão: “O SENHOR ama o seu povo, por
isso te fez rei sobre ele. Bendito seja o SENHOR, o Deus de Israel, que
fez os céus e a terra!” (2Cr 2:11-12). A rainha de Sabá visitou a Salomão
porque a fama de Salomão alcançou seu distante país (lR s 10:1-9; 2Cr 9:1-
8). Essas narrativas sugerem que outras nações também ouviram sobre o
Deus de Israel e a sabedoria de Salomão. Paradoxalmente, algumas vezes
o povo de Deus precisou passar por dificuldades e até ser enviado ao exílio
para que pudesse realizar sua missão primária: ser um a luz ao mundo.45
Dois salmos missionários (SI 67 e 96) expressam com eloquência a
missão universal de Deus e focam na promessa divina a Abraão de que ele
e sua posteridade seriam uma bênção a todas as famílias da terra. Salmo
67 foi elaborado a partir da bênção Araônica de Números 6:24-26 em que
o nome do Senhor Yahweh (que expressa a ideia de um Deus pessoal, de
Seu povo da aliança) é mudado para Deus ( Elohim) a fim de salientar o
chamado divino universal a todas as nações para adorá-Lo:

Que Deus tenha misericórdia de nós e nos abençoe, e faça


resplandecer o seu rosto sobre nós, para que sejam conhecidos

44Blauw, 65. Sobre “universalismo” no Antigo Testamento que tem o mundo todo
em foco, ver ibid., 15-54. A universalidade da missão de Deus jaz no objetivo final em
estabelecer o reino universal de Deus na Terra (Dn 2:44; 7:26-27).
45Ver os exemplos de José como um vizir no Egito (Gn 39:2-6, 20-21; 41:37-41);
Moisés como um líder de Israel em confronto com 0 faraó egípcio (Êx 5-15); uma anô-
nima escrava israelita que testemunhou a Naamã (2 Rs 5 :1 1 9 ‫ ;)־‬Daniel como um primei-
ro ministro e presidente da academia científica em Babilônia (Dn 1:20-21; 5-6); os três
amigos de Daniel na fornalha ardente (Dn 3); povo de Deus como “cantores” de canções
religiosas a pedido dos babilônios (SI 137:1-3); Ester como uma rainha na Medo-Pérsia
(Et 4:12-16); e Neemias como um líder em meio a grandes tensões na corte persa (Ne
2 : 1- 10).
A missão e a obra de Deus entre os gentios no Antigo Testamento | 47

na terra os teus caminhos, a tua salvação ente todas as nações.


Louvem-te os povos, ó Deus; louvem-te todos os povos.
Exultem e cantem de alegria as nações, pois governas os povos
com justiça e guias as nações na terra. Louvem-te os povos, ó
Deus; louvem-te todos os povos. Que a terra dê a sua colheita,
e Deus, o nosso Deus, nos abençoe! Que Deus nos abençoe, e
o temam todos os confins da terra. (SI 67:1-7)

No Salmo 96:2-9 o salmista convida os crentes a proclamar (v. 3 é


0 único lugar em que a forma intensiva imperativa do verbo “anunciar” é
utilizada no livro de salmos) a salvação de Deus ente as nações:

Cantai ao SENHOR, bendizei o seu nome; proclamai a sua


salvação, dia após dia. Anunciai entre as nações a sua glória,
entre todos os povos, as suas maravilhas. Porque grande é o
SENHOR e mui digno de ser louvado, temível mais que todos
os deuses. Porque todos os deuses dos povos não passam de
ídolos; o SENHOR, porém, fez os céus. Glória e majestade
estão diante dele, força e formosura, no seu santuário. Tributai
ao SENHOR, ó famílias dos povos, tributai ao SENHOR glória
e força. Tributai ao SENHOR a glória devida ao seu nome;
trazei oferendas e entrai nos seus átrios. Adorai o SENHOR
na beleza da sua santidade; tremei diante dele, todas as terras.

Existem outros textos nos Salmos que convidam para atividades


missionárias entre as nações: “Rendei graças ao SENHOR, invocai 0 seu
nome, fazei conhecidos, entre os povos, os seus feitos, antai-lhe, cantai-
lhe salmos; narrai todas as suas maravilhas. Cantem para ele e louvem-no;
relatem todas as suas maravilhas” (SI 105:1-2). “Também falarei dos teus
testemunhos na presença dos reis e não me envergonharei” (SI 119:46).
“Então, a nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua, de júbilo; então,
entre as nações se dizia: Grandes coisas o SENHOR tem feito por eles.
Com efeito, grandes coisas fez o SENHOR por nós; por isso, estamos
alegres” (SI 126:2-3). “Eles [os santos do Senhor, de acordo com v. 10]
anunciarão a glória do teu reino e falarão do teu poder, para que todos
48 I Jiri Moskala

saibam dos teus feitos poderosos e do glorioso esplendor do teu reino”


(SI 145:11-12). “Profira a minha boca louvores ao SENHOR, e toda carne
louve o seu santo nome, para todo o sempre” (SI 145:21). Os salmistas
declaram que louvarão a Deus entre as nações (SI 57:9; 108:3), e os reinos
da terra deveríam “cantar a Deus” (SI 68:32). E toda a terra “encha-se com
sua glória” (SI 72:19).
Como resultado dessas práticas de testemunho, egípcios e etíopes se
entregarão ao Senhor, (SI 68:31), “Inclinem-se diante dele todos os reis” e
“sirvam-no todas as nações”, ao Rei davídico, o Messias (SI 72:11), Deus
será “temido pelos reis da terra” (SI 76:12), Deus julgará todas as nações
como Sua herança (SI 82:8), “todas as nações... virão e adorarão” diante
do Senhor (SI 86:9), os estrangeiros serão como os nativos, desfrutando os
benefícios da cidadania (SI 87:4-6), e que “os filhos dos homens se façam
notórios os teus poderosos feitos” (SI 145:12).
O profeta Isaías explicou que os descendentes de Israel deveríam
ser um espetáculo a todas as nações a respeito da bondade de Deus a eles:

Seus descendentes serão conhecidos entre as nações, e a sua


prole entre os povos. Todos os que os virem reconhecerão
que eles são um povo abençoado pelo SENHOR. E grande o
meu prazer no SENHOR, pois ele me vestiu com as vestes da
salvação e sobre mim pôs o manto da justiça, porque, assim
como a terra faz brotar a planta e o jardim faz germinar a
semente, assim o Soberano, o SENHOR, fará nascer a justiça
e o louvor diante de todas as nações. (Is 61:9-11)

Deus prediz o futuro brilhante de Sião e Jerusalém nesses termos:


“As nações verão a tua justiça, e todos os reis, a tua glória; e serás chamada
por um nome novo, que a boca do SENHOR designará” (Is 62:2). Isaías
fala sobre missionários que “proclamarão minha [do Senhor] glória entre
as nações” (Is 66:19). Isaías continua, salientando o que o Senhor fará:
“Escolherei alguns deles também para serem sacerdotes e levitas” .46

46Walter Brueggemann apropriadamente esclarece: “Yavé enviará ‘sobreviven-


tes’, isto é, judeus restaurados, a todo o mundo conhecido de então. Esses mensageiros
A missão e a obra de Deus entre os gentios no Antigo Testamento | 49

O livro de Isaías termina com uma dimensão internacional e mundial


de adoração: “E será que, de uma Festa da Lua Nova à outra e de um
sábado a outro, virá toda a carne a adorar perante mim, diz o SENHOR”
(Is 66:23).47 Nesse contexto é interessante observar a repreensão de
Isaías ao rei Ezequias por não cumprir a missão a ele confiada por Deus,
não partilhando a mensagem da salvação divina com os emissários
babilônios, ao invés disso, mostrando seus tesouros reais (2Rs 20:12-19;
2Cr 32:31; Is 39:1-8). O profeta Sofonias nota surpreendentemente que
"As nações de todo o mundo o adorarão [o Senhor]”, não em Jerusalém,
mas “cada uma em sua própria terra” (Sf 2:11), e notavelmente afirma
que Deus “purificará os lábios dos povos, para que todos eles invoquem
o nome do SENHOR e o sirvam de comum acordo” (S f 3:9). Deus
planejou que Seus adoradores, que são chamados Seu povo para servi-
Lo, viessem mesmo de fora da Etiópia: “Desde além dos rios da Etiópia
os meus adoradores, o meu povo disperso, me trarão ofertas” (S f 3:10).
A Bíblia de estudo NIV comenta: “O Israel de Deus será reconhecido
pelas nações, e o povo de Deus será honrado por eles (cf. vv. 19-20)” .48
O rei salienta que os verdadeiros adoradores de Deus “serão os
destinatários da fama e honra intemaciona”49 e que “pessoas dos lugares
mais distantes encontrarão a salvação e adorarão a Yahweh naquele Dia. Ele
é o Rei e Redentor, não somente dos judeus, mas de todos os povos das várias
nações”.50 Assim, “em duas ocasiões (2:11; 3:9-10) Sofonias descreveu a
adoração a Yahweh realizando-se a nível mundial por aqueles que foram

;missionários?) irão aonde as boas novas sobre Yavé nunca chegaram... Do meio desses
goyim. dessas nações gentílicas, alguns seriam designados e estabelecidos como sacer-
dotes e levitas, sacerdotes para lidar com as coisas santas dos judeus e levitas para inter-
pretar a torá dos judeus” (Isaiah 40-66 [Louisville, KY: Westminster John Knox Press,
1998], 258-259).
‫־‬A er também Miquéias 4:1-5; Zc 2:11; 8:20-23; 13:8-9; 14:16-19.
‫־־‬Bíblia de Estudo NIV (Grand Rapids: Zondervan, 1985), 1398.
“ Greg A. King, “The Remnant in Zephaniah”, Bibliotheca Sacra 151 (October-
December 1994): 424.
' Greg A. King, “The Day o f the Lord in Zephaniah”, Bibliotheca Sacra 152 (Jan-
uary-March 1995): 21.
50 I Jiri Moskala

libertos do julgamento. Haverá muitos que estarão ombro a ombro, servindo


unidos a Yahweh” .51 Por causa disso, Deus é retratado numa atividade
incomparável (nunca mais mencionada em todo o Antigo Testamento): Ele
está regozijando sobre seu povo com alegria: “O SENHOR, o seu Deus, está
em seu meio, poderoso para salvar. Ele se regozijará em você; com o seu
amor a renovará, ele se regozijará em você com brados de alegria” (Sf 3:17).
A palavra profética deveria ser promulgada aos outros, mas precisava
estar acompanhada por comportamento piedoso. Dessa forma, o Deus de
Israel seria atrativo a todas as nações, e elas viriam e O adorariam (Is
56:6-7; 61:9-11; 62:2).52 Como resultado dessas atividades, reis emitiríam
editais em favor do templo de Jerusalém (Ciro, Dario e Artaxerxes; ver
2Cr 36:22-23; Ed 3-7; Dn 6:25-28; Ne 2:1-10). Caso contrário, o povo
de Deus seria motivo de riso e escárnio (J1 2:17; Ez 36:20-21). Deus está
morto ou vivo na mente das pessoas. Isso depende em grande parte do
comportamento de Seus seguidores; suas ações são um testemunho forte
e falam mais alto que palavras se o seu Deus está vivo em suas vidas
ou não (Ez 20:41; 36:23; Os 1:9; 2:21-23; comparar com M t 5:16). Se
o povo remanescente de Deus verdadeiramente realizar o trabalho dEle,
pessoas virão ao Senhor e se tomarão seguidoras fiéis. Isaías e Miquéias
previram profeticamente um tempo quando “Irão muitas nações e dirão:
Vinde, e subamos ao monte do SENHOR e à casa do Deus de Jacó, para
que nos ensine os seus caminhos, e andemos pelas suas veredas” (Is 2:3;
Mq 4:2). Zacarias ressaltou enfaticamente: “Naquele dia, muitas nações se
ajuntarão ao SENHOR e serão o meu povo” (Zc 2:11).
O povo de Deus no Antigo Testamento deveria ser uma lição objetiva
para outros povos e nações. Quando as nações compreendiam o que Deus
51Ibid., 30.
52Amós menciona que as nações (note a forma plural) serão chamadas pelo nome
do Senhor (Am 9:12)! Esse texto é citado em Atos 15:17 como o cumprimento da pro-
messa divina de proclamar o Evangelho aos gentios, e como a confirmação da Sua inten-
ção em salvá-los (At 15:14-15).
A missão e a obra de Deus entre os gentios no Antigo Testamento | 51

havia feito por elas, reconheciam o Deus de Israel como o Deus vivo e O
seguiam, porque Ele era o verdadeiro Rei. Assim, Deus estava mostrando
Sua santidade através de Seu povo, aos olhos de muitas nações (Js 2:9-
14; Is 61:9-11; Ez 20:12; 36:23; 38:23; 39:7, 27-29). Esse é um tipo de
evangelismo diferente do que os cristãos têm em mente: não tanto em sair
e pregar, mas sendo um exemplo vivo da graça de Deus. Testemunhar
sem o apoio de um estilo de vida prático é vazio, prejudicial e destrutivo.
Nunca será enfatizado excessivamente que a conduta exemplar do povo
de Deus era (e ainda é) o m elhor testemunho para o Senhor. Deus declara:
“indicarei a santidade do meu grande nome, que foi profanado entre as
nações, o qual profanastes no meio delas; as nações saberão que eu sou o
SENHOR, diz o SENHOR Deus, quando eu vindicar a minha santidade
perante elas” (Ez 36:23; ver também 36:33-38).

A atuação de Deus através dos gentios (fora de Israel)

Deus chamou Seu povo para uma missão determinada, e Seu povo
precisava cumprir essa missão, mas Deus também trabalhava fora de Israel.
O remanescente do Antigo Testamento não era um grupo eleito que seria
salvo de modo exclusivo, mas foi eleito para uma missão. Todavia, isso
não significa que Deus não use também outras pessoas ou não trabalhe por
outros povos. Como isso foi feito nem sempre nos é revelado. A obra de
Deus com diferentes povos fora do corpo oficial de crentes é apresentada
nas seguintes histórias:

Melquisedeque, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo (Gn 14:18-20)


Melquisedeque aparece repentinamente no cenário como um
personagem desconhecido, abençoa Abraão e expressa uma forte crença no
Deus Criador que concedeu vitória a Abraão contra seus inimigos. Abraão
52 I Jiri Moskala

deu o dízimo a Melquisedeque como expressão de seu amor e gratidão a


Deus. Porque Melquisedeque serviu ao Senhor fielmente, tomou-se um
tipo de Cristo (Hb 7:1-3; 7:11-17).


Jó não era israelita, mas um sábio do Oriente muito respeitado, da
terra de Uz (Jó 1:1-3). Provavelmente viveu no tempo dos patriarcas.
Afirmou três vezes que ele “era íntegro e reto, temia a Deus e evitava fazer
o mal” (Jó 1:1, 9; 2:3).

Jetro, sacerdote de Midiã e sogro de Moisés (Êx 18:1).


Jetro, depois de ouvir de Moisés o que Deus fez por Israel no Egito,
louvou Yahweh: “Bendito seja o SENHOR que libertou vocês das mãos
dos egípcios Agora sei que o SENHOR é maior do que todos os deuses,
pois Ele os superou exatamente naquilo de que se vangloriavam” (Êx
18:10-11).

Balaão, um profeta de Deus


Balaão pronunciou profecias messiânicas (Nm 24:17-19) em meio
da apostasia (Nm 22-24) que lhe custou a vida (Nm 31:8; cf. Ap 2:14).

Raabe, a prostituta em Jerico


Raabe ouviu sobre o Deus de Israel, creu, ajudou dois espias israelitas,
salvou sua família da destruição e tomou-se membro do povo de Deus (Js
2:1-21; 6:17, 25; cf. M t 1:5; Hb 11:31; Tg 2:25). Mais tarde, Raabe casou-
se com Salmon, filho de Naassom, um dos proeminentes príncipes de Judá
(N m 7:12; Rt 4:18-22; 1 Cr 2:11-12; Mt 1:1, 5-6), e tomou-se ancestral do
Messias.53

53Richard M. Davidson, In the Footsteps o f Joshua (Hagerstown, MD: Review and


Herald, 1995), 52. Considere, também, como pessoas de diferentes nações foram atraídas
a Deus e Seu povo, procurando estar a serviço de Israel. Veja, por exemplo, os casos de
Urias, o hitita (2Sm 11:3), e Ebede Meleque, o oficial etíope do palácio real (Jr 38:7-13).
A missão e a obra de Deus entre os gentios no Antigo Testamento | 53

Deus trabalhou com outros povos: os etíopes, filisteus e arameus


O profeta Amós proclama a intervenção divina a essas nações de
modo audacioso: “Não sois vós para mim, ó filhos de Israel, como os filhos
dos etíopes? - diz o SENHOR. Não fiz eu subir a Israel da terra do Egito, e
de Caftor, os filisteus, e de Quir, os siros?” (Am 9:7). Não há outro registro
histórico dessas atividades divinas, e não há outra passagem bíblica que
testemunhe sobre isso além desse texto em Amós.

Período de graça aos cananeus


Deus concedeu 400 anos de graça aos cananitas para que se
arrependessem e retomassem a Ele (Gn 15:13-16). De modo semelhante,
antes do dilúvio, Deus concedeu 120 anos de graça (Gn 6:3). No entanto,
a rebelião contra Deus prevaleceu em ambos os casos.

As nações foram julgadas por Deus


Como já mencionado acima, muitos profetas proferiram oráculos
contra as nações estrangeiras (Is 1 3 2 8 - 3 3 ;23‫ ;־‬Jr 46-51; Ez 25-32; J13:1-3,
12; Am 1-2). Isso sugere que Deus lhes revelou a verdade e que, por isso,
se tomavam responsáveis por suas ações diante de dEle (ver especialmente
os livros de Jonas e Obadias; Jr 51:59-64).54

Nabucodonosor
Nabucodonosor, o famoso rei babilônio escreveu uma carta ao mundo
pagão a respeito de sua dramática história de conversão e testemunhou
poderosamente acerca do etemo reino do Deus Altíssimo, que o humilhou
e lhe revelou Sua soberania (Dn 4).

í40 julgamento não atinge somente as nações, mas também é pronunciado aos seus
falsos deuses, como no caso do deus babilônio Marduque ou Bel (ver Is 46-48). Além dis-
so, o evento do Êxodo é descrito poderosamente como a vitória de Deus sobre os deuses
egípcios (Êx 12:12). Como resultado, a derrota desses deuses mostrou às pessoas que não
era necessário servi-los.
54 I Jiri Moskala

Ciro
Deus usou Ciro para realizar Seu propósito: libertar o povo de Deus
do exílio babilônico (ver: Is 44:28; 45:1-4; Ed 1:1-4; 5:13-16).

O plano final de Deus

O mais importante, é que Deus quer unir esses dois grupos: pessoas
dentro e fora da igreja, o fiel remanescente de Deus. Por exemplo,
Melquisedeque entrou em contato com Abraão (Gn 14:18-20); Raabe com
Israel (Js 2); Jetro com Moisés (Êx 3 e 18); Naamã com Eliseu (2 Rs 5);
Nabucodonosor com Daniel (Dn 1; 2; e 4); Assuero [Xerxes] com Ester (Et
1-9). A moabita Rute expressou-se eloquentemente à israelita Noemi: “O
teu povo é 0 meu povo, o teu Deus é o meu Deus” (Rt 1:16).
Isaías descreve essa conquista de modo extraordinário, fornecendo
um vivido quadro:

Naquele dia, haverá estrada do Egito até à Assíria, os assírios


irão ao Egito, e os egípcios, à Assíria; e os egípcios adorarão
com os assírios. Naquele dia, Israel será o terceiro com os
egípcios e os assírios, uma bênção no meio da terra; porque o
SENHOR dos Exércitos os abençoará, dizendo: Bendito seja
0 Egito, meu povo, e a Assíria, obra de minhas mãos, e Israel,
minha herança (Is 19:23-25).

Essa é uma afirmação deslumbrante, surpreendente e sem igual,


porque Israel, Egito e Assíria são chamados de povo áe Deus e adoram
juntos!55

55É muito importante notar que, em meio ao julgamento sobre as nações, 0 profeta
Isaías menciona três passagens positivas com relação aos gentios (caps. 13-23): 14:1-2
(os estrangeiros se juntarão ao povo de Deus, unindo-se a ele); 18:7 (as nações trarão
dádivas ao templo); e 19:17-25 (altar e monumento ao Senhor serão erigidos no Egito; os
egípcios clamarão ao Senhor; Ele se dará a conhecer a eles, e eles O adorarão).
A missão e a obra de Deus entre os gentios no Antigo Testamento | 55

Conclusão

Deus é o Missionário, com um empolgante e mega plano (missio Dei)


para abençoar e salvar ao mundo todo. No entanto, para esse propósito,
Ele utiliza instrumentos humanos, e, através deles, leva as pessoas a Si
(Is 45:22). Desde o início, o horizonte da missão para o povo do Antigo
Testamento era mundial. Adão, Sete, Enoque, Noé, Abraão, Moisés, os
profetas e vários outros que tiveram um a missão a cumprir. O propósito
intencional e irrevogável de Deus ao eleger Abraão ou Israel era tomá-lo
uma bênção, luz e testemunha ao mundo inteiro a respeito do verdadeiro
Deus, para que todos tivessem um conhecimento salvífico do Senhor vivo
e amoroso. O objetivo do plano divino sempre foi convidar a todos os seres
humanos à salvação, porque desde o início o plano da redenção nunca foi
oculto nem reservado a apenas uma única família, gmpo ou nação. Através
de Abraão e sua posteridade, todas as famílias da terra seriam abençoadas.
A visão missionária do Antigo Testamento incluía a todos.
A missão não é somente ir a algum lugar, enviar alguém ou fazer algo.
Missão é, essencialmente, ser: ser um povo especial com uma mensagem
especial que precisa ser modelada na vida real. Isso traz implicações para
os cristãos e de forma particular para a eclesiologia adventista, que pode
ser resumida nos pontos a seguir:
1. Missão significa uma identificação com o irrevogável objetivo de
Deus para salvar a humanidade e elaborar esse plano.
2. Ser é mais importante que enviar. O chamado para um estilo de
vida ético e viver realmente a mensagem de Deus é um foco crucial par ser
enfatizado nos tempos modernos.
3. O âmbito mundial da missão do povo de Deus não mudou. Assim
como Deus tinha um plano intencional para salvar o mundo nos tempos
da dispensação do Antigo Testamento, assim Ele o tem hoje. Seu plano
para a missão sempre incluiu todas as nações, grupos étnicos e famílias
(Gn 12:2-3; Êx 19:3-6; At 15:14; G1 3:6-9, 26-29; E f 3:6-12; lP d 2 :9 ; Ap
‫ ־‬: 9-10 : 14:6).
56 I Jiri Moskala

4. A missão e a mensagem são inseparáveis. Os fundamentos da


mensagem não mudaram. Surgiram novas e diferentes ênfases com o
passar do tempo, mas os princípios básicos da salvação foram válidos o
tempo todo. Paulo, por exemplo, edificou a doutrina da justificação pela
graça, através da fé em Cristo em textos chaves derivados da Escritura
Hebraica, de acordo com a estrutura do cânon hebreu: Gênesis 15:6 (Torá);
Habacuque 2:4 (Profetas), e Salmo 32:1-2 (Escritos). O povo de Deus da
atualidade deve proclamar o “evangelho eterno” .56 Isso é contra a visão
marcionita que sugeriu a discrepância entre Antigo e Novo Testamento, e
enfatizou a inferioridade da antiga aliança.57
5. A comunidade de fé do Antigo Testamento e sua mensagem eram
escatológicas e orientadas para esperança e futuro.58 O paradigma bíblico
escatológico podería prover um modelo para nosso pensamento hoje.
Deus está vindo para estabelecer Seu reino eterno. Esse foco escatológico
fornece combustível poderoso para a missão.59 A esperança da segunda
vinda de Jesus Cristo é a esperança de todas as esperanças.
6. Os profetas falam constantemente contra os falsos sistemas

56De acordo com Apocalipse 14:6, a mensagem proclamada antes da segunda vin-
da de Cristo é chamada de “evangelho eterno.” Essa expressão é um hapax legomenon,
isto é, ocorre uma única vez em toda a Bíblia, e este fato proposital sublinha a continui-
dade e a imutabilidade do Evangelho, que prepara o mundo para 0 retomo de Cristo. Essa
mensagem não é nova, sempre foi pregada e sempre será válida, é a mesma até o final.
Teve ênfases específicas, porém, seus princípios e fundamentos mantêm-se inalterados.
Há somente um Evangelho, o Evangelho de acordo com Deus ou a Bíblia. O que é prega-
do antes da parousia não é e não podería ser uma nova invenção, mas a confirmação da
Verdade etema e da etema Aliança sobre o relacionamento entre Deus e os seres humanos.
57Sobre Marcion, suas idéias e teologia, ver Joseph B. Tyson, Marcion and Luke-
Acts: A Defining Struggle (Columbia, SC: University o f South Carolina Press, 2006),
24-49.
58Os mesmos princípios de adoração observados na prática do povo do Antigo
Testamento precisam ser seguidos em nossa experiência religiosa hoje. O calendário re-
ligioso do povo do Antigo Testamento estava centralizado em eventos salvíficos. Essas
âncoras litúrgicas e ênfases teológicas precisam ser implementadas em nossas práticas
litúrgicas.
59Amedeo Molnár, “Eschatologická nadje eské Reformace” in Od reformace kzít-
ku (Praha: Kalich, 1956), 13-101; Sakae Kubo, God Meets Man (Nashville, TN: Southern
Publishing Assoe, 1978), 105-111.
A missão e a obra de Deus entre os gentios no Antigo Testamento | 57

religiosos e alertam contra a infiltração do paganismo na verdadeira


adoração. É tarefa do povo de Deus da atualidade apresentar, em primeiro
lugar, o quadro verdadeiro sobre Deus, revelar Seu verdadeiro caráter,
quem Ele é e firmar a atenção de todos em Jesus Cristo, ao mesmo tempo
desvendando com firmeza, mas amorosa e sabiamente, o anticristo e seu
sistema religioso apóstata.
7. Deus utiliza dois grupos diferentes: (A) internos, i.e., oremanescente
fiel (principal corrente da comunidade de crentes); e (B) externos, i.e.,
aqueles que servem a Deus fielmente de acordo com a luz que possuem,
mas não pertencem ao movimento escatológico divino. O remanescente
fiel tem uma missão especial, concedida por Deus. Além disso, Deus tem
Seus mensageiros, indivíduos ou comunidades, que também proclamam a
verdade. O Senhor deseja colocar essas duas correntes diferentes juntas,
atraindo-os uns aos outros, porque seu objetivo final é ter um só rebanho
(Is 14:1; 5 6 :3 8 ‫ ;־‬ver também Jo 10:16; E f 3:6). Precisamos reconhecer a
58 I Jiri Moskala

obra de Deus fora de nossa comunidade de fé.60 Não fazer isso seria um
sinal de arrogância e orgulho espiritual. O pensamento sectário sempre
está associado com a convicção que “nós” somos os detentores da verdade.
No entanto, é a Verdade que precisa nos possuir, pois somente dessa forma
poderemos ser fiéis em proclamar a mensagem de Deus e cumprir Sua
missão (Jo 17:15).61

60Comparar com Apocalipse 18:1-4: “Sai dela, povo meu!” Isso significa que Deus
tem filhos na Babilônia espiritual e Ele trabalha por esse povo fiel em diferentes denomi-
nações e igrejas. Precisamos genuinamente amar e trabalhar com os babilônios enquanto
denunciamos Babilônia como um sistema religioso falido.
E surpreendente que todos os aspectos cruciais (mencionados nos sete pontos
acima) também possam ser encontrados no Evangelho eterno, resumido no formato da
tríplice mensagem angélica de Apocalipse 14:6-13. Assim, ao remanescente (Ap 12:17;
14:12; 19:10) está confiada a continuação da missão do povo do Antigo Testamento. Essa
mensagem do tempo do fim precisa preparar pessoas para encontrar-se com o Senhor.
“Observe, por exemplo, o programa divino para pregar 0 Evangelho a todo 0 mundo:
Ele [0 mensageiro] tinha na mão o evangelho eterno para proclamar aos que habitam na
terra, a toda nação, tribo, língua e povo” (v. 6). Veja a importância de uma vida ética na
tomada de decisão em relação a Deus e viver para a glória de Deus: “Temei a Deus e daí-
lhe glória” (v. 7a). Observe a ênfase na adoração ao Criador, que implica a observância da
lei de Deus (citação do quarto mandamento de Êx 20:10): “adorai aquele que fez o céu, e
a terra, e 0 mar, e as fontes das águas” (v. 7b). Note que 0 Evangelho eterno não enfatiza
somente viver no Senhor: “Felizes os mortos que morrem no Senhor de agora em diante”
(v. 13), e também alerta contra o anticristo: “Caiu, caiu a grande Babilônia que tem dado
a beber a todas as nações do vinho da furia da sua prostituição” (v. 8). Note 0 chamado
radical para seguir a instrução de Deus, senão, a morte eternal reunirá os ímpios: “Se
alguém adorar a besta e a sua imagem e receber a sua marca na testa ou na mão, também
beberá do vinho do furor de Deus que foi derramado sem mistura no cálice da sua ira”,
(w . 9-11). Observe também o realce à perseverança dos santos em missão, a obediência
deles ao Senhor e a guarda da fé de e em Jesus: “Aqui está a perseverança dos santos, os
que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (v. 12).
61Stott comenta com profundidade: “Tendemos a seguir um ou outro lado de dois
extremos opostos. Ou estamos determinados a viver no mundo e manter contato com os
não cristãos que começamos a assimilar suas idéias e normas, e então somos culpados de
nos tornar conformados com o mundo (Rm. 12:1, 2); ou estamos tão determinados a não
perder nossa identidade cristã distintiva que passamos a evitar contato com não cristãos
no mundo, e nos tomamos culpados de nos retirarmos dele (Jo 17:15; 1 Co 5:10). A
melhor forma de evitar esse dois erros, de conformar-se e retirar-se, é estar engajado em
missão. Porque se lembrannos de que fomos enviados ao mundo como representantes de
Cristo, não podemos nos conformar com ele e parar de representá-Lo, nem podemos nos
retirar do mundo, pois não havería ninguém para representá-Lo” (John R. W. Stott, ed.,
Making Christ Known, 11).
LA MISIÓN DE LA IGLESIA A LA LUZ DE LOS
ORÁCULOS CONTRA LAS NACIONES EN EL
ANTIGUO TESTAMENTO

Carlos Elias Mora


Adventist Institute o f International Advanced Studies, Filipinas

‫וווו<וווו!וו!ווו!וו‬1‫וווווו!ווו!וו!וווו;ווווזווווווווווווווווזווו!ווווו‬1[1‫וווווו‬1‫ווו!וווווווווווווווו!וווווו!ןןן]!וווזוווווו!וווווווווו‬1‫ו!ווו!וווווווווווו‬1‫וווווווווו!!וווווווווווזוווווו‬

Es recurrente en los textos proféticos del Antiguo Testamento encontrar,


mensajes contra las naciones, especialmente en Isaías, Jeremías, Ezequiel,
Amos, Abdías, Jonás, Nahum y Sofonías. El presente trabajo presenta, el
propósito y contexto histórico de estos oráculos así como el objetivo divino en
su proclamación. Este estudio conlleva conclusiones acerca de la misión hacia
los paganos en el AT además de obtener principios y lecciones para, la iglesia
actual en su proclamación del Evangelio. Moskala reconoce que “los profetas
de Dios no solo predicaron a su propio pueblo sino también predicaron acerca
de muchas naciones, Dios juzgará a todas... Dios estaba preocupado con todas
las naciones, y el mensaje del pueblo del Antiguo Testamento transcendió los
límites de Israel”.1

Un estudio de las profecías contra las naciones

El siguiente bosquejo provee un vistazo panorámico de los principales


oráculos contra distintos pueblos, hallados en los profetas veterotestamentarios .12

1Jiri Moskala, “The Mission o f God’s People in the Old Testament”, Journal o f
the Adventist Theological Society 19/1-2 (2008): 43, 44.
2Los oráculos contra las naciones son clasificados entre los oráculos de juicio, que
incluye además otras formas: juicios de pacto, oráculos de lamento, discursos de disputa
y profecías de desastre. Willen A. VanGemeren, Interpreting the Prophecy Word (Grand
Rapids: Zondervan, 1990), 79.
60

EGIPTO DAM ASCO 0MOAB FILISTEA BABILONIA

1:3-5 Cortados; 1:6-8 El remanente perecerá;


2:1-3 Fuego; muerte AM OS
exilio destrucción
I Carlos Elias Mora

19 Guerra civil;
declinación 17:1-3 Ruina, 15-16 Devastación, 13:1-14:23
14:29-32 Sin ayuda, hambre,
económica; derrota pero dejado un ruina; lamento; algún Destrucción; no ISAÍAS
derrotada desde el norte
militar; conquistado remanente remanente sobrevivientes
por Asiria

50-51 Cautividad;
46:1-26 Sería 49:23-27 48 Desolación; 47 Conquistada desde el norte;
destrucción;
conquistado por Sin ayuda; vergüenza, exilio; destrucción; lamento del JEREM ÍAS
humillación;
Nabucodonosor destrucción restauración futura remanente
desolación; ruina

29-32 Victoria sobre 25:15-17 Destrucción; el


25:8-11 Cautividad EZEQUIEL
Babilonia remanente cortado

Hab 2:6-17
Destrucción; OTROS
desgracia
La misión de la Iglesia a la luz de los oráculos contra las naciones | 61

Figura 1. Las naciones en la profecía3

A continuación se estudiará en su generalidad, cada colección de


oráculos, en los profetas de forma cronológica. Se apreciará como se fue
desarrollando este estilo literario en los primeros profetas, hasta llegar a su
desarrollo máximo con Jeremías y Ezequiel a inicios del siglo VI a.C.34 Se

3Walton y Hill, Old Testament Today. A Journey from Original Meaning to Con-
temporary Significance (Grand Rapids: Zondervan, 2004), 258.
4Se debe reconocer que en Zacarías existe un párrafo que alude a distintas nació-
nes, pero no con una estructura y extensión como aparece en Amos, Isaías, Jeremías y
Ezequiel (Zac 9:1-8). Además este pasaje es precedido por una hermosa promesa que
“aún vendrán pueblos y habitantes de muchas ciudades” y buscarán a los judíos para que
los lleven a buscar al Señor porque “hemos oído que Dios está con vosotros” (Zac 8:20-
23).
62 I Carlos Elias Mora

enfocará de manera especial el modo en que se presentaron, su contenido


general y su propósito.

Los oráculos de Amos 1 y 2

Las profecías contra las naciones en Amos están ordenadas en lo que


ha sido denominado un “quiasmo geográfico” .5

Siria (Damasco) noreste \


Filistea (Gaza) suroeste l No familia
Fenicia (Tiro) en medio de 1 Israel

los dos primeros

Edom sureste Λ
Amón noreste y Familia
Israel
Moab en medio de los 1
dos primeros

Judá sur
Israel en el centro mismo

Figura 2. Quiasmo geográfico de Amos 1 y 2

Empieza con las naciones extranjeras, pasa por Judá y finalmente


llega con Israel. Tal secuencia parece indicar que todos los pueblos están
en pecado, pero “tú también, Samaría” . Sus oyentes estarían de acuerdo
con las condenas a las demás naciones pero, se sorprendieron cuando el
profeta los acusó a ellos. En un párrafo poético extenso como éste, Israel
y Judá se convierten en el centro de la poesía, mientras que los demás

5Raymond Dillard y Tremper Longman III, An Introduction to the Old Testament


(Grand Rapids: Zondervan, 1994), 379.
La misión de la Iglesia a la luz de los oráculos contra las naciones | 63

serían elementos secundarios.6 El presente trabajo sugiere que eran más


que técnicas retóricas, como se propone más adelante, aunque no dejan de
tener también esta utilidad.
Estos oráculos usan el esquema X +X l: “por tres pecados de...
y por el cuarto no revocaré el castigo” . Sugiere que, “habían pecado lo
‘suficiente, y más que suficiente” ’. La siguiente sinopsis permite visualizar
cada nación con su respectivo pecado y castigo.

N A CIÓ N PEC A D O C A STIG O


Prenderé fuego en la
Trillaron a Galaad con casa de Hazael; quebrará
DAMASCO
trillos de hierro cerrojos y destruirá
moradores
Prenderé fuego en el
Llevó cautivo al pueblo muro; destruiré a los
GAZA
para entregarlo a Edom moradores y volveré mi
mano

Llevó cautivo al pueblo


para entregarlo a Edom Prenderé fuego en el
TIRO
y no se acordaron del muro
pacto de hermanos

Persiguió a su hermano,
EDOM violó todo afecto y ha Prenderé fuego en Temán
guardado rencor

Encenderé fuego en el
Por ambición mataron
AMÓN muro; su rey y príncipes
mujeres embarazadas
irán en cautiverio

6Dillard y Longman, 380.


64 Carlos Elias Mora

Prenderé fuego en Moab;


Quemó los huesos del quitaré al juez en medio
MOAB
rey de Edom de él y matarán a todos
sus príncipes

Menospreciaron y no
guardaron la ley de Prenderé fuego en
JUDÁ
Jehová; les hicieron Jerusalén
errar sus mentiras

No tendrá salvación en
Abuso del débil;
ISRAEL la destrucción y toda
inmoralidad, idolatría
habilidad será inútil

Figura 3. Descripción de pecados y castigos a las naciones en Amos 1 y 2

Las querellas contra las naciones se fundamentaban en crímenes


contra la humanidad pero a Judá se le acusa porque “menospreciaron la
ley de Jehová, y no guardaron sus ordenanzas” (2:4). Israel se le condena
por pecados contra su prójimo, y por lo tanto, contra la ley de Jehová.7
Por lo tanto destacan tres elementos de la relación de Dios con las
naciones extranjeras según Amos. Primero, Dios da tiempo de gracia hasta
que la maldad de las naciones llegue a su extremo, para luego ejecutar
el juicio. En segundo lugar, las causas del castigo son distintas: para las
naciones paganas el meollo de su falta son pecados contra el prójimo,
mientras que para Judá e Israel tienen que ver con ley.8 En otras palabras,
cada uno es castigado según la luz que recibió. Por último, es evidente

7William LaSor y otros, Panorama del Antiguo Testamento (Grand Rapids: Libros
Desafío, 1995), 317.
8Es muy interesante la aplicación a nuestros días que hace Schlimm. El compara
los pecados de las naciones aquí mencionadas con los crímenes de guerra que condena
la convención de Ginebra. Su enfoque es muy fresco y acuciante. Matthew R. Schlimm,
“Teaching the Hebrew Bible amid the Current Human Rights Crisis: The Opportunities
Presented by Amos 1:3-2:3,” SBL Forum , n.p. [cited Jan 2006]. Online:http://sbl-site.
0rg/Article.aspx?ArticleID=478
La misión de la Iglesia a la luz de los oráculos contra las naciones | 65

que el Señor no suaviza su mensaje, tratando de ocultar los defectos de los


humanos. Los reprende y denuncia claramente sus pecados.

Jonás, Nahúm y la caída de Nínive

Estos dos profetas no tienen una colección de oráculos, sino que sus
libros se centran en una ciudad poderosa, capital del mayor imperio de sus
días. Sus mensajes contienen importantes lecciones para la iglesia actual.
Jonás realizó su ministerio c. 790 a.C. (cf. 2 R 14:25) durante el
reinado de Adad Nirari III, rey asirio 805-782 a.C.9 Este monarca es
reconocido como aquel que realizó una reforma monoteísta en Nínive a
favor del dios Nebo, hecho que es relacionado con la obra del profeta
hebreo. El pueblo ninivita vivió una experiencia de arrepentimiento, al
menos durante este período.
Es llamativa esta experiencia a la luz de las profecías de Nahúm. Su
ministerio lo desarrolló alrededor del 615 a.C.10*período en que, Nínive
era sitiada y destruida por las fuerzas combinadas de babilonios y medos.
El libro de Nahúm contiene fuertes declaraciones en contra de la capital
asiria, muchas de ellas que reflejan un extraño gozo por la caída de la
ciudad (Nah 1:12-15).
Este dilema se comprende mejor cuando contemplamos
que transcurrieron cerca de 150 años de gracia que la Providencia
concedió a los asirios para que abandonaran su idolatría, crueldad y
opresión. Todo lo contrario a lo que a primera vista se puede pensar,
estos libros reflejan la paciencia divina hacia el pecador y como la
justicia divina no actúa hasta que la maldad llegue a su colmo.11

9Véase Nichol, ed., CBA, 4:1019,1020.


10William LaSor y otros, 435. Otros sugieren ubicarlo hacia el 630 aC. Van Ge-
meren, 162.
"Igual manifestación del amor divino hacia un pueblo impío se refleja en el tiempo
que el Señor concedió a los cananeos. N o permitió que Abrahán y su descendencia to-
masen posesión de Canaán hasta que se cumpliesen cuatrocientos años, “porque aún no
ha llegado la maldad del amorreo hasta aquí” (Gn 15:16). El mismo trato recibieron los
66 I Carlos Elias Mora

Los oráculos en Isaías 13 al 22

Estos “mensajes solemnes” fueron dados cerca de 716/715 a.C.


época del poder asirio en su mayor apogeo.
Existe discusión entre los eruditos si considerar los capítulos 24 al 27
como parte de estos sermones.12 De ser así, esta última sección apuntaría
a la exaltación de Dios en contraposición a la humillación de las naciones.
“Su estrategia envolverá dos fases: una destrucción del mundo presente
que invalida sus instituciones y su filosofía, y la introducción de nuevas
estructuras que sostienen el nuevo mundo que Dios creará” .13
A diferencia de Amos o Jeremías, aquí no se aprecia un orden
simétrico geográfico.
Tres temas son enfatizados en estos oráculos: (1) la humillación de las
naciones orgullosas (13:11; 14:13,14; 16:6; 23:9; 25:11); (2) la exaltación
de Dios; y, (3) el establecimiento de Sión (14:1-3,32; 16:5; 17:7; 19:9-15;
24:14-16,23; 25:9; 26:1-19).14
El siguiente cuadro comparativo permite apreciar los temas básicos
y su disposición en la serie de oráculos.15

amalecitas, quienes provocaron a Israel cuando salía de Egipto (Ex 17:8-13). Aunque el
veredicto divino era que raería “del todo la memoria de Amalee debajo del cielo” (Ex
17:14), su sentencia no se ejecutó sino hasta unos cuatrocientos años después a manos de
Saúl y Samuel (1 Sam 1 5 : 1 3 3 ,32 ,9‫)־‬.
12Algunos consideran esta sección (caps. 24 al 27) como el pequeño Apocalipsis
de Isaías, por su contenido escatológico. La conexión sería válida porque finalmente las
naciones serán juzgadas al final del tiempo.
13Gary V. Smith, The Prophets as Preachers: an Introduction to the Hebrewproph-
ets (Nashville: Broadman & Holman Publishers, 1994), 136.
14Smith, 132.
15VanGemeren clasifica los enemigos de Dios en esta profecía en tres grupos: (1)
los opresores- Babilonia y Asiria-, (2) los atribuladores- Moab, Filistea, Aram y Edom-,
y, (3) los seductores: Egipto, Etiopía y Tiro. VanGemeren, 264.
FILISTEA ASIRIA BABILONIA N A C IÓ N

14:29-32 14:24-28 13:1-14:23 CITA

‫צל‬
n
Hermosura, soberbia ©
O

©
O
Como un guerrero ‫ן‬/‫נ‬
(13:4,5)

Los pobres serán ‫צל‬


‫מ‬
apacentados, los o
Su yugo será quitado de YHW H apiada de Israel, §
menesterosos seguros. w
sobre mi pueblo vuelven a su tierra XTt
En Sión se refugiarán los >
afligidos
t/3
Avergonzados, día terrible H
Haré morir de hambre y de ira, cielos conmovidos, H
La misión de la Iglesia a la luz de los oráculos contra las naciones |

mataré tu remanente. Será Quebrantaré al asirio, guerra y desolación


disuelta completa, derribada a O
tierra >
BABILONIA EGIPTO ETIOPÍA DAMASCO MOAB
68

21:1-10 19 y 20 18 17 15 y l6

Te olvidaste del
Dios de la Salvación
Idolatría, orgullo Soberbia
y de la Roca de tu
I Carlos Elias Mora

fortaleza

Dios Mi corazón grita


YHWH cabalga sobre una representado por Moab (15:5);
nube de una forma mis extrañas vibran
apacible (16:11)

Moabitas fugitivos
Quedará un resto
Conocimiento de YHW H en Traerán ofrenda irán a morar contigo.
Dios anuncia a su pequeño en Israel.
Egipto, será sanado; junto a a YHWH al Uno de la casa de
pueblo su acción Verán al Santo de
los asirios servirán al Señor monte Sion David se sentará con
Israel
fidelidad.

En una noche será


Confusión y guerra; sequía,
La ciudad sitiada Damasco en destruida. Mucha
crisis, temerán ante Judá. Cortará las
por persas y medos ruinas, las ciudades lamentación.
Egipto avergonzado ante ramas inútiles
(21:2). Caída. desoladas, sin ayuda Destrucción
Asiria (20:1-6)
completa
TIRO JUDÁ ARABIA DUMA (Edom)

23 22 21:13-17 21:11-12

Desprecio de la advertencia y
05’ Soberbia
‫ש‬ celebración (22:13)
2

o
ζΛ

O
O
‫ש‬
o
CL·
O
‫מז‬
P
►‫>*־‬
P
co

1
ts>
to Sus ganancias serán para Quedarían
los fieles a YHWH sobrevivientes

Los fugitivos son muertos, Toda la gloria La m añana viene


La misión de la Iglesia a la luz de los oráculos contra las naciones |

Destrucción y desolación angustia, alboroto, cayó la de Cedar será y después la

no se les indica el pecado. En algunos de ellos aparece una descripción


aunque no es el caso en todas las naciones. De hecho, a algunas de ellas
Destaca en esta panorámica que la causa del juicio es la soberbia,
defensa deshecha noche
70 I Carlos Elias Mora

de YHWH (mensaje a Etiopía y a Egipto) o existe un clamor de misericordia,


como en el caso de Moab. Pero capta la atención de manera especial que, a
excepción de Duma y Judá, hay una promesa para cada nación en conexión
con el pueblo de Dios.

Los oráculos en Sofonías 2:43:8‫־‬

En una breve colección de profecías contra los pueblos, en


comparación con los profetas mayores, Sofonías reprende a cinco
naciones. Además su contenido es incompleto en comparación
con los profetas citados. Aún así, mantiene la estructura de otros libros
proféticos: (1) inicia con una serie de oráculos relacionados con la situación
histórica de Judá; entonces (2) se vuelve hacia las naciones extranjeras;
y, (3) termina con promesas de bendiciones escatológicas.16 El siguiente
cuadro resume estos oráculos.

NACIÓN CITA PECADO CASTIGO PROMESA

Sus
Sus tierras
principales
serán
ciudades
FILISTEA 2:4-7 para el
serán
remanente
saqueadas y
de Israel
desoladas

Moab
será como
Deshonraron a
Sodoma y
MOAB Y mi pueblo y se
2:8-11 Amón como
AMÓN engrandecieron
Gomorra.
a su costa
Destruidos
sus dioses.

16Dillard y Longman, 419.


La misión de la Iglesia a la luz de los oráculos contra las naciones | 71

Serán
muertos con
ETIOPÍA 2:12
la espada
del Señor

Nínive
asolada y
Contaminada y
ASIRIA 2:13-3:8 abandonada,
opresora
guarida de
animales

Figura 5. Los oráculos en Sofonías 2:4-3:8

Los oráculos en Sofonías son breves y puntuales. Revelan el castigo


a los pecados de las naciones, tal como lo hacen de manera más detallada
los otros profetas.

Los oráculos en Jeremías 46 al 51

Las profecías contra los pueblos en Jeremías se ubican en la última


sección de su libro. Esta colección es datada probablemente entre el 605/604
a.C. y el 593 a.C. momentos en los cuales, el Imperio Neo-Babilónico se
encumbraba en el escenario del ACO como poder soberano, y la monarquía
en Judá vivía sus últimos días.17 Se aprecia una estructuración clara: los dos
grandes poderes del Antiguo Cercano Oriente (ACO), Egipto y Babilonia
se encuentran en este orden al principio y al final, con siete naciones más
pequeñas en medio de ellas.18 Dorsey señala que, “el arreglo de los siete

17Francis D. Nichol, ed., Comentario Bíblico Adventista (Boise, Idaho: Publicado-


nes Interamericanas, 1985), 4:384.
18Harrison discute la diferencia del orden de los oráculos entre el Texto Masorético
y la LXX. No encuentra ningún argumento para desechar la secuencia del texto hebreo.
Véase R. K. Harrison, Introducción al Antiguo Testamento, Vol. 3, trad. Pedro Vega (Jeni-
son, Michigan: T.E.L.L., 1993), 93.
72 I Carlos Elias Mora

oráculos contra estas naciones es aparentemente geográfico” , desde el más


cercano hasta el más lejano:

a. Países vecinos: Filistea, Moab, Amón, Edom


b. País distante: Aram
c. Países más distantes: Kedar, Elam” 19

En base a esta propuesta se nota una disposición de los pueblos en el


siguiente quiasmo, donde los extremos son grandes potencias de la época
y en medio, siete naciones pequeñas:20

A 1 Poder mundial: Egipto (al sur; con un mensaje a Judá),


46:1-28
B 1. Filistea (vecino cercano al sur), 47:1-7
2. Moab (vecino cercano al este), 48:1-7
3. Amón (vecino cercano al este), 49:1-6
4. Edom (vecino cercano al este), 49:7-22
5. Damasco (nación distante al norte), 49:23-27
6. Kedar (nación distante al norte), 49:28-33
7. Elam (nación más distante al norte), 49:34-39
A2 Poder mundial: Babilonia (al norte: con un mensaje a
Judá), 50:1-51:64

Figura 6. Disposición quiásmica de las naciones en Jeremías 46 al 51

A continuación se presenta un cuadro comparativo de las profecías


para visualizar nuevamente el contenido de estos oráculos:

19David A. Dorsey, The Literary Structure o f the Old Testament. A Commentary on


Genesis-Malachi (Grand Rapids: Baker Books, 1999), 241.
20Véase Dorsey, 242.
La misión de la Iglesia a la luz de los oráculos contra las naciones | 73

NACIÓN
FECHA DESAFÍO CASTIGO PROMESA

JUDÁ: No
Día de venganza, temas, te
EGIPTO

El 4o año de Armate, id
derramamiento salvaré, te
Joacín, rey a la guerra,
de sangre, reuniré, te
de Judá atacad, corred
destrucción disciplinaré,
46:27, 28
FILISTEA

“Antes que Destrucción.


el faraón La espada de
destruyera YHWH en contra
Gaza”, 47:1 ellos

Huid, salvad
vuestra vida,
Quebranto,
MOAB

desciende,
lamento,
párate,
desolación
pregunta,
lamentad

Después
Laméntate, Ciudades
AMÓN

haré volver
clamad, puestas a fuego,
a los
endechad cautiverio
cautivos
EDOM

Huid, volved, Quebranto,


escondeos derribado, temor
74 I Carlos Elias Mora

DAMASCO
Vergüenza,
temblor, muerte,
fuego

Destrucción,
CEDAR

Huid, saqueo,
esconded esparcidos,
soledad

En los
Al principio Destrucción de últimos
ELAM

del reino de los 4 puntos de la días, haré


Sedequías tierra, esparcidos volver a los
cautivos

Palabra
que envió JUDÁ:
Jeremías Buscan al
BABILONIA

cuando Huid, salid de Señor y se le


Destruida,
Sedequías Babilonia unen, 50:4-
asolada, espada,
fue a Buscad 7; perdón y
sequía, ruina,
Babilonia bálsamo para restauración,
conquistada
en el 4o su dolor 50:20;
año de su reunidos,
reinado, 50:33,34
51:59,60

Figura 7. L os oráculos de Jerem ías 46 al 51

Es evidente que los mensajes contienen un fuerte anuncio de destrucción


y condenación aunque no hay mención a los pecados de cada pueblo. El oráculo
contra Egipto puede ubicarse en el 605 a.C. año en que, se peleó la batalla clave
de Carquemish y a la cual la profecía parece hacer referencia. En cuanto a las
La misión de la Iglesia a la luz de ios oráculos contra las naciones | 75

naciones pequeñas se invita a no confiar en ellas, a pesar de pretensiones de


grandeza. Llama la atención las promesas del regreso de sus cautivos hechas a
Amón y Elam así como, las promesas hechas a Judá de restauración y perdón,
como se indicó con anterioridad.
El mensaje de estos oráculos pueden resumirse en: (1) el pueblo de Dios
será esparcido entre las naciones (50:3, 17, 33); (2) en venganza, Dios traería
una nación contra la arrogante y violenta Babilonia y la destruiría (50:9-16,21-
32,35-46; 51:6,10,45-46, 50-51); y, (3) los judíos retomarían y entrarían en un
pacto eterno con Dios (50:4-5,19-20,34; 51:6,10,45-46, 50-51).21

El mensaje de Abdías

El contenido de Abdías es muy similar al mensaje dado a Edom en


Jeremías 49:7-22, razón por la cual es ubicado en la época de la caída de
Jerusalén en 586 a.C. Su mensaje en su primera parte (Ab 1-16) se dirige contra
Edom. Es condenado por su orgullo y autoconfianza (vers. 3,4,13,14), además
de aprovecharse de la desgracia de Judá (vers. 10-12). Se anuncia la retribución
que caerá sobre esta nación (vers. 5-9,15,16). La pequeña profecía, como otros
oráculos contra naciones, termina con una promesa de la restauración de Israel
(vers. 17-21). Se aprecia, como en oráculos anteriores, el énfasis en la condena
debido a pecados contra el prójimo así como, la esperanza que se da a Israel de
restauración. Ante las calamidades de poderes que en su momento son exitosos,
se contrasta con la futura suerte del pueblo de Dios, más firme y duradera.

Los oráculos en Ezequiel 25 al 32

Dorsey señala en su trabajo que, el libro de Ezequiel está compuesto por


siete distintas secciones, de las cuales los mensajes contra los pueblos de su
época corresponderían al quinto apartado.22Estos oráculos marcan el fin de la
primera mitad del libro de Ezequiel, que corresponde “a los mensajes dados
por Ezequiel a los cautivos cerca del río Quebar, en las proximidades de

21Smith, 225.
22Dorsey, 257.
76 I Carlos Elias Mora

Babilonia, en su mayor parte antes de la caída de Jerusalén en 586 a.C.”23Las


profecías en sí son fechadas en la misma época del asedio y toma de Jerusalén,
desde el noveno año (cf. 24:1) hasta el duodécimo año (32:17) de la segunda
deportación- entre los cuales estaba Ezequiel- que sería del 585 al 582 a.C.
La disposición de estos oráculos sugiere un ir y venir en la geografía de
Palestina: norte- sur y luego sur-norte, regresando al sur con el gran Egipto,
previo un pequeño oráculo de esperanza para Israel (28:25, 26).

NORTE

OFSTE Λ.
Λi
6. S id ó n 1. A m ó n / ESTE

No parientes /
5. T iro 2. M o a b
de Israel / 4. F ilis te a
‫ ץ‬7 3. E d o m N. de Israel
V

-----------------------N
SUR
V_______________ J

Figura 8. Movimiento geográfico en los oráculos de Ezequiel 25 al 32

Nuevamente es oportuno revisar el contenido de las profecías


mediante un cuadro sinóptico que permita visualizar una panorámica de
los oráculos.

23Nichol, CBA, 4:599.


La misión de la Iglesia a la luz de los oráculos contra las naciones | 77

C A ST IG O
PE C A D O
N A CIO N

YHWH
Entregados a
Se gozaron los orientales.
cuando el Ciudades
“y sabrás que yo
AMÓN Santuario fue convertidas
soy YHWH'
profanado y en majadas.
entregado Judá Cortado y
destruido

Entrega sus
tierras a los
Menospreciaron “y sabrán que yo
MOAB orientales y no
la casa de Judá soy YHWH”
más memoria
de Moab

Talados y
Venganza contra “y conocerán mi
EDOM asolados a
la casa de Judá venganza”
cuchillo

Se vengaron Cortados y
con despecho destruidos. “y sabrán que yo
FILISTEA
por antiguas Grande soy YHWH"
enemistades venganza

Orgullo de su Destruida, no
TIRO poder, riqueza y queda nada,
hermosura derribada
78 I Carlos Elias Mora

Castigados con
“y sabrán que yo
SIDÓN p e s te , sangre y
soy YHW H”
espada

Asolada,
destruida “y sabrán todos
(Existe una los habitantes que
EGIPTO Autoconfianza
promesa de yo soy YHWH”,
restauración, 29:6,9,16; 30:8,25
29:13-16)

Figura 9. Los oráculos en Ezequiel 25-32

Se aprecia que, la causa de los pecados por los cuales son condenados
estos pueblos, a excepción de Sidón que, no se menciona porque su oráculo
es muy corto. El mismo tiene que ver con pecados hacia el prójimo y
con la soberbia, similares a las profecías anteriores. Todos los castigos
serían realizados por, los babilonios y Nabucodonosor como los agentes en
manos de Dios. Por último, hay un interés en el mensaje divino que estos
pueblos reconozcan que “yo soy YHWH‫ ״‬.

La proclamación de estos oráculos

Los profetas eran más que escritores sentados a la luz del atardecer
anotando sus reflexiones. Eran predicadores que debían proclamar la
Palabra en público, en las calles, en las puertas de la ciudad y en el campo
abierto. “Profecía clásica fue primero y ante todo una expresión oral, las
formas escritas fueron secundarias, pero el proceso de lo oral a lo escrito
está lejos de estar claro. Ciertos textos pueden haber sido escritos pronto
después de haber sido pronunciados. Otros pudieron haber circulado entre
un grupo de discípulos” .24 “Ellos no estaban primariamente preocupados
por escribir un registro de un período histórico, un cuadro escatológico

24VanGemeren, 76.
La misión de la Iglesia a la luz de los oráculos contra las naciones | 79

de los eventos futuros, o una presentación sistemática de su teología. Era


gente real tratando de comunicar mensajes urgentes a amigos, y aún a
enemigos” .25
Por lo que la transmisión de su mensaje estaba llena de persuasión,
entusiasmo y técnicas retóricas que son reflejadas en sus escritos.26
No hay evidencia que estos mensajes fueron proclamados a viva voz
contra las naciones vecinas de Israel, pero de igual forma no hay evidencia
que no se hiciera. La mayoría de los comentaristas no opinan al respecto,
y quienes lo hacen consideran que fue tan solo una técnica retórica para
captar la atención de los oyentes hebreos. Aún así no es improbable que los
mensajes llegaran de alguna manera a las respectivas naciones. Moskala
sugiere que “los profetas Amos, Isaías, Jeremías y Ezequiel dedican
largas porciones de sus libros (aún todo el libro en el caso de Abdías)
para pronunciar juicio contra otras naciones lo cual sugiere que, Dios tenía
el propósito de trabajar por esos pueblos. Ellos eran responsables por su
conducta y accionar ante el Señor”.27
Se ha propuesto que: “no fueron pronunciados exclusivamente
para las naciones a las cuales hacen referencia, sino principalmente
para Israel, pueblo de Dios, a fin de que pudiera comprender el trato
de Dios para con las naciones circunvecinas”.28 Si hubo un trato o
forma de relacionarse de la Deidad con estos pueblos, es porque ellos
estarían conscientes de esa oportunidad. Es ilógico pensar que el
Señor manifestara sus expectativas,su carácter y los castigos sobre
los pecados, si los afectados directos eran ignorantes al respecto.
En el caso de Jonás si hay evidencia que el mensaje fue proclamado
a la nación pagana, aunque sorprendentemente el mensaje predicado
fue corto, al menos lo que señala el registro: “ ¡Dentro de cuarenta días,

25Smith, 7.
26Para un estudio acerca de las implicaciones de la transmisión oral del mensaje
profético en general, véase Smith 6-24.
27Moskala, “The Mission o f God’s People in the Old Testament”, 49.
28“Profecía” (Isa 31:1), CBA4:203.
80 Carlos Elias Mora

Nínive será destruida!” (Jon 3:4). Otro caso que el mensaje fue llevado a la
nación amonestada se encuentra en Jeremías 51. Este fuerte oráculo contra
Babilonia debía ser escrito en un libro. La orden para Seraías era: “Cuando
llegues a Babilonia, procura con diligencia leer todas estas cosas” (vers.
61). Cómo fue la ceremonia de la lectura, el texto bíblico no lo indica,
pero aún siendo ésta medianamente privada (no tendría sentido hacerla en
solitario), de alguna manera causó impactó en quienes estuvieron y luego
transmitieron lo predicado.

La teología de estos oráculos

Moskala señala que “la misión primaria de la iglesia del Antiguo


Testamento era presentar el carácter correcto de Dios y sus actos amorosos
y justos”.29 Los oráculos contra las naciones están acorde al contenido del
mensaje veterotestamentario según Moskala, de manera especial los puntos
3 ,4 y 5 que hablan sobre el establecimiento del reino de Dios, la salvación
viene del Señor y Dios como Juez de todos los pueblos, respectivamente.30
El propósito teológico de los oráculos contra las naciones era
mostrar que Dios tiene la soberanía sobre las naciones.31 En los profetas
hebreos los eventos de la historia están en las manos de YHWH. “Ellos
debían confiar en Dios quien gobierna las naciones, no en líderes militares
quienes trataban de controlar el futuro mediante alianzas” .32 El texto de
Isaías 40:12-17 es claro en señalar que, la soberanía de YHWH sobre las
naciones está, en los términos de su soberanía sobre el cosmos. El Señor
es más grande y ninguno igual a El (Jer 50:44).

29Jiri Moskala, “The Message o f the God's People in the Old Testament”, JATS
19/1-2 (2008): 19. Véase todo el artículo sobre el contenido del mensaje que el Señor
quiso transmitir a través de su pueblo.
30Moskala, 22-25.
31Walton y Hill, 259; VanGemeren, 317, 318.
32Smith, 133.
La misión de la Iglesia a la luz de los oráculos contra las naciones | 81

La teología de los profetas es que YHWH nunca es dominado. Si los


enemigos triunfan, es porque YHWH los está usando para disciplinar a su
pueblo (cf. Is 10:5, 6; Dn 1:2). Finalmente el los reunirá y castigará (Sof
3:8).
Destaca también que este predominio de YHWH sobre las naciones
“conduce a un sumario de los actos de liberación de Dios (Ez 3 9 :2 5 2 9 ‫)־‬.
El Señor promete revelar su gloria en su juicio sobre los rebeldes y en su
establecimiento de su reino en medio de su pueblo” .33
Finalmente la esperanza divina era que todos los pueblos se
convirtiesen y llegasen a su conocimiento. Es evidente la expresión que
se repite constantemente en Ezequiel, él recuerda que el Señor deseaba
que lo conociesen. “ Sabrán que yo soy Jehová” (Ez. 25:7, 11, 17; 28:16;
29:6, 16, 21; 30:8, 26; 32:15). Es más sorprendente la profecía en cuanto
a Asiria y Egipto (Is 19:19-25), o bien la promesa de Sofonías que las
naciones adorarán cada uno en su tierra (Sof. 2:11). Amos promete acerca
de “el resto de Edom y todas las naciones” (Am 9:12) y Miqueas habla
de las naciones que vienen al monte de Jehová ( 4 :1 5 ‫ ;־‬c f Is 2 :2 4 ‫ )־‬y “el
remanente de Jacob en medio de muchos pueblos” (Mi 5:7). Esta actitud es
lo que VanGemeren llama el “internacionalismo” de los profetas.34 Como
se observó, en medio de las colecciones de estas profecías, siempre existen
mensajes de restauración, no solo para Israel, sino para todos los pueblos.

33VanGemeren, 335.
34Ibid., 242.
82 I Carlos Elias Mora

La justicia y las naciones

Se usa la ilustración de una balanza para representar cómo el Señor


aplica su justicia.35 Nótese que representa como Dios responde al pecado
humano en la tierra, a la aplicación de las bendiciones divinas o el castigo
divino, y no a la idea de la salvación, ilustrada claramente en el Santuario.
Además se refiere a un grupo de individuos y no de manera individual.
La idea es que cuando mucho mal, sobrepasaba al bien, el platillo
del mal donde se acumulan las obras malas baja hasta tocar el botón. La
alarma suena y Dios se prepara para atraer juicio y castigo sobre la nación.
Recuerda la advertencia mosaica de que, las malas obras se acumulan y
finalmente atraerá el castigo sobre la nación (Lv 26:14-16; Dt 28:15-68).
Si la nación respondía arrepintiéndose, la mano divina de juicio se
detenía (ej., Jonás y los ninivitas). Además se debe destacar que las obras
divinas tienen mayor influencia que las malas (Dt 5:9,10). Aun cuando
la balanza puede moverse hacia allá y hacia acá, el platillo del mal no se
vacía a excepción del juicio. Dios perdona (Ex 32:34) pero el juicio debe
venir cuando se ha sobrepasado la paciencia divina.
Finalmente, a quien más se le da, más se le exige (Le 12:48). A
Israel le caía juicio con menos maldad realizada, porque tenían mayor
conocimiento de Dios y su Palabra.

Conclusión

Luego de este extenso estudio, queda la pregunta: ¿Y cuál es la


misión de la iglesia en el siglo XXI, en los días finales de la humanidad?
Valiosas lecciones se desprenden del texto veterotestamentario. Primero,
es evidente que Dios está preocupado por las naciones del mundo, y
aunque de primera impresión pareciera que es una condenación, existe una
manifiesta preocupación divina por estos pueblos, como se ha señalado.

35Walton y Hill, 263.


La misión de la Iglesia a la luz de los oráculos contra las naciones | 83

Por otro lado, el mensaje a los distintos pueblos contemporáneos a


la nación hebrea era, de exhortación y reprensión, anunciando un fuerte
castigo. El Señor no ha cambiado, ni cambiará (Heb 13:8). Su invitación
para el tiempo del fin es muy similar a los antiguos oráculos: advertencia,
condenación y llamado.
“Ha caído, ha caído Babilonia, la gran ciudad, porque ha hecho
beber a todas las naciones del vino del furor de su fornicación. Y el tercer
ángel los siguió, diciendo a gran voz: Si alguno adora a la bestia y a su
imagen, y recibe la marca en su frente o en su mano, él también beberá
del vino de la ira de Dios, que ha sido vaciado puro en el cáliz de su ira;
y será atormentado con fuego y azufre delante de los santos ángeles y del
Cordero; y el humo de su tormento sube por los siglos de los siglos. Y no
tienen reposo de día ni de noche los que adoran a la bestia y a su imagen,
ni nadie que reciba la marca de su nombre” . (Ap. 14:9-11).
La Iglesia Adventista en los días finales, no puede perderse tentada
por, la adormecedora invitación del ecumenismo y las tibias aguas de la no
discriminación del posmodemismo, su identidad escatológica y profética,
por la cual nació.36 Esta función profética, pretende dar la reprensión por
el pecado, advertencia de juicio y llamado al arrepentimiento, es lo que la
da valor e identidad a la misiología adventista.
La razón por la cual son condenadas estas naciones es por su trato
con su prójimo, y no por su conocimiento de la ley. El Señor es justo y
trata con cada uno según la luz que haya conocido. Quizá esto recuerda
que la forma de llegar con el Evangelio al ser humano de hoy es apelando
a las necesidades sociales y a temas de justicia comunitaria. La persona
posmodem a está comprometida con temas relacionados con la igualdad y

36Canale hace un revelador estudio acerca de la identidad adventista en los inicios


del movimiento y el peligro que la pierda de vista ante una identidad más evangélica.
Véase Femando Canale, “Hermenéutica, teología y remanente” en Pensar la Iglesia Hoy ,
G. A. Klingbeil y otros, eds. (Lib. San Martín: Editorial Universidad Adventista del Plata,
2002), 167-176. Véase además Alberto Timm, “Seventh Day Adventist Ecclesiology,
1844-2001: A Brief Historical Overview”, en Pensar la Iglesia Hoy, 283-302.
84 I Carlos Elias Mora

la no discriminación. Todo individuo, tanto en Antiguo Cercano Oriente


como en el siglo XXI, tiene en su conciencia el sentido de equidad y
justicia hacia su prójimo.
En los oráculos de Ezequiel se enfatiza más que en los otros profetas
del AT el propósito que las naciones sepan que YHWH es Dios. Hay una
proclamación del carácter de Dios. Un anuncio similar debe llegar a las
personas en la actualidad. De los profetas también aprendemos de su forma
de proclamar el Evangelio. Las técnicas retóricas, los gestos simbólicos,
las alusiones geográficas, todo ello lo hicieron para captar de alguna forma
la atención de sus oyentes. “Los métodos modernos de alcanzar a la gente
puede ayudar a traer variedad y formas culturalmente relevantes para el
proceso de comunicación, pero la sensibilidad de la audiencia nunca debe
sobreponerse a la tarea fundamental de comunicar la palabra de Dios”.37
En conclusión, guardando la distancia de tiempo y cultura, el
mensaje de los oráculos es muy similar al Evangelio que el pueblo
adventista, debe proclamar en estos postreros tiempos. Los pecados
del mundo, su necesidad de arrepentimiento y de juicio son similares,
porque “Jesucristo es el mismo ayer, hoy y por los siglos” (Heb 13:8).

37Smith, 280.
DANIEL EJEMPLO DE COMPROMISO CON LA VISIÓN
INTEGRAL DE LA MISIÓN Y UNIDAD DE LA IGLESIA

Merling Alomía
Universidad Peruana Unión, Peru

i iir iiiiiiim iiii 11j111J1111111111m11!111t1111m1uu1um111uu1um1uuumum1ummm11mmm!!mmmm

A Daniel le tocó vivir en una de las épocas más importantes de la


historia del Antiguo Cercano Oriente (ACO).1 Tres imperios desfilaron 1
1La posición que la erudición liberal adjudica a Daniel aduciendo un trasfondo
histórico griego para él, - específicamente seléucida - aquí no es compartida. Ésta es
sencillamente inmensa y demasiado conocida. Sin embargo, creemos que la inconse-
cuencia de argumentar su validez alegando que la gran mayoría merece consideración en
su posición, por el sólo hecho de ser mayoría, es francamente inadecuada. La mera acep-
tación mayorítaria de algo erróneo no transforma el error en verdad tal como la práctica
de la maldad por una inmensa mayoría de practicantes no la transfonna en virtud. Hay
demasiadas evidencias históricas, textuales, arqueológicas, idiomáticas, y testimoniales
que exigen simplemente dar a Daniel lo que es de Daniel. Creemos desde luego que
es pertinente señalar algunas fuentes apropiadas para un estudio adecuado del trasfon-
do correcto de Daniel; entre otros más, ver Siegfried Schwantes, “La fecha del libro de
Daniel”, Theologika 8:2 (1993) 88-109; Roger T. Beckwith, “Early Traces o f the Book
o f Daniel”, Tyndale Bulletin 53:1 (2002) 75-82; Frank Holbrook, ed., Symposium on
Daniel - Daniel & Revelation Committee Series, vol. 2 (Washington, D.C.: Review &
Herald Publishing Association, 1986); D. J. Wiseman, Notes on Some Problems in the
Book o f Daniel (London: Tyndale Press, 1965); idem, Chronocles o f the Caldean Kings
(625-656 B.C.)In the British Museum (London: The Trustees o f the British Museum,
1965); Ricardo Abos Padilla, “Defensa de Antíoco IV Epífanes: 47 1/2 tesis sobre el libro
de Daniel”, Theologika 6:1 (1991) 76-183; Jürg Egler, “La historia de Antíoco Epífanes”,
Theologika 10:2 (1995) 146-191); Merling Alomía, Daniel: “el varón muy amado de
Dios ” (Lima: Ediciones Theologika, 2005); W. H. Shea, Daniel 1-7 (Boise: Pacific Press
Publishing Association, 1996); C. Mervyn Maxwel, Dios revela el futuro: el mensaje de
Daniel (Bogotá: Colombiana Ltda., 1989); Antolín Diestre Gil, El sentido de la historia
y la palabra profética. Un análisis de las claves históricas para comprender el pasado,
presente y futuro politicorreligioso de la humanidad, desde la civilización babilónica al
Nuevo orden Mundial - 2 vol. (Terrasa: CLIE, 1995), 2:77-122, 709-738; Norman R.
Gulley, “Why the Danielic Little Horn is not Antiochus Epiphanes”, en David Merling,
ed., To Understand the Scriptures. Essays in Honor o f William H. Shea (Berrien Springs:
86 I Merling Alomia

durante su existencia y le fueron familiares. Del primero vio su ocaso total,


pues le tocó vivir durante los resabios de él. Del segundo, vio su amanecer
glorioso, su áureo apogeo y su trágico crepúsculo ya que, lo vivió en toda
su extensión; y aún fue testigo de otro amanecer imperial, pues el tercero
lo vivió durante sus primeros años. Sin embargo, su privilegiada mente
contempló lúcidamente en visión el comienzo y el final de todos los demás
imperios mundanales - de cuantos hubo y cuantos haya de haber - para
luego vislumbrar el amanecer glorioso del reino eterno del Altísimo. Es
decir, su niñez y adolescencia se iniciaron cuando el colosal imperio de
Assur2 se hundía en el polvo y entró en la madurez de su vida al compás
tentador del imponente imperio áureo de Marduk,3 en tanto que los últimos
años de su edad provecta los vivió en los inicios del dominio de Ahura-
Mazda.4
Sin embargo, el encanto de ninguno de esos dioses opacó la clara
visión y entendimiento que él tenía del “Dios del cielo”, de su reino

Institute o f Archaeology o f Andrews University, 1997), 173-190. Douglas E. Fox. “Ben


Sira en OT Canon Again: The Date o f Daniel”, Westminster Theological Journal 49 (fall
1987) 344-345. J. Paul Tanner, “The Literary Structure o f the Book o f Daniel”, Biblio-
theca Sacra 160 (2003) 269-282. Merling Alomia, Daniel: el profeta Mesiánico (Lima:
Ediciones Teologika, 2008) 194-217.
2Assur the el dios supremo de los asirios. Las glorias, conquistas, victorias y
crueldades de Asiria eran simplemente logradas gracias el ingenio y protección de Assur.
Él simplemente personificaba los intereses de Asiria como una nación (ver A. Andersen,
“Assyria”, en Merril C. Tenney, ed., The Zondervan Pictorial Encyclopedia o f the Bible,
6 vols. [Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1975], 1:383-384). A l convertirse
Asiria en el poder político dominante del ACO, los teólogos asirios le revistieron a Assur
“con todos los atavíos propios del señor del universo, creador y organizador del cosmos
y padre de los dioses” (ver A. Leo Oppenheim, Ancient Mesopotamia. Portrait o f a Dead
Civilization [Chicago: The University o f Chicago Press, 1964], 196).
3Marduk era la deidad dominante en el pensar teológico de Babilonia, y en los días
del imperio neo-babilónico, éste “fue glorificado hasta el punto de ser considerado como
la única deidad”. Lowel K. Handy, “Marduk”, en David Noel Freedman, ed., The Anchor
Bible Dictionary, 4 vols. (New York: Doubleday, 1992), 4:522-523.
4Ahura mazda o “el señor de la sabiduría” era para los persas desde lo antiguo el
más grande todos los dioses, el creador del cielo y de la tierra, y de los hombres. En el
concepto persa era reconocido como “el único dios”, siendo los demás cortesanos de este
rey supremo. H. C. Lo, “Ahura Mazda”, en ibíd., 1:124-125.
Daniel ejemplo de compromiso con la visión Integral de la misión | 87

sempiterno y sobre todo de su misión en medio de esas realidades pasajeras


que le tocó vivir. Él fue un teólogo ejemplar que vio el fracaso de todas las
pseudo-teologías y cosmovisiones mundanales de sus días y vibró con su
lealtad a la teología y cosmovisión celestial que aprendió en las páginas de
la Escritura de sus días.
La vida de Daniel muestra que él, fue siempre un teólogo de
convicción, de visión y en misión permanente bajo el escrutinio, mandato
y aprobación de su Dios. Los primeros años de su vida fueron impactados
por la reforma de Josías y el ministerio fiel de los profetas, en especial
Jeremías,5 que hicieron lo imposible tratando de evitar la tragedia del
exilio; de ellos adquirió la verdad que normó su discernimiento en sus días
iniciales de prueba dura.
Además, la piedad de sus padres - desconocidos para nosotros, pero
reconocidos por la manera singular de educar a su hijo Daniel en el temor
de YHWH - cimentó la confianza del joven príncipe en el triunfo del pueblo
de Dios, de modo que cumplió la misión que se le encomendó a cabalidad.
Daniel pasó por lides sumamente severas que, sacudieron su
compromiso con la misión y la unidad de su iglesia. Las diversas pruebas
que estremecieron de manera indecible su convicción y confianza en el
Dios de sus padres - que llegó a ser el suyo muy temprano en su vida - y
en el pacto que Dios había hecho con el pueblo de la promesa aparecen
evidentes en el escueto relato de vida. En prim er lugar, la tragedia de
cambiar su calidad de príncipe jadeíta a cautivo de las huestes invasoras
de Judá, taladraba lo más profundo de sus convicciones, ¿dónde estaban
las promesas gloriosas del pacto protector? ¿Dónde estaba el Dios que,

5El ministerio de Jeremías fue dedicado exclusivamente al tratar de evitar el desas-


tre de exilio, pero ninguno de los reyes después de Josías (f 609 AC), prestó atención a
sus mensajes de advertencia. Por el contrario éste fue tratado con indiferencia y crueldad
por los reyes de tumo, hasta que en el 586 AC se consumó la tragedia. Indudablemente,
sin embargo, el ministerio de Jeremías fue más efectivo entre algunas familias piadosas
de Jerusalén, entre ellas el hogar de Daniel.
88 I Merling Alomia

dividió las profundidades del M ar Rojo para conducir a sus hijos en éxodo
triunfante, el que también humilló a los ejércitos de Sennaquerib? ¿Dónde
estaba la protección asegurada del Santo de Israel a la ciudad de su morada?
En segundo lugar, el repentino cambio de status de común exilado
a privilegiado becado no obnubiló su corazón, ni quitó de su vista el
derrotero trazado por Dios a sus escogidos.
En tercer lugar, el cambio impositivo de identidad que pretendió
vincularlo con la filosofía religiosa de Babilonia, no lo mareó ni desvió
su fe en su Dios en cuyas manos sabía que estaba su vida y destino; él
jam ás permitió que “Bel protegiera su vida”6 - pues tal era el nombre que
le impusieron - ni menos permitió que otro, fuera de Jehová su Dios, fuera
su juez - siempre fue Daniel, “Dios es mi juez”.
En cuarto lugar, el intento de Babilonia de cambiar su estilo de
vida ofreciéndole lo mejor de la gastronomía cortesana, no trastocó su
entendimiento de que lo mejor que Dios ha dispuesto para los suyos en el
comer y en el beber, es siempre lo que él estableció especialmente desde
el principio para sus hijos.
En quinto lugar, el confrontamiento feroz y cotidiano, en las
aulas con el saber filosófico mesopotámico y la religión endemoniada de
Babilonia. Expuesta por los sacerdotes del reino, por sus profesores de
tumo y coreada por sus condiscípulos; sacudieron su intelecto probando
su discernimiento hasta lo sumo, en una lucha titánica de fe y convicción,
confrontando todo lo que aprendía y se le enseñaba con el eterno “así dice
YHWH” y el certero “escrito está”. Es decir, su vida de lucha y constante
prueba de discernimiento del saber y la verdad, la vivió mostrando que lo
único perdurable y seguro para un teólogo es, una sólida “sola fide” en la
segura “sola Scriptura”.

6Tal era el significado de Beltsasar su nuevo nombre otorgado en Babilonia, como


alumno becado del reino. Sin embargo, Daniel todo el tiempo de su vida, fue siempre
conocido con su propio nombre original, incluso por los mismos babilonios.
Daniel ejemplo de compromiso con la visión Integral de la misión | 89

En sexto lugar, la relajante frivolidad estudiantil que le endilgaban,


sus colegas de aula. Con los encuentros sensuales de los festivales de
Ishtar la gran diosa mesopotámica de la guerra y del amor. Junto con
las mil y una tentaciones propias de las pasiones del entorno juvenil
babilónico, no desviaron su concepto claro de lo que Dios espera de cada
uno.
En séptimo lugar, la ostentosa vida palaciega que, con sus
costumbres mundanas y su corrupción peculiar, trataba de moldearlo
según los cánones de la corrupta indecencia administrativa; tan común y
tan lucrativa en cada entorno administrativo de los gobiernos y sin duda,
presente en la corte de Nabucodonosor, no lograron corromper la vida de
este testigo de Dios.
Desde el comienzo hasta el final de su carrera, Daniel no sólo
descolló académicamente aventajando en sabiduría e inteligencia a
sus colegas caldeos y persas (Dn 1:20; 6:1-3), sino que su conducta se
destacó también, como exenta de inmoralidad o vicios y lo intachable
de su currículun vitae fue tal que, cualquier acusación fue virtualmente
imposible (6:4). Su vida impoluta estaba respaldada con, una conducta
equivalente en su relación y devoción personal con Dios. ¿Cómo
pudo lograr Daniel esa trayectoria tan loable? Tres cosas motivaron
constantemente su vida. La certeza de su llamado, la convicción de su
m isión y el compromiso indiviso de una vida de servicio.

La certeza de su llamado
El llamado de D aniel ocurrió en el mismo crisol de la prueba.
Aunque él no describe muchas de las tribulaciones que le acontecieron,
resulta claro lo que él pasó hasta su llegada a la capital caldea. El
viaje largo por el desierto en la fila de los vencidos, bajo la m irada del
conquistador, era por cierto nada agradable. Su privilegiado cambio
90 I Merling Alomia

a estudiante imperial, sin embargo, no alteró su dependencia con Dios


ante la corona caldea; por el contrario, ésta se acentuaría con él de otras
maneras. De prim era intención se le hizo recordar que en Babilonia no
era más siervo de Jehová, sino de M arduk, ya que de allí en adelante
sería conocido como fiel protegido de Bel.7
La incómoda experiencia diaria de responder a un nombre ajeno
y alienante de su fe era no sólo desagradable sino desafiante a su fe.
¿Y qué decir de la batalla vinculada con la abundancia y variedad
ofrecida tan pródigam ente en el comedor regio de Babilonia? La triple
tentación diaria arremetió con fuerza al apetito e intelecto de Daniel.
Pero allí mismo en medio del seductor incentivo al apetito, apareció la
determinación plena de fidelidad a su llamado. El sano vivir era parte
integral de su vida y de su identidad como siervo de Dios e hijo del
Altísimo. El “propuso en su corazón”8 (wayyashem Danyyiel allibbó )
del registro bíblico, im plica no una decisión casual, apresurada o
temerosa por la situación im positiva del momento, sino una respuesta
meditada, como parte de una decisión ya vivida, con determinación muy
anticipadamente; con la confianza de estar haciendo lo que siempre solía
hacer, como parte de un estilo de vida practicado en todos sus aspectos.9

7Daniel juntamente con todos sus demás colegas estudiantes recibieron una nueva
identificación de implicancia teológica definida. Así, Daniel lejos de ser llamado por su
nombre “Dios es mi Juez”, pasó a ser “protegido de Bel”, lit., “quiera Bel proteger su
vida”, o “Nebo, protege su vida”. De plano lo involucraron con la deidad principal del
panteón babilónico. Ver Peter W. Coxon, “Beltheshazzar”, en D. N. Freedman, ed., The
Anchor Bible Dictionary, 6 vols. (New York: Doubleday), 1:661-662.
8El verbo shim , “estar puesto, fijar” usado con V leb implica una acción muy me-
ditada, tomando muy en serio lo determinado o decidido a hacer (L. Alonso Schokel,
Diccionario de hebreo bíblico [Madrid: Editorial Trotta, 1994], 728). En el caso de Da-
niel, lo hizo teniendo en cuenta lo que ya estaba establecido en su corazón es decir en su
manera de vivir. La situación le sirvió para decidir algo que le era ya propio con deter-
minación aún mayor.
9Daniel muestra que el estilo de vida saludable en el comer y beber que él practi-
caba no le hubiera sido posible seguirlo si, hubiera tomado sólo la comida del rey, y sobre
todo, él da testimonio de los beneficios que reporta y disfruta el obedecer las leyes de sa-
lud que Dios ha trazado desde el principio para nuestra propia felicidad. La experiencia y
Daniel ejemplo de compromiso con la visión integral de la misión | 91

Pero, la lucha cotidiana de Daniel no concluía en el comedor, ella


era acentuada en el aula de clases, pues su programa de estudios además
de exigente era secular y por cierto eminentemente ateo.101Las diversas
filosofías milenarias mesopotámicas perneaban el currículo babilónico,
de modo que cada materia o aspecto de sus estudios, presentaba un desafío
a su entendimiento y discernimiento.11 No obstante, cada prueba era para
él como la reiteración de su llamado a cumplir la misión encomendada en
el duro campo del exilio.
Durante toda su existencia y estadía en Babilonia, Daniel fue motivado
por la certeza de su llamado, y en todo lo que hizo y vivió, fue coincidente
con el que lo llamó como testigo suyo, en el país de los dos ríos.

determinación de Daniel en lo referente a la alimentación refleja un asunto más profundo


de su discernimiento. Su opción alimentaria no era una mera cuestión de gusto o simple
elección dietética. Su rechazo al menú babilónico está no sólo ligado con el menú ori-
ginal, sino también vinculado con la batalla inicial que el hombre perdió en relación con
el apetito. Satanás tentó a nuestros primeros padres con el fruto prohibido y fracasaron.
Babilonia tentó a Daniel con una alimentación prohibida y nociva y éste venció. Daniel
nos muestra por precepto y por ejemplo que la clave de la victoria reside en aceptar todo
lo que Dios nos dio como alimentación sana desde el principio. Pero sobre todo, reside
en hacer todo lo que él nos manda confiando en su bondad, creyendo en su palabra y
acatando su autoridad.
10En el estricto sentido de la palabra, más bien idólatra, los mitos mesopotámicos,
son hartamente conocidos, y todas esas teogonias formaban parte del conocimiento que,
la sabiduría del momento exigía de los sabios de aquellos días. La sabiduría mesopotámi-
ca por cierto era exigente en, sus conocimientos y cada una de las bibliotecas encontradas
en esos ámbitos, dan testimonio del apego que esas personas tenían, por los encantamien-
tos y el lujo. Pero también sus bibliotecas certifican, de su inmenso gusto por la erudición.
Para que tengamos una idea de lo que esto podría haber significado para Daniel, sólo en
el aspecto religioso, ver Oppenheim, Ancient Mesopotamia, 171-227.
11Hoy se conoce que la erudición mesopotámica contaba con un número inmenso
de obras, no sólo literarias, históricas y religiosas sino también con obras filológicas,
listas de plantas, animales y minerales, listas geográficas, prescripciones médicas, tablas
matemáticas, observaciones astronómicas, es decir, un enorme corpus de documentos
científicos, o más bien enciclopédicos que atestiguaban la sabiduría acádica que Daniel
tuvo que aprender como parte de sus estudios exigidos (ver Georges Roux, Ancient Iraq
[New York: Penguin Books, 1982], 329-342).
92 I Merling Alomia

La convicción de su misión
El llamado que Daniel recibió perfiló en él la cimentación de la
convicción de su misión. Esa convicción se hizo más clara cada vez que
le tocaba intervenir en el escenario político donde fue llamado a servir. Él
sabía que el descollante summa cum lauda que obtuvo, al final de su carrera
de estudios (Dan 1:20) no era con el propósito de exaltarlo académicamente
sino, sobre todo, para mostrar al Dios que lo encumbró. Él estaba convencido
que su estadía en Babilonia y su paso por las aulas y la corte caldeas, tenían
un propósito misional que sólo él, podía cumplirlo.
Por eso expresó su gratitud “a ti, oh Dios de mis padres, te doy
gracias y alabo, porque me has dado sabiduría y fuerza” (2:23) y sobre todo
manifestó la convicción de su misión al revelar a Nabucodonosor su encargo
imposible. Y cuando el rey escuchó intrigado y asombrado, “a mí me ha sido
revelado este misterio... para que se dé a conocer al rey” (2:30), era como
si Daniel le dijera, “su Majestad, tengo la misión sagrada de hacerle saber
que, el propósito de mi estadía en su corte, es darle a conocer los secretos de
reino de Dios”.
Pero eso, lo enfatizó aún más, cuando al final de su interpretación
Daniel le recalca diciendo: “Dios ha mostrado al rey lo que va acontecer al
final de los días cuando él instale su reino. Oh rey, lo que le digo es verdad
y la interpretación es fiel a lo que se le ha mostrado, porque el Dios del cielo
se lo ha revelado especialmente a usted. Su Majestad, \Maran-atha, por
favor prepárese!”
Esa misma convicción de su misión la manifestó en los días que
antecedieron a la locura de Nabucodonosor, de lo contrario no habría sido
llamado a declarar el significado de lo que vio el rey en esta ocasión. La
confesión “ahora yo Nabucodonosor, engrandezco y glorifico al Rey del
cielo” (4:37), en la recta final de la vida de este monarca, fue ciertamente
el resultado de la misión que Daniel realizó con, dedicación al ministrar en
favor de ese monarca pagano.
Daniel ejemplo de compromiso con la visión integral de la misión | 93

Incluso aquellos, que no atendieron a las apelaciones del profeta


estadista, reconocieron en él, la superioridad de su “luz, entendimiento y
mayor sabiduría” (5:11, 14). Como también la autenticidad de su misión,
reflejada en su vida intachable (6:4). La misma convicción misional de
Daniel, se manifestó igualmente cuando, Darío proclamó al Dios de Daniel
como: “el Dios viviente y eterno cuyo reino permanecerá para siempre, y
además, como el único salvador y liberador y hacedor de maravillas en el
cielo y en la tierra” (cf. 6:26-27). Todo esto es ciertamente para Daniel, la
certificación de su misión cumplida con plena convicción.
En los propósitos de Dios no existe deseo alguno de destrucción,
ni siquiera al perverso que reconoce su soberanía y acepta la salvación
ofrecida, y ciertamente Babilonia también estaba, en los propósitos de su
misericordia. ¿Cómo salvar a Babilonia? ¿A quién encomendar semejante
misión? Daniel fue el elegido para anunciar, al imperio caldeo, las bondades
del reino del Altísimo. Hasta no estar con Daniel en la eternidad venidera,
jamás entenderemos en detalle, los alcances plenos del testimonio de Daniel,
al cumplir su misión encomendada en y a Babilonia. Sin embargo el capítulo
cinco de su libro muestra que, a su llamado y ruego hubo rechazo, aunque
también hubo aceptación.
La tranquilidad y cordura con que, la “reina madre”, sugirió al aterrado
Belsasar y sus atónitos príncipes, el consej o de Daniel (Dn 5:11-12), muestra
que él era conocido, no solo por el testimonio de su vida consecuente, sino,
por estar ligada su experiencia con Nabucodonosor. La reina misma, no
hubiera sugerido de ese modo la participación de Daniel si no hubiera estado
convencida de quién era Daniel, y qué había experimentado Nabucodonosor,
con el mensaje recibido de Daniel.
Daniel entendió con claridad que, la caída de Babilonia, era la nueva
oportunidad para el pueblo del pacto. Y que su misión también incluía, el
influir en el corazón de los nuevos conquistadores del mundo. A los caldeos
94 I Merling Alomia

les hizo entender que, su dominio en Israel no era tanto producto de sus
hazañas guerreras sino, de la soberanía del Altísimo que les había “dado”
temporalmente, el dominio de su nación (Dn 1:1).
Ahora debía mostrar a los medo-persas que Dios, les había dado a
ellos la oportunidad de proveer a su pueblo, un nuevo éxodo dando a Ciro
el privilegio de pastorear la nueva salida (cf. Is 44:26-28); tenía la misión
de mostrar nada menos que a Ciro en persona su privilegiado papel en la
historia de la salvación. Aunque Daniel no registra las ocasiones cuando
mostró a Ciro la certidumbre profética del Altísimo, la mención repetida de
este monarca en el primer y tercer años de su reinado. Así también como su
reinado (cf. Dn 1:21; 6:28; 10:1), es indicio de la importancia que Daniel
dio a Ciro, y la convicción con la cual realizó su misión, para concretar el
regreso de los exilados a Sión.
La percepción de su misión, estaba orientada de acuerdo a su
cosmo visión teológica bíblica, de las cosas. Daniel, tal vez como ningún
otro profeta del AT pudo vislumbrar, los alcances de la tarea misional
encomendada. Ninguna otra filosofía religiosa de sus días, podía trascender
hasta el “tiempo del fin”, ni menos trascender hasta la eternidad. Los
dioses babilónicos apenas tenían intereses pasajeros del presente y aunque
“inmortales”, eran tan impotentes que, su existencia dependía de los hombres
y temían hasta ser derrotados o atormentados por los demonios. Sus mitos,
reflejan sólo los intereses egoístas en que, deambulaban enredándose en
guerras fratricidas y embrollos licenciosos de crápula y adulterio. Ellos no
tenían misión ni interés real en la humanidad, su realidad estaba tan lejana
de los ámbitos terrenales que no había cariño ni menos preocupación por los
humanos. Al llegar el zoroastrismo al ámbito universal, su perspectiva de
igual modo se estrechaba en, lo mundanal sin ninguna trascendencia eterna
para sus seguidores.
Daniel ejemplo de compromiso con la visión integral de la misión | 95

Semejantes entuertos teológicos, jamás inquietaron a Daniel, y aunque


los analizó como parte de su exigido currículo académico o su interés
informativo, ellos jamás formaron parte alguna, de la certeza aprendida
desde su mocedad en las páginas de la “sola Scriptura' y posteriormente del
“libro de verdad” (10:21).
Por eso la percepción teológica de Daniel jamás deambuló en ámbitos
tan bajos, intrascendentes e insensatos. Habiendo recibido un excepcional
“conocimiento e inteligencia en todas las letras y ciencias” y además, siendo
dotado de pleno “entendimiento en toda visión y sueños” (1:17), él prefirió
“mirar atentamente” los libros de sus colegas profetas, buscando en ellos, lo
que realmente era relevante para él y el pueblo de Dios, en esos momentos
de incertidumbre (9:2, 3).
Es evidente que su relación con la “sola Scriptura” moldeó su
percepción teológica a lo largo de su existencia. En ella, conoció con cabalidad
quien es el Creador, el Rey del universo y Señor de la sabiduría y la verdad.
En ella, aprendió que, la soberanía de Dios toma cuenta de las naciones y
él puede entregar incluso a los suyos, en manos de otra nación, cuando se
apartan de lo moral y correcto. En ella, aprendió que Dios había dado al
hombre desde el principio un régimen nutritivo y saludable para la existencia,
y se aferró a esos lineamientos con fe y convicción. En ella, aprendió que:
“hay un Dios en los cielos que revela los misterios” y fue a él recurrió,
en cada oportunidad de desconcierto, en la comprensión de lo revelado por
Dios. En ella, leía las profecías referentes a sus días y su cumplimiento
adecuado, certero para beneficio de su pueblo (9:2). En ella, encontraba el
registro del pasado vergonzoso de su pueblo y las promesas de redención, a
pesar de sus descarríos (9:5-6). Porque Dios, era el Dios misericordioso con
el cual, había hecho un pacto eterno (9:18-19). En ella, aprendió que este
mismo Dios misericordioso, es el Altísimo Juez del universo, que su juicio
no sólo es cierto sino universal y justo. Pero que además, está establecido en
96 I Merlmg Alomia

una secuencia irrevocable, que primero investigará todo lo necesario, antes


de sentenciar y ejecutar lo determinado en favor de los santos del Altísimo.
En ella aprendió que, el vínculo con el Eterno, implicaba unidad con el
pueblo de la promesa y jamás separación de él (9:15-17). En ella aprendió
que, la iglesia aunque era humana y defectuosa, era lo más preciado de Dios y
que ella sería salvada por la misericordia del que la llamó y redimió; Daniel,
no concebía lealtad a otro movimiento fuera del pueblo de la “bienaventurada
esperanza”, del pacto y las promesas.

Una vida de servicio indiviso con la unidad de la iglesia


El llamado es la certificación de la misión y ésta es el incentivo para el
servicio del enviado. Daniel entendió siempre su llamado y comprendiendo
su misión se entregó en cuerpo, alma y vida al servicio del que lo llamó a
servirle en Babilonia. Cada conocimiento y habilidad adquirida lo empleó
en favor de su ministerio entre los caldeos y medo-persas.
Además de las ocasiones de interpretación registradas - de las cuales se
registra tres por su espectacularidad y sobre todo por su propósito - sin duda
hubo muchas otras en las cuales su consejo, conocimiento, discernimiento,
sabiduría y prudencia orientaron debidamente a Nabucodonosor y a otros
dignatarios.
Su servicio era tan desinteresado que lo primero que pensó cuando
pendía la orden de muerte sobre todos los sabios de Babilonia por la orden
desequilibrada de Nabucodonosor, suplicó a Arioch que no matara a sus
colegas de palacio hasta que él, tratara de hacer algo con la solicitud del
rey (2:24); y luego, la fervorosa oración de él y sus compañeros trocó
la desdichada situación. E igualmente, cuando el rey anonadado por la
demostración divina de la interpretación de su sueño recompensó a Daniel,
con la gobernación de la provincia principal de su reino, él no se olvidó
de sus hermanos sino que “solicitó del rey, y obtuvo que pusiera sobre
los negocios de la provincia de Babilonia a Sadrac, Mesac y Abed-nego”
(2:49). Siempre estuvo presente donde se lo necesitaba y a su palabra la
Daniel ejemplo de compromiso con la visión integral d e la misión | 97

corte enderezaba lo torcido, porque todos sabían que en Daniel moraba “el
espíritu de los dioses santos” y su sabiduría era divina (5:11, 14).
Cuando escuchó anonadado la sentencia que el Altísimo dio
al testarudo Nabucodonosor, mostró su profunda simpatía con él no
solamente manifestando su terror ante lo determinado (4:19) sino, sobre
todo suplicando que atendiese su consejo para prevenirle de la terrible
experiencia que tendría que pasar por no reconocer, la superioridad de
quien dirige los destinos del mundo y del universo (4:25-27).
Resulta por demás notable que Dios al declarar la integridad buscada
en su pueblo en momentos de crisis, hace memoria de tres gigantes de
la fe, Noé, Daniel y Job, indicando con eso el calibre de la fe, servicio
y dedicación de este siervo de Dios. Noé testificó con lealtad y valentía
a una generación y mundo perverso, cuyo rumbo había decaído de tal
modo que su pensar y actuar “era sólo de continuo al mal” (Gn 6:5); y su
testimonio de fe le certificó su herencia de justicia (Heb 11:7). Job demostró
al “padre de la mentira” y al universo entero que, la verdadera lealtad a
Dios no es ni mezquina, ni menos interesada y en medio de su angustia y
sinsabor extremo, fue declarado “perfecto, recto y apartado del mal” (Job
1:1), y como tal heredero de la justicia. Daniel, por su parte fue fiel a su
misión encomendada, proclamando la certeza de las promesas del pacto
en un momento cuando, ni conquistados y menos conquistadores, podían
entender ni mucho menos ver la mano de Dios en los acontecimientos del
momento.
Sin embargo, su vida de servicio fue invalorable en una corte donde
la mayoría de sabios y consejeros apenas tenían “respuesta mentirosa
y perversa” para su monarca (2:9), o a lo mucho simplemente no tenían
respuesta alguna, para sus demandas (4:6-7). El rey Nabucodonosor tuvo el
inmenso privilegio de tener en su administración un estadista de renombre,
asignado con una misión de consejería especial, por el mismo Altísimo que
buscó su salvación y participación en su reino celestial.
98 I Merling Alomia

Daniel no registra las veces que se reunió con el monarca, pero sin
duda, ellas fueron muchas, durante las cuales Nabucodonosor luchó entre
la convicción de la superioridad de YHWH y su lealtad a M arduk e Ishtar.
Finalmente, lo que no pudo ver y entender en sus momentos de cordura
lo entendió y aceptó en sus días de locura. Indudablemente, gran parte
de la estabilidad de su reino en sus años de insania se debieron también
al servicio fiel y leal de su sabio estadista Daniel (Dn. 2:48).12 Semejante
servicio eficiente y leal sin duda fue suficiente respaldo para que el nuevo
imperio medo-persa considerara a Daniel como, hombre de valía en el
ordenamiento del nuevo reino y no dudaron en ponerlo como uno de los
sátrapas superiores del reino.
Tal vez, la expresión que refleje en mayor medida la consideración
plena de la vida de servicio de Daniel, sea la manera cómo Dios le
consideró y al mismo tiempo comunicó en forma reiterada por intermedio
de Gabriel, ya en el tramo final de su existencia en pleno reinado de Ciro.
En esa larga sesión profética interpretativa final, Gabriel no sólo le asegura
a Daniel que es un “varón muy amado” de Dios (10:11, 19). El mensajero
celestial le asegura que aunque iría al final al descanso de la tumba, allí

12El servicio dado por Daniel en la corte babilónica, de la cual la Biblia menciona,
es incluso certificada en la documentación cuneiforme de Babilonia. Hasta hoy, se cono-
cen dos documentos provenientes de los años posteriores a Nabucodonosor, correspon-
dientes al reinado de Amel-Marduk, hijo y sucesor de éste y al de Neriglisar, asesino de
este último. La primera se encuentra en el Museo de Florencia con el N° 135 (K. Oberhu-
ber, Sumerische uná Akadische Keilschriftendenkmaler des Archãeologische Museums zu
Florenz, Innsbrucker zur Kulturwissenchafi, Suplement 8 [Innsbruck, 1969], 95, N° 135).
La segunda se halla en la colección babilónica de la Universidad Yale con el número
YBC 3765 y fue publicada hace ya tiempo por Dougherty (R. R Dougherty, Nabonidus
and Belsasar - Yale Oriental Series, vol. 15 [New Haven: Yale University Press, 1929],
67-70). Ambos documentos mencionan el nombre de un tal Belsasar con el título de saku
sarri, u “oficial principal de rey”. Aunque algunos han sugerido su identificación con el
hijo de Nabonido, sin embargo, la sincronización de los hechos hace imposible tal posi-
bilidad. Esto de hecho lleva a señalar a Daniel como el mencionado en estos documentos
ya que él recibió ese nombre mucho antes de que los sucesores de Nabucodonosor reina-
ran (William H. Shea, “Bel[te]shazzar Meets Belshazzar” Andrews University Seminary
Studies 26 [1988] 67-81), y con esto queda certificada la participación de Daniel por los
mismos registros de Babilonia como estadista de la corte neo-babilónica.
Daniel ejemplo de compromiso con la visión Integral de la misión | 99

sólo reposaría por cierto tiempo, pues estando su nombre escrito en el


libro, él ciertamente se levantará “para recibir su heredad” (12:13). Esto
es prácticamente un anticipado “ven buen siervo y f ie l... entra en el gozo
de tu Señor” (Mt 25:21). Y sabido es que, nadie entrará en ese “gozo del
Señor” final, sin una vida de servicio fiel.
El servicio de Daniel para sus coetáneos fue sin duda invalorable,
pero ese servicio se agiganta ante el prestado por él mismo al pueblo de
Dios, a lo largo de los siglos mediante la certeza de su mensaje y sus
profecías. Y aunque él mismo no pudo entender a cabalidad, todo lo que
se le había revelado; cuando iba camino al descanso se le aseguró que, su
obra no terminaría allí sino que, continuaría hasta los días finales (12:4, 9).
Se le dijo que, él vería el fruto de ella, cuando reciba su recompensa en la
resurrección prometida (12:13). De la realidad de su aporte y de su valía
nosotros somos plenos testigos.
El pueblo de Dios de los siglos pasados y futuros estará, eternamente
agradecido a Daniel por la precisión certera de sus profecías mesiánicas y
la certidumbre de su escatología profética. Es tal su valor que, sin el aporte
de Daniel, incluso el viejo continente no tendría la visión y construcción
actual, para ser lo que hoy es, pues “sin la elevada estima cristiana del libro
de Daniel, Europa no hubiera alcanzado una conciencia de sí misma”.13La
influencia directa de este siervo del Altísimo hasta hoy es ya, incalculable.
Desde el año 605 AC al 538 habían transcurrido casi siete décadas de
cautiverio y durante ese tiempo Daniel, no claudicó su fe en el pueblo de
Dios. Su identificación con él siempre fue plena. Sus oraciones no dejan
lugar a duda, de su profunda convicción en relación a su Dios, al pueblo de
Dios y a su participación con él. Para Daniel, sólo YHWH era su Dios (9:4)
e Israel era el pueblo de YHWH y este pueblo - a pesar de su apostasia y
su situación de exilio - era el pueblo de Dios, de las promesas y del pacto.
13Klaus Koch, Europa, Rom und der Kaiser vor dem Hintergrund zwei Jahrtausen
Rezeption des Buches Daniel (Gottingen Vandenhoeck & Ruprecht, 1997), 82. La cursi-
va es para énfasis.
00 ‫ו‬ I Merling Alomía

No concebía otro destino fuera del determinado por Dios en el bosquejo


de su plan para su pueblo. Todo lo demás era pasajero y circunstancial,
frente al destino glorioso que le esperaba al pueblo escogido. Él no quería
otro destino fuera del trazado por Dios mismo, para su iglesia y estaba
seguro de su participación en él. Además, él no tuvo en mente otra misión
fuera de la que, el Altísimo le encargó cumplir en el campo misionero de
Mesopotamia, y a esa se avocó hasta el final de sus días.
El teólogo adventista del séptimo día en la actualidad debe ser
alguien cuya convicción sea plena, con la certidumbre de la iglesia en su
mensaje y su misión. Nunca antes se precisa de los teólogos que anuncien
con certeza, el mensaje de salvación centrado en el Cristo del Calvario
que, ministra hoy en su Santuario y que está pronto a volver; según la
escatología establecida por Dios en su palabra tal cual, le fue revelada a
Daniel del “libro de verdad” (Dn 10:21).

Conclusión

Al buscar en las páginas del AT un patrón que resuma la acción


vivida de un teólogo que encame la naturaleza, misión y unidad de la
iglesia en el presente milenio, encontramos tal caracterización en Daniel,
ya que él sobrepasa a todos los personajes conocidos de este tiempo.
Su misión la realizó con dedicación en un servicio indiviso que, buscó
la unidad de su pueblo en tomo a las promesas y el pacto. Babilonia
escuchó la certeza de su mensaje y vio, la entrega de su dedicación con
el remanente cautivo que, encontró en él, la claridad del mensaje de Dios.
Los días más difíciles y por cierto, más gloriosos para el remanente
están no sólo por delante, sino más que todo, a las puertas, sólo falta que
Babilonia aseste su golpe maestro final de engaño y confusión. Entonces
es ahora cuando, la teología adventista debe ser audible en clarinadas
certeras, con un mensaje respaldado y anclado en la verdad que invite,
Daniel ejemplo de compromiso con la visión integral de la misión | 101

sin ambages a salir de la confusión, para ir al encuentro del Señor de la


salvación, como su Creador y su intercesor celestial.
El teólogo adventista en la actualidad está llamado, como Daniel,
a servir en medio de la idolatría que Babilonia estableció y la confusión
que ella misma ha incrementado, ahora, con la diversidad de teologías
que surgieron, al amparo del impulso de su teología, de la liberación que
desencadenó una cantidad de teologías liberacionistas;14 las cuales abarcan
un vastísimo número de ámbitos sociales que buscan, respuestas concretas
en la solución de sus problemas, muy alejadas de la fuente que, las ayudaría
en la solución de ellos.
Él precisa cumplir su misión orientadora a los errabundos, a fin de
contribuir con la certeza que corrobora la fe y señale con seguridad, el
cam ino hacia Dios, apartándose de la teología mundana condescendiente
y barata, que coludida con el vino del furor de la fornicación babilónica,
contribuye a la confusión del mundo. Su compromiso debe ser, con su
llamado, su misión y su servicio a ser indiviso, buscando siempre la unidad
de la iglesia que lo llamó. Su norte y rumbo debe orientarse en la “sola
fide ” y su convicción y mensaje debe emanar y estar fundada en la “sola
Scripture!”.
El mundo de este milenio precisa más que nunca, entender con
claridad los lineamientos precisos de la escatología revelada a Daniel, a fin
de dar a la iglesia la seguridad que él dio, a su pueblo exilado. La precisión
teológica de este profeta debe normar siempre, los lineamientos teológicos
de los que enseñan y exponen, la teología adventista a propios y extraños.

14La “teología de la liberación” que es de paternidad estrictamente católico-roma-


na ha fomentado tal perspectiva de modo que ahora es concomitante con la diversidad de
teologías liberacionistas que hoy saturan los ambientes teológicos del presente milenio.
Entre ellas la “teología de la liberación negra”, la ‘teología indígena”, o “teología india”,
la “teología femenina”, la “teología mujerista”, la “teología gay”, la “eco-teología”, la
“teología eco-feminista”. A éstas se agregan otras que haciendo eco a la misma perspec-
tiva proclaman su simpatía liberacionista, tales como la “teología de la liberación judía”,
la “teología de la liberación palestina”, la “teología de la liberación islámica”, la “teolo-
gía africana”, la “teología asiática”, etc. La bibliografía para el ámbito liberacionista es
demasiado amplia y variada.
CHEIOS DO ESPÍRITO:
A MISSÃO NOS EVANGELHOS E EM ATOS

Clinton Wahlen
Biblical Research Institute, EUA

iiiiiiiiimiiiiiiiiiimiiiimiiiiiiiMMiiiiHiiiiiiiiiiiitiiiiiiiiiiiiiimimiiiiiiiiiiiiiiiMiiiiiii

Introdução

Todos nós concordamos que precisamos do Espírito Santo para


cumprir nossa missão e talvez também concordemos que nossa m issão
não significa apenas mais batismos ou mais igrejas, tão bom quanto possa
parecer. Qual é nossa missão? Está resumida em Mateus 24:14: “E será
pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a
todas as nações. Então, virá o fim.”
De fato, é uma tarefa impossível sem 0 Espírito Santo. A fim de
realizar essa missão, precisamos da presença do Espírito Santo em maior
medida do que temos experimentado. Infelizmente, a obra do Espírito Santo
geralmente é mal compreendida. Sentimentos religiosos intensos não são
garantia da presença do Espírito Santo. Qual é a obra do Espírito Santo?
Como o Espírito se manifestou no ministério de Jesus e dos apóstolos?
Como saber se é obra do Espírito Santo ou dos “espíritos de demônios,
operadores de sinais,” de Apocalipse 16? O que significa estar cheio do
Espírito? Responder a essas questões nos ajudará a compreender melhor
a obra do Espírito, ajudando-nos a cumprir a missão que Deus nos deu.1

1James D. G. Dunn, Jesus and the Spirit: A Study o f the Religious and Charismatic
Experience o f Jesus and the First Christians as Reflected in the New Testament (London:
SCM, 1975); Craig S. Keener, The Spirit in the Gospels and Acts: Divine Purity and
Power (Peabody, Mass.: Hendrickson, 1997).
104 I Clinton W ahlen

Jesus e 0 Espírito

João Batista se referia a Jesus quando disse: “Eu vos tenho batizado
com água; ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo” (Mc 1:8). A
distinção do batismo cristão é o dom do Espírito Santo.2 De acordo com
Lucas, enquanto Jesus esteve em Nazaré, explicou Sua missão através da
leitura de Isaías: “O Espírito do Senhor está sobre mim . . . ” (Lc 4:18; cf.
Is 61:1). O Espírito autorizou Jesus a cumprir Sua missão (Lc 4:14; At
10:38). Em que consiste a missão?
Consiste em: (1) pregar as boas novas aos pobres; (2) proclamar
libertação aos cativos e restabelecer a vista aos cegos; (3) anunciar
liberdade aos oprimidos; (4) proclamar o ano aceitável do Senhor.
Observe a ênfase na proclamação. O ministério de Jesus era um
ministério de pregação: pregação em palavras e atos. Os milagres de cura
receberam atenção maior, mas eles também eram uma forma de ensino.
Eram “parábolas em ação,” designadas a ensinar as pessoas sobre a saúde
e a vida espiritual que Ele proclamava.
Notamos também essa ênfase na proclamação em Cafamaum. Preste
atenção à reação dos que estavam na sinagoga: “Maravilhavam-se da sua
doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade e não como os
escribas” (Mc 1:22). Isso é muito interessante. Mesmo que os escribas
fossem os reconhecidos especialistas da Bíblia, Jesus falou com mais
autoridade que eles. Novamente notamos que o Espírito confere poder
e autoridade para a proclamação, ao comunicar a Palavra de Deus e ao
capacitar pessoas para compreendê-la.

Os discípulos e o Espírito

Verificamos algo similar com os discípulos: eles proclamaram a


mesma mensagem de Jesus (Mt 10:7; cf 4:17). Jesus deu-lhes a mesma

2Idem, Baptism in the Holy Spirit (London: SCM, 1970); cf. John R. Levison, The
Spirit in First-Century Judaism (New York: Brill, 1997).
Cheios do Espírito: a missão nos Evangelhos e em Atos | 105

autoridade (Mt 10:1). As pessoas podiam dizer que esses homens estiveram
com Jesus. Eles fizeram a mesma obra e desfrutaram o mesmo sucesso,
inclusive os milagres de cura: “Expeliam muitos demônios e curavam
numerosos enfermos, ungindo-os com óleo” (Mc 6:13). No entanto, havia
muita coisa que eles não compreendiam e eles ainda tinham que crescer
muito.
Eles também experimentaram fracasso. Note o descontentamento do
pai que trouxe seu filho endemoninhado para ser curado: “Roguei a teus
discípulos que o expelissem, mas eles não puderam” (Mc 9:18). Como
explicar? Qual a razão desse fracasso? Os discípulos fizeram a mesma
pergunta: “Quando entrou em casa, os seus discípulos lhe perguntaram
em particular: por que não pudemos nós expulsá-lo?” (Mc 9:28). Jesus
responde a eles no verso 29: “Esta casta não pode sair senão por meio de
oração [e jejum ].”
Geralmente, o que mais precisamos não é mais poder, mas mais
oração e mais fé. Se não sentimos o poder de Deus em nosso ministério,
talvez devamos primeiro nos certificar que, ao invés de confiar em nosso
próprio conhecimento ou habilidade, estamos orando pelo poder de Deus.
Observe a razão dada por Ellen White para o fracasso dos discípulos:

Em vez de robustecer a fé pela oração e meditação nas palavras


de Cristo, demoraram-se em seus desánimos e agravos
pessoais. Foi neste estado de sombras que empreenderam 0
conflito com Satanás.

Para serem bem -sucedidos num com bate assim, precisavam


por mãos à obra com espírito diverso. ...D eviam esvaziar-se
de si m esm os e encher-se com o Espírito e o poder de Deus.
[Note que precisam os estar vazios antes que possam os estar
cheios!] Somente a súplica fervente, perseverante a Deus,
feita com fé - fé que leva a esperar com inteira confiança
nEle, consagrando-se sem reservas a Sua obra - pode ser
eficaz para trazer aos hom ens o auxílio do Espírito Santo na
batalha contra os principados e potestades, os príncipes das
106 I Clinton W ahlen

trevas deste século, as hostes espirituais da m aldade, nos


lugares celestiais.3

Naquele tempo, os discípulos estavam cheios do Espírito?


Aparentemente não, porque seu “batismo” com o Espírito Santo ainda
estava no futuro. (At 1 :5 )0 caminho para o glorioso dom do Espírito passa
primeiro pela cruz. Suas esperanças seriam frustradas e sua fé, severamente
testada. Algumas vezes temos a ideia de que estar cheio do Espírito é uma
experiência: “cheio uma vez, cheio sempre”. Mas os discípulos receberam
0 Espírito pelo menos três vezes: (1) depois da ressurreição, quando Jesus
soprou sobre eles o Espírito Santo (Jo 20:21-22); (2) no Pentecoste (At
2:4); (3) depois que Pedro e João foram detidos e liberados (At 4:31).
Será útil olharmos brevemente para essas três ocasiões. O Espírito
foi concedido em tempos específicos, para propósitos específicos.

Depois da ressurreição
De acordo com João 20:21-22, Jesus deu-lhes o Espírito Santo:
“Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: ‘Paz seja convosco! Assim como o Pai
me enviou, eu também vos envio’. E, havendo dito isto, soprou sobre eles
e disse-lhes: Recebei 0 Espírito Santo.”
O Espírito continuaria a ensiná-los depois que Ele fosse embora.
Novamente, o Espírito está conectado com a missão. Como o Pai enviou
Jesus, Jesus enviou os discípulos. O Espírito os prepara para seu trabalho
especial como sub-pastores de Jesus, na igreja. E digno de nota que Jesus
priorizou o pastoreio do “rebanho” de Deus. É importante ter certeza de
estarmos conservando as ovelhas que temos, antes de sair atrás de mais
ovelhas.
No entanto, os discípulos deveríam esperar mais que o poder do
Espírito. Esse derramamento do Espírito deveria prepará-los especialmente
para a missão: “Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei,
3Ellen G. White, O Desejado de todas as nações (Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira), 431. (ênfase suprida).
Cheios do Espírito: a missão nos Evangelhos e em Atos | 107

pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder” (Lc 24:49).
Isso aconteceria no Pentecostés. Os discípulos já tinham recebido o
Espírito Santo, mas havia ainda muitas coisas que não entendiam. Antes
da ascensão de Jesus, perguntaram-lhe: “Senhor, será este o tempo em que
restaures o reino a Israel?” (At 1:6). Em Sua resposta, Jesus os repreende
gentilmente e promete novamente uma porção maior do Espírito: “Não vos
compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva
autoridade; mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e
sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e
Samaría e até aos confins da terra” (At 1:7-8).
Acho fascinante que Jesus não tenha respondido a todas as questões
deles. Precisaram esperar para entender algumas coisas. Para entender
outras coisas, precisaram estudar as Escrituras. Isso é o que diz o v. 14:
“perseveravam unânimes em oração” e o restante de Atos 1 explica como,
através do estudo das Escrituras, eles entenderam a necessidade de apontar
outro discípulo (vv. 15-20). Uma das passagens do AT que Pedro cita como
autoridade para sua decisão é Salmo 109:8, onde é dada uma ordem: “E
tome outro o seu encargo.” Então, oraram, tiraram sortes e Matías tomou-
se um dos Doze.
Observe como o próprio Jesus descreveu a obra do Espírito aos
discípulos, no evangelho de João. Por três vezes chama o Espírito de
“Espírito da Verdade” (14:17; 15:26; 16:13), e Ele os guiará em toda a
verdade (16:13). O Espírito testemunha sobre Jesus, Sua pessoa, Sua
obra (15:26).4 Ele ensina todas as coisas e traz à lembrança tudo o que
Jesus disse (14:26), que atualmente inclui toda a Bíblia. O Espírito
Santo anuncia as coisas que virão (16:13), i.e. profecia. O Espírito que
inspira a profecia nos ajuda a entender a profecia. Aqui, novamente, está
uma ênfase na verdade, especialmente a verdade acerca de Jesus e da

4Cf. David E. Aune, “Christian Prophecy and the Messianic Status o f Jesus,” in
The Messiah: Developments in Earliest Judaism and Christianity (Minneapolis, Minn.:
Fortress, 1992), 404-22. Tal autor tem uma compreensão limitada da profecia em relação
ao que é sugerido pela Escritura.
108 I Clinton W ahlen

profecia. Não podemos separar a mensagem do Espírito que inspirou a


mensagem.

No Pentecoste
No Pentecoste, os discípulos receberam o Espírito como resultado
de sua disposição em recebê-lo. Essa disposição consistiu em, pelo menos,
três elementos: (1) estavam unidos em propósito: esperavam pelo Espírito
Santo (At 1:14-2:1); (2) estavam unidos em oração: oraram pelo Espírito
Santo e uns pelos outros; (3) estavam unidos na proclamação: entenderam a
mensagem e estavam prontos para proclamá-la quando o poder do Espírito
viesse sobre eles.
O resultado é bem conhecido. Cerca de três mil pessoas foram
batizadas e incorporadas, naquele dia, ao estudo, oração e adoração na
comunidade da igreja prim itiva (2:41-47).

Depois que Pedro e João foram detidos e liberados


Depois da prisão de Pedro e João (por causa de seu testemunho no
poder do Espírito) e libertação (porque o poder de Jesus em suas palavras
e obras de cura não podia ser anulado), os discípulos oraram com mais
fervor. A oposição que encontraram, ao invés tomá-los mais tímidos e
menos diretos ao expor suas opiniões, como os líderes dos sacerdotes e
anciãos esperavam (At 4:17-18,21), levou-os a orar por ousadia e coragem
ainda maior (4:29) bem como na continuação dos sinais e maravilhas, a
fim de mostrar às pessoas que sua obra era feita em nome e no poder de
Jesus (4:30; cf. 4:13).
Observe o resultado de suas orações fervorosas: “Tendo eles orado,
tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito
Santo e, com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus” (4:31). Eles
ficaram mais cheios do Espírito. Por qual motivo? O Espírito não foi
dado completamente no Pentecoste? Não há indicação em Atos de que
os discípulos precisassem receber mais do Espírito por causa de alguma
Cheios do Espírito: a missão nos Evangelhos e em Atos | 109

limitação da parte de Deus. Foram cheios do Espírito, de acordo com o que


estavam dispostos a receber. Ao esvaziarem-se, deveríam receber mais.
Mesmo nesse momento, os discípulos ainda tinham muito que
aprender. Pedro precisou receber uma visão três vezes, seguida pela
explicação do seu significado e uma instrução específica a fim de convencê-
10 a avançar e evangelizar os gentios (At 10:9-20). Mais tarde, todos
ficaram admirados de que o dom do Espírito Santo não estivesse restrito a
crentes judeus. Os crentes gentios que creram em Jesus foram batizados e
começaram a ser cheios do Espírito (At 10:44-46; 11:15; 15:8).

Conclusão

Nossa análise do dom do Espírito nos Evangelhos e em Atos sugere


que o dom vem na proporção direta de quem está aberto a recebê-lo.
Quanto mais estivermos dispostos a receber 0 Espírito, mais Ele poderá
encher nossa vida e ministério. Além disso, parece muito claro que estar
cheio do Espírito não é uma experiência única, tipo uma vez cheio, sempre
cheio, mas um crescimento na graça ao se abrir mais e mais à orientação
e poder do Espírito. Estar cheio do Espírito não substitui o estudo diário
da Bíblia. Muito pelo contrário, o Espírito foi dado a fim de guiar-nos a
uma maior compreensão da verdade e do cumprimento da profecia. Além
disso, estar cheio do Espírito não é uma experiência solitária, com fortes
emoções; nem é um fim em si mesmo, mas 0 caminho através do qual Deus
abre as portas para o coração das pessoas, para que ouçam e respondam à
Sua palavra.
Estar cheio do Espírito sempre está conectado ao ensino e à pregação
da Palavra. O Espírito nos tom a mais receptivos a ouvir a Palavra de Deus
e responder a ela. Como os discípulos antes do Pentecostés, estar cheio
do Espírito é o único caminho para cumprir nossa missão com sucesso.
110 I Clinton W ahlen

Não precisamos esperar por alguma experiência distante, no futuro.


Nossa missão deve ser cheia do Espírito agora, na medida em que estamos
abertos para recebê-lo:

Não é por qualquer restrição da parte de Deus que as riquezas


de Sua graça não fluem para a Terra em favor dos homens. Se
o cumprimento da promessa não é visto como podería ser, é
porque a promessa não é apreciada como deveria ser. Se todos
estivessem dispostos, todos estariam cheios do Espírito.5

Tudo isso sugere que, enquanto oramos pelo poder Pentecostal


dos últimos dias, estar cheio do Espírito agora é um pré-requisito vital
para receber essa tão aguardada manifestação do Espírito Santo. Quanto
maior a consciência de nossa própria necessidade, mais fervorosamente
oraremos para que o Espírito nos encha e estaremos abertos para recebê-lo
diariamente. Só desta forma poderemos, como Igreja e como indivíduos,
cumprir a missão que Deus tem nos concedeu.

5Ellen G. White, Atos dos apóstolos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira), 50.
A SUBSTITUIÇÃO DO TEMPLO NO EVANGELHO DE
JOÃO E SUAS IMPLICAÇÕES MISSIOLÓGICAS

Samuel Muniz Bastos


Missão Sul-Maranhense, União Norte Brasileira, Brasil

................................................ ...................

Introdução

A partir do desejo de Deus de habitar com Seu povo, expresso no


Antigo Testamento e concretizado no tabernáculo e no templo, aborda-
se João 1:14 e 2 :1 3 2 2 ‫ ־‬com 0 propósito de delinear as implicações
missiológicas da substituição do templo por Jesus. Nota-se que a
substituição do templo por Jesus não é um fim em si mesma, mas um
meio para que a missão salvífica de Deus chegue a toda a terra. Observa-
se que os primeiros capítulos de João possuem uma estrutura teológica
surpreendente de substituições. E neste contexto, a substituição do templo
não é um dado isolado, mas tem relevância para o aspecto missiológico
que ser cumpre imediatamente após o relato da substituição.

O desejo de Deus em habitar com Seu povo

O livro de Apocalipse nos seus dois capítulos finais retrata a terra


voltando a ser como era antes do pecado. Através da restauração de todas
as coisas, a terra será completamente renovada.1 Não há renovação só no
aspecto físico da terra. Algo imprescindível, e que volta a ser como antes

1Ellen G. White. Primeiros Escritos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,


2007), 54.
112 I Samuel Muniz Bastos

da realidade do pecado, é a presença e habitação de Deus junto com Seu


povo (Ap 21:3; Gn 3:8). O pecado, no princípio, quebrou a relação de
companheirismo entre o homem e Deus (Is 59:2), mas não alterou o desejo
sempre atuante de Deus habitar com Seu povo. Para tanto, Deus elaborou
um plano pelo qual Seu desejo (Lv 26:11,12) se tomasse realidade.2Afinal,
“sempre foi o desejo de Deus estar com Seu povo (Gn 3:8)”34e Ele começa
a mostrar isso de forma embrionária, até chegar ao clímax da realização
desse propósito (Mt 1:23; G1 4:4).
A primeira demonstração desse objetivo é descrita em Gênesis
3:15. No caso de haver um descendente, seria alguém especial que
habitaria com os seus antecedentes. É alguém especial e superior, cujo
“surgimento triunfante desferiría um golpe mortal na cabeça de Satanás”
4. Eva compreendeu que algum dia Deus habitaria entre os homens como
o “descendente” prometido, e demonstrou anseio pela concretização da
promessa após 0 nascimento de Caim, quando disse o seguinte: “Adquiri
um varão, a saber, o Senhor” . (Gn 4: l).5
Outro ponto no qual Deus manifesta Seu desejo de habitar com os
homens, é Gênesis 9:25-27.

E disse: Maldito seja Canaã; seja servo dos servos a seus


irmãos. E ajuntou Bendito seja o Senhor, Deus de Sem; e
Canaã lhe seja servo. Engrandeça Deus a Jafé, e habite ele nas
tendas de Sem; e Canaã lhe seja servo.

Estas palavras parecem sugerir que em algum momento na história,


Deus habitaria nas tendas de Sem. Derek Kidner comenta que as “palavras:

2Ellen G. White. Patriarcas e Profetas (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,


2007), 63-70.
3Vilmar E. Gonzalez. Daniel e Apocalipse (Salvador, BA: Gráfica Monte Sinai,
1998), 309
4Walter C. Kaiser Jr. Teologia do Antigo Testamento (São Paulo: Vida Nova,
2007), 81.
5“Essa é pelo menos uma maneira de traduzir essa frase enigmática”, ver Kaiser,
81 .
A substituição do templo no evangelho de João e suas implicações | 113

bendito seja o Senhor Deus de Sem, dão ideia de que Sem já estava em
aliança com Yahweh”.6
Há mais argumentos que mostram, que “Canaã, o filho mais velho
de Cão, seria maldito. Jafé seria o dono do mundo; Sem, o pai da religião...
A profecia foi: Alargue ou engrandeça Deus a Jafé, e more nas tendas
de Sem”.7 Será mostrado adiante que Deus é quem haveria de morar nas
tendas de Sem, pois Deus seria bendito nesse povo, conforme as palavras:
“Bendito seja o Senhor Deus de Sem” .8
E. A. Speiser sugere que a referência a Sem é uma aplicação direta
ao povo de Israel,9 afinal Deus habitou entre os Israelitas (Lv 26: 11 -12; Ê x
25: 8). Gordon J. Wenham, apesar de não ser favorável à interpretação de
que Deus habitaria nas tendas de Sem mostra que os judeus a entendiam
que Deus habitaria em Israel. E isto é atestado no livro dos Jubileus e nos
Targuns, onde “habitar” significa a morada de Deus com Israel (Ê x 25:8;
29:45; Lv 16:16; Nm 35:34) etc.10 O Seventh-Day Bible Commentary não
concorda com o posicionamento de que Deus habitaria nas tendas de Sem
e afirma que o pronome pessoal “Ele” em Gênesis 9:27 se refere a Jafé e
não a Deus. Por outro lado, assegura que Sem seria o recipiente e herdeiro
de todas as bênçãos da salvação que Jeová outorgou a Seus fiéis. A alusão
é feita ao povo de Israel como portador de tais bênçãos,11 visto ser ele
descendente de Sem.
A benção de salvação para os israelitas era de certa forma mediada
pelo santuário, visto ser este o “lugar da habitação de Deus, o depositário

6Derek Kidner. Introdução e Comentário (São Paulo: Vida Nova, 1979), 99.
7Antônio Neves de Mesquita. Estudo no Livro de Gênesis (Rio de Janeiro : JUERP,
1983),146.
8Ibid.
9E. A. Speiser, Gênesis in The Anchor Bible Comentary (New York: Doubleday e
Company, 1964), 62-63.
10Gordon J. Wenham, Gênesis, Word Biblical Comentary, (Carlisle; Michigan: The
Paternoster Press: Baker Book House, 1994), 202.
11Francis D. Nichol. Ed. Seventh- Day Adventist Bible Commentary, (Washington
: Review and Herald, 1953) Yol. I, 267.
114 I Samuel Muniz Bastos

do decálogo e a representação típica do plano da salvação,” 12 o próprio


“quartel general da salvação.” 13
Kaiser endossa a posição de que Deus habitaria nas tendas de
Sem, mostrando que Deus é o sujeito do verbo “habite Ele” em Gênesis
9:27.14 Concordam com este posicionamento, o Targum Onquelos, Filo,
Maimônides, Rashi, Ibn Ezra, Teodoreto, Baumgartem e Delitzsch. E as
razões são as seguintes:

(1) Presume-se que o sujeito da cláusula anterior continue na


cláusula seguinte onde o sujeito não é declarado; (2) O emprego
do objeto indireto da linha anterior como sujeito (Jafé) exigiría
fortes razões contextuáis para assim fazer; (3) O contexto dos
próximos capítulos designa Sem como o primeiro em honra
quanto às bênçãos; e (4) a frase hebraica weyishkon beohole
Sem, “e ele habitará nas tendas de Sem”, dificilmente faria
sentido ao ser atribuída a Jafé, porque a Jafé já fora concedida
a benção da expansão.15

Se porventura a argumentação anterior não for convincente quanto


ao desejo de Deus habitar com Seu povo (que tinha origem Semita) é
incontestável a manifestação desse desejo em Êxodo 25:8, o qual se realiza
no semita Israel. “E me farão um santuário para que Eu possa habitar no
meio deles” (Êx 25:8). O termo para “habitar” é o mesmo de Gênesis
9:27.16 “Deus morava no tabernáculo, particularmente na shekinah ou
propiciatorio”.17

12Alberto R. Timm, Desenvolvimento da Doutrina do Santuário no Contexto do


Conflito Cósmico Material da Classe do Programa de Doutorado em Teología: Argén-
tina, Universidade Adventista Del Plata, 1997, 12, 13.
13William H. Shea. Doutrina do santuário, apontamentos do programa de mes-
trado. IAE São Paulo, S/D, p. 01.
14Kaiser, 84.
15Ibid.
16Benjamim Davidson. The Analitical Hebrew and Chaldee Lexicon. (Michigan:
Regency Reference Library, 1970), 715.
17Mesquita, Êxodo 25b.
A substituição do templo no evangelho de João e suas implicações | 115

R. Alan Cole diz que “o propósito do santuário é apresentado aqui,


como sendo que Deus pudesse habitar no meio de Israel”.18 Que Deus
sempre quis habitar com Seu povo, já é sabido, conforme dito alhures. E
isso é visto desde o início de Gênesis. No período patriarcal, as teofanias,
aparentam indicar que Deus queria estar com os seus fiéis, mas é só a
partir de Êxodo 25:8, com a construção do santuário, que “Deus é trazido
para o Seu povo e faz Sua presença entre eles real”.19Além disto, “o fato
individual mais importante na experiência desta nova nação de Israel, é
que Deus viera ‘tabem acular’ (.shakan) ou ‘habitar’ no meio dela” .20
N a progressão da revelação, percebe-se que a era patriarcal e mosaica
são vinculadas aos profetas anteriores, de Josué a 2 Reis, pela preocupação
frequente em relação à habitação de Deus, a qual teria um local definido,
escolhido pelo próprio Javé.21 Esse tema percorre os profetas e mostra
novamente a importância da habitação com Seu povo (ver D tl2 :5 , 11,21;
14:24; lR s 9:3; 11:36; 14:21; 2Cr 33:7).
Jerusalém, em Judá, fora o local escolhido para estabelecimento da
morada de Deus entre o Seu povo (lR s 11:36; 14:21; 2Cr 33:7). Porém,
tanto a cidade se tomara pecaminosa (Is 1:10-31; Jr 6 :1 3 2 1 ‫ ;־‬Ez 16:1-35;
22; 23), como o templo foi profanado (2Cr 33:7; Is 1:13; Jr 7:1-15; Ez
8:1-18 etc.). Em face destas condições a habitação de Deus entre Seu
povo ficou comprometida, visto que Deus e o pecado são extremamente
opostos (Is 59:2), e não podem ocupar o mesmo lugar ao mesmo tempo.
Deus então, abandona Sua morada entre os homens (Ez 10:22) por causa
dos pecados de Israel (Ez 18:1-18). A relutância de Deus em sair do templo
demonstra quão importante era para Ele tabemacular com Seu povo.
Abandonar Sua casa foi a última coisa a ser feita depois de haver suportado
toda uma avalanche de pecados e apostasia (conf. O livro de Oséias).

18R. Alan Cole. Êxodo, Introdução e Comentário. (São Paulo: Vida Nova, 1981),
184.
19Nichol. S. D. A, B. C. Vol. 1: 635.
20Kaiser, 124.
21Ibid., 128.
116 I Samuel Muniz Bastos

A glória de Deus foi-se. Sem a presença de Deus, o povo foi para o


exílio, local de todo aquele que não tem Deus. O tipo de exílio é só uma
questão de nomenclatura.
Após 0 exílio babilónico, o templo foi erigido novamente, mas agora
não contava com o habitante celestial:

O segundo templo não igualava 0 primeiro em magnificência,


nem recebeu o toque da presença divina como no caso
do primeiro templo. Não houve manifestação de poder
sobrenatural para assinalar sua dedicação. Nenhuma nuvem de
glória foi vista inundar o santuário recém-erigido... O shekinah
não mais habitava entre os querubins no santo dos santos.22

Onde se podia achar a atividade e a presença de Deus? Por certo


não estava no desmantelado templo, como visto anteriormente. Teria
Deus invalidado Sua promessa de habitar para sempre com Seu povo (Êx
29:45,46)? Se assim o fosse, Deus não estaria sendo fiel à Sua natureza
de incondicional imutabilidade no concerto. Insiste-se que Deus continua
expressando o Seu desejo de habitar com Seu povo, independente de ser
visto no templo ou não.
Ageu, que profetizou por volta de 520 a. C. dentro do contexto da
reconstrução do templo após o exílio, demonstra que, apesar de a shekinah
não estar no templo reconstruído, ela estava no meio do seu povo (Ag
1:13; 2:4). A promessa de Deus habitar com Seu povo continuava válida, e
Ele a estava cumprindo (Ag 2:5). Cabe ressaltar que a ausência divina no
templo não era omissão, mas preparação para um desdobramento maior
de Sua promessa naquele templo, conforme Ageu 2:7 e 9.23 “Para Ageu,
22Ellen White, Profetas e Reis, 597.
23Kaiser 260. “Apalavra desejo, tesouro de todas as nações lhandat kol habbôyím,
2: 7) é claramente plural, não sendo, portanto, referência ao Messias. N o entanto, Herbert
Wolf, ‘The Desire o f all Nations in Haggai 2: 7: Messianic or not?’ Journal o f the Evan-
gelical Theological Society 19 (1976): 97-102, indicou outras passagens do AT. Em que
o verbo no plural e o substantivo igualmente no plural se referem a um indivíduo; assim
A substituição do templo no evangelho de João e suas implicações | 117

o novo templo inaugurava uma nova era. Aquele lugar, o templo, vería o
príncipe da paz entrar por suas portas”.24
A gloria do segundo templo era maior “principalmente porque o
Senhor do templo veio (Mt 12:6) e o superou (Jo 2:13-22).”25 Deus quería
dizer ao povo que Sua habitação com eles, seria total e absoluta. Todas as
teofanias anteriores eram somente passos de um Deus que se aproximava
para tabemacular definitivamente entre os homens. O desejo de Deus
toma-se realidade plena em Mateus 1:23. “...ele será chamado de Emanuel,
que quer dizer: Deus conosco” . Jeová viera habitar com seu povo, “não
com a nuvem de Sua gloria, mas com a presença daquele em quem habita
corporalmente toda a plenitude da divindade (Cl 2:9), o próprio Deus que
se manifestou em carne” (lT m 3:16).26
Em suma, a preocupação e importância que Deus dava à Sua habitação
entre Seu povo, conforme tentou-se mostrar acima, é corroborada pelas
palavras conclusivas de Ellen G. White:

Deus ordenou a Moisés acerca de Israel: Έ me farão


um santuário, e habitarei no meio deles’ (Êx 25: 8), e
habitou no santuário, no meio do seu povo. Durante toda
a fatigante peregrinação deles no deserto, o símbolo da
Sua presença os acompanhou. Assim Cristo estabeleceu
Seu tabernáculo no meio de nosso acampamento, e
habitou entre nós, “e vimos a Sua glória, como a glória do
unigénito do pai, cheio de graça e de verdade” João 1: 14.27

Jesus, o Novo Templo

Na seção anterior, chegou-se até o ponto em que Deus, desejoso


de habitar com os homens, manifestou Sua presença, não com a nuvem

sendo, a referência podería ser messiânica.


24Isaltino Gomes Filho. Agen, Nosso Contemporâneo, 38, 39.
25J. G. Baldwin. Ageu, Zacarias e Malaquias, Introdução e Comentários. (São
Paulo : Vida Nova, 1982), 39.
26Ellen White, Profetas e Reis, 597.
27Ellen White, O Desejado de Todas as Nações, 23-24.
8‫ן ו‬ I Samuel Muniz Bastos

da Sua gloria, mas em Jesus, em quem “habita corporalmente toda a


plenitude da divindade” (Cl 2:9). Mateus 1:23, que fala de “Emanuel,
Deus conosco”, é uma referencia ou cumprimento profético do Antigo
Testamento (Is 7:14), visto que o alvo de Mateus é mostrar a realização
deste em Jesus.28 Essa referência é o elo de ligação entre Antigo e Novo
Testamentos, enfatizando o desejo de Deus habitar com Seu povo. O verso
mostra que a profecia do Antigo Testamento encontra seu cumprimento
nesse episódio relatado. Mateus é relevante em mostrar “quem”
habitaria com os homens. Esse “quem” é Deus. No entanto Mateus não
tece detalhes de “como” se daria essa habitação, ou em que moldes.
Neste contexto, assim como Mateus amplia a compreensão do
Antigo Testamento no Novo Testamento, quanto à habitação de “Deus
conosco”, do mesmo modo, João amplia este tema, o que é importante no
escopo deste trabalho. Em João 1:14 encontra-se a declaração: “E o verbo
se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a Sua
glória, glória como do unigénito do Pai” .
Em outras palavras, pode-se afirmar que tanto Mateus como João
apontam Jesus como Deus tabemaculando conosco. Ambos usam palavras
diferentes, mas falam da mesma verdade.
As palavras de João são cheias de significado em relação ao santuário,
pois a “afirmação de que o verbo encarnado habitou entre nós (heskenosen),
volta ao tempo do tabernáculo (skené) nas caminhadas pelo deserto” .29
Como afirmou F. F. Bruce:

Entre os judeus de fala grega, o substantivo skene e suas


palavras cognatas, como o verbo skenoo, que é usado nesta
frase, comumente eram associadas ao verbo hebraico shakan
(‘m orar’) e seus derivados, como o mishkan (tabernáculo)
da Bíblia e a shekinah pós-bíblica - uma palavra que
literalmente significa ‘residência’, porém era usada mais

28David Michael Stanley, Evangelho de Mateus, 17.


29F. F. Bruce. João, Introdução e Comentário, b4 5.
A substituição do templo no evangelho de João e suas implicações | 119

específicamente para a gloriosa presença de Deus que residia


no tabernáculo de Moisés e no templo de Salomão. Fica
implícito que, assim como naquele tempo Deus m anifestou
Sua presença entre Seu povo, na tenda que Moisés levantou,
agora Ele fixou residência na terra em um sentido mais pleno
na palavra que se fez carne.30

Esse posicionamento, de que Jesus é agora o novo e verdadeiro


templo de Deus, além de ter forte embasamento linguístico, conta com a
corroboração de muitos teólogos que aprenderam tal verdade, adicionando
força ao que Bruce, já disse com propriedade acima.
Por exemplo, Lenski argumenta que as palavras “e acampou entre
nós (heskenosen) recordam ou chamam de volta o tabernáculo de Israel
em que Deus acampou e habitou entre Seu povo. Neste contexto, de João,
a carne do “Logos: é o verdadeiro templo de Deus”.31 Olhando-se para o
futuro, para a final habitação de Deus com Seu povo, pode-se inferir que
isso já é uma realidade inaugurada em Jesus (Jo 1:14) e que alcançará sua
plenitude entre os fiéis glorificados (Ap 21:3).
O verbo skenoo é usado somente cinco vezes no N. T., (Jó 1:14;
Ap 7:15; 12:12; 13:6; 21:3). No grego do A. T. a palavra é largamente
confinada para uso com referência ao tabernáculo, onde a presença de
Deus habitou.

Talvez João assumiu que o conhecimento dos leitores da


Septuaginta, conectaria esta declaração com a doutrina do V.
T. da presença de Deus que guiou os israelitas e habitou entre
eles por dia e noite... O invisível e indescritível Deus tem sido
trazido para dentro da vida diária através da encarnação.32

30Ibid.
31R. C. H. Lenski. The Interpretation o f St. John’s Gospel, (Minneapolis, MN:
Augsburg Publishing House, 1961), 75.
32Merril C. Tenney. Joyhn, the Gospel o f Belief (Michigan: William B. Eerdmans,
1988), 70.
120 I Samuel Muniz Bastos

Pelo que foi afirmado até aqui, é incontestável que no N. T. Jesus


seja o verdadeiro templo de Deus. No A. T., a “tenda ou tabernáculo e
seu sucessor, o templo, eram a sede de glória de Deus”, mas, “em a nova
aliança, a humanidade da Palavra, sua carne, toma-se a suprema localização
da presença e da glória divina” .33
Ellen G. White falando sobre João 1:14 no contexto do santuário,
confirma conclusivamente os posicionamentos anteriores ao dizer o
seguinte:

Deus ordenou a Moisés acerca de Israel: Έ me farão um


santuário e habitarei no meio deles’ (Ex 25:8), e habitou
no santuário, no meio de Seu povo. Durante toda fatigante
peregrinação deles no deserto, o símbolo de Sua presença os
acompanhou. Assim Cristo estabeleceu Seu tabernáculo no
meio de nosso acampamento humano. Estendeu Sua tenda ao
lado da dos homens, para que pudesse viver entre nós, e tomar-
nos familiares com seu caráter e vida divinos.34

Já que Jesus é 0 verdadeiro santuário de Deus, qual a relevância do


templo de Jerusalém, que era o lugar da habitação de Deus (2Cr 33:7)?
Deveria ser substituído. O templo não seria removido caso os israelitas
tivessem “cuidado em fazer tudo que lhes tenho mandado, toda a lei, o
estatuto e os juízos dados por intermédio de M oisés” (2Cr 33:8). Porém,
não cumpriram tais prescrições.

O sacerdócio do templo havia se corrompido a tal ponto que


durante o ministério terrestre de Cristo existiam vários sumos
sacerdotes vivos (conf. Lc 3:2; At 4:6). A função vitalícia,
hereditária e exclusiva do sumo sacerdote degenerou-se
num cargo lucrativo, assegurado muitas vezes politicamente,
através de fraude, suborno e homicídio. Além disso, o serviço
do templo havia se transformado numa estrutura comercial

33Raymond Edward Brown. Evangelho de João e Epístolas (São Paulo: Paulinas,


1975), 25.
34Ellen G. White, O Desejado de todas as Nações, 23.
A substituição do templo no evangelho de João e suas implicações | 121

secularizada, irreverente e exploradora do povo (Jo 2:14-16;


Mt 21:12; Me 11:15, 16).35

O evangelista continua, então, no relato da substituição do templo (Jo


2:14-22). Importante para este estudo é o verso 19. “Destruí este templo, e
em três dias o reconstruirei” . Esta substituição do templo tem seu começo
no capítulo 1:14, o qual já foi analisado dentro do contexto do santuário.
Agora, João passa a mostrar a substituição proclamada ou sentenciada por
Jesus e executada definitivamente na cruz (Mt 27:51).
A estrutura teológica dos primeiros capítulos de João mostra o
caráter substitutivo das ações de Jesus, que são chamadas de “sinais” .
Estes sinais apontam para “uma transição do temporário para o definitivo,
nos capítulos 2:1-4; 54” .36 No capítulo 2:1-12, há a substituição do Velho
sistema de purificação pelo novo vinho do evangelho, que é oferecido
numa proporção suficiente para satisfazer cada necessidade humana.37 Há
uma transição do vinho velho para o novo. Ainda no capítulo 2, nos versos
13-22, há a substituição do templo, visto que Jesus é o novo santuário.38
No capítulo 3, há um a substituição do nascimento físico (como
requisito para pertencer ao povo de Deus) para o nascimento espiritual
(Jo 3:15).39 Nos versos 22-30 do capítulo 3 existe ainda a substituição dos
“mediadores” da antiga aliança. Sem nomeá-lo, Moisés é aludido. Este é
primeiro dessa cadeia, até chegar ao testemunho de João Batista, “O último
dos enviados” .40H áum a gradação dos amigos do noivo para o próprio noivo .41

35Alberto R. Timm. Desenvolvimento da Doutrina do Santuário no Contexto do


Conflito Cósmico. Material da classe do Programa deDoutorado em Teologia: Argentina,
Universidade Adventista Del Plata, 1997,23.
36José Carlos Ramos. Evangelho de João, Introdução e Comentário, p. 26.
37Ibid., 95.
38Juan Mateos e Juan Barreto. O Evangelho de São João: análise lingüistica e
comentário exegético (São Paulo: Paulus, 1999), 143-157.
39Ramos, 26; Mateos e Barreto, 158-185.
40Mateos e Barreto, 186-201.
41Ramos, 26.
122 I Samuel Muniz Bastos

No capítulo 4:1-42, a tônica principal é a substituição do culto,42


percebendo-se nas entrelinhas do relato uma progressão substitutiva da
água comum para água da vida (v. 7-18), do alimento comum para o
verdadeiro (32-34), da palavra da mulher para a palavra de Cristo (39-
42). Não obstante, o ponto alto é a substituição do culto figurativo para o
genuíno.43
Visto este ciclo de substituições, teologicamente urdidos é
inquestionável a substituição do templo, posto que tal relato esteja
praticamente no centro de tal ciclo. O templo “era só um tipo destinado a
ser destruído; (cf. SI 40:6, 7; Jr 3:16)”.44

N a sua interpretação, não se trata apenas de “purificar”


o templo dos abusos dos negociantes, mas de abolir o
culto ultrapassado... Jesus não que restaurar o templo
como casa de oração (Mc 11:17), mas o há de abolir
(Jo 2:19). A verdadeira casa do Pai está na Sua pessoa.45

Há quem vá mais adiante ao afirmar que “o corpo, a humanidade de


Jesus, é santuário” e que este “templo, que já existe, ficará definitivamente
levantado com usa ressurreição” .46 Cabe notar que Raymond E. Brown
aponta para João 2:13-22 como parte deste processo de substituição das
instituições judaicas.47
Portanto, do que foi discorrido acima, parece evidente que Jesus
é o novo e verdadeiro templo de Deus, tomando obsoleto o templo de
Jemsalém (Mt 27:51).

42Mateos e Barretos, 202-230.


43Ramos, 26.
44Guilhermo Hendriksen. El Evangelio Según San Juan ( Michigan: Iglesia Cris-
tiana Reformada, 1981), 134.
45Johan Konings, Encontro com o Quarto Evangelho (Petrópolis, RJ: Vozes,
1975), 31.
46Mateus e Barreto, 156.
47Raymond Edward Brown, 121.
A substituição do templo no evangelho de João e suas implicações | 123

As implicações missiológicas da substituição

Qual a razão de ser da substituição? A atitude de Jesus é rica de


significado. Nesta seção abordaremos as implicações missiológicas da
substituição do templo de Jerusalém por Jesus, o novo templo. O templo
de Jerusalém era um tipo48 e Jesus é seu antítipo. Assim, é necessário
compreender sua finalidade tipológica no Antigo Testamento para tentar-
se entender seu cumprimento em Cristo.
William Shea diz que o santuário é o próprio quartel general da
salvação.49 E é dito mais sobre o santuário:

O tabernáculo também incorporaria, ampliaría e perpetuaria


a dimensão tipológico-redentiva e substitutiva dos genuínos
altares de sacrificios erigidos desde a porta do Edén até o
Sinai. A grande verdade ensinada por esses sacrifícios era
que a salvação só podia ser alcançada através da graciosa
provisão divina de um substituto para morrer pelo pecador. E
acordo com E. G White, ‘em cada sacrifício, a morte de Cristo
era indicada’. Cristo era um Salvador tanto antes como depois
da sua encarnação.50

Observa-se então que o objetivo principal do santuário era revelar a


salvação e coloca-la à disposição do ser humano. Esta deveria ser ministrada
pelos sacerdotes israelitas (Êx 19:6) que estavam tão intimamente ligados ao
santuário, chegando a ponto de fazerem parte do mesmo. Pode-se perceber
isto na função, na estrutura material, bem como nas vestimentas sacerdotais
que eram feitas dos mesmos materiais do santuário (Êx 26:1; 28:5,6).
Israel fora escolhido para uma função missiológica. Este povo
deveria ser o coração da mediação entre Deus e as outras nações51, e a

48Hendriksen, 134.
49Shea, 1.
50Timm, 13.
51Hans LaRondele. Anotações Sobre Escatologia. Semana Teológica IAENE Abril
de 1999.
24 ‫ן‬ I Samuel Muniz Bastos

escolha de Israel com seu santuário não significava rejeição dos gentios.52
Deus tinha uma missão para Israel,53 e esta é sintetizada em Isaías
49:6: “Sim diz Ele: pouco é o seres meu servo, para restaurares as tribos
de Jacó e tomares a trazer os remanescentes de Israel; também te dei como
luz para os gentios, para seres a minha salvação até à extremidade da
terra”. “Deus”, que era o tabemaculador do santuário “se identificou com
este povo porque era depositário de Sua missão”54, a qual deveria alcançar
“todas as famílias da terra” (Gn 12:1-3).
O santuário tem um papel relevante nessa missão, visto que
o santuário seria o local do ajuntamento de todos os povos. “A
minha casa será chamada casa de oração para todos os povos” (Is
56:7). Isto está dentro de um contexto de chamamento dos gentios.
Desde a libertação de Israel da escravidão do Egito, Deus já
confirmara seu propósito de que a nação toda se dedicasse ao cumprimento
da missão em conexão com o santuário: “Agora, pois, se diligentemente
ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a
minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra
é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa” (Êx 19:5,6).
Pedro aplica este mesmo critério ao povo de Deus, clareando o sentido
missiológico contido em tais palavras: “Vós, porém, sois raça eleita,
sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a
fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou” (lP e 2:9).55
Sobre a missão de Israel afirma-se ainda que:

Deus chamou a Abraão e, com ele, a todo o grande povo que


formariam seus descendentes, para que a bênção chegasse ‘a
todas as famílias da terra’. Se este povo cumprisse sua missão,

52Ibid.
53Quando fala-se em Israel neste contexto, está implícita sua religião centrada no
santuário, que era o unificador da nação e motivador da missão.
54Mário Veloso. El Compromisso Cristiano: un estudio sobre la actualidad misio-
ñera en la evangelio de San Juan (Argentina: Zunino Ediciones, 1975), 82.
55Veloso, 78.
A substituição do templo no evangelho de João e suas implicações | 125

todas as nações do mundo saberíam que Deus se havia unido


com Seu povo eleito em um a missão gigantesca para benefício
de todos os homens. Cada ato do povo de Israel, então, seria
um a ação salvífica e sua história se identificaria completamente
com a história da salvação.56

No entanto, Israel falhou em sua missão,57 e consequentemente o


templo perdeu o sentido missiológico (cf. Jr 7:4-10; Ez 8; M t 21:13).58

Israel se aferrou aos privilégios que Deus lhe havia


concedido ao fazê-lo depositário da plenitude de sua bênção
e se negou a compartilhá-la em forma total com os povos
pagãos. Esta atitude egoísta desvirtuou completamente sua ação
missionária. Israel se dedicou a defender as formas externas
do culto até ao grau de pensar que sua missão consistia na
conservação de tais formalidades.59

Essa queda de Israel, suscita a censura de Jesus em Mateus 23:13:


“Ai de vós escribas e fariseus, hipócritas! Porque fechais o reino dos céus
diante dos homens; pois vós não entrais e nem deixais entrar os que estão
entrando”. A falha de Israel, porém, não frustra o plano missionário de Deus
porque Jesus, o verdadeiro Israel60 e novo templo, cumpre os propósitos
divinos.
Conforme visto alhures, o propósito do templo era a salvação. Como
novo templo, Jesus é fiel e cumpre o propósito de Deus onde Israel falhara,
em tom ar a “casa de oração” acessível “a todos os povos” (Is 56: 7). Jesus
começa a cumprir os propósitos do templo, a partir do momento que o
substitui (Jo 2:13-22). Isso começa a ser visto no encontro com Nicodemos
(3:1-5) que, na condição de judeu, acreditava na filiação abraâmica como

56 Ibid., 77.
57Conforme LaRondelle explanou em suas preleções no IAENE em Abril de 1999.
58Ellen White, O Desejado de Todas as Nações, 154-166.
59Veloso, 81.
60LaRondelle.
126 I Samuel Muniz Bastos

importante para ser filho de Israel.61 Jesus, “que é a gloria do shekinah, o


lugar santo”,62 mostra a Nicodemos que seu pensamento é irrelevante.
O verdadeiro israelita do novo Israel, “nasce da água e do espirito”
(Jo 3:5). A água relembra a atividade purificadora realizada no templo.63
Jesus não só é o novo templo,64 como é a água viva (Jo 4:14; 7:37-38). É
também o doador do espirito (Jo 14:16, 17; 16:7; 20:22). O verdadeiro
Israel nasce do novo templo, que é a fonte da água viva (Jo 19:34; Ez
47:1, 2; Ap 22:1), e esta é equivalente ao Espirito (7: 38, 39). O templo de
Jerusalém era estático, e esperava que as pessoas viessem a ele (Zc 8:22-
23; 14:16). Jesus, como novo templo, transcende esse aspecto e rompe o
exclusivismo territorial e toma-se o centro de adoração para todo mundo.
Esse processo, no qual o templo de Jerusalém não se cumpriu, começa
a ser patenteado na atitude de Jesus em ir à mulher samaritana. João 4:4
diz que “era necessário atravessar a província da Samaria”. Jesus podería
ter chegado à Galileia via Pereia, do lado Oriental do Jordão, para evitar
passar em Samaria devido à grande hostilidade entre judeus e samaritanos.
Mas, Sua “necessidade” não era apenas geográfica. Era um “imperativo”
(Jo 4:4), uma “necessidade divina que impelia Cristo a ir por aquele lugar.
Havia uma razão superior, ligada à Sua missão” .65 O imperativo de Cristo
era a salvação. “Ao final do incidente, quando os samaritanos creram nEle,
acharam que este missionário era o salvador do mundo.”66 No contato com
aqueles que eram considerados pagãos, “Jesus quebra uma tradição porque
Ele representa Deus e busca todos os pecadores” .67
No cumprimento do Seu papel de novo templo é nos dito que “Jesus
se revela como o Messias, o lugar santo, o shekinak, onde Jesus está, lá

61Mateus e Barreto.
62LaRondelle.
63Veloso, 183.
64Ibid.
65Ramos, 122.
66Veloso, 199.
67LaRondelle.
A substituição do templo no evangelho de João e suas implicações | 127

é o lugar santo. Não há mais montes santos. Não há mais um lugar santo
especificamente, porque Jesus é o monte santo” .68
Em seguida, Jesus cura o filho do oficial do rei (Jo 4:46-53). O rei
era Heredes Antipas,69 mas o oficial não é identificado. H á posições de que
fosse um judeu, ou Cuza (Lc 8:3), ouM anaen (At 13:1).Não há como saber.
Mas podería ser um pagão,70 o que estaria em conformidade com a missão
de Jesus em João 2-4. Cabe notar que a missão de Jesus progressivamente
cresce e rompe barreiras étnicas. Assim Jesus primeiro se encontra com
Nicodemos, um judeu, e lhe mostra o fim do exclusivismo nacional
mediante herança sanguínea; depois vai ao encontro da samaritana, uma
semijudia, começando a romper os preconceitos e barreiras étnicas; e, por
fim, vai aos romanos, representados pelo oficial do rei (Jo 3:1-5; 4: 1954).
Nestes exemplos, Jesus já inaugura a missão que será realizada pelos
discípulos, a qual é delineada em Atos 1:6: “e sereis minhas testemunhas
em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins a terra”.
Os objetos da missão: judeus, samaritanos e os dos confins da terra (aplica-
se aos romanos), já são alcançados e o novo templo não tem muro de
separação étnica (E f 2:14). Jesus é lugar de adoração para todos os povos.
E como novo templo, Jesus não está delimitado a um lugar específico,
como o antigo templo (lC r 33:7), mas está com todo adorador (Mt 1:23)
em qualquer lugar (Jo 4:21-24), permanecendo sempre com os seus fiéis
(Mt 28:20), pois “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali
estou (shekinah)7I no meio deles” (Mt 18:20).
Assim a obra de Cristo e Sua missão revelam a verdadeira natureza
de Deus ao entrar em relação com Seu povo.72 Esta relação (Êx 25:8)
se cumpre quando Deus vem tabemacular “conosco” mediante o novo

68Ibid.
69Francis D. Nichol (editor) S. D. A. B. C. vol 5:943.
70Ibid.
71Otto Borchet, O Jesus Histórico, p. 23. “Os rabis haviam dito isto acerca do
Shekinah” mas Jesus aplica a si mesmo.
72Veloso, 189.
28 ‫ו‬ I Samuel Muniz Bastos

santuário, Jesus Cristo. Este universaliza o cumprimento da missão


salvífica de Deus.

Conclusão

Como exposto acima, era de importância fundamental para Deus


tabemacular entre o Seu povo. O tabernáculo do deserto e o templo de
Jerusalém tomaram-se o lugar da habitação de Deus, mas não eram um fim
em si mesmo. Eram meramente meios ou tipos que apontavam para uma
realidade mais profunda.
N a pessoa e obra de Jesus Cristo, o cumpre-se o propósito do
tabernáculo e do templo em escala universal. E quando o tipo encontrou
o antítipo, as velhas instituições foram substituídas. Jesus, ao substituir o
templo universaliza a missão salvífica de Deus, levando a salvação para
os samaritanos e pagãos. Em Jesus cumpre-se o propósito missiológico
do templo e barreiras étnicas são rompidas para que o evangelho possa
alcançar todas as famílias da terra.
MISSÃO NO APOCALIPSE

Ekkehardt Mueller
Biblical Research Institute, EUA

Il1lll)111j11111111111111m11ll1t11m111111!111111111j11111111111m11111111111m1l[(llllll!11lllllll1m1m11l1l1mmm111111111111111111111111111111111]111]11111m1111m111!

Os que iniciam a leitura e o estudo do livro do Apocalipse são


confrontados com um surpreendente mundo de imagens apocalípticas, que
às vezes pode parecer bastante assustador. Para alguns leitores, o perigo
é ficar tão oprimido por essas imagens que se perdem de vista os temas
principais no Apocalipse, como a cristologia e a teologia. É ainda mais fácil
ignorar o tema da missão no último livro da Bíblia. J. V. M iller observa:
“N a miríade de estudos do Apocalipse, tanto eruditos como as pessoas
comuns, quase não dedicam atenção às contribuições do Apocalipse para
a teologia da missão” .1
Isto pode ser devido ao fato de que um primeiro olhar sobre o
Apocalipse parece indicar que a igreja está envolvida em problemas
internos e externos e que o conceito de missão não é fortemente enfatizado.
Além disso, a linguagem relacionada com a missão no Apocalipse
difere, em certa medida, da linguagem utilizada na literatura não joanina.
Por exemplo, a Grande Comissão em Mateus 28:19-20 usa as palavras
“ir” (poreuomai), “fazer discípulos” (matheteuo),2 e “ensinar” (didasko).

1Johnny V. Miller, “M ission in Revelation”, em Mission in the New Testament: An


Evangelical Approach, American Society ofM issiology Series, No. 27, edited by William
J. Larkin Jr. and Joel F. Williams (Maryknoll: Orbis Books, 1998), 227.
2O termo “discípulo” ( mathetes) ocorre 261 vezes no NT, contudo, apenas nos
Evangelhos (78 vezes em João) e Atos. Apocalipse não a emprega.
130 I Ekkehardt Mueller

Apenas o último termo é usado no Apocalipse, mas em um contexto


negativo: os falsos profetas “ensinam” (Ap 2:14,20).3
O paralelo da comissão, encontrado em M arcos 16:15, usa o verbo
“pregar” ( kerysso), um termo que ocorre frequentemente nos evangelhos
sinóticos e na literatura paulina para descrever a proclamação do evangelho
ou do reino de Deus. Além de Apocalipse 5:2, este verbo não é utilizado na
literatura joanina. Mas mesmo em Apocalipse 5 :2 o termo não aponta para
a atividade missionária.
De acordo com Mateus 10:5 e João 20:21, Jesus enviou (apostello)
seus discípulos. O termo ocorre frequentemente nos Evangelhos e em Atos,
mas também em algumas cartas do NT. Pode ser relacionado à missão e
é encontrado em Apocalipse 1:1; 5:6; 22:6. No entanto, aqueles que são
enviados, nestes textos, não são seres humanos.
O verbo “trazer boas notícias/pregar o evangelho” (euangelizo) e o
substantivo “o evangelho” (euangelion) são empregados com frequência
no Novo Testamento,4 mas não ocorrem no evangelho de João nem em
suas cartas, apenas em dois versículos no Apocalipse.5 Esta família de
palavras está sempre orientada para a missão.
Em qualquer caso, João raramente usa o vocabulário comum
relacionado à missão. No entanto, ele usa a raiz martu com bastante
frequência, superando todos os outros autores do NT. Esta raiz inclui os
termos (1) “para dar testemunho” / “testemunhar” / “ser uma testemunha”
(martyreo),6 (2) “testemunho” / “testemunha” / “reputação” (martyria), e
(3) “testemunho” (martys) termo do qual deriva-se a palavra “mártir”. Um
mártir é alguém que testemunha a verdade com sua vida. A raiz nem sempre
denota uma situação orientada para a missão, embora no Apocalipse,
3Didasko é usado no Evangelho de João dez vezes, principalmente no contexto
relacionado à missão.
4Lucas usa 0 verbo com mais frequência (25 das 54 ocorrências no NT), seguido
por Paulo (23 vezes). O substantivo é empregado na maioria das vezes por Paulo (60 das
76 ocorrências no NT).
5O verbo é utilizado duas vezes (Ap 10:7; 14:6) e o substantivo, uma vez (Ap
14:6).
6A voz passiva tem a noção de encontrar aprovação ou ser falada de modo polido.
Missão no Apocalipse | 131

parece que isso ocorre.7


Apesar da diferença no vocabulário, 0 livro tem uma perspectiva
de missão. Esta perspectiva não se limita a certas palavras, mas também
é evidente no uso de conceitos relacionados com a missão. Neste
artigo iremos dar uma olhada na atividade missionária no Apocalipse.
Prosseguiremos com os tópicos: missão e mensagem. Finalmente,
resumiremos os resultados da atividade missionária no Apocalipse. Um
tema que seria interessante, mas não pode ser abordado neste trabalho é a
questão da metodologia. Que método foi escolhido para transmitir o livro
do Apocalipse e que método seria adequado para a missão além mar hoje?8

Atividade missionária no Apocalipse

A questão da missão é encontrada através do Apocalipse. Há duas


dimensões. Uma pode ser chamada “a missão de Deus”. A outra é “a
missão da igreja”, embora Deus também esteja no comando dessa missão.
Separaremos as duas, para nossa finalidade. A missão de Deus pode ser
compreendida como o direto envolvimento de Deus nesse mundo a fim de
obter os resultados desejados. A missão da Igreja salienta a responsabilidade
dos agentes humanos.

7A raiz marty - nem sempre está relacionada à missão, apesar de descrever teste-
munhas oculares e seu testemunho:

NT Literatura Literatura Lucas-Atos Outros


Joanina Paulina

martyreo 76 47 16 12 1
martyria 37 30 2 2 3
martys 35 5 11 15 4

Total 148 82 29 29 8

8Ver referência ao artigo de Fergus King, “Inculturation & the Book o f Revela-
tion,” Mission Studies 18/1 (2001): 24-41.
132 I Ekkehardt Mueller

A missão de Deus

Como nenhum outro livro da Bíblia, o livro do Apocalipse retrata um


conflito cósmico entre Deus e seu povo de um lado e poderes do mal e os
seus seguidores do outro.9 Neste conflito cósmico Deus está especialmente
preocupado com a salvação da humanidade. J. V. M iller fala sobre a
“missão de Deus para recuperar os territórios perdidos e os seus habitantes
para a comunhão com Ele, para sua própria glória”.10
Ele entende como tema da proclamação da missão no NT, a redenção
através de Jesus e seu domínio. Ele sugere que a razão da missão é
“estabelecer seu domínio sobre todas as nações”, apontando para quatro
aspectos de Jesus:

Primeiro, a presença dele é irresistível na área central de


interesse de suas igrejas.... Em segundo lugar, ele é o Cordeiro
que foi morto, o manso substituto sacrifical, que também é o
Leão celestial. ...Em terceiro lugar, ele é o juiz da terra.... Em
quarto lugar, ele é o Rei dos reis e Senhor dos senhores.... O
objetivo da missão é predominantemente tomá-lo conhecido,
e convidar as nações que tem sede para que venham e bebam
(22:17).”11

Deus, 0 Pai

Deus Pai está envolvido em missão. De acordo com Apocalipse


10:7 “Ele anunciou aos Seus servos, os profetas”. O termo utilizado aqui é
euangelizo. Deus comunica as boas novas, o cumprimento de seu mistério.
9Stephen Pattemore, The People o f God in the Apocalypse: Discourse, Structure
and Exegesis, Society for N ew Testament Studies Monograph Series 128 (Cambridge:
Cambridge University Press, 2004), 97, também menciona um conflito cósmico que “João
certamente descreve...” mas não acha que essa seja “sua direção interpreativa primária”.
10Miller, 227.
11Ibid., 232-234.
Missão no Apocalipse | 133

“Essa é a mensagem da redenção de Deus aos que o amam e de julgamento


aos que 0 odeiam. Deus dá sua mensagem aos seus servos, e espera que
eles atransm itam atodas as pessoas (w . 1012.” (10 ,11:3 ;11‫ ־‬Euangelizo é
encontrado mais uma única vez em Apocalipse, isto é, em Apocalipse 14:6
onde as boas novas são proclamadas por um anjo. O evangelho foi dado ao
anjo por Deus. Em outras palavras, Deus utiliza mensageiros para fazerem
a missão que ele disse que faria.
Isso também é salientado em Apocalipse 22:6, um texto que nos leva
de volta para o início do Apocalipse (Ap 1:1). Deus compartilhou o livro
do Apocalipse conosco que foi, entre outros, comunicado por um anjo.13
Deus comunica-se com a humanidade. Ele não é um Deus distante,
como um relojoeiro que terminou 0 relógio deste mundo, e agora deixa-o
por si só. Deus tem um plano e um objetivo os quais Ele concretizará. Ele
permite que os seres celestiais e a humanidade façam parte desse plano e
mostra o que acontecerá em breve. Ele revelou seu plano de salvação aos
seus servos, os profetas.
A missão de Deus também será realizada através do cavaleiro no
cavalo branco, o Espírito, e as duas testemunhas.

Jesus e o Evangelho
O cavaleiro no cavalo branco. Os representantes da visão preterista
sugerem tomar o primeiro selo literalmente e aplicá-la aos partos, que
eram um a ameaça ao império romano14 ou a Roma em si.15 De acordo
12Richard Bauckham, The Theology o f the Book o f Revelation. N ew Testament
Theology (Cambridge: Cambridge University Press, 1993), 314.
13Cf. Ulrich B. Müller, Die Offenbarung des Johannes, Òkumenischer Taschen-
buch-Kommentar zum Neuen Testament 19 (Gütersloh: Gütersloher Verlagshaus Gerd
Mohn, 1984), 367-368; Grant R. Osborne, Revelation, Baker Exegetical Commentary on
the N ew Testament (Grand Rapids: Baker Book House, 2002), 780-781, declara: “Deus
revelou o livro em sua soberania...”
14Cf. Müller, 167; Ronald L. Farmer,Revelation, Chalice Commentaries for Today
(St. Louis: Chalice Press, 2005), 74; Simon J. Kistemaker, New Testament Commentary:
Exposition o f the Book o f Revelation (Grand Rapids Baker Book House, 2001), 222-224.
15David J. Hawkin, “Globalization, the American Empire, and the Four Horsemen
o f the Apocalypse”, ChurchmanllS/4 (2004):320-321.
134 I Ekkehardt Mueller

com a visão simbólica, o cavaleiro no cavalo branco representa Jesus e a


proclamação do evangelho.16 O próximo selo descrevería os eventos que
seguiram à rejeição do evangelho.
No Apocalipse predomina a compreensão simbólica.17 O contexto
de Apocalipse 6 favorece um a compreensão simbólica. No entanto, outra
visão simbólica sem ser a de que Jesus e o Evangelho são retratados
pelo primeiro cavaleiro seria considerar o primeiro cavaleiro como o
anticristo.18 Essa visão é pouco provável porque (1) o correspondente
cavaleiro no cavalo branco em Apocalipse 19:11-16 é Jesus; (2) em
Apocalipse a cor branca é sempre positiva;19 (3) o arco parece ser o arco
que Deus usa (SI 7:12; 2:04 Lm; 3,12; Efo 3:9; e, especialmente, SI 45:2-
6); (4) no Apocalipse a coroa da vitória é predominantemente positiva (Ap
2; 10; 3; 11; 4:4,10; 12:1; 14:14);20 (5) isto também é válido para o termo
“vencendo”.21 A frase “vencendo e para vencer”, utilizada esta única vez

16Cf. Kistemarker, 224-225. Michael Bachmann, “Noch ein Blick auf den ersten
apokalyptischen Reiter (von Apk 6.1-2)”, New Testament Studies 44 (1998), 278, entende
este cavaleiro como uma hipóstase da epifanía de Deus e intimamente ligado ao Cristo
de Apocalipse 19.
17Isso pode ser indicado em Apocalipse 1:1 pelo termo semaino que aponta a Jesus
“simbolizando” o Apocalipse para João.
18Cf. Allen Kerkeslager, “Apollo, Greco-Roman Prophecy, and the Rider on the
White Horse in Rev 6:2”, Journal o f Biblical Literature 112 (1993), 116-121; Kistemaker,
221; Mathias Rissi, “The Rider on the White Horse”, Interpretation 18 (1964): 407-418.
19George Eldon Ladd, A Commentary on the Revelation of John (Grand Rapids:
Wm B. Eerdmans Publishing Company, 1991), 97-98. John C. Poirier, “The First Ri-
der: A Response to Michael Bachmann”, New Testament Studies 45 (1999): 259 declara:
“Pelo meu cálculo, Bachmann, e outros exegetas desta passagem estão errados ao insistir
sobre o mmo decisivo do valor simbólico da cor do cavalo para a identidade do primeiro
cavaleiro”. No entanto, Stephen Smalley, The Revelation o f John: A Commentary on the
Greek Text o f the Apocalypse (Downers Grove: InterVarsity Press, 2005), 147, sustenta:
“A ideia principal dos cavalos coloridos (vermelho, preto, branco, baio) aparece nova-
mente em Zacarias 6:1-8... Em Zacarias as cores parecem não ter significado especial;
enquanto que, no contexto de Apocalipse 6, refletem o caráter do cavaleiro, e simbolizam
ocasiões específicas”.
20A única exceção são os gafanhotos de Apocalipse 9:7. No entanto, sua vitória é
transitória e não duradoura. Cf. Kistemaker, 225; Bachmann, 257-278.
21Vencendo é atribuído a Jesus (Ap 5:5; 17:14) e relacionado aos fiéis (Ap
2:7,11,17,26; 3:5,12,21; 12:11; 15:2; 21:7). Somente em Apocalipse 11:7 e 13:7 os pode-
res do mal ganham uma vitória preliminar. Cf. Kistemaker, 222.
Missão no Apocalipse | 135

em Apocalipse, adapta-se melhor à vitória de Jesus e aponta para seu


triunfo completo. O cavaleiro do evangelho começou seu ministério no
primeiro século d.C., e a mensagem é proclamada até nos nossos dias.22
Jesus, as Testemunhas. A raiz mart, é importante em Apocalipse.
Vem de dois substantivos: a “testemunha” como uma pessoa (martys) e a
“testemunha” ou “testemunho” como a mensagem proclamada por uma
testemunha (martyria); e de um verbo, isto é, “testemunhar” {martyred).
Martys é encontrado cinco vezes em Apocalipse. Refere-se a Jesus
(Ap 1:5; 3:14), seus seguidores (Ap 2:13; 17:6) e às duas testemunhas
de Apocalipse 11. No NT, Jesus como a testemunha fiel aparece somente
em Apocalipse 3:14. Ele, como verdadeira testemunha, revelou o Pai,
testemunhou da verdade que recebeu dEle e permaneceu fiel até a morte.23
Jesus também garante que a esperança escatológica, expressada no livro
de Apocalipse, é fidedigna.24 É a sua avaliação da igreja em Laodiceia, que
recusou aceitar a verdade e “cujo testemunho foi praticamente inexistente”.25
João (Ap 1:2), o anjo enviado por Jesus (Ap 22:16), e o próprio Jesus
(Ap 22:18,20) são aqueles que testemunham {martyred). Jesus chama a
atenção para a Escritura incluída no livro de Apocalipse. “Eu, a todo aquele
que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se alguém lhes fizer

22Ranko Stefanovic, Revelation o f Jesus Christ: Commentary on the Book o f Rev-


elation (Berrien Springs: Andrews University Press, 2002) 228, escreve: “Com a vinda
do Espírito Santo no Pentecostés, a proclamação do evangelho foi impelida. É então que
Cristo saiu vencendo e para vencer. Essa conquista tem a ver, evidentemente, com ques-
tões espirituais”.
23Cf. G. K. Beale, The Book o f Revelation, The New International Greek Testa-
ment Commentary (Grand Rapids: Wm B. Eerdmans Publishing Company, 1999), 190;
Smalley, 34; and Osborne, 62. Ben Witherington III, Revelation, The New Cambridge
Bible Commentary (Cambridge: Cambridge University Press, 2003), 76, relaciona as di-
ferentes descrições de Jesus em Apocalipse 1:5 e observa: “A estreita associação da teste-
munha fiel e sua ressurreição implica que foi necessária a morte da testemunha”. Gerhard
A. Krodel, Revelation, Augsburg Commentary on the New Testament (Minneapolis: Au-
gsburg Publishing House, 1989), 83, concluí que, por causa do testemunho exemplar de
Jesus, que 0 levou à cruz, os crentes devem ser fiéis de modo firme, e não mudar quando
a oposição surgir, mesmo que tenham que sofrer por sua obediência.
24U. B. Müller, 73.
25Osbome, 204.
136 I Ekkehardt Mueller

qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro;


e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus
tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se
acham escritas neste livro. Aquele que dá testemunho destas coisas diz:
Certamente, venho sem d e m o r a . ( A p 22:18-20).26
O termo martyria é utilizado na maioria das vezes. 27 É também o
termo mais importante dessa raiz no Apocalipse, aparecendo seis vezes
na frase “testemunho de Jesus” (Ap 1:2,9; 11:17; 19:10 duas vezes; 20:4).
Com frequência, aparece ligada a outras expressões, em especial “a palavra
de Deus” (Ap 1:2,9; 20:4). Martyria também tem que ver com profecia. E,
de fato, o texto paralelo a Apocalipse 19:10 substitui a frase “testemunho
de Jesus” por “profetas” (Ap 22:9). Martyria lesou não é tanto o que os
crentes proclamam, mas o que eles têm (Ap 12:17). É a auto revelação
de Cristo através dos profetas. E o seu testemunho, não o testemunho dos
crentes a respeito dele.28
Jesus e a espada de dois gumes que sai de sua boca. O Filho do
homem em Apocalipse 1 é descrito com imagens majestosas. Detinha sete
estrelas em sua mão direita, e da boca saía uma afiada espada de dois
gumes. Jesus é essa pessoa. A espada de dois gumes que sai da boca de

26Miller, 236, afirma que o “Apocalipse faz parte desse testemunho (1:1-3)”.
27E encontrado dez vezes em nove versos (Ap 1:2,9; 6:9; 11:7; 12:11,17; 19:10;
20:4).
28Para uma análise do termo “testemunho de Jesus” ver Gerhard Pfandl, “The
Remnant Church and the Spirit o f Prophecy”, in Symposium on Revelation - Book II,
Daniel & Revelation Committee Series, Volume 7, editado por Frank B. Holbrook (Sil-
ver Spring: Biblical Research Institute General Conference o f Seventh-day Adventists,
1992), 295-333. Ele mostra que o genitivo em “testemunho de Jesus” é um genitivo sub-
jetivo descrevendo a atividade de Jesus em sua auto revelação. Richard Bauckham, The
Climax o f Prophecy: Studies on the Book o f Revelation (Edinburgh: T & T Clark, 1993),
161, apoia essa conclusão. O testemunho de Jesus é o testemunho que Jesus deu de sua
própria experiência. Loren L. Johns, The Lamb Christology o f the Apocalypse o f John:
An Investigation into Its Origins and Rhetorical Force (Tübinben: Mohr Siebeck, 2003),
173, no entanto, sugere que “são formadas figuras mentais tanto do subjetivo como do
objetivo no livro”. É apoiado por Olutola K. Peters, The Mandate o f the Church in the
Apocalypse, Studies in Biblical Literature, Vol. 77 (New York: Peter Lang Publishing,
2005), 83.
Missão no Apocalipse | 137

Jesus é um elemento importante para nossas conclusões (Ap 1:16). Essa


expressão é encontrada novamente em Apocalipse 2:12,16, dentro da
mesma parte do livro: as mensagens às sete igrejas. Além disso, ocorre em
19:15,21.
A descrição do cavaleiro em Apocalipse 19 assemelha-se à descrição
do Filho do homem em Apocalipse lb. São descritos os olhos, a cabeça, o
nome, o vestuário. Ele é chamado “a Palavra de Deus” (Ap 19:13). Isso o
identifica como Jesus, o mesmo que reconhecemos em João 1 :1 3 ‫ ־‬e 1 João
1 :1 3 ‫־‬. Novamente, a espada afiada de dois gumes sai de sua boca.
Os intelectuais corretamente explicam que, no Apocalipse, Jesus
tem um a única arma, que é a espada que sai de sua boca. No entanto, a
espada que sai da sua boca é a Palavra de Deus (Hb 4:12).29 W. Howard-
Brook e A. Gwyther sugerem: “Fica claro através de todo o Apocalipse,
que o poder de Jesus é a espada de sua boca” (1:16, 2:12, 16; 19:15,21). A
Palavra de Deus é realmente poderosa, mas é um poder que (ao contrário
da espada do império) opera sem sangrenta violência” .30 Jesus também é
descrito com um cetro de ferro (Ap 12:5; 19:15). M. Bredin compreende
essa descrição como um paralelo à espada da sua boca.31 Portanto, também
representaria a Palavra de Deus. A Palavra de Deus destruirá os ímpios.32
Um estudo do termo “boca” em Apocalipse revela que a questão é
uma propaganda e contra propaganda sobre as mensagens dos poderes do
mal e a mensagem de Deus. Jesus utiliza a Palavra de Deus, que sai de
sua boca (Ap 1:16; 2:16; 19:15,21). As duas testemunhas de Deus têm
poder na sua boca (Ap 11:15). Seu povo, os 144.000, não tem nenhuma
mentira em sua boca (Ap 14:5). Mas os demoníacos cavalos da sexta
trombeta têm poder em suas bocas e destroem as pessoas. (Ap 9:17-

29Ver IanBoxall, “Violence in the Apocalypse”, Scripture Bulletin 35/2 (2005):78-


79.
30Wes Howard-Brook e Anthony Gwyther, Unveiling Empire: Reading Revelation
Then and Now (Maryknoll: Orbis Books, 1990), 140.
31Mark Bredin, Jesus, Revolutionary o f Peace: A Nonviolent Christology o f the
Book o f Revelation (Carlisle: Paternoster Press, 2003), 208.
32Ver, Ibid.
138 I Ekkehardt Mueller

19) S. S. Smalley afirma: “A referência repetida três vezes à “boca” das


criaturas a partir da qual emergem os espíritos, sugere a “propaganda
persuasiva e enganosa”, que conduzirá os seculares infiéis no final do
tempo, para estarem comprometidos com a causa do mal e isolados da
fonte da verdade” .33 A serpente tem poder em sua boca (Ap 12:15). A
besta do mar tem uma boca como de um leão, blasfemando contra Deus,
Seu tabernáculo e os que habitam no céu. (Ap 13:2,5,6) Os três espíritos
imundos saem da boca da trindade satânica a fim de enganar a humanidade
e reunir os reis da terra para a batalha final do Armagedom. Isso indica
que os eventos finais têm que ver com a missão de Deus e a proclamação
de sua mensagem, que é oposta à mensagem dos poderes do mal. J.
Paulien sugere que “aqueles que recebem a tríplice mensagem angélica
[em Ap 14] unem-se a Deus e ao verdadeiro evangelho. Mas aqueles
que respondem às três rãs se juntarão à B abilônia...” .34 Neste conflito
final Jesus desempenha um papel crucial. Ele tem a espada de sua boca.
A missão de Deus é realizada pelo cavaleiro no cavalo branco, Jesus
e a mensagem do evangelho, e por Jesus, a testemunha fiel e verdadeira.
Sua associação com a Palavra de Deus tom a claro que o confronto final
ocorrerá com perseguição e com mensagens rivais.

O Espírito
O Espírito Santo é introduzido sob o símbolo dos sete espíritos (Ap
1:4).35 Esses sete espíritos são parte da trindade divina (Ap 1:4-5). São
unidos a Jesus (Ap 3:1; 5:6) e a Deus Pai, que se assenta no trono (Ap 4:5).36

33Smalley, 409.
34Jon Paulien, Armageddon at the Door (Hagerstown, MD: Review and Herald
Publishing Association, 2008), 172.
35Ver John Sweet, Revelation, N ew Testament Commentaries (Philadelphia: Trin-
ity Press International, 1990), 65.
36Dan Lioy, The Book o f Revelation in Christological Focus, Studies in Biblical
Literature 58 (New York: Peter Lang Publishing, 2003), 132, comenta Apocalipse 5:6 di-
zendo: “É interessante notar que a plenitude da divindade, presente de forma trinitariana,
é inconfundível em Apocalipse 5”. Aquele que está sentado no trono (vss. 1 ,7 ,1 3 ) refere-
se ao Pai; 0 “Cordeiro”, (vss. 6, 8, 12-13) aponta para 0 Filho, e os “sete espíritos de
Missão no Apocalipse | 139

Eles também são “enviados por toda a terra” em uma missão abrangente
(Ap 5:6). De acordo com João 14:26; 15:26; e 16:7, o Espírito Santo foi
enviado por Pai e Filho para realizar a missão deles. G. R. Osbome afirma:

... aqui esse tema da missão é alargado. É um tema importante


do livro, focalizando o que Bauckham (1993b; 238-239)
chama de “a conversão das nações” . “Todo o mundo” é iludido
por Satanás (12:9), o segue (13:3; 16:14), e está prestes a ir
a julgam ento (3:10). Ao mesmo tempo “o evangelho eterno”
é proclamado “aos habitantes da terra” (14:6-7) ...O Espírito
começa a missão universal de Deus “a toda a terra.. .”3738

O Espírito Santo é encontrado em todo o livro de Apocalipse e é


chamado de Espírito {pneumd)?%Obviamente, o Espírito Santo está
envolvido na comunicação da mensagem do livro de Apocalipse, porque
João está várias vezes “em espírito” (Ap 1:10; 4:2; 17:3; 21:10). Beale
sugere que “em Espírito” significa “no e pelo Espírito” e “é a fórmula da
comissão profética”. 39 Além disso, o Espírito Santo fala aos crentes nas
sete igrejas, porque todas as mensagens de Cristo às sete igrejas finalizam
com uma referência ao Espírito Santo. S. S. Smalley escreve:

O escritor não distingue entre o Cristo exaltado e a obra


do Espírito.... A revelação vem de Deus, através de Jesus
Cristo, e é mediada a João por seu anjo (1.1). Agora a voz
vitoriosa de Cristo é ouvida, enquanto o Espírito fala às
Deus” (vs. 6), ‘que são os chifres e os olhos do Cordeiro’, referem-se ao Espírito Santo”.
37Osbome, 257.
38Embora pneuma pareça referir-se ao Espírito Santo em Apocalipse 1:10;
2:7,11,17,29; 3:6,13,22; 4:2; 14:13; 17:3; 19:10; 21:10; 22:17, designa também os maus
espíritos (Ap 16:13-14; 18:2), seres humanos (Ap 22:6), e vida/sopro (Ap 11:11; 13:15).
Em qualquer caso, o termo é predominantemente empregado para o Espírito Santo.
39Beale, 850. Cf. Osbome, 609-610. Leon Morris, Revelation , Tyndale New Testa-
ment Commentaries, revised edition (Grand Rapids: Wm B. Eerdmans Publishing Com-
pany, 1988), 198, entende “em espírito como um estado de exaltação e receptividade
especial interposto pelo Espírito...”. N o entanto, David Auné, Revelation 1-5, Word Bi-
blical Commentary 52A (Dallas: Word Books, Publisher, 1997), 82-83, opta pelo que
chama um transe de visão e não aceita pneuma como o Espirito Santo. Bauckham, The
Climax ofProphecy, 150-159, rejeita a ídeia de que pneuma refere-se ao espirito humano.
40 ‫ו‬ I Ekkehardt Mueller

igrejas. Ele fala constantemente (tempo presente) às igrejas.


Em primeiro lugar, a palavra é dirigida às sete igrejas da
Ásia, incluindo Efeso. Mas, como Revelação em geral, a
mensagem é de grande alcance. Cristo dirige a Igreja como
um todo e em todos os tempos. No entanto, a referência
coletiva de “igrejas” não exclui a responsabilidade que o
indivíduo tem em responder ao mandamento divino.40

O Espírito Santo também é o Espírito de profecia que fala através de


profetas genuínos (Ap 19:10; 22:9) “trazendo a palavra do Cristo exaltado
a seu povo na terra.. .”.4I Esta mensagem não é orientada somente para o
futuro, mas possui implicações para a vida da humanidade aqui e agora.
O Espírito Santo fala duas vezes.42 Em Apocalipse 14:13 ele confirma
o que disse a voz celestial.43 De acordo com Apocalipse 22:17 o Espírito
Santo, com a noiva do Cordeiro, a igreja,44 pronuncia um convite final à
humanidade para vir e receber gratuitamente a água da vida. Apesar de
alguns entenderem o imperativo “vir” como se referindo à segunda vinda
de Cristo porque Apocalipse 22:6-21 repetidas vezes faz alusão a isso,
o contexto imediato cita o benefício aos sedentos, num chamado aos
descrentes para entregar suas vidas a Cristo e, possivelmente, um convite
aos fiéis a andar mais perto do Senhor, experimentando o cumprimento da
promessa em Apocalipse 21:6.45 “Assim, todo o versículo continuaria o
tema missionário do livro” .46 “A m issão de Deus é realizada pelo Espírito
Santo”.

40Smalley, 63-64; cf. Aune, Revelation 1-5, 151.


41Bauckham, The Climax o f Prophecy, 160.
42Para uma argumentação se este é ou não o Espirito Santo e quem está falando,
ver Osbome, 793.
43Ulrich B. Müller, Die Offenbarung des Johannes, Õkumenischer Taschenbuch-
Kommentar zum Neuen Testament 19 (Gütersloh: Gütersloher Verlagshaus Gerd Mohn,
1984), 268-269, sugere que o discurso do Espirito é o que o Espirito Santo comunica
através do visionário.
44Ver Bauckham, The Climax o f Prophecy, 167.
45Cf. Osbome, 793-794.
46Ibid., 793.
Missão no Apocalipse | 141

A Palavra de Deus
As duas testemunhas. As duas testemunhas são caracterizadas da
seguinte maneira: sua designação como testemunha as tom a participantes
na proclamação da mensagem de Deus e participantes no sofrimento. A
frequente associação do testemunho com a Palavra de Deus cria uma forte
afinidade com a Escritura. O número dois é importante porque, de acordo
com a lei do AT, eram requeridas duas ou três testemunhas para legitimar
um processo judicial no tribunal (Dt 19.T5).47
Elas são duas oliveiras. Seu antecedente no AT, Zacarias 4:1-10,
conecta claramente as duas oliveiras com a obra do Espírito Santo.48
Considerando que o número de candelabros em Apocalipse foi aumentado
de um para dois, as oliveiras de Zacarias, bem como em Apocalipse
permanecem duas. K. A. Strand declarou que por causa dessa continuidade
das oliveiras, seu significado deve permanecer constante em ambos
os livros bíblicos, “referindo-se a obra do Espírito,” isto é, “o papel do
Espírito Santo em fornecer a palavra de Deus, tanto no AT como no NT” .49
São dois candelabros.50 Eruditos argumentam que as duas
testemunhas de Apocalipse 11 devem referir-se à igreja, uma vez que os
sete candelabros são claramente identificados como igrejas.51 Embora as
palavras sejam usadas com o mesmo significado em todo o Apocalipse,
há exceções. Ainda de acordo com Apocalipse 22:5, não haverá mais
necessidade da luz da lâmpada. De acordo com Apocalipse 21:23, Jesus, o
Cordeiro, é a lâmpada. Uma mudança no significado também pode ocorrer
com os castiçais. Em Apocalipse 11 eles são identificados como duas
oliveiras, duas testemunhas e dois profetas. Há uma diferença no que se
47Ver Beale, 581; Morris, 143.
48Ver Beale, 577-578; Morris, 144.
49Kenneth A. Strand, “The Two Olive Trees o f Zechariah 4 and Revelation 11”,
Andrews University Seminary Studies 20 (1982): 260.
50Candelabros são mencionados sete vezes em Apocalipse. Seis dessas ocorrên-
cias são encontradas nas estruturas das cartas de Apocalipse, neste caso, em Apocalipse
1:12,13,20 (duas vezes); 2:1,5. Elas descrevem os sete candelabros de ouro e estão iden-
tificadas com as sete igrejas (1:20). Última ocorrência de candelabro aparece em 11:4.
51Ver G. K. Beale, 574-577.
42 ‫ו‬ I Ekkehardt Mueller

refere à localização. Enquanto que os sete candelabros estão na terra (Ap


2:1), os dois candelabros de Apocalipse 11 estão em pé diante do Senhor,
possivelmente conectados ao santuário celestial.52 Também deve-se ter em
mente que o assunto dos candelabros não é predominante em Apocalipse
11. Os temas mais importantes são o testemunho e a profecia. Mais uma
vez a obra do Espírito Santo é enfatizada. N a verdade, a palavra de Deus é
chamada de lâmpada em Salmo 119:105.
Eles são dois: profetas e profecia. A raiz prophet, centraliza-se na
profecia genuína, no sentido estrito, e sobre o produto desta profecia como
se encontra no livro do Apocalipse e nas Escrituras. As duas testemunhas
são as únicas descritas com as três principais palavras dessa raiz. Profecia
é a característica proeminente das duas testemunhas.
Estão relacionadas ao Senhor. Estar em pé diante do Senhor da terra
(Ap 11:4) pode apontar para sua “origem celestial”.53 Beale afirma:

A natureza jurídica do testemunho é intensificada pela


posição das testemunhas, como o seu testemunho em um
tribunal invisível, ‘em pé diante do Senhor da terra’. ... Esta
proximidade com o Senhor também enfatiza a comissão e
direta inspiração divina das testemunhas. Apesar de viverem
em um mundo de perigo, elas nunca estão longe da presença
do seu Senhor soberano.54

As duas testemunhas compartilham o destino de seu Senhor (Ap


11:8) participando em sua morte.55 Mas depois de três dias e meio, também
compartilham em sua ressurreição e ascensão.
Elas enfrentam dificuldades, inimigos e uma derrota temporária. São
poderosas. Por exemplo, sai fogo da boca dos cavalos demoníacos (Ap
9:17-18). As duas testemunhas estão muito ativas durante os 1260 dias. O
período deve ser entendido de acordo com o princípio dia-ano.

52Ver David E. Aune, Revelation 6-16, Word Biblical Commentary 52 B (Nash-


ville: Thomas Nelson Publishers, 1998), 613.
53Ibid.
54Beale, 576.
53Cf. Aune, Revelation 6-16, 587.
Missão no Apocalipse | 143

K. A. Strand argumentou a favor da compreensão das duas


testemunhas como a mensagem do AT e o testemunho do NT.56 Chegou a
essa conclusão observando (1) que as duas testemunhas “não funcionavam
como duas entidades individuais, mas como uma única entidade, sempre
em unidade e em absoluta união”;57 (2) que “as duas testemunhas
constituem um simbolismo extraído de várias origens proféticas, além da
óbvia alusão a Moisés e Elias, assim como em 11:08 ‘a grande cidade’
também compreende uma mistura de referências simbólicas”; e (3) que
o Apocalipse contém um a teologia extensiva sobre as duas testemunhas.
A missão de Deus é realizada através do ministério das duas
testemunhas, o AT e o NT. “ ... confrontadas com um mundo viciado em
idolatria e maldade (9:20-21), proclamam o único Deus verdadeiro e
seu julgamento vindouro sobre o mal (cf. 14:7), mas o fazem como uma
chamada ao arrependimento” .58
O livro do Apocalipse. A missão de Deus é também realizada por
Ele, ao dar o livro do Apocalipse (1:1-3). A frase “testemunho de Jesus”
ocorre pela primeira vez em Apocalipse 1:2 e parece incluir o Apocalipse.59
De acordo com Apocalipse 1:3, são bem-aventurados aqueles que recebem
a mensagem ao ler ou ouvir. Apocalipse 1:11 contém a clara comissão
dirigida a João, para escrever um livro às sete igrejas. Deus tem importantes

56Kenneth A. Strand, “The Two Witnesses o f Rev 11:3-12”, Andrews University


Seminary Studies 19 (1981): 134.
57Enquanto que em Apocalipse 9:18,20 sai fogo das bocas dos estranhos cavalos
(plural), em Apocalipse 11:5 sai fogo da boca (singular) das duas testemunhas. Apesar de
serem duas testemunhas, elas possuem apenas uma boca. Embora sejam duas, possuem
uma profecia (Ap 11:6) e um testemunho (Ap 11:7). A palavra “cadáver/corpo” é encon-
trada três vezes em 11:3-13. Seu corpo (singular) está na rua da grande cidade (Ap 11:8).
As pessoas veem seu cadáver (singular) por três dias e meio (Ap 11:9), e seus corpos
(plural) não são sepultados (Ap 11:9). Um túmulo (singular) não está disponível para elas
(Ap 11:9). Parece que o singular é utilizado intencionalmente a fim de salientar a unidade
das duas testemunhas. O emprego de singular e plural no mesmo verso pode apontar para
a unidade na dualidade. Esta característica se encaixa melhor à interpretação das duas
testemunhas como Escrituras.
58Bauckham, The Theology o f the Book o f Revelation, 86.
59Ver Hubert Ritt, Offenbarung des Johannes, Die Neue Echter Bibel (Würzburg:
Echter Verlag, 1988), 17; Morris, 47.
144 I Ekkehardt Mueller

mensagens para compartilhar com seus filhos, através de Jesus e deste


documento escrito. Este processo lembra-nos da vocação dos profetas do
Antigo Testamento e da autoridade profética, que também está associada
com o A pocalipse.60 Em Apocalipse 1:19 “a instrução para escrever é
específica e recapitulada a partir do versículo 11 ” .61 João “está descrevendo
a atividade salvadora de Deus através de seu Cristo exaltado, na Igreja e
no mundo. Isso é relevante para hoje, e para todos os dias que virão” .62 Ele
não oferece esperança barata, mas relaciona a mensagem de que “Deus em
Cristo, é uma resposta positiva á vida” .63

Anjos de Deus
Deus emprega seus anjos para fazer progredir sua missão. Em
Apocalipse, o termo “anjo” ocorre 67 vezes, apontando para seu
importante papel. No entanto, existem outros seres que, obviamente, são
seres angélicos, mas que não são designados como anjos em Apocalipse.
Os quatro seres viventes, encontrados pela primeira vez em Apocalipse
4 são, obviamente, querubins. Seus antecedentes no AT são os querubins
de Ezequiel 1 e 10 e os serafins de Isaías 6. Os anjos que aparecem em
Apocalipse podem ser divididos em quatro grupos:
Os anjos de Deus (Ap 1:1; 3:5; 5:2,11; 7:2,11; etc.). Retratados
claramente como seus mensageiros (e. g., Ap 14:10).
Anjos específicos representam a Cristo no Apocalipse (Ap 8 :3 5 ‫;־‬
10:1,5,8-10). O anjo em Apocalipse 8:3-5 parece ser um tipo de mediador,
oferecendo as orações dos santos. Esse fato pode apontar a Jesus como o
Anjo (Rm 8:34; 1Jo 2: l).64 É bem possível que João refira-se ao AT, onde o
60Ver Beale, 203-204.
61Smalley, 57.
62Smalley, 57. Para uma exposição mais detalhada sobre “as coisas que viste, e as
que são, e as que hão de acontecer depois destas” ver Osbome, 97; and Beale, 216; Auné,
Revelation 1-5 , 105-106.
63Witherington, 83.
64Cf. Beale, 454, Jacques B. Doukhan, Secrets o f Revelation: The Apocalypse
Through Hebrew Eyes (Hagerstown: Review and Herald Publishing Association, 2002),
80, and Francis D. Nichol, (ed.), The Seventh-day Adventist Bible Commentary, 7 vol-
_____________________________________________________________ Missão no Apocalipse | 145

Anjo do Senhor é uma pessoa divina (cf. Êx 3:2-4). Possivelmente, o anjo


forte de Apocalipse 10 também seja Jesus. Ele está envolvido em nuvem.
Um arco-íris envolve a sua cabeça. Seu rosto brilha como o sol, e seus
pés parecem colunas de fogo. As duas últimas características nos lembram
Jesus em Apocalipse lb. A nuvem foi mencionada em Apocalipse 1:7 em
conexão com Jesus, enquanto que o arco-íris em Apocalipse 4:3 está ligado
ao trono de Deus. Além disso, o anjo assemelha-se ao ser celestial de Daniel
10-12. Beale afirma que 0 anjo tem atributos divinos e, portanto, é Cristo
ou 0 Anjo do Senhor,65 que novamente seria Jesus.66 Outros estudiosos
admitem a semelhança com Apocalipse lb, mas evitam identificar o anjo
como sendo Jesus.67
Um certo número de anjos são anjos de Satanás, portanto, anjos
maus (Ap 9:11; 12:9).
Anjos podem representar seres humanos (Ap 1:20; 2:1,8,12,18;
3:1,7,14; 14:6,8,9). R. Stefanovic escreve sobre os anjos das sete igrejas:
“Em Malaquias, os sacerdotes e mensageiros do povo de Deus são
referidos como anjos (Ml 2:7; 3:1), uma ideia que também aparece no
Novo Testamento (cf. M t 11:10). Aqui, o contexto sugere que os anjos
representam os líderes das igrejas” .68 É apoiado por S. J. Kistemaker e
outros.69 No entanto, também os anjos do Apocalipse 14:6,8,9 devem ser
entendidos como representantes de seres humanos.70
umes (Washington: Review and Herald Publishing Association, 1957), 7:787.
65Beale, 522: “Se ele é um anjo, é um anjo extraordinário, porque é descrito de
forma majestosa, como nenhum outro anjo no livro. Recebe atributos que são dados so-
mente a Deus no AT ou a Deus ou Cristo no Apocalipse. Por isso esse ser celestial é o
próprio Cristo ou o divino anjo de Yahweh”. Beale discursa extensivamente sobre 0 anjo
nas páginas 522-526. Cf. Doukhan, 91; and Nichol, 7:797.
66Cf. Beale, 525.
67So Kistemaker, 308-309; Robert H. Mounce, The Book o f Revelation, revised
edition, N ew International Commentary on the N ew Testament (Grand Rapids: Wm B.
Eerdmans Publishing Company, 1998), 201-202; and Osborn, 393. Mounce admite: “As
frases que o descrevem são utilizadas em outros lugares referindo-se à divindade” (201).
68Stefanovic, 97.
69Kistemaker, 102-103; similar Isbon T. Beckwith, The Apocalypse o f John, re-
print (Grand Rapids: Baker Book House, 1967), 440.
70Cf. Stefanovic, 440; Nichol, 7:827.
146 I Ekkehardt Mueller

Em Apocalipse, a maioria dos anjos celestiais está envolvida em


adoração e relacionam-se com a terra e a humanidade. Eles “mediam a
revelação e interpretam visões (1:1; 10:1-10; 14:6-11; 17:1, 7-18)”. Mas
também são “agentes de Deus para executar julgamento salvífico divino
(7.1-3; 8.2-3; 9.1, 13; 11.15; 12.7-12; 14.15-20: 15.1, 6-7; 18.1-2; 19.17-
18; 20.1-3)” .71 O aparecimento dos anjos em Apocalipse pode ser dividido
naqueles aos quais os anjos falam (e.g., Ap 7:2-3) e aqueles nos quais os
anjos agem (e.g., Ap 7:1). Em outras palavras, os anjos estão envolvidos
em realizar o plano salvífico de Deus.

Sumário

O livro de Apocalipse é um livro sobre a missão de Deus. Nessa


missão estão envolvidos Deus Pai, Jesus Cristo, o Espírito Santo, as
Escrituras como Palavra de Deus e os anjos de Deus. Esta missão é muito
importante e está definida no contexto temático da grande controvérsia.
Ao passo que os seres humanos são chamados a arrepender-se enquanto
a vida lhes é oferecida, a missão lida também com o caráter de Deus, Seu
governo, e a consumação de todas as coisas.

A missão da Sua Igreja

Tendo em vista o direto envolvimento de Deus na missão, vamos ver


agora a missão de seus representantes humanos.
Testem unho. No livro de Apocalipse martus (testemunha) refere-se
a Jesus e seus seguidores (Ap 2:13; 17:6). “O testemunho de Jesus é Sua
experiência pessoal de vida, morte, ressurreição e exaltação.... A missão
dos fiéis é compartilhar o testemunho de Jesus (6:9; 12:17; 19:10). Jesus é a
testemunha por excelência (1:5; 3:14) e os outros apenas o imitam em seu

71Smalley, 29.
_______________________________________________ Missão no Apocalipse | 147

testemunho”.72 Jesus é o modelo, e fornece o padrão para a igreja.73


N a igreja de Pérgamo alguns membros passaram a seguir ensinos
heréticos e um cristão chamado Antipas tomou-se membro. Morreu como
mártir. Ele e muitos outros são enaltecidos por sua pública profissão de fé em
Jesus. Jesus o chama “minha fiel testemunha” . De acordo com Apocalipse
1:5 o próprio Jesus é “a fiel testemunha” . O termo “testemunha” (martys)
aponta para a proclamação, mas começa a assumir a ideia adicional de
martírio.74 Antipas foi missionário, uma verdadeira testemunha e morreu
pelo que acreditava, ou melhor, morreu por aquele em quem acreditava.
Antipas está sendo honrado por ser considerado como Jesus, seu mestre.
Mas ele não está sozinho. Em Apocalipse 17:6 a grande prostituta Babilônia
é retratada como estando “embriagada com 0 sangue dos santos, e com o
sangue das testemunhas de Jesus”.
No Apocalipse, além de serem chamados de “testemunhas”, os fiéis
seguidores de Jesus possuem o testemunho de Jesus (martyria lesou).
Estão incluídos o apóstolo João (Ap 1:9), os mártires (Ap 6:9;75 20:4), o
remanescente (Ap 12:17), e os irmãos (Ap 19:10), ou seja, os profetas (Ap
22:9).
De acordo com Apocalipse 12:11 os crentes venceram o dragão “pelo
sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram e,
mesmo em face da morte não amaram a própria vida” . M. Bredin aponta:
“O dragão obtém a vitória através da matança ao passo que Deus a obtém
através da morte de suas testemunhas e de seu testemunho (12:l l ) ” .76
Este texto, mais do que aqueles que citam o testemunho de Jesus, enfatiza

72Johnson Puthussery, Day o f Man and G od’s Day: An Exegetico-Theological


Study o f hemera in the Book o f Revelation, Tesi Gregoriana, Serie Teologia 82 (Rome :
Editrice Pontificia Università Gregoriana, 2002), 51.
73Cf. Peters, 11.
74Cf. Morris, 66.
75Morris, 106, nota “João provavelmente está se referindo ao testemunho que Cris-
to deu a eles (cf. Jo. 3:32) e não ao testemunho que eles lhe deram...”.
76Mark Bredin, “Ecological Crisis and Plagues (Revelation 11:6)”, Biblical Theo-
logical Bulletin, 39/1 (2009): 35.
48 ‫ו‬ I Ekkehardt Mueller

“os cristãos testemunhando a outros sobre o Senhor”.77 Testemunhar não


é apenas “uma aceitação passiva do sofrimento”,78 mas a resistência não
violenta ao mal e a defesa da verdade.79 Além disso, testemunhar é viver
um a vida de obediência, um a vida sem mudar de opinião em prol dos
outros.80 O medo da morte foi superado por eles e estavam dispostos a
dar suas vidas para Jesus, mas não é necessário “assumir que somente o
martírio cristão está em vista” .81 G. R. Osbome nota:

O ‘testemunho’ dos crentes é em primeiro lugar um estilo de


vida de fidelidade a Cristo e, em segundo lugar, um testemunho
verbal durante o período de seu sofrimento. É claro que a
Igreja neste período final de terrível perseguição não vai se
esconder para evitar a ira da besta, mas mantém o seu esforço
evangelístico até o fim.82

J. V. M iller retoma ao problema do sofrimento e martírio, e conclui:


“Porque a morte não é o fim, a proclamação do exclusivo meio de salvação
divina é mais importante que a vida individual. Os mártires não têm nada
a perder, enquanto que o ouvinte tem tudo a ganhar” .83
R. Bauckham resume:

A participação cristã no propósito de Deus ao estabelecer


seu reino é retratada em Apocalipse como uma questão de
testemunho, primeiramente verbal, mas confirmado pela vida.

77Beale, 664. Bauckham, The Theology o f the Book o f Revelation, 92, afirma: “...
A mensagem de João não é: ‘Não resista!’, e sim ‘Resista!, mas pelo testemunho e mar-
tirio, não pela violência”.
78Adela Yarbro Collins, “The Political Perspective o f the Revelation to John”,
Journal o f Biblical Literature 96 (1977): 247.
79Johns, 173-174.
80Ver Pattemore, 115; Peters, 84, 86.
81Smalley, 328. Miller, 235, apoia essa ideia ao dizer: “Algumas testemunhas são
protegidas durante sua missão, ao passo que outras morrem por sua ousadia (6:9-12;
14:1-5)”
82Osbome, 476.
83Miller, 235.
Missão no Apocalipse | 149

A forma fundamental do testemunho cristão ... é a consistente


lealdade ao reino de Deus.84

Sacerdotes. Em Apocalipse encontram-se três textos que chamam


os cristãos de “ sacerdotes” : Apocalipse 1:6; 5:10 e 20:6. Ao passo que os
dois primeiros textos descrevem a realeza e o sacerdócio dos santos como
uma realidade presente,85 Apocalipse 20 aplica reinado e sacerdócio para
0 futuro.
Apocalipse 1:6 é parte da introdução ao Apocalipse e contém a
mensagem do livro em poucas palavras. Os versos 4-5 introduzem a divina
trindade. Jesus vem por último, porque os próximos versos estão focados
nele. Descrevem-no como “a Fiel Testemunha, o Primogênito dos mortos
e 0 Soberano dos reis da terra” e declaram 0 que Ele faz e fez: (1) Ele
nos ama (Ap 1:5); (2) nos libertou dos nossos pecados pelo Seu sangue
(Ap 1:5); (3) nos constituiu reino e sacerdotes (Ap 1:6). Salvação e reino
de sacerdotes são eventos que estão no passado, mas são uma realidade
presente.86 Obviamente, eles são dependentes da cruz. A declaração sobre
o reino de sacerdotes é baseada em Êxodo 19:6 e nos faz pensar em 1
Pedro 2:9. A linguagem descreve as partes de um a função.87 O termo
“reino” deve ser encarado em sentido ativo, ou seja, como “reinante”.88
Mas como se pode compreender o papel sacerdotal e real dos seguidores
de Cristo? Beale observa:

84Bauckham, The Theology o f the Book o f Revelation, 163.


85Cf. Bulley, 43.
86São utilizados indicativos aoristos. Cf. G. K. Beale, The Book o f Revelation,
The New International Greek Testament Commentary (Grand Rapids: Wm B. Eerdmans
Publishing Company, 1999), 194.
87O termo epoiesen é utilizado nesse sentido em Marcos 3:14-19 e Atos 2:36. Cf.
Beale, 194.
88Cf. Osbome, 65. Beale, 195, menciona que, na maioria das vezes, o Apocalipse
utiliza o termo “reino” de forma ativa. Além disso, Apocalipse 20:6 nâo contém o termo
“reino” ( basileia ) mas utiliza o verbo basileo, apontando, assim, para o sentido ativo de
basileia. Ver também Apocalipse 5:10 que contém tanto o substantivo quanto o verbo.
1 50 ‫ ו‬Ekkehardt Mueller

Como a Igreja exerce essas funções ainda não está explícito,


mas não será surpresa descobrir que a resposta está na
compreensão de como o próprio Cristo atua nessas duas
funções.... Os crentes cumprem, espiritualmente, as mesmas
funções neste século, seguindo o seu modelo, principalmente
por serem fiéis testemunhas mediando o sacerdócio de Cristo e
a autoridade real ao m undo... .89

Osbome fala sobre “a ideia de missão” e sobre o serviço a Deus


(Ap 7:15).90 Os aspectos sacerdotais também incluem o “acesso direto a
Deus”. Por outro lado, o sacerdócio dos cristãos não envolve a oferta real
de sacrifícios representando a comunidade dos crentes ou quaisquer outros
especialistas religiosos.91
De acordo com Apocalipse 5:10, “os santos são corporativamente,
um ‘reino’ e individualmente ‘sacerdotes.’ Como sacerdotes servem a Ele
[Deus] em adoração e testemunho”.
Apóstolos e profetas. Deus enviou (apostello) seu anjo (Ap 1:1; 22:6)
e o Espírito Santo (Ap 5:6), mas também utiliza apóstolos (apostoloi) , i.e.,
aqueles que ele enviou, e os profetas (propheíai) que estão envolvidos em sua
missão (Ap 18:20).
Os profetas também são mencionados em Apocalipse 10:7; 11:10,18;
16:6; 18:20,24; e 22:6,9. Aprofecia, de igual forma, está ligada ao testemunho
(Ap 19:10). O remanescente que tem o testemunho de Jesus (Ap 12:17),
possui o “espírito da profecia”, o Espírito Santo que fala por meio do dom de
profecia.92 E João, como representante da igreja verdadeira na terra no tempo

89Beale, 193. Na página 194 afirma a igreja não é somente comparada a Israel, mas
o texto também “transmite a ideia tácita de que a igreja agora funciona como 0 verdadeiro
Israel, enquanto incrédulos israelitas étnicos, que afirmam serem os verdadeiros ‘judeus e
não são, sendo antes sinagoga de Satanás’ (2:9), são ‘mentirosos’ (3: 9).
90Osbome, 66.
91Cf. Aune, Revelation 1-5, 49.
92David E. Aune, Revelation 17-22, Word Biblical Commentary 52c (Nashville:
Thomas Nelson Publishers, 1998), 1039, conclui: “visto que a profecia verdadeira teste-
munha de Jesus, qualquer testemunho de Jesus pode ser identificado como profecia. As-
sim, a profecia não está limitada aos que são designados ‘profetas’ num sentido especial”.
Este argumento pode ir longe demais e parece basear-se numa interpretação do genitivo
em “o testemunho de Jesus” como um genitivo objetivo.
Missão no Apocalipse | 151

do fim é chamado para “profetizar novamente a respeito de93 muitos povos,


nações, línguas e reis” (Ap 10:11) como as duas testemunhas de Apocalipse
11 profetizaram durante o período de 1260 dias proféticos (Ap 11:3).94
Por que sugerimos que em Apocalipse 10:11 o apóstolo João atua
como representante da igreja e que profetizar seria entendido no sentido
de proclamar a mensagem de Deus? A estrutura de tempo deve ser mantida
em mente. A experiência de João registrada em Apocalipse 10 (comer o
livrinho e a nova comissão para profetizar sobre muitos povos, nações,
línguas e reis), faz parte da sexta trombeta, que precede o estabelecimento
do reino de Deus na terra, no âmbito das sete trombetas. Em outras
palavras, Apocalipse 10 descreve os acontecimentos relacionados aos
eventos finais da história da Terra, que não aconteceram no primeiro
século, em que vivia João, mas muito mais tarde. Descrevem a experiência
da igreja. Apocalipse 14 é um relato paralelo, encontrado em outra visão do
Apocalipse. Como em Apocalipse 10:11 a Igreja é chamada a proclamar
a mensagem de Deus “a muitos povos, nações e línguas e reis”, e em
Apocalipse 14:6 a mensagem do primeiro anjo é dirigida “a toda nação,

93Alguns tomam o termo epi no sentido negativo: “contra”. Também Auné, Reve-
lation 6-16, 574; Beale, 554; Kistemaker, 31, embora a maioria das traduções prefiram o
neutro “sobre”.
94Araiz do grupo de plavraspropheteia/propheteuo / prophetos é encontrada duas
vezes em Apocalipse 10 e três vezes em Apocalipse 11a. Em profecia, ver por exemplo,
Gerhard A. Krodel, Revelation, Augsburg Commentary on the New Testament (Minnea-
polis: Augsburg Publishing House, 1989), 212; S. Minear, I Saw a New Earth: An Intro-
Auction to the Visions o f the Apocalypse (Washington: Corpus Books, 1968), 96; Pierre
Prigent, L Apocalypse de Saint Jean, 2d rev. ed., Commentaire du Nouveau Testament,
2d series, vol. 14 (Paris: Delachaux & Niestlé, 1981), 149-150. Jürgen Roloff, The Re-
velation o f John: A Continental Commentary (Minneapolis: Fortress Press, 1993), 122,
sustenta: “A chave para o foco temático desta seção está em observar as alusões aos
profetas e às falas proféticas que passam por ele como um fio escarlate (10:7, 11; 11:3,
11; cf. também 11:18)”. De modo semelhante, Kenneth A. Strand, “The ‘Spotlight-On-
Last-Events’ Sections in the Book o f Revelation,” Andrews University Seminary Studies
27 (1989): 208-209, vê 0 interlúdio como duplo. Na p. 208, declara: “O tema da pro-
clamação profética básica e central do capítulo 10 continua, com figuras diferentes, no
capítulo 11, isto é, as imagens de uma definição do templo. Aquí encontramos... urna cena
da medição do tem plo... seguida da perícope sobre as duas testemunhas proféticas (w .
3-13), introduzidas em termos das imagens do templo das duas oliveiras que são também
os dois castiçais (w . 3-4)”.
152 I Ekkehardt Mueller

tribo, língua e povo”. Além disso, o caráter universal95 da comissão tom a


impossível a conclusão da tarefa por apenas um indivíduo. A igreja é
chamada a dirigir-se às nações, avisá-las sobre o julgamento, e apelar ao
arrependimento.
Alguns emditos identificam que a experiência de João descreve a
experiência da igreja. G. R. Osbome fala sobre “o ministério profético
de João e a igreja” e acrescenta: “Através de João a igreja é chamada ao
mesmo ministério, de pregar arrependimento e julgamento a uma geração
que virou as costas para Deus”.96 Ao falar sobre a experiência agridoce
U. B. Müller cita a preservação da igreja cristã e seus sofrimentos.97 E
ao examinar as sete igrejas, Bauckham afirma que “as igrejas [têm] que
cumprir o seu ministério profético para o mundo, um papel indispensável
na vinda do reino de Deus, e a função do Apocalipse é chamá-los” .98
Castiçais. As sete igrejas de Apocalipse 1-3 são comparadas a
sete castiçais de ouro (Ap 1:20). A imagem dos castiçais pode sugerir
que as igrejas devem ser vistas como portadoras de luz ou portadoras do
testemunho.99 O. K. Peters, seguindo G. K. Beale pensa ser provável “que
o testemunho das sete igrejas é o tema predominante das sete cartas” .100
Assim ele resume Beale:

A perda do ‘primeiro am or’ na igreja de Éfeso ‘era equivalente


a ser uma testemunha sem entusiasm o.... Esm im a e Pérgamo
são elogiadas por causa do sofrimento provocado pelo
testemunho aberto à sua fé em Cristo. No caso da igreja
em Tiatira, as ‘obras’ pelas quais é elogiada não são apenas
obras gerais de ‘serviço cristão’, mas ‘obras de testemunho

95Aune, Revelation 6-16, 574.


96Osbome, 405-406.
97U. B. Müller, 203. Ver também, Nichol, 7:799.
98Bauckham, The Theology o f the Book o f Revelation, 121.
99Ver Peters, 112-113.
100Peters, 113. Ver Robert L. Thomas, Revelation 1-7: An Exegetical Commentary
(Chicago, Moody Press, 1992), 277-278 e Beale, 289. Na página 227 Beale sugere que
“todas as cartas lidam com a questão do testemunho por Cristo em meio a uma cultura
pagã”
Missão no Apocalipse | 153

perseverante ao m undo’. Quanto a alguns dos cristãos que


foram criticados severamente em Sardes, o problema com
eles foi a sua incapacidade para testemunhar sua fé diante da
cultura incrédula.... No que se refere à igreja de Filadélfia, o
elogio por ‘não negar o nome de Cristo’ é uma indicação de
testemunho perseverante. E no caso da igreja de Laodicéia,
críticas são levantadas devido ao ‘testemunho inócuo’ da
igreja, um testemunho que era inexistente ou comprometido
por causa da participação na idolatria da cultura laodiceana.101

A p o rta ab erta. De acordo com Apocalipse 3:8, Jesus abre uma porta
para a igreja de Filadélfia. Uma porta aberta cria oportunidades. A porta
foi aberta e permanece aberta. Essa porta tem sido compreendida como
uma porta para a salvação (Mt 7:13-14) e/ou uma porta para o serviço
que significa a proclamação do Evangelho.102 A frase é utilizada em Atos
14:27; 1 Corintios 16:9; 2 Corintios 2:12; Colossenses 4:3 no sentido de
ministério e serviço.103 Se João tinha esse vocabulário em mente, a porta
aberta possui claras conotações missionárias. S. J. Kistemaker escreve:
“Onde quer que ele abra as portas para seus trabalhadores, abençoa o
seu trabalho em apresentar o evangelho...” .104 Esta interpretação não é
apoiada apenas pelo uso de “porta” nos escritos paulinos, mas também
pela proximidade da porta aberta a “obras” que aparecem no início do
mesmo versículo (Ap 3:8).
Por outro lado, o tema da salvação parece estar no verso 11. D.
E. Aune prefere a ideia de “acesso garantido à salvação escatológica”,
porque, de acordo com sua compreensão, “a atividade missionária não é
mencionada em outro lugar no Apocalipse”.105 O. K. Peters afirma que a
“mesma metáfora é utilizada em Apocalipse 4:1 significando a concessão

101Peters, 114.
102Para mais detalhes, ver Osbome, 188-189.
103Cf. John R. W. Stott, What Christ Thinks o f the Church: An Exposition o f Rev-
elation 1-3 (Grand Rapids: Baker Book House, 2003), 99-100.
104Kistemaker, 159; cf., Hemer, 162.
105Aune, Revelation 1-5, 236.
54 ‫ו‬ I Ekkehardt Mueller

de acesso, possibilidade e oportunidade para perceber visões” 106 e conclui


que a metáfora da porta aberta não aponta para a atividade missionária.
Entretanto, em Apocalipse 4 :1 a porta é classificada como uma porta no
céu e, assim, distingue-se da porta aberta para a igreja de Filadélfia
G. K. Beale parece combinar os dois conceitos, sugerindo que
“a ‘porta aberta refere-se não somente à salvação da igreja, mas ao seu
testemunho para essa salvação” .107 D. E. Hemer também considera as duas
alternativas como não mutuamente exclusivas e entende a porta aberta como
apontando para a garantia e fornecendo “um estímulo ao evangelismo”.108
O remanescente e sua mensagem. O remanescente é destaque
no centro do livro. Aparece em Apocalipse 12:17. O dragão declara
guerra contra os remanescentes da semente da mulher através da besta
do mar. Neste caso, os remanescentes são chamados de santos. Ele
declara guerra contra eles através da besta que sai da terra. Os santos são
aqueles que não adoram a besta ou sua imagem e não aceitam a marca
da besta. Eles também são chamados os 144.OOO.109 Em A pocalipsel3,
prestamos mais atenção no fato de serem atacados do que serem ativos
no ministério. A questão é: eles estão envolvidos na missão de Deus?
Em Apocalipse 12-14 são mencionadas várias características do
remanescente. Eles guardam os mandamentos (Ap 12:17; 14:12), têm o
testemunho de Jesus (Ap 12:17), paciência (Ap 13:10; 14:12)efé(A p 13:10;
14:12). Além disso, pertencem a Deus e a Jesus (Ap 14:1,3-4), não estão
envolvidos com falsa adoração (Ap 14:4), e são virgens, simbolicamente
(Ap 14:4). Seguem o cordeiro (Ap 14:4) e são verdadeiros e sem culpa,
como os animais sacrificais (Ap 14:5). Eles têm o testemunho de Jesus,
mas isso não significa que proclamem a Jesus. De qualquer maneira, eles
aparecem ligados à últim a mensagem de Deus à humanidade, a tríplice
106Peters, 116.
107Beale, 287.
108Colin J. Hemer, The Letters to the Seven Churches o f Asia in Their Local Setting
(Grand Rapids: Wm B. Eerdmans Publishing Company, 2001), 162.
109Para mais detalhes, ver Ekkehardt Mueller, “The End Time Remnant in Revela-
tion”, Journal o f the Adventist Theological Society, 11/1-2 (2000): 188-204.
Missão no Apocalipse | 155

mensagem angélica. O problema é que, de acordo com Apocalipse 14:6-


12, três anjos estão proclamando essa mensagem final e universal. Quem
são os anjos?
A maioria dos comentaristas nem sequer se preocupou em discutir
sobre esta questão, se seres celestiais ou terrenos estão compartilhando
última mensagem de Deus aos que habitam na terra, a “cada nação,
povo, tribo e língua”, em outras palavras, aos que não pertencem ao
povo de Deus, a fim de chamá-los ao arrependimento, oferecer-lhes
a salvação, e desafiá-los a deixar a Babilônia do fim dos tempos (Ap
18:4). Nós já mostramos acima que os anjos podem representar seres
humanos, o que parece relacionar-se aos anjos de Apocalipse 14:6, 8, 9.110
Alguns eruditos parecem caminhar nessa direção. E. Schüssler
Fiorenza observa que a prim eira mensagem angélica utiliza “expressões
de pregação missionária dos cristãos primitivos (cf. 1 Ts 1:9f e At 14:15ff;
17:24ff). De acordo com o Apocalipse sinótico, o Evangelho deve ser
pregado a todas as nações antes que chegue o fim (Mc 13:10; M t 24:14).
Essa expectativa é compartilhada pelo livro do Apocalipse”.111 G. B. Caird
liga a proclamação do evangelho eterno de João ao que chama de “o grande
tormento”,112 que certamente não se aplica aos seres celestiais.
Η. K. LaRondelle vê uma conexão tipológica entre a mensagem de
Elias, mencionada em Malaquias 4:5 e a proclamação da tríplice mensagem
angélica. Para ele, Apocalipse 14:6-12 é

110Nichol, 7:827, fala sobre uma visão simbólica. Charles H. Talbert, The Apo-
calypse: A reading o f the Revelation o f John (Louisville: Westminster John Knox Press,
1994), 62-64, separa um espaço para desenvolver uma pequena e incompleta angeologia
de Apocalipse. Ele chama os anjos em Apocalipse 14 de sete agentes de julgamento.
No entanto, os anjos envolvidos nas três mensagens de Apocalipse 14:7-12 não procla-
mam julgamento somente. Eles também parecem chamar a humanidade para retomar
para Deus.
111Elisabeth Schüssler Fiorenza, Revelation: Vision o f a Just World, Proclamation
Commentaries (Minneapolis: Fortress Press, 1991), 89.
112G. B. Caird, The Revelation o f St. John the Divine , Harper’s N ew Testament
Commentaries (Peabody: Hendrickson Publishers, 1987), 182.
56 ‫ו‬ I Ekkehardt Mueller

O convite final... Traz consigo a hora da decisão, assim como


Elias e João Batista levaram o apóstata Israel para um novo
com prom isso... A voz de Elias é cada vez mais necessária em
nossa civilização decadente. Reverberará por toda a sociedade,
expressa em um movimento mundial de cristãos observadores
do sábado.113

C. M. Maxwell sustenta que o anjo voando pelo meio do céu é “um


símbolo de um grupo de pessoas na terra” ."4 A. Rodriguez é ainda mais
direto ao afirmar que Deus confiou a proclamação da tríplice mensagem
angélica à Igreja Adventista.115 C. S. Keener afirma:

O ‘evangelho eterno’, proclamado pelo anjo a todos os povos


(14:6), não implica em um anjo literalmente espalhando o
evangelho salvífico a todas as nações antes do fim. Essa obra é
da igreja (Mt 24:14; Ap 6 :9 1 1 ‫) ־‬. Como os anjos em Apocalipse
muitas vezes correspondem a realidades terrenas (12:5-7), o
voo do anjo pode corresponder à propagação do evangelho
através dos mártires.116

Resumindo, podemos dizer: A tríplice mensagem angélica de


Apocalipse 14:6-12 é definida no contexto do conflito entre o dragão e o
remanescente. As mensagens estão diretamente cercadas por referências
ao remanescente em Apocalipse 14:1-5 e Apocalipse 14:12. Portanto, as
mensagens devem relacionar-se com eles. Os remanescentes as aceitaram,
e as apregoam.

113Hans K. LaRondelle, How to Understand the End-time Prophecies o f the Bible


(Sarasota: First Impressions, 1997), 361. Pierre Prigent, Commentary on the Apocalypse
o f St. John (Tübingen: Mohr Siebeck, 2004), 438, salienta que a interpretação de Elias já
era encontrada em Vitorino, que compreende o anjo evangelista como Elias.
4‫ ״‬C. Mervyn Maxwell, God Cares, Vol. 2: The Message o f Revelation For You
and Your Family (Boise: Pacific Press Publishing Association, 1985), 351. Cf. Stefanovic,
440.
115Ángel Manuel Rodriguez, Future Glory: The 8 Greatest End-Time Prophecies
in the Bible (Hagerstown: Review and Herald Publishing Association, 2002), 129.
116Craig S. Keener, Revelation: The NIVApplication Commentary (Grand Rapids:
Zondervan, 2000), 372.
Missão no Apocalipse | 157

Estruturalmente, as mensagens ocupam o mesmo lugar que a


nova comissão de João em Apocalipse 10:11, ou seja, pouco antes do
estabelecimento do reino de Deus e do julgamento em relação com a
Segunda Vinda, que separa o trigo das uvas. Assim como João, com a sua
mensagem em Apocalipse 10:7 representa a igreja no final do tempo, os
anjos em Apocalipse 14 são mensageiros terrestres com um a mensagem
divina final para a humanidade.
Assim , na iniciativa missionária de Deus, estão envolvidos:
testemunhas humanas, sacerdotes, profetas e apóstolos, a igreja retratada
como castiçais, a igreja que tem uma porta aberta, e o remanescente final.

Missão e mensagem

Depois de tratar com os agentes da missão, nos voltamos para


a mensagem e seu conteúdo. Sem conteúdo não há missão. Portanto, a
mensagem e a missão devem caminhar sempre juntas.

Falsos mestres e profetas


O livro de Apocalipse não nos conta apenas a divina mensagem
final e seu chamado. Está repleto de referências a falsas mensagens, isto é,
heresias enganosas e coercivas.
Já em Apocalipse 2:6 e 15, nas cartas às igrejas em Éfeso e Pérgamo,
encontramos os nicolaítas. Não sabemos ao certo quem foram os nicolaítas
e o que ensinavam. De qualquer forma, Jesus e os membros da igreja
odiavam as obras dos nicolaítas. Ireneu ensinava que eram seguidores
de Nicolas, um converso ao judaísmo e um dos sete eleitos em Atos 6.
Também é possível que fossem um tipo de seita proto gnóstica. Em suas
cartas, João combateu os falsos mestres que promulgavam heresia. Fica
claro que, no final do primeiro século, os falsos mestres circundavam
as igrejas. Os nicolaítas de Apocalipse 2:15 podem ser vistos como um
58 ‫ן‬ I Ekkehardt Mueller

paralelo aos seguidores de Balaão (Ap 2 :14-15).117 Se isso for verdade, eles
seriam libertários e antinomianos e podem não estar muito preocupados
com a teologia. Viveram em oposição às Escrituras, porque cederam às
pressões da sociedade, especialmente o culto do imperador. Eles também
poderiam ser os falsos apóstolos mencionados no versículo 2. Deve-se
evitar um forte contraste entre os ensinamentos e estilo de vida quando
se fala dos nicolaítas, porque normalmente os dois caminham juntos.
Os ensinamentos de Balaão e Jezabel seguem o exemplo. Os membros
da igreja em Pérgamo são lembrados da história de Balaão (Nm 22-25)
que, depois de ter sido impedido de amaldiçoar Israel, finalmente, deu o
conselho diabólico de como vencer o povo de Deus (Nm 31:16). Uma
situação semelhante surgiu na igreja de Pérgamo (Ap 2:14). O concilio de
Jerusalém decidiu que os cristãos deveríam abster-se de coisas sacrificadas
aos ídolos e da imoralidade sexual (At 15:20). Mas a igreja em Pérgamo
se envolveu nessas práticas e expôs-se ao perigo. A imoralidade sexual
pode referir-se mais à idolatria do que aos atos sexuais.118A questão estava
relacionada ao limite para adaptar-se à cultura.119 Será que a liberdade que
temos em Cristo nos dá licença para pecar?
A esposa do rei Acabe, a princesa fenicia Jezabel, tomou-se notável
por causa de sua idolatria. Como esposa de Acabe, contribuiu para introduzir,
em Israel, a adoração a Baal. Perseguiu os profetas de Deus, entre eles,
Elias. A igreja de Tiatira é acusada por Jesus de tolerar seus inimigos, os
falsos profetas (Ap 2:20). A moderna Jezabel apoia abertamente a idolatria
e a fomicação (porneia).
As “coisas profundas de Satanás” (Ap 2:24) tem sido interpretadas
de várias maneiras.120 E possível que os seguidores de Jezabel alegassem

’17Neste caso, Judas 1:11 e 2 Pedro 2:5 também deveríam ser levados em consi-
deração.
118Apoiado por Morris, 67.
119Cf. Ronald L. Farmer, Revelation, Chalice Commentaries for Today (St. Louis:
Chalice Press, 2005), 47-48.
120Cf. Aune, Revelation 1-5 , 207; Hemer, 122.
Missão no Apocalipse | 159

precisar investigar as coisas profundas de Satanás e que foram protegidos


ao fazer isso. Também pode ser uma declaração irônica que aponta para
traços iniciais do gnosticismo. Ao buscar as profundezas de Deus (1C0
2:10) acabaram ensinando o que era de origem satânica.
Os sete selos relatam um aumento da perversidade e obscurecimento
do evangelho. J. Paulien declara:

É digno de nota que a progressão temática dos quatro cavalos


se encaixa bem com a história dos primeiros mil anos da Era
Cristã. Primeiro, houve a rápida expansão inicial da igreja,
por quase todo o mundo conhecido. O período seguinte trouxe
divisão e exposição ao perigo, diante da perseguição. A perda
de uma clara compreensão do evangelho seguiu-se ao modo
como a igreja instalou-se em um reino terreno, nos anos
posteriores a Constantino. Finalmente, a Idade das Trevas do
declínio espiritual e a morte encobriu a cristandade.121

As sete trombetas descrevem a apostasia e o julgamento sob outra


perspectiva, levando à época do Iluminismo, em que a razão “destruía a
regra de fé dos cristãos na mente ocidental. Este novo fenômeno rejeitou
a religião tradicional e levou ao crescimento do racionalismo, ceticismo,
humanismo e liberalismo. Seu produto final foi o nascimento e crescimento
do secularismo” . O secularismo não permitiu eventos sobrenaturais e
“substituiu a autoridade da B íblia... pela razão humana” .122
No entanto, o clímax da apostasia é encontrado no centro do
livro de Apocalipse, onde João fala sobre eventos que, a partir de nossa
perspectiva, ainda estão no futuro. Com frequência, o apóstolo salienta
a adoração forçada e quase universal do dragão, da besta do mar, e da
imagem da besta (Ap 13:4,8,14-17). Há uma propaganda imensa em curso
e um contra evangelho sendo pregado (Ap 13:14b,16-17), apoiados por
121Jon Paulien, “The Seven Seals”, in Symposium on Revelation-Book 1, hrsg. von
Frank B. Holbrook, Daniel & Revelation Committee Series Vol. 6 (Silver Spring: Bibli-
cal Research Institute, General Conference o f Seventh-day Adventists, 1992), 233-234.
122Stefanovic, 297.
160 I Ekkehardt Mueller

sinais enganadores, incluindo a queda de fogo do céu (Ap 13:13-15).


Não é sem razão que a besta que sai da terra é chamada de falso profeta
(Ap 16:13, 19:20, 20:10). Por último, os maus espíritos semelhantes a rãs
vão ao encontro dos governantes do mundo a fim de congregá-los para a
batalha final contra o Cordeiro e seus seguidores (Ap 16:14,16).

A mensagem divina e seu conteúdo


Através do livro de Apocalipse a mensagem divina a ser compartilhada
com o público é trazida à tona. É verificada na saudação inicial e doxologia
de Apocalipse 1 e define a forma para todo o livro.

A mensagem do prólogo e o livro.


Em Apocalipse 1:4-8 é enfatizado que Jesus, a Fiel Testemunha, o
Primogênito dos mortos, e o soberano dos reis da terra (1) nos ama (Ap
1:5); (2) que nos redimiu através de sua morte substitutiva: o problema
do pecado foi resolvido (Ap 1:5); (3) que ele nos colocou em um a nova
posição: somos um reino e sacerdotes (Ap 1:6); e (4) que ele virá outra vez
(Ap 1:7).
Apocalipse 1:5-6 “é a primeira doxologia no NT endereçada somente
a Jesus” .123 A segunda vinda de Cristo é descrita após a doxologia. O verso
8 retom a a Deus Pai que, como o Todo-Poderoso, o Alfa e o Omega, cuida
de Seu povo. João muda o rumo de seu discurso ao dirigir-se “às sete
igrejas que estão na Ásia” (verso 4) e refere-se a “nós” (verso 5) ficando,
assim, mais pessoal e abrangente.124 Embora a afirmação de que Jesus nos
ama seja encontrada no presente do indicativo enfatizando o contínuo e
infinito amor de Jesus por nós, a salvação e 0 privilégio de ser um reino125 e
sacerdotes já foram realizados no passado126 e são uma realidade presente.

123Osbome, 63. Cf. U. B. Müller, 74.


124Apocalipse 1:3 chama de abençoados aos que ouvem e leem o Apocalipse. O
público não está limitado ao primeiro século AD.
125Este termo deve ser entendido ativamente, ou seja, no sentido real da regra.
126João utiliza o aoristo indicativo. Cf. Beale, 194.
Missão no Apocalipse | 161

Obviamente, são dependentes da morte de Jesus na cruz.127


Esses versos podem ser entendidos como um resumo da mensagem
de Apocalipse. Apocalipse tem a ver com a divindade, incluindo Jesus e a
salvação através dele. Seu objetivo é a segunda vinda de Cristo e o reino
glorioso de Deus em seguida. Estes temas são desenvolvidos em outros
lugares.
1. Em Apocalipse 3 :9,19 ouvimos novamente sobre o amor de Jesus.
Por causa do amor de Jesus por sua igreja, ela O ama (Ap 2:19; 12:11).
O Apocalipse fornece compreensão da natureza e caráter do Pai e do
Cordeiro. Apesar de o amor ser crucial, outras características também são
importantes, como santidade (Ap 4:8), veracidade, fidelidade (Ap 3:14) e
justiça (Ap 16:7). Deus é o Criador (Ap 4:11), o Senhor Todo-Poderoso
(Ap 4:8) e o Juiz do universo Ap 20:11). Jesus é o Criador (Ap 3:14), o
Redentor (Ap 5:9), e o Rei dos reis (Ap 1:5; 17:14).
2. O principal título utilizado por Jesus em Apocalipse é “Cordeiro” .
Por que Jesus foi crucificado (Ap 11:8), morto (Ap 5:6,9,12; 13;8) e verteu
seu sangue (Ap 1:5; 5:9; 7:14; 12:11), está apto a salvar os seres humanos.
A salvação é descrita em Apocalipse 5:9; 7:14; 12:11; 14:3-4; 21:27 e
em outros lugares com imagens maravilhosas, como ser comprado, ter as
vestes lavadas, e ter o nome escrito no livro da vida.
3. O tópico sacerdócio e realeza já foi discutido acima e não se faz
necessário repeti-lo aqui.
4. A segunda vinda de Jesus permeia todo o Apocalipse, sendo
descrita através do verbo “vir” e de várias imagens ao final das grandes
visões do Apocalipse.128 Já em Apocalipse 1:7 um duplo aspecto é
reconhecido. O Segundo Advento é a bem-aventurada esperança
para os fiéis e uma ameaça para os inimigos de Deus. Está ligada ao

127Osbome, 64, declara: “O aspecto eclesiológico da obra de Cristo é descrito


aqui.”
128Ver Ekkehardt Mueller, “Jesus and His Second Coming in the Apocalypse,”
Journal o f the Adventist Theological Society, 11/1-2 (2000): 205-215.
162 [ Ekkehardt Mueller

conceito de recompensa (Ap 22:12) e às várias fases do julgam ento.129


Produz a tão esperada salvação final e um paraíso sem todas as formas
do mal, sofrimento e morte, como descrito em Apocalipse 21 e 22.
No entanto, a iniciativa divina requer um a resposta humana. A
igreja de Cristo e toda a humanidade são convidadas ao arrependimento
(metanoeo) ; Ap 2 : 5 , 1 6 , 2 1 1 6 : 9 , 1 1 ;9:20-21 ;3:3,19 ;22‫)־‬, u
que nos lembra o ministério terrestre de Jesus: “Arrependam-se, porque
o reino de Deus está próximo” (Mt 4:17). São chamados a vir e receber
gratuitamente a água da vida (Ap 22:17; cf. Jo 4:14-15; 7:37) e seguir o
Cordeiro (Ap 14:4; cf. Mt 9:9; Jo 1:43). São desafiados a adorar somente
a Deus e ao Cordeiro (veja os hinos em Ap 4 e 5 e em outros lugares do
Apocalipse; Ap 14:7; 15:4; 19:4,10; 22:9). Eles também são exortados a
viver a ética do reino de Deus e a guardar seus mandamentos (Ap 12:17;
22:15).

As três mensagens angélicas.


O clímax da mensagem de Apocalipse são as três mensagens
angélicas, no centro do livro. Um resumo de Apocalipse 13 e 14a mostra
que 0 remanescente, retratado como os 144.000 e sua mensagem, formam
o contraste com os poderes do mal e sua mensagem.

A. A besta que sai do mar (Ap 13:1-10)


( 1) “Eu vi... ’’
(2) Descrição da besta e sua atividade
(3) “AQUI ESTÁ paciência e fé ...”

B. A besta que sai da terra (Ap 3:11-18)


( 1) “Eu v i...”

129Incluem o julgamento investigativo (Ap 6:9-11; 14:7), 0 julgamento durante o


milênio e a execução do veredicto após 0 milênio (Ap 20). Julgamentos históricos são
encontrados em várias partes do livro: as sete igrejas, os sete selos e as sete trombetas.
_________________________________________________________________ Missão no Apocalipse | 163

(2) Descrição da besta e sua atividade


(3) “A Q U I ESTÁ sabedoria...”

C. Os 144.000 e as três mensagens angélicas (Ap 14:1-12)


(1) “E u v i... ”
(2) Descrição dos 144.000
(3) “E u vi. . . "
(4) Três mensagens angélicas
(5) “A Q U I ESTÁ paciência... fé ...”

Este resumo também revela o relacionamento próximo entre os


144.000 e a mensagem dos três anjos. “Aqui está” é utilizado somente
uma vez em Apocalipse 14:1-12, apesar dos dois elementos visionários e
em contraste às passagens prévias. Por meio dessa estrutura, os 144.000 e
a mensagem do tempo do fim estão intimamente ligados.
W. Johnsson realçou Apocalipse 13b e Apocalipse 14b e resumiu
essas passagens como segue, mostrando que a mensagem dos três anjos é
o antídoto divino contra os enganos dos poderes do mal:

A. Propaganda da besta que sai da terra (13:11-15)


B. Seguidores da besta que sai do mar (13:16-18)
B \ Seguidores do Cordeiro (14:1-5)
A’. A última mensagem de Deus (14:6-12)130

Apocalipse 12-14 retrata o conflito final na história terrestre. De


Apocalipse 15 em diante, são revelados os últimos momentos deste
drama: a intervenção de Deus em favor dos seus santos em forma das sete
pragas. A sexta e a sétima descrevem o colapso de Babilônia na batalha do

130William G. Johnsson, “The Saint’s End-Time Victory over the Forces o f Evil”,
in Symposium on Revelation - BookII, Daniel & Revelation Committee Series, Volume 7,
edited by Frank B. Holbrook (Silver Spring: Biblical Research Institute General Confer-
ence o f Seventh-day Adventists, 1992), 14.
164 I Ekkehardt Mueller

Armagedom. Apocalipse 17 e 18 descrevem detalhadamente essa queda de


Babilonia e Apocalipse 19 ilustra a intervenção de Jesus como cavaleiro
no cavalo branco. Segue-se o milenio (Ap 20), o novo céu e a nova terra e
a Nova Jerusalém (Ap 21-22). A mensagem dos três anjos não é apenas a
visão central do Apocalipse. Em todo o livro, é a mensagem final e universal,
endereçada a todos os povos. É surpreendente ler a estranha afirmação de
J. Roloff: “A noção de um a missão mundial antes do fim (cf. Me 13:10) é
estranha ao Apocalipse e, aliás, destrói o contexto desta seção”. Todavia,
outros estudiosos chegam a conclusões diferentes. E. Schüssler Fiorenza
afirma que o Apocalipse compartilha a expectativa de que o evangelho
deve ser pregado a todas as nações antes que o fim chegue (Mc 13:10; Mt
24:14).131 R. Stefanovic enfatiza que “as atividades de Satanás no fim dos
tempos são de âmbito mundial, igualmente é a mensagem do evangelho
no fim dos tem pos... O que nós temos aqui é o cumprimento de Mateus
24:14... Na cena dos três anjos é dada a proclamação final do evangelho
para o mundo ...” .
O primeiro anjo introduz essa mensagem como o evangelho eterno.
Vários eruditos argumentam que o evangelho deve ser entendido em
sentido restrito, apontando principalmente ao julgamento. Mounce, por
exemplo, sugere que “não é o evangelho da graça redentora de Deus em
Cristo Jesus, mas, como mostra o versículo seguinte, um apelo ao temor,
honra e louvor ao C riador... Diz respeito ao julgamento e salvação, na era
eterna por vir”.131132 Kistemaker afirma: “O anjo proclama o evangelho não
necessariamente como as boas novas, mas como um lembrete da verdade
permanente de Deus; o anjo convida homens e mulheres para responder à
mensagem divina antes do julgam ento”.133 Caird discorda:

Tendo ou não um artigo, a palavra euangelion pode significar


apenas ‘boa notícia’, e é improvável que João tenha pensado em

131Schüssler Fiorenza, 89.


132Mounce, 270-271; cf. Smalley, 361.
133Kistemaker, 407.
Missão no Apocalipse | 165

usá-la num sentido cínico. Além disso, ele não diz nada sobre
o evangelho como sendo uma boa notícia aos cristãos. É run
evangelho para anunciar aos habitantes da terra... Também não
é nenhuma notícia casual ou efêmera, é um evangelho eterno,
um evangelho arraigado e alicerçado no propósito de Deus e
em Seu caráter imutável. Se o anjo carregava um evangelho
que era uma boa notícia eterna a toda nação, tribo, língua e
povo, é difícil ver como isso pode ser diferente do evangelho.134

No contexto de Apocalipse e especialmente na visão do prólogo,


euangelion deve ser entendido como boas novas. Em outras palavras,
o prólogo do Apocalipse contém uma clara descrição do evangelho.
Apocalipse 14:6 deve ser lido sob este cenário. O autor conhece e
compreende o evangelho, as boas novas. Quando se refere a ele, deve ter
em mente as principais características do evangelho, incluindo os detalhes
que abordará nos versos seguintes.
É uma boa notícia que ainda está disponível nesta última hora da
história da salvação do mundo. As pessoas ainda podem decidir por Deus
Criador, aceitando a redenção, entregando suas vidas a ele e dando-lhe
glória, isto é, se arrependendo (Ap 11:13; 16:9) e “reconhecendo-o como
a pessoa mais importante no universo” .135A glória está associada à criação
(A p4: 11) e à salvação (Ap 1:6; 5:12, 19:1).
É uma boa notícia, porque o juízo investigativo ainda está em
andamento e “Cristo ainda está ministrando no santuário celestial em
nosso favor .. .”,136 ‫ ט‬porque as pessoas podem deixar para trás o engano e
sair de Babilônia (Ap 18:4). Por outro lado, a fase executiva do julgamento
assegura aos crentes que haverá vingança, justiça e um futuro brilhante
para eles.
Resumindo a última mensagem divina podemos dizer que a primeira
mensagem enfatiza a adoração ao Criador em contraste à adoração de
134Caird, 182.
135Rodríguez, 131.
136Ibid.
166 I Ekkehardt Mueller

sistemas humanos e a Satanás, acentua o juízo pré-advento e a obediência


a Deus na guarda do sábado bíblico.137
A segunda mensagem proclama a queda de Babilônia.138 E por fim,
na terceira mensagem, o anjo anuncia o julgamento final de Deus aos que
adoraram a besta ou sua imagem e receberam sua marca. Deus responde
ao vinho da ira de Babilônia com seu próprio vinho da ira (SI 75:8). Os
seguidores da besta perseguiram o povo de Deus que perseverou e guardou
os mandamentos e a fé de Jesus. Deus intervém a favor de seus filhos.139
A bênção que segue no verso 13 aponta aos que pagaram com a
vida por sua lealdade e relacionamento com Jesus ou morreram durante o
tempo do fim. Eles são abençoados e podem descansar até a ressurreição.

137O texto em Apocalipse 14:7 aponta de volta ao quarto mandamento. Adorar a


Deus como 0 Criador implica também guardar seu santo dia, o dia que Ele instituiu na
criação como uma comemoração da criação. Enquanto a cura da ferida mortal da besta
leva a um novo conflito na terra, o céu está conduzindo o juízo pré-advento e toma partido
dos verdadeiros crentes.
138A fim de compreendermos o significado e a importância da Babilônia, temos de
analisar esta expressão no contexto do Antigo Testamento (eg, Gn 11, Is 14, Daniel) e do
N ovo Testamento. No Novo Testamento, é usada como um codinome para Roma (lP d
5,13). No livro do Apocalipse, Babilônia é descrita detalhadamente nos caps. 17-18. A
grande cidade de Babilônia está em contraste com Jerusalém, a cidade de Deus, Apoca-
lipse 11:2,8; 14:1,8; 16:19. N ocap. 17:1-5, Babilônia é representada como uma prostituta
e também está em contraste com a mulher vestida com 0 sol em Apocalipse 12, um sím-
bolo da igreja fiel. Babilônia representa um sistema religioso que se afastou de Deus. Sua
destruição é anunciada, e o povo de Deus é chamado a se separar, a fim de evitar o juízo
(Ap 18:2,4). O remanescente não tem nada a ver com a Babilônia. Cf. Ekkehardt Mueller,
“Babylon in Revelation” (manuscrito não publicado).
139A marca da besta está definida indiretamente em Apocalipse 14:12. Os que re-
cebem essa marca são contrastados com os santos. Os santos são caracterizados por paci-
ência, fé em Jesus e guarda dos mandamentos. Evidentemente, essas características não
são vistas no primeiro grupo. Essas pessoas não são fiéis a Jesus e Seus mandamentos ou
respeitam a lei encontrada na arca da aliança do santuário celestial apenas parcialmente
(Ap 11:19). Obediência parcial é considerada desobediência (Tg 2:10-12). Esta opinião é
corroborada pelo entendimento do selo de Deus em Apocalipse 7, em contrapartida com
a marca da besta. João podia ter em mente Ezequiel 9:4-6 quando escreveu sobre o selo
de Deus. Aqueles que estão muito tristes a respeito dos pecados entre 0 povo de Deus,
aqueles que se afastam de seus pecados e se voltam para Deus com toda a seriedade, serão
os únicos a receber o selo de Deus. Eles não ignoram a vontade de Deus, porque amam
seu Senhor (J014.T5) e esperam a salvação somente de Deus. Todos aqueles que não são
selados por Deus, serão “selados” pela besta e sua imagem.
Missão no Apocalipse | 167

Resultados da atividade missionária em Apocalipse

A mensagem bíblica, incluindo a mensagem de Apocalipse, sempre


é compartilhada de duas maneiras. Há aqueles que são tocados e dão uma
nova direção à sua vida. Há também os que negligenciam as boas novas
ou a mensagem por meio do juízo e, consequentemente, podem tomar-
se ainda menos receptivos à voz de Deus em seus corações endurecidos.
Portanto, a polarização deve ser esperada.

Resultado desconhecido
Em alguns casos, ouvimos que uma mensagem foi proclamada,
mas não somos informados sobre o resultado. Por exemplo, Jesus
dirige mensagens e desafios às sete igrejas, muitas delas referindo-se ao
arrependimento, mas não nos é dito se o arrependimento ocorreu ou não.

Resultado negativo
Algumas vezes ouvimos sobre resultados negativos. Apocalipse 9:20-
21 nos diz que as sete trombetas não alcançaram a meta pretendida: trazer
arrependimento. Quando vier a adoração quase universal em Apocalipse
13, muitos terão rejeitado a mensagem dos três anjos. São retratados como
tendo sido enganados pelos poderes do mal (Ap 13:13-14), são fascinados
pela besta do mar e parecem admirá-la (Ap 13:3-4; 17:8). De acordo com
Ap 17:2, ficaram bêbados com o vinho de Babilônia. A terra inteira seguiu
a besta com admiração e a adoraram (Ap 13:3, cf. verso 8). Apesar de
todos os habitantes da Terra serem mencionados nestes versos, os santos
não estão incluídos (Ap 13:7). A frase “habitantes da terra” sempre é
utilizada de forma negativa.140 Por outro lado, o povo de Deus são “os que
habitam no céu” (Ap 13:6). Os habitantes da terra são “todos, os pequenos
e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos” que receberam
a marca da besta na mão direita ou sobre a testa (Ap 13:16). Além disso,

140Apocalipse 3:10; 6:10; 11:10; 13:8,12,12; 17:2,8.


68 ‫ו‬ I Ekkehardt Mueller

eles parecem formar as tribos, povos, línguas e nações de Apocalipse 13:7.


A aceitação da marca da besta em suas testas pode apontar a um grupo que
segue os objetivos e atividades dos poderes do mal com suas convicções
pessoais, enquanto que aqueles que o recebem na mão podem “submeter-
se aos decretos da besta apenas por conveniência” .141 “Mas, apesar dessas
diferenças, eles formam um único grupo. De acordo com Apocalipse 6:10, os
moradores da terra mataram os seguidores de Cristo. Eles provarão a ira de
Deus e serão ajuntados como uvas, numa colheita de sangue (Ap 14:17-20).

Resultado positivo
Não há somente resultados negativos. O Apocalipse distingue grupos
de pessoas fiéis, por exemplo, a igreja pura (Ap 12), o remanescente (Ap
2:24; 12:17), e os que deram sua vida pelo Senhor (Ap 2:13; 6:9). Há
também os que provaram a conversão.
Apesar do julgamento das trombetas não ter trazido arrependimento,
o ministério das duas testemunhas trouxe uma mudança. Pessoas
“temeram e deram glória a Deus” (Ap 11:13). Uma vez que a mesma frase
é utilizada para arrependimento (Ap 14:7; 16:9), sua reação também pode
ser compreendida como arrependimento e conversão.142
Em Apocalipse 18:4 o povo de Deus (não o remanescente) ainda é
descrito como estando em Babilônia e é convidado a sair de lá. Apesar de
o resultado não ser relatado, por causa do seu paralelismo com o retomo
parcial de Judá do exílio babilónico,143 pode-se supor que alguns do povo
de Deus deixarão a Babilônia. De qualquer forma, Apocalipse 7 retrata uma
grande multidão em pé diante do trono de Deus e servindo no santuário
celestial (Ap 7:15), o que indica que a missão de Deus foi bem-sucedida,

141Nichol, 7:822.
142Isso é discutido entre os eruditos. Para maiores considerações, ver Osbome,
433-436. Aune, Revelation 6-16, 628, opta por conversão, enquanto Beale, 603-604, e
Mounce, 223-224, parecem negá-la.
143Ver 0 chamado para deixar Babilônia em Jeremias 51:45; Is 48:20 e o êxodo
subsequente descrito em Esdras e Neemias.
Missão no Apocalipse | 169

afinal. Isto também é verdade no que se refere à noiva do Cordeiro (Ap


19), e à Nova Jerusalém (Ap 21). Haverá um povo redimido, com o qual
Deus habitará (Ap 21:3).

Resumo

O livro do Apocalipse pinta os últimos acontecimentos de forma


que as zonas cinzentas desaparecerão e apenas dois grupos de pessoas
permanecerão: o remanescente do tempo do fim e os seguidores da
prostituta Babilônia. Estes grupos estarão em conflito mútuo. Será uma
guerra mortal, combatida, de um lado, com o engano, a força e a violência
e, do outro lado, com paciência, sofrimento, amor e justiça. Não haverá
meio termo. De um lado estarão Deus, os seres celestiais, e os redimidos.
Do outro lado estarão Satanás, seus anjos e os seres humanos que aceitarem
o seu sinal de fidelidade. Hoje as pessoas ainda podem decidir, e o livro
os convida a tomar uma decisão a favor de Deus. Embora seja realista
o suficiente para nos informar que a salvação universal não terá lugar,
desafia-nos a anunciar com fervor e urgência a última mensagem de Deus
nestes últimos tempos da história da Terra.

Resultados e implicações

Quais são os resultados e implicações de nosso estudo?


1. O Livro de Apocalipse é um livro sobre missão, apesar de não ser
notada à primeira vista.
2. A missão é de Deus, de iniciativa e responsabilidade divina. A
própria Trindade está envolvida nesta missão, que também podería ser
chamada de grande conflito. Este conflito possui várias dimensões. Uma
delas é a preocupação de Deus para que as pessoas sejam salvas e que
o problema do pecado seja resolvido. Como o conflito se intensifica, a
proclamação da mensagem final de Deus também é intensificada.
70 ‫ו‬ I Ekkehardt Mueller

3. Deus envolve os seres humanos em Sua missão. Como Seu


povo, tomam-se testemunhas e compartilham com a humanidade Sua
mensagem final, encontrada em Apocalipse 14:6-12. Não há somente um
desafio universal, mas grande urgência. A igreja deve aceitar o chamado e
proclamar o “evangelho eterno”.
4. Os resultados de quaisquer atividades missionárias variam. O
Apocalipse não se envolve numa contagem numérica literal. Mesmo que
o resultado seja indesejável, a proclamação da mensagem não é afetada.
Todavia, são prometidas reações positivas.
5. Ao tomar-se testemunha, o povo de Deus compartilha sua missão
e desfruta de um relacionamento íntimo com o Senhor. O remanescente
“são os seguidores do Cordeiro onde quer que vá” (Ap 14:4).
6. Ser testemunha fiel envolve a partilha verbal da fé, “mantendo a
autenticidade e a veracidade, mostrando a paciente tolerância, obedecendo
aos mandamentos de Deus e expressando pureza na devoção a Cristo
através da adoração, estilo de vida, ensinamentos e crenças...” .144
7. Não é nosso dever preocupar-nos com o sucesso da missão. Somos
solicitados a fazer a nossa parte com vigor, seriedade, entusiasmo e com
urgente fidelidade empregar os dons que Deus nos confiou.

144Peters, 117-118.
TRANSFORMAÇÃO DA COSMOVISÃO E MISSÃO:
NARRATIVA, TEOLOGIA E RITUAL NO APOCALIPSE

Larry L. Lichtenwalter
Andrews University e Adventist Theological Society, EUA

1)11)11111111η11111ΙΙΙΙ1η1η1ΙΙ]|||ΙΙΙΙΝΙΙΙ1ΙΙΙ)ΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙ1ΙΙΙΙΙΙΙΙΙ1Ι|]ΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙ1ΙΙΙ1ΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙ1ΙΙΙΙ|ΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙ'!ΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΝΙΙ1ΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙ

Conflito da cosmovisão e missão em Apocalipse

No centro quiástico, o Apocalipse visualiza a missão global, em


que a igreja engaja os povos do mundo todo com as urgentes verdades do
evangelho eterno para o tempo do fim. Ao passo que a passagem afirma a
abrangência universal do chamado redentivo de Deus no lugar onde a besta
influencia destrutivamente a mesma audiência mundial (13:7; cf. 17:15),
ao mesmo tempo admite e visualiza nações distintas ( ethne), discerne
diferentes povos dentro das nações ( laoi), bem como as tribos singulares e
linguagens dentro de certos grupos e nações (phulai kai gloss ai).
O Apocalipse sintetiza a humanidade nesse padrão quádruplo: nação,
tribo, língua e povo (5:9; 7:9; 10:11; 11:9; 13:7; 14:6; 17:15). Sete vezes
no total. Contudo, nenhuma das listas organizadas concorda exatamente
com as demais.1 Essas palavras descrevem a distribuição, características e
relacionamentos dos seres humanos no mundo.2 De um modo geral, a vida
humana é organizada em sociedades. Por sua vez, o Apocalipse observa
status sociais e funções na ordem humana social: “rico e pobre”, “escravo
e livre”, “pequeno e grande”, “reis”, “nobres”, “comandantes”, “os

1Ver tabela em Kendell H. Easley, Revelation (ed. Max Anders; Nashville, TN:
Broadman & Holman Publishers, 1998), 101.
2Mai Couch ed. A Bible Handbook to Revelation (ed.; Grand Rapids, MI: Kregel
Publications, 2001), 134.
72 ‫ו‬ I Larry L. Lichtenwalter

poderosos” (6:15; 11:18; 13:16; 19:5, 18; cf. Gl 3:28; Cl 3:11). Assim, o
global, o regional, o local, as variadas funções, aposição social na sociedade,
bem como a pessoa individualmente, tudo é considerado. Todas as esferas
e todos os povos devem ouvir o evangelho eterno. Todos são chamados
a experimentar essa esperança, admoestação e poder transformador.
A imagem de nações, grupos, línguas, tribos/clãs, status sociais
e funções, implica na existência de culturas integradas que espelham,
representam e alimentam as características únicas de dada sociedade.
Compreende, também, as cosmovisões que em uma dada cultura são
similarmente espelhadas, representadas e promovidas dentro de uma
sociedade peculiar. O esboço das funções e importância social (“pequeno
e grande,” “pobre e rico,” “livre e escravo,” “reis,” “comandantes,”
“nobres,” etc.) também sugere a presença de cosmovisões discrepantes no
nível estrutural e na percepção/experiência de indivíduos na sociedade.

Aqueles que habitam na Terra


Através do Apocalipse, o funcionamento da cosmovisão daqueles
que são visualizados em Apocalipse 14:6 é expresso mais claramente na
frase grega hoi katoikountes epi tes ges: “aqueles que habitam na terra.”
A frase ocorre com frequência no livro de Apocalipse e em nenhum outro
lugar do Novo Testamento (3:10; 6:10; 8:13, 11:10; 13:8, 14; 17:2, 8).3A
frase não é tão imparcial como aparenta. Não se refere somente à inteira
massa da humanidade nem simplesmente àqueles que vivem no planeta
terra.4 É um termo técnico que sempre se refere aos descrentes, os inimigos
3Das 13 vezes que katoikeo aparece em Apocalipse, nove estão na forma do par-
ticípio presente ativo nominativo, seguido da frase epi tes ges - “sobre a terra” (3:10;
6:10; 8:13,11:10,13:8; 13:14; 17:8). Duas referem-se àqueles que habitam na terra, mas
também não inclui a preposição epi ou separa os da terra dos que habitam nela (13:12;
17:2). Na mensagem à Esmima, o povo de Deus habita onde Satanás habita (2:13). As
questões da cosmovisão e sua influência são evidentes em cada contexto. Ap 14:6 utiliza
a terminologia tous kathemeneous epi tes ges onde 0 verbo kathemai é utilizado em lugar
de katoikeo.
4Joseph L. Trafton, Reading Revelation: A Literary and Theological Commentary
(ed. Charles H. Talbert; Macon, GA: Smyth & Helwys, 2005), 49. Sugiro que a frase “o
mundo inteiro” (3:10; cf. 12:9; 16:14) significa algo diferente da frase “aqueles que ha-
bitam na terra.” A primeira refere-se à massa total da humanidade, enquanto que a última
refere-se àqueles que têm somente uma perspectiva terrestre e assim, unem-se à besta em
Transformação da cosmovisão e missão | 173

de Deus.5 Designa a cosmovisão da porção dominante da humanidade. É


uma perspectiva somente do mundo.
Mais específicamente, a expressão “aqueles que habitam na terra”
aparece associada à idolatria (13:8, 12, 14; 14:6-13; 17:2, 8, cf. 8:13 com
9:20, 2 1),6 sugerindo que eles não podem olhar para além da terra em
busca de segurança. Pelo contrário, confiam em alguma parte da criação e
não no Criador. Tomaram-se parte do sistema terrestre, onde encontram
segurança. Isso sugere que se tomaram como ele: moral e espiritualmente.
A natureza constitutiva da cosmovisão apocalíptica está refletida na
sexta trombeta. É extraída do Salmo 115:1-8, que enuncia o princípio de
que nos tomamos o que adoramos (cf. 9:20, 21; SI 135:15-18; Jr. 2:5 ).7
Quando seres humanos entregam-se a alguns aspectos da terra, tomam-se
terrenos8 e assim, passam a ser conhecidos como “aqueles que habitam
na terra.” “Aqueles que habitam na terra” são definidos em termos de sua

rebelião contra Deus. O resumo apocalíptico “de todas as nações, tribos, povos e línguas”
(5:9; 7:9; 10:11; 11:9; 13:7; 14:6; 17:15) dá outro exemplo de linguagem, referindo-se à
humanidade como um todo, em contraste com “àqueles que habitam na terra.”
5Easley, Revelation , 65; Grant R. Osborne, Revelation (ed. Moisés Silva; Grand
Rapids, MI: Baker Academic, 2002), 193. “Aqueles que habitam na terra” são os que
mataram os mártires (6:10), que rejeitaram o convite das duas testemunhas ao arrepen-
dimento (11:10), que adoraram a besta (13:8, 12), que estão enganados ao fazer uma
imagem para a besta (13:14), e que se embriagaram no vinho da prostituição (17:2). Eles
não têm os nomes escritos no livro da vida (17:8), ao contrário, eles estão sujeitos à vinda
da hora da provação (3:10; 8:13).
6G. K. Beale, The Book o f Revelation: A Commentary on the Greek Text (ed. I.
Howard Marshall and Donald A. Hagner; Grand Rapids, MI: William B. Eerdmans Pub-
lishing Company, 1999), 595, 596; Stephen S. Smalley, The Revelation to John: Com-
mentary on the Greek Text o f the Apocalypse (Downers Grove, IL: InterVarsity Press,
2005), 283.
7As forças da cosmovisão da religião natural são tão poderosas que as pessoas
não abandonarão os valores imorais e práticas desumanas mesmo em face dos terríveis
julgamentos divinos. Os adoradores de ídolos formam seus deuses conforme a própria
visão da realidade, i.e., eles são “as obras das mãos deles” (9:20; cf. Is 40:18-20; 44:9-20;
66:3; Jr 10:3-8; Hab. 2:18, 19). Aqueles que constroem ídolos e confiam neles, tomam-
se como eles; não podem ver, ouvir ou caminhar moralmente. É um princípio moral.
Assemelhamo-nos aos nossos ideais. Tomamo-nos parecidos com 0 que adoramos. A
cosmovisão tal como expressa na adoração, molda o caráter e a ação. Ver G. K. Beale, We
Become What We Worship: A Biblical Theology o f Idolatry (Downers Grove: InterVarsity
Press, 2008); F. B. Meyer, Gems from the Pslams (Westchester, IL: Good N ew s Publish-
ers, 1976), 188.
8Beale, We Become What We Worship: A Biblical Theology o f Idolatry, 255.
74‫ו‬ I Larry L. Lichtenwalter

perspectiva totalmente terrena e como eles se relacionam com Deus, tratam


Seu povo e consideram as questões eternas. Eles não confiam em nada
além do que os olhos veem e os sentidos físicos percebem. Na perspectiva
deles, estão permanentemente confinados a Terra. A identidade final e
a perspectiva deles estão nesse mundo o qual adoram. Esse é o motivo
porque são resistentes às Duas Testemunhas, que ameaçam o que eles
consideram como de valor, significado e segurança irrevogáveis (11 :IO).9

Aqueles que têm o testemunho de Jesus


Em contraste com a cosmovisão “daqueles que habitam na terra,”
o Apocalipse afirma a cosmovisão do povo da aliança de Deus, que são
retratados no centro quiástico de Apocalipse, na imagem da mulher e sua
semente (12:1-17). Aqui também (o centro quiástico) e em vários lugares
do livro, o povo da aliança de Deus é referido como os santos (13: 7, 10;
14:12; 5:8; 8:3, 4; 11:18; 13:7; 13:10; 14:12; 16:6; 17:6; 18:20, 24; 19:8;
20:9). Eles são uma minoria impotente dentro de uma cultura mundial
hostil. São elementos perseguidos e marginalizados na sociedade.10 É
uma comunidade alternativa e a cosmovisão opõe-se em conflito com os
poderes e a cosmovisão dominante.
Específicamente, o povo da aliança de Deus é caracterizado como
aqueles “que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de
Jesus” (12:17, cf. 14:12). Muito se tem dito e ainda pode se dizer sobre o
significado da frase “O Testemunho de Jesus” {ten martyrian lesou ),11 mas
essa expressão basicamente se relaciona com o assunto da cosmovisão.12

9Beale, The Book o f Revelation: A Commentary on the Greek Text, 596.


10Richard B. Hays, The Moral Vision o f the New Testament: Community, Cross,
New Creation; A Contemporary Introduction to New Testament Ethics (San Francisco,
CA: Harper San Francisco, 1996), 173, 181.
11A frase ocorre em 1:2, 9; 12:17; 19:10 (duas vezes). Em 20:4 há referência aos
que creem no “testemunho de Jesus” i.e., “o seu testemunho de Jesus.” Larry L. Licht-
enwalter, Revelation s Great Love Story: More Than I Ever Imagined (Hagerstown, MD:
Review & Herald Publishing Association, 2008), 119-124.
12Ver discussão Ángel Manuel Rodríguez, The “Testimony o f Jesus ” in the Writ-
ings o f Ellen G. White (ed. Ángel Manuel Rodriguez; Silver Springs, MD: Biblical Re-
Transformação da cosmovisão e missão | 175

Seu conteúdo é o testemunho de Jesu s.13 Revela a teodiceia da conduta


divina na realidade do mal na pessoa e obra de Jesus, dentro do conflito
cósmico.14 E o evangelho eterno.15 Mais precisamente, um produto do
“Espírito de Profecia” (19:10), o “Testemunho de Jesus” é o “evangelho
eterno” (14:7) num contexto profético apocalíptico.16 Essa moldura
profética apocalíptica do evangelho traz entendimento, dá forma à vida
moral, esboça o futuro, convida e compele à decisão no contexto dessa
esperança e advertência. Por sua própria natureza bíblica apocalíptica, a
profecia lança uma visão moral; uma cosmovisão, que gera ética e modo
de viver ao segui-la.

search Institute, 2009), 228, 229, 232-235, 242.


13Richard Bauckham, The Theology o f the Book o f Revelation (ed. James D. G.
Dunn; Cambridge, UK: Cambridge University Press, 1999), 119.
14Sigve K. Tonstad, Saving G ods Reputation: The Theological Function o f Pistis
Iesou in the Cosmic Narratives o f Revelation (New York, NY: T & T Clark International,
2006), xv, xvi, 159-193.
15Bauckham, The Theology o f the Book o f Revelation.
16Apocalipse 19:10 afirma uma ligação orgânica entre “o testemunho de Jesus”
e “0 espírito de profecia,” com a expressão: “pois 0 testemunho de Jesus é 0 espírito da
profecia”. Sugiro que essa união não significa que os conceitos são intercambiáveis e sim
que “o espírito de profecia” refere-se à natureza essencial do “testemunho de Jesus”. A
expressão bíblica “Deus é amor” poderia ser um exemplo (1J0 4:8). Enquanto pode ser
dito que “Deus é amor”, não se pode inverter a imagem. Não pode ser dito: 0 “amor é
Deus”. O significado do texto é que 0 amor é uma característica essencial da santa na-
tureza de Deus, mas 0 amor nunca pode ser equiparado com o próprio Deus. Da mesma
forma, “o espírito de profecia” é uma característica essencial do “testemunho de Jesus”,
mas não pode ser equiparado com “0 testemunho de Jesus em si mesmo”. “O testemu-
nho de Jesus” é muito mais que “0 espírito de profecia” em si mesmo. O contexto mais
amplo que liga esses dois conceitos sugere que “o testemunho de Jesus” é o produto
do “espírito de profecia” na medida em que se origina na atividade de santos profetas,
movidos pelo Espírito de Deus (19:10; 22:6-9; cf. lP e 2:20, 21). A frase “o Deus dos
espíritos dos profetas” junto com “as palavras da profecia desse livro” (i.e., Apocalipse)
claramente ligam a atividade do Espírito Santo na criação do próprio Apocalipse como
“o testemunho de Jesus” (22:6-9). “O testemunho de Jesus” tem um caráter e um núcleo
proféticos. O Apocalipse refere-se a si mesmo como um livro profético (1:3). É um livro
de profecia (22:10,19). E preenchido com palavras proféticas (1:3; 22:7,10; 18) e, como
tal, desdobra o testemunho profético de Jesus: um exemplo do que é o “testemunho de
Jesus”. Ver minha discussão, Lichtenwalter, Revelation s Great Love Story: More Than I
Ever Imagined, 119-124.
76 ‫ו‬ I Larry L. Lichtenwalter

Assim, “o testemunho de Jesus” reinventa o mundo atual de acordo


com o convite, a ação e o propósito soberano de Deus, através do Cordeiro
vitorioso do Apocalipse (5:1-10). Ao fazê-lo, constrói-se um mundo de
visão: a cosmovisão. Apresenta a visão de um novo mundo. É uma visão
apocalíptica, um a visão profética. Sua forma e conteúdo sublinham a
natureza fundamental profética apocalíptica da cosmovisão bíblicamente
informada. Como produto do “Espírito de Profecia” (19:10; 22:9, 10)
revela o genuíno testemunho profético em contraste com os “espíritos de
demônios” que saem para enganar o mundo todo com outra cosmovisão
(16:14). Este “testemunho de Jesus” comunica valores e conduta que
contrariam os valores e conduta do antigo mundo e fornecem uma estrutura
de pensamento que fundamenta a vida em Deus e na esperança do novo
mundo divino.17
Diz-se que a comunidade de fé apocalíptica alternativa possui esse
“testemunho de Jesus” (12:17). Dentro da imagem narrativa do livro, a
simples palavra grega ter {echo) frequentemente refere-se à pessoa e à
identidade essencial, porque o que se tem é mais do que a simples posse
de algo externo a eles. A noção bíblica de ter aponta ao que se é por
causa do que se tem, isto é, identidade, natureza e caráter.18 Em outras
17A profecia bíblica apocalíptica sempre lança uma visão moral. Gera uma ética
para ir ao lado dela, ou não consegue manter a promessa de oferecer uma unidade de vida
e a possibilidade de total cumprimento. Ver Carl E. Braaten, Eschatology and Ethics:
Essays on the Theology and Ethics o f the Kingdom o f God (Minneapolis, MN: Augsburg
Publishing House, 1974), 20.
18Um exemplo da unidade inseparável entre o Cordeiro e o Espírito é retratada na
descrição do Cordeiro que tem “sete chifres e sete olhos”. De acordo com João, esses sete
chifres e sete olhos “são os sete Espíritos de Deus”. Aqui, a palavra grega “ter” indica
uma relação orgânica, onde os sete chifres e os sete olhos são parte da pessoa e identidade
básica do Cordeiro. Isto está de acordo com outras descrições e caricaturas do Apocalip-
se, i.e., 4:8; 12:3; 13:1; 14:1; 17:3 está em oposição aos objetos eternos assim como em
7:2; 14:6; 14:14; 17:4; 20:1. Esses chifres e olhos são uma parte orgânica de quem ele é
como o Cordeiro morto. Quando você vê 0 Cordeiro, 0 Espírito está presente e evidente.
Onde o Cordeiro for, 0 que o Cordeiro fizer, o Espírito está presente e trabalhando. O Es-
pírito qualifica características essenciais da pessoa e obra do Cordeiro. Da mesma forma,
o Cordeiro qualifica características essenciais da pessoa e obra do Espírito. O “sétuplo
Espírito” está tão estreitamente identificado com Jesus que eles são quase um. Não se
pode remover os chifres ou os olhos, do contrário, a imagem do Cordeiro e as implicações
Transformação da cosmovisão e missão | 177

palavras, a pessoa não pode separar o que ela tem do que ela é. Faz parte
da caracterização narrativa apocalíptica ou caricatura de seus atores
principais na revelação da linha histórica, enredo e ponto de vista moral e
espiritual. Para o povo da aliança (ho loipos - o remanescente de Deus),
ter “o testemunho de Jesus” aponta a este plano de vida, a cosmovisão, que
define quem eles são no mundo. O sentido da palavra echo também sugere
que o povo da aliança de Deus “guarda” o “testemunho de Jesus.” 19Isso
implica a tenacidade deles nessa cosmovisão particular sem se importar
com o encapsulamento e pressões coercivas de alguma outra cosmovisão
(14:12; 13:10; 2:10, 25; 1:9).
Assim, o Apocalipse reconhece somente dois tipos de seres humanos:
aqueles que habitam a terra e “ aqueles... que guardam o testemunho de
Jesus.” Há aqueles cuja identidade essencial está na terra, a qual eles
adoram. Há aqueles que vivem a identidade essencial com o Deus do novo
universo; o Deus em quem está a confiança fundamental deles.20 Dentro da
revelação narrativa do Apocalipse essas duas categorias de seres humanos
estão em eterna disputa uma com a outra. A cosmovisão articulada aqui
está mais relacionada com a estrutura de referência moral e espiritual que
com assuntos do cotidiano e antropológicos.

Conflito entre cosmovisões


O significado dessa breve avaliação dos dois grupos de seres humanos
para nossa discussão sobre a transformação de cosmovisão e missão no livro
de Apocalipse, é a realidade da respectiva moral/orientação espiritual e a
perspectiva desses grupos diferenciados: a visão de mundo e a cosmovisão
deles. A cosmovisão entra em jogo com a abrangência universal do chamado

não seriam completas. Isso não degrada ou obscurece o Espírito na pessoa de Cristo ou
os toma um em essência, mas acentua 0 contexto em que a obra do Espírito é visionada
no Apocalipse.
19Ver discussão Gerhard Pfandl. “Identifying Marks o f the End-Time Remnant in
the Book o f Revelation,” in Toward A Theology o f the Remnant (ed. Angel Manuel Ro-
dríguez; Silver Spring, MD: Biblical Research Institute, 2009), 148-150.
20Beale, We Become What We Worship: A Biblical Theology o f Idolatry, 255.
78 ‫ו‬ I Larry L. Lichtenwaiter

redentivo de Deus em nítido contraste com a influência destrutiva da besta


sobre o mesmo público mundial (como nos capítulos 13,17 e 18). Dentro
desta narrativa, o Evangelho Eterno, no contexto das mensagens dos três
anjos, declara uma cosmovisão, ao mesmo tempo em que envolve os
povos do mundo em suas respectivas culturas e cosmo visões. Por último,
a tríplice mensagem angélica assevera a existência de um conflito entre as
diferentes cosmo visões e culturas resultantes.
Esse conflito de cosmovisões admite “um papel crucial na oculta
batalha espiritual entre o reino de Deus e o de Satanás, no qual a verdade
está em jogo. Entre esses regimes, um conflito de proporções épicas assola
mentes e corações, vidas e destinos de homens e mulheres, todo o tempo.
Uma vez que nada podería ser mais importante do que a maneira como os
seres humanos compreendem a Deus, a si mesmos, o cosmos e seu lugar
nele, não é de surpreender que uma cosmovisão bélica esteja no coração
do conflito entre os poderes de Deus e do m al.”21 História é o registro da
guerra espiritual com cosmovisões concorrentes como o centro.22
No final, a questão da mudança de cosmovisão é significante, pois
envolve a identidade, a teologia, a ética, 0 propósito (serviço e missão), a
vida diária, etc. O Apocalipse revela como a cosmovisão de cada pessoa é
questionada e também mudada, abandonada ou confirmada.
Em essência, a linguagem da primeira mensagem angélica declara
que devemos levar a sério a cosmovisão de outras pessoas, não por acreditar
nela, mas porque queremos compreender as pessoas a quem servimos, a
fim de compartilhar efetivamente com elas as boas novas do evangelho
eterno, e verdades sobre Jesus e as questões sobre o tempo do fim.23 Isso
é essencial, necessário e o ponto inicial fundamental de uma preocupação
compassiva e genuína para com os povos mundiais.

21David K. Naugle, Worldview: The History o f a Concept (Grand Rapids, MI: Wil-
liam B. Eerdmans Publishing Company, 2002).
22Ibid., 104.
23Paul G. Hiebert, Transforming Worldviews: An Anthropoligical Understanding
o f How People Change (Grand Rapids, MI: Baker Academic, 2008), 69.
Transformação da cosmovisão e missão | 179

No entanto, tomar a sério as cosmovisões dos variados povos do


nosso mundo a fim de compreendê-los e servi-los melhor é apenas parte do
significado de Apocalipse. Vamos compreender as respectivas cosmovisões
deles, a fim de transformar as cosmovisões e, assim, transformá-los (como
indivíduos e povo), sempre onde tal transformação for necessária para
uma genuína experiência de conversão e conexão vital com o Deus vivo.24
Embora nenhuma cultura precise submeter-se a uma transformação total
a fim de se tom ar cristã, os temas da cosmovisão e expressões culturais
contrárias às verdades bíblicas devem ser desafiados e mudados.
Isso não significa colonização, onde missionários ou cristãos de todos
os lugares promovem os valores e estilo de vida de sua própria cultura
ou subcultura como superiores aos daqueles que estão evangelizando ou
servindo, tentando, assim, comprimir todos que estão sendo evangelizados,
de modo a se encaixarem nos modos do evangelizador.25 Também não
significa contextualizar o evangelho como se, por causa de uma genuína
sensibilidade cultural, alguém pudesse despir o evangelho de uma forma
cultural e revesti-lo em outra. Não significa, também, desnudar o evangelho
de suas verdades e natureza intrínseca.
A primeira mensagem angélica, certamente, realça a abrangência
e a apreciação universal da cosmovisão bíblicamente esclarecida e
configurada pelo evangelho eterno. Isso significa reconhecer como a
cosmovisão bíblicamente esclarecida e configurada moldou a cosmovisão
(“o testemunho de Jesus”) e desafia todas as outras cosmovisões bem como
as culturas e o estilo de vida que cada cosmovisão engendra.

24Ibid.
25As culturas não são neutras. Todas elas possuem um certo e um errado que de-
vem ser confrontados com o padrão bíblico. E ainda, cada cultura é uma forma válida
de vida para os membros, de suas expressões da realidade e devem ser observadas no
contexto onde a missão ocorre, mesmo quando Deus tem agido antes da chegada de um
missionário trazendo a mensagem do evangelho. As culturas não devem ser substituídas
ou rejeitadas, mas abraçadas, avaliadas e formatadas de acordo com os valores e verdades
bíblicas. Nenhuma cultura deveria ser vista como cultura cristã padrão ou como superior
a outras culturas. Ver: Paulo De Oliveira, “Worldview: Vital for Mission and Ministry in
the 21st Century,” Journal o f Adventist Mission Studies, 5, no. 1 (2009): 26.
180 I Larry L. Líchtenwalter

De acordo com o Apocalipse, a cosmovisão de cada ser humano


deve ser desafiada e transformada por meio da proclamação do evangelho
eterno. Devemos lembrar que, mesmo com um a cuidadosa embalagem,
o evangelho eventualmente toma-se uma força dismptiva na vida das
pessoas que o aceitam.26 O evangelho tom a o ser humano incapaz de
participar completamente em sua cultura.27 Onde quer que o evangelho
seja pregado, rompe com os costumes, com a religião e com a economia
local. Desfaz qualquer cosmovisão. Desse modo, o evangelho eterno das
três mensagens angélicas, e qualquer pessoa que o aceite e o pregue, passa
a ser um agente de mudança, que suplanta qualquer cultura nativa.
Sabemos por experiência que, onde o evangelho eterno é articulado
ou interpretado em termos de cosmovisões não bíblicas, o resultado é
sempre um sincretismo cristianismo/paganismo. Vemos esse sincretismo
em todo o mundo, mesmo em países desenvolvidos onde a N ova Era
e elementos do fenômeno da Igreja Emergente misturam as religiões
mundiais com expressões de espiritualidade não bíblicas que muitas
vezes despersonalizam a Deus; promovem o mínimo de consciência
e pensamento sobre a razão; diminuem a importância do corpo físico e
comportamento; atraem uma pluralidade de materiais espirituais oficiais,
enquanto minimizam ou negam a prioridade das Escrituras; permitem
uma conexão direta com o divino, sem a necessidade de Cristo; negam a
realidade do pecado e da necessidade pessoal de expiação; individualizam
a espiritualidade, afirmando a superioridade do ser espiritual sobre o ser
religioso e/ou ativo na religião organizada (a igreja); desvalorizam o
serviço como elementar à espiritualidade, e a espiritualidade apocalíptico-
profética comunicada; e adotam um telos não temporal, para não
mencionar uma série de entendimentos distintivos dos adventistas

26P. Richard Choi, “A ll Things to All Men”: Paul Preaches to the World,” in A
Commentary on the Sabbath School Lesson fo r July 5-11, 2008 (Spectrummagazine.org,
2008).
27Ibid.
Transformação da cosmovisão e missão | 181

sobre as últimas coisas a respeito da natureza do homem na morte, a


guarda dos mandamentos de Deus, o conflito do sábado/domingo, etc.

Transformação da cosmovisão e missão


A questão da transformação da cosmovisão é importante à luz das
contínuas questões em missão: (1) a retenção de novos membros; (2) o
sincretismo por parte de antigos e novos membros (e de alguns líderes) e
(3) o testemunho efetivo onde o evangelho eterno mantém sua qualidade
disruptiva e traz mudança radical tanto nos indivíduos como na vida da
comunidade, de geração em geração. A última questão, porém não menos
importante, diz respeito à compreensão do coração do próprio evangelho
eterno.
A função da cosmovisão no “grande conflito”, e como a transformação
da cosmovisão é essencial para a conversão bíblica, é o centro dos desafios
missionários com os quais nos deparamos. Como sugerido acima, “o
testemunho de Jesus,” que forma a identidade do remanescente, ao qual
se apegaram tenazmente, e que proclamam apaixonadamente no mundo
inteiro, é uma cosmovisão profética apocalíptica que realizará uma
verdadeira transformação de vida às pessoas: conversão. Por quê? Porque,
no fundo, essa visão apocalíptica profética envolve possuir Jesus Cristo
como Salvador pessoal, assim como uma série de implicações existenciais,
morais e espirituais que trazem como resultado o pertencer a Cristo.28
Naugle sugere que “a concepção do cristianismo como uma
cosmovisão tem sido um dos desenvolvimentos mais significativos
na recente história da igreja.”29 Poderiamos afirmar que a concepção
do adventismo do sétimo dia é a única expressão da cosmovisão cristã
comunicada e moldada na Bíblia. Tal afirmação é um dos desenvolvimentos
mais significativos para que possamos nutrir nossa identidade, missão e
mensagem. Poderiamos afirmar também que as três mensagens angélicas

28Ver Rodriguez, The “Testimony o f Jesus” in the Writings o f Ellen G. White, 234-
235.
29Naugle, Worldview: The History o f a Concept, 4.
182 I Larry L. Lichtenwalter

encontradas no centro quiástico de Apocalipse devem compor e avaliar a


cosmo visão cristã global.
Se a compreendéssemos teologicamente ou a abraçássemos como
uma narrativa global, a cosmovisão de Apocalipse oferecería uma nova
perspectiva na natureza holística, dimensões cósmicas e aplicações
universais da fé bíblica e da verdade presente. A cosmovisão de Apocalipse
lembra-nos que a pregação do evangelho não é meramente a transferência de
conhecimento ou a mudança de comportamento, mas, sim, uma conversão
pessoal. No mundo contemporâneo, as mais importantes distinções e
fontes de conflito entre seres humanos não são mais ideológicas, políticas
ou econômicas. São culturais. No coração da cultura atual, a guerra é o
conflito entre as cosmovisões.30
E assim, esse estudo tem como propósito: (1) levantar a questão da
cosmovisão em relação ao tema do Grande Conflito em nossa pregação do
evangelho; (2) explorar os elementos e temas da cosmovisão e como eles
movem a ação e identidade própria humana bem como o grande conflito;
(3) mostrar como o Apocalipse contém esses elementos de cosmovisão
e temas, e apresentar uma distinta e oposta cosmovisão, em contraste
com a cosmovisão da falsa trindade e daqueles que habitam na terra; (4)
enfatizar como nosso chamado envolve cada nação, tribo, língua e povo,
e como nos leva a caminhar conscientemente na cultura e cosmovisão
deles, com a intenção de compreender onde eles estão e levá-los à visão
bíblica; (5) afirmar como tal compromisso com as culturas mundiais
e as respectivas cosmovisões é uma obra efetiva para transformar a
cosmovisão; (6) lembrar-nos que, de acordo com o Evangelho, o chamado
para a missão compreende, envolve e desafia a cultura e a cosmovisão
que uma dada cultura reflete; (7) explorar como o “testemunho de Jesus”,
que o remanescente agarra-se e proclama, é uma cosmovisão profética
apocalíptica que efetuará transformação de vidas (conversão) enquanto a
cosmovisão transforma a cosmovisão de seus ouvintes. M udar a crença

30Ibid., xv ii.
Transformação da cosmovisão e missão | 183

ou comportamento não é suficiente; a cosmovisão precisa ser mudada; (8)


explorar o papel da cosmovisão no grande conflito e como a transformação
da cosmovisão está integrada à conversão bíblica e ao centro da missão.
No restante do estudo queremos explorar como uma cosmovisão
é articulada. Queremos aprender melhor como a cosmovisão é formada
dentro de uma dada comunidade. E mais importante, queremos ter um
vislumbre de como uma cosmovisão é mudada.

Cosmovisão como narrativa, teologia e ritual

O conceito de cosmovisão
Há uma porção de ambiguidade no fascinante conceito de
cosmovisão. Por um lado, podemos intuir o que ela é, mas, por outro, é
difícil defini-la claramente ou descrevê-la adequadamente.31 É empregada
em diversos campos, incluindo filosofia, filosofia da ciência, história,
antropologia, sociologia, ética e pensamento cristão,32 contribuindo para
essa ambiguidade enquanto cada disciplina vem à discussão com diferentes
lentes e propósitos. Afinal, todos os seres humanos veem as coisas de acordo
com sua inclinação, inclusive os cristãos. E assim, qualquer ponto de vista
de uma cosmovisão é uma cosmovisão dependente.33 Os seres humanos
são prisioneiros de sua cosmovisão. Tanto que mesmo quando se trata da
Escritura como a autoridade ou o livro do Apocalipse em particular, eles estão
expressando uma cosmovisão. Não há definição única de cosmovisão aceita

31Hiebert, Transforming Worldviews: An Anthropoligical Understanding o f How


People Change; Dennis P. Hollinger, Choosing The Good: Christian Ethics in a Complex
World (Grand Rapids, MI: Baker Academic, 2002), 61-88; Naugle, Worldview: The His-
tory o f a Concept; Philip Graham Ryken, “What Is the Christian Worldview?,” (Phillips-
burg, NJ: P & R Publishing, 2006), 7, 8.
32“Desde seu princípio, com a Crítica do Julgamento, de Emmanuel Kant, em
1790, a noção de Weltanschauung tomou-se uma das concepções intelectuais centrais no
pensamento e cultura contemporâneos” (Naugle, Worldview: The History o f a Concept,
66 .)
33Ibid., 2 5 3 .
184 I Larry L. Lichtenwalter

por todos.34No entanto, há algumas coisas importantes que podemos entender


sobre cosmo visão e suas importantes funções pessoais, culturais e sociais.
Cosmovisão é a história que contamos para responder a questões
existenciais: Porque existe alguma coisa? Como podemos saber com certeza?
Como chegamos até aqui e porque estamos aqui? Qual é o significado da
existência humana? Por que as coisas vão tão mal? Existe alguma esperança
de melhora? O que devo fazer com minha vida? Aonde tudo isso vai chegar
no final? E Deus? Onde Ele está? Ele existe? Se sim, como Ele é? Que
diferença faz a existência da divindade no planejamento das coisas? Há um
lado escuro da realidade, da espiritualidade? O mal existe?
Além dessas questões básicas, uma cosmovisão tem a ver com
a visão do cosmos e todas as coisas dentro dele através de um conjunto
especial de lentes ou de um ponto de vista específico. Nossa cosmovisão
é a nossa maneira de encarar a vida, a nossa interpretação do universo, a
orientação do nosso mundo interior, um plano cósmico, por assim dizer. É
um quadro bem fundamentado de crenças e convicções, que oferece uma
perspectiva verdadeira e unificada sobre 0 significado da existência humana.
A cosmovisão fornece as categorias, baseadas na percepção geral (teológica,
filosófica, moral) por meio das quais interpretamos a realidade. E a estrutura
de compreensão que usamos para dar sentido ao nosso mundo. Nossa
cosmovisão é o que pressupomos.

Componentes da cosmovisão
A cosmovisão manifesta-se de três formas básicas e inter-relacionadas:
através de um componente narrativo, um componente racional e um
componente ritual. Todas as cosmovisões tendem a manifestar-se nessas
formas.35

34A produção e influência de múltiplas cosmovisões conceituais podem ser atribuí-


das a normas, autoridade, aos dominadores deste mundo tenebroso e forças espirituais do
mal nos lugares celestiais (Ef 6:12).
35Hollinger, Choosing The Good: Christian Ethics in a Complex World, 63-64;
Naugle, Worldview: The History o f a Concept, 291-330. Naugle, ao esboçar os compo-
nentes da cosmovisão, inclui: semiótica, narrativa, razão, hermenêutica e epistemología.
Transformação da cosmovisão e missão | 185

O componente narrativo da cosmovisão personifica as histórias que


contamos para dar sentido à realidade. Platão disse muito bem quando
afirmou: “Aqueles que contam histórias governam a sociedade.” As
histórias são uma forte influência cultural. São poderosas para estabelecer
um contexto para a vida. Elas agitam a mente e imaginação. Grandes
histórias transportam idéias gigantes, dignas de contemplação e diálogo.
Sua grande influência e enredo desenvolvem e moldam a consciência e a
mente humana.36 Tais narrativas da cosmovisão criam um tipo particular
de “mente” e servem como “histórias controladoras.”
A estrutura literária básica do Apocalipse é de caráter narrativo.37
É uma história com um elenco de personagens intrigantes e uma
trama envolvente.38 É uma narrativa profética apocalíptica, que
afirma um ponto de vista específico: uma cosmovisão.39 Ela coloca

36Naugle, Worldview: The History o f a Concept, 297.


37Como uma boa história, há uma introdução (1:1 -8) e uma conclusão (22:6-21). A
história entre estes delimitadores, no entanto, é única. A narrativa é contada por três his-
tórias aparentemente distintas, muito diferentes, mas profundamente inter-relacionadas.
Referem-se a realidades/morais e a Jesus: (1) a história do motivo de João estar em Pat-
mos, sua visão do Cristo eterno e as cartas às sete igrejas (1:9-3:22), (2) a abertura do li-
vro selado no meio da adoração celeste, com a posterior revelação dos sete selos, das sete
trombetas e a continuação da adoração (4:1-11:19); e (3) o dragão cósmico perseguindo
a mulher cósmica que é vencido numa guerra cósmica, resultando no estabelecimento de
uma ordem completamente nova (12:1-22:5).
38Não podemos deixar de nos surpreender com o número e a diversidade de perso-
nagens encontrados ao longo da história, bem como as entrelaçadas linhas da história. Há
personagens pertencentes a mundos diferentes, humano e divino, bem como uma varie-
dade de criaturas estranhas, bestiais e angelicais. Há personagens principais e secundários
e aparições de personagens por figuras conhecidas. Podem-se ver cenas bizarras e mara-
vilhosas, personagens, criaturas e eventos, bem como ouvir vozes e ruídos (Apocalipse é
um banquete visual).
39Ver David L. Barr, Tales o f the End: A Narrative Commentary on the Book o f
Revelation (Santa Rosa, CA: Polebridge Press, 1998); David L. Barr, Waitingfo r the End
that Never Comes: The Narrative Logic o f John’s Story (ed. Steve Moyise; N ew York,
NY: T & T Clark, 2001); David L. Barr. “The Story John Told: Reading Revelation for
its Plot,” in Reading the Book o f Revelation: A Resource fo r Students (ed. David L. Barr;
Atlanta, GA: Society o f Biblical Literature, 2003), 11-23; Adela Yarbro Collins, “Reading
the Book o f Revelation in the Twentieth Century,” Interpretation, xl, no. 3 (1986): 242;
Gilbert Desrosiers, An Introduction to Revelation (New York, NY: Continuum, 2000),
10-24; James L. Resseguie, The Revelation o f John: A Narrative Commentary (Grand
Rapids, MI: Baker Academic, 2009).
86 ‫ו‬ I Larry L. Lichtenwalter

todas as outras metanarrativas no contexto e avalia sua credibilidade.


Um componente racional da cosmovisão reflete nossa tentativa em
dar uma formulação lógica ou analítica a nossas crenças e compromissos.
As coisas precisam ter sentido, alinhar-se logicamente, ser explicadas e ter
fundamentação em algo mais que uma história convincente. Lidamos com
informação, fatos, evidências, argumentos e lógica/razão. Procuramos
entender sistemática e logicamente. Como explicar melhor a origem e
natureza do universo, bem como a condição humana e os fatos da história?40
O componente racional da cosmovisão organiza temas fundamentais
como: a existência e caráter de Deus; origem; natureza humana; as bases
da autoridade e normas; teodiceia e o problema do mal; tempo; espaço; o
eu e o outro; e esperança (a consumação final das coisas). Há também a
questão da epistemología. Como sabemos o que sabemos? Como saber o
que é verdade? Como saber o que é moralmente certo ou errado?
Na superfície, o componente racional do Apocalipse parece modesto,
e ainda é fortemente refletido nas descrições do livro, explicações,
autointerpretação, vividos contrastes e justaposições, hinos e explosões de
louvor, interlúdios, passagens de transição, retórica, alusões temáticas e
verbais das Escrituras do Antigo e Novo Testamentos, o foco temporal do
cenário e sequências históricas, bem como seu ponto de vista. Os temas de
criação/recriação, santidade, justiça, fidelidade à aliança, verdade, juízo,
pecado, redenção, idolatria, e guarda dos mandamentos de Deus, são
exibidos para apreciação e orientação moral/espiritual. O Apocalipse coloca
o leitor em um contexto moral e espiritual. Informa ao leitor quem são os
agentes. Diz qual a condição da vida humana. Informa onde estamos, para
onde estamos indo, que questões precisam ser respondidas. Fornece um
mapa filosófico para uma maior visão moral contra a qual os seus diversos
temas morais e espirituais são dirigidos. Ao fazê-lo, traz compreensão
sobre o nível histórico, teológico, moral, espiritual e interpretativo.41 Por

40Questões como: Deus existe?


41O componente racional de Apocalipse afirma: (1) uma consistente moralidade
com uma existência humana; (2) divina criação do mundo como a cosmovisão global para
Transformação da cosmovisão e missão | 187

duas vezes aparece a exortação para a compreensão dos mistérios do livro


(13:8; 17:9). O leitor deve ouvir e guardar o que aprende do livro (1:3; 2:7,
22:7). Assim, 0 leitor é direcionado racional e emocionalmente.
Finalmente, os símbolos que usamos e os costumes/rituais que
realizamos incluem e reforçam a nossa cosmovisão. Este é o material da
cultura: a cosmovisão é 0 nível mais profundo da cultura e a cultura é a
manifestação externa visível de pressupostos da cosmovisão.42 A cultura e
os costumes estão repletos de cosmovisão e refletem símbolos e rituais.43
A cosmovisão através da cultura sempre se expressa em formas tangíveis,
mesmo que a dinâmica imaterial cosmovisão/cultura sejam realizadas
em formas temporais e materiais. Aqui entramos no campo das idéias,
sentimentos e valores culturais, como expressados no comportamento e na
crença. Aqui está previsto o nosso compromisso concreto com o ambiente
de negócios, celebridades, música, moda, TV, esportes, artes, publicidade,
comércio, entretenimento, parques temáticos, costumes sociais, sociedades,
etc, que refletem e reforçam aquilo em que acreditamos e valorizamos.44

a ética; (3) pecado e “queda” da natureza humana como base espiritual/moral da realida-
de, dentro da qual o pensamento ético, a escolha e a ação são encontrados e expressados;
(4) a “cosmovisão de guerra” (Grande Conflito) como pano de fundo para a existência e a
natureza do mal, da escolha humana e da responsabilidade moral e caráter e ação divinos;
e (5) a graça divina e a redenção como fornecendo o “já e o ainda não” no âmbito da ética,
bem como o fundamento da ação moral e a vitória.
42Oliveira, “Worldview: Vital for Mission and Ministry in the 21st Century,” 27.
43Como H. Richard Niebuhr nota: “O esforço humano compele a empregar de
formas concretas, palpáveis, visíveis e audíveis o que foi discernido pela imaginação.
A harmonia e a proporção, a forma, a ordem e o ritmo; o significado e as ideias que os
homens intuíram e traçaram ao enfrentar a natureza, os eventos sociais e 0 mundo dos
sonhos. Este, pelo trabalho infinito, deveria pintar em parede ou em tela, imprimir em
papel como métodos de filosofia e ciência, contornar em pedra esculpida ou fundida em
bronze, cantar uma balada, ode ou sinfonia. Visões da ordem e da justiça, esperança da
glória, foram corporificadas com certa dificuldade em leis escritas, aos ritos dramáticos,
às estruturas de governo, aos impérios, à vida ascética”. H. Richard Niebuhr, Christ and
Culture (New York, N.Y.: Harper & Row, Publishers, 1975), 36, 37.
44Ver Malcolm Gladwell, The Tipping Point: How Little Things Can Make a Big
Difference (New York, N.Y.: Little, Brown and Company, 2002); Jon Pahl, Shopping
Malls and Other Sacred Spaces: Putting God in Place (Grand Rapids, MI: Brazos Press,
2003); Caig Detweiler and Barry Taylor, A Matrix o f Meanings: Finding God in Pop
Culture (Grand Rapids, MI: Baker Academic, 2003).
188 I Larry L. Lichtenwalter

Aqui os nascimentos, os ritos de passagem, os casamentos, os funerais,


as celebrações de colheita e outros rituais de nossos pressupostos da
cosmovisão são mais evidentes.45 Esses comportamentos concretos apoiam
nossas crenças fundamentais com reforço emocional, e não são facilmente
destruídos. Elementos tais quais a arte, a música, a arquitetura, os costumes e
estilos de vida, moda, hábitos, valores, crenças ou maneiras de ver as coisas,
relatam a história de um povo em aspectos distintos, expressam e ajudam
a criar uma cosmovisão. Eles têm uma maneira estranha de desequilibrar
nossa mente consciente para o passado. Impactam-nos de maneira sutil.
Nem tudo é ruim, é claro. Boa parte da cultura é neutra, mas uma parte
maior ainda é mundana. No entanto, o mal está tragicamente presente tanto
nas expressões sociais como nas pessoais. A expressão cultural simbólica
e ritual da cosmovisão é um esforço extremamente humano e terreno, que
muitas vezes nos distrai do que é realmente importante.
O componente simbólico (ritual) de Apocalipse é evidenciado na
censura e exortação às sete igrejas. Ações concretas e experiências foram
trabalhadas com um significado incrível: chamando a si mesmo de nicolaíta
ou judeu, comendo coisas sacrificadas aos ídolos, cometendo imoralidade,
ou na sexta trombeta, quando indivíduos não quiseram se arrepender da
idolatria e suas correspondentes falhas éticas. Em larga escala, há a marca
da besta, o nome da besta e o número do seu nome; há o que comprar e
vender, a imagem da besta, o selo de Deus, etc. O motivo da adoração em
Apocalipse implica algum tipo de ritual e/ou comportamento apropriado
(cair ao chão, não adorar o anjo - angelologia, etc.). Há, também, o povo de
Deus que adora o Criador, guarda os mandamentos, guarda o testemunho de
Jesus, não mancha suas roupas, etc. Cada um tem uma tangível dimensão

45Hiebert, Transforming Worldviews: An Anthropoligical Understanding o f How


People Change, 29. Eles repetem nossa visão da realidade, ritualizando nossas crenças e
compromissos morais. Por exemplo, quando se celebra um casamento, ritualizamos nos-
sas crianças e compromissos morais sobre casamento, família, intimidade sexual e filhos.
E quando nos unimos num funeral, repetimos e reforçamos nossas crenças e compromis-
sos morais a respeito do significado da vida, morte, eternidade e Deus.
Transformação da cosmovisão e missão | 189

cultural/ritual em termos de idéias, sentimentos, valores e ações como um


trabalho extra da cosmovisão de Apocalipse.
Todos estes três componentes da cosmovisão desempenham um
papel na formação moral/ espiritual e de vida. E porque cada um está
presente no livro do Apocalipse, como um todo, e nas três mensagens
angélicas, em particular, cada componente deve ser mantido em vista,
como se procurássemos entender melhor a relação entre a transformação
da cosmovisão e a missão, tal como expressos no livro. A cosmovisão
desempenha um papel importante na ética e está no centro da reflexão
e ação moral. Há sempre uma inter-relação entre ética e cosmovisão, ou
cosmovisão e caráter.

Temas da cosmovisão de Apocalipse


Que temas ou questões estão incluídos na cosmovisão? Já
mencionamos alguns deles acima, mas para nossos propósitos
aqui, os listaremos brevemente: Deus, origens, natureza humana,
normas/autoridade, o problema do mal, a esperança para o futuro.
Uma cosmovisão bíblica informada segundo o livro de Apocalipse
inclui:
Deus. Deus existe como uma trindade celestial: Deus, Filho, Espírito
(1:4-6). Ele é onipotente, santo, honesto e justo, guarda a aliança (1:4,
8; 4:8; 15:3, 4; 19:1-6; 21:1-8). Ele é Criador, Juiz e Rei (4:11; 14:7;
15:3). Ele é o Deus vivo que age em harmonia com Seu santo caráter e
relacionamento da aliança (1:4, 8). O Deus do Apocalipse é pessoal (4:11;
14:7).
Criação e natureza humana. A divina criação do mundo é a
cosmovisão global do Apocalipse para a vida ética e espiritual. Toca a
realidade humana, expressando o valor e a natureza dos seres humanos.
Deus é adorado como um Criador pessoal (4:11).46

46Ver minha discussão em: Larry L. Lichtenwalter, “Creation and Apocalypse,”


Journal o f the Adventist Theologial Society, 15, no. 1 (Spring 2004).
90 ‫ו‬ I Larry L Líchtenwaiter

Ética. A visão moral de Apocalipse engloba um a moralidade


consistente com a genuína existência humana e a vida. Os temas da “árvore
da vida” e da “comunidade interna e comunidade externa” da Santa Cidade
postulam a vida moral/espiritual de acordo com a ordem vigente e com a
natureza humana (22:11-15; 12:17; 14:12; cf. 9:20, 21).
A queda no Gênesis e a natureza humana. Pecado e natureza
humana “caída” são realidades morais/espirituais fundamentais em que o
pensamento ético, escolha e ação são encontrados e expressados. (11:18,
19; 1:5; 3:21; 2:13; 18:4, 5; 22:11; 9:20, 21; 16:9,11; cf. Gn 6:11-17; 19:1-
29)
Cosmovisão bélica. O Grande Conflito é o pano de fundo para a
existência e a natureza do pecado, escolha humana e responsabilidade moral,
bem como ação e caráter divinos (cap. 12-14). Deus está em longabatalha (não
eterna) contra Satanás, e esse conflito é agrande dimensão na tela final contra
a qual tudo dentro da narrativa do Apocalipse será pintado e compreendido.
Tempo e História. Tempo e história são a esfera em que os seres
humanos vivem a vida. A história é a arena da atividade de Deus nos
assuntos humanos. O Apocalipse nos assegura: (1) Questões terrenas:
onde estamos (1:4; 2:1-3:22; 2:13; 14:6); (2) Questões temporais: quando
as coisas acontecem: (1:1, 3, 19; 4:1; 12:1-17) e (3) Questões históricas:
a crônica/história do que acontece, o quando e o porquê, i.e., as igrejas
(2:1-3:22), os selos e as trombetas (6:19:2 1 ‫)־‬, o livrinho aberto e as duas
testemunhas (10:1-11:19), a sequência histórica apocalíptica do grande
conflito com a cruz como ponto de viragem na história e o conflito final
juntam ente com a colheita na terra (12:1-14:20).
Espaço e proximidade. As realidades espaciais são representadas
num universo organicamente ligado em três camadas (céu, terra, abismo).
A imagem do santuário destaca a ligação entre céu e terra, fornecendo
percepções da realidade, da história e da proximidade da interação divina,
demoníaca e humana. Tempo e espaço (esta terra) são a esfera em que
vivemos a vida e onde Deus age. O Apocalipse nos assegura as questões
espaciais (onde as coisas acontecem).
Transformação da cosmovisão e missão | 191

Expiação e graça. O Apocalipse fornece o auxílio prometido: a


graça (1:4-5; 22:21; 19:7, 8). A graça divina e a redenção fornecem uma
abrangência do “já e ainda não” à vida humana, bem como o campo da
ação m orale a vitória (1:5,6; 5:9-10; 6:9-11; 8:3-4; 12:17; 14:12; cf. 14:1-
5; 7:9-15). Fatores da expiação substitutiva fornecem amplamente imagens
da redenção e libertação do pecado e nosso mundo caído (1:5; 5:9; 7:14;
12:10, 11; 17:14; 22:14). Deus coloca o redimido numa nova posição,
i.e., reis e sacerdotes (1:6; 5:10). O problema do pecado foi resolvido via
sangue do Cordeiro (1:5; 5:9; 7:14; 12:11).
Consumação final. A visão de Apocalipse do novo céu e da nova
terra com o mal finalmente vencido celebra a vitória de Deus em aliança
fiel à Sua criação (20:1-22:5) com a ressurreição para a vida, Satanás preso
e destruído, pecado e pecadores removidos. Deus cria um novo céu e uma
nova terra. Agora os santos desfrutam de comunhão face a face com Deus.
A comunidade interna e externa da cidade pode desfrutar de paz eterna.
Não há mais mar, lágrimas, morte, manhã, choro ou dor. Mas ainda agora
a oportunidade de experimentar a graça está em aberto (20:27; 22:17).

Narrativa global do Apocalipse


Enquanto identificamos vários temas e questões da cosmovisão
do Apocalipse conforme visto, podemos resumir os pontos principais da
narrativa:47
A cosmovisão do Apocalipse infere a existência objetiva do Deus
triúno, cujo caráter essencial estabelece a ordem moral do universo e cujo
caráter, Palavra e mandamentos definem e governam todos os aspectos do
ser criado.48

47Adaptado de Naugle em Worldview: The History o f a Concept: Naugle, World-


view: The History o f a Concept, xix. A teoria contemporânea da cosmovisão reflete uma
relatividade sociológica enquanto que uma compreensão bíblica da cosmovisão conecta-a
com uma visão adequada da objetividade e subjetividade, bem como das doutrinas do
pecado, guerra espiritual, graça e redenção.
48Ibid., 260-267.
192 I Larry L. Lichtenwalter

A cosmovisão de Apocalipse sugere que os seres humanos, como


imagem e semelhança de Deus, estão ancorados e integrados no centro,
como a esfera subjetiva da consciencia, que é decisiva para a formação de
uma visão de vida moral e espiritual assim como para o cumprimento da
função atribuída à noção de cosmovisão.49
A cosmovisão de Apocalipse sugere o efeito catastrófico do pecado
no coração e mente do ser humano, resultando na fabricação de sistemas
de crença idólatras em lugar de Deus e o engajamento da raça humana na
guerra espiritual cósmica onde a verdade sobre a realidade e o significado
da vida está em jogo. Isso é o grande conflito.50
A cosmovisão de Apocalipse sugere a benevolente irrupção no reino
de Deus na história humana, através da pessoa e obra do ressuscitado,
exaltado e glorificado Jesus Cristo, que expiou o pecado, venceu os
principados e potestades e permitiu que aqueles que creem Nele conheçam
o verdadeiro Deus e compreendam adequadamente o mundo como Sua
criação.51
A cosmovisão de Apocalipse afirma que Jesus nos ama (1:5; cf. 3:9,
19). Que Jesus assiste adequadamente ao problema do pecado através de
sua morte substitutiva (1:5; 5:9-10; 12:10-11; 7:14).52 Que Jesus criou-nos
numa nova situação no mundo como reis e sacerdotes (1:6; 5:10). Que Je-
sus é vitorioso sobre tudo e determina o resultado final da história humana
(5:1-8:1). Que Jesus virá outra vez (1:7; 22:7, 12, 20). De fato, isso é,

49Ibid., 267-274.
50Ibid., 274-284.
51Ibid., 284-289.
52N o Apocalipse, o pecado é visto como escravidão (1:5); dívida incalculável
(5:9); profanação moral/espiritual (7:14) e culpa e condenação (12:11). Em cada caso
0 sangue do Cordeiro é poderoso. Liberta da escravidão do pecado (1:5). Adquire-nos
para Deus, ou seja, paga a nossa dívida de pecado diante de Deus com méritos que jamais
poderiamos imaginar (5:9; 8:2-3). Limpa profundamente da sujeira moral/espiritual, para
que estejamos diante do trono de um Deus santo (7:9, 10, 14, 15). Justifica e liberta-
nos de toda condenação diante de Deus e da voz acusadora de Satanás e/ou consciência
(12:10, 11; cf. Rm 8:1, 31-34).
Transformação da cosmovisão e missão | 193

em essência, a narrativa da cosmovisão de Apocalipse comunicando que a


ligação entre Deus e Seu povo é íntima e definitiva.53
A cosmovisão de Apocalipse é uma unidade com a criação, queda,
fidelidade à aliança divina, redenção no contexto da justiça e do juízo
final, e a nova criação.54 Coloca o duradouro (mas não eterno) grande
conflito entre Cristo e Satanás e o domínio de Cristo sobre o cosmos e toda
a vida humana. O Cordeiro de Apocalipse é o Cristo vitorioso.

A tranformação da cosmovisão em Apocalipse

O centro de qualquer discussão sobre missão e transformação da


cosmovisão vai além das questões dos componentes da cosmovisão, temas
e narrativa. Alcança a possibilidade e a necessidade da transformação
da cosmovisão, i.e., conversão pessoal, a transformação do caráter,
pensamento, valores, sentimentos e conduta. Levanta a questão de como
a cosmovisão é desafiada, substituída e transformada, atualmente. Ocorre
por causa do medo, coerção, pragmatismo, razão, domínio cultural ou
decepção? Ou há um elemento que cativa o interior com esperança, graça
e paz?
Qualquer cosmovisão tem uma profunda natureza existencial. A
fim de que a cosmovisão seja transformada, o desafio deve ser maior que
idéias abstratas ou verdades convincentes sobre a realidade. Deve tocar o
interior da pessoa.
E obvio, mas a menos que a pessoa rejeite completamente sua
cosmovisão, nunca aceitará outra. Somente quando questionar ou rejeitar
completamente uma cosmovisão, é que se abrirá para outra. O sincretismo
sugere uma modificação da cosmovisão ou fusão de cosmovisões porque,
de algum modo, pode acomodar uma a outra, ou a pessoa pode ter alguma

53Ellen White nota que “Uma coisa compreender-se-á certamente do estudo de


Apocalipse - que a ligação entre Deus e Seu povo é íntima e decidida”. (Ellen G. White,
Testimonies to Ministers, 114.)
54Naugle, Worldview: The History o f a Concept, xx.
194 I Larry L. Lichtenwalter

divergência com elas. O Apocalipse não permite tal sincretismo. Uma


questão quanto à visão da cosmovisão em Apocalipse: O que leva uma
pessoa a trocar de cosmovisão? Se o Apocalipse coloca a cosmovisão em
conflito e a cosmovisão do evangelho eterno está firmada no contexto do
“testemunho de Jesus” como a cosmovisão ideal, como ela avalia, desafia
e muda uma cosmovisão individual terrena e ainda a vida? O que causaria
um a clara ruptura com a cosmovisão terrena a fim de aceitar a cosmovisão
moldada pelo “testemunho de Jesus?”

O Livro da Vida do Cordeiro


Para responder essa questão é preciso voltar à discussão anterior
sobre “aqueles que habitam na terra” . A afirmação mais significativa do
Apocalipse com respeito “àqueles que habitam na terra” não é que eles
seguiram a besta e a adoraram, nem que derramaram o sangue dos santos
e profetas, nem que eles não conseguiram ver além dos olhos, mas que o
nome deles não está escrito no Livro da Vida do Cordeiro (13:8; 17:8; cf.
21:27; 20:15):55 “E adorá-lo-ão todos os que habitam sobre aterra, aqueles
cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi
morto desde a fundação do mundo” (13:8); “e aqueles que habitam sobre
a terra, cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida desde a fundação
do mundo, se admirarão, vendo a besta que era e não é, mas aparecerá”
(17:8). Duas vezes o Apocalipse afirma essa característica: “aqueles que
habitam na terra” . É interessante que a gramática muda do plural “aqueles
que habitam a terra” para o pronome relativo singular hos (ou gegraptai to
onoma autou), para enfatizar que “nem uma única pessoa” entre aqueles
que habitam na terra está nomeado no Livro da Vida do Cordeiro.56
O Livro da Vida do Apocalipse é específicamente identificado como
“o livro da vida do Cordeiro” (13:8; 21:27). Aqui, a morte sacrifical e a obra
substitutiva de Cristo na cruz estão claramente em vista. A morte de Cristo

55Osborne, Revelation, 502.


56Ibid. Em 17:8 o pronome relativo é plural, i.e., ou ou gegraptai to onoma, embo-
ra o verbo (foram escritos) e o substantivo (nome), ambos estejam no singular.
Transformação da cosmovisão e missão | 195

não apenas tom ou possível o livro da vida, mas o registro de cada nome
no livro. Há pouca dúvida de que a morte substitutiva de Cristo esteja
relacionada ao propósito do livro da vida. Por quê? O que isso sugere?
Enquanto que “aqueles que habitam na terra” não têm seus nomes
escritos no livro da vida do Cordeiro, o povo remanescente de Deus
mantém o testemunho de Jesus e tem o nome escrito nesse livro. Isso é
evidenciado a partir do modo como eles venceram, pelo sangue do Cordeiro
e a palavra do seu testemunho pessoal a respeito de Seu sacrifício em
favor deles (12:11). No Apocalipse, também está evidenciado o paralelo
intencional com o remanescente em 12:17, com a visão dos 144.000 diante
do Cordeiro no M onte Sião e as três mensagens angélicas focadas no
Evangelho eterno, julgamento dos perdidos na presença do Cordeiro, e os
mortos no Senhor (14:1-13).57 E aqui que a ligação entre a transformação
da cosmovisão e a conversão em Apocalipse é mais clara. Em Ap 14:1-
5, João dá outro vislumbre das pessoas referidas em 12:17. Daremos
um relato breve, com alguns detalhes, mas a narrativa global é clara.58

Mente renovada e transformação


Apocalipse 14:1 abre com a visão do Cordeiro no Monte Sião e os
144.000 diante dEle. A pequena preposição com fala por si mesma (cf.
17:14); fala de relacionamento, identidade e orientação moral/espiritual.
O escritor afirma que esses 144.000 traziam escritos na fronte 0 nome
do Pai e o nome do Cordeiro (14:1). A familiaridade com a imagem

57Os ziguezagues temporais e narrativos, e as recapitulações de Apocalipse 12-


14 estabelecem um paralelo entre o remanescente da semente da mulher em 12:17, os
144.000 e as três mensagens angélicas 14:1-13. Estes capítulos incluem marcadores tex-
tuais da sequência profética apocalíptica, que nos permitem localizar as várias partes da
narrativa na história, em relação com a cruz de Cristo e do fim dos tempos. Ver: Jon Pau-
lien, “The End o f Historicism? Reflections on the Adventist Approach to Biblical Apo-
calyptic - Part Two,” Journal o f the Adventist Theologial Society, 17, no. 1 (Spring 2006).
58Apocalipse 13-14 como uma unidade: (A) Eu vi - 13:1-10, aqui está a perse-
verança 13:10; (B) Eu vi - 13:11-18, aquí está a sabedorial3:18; (3) Eu vi - 14:1 ...Eu
vi - 14:6 ...aquí está 14:12 ...esse padrão mostra que os 144.000 são parte da tríplice
mensagem angélica.
196 I Larry L. Lichtenwaiter

bíblica do nome e fronte compreende que Apocalipse está falando


novamente de cosmovisão, i.e., como os 144.000 pensam e sentem, o
que eles valorizam, quais as convicções internas deles. Está claro que
o remanescente redimido possui o que o apóstolo Paulo chamaria de “a
mente de Cristo” (cf. 1 Cr 2:16; F12:5-8). Eles possuem a mente de Deus.
São transformados pela renovação da mente deles. Os 144.000 observam,
experimentam e representam o que Deus valoriza. Isso sugere uma radical
transformação da cosmovisão de acordo com o princípio bíblico de que
somos “transformados pela renovação da mente” (cf. Rm 12:2).
Além disso, o texto fornece algumas informações extraordinárias
sobre os 144.000 que estão com o Cordeiro: (1) afirma-se, duas vezes,
que foram comprados da terra (14:3, 4); (2) desassociam a si mesmos,
conscientemente, de elementos religiosos e culturais inconsistentes com
sua identidade e chamado, i.e., cosmovisão; eles sabem quem são e o que
devem ser (14:4); eles seguem o Cordeiro aonde quer que vá (14:4), que
em Apocalipse é a forma de autossacrificar o eu, a fim de ter autoridade
moral para ganhar almas para o reino celeste; (4) a vida moral deles está
em harmonia com as realidades morais da cosmovisão do Apocalipse, i.e.,
não há mentira na boca deles; não há mácula (14:5); (5) como primicias da
grande colheita, experimentaram pessoalmente as realidades do evangelho
eterno antes de proclamá-lo com influência salvadora e poder (14:4).
Há pouca dúvida de que a transformação da cosmovisão e a
experiência pessoal da redenção estejam envolvidas no contexto do que
significa estar com o Cordeiro (14:1; 17:14; cf. 1:5, 6; 5:9-10).

Lavam suas roupas


O Apocalipse fornece duas visões complementares dos 144.000.
Uma é encontrada no contexto da questão sobre quem estará em pé quando
Jesus voltar, i.e., quem será salvo, enquanto que a outra está no contexto de
um caráter e vida transformados.
Transformação da cosmovisão e missão | 197

No capítulo sete, João ouviu que os 144.000 foram selados na fronte


(7:1-4). Mas no capítulo 14, ele vê parte do que implica o selamento: os
nomes do Pai e do Cordeiro, pensar como Deus e o Cordeiro, ser como
Deus e o Cordeiro, ter orientação moral arraigada em Deus e no Cordeiro.
O capítulo 7 relata que João ouviu que os 144.000 foram selados, e ele ainda
vê uma inumerável multidão, vestida com vestiduras brancas, lavadas no
sangue do Cordeiro: “São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram
suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (7:14).
O princípio interpretativo de como o que João vê em visão interpreta
e/ou complementa o que ele ouve em visão, sugere que o selo de Deus
na fronte e a lavagem das vestiduras brancas no sangue do Cordeiro são
duas formas de observar a mesma realidade espiritual.59 Com certeza, lavar
vestiduras brancas no sangue do Cordeiro no capítulo sete, explica 0 que
significa ser selado por Deus na fronte. Juntamente com as duas imagens,
responde à rica questão do sexto selo: “E quem é que pode suster-se?”
(6:17). A única forma de suster-se quando Jesus voltar é ter lavado as vestes
no sangue do Cordeiro (7:14). É isso que significa estar com o Cordeiro
e compartilhar sua vitória (17:14; cf. 13:8; 12:11). No capítulo 14, esse
selamento é simbolizado como tendo, na fronte, o nome do Pai e o nome
do Cordeiro. Liga-se duas vezes à realidade existencial da obra redentora

59A chave para a visão de João dos 144.000 (7 :1 4 ‫ )־‬é reconhecer o contraste entre
0 que ele ouve (7:4) e o que ele vê (7:9, 10). Em Apocalipse, João várias vezes ouve coi-
sas e então observa que o que ouve, com frequência, é radicalmente diferente do que foi
ouvido. O padrão de ouvir e ver é um elemento literário interpretativo significativo dentro
do livro: “Eu, João, sou quem ouviu e viu estas coisas. E, quando as ouvi e vi, prostrei-
me ante os pés do anjo que me mostrou essas coisas, para adorá-lo” (22:8). João ouve a
trombeta mas vê 0 Cristo vivo (1:10-13). Ele ouve que 0 Leão da tribo de Judá venceu,
mas vê um Cordeiro morto (5:5, 6). Ele ouve a respeito da prostituta sentada sobre mui-
tas águas, mas a vê montada numa besta escarlate (17:1-5). Ele ouve sobre a noiva do
Cordeiro e vê a cidade santa (19:6-9; 21:1-5). Ele ouve que 144.000 foram selados, mas
vê uma multidão inumerável (7:4, 9-10). O que João vê interpreta o que ele ouve. O que
João ouve e vê são ângulos da mesma realidade. Mesma entidade, ângulos diferentes, di-
ferentes compreensões. Juntos, trazem a totalidade quanto ao panorama e à compreensão.
Ver Bauckham, The Theology o f the Book o f Revelation, 74; Beale, The Book o f Revela-
tion: A Commentary on the Greek Text, 424-425; Resseguie, The Revelation o f John: A
Narrative Commentary, 136-140.
98 ‫ו‬ I Larry L. Lichtenwalter

de Cristo de ser comprador da terra (14:3, 4), via sangue do Cordeiro, de


acordo com Apocalipse 5:9-10, cf. l:5-6.60
Lavar as vestiduras brancas e tomá-las brancas no sangue do
Cordeiro é uma extraordinária realidade existencial e está relacionada com
o centro da transformação da cosmovisão apocalíptica (7:14,15). Como as
vestes em Apocalipse simbolizam o caráter, a imagem de lavar as vestes
no sangue do Cordeiro sugere a imersão do eu nos méritos substitutivos
do sangue de Cristo. A cosmovisão é, principalmente, a obra do coração
em sua operação essencial, definindo, assim, a pessoa e fornecendo os
pressupostos fundamentais em que a vida é baseada.61A cosmovisão bíblica
“implica a redenção graciosa de Deus, que liberta o coração do homem e
da mulher da idolatria e das falsas idéias sobre a vida, engendradas pelo
engano satânico e a cegueira do pecado. Capacita-os, através da fé em
Cristo Jesus, a conhecer a Deus e a verdade acerca de sua criação e todos
os aspectos da realidade.”62
Mas, como isso acontece? O que leva a esse tipo de experiência?

O Cordeiro que foi morto


A visão da transformação da cosmovisão apocalíptica sugere que ela
é concedida em resposta à abnegação e ao sacrifício do Cordeiro morto:
“E entoavam novo cântico, dizendo: ‘Digno és de tomar o livro e de abrir-
lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus
os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus
os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra.’” (5:9, 10; cf.

60O leitor deveria notar a distinção, a correspondência e a sobreposição entre a rea-


lidade bíblica do selamento evangélico, por um lado, que é experimentado na conversão,
quando se recebe a Jesus Cristo como Senhor e Salvador (E f 1:13; 4:30; cf. Jo 3:16-21;
2Tm 2:19; Ap 9:4), e do selamento apocalíptico, por outro lado, que é uma experiência de
preservação escatológica da verdade evangélica, que se aprofunda tanto intelectual como
experimentalmente, no contexto da crise do fim dos tempos. (7:1-4; 17:14; 22:11-15; Cf.
Ez 9:3-11).
61Naugle, Worldview: The History o f a Concept, 291.
62Ibid., 260.
Transformação da cosmovisão e missão | 199

1:5, 6; 17:14). Há uma nova posição diante de Deus, uma nova posição
no Grande Conflito, uma nova identidade, um novo chamado, uma missão
global, a razão: a cruz do Cordeiro de Deus.
Aqueles que lavaram suas vestes e as alvejaram no sangue do
Cordeiro, estão, por essa razão lavados, “diante do trono de Deus e o
servem de dia e de noite no seu santuário” (7:15). As nações foram
reconciliadas (compradas) por Deus e tomaram-se um novo povo,
reconciliado (um reino) com o sangue do Cordeiro (5:9, 10; 1:5, 6; cf.
17:14; 12:11). O sangue do Cordeiro é a única maneira de vencer (12:11).
E alguns sacrificarão sua vida, por causa do amor do Cordeiro, que foi
morto por eles (12:11). Isso implica um a extraordinária transformação de
cosmovisão, i.e., o ajuste de valores, prioridades e a visão de si mesmo
em relação a eles. O derradeiro valor já não é a preservação da vida, mas
honrar e seguir o Cordeiro que foi morto (5:12; 14:4; 17:14).
O Cordeiro morto, ressurreto, exaltado - quem ele é, o que ele fez,
o que está fazendo, o que fará, o que pode fazer - é fundamental à tríplice
mensagem angélica, em particular Apocalipse 12-14 como um todo. No
capítulo 12, há o Cordeiro que venceu e através do seu sangue o crente
vence e já não prioriza a vida dele aqui na terra (12:7-12). No capítulo
13 há o Livro da Vida do Cordeiro morto desde a fundação do mundo
(13:8). No capítulo 14, o Cordeiro está pé em meio aos 144.000 e conduz
os remidos que comprou (14:1-5). N a mensagem dos três anjos, encontra-
se o Cordeiro presidindo pessoalmente o julgamento dos perdidos que
experimentaram a ira de Deus sem mistura, na presença do Cordeiro
(14:6-13). O Cordeiro é o centro do capítulo 12. O Cordeiro é o centro do
capítulo 13. O Cordeiro é o centro do capítulo 14.
Esse evangelho eterno centraliza-se no testemunho de Jesus e
percorre cada uma das três mensagens angélicas. A tríplice mensagem
angélica é o evangelho, não somente a primeira. É-nos dito que “A tríplice
mensagem angélica deve ser apresentada como a única esperança de
200 I Larry L. Lichtenwalter

salvação a um mundo que está perecendo.”63 N ela Jesus é erguido como


o centro e como o único homem da esperança. Jesus prometeu: “E eu,
quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo” (Jo 12:32).
Somente a cruz de Cristo pode romper a cosmovisão e trazer a mudança
de cosmovisão como resultado de ter “a mente de Cristo” (1 Co 2:1-16).
Através do livro, o Apocalipse aceita a reação humana a essa
extraordinária esperança: arrepender, vir, receber, lavar, guardar. A noção
bíblica de arrependimento implica uma mudança de direção. O fato de
uma pessoa vir indica que ela estava em outro lugar. Receber sugere
acolhimento e aceitação, etc. Há aqueles que recusam o arrependimento
(2:21; 9:20; 16:9,11). E há aqueles que desejam ardentemente o que Deus
oferece e prontamente lavam suas vestes no sangue do Cordeiro e seguem
a nova visão divina para a vida (22:17, 14; 7:14; 12:17; 14:12). Aqueles
que habitam na terra resistem ao testemunho da Escritura e recusam os
méritos de expiação pelo sangue do Cordeiro (11:10; 13:8; 17:8). Ao
seguirem sua própria cosmovisão, bebem do vinho da cólera de Deus, que
é misturado com toda intensidade no copo de Sua ira; e serão atormentados
com fogo e enxofre na presença dos santos anjos e do Cordeiro (14:10).
O Apocalipse fala de um momento quando aquele que adora a besta
e sua imagem ou recebe a marca na fronte ou na mão “beberá do vinho
da cólera de Deus, que é misturado com toda intensidade no copo de Sua
ira; e será atormentado com fogo e enxofre na presença dos santos anjos
e do Cordeiro” (14:9, 10). O que essa mensagem significa: Por que seres
morais devem receber julgamento e ser atormentados à vista dos outros
seres morais (santos anjos e o Cordeiro)? Está certo? É justo? É desta
forma que um Deus amoroso age? Será que os santos anjos e o Cordeiro
terão algum tipo de prazer mórbido naquele dia terrível? E algo que eles
estão ansiosos para ver? Ou por algum motivo, “devem” ver?
Não podemos deixar de pensar: será o fogo e o enxofre que
atormentarão os perdidos na fase final do juízo ou será a presença dos

63Ellen G. White, Evangelism , 196.


Transformação da cosmovisão e missão | 201

santos anjos e do Cordeiro? Será a sensação de amor desprezado (a graça


recusada) que atormentará a maioria? Será que o tormento vai ser cruel
por causa da realidade chocante de um a alma a quem foram dados vários
avisos, vários convites, várias oportunidades, todo suprimento para ser
salva, mas ela escolheu outro modo, adiando ou apenas evitando conhecer
a Jesus e tudo o que Ele fez por ela? Será que o tormento maior será morrer
diante dos santos anjos que fizeram todo o possível para ajudá-lo a vir para
o Cordeiro (Hb 2:14) ou será morrer diante do Cordeiro que foi morto no
lugar deles e daqueles que clamavam em inconsolável abandono (mesmo
que isso aconteça agora) deve ser o conhecimento mais desanimador que
qualquer alma pode experimentar. Mesmo os perdidos visualizados aqui
bebem o amargo cálice no juízo final e morrem a “segunda morte”. O
Cordeiro diz: “Não é isso que eu queria; ‘Com amor eterno eu te amei;
por isso, com benignidade te atraí’ mas você não quis vir a mim para ter
vida” (Jo 5:40; Jr 31:3). “Você não veio até mim.” Eles morrem sabendo
que havia um Cordeiro imolado, cujo sangue podería tê-los libertado deste
momento. N ada será mais terrível para a alma perdida do que saber que
não precisava morrer. Que a fonte da vida estava diante dele, mas é tarde
demais.
Esse é o ponto de partida da cosmovisão apocalíptica: a consciência
(ou a ausência de consciência) do pecado e de inadequação pessoal,
acompanhada da necessidade de um Salvador para livrá-lo do pecado.
No início do Apocalipse João cai de joelhos diante do Cordeiro de
Deus (1:17). João é um microcosmo da Igreja e de todo ser humano que
é confrontado consigo mesmo e com a necessidade em relação ao Deus
que Se revela.64 Ele é um irmão dos seus ouvintes e compartilha com eles
um tesouro triplo: a tribulação, o reino e a perseverança que estão em
Jesus”(l :9; cf. 14:12). Ele está em Patmos por causa da “palavra de Deus e
do testemunho de Jesus” (1:9, os itálicos são meus). A experiência de João

64Dennis E. Johnson, Triumph o f the Lamb: A Commentary on Revelation (Phil-


lipsburg, NJ: P & R Publishing, 2001), 55.
202 I Larry L. Lichtenwalter

com Jesus, cujos olhos são como chama de fogo e Seu rosto como o sol
em sua plenitude, é paradigmática, sugerindo que podemos compartilhar a
experiência existencial de João quando contemplou o eterno Cristo (1:14,
16; 2:18). Quando se observa o Cristo vivo, ressuscitado, majestoso, eles
veem o interior, veem a si mesmos. Porque o esplendor e a pureza do
Filho do Homem são irresistíveis (esmagadores). Jesus irradia luz e calor
como 0 santo Filho de Deus, que sonda mentes e corações (2:18, 23).
Sempre que vemos a Deus, vemos algo sobre nós mesmos. Sempre que
Deus revela a Si mesmo, revela algo de nós mesmos. A resposta de João
espelha esta cosmovisão interna, do coração (cf. Dn 10:9-16; Is 6:1-5; Ez
1:26-2:1; 3:22-23; At 9:4). João também experimenta o extraordinário
toque de Cristo, que o coloca de pé e o envia ao mundo para declarar o
que viu e sentiu (1:17-19; cf. Ez 2:1-3; 3:24; Is 6:6, 7). Essa visão do eu
em relação a Cristo está conectada com a estrutura central do Apocalipse e
com a missão transformadora no mundo.
O Apocalipse afirma como a doação e sacrifício de Cristo têm
poder moral para derrubar barreiras existentes entre Deus e o homem e
entre os seres humanos uns com os outros. A morte de Cristo derrubou o
muro hostil que separava os povos. Possibilita um reino completamente
novo, composto de pessoas de todos os grupos (5:9-10). Em Cristo, nos
tomamos um povo: um novo povo (1:5, 6; 5:9-10; c f E f 2:14-18). Essa é
uma transformação da cosmovisão tanto nos indivíduos como nas camadas
sociais dos vários grupos.
A imagem de João sendo comissionado a escrever, ou dos 144.000
conectados às três mensagens angélicas, indica a realidade de que aqueles
que proclamam o evangelho eterno devem, por si mesmos, viver essa
esperança, desfrutar desse poder salvador e ser transformados (1:19; 14:1-
5). E a perseverança dos santos em meio ao mundo turbulento que lhes
concede santo poder e evidencia o poder transformador (14:12, 13; 11:11-
13).
Transformação da cosmovisão e missão | 203

Novamente, 0 que motiva alguém a submeter-se à transformação da


cosmovisão? “Respondi-lhe: meu Senhor, tu o sabes. Ele, então, me disse:
São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as
alvejaram no sangue do Cordeiro, razão por que se acham diante do trono
de Deus e o servem de dia e de noite no seu santuário; e aquele que se
assenta no trono estenderá sobre eles o seu tabernáculo” (7:14,15). Embora
a imagem de Apocalipse 7 seja uma prolepse dos redimidos prestando
obediência voluntária a Deus por toda a eternidade por causa da redenção
através do sangue de Cristo, o princípio tem implicações temporais para
a atualidade. É uma cosmovisão, que se relaciona com ter a Cristo Jesus
como Salvador pessoal, com todas as implicações existenciais, morais e
espirituais vinculadas.65
Existem questões transformadoras da vida e implicações são
comunicadas por meio de três elementos da cosmovisão evidentes
em Apocalipse: o componente narrativo, o componente racional e o
componente ritual.66
As imagens apocalípticas de nações, grupos, tribos/clãs, status social
e função indicam uma integração cultural que expressa, espelha e nutre
as características únicas de determinada sociedade. Assumem, também,
a cosmovisão/cosmovisões, em que uma determinada cultura, da mesma
forma espelha, expressa e nutre, dentro dessa sociedade particular. O
esboço de funções e posições sociais (“pequeno e grande,” “pobre e rico,”
“livre e escravo,” reis, comandantes, nobres, etc.) sugere a existência de
diferentes cosmo visões no nível estrutural e na percepção/experiência
existencial dos indivíduos de uma sociedade. O Apocalipse também afirma
o poder do evangelho eterno para avaliar, desafiar e mudar pessoas nos
mais variados contextos (14:6; 5:9-10; 7:9-10).

65Ver Rodriguez, The “Testimony o f Jesus” in the Writings o f Ellen G. White, 234‫־‬
235.
66Hollinger, Choosing The Good: Christian Ethics in a Complex World, 6 3 6 4 ‫;־‬
Naugle, Worldview: The History o f a Concept, 2 9 1 3 3 0 ‫־‬. Naugle sublinha componentes
semióticos, narrativos, racionais, hermenêuticos e epistemológicos ou funções das cos-
movisões.
204 I Larry L. Lichtenwalter

O âmago do escopo do evangelho, em última análise, toca a geografia


do coração, onde a cosmovisão é mantida e aguardada. O apelo do
evangelho é para que o coração aceite uma visão, não somente do mundo
e cultura, mas de si mesmo: diante de Deus, de si, dos outros e em relação
ao mundo. Este é o nível em que a proclamação do evangelho deve ir.
Como afirma Naugle: “Uma vez que nada pode ser mais importante
que o modo como o ser humano compreende a Deus, a si mesmo, o
universo e o seu lugar nele, não é de surpreender que uma cosmovisão
bélica esteja no centro do conflito entre os poderes do bem e do m al” .67
Nem deveria ser surpresa que o evangelho eterno, no contexto das três
mensagens angélicas, seja integrante do conflito entre os poderes do
bem e do mal como afirma a cosmovisão bíblica, assim como engaja os
povos e suas respectivas culturas e cosmovisões integradas. Por fim, o
Apocalipse assume a existência de um conflito entre cosmovisões e as
culturas resultantes: entre “aqueles que habitam na terra e daqueles que
guardam o testemunho de Jesus.‫ ״‬Ele é o Cordeiro, cujo domínio permeia
o livro. E Quem detém maior poder. A força moral enraizada na sua cruz
é forte o suficiente para romper os pressupostos sutilmente dissimulados
e tentadores do coração e mente e transformar qualquer cosmovisão e as
formas culturais e comportamentos que ela engendra dentro do coração
(5:6-10; 12:10-11; cf. Jo 12:24, 32, 33; Rm 2:4).

Implicações para as missões adventistas

Este estudo examinou como uma cosmovisão (uma visão da vida)


é formada, apresentou um resumo de seus componentes e em que medida
a extensão da transformação rumo a uma visão bíblica é um processo
dependente da graciosa atividade de um Deus soberano, através da
pregação do evangelho eterno.68 Por fim, a abrangência do evangelho e a

67Naugle, Worldview: The History o f a Concept.


68Ibid., 105.
Transformação da cosmovisão e missão | 205

avaliação final tocam a geografia do coração, onde a cosmovisão ocorre,


com a verdade da morte substitutiva de Cristo e o poder de Seu sangue para
suprir os profundos questionamentos e necessidades da alma. Está evidente
que o Apocalipse lança, como cosmovisão, o envolvimento, a avaliação
e a transformação, bem como questões fundamentais no duradouro (mas
não eterno) grande conflito entre Cristo e Satanás. O Apocalipse fala
de conversão genuína em oposição ao mero conhecimento intelectual
(doutrinário ou teológico) e à mudança comportamental. A transformação
da cosmovisão está no centro de sua narrativa, de sua teologia e de suas
prescrições.
As implicações para a missão adventista são múltiplas:
1. É necessário compreender a importância da cosmovisão para a
missão, e não somente as questões comportamentais ou doutrinárias.
2. É necessário levar a sério a realidade onde vivem as pessoas a quem
servimos. É necessário pensar e agir dentro de determinada cosmovisão.
3. É necessário penetrar em outra cosmovisão aponto de compreender
seu sistema filosófico e existencial. Por que as pessoas resistem a abandonar
sua cosmovisão? O que as deixa em alerta? Onde está a dissonância e
aflição?
4. É necessário articular a cosmovisão bíblica de uma forma positiva,
sem julgamento, e de uma forma que permita desafio e avaliação.
5. É necessário permitir que o evangelho, via Espírito Santo, traga
convicção ao nível mais profundo da consciência.
6. É necessário articular como a cultura reflete a cosmovisão e
mostra como os componentes rituais (culturais) da cosmovisão expressam
e influenciam a cosmovisão. Essa é a chave para a geração mais nova.
7. É necessário contar a história bíblica de modo compreensível,
utilizando vocabulário e imagens familiares às pessoas dentro de
determinada cultura. A narrativa da cosmovisão molda a visão moral, se
adequadamente articulada.
206 I Larry L. Lichtenwalter

8. É necessário compreender o nível existencial da cosmovisão e as


realidades da conversão dentro daquela perspectiva.
9. É necessário que aqueles que proclamam o evangelho visualizem a
conversão e capacitem aqueles a quem ele é pregado a visualizar, também,
a conversão.
10. E necessário que os que proclamam o evangelho sejam hábeis
para articular o fenômeno integral da cosmovisão e a transformação
desejada - história, teologia, ritual e conversão.
11. H á necessidade de uma leitura teocêntrica/cristocêntrica da
Escritura, que focalize em Deus e na pessoa e obra de Seu Filho Jesus
na cruz e em como o cumprimento da morte expiatória de Cristo nos
alcança e nos tom a acessíveis a cada ser humano através da história e
particularmente. Ergamos o Cordeiro, que é o único que transforma a
cosmovisão.
12. E necessário compreender como a conversão é o verdadeiro sinal
da mudança de paradigma.
EL MENSAJE DEL REMANENTE EN EL TIEMPO
DEL FIN: EL MENSAJE DE LOS TRES ÁNGELES DE
APOCALIPSIS 14:6-12

Oscar Mendoza Orbegoso


U n iversid a d P eru an a Unión, P eru

iiiiiimiiiiiiiiimiiiiiimiimmmiimiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimiiiimimiNiiiiiiiiiii

Introducción

Como adventistas creemos que nuestra iglesia, es el Remanente del


tiempo del fin de Apocalipsis 12:17,' y que nuestro mensaje se centra en
el Mensaje de los Tres Ángeles12 de Apocalipsis 14:6-12. Sin embargo,
influenciados por el mundo evangélico, muchos sermones y temas
predicados, só lo presentan la g ra c ia y el a m o r de Dios de manera subjetiva.
Dejando de lado el mensaje escatológico que tenemos como remanente.3
¿Será que como remanente, estando en e l tiem po d e l fin , hemos sido
llamados a predicar únicamente el am or y la g ra c ia de Dios? ¿En este
tiempo, cuando las verdades bíblicas están siendo pisoteadas, sólo se debe
predicar el am or y la g ra c ia de Cristo?
1Los textos serán citados de La Biblia de las Américas (California: The Lockman
Foundation, 1997). Cualquier cambio de versión, se dará a conocer.
2En esta presentación la abreviatura de “El Mensaje de los Tres Angeles” será
MTA.
3Varios teólogos se han preocupado por este aspecto, especialmente en la separa-
ción de la Teología con la Misión. Ellos concluyen que, una de las razones principales
de la crisis teológica que está pasando nuestra iglesia es por, la influencia protestante en
nuestro medio. Para una evaluación más detallada, ver Femando Canale, “Completando
la teología adventista I: La tarea teológica en la vida de la iglesia-Parte I”, DavarLogos
6.1 (2007): 55-68; Ibid., “Completando la teología adventista I: La tarea teológica en la
vida de la iglesia-Parte H”, DavarLogos 6.2 (2007): 127-41; Ekkehardt Müeller, “Theo-
logical Thinking in the Adventist Church”, DavarLogos 1.2 (2002): 125-47.
208 I Oscar Mendoza Orbegoso

Para un mejor cumplimiento de la Misión, esta investigación


propone nueve verdades bíblicas extraídas del Mensaje de los Tres
Ángeles (MTA) de Apocalipsis 14:6-12. Verdades que en el tiempo del
fin, deben ser predicadas con mayor fuerza. Creemos que con un buen
conocimiento bíblico de lo que se tiene que predicar, se cumplirá mejor la
misión encomendada.

Contexto del MTA: Apocalipsis 12 -14

El libro de Apocalipsis se puede dividir en tres partes básicamente:


(1) Parte histórica (1-11), (2) Parte intermedia (12-14) y (3) Parte
escatológica (15-22). En el caso de nuestro texto, éste está ubicado en la
parte intermedia donde la historia y la escatología están entremezcladas.4
Observemos el siguiente diagrama:

Cap. 12 Cap. 13 Cap. 14

A: vv. 1-5 A: w . 1-8


Parte Histórica
B: vv. 6, 13-16

A: w . 1-5

Parte escatológica C: v. 17 B: vv. 9-18 B: vv. 6-12

C: w . 14-20

Diagrama Nro. 01

4Para un mayor estudio sobre la naturaleza “histórica y escatológica” de Apoc-


alipsis 12-14, ver Edwin Reynolds, “Ten Keys for Interpreting the Book o f Revelation”,
Journal o f the Adventist Theological Society 11, no. 1 ,2 (2000): 265, de aquí en adelante
JATS; Carlos Olivares, “Un análisis en la determinación de una estructura para el Apoc-
alipsis: Implicaciones”, Theologika 22, no. 2 (2007): 258, de aquí en adelante Theo.
El mensaje del remanente en el tiempo del fin | 209

Al observar este diagrama, se puede ver que Apocalipsis 12 contiene,


tanto historia como escatología juntas. Del v.l hasta el 16 (a excepción de
los versículos 7 al 12 que son un paréntesis del capítulo) es historia, y el
v. 17 es escatología. Para el cap. 13 sucede lo mismo, contiene tanto historia
como escatología. Mayormente es historia lo relacionado a la bestia que
sube del mar (w .1-8), y escatológica lo concerniente a la bestia que sube
de la tierra y la adoración mundial (w .9-18). Y para Apocalipsis 14, al
parecer no se presentan sucesos históricos sino eventos finales.
Apocalipsis 14:6-12 tiene como contexto los cap. 12-14. Para poder
hacer un breve análisis de estos capítulos, se tomará la siguiente estructura
quiástica de William Shea:5

A: 11:19: El arca del pacto: Escena del Santuario (con los mandamientos)

B: 12:1-2: La primera gran señal: La mujer pura

C: 12:3-4a: La segunda gran señal: El gran Dragón

D: 12:4b-5: El Niño Varón: La prim era venida de


Cristo

E: 12:10-12: La voces del cielo: Bendición


sobre el cielo y maldición sobre la tierra

F: 12:17: Guardan los mandamientos de


Dios y el Testimonio de Jesús

G: 13:1-18: La bestia del mar y la bestia de la tierra

X : E l C ordero y los 144 000 so b re e l M onte Sión

G ': 14:6-11: El Mensaje de los tres Angeles

F ': 14:12: Guardan los mandamientos de


Dios y la fe de Jesús

5William Shea, “The Controversy Over the Commandments In the Central Chiasm
o f Revelation”, JATS 11, no. 1, 2 (2000): 216.
210 I Oscar Mendoza Orbegoso

E ': Las voces del cielo: doble bendición sobre la tierra

D ': 14:14-20: El Hijo del Hombre: La segunda venida de Cristo

C 15:1 :‫׳‬: La tercera gran señal: Las siete plagas

B ': 15:2-4: El remanente de la descendencia de la mujer en el cielo

A ': 15:5-8: El templo del arca del testimonio: La escena del santuario (con
los mandamientos)

A//A': Apocalipsis 11:19 y 15:8, 9 dan el marco de referencia en


estos tres capítulos: El Santuario Celestial. Por esta razón, el MTA debe
entenderse a la luz este lugar.
F//F': Enseñan que los santos, en una situación perseguidora (13:1-
18), “guardan los mandamientos de Dios y tienen el testimonio de Jesús” .
En este contexto, estas dos acciones y características cumplen dos roles:
(a) Se convierten en el centro de la controversia entre los santos y los
representantes del dragón; y (b) Expresan los frutos de la fe al aceptar el
“evangelio eterno” del primer mensaje (14:6).
G //G': William Shea encuentra un paralelismo entre las dos bestias
del capítulo 13 con el MTA. El primer mensaje (14:6-7) relata directamente
la historia de la bestia del mar (13: 1-8). El mensaje del segundo ángel
relata, el interludio poético entre la historia de la bestia del m ar y la historia
de la bestia de la tierra (14:8 y 13:9-10). El mensaje del tercer ángel está en
paralelo con la bestia que sube de la tierra (1 4 :9 - lly 13:11-18).6
G//G ' y X: En X es descrito los 144 000 con el Cordero en el cielo;
y en G y G ' tanto el mensaje triangélico como el ataque de las bestias. Al
relacionar ambas partes se puede concluir que la razón principal de que
aquellos 144 000 estén en el cielo, es que estos han aceptado y predicado
el mensaje triangélico.
G//G': Indica que a pesar de las persecuciones recibidas por los
agentes de Satanás, los santos continúan predicando el MTA.

6Ibid., “The Controversy Over the Commandments”: 223.


Ei mensaje del remanente en el tiempo del fin | 211

¿Qué significa el término á n g e l ?

Al revisar Apocalipsis 14, se puede notar que el contexto es simbólico,


por lo tanto, los tres ángeles también lo son. A pesar que hay teólogos que
van en contra de este simbolismo,7 símbolos tales como “los 144 000 con
el Cordero” (v.l), “siguen al Cordero” (v.4), “contaminarse con mujeres”
(v.4), “castos” (v.4), “la bestia” (v.9), indican que los ángeles no pueden
ser literales.
El término angelos, estrictamente no es la figura de un ángel
celestial. Básicamente tiene un significado de mensajero o enviado.8 En
el contexto de Apocalipsis 14, ángel tiene una connotación de mensajeros
humanos. Un ángel puede entenderse, como declara Shea, como “un grupo
o movimiento para el cumplimiento de su comisión en el tiempo del fin” .9

¿Desde cuándo es predicado el MTA?

Al observar de nuevo el Diagrama Nro. 01, se puede percibir que


el MTA está en un contexto escatológico. La visión de los 144 000 en el
Monte Sión (w .1-5), el rescate (v.4) de los redimidos, la cosecha de las
primicias (v .l8) y la Segunda Venida de Cristo (v.14), indican que este
mensaje fue preparado para el tiempo del fin.

7C. Leslie Miller, Todo acerca de los ángeles, trad. Samuel Vila (Terrassa: Clie,
1974), 67, 70.
8William Johnsson, “The Saints End-Time Victory Over the Forces o f Evil”, en
Symposium on Revelation: Introductory and Exegetical Studies-libro 2, Frank Elolbrook
ed. (Silver Spring: Review and Herald Publishing Association, 1992), 7: 33, de aquí en
adelante SR.
9William Shea, “The Mighty Angel and His Message”, SR, 6: 321. El Comentario
Bíblico Adventista también declara “Esta visión es simbólica. El ángel representa a los
santos de Dios ocupados en la tarea de proclamar el Evangelio...”, Francis Nichol, ed.,
Comentario bíblico adventista, trads. Víctor Ampuero y Nancy Vymeister (Buenos Aires:
Asociación Casa Editora Sudamericana, 1996), 7: 841.
212 I Oscar Mendoza Orbegoso

No obstante, decir que es un mensaje para el tiempo del fin es muy


genérico. En sí, ¿desde cuándo se debe predicar el MTA? Desde 1844
d.C.10 Por las siguientes razones:
(1) El MTA es predicado antes de la segunda venida. Así lo aclara
Apocalipsis 14: 14-17.
(2) En el mensaje del tercer ángel está la advertencia “si alguno adora
a la bestia y a su imagen” (v.9, énfasis nuestro) y “beberá del vino de la
ira de Dios” (v.10, énfasis nuestro), “si alguno adora” es un condicional
que indica una advertencia previa a la adoración mundial de la bestia y
su imagen, adoración que, según Apocalipsis 13:14-17, es realizada antes
de la II venida. “Beberá ”, es la consecuencia que recibirá aquel que haya
adorado a la bestia (parece que estos recibirán las siete plagas postreras).
Por tanto, si el tercer ángel advierte que no se debe de adorar a la bestia
puesto que, aquel que lo haga recibirá, en el futuro, las cuales caerán
antes de la segunda venida. Es lógico que el mensaje del tercer ángel, será
predicado antes de la parusia.
(3) En el mensaje del prim er ángel es predicado “la hora de su juicio
ha llegado” (v. 7, énfasis nuestro). ¿A qué juicio se refiere? Al juicio pre-
advenimiento. ¿Cuándo inició aquel juicio? Según Daniel 7:9 y 10 (en
paralelo con el 8:14), en 1844 d.C. Por lo tanto, desde el momento que
el primer ángel inicia su mensaje proclamando “la hora de su juicio ha
llegado'”, y este juicio comenzó en 1844 d.C., no hay duda que este ángel

10Es genérico, puesto que este tiempo tiene muchas fases o momentos, tales como:
(1) Momento de preparación para la crisis final (1844 d.C. - surgimiento de la marca de
la bestia y su imagen), (2) La Crisis final ([a] Surgimiento de la marca y la imagen de la
bestia - fin del tiempo de gracia; [b] Fin del tiempo de gracia - II venida), (3) II Venida,
(4) El milenio, (5) III venida y el Juicio Final, y (6) La vida eterna. Al observar estos
eventos, es posible que la proclamación del mensaje de los tres ángeles será predicado
desde 1844, y con mayor fuerza en la crisis final.
El mensaje dei remanente en el tiempo del fin | 213

inició a predicar desde aquel año.11 Por lo tanto, es aceptable creer que la
predicación del MTA se inició en esta fecha.12

¿Quién predica el MTA?

Para responder esta pregunta, volvamos a observar el Diagrama Nro.


1. Si se relaciona la parte escatológica de cada uno de estos capítulos, nos
daremos cuenta que el remanente de Apocalipsis 12:17 guarda relación con
aquellos “santos” perseguidos del 13: 10; y que este mismo grupo, aparece
en el contexto escatológico del M ensaje de los Tres Angeles, los Santos
perseverantes (14:12), la Segunda Venida (v.14), y los 144 000 (w .1-5).
Al terminar de relacionar el tiempo del Remanente, ahora se va a
relacionar sus características con los santos del 13:10 y 14:12. Observemos
el siguiente diagrama:

11Jacques Doukhan hace un interesante paralelismo entre Apocalipsis 14: 6-12 con
la escena del Juicio de Daniel 7, concluyendo que “El paralelismo entre los dos pasajes
sugiere que el mensaje de los tres ángeles corresponde, en Daniel 7, al tiempo del juicio
(Dan 7: 9-12), o Kippur (Dan 8: 14)”, Jacques Doukhan, Secretos de Apocalipsis: El
Apocalipsis visto a través de los ojos hebreos, trad. Claudia Blath (Buenos Aires: Asoci-
ación Casa Editora Sudamericana, 2008), 134.
12No obstante, según Apocalipsis 18:1-5 (unido con Ap 14: 6-12), habrá un fuerte
clamor más adelante, llamado “lluvia tardía/fuerte pregón”, cuyo mensaje tendrá como
eje el MTA. Esta proclamación, como declara Rode “llegaría hacer un llamado poderoso
de la obra del Espíritu Santo que iluminaría la tierra con su gloria (Ap 18: 1)”, Daniel
Rode, “Missão às Etnias N o “Ultimo Tempo””, O Futuro: A visao adventista dos últi-
mos acontecimentos, Artigos teológicos apresentados no V Simposio Bíblico-Teológico
Sul-Americano em homenagem a Hans K. LaRondelle, ed. por Alberto Timm et.al. (Sao
Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2004), 350-1, de aquí en adelante OF.
214 I Oscar Mendoza Orbegoso

Ap. 14:1-5: Los 144.000

Ap. 14:6-12: El mensaje


de los Tres Ángeles
V________ __________ J

Ap. 14:12: Los santos


Perseverancia
Mandamientos de Dios
Pos 42 meses
Fe de Jesús

Ap. 13:10: Los santos — Los 144.000 vs.


Pos 1260 días Perseverancia
Agentes de Satanás —
Fe

Ap. 12:17: El Remanente ‫־‬A


Ap. 14: 14-15
Mandamientos de Dios — Bestia persigue —
Testimonio de Jesús V.
Fuerte Predicación
J
— Satanás persigue —

Diagrama Nro. 02

Al mirar este diagrama, se puede notar que las características que


tiene el Remanente (12:17), los Santos (13:10) y los Santos perseverantes
(14:12), prácticamente son las mismas. Como por ejemplo: (1) En los tres
casos aparecen después de los 42 meses; (2) Estos tres grupos guardan los
mandamientos de Dios (implícitamente hablando en Apocalipsis 13:10);
(3) Los tres son perseverantes en medio de las persecuciones; y (4) Los
tres tienen fe en el testimonio de Jesucristo. En base a sus características,
es aceptable pensar que el “remanente” de Apocalipsis 12:17 son “los
santos” de 13:10, y estos, son “los 144.000” del capítulo 14, especialmente
“los santos” del 14:12. Como declara M üeller “Ap 12:17; 13:10 y 14:12
están entrelazados y describen las mismas características del remanente
apareciendo bajo diferentes nombres”.13 Stefanovic confirma:

13Ekkerhardt Müeller, “The 144.000 and the Great Multitude”, Adventist Biblical
Research, http://www.adventistbiblicalresearch.org/documents/144,000greatmultitude.
htm (consultado: 16 de Abril, 2008).
El mensaje del remanente en el tiempo del fin | 215

El libro de Apocalipsis no sostiene la idea de que Dios tiene


dos grupos distintos de personas sobre la tierra... el revelador
indica claramente que él tiene sólo un pueblo en mente cuando
él se refiere a estos como Siervos de Dios (1:1), el Remanente
(12:17), los santos (14:12) y la esposa del Cordero (19:7-8; cf.
Cap. 12).14

Reconociendo a los santos del capítulo 14 como el remanente, es


lógico pensar que son ellos los que predican el MTA, puesto que aparecen
en el mismo contexto.
Después de estudiar aspectos importantes para la comprensión
del MTA, ahora se analizará las nueve verdades propuestas extraídas de
Apocalipsis 14:6-9.

Primer mensaje angélico (14:6-7)

Creemos que hay cuatro verdades bíblicas en el mensaje del primer


ángel, para ser predicadas en el tiempo de fin, y son las siguientes: (1) La
justificación por la fe; (2) La santificación; (3) El juicio pre-advenimiento;
(4) La creación. Todas estas verdades giran en tom o al evangelio eterno y
son desarrolladas bajo el marco de referencia del santuario.

La justificación por la fe
Para poder entender el euangelion eterno, es necesario saber qué
significa evangelio a lo largo de las Escrituras.
Evangelio viene del término griego euangelion que literalmente
significa “buenas nuevas”, que en un contexto bíblico mesiánico, son
“buenas nuevas de salvación por parte del M esías” . En la literatura griega,
euangelion se refería tanto a la muerte del enemigo como al arribo del

14Rango Stefanovic, Revelation o f Jesus Christ Revelation o f Jesus Christ: Com-


mentary on the Book o f Revelation (Berrien Springs, MI: Andrews University Press,
2002), 270.
216 I Oscar Mendoza Orbegoso

emperador romano que, liberaba y salvaba de la tribulación.15 En términos


generales, esta palabra tiene un significado de victoria.16
En hebreo se usa el término besorah que significa “recompensa
por la buena nueva” (2 S 4:10), “buena noticia” (2 S 18:20, 22). Como
sustantivo aparece sólo seis veces en el AT y tiene como significado: (1)
“buenas nuevas” (2 S. 18:20, 25, 27; 2 R 7:9); y (2) “recompensa por las
buenas nuevas” (2 S 4:10; 18:22).
Para el NT euangelion (que aparece 76 veces), es un misterio (E f
6:19) y no es algo nuevo (a pesar que en Mateo es llamado “buenas
nuevas” [Mt 4:23; 9:35; 24:24; 26:13]). Por el contrario, ya venía siendo
anunciando desde el AT (Ro 1:2; 15: 25, 26). Este euangelion trata acerca
del Hijo de Dios (Mr 1:1, 14; Ro 1:3, 9 - euangelion de Cristo, Ro 15:19;
2 Co 2:12; 2 Co 10:14), que por medio de él el ser humano - tanto para el
judío como para el gentil (Ro 1:16; Gá 2:7; E f 3:6) - ha recibido la gracia
de Dios para que pueda ser salvo de la esclavitud y condena del pecado
(Le 20:24; Hch 15:7; Ro 1:5; Gá 1:6; Fil 1:7). Esta salvación es gracias a
la muerte y resurrección de Cristo (2 Ti 2:8). En aquel acto se ve la justicia
de Dios (Ro 1:17) - por lo tanto, el euangelion va de la mano con juicio
divino - salvando al pecador quien por fe (Mr 1:15), se acerca arrepentido
para obtener oportuno socorro.
En conclusión, el “evangelio” es e l acto salvífico d e D io s con e l fin
d e redim ir a l s e r humano p e c a d o r p o r m edio de Jesucristo. Dios salvando
al hombre. O como Becker lo expresa “Dios actuó para la salvación;
(redención) del mundo en la encamación, muerte y resurrección de.
Cristo”17.

15Gerhard Kittel, ed., “euangelion”, Theological Dictionary on the New Testament,


trad. Geoffrey W. Bromiley (Grand Rapids, MI: Eerdmans Publishing Company), 2: 722,
de aquí en adelante TDNT
16U. Becker, “euangelion”, The New Internacional Dictionary o f New Testament
Theology, Colin Brown, ed. (Grand Rapids, MI: Zondervan Publishing, 1986), 2: 107, de
aquí en adelante NIDNTT.
17U. Becker, “euangelion”, NIDNTT, 2:111.
El mensaje del remanente en el tiempo del fin j 217

Si en esto consiste el euangelion, por lo tanto, se puede saber qué


mensaje está predicando el primer ángel: un m ensaje d e salvación g ra cia s
a l acto reden tor de C risto en la c ru z.18 Este acto en la cruz conmemora
nuestra redención y salvación del pecado, como también, nuestra
reconciliación con el cielo (Ro 3:21-25).
Sin embargo, el evangelion del primer ángel también es eterno. Es
el mismo evangelio de Génesis 3:15, de Daniel 9:24-27, de Juan 3:16.
Es el mismo predicado y defendido por Pablo (Ro 1:16, 17), y los demás
apóstoles. No es un evangelio nuevo. No es que está en el NT y no en el
AT. Es más, la comprensión del euangelion de los apóstoles fue gracias al
pensamiento de los profetas del AT, enseñando así, que tanto el evangelio
del AT y del NT es el mismo. En base a esto, el euangelion eterno del
primer ángel restaura, en el tiempo del fin, el evangelio tanto del Antiguo
como del Nuevo Testamento.
Después de este breve análisis se puede notar que, el evan gelio eterno
que proclama el primer ángel es la ju stificación p o r la f e . En este mensaje
no hay salvación por obras, sino por gracia. A pesar que el contexto, es un
contexto de crisis y adoración (o a la bestia o a Dios), el mensaje principal
proclamado, aun sigue siendo el mismo: e l evan gelio eterno. De esta
manera, puesto que hay distintos factores e implicancias doctrinales que
giran en tomo al MTA, toda clase de enseñanza por parte del Remanente,
debe girar en tomo al evan gelio eterno. No en la ley de Dios. Tampoco en
el sábado. Sino sólo en la verdad del evangelio.

La santificación: Los frutos de la fe


El llamado por parte del ángel es a tem er a Dios, d a d le g lo ria y
adorarle. Estas acciones tienen dos connotaciones: (a) En primer lugar,

18Herbert Douglas, para saber en qué consiste el evangelio eterno, formula tres
preguntas claves relacionadas al ministerio terrenal de Cristo con el fin de encontrar re-
spuesta. Estas son: ¿Por qué murió Jesús?; ¿Por qué vino Jesús?; ¿Cuál es el objetivo
del evangelio? Para un mayor estudio, ver Herbet Douglas, “What Is the ‘Everlasting
Gospel?’”, JATS 12, no. 2 (2001): 145-51.
218 I Oscar Mendoza Orbegoso

expresan cóm o vive un justo (v.7). Es la respuesta del ya justificado (toda


persona que ha aceptado a Dios como su Salvador personal, temerá a Dios,
le dará gloria y lo adorará); y (b) “Temed” y “dadle gloria” está en el
contexto del juicio {porque la hora de su juicio ha llegado), lo que expresa
la trascendencia de estas actitudes dentro del marco judicial.

Temed y dadle gloria en el juicio pre-advenimiento


El juicio proclamado por el primer ángel es el mismo de Daniel 7:9,
10, el cual tiene como base el D ía d e E xpiación de Levítico 16. Por lo
tanto, es posible que el llamado a tem er a Dios y da d le g lo ria en el juicio
de Apocalipsis 14:7, tenga como referencia la invocación que se realizaba
a cada hebreo para ser partícipes del Día de Expiación judío.
En este día se purificaba el santuario y se juzgaba a los judíos. En el
L ibro de O racion es, primera parte, 31, se lee:

Debemos darle toda la santidad a este día, porque es un día


de temor y temblor. En este día su reino será establecido y
su trono afirmado... Porque tú eres el juez, el acusador y el
testigo, el que escribe y el que sella.. .Entonces sonará el gran
shofar, y se oirá la voz de silencio, los ángeles sujetarán con
temor y temblor y exclamarán: ¡He aquí, el día del Juicio!19

Para la liturgia judía del s. XIV del Unetanneh Tokef, el temor era
parte de la actitud tanto de los ángeles como del pueblo:

Dios, sentado en su trono para juzgar al m undo... abre los


libros de registros; se lee, allí se encuentra la firma (o nombre)
de todo hombre. Se hace sonar la gran trom peta... Los ángeles
se estremecen diciendo: Este es el día del ju icio ... Dios hace
pasar delante de él a toda criatura viviente para ajustar los

19Traducción del autor del Libro de Oraciones, Mahzor minroch hachana weyom
hakippurim, primera parte, 31, citado en Jacques B. Doukhan, Secretos de Daniel: Sa-
biduría y sueños de un príncipe hebreo en el exilio, trad. Claudia Blath (Buenos Aires:
Asociación Casa Editora Sudamericana, 2007), 133.
El mensaje del remanente en el tiempo del fin | 219

límites de la vida de cada criatura y para predeterminar su


destino...20

El día de expiación se realizaba el 10 de Tishri (séptimo mes [para


nosotros a mediados del mes de Septiembre]) de cada año. Para esta
fecha, el judío se preparaba diez días antes. Al llegar el día, cada uno
llegaba a humillarse y no hacía cosa alguna (Lv 16:26) puesto que era un
día de reposo, de descanso solemne (v.31). Además, el temor y la gloria
expresadas a Dios, eran manifestadas por parte de los israelitas. Aquel
temor y la disposición de dar gloria, tenía como objetivo sensibilizar a la
persona y decidirse a honrar a Dios a través de la obediencia.
Conectando con el juicio pre-advenimiento, así como el temor, la
humillación y el descanso eran actitudes indispensables para el día de
expiación, el temor, la g lo r ia para el juicio pre-advenimiento predicado
por el prim er ángel también lo es. Al tem er a Dios y d a d le gloria, el hijo
de Dios no sólo está dispuesto a glorificar a Dios a través de su obediencia,

sino también a sensibilizarse y a la vez reconocer su pecado, esperando


únicamente la misericordia divina.

Temed, dadle gloria y la adoración: respuesta del ya justificado


Para desarrollar esta parte, se analizará los términos temor, g lo r ia y
adoración .
Temor. En hebreo significa ten er m iedo, honrar. Como sustantivo
significa respeto. En los sapiensales, el tem or a D io s es parte integral de
una vida con propósito y que es agradable a Dios, puesto que “el temor
a Jehová es el principio de la sabiduría” (Pr 1:7), y tiene una orientación
moral (Sal 34: 11), o como aborrecimiento del pecado (Pr 23:17). Para
Salmos 1:2; 19:7; 119:22, temer implica guardar los mandamientos.

20Citado en Clifford Goldstein, “Que tu nombre esté sellado”, Como fuego en mis
huesos, trad. Adriana Itin (Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 2001),
22.
220 I Oscar Mendoza Orbegoso

En griego, tem er o m iedo es p h o b e o m a i y aparece 95 veces. Como


tem er (en tiempo presente) aparece catorce veces en el NT, y seis veces
en el libro de Apocalipsis. Tiene mi significado de amedrentar, m iedo,
respeto, adorar, reverenciar (a Dios). Tiene un sentido de reverencia y
sumisión en obediencia.
Gloria, (del hebreo t i p ’eref). Significa belleza, ornam ento,
distinción, orgullo. En algunos casos hace referencia a un rango (Pr 4:9)
o a la grandeza de un rey (Est 1:4). Esta palabra es usada en el sentido de
reconocimiento (Dt 26:19), y con frecuencia es usada para Dios, destacando
su rango y renombre (1 Cr 29:11).
En griego el término es doxa. En el NT principalmente tiene un
significado de opinión, estimación. Mayormente se usa para dar una buena
opinión de: (1) la naturaleza o los actos de Dios (muchos de ellos revelados
por Cristo, Jn 17:5, 24; Heb 1:3), lo que implica reconocerlo o exaltarlo
(Hch 12:23; Le 2:14); (2) el carácter y los caminos de Dios exhibidos por
medio de Cristo a y a través de los creyentes (2 Co 3:18, 21); (3) el estado
de bienaventuranza o bendición al cual los creyentes han de entrar, al ser
hechos a la semejanza de Cristo (Ro 8:18, 21; Fil 3:21).21
Adoración (gr. proskyn ou n tai). Significa “postrarse/inclinarse
delante de”, “inclinarse en homenaje o reconocimiento de autoridad y
sumisión”. En Apocalipsis aparece 24 veces y tiene una connotación de
homenaje u obediencia.22 Aquella adoración se debe de hacer en “espíritu
y verdad” (Jn 4:24).
Después de haber analizado estos términos, se puede notar la
magnitud del mensaje del primer ángel. El no sólo proclama el evan gelio
eterno sino también invita a tem er a Dios, dadle g lo ria , y a la vez adorarle.

21Vine, W.E., Vine diccionario expositivo de palabras del Antiguo y del Nuevo
Testamento exhaustivo (Nashville: Caribe) 2000, cl999.
22Para un estudio sobre la Adoración en Apocalipsis, ver Raymond Holmes, “La
adoración en el libro de Apocalipsis”, Theo 15, nro. 1 (2000): 14; Carlos Mora, “Un mod-
elo de adoración según Apocalipsis 19”, Theo 19, nro. 2 (2004): 165.
El mensaje del remanente en el tiempo del fin | 221

A reconocerlo tanto como rey y como juez.23 A reverenciarlo y darle


honra por sus obras realizadas a favor del ser humano. A obedecer sus
mandamientos y andar en caminos buenos y justos. Y que, a pesar de las
amenazas y persecuciones recibidas por parte de la trinidad satánica, ellos
continuarán mostrando los frutos de su fe.
Estos actos que glorifican a Dios, expresan temor y adoración ante
su presencia. Aquellos que han sido justificados mostrarán públicamente
sus obras. Como declara Holmes “El resultado de la proclamación del
‘evangelio eterno’ aumenta el número de aquellos que adoran a Dios, pero
el blanco final del evangelismo es producir verdaderos adoradores” .24
Al relacionar el mensaje del prim er y tercer ángel, nos podemos
dar cuenta que, mientras el primer ángel predica el “evangelio eterno” ,
el tercer ángel declara cómo viven aquellos que han aceptado dicho
mensaje, a saber, “guardando los mandamientos de Dios y teniendo fe en
el testimonio de Jesucristo [Espíritu de Profecía - cf. Ap 19:10; 22: 8,
9]”. Por lo tanto, no se puede separar el evangelio de los mandamientos.
El remanente de Apocalipsis no sólo predica la justificación por la fe
sino también los frutos que ella produce. El mensaje del primer ángel, en
relación a los otros dos, indica que el remanente no presenta un evangelio
subjetivo basado únicamente en el amor y la gracia de Dios. No existe
“una vez salvo, siempre salvo” en el mensaje tri-angélico.

El juicio pre-advenimiento
Otra de las verdades bíblicas que es proclamado por el primer ángel
es el juicio. Este juicio, como se mencionó antes, es el mismo de Daniel
7:9-11 (cf. Dn 8:14). Como declara Jackes D oukhan“Por lo tanto, parece
que el texto de Daniel 7 está más en la mente del autor que cualquier otro
texto de Apocalipsis 14” .25No sólo eso, el contexto tanto de Apocalipsis 14

23Jacques Doukhan, Secretos de Apocalipsis, 135.


24Holmes, 20.
25Jackes Doukhan, The Vision o f the End (Berrien Springs, MI: Andrews Univer-
sity Press, 1987), 60, 133. Ver también Ibid., Secretos de Apocalipsis, 133-4.
222 I Oscar Mendoza Orbegoso

(con su unidad más cercana que son los capítulos 12 al 14) como de Daniel
7, es prácticamente el mismo.26 Observemos el siguiente Diagrama:27

Daniel 7 Apocalipsis 12 al 14

La bestia (v.7). La bestia (13:1).

La persecución del cuerno pequeño La persecución de la bestia por 42


por tres tiempos y medio (v.8, 25). meses (12:6, 14; 13:5).

El juicio (w .9-12). El MTA: el Juicio (14:7).

La venida del Hijo del Hombre La venida del Hijo del Hombre
(vv.13, 14). (14:14).

Diagrama Nro. 03

Al ver este paralelo, se puede notar que el contexto escatológico


de ambos textos es el mismo. En ambos casos es presentada una bestia
espantosa con los mismos elementos. Se nota también el tiempo que el
cuerno pequeño persigue a los santos y pisotea el santuario (cf. Dn 8:12-
13), a saber 1.260 días/años. Luego que se desarrolla la persecución por
parte del cuerno pequeño, se inicia el juicio, y luego de este juicio, la
venida del Hijo del Hombre.
Al ver la historia y comparándola con la profecía, los 1.260 días/
años se cumplió en toda la edad media, desde el año 538 hasta 1.798

26Beale ha sugerido Daniel 4 como paralelo de Apocalipsis 14: 6-8 por la variedad
de elementos semejantes encontrados en ambos pasajes (G.K. Beale, The New Interna-
tional Greek Testament Commentary NIGTC: The Book o f Revelation [Grand Rapids,
MI: Eerdmans Publishing Company, 1999], 750-4). No obstante, creemos que Daniel 7
es más explícito y aceptable puesto que no sólo se encuentran elementos parecidos a los
de Apocalipsis 14 sino que el contexto escatológico también es el mismo, algo que en
Daniel 4, no ocurre.
27Ver también Jackes Doukhan, Secretos de Apocalipsis, 134.
El mensaje del remanente en el tiempo del fin | 223

d.C. Después de este cumplimiento, a partir de 1.798 d.C., por lo tanto,


comienza el juicio, pero no exactamente en esta fecha.28.
Esto hace concluir que, el juicio tanto de Daniel como Apocalipsis
comienza en la misma fecha y antes de la Segunda Venida. Sobre este
juicio es registrado básicamente en el NT, como podemos verificar en el
diagrama a seguir:

Texto D eclaración

“Y los que hicieron lo bueno saldrán a resurrección


Jn 5:29 de vida; más lo que hicieron lo malo, a resurrección
de condenación” .

“ ...sino cierta horrenda expectación de juicio,


Heb 10: 26-30 y la furia de un fuego que hace consumir a los
adversarios”

“Porque todos nosotros debemos de comparecer


ante el tribunal de Cristo, para que cada uno sea
2Co 5:10
recompensado por sus hechos... sea bueno 0 sea
malo” .

“Porque es tiempo que el juicio comience por la


1 P 4:17
casa de D io s...”

“ .. .y los muertos fueron juzgados por lo que estaba


Ap 20:12
escrito en los libros...”

“ ...Yo vengo pronto, y mi recompensa está


Ap 22:12
conm igo...”

Diagrama Nro. 04

28Mientras Daniel 7 afirma que el juicio pre-advenimiento se realizará después de


los tres tiempos y medio (1260 años), en cualquier fecha después de 1798 d.C.; Daniel 8
nos da la fecha específica: el juicio ha de comenzar después de haber concluido las 2 300
tardes y mañanas, a saber, en 1844 d.C.
224 I Oscar Mendoza Orbegoso

Estos pasajes dan a entender explícita e implícitamente, la existencia


de un juicio previo a la parusía. Aunque ninguno de ellos indica la fecha,
de algo tenemos que estar seguro, la B ib lia nos h abla d e un ju ic io p r e -
advenim iento. Al parecer, en el segundo retomo de Jesucristo, él sólo
vendrá a dar el veredicto. Si Cristo vendrá a dar únicamente el veredicto
¿no se supone que tuvo que haber un juicio previamente? Precisamente
este es el juicio de Apocalipsis 14:7.
Ahora se quiere responder a la pregunta, ¿en qué consiste este juicio?
Para contestar a este interrogante, se tiene que plantear otro, ¿cuál es la
base para el juicio pre-advenimiento?
Para comenzar, no se puede responder a esta pregunta con Daniel 7.
Se debe de hacer un paralelismo con Daniel 8. Observemos el siguiente
diagrama:

Daniel 7 Daniel 8

León alado

Oso Camero

Tigre con cabezas Macho Cabrío

Bestia espantosa

Los diez cuernos

Cuerno pequeño Cuerno pequeño

• Apogeo: 3 1/2 tiempos. • Apogeo

Purificación d e l santuario: inicia al


Juicio en e l cielo
terminar los 2.300 días

Diagrama Nro. 05
El mensaje del remanente en el tiempo del fin | 225

Según este paralelismo, tanto el juicio como la purificación del


santuario celestial, inician en la misma fecha (al iniciar la purificación),
a saber 1844 d.C. A partir de este año se juzga tanto a los santos como al
cuerno pequeño, y a la vez se purifica a estos mismos santos y al santuario
celestial.
Para poder comprender mejor el juicio y la purificación del
santuario de Daniel, se debe tomar como base el pensamiento hebreo,
específicamente a la luz del santuario terrenal judío. Delimitando aun más,
se necesita encontrar un evento donde se juzgue y a la vez se purifique
tanto al santuario terrenal como a los hebreos. Justamente aquel evento
es el Día de Expiación. En este día Dios juzgaba y purificaba tanto a los
hebreos como al santuario. Como Doukhan expone:

Plasta el día de hoy, los judíos celebran el Kippur como un día


de juicio o de expiación. Durante todo el año uno se puede
olvidar de Dios y de la religión, y cometer delitos. Pero hasta
el villano más grande, si es judío, se arrepentirá el Día de
Expiación y temblará al sonido del shofiar, la señal del juicio
divino. Los judíos identifican al Kippur con el Día del Juicio.29

Levítico 16:16, 30, 3 3 3 4 ‫ ־‬expresan la expiación tanto del pueblo


como del santuario:

Hará, pues, expiación por el lugar santo a causa de las impurezas


de los hijos de Israel... así hará también con la tienda de
reunión que permanece con ellos en medio de sus impurezas
.. .porque en este día se hará expiación por vosotros para que
seáis limpios; seréis limpios de todos vuestros pecados delante
del Señor...

En este día los judíos se presentaban en el santuario ante Dios, para


participar del juicio que Él iba a emitir. Por un lado estaban los penitentes,
y por otro, los impenitentes. Sólo los que estaban arrepentidos de sus
29Jacques Doukhan, Secretos de Daniel, 129.
226 I Oscar Mendoza Orbegoso

pecados y confiaban tanto en la sangre del macho cabrío, la intercesión del


sumo sacerdote, y principalmente en la misericordia y la justicia divina,
eran salvados (era un juicio a favor de los santos). Los rebeldes, eran
condenados (un juicio en contra de los impíos, Lv 20:3; Nm 19:13, 20).
En este evento se observaba tanto la justicia como la misericordia de Dios.
Este mismo día de expiación, en paralelo con Daniel 8:14 y 7: 9-11,
tiene también una cosmovisión escatológica. Así como se purificaba el
santuario terrenal en el Día de expiación, de la misma manera el santuario
celestial es purificado en Daniel 8:14. Y así como se juzgaba al pueblo el
día diez de Tishri, así también son juzgados en Daniel 7. Como declara
Roy Gane “No es simplemente un día ceremonial oficiado por un sumo
sacerdote israelita; esto es un clímax escatológico ante una lucha cósmica
sobre señorío y adoración”.30
Teniendo esto como base, se puede comprender mejor el juicio
proclamado por el primer ángel:
1. En este juicio participan tanto los santos como los rebeldes.
Los santos, según el contexto de Apocalipsis 14, son aquellos que han
aceptado el evangelio eterno (14:6), “guardan los mandamientos de
Dios y tienen la fe de Jesús” (v.12), no se contaminan con Babilonia
(v.8), y esperan la segunda venida de Cristo (v.14). En el caso de
los rebeldes, ellos son los apóstatas que han rechazado la verdad del
evangelio, pisotean la ley de Dios, y desconfiar del testimonio de Cristo.
2. El juicio es a favor de los santos y en contra de los rebeldes. Esto
hace suponer que los santos no deben sentir miedo ante el juicio pre-
advenimiento, por el contrario, deben estar siempre regocijados al saber
que, el juicio en el cielo es a favor de ellos. Los únicos que deben de sentir
pavor son los impenitentes.
3. En el juicio pre-advenimiento se pronuncia la misericordia y la
justicia de Dios tanto para los santos, como para los rebeldes.

30Roy Gane, “Judment as Covenant Review”, JATS 8, nro. 1, 2 (1997): 184.


El mensaje del remanente en el tiempo del fin | 227

3.1. Misericordia: el hombre desde que pecó está destituido de


la gloria de Dios y condenado a la muerte eterna (Ro 6:23). No
obstante, Dios envió a su Hijo para redimir al hombre y tomar
su lugar, con el fin que él pueda obtener la vida eterna. Para
este acto redentor, Dios perdona y limpia los pecados de cada
ser humano por medio de su sangre. Depende de cada persona
si acepta o no este don divino.
3.2. Justicia: Dios no sólo perdona al pecador, sino también
lo justifica. En este acto Dios ama al pecador pero aborrece
el pecado. Puesto que el hombre pecó, Dios elimina el
pecado en él y lo cubre con el manto de justicia de Cristo,
quedando declarado justo. Sin culpa. No obstante, aquellos
que no aceptan ni la sangre ni el manto de justicia de Cristo,
quedan declarados condenados. Por lo tanto, este juicio es
para salvación. Salvación para aquellos que van con fe ante la
presencia de Dios para “recibir oportuno socorro” (Heb 4:16)
y ser declarados justos e inocentes. Y perdición, para los que
rechazan este don.

4. Aquellos que fueron partícipes del juicio y llegaron a ser declarados


justos, mostrarán sus frutos de justicia. Ahora vivirán como tal, guardando
los mandamientos.
5. El principal objetivo de este juicio, según Roy Adams, es la
vindicación, tanto de Dios, su santuario, y los santos.31 A través de este
juicio, los seres celestiales declararán “Porque sus juicios son verdaderos
y justos...” (Ap 19:2), y se habrá mostrado tanto la justicia como la
misericordia de Dios ante las huestes angelicales.
Por medio de este juicio, el remanente invita al mundo entero a
aceptar o rechazar la salvación por parte de Dios. Proclama e invita a
aceptar esta verdad que tiene como eje el evangelio. Llama al mundo para
ser partícipes de este juicio, con el fin de que Dios los declare justos, como
si nunca hubieran pecado. Todo esto gracias, al acto redentor de Cristo y
31Roy Adams, The Sanctuary: Understanding the Heart o f Theology (Hagerstown:
Review and Herald, 1993), 128.
228 I Oscar Mendoza Orbegoso

su intercesión en el cielo. Se sabe muy bien que, sin la justicia de Cristo,


nadie podrá ir al cielo. Precisamente aquella justicia es imputada gracias al
acto de Jesús en su santuario.
El remanente, al cumplir la misión, no debe de dejar de predicar este
mensaje. El mundo necesita no sólo el amor de Dios, sino también la justicia
de Cristo, el cual es uno de los objetivos del juicio pre-advenimiento.

El creacionismo
En un mundo donde el centro del universo y del conocimiento es
el hombre, y en algunas religiones la naturaleza, el remanente proclama
“Adorad al Creador” (Ap 14:7). Este mensaje reconoce a Dios como el eje
y originador de las cosas (ver también Gn 1:1). Alguien de quien depende
el inicio de la vida y su sustento (Heb 1:3). Como Creador que es, la honra
y la gloria son solamente para Él. Esto implica que ni el hombre ni la
naturaleza deben de autoproclamarse el centro del universo, ni mucho
menos auto adorarse o dejarse adorar, o ser instrumento de adoración (Is
40:25, 26; 45:18). El mensaje del primer ángel invita a adorar al Creador,
no a la creación. Como declara Carballosa:

La humanidad ha estado en rebeldía contra Dios. Los hombres


han adorado ‘a las criaturas antes que al Creador’ (Ro 1: 25).
Los humanistas y racionalistas han atribuido la existencia del
universo a causas fortuitas y han negado la misma existencia
de Dios. Ahora, en la consumación de los siglos, los hombres
son llamados a reconocer y adorar al soberano Creador del
cielo y tierra (Hch 14:15-17).32

En el contexto escatológico, poner a Dios como centro y no a la


creación, es sumamente importante. Mientras en el mensaje del primer
ángel (Ap 14:7) el centro es el Creador, y es Él, quien es adorado; las

32Evis Carballosa, Apocalipsis: La consumación del plan eterno de Dios (Grand


Rapids: Editorial Portavoz, 1997), 283.
El mensaje del remanente en el tiempo del fin | 229

bestias de Apocalipsis 13 se auto proclaman el centro de la humanidad y a


la vez exigen adoración (13:12-15). Por un lado, Dios como Creador tiene
el poder propio para “hacer maravillas” tanto en el cielo como en la tierra;
por otro, la bestias “hacen grandes señales” a tal punto de engañar a los
moradores de la tierra (13-14).
Esto nos permite concluir que, la razón principal de la controversia
final será en base a las siguientes preguntas: ¿Quién es el centro del
universo? ¿Quién debe ser adorado: Dios o su creación, Dios o el hombre?
Específicamente hablando ¿Dios, o las bestias espantosas de Apocalipsis
13? ¿A quién se le debe rendir homenaje? ¿A aquellas bestias que hacen
obras y señales prodigiosas, o a Aquel que ha creado los cielos y la tierra?
Cuando Juan escribió “adorad al que hizo el cielo y la tierra, el mar
y las fuentes de las aguas” es posible que haya estado pensando en Éxodo
20:4 y 11, referencia que varios eruditos han expuesto. Como por ejemplo
los editores de la cuarto edición del Griego del Nuevo Testamento. Ellos
notan en el margen que, Apocalipsis 14:7b es una alusión a Éxodo 20:11.33
De igual manera la Anchor Bible, con el comentario de J. Massyngberde,
declara: “El ángel heraldo en el 14: 6, 7 anuncia la reafirmación del
decálogo y la adoración de un solo Dios, en oposición a la adoración de la
imagen (13: 15) el cual violó los mandamientos Éxodo 20: 4.”34
La conexión entre la “adoración al Creador” del primer ángel, con
el decálogo, especialmente el cuarto mandamiento; genera una relación
entre la adoración, el segundo y cuarto mandamiento de la ley de Dios. En
especial, en el día sábado. Ekkehardt Müeller comenta: “Lo escrito en 14:7
especifica el cuarto mandamiento, adorar a Dios como Creador también
implica guardar su día santo, el día que Él instituyó en la creación como
una conmemoración de la creación”.35

33Ver Ranko Stefanovic, Revelation o f Jesus Christ, 416.


34J. Massyngberde Ford, The Anchor Bible: Revelation, I. Howard Marshall y
Donald A. Hagner, eds. (Nueva York: The Anchor Bible Doubleday, 1975), 248.
35Ekkehardt Müeller, “The End Time Remnant in Revelation”, JATS 11, no. 1/2
(2000): 194.
230 I Oscar Mendoza Orbegoso

Entonces, existe una relación estrecha entre la “adoración” y “los


mandamientos”, especialmente los primeros cuatro.36 Al parecer, en un
contexto escatológico, aquella persona que no desea adorar a la bestia ni a
su imagen, obedecerá fielmente a los cuatro primeros mandamientos.
De igual manera, para este primer mensaje no existe ni el
evolucionismo (ni evolucionismo teísta),37 ni la vida después de la muerte.
Ambos puntos de vista son enemigos de la creación de Dios. Por un lado,
el evolucionismo trata de contrariar el inicio de la vida, por el otro, la
inmortalidad del alma, el fin de la vida.
En este contexto escatológico, donde el mensaje bíblico de la
creación está siendo distorsionado y atacado por distintos pensamientos y
religiones, el remanente proclama “El ser humano fue creado por Dios, y
no vino de la naturaleza, puesto que ella también vino de Él. Tanto cielos
como tierra fueron hechas por su Palabra en seis días literales y no en un

lapso de tiempo mayor. Por ser nuestro Creador, a él se le debe adorar. No


a la bestia ni a su imagen, sino a Él. Aquella adoración se manifestará a
través de la observancia de los cuatro primeros mandamientos”.

Segundo mensaje angélico (14:8)

Pensamos que en este mensaje, sólo hay una verdad bíblica que debe
de ser proclamada: La caída de Babilonia. Esta caída implica el juicio
condenatorio de este sistema político religioso, y la advertencia a salir de
ella (cf. 18:4).

36Anthony MacPherson propone un paralelismo entre Apocalipsis 13 y Éxodo 20


donde concluye que el ataque de las bestias de Apocalipsis 13 será básicamente a los
cuatro primeros mandamientos, ver Anthony MacPherson, “The Mark o f the Beast as a
‘Sign Commandment’ and ‘Anti-Sabbath’ in the Worship Crisis o f Revelation 12-14”,
AUSS 43, no. 2 (2005): 277.
37Para una defensa del creacionismo, frente al evolucionismo teísta, ver Norman
Gulley, “El desafío de la evolución teísta a la doctrina bíblica de la creación”, Theo 19,
nro. 2 (2004): 228-53.
El mensaje del remanente en el tiempo del fin | 231

La caída de Babilonia
Este juicio contra la “Gran Babilonia”38 es tomado de Isaías 21:9 y
Jeremías 51:7. En ambas citas se la juzga por su idolatría y por ser perversa
con otras naciones.
Babilonia siempre ha sido enemiga de Dios y de su pueblo/iglesia.
Fue ella la que lo llevó cautivo a Israel y profanó el santo templo de Dios,
tomando los vasos de oro (Dn 1:2). Por causa de ella, muchos reinos de
su época fueron influenciados y contaminados con su idolatría. Por estas
razones, es que Dios emite un juicio contra ella.
En Apocalipsis 14:8 aparece nuevamente Babilonia. Siendo que es
un contexto escatológico y a la vez lleno de figuras, y hoy al no existir
el imperio babilónico, obviamente “Babilonia la grande” es un sistema
simbólico. Pero, a pesar de su simbolismo, hay una semejanza entre
Babilonia Antigua, y Babilonia la grande.39
En el caso del juicio tanto a Babilonia Antigua y la apocalíptica,
ambas reciben un juicio emitido: “Ha caído, ha caído Babilonia”. ¿Por
qué su caída? ¿En qué consistió/te dicho juicio? En primer lugar, este
juicio tiene como objetivo determinar que Babilonia está condenada. A
pesar que ella aun siga existiendo, puesto que reaparece en Apocalipsis
18:4, ella ya obtuvo la condena eterna. En segundo lugar, su caída va de la
mano con su idolatría y blasfemia. En el aspecto religioso y moral. Por lo
registrado, Babilonia llegó al colmo con su inmoralidad. A tal punto de ser
representada a través de una prostituta (Ap 17:l-5).40
38La expresión “Gran Babilonia”, probablemente tiene como base al nombre de la
ciudad expresado en Daniel 4: 30. En este capítulo se observa a Nabucodonosor glori-
ficándose a sí mismo puesto que, según este rey, fue él el responsable de aquella grandeza.
Como resultado de aquella auto glorificación, el reino se le fue quitado (v. 31), ver G.K.
Beale and Sean M. McDonough, Commentary on the New Testament Use o f the Old Tes-
tament, G. K. Beale and D.A. Carson eds. (Grand Rapids, MI: Baker Academia, 2007),
1132.
39Por un lado, Babilonia antigua persiguió al pueblo de Dios, fue idólatra y blase-
femó contra Dios, por otro, Babilonia escatológica “bebe la sangre de los santos” (Ap 17:
4), embriaga a las naciones (14: 8), y tiene “nombres blasfemos” (17: 3).
40Han LaRondelle, en base a un estudio del AT, cree que Babilonia la Grande es
una iglesia que cayó en apostasia producto de su inmoralidad y en el rompimiento de su
232 I Oscar Mendoza Orbegoso

Esta mujer impura, por estar en un contexto de adoración y


persecución, representa todo el sistema apóstata mundial que va en contra
del remanente.41 Dicho sistema está mezclado entre el poder religioso y
político (cf. con Ap 13:9-18; 17.1-5).42 Como declara LaRondelle “La
Babilonia apocalíptica, entendida como la cristiandad apóstata, culmina
en una alianza de poderes eclesiásticos y políticos civiles para consolidar
el dominio religioso sobre la tierra”.43
Dicha unión fomentará una idolatría y una inmoralidad mundial.
Estas acciones tienen relación con las verdades bíblicas expresadas en
el MTA, en especial con “los mandamientos de Dios y el testimonio de
Jesucristo” (cf. 12:17 y 14:12). Es por este motivo que el remanente entra
a tallar. Mientras Babilonia embriaga a las naciones (14:8), el Remanente
proclama las verdades expresadas en Apocalipsis 14:6-12. Ambos, tanto
el Remanente como Babilonia, tienen su respectiva Misión. Por un lado,
Babilonia embriaga a las naciones para no reconocer y no aceptar el
poder salvífico de Dios y las verdades expresadas en la Biblia, y por otro,
el Remanente testifica para reconocer el poder salvífico de Cristo y las
verdades que se encuentran en su Palabra.

pacto con Dios. Al caer en apostasia, esta iglesia en varias oportunidades es comparada
con una prostituta (algo similar ocurrió con Israel en el AT cuando, al caer en apostasia,
fue comparada con una ramera, ver Ez 16 y 21). Ver Hans LaRondelle, “Babilón: Anti-
Christian Empire”, SR, 7: 1 5 7 6 3 ‫־‬.
41Joel Musvosvi recalca lo siguiente: “Al considerar la naturaleza de la Babi-
lonia mística o espiritual, debemos recordar que simboliza el sistema de creencias de las
entidades que la caracterizan, no a sus miembros individuales. Los miembros de estos
sistemas están invitados a elegir entre los sistemas falsos de creencias de Babilonia y
el verdadero sistema descrito en la Biblia. N o es correcto decir que los miembros de las
organizaciones a las que pertenecen incluyen Babilonia”, Joel Musvosvi, “El mensaje del
primer ángel”, en Lecciones de Escuela Sabática (Buenos Aires: Asociación Casa Editora
Sudamericana, Julio-Septiembre del 2001), 77.
42George Eldon Ladd, A Commentary on the Revelation o f John (Grand Rapids,
MI: William B. Eerdmans, 1972), 194.
43Hans LaRondelle, “El remanente y el mensaje de los tres ángeles”, Teología:
Fundamentos bíblicos de nuestra fe, Raoul Dederen, ed., trad. David Gullón (Doral, Fl:
Asociación Publicadora Interamericana, 2008), 8: 214.
El mensaje del remanente en el tiempo del fin | 233

Además, el remanente, a través del segundo mensaje, proclama la


caída de Babilonia y advierte al pueblo de Dios que está en ella (Ap 18:4),
a salir con el fin de que no se sigan contaminando. El remanente debe de
recordar que ellos también han sido llamados a rescatar al pueblo de Dios
invisible de las manos de esta ramera.

Tercer mensaje angélico (14:9-12)

En este mensaje se puede extraer cuatro verdades, que deben ser


proclamadas (sumando las verdades del primer ángel, más la del segundo)
llegamos entonces a completar las nueve verdades: (6) La marca de la bestia,
(7) Los mandamientos de Dios, (8) Fe en el Espíritu de profecía, y (9) El
Santuario. Por más que el cumplimiento de las acciones desarrolladas en
este mensaje es para el futuro, el remanente debe desde ahora, enseñarlas
con un fin preventivo, y no condenatorio.

La marca de la bestia
Marca viene del término gr. xaragma y es usado una sola vez en
Hechos (17: 29) y tiene relación con la idolatría. El resto de veces aparece
en Apocalipsis y se refieren a la marca de la bestia (13:16, 17; 14:9, 11;
19:20).
La marca de la bestia en Apocalipsis, siempre va acompañada de “la
adoración a la imagen”; y su contexto, está en un contexto escatológico de
adoración mundial. Esto hace concluir que la marca tiene relación con la
adoración.44
Se ha analizado anteriormente que, adoración guarda relación con
el cumplimiento de la ley. Que cuando uno desea adorar a Dios con su
vida, lo hace guardando sus mandamientos. Siendo de esta manera, si
adoración tiene que ver con obediencia a los diez mandamientos, y la
marca de la bestia está en un contexto de adoración, es probable que la

44Para un estudio más detallado, ver Carlos Olivares, “Elementos para descifrar el
666: Una propuesta”, DavarLogos 8.1 (2009): 31-58.
234 I Oscar Mendoza Orbegoso

marca de la bestia tenga mucho que ver, con los mandamientos de Dios.45
Especialmente con los cuatro primeros.
Al relacionar la marca de la bestia con los mandamientos, se puede
notar el empeño de Satanás y sus representantes de abolir totalmente la ley
de Dios. Y esto es registrado en Apocalipsis 12:17, donde el dragón no sólo
hace guerra contra el remanente, sino también, contra los mandamientos
de Dios. Esta batalla, es ampliada en el capítulo 13, especialmente en el
contexto de la adoración mundial (13:14-18).
Anthony MacPherson hace un estudio sobre, la marca de la bestia
en relación a los mandamientos de Dios. Él concluye que, existe relación
entre los mandamientos de Dios y “las señales” en el AT. Al parecer,
los mandamientos son considerados como “señales”. Por ejemplo, la
circuncisión (Gn 17:11), la marca en la frente o en el brazo (Ex 13:9,
16) y el sábado (Ex 31:13, 17; Ez 20:12, 20). Dichos mandamientos, en
base a Génesis y Éxodo, se caracterizaban por: (1) ser recordados: los
mandamientos y el evento de la liberación del Éxodo; (2) identificaba
señales de una especial relación entre Dios y su pueblo.46
Esta marca es colocada en la frente o en la mano derecha (13:16).
Enrique Treyer, al estudiar los términos sobre la mano y sobre la frente en
el AT, concluye:

Sobre la frente... sobre la mano” designan una experiencia


íntima y profunda entre el hombre y Dios, o un amor particular
de Dios por su pueblo... No se trata de una relación profunda
entre el hombre y s Creador, sino de una relación espiritual
muy íntima entre el hombre y los poderes del mal que operan
milagros engañadores.47

45Una relación similar es analizada por Mervyn Maxwell en “The Mark o f the
Beast”, SR, 7: 55.
46Anthony MacPherson, 277.
47Enrique Treyer, “Fuego del cielo y marca de la bestia: Un estudio exegético de
Apocalipsis 13:11-18” Theo 12, no. 2 (1999): 96.
El mensaje del remanente en el tiempo del fin | 235

Esto hace suponer que, aquellos que tienen la marca de la bestia en


la frente o en la mano, son personas que voluntariamente se han dejado
marcar. Al dejarse, ellos libremente se someten a la autoridad de las bestias
y deciden ser fieles a ellas. Esta fidelidad implicará rechazar la ley de Dios,
y por ende, la autoridad divina.
El tercer ángel también advierte que, aquellos que deciden tener la
marca de la bestia serán castigados con el “furor de Dios” (14:10) con el
fin que no tengan descanso (v.ll) y así obtengan la muerte eterna. De esta
manera, este mensaje proclama las consecuencias de no aceptar el sello de
Dios, y sí la marca de la bestia.
El remanente, sabiendo que este mensaje es más para el futuro que
para el presente, debe de proclamar este mensaje como algo preventivo, y
no condenatorio. Aim no es el tiempo de la marca de la bestia, tal cual lo
describe Apocalipsis 13. El énfasis de esta verdad es darle el debido lugar
a la ley de Dios, y no condenar a aquellos que la rechazan.

Los mandamientos de Dios


Mandamientos (gr. entole), aparece en Apocalipsis 12:17 y 14:12
dando a entender que se refieren a los mismos. ¿Cuáles? Los diez de Exodo
20. Por las siguientes razones:
(1) Para los sinópticos y para Pablo, entole son los diez mandamientos
de la ley y la máxima expresión del amor (Ro 13:9,10); y, es probable,
por el tiempo de escritura, que Juan haya tomado la palabra entole de los
sinópticos.
(2) El contexto de Apocalipsis 12:17 y 14:12 tiene como marco
referencial el Santuario Celestial (Ap 11:19; 15:5-8), por lo tanto, “los
mandamientos” son los 10 de Éxodo 20, puesto que las tablas de la ley
eran guardadas en ese lugar.
Estos mandamientos cumplen tres funciones en el contexto
escatológico: (1) son el centro del ataque de Satanás y sus instrumentos,
especialmente en los cuatro primeros; (2) es la máxima expresión del amor
236 I Oscar Mendoza Orbegoso

tanto a Dios como al prójimo; (3) al ser obedecidos reflejan los frutos
de la fe; (4) es una de las características que identifican al Remanente
(el Remanente del tiempo del fin, tendrá los diez mandamientos como
estandarte); y (5) guarda relación con el sello de Dios. En otras palabras,
sólo aquellos que observen la ley divina, serán los que recibirán el sello
de Dios.
Al cumplir estas funciones, el remanente predica y testifica, a través
de sus actos, el verdadero significado de la ley: El amor (Ro 13:8-10).
Al guardarlos, ellos están reflejando el carácter de Dios y glorificando Su
nombre a todas las naciones. Están dando una correcta adoración a Dios y
no a las bestias. Y son ellos los únicos que poseen el sello de Dios, el cual
les garantiza la vida eterna.

Fe en el Espíritu de Profecía
Para poder comprender esta verdad, hay que relacionar Apocalipsis
14:12 con 12:17 y 19:10. Al hacer esta relación, nos podemos dar cuenta
que los tres guardan semejanza.
(1) Por un lado, en el 12:17 el remanente tiene el testimonio de48
Jesús, por otro, en el 14:12, los santos guardan la fe de Jesús.
(2) Al hacer el paralelismo entre ambos textos, se puede notar que
testimonio va paralelo confe. Esta relación, más que enfatizar características
distintas del remanente, indican la fe del remanente, en el testimonio.49
(3) Este Testimonio es paralelo con los profetas del cap. 19:10. Lo
cual indica que el testimonio de Jesucristo es el Espíritu de profecía.

48La preposición de, gramaticalmente, es un subjetivo genitivo indicando que el


testimonio de Jesucristo es la revelación misma de él dada a los profetas cristianos (19:
10). Dicho “testimonio” es obtenido, y no predicado, por la iglesia. Juan nunca usa el
sustantivo “testimonio” con una construcción objetivo genitivo. Para un mayor estudio
y discusión sobre el uso del sustantivo “testimonio” en los escritos del NT, ver Gerald
Pfandl, “The Remnant Church and the Spirit o f Prophecy”, SR, 7:304-6.
49Para un mayor estudio, Hans K. LaRondelle, “La palabra de Dios y el testimonio
de Jesucristo”, Ministerio Adventista 322 no. 06 (2006): 2 4 7 ‫־‬.
El mensaje del remanente en el tiempo del fin | 237

El “Espíritu de profecía” o “el don de profecía” (1 Co 12:8, 10), es


uno de los dones espirituales que reciben los profetas (ver Ap 22:8, 9).
Dichas personas son aquellas que hablan de “parte de Dios, impulsados por
el Espíritu Santo” (2 P 1:21). En otras palabras, el “Espíritu de profecía”
es el mismo Espíritu Santo dando “testimonio de Jesucristo” a través de
sus siervos.
El “testimonio de Jesucristo” también incluye los mensajes dados
por Jesús al estar en la tierra. Es tomar como “regla de fe, de inspiración y
de autoridad” cada dicho, incluyendo lo tomado del AT.
No obstante, no sólo el NT habla acerca de Jesucristo, el Espíritu
de Profecía también profetizó de él en el AT. En Apocalipsis, no se usa
los términos “AT” para referirse a las profecías mesiánicas dadas por
los profetas, más bien, se utiliza la expresión “Palabra de Dios” para
referirse a lo mismo. Simplificando, hablar de la “Palabra de Dios” en
Apocalipsis, es hablar del testimonio del Antiguo Testamento. Como lo
aclara LaRondelle, “Ta palabra de Dios y el testimonio de Jesucristo’ es
el mensaje profético del Antiguo Testamento y el testimonio apostólico
del Nuevo Testamento”.50 Mario Veloso sintetiza, “Guardan también el
testimonio de Jesús. El testimonio del Apocalipsis, el testimonio de la
revelación histórica, toda la Escritura y el testimonio escatológico, que
es la revelación de Dios dada en el tiempo del fin. El Espíritu de profecía
completo”.51
El mensaje del tercer ángel registra que los santos tienen confianza
en el Espíritu de profecía. Mientras los pobladores de la tierra confían
en el “falso profeta” (Ap 16:13), el remanente tiene fe en los verdaderos
profetas de Dios.
Aquella fe del remanente tiene que ser proclamada. El mundo
debe de saber que la verdad fue relevada a los profetas. Que sus escritos
fueron inspirados y están en la Palabra de Dios. Que cualquier palabra o
50Ibid., 26.
51Mario Veloso, El Apocalipsis y elfin del mundo (Buenos Aires: Asociación Casa
Editora Sudamericana, 1999), 177.
238 I Oscar Mendoza Orbegoso

imposición de las bestias y de Babilonia, no son autoritativas sino sólo lo


registrado en la Biblia.
En el tiempo escatológico, en una época donde se desconfía en
la Biblia, donde sus verdades están siendo pisoteadas, e inclusive re-
interpretadas, el mensaje del tercer ángel es claro: “Confíen en la Palabra
de Dios. Hagan caso a los profetas. No duden. Obedezcan. Lean, recuerden
y crean las palabras de Cristo y permanezcan fieles hasta su venida”.
Para un buen cumplimiento de la Misión, el remanente debe de guiar
al mundo a la Biblia. Y sólo a ella.

El santuario
Aunque esta verdad no está explícitamente en el MTA, creemos
que, en base al contexto de Apocalipsis 12 al 14, el Santuario Celestial (o
Tabemáculo/Templo [Cf. Ap 15: 8]) , es el marco de referencia de estos
capítulos. Por lo tanto, todas las verdades proclamadas por los tres ángeles,
giran en tomo a este lugar celestial.
Dicha relación ha venido desde los días de Moisés. Desde aquella
época guardaba relación el santuario y las verdades que Dios deseaba que,
su pueblo y el mundo conociesen. Damos cuatro ejemplos:
El santuario y el evangelio. Por medio de la sangre de los animales,
Dios expiaba a su pueblo (Lv 16:16). Aquella expiación tenía como
objetivo el perdón y la purificación de los pecados con el fin de salvar al
ser humano, quien por fe, se acercaba para poder recibir oportuno socorro.
A través de este acto, el judío era partícipe de la verdad del evangelio.
Como declara Goldstein: “El evangelio fue predicado al pueblo de Israel
mediante el servicio del santuario: una representación gráfica de todo el
plan de salvación”.52

52Clifford Goldstein, Desequilibrio fatal: la verdad acerca del juicio, el santuario,


y la salvación, trad. Mario A. Collins (Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudameri-
cana, 1995), 72.
El mensaje del remanente en el tiempo del fin | 239

El santuario y el juicio. Era desde el santuario terrenal donde Dios


realizaba y emitía sus juicios (Nm 13:32; 14:2, 10, 23; 12:1, 4, 5; Sal 9:7,
8 ).
El santuario y la ley. Las tablas de la ley fueron guardadas en el
lugar santísimo, específicamente en el arca del pacto (Ex 25:10-21).
El santuario y el Creador. Era en este lugar donde Dios se
presentaba a través de una teofanía, y recibía adoración por los hebreos
tanto por ser su Creador como su Redentor (Ex 5: 15).
A través de estos ejemplos se puede notar que, muchas verdades
bíblicas fueron enseñadas por Dios a través del Santuario Terrenal. De
esta manera, siendo que el Santuario terrenal (tipo) es sombra del Celestial
(anti-tipo), es lógico pensar que las verdades bíblicas proclamadas por los
tres ángeles también tienen que giran en tomo al Santuario Celestial.
No bastante, no sólo se debe de proclamar las ocho verdades
estudiadas a lo largo de esta investigación. Se tiene que enseñar acerca
del Santuario. Que a través de ese lugar, Dios está salvando a los seres
humanos. Algo más importante, que en aquel lugar tenemos a un Sumo
Sacerdote intercediendo (1 Ti 2:5) por nosotros. Que si hemos pecado, y
si nos acercamos confiadamente ante el trono de la gracia, Él está presto a
interceder ante el Padre con el fin de poder recibir la expiación de nuestros
pecados (1 Jn 2:1; He 2:18; 4:16).
Los moradores de la tierra tienen que saber que hay un lugar, de
eterna redención en el cielo, y ese es el Santuario Celestial.

Conclusiones

1. Apocalipsis 14:6-12 registra nueve verdades básicas, no únicas,


que se deben proclamar en el tiempo del fin: (1) La justificación por la fe;
(2) La santificación; (3) El juicio pre-advenimiento; (4) El creacionismo;
(5) La caída de Babilonia; (6) La marca de la bestia; (7) Los mandamientos
de Dios; (8) La fe en el Espíritu de profecía y (9) El Santuario.
240 I Oscar Mendoza Orbegoso

2. Todas estas verdades bíblicas giran en tomo al evangelio eterno.


Si se va a predicar sobre la ley de Dios, se debe de hacer teniendo como
base el evangelio. Si se quiere proclamar sobre la marca de la bestia o
la caída de Babilonia, hay que hacerlo a la luz del evangelio. Si se va
a proclamar sobre el sábado o el juicio, de igual modo. Toda verdad,
sea cual hiere, tiene que tener como eje: Dios salvando al ser humano.
3. En el mensaje de los tres ángeles no se encuentra un mensaje
subjetivo. Se habla sobre la justificación por la fe (el evangelio eterno),
pero también acerca de sus frutos. Aquellos que son reflejados a través de
la obediencia a los mandamientos de Dios, y a la fidelidad de su Palabra.
No hay un mensaje de “una vez salvo, y salvo para siempre”.
4. A través de estas verdades bíblicas se puede notar el empeño de
Dios por salvar a la humanidad. No sólo “el amor de Dios” tiene relación
con salvación. También están los mandamientos, la fe en el Espíritu de
profecía, la creación, el santuario, la advertencia a no tener la marca de
la bestia y salir de Babilonia, el juicio pre-advenimiento, etc. Todas estas
verdades encajan y se direccionan para la redención final del hombre.
5. Toda persona, al querer cumplir la misión en el tiempo del fin,
debe de conocer primeramente las verdades bíblicas proclamadas en
Apocalipsis 14:6-12. Conocer únicamente el amor de Dios y su gracia,
dejando de lado estas verdades, demuestra falta de interés y preparación en
el cumplimiento de la Misión.
6. Cumplir la misión con un mensaje vano o superficial, es no
tener identidad en la Misiología. El remanente ha de proclamar todas las
verdades expresadas en Apocalipsis 14:6-12. No hacerlo, sería perder el
rumbo para lo que ha sido llamado.
7. Dios invita a sus hijos a predicar el MTA. A cumplir la misión de
forma completa y de manera imparcial.
LA MISIÓN COMO VÍNCULO REAL DEL CREYENTE
CON CRISTO Y CON LA IGLESIA, SEGÚN
COLOSENSES 1:24-2:3

Mario Veloso
Califórnia, EUA

...................................................................... mm.........

Pablo, en este texto, habla de Cristo en el evangelio. El evangelio,


no como enunciado doctrinal, cuya realidad jamás desprecia, sino como
realidad de predicación, como realidad de misión. La misión y predicación
de Pablo y de todos los creyentes de todos los tiempos: la iglesia.
El punto principal de Pablo es este: el acto de la predicación o sea, el
acto mismo de la misión, uno y el mismo, es el vínculo que une al creyente
con Cristo y con la iglesia en su vida diaria.
Lo dice Pablo en relación con cuatro acciones reales de su propia
vida: (1) cumplir las aflicciones de Cristo, vínculo con la iglesia, 1:24; (2)
anunciar el misterio del evangelio, vínculo con la iglesia, con el Padre y
con Cristo, 1:25-27; (3) anunciar el evangelio centrado en Cristo, vínculo
con Cristo, 1:28,29 y (4) luchar apasionadamente por la iglesia, vínculo
con la iglesia, 2:1-3.

Cumplir las aflicciones de Cristo: vínculo con la iglesia (1:24)


Pablo menciona su realidad de prisionero en Roma: una aflicción
para él. Sin embargo, no sufre por estar encarcelado, sino por estar
impedido para ir por el mundo predicando el evangelio, visitando las
iglesias carentes de su ministerio, cumpliendo la misión con los gentiles
242 I Mario Veloso

que, Cristo le encomendó desde su primer encuentro con él en el camino


a Damasco.
Recuerda sus padecimientos personales, pero no se queja. Sus
aflicciones están unidas a las aflicciones de Cristo por su iglesia y las
cumple como una continuación de ellas. Le producen satisfacción, hasta lo
alegran. ¿Por qué? Porque en ellas cumple la misión y la misión lo vincula
con Cristo. El centro de su pensamiento sufriente no es él mismo: es Cristo.
En relación con esas aflicciones y con Cristo destaca dos realidades
suyas: Una emocional, me gozo, dice. La otra conductual, cumplo, agrega.

Gozo centrado en los fieles


No se queja. Encuentra razón para alegrarse pues, como su maestro,
él también sabe descubrir las razones superiores, los objetivos mayores, el
sentido verdadero de su vida en la misión redentora, a la cual lo incorporó
Cristo, como su enviado.“Ahora me gozo, dice, en lo que padezco por
ustedes” (1:24a).
Su atención no está centrada en sí mismo. Está en Cristo: Él lo envió
a predicar, y está en los creyentes; por ellos padece y está siempre dispuesto
a mayor padecimiento si el servicio a ellos se lo demandara. Sabe que
lo demanda. Ha padecido mucho por toda el Asia Menor y por Europa a
causa de la misión. Ya aprendió que la salvación del pueblo, gracias a su
predicación y padecimientos, es una fuente de consuelo y de superación
del sufrimiento, en Cristo, a quien sirve sin reservas, y sin precio. Venga
lo que le viniere, él está listo a todo. No se importa con incomodidades, ni
con torturas, ni con prisiones, ni con amenazas de muerte. Si eso beneficia
al pueblo no creyente, si eso permite que el pueblo reciba el evangelio,
bienvenido.
También está identificado con el pueblo creyente por causa de su
identificación con Cristo: la mayor de todas las identificaciones.
La misión como vínculo real del creyente con Cristo y con la Iglesia | 243

Identificación con Cristo (1:24b)


Como Cristo sufrió por la iglesia, Pablo también está dispuesto, de
buena voluntad, a sufrir por ella. Con la misma actitud tolerante de Cristo.
Con el mismo amor abnegado de Cristo. “Cumplo en mi carne, dice, lo que
falta de las aflicciones de Cristo por su cuerpo, que es la iglesia” (1:24b).
El apóstol utilizó el término “cumplo”, en el sentido de completar.
¿Quedó pendiente alguna aflicción no completada por Cristo en la cruz
que, Pablo podría completar? No, ciertamente no. Pablo no se refiere a
eso. Cristo ya padeció todas las aflicciones redentoras. Además, nadie, que
no sea Dios, puede llevar sobre sí las aflicciones redentoras. Tal cuota
de aflicción, propia de la muerte segunda, ya había sido completada por
Cristo en su plenitud total.
¿A qué aflicciones se refiere Pablo? A las aflicciones de la
identificación con Cristo. Las aflicciones provocadas por un mundo
ofendido, a causa de la obediencia misionera de la iglesia.“En el mundo
ustedes tendrán aflicción [dijo Cristo a sus discípulos: la iglesia de sus
días] pero confíen, yo he vencido al mundo.”1
Al mundo no le gusta la identificación de la iglesia con Cristo. Le
desagrada su fidelidad a la misión. La razón es simple: no quiere a Cristo.
Lo desprecia. Lo rechaza. Actúa contra Él como si fuera su enemigo.

Si el mundo los aborrece [dijo Cristo a los discípulos] tengan


presente que antes que a ustedes, me aborreció a mí. Si fueran
del mundo, el mundo los querría como a los suyos. Pero
ustedes no son del mundo, sino que yo los he escogido de entre
el mundo. Por eso el mundo los aborrece.2

Esas son las aflicciones de la iglesia y Pablo estaba dispuesto a sufrir


por ella, como Cristo sufrió, para que las aflicciones de ella se redujeran.

1Juan 16:33.
2Juan 15:18,19
244 I Mario Veloso

¿Por qué estaba Pablo tan dispuesto a ese sufrimiento por la iglesia?
Porque la iglesia es el cuerpo de Cristo y él estaba identificado con Cristo
hasta el punto de entregarlo todo por él. Todo su bienestar, toda su persona,
toda su dedicación, todos sus sufrimientos. Como él era todo de Cristo
también todo su ser era propiedad de la iglesia. Una pasión blanca superior,
más intensa, más poderosa, que todas las pasiones negras, propias del
corazón humano integrado al mundo con sus corrupciones.
¿Espera Cristo esa clase de dedicación a la iglesia que va hasta el
sufrimiento por ella? Es claro que sí. La obediencia misionera a Cristo,
implica entrega total. A él como cabeza de la iglesia y a la iglesia como su
cuerpo. ¿Existe alguna igualdad entre el servicio a Cristo y el servicio a la
iglesia, si entre ellos existe una unidad semejante a la unidad del cuerpo
con la cabeza? La respuesta es tan obviamente positiva que Pablo estaba
dispuesto a sufrir las mismas aflicciones por Cristo y por la iglesia. En
cada acto misionero, incluyendo la disposición total al sacrificio, Pablo,
y con él cada cristiano, se identifica con Cristo y con la iglesia. Cuanto
mayor la dedicación misionera, más real la identificación con la iglesia y
con Cristo.
En la carta a los filipenses dice:

Lo he perdido todo a fin de conocer a Cristo, de experimentar


el poder que manifestó en su resurrección, de participar en sus
sufrimientos y llegar a ser semejante a él en su muerte.3

Con Cristo y con la iglesia aun en el sufrimiento, hasta la muerte, se


hacen realidad visible en cada acción misionera.

Anunciar el misterio del evangelio: vínculo con la iglesia, con el Padre


y con Cristo (1:25-27)
El pensamiento de Pablo sigue en la iglesia y en Cristo. Los dos
juntos. Para Pablo, inseparables. Su compromiso con Cristo es también
3Filipenses 3:10
La misión como vínculo real del creyente con Cristo y con la Iglesia | 245

con la iglesia y su compromiso con la iglesia es también con Cristo. Muy


claro en su mente. Todos los cristianos debieran tener la misma claridad.
La vida del creyente está en conexión con Cristo y con la iglesia. No puede
ser sólo con Cristo y con la iglesia no. Tampoco lo contrario. Ese vínculo
se estrecha y se toma real a través de la misión. Predicar el evangelio es un
servicio a Cristo y a la iglesia. Todos los creyentes, de cualquier condición
y edad, deben predicar el evangelio.4 Ya sea en el púlpito, en salas de
conferencias, en el trabajo, en las calles, o en cualquier lugar donde se
encuentren con otras personas. Cuando comunican el evangelio están
cerca de Cristo y cerca de la iglesia, identificados íntimamente con ellos.
En el caso de Pablo y todos los apóstoles y todos los pastores, la
predicación, es una identificación de mayor tiempo. Todo su tiempo está
dedicado a Cristo y a la iglesia. Cumplen un ministerio constante. Pablo
establece el verdadero vínculo de su ministerio con la iglesia, con Dios y
con Cristo.
El ministro es servidor de la iglesia. Su ministerio se origina en Dios.
Y Cristo es el contenido de su predicación.

Ministro de la iglesia (1:25a)


Pablo, después de haber dicho que cumple en su cuerpo las aflicciones
de Cristo por su cuerpo, la iglesia, agrega: “De ella fui hecho ministro...”
(1:25a).
Pablo no dice, en la carta a los colosenses: Fui hecho ministro de
ustedes, sino de la iglesia. Su ministerio era universal. Ciertamente incluía
la iglesia que estaba en Colosas, como parte de la iglesia universal, pero,
como no había trabajado personalmente en esa ciudad, se refirió a toda
la iglesia, el cuerpo de Cristo. Dios lo había llamado, al comienzo, para
predicar a los gentiles. Tenía un ministerio especial hacia ellos. Así lo
confirma en la carta a los efesios.
Les dice: “A mí, que soy menos que el más pequeño de todos los

4I Pedro 2:9-10
246 I Mario Veloso

santos, me fue dada esta gracia de anunciar entre los gentiles el evangelio
de las insondables riquezas de Cristo.”5
Sin embargo, no sea que, se mal entendiera su declaración y alguien
redujera su ministerio sólo a los gentiles, agregó: “Y de aclarar a todos
cuál sea el plan del misterio escondido.”6
Está claro entonces, el ministerio, de Pablo y de cualquier otro
ministro, es un servicio a la iglesia universal. Servicio ejecutado por un
siervo. Pablo y todos los ministros son siervos de la iglesia. No se trata de
una función jerárquica. El ministro no es una especie de príncipe a quien
todos deban rendir pleitesía. Es un siervo coordinador de las actividades
relacionadas con la atención pastoral y con la misión de la iglesia. Con
todo no es una función sin importancia.
Es siervo de la iglesia. Eso mismo lo coloca en una especial
relación con Cristo, cabeza de la iglesia. Quien manda en la iglesia es la
cabeza: Cristo. ¿Cómo? Por medio del Espíritu Santo y por medio de la
revelación de su voluntad escrita en las Sagradas Escrituras. El ministro y
todo dirigente de la iglesia, por su condición de siervos, deben someterse
enteramente a la voluntad de Cristo. No deben hacer nada en contradicción
con la Escritura. Deben actuar en armonía con la administración de Dios.

El ministerio cristiano se origina en Dios (1:25 b,c,d)


¿Cómo actuaba Pablo, el ministro, en relación con la iglesia?
“Según la administración de Dios que me fue dada ..” dice (1:25b).
Esta explicación incluye el origen de su ministerio. Estaba en Dios.
Dios mismo estableció el ministerio en la iglesia cristiana universal.
Ese ministerio era parte de su propia administración.7 Dios llama a los
ministros para participar con él en la administración de la iglesia. Además
de ser siervo de la iglesia, el ministro cristiano es también siervo de Dios.

5Efesios 3:8
6Efesios 3:9a
7Oikonomia: es la administración de Dios, por eso Pablo también llama adminis-
tración a su ministerio. (1 Co. 9:17; Ef. 3:2-9)
La misión como vínculo real del creyente con Cristo y con la Iglesia | 247

Como tal debe ejecutar la voluntad de Dios siempre. Por eso es una tarea
muy delicada cuya características principales deben ser fineza, fidelidad,
eficiencia y espiritualidad.
¿Qué incluye la administración de Dios en relación con la iglesia?
Los tiempos, la gracia y el evangelio. Jamás deja nada al azar ni a la deriva.
La administración de los tiempos. En el comienzo de la carta a
los efesios, Pablo define la iglesia como cuerpo de Cristo.8 Para llegar a
esa definición enumera una serie de elementos, relacionados con Cristo
y con Dios, como antecedentes de la iglesia. Sin ellos aparecería como
suspendida de la nada. Con ellos, tiene un fundamento muy seguro en
Dios y en Cristo. Entre los integrantes de ese fundamento, menciona la
administración de Dios. En este caso como administración del tiempo.
Pablo dice que Dios, en Cristo, nos bendijo, como miembros de su
iglesia; nos escogió, nos predestinó para ser sus hijos, nos hizo aceptos, nos
redimió y nos dio a conocer el misterio de su voluntad. ¿En qué consistía
ese misterio? “Reunir todas las cosas, del cielo y de la tierra, en Cristo,
para el cumplimiento de su administración del tiempo.”910
Es Dios quien administra el tiempo estableciendo momentos
específicos cuando deberían ocurrir ciertos acontecimientos importantes
vinculados con el plan de la salvación. Son tiempos cristológicos: apuntan
hacia Cristo y él les da sentido. Desde ese punto de vista, también señaló
Dios, el tiempo apropiado para la iglesia, porque dentro del tiempo de
Cristo la incluía. “Cuando vino el cumplimiento del tiempo [dice Pablo]
Dios envió a su Híjo.”]0
Vino su Hijo, sin perder su naturaleza divina, sin perder ninguno
de sus poderes, ni nada de su posición superior a todas las autoridades
existentes en este siglo, o en el siglo venidero, incluyendo la iglesia de la
cual es la cabeza. El y la iglesia vinieron en el tiempo apropiado, según la
administración del tiempo, realizada por Dios.
8Efesios 1:22,23
9Idem o ibid Oikonomia, Efesios 1:10
10Gálatas 4:4.
248 I Mario Veloso

En esta misma administración incluyó Dios la esperanza de la vida


eterna.

Dios que no miente prometió esta vida desde antes del principio
de los siglos y a su debido tiempo manifestó su palabra por
medio de la predicación.11

En esta palabra, Pablo también aclara la forma como los ministros de


la iglesia participan en la administración del tiempo. Lo hacen por medio de
la predicación. La acción de la predicación es, el tiempo donde los creyentes
se encuentran con Cristo y con la iglesia. Incluye la administración de la
gracia y la administración del evangelio.
La administración de la gracia. Pablo explica esta administración
a los hermanos de Efeso. El tema principal de esa carta es, la iglesia y
expone una eclesiología cristológica. Toda la vida de la iglesia y su
propio ser como tal están vinculados con Cristo y Pablo lo explica con la
metáfora del cuerpo unido a la cabeza. Cuando habla de las diversas clases
de miembros, gentiles y judíos, los describe como miembros del mismo
cuerpo, la misma iglesia. En la iglesia se unen judíos y gentiles por medio
de la misión. Esta unidad ocurre por causa de la gracia divina. Sin ella
los pueblos de la tierra, con sus diferencias tan radicales, jamás serían un
mismo cuerpo. Por eso Pablo dice a los hermanos de Éfeso: “Seguramente
han oído ustedes de la administración de la gracia de Dios que me fue dada
para ustedes.”12
Claro que sí. Habían oído. El mismo Pablo les había predicado sobre
ella. Formaba parte del evangelio y al predicarlo era imposible omitirla.
“Porque por gracia ustedes son salvos por medio de la fe; y esto no de
ustedes, pues es don de Dios.”13

11Tito 1:2.
12Efesios 3:2.
13Efesios 2:8
La misión como vínculo real del creyente con Cristo y con la Iglesia | 249

¿Cómo la iglesia y sus ministros administran la gracia de Dios? Por


medio del ejercicio de los dones recibidos del Espíritu Santo y por medio
de la predicación del evangelio.

Cada uno ponga al servicio de los demás el don que haya


recibido, administrando fielmente la gracia de Dios en sus
diversas formas. Si alguno habla, hable conforme a las palabras
de Dios; si alguno ministra, ministre conforme al poder que
Dios da, para que en todo sea Dios glorificado por Jesucristo,
a quien pertenecen la gloria y el imperio por los siglos de los
siglos.14

La administración de la Palabra de Dios y del evangelio.

Fui hecho ministro [dice], según la administración de


Dios que me fue dada a favor de ustedes, para que anuncie
cumplidamente la Palabra de Dios (Col. 1:25).

Pablo equipara aquí, la Palabra de Dios con el evangelio, pues desea


destacar el carácter revelador del evangelio. Hay en los dos, palabra y
evangelio, un acto revelador de Dios. Lo que revela es un misterio. Tiene
dos características, estuvo oculto y tiene una gloria.

El misterio oculto (1:26)


Estuvo oculto, pero no tiene nada que ver con ocultismo, ni con
hermetismo. “El misterio que había estado oculto desde los siglos y edades,
pero que ahora ha sido manifestado a sus santos” (1:26).
El ocultismo pretende manejar ciertas prácticas mágicas y misteriosas,
con el fin de desvelar presuntos conocimientos secretos de la naturaleza.
Su instrumento: Las ciencias ocultas. Entre ellas la magia, la alquimia y la
astrologia. Dios estámuy lejos de utilizar la naturaleza como, un escondedero

141 Pedro 4:10,11


250 I Mario Veloso

de su misterio. El misterio oculto de Dios tampoco tiene vínculo alguno


con la hermética, como se ha dado en llamar a las especulaciones descritas
por Hermes en sus libros de alquimia escritos en Egipto por el siglo XX
a.C. El misterio de Dios no tiene nada humano, ni natural, ni mágico.
El misterio de Dios es el evangelio, en el tiempo cuando Dios no lo
había revelado aún. No tenía la menor intención de mantenerlo oculto,
sólo estaba esperando el momento apropiado para revelarlo. Y lo hizo.
El contraste entre los siglos y edades del pasado durante los cuales
estuvo oculto y el ahora de su revelación es sorprendente. ¿Por qué el
evangelio estuvo oculto durante tanto tiempo? Dos razones principales:
Primera, Dios en su administración, no improvisa nada. Su presciencia
lo prevé todo y su eficiencia lo planea todo. Segundo, la administración
de Dios es siempre oportuna. Nada ejecuta antes, ni después del tiempo
oportuno. Cada hecho importante en la economía divina, tiene su propio
kairós. El tiempo oportuno para la revelación del evangelio, en general
comenzó cuando, por la entrada del pecado, el ser humano necesitó de él.
Y la revelación del evangelio, como evento de Cristo en el corazón de los
creyentes, cuando los creyentes lo aceptaron.
Pablo, en otros lugares, menciona el misterio oculto, con distinto
énfasis. Con énfasis en la revelación de los profetas y en la obediencia de
la fe, Dice:

Y al que puede fortalecerlos a ustedes según mi evangelio y


la predicación de Jesucristo, según la revelación del misterio
que se ha mantenido oculto desde tiempos eternos, pero se ha
manifestado ahora, y que por las Escrituras de los profetas,
según el mandamiento del Dios eterno, se ha dado a conocer a
todas las naciones para que obedezcan a lafe, al único y sabio
Dios, sea gloria mediante Jesucristo para siempre. Amén.15

15Romanos 16:25-27
La misión como vínculo real del creyente con Cristo y con la Iglesia | 251

Con énfasis en la revelación a los apóstoles y a la unidad de la iglesia,


cuenta su propia experiencia con el misterio.

Seguramente habéis oído de la administración de la gracia de


Dios que me fue dada para ustedes, pues por revelación me fue
declarado el misterio, como antes lo he escrito brevemente. Al
leerlo pueden ustedes entender cuál sea mi conocimiento en
el misterio de Cristo, el cual en otras generaciones no se dio a
conocer a los hijos de los hombres, como ahora es revelado a
sus santos apóstoles y profetas por el Espíritu‫׳‬, que los gentiles
son coherederos y miembros del mismo cuerpo, y copartícipes
de la promesa en Cristo Jesús por medio del evangelio, del
cual yo fui hecho ministro por el don de la gracia de Dios que
me ha sido dado según la acción de su poder.16

Luego Pablo, concentrando su exposición del misterio en su propia


experiencia con la predicación a los gentiles, dice que el conocimiento
del misterio es ahora dado a conocer por la iglesia, incluyendo los
lugares celestiales. Los cielos donde comenzó la rebelión del ángel que,
posteriormente se convirtió en Satanás.

A m í, que soy menos que el más pequeño de todos los santos, me


fue dada esta gracia de anunciar entre los gentiles el evangelio
de las insondables riquezas de Cristo, y de aclarar a todos cuál
sea el plan del misterio escondido desde los siglos en Dios, el
creador de todas las cosas, para que la multiforme sabiduría de
Dios sea ahora dada a conocer por medio de la iglesia a los
principados y potestades en los lugares celestiales, conforme
al propósito eterno que hizo en Cristo Jesús, nuestro Señor, en
quien tenemos seguridad y acceso con confianza por medio de
la fe en él.17

16Efesios 3:2-7
17Efesios 3:8-12
252 I M ario Veloso

Todas las veces hay alguna referenda a los siglos de los siglos
pasados, en los cuales el misterio de Dios, el evangelio, estuvo oculto,
contrastados con el ahora de su revelación.
Ahora. ¿Cuándo es este ahora?
1. Ahora es el tiempo: cuando los profetas ejercieron su ministerio.
“Se ha manifestado ahora, dice Pablo, y que por las Escrituras de los
profetas, según el mandamiento del Dios eterno, se ha dado a conocer.” 18
2. Ahora es revelado: cuando los apóstoles ejercieron su ministerio.
“Como ahora es revelado a sus santos apóstoles y profetas por el Espíritu.” 19
3. Ahora es dado a conocer: El tiempo cuando la iglesia ejerce su
ministerio. “Para que la multiforme sabiduría de Dios sea ahora dada a
conocer por medio de la iglesia.”20
4. Ahora es manifestado: Cuando sus santos ejercen su ministerio.
“Ahora ha sido manifestado a sus santos” (Col. 2:26).
¿Cuándo es ahora? No es un punto en el tiempo, ni un presente
incrustado en el intersticio temporal entre el pasado y el futuro. Es un
proceso que va desde el anuncio del plan de salvación (Gn. 3:15) y su
conclusión con el hecho central y determinante de la cruz. Conclusión que
ocurre con el acto final de Cristo en la historia de la salvación, la parusía.
Lo que venga después, es sólo un proceso de juicio y restauración de todo
lo que el inventor del pecado, con su invento nefasto, destruyó.
El misterio estuvo oculto y fue revelado por medio de la predicación
del evangelio. También tiene su gloria.

La gloria del misterio (1:27)


Cristo fue la mayor revelación del misterio oculto. Cristo contenido
total del evangelio. Cristo centro mismo del plan de salvación y de la
historia de la salvación. La gloria del misterio está vinculada con él y de
él se desprende. “A sus santos, dice Pablo, Dios quiso dar a conocer las
18Romanos 16:26
,9Efesios 3:5
20Efesios 3:10
La misión como vínculo real del creyente con Cristo y con la Iglesia | 253

riquezas de la gloria de este misterio entre los gentiles, que es Cristo en


ustedes, esperanza de gloria” (Col. 1:27).
La gloria del misterio, primero, cuando comenzó la predicación del
evangelio, fue una esperanza. La esperanza de que el Redentor prometido
por Dios en el evangelio, no sólo estuviera históricamente presente
entre los seres humanos, sino que estuviera también dentro de ellos. Sin
misticismo, ni magia. Presente por medio del Espíritu Santo con todo su
poder espiritual fortalecedor y santificados Unidos el Espíritu divino con
el espíritu humano para que, los poderes de Cristo y las características
personales de su naturaleza humana sin pecado, se hicieran rasgos propios
de la persona creyente transformada, por una nueva creación, en una nueva
persona. Una persona santa en Cristo Jesús. Bendita gloria del misterio.
La gloria de Cristo en cada creyente por la fe. Pues la administración del
misterio de Dios sólo se realiza por fe. Esta realidad espiritual se toma
visible en la acción misionera.

Como te rogué [dice Pablo a Timoteo] que te quedarás en Éfeso


cuando fui a Macedonia, para que mandaras a algunos que no
enseñen diferente doctrina. N i presten atención a fábulas y
genealogías interminables que sólo acarrean discusiones en
lugar de la administración de Dios, que es por fe, así te encargo
ahora.21

Anunciar el evangelio centrado en Cristo: vínculo con Cristo (1:28,


29)
La administración de Dios, hecha por él mismo y por sus fieles, a
quienes, por la fe, incorporó en ella, en forma individual y corporativa,
a través de la iglesia, cuerpo de Cristo, está especialmente ligada con la
predicación del evangelio.
Pablo, de manera simple, dice a los colosenses que, “ ... predicar el
evangelio es anunciar a C r i s t o Nosotros, nos dice, anunciamos a Cristo
(1:28a).

21I Timoteo 1:3,4


254 I M ario Veloso

Anunciar a Cristo: predicarlo (1:28a)


Al decir nosotros incluye al hermano Timoteo que, estaba con él,
y a todos los cristianos sin dejar a ninguno fuera de la misión cristiana.
Todos anuncian a Cristo. Lo hacen con cierta solemnidad por la grandeza
del Señor, Dios nuestro, y por la importancia extremamente grande de
su personalidad. También lo anuncian en forma familiar, sin formalidad
alguna, llenos de alegría pues se trata de un miembro muy ilustre de nuestra
familia. Es decir: de su familia, a la cual él los incorporó con mucho afecto.
Los hizo sus hermanos. ¡Qué honra! Y al mismo tiempo, ¡qué
intimidad! ¡Cómo se sienten cercanos a él! ¡Cuánta alegría les produce
anunciarlo a todos! Anunciar su persona, sus obras, La relación de ellos
con él, la apertura de su corazón para recibir, como miembros de su familia,
a todos los que crean en él. Su Padre se tom a también Padre de todos ellos.
Parientes de la Deidad.
Pero los creyentes, como miembros de su familia, no integramos
la Deidad. Son humanos, creados, peor que eso: pecadores. Por mucho
tiempo han sido enemigos de Dios. Pero gracias al sacrificio de Cristo en
la cruz y gracias al gran amor con que los amó, están ahora reconciliados
con Dios.
Les perdonó todos sus pecados, y el mismo Padre los hizo aptos en
su amado Hijo. Aptos para formar parte de su familia de los cielos y de la
tierra. ¡Qué alegría! ¡Cómo dejar de anunciarlo! Lo seguirán anunciando
por todo lugar, en toda circunstancia, a todo el mundo.
¿Cómo? A continuación veremos algunas maneras de cómo anunciar
esas buenas nuevas.

Amonestando y enseñando a todos (l:28b,c)

“Nosotros, dice Pablo, anunciamos a Cristo amonestando a todo


hombre y enseñando a todo hombre” (1:28b).
Los amonestamos a ustedes, dice. Entiendan bien: nuestra
amonestación no es con advertencias o recriminaciones. Sí, es verdad,
La misión como vínculo real dei creyente con Cristo y con la Iglesia | 255

todos tenemos muchas cosas por las cuales merecemos ser reprendidos.
Pero nosotros preferimos instruir. Transmitir el conocimiento de la verdad
sobre Cristo y la verdad acerca de su enseñanza completa, incluyendo la
verdadera manera de vivir que él nos enseñó.
Como él preferimos enseñar. Colocar la verdad en la mente de las
personas. No como una imposición forzada, sino como lo hace un maestro
pedagogo: Con toda ternura y cuidado. Con toda dedicación y afecto. Con
eficiencia y bondad.
Nuestro interés, al instruir y enseñar abarca todas las personas y
lo incluye todo. No queremos dejar a nadie fuera del conocimiento, ni
deseamos retener ningún conocimiento fuera de todas ellas. La verdad entera
para cada uno, sin faltar ninguno. No somos como esos falsos maestros,
herejes en realidad, que han llegado a vuestra ciudad, proclamando poseer
un tipo de conocimiento superior, reservado sólo para ciertos iniciados.
Pretenden ser gente especial, privilegiada delante de Dios a quienes él les
otorga un saber inaccesible para el pueblo común. Para ese pueblo, sólo
un conocimiento parcial. Sólo ciertas verdades, incompletas. Pero ellos,
maestros privilegiados, lo saben todo. Los demás, en el cristianismo,
incluyendo a los apóstoles y otros dirigentes, miembros del grupo común,
sólo comuneros del saber, no saben, dicen, a menos que lo aprenda de
nosotros.
¡Cuánto daño existe en esa clase de enseñanza! Desde el punto
de partida incorporan divisiones en la comunidad religiosa. Odiosas
divisiones en grupos: unos privilegiados, otros comunes. Además dividen
el saber. No es un todo homogéneo, compacto, con muchas verdades de
brillo compartido, como un diamante, único, con el mismo brillo en todas
sus caras. Cada cara compactada en el mismo diamante. Cada verdad una
expresión verdadera de la única verdad, una cara brillante de la única
verdad, un ángulo visible de la única verdad; porque no existe más que
una verdad: Cristo Jesús nuestro Dios, nuestro Redentor, nuestro Salvador,
nuestro Reconciliador, nuestro Revelador y nuestro Rey eterno, de quien
256 I M ario Veloso

todas las verdades surgen y en quien todas ellas resumen; porque Él es el


todo y en todo.
Por eso él dijo: “Yo soy el camino, la verdad y la vida. Nadie viene
al Padre sino por mí”22
¿En qué instruían Pablo y todos los ensefiadores del cristianismo?
“En toda sabiduría...” dice Pablo (Col. 1:28c)
Sabiduría total para la verdad total. Una sabiduría divina porque era
de la divinidad que Pablo obtenía su doctrina y los apóstoles también.
Específicamente Pablo, reconoce la gracia divina como fuente de la
sabiduría e inteligencia que operaba en ellos.
Dice:

En Cristo tenemos redención por su sangre, el perdón de


pecados según la riqueza de su gracia, que hizo abundar para
nosotros en toda sabiduría e inteligencia.23

La sabiduría es una expresión de la abundancia de la gracia divina.


Hay, entonces, en la sabiduría una abundancia divina tan grande que
incluye todas las cosas y cuando esa sabiduría vino a los cristianos como
revelación, trajo consigo la verdad de Dios.
Cuando hablamos de abundancia otorgada por Dios, tocamos el
campo de la bendición divina. Un don, una gracia, un regalo: incluye
lo espiritual y lo material. Otorga la paz del espíritu y su crecimiento
espiritual. Otorga el conocimiento de la mente y la inteligencia para usarlo.
Un uso recto, correcto y servicial.
Así llegó a Pablo el contenido total del evangelio, la palabra de Dios,
y así lo transmitía Pablo: como sabiduría de Dios.

Objetivo de la amonestación y la enseñanza (l:28d)


¿Existía algún objetivo en la transmisión de la sabiduría divina,

22Juan 14:6
23Efesios 1:7,8
La misión como vínculo real del creyente con Cristo y con la Iglesia | 257

traducida en evangelio de Cristo y en doctrinas cristianas?


Sí, por supuesto. ¿Cómo podría haber predicación del evangelio sin
pretender nada? Dios no crea nada que, no sirva para nada. Nada hace sin
objetivo. También el evangelio y la predicación de él tienen su objetivo.
Pablo los expresa sin ambigüedades ni misterios.
Amonestaba y enseñaba, Pablo dice:
- A fin de presentar perfecto a todo hombre en Cristo Jesús (1:28d).
Los seres humanos, viviendo en pecado como viven, son personas
imperfectas. El pecado las ha deteriorado moral, espiritual, intelectual y hasta
físicamente. Las ha tomado personas incompletas. Algo perdierony no saben
cómo recuperarlos. Tienen una personalidad inválida. No es que no valgan,
valen mucho como personas. Tanto valen que Cristo pagó su propia vida
para restaurarlas. Inválidas en el sentido de, haber sufrido una amputación
en la personalidad. Menus válidas, son menos de lo que eran cuando Dios
creó al ser humano. Los creó para la vida y ellos viven para la muerte. Eso
es menos, mucho menos. Tanto menos que pueden llegar a la nada, y llegan.
En la enseñanza de la sabiduría divina, el contenido de la predicación
del evangelio, Cristo, tiene por objetivo retomar el ser humano a su totalidad
original. Esa es la perfección deseada por Cristo. Ese es el objetivo del
evangelio. Nada menos.
¿Cuándo llegarán a su propia totalidad los creyentes? Algunos dicen:
- En la parusía. Cuando Cristo vuelva por segunda vez al mundo
para restaurar todas las cosas.
¿Será realmente así? ¿No será eso postergar los efectos principales
del evangelio por un tiempo demasiado largo? ¿Era esa la intensión de
Cristo?
Pablo explica la perfección en la carta a los filipenses. Ahí dice algo
sorprendente
“No que lo haya alcanzado ya, ni que ya sea perfecto.”24

24Filipenses 3:12
258 I M ario Veloso

Yo mismo no soy perfecto. Lo cual se extiende a todos los seres


humanos.
En otra parte dice él:
“ .. .No hay justo ni aún uno.”25
Pero todos los pecadores, por el sólo acto de creer en Cristo son
justificados por la fe, ahora. En el momento de creer.
Pablo también dice:
“Justificados pues por la fe, tenemos paz con Dios, por medio de
nuestro Señor Jesucristo.”26
Dice: tenemos. No dice: tendremos. Somos justificados en el
momento de creer. ¿También en el futuro? También. Todas las veces que
necesitemos la justificación y creamos en Cristo.
¿Ocurre lo mismo con la perfección? Una cosa tiene que ser
clara. ¿Alcanzamos la perfección, nos tomamos maduros y completos,
exclusivamente por nuestras propias obras o tiene la fe en Cristo algo que
ver con ella? Desde luego la fe tiene mucho que ver. Todo. ¿Puede alguien
alcanzar la perfección, alcanzar la personalidad completa como Dios la
creó en el principio, si no cree? No, imposible. La perfección no es para
los incrédulos. Es sólo para los creyentes.
La cuestión es ¿podemos alcanzarla ahora?
En relación con esta pregunta viene lo asombroso de la enseñanza
paulina a los filipenses. Después de decirles: no soy perfecto, casi
contradiciéndose, dice:
“Así que, todos los que somos perfectos, eso mismo sintamos; y si
ustedes sienten otra cosa, eso también lo revelará Dios a ustedes.”27
Literalmente dice: Todos los perfectos en esto pensemos. Los
prefectos ahora. Pensemos ahora. ¿Qué? Lo que acaba de decir:

25Romanos 3:10
26Romanos 5:1
27Filipenses 3:15
La misión como vínculo real del creyente con Cristo y con la Iglesia | 259

Hermanos, yo mismo no pretendo haberlo ya alcanzado; pero


una cosa hago: olvidando ciertamente lo que queda atrás y
extendiéndome a lo que está delante, prosigo a la meta, al
premio del supremo llamamiento de Dios en Cristo Jesús.28

Hay una plenitud futura, la meta final, no la poseo; porque todavía


no hemos llegado a la meta. También hay una plenitud actual. Consiste
en proseguir en Cristo. Yo prosigo. Mantengo la fe y vivo en Cristo. La
tengo. Vivo la plenitud en Cristo. La tengo porque estoy en Cristo. Y por
proseguir en él también tendré la perfección futura. Tan completo seré
entonces que aun tendré la plenitud corporal, física.

Cristo transformará nuestro cuerpo mortal en un cuerpo


glorioso semejante al suyo, por el poder con el cual puede
también sujetar a sí mismo todas las cosas.29

Ahí está el objetivo del evangelio: Que viva toda la plenitud en Cristo
ahora y en Cristo, al final, entre en la plenitud de la vida eterna.
Luego Pablo confirma: trabaja para lograr la perfección, la plenitud
de la personalidad humana original, la que Dios le dio en la creación. Y,
en este trabajo grandioso, humano y divino, no está solo. Dios está con él
como está también con todos los creyentes ocupados en la misma tarea.
“Para esto [agrega] también trabajo, luchando según la fuerza de él, la cual
actúa poderosamente en mí” (Col. 1:29).
Dios presente, con el creyente, en el trabajo del evangelio. Activo en
la misión. Su acción consiste en empoderar a los creyentes con toda la fuerza
necesaria, su poder, para lograr los objetivos redentores, restauradores y
salvadores para beneficiar, así, a los humanos perdidos, conduciéndolos a
la plenitud con que los creó al comienzo.

28Filipenses 3:13
29Filipenses 3:21
260 I Mario Veloso

Luchar apasionadamente por la iglesia: vínculo con la iglesia (2:1-3)


Lo que Pablo quiere decir es esto: Trabajo mucho. Trabajo con el
poder de Dios. Por eso la misión avanza. Tiene éxito. Crece. Me identifico
con él en la misión. En consecuencia muchos entran en la perfección de
Cristo Jesús. Entrarán también en la vida eterna cuando venga el Señor.
Todo esto se refiere a la parte externa, formal, de la predicación. Hay,
sin embargo, algo que está en nuestro interior. Me refiero a todos los
cristianos. Cada creyente tiene dentro de sí un sistema espiritual creador
de sus deseos, de sus ansias, de sus anhelos. Estos no hacen de cuenta que
sienten, realmente lo sienten. Existe una relación íntima entre la acción y
sus raíces espirituales en los deseos. Cuando la persona está en armonía,
es coherente. Acción y deseos deben tener el mismo grado de intensidad.
La misión tiene que ser prioritaria, igualmente prioritaria, en las acciones
y en los deseos. No es aconsejable hablar sobre la participación en una
actividad cuando, deseos y acciones no van en la misma dirección.
La incoherencia es una característica humana muy generalizada.
Negativa. A veces atrapa también a las personas cristiana. No debiera
ocurrir nunca. Para mostrar la absoluta coherencia en que Pablo vivía
y mostrar un ejemplo de vida para los creyentes, revela lo que está en
su interior, relacionado con la predicación del evangelio y con la misión
redentora.
La traducción utiliza la palabra quiero. No es la mejor. M ejor sería
traducirla como: celo, anhelo, deseo intenso.
Habla dos cosas incluidas en sus anhelos o deseos intensos: Las
personas, objeto de sus anhelos y el objetivo de su deseo por ellas.

Las personas objeto de los anhelos de Pablo (2:1)


¿Qué puede haber más intenso en el interior espiritual de un cristiano
fiel?
Los no creyentes tienen la codicia. Un excesivo apetito pasional por
algo ajeno: riquezas, propiedades, personas, posiciones, y hay más.
La misión como vínculo real del creyente con Cristo y con la Iglesia | 261

Las personas creyentes no codician. Inclusive tienen un mandamiento


de Dios prohibiendo la codicia.

No codiciarás [dice] la casa de tu prójimo: no codiciarás la


mujer de tu prójimo, ni su siervo, ni su criada, ni su buey, ni su
asno, ni cosa alguna de tu prójimo.30

Es claro: Los cristianos no codician. Ni pueden. ¿Quiere eso decir


que la capacidad de desear intensamente no existe en ellos? Existe. Claro
que existe. La diferencia está en el contenido u objeto del deseo y en la
manera como el deseo intenso se gobierna.
Veamos, entonces, la intensidad y el objeto de los deseos paulinos.

Quiero pues [dice] que sepan cuán grande lucha sostengo por
ustedes, por los que están en Laodicea y por todos los que
nunca han visto mi rostro” (Col. 2:1).

Quiero dice: tengo un anhelo intenso, fuerte como la codicia, sin


sus arrugas negras, sin sus bolsillos rotos, sin sus llagas ulcerosas, pero
tan fuerte como ella. Quizá más intenso aún. La intensidad de mi deseo
es tan fuerte como la muerte. En él participan mi voluntad, toda ella. Mis
emociones, todas ellas. Mis sentimientos, todos ellos. Mi albedrío, todo él.
Y toda fuerza de mi espíritu interior fortalecido por el poder supremo del
Espíritu Santo que mora en mí.
Así, intensamente quiero que sepan una cosa. También presente en
mi interior. También con fuerza concentrada y poderosa. Intensa como una
lucha, sin las dudas del conflicto. Intensa como una preocupación, sin las
ansiedades de lo incierto.
La intensa solicitud que yo siento por ustedes, por los que están
en Laodicea y por todos los que nunca han visto mi rostro. Es decir, la
solicitud apostólica abarcaba todos los cristianos, de todos los lugares

30Éxodo 20:17
262 I M ario Veloso

incluyendo los no cristianos. La solicitud de Pablo incluía su obra pastoral


y sus trabajos misioneros. La atención del rebaño y la evangelización de
todos los demás.
Impresiona como los cristianos de entonces tenían siempre un su
mente la obra total. Total en cuanto a las personas. Total en cuanto a las
actividades. Total en cuanto al territorio. La visión del todo era constante
y los conducía a planear en grande y a ejecutar lo pequeño, fragmentado y
puntual, en función de todo el mundo.
La permanente visión del todo, en el cumplimiento de la misión,
es indispensable. De lo contrario, el conjunto se pierde y la misión no
se cumple. Cuando se busca el todo, aunque parezca difícil; un día Dios
hará el milagro total y la misión será cumplida. Ese debiera ser el anhelo
intenso, diario, de todo cristiano.

Objetivos del anhelo apostólico (2:2,3)


Pablo, con sus ojos en toda la misión y en la atención pastoral,
no olvidaba focalizar el problema planteado por la herejía colosense.
Resolverlo era el objetivo de la carta a los colosenses y tiene que lograrlo.

Lucho [dice] para que sean consolados sus corazones y para


que, unidos en amor, alcancen todas las riquezas de pleno
entendimiento, a fin de conocer el misterio de Dios el Padre
y de Cristo, en quien están escondidos todos los tesoros de la
sabiduría y del conocimiento (Col. 2:2-3).

La solicitud de Pablo por los colosenses tenía los siguientes objetivos:


Consolar y unir
1. Consolar. ¿Cómo? No como quien consuela a los deudos en un
velorio. Eso es un intento de mitigar la tristeza, de reducir la pena, de
amortiguar el dolor. Los hermanos colosenses no estaban en un velorio.
Nadie había muerto aún. Los herejes estaban activos. Trataban de arrastrar
con ellos, fuera de la iglesia, tantos como pudieran. Un trabajo semejante al
La misión como vínculo real del creyente con Cristo y con la Iglesia | 263

que hizo el ángel rebelde cuando “arrastró la tercera parte” de los ángeles,
fuera del cielo, con él. Pero los herejes, por el momento, sólo eran un
peligro. Aún no había bajas en esa lucha.
El consuelo de Pablo era de otro orden. Estaba más cerca de animar
que de consolar. Tenía un elemento fortalecedor. Como ocurre cuando
el entrenador anima a los deportistas, sus dirigidos, para que ganen
la competencia. Pablo animaba a los colosenses a seguir con Cristo de
acuerdo al evangelio, no aceptando las denigrantes herejías de los falsos
maestros.
2. Unir. Este objetivo de Pablo, muy apropiado en un momento
cuando la herejía podía dividirlos en grupos de creencias antagónicas,
tiene una base y dos sub-objetivos encadenados.
La base es el amor.
“Para que, unidos en amor. . -les dice-.
El amor será siempre la base principal de la unidad. Es difícil unir
personas cuando están separadas por el odio. Sólo existe una manera:
reemplazar el odio por amor. Reconciliarlas. Obra imposible para los seres
humanos solos. Sólo posible para Cristo. Los colosenses vivían en Cristo,
pero los herejes trataban de destruir la fe de ellos en él, describiendo a
Cristo de manera contraria al Cristo del evangelio. Pablo sabía que el amor
de Cristo podía mantenerlos unidos y por ahí avanzó en su enseñanza.
Luego explica los dos sub-objetivos de la unidad, encadenados entre
5í: Pleno entendimiento y conocimiento del misterio.
Pleno entendimiento. Pablo desea la unidad en amor con este
objetivo:
- Para que alcancen todas las riquezas de pleno entendimiento (Col.
2:2c).
Normalmente la riqueza deseada por el ser humano es material,
dinero, mucho dinero. En lo posible, fácil, rápido, y de preferencia sin
trabajo. Por eso, las personas cometen tantas atrocidades morales para
obtenerlo. Por eso, destruyen tantas otras personas, en su camino, para
264 I M ario Veloso

obtenerlo. Por eso, falsifican hasta lo verdadero para obtenerlo. Se


destruyen unos a otros como si fuera, el curso natural del proceso a seguir
para obtenerlo.
Nadie asocia la riqueza con valores espirituales, ni buscan los valores
espirituales con la misma ambición manifestada hacia la riqueza material.
Pablo desea, en los colosenses, la unidad espiritual basada en el
amor, para alcanzar la abundancia de entendimiento. En la mente de los
colosenses, cuando oyeron la lectura de la carta paulina y escucharon la
palabra entendimiento, apareció la imagen de una persona segura, confiada,
con autoestima sana. Una persona sin críticas contra su comunidad, la
iglesia, y sin heridas emocionales causadas por experiencias negativas
personales o por hipersensibilidad angustiosa en las relaciones con los
demás. Segura en Cristo. Si cada persona creyente de Colosas fuera así,
todas podrían enfrentar la embestida destructora de los herejes, sin sentirse
afectadas en absoluto. Era lo que Pablo deseaba para ellas y para todas
las personas cristianas que, vivieran donde vivieran, capaces de enfrentar
crisis doctrinales o de cualquier otra naturaleza.
Pablo, sin embargo, además de desear que la unidad produjera
seguridad de entendimiento en Cristo y en la iglesia; quería que la
seguridad abarcara una apertura completa de la mente y su objetivo para
esto también es claro.
Dice: “A fin de conocer el misterio de Dios el Padre y de Cristo, en
quien están escondidos todos los tesoros de la sabiduría y del entendimiento”
(Col. 2:2d, 3).
El misterio de Dios y de Cristo es el mismo. Los dos participaron,
con plena integración de sus voluntades, en la formulación del plan para
salvar a la humanidad pecadora. Hicieron el plan de salvación aún antes
de la creación del mundo. El misterio de Dios, en la expresión paulina,
está focalizado en el secreto guardado hasta su comunicación a los seres
humanos. Los instrumentos para esa comunicación han sido Cristo mismo,
los profetas, los apóstoles, la iglesia y los creyentes. Además, en el misterio
La misión como vínculo real del creyente con Cristo y con la Iglesia | 265

de Cristo, está incluida la encamación: revelada y explicada, muchas veces,


a los seres humanos; pero, nunca de fácil comprensión.
En Cristo está todo lo necesario para que el misterio del evangelio:
misterio de la encamación, misterios de la integración de judíos y gentiles:
todos los pueblos del mundo, en la iglesia, misterio de la predicación;
pudiera ser ampliamente conocido y comprendido por todos los seres
humanos. Todo lo que necesitan es poseer el seguro entendimiento
producido por la unidad en Cristo cuya base, estable y cierta, es el amor
de Dios.
Al completar, Pablo, la exposición de la verdad evangélica, colocando
a Cristo como único centro del conocimiento, de la mente y de la fe, para
la salvación; abre toda la sabiduría divina y todo el conocimiento de Dios y
de Cristo, en relación con el plan de salvación; y los pone a disposición de
la personas dispuestas a abrir sus propias mentes, de manera total y segura,
para entenderlos y para aceptarlos. Esta actitud, de confianza y aceptación,
asegura la comprensión del evangelio y asegura los beneficios, salvación y
vida eterna en Cristo, proclamados por él.
Además, con esta seguridad, el ataque de los herejes, cargado de
error y exento de toda virtud, nada podría contra ellos.
Finalmente, la vinculación con Cristo y la pasión por la iglesia se
toman visibles en cada acto de la persona creyente, para cumplir la misión
y para enseñar el evangelio.
O ESPIRITO DA MISSÃO: UM PARADIGMA
PNEUMATOLÓGICO PARA A ATIVIDADE
EVANGELIZADORA DA IGREJA

Marcos de Benedicto
Casa Publicadora Brasileira, Brasil

A palavra “missão” evoca diferentes imagens na mente das pessoas,


dependendo de seu contexto cultural.1 Mas é provável que a maioria
não pense em Deus como “missionário” . No entanto, esse é o retrato
apresentado na Biblia. Num premiado livro recente intitulado The Mission
o f God, Christopher W right enfatiza que a missão é uma iniciativa divina,
não um empreendimento humano. Ele a define como “nossa participação
comprometida como povo de Deus, sob o convite e a ordem de Deus,
na própria missão de Deus dentro da história do mundo de Deus para a
redenção da criação de Deus”.2

1Este artigo foi preparado para o VIII Simpósio Bíblico-Teológico Sul-Americano


sobre Teologia e Metodologia da Missão, realizado no Seminário Adventista Latino-
Americano, nas Faculdades Adventistas da Bahia, em Cachoeira, Bahia, de 16 a 19 de
julho de 2009, e revisado em setembro de 2010. Todas as citações bíblicas são da Nova
Versão Internacional.
2Christopher J. H. Wright, The Mission o f God: Unlocking the Bible s Grand Nar-
rative (Downers Grove: IVP Academic, 2006), 22, 23. Para Wright (22, 29-47), a Bíblia,
incluindo o Antigo Testamento, pode ser lida sob uma perspectiva missional. Embora a
tese defendida por ele de que a missão constitui o tema central da Bíblia seja questioná-
vel, não há dúvida de que a missão é uma parte fundamental da mensagem bíblica e do
chamado do povo de Deus. A ideia de missão permeia a Bíblia. No Novo Testamento há
206 referências ao termo “enviar”, cujo verbo principal em grego é apostello. Calcula-se
que somente o apóstolo Paulo tenha viajado mais de 15 mil quilômetros em missão! Um
número cada vez maior de teólogos defende corretamente que mesmo no Antigo Testa-
mento podemos ver uma estratégia de Deus para salvar as nações e um mandato para seu
povo “evangelizar” o mundo. Ver, por exemplo, Jirí Moskala, “The Mission o f God’s
People in the Old Testament”, Journal o f the Adventist Theological Society 19 (2008):
40-60. Ele escreve: “No Antigo Testamento, não há povo de Deus sem uma missão;
268 I Marcos de Benedicto

Deus sempre esteve envolvido na missão. No Antigo testamento, se


não vemos muitos missionários ativos,3 no sentido de ir a outras nações,
vemos Deus em ação. Por isso, o notável missiólogo David Bosch escreve:
“Se há um ‘m issionário’ no Antigo Testamento, é o próprio Deus, que irá,
como seu feito escatológico por excelência, levar as nações a Jerusalém
para ali adorá-lo junto com seu povo da aliança.”4 No Novo Testamento,
Deus amplia ainda mais o escopo da missão, para incluir todos os povos.
A missão da igreja é baseada na missio Dei (missão de Deus),5
expressão latina que se refere a tudo o que Deus faz no mundo, diretamente
ou através de seus agentes, para comunicar a salvação e implantar seu
reino. Deus é o iniciador, o executor e o Analizador da missão. Se a missão
começa e termina com Deus, então temos que destacar os agentes primários
de Deus no mundo (ou, para usar a metáfora de Irineu, “as duas mãos

não há eleição sem uma comissão” (40). Veja ainda Walter C. Kaiser Jr., Mission in the
Old Testament: Israel as a Light to the Nations (Grand Rapids: Baker, 2000); Ferris L.
McDaniel, “Mission in the Old Testament”, em Mission in the New Testament: An Evan-
gelical Approach, ed. William J. Larkin Jr. e Joel F. Williams (Maryknoll: Orbis, 1998),
12-13; Bryant Hicks, “Old Testament Foundations for Mission”, em Missiology: An In-
troduction to the Foundations, History, and Strategies o f the World Mission, ed. John
Mark Terry, Ebbie Smith e Justice Anderson (Nashville: Broadman & Holman, 1998),
53-62. No Antigo Testamento, Deus “exclui” (separa) seu povo do mundo para incluir o
mundo em seu plano. Deus particulariza para generalizar, localiza para globalizar, aben-
çoa para abençoar. Em outras palavras, no contexto da aliança, a missão é para alguns,
mas a salvação é para todos.
3Os teólogos debatem se o testemunho de Israel era apenas passivo ou também
ativo. Podemos dizer que a missão no Antigo Testamento era centrípeta (que atrai para o
centro), enquanto no Novo Testamento é centrífuga (que sai do centro). Mas isso é uma
questão de estratégia básica. A essência da missão não muda. Deus é soberano para utili-
zar todos os métodos e meios missionários disponíveis.
4David J. Bosch, Transforming Mission: Paradigm Shifts in Theology o f Mission
(Maryknoll: Orbis, 1991 [reimpresso em 2008]), 19.
5Na história da missão cristã, afirma Petros Vassiliadis, houve uma transição da
missio christianorum para a missio ecclesiae e, com o reconhecimento de que o sujeito
da missão não é a igreja, mas Deus, houve um movimento da missio ecclesiae para a mis-
sio Dei, que, por um período, acabou se limitando no Ocidente a Cristo {missio Christi)
(“Reconciliation as a Pneumatological Mission Paradigm: Some Preliminary Reflections
by and Orthodox”, International Review o f Mission 94 [2005]: 36).
O Espírito da missão | 269

de Deus”6): o Filho e o Espírito Santo.7 O foco deste artigo é o Espírito


Santo,8 que não tem recebido a atenção que deveria como agente principal
da missão. Mas, antes de focalizar o papel do Espírito na missão, vamos
ver como anda a literatura adventista na área da pneumatologia aplicada à
missão.9

Missão sem o Espírito

Até recentemente, a pneumatologia era um campo negligenciado,


a “última fronteira inexplorada da teologia” .10 Clark Pinnock observa:
“Sobre outros tópicos há o suficiente na tradição para fazer o estudioso se
sentir oprimido, mas não aqui. Neste campo, as ofertas são relativamente
esparsas.” 11 Porém, desde que ele disse isso, em meados da década de
1990, o panorama mudou consideravelmente. Nos últimos anos, notáveis

6Irineu, Contra as Heresias, IV.20.1. Irineu aplica essa metáfora à criação, para
afirmar que Deus dependeu apenas de si mesmo para criar.
7Os agentes angélicos e humanos são muito importantes na missão, mas sua tarefa
deriva da missão do Filho e do Espírito. Falando da missão da igreja em seu livro The
Church in the Power o f the Spirit: A Contribution to Messianic Ecclesiology (Nova York:
Harper and Row, 1977), 64, Jürgen Moltmann sublinha: “Não é a igreja que tem uma
missão de salvação para cumprir no mundo; é a missão do Filho e do Espírito por meio
do Pai [ou, eu diría, é a missão do Pai por meio do Filho e do Espírito] que inclui a igreja,
criando a igreja à medida que ela segue seu caminho.”
8Aqui não é 0 lugar para discutir 0 assunto da identidade do Espírito. Mas, para
efeito deste artigo, podemos dizer que o Espírito é a presença pessoal de Deus no Uni-
verso, possibilitando a efetividade divina em todas as partes do cosmos de forma inteli-
gente, sem depender das criaturas. Como agente divino pessoal, ele representa a liberdade
e o poder que Deus tem de ser transcendente e imánente ao mesmo tempo, pois tem uma
capacidade infinita de cruzar todas as fronteiras do Universo e efetuar os desígnios de
Deus. Para uma defesa da importância de ver o Espírito como um ser pessoal, consultar
Ron E. M. Clouzet, “The Personhood o f the Holy Spirit and Why It Matters”, Journal o f
the Adventist Theological Society 17 (2006): 11-32.
9A partir deste parágrafo, uso esporadicamente informações ou mesmo fraseologia
de minha tese de Doutorado em Ministério, citada abaixo.
10Nikolay Berdayev, Spirit and Reality (Londres: G. Bles, 1964), 22.
11Clark A. Pinnock, Flame ofLove: A Theology o f the Holy Spirit (Downers Grove:
InterVarsity, 1996), 10.
270 I Marcos de Benedicto

teólogos têm escrito sobre o Espirito Santo.12 Isso se aplica a várias


tradições religiosas.13
Se antes era comum um autor iniciar um tratado de pneumatologia
lamentando a falta de obras sérias sobre o assunto, agora é preciso começar
ressaltando a mudança. Não dá mais para dizer que o Espírito Santo é
uma figura esquecida. Robert Imbelli, de fato, comenta que o Espírito
está rapidamente se tomando “o membro mais popular” da Divindade

'2Alguns exemplos da década de 1990 para cá: Manfred Dreytza, Der theologische
Gebrauch von Ruah im Alten Testament (Basel Giessen: Brunnen Verlag, 1990); Robert
T. Koch, Der Geist Gottes im Alten Testament (Bern: Peter Lang, 1991); W ilf Hildeb-
randt, An Old Theology o f the Spirit o f God (Peabody: Hendrickson, 1994); Ralph Del
Colle, Christ and the Spirit: Spirit-Christology in Trinitarian Perspective (Nova York:
Oxford University Press, 1994); Gordon D. Fee, G od’s Empowering Presence: The Holy
Spirit in the Letters o f Paul (Peabody: Hendrickson, 1994); Max Turner, Power from on
High: The Spirit in Israel s Restoration and Witness in Luke-Acts (Sheffield: Sheffield
Academic Press, 1996); Gary D. Badcock, Light o f Truth and Fire o f Love: A Theology
o f the Holy Spirit (Grand Rapids: Eerdmans, 1997); John McIntyre, The Shape ofPneu-
matology: Studies in the Doctrine o f the Holy Spirit (Edinburgh: T & T Clark, 1997);
Pinnock, Flame o f Love ; Wonsuk Ma, Until the Spirit Comes: The Spirit o f God in the
Book o f Isaiah (Sheffield: Sheffield Academic Press, 1999); Donald G. Bloesch, The Holy
Spirit: Works & Gifts (Downers Grove: InterVarsity, 2000); Jürgen Moltmann, The Spir-
it o f Life: A Universal Affirmation, trad. Margaret Kohl (Minneapolis: Fortress, 2001);
Bradford E. Hinze e D. Lyle Dabney, editores, The Advents o f the Spirit: An Introduction
to the Current Study o f Pneumatology (Milwaukee: Marquette University Press, 2001);
Kilian McDonnell, The Other Hand o f God: The Holy Spirit as the Universal Touch and
Goal (Collegeville: Liturgical Press, 2003); Graham N. Stanton, Bruce W. Longenecker
e Stephen C. Barton, editores, The Holy Spirit and Christian Origins: Essays in Honor
o f James D. G. Dunn (Grand Rapids: Eerdmans, 2004); F. LeRon Shults e Andrea Hoi-
lingswort, The Holy Spirit (Grand Rapids: Eerdmans, 2008); John R. Levison, Filled With
the Spirit (Grand Rapids: Eerdmans, 2009); Myk Habets, The Anointed Son: A Trinitarian
Spirit Christology (Eugene: Pickwick, 2010); A. Edward Siecienski, The Filioque: His-
tory o f a Doctrinal Controversy (Nova York: Oxford University Press, 2010).
13Em sua excelente introdução à pneumatologia contemporânea intitulada Pneu-
matology: The Holy Spirit in Ecumenical, International, and Contextual Perspective
(Grand Rapids: Baker Academic, 2002), 105-145, Veli-Matti Kárkkâinen seleciona seis
destacados pneumatologistas como representantes de diferentes tradições: John Zizioulas
(pneumatologia da comunhão), ortodoxo oriental; Karl Rahner (pneumatologia transcen-
dental), católico; Wolfhart Pannenberg (pneumatologia universal), luterano; Jürgen Molt-
mann (pneumatologia holística), reformado; Michael Welker (pneumatologia realística),
reformado; e Clark Pinnock (pneumatologia sistemática), batista/evangélico. Para as di-
versas obras expressando o pensamento desses autores, ver a bibliografia apresentada por
Kãrkkáinen.
_____ O Espírito da missão | 271

“e, nas mãos de alguns, é aparentemente o único membro”. A teologia


ocidental, já acusada de “logocêntrica” ou “cristomonística”, tende ao
“espiritomonismo”.14
Infelizmente, não há pneumatologias acadêmicas importantes
escritas por autores adventistas. Isso ficou claro para mim ao escrever
uma tese sobre o papel do Espírito Santo na capacitação dos crentes.15
Insights preciosos são encontrados espalhados em livros teológicos ou
devocionais sobre o Espírito Santo e outros tópicos, mas eu não consegui
encontrar nenhum estudo seminal, inovador e indispensável. Essa escassez
de fontes certamente diz mais sobre a agenda teológica da igreja do que
sobre seus talentos pneumatológicos. Mas a igreja pode aumentar e refinar
sua produção pneumatológica, incentivando a abertura dos crentes aos
movimentos criativos e renovadores do Espírito.16
O Espírito precisa ser estudado e buscado porque ele é tão essencial
quanto o Pai e o Filho, caso desejemos levar a doutrina da Trindade a sério.
Como diz provocativamente Eugene Rogers, “se o Espírito é dispensável
para o mundo, então o Deus triúno também é” .17 Em outra passagem, ele
ressalta que, em certos discursos teológicos, tudo o que o Espirito faz, o
Filho faz ainda melhor, o que tom a a função do Espirito algo de menor
importância ou mesmo supérflua.18 Kilian McDonnell também contesta
a ideia de valorizar mais a missão do Filho do que a do Espirito: “Se a
pessoa do Espírito não é igual à do Filho, se a missão do Espírito não é tão
importante quanto à do Filho, então aTrindade entra em colapso. A Trindade

14Robert P. Imbelli, “The N ew Adam and Life-Giving Spirit: The Paschal Pattern
o f Spirit Christology”, Communio 25 (1998): 234.
15Marcos C. De Benedicto, “The Role o f the Holy Spirit in Enabling Believers for
Ministry: An Adventist Perspective” (tese de DMin, Andrews University, 2004).
16O enfoque pneumatológico do simposio teológico de Foz do Iguaçu, em maio de
2010, pode ser considerado um passo importante nesse sentido. A ênfase do presidente
da Associação Geral, Ted Wilson, em reavivamento também deve produzir resultados
positivos.
17Eugene F. Rogers Jr., After the Spirit: A Constructive Pneumatology from Re-
sources Outside the Modern West (Grand Rapids: Eerdmans, 2005), 29.
18Ibid., 33.
272 I Marcos de Benedicto

não pode suportar pessoas ou missões em desigualdade e desequilíbrio.”19


Em relação ao tópico específico de nossa abordagem, vale
mencionar que vários segmentos dentro do cristianismo estão descobrindo
a importância da pneumatologia no contexto da missão.20 Mas essa
descoberta ainda precisa ser feita pelos líderes e missiólogos da Igreja
Adventista. Se a bibliografia sobre a missão adventista está crescendo,21
o mesmo não pode ser dito a respeito da literatura sobre pneumatologia
missional. Não se vê uma tentativa acadêmica séria de refletir sobre a
missão do Espírito no contexto da missão.
No contexto deste estudo, analisei os títulos mais representativos
da literatura missiológica adventista e constatei que a ênfase no Espírito
é praticamente inexistente nessas obras. Não é possível incluir a análise
aqui, devido ao espaço, mas, em resumo, pode-se dizer que o Espírito
é mencionado poucas vezes e apenas circunstancialmente.22 A grande

19McDonnell, 86.
20Por exemplo, ver John V. Taylor, The Go-Between God: The Holy Spirit and
the Christian Mission (Londres: SCM, 1973); Donald W. Dayton, “The Holy Spirit and
Christian Expansion in the Twenteth Century”, Missiology 16 (1988): 397-407; C. Doug-
las McConnell, editor, The Holy Spirit and Mission Dynamics (Pasadena: William Carey
Library, 1997); Andrew M. Lord, “Mission Eschatology: A Framework for the Holy Spir-
it”, Journal o f Pentecostal Theology 11 (1997): 111-123; idem, Spirit-Shaped Mission: A
Holistic Charismatic Theology (Waynesboro: Authentic Press, 2005); Vassiliadis, 30-42;
Kirsteen Kim, The Holy Spirit in the World: A Global Conversation (Maryknoll: Orbis,
2007); Jacques Matthey, editor, Come Holy Spirit, Heal and Reconcile!: Report o f the
WCC Conference on World Mission and Evangelism, Athens, Greece May 9-16, 2005
(Genebra: WCC Publications, 2008) (essa conferência do Conselho Mundial de Igrejas
focalizou o Espírito Santo no contexto da missão).
21Veja, por exemplo, a compilação bibliográfica feita por Tony Zbaraschu, “Sev-
enth-day Adventist Missions Around the World: A Guide to Research”, disponível em
www.lasierra.edu/library/heritage/sda-missions.html, acesso em 18 de junho de 2009.
Outra boa fonte sobre diversos tópicos é Don F. Neufeld, editor, Seventh-day Adventist
Encyclopedia, Commentary Reference Series, 2a ed. rev. (Hargerstown: Review and Her-
aid, 1996), v. 10 e 11.
22Entre as obras analisadas estão: Gottfried Oosterwal, Mission: Possible: The
Challenge o f Mission Today (Nashville: Southern Publishing Association, 1972); Jon
L. Dybdahl, editor, Adventist Mission in the 21s' Century: The Joys and Challenges o f
Presenting Jesus to a Diverse World (Hagerstown: Review and Herald, 1999); Cheryl
Doss, editor, Passport to Mission, 3aed. rev. (Berrien Springs: Institute o f World Mission,
2009); e Richard W. Schwarz e Floyd Greenleaf, Portadores de Luz: Historia da Igreja
Adventista do Sétimo Dia (Engenheiro Coelho: Unaspress, 2009). O último um livro é
O Espírito da missão | 273

exceção ao padrão adventista de negligenciar (na academia, pelo menos) o


papel do Espírito Santo na missão é Ellen White. Em seus muitos escritos,
a autora enfatiza de maneira clara e frequente a necessidade do poder do
Espírito no cumprimento da missão.23
Sem dúvida, há uma renascença de estudos na área de pneumatologia,
incluindo a pneumatologia aplicada à missão, mas isso ainda precisa
ocorrer dentro do adventismo. Naturalmente, os adventistas reconhecem o
papel central do Espirito Santo na rotina da igreja e no campo da missão,

sobre a historia da igreja, mas ajuda a discernir tendências teológicas.


23N o índice dos comentários e escritos de Ellen White sobre o Espirito Santo há
30 páginas, divididas em 36 categorias e mais as “misceláneas”. Ver Board o f Trastees
o f the Ellen G. White Estate, Comprehensive Index to the Writings o f Ellen G. White
(Mountain View: Pacific Press, 1962), 2:1245-1275. Por exemplo, em 1890, ela escreveu
que, sem o batismo do Espírito Santo, “não estamos mais capacitados a ir ao mundo do
que estiveram os discípulos após a cracifixão de seu Senhor” (“How to Meet a Contro-
verted Point o f Doctrine”, Review and Herald, 18 de fevereiro de 1890, parágrafo 13).
A mensageira lamenta que é “a ausência do Espírito” que toma o ministério pastoral tão
sem poder ( Parábolas de Jesus, 11a ed. [Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 1998], 328;
ver também idem, Testemunhos Seletos, 5a ed. [Santo André: Casa Publicadora Brasileira,
1985], 3:212). Segundo ela, “a pregação da Palavra não será de nenhum proveito sem a
contínua presença e ajuda do Espírito Santo”, que é “o único Mestre eficaz da verdade
divina” ( O Desejado de Todas as Nações, 22a ed. [Tatuí: Casa Publicadora Brasileira,
2004], 671). Ao falar da pregação no contexto da mensagem do terceiro anjo, White
valoriza mais 0 poder do Espírito do que o próprio preparo acadêmico, embora este seja
muito importante: “Os obreiros serão antes qualificados pela unção de seu Espírito do
que pelo preparo das instituições de ensino” (O Grande Conflito, 42a ed. [Tatuí: Casa
Publicadora Brasileira, 2004], 606; ver também idem, Testemunhos Para a Igreja [Tatuí:
Casa Publicadora Brasileira, 2004], 5:82). Poucas páginas adiante, ela diz que “a grande
obra do evangelho não deverá encerrar-se com menor manifestação do poder de Deus do
que a que assinalou o seu início”, e afirma: “A mensagem há de ser levada não tanto por
argumentos como pela convicção profunda do Espírito de Deus” (ibid., 611, 612). Incen-
tivando o enfoque pneumatológico em conexão com a missão, ela diz que devemos “orar
para que Deus batize seus embaixadores escolhidos nos campos missionários com uma
nca medida do seu Espírito”, pois “a presença do Espírito com os obreiros de Deus dará
à proclamação da verdade um poder que nem toda a honra ou glória do mundo dariam”
1Atos dos Apóstolos, 10a [Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2006], 50, 51, pontuação
corrigida). Na perspectiva de White, é a presença do Espírito que capacita, energiza e sus-
renta o agente missionário. Em 1890, ela disse taxativamente: “Se o poder divino não for
combinado com 0 esforço humano, eu não daria uma palha pelo máximo que o homem
possa fazer. Falta o Espírito Santo em nossa obra” (“How to Meet a Controverted Point
o f Doctrine”, Review and Herald, 18 de fevereiro de 1890, parágrafo 13). As citações da
autora enfatizando o papel do Espírito poderiam ser multiplicadas.
274 I Marcos de Benedicto

mas a academia precisa dedicar mais espaço ao tópico. Nessa área, Ellen
White, com seu status profético, precisa ser mais ouvida. Afinal, como
veremos a seguir, o Espírito foi fator decisivo no sucesso da missão dos
profetas, de Jesus e dos apóstolos, assim como deve ser o fator central na
missão da igreja.

Missiologia pneumatológica

N a Bíblia, todo agente ou agência com uma tarefa ou missão


extraordinária dada por Deus, seja artista, músico, profeta, líder/juiz, rei,
sacerdote, Messias, templo ou povo, precisa de uma unção/capacitação fora
do comum do Espírito Santo. Grandes personagens, eventos e instituições
têm a presença do Espírito Santo em um grau extraordinário.
A teologia missional da Bíblia tem um enfoque pneumatológico
porque, embora Deus use instrumentos angélicos e humanos, o trabalho de
Deus, em última instância, é feito pelo Espírito de Deus. A efetividade do
empreendimento missiológico depende do fator pneumatológico. Querer
cumprir a missão sem contar com o poder do Espírito é o mesmo que
querer ganhar um Grand Prix com um Fusca 69 sem gasolina; ou navegar
pela internet com um computador AT sem modem; ou mover um barco a
vela com o sopro da própria boca; ou iluminar uma sala através de uma
lâmpada elétrica sem ligar o interruptor. E impossível! O sucesso da missão
exige mais do que técnicas e métodos,24 ou mesmo a redescoberta do papel
dos leigos, por mais importantes que sejam. O enfoque nos métodos é
24“Homens, dons, métodos e leis são maquinaria morta, a menos que sejam vita-
lizados e tomados efetivos pelo Espírito do Pentecostés”, observa LeRoy Edwin Froom
(The Corning o f the Comforter, ed. rev. [Washington, DC: Review and Herald, 1949],
130). A o escrever sobre a oração na missão, Tim Crosby usa a metáfora da pipa para
enfatizar a mesma verdade: “Estabelecer uma nova missão se parece bastante com soltar
pipa. Exige muita corrida dura apenas para conseguir que ela saia uns poucos metros do
solo. Porém, 0 segredo para fazer uma pipa voar não é a corrida forte. Seminários sobre
técnicas para correr ou o último modelo de tênis para correr podem ajudar um pouco, mas
0 que a pipa mais precisa é de um vento suave. Somente então ela poderá planar” (“Wind
in the Sails: Prayer in Mission”, em Adventist Mission in the 21s' Century: The Joys and
Challenges o f Presenting Jesus to a Diverse World, ed. Jon L. Dybdahl [Hagerstown:
Review and Herald, 1999], 117).
O Espírito da missão | 275

mecanicista e o destaque para os leigos é antropocêntrico, enquanto a


ênfase no Espírito é teocêntrica.
A correlação entre pneumatologia e missiologia se tom a evidente
quando pesquisamos o assunto da missão na Bíblia, especialmente no Novo
Testamento. Todas as principais passagens que tratam de missão focalizam,
de modo explícito ou implícito, o poder do Espírito.25 Isso não é por acaso.
Ninguém deve se surpreender ao notar que os autores do Novo Testamento
enfatizam tanto o Espírito Santo no contexto da missão. Enquanto falamos
do Espírito apenas de forma implícita, esporádica e “desenfática”, Jesus e
os apóstolos falaram dele de maneira explícita, frequente e enfática.

O Espírito e a missão dos profetas


Foi sob a inspiração do Espírito que os profetas desenvolveram sua
missão de porta-vozes de Deus ao povo de Israel e às nações. Protótipos
dos apóstolos/missionários do Novo Testamento, os profetas eram movidos
pelo Espírito.26N a perspectiva bíblica, a fonte da profecia não é um estado
alterado da consciência humana, ou apenas 0 resultado de alta voltagem
cerebral, mas a inspiração do Espírito Santo, o que tom a a mensagem
confiável e a missão efetiva.
Note-se que a palavra Espírito, em português, está relacionada com
a palavra inspiração, do mesmo modo que, em grego, a palavra pneuma
está relacionada com theopneustos, que, literalmente, significa “soprado
por Deus”. Impelidos pelo Espírito (e mais preocupados com a mensagem
revelada de Deus e a eficácia dela do que com o processo de inspiração), os
profetas se tomaram fortes líderes espirituais do povo de Deus. Em certo
sentido, eram a consciência moral da nação e do mundo.
Sigmund Mowinckel argumenta que os profetas pré-exílicos, como
Amós, Sofonias, Naum, Habacuque, Isaías e Jeremias, nunca atribuem
sua mensagem profética ao “Espírito de Yahweh” . Em vez disso, eles
atestam a autenticidade de seu chamado pela associação com a “palavra

25Ver (Is 61; Mt 10:1; 2 8 :1 8 2 0 ‫ ;־‬Mc 16:15-18; Lc 4:16-19; Jo 20:21, 22; At 1:4-8;
2: 1C0 12; 2C0 3:1-11; Ap 14).
26Ver (Nm 24:1-3; 2Sm 23:2; lCrl2:18; Zc 7:12; 2Pe 1:21).
276 I Marcos de Benedicto

de Yahweh”. Somente com Ezequiel é que vemos certa mudança.27


Mowinckel explica essa atitude como um repúdio ao “êxtase orgiástico
selvagem” do nabi ’ismo. “Aos olhos dos profetas reformadores, o nabi’
comum é geralmente um enganador e trapaceiro, no melhor dos casos um
autoenganador, e sempre uma pessoa de caráter moral baixo”, ele escreve.
“Essa desaprovação é primariamente fundamentada em considerações de
moralidade, ...caráter e comportamento.”28
Sua análise perceptiva parece correta. Contudo, isso não invalida
a premissa de que a fonte real da inspiração e do poder dos profetas no
cumprimento de sua missão era o Espírito Santo. O fato de certos profetas
atribuírem sua mensagem à “palavra de Yahweh” era apenas um recurso
retórico para se dissociarem de figuras reprováveis, não uma negação
de que eram movidos pelo Espírito de Deus. Não há dúvida de que a
autoridade dos profetas vinha do Espírito de Deus, que os tom ava efetivos
em sua missão.

O Espírito e a missão de Jesus


Jesus não era uma figura extática do tipo excêntrico, mas era uma
personalidade pneumatológica.29 “A igreja nunca admitiu suficientemente
a influência exercida pelo Espírito Santo na obra de Cristo”, observou
corretamente Abraham Kuyper.30 Mas deveria reconhecer. Do começo
ao fim, Jesus desenvolveu sua missão pelo poder do Espírito.31 Isso está
explícito no Novo Testamento. Não é necessário ter olhos argutos de

27Sigmund Mowinckel, ‘“ The Spirit’ and the ‘Word’ in the Pre-Exilic Reforming
Prophets”, Journal o f Biblical Literature 53 (1934): 199-227; idem, The Spirit and the
Word: Prophecy and Tradition in Ancient Israel, ed. K. C. Hanson (Minneapolis: For-
tress, 2002), 83-99.
28Ibid., “‘The Spirit’ and the ‘Word’ in the Pre-Exilic Reforming Prophets”, 206.
29Para uma discussão das possíveis razões de Jesus ter mantido certo silêncio para-
doxal sobre o Espírito, falando menos sobre o assunto do que gostaríamos, ver C. K. Bar-
rett, The Holy Spirit and the Gospel Tradition (Londres: SPCK, 1958), 157-161.
30Abraham Kuyper, The Work o f the Holy Spirit, trad. Henri De Vries (Chatta-
nooga: AMG, 1995 [publicado originalmente em 1900]), 106.
31Como enfatiza Harold G. Dollar, “a missão de Jesus não pode ser explicada à
parte do Espírito Santo” (“Holy Spirit”, em Evangelical Dictionary o f World Missions,
ed. A. Scott Moreau [Grand Rapids: Baker, 2000], 450).
O Espírito da missão | 277

exegeta para perceber esse fato. Porém, o que nem todos notam é que
absolutamente todos os momentos e atos decisivos do messiado de Jesus
são caracterizados como pneumatológicos. Esse padrão se repete desde
o pré-nascimento,32 passando por sua morte33 e ressurreição,34 até a pós-
ascenção.35 Esse fato é bem documentado no Novo Testamento. Lucas,
escrevendo a partir do Antigo Testamento como fonte primária da sua
pneumatologia e utilizando o vocabulário da Septuaginta,36 é o autor que
mais destaca a presença do Espírito na vida de Jesus.
No batismo de Jesus, durante um fenômeno cósmico/apocalíptico/
profético em que o céu se abriu, o Espírito desceu sobre ele em forma

32A glória da shekinah, a presença pessoal de Deus, envolveu (episkiasei) Maria e


a preparou para conceber Jesus (Lc 1:35), assim como a glória da Shekinah enchia/cobria
0 templo. Maria “achou-se grávida pelo \ek, ‘do’, ‘a partir do’] Espírito Santo” (Mt 1:18;
cf. 1:20). Isso não significa que o Espírito tenha criado a substância de Jesus a partir de
si mesmo, mas indica que o Espírito foi a causa eficiente de seu nascimento (ver Gerald
F. Hawthorne, The Presence and the Power: The Significance o f the Holy Spirit in the
Life and Ministry o f Jesus [Dallas: Word, 1991], 71). Tendo nascido o menino, o Espírito
se manifestou por ocasião da apresentação dele no templo (Lc 2:25-38). Na sequência,
Lucas (2:40, 52) informa que o menino Jesus crescia cheio de graça e sabedoria, o que
sugere o “monitoramento” dele pelo Espirito.
33Não é difícil perceber que Jesus fez maravilhas pelo poder do Espirito. Mas é
surpreendente notar que até a sua morte é vinculada ao Espirito. O autor de Hebreus
(9:14) afirma que “pelo Espirito eterno [Cristo] se ofereceu de forma imaculada a Deus”.
Extrapolando o sentido original do autor, podemos dizer que o Espirito atuou na moti-
vação de Jesus (fortalecendo sua decisão de ir até o fim e aceitar a cruz), na consumação
da sua morte (mediando a entrega do espírito de Jesus ao Pai) e na eficacia de seu ato
sacrificial (tomando-o um sacrificio vivo e eficaz).
34A ressurreição de Cristo também foi efetuada pelo Espírito. De acordo com 1
Pedro 3:18, Jesus foi “morto no corpo, mas vivificado pelo Espirito”. Se Pedro fala de
passagem sobre o papel do Espírito na ressurreição, a teologia de Paulo sobre a agencia
do Espirito como o poder efetivador da ressurreição é bem mais ampia e profunda [ver
Scott Brodeur, The Holy Spirit’s Agency in the Resurrection o f the Dead: An Exegetico-
Theological Study o f 1 Corinthians 15,44b-49 and Romans 8,9-13 [Roma: Editrice Pon-
tificia Università Gregoriana, 2004]). Assim como o Espírito ressuscitou Jesus, ele tam-
bém ressuscitará e glorificará os crentes, os quais terão corpos “espiritualizados”, embora
tangíveis. Se Adão era um “ser vívente”, Jesus tomou-se um “espírito vivificante” (1C0
15:45).
35Ver comentário abaixo.
36Ver Roger Stronstad, “The Influence o f the Old Testament on the Charismatic
Theology o f St. Luke”, Pneuma 2 (1980): 32-50, e idem, The Charismatic Theology o f
St. Luke (Peabody: Hendrickson, 1984).
278 I Marcos de Benedicto

corpórea, como uma pomba. Esse detalhe impressionante aparece nos


quatro evangelhos.37 Embora exista um debate sobre se o Espírito teria
realmente se manifestado com a aparência de um a pomba (ênfase na
forma da ave) ou apenas voando como o faz um a pomba (ênfase no modo
do voo),38 o fato é que o fenômeno foi tão espetacular que influenciou a
iconografia do Espírito Santo ao longo da história do cristianismo, ligando
para sempre a imagem do Espírito com a figura de uma pomba.
Após o batismo de Jesus, o Espírito o conduziu ao deserto, onde
ele recebería o preparo final para missão e vencería o diabo. Note-
se que, na perspectiva de Lucas, Jesus estava cheio do Espírito em
todo o seu trajeto, e não apenas em alguns momentos isolados. Ele
retrata o Espírito como um guia no tour espiritual de Jesus do Jordão
para o deserto e do deserto para a Galileia (Lc 4:1, 14). Jesus era
ininterruptamente guiado e impulsionado pelo poder do Espírito.
No famoso discurso de Jesus na sinagoga de Nazaré, ele leu um
trecho de Isaías e depois o aplicou a si mesmo: “O Espírito do Senhor está
sobre m im” (Lc 4:18, 19). Esse texto, que destaca a unção do Espírito, é
programático de todo 0 ministério de Jesus. N a consciência de Jesus, ele
era a figura messiânica escatológica da descrição de Isaías. Se sacerdotes,
profetas e reis eram ungidos com óleo por seres humanos, Jesus foi ungido
com o Espírito diretamente por Deus, pois sua missão era maior e mais
importante do que a deles.
Em Atos 20:38, vemos um sumário da atividade curadora de Jesus
pelo poder do Espírito: “[Vocês sabem] como Deus ungiu a Jesus de Nazaré

37Ver (Mt 3:16, Mc 1:10, Lc 3:21, 22, Jo 1:32-34).


38Para uma discussão desse simbolismo da pomba, ver De Benedicto, “The Role
o f the Holy Spirit in Enabling Believers”, 67-72; Stephen Gero, “The Spirit as a Dove
at the Baptism o f Jesus”, Novum Testamentum 18 (1976): 2-35; Leander E. Keck, “The
Spirit and the Dove”, Mew Testament Studies 17 (1970-1971): 41-67. Lucas (3:22) parece
deixar claro que o Espírito veio na forma real de uma pomba. Ellen White (O Desejado de
Todas as Nações, 112) acrescenta que “a forma de uma pomba da mais pura luz” veio di-
retamente do trono do Pai e pousou sobre Jesus. Em minha opinião, a pomba simbolizava
tanto o Espírito quanto a missão do Messias.
O Espírito da missão | 279

com o Espírito Santo e poder, e como ele andou por toda parte fazendo o
bem e curando todos os oprimidos pelo diabo, porque Deus estava com
ele.” No poder do Espírito, Jesus exerceu o ministério de ajudar, curar e
libertar.
Além disso, o Espírito codificou, mediou e efetivou as orientações
de Jesus aos seus seguidores. Segundo Lucas, antes de ser elevado ao
Céu, Jesus deu “instruções por meio do Espírito Santo aos apóstolos que
havia escolhido” (At 1:2). Sem o poder do Espírito, as palavras de Jesus
poderíam ser esquecidas, desvirtuadas ou esvaziadas.
N a sequência, Jesus subiu ao Céu, foi coroado e derramou o Espírito
como evidência da aceitação de seu sacrifício e bênção resultante dele.
Os autores do Novo Testamento conectam o envio do Espírito com a
glorificação de Jesus, isto é, sua morte na cruz, ressurreição e entronização
como rei-sacerdote no Céu.39 “O fato admirável é que fo i o Cristo exaltado,
não o próprio Deus, quem derramou o Espírito dos últimos dias”, comenta
James Dunn. “Até onde podemos dizer, não havia expectativa de uma
figura messiânica outorgando o Espírito no judaísmo pré-cristão.”40
N a cruz, o Filho glorificou o Pai; no Pentecostés, o Pai glorificou o
Filho. Enquanto o Filho revelou o caráter do Pai, o Pai revelou a conquista
do Filho. O Messias foi humilhado, mas então chegou o momento de
ser exaltado (Fp 2:8-11). Como vitorioso na disputa cósmica travada na
Terra, o Filho foi “coroado [stephanoo] de honra e de glória” (Hb 2:9). Ele

39Jo 7:39; 12:28-33; At 2:33; E f 4:8. Ao explicar teologicamente os fenômenos do


Pentecostés para seu auditório perplexo e um tanto incrédulo, Pedro citou a promessa do
derramamento do Espírito feita pelo profeta Joel e então acrescentou que 0 Jesus entroni-
zado ao lado do Pai era a origem daquilo testemunhavam: “Exaltado à direita de Deus, ele
recebeu do Pai o Espírito Santo prometido e derramou o que vocês agora veem e ouvem”
(At 2:33). Na perspectiva de Paulo, os dons do Espírito foram concedidos aos crentes
quando Jesus “subiu em triunfo às alturas” (E f 4:8).
40James D. G. Dunn, “Towards the Spirit o f Christ: The Emergence o f the Distinc-
tive Features o f Christian Pneumatology”, em The Work o f the Spirit: Pneumatology and
Pentecostalism, ed. Michael Welker (Grand Rapids: Eerdmans, 2006), 10, 7, itálico no
original.
280 I Marcos de Benedicto

recebeu “toda autoridade [exousia] no céu e na terra” (Mt 28 :18).41 Para a


sociedade judaica monoteísta, a vinda do Espírito era também um poderoso
testemunho da divindade de Cristo, embora estudos recentes mostrem que
mesmo uma alta cristo logia poderia se encaixar no monoteísmo judaico da
época.42
Para coroar esta rápida análise sobre a presença e o poder do Espírito
em todo 0 espectro da vida e da missão de Jesus, vale a pena sugerir que 0
Espírito comandará a comitiva real durante a volta majestosa de Jesus, em
glória nas nuvens,43 o que será 0 clímax da missão de Jesus para reconciliar
o mundo com Deus. Com certa liberdade teológica, a “glória” e a “nuvem”
podem ser entendidas como referências ao Espírito Santo, a shekinah
divina, a mesma manifestação visível e gloriosa de Deus que guiou o povo
de Israel após o êxodo e que indicava a presença de Deus no santuário/
templo com seu povo.44

O Espírito e a missão dos apóstolos


Naturalmente, o Espírito Santo atuava na vida das pessoas comuns
no tempo do Antigo Testamento e, de modo especial, operava através de

41Ver Walter F. Specht, “Christ’s Session, Enthronement, and Mediatorial and In-
tercessory Ministry”, em The Sanctuary and the Atonement: Biblical, Historical, and
Theological, ed. Arnold V. Wallenkampf e W. Richard Lesher (Washington, DC: Biblical
Research Committee o f the General Conference o f Seventh-day Adventists, 1981), 326-
361.
42Para um estimulante estudo recente sobre o monoteísmo cristão do I século, ver
James F. McGrath, The Only True God: Early Christian Monotheism in Its Jewish Con-
text (Urbana e Chicago: Univesity o f Illinois Press, 2009). Ver também os excelentes es-
tudos de Larry W. Hurtado, Lord Jesus Christ: Devotion to Jesus in Earliest Christianity
(Grand Rapids: Eerdmans, 2003), e Richard Bauckham, God Crucified: Monotheism &
Christology in the New Testament (Grand Rapids: Eerdmans, 1998).
43Autores como Mateus, Marcos e Paulo retratam a cena de Jesus voltando em
glória nas nuvens e rodeado de milhares de anjos (ver Mt 24:30, 31; Mc 13:26, 27; lTs
4:16, 17).
44Para explorações estimulantes (e, às vezes, especulativas) sobre 0 tema do Es-
pírito como uma Glória-Nuvem teofânica, ver Meredith G. Kline, Images o f the Spirit
(Eugene: W ipf and Stock, 1999 [publicado previamente pela Baker em 1980]), especial-
mente o capítulo 4, “The Spirit-Presence and His Parousia-Day”, 97-131.
O Espírito da missão | 281

figuras de destaque, como profetas, sacerdotes e reís.45 Mas podemos dizer


que no Novo Testamento ele começou a atuar numa nova dimensão. A cruz
trouxe não apenas o direito a uma ação extra do Espírito, mas também um
senso de urgência, intensidade e momentum. A Era Messiânica inaugurou
também a Era Pneumática. Contudo, essa nova era tinha que ver com novo
escopo e nova magnitude, não necessariamente com qualidade ou objetivo
diferente.
Erwin Gane concorda que algo aconteceu na cruz em relação à obra do
Espírito, mas não no sentido de romper a ligação com seu trabalho prévio.
Quando Jesus morreu e pagou o preço da redenção, comenta Gane, “ele
adquiriu o direito de derramar a bênção do Céu sobre os corações crentes
em grau maior do que nunca antes‫ ״‬. Assim, “o Espírito foi comissionado
a desenvolver seu ministério de iluminar, convencer e qualificar com um
poder e uma eficácia sem precedentes”.46
Alguns teólogos destacam que no antigo concerto o Espírito habitava
com o povo de Deus, num templo corporativo (a comunidade), enquanto no
novo concerto ele habita no povo, em templos individuais (cada crente).47
Aqui não é o momento para entrar nessa discussão, mas desejo apenas

45Essa questão é debatida entre os teólogos. Alguns acham que no tempo do An-
tigo Testamento o Espírito atuava apenas na vida de pessoas especiais. Gary Fredricks
propõe, no artigo “Rethinking the Role o f the Holy Spirit in the Lives o f Old Testament
Believers”, Trinity Journal 9 (1988): 81-104, especialmente 85-88, que o Espírito tem
três ministérios “primários” na vida dos crentes: (1) poder para salvação, (2) poder para
um viver santo e (3) poder para o serviço. Os dois primeiros seriam comuns para todos
os crentes, tanto do Antigo como do N ovo Testamento, enquanto “o terceiro era seletivo
para os crentes do Antigo Testamento, mas comum para os crentes do Novo Testamento”.
46Erwin R. Gane, Enlightened by the Spirit: Friend, Teacher, and Guide (Boise:
Pacific Press, 1995), 41, itálico no original.
47James M. Hamilton Jr. faz essa diferenciação em um livro recente, God’s In-
dwelling Presence: The Holy Spirit in the Old & New Testaments (Nashville: B&H Aca-
demic, 2006), 3. Na opinião dele, inn texto que sintetiza o ensino bíblico sobre a diferença
entre a habitação do Espirito nos crentes da antiga e da nova aliança é João 14:17, onde
Jesus diz: “[O Espirito] vive com vocês e estará em vocês.” Para uma tabela mostrando
a posição de vários teólogos sobre a habitação do Espirito nos crentes do velho concerto
num espectro que inclui várias opções, indo desde a continuidade entre até a descontinui-
dade, ver Hamilton, 23.
282 I Marcos de Benedicto

ressaltar que o Espírito realmente passou a atuar num nível mais específico
e direcionado, apontando para o Messias e escrevendo a lei de Deus na
mente das pessoas,48 o que certamente é um dos grandes alvos da missão.
Seguindo o padrão da entrega da lei no Monte Sinai, o Pentecostés
também foi marcado por um cenário de fogo, terremoto e vento.49 Se a
“vinda histórica” do Espírito no Pentecostés como o “antítipo do concerto
sinaítico” indicava uma relação de continuidade tipológica, o fato de o
Espírito ser agora claramente apresentado como uma pessoa distinta e
enviado com o status de representante legal de Cristo significava algo
novo.50Assim, pelo fato de o Espírito ser “o Executor de Cristo”, como diz
John Studebaker, “não devemos pensar a respeito do Espírito simplesmente
como um agente funcional em nossa salvação, mas como o agente
autoritativo de Cristo” .51 E, naturalmente, ele veio com todo o seu poder e
com todas as prerrogativas de Cristo. Isso trouxe novas perspectivas para

48“Assim como Deus havia escrito a lei nas tábuas de pedra com o seu próprio
dedo”, comenta Richard Davidson, “ele novamente escreve a lei com o dedo de seu Es-
pírito” (ver Mt 12:28, Lc 11:20) sobre a mente e o coração das pessoas (Jr 31:31-34;
Hb 8:10). “E, assim como Israel se tomou o povo especial do concerto de Deus, o novo
Israel se toma a igreja do concerto de Cristo” (Richard M. Davidson, “Sanctuary Typol-
ogy”, em Symposium on Revelation—Book I, ed. Frank B. Holbrook, Daniel & Revela-
tion Committee Series 6 [Silver Spring: Biblical Research Institute, General Conference
o f Seventh-day Adventists, 1992], 121).
49Êxodo 19:16-19; Atos 2:1-3; 4:31. Para insights adicionais sobre essa conexão,
ver Joseph A. Fitzmyer, “The Ascension o f Christ and Pentecost”, Theological Studies 45
(1984): 409-440. De acordo com ele, “muitos comentaristas do Novo Testamento con-
tinuam a associar a celebração judaica do Pentecostés com a entrega da Torah” (433). En-
tre a literatura citada por Fitzmyer, é especialmente importante conferir a lista de alusões
verbais de Atos 2 a Éxodo 19 e 20 preparada por Jacques Dupont, em “The First Chris-
tian Pentecost”, The Salvation o f the Gentiles: Essays on the Acts o f the Apostles (Nova
York: Paulist, 1979), 35-59. Devemos ressaltar que alguns autores negam a correlação
tipológica entre o Sinai e o Pentecostés, argumentando que essa conexão somente foi
estabelecida mais tarde.
50Ver Femando L. Canale, “Doctrine o f God”, em Handbook o f Seventh-day Ad-
ventist Theology, ed. Raoul Dederen (Hagerstown: Review and Herald, 2000), 130-132.
51John A. Studebaker Jr., The Lord Is the Spirit: The Authority o f the Holy Spirit in
Contemporary Theology and Church Practice (Eugene: Pickwick, 2008), 364, itálico no
original. Ele escreve: “As igrejas locais, portanto, precisam reenfatizar a presença pesso-
al e autoritativa do Espírito, reafirmando a noção de que quem ele é deve ser nosso ponto
de partida bíblico para entender o que ele fa z ” (363-364, itálico no original).
O Espírito da missão | 283

os seguidores de Jesus e apresentou extraordinarias possibilidades para a


missão.
O livro de Atos, a primeira historia da igreja cristã, é um relato
missionário por excelência. Ele começa com a ordem de Jesus para que
os discípulos aguardassem a descida do Espirito Santo e testemunhassem
sobre ele a todo o mundo, num movimento geográfico que ia de Jerusalém
a Samaria/Judeia e até os confins do planeta, passando, é claro, por Roma,
a capital do império. Nessa missão, vemos três elementos distintos: (1)
uma pessoa (Jesus), (2) um poder (o Espírito Santo) e (3) um programa (a
pregação a todo o mundo, começando por Jerusalém).52 O livro inteiro é
0 registro de como os discípulos/apóstolos cumpriram essa ordem de seu
Mestre.
Se qualquer dos três elementos faltasse, a missão estaria
comprometida. Sem Jesus, eles não teriam o que anunciar; sem o poder
do Espírito, não teriam como anunciar; sem 0 roteiro, trabalhariam
de forma desorganizada, sem um objetivo. Felizmente, eles levaram
em conta todos os aspectos e, por isso, tiveram sucesso. No que diz
respeito ao tema de nosso estudo, é quase desnecessário dizer que o
Espírito Santo foi o fator decisivo. Sem exceção, todos os apóstolos,
na qualidade de missionários com grande status e autoridade no início
do cristianismo,53 desenvolveram sua missão pelo poder do Espírito.
52Richard N. Longenecker, “The Mandate to Witness ([Acts] 1:6-8)”, em The Ex-
positor’s Bible Commentary (Grand Rapids: Zondervan, 1981), 9:256-257.
53Os termos “apóstolo” (de origem grega) e “missionário” (de origem latina) têm
quase o mesmo sentido de “alguém enviado”, embora aparentemente não eram sinôni-
mos em sua origem. Porém, enquanto “apóstolo” ressalta mais o status e a autoridade,
“missionário” focaliza mais a atividade. A palavra apostólos aparece 80 vezes no Novo
Testamento, principalmente nos escritos de Paulo (35 vezes) e de Lucas (34 vezes). Ape-
sar dessa incidência, a história teológica do termo é um enigma. Raramente usada no
grego clássico e koine secular, a palavra veio da linguagem marítima, sendo utilizada
para designar um navio para transportar soldados ou equipamento militar. O uso do termo
por Heródoto, sua aparição na Septuaginta (usada uma vez no sentido de mensageiro), o
verbo cognato apostollein (usado muitas vezes na Septuaginta e no Novo Testamento em
conexão com missão) e a instituição do mensageiro comissionado do judaísmo (saliach )
são considerados na reconstrução do uso do termo no Novo Testamento. A teoria da ori-
gem a partir de saliach é um consenso crescente (Francis H. Agnew, “The Origin o f the
284 I Marcos de Benedicto

Com o seu preparo e suas habilidades naturais, os apóstolos não


teriam condições de evangelizar o mundo.54 Se tal missão seria difícil
demais para qualquer grande denominação bem-estruturada, muito mais
para um pequeno grupo sem recursos ou preparo formal. Jesus sabia
disso e, portanto, ordenou que permanecessem em Jerusalém até que
recebessem o poder prometido do alto (At 1:4-8). Tentar colocar Jesus em
evidência nas ruas de Jerusalém, Roma, Atenas, Corinto, Alexandria e de
outras cidades do mundo sem um poder especial seria loucura. Portanto,
antes de ir, tinham que permanecer. O líder, estrategista, mentor, persuasor,
provedor, motivador e conselheiro do empreendimento precisava chegar
primeiro. Com o derramamento do Espírito Santo no Pentecostés, “a
igreja foi capacitada a fazer por Cristo o que nunca tinha sido tentado
antes: a pregação das boas-novas da salvação a todas as nações”.55
Atos retrata o Espírito capacitando os apóstolos de maneiras muito
específicas e concretas.56 O Espírito ia sempre à frente dos apóstolos,
NT Apostle-Concept: A Review o f Research”, Journal o f Biblical Literature 105 [1986]:
75-96).
54Alguns pais da igreja, talvez com base na declaração de Paulo em Colossenses
1:6, 23, acreditavam que o evangelho já havia sido pregado em todo 0 mundo no tempo
dos apóstolos. Essa era a opinião, por exemplo, de Irineu (ver Terry Tiessen, “Irenaeus
and Modem Responses to the Challenge o f Religious Pluralism”, Didaskalia 18 (2007):
50.
55F. D. Nichol, editor, The Seventh-day Adventist Bible Commentary, ed. rev. (Ha-
gerstown: Review and Herald, 2002), 6:136.
56Por exemplo, ele capacitou-os a testemunhar de Jesus na língua de diversos po-
vos, como no evento do Pentecostés (At 2); deu ousadia e coragem para enfrentarem
autoridades e situações difíceis, como ocorreu com Pedro diante dos líderes judeus em
Jerusalém (At 4:8-13); conduziu-os no juízo contra crentes enganadores e manipulado-
res, a exemplo de Ananias e Safira, que mentiram ao Espírito do Senhor e o tentaram (At
5:1-12); atuou na escolha de auxiliares habilitados (cheios do Espírito) para ajudar os
apóstolos, como no caso dos diáconos (At 6); forçou-os a cruzar barreiras culturais, ao ser
derramado sobre os gentios (At 10,11); enviou-os em missões evangelísticas específicas,
como no caso de Paulo e Bamabé (At 13:2-5); ajudou-os a contextualizar a mensagem e
adequá-la a diferentes situações culturais (At 15:28); impediu-os de empreender certos
projetos, como no caso em que proibiu Paulo e seus companheiros de pregarem na pro-
víncia da Ásia e na Bitínia (At 16:6,7); e levou-os a aprofundar a compreensão teológica
e a experiência religiosa de certos crentes, como ocorreu em Éfeso, quando Paulo batizou
em nome de Jesus um grupo que conhecia apenas 0 batismo de João e não sabia nada
sobre o Espírito Santo (At 19:1-7).
O Espírito da missão | 285

ampliando o horizonte deles para o alcance cultural/global da missão e


preparando o coração do público. Talvez em nenhum outro período da
historia da igreja o poder do Espírito tenha sido tão visível como na fase
apostólica. Por isso, em Atos, o Espírito é apresentado como um personagem
real que assume o papel de protagonista na missão dos seguidores de
Jesus.57 Ele não é apenas um personagem entre os apóstolos/missionários,
mas o Senhor da missão. Não por acaso, em Lucas-Atos, o Espirito é
mencionado 74 vezes em 52 capítulos (17 no evangelho e 57 em Atos).58
O apóstolo Paulo certamente via a missão como um empreendimento
levado a efeito sob o poder do Espirito Santo. A linguagem que usa ao
escrever aos crentes de Tessalônica não deixa dúvida sobre isso: “Porque
0 nosso evangelho não chegou a vocês somente em palavra, mas também
em poder, no Espírito Santo e em plena convicção” (lT s 1:5). Note-se
também a ênfase no Espírito ao escrever aos crentes de Corinto: “Vocês
demonstram que são uma carta de Cristo, resultado do nosso ministério,
escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de
pedra, mas em tábuas de corações humanos” (2C0 3:3).
A evidência é clara: o Espírito foi o poder que tom ou efetiva a missão
de Paulo e de todos os apóstolos.

O Espírito e a missão da Igreja


A igreja é uma agência missionária por excelência e deve desenvolver
sua missão pelo poder do Espírito. De fato, como ressalta Richard Rice, “o

57Ver a teoria crítico-literária de William H. Shepherd, em The Narrative Func-


lion o f the Holy Spirit as a Character in Luke-Acts (Atlanta: Scholars, 1994), onde ele
defende que Lucas apresenta retoricamente o Espirito como um “personagem”, para as-
segurar a confiabilidade de sua narrativa e, indiretamente, a fidelidade a Deus (101). As
teses de Shepherd não deveríam ser adotadas em sua totalidade sem um olhar critico. Ver
também Ju Hur, A Dynamic Reading o f the Holy Spirit in Luke-Acts (Sheffield: Sheffield
Academic Press, 2001), onde ele expande a teoria de Shepherd.
58Hur, 13. Se contarmos todas as menções a pneuma, incluindo as referências ao
espirito humano ou mesmo a espíritos impuros, são 36 vezes em Lucas e 70 vezes em
Atos.
286 I Marcos de Benedicto

dom do Espírito Santo é incompreensível à parte da missão da igreja” .59Em


Atos, a missão aos gentios, que acabou transformando 0 mundo ocidental,
foi entendida como o resultado da direção e da atividade do Espírito
Santo. Se a igreja atual quiser o mesmo sucesso da igreja primitiva, deve
buscar 0 mesmo poder. “A igreja deve volver ao Pentecostés antes de o
Pentecostés voltar para a igreja”, escreve LeRoy Froom.60 Há várias linhas
de evidências no Novo Testamento sugerindo o caráter pneumatológico da
missão da igreja - naquele tempo e hoje. Vou mencionar cinco.
Primeiro, temos a evidência do paradigma da missão do próprio
Jesus. Ele era singular e único, mas é também o supremo modelo para os
cristãos. Se Cristo, o Filho de Deus, precisou ser ungido com o Espírito
para realizar sua missão, muito mais a igreja! Walt Russell demonstra
convincentemente que Lucas usa o discurso de Jesus na sinagoga de
Nazaré (Lc 4 :1 6 3 0 ‫“ )־‬como um paradigma para o resto de seu ministério e
como um paradigma para a pneumatologia lucana da vida cristã” .61 Assim
como Cristo foi ungido para exercer sua missão com autoridade máxima,
os crentes também são ungidos para realizar com poder a sua missão. Aqui
a obra do Espírito é básica, pois um agente sem autoridade e poder para
sustentar sua missão para respaldá-lo seria um contrassenso.
Em segundo lugar, temos a evidência do escopo universal da grande
comissão. Ao anunciar seu plano para a evangelização do mundo (Mt 28:18-
20), Jesus sugere seu escopo todo-inclusivo, marcado pela repetição das
palavras gregas panta/pasas, “todas/todos”: (1) ele tem toda autoridade,
(2) em todos os lugares (Céu e Terra), (3) para fazer discípulos de todas as
nações, (4) batizando-os no nome de todas as pessoas da Divindade, (5)

59Richard Rice, “Rediscovering the Spirit Filled Life”, disponível em http://www.


sdanet.org/atissue/discem/spiritlife.htm, acesso em 19 de setembro de 2010. Reconhe-
cendo que o dom do Espírito não é para nossa gratificação pessoal, mas para a missão,
Rice escreve: “Precisamos mudar o foco da vida cristã do eu para 0 serviço, do cristão
individual para a comunidade dos cristãos, do que Deus está fazendo por nós e em nós
para 0 que Deus deseja fazer através de nós e entre nós” (ibid., itálico no original).
60Froom, 130.
61Walt Russell, “The Anointing with the Holy Spirit in Luke-Acts”, Trinity Journal
7 (1986): 47.
O Espírito d a missão | 287

ensinando todas as coisas e (6) tendo sua presença/poder durante todos os


tempos. Em face dessa série de “todas/todos”, parece inadequado pensar
que um apóstolo/missionário não precisa ter o poder do Espírito. Além
disso, a presença prometida por Jesus nesse contexto (“E eu estarei sempre
com vocês”) somente pode ser entendida como sendo através do Espírito
Santo.
Em terceiro lugar, temos a evidência da democratização do
Pentecostés. Pedro e Lucas universalizam a promessa do Espírito. Eles não
retratam o Espírito como uma propriedade exclusiva de um grupo seleto
durante um evento especial no I século, por mais histórico, decisivo e único
que ele possa ter sido. Ao explicar o alcance do derramamento do Espírito,
Pedro diz que a promessa era “para vocês, para os seus filhos e para todos
os que estão longe, para todos quantos o Senhor, o nosso Deus, chamar”
(At 2:29). A expressão “os que estão longe” poderia ser uma referência aos
judeus dispersos pelo mundo, aos gentios ou mesmo aos futuros crentes.
Se Cristo era uma oferta divina a “todos os que estão longe” em etnia,
geografia, pecado e tempo, então o dom do Espírito também deveria ser
uma oferta para eles.
Além disso, mesmo que Joel ou Pedro não tivesse o mundo gentio e
a futura igreja em mente, a ampliação por Lucas do escopo da experiência
do Espírito em Atos 8, 10 e 19 justifica a inclusão dos gentios e da igreja
na promessa. “Da lista de diferentes terras representadas no Pentecostés
às palavras usadas na narrativa”, escreve Daniel Treier, “Lucas tece uma
obra-prima que nos prepara para o que está para se seguir em A tos.”62
Russell é ainda mais específico, considerando o ponto em discussão
aqui: “A multiplicidade de línguas presentes no Pentecostés prefigurava
não somente a universalidade da mensagem do evangelho, mas também

62Daniel J. Treier, “The Fulfillment o f Joel 2:28-32: A Multiple-Lens Approach”,


Journal o f the Evangelical Theological Society 40 (1997): 22-23.
288 I Marcos de Benedicto

a universalidade dos mensageiros do evangelho.”63 Eu acrescentaria a


universalidade do poder para anunciar o evangelho, pois o Espírito sempre
estaria presente em todos os extratos culturais.
Em quarto lugar, temos a evidência da replicação da experiência
do Pentecostés. Crentes de diferentes origens étnicas tiveram seu próprio
“Pentecostés” .64Um fenômeno similar ao do Pentecostés foi experimentado
pelos samaritanos (At 8:14-17), o oficial romano Comélio e sua casa (At
10:44-47) e por um grupo de homens em Éfeso (At 19:1-7). Em cada caso,
o Espírito foi dado livremente, embora não houvesse um padrão rígido.
Como regra, todos os batizados em nome de Jesus recebiam o Espírito (At
2:38). As duas exceções - a demora na outorga do Espírito aos samaritanos
e ao grupo de Éfeso que não conhecia o Espírito - apenas confirmam a
regra geral.65 O fato é que, mesmo fugindo ao padrão de recebimento do
Espírito logo de início, ambos os grupos o receberam.
Por fim, temos a evidência do cumprimento tipológico.66 O ciclo
anual dos festivais judaicos parece mostrar um derramamento cíclico do
Espírito na história da salvação. Primeiro, o Espírito foi derramado no
Pentecostés ou shavuot, a Festa das Semanas.67 Depois, é derramado na
Festa das Trombetas ou shofars, o rosh hashana, o Ano Novo judaico.
Essa “festa” era um chamado ao antigo Israel para se preparar para o yom
kippur, o Dia da Expiação. Seu cumprimento antitípico é mais ou menos
claro em Apocalipse, cuja estrutura literária parece seguir o calendário

63Walt Russell, 60, itálico no original.


64Lucas parece interessado em enfatizar que as manifestações do Espírito eram
da mesma natureza que a do Pentecostés. Ele registra Pedro dizendo duas vezes que os
gentios haviam recebido o Espírito “como” os 120 haviam recebido (At 11:15; 15:8).
65Para uma discussão das possíveis razões para essa demora, ver De Benedicto,
“The Role o f the Holy Spirit in Enabling Believers”, 134-137.
66Um tipo é um ritual, evento, elemento, figura ou pessoa da história (Antigo Tes-
tamento) que Deus designou para indicar uma realidade correspondente no futuro (Novo
Testamento). Para um estudo esclarecedor sobre o assunto, ver Richard M. Davidson,
Typology in Scripture: A Study o f Hermeneutical Typos Structures, Andrews University
Seminary Doctoral Dissertations Series 2 (Berrien Springs: Andrews University Press,
1981).
67Essa festa é identificada em Números 28:26 (cf. Lv 23:10, 15-17) como “a co-
lheita dos primeiros frutos”.
O Espírito da missão | 289

litúrgico judaico.68 Nas trombetas apocalípticas (Ap 8, 9), bem como ñas
mensagens angélicas (Ap 14:6,7; 18:1), encontramos o chamado antitípico
para o preparo para o yom kippur antitípico, o grande dia de julgamento.69
Depois disso, vem a antitípica Festa dos Tabernáculos ou sukkot, também
chamada de Festa das Colheitas, a segunda vinda de Jesus.
Portanto, na Festa das Trombetas e nos convites angélicos, temos
o derramamento antitípico final do Espirito, que possibilita que a igreja
finalize a missão. A diferença básica é que o Pentecostés visava dizer:
“Jesus é o Messias-Salvador”, enquanto as Trombetas buscam dizer: “O
Rei-Juiz está vindo” .
Concluindo este tópico, podemos dizer que o Espírito não era a
posse de um clube exclusivo do I século. O espírito é um dom para toda a
igreja, em todos os tempos, a fim de que ela possa cumprir sua missão de
forma eficaz.

Papéis do Espírito na missão

O Espírito cria, sustenta e dirige a missão. Como ele faz isso? Nesta
parte, eu gostaria de sugerir rapidamente algumas maneiras específicas
pelas quais o Espírito pode apoiar 0 missionário em sua tarefa e agir sobre
o público-alvo da missão.70

68Ver M. D. Goulder, “The Apocalypse as an Annual Cycle o f Prophecies”, New


Testament Studies (1981): 342-367, especialmente 355; e Jacques B. Doukhan, Secrets
o f Revelation: The Apocalypse Through Hebrew Eyes (Hagerstown: Review and Herald,
2002), 14.
69“Os sete toques do shofar que pontuam a história servem para advertir o povo da
Terra sobre o dia de julgamento de Deus. Pois, embora o grande dia de julgamento ocorra
no fim do tempo, ele tem implicações para nossa vida diária agora mesmo” (Doukhan,
80). Para Davidson, o cumprimento dos festivais da primavera e do outono, respectiva-
mente no início e na consumação da histórida da salvação no Novo Testamento, “é o foco
especial do livro do Apocalipse que está no centro da autocompreensão adventista como
um movimento profético/apocalíptico” (“Sanctuary Typology”, 121).
70Note-se que as atividades creditadas aqui ao Espírito são apenas representativas,
e não exaustivas. Entre outras coisas, eu podería justificadamente mencionar que o Es-
pírito chama o mensageiro, revela a mensagem e cria o método (igreja). Ver Robertson
McQuilkin, “The Role o f the Holy Spirit in M issions”, em The Holy Spirit and Mission
Dynamics, ed. C. Douglas McConnell (Pasadena: William Carey Library, 1997), 22-35.
290 I Marcos de Benedicto

O Capacitador/Motivador
Ser capacitado ou energizado pelo Espirito significa entrar em ação.
Quando o Espírito age, alguma coisa espetacular acontece. O padrão em
Lucas/Atos é ser cheio do Espírito e fazer algo, ou ser cheio do Espirito e
de um a qualidade desejável. Como regra, a conjunção kai (“e”), a palavra
mais comum nos textos gregos, sempre acompanha a presença marcante
do Espírito.71 Exemplos:

• Lucas 1:15,16: João Batista seria cheio do Espírito e tomaria


muitos para Deus.
• Lucas 1:41, 42: Isabel ficou cheia do Espírito e exclamou.
• Lucas 1:67: Zacarias foi cheio do Espírito e profetizou.
• Atos 2:4: os discípulos ficaram cheios do Espírito e falaram
em línguas.
• Atos 6:3: os diáconos deveríam ser cheios do Espírito e de
sabedoria.
• Atos 6:5: Estêvão era cheio de fé e do Espírito Santo.
• Atos 11:24: Bamabé era cheio do Espírito e de fé.
• Atos 13:9, 10: Paulo ficou cheio do Espírito e proferiu uma
repreensão.
• Atos 13:52: os discípulos continuavam cheios do Espírito e
de alegria.

O Espírito cria motivação, entusiasmo e ousadia. Ele é a fonte de


poder. O ruah/pneuma divino é o vento/sopro de Deus que impulsiona
os missionários e os enche de entusiasmo (um entusiasmo fundado
na realidade, não artificial), assim como ocorreu com o cristianismo

71Ver D. Broughton Knox, em D. Broughton Knox: Selected Works, Volume 1: The


Doctrine o f God, ed. Tony Payne (Kingsford, Austrália: Matthias Media, 2000), 271-272;
e Cole, 218, que cita Knox.
O Espírito d a missão | 291

primitivo.72 Semánticamente, a palavra entusiasmo (do grego entheos,


enthousiasmos) significa ser “cheio de Deus” .73
Com Deus dentro de si, os agentes da missão atuam com ousadia
incomum. Esse padrão caracterizou a missão no I século d.C. Quando
lemos Atos, a palavra “ousadia” (ou “intrepidez”, dependendo da
tradução) salta aos olhos e ajuda a formar um quadro mental da
experiência dos primeiros cristãos.74 “A ousadia no Espírito era a marca
da igreja primitiva”, um autor observou.75 Lucas relata que os crentes
pediram ousadia/intrepidez {paresia) para anunciar a palavra (Atos
4:29) e, em resposta ao seu pedido, “todos ficaram cheios do Espírito
Santo” e, com ousadia, anunciavam “a palavra de Deus” (v. 31).
Portanto, a ousadia que caracterizou a igreja primitiva foi concedida
pelo Espírito Santo em resposta à oração específica por ousadia para
testemunhar. Os apóstolos, com exceção de Paulo, não eram rabinos
formalmente treinados em teologia, mas, ao pregarem sobre o Messias, o
Espírito lhes concedeu grande coragem, convicção, confiança, segurança,
liberdade de expressão e transparência, termos que expressam outros
significados da palavra paresia.
O Espírito Santo qualifica/capacita o missionário, 0 dinamiza e o
toma ousado na pregação das boas-novas de Cristo. Diante das exigências
da missão, esse dinamismo capacitador se tom a indispensável.

O Mediador/Portador/Conscientizador da presença divina


O tema da presença divina, um conceito relacionai, é muito
destacado em conexão com o Espírito Santo. “A Escritura correlaciona
Espírito, presença e face”, comenta Molly Marshall. “O Espírito de

72Em relação ao entusiasmo no cristianismo primitivo, ver James D. G. Dunn, The


Christ and the Spirit: Pneumatology (Grand Rapids: Eerdmans, 1998), 39.
73Aqui o termo “entusiasmo” é usado no sentido positivo de ter energia, disposição,
audácia e paixão, e não em um sentido técnico negativo. Para diferentes significados de
"entusiasmo”, ver Susie I. Tucker, Enthusiasm: A Study in Semantic Change (Cambridge:
Cambridge University Press, 1972).
74Ver, por exemplo, Atos 4:31; 9:27; 14:3; 19:8.
75Charles Lewis Slattery, The Light Within: A Study o f the Holy Spirit (Nova York:
Longmans, Green, and Co., 1915), 66.
292 I Marcos de Benedicto

Deus é o modo da presença de Deus; quando a face de Deus está oculta,


as pessoas não podem experimentar a presença divina (paním).,'~é
Se há um aspecto que define e engloba a ação do Espírito Santo na
atualidade, é talvez o tema da presença. Por isso, Gordon Fee insiste
que a igreja precisa recuperar a perspectiva pneumatológica de Paulo:
o Espírito como o retomo da presença pessoal de Deus entre nós.7‘
O Espírito é o mediador/portador/conscientizador da presença
divina, fator fundamental para o missionário. A presença de Deus é
a garantia de sucesso na missão. Para o missionário, ter certeza de que
Deus/Cristo está com ele é tão importante quanto acreditar que tem uma
mensagem de salvação para apresentar. Se Moisés considerava a presença
divina, representada pela coluna de nuvem/glória, o diferencial de Israel e
o segredo do sucesso de sua jom ada m m o a Canaã (Êx 33), 0 missionário
deve considerar a presença de Deus/Cristo, mediada pelo Espírito Santo,
o diferencial da igreja e o segredo da eficácia de sua missão.76778 Quando, no
contexto da grande comissão (Mt 28:18-20), Jesus disse que estaria com
seus discípulos até o fim, sua afirmação somente podería ser entendida
como estando presente por meio do Espírito Santo.79
No evangelho de João, em especial, o parácleto tom a Jesus presente
com a sua comunidade missionária. Ele não é apenas uma extensão
impessoal de Jesus, mas sim 0 representante pessoal e personalizado80

76Molly T. Marshall, Joining the Dance: A Theology o f the Spirit (Valey Forge:
Judson, 2003), 102.
77Fee, 843-845.
78“A evidência da presença do Espírito na vida da igreja é o que coloca o povo
de Deus à parte de todos os outros povos na Terra”, comenta Ivan Satyavrata ( The Holy
Spirit: Lord and Life-Giver [Downers Grove: IVP Academic, 2009], 24).
79E impossível que essa promessa “possa se referir a qualquer outra coisa a não
ser à sua presença no Espírito”, observa George S. Hendry; “e não há evidência de que a
igreja primitiva jamais pensou de outro modo” ( The Holy Spirit in Christian Theology,
ed. rev. e ampl. [Philadelphia: Westminster, 1965], 22).
80“O parácleto joanino é personalizado, mas isso se origina da pessoa de Jesus”,
comenta Gary M. Burge {The Anointed Community: The Holy Spirit in the Johannine Tra-
dition [Grand Rapids: Eerdmans, 1987], 142), que completa: “Sempre que são atribuídas
características pessoais ao Espírito, elas apontam para a personalidade de Jesus” (143).
De fato, 0 Espírito assume o papel de Jesus. Porém, isso não significa que não tenha sua
própria personalidade.
O Espírito da missão | 293

de Jesus. Nessa função, é tão identificado com Cristo que pode ser visto
como Cristo em ação à distância. Como Raymond Brown expressou
em seu famoso dito, “o parácleto é a presença de Jesus quando Jesus
está ausente” .81 Ao comentar sobre esse paradoxo, Arden Conrad Autry
corretamente afirma que “o Espírito Santo não é simplesmente Jesus em
forma espiritual, mas, em seu papel especial como ‘parádeto’, o Espírito
tom a Jesus presente” .82
O Espírito é Deus em tempo real, no momento presente, na situação
atual, aqui e agora. Portanto, o agente missionário pode contar com Deus/
Cristo em sua mente e ao seu lado, capacitando-o e dando a certeza de
sucesso.

O Comunicador
O Espírito dá habilidades para a comunicação retórica eficaz. Ele
comunica poder profético para falar, pregar ou ensinar com autoridade.
Jesus, que tinha a presença e o poder do Espírito em um nível máximo,
falava com enorme autoridade (Mt 7:28, 29; Jo 7:46).
Em Atos, o papel do Espírito como comunicador recebe um
destaque especial. Nesse livro, mais do que sublinhar os milagres,
Lucas focaliza o poder concedido pelo Espírito para a fala inspirada
e 0 testemunho profético sobre Cristo,83 embora certamente ele não
restrinja o dom do Espírito à capacitação para a missão. O Espírito é o
grande comunicador, que capacita os comunicadores humanos. Não

81Raymond E. Brown, The Gospel According to John (ΧΙΠ-ΧΧΙ), Anchor Bible,


29A (Nova York: Doubleday, 1970), 1141.
82Arden Conrad Autry, Christ and the Spirit in the New Testament and in Christian
Thought o f the Second Century; A Comparative Study in Pneumatology (Ann Arbor: Uni-
versity Microfilms International, 1983), 87.
83Ver Robert P. Menzies, The Development o f Early Christian Pneumatology with
Special Reference to Luke-Acts (Sheffield: Sheffield Academic Press, 1991), 161-177,
258-262; James B. Shelton, Mighty in Word and Deed: The Role o f the Holy Spirit in
Luke-Acts (Peabody: Hendrickson, 1991), 125-127, 135.
294 I Marcos de Benedicto

por acaso, profecia e falar em línguas,84 destacadas por Lucas, são atos
comunicadores por excelência, tanto no nível vertical quanto no horizontal.
No Pentecostés, como sugere Michael Welker, o milagre “não
reside no que é incompreensível ou difícil de entender, mas em uma
compreensibilidade totalmente inesperada e em uma capacidade incrível
e universal de entender” .85 Quando o Espírito fala, a comunicação é eficaz
em grau máximo.
N a área da comunicação, um importante papel do Espírito em
ajudar os discípulos/apóstolos tinha que ver com a ativação da memória
(Jo 14:26). Os discípulos não carregavam cadernos, gravadores, laptops,
filmadoras ou outros equipamentos eletrônicos. “O método rabínico
de memorização pela repetição seria suficiente até certo ponto, mas
não no grau provido pela inspiração do Espírito Santo.”86 Um rápido
acesso mental aos ensinos de Cristo teria pelo menos três utilidades: (1)
satisfazer uma necessidade espiritual/psicológica, trazendo conforto e
paz; (2) separar os puros ensinos de Cristo das tradições das autoridades

84Para uma análise das possibilidades interpretativas do dom de línguas, ver Mar-
eos De Benedicto, “Tongues o f Heaven and Earth: The Varieties o f Glossolalic Inter-
pretation”, Kerygma 3 (I o semestre de 2007): 7-22, disponível em http://www.kerygma.
unasp-ec.edu.br/pdf/artigo5_marcos_revisado.pdf, acesso em 29 de setembro de 2010.
Os autores adventistas tendem a interpretar o dom de línguas como xenoglossia, ou seja, a
habilidade para falar, miraculosamente, línguas não aprendidas anteriormente. Essa é, por
exemplo, a posição de Ellen White (Atos dos Apóstolos, 39,40; Testemunhos Para a Igre-
j a [Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2000], 1:412), Morris L. Venden ( Your Friend, the
Holy Spirit [Boise: Pacific Press, 1986], 79-85), Gerhard F. Hasel (Speaking in Tongues:
Biblical Speaking in Tongues and Contemporary Glossolalia [Berrien Springs: Adventist
Theological Society Publications, 1995], 43-51, 70-71, 119, 121-122, passim) e George
E. Rice (“Spiritual Gifts”, em Handbook o f Seventh-day Adventist Theology, ed. Raoul
Dederen [Hagerstown: Review and Herald, 2000], 616-617). Para duas importantes obras
mais ou menos recentes sobre o dom de línguas, ver Christopher Forbes, Prophecy and
Inspired Speech in Early Christianity and its Hellenistic Environment (Peabody: Hen-
drickson, 1997), e Mark J. Cartledge, editor, Speaking in Tongues: Multi-Disciplinary
Perspectives (Bletchley / Waynesboro: Paternoster, 2006).
85Michael Welker, God the Spirit, trad. John F. Hoffmeyer (Minneapolis: Fortress,
1994), 230, 231.
86Russell Boatman, What the Bible Says About the Holy Spirit (Joplin: College
Press, 1989), 18.
O Espírito da missão | 295

religiosas;87 e (3) fortalecer a pregação, proporcionando precisão,


segurança e ousadia. Essa ajuda do Espírito ainda tem grande utilidade.

O Sustentador
O Espírito sustenta o agente missionário no momento de tentação,
sofrimento e abandono. Para cumprir a agenda de Jesus e seguir o roteiro
do Mestre, os enviados pelo Espírito podem enfrentar oposição. Às vezes,
0 evangelho vence pelo sofrimento. O Espírito que dirige a missão é “não
somente 0 Espírito de poder e triunfo, mas também de poder e triunfo pelo
sofrimento” .88
Aqui vale mencionar a experiência de Jesus no início de seu
ministério. Ao ser batizado no Jordão, ele recebeu uma manifestação
especial do Espírito e depois foi guiado pelo Espírito ao deserto.89 Numa
cena cósmica, o Pai proclamou seu amor pelo Filho amado. Pois bem,
no momento em que o céu se abre, diante das “câmeras”, é fácil ter o
ideal de levar adiante a missão. Porém, no deserto, no meio da poeira e
dos animais, longe do público, com o diabo questionando nossa filiação
divina,90 é mais difícil acreditar no chamado e manter o foco na missão.
Nessas horas, o Espírito desempenha um papel inestimável em sustentar a
fé do agente missionário.
No caso de Paulo, que enfrentou intensos sofrimentos em sua missão,
0 Espírito transformou sua fraqueza em força. “O Espírito nos ajuda em
nossa fraqueza [astheneia, “incapacidade”, “limitações”], pois não sabemos
como orar”, e “intercede por nós com gemidos inexprimíveis”, escreveu
o apóstolo (Rm 8:26). Quando tudo parece escuro e não conseguimos
enxergar um palmo à frente, o Espírito ilumina nosso horizonte. Por
isso, seu papel como sustentador na missão não deve ser subestimado.

87White, O Desejado de Todas as Nações , 670.


88Keith Warrington, The Message o f the Holy Spirit (Downers Grove: InterVarsity,
2009 ),8 1 .
89Ver (Mt 3:16, 17; 4:1; Me 1:10, 12; Lc 3:22; 4:1, 14; Jo 1:32).
90Note-se que, no caso de Cristo, apesar de 0 Pai ter dito que ele era o “Filho
amado”, o diabo questionou essa filiação em duas das três tentações: “Se tu és o Filho de
Deus . . (M t4:3, 6).
296 I Marcos de Benedicto

No mesmo contexto, o apóstolo ressalta que o Espírito nos dá a


certeza de que somos adotados na família divina. Provavelmente tendo
em vista a lei romana de adoção, o apóstolo retrata o Espírito como agente
do Pai e peticionário (intercessor) da família para requerer benefícios
para o novo membro adotado. Enquanto o Filho intercede no Céu, como
representante legal, o Espírito intercede a partir do nosso interior, como
representante familiar, com acesso privilegiado ao Pai.91 Com essa certeza
interior que o Espírito nos dá de que somos filhos, somos motivados a
participar nos sofrimentos de Cristo, para que participemos também de
sua glória (Rm 8:15-17). Percebemos que “nossos sofrimentos atuais não
podem ser comparados com a glória que em nós será revelada” (v. 18).
No momento de estresse causado pelos desafios da missão, a certeza da
filiação e a promessa da glória fazem muita diferença.

O Construtor de pontes
A missão é, por excelência, um trabalho de cruzar fronteiras.
No processo de evangelizar, barreiras culturais, sociais, econômicas,
psicológicas e pessoais, entre outras, precisam ser transpostas. Em um
livro recente, depois de lembrar que a palavra “missão” deriva do verbo em
latim mittere, “enviar”, Reinder Bruinsma observa: “ Ser enviado implica
disposição para ir, o que frequentemente significa cruzar várias fronteiras:
física, étnica, linguística ou cultural.”92
Ora, ninguém tem a capacidade de cruzar tantas fronteiras, visíveis
ou invisíveis, tangíveis ou intangíveis, como o Espírito Santo. Ele é 0
maior cruzador de fronteiras e construtor de pontes. Atravessa todos os
espaços e tempos. “O Espírito Santo é a ponte revelatória entre os seres
humanos, que estão predispostos a compreender mal a Deus, e aquele

91Para uma iluminadora discussão sobre o assunto, ver Ben Holdsworth, “The
Other Intercessor: The Holy Spirit as Familia-Petitioner for the Father’s Filiusfamilia in
Romans 8:26-27”, Andrews University Seminary Studies 42 (2004): 325-346.
92Reinder Bruinsma, Key Words o f the Christian Faith (Hagerstown: Review and
Herald, 2008), 135.
O Espírito da missão | 297

mesmo Deus voltando-se para eles com misericórdia.”93 O missionário que


deseja chegar a lugares de delicado acesso, como o coração humano, tem
de contar com a ajuda do Espírito Santo.

O Testemunhador
O Espírito dá poder para o testemunho real e efetivo (At 1:8; ver Lc
24:49). G. Campbell Morgan (1863-1945), célebre pastor da Westminster
Chapel em Londres, afirmou: “O Espírito Santo testemunha de Jesus
somente. Somente o Espírito Santo testemunha de Jesus.”94 Sem o Espírito,
Cristo seria apenas uma figura histórica distante e fragmentada, e a missão
não passaria de “propaganda e proselitismo”.95 Segundo Max Turner, “há
um consenso geral de que o dom do Espírito em Atos é, acima de tudo,
uma capacitação profética para testemunhar de Jesus” .96
A morte gradual dos apóstolos como testemunhas oculares de Jesus
certamente criou uma crise para a comunidade cristã primitiva, pois a
figura histórica de Jesus estava se distanciando e a parousia demorava mais
do que o imaginado. Como resolver essa tensão? Esse abismo foi cruzado
pela presença do Espírito Santo, que, além de tom ar presente a realidade
de Jesus, dava testemunho sobre sua identidade e significado.97 Com seu
próprio testemunho, o Espírito Santo ampliava a capacidade apostólica de
testemunhar sobre Jesus como o verdadeiro Messias.

O Revelador/Iluminador
O Espírito revela a verdade e ajuda a pessoa a entendê-la. Como
"Espírito da verdade \pneuma tes aletheias']” (Jo 16:13), conceito

93T. David Beck, The Holy Spirit and the Renewal o f All Things: Pneumatology in
Paid andJiirgen Moltmann (Eugene: Pickwick, 2007), 3.
94G. Campbell Morgan, The Spirit o f God (Nova York: Revell, 1900), 209.
95Frei Boaventura Kloppenburg, Parákletos: O Espírito Santo (Petrópolis: Vozes,
1997), 172.
96Max Turner, The Holy Spirit and Spiritual Gifts in the New Testament Church
and Today, ed. rev. (Peabody: Hendrickson, 1998), 46; cf. 38, 39.
97Burge, 211.
298 I Marcos de Benedicto

exclusivo da literatura joanina, ele mostra novos sentidos no texto,


conectando-os à vida, e, acima de tudo, revela Jesus. Graham A.
Cole comenta: “O Filho é o exegeta do Pai invisível pelo Espirito
( ‘definitivamente o tomou conhecido’, exegesato, aspecto aoristo.
Jo 1:18) e o Espirito como paracleto é o exegeta do Filho.”98
Como revelador, o Espirito, usando o agente missionário, transmite
a verdade da Palavra para o ouvinte, revela sua condição pecaminosa e o
encaminha à fonte da verdade final, Jesus. Esse trabalho é indispensável.
Diz George Ladd: “A primeira obra do Espírito é capacitar as pessoas a
entender a obra divina da redenção. Isto é afirmado em uma linguagem
aparentemente gnóstica que apresenta uma teologia nada gnóstica.”99
Sem o Espírito, como dizia William Barclay, “até a Bíblia se tom a letra
morta” .100 Ellen White tinha um ponto de vista similar: “Sem o Espírito
de Deus, de nada vale o conhecimento da Palavra.... Sem a iluminação do
Espírito, os homens não estarão aptos para distinguir a verdade do erro, e
serão presa das tentações sutis de Satanás.” 101
Contudo, o trabalho do Espírito não para aí, pois o problema do
entendimento espiritual não é cognitivo (conhecimento), mas afetivo
(sentimento). O Espírito trabalha com as afeições e emoções. De acordo
com Paulo, a pessoa natural não aceita/recebe/acolhe ( dechetai) as coisas
espirituais (1 Co 2:14), mas o Espírito faz um trabalho no coração (hebraico,
lev, grego kardia) e muda a maneira de ver as coisas.

O Transformador
Todo o processo de mudança espiritual tem um a dinâmica do
Espírito, que transforma e integra o “eu” da pessoa. Em João 3, Jesus faz

98Graham A. Cole, He Who Gives Life: The Doctrine o f the Holy Spirit (Wheaton:
Crossway, 2007), 262.
99George Eldon Ladd, A Theology o f the New Testament, ed. rev. (Grand Rapids:
Eerdmans, 1998), 533.
'00William Barclay, The Promise o f the Spirit (Philadelphia: Westminster, 1960),
109.
101White, Parábolas de Jesus, 408,411.
O Espírito da missão | 299

um contraste entre o nascimento natural (de baixo) e o do Espirito (do


alto). Ele usa um jogo de palavras com duplo sentido - pneuma (vento
ou e/Espírito), phone (som, voz), anothen (de novo ou do alto) - para
enfatizar que o novo nascimento vem de Deus e é operado pelo Espirito.
Em geral, as versões modernas costumam traduzir o termo anothen
por “nascer de novo”, o que não está errado, mas é provável que Jesus
quisesse destacar o aspecto de “nascer do alto” . Nascer do alto inclui
nascer de novo, mas as ênfases são diferentes. No nascer de novo, a ênfase
está na mudança; no nascer do alto, a ênfase está na fonte da mudança.
Na verdade, a pessoa nasce de novo pelo poder do alto. O Espirito faz
a verdade se tom ar operante em nosso eu, germinando, florescendo e
frutificando um principio divino de vida.
Além de dar vida nova aos conversos, o Espírito livra-os da prisão
do pecado, que exaure a vida espiritual. Ele é o libertador. Edward
Heppenstall escreve: “O poder do cristianismo é o poder do Espirito Santo.
Sem o poder espiritual, a religião é apenas urna forma. O pecado na vida
é um poder, não uma forma. A forma da religião não pode possivelmente
fazer face ao poder do pecado.”102 Por isso, o Espírito é tão importante no
trabalho do missionário.

O Sacralizador
Entre os resultados esperados e desejados da missão está a mudança
na vida daqueles que respondem positivamente ao anúncio do evangelho.
Mas como levar uma pessoa centrada no pecado a se tom ar dedicada a
Deus? O Espirito Santo transforma o convertido e santifica seu corpo como
um templo. “Será que vocês não sabem que o corpo de vocês é o templo do
Espirito Santo, que vive em vocês e lhes foi dado por Deus?”, escreveu o
apóstolo Paulo (IC o 6:19)103 ao seu público de Corinto, um centro famoso

102Edward Heppenstall, Salvation Unlimited: Perspectives in Righteousness by


Faith (Washington, DC: Review and Herald, 1974), 199.
103Embora a metáfora do templo seja primariamente comunal, Paulo a aplica aquí
ao ámbito individual, pois a imoralidade sexual mencionada nesse contexto é praticada
300 I Marcos de Benedicto

pelos templos pagaos e por sua vida licenciosa. O mesmo pode acontecer
na missão em São Paulo, Nova York ou Tóquio.
É interessante notar que, em grego, há duas palavras traduzidas por
templo: hieron e naos. A primeira era geralmente usada para descrever o
complexo total do templo, enquanto a última era empregada ao se falar
do aspecto mais íntimo do templo, o santíssimo, o lugar da presença de
Deus. Ao dizer que nosso corpo é o templo do Espirito Santo, o apóstolo
usa a palavra naos. Portanto, o Espirito é o sacralizador de todos os que se
tomam templos de Deus.

O Criador de comunidade
O Espirito integra o convertido em urna nova comunidade, fator
importante para a missão, pois hoje se sabe que muitas pessoas aceitam a
fé para pertencer a um grupo. O Espirito cria um vínculo de amor, em que a
pessoa se sente aceita e valorizada. N a comunidade do Espírito, as pessoas
reafirmam sua identidade.
Em Atos 2, quando 0 Espírito Santo desceu, as pessoas reconheceram
que os apóstolos estavam falando em sua língua. O Pentecostés foi um
encontro de idéias e culturas em que o outro foi reconhecido e valorizado.
Abriu-se um canal de comunicação. A presença do Espírito não destrói a
identidade particular, nem elimina as diferenças, mas traz harmonia na
diversidade. Como diz Miroslav Volf, “o milagre do Pentecostés consiste
em inteligibilidade universal e movimento livre no meio de heterogeneidade
cultural e social”.104
Concluindo esta seção, é importante frisar que o Espírito têm muitos
outros papéis no desenvolvimento da missão. Mas os dez mencionados
são suficientes para dar uma visão da importância de sua atuação. A
seguir, veremos algumas sugestões preliminares de como valorizar mais
a pneumatologia no contexto da missão adventista, tendo como alvo
o desenvolvimento de um paradigma marcado pelo poder do Espírito.

pelos indivíduos (Fee, 135,136).


104Miroslav Volf, Exclusion and Embrace: A Theological Exploration o f Identity,
Otherness, and Reconciliation (Nashville: Abingdon, 1996), 228-229.
O Espírito d a missão | 301

Paradigma pneumatológico

Se o Espírito foi necessário para fazer a diferença no alcance da


missão em outros momentos da historia, é muito mais necessário no século
XXL N a era da globalização, ou interconectividade, ou velocidade, ou
desilusão, ou inquietação, ou indefinição, ou relativização (você escolhe o
termo de acordo com o seu critério, ou, se preferir algo mais convencional,
pode ficar com pós-modemidade), as pessoas não são facilmente
alcançadas da mesma maneira em que eram no passado. Por isso, a adoção
de um paradigma pneumatológico toma-se essencial, pois a versatilidade
é própria do Espírito.
Os teólogos têm sugerido que o cristianismo teve diferentes
modelos conceituais em sua trajetória. Por exemplo, Hans Küng apontou
seis paradigmas na história do cristianismo, que, segundo David Bosch,
indicam diferentes maneiras de ver a fé cristã e a missão da igreja:

1. O paradigma apocalíptico do cristianismo primitivo.


2. O paradigma helenista do período patrístico.
3. O paradigma medieval católico romano.
4. O paradigma protestante.
5. O paradigma do iluminismo.
6. O paradigma ecumênico emergente (ou pluralista, como eu
diria).105

Não seria hora de ir além desses paradigmas? Tomando por base


essa classificação, sugiro que o sétimo paradigma seja o pneumatológico.
Na verdade, não se trata de um novo paradigma, pois ele sempre fez parte
do pensamento de Deus para a missão da igreja, mas de um modelo que
deve ser redescoberto. Precisamos de uma missiologia pneumatológica, ou

105Hans Küng, Paradigm Change in Theology (Nova York: Crossroad, 1989), 157;
e Bosch, 181-182.
302 I Marcos de Benedicto

pneumatologia missional, pois somente assim a missão terá relevância e


efetividade no contexto do século XXI.
Aqui não há espaço para explorar em detalhes as características e
implicações desse paradigma. Mas, como idéias iniciais, já que ninguém
tem as respostas definitivas, eu gostaria de sugerir dez passos para que a
Igreja Adventista possa intensificar a presença do Espírito em sua missão
e, assim, caminhar na direção desse paradigma.

Nova percepção do Espírito


O Espírito é real, mas não pode ser escrutinizado pelo teólogo ou
pelo cientista. Ele não pode ser colocado sob a mira de um microscópio
ou telescópio. Porém, os efeitos de sua ação podem ser percebidos. Na
brilhante analogia de Jesus em João 3:8, o Espírito é como o vento, que
não é visto, mas é sentido. Isso permite dizer que talvez o missiólogo tenha
mais chance do que o teólogo de ver os efeitos da ação do Espírito, pois
ele está, por assim dizer, no meio da atmosfera e de olho nos fenômenos
pneumatológicos.
No contexto do século XXI, como argumenta Donald Smith, dizer
que o Espírito está mais ativo na África, na Ásia e na América do Sul
do que na América do Norte e na Europa é uma tentação forte, mas não
constitui uma generalização muito sutil. O Espírito de Deus trabalha em
todos os lugares e atinge todos os povos. Ele não tem preferência étnica ou
geográfica. Contudo, parece que os povos dessas áreas onde a igreja cresce
mais rapidamente têm mais sensibilidade para detectar os movimentos do
Espírito. Em geral, os africanos, asiáticos e sul-americanos conseguem
ver o que os americanos e europeus, devido à sua mentalidade marcada
pelo racionalismo, o naturalismo e o empirismo, já não conseguem. A
diferença, então, não estaria na atuação do Espírito, mas na percepção de
seu trabalho.106
106Donald K. Smith, “The Holy Spirit in M issions”, em Who s Afraid o f the Holy
Spirit? An Investigation into the Ministry o f the Spirit o f God Today, ed. Daniel B. Wal-
lace e M. James Sawyer (Dallas: Biblical Studies Press, 2005), 239-252, especialmente
240-245. Outras explicações para o fenômeno, também exploradas por Smith, incluem
O Espírito da missão | 303

Para Smith, a capacidade de perceber a atividade do Espírito pode


ser influenciada pelo ambiente cultural. A maneira de vermos as coisas
não depende apenas de nossos sentidos físicos, mas também de nossas
experiências prévias e da nossa cosmovisão. No mundo ocidental, onde a
razão reina suprema, os sentimentos não merecem confiança e as emoções
devem ser controladas, é como se as pessoas vivessem numa “terra plana”,
sem capacidade de ver múltiplas dimensões.107
Mas como pode o Espírito ser percebido? Segundo John Eifion
Morgan-Wynne, a experiência do Espírito inclui: (1) um senso da presença
de Deus, um senso do numinoso, algum tipo de experiência extática, um
senso de ser circundado, permeado, dominado ou capturado pelo divino;
(2) uma espécie de iluminação ou orientação, que leva a uma compreensão
mais profunda dos propósitos de Deus, de modo que um curso de ação se
tom a imperativo; (3) um a capacitação ética, que ajuda o crente a vencer
um problema, dominar seus desejos, refinar o caráter, ser leal a Jesus até
a m orte.108
Através desses ou de outros marcadores da presença do Espírito,
precisamos aprender a percebê-lo em ação. Quando o amor, a fé, a
esperança, a sabedoria, a liderança, a ousadia e a resiliência, entre outras
coisas, se mostram em grau excepcional, há uma boa probabilidade de que
sejam resultado da capacitação do Espírito.
Em busca dos sinais da presença do Espírito, pode ser útil olhar
para uma comunidade carismática em ação. Seria essa comunidade o
segmento cristão que mais cresce na atualidade, o movimento pentecostal/
carismático,109 que começou pouco depois do movimento adventista? Na
a ideia de que os não cristãos precisam de evidências do poder do Espírito para reforçar
sua nova crença e o fato de que a alta educação dos países ocidentais toma seus cidadãos
menos suscetíveis a superstições e engano de espíritos maus.
107Ibid., 244, 245.
108John Eifion Morgan-Wynne, Holy Spirit and Religious Experience in Christian
Literature ca. AD 90-200 (Milton Keynes, UK ; Waynesboro, GA : Paternoster, 2006 ,
2006), 17, 18.
109Como curiosidade, vale registrar que os teólogos e missiólogos têm apontado
,·‫׳‬árias características da missão pentecostal. Trata-se de um movimento com (1) forte
304 I Marcos de Benedicto

verdade, estou pensando em outra opção. Se existe certo medo de confundir


nossa abordagem com o enfoque carismático, com seu estilo emocional e
sua propalada pouca solidez teológica,110 temos a alternativa mais viável
da igreja primitiva retratada em Atos, que, sem dúvida, era carismática no
sentido bíblico.

Reflexão a partir de teoria e práxis


A missiologia bíblica nasce da práxis. Não vemos nos documentos
sagrados uma teoria missional abstrata, uma missiologia de escritório. Por
isso, os autores bíblicos focalizam tanto o poder do Espírito no contexto
da missão. A missiologia de João, Lucas e Paulo, para citar três autores, é
prática e pneumatológica, pois eles reconhecem que a missão só tem valor
se for real/concreta e só é possível e efetiva quando desenvolvida no poder
do Espírito. Em teoria, o missiólogo pode dispensar o Espírito; na prática,
o missionário é forçado a reconhecer sua dependência dele.
Na perspectiva dos autores do Novo Testamento, 0 Espírito Santo é
algo/alguém a ser experimentado, e não apenas teorizado. “A chave para a
história inteira do desenvolvimento da ideia do Espírito é a experiência”,

ênfase experiencial e relacionai; (2) confiança na Bíblia, incluindo uma alta visão da
inspiração; (3) um toque de urgência em sua natureza; (4) um enfoque ao mesmo tempo
direcionado e diversificado, priorizando a evangelização, mas não a ponto de excluir a
preocupação social; (5) uma abordagem agressiva e ousada; (6) interdependência entre
vários grupos pentecostais/carismáticos e em relação às igrejas mais tradicionais e seus
projetos missionários; (7) imprevisibilidade quanto ao futuro; (8) ênfase em “sinais e
maravilhas”; (9) biblicismo literalista/ingênuo com um foco na escatologia; (10) prag-
matismo, flexibilidade e contextualização; (11) vasto uso dos meios de comunicação;
(12) espaço para emoções, testemunhos pessoais e demonstrações do poder do Espírito;
(13) ênfase no estabelecimento de igrejas nativas como alvo das missões. Ver Grant L.
McGlung, “Pentecostal/Charismatic Perspectives on a Missiology for the Twenty-First
Century”, Pneuma 16 (1994): 11-21; e Veli-Matti Kãrkkáinen, “Mission, Spirit and Es-
chatology: An Outline o f a Pentecostal-Charismatic Theology o f Mission”, Mission Stud-
ies 16 (1999): 73-94.
110Alguns autores têm uma avaliação negativa da teologia pentecostal. Anos atrás,
Walter J. Hollenweger registrou: “Os insights teológicos do movimento Pentecostal não
são novos nem valiosos” {The Pentecostals [Peabody: Hendrickson, 1988], 506, itálico
no original). Considerando a contribuição acadêmica atual de autores pentecostais/ca-
rismáticos, eu não seria tão crítico.
O Espírito da missão | 305

escreveu Irving F. Wood em um importante livro no início do século X X .111


Em seu clássico sobre o Espírito Santo, Hermann Gunkel sugeriu que o
apóstolo Paulo, que “era um pneumático em um grau excepcionalmente
alto” e “unia quase todos os dons do Espírito em uma pessoa”, acreditava
“no Espírito divino” porque o tinha “experimentado” .112
N a área de missão, alguns grupos fazem mais do que pensam, enquanto
outros pensam mais do que fazem. E importante teologizar e agir. Embora
desde o início da história da igrej a cristã a missão tenha feito parte da prática
e do ideal da nova religião, a reflexão crítica sobre a missão somente veio
mais tarde. Raymond Lull (c. 1235-1315), um ativista visionário espanhol,
pode ser considerado o primeiro missiólogo da história cristã. Além de
escrever sobre as missões, Lull propôs a criação de escolas para preparar
missionários para trabalhar entre judeus e muçulmanos. Hoje, dezenas de
teses doutorais em missiologia em diferentes universidades ao redor do
mundo são aprovadas a cada ano.113
No adventismo, há um a ênfase desproporcional à teologia e à
cristologia em relação à pneumatologia, ou seja, um desequilíbrio
trinitário. A igreja acentua muito a cristologia e esquece a pneumatologia.
Em certo sentido, a igreja repete em sua história as mesmas controvérsias
doutrinárias do cristianismo antigo. Mas o Espírito não deveria ser apenas
uma figura decorativa na teologia e na missão adventista. Uma reflexão
pneumatológica mais aprofundada pode criar uma nova consciência sobre
a importância do papel do Espírito na missão e, com o tempo, influenciar
as práticas da igreja.

111Irving F. Wood, The Spirit o f God in Biblical Literature: A Study in the History
o f Religion (Londres: Hodder and Stoughton, 1904), 261.
112Hermann Gunkel, The Influence o f the Holy Spirit: The Popular View o f the
Apostolic Age and the Teaching o f the Apostle Paul, trad. Roy A. Harrisville e Philip
A. Quanbeck II (Philadelphia: Fortress, 1979 [publicado originalmente em alemão em
1888]), 77,100.
113Para uma breve visão panorâmica da história da missiologia, ver Alan Neely,
"Missiology”, em Evangelical Dictionary o f World Missions, ed. A. Scott Moreau (Grand
Rapids: Baker, 2000), 633-635.
306 I Marcos de Benedicto

Relação correta entre escatologia e pneumatologia


Os adventistas têm um a forte escatologia, mas, em minha opinião,
não têm uma pneumatologia muito desenvolvida. A igreja, obviamente,
reconhece o papel e a importância do Espírito Santo no cumprimento
da missão. Mas a ênfase vai quase totalmente para um tempo futuro,
quando ocorrerá um derramamento espetacular do Espírito, na chamada
“chuva serôdia”. Ora, o Espírito é quem está no controle da escatologia.
Não é o Espírito que serve aos profetas, mas os profetas é que servem ao
Espírito. Para oferecer esperança real, a escatologia precisa depender da
pneumatologia.
As vezes, a pneumatologia adventista parece dar a impressão
de estar subordinada à sua escatologia. Porém, na perspectiva bíblica,
a escatologia é dirigida pela pneumatologia. Assim como o Cristo (a
origem da cristologia) era mais importante do que o templo (símbolo
da eclesiologia),114 o Espírito (pneumatologia) é mais importante do
que a missão (missiologia) e a consumação da missão (escatologia).115
Não existe escatologia sem missiologia e não existe missiologia sem
pneumatologia. Assim como Cristo, o Espírito está no começo e no fim do
processo de criação e de salvação. Portanto, não é a missão que deve ser o
referencial último, mas sim o Espírito. O Espírito é o Senhor da missão e
mesmo da igreja. Como diz Yves Congar, a “eclesiologia é runa função da
pneumatologia” .116 O Espírito foi enviado ao mundo para dar vida à igreja,
que, por sua vez, é enviada ao mundo para oferecer vida em Cristo.
A igreja primitiva também tinha um grande interesse em escatologia.
Com o risco de ser redundante, pode-se dizer que a escatologia era a força
que atraía a igreja rumo ao futuro. O mesmo princípio se aplica à Igreja
Adventista. Todavia, quando os discípulos quiseram discutir escatologia

114Ver a afirmação de Jesus em Mateus 12:6. Naturalmente, estou fazendo uma


inferência homilética, não uma afirmação exegética.
115Tecnicamente, a escatologia não deve ser identificada com o fim da missão, mas,
em certo sentido, as duas coisas coincidem.
116Yves Congar, 1 Believe in the Holy Spirit (Londres: Geoffrey Chapman, 1983),
2:46.
O Espírito da missão | 307

em seu último encontro com o Mestre, Jesus dirigiu o foco para a


pneumatologia e a missiologia.
O diálogo se encontra em Atos 1:6-8. Eles perguntaram: “Senhor, é
neste tempo que vais restaurar o reino a Israel?” Ou, em termos modernos,
quando será o fim do mundo? Jesus disse que isso não era da conta deles.
“Não lhes compete saber os tempos [chronoi, tempo no sentido geral e
cronológico] ou as datas [kairoi, tempo no sentido específico e climático,
com ênfase no que vai acontecer] que o Pai estabeleceu pela sua própria
autoridade [exousia]”, ele disse. Então acrescentou: “Mas receberão poder
[dynamis, força, capacidade] quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e
serão minhas testemunhas [martyres, aqueles que confirmam o que viram]
em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra.”
O interesse dos discípulos era a escatologia, enquanto o foco de
Jesus foi a pneumatologia, que resultaria em missiologia, que finalmente
levaria à escatologia. A pneumatologia é o começo, a missiologia é o meio
e a escatologia é o fim. Discutir pneumatologia sem focalizar a escatologia
é perder o olhar do ponto de chegada, enquanto discutir escatologia sem
pensar na pneumatologia é perder o foco do ponto de partida. Já enfatizar
a missiologia sem considerar a pneumatologia é perder o foco da fonte de
poder para ir de um ponto ao outro e, portanto, sucumbir ao peso da tarefa.
O Espírito é o iniciador, o mantenedor e o consumador do eschaton Por
isso, enquanto alguns perguntam se a missão pertence à cristologia ou à
eclesiologia, faço uma “nova” proposta: pneumatologia.
Valorizar a pneumatologia no contexto da missiologia e da escatologia
significa também acreditar na disponibilidade do poder do Espírito hoje
e buscá-lo com mais intensidade. Para aqueles que olham apenas para
tempos áureos no passado e no futuro, Ellen White tem um lembrete:
“A nós hoje, tão certamente como aos primeiros discípulos, pertence a
promessa do Espírito.” 117

117Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira,


2006), 8:20.
308 I Marcos de Benedicto

Globalização dos horizontes


O evangelho deve alcançar todos os extratos da sociedade, em todos
os lugares. Jesus disse que a missão deveria começar em Jerusalém e chegar
aos confins da Terra, mas não disse que deveria abandonar Jerusalém.
A missão precisa incluir a própria igreja e todos os redutos culturais da
sociedade. É uma missão abrangente e contínua. O cristianismo primitivo
começou no ambiente judaico e teve dificuldade para aceitar os gentios
como alvo da missão, mas o Espírito ampliou cada vez mais os horizontes
da igreja. O clímax ocorreu quando 0 apóstolo Paulo, além contextualizar
a mensagem para alcançar o mundo gentio, desejou chegar ao coração do
império, em Roma, e pregar para o próprio imperador. O Espírito sempre
amplia a visão da comunidade missionária.
No caso do adventismo, houve uma clara ampliação da visão
missiológica. O historiador George Knight identifica cinco estágios no
desenvolvimento da missão adventista: (1) a antimissão, com a ideia
prevalecente da “porta fechada” (1884-1850); (2) missão possível, em que
os líderes se convenceram danecessidade/possibilidade de evangelizar, mas
não tinham metodologia nem uma visão missionária ampla (1850-1874);
(3) missão europeia, em que os missionários adventistas foram enviados
aos países protestantes europeus (1974-1889); (4) missão mundial, em que
o mundo inteiro passou a ser visto como campo missionário (1890-1960s);
e (5) missão global intencional, em que a igreja conscientemente passou a
planejar estratégias para evangelizar o globo (1960s-presente).118 Isso era
de se esperar, pois o Espírito sempre amplia os horizontes.
Nesse processo de ampliar a esfera de inclusão, a igrejaprecisa investir
na conversa amigável com todos. A missão no espírito é caracterizada pelo
diálogo. Amissão não deve ser vista como um empreendimento geográfico de

118George R. Knight, The Fat Lady and the Kingdom: Adventist Mission Confronts
the Challenges o f Institutionalism and Secularization (Boise: Pacific Press, 1995), 57-78.
Observação: os nomes desses estágios foram dados por mim, não por Knight. As fases
originais dele são: (1) povo da antimissão, (2) porta parcialmente aberta, (3) missão às na-
ções cristãs (“protestantes”), (4) missão ao mundo e (5) missão com um plano consciente.
O Espírito da missão | 309

conquista do Oriente pelo Ocidente, mas como intercâmbio de experiências.


Se no passado a missão foi encarada quase como uma expedição militar
a terras de além-mar, hoje deve ser percebida como o anúncio das boas-
novas de salvação, um convite amorável à reflexão e à mudança. Em
alguns casos, haverá conflito de poderes, pois o inimigo não deseja ceder
terreno ao reino de Deus. Mas o normal deveria ser o diálogo pacífico.
O espírito convida (Ap 22:17), mas não força. Cada um tem a liberdade
de aceitar ou não o evangelho. Agir assim é usar o método do Espírito.

Resgate da visão profética e apocalíptica


Nos evangelhos sinóticos, Jesus é apresentado como um operador
de maravilhas profundamente interessado pelo bem-estar das pessoas, mas
também como um profeta escatológico. Além de repreender os líderes e
condenar os poderosos (leia-se fariseus, saduceus e 0 rei), ele pregou um
poderoso sermão escatológico ou mesmo apocalíptico.119120Paulo igualmente
era pastoral, mas tinha um forte fervor apocalíptico. Os documentos do
Novo Testamento indicam que a igreja primitiva via a si mesma como uma
comunidade profética e escatológica.
O movimento adventista tem igualmente um forte caráter
escatológico e apocalíptico. “O adventismo do final do século XX retém a
urgência apocalíptica de 1844 combinada com a sensibilidade pastoral que
um mundo torturado necessita”, escreveu o historiador adventista Floyd
Greenleaf no prefácio da edição revisada do livro Portadores de Luz}20

119Mateus 24, Marcos 13 e Lucas 21 são os exemplos clássicos da pregação es-


catológica e mesmo apocalíptica de Jesus. A literatura sobre 0 assunto é vasta. Para duas
obras úteis sobre a visão de Jesus sobre o reino, incluindo sua ética, ver Bruce Chilton,
Pure Kingdom: Jesus ’ Vision o f God (Grand Rapids: Eerdmans, 1996), e Scot McRnight,
A New Israel: The Teachings o f Jesus in National Context (Grand Rapids: Eerdmans,
1999). McKnight, 76, escreve que, em síntese, os eruditos propuseram “quatro interpreta-
ções do reino de Deus nos ensinos de Jesus: (1) é iminente (Weiss, Schweitzer), (2) é exis-
tendal (Bultmann), (3) é uma ordem eterna (Dodd), ou é inaugurado (Fuller, Kümmel)”.
120Schwars e Greenleaf, 8.
310 I Marcos de Benedicto

Contudo, talvez nem todos concordem que esse fervor apocalíptico ainda
exista na mesma intensidade.
Num pequeno, provocativo e importante livro recente, George
Knight defende ardentemente que o adventismo deve recuperar sua visão
profética, pois não é apenas mais uma igreja. O adventismo é evangélico,
mas é mais do que isso. Se ele perder esse diferencial, focalizando apenas
a ética ou um evangelho social, terá neutralizado (literalmente, castrado) a
si mesmo e perderá sua relevância.121
Knight vê três maneiras pelas quais o adventismo pode castrar-se:
(1) apresentar apenas uma “pregação bestial”, no sentido de enfatizar
demais as “bestas” do Apocalipse e perder de vista Cristo como o
personagem central das profecias apocalípticas; (2) esquecer-se de que 0
Cordeiro vitorioso é o Cordeiro que foi morto e derramou seu sangue para
tirar nossos pecados; (3) deixar de focalizar o Leão de Judá, ou seja, a
ira de Deus contra o pecado, um tema recorrente na Bíblia (mais de 580
referências) e em especial no Apocalipse, como mostra a expressão “ira
do Cordeiro”.122 Em síntese, para não se neutralizar, o adventismo deve
ousadamente pregar a mensagem das profecias de Daniel e do Apocalipse,
mesmo porque a “apocalíptica, corretamente entendida, é o evangelho”.123
Um aspecto não enfatizado por Knight, mas igualmente fundamental,
é a importância de a igreja manter sua forte identidade como povo
remanescente.124Existe hoje um debate sobre a condição de “remanescente”
do adventismo e, nesta época pluralista, até certo desconforto com 0

121George R. Knight, The Apocalyptic Vision and the Neutering o f Adventism: Are
We Erasing Our Relevancy? (Hagerstown: Review and Herald, 2008). Esse livro foi lan-
çado em português, em 2010, pela Casa Publicadora Brasileira, com 0 título A Visão
Apocalíptica e a Neutralização do Adventismo, mas as citações aqui são da edição em
inglês.
122Ibid., 19-25.
123Ibid., 21.
124Para uma estimulante obra recente escrita por eruditos adventistas e abrangendo
uma série de aspectos sobre o tema do remanescente, ver Ángel Manuel Rodríguez, edi-
tor, Toward a Theology o f the Remamnant: An Adventist Theological Perspective (Silver
Spring: Biblical Research Institute, 2009).
O Espírito da missão | 311

conceito.125 Porém, se o adventismo perder a consciência de que tem um


chamado especial, considerando-se apenas outra igreja, logo perderá o seu
propósito e a sua razão de ser como organização mundial. Entretanto, é
bom lembrar, a consciência de ser um povo especial nunca deve motivar
urna postura sectária, muito menos gerar orgulho. Ser remanescente é
amar, servir e sofrer; não é ser perfeito, nem se achar o melhor.
Ser o remanescente, ter uma visão profética, insistir na imaginação
apocalíptica - tudo isso é ser povo do Espírito. E o Espírito que possibilita
a esperança de algo melhor no meio de um mundo que tende a “coisificar”,
relativizar e fragmentar. O adventismo, com sua identidade profética e
imaginação apocalíptica realista, deve confiar no Espírito de Deus como
o poder para realizar na Terra os sonhos dirigidos ao Céu por visionários
não conformistas.

Dependência do Espírito, não dos agentes


Emil Brunner (1889-1966), o grande teólogo neo-ortodoxo suíço,
afirmou que a igreja ( ekklesia) “nunca é concebida” no Novo Testamento
"como uma instituição”, “mas exclusivamente como uma comunhão de
pessoas”, ou seja, a vida “baseada na comunhão com Jesus Cristo”, no
sentido de “comunhão no Espírito (koinonia pneumatos)” e “comunhão
em Cristo (koinonia Christou)126.‫ ״‬Se essa perspectiva for correta,

125O Dr. Ángel Rodríguez identifica seis pontos de vista sobre a identidade do ad-
‫־‬. entismo como povo remanescente: (1) a posição tradicional, que define o remanescente
como aqueles que guardam os mandamentos e têm o testemunho de Jesus; (2) a ideia
de que 0 remanescente inclui adventistas e não adventistas; (3) o conceito de que há um
remanescente fiel dentro do adventismo remanescente infiel; (4) o ponto de vista de que
o remanescente é uma entidade invisível; (5) a sugestão de que 0 remanescente ainda não
e uma realidade; e (6) uma compreensão sociológica do remanescente, no sentido de que
ele deve se envolver em atividades político-sociais. O que todas essas posições, exceto a
primeira, têm em comum é uma atenuação ou mesmo abandono da ideia de que os adven-
:istas são o povo remanescente (Ángel M. Rodríguez, “The Remnant in Contemporary
Adventist Thinking”, em Pensar la Igresia Hoy: Hacia Una Aclesiología Adventista, ed.
Gerald A. Klingbeil, Martin G. Klingbeil e Miguel Ángel Núñez [Libertador San Martín,
.Argentina: Editorial Universidad Adventista del Plata, 2002], 269-279).
126Emil Brunner, The Christian Doctrine o f the Church, Faith, and the Consumma­
312 I Marcos de Benedicto

então devemos acrescentar o corolário de que a missão da igreja não é,


primariamente, realizada por uma instituição, mas por pessoas conectadas
a Cristo pelo poder do Espírito.
Ao longo dos séculos, a missão nem sempre tem sido prioridade da
igreja cristã, que às vezes prefere o comodismo de trabalhar para manter o
território conquistado, ou, pior ainda, consolidar o sistema estabelecido. E,
quando a missão é prioridade, ela não costuma ser ligada à pneumatologia.
É como se a igreja pudesse cumprir a missão por sua própria força. Porém,
do ponto de vista bíblico, isso é uma impossibilidade. Quando o foco está
na estrutura ou no agente missionário, perde-se o Espírito de vista.
Roland Allen (1868-1947), missionário anglicano na China, ressaltou
esse aspecto ao escrever sobre os métodos missionários do apóstolo Paulo.
Para Alien, se uma comunidade cristã nascente é ensinada a depender do
missionário, ela permanecerá passiva e dormente, sempre dependente
da autoridade do missionário e esperando tudo de suas mãos. É como
se a comunidade colocasse o missionário no lugar de Cristo, tomando-
se dependente do agente humano. Ao passo que, se a comunidade é
ensinada a buscar o trabalho do Espírito Santo em cada membro, então
passa a depender da fonte certa de poder. Por isso, a igreja deve ser auto-
sustentável, autopropagável e autogovemável. Na visão dele, esse princípio
é muito importante e deve ser observado desde o começo do trabalho,
pois o treinamento dos primeiros conversos estabelece um padrão para
o futuro.127 Allen, com seu pensamento radical para a época, pregava a
confiança no poder do Espírito Santo, que é um Espírito missionário e
impulsiona a igreja à m issão.128
A igreja é um empreendimento espiritual quando o Espírito dirige os
negócios da igreja. Se o Espírito estiver ausente, a igreja se tom ará apenas

tion: Dogmatics ///(Philadelphia: Westminster, 1962), 21.


127Roland Allen, Missionary Methods: St. Paul’s or Ours? (Grand Rapids: Eerd-
mans, 1962 [publicado primeiramente em 1912]), 81.
128Ver Roland Allen, Pentecost and the World: The Revelation o f the Holy Spirit in
‘The Acts o f the Apostles’{Londres: Oxford University Press, 1917), e idem, The Minis-
try o f the Spirit: Selected Writings, ed. David M. Patón (Cambridge: Lutterworth Press,
2006).
O Espírito da missão | 313

um negócio. Nesse caso, toda a rotina eclesiástica se transforma em uma


maneira de perpetuar o status burocrático, e os recursos são principalmente
dirigidos para manter a estrutura, não para realizar a missão. A liderança
aprende a dirigir a igreja com sucesso e pensa que o Espírito a está operando.
Confiança imprópria na estrutura e numa série de recursos, processos e
fenômenos, inclusive agitação carismática, pode disfarçar a falta do poder
real do Espírito.
Uma igreja cheia do Espírito e voltada para a missão é dependente
do Espírito de Deus em todos os aspectos, e não de seus próprios recursos.
Deus dificilmente irá se manifestar com poder em uma igreja em que ele não
é necessário, a menos que venha para julgá-la. Contudo, será que a Igreja
Adventista tem enfatizado suficientemente sua dependência do Espírito
de Deus? N a história das missões adventistas,129 vários tipos de agentes
têm recebido destaque, como as instituições (incluindo o quadrilátero
formado pelas editoras, as escolas, os hospitais e a estrutura organizacional
da igreja130), as igrejas locais, as tecnologias e os indivíduos, mas, como
vimos, precisamos da ênfase no Espírito, que revestirá o povo com grande
poder para cumprir a missão.
Em 1863, Ellen White advertiu: “A razão por que há tão pouco
do Espírito de Deus é que os pastores aprendem a trabalhar sem ele.” 131
Concordando com ela, Garrie Williams afirma: “Devido à forte base
doutrinária de minha denominação, as igrejas têm aprendido a funcionar
sem o Espírito Santo, enquanto confiam em ensinos, tradições, treinamento
e respeitabilidade institucional.” 132 Aprendemos a realizar o trabalho
129Para uma visão histórica panorâmica do movimento missionário da Igreja Ad-
ventista, ver Russell L. Staples, “Historical Reflections on Adventist Mission”, em Ad-
ventist Mission in the 21st Century: The Joys and Challenges o f Presenting Jesus to a
Diverse World, editado por Jon L. Dybdahl (Hagerstown: Review and Herald, 1999),
26-35. Ver também Stefan Hõschele, From the End o f the World to the Ends o f the Earth:
The Development o f Seventh-day Adventist Missiology (Nürnberg: Verlag fur Theologie
und Religionswissenschaft, 2004).
130Sobre esse quadrilátero, ver Knight, The Fat Lady, 81-92.
131Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira,
2000), 1:383.
132Garrie F. Williams, How to Be Filled with the Holy Spirit and Know It (Hager-
stown: Review and Herald, 1991), 17.
314 I Marcos de Benedicto

com nossas próprias forças. Se as coisas parecem estar funcionando


bem a partir de princípios práticos, por que se preocupar com poderes
“intangíveis”, como Espírito Santo e oração?133 Apesar disso, estou
convencido de que, para cumprir a missão com maior sucesso, a igreja
precisa aprender a depender mais do Espírito, e menos da estrutura e dos
agentes. Para terminar a missão, como ressalta Arnold Wallenkampf, a
igreja não precisa de mais dinheiro, maiores instituições ou organizações
mais estruturadas, por melhores que sejam essas coisas; ela precisa do
poder do Espírito Santo.134 O Espírito é o diferencial, como mostra a
experiência dos discípulos, que não tinham dinheiro, mas tinham poder.

Equilíbrio entre estrutura e carisma


Embora a vida proveniente do Espírito seja o segredo para a vitalidade
da igreja, a apropriação dessa vida de maneira contínua não é fácil. Os
movimentos religiosos tendem a começar em alta voltagem carismática,
mas, com o tempo, caminham para a rotinização.135 Ao longo da história
de um movimento religioso, esse padrão pode ser alternado com erupções
carismáticas ocasionais, devido a crises, conflitos ou rupturas; porém, a
regra geral continua válida. A trajetória do adventismo não foi diferente.136
A estrutura é importante. Porém, de uma perspectiva sociológica, o
institucionalismo pode ser um inimigo da expressão dos carismas. Tem-se
sugerido que o institucionalismo desempenhou um papel importante na
supressão dos carismas, especialmente profecia,137na igreja cristã primitiva.

133“Acredito que os adventistas têm subenfatizado o papel da oração nas missões”,


diz Tim Crosby. “Estamos em guerra, e em tempo de guerra é importante conhecer nossas
armas. Frequentemente, imaginamos a oração como uma arma defensiva, algo para nos
proteger do mal. Mas a oração não é meramente uma arma defensiva. É uma arma ofen-
siva, que deve ser usada para atacar 0 reino das trevas” (123).
134Arnold V. Wallenkampf, New by the Spirit: Experiencing the Life-Changing
Power o f the Comforter (Hagerstown: Review and Herald, 2006), 115.
135Pelo menos, esse padrão se aplica aos estágios iniciais do judaísmo, do Cristian-
ismo, do metodismo e do adventismo, entre outros.
136Ver Richard B. Ferret, Charisma and Routinisation in a Millennialist Comma-
nity: Seventh-day Adventist Identity (Lewiston: Edwin Mellen Press, 2008).
137See James L. Ash, Jr., “The Decline o f Ecstatic Prophecy in the Early Church”,
Theological Studies 37 (1976): 227-252.
O Espirito da missão | 315

Não é fácil acomodar profetas e bispos na mesma hierarquia. Para David


Auné, “o tão discutido problema do declínio da profecia no cristianismo
primitivo deve ser visto como uma questão social, e não teológica”, urna
vez que, “com a institucionalização do cristianismo e a racionalização de
suas estruturas, a profecia se tom ou redundante e disfuncional” .138 De fato,
a historia do povo de Deus sugere um a tensão perene entre dois polos
paralelos: o institucional (sacerdotes/reis/bispos) e o carismático (juizes/
profetas/leigos). Para ter vitalidade, a igreja precisa manter um equilibrio
entre carisma (poder dos dons) e estrutura (poder institucional).139
Com este arrazoado, naturalmente, não quero dizer uma igreja
“montanizada”,140 agitada por êxtase desvairado e caracterizada pelo
caos institucional. A ideia é de uma igreja cheia do Espírito, em que
ordem e carisma estão unidos em uma simbiose simétrica e em que a
ordem canaliza os carismas e os carismas maximizam a missão. Longe
de ser inútil ou incompatível com os carismas, a estrutura é necessária.
“O carisma precisa do ofício da mesma maneira que uma planta delicada
precisa de um vaso sólido para segurá-la.”141 É uma ilusão querer
exercer um impacto social durável sem instituição, ou sonhar com uma
igreja fundamentada apenas em carismas. Porém, para cumprir com
eficiência a missão, a estrutura precisa ser dinamizada pelo Espírito.

138David E. Aune, Prophecy in Early Christianity and the Ancient Mediterranean


World (Grand Rapids: Eerdmans, 1983), 338.
139Para uma análise crítica desse aspecto na Igreja Católica, ver Leonardo Boff,
Igreja: Carisma e Poder (São Paulo: Ática, 1994), 78, 79, 74, 91-106, passim. Este livro,
publicado originalmente em 1981, desagradou tanto as autoridades do Vaticano que o
autor foi submetido a um processo na Congregação para a Doutrina da Fé. Finalmente, o
livro foi proibido e 0 autor, punido. Para um estudo sobre a estrutura da Igreja Adventista,
ver Barry D. Oliver, SDA Organizational Structure: Past, Present, and Future (Berrien
Springs: Andrews University Press, 1989).
140A referância é a Montano, fundador de um movimento apocalíptico/ascético/
extático no II século na Frigia. Duas profetisas, Prisca e Maximilla, ao time hiperen-
rusiástico de Montano. Para informação em profundidade, ver Christine Trevett, Montan-
ism: Gender, Authority and the New Prophecy (Cambridge: Cambridge University Press,
1996).
141Pinnock, 140.
316 I Marcos de Benedicto

Uso do espectro carismático completo


Os dons do Espirito (charismata) são dados para a edificação do povo
de Deus, a igreja, e para ajudá-la no cumprimento da missão. Por isso, devem
ser usados em sua totalidade. O uso de todos os dons resulta em uma missão
mais efetiva, motivo por que um crescente número de vozes dentro do
adventismo tem clamado por mais espaço para os dons espirituais, incluindo
os miraculosos.142 Embora esses autores defendam a importância dos dons
miraculosos, não vou entrar aqui no mérito teológico dessa questão. O ponto
que desejo ressaltar é a importância de dar espaço para os dons e a atuação
do Espírito no cumprimento da missão.
Na prática, mesmo uma igreja que acredite na validade atual de todos
os dons espirituais143pode acabar dando prioridade para alguns deles. Muitos
cristãos vivem em um tipo de vácuo “intertestamental”. Eles admiram os
dons maravilhosos do passado e vislumbram o derramamento do Espírito
no futuro, mas não percebem que uma rica experiência do Espírito está
disponível hoje. Um parágrafo sobre um fenômeno na história judaica
envolvendo a crença no dom de profecia pode ajudar a iluminar esse dilema.
No judaísmo do período intertestamentário, o Espírito Santo passou
a ser visto essencialmente como 0 Espírito de profecia. As duas expressões

142Russell Burrill, ressaltando que os adventistas “têm sido quase temerosos dos
dons espirituais mais miraculosos”, afirma: “Os dons espirituais são um dos assuntos
mais negligenciados no adventismo” {Revolution in the Church: Unleashing the Awsome
Power o f Lay Ministry [Fallbrook: Hart Research Center, 1993], 16, 61). William E. Ri-
chardson censura a fixação adventista em um dom, profecia, em detrimento, por exemplo,
de outro dom encontrado na mesma lista, línguas (Speaking in Tongues: Is It Still the Gift
o f the Spirit? [Hagerstown: Review and Herald, 1994], 68). Pardon Mwansa reclama
que os aventistas “têm falhado em encontrar um equilíbrio entre os textos que apoiam
a existência de cruas e sinais miraculosos e aqueles que parecem advertir contra curas e
sinais miraculosos” (129). Jon Dybdahl aponta sete grandes ênfases falsas que, em sua
visão, “levaram à negligência atual da oração para a cura” na Igreja Adventista. Uma de-
las é o que ele chama de “carismafobia” (o medo de tudo que se relaciona ao movimento
carismático). Para contrapor a esse ponto de vista, ele propõe o que chama de “carisma-
afinidade” (“Should We Pray for the Sick?”, em The Master s Healing Touch, ed. James
W. Zackrison [Hagerstown: Review and Herald, 1997], 33, 34).
143A Igreja Adventista sempre creu na vigência dos dons espirituais, mas foi a par-
tir de 1980 que passou a incluí-los em suas crenças fundamentais.
O Espírito da missão | 317

praticamente se tomaram sinônimas. Além disso, desenvolveu-se a ideia de


que, após o exílio babilónico, o Espírito Santo havia restringido ou mesmo
cessado sua atuação entre o povo de Deus.144Pelo menos, essa era a percepção
do povo. Se Deus ainda se comunicava com o seu povo, era somente através
de uma voz inferior, a bat qol (literalmente, “a filha de uma voz”), o eco da
voz divina. Os emditos discutem se a crença era na cessação total do dom de
profecia, ou apenas na ausência de profetas, mas isso não interessa aqui.145
O fato é que havia um vácuo pneumatológico e profético.
Hoje, devido a fatores diferentes, e em alguns casos análogos, é como
se alguns segmentos do cristianismo estivessem reeditando o pensamento
intertestamental. Os ecos do dom de profecia predominam em sua rotina
eclesial. Mas, por mais aclamado e excelente que seja o dom de profecia,
ele não deve dominar sozinho o panorama da missão da igreja. O Espírito
que dá a profecia é o mesmo que motiva o louvor e estimula para o serviço.
Nem só de profecia sobrevive a missão, mas de todos os dons que vêm do
Espírito de Deus.
Ao enfatizar o espectro carismático completo, não quero limitar
0 assunto aos dons espirituais, pois a atuação do Espírito é muito mais
ampla do que a capacitação dos crentes. Precisamos incluir também
outras dimensões. A missão no Espírito deve seguir o padrão missiológico
holístico de Jesus. Em Lucas 4:18 e 19, Jesus explicou que fora ungido

144Ver Aune, 103-106; e Turner, The Holy Spirit and Spiritual Gifts, 193-196.
145Para John R. Levison, o ponto de vista cessacionista “é construído sobre um pas-
tiche de textos: SI 74:9; 1 Mace 4:46,9:27 e 14:41; Josefo,z(/? 1.37-41; 2 Apoc. Bar. 85.3;
Pr Azar 15; e t. Sota 13.2-4” (“Did the Spirit Withdraw from Israel? An Evaluation o f the
Earliest Jewish Data”, New Testament Studies 43 [1997]: 35). Frederick E. Greenspahn
escreve que “os autores intertestamentários podem ter percebido a ausência de profe-
tas, algo notado também em outros períodos (cf. ISm 3:1), mas eles simplesmente não
afirmam que a profecia tinha chegado ao fim, seja temporariamente ou de outro modo”
1 "Why Prophecy Ceased”, Journal o f Biblical Literature 108 [1989]: 40). Porém, mais
recentemente, Benjamin D. Sommer saiu em defesa do consenso anterior, afirmando que
os judeus do segundo templo “criam, ao mesmo tempo e sem contradição, que a verda-
deira profecia tinha cessado e que substitutos inferiores, mas genuínos, existiam” (“Did
Prophecy Cease? Evaluating a Reevaluation”, Journal o f Biblical Literature 115 [1996]:
41).
318 I Marcos de Benedicto

pelo Espírito para: (1) evangelizar os pobres; (2) curar os quebrantados do


coração; (3) pregar liberdade aos cativos; (4) restaurar a vista aos cegos; (5)
pôr em liberdade os oprimidos; e (6) anunciar o ano aceitável do Senhor.
Esse programa missionário sugere uma ação integral para oferecer
libertação, restaurar a vida e criar esperança. Longe de manifestações
narcisísticas de poder, o Espírito capacita o missionário a se misturar
com pessoas de coração partido para oferecer salvação e anunciar um
novo tempo de alegria. A unção do Espírito no sentido de consagração/
capacitação ocorre para que 0 mensageiro de Deus leve às pessoas feridas
unção no sentido de cura/restauração.

Busca da plenitude do Espírito


O apóstolo Paulo indica que a igreja deve se encher do Espírito,
0 que causa um efeito transformador. “Não se embriaguem com vinho,
...mas deixem-se encher \plerousthé\ pelo Espírito”, escreveu Paulo (E f
5:18). O que ele quer dizer? Nesse texto, o modo é imperativo, o verbo é
plural, a voz é passiva e o tempo é presente contínuo. Isso significa que o
apóstolo (1) está dando uma ordem (2) para a igreja coletivamente (3) ser
cheia do Espírito Santo (4) de maneira contínua.146 Ser cheio do Espírito
indica o controle total pelo Espírito e a expressão das qualidades de Deus
de modo visível e marcante.147
Na Bíblia, há 35 palavras hebraicas e gregas para a metáfora de
“encher”. Mas somente seis têm a ver com o enchimento do Espírito.

146John R. W. Stott, Baptism and Fullness: The Work o f the Holy Spirit Today, 3a
ed. (Downers Grove: InterVarsity, 2006), 78, 79.
147Para algumas análises sobre o significado de ser cheio do Espirito, ver Ronald
B. Mayers, “The Infilling o f the Spirit”, Reformed Review 28 (1975): 157-170; Richard
G. Fairman, “An Exegesis o f ‘Filling’ Texts Which Refer to the Doctrine o f Filling” (tese
de ThD, Grace Theological Seminary, 1986); Eldon Woodcock, “The Filling o f the Holy
Spirit”, Bibliotheca Sacra 157 (2000): 68-87; Turner, Power from on High, 167; Andreas
J. Kõstenberger, “What Does It Mean to Be Filled with the Holy Spirit? A Biblical Inves-
tigation”, Journal o f the Evangelical Theological Society 40 (1997): 229-240; Graham
A. Cole, Engaging with the Holy Spirit: Real Questions, Practical Answers (Wheaton:
Crossway, 2008), 99-113.
O Espírito da missão | 319

No Novo Testamento, as palavras se restringem a dois grupos: pimplemi,


“encher” (por exemplo, At 2:4), e píeres, “cheio” (por exemplo, Lc
4:1). Esses termos são quase sinônimos, mas se distinguem quanto a
duração, maneira, resultados e propósito. Os “enchimentos” podem ser
classificados em dois: (1) enchimento “especial” (pimplemi, oito usos),
apontando um evento incomum, pontual, a capacitação para uma tarefa
difícil, sem condição prévia; (2) enchimento “normal” (pleroo, forma
verbal de píeres, seis usos), indicando uma atitude duradoura, progressiva,
a capacitação para a vida, a evidência de espiritualidade e maturidade, com
uma pré-condição.148Ninguém deve valorizar apenas 0 “extra” e desprezar
o “normal”. O “normal” rende dividendos ao longo do tempo e é decisivo
nos momentos de crise.149
Se o agente missionário deseja ter as qualidades do Espírito, deve
ser cheio do Espírito. E, para ser cheio, é preciso primeiro esvaziar-se.
Somente quando desviamos o foco do eu e priorizamos o reino
de Deus, morrendo com Cristo, recebemos o poder do Espírito. “Não
pode haver Pentecostés pessoal ou recebimento da plenitude do Espírito
Santo sem o Calvário pessoal.... Sem o Calvário histórico não havería
Pentecostés histórico. De igual modo, a menos que haja um Calvário
pessoal e experiencial, não haverá Pentecostés experiencial.” 150
Naturalmente, não há um meio automático para aumentar a presença
do Espírito. Afinal, ele é soberano e não pode ser manipulado por técnicas e
truques. Porém, podemos buscar a sua presença em oração. Com a plenitude
do Espírito, a missão se tom a eficaz, pois o Espírito primariamente enche
nossa vida não para trazer euforia ou êxtase, mas para testemunhar com
poder.

148Larry Pettegrew, The New Covenant Ministry o f the Holy Spirit, 2a ed. (Grand
Rapids: Kregel, 2001), 198, 201.
149John H. Coe, “Beyond Relationality to Union: Musings Toward a Pneumady-
namic Approach to Personality and Psychopathology”, Journal o f Psychology and Chris-
tianity 18 (1999): 121, 122.
150Wallenkampf, New by the Spirit, 57.
320 I Marcos de Benedicto

Foco na singularidade de Cristo, apesar do pluralismo


O Espirito leva em todas as direções, não apenas geograficamente,
mas culturalmente. O testemunho deve ir de Jerusalém aos confins da
Terra, do núcleo do povo de Deus aos povos mais distanciados. O alcance
do Espirito é universal e a missão é global. Contudo, o Espírito mantém
o foco em Jesus, que dá sentido a todas as experiências do mundo. Com
seu ministério altamente funcional, o Espírito “não chama atenção para
si mesmo”, nem busca os holofotes em matéria de doutrina e experiencia
pessoal.151 Toda experiencia pneumatológica legítima precisa de urna
cristologia robusta.
Atualmente, há urna tentativa de incluir as religiões na esfera de ação
do Espirito, mas com o risco de se perder de vista a singularidade e a
exclusividade salvífica de Jesus, o que seria bíblicamente inaceitável. Por
exemplo, ao tentar formular uma teologia pneumatológica das religiões,
Amos Yong procura ressaltar a presença universal e ativa do Espirito
em todas as tradições religiosas, mas seu alvo de superar o impasse
representado pelos paradigmas exclusivista, inclusivista e pluralista
poderia comprometer a particularidade de Jesus, embora, na prática, ele
não vá além do inclusivismo.152 Para aqueles que usam João 3:8 em defesa
do pluralismo religioso, é bom lembrar que, como diz Kevin Vanhoozer, “o
Espírito pode soprar onde ele quer, mas não o que ele quer”.153Ao elaborar
a missiologia da igreja, “a peumatologia não deve sobrepujar a cristologia”,
pois, se não fosse Cristo, nem haveria o derramamento especial do Espírito
(Pentecostés).154

151Jan Paulsen, When the Spirit Descends: Understanding the Role o f the Holy
Spirit, 2a ed. (Hagerstown: Review and Herald, 2001), 55.
152Ver Amos Yong, Beyond the Impasse: Toward a Pneumatological Theology o f
Religions (Grand Rapids: Baker; Carlisle: Paternoster, 2003).
153Kevin J. Vanhoozer, First Theology: God, Scriptures and Hermeneutics (Down-
ers Grove: InterVarsity; Leicester, Apollos, 2002), 233.
154Andreas J. Kõstenberger e Scott R. Swain, Father, Son and Spirit: The Trinity
and John’s Gospel (Nottingham: Apollos; Downers Grove: InterVarsity, 2008), 162,163,
onde eles também criticam Yong.
O Espírito da missão | 321

Mesmo (ou principalmente) numa época de pluralismo religioso,


uma missão pneumatológica deve indicar a singularidade e a essencialidade
de Cristo. Afinal, o Espírito sempre destaca Jesus. Ele não busca glória
para si mesmo. Bernard Ramm escreveu: “Cristo é o objeto supremo do
testemunho do Espírito, e Cristo é o conteúdo supremo das Escrituras.”155
James Packer complementa: “É como se o Espírito ficasse por trás de nós,
lançando luz por cima de nossos ombros em Jesus, que está de frente para
nós.” O Espírito não diz: “Olhe para mim!” Ele diz: “Olhe para ele!” 156
Essa atitude representa a kenosis do Espírito, que inclui o fato de não
glorificar a si mesmo, desenvolver sua missão entre uma comunidade que
não corresponde à plenitude de seus dons e atuar em um mundo que não o
conhece, não o valoriza, não o acolhe e não permite a plena expressão de
seu poder invencível.157
Assim como o Espírito focaliza Jesus, e não a si mesmo, o missionário
também deve dirigir o holofote para Jesus, e não para si. M anter o foco
em Jesus, no contexto da missão, significa apresentar Jesus como o único
Salvador e desenvolver a missão no espírito de Jesus, ou seja, com amor
sacrificial, atitude de serviço, integridade, humildade, reconciliação,
perdão, libertação e convite amistoso para o reino.158 Se Jesus foi o maior
missionário cheio do Espírito, devemos tê-lo como referencial e mostrar
suas qualidades no desempenho da missão.

155Bernard Ramm, The Pattern o f Authority (Grand Rapids: Eerdmans, 1957), 37.
156J. I. Packer, Keep in Step with the Spirit: Finding Fullness in Our Walk with
God, ed. rev. e ampl. (Grand Rapids: Baker, 2005), 57.
157Para uma breve discussão a respeito da kenosis do Espírito, ver Sergius Bulga-
kov, The Comforter, trad. Boris Jakim (Grand Rapids: Eerdmans, 2004), 280-285.
158“A postura básica da igreja cheia do Espírito e do missionário pneumatologi-
camente capacitado deve ser de humildade, anonimato e centralização no outro”, diz
Seng-Kong Tan (“A Trinitarian Ontology o f Missions”, International Review o f Mission
93 [2004]: 290). “A missão que é sustentada e dirigida pelo Espirito manifestará isso
também em seus métodos e execução”, completam Thomas Hoy Jr. e Clyde Steckel, em
The Church in the Movement o f the Spirit, ed. William R. Barr e Rena M. Yocom (Grand
Rapids: Eerdmans, 1994), 127.
322 I Marcos de Benedicto

Síntese

Neste estudo, vimos que os teólogos estão reconhecendo cada vez


mais a importância do Espírito na missão. Porém, a Igreja Adventista ainda
precisa dar esse passo, o que encontra apoio nos escritos de Ellen White.
Uma análise dos dados bíblicos mostrou que toda a teologia missional
da Bíblia tem um enfoque pneumatológico. O Espírito Santo é a força que
possibilita a missão divina no mundo. Sem o Espírito, não existe missão.
Por isso, a figura do Espírito aparece de forma explícita ou implícita em
todos os grandes textos bíblicos sobre missão, especialmente no Novo
Testamento. Ele é o fator impulsionador dos agentes missionários. Ele
capacitou e dirigiu os profetas, Jesus e os apóstolos. É, igualmente, o poder
disponível para a igreja cumprir sua missão.
Na qualidade de Senhor da missão, o Espírito Santo age como
capacitador/motivador, mediador/portador/conscientizador da presença
divina, comunicador, sustentador, construtor de pontes, testemunhador,
revelador/iluminador, transformador, sacralizador e criador de comunidade.
Todos esses papéis são importantes no trabalho do agente missionário.
Aplicando as descobertas do estudo à experiência missiológica da
Igreja Adventista, foi sugerido que a igreja deve dar alguns passos em
direção a um paradigma pneumatológico, para que o poder do Espírito
seja visto de maneira mais efetiva na missão: (1) buscar nova percepção
do Espírito; (2) refletir a partir de teoria e práxis; (3) manter uma relação
correta entre escatologia e pneumatologia; (4) globalizar os horizontes;
(5) resgatar a visão profética e apocalíptica; (6) depender do Espírito,
não dos agentes; (7) equilibrar estrutura e carisma; (8) usar o espectro
carismático completo; (9) buscar a plenitude do Espírito; e (10) focalizar a
singularidade de Cristo, apesar do pluralismo atual.
Nas linhas e entrelinhas, ficou claro que uma missiologia bem-
sucedida precisa adotar um novo paradigma e levar em conta a
pneumatologia. Se o enfoque bíblico e a natureza da missão exigem uma
O Espírito da missão | 323

missiologia pneumatológica sólida, isso se tom a ainda mais evidente


ao considerarmos o momento que caracteriza o mundo, em especial no
Ocidente.
As maiores conquistas do povo de Deus nos tempos bíblicos são
atribuídas a Deus e as maiores vitórias da igreja hoje no campo da missão
virão pelo poder de Deus. Se a missão é um empreendimento de Deus,
então tem que ser realizada com a ousadia, o poder, o caráter e a motivação
de Deus. Isso exige a presença do Espírito Santo conosco, pois as pessoas
naturalmente não têm essas características. Somente o Espírito pode
possibilitar a santidade na missão e a efetividade da missão.
O alvo da missão é escrever no coração das pessoas que Jesus é
0 Salvador, o Senhor, o Juiz e o Rei do mundo e de cada um. Isso
somente será possível pelo Espírito, pois abaixo do céu não há outro
poder à altura dessa tarefa. Não sabemos a configuração específica
e detalhada que a operação do Espírito assumirá, pois a ação do vento
divino é previsível e imprevisível ao mesmo tempo, mas conhecemos,
com base no padrão anterior e a promessa escatológica, o resultado final.
O mundo será evangelizado pelos milagres diários e escatológicos
operados pelo poder do Espírito. O Espírito que seria derramado sobre
toda carne está buscando gente de carne e osso para completar a missão.
O mesmo meio/poder que Jesus usou, ele oferece aos seus seguidores.
Rejeitá-lo é rejeitar o ministério de Jesus como modelo e referencial.
Alguns têm tentado realizar a missão sem o Espírito, mas chegou a hora de
descobrir o Espírito da missão e a missão do Espírito.
RELIGIÕES MUNDIAIS E SALVAÇÃO: PONTO DE
VISTA ADVENTISTA
Ángel Manuel Rodriguez
Biblical Research Institute, EUA

iMiiimiiimiiiiHiitiiJiiiimmimiriiiiJiriiiiimiiiimmiifimiiiiiNimiiiiiiiiiimmiimmiiiuiiiiimimmitJimiiiiiifiiiinmiNiimmiiimmmiiiimi

Introdução

Em qualquer discussão sobre a missão da igreja é praticamente


inevitável levantar a questão do destino dos não-evangelizados. São pessoas
encontradas em diversas religiões do mundo que nunca ouviram falar de
Jesus, muito menos sobre a Sua obra redentora em favor da raça humana. É
importante para nós discutir este tema num momento em que a igreja está
envolvida agressivamente na missão às religiões mundiais. Este é também um
tema de discussão entre teólogos e missiólogos de diferentes tradições cristãs.
Neste artigo, examinarei as diferentes abordagens à questão da soteriologia
cristã no contexto das religiões mundiais e o exclusivismo pressuposto pela
soteriologia bíblica através da frase solus Christus (“somente através de
Cristo”). Além disso, analisarei algumas evidências que parecem apontar
para uma abertura soteriológica baseada na vontade trinitária de salvar.
Finalmente, destacarei alguns aspectos de uma abordagem pneumatológica
que possa nos ajudar no desenvolvimento de uma visão bíblica do tema
compatível com a teologia adventista. Meu objetivo final não é fornecer
uma solução, mas estimular o pensamento, a fim de promover uma reflexão
maior sobre o tema da salvação dos não-evangelizados. Nossa discussão
lidará com uma série de importantes temas teológicos tais como soteriologia,
pneumatologia, teodiceia, e uma missão trinitária.
326 I Ángel Manuel Rodriguez

Solus Christus, salvação e religiões mundiais

Missão pressupõe uma compreensão particular de Deus e


soteriologia específica. No cumprimento da missão existe uma interação
entre a Trindade e os crentes que precisa ser examinada e analisada a
fim de entender melhor sua própria natureza. Os aspectos soteriológicos
aparecem com força especial quando é levantada a questão da salvação dos
não evangelizados.

Respostas sugeridas
A igreja cristã teve que lidar com a questão do destino dos que
morreram sem o conhecimento de Jesus, isto é, fora da igreja, desde muito
cedo em sua história. Correndo o risco de simplificar demais, vou sugerir
que a posição que prevaleceu durante o primeiro milênio da era cristã era
que não havia salvação fora da igreja (Extra Ecclesiam nulla salus [“Fora
da Igreja não há salvação”]).1
Esta maneira de pensar começou a mudar com a descoberta do novo
mundo e a percepção de que seus habitantes nunca tinham ouvido falar
sobre o cristianismo. Desde então, a questão tem sido discutida e debatida
no cenário global dos modos de comunicação e transporte. As religiões
mundiais são parceiras no diálogo e não podem ser ignoradas. A questão
básica é a identidade da igreja cristã, especialmente a identidade da Igreja
Adventista, com base em algumas alegações bíblicas muito específicas.
O debate sobre a questão da salvação para aqueles que não ouviram 0
evangelho tem produzido respostas diferentes e contraditórias. As sugestões
oferecidas são normalmente organizadas em tomo de três modelos bem
conhecidos. Eles são comumente referidos como: inclusivismo, pluralismo

1Para um meticuloso estudo histórico desse conceito, ver Francis A. Sullivan, Sal-
vation Outside the Church? Tracing the History o f the Catholic Response (Mahwah, NJ:
Paulist Press, 1992). Essa opinião foi posição oficial da Igreja Católica até 0 Concilio
Vaticano II; ver Joseph H. Wong, “Anonymous Christians: Karl Rahner’s Pneuma-Chris-
tocentrism and an East-West Dialogue,” Theological Studies 55 (1994): 611.
Religiões mundiais e salvação: ponto de vista adventista | 327

e exclusivismo.2 Inclusivismo defende que Cristo é o caminho normativo


da salvação, mas a salvação é possível através de outras religiões. Um
muçulmano ou um hindu podem ser salvos através de Cristo. Estes são
os “cristãos anônimos.”3 O Pluralismo ensina que todas as religiões são
igualmente válidas e existem muitos salvadores sendo Jesus apenas um
deles. O Exclusivismo sustenta que Jesus é o único Salvador, solus Christus,
e que, para ser salvo, é preciso confessá-lo e depositar sua fé nEle. Essas
categorias são úteis na discussão, mas são duramente criticadas a ponto de
já estarem quase desacreditadas.4
O inclusivismo é considerado impraticável, pois cada religião tem
sua própria meta. As religiões mundiais não têm um destino comum
definitivo, por exemplo, estar com Deus. Reconhece-se que todas as
religiões mundiais são basicamente exclusivistas. Afirmam que só se
podem apreciar os objetivos de uma determinada religião por adotá-la. Os
adeptos de cada religião a consideram como a única e verdadeira religião.5
Embora o pluralismo alegue que haja muitos objetivos propostos pelas
2Produzido por Alan Race, Christians and Religious Pluralism (Maryknoll, NY:
Orbis Books, 1982). Para uma introdução breve e útil aos três modelos, consulte Gavin
D ’Acosta, “Other Faiths and Christianity,” em Blackwell Encyclopedia o f Modern Chris-
tian Thought, Alister E. McAlister, ed. (Malden, MA: Blackwell Publishers, 1993), 411-
416, and Carl E. Braaten, “Hearing the Other: The Promise and the Problem o f Plural-
ism,” Currents in Theology and Mission 24.5 (1997): 394-400.
3A frase foi introduzida no debate pelo teólogo católico Karl Rahner, “Cristãos
Anônimos”, em Investigations, vol. 6, 390-398. Cristãos Anônimos designa indivíduos
nas religiões mundiais que têm fé implícita em Jesus. Esta fé é expressa num contexto
particular, através da fidelidade e dedicação aos deveres ou responsabilidades enfrentados
no seu cotidiano. Assim, a pessoa está respondendo à graça de Deus e, implicitamente,
aceitando o mistério de Cristo. Ele também argumenta que 0 cristianismo é a religião
absoluta e é para todos, por desígnio divino. As religiões não cristãs podem levar a sal-
vação até que os seguidores sejam confrontados com a mensagem da igreja cristã. Para
um proveitoso resumo e discussão dos pontos de vista de Rahner, ver Wong, “Cristãos
Anônimos”, 612-615.
4Ver Joseph DeNoia, “The Universality o f Salvation and the Diversity o f Religious
Aims,” World Mission, Winter (1981-1982): 2-15.
5Para uma discussão sobre esses assuntos, ver Gerald R. McDermont, G od’s Re-
viváis: Why Has God Allowed Different Religions (Downers Grove, IL: IVP Academic,
2007), 23.
328 I Ángel Manuel Rodriguez

religiões mundiais, acabou por estabelecer a sua própria m eta religiosa,


abstrata e universal (por exemplo, a experiência comum de salvação
ou libertação).6 Talvez o que parece estar surgindo a partir deste estado
de confusão é a ideia de que a salvação assume diferentes formas na
providência divina.7 Segundo esta teoria, a salvação se manifesta sob três
formas diferentes. A primeira é na sua ausência: algumas pessoas estarão
perdidas. Em segundo lugar, cumpre-se imperfeitamente através de uma
religião não cristã, vivenciando as limitadas metas dessa religião. Terceiro,
pode perfeitamente ser vivenciada numa comunhão eterna com o Deus
Trinitário dos cristãos.8
É óbvio que os cristãos ainda estão lutando para compreender de
forma adequada a soteriologia cristã no contexto das religiões mundiais.
A maioria das respostas que têm sido oferecidas é incompatível com o
testemunho das Escrituras, enquanto outras introduzem na discussão a
questão da teodiceia. Como podería um Deus justo e amoroso condenar as
pessoas à perdição eterna porque nasceram em países não cristãos? Como
poderíam ser justamente condenados pela falta de conhecimento que não
lhes era acessível? E evidente que precisamos olhar para o problema de
modo compatível com a mensagem da salvação encontrada na Bíblia.
Analisarei também o que Ellen G. White tem a dizer sobre este tema.

6Ibid.
7Devo mencionar que outros estão tentando introduzir uma nova terminologia na
discussão. Por exemplo, Peter Schineller, “Christ and Church,” Theological Studies 37
(1976): 50, sugeriu: eclesiocêntrica , cristocêntrica, and teocêntrica. Terrance L. Tiessen,
Reassessing Salvation in Christ and World Religions: Who Ban Be Saved? Downers Gro-
ve, IL: InterVarsity Press, 2004), 32-47. Ele utiliza eclesiocentrismo (somente aqueles
que ouvem o evangelho podem ser salvo); agnosticismo (não é certo que Deus tenha
meios de salvar aqueles que não ouvem 0 evangelho); acessibilidade (Jesus é o exclu-
sivo meio de salvação, mas a salvação é acessível aos que não conhecem o evangelho);
instrumentalismo religioso (Jesus é único, mas a salvação é possível através de religiões
não cristãs), relativismo (nenhuma religião tem a verdade final. A salvação é possível sem
necessidade de qualquer religião). Resta saber se essa nova terminologia também será
aceita pela comunidade acadêmica.
8Ver, S. Mark Heim, The Depth o f the Richness: A Trinitarian Theology o f Reli-
gious Ends (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2000). For a brief evaluation o f this view see
McDemont, God’s Revivals, 24-26.
Religiões mundiais e salvação: ponto de vista adventista | 329

A evidência bíblica para o exclusivismo


É extremamente difícil ignorar a natureza radical da religião bíblica e
sua pretensão de exclusividade. A evidência bíblica é esmagadora em apoio
deste ponto de vista. No Antigo Testamento, é somente através de Abraão
que as nações da terra serão abençoadas (Gn 12:1-3). Era intenção de Deus
universalizar a revelação confiada a Israel e encher a terra com a glória do
Senhor. A vinda do Messias universaliza essa revelação e o elemento de
singularidade se tom a ainda mais específico. Por exemplo, Jesus disse:
“Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e a
Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17:3). Pedro reafirmou essa convicção:
“Não há salvação em nenhum outro” (At 4:12). N a verdade, a comissão
evangélica exige que o conhecimento da salvação através de Cristo seja
proclamado a todas as pessoas (Mt 28:18-20; cf. Ap 14:6-12). Também
somos informados de que a salvação requer a fé em Jesus (Rm 1:16; 10:9
e A t 16:30-34). A morte redentora de Jesus e a exigência de que a salvação
é somente através Dele, solus Christus, é a base da missão da igreja.
M inha sugestão é que a singularidade da fé cristã está fundamentada
em dois ensinos bíblicos importantes. Primeiro, a universalidade do
pecado. O problema enfrentado pela humanidade é comum a todos, não
estando circunscrito a uma cultura em particular. Ao referir-se a judeus e
gentios, Paulo conclui: “Não há distinção, pois todos pecaram e carecem
da glória de Deus” (Rm 3 :22b-23). A condição humana transcende cultura,
geografia e religiões, independente de as pessoas estarem cientes disso
ou não. Há uma inimizade natural entre Deus e o coração humano. A
morte e o pecado reinam (5:10, 14; 6:11). Como consequência, “todo
o mundo [é] culpável perante Deus” (3:19) e sob condenação (5:18). O
problema que enfrentamos não é somente universal, é cósmico. O que
está acontecendo no planeta é parte de um conflito cósmico. Este quadro
sombrio da condição humana não é a última palavra de Deus para nós. O
segundo ensino importante para nosso propósito é a natureza universal
330 I Ángel Manuel Rodríguez

para a solução do pecado e do mal no mundo.9 A morte do Redentor é


“para todos” (2Co 5:14-15). Sua morte sacrifical na cruz é a única maneira
de reconciliar-nos com Deus. Deus reconciliou o mundo na morte de
Cristo e em nenhuma outra pessoa (5:19). Ele “se deu em resgate por
todos” (lT m 2:6). João acrescenta que Jesus era “a verdadeira luz, que,
vinda ao mundo, ilumina a todo o homem” (Jo 1:9). Por causa de sua obra
reconciliadora, Jesus é “Senhor de todos” (At 10:36). A missão da igreja
nasce do reconhecimento de que a condição humana é universal e que a
graça de Deus por meio de Cristo, também é universal. Jesus disse aos
discípulos: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto,
fazei discípulos de todas as nações” (Mt 28:18-19a). A missão é global
porque cada ser humano necessita da salvação. É fundamentada no fato
de 0 Pai conceder “toda autoridade no céu e na terra” somente a Jesus.
Ninguém pode competir com Ele.

Acesso à salvação
Baseado nessa evidência seria aparentemente impossível falar sobre
a salvação daqueles que não ouviram o “evangelho da salvação” por
meio da morte sacrifical de Cristo. M as antes de chegar às conclusões
finais, devemos levar em consideração alguns outros materiais bíblicos.
Em primeiro lugar, a Bíblia fala de pessoas que são servos de Deus e não
pertencem ao corpo de Cristo. Jó não era israelita, e o Senhor o identificou
como Seu servo (Jó 1:8). E o mesmo caso de Melquisedeque, um cananeu
que era verdadeiro servo do Senhor (Gn 14:17-24). Como o Senhor
alcançou essas pessoas com Sua mensagem de salvação? A Bíblia não é
clara, mas deduz que Deus também agia fora da linhagem de Abrãao, a
quem Escolhera como servo.
Em segundo lugar, argumentarei que a missão da Igreja foi e sempre
será a missão de Deus. Esta compreensão da missão, que parece ser comum

9Sobre esse tema, ver Gerald O’Collins, Jesus Our Redeemer: A Christian Ap-
proach to Salvation (New York: Oxford University Press, 2007), 219-224.
Religiões mundiais e salvação: ponto de vista adventista | 331

entre os missiólogos,10 precisa ser enfatizada. A missão não se originou


com a igreja, mas com Deus, e sempre pertenceu a Ele. E sempre missio
Dei. Antes de existir qualquer ser humano, a divindade formulou um plano
de resgate para a raça humana, em que cada membro da Trindade estava
envolvido. O Pai iniciou o plano enviando o Seu Filho como nosso Salvador
(Jo 3:16). Cada aspecto do ministério terreno de Jesus foi um cumprimento
da missão salvífica de Deus para a raça humana. Ao final de Seu ministério,
Jesus disse ao Pai que havia completado “a obra que me confiaste para
fazer” na terra (Jo 17:4). Este aspecto da missão divina foi concluído, mas
outros aspectos o seguiríam. O Pai, Jesus e o Espírito Santo continuariam
envolvidos na missão. O Espírito sempre esteve pessoalmente envolvido
na missão divina, falando aos profetas e preservando a revelação divina.
Jesus estava cheio do Espírito do Senhor no cumprimento de sua missão
(por exemplo, Is 11:1-5: M t 3:16-17).
O Espírito autoriza a igreja a ir e cumprir sua missão (At 1:8). A
profunda ligação entre a igreja e 0 Espírito indica que, embora a igreja
viesse à existência para a missão, a missão era de Deus. O Espírito
cumpria a missão através da igreja. N a presença de crentes, o Espírito,
de acordo com o plano divino, usa-os para cumprir a missão. Mas o que
Deus faria na ausência de cristãos? Proponho que o mesmo Espírito
continua a ser responsável pela realização da missão. Quando a expressão
visível do povo de Deus não é acessível em uma região do mundo, seja
por motivos políticos, religiosos ou por quaisquer outras razões, a missão
salvadora de Deus para o mundo não fica desativada. Temos que levar em
consideração a vontade divina para salvar, como testemunhado na Bíblia.
Deus ainda “deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno
conhecimento da verdade” (lT m 2:4). Mas como isso acontece?

10Ver, por exemplo, David J. Bosch, Witnesses to the World: The Christian Mission
in Theological Perspective (Atlanta, GA: John Knox, 1980), 239-248.
332 I Ángel Manuel Rodriguez

Revelação geral e especial: fundamento cognitivo para a salvação

Até agora a nossa ênfase principal tem sido o conhecimento de


Deus, e a soteriologia que chegou até nós através da revelação especial de
Deus dada ao Seu povo através dos profetas, através de Seu Filho, e dos
apóstolos. O Espírito preservou a revelação para nós na Escritura. Ali Deus
revelou o plano divino para a salvação da raça humana de uma maneira
inigualável. Fora da Bíblia, ninguém nunca encontrará uma exposição
clara e penetrante da intenção divina manifestada a nós através do Filho de
Deus. Sendo assim, pode-se concluir que o conhecimento é indispensável
no processo de salvação. Através da revelação especial preservada nas
Escrituras, Deus nos tem provido abundantemente das profundezas de
Sua sabedoria. Mas nem todo mundo no planeta teve acesso ao corpo de
revelação.
Se a missão da igreja é a missão de Deus e se na ausência de crentes
o Espírito continua a cumprir a missão divina, estou disposto a sugerir
que o conhecimento também está disponível aos que não tem acesso à
revelação especial de Deus. Devemos ter em mente, em primeiro lugar,
que a criação revela algo do Criador. A sabedoria de Deus é encontrada no
mundo natural, porque cada característica estava no pensamento divino
original. Mesmo depois da queda, a natureza continua a revelar, de forma
imperfeita, a sabedoria e o poder de D eus.11 Paulo parece argumentar que
tal nível de conhecimento seja suficiente para condenar os seres humanos
(Rm 1:19-25), mas a questão é se também é suficiente para conduzí-los à

11Ellen G. White comenta: “Todas as coisas criadas, na sua perfeição original eram
uma expressão do pensamento de Deus. Para Adão e Eva a natureza estava repleta de
sabedoria divina. Pela transgressão, porém, o homem ficou privado de aprender de Deus
mediante a comunhão direta, e, em grande parte, mediante as Suas obras. A Terra, cor-
rompida e maculada pelo pecado, não reflete senão pálidamente a glória do Criador. É
verdade que Suas lições objetivas não se obliteram. Em cada página do grande livro de
Suas obras criadas ainda se podem notar os traços de Sua escrita. A Natureza ainda fala
de seu Criador. Todavia, estas revelações são parciais e imperfeitas. E em nosso decaído
estado, com faculdades enfraquecidas e visão restrita, somos incapazes de as interpretar
corretamente. Necessitamos da revelação mais ampla que de Si mesmo Deus nos outor-
gou em Sua palavra escrita.” {Educação, 16-17). Por causa do mal, a natureza não pode
fornecer um retrato nítido de Deus. A revelação completa é encontrada na Bíblia.
Religiões mundiais e salvação: ponto de vista adventista | 333

salvação. O salmista escreveu: “Os céus proclamam a glória de Deus; e o


firmamento anuncia as obras das suas mãos. Um dia discursa a outro dia e
uma noite revela conhecimento a outra noite... por toda a terra se faz ouvir
a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo” (SI 19:1-2, 4). O
importante é que a natureza revela algo sobre Deus a cada ser humano. A
percepção dessa revelação é possível porque os seres humanos parecem
ter uma consciência religiosa natural, implantada por Deus no coração do
homem na criação. Ellen G. White, comentou: “Os gentios serão julgados
de acordo com a luz que lhes foi dada, de acordo com as impressões que
receberam do seu Criador na natureza.”12
Nosso segundo ponto está intimamente relacionado com o anterior.
A capacidade humana de raciocinar tom a possível que Deus transmita
conhecimento aos seres humanos que não têm acesso à Sua revelação
especial. Nesses casos, a razão não opera apenas com base no que é visto
na natureza, mas também através das providências divinas. As operações
da natureza estão sob o controle do Senhor. Paulo diz que “nele [Jesus]
tudo subsiste” (Cl 1:17). É Deus “faz nascer o seu sol sobre maus e bons
e vir chuva sobre justos e injustos” (Mt 5:45). Paulo acrescenta que Deus
“a todos dá vida, respiração e tudo mais... [Deus fez isso para os homens]
buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam achar, bem que não
está longe de cada um de nós” (At 17:25c, 27). Ellen G. White enriquece
que os gentios

têm capacidade de raciocínio, e podem distinguir a Deus em


suas obras criadas. Deus fala a todos os homens através de
sua providência, na natureza. Tomou público a todos que Ele
é o Deus vivo. Os gentios poderíam argumentar que as coisas
não poderíam ter sido feitas numa ordem exata, e elaboradas
intencionalmente, sem um Deus que tivesse originado tudo.
Eles poderiam raciocinar da causa para o efeito, que deve haver
um a causa primeira, um agente inteligente, que não podería
ser outro senão o Deus eterno. A luz de Deus na natureza está
brilhando continuamente para as trevas do paganismo, mas

12Signs o f the Times, August 12, 1889.


334 I Ángel Manuel Rodriguez

muitos dos que veem esta luz não glorificam o Senhor, como
D eus.13

Isso claramente sugere que Deus pode utilizar a revelação geral para
conduzir as pessoas a glorificá-Lo.
Em terceiro lugar, há também uma consciência moral no ser
humano que Deus pode usar para alcançar-nos, na ausência da revelação
especial preservada nas Escrituras. Isso está relacionado ao fato de que
os seres humanos foram criados à imagem de Deus (Gn 1:26-27). A
queda não obliterou totalmente a imagem divina na natureza humana.
Talvez isso pudesse ser chamado de intuicionismo ético ou moral, isto é,
ocasionalmente os seres humanos são capazes de apreender diretamente a
moral dentro de uma situação particular.14 Parece que temos um senso de
dever que nos impulsiona a procurar o que achamos que é certo, embora
muitas vezes não sejamos capazes de praticar o bem. Esse senso de dever
é geralmente chamado de consciência. Jesus parece estar se referindo a
isso quando disse: “Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas
aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas
coisas aos que lhe pedirem?” (Mt 7:11). Paulo também se refere a este
aspecto da natureza humana: “Quando, pois, os gentios, que não têm a Lei,
procedem por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem
eles de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada no seu
coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos,
mutuamente acusando-se ou defendendo-se” (Rm 2:14-15).
Em quarto lugar, existe também o que pode ser chamado de revelações
particulares,15 ocasionalmente dada aos gentios, que diferem da revelação

13Ibid.
14Intuicionismo ético, ver Walter Sinnott-Armstrong, “Intuitionism,” em Encyclo-
pedia o f Ethics, vol. 2, Lawrence C. Becker and Charlotte B. Becker, eds. (New York:
Routledge, 2001), 879-882.
15Tiessen, Who Can Be Saved?, 113-120, prefere utilizar a palavra “especifico”
para distinguir das revelações “geral” e “especial”. Escolhi “particular” a fim de enfatizar
sua singularidade.
Religiões mundiais e salvação: ponto de vista adventista | 335

geral e da especial. Encontramos alguns exemplos deste fenômeno na


Bíblia, e Ellen G. White chama a atenção para isso. Por exemplo, num
sonho Deus repreendeu Abimeleque, rei de Gerar, por ter tomado a esposa
de Abraão, e o instruiu sobre o que fazer (Gn 20:1-3). Ele também falou
a Faraó num sonho que foi interpretado mais tarde por José (Gn 41:25-
28). Deus deu revelações a Balaão (Nm 22:9; 23:11; 24:2-4) e falou ao
Faraó Neco (2Cr 35:20-22). Também podemos mencionar o sonho de
Nabucodonosor em Dn 2:1 e a experiência de Comélio, um gentio que
temia a Deus e não tinha um cristão para ensiná-lo. O Senhor falou com ele
diretamente em visão e o encaminhou a Pedro (At 10:1-10).
O que estou sugerindo é que Deus não se permite ficar sem testemunha
entre as nações que vivem em profunda escuridão espiritual. Os incidentes
listados acima foram casos isolados, mas estabelecem a possibilidade
que Deus falou em toda a história de maneiras similares a muitas outras
pessoas, em lugares diferentes e fora de Sua comunidade da aliança. Ellen
White apoia essa linha de argumento:

Fora da nação judaica houve homens que predisseram o


aparecimento de um instrutor. Esses homens andavam em busca
da verdade, e foi-lhes comunicado o Espírito de Inspiração.
Um após outro, quais estrelas num céu enegrecido, haviam-se
erguido esses mestres. Suas palavras de profecia despertaram a
esperança no coração de milhares, no mundo gentio.16

Ela claramente está descrevendo o que chamo de “revelações


particulares”, dadas sob inspiração do Espírito Santo.
Portanto, parece correto concluir que Deus se revelou de diferentes
formas aos seres humanos que estavam fora de Sua comunidade da aliança, a
quem confiou os privilégios e responsabilidades de Sua revelação especial.

16Ellen G. White, Desejado de Todas as Nações, 33. Ela também escreveu: “mes-
mo entre os gentios, havia homens por meio dos quais Cristo estava operando para elevar
0 povo de seu pecado e degradação. Mas esses homens eram desprezados e aborrecidos.
Muitos deles haviam sofrido morte violenta.” (Ibid., 35).
336 [ Ángel Manuel Rodriguez

Faz-se necessário umas palavras de advertência. Devemos diferenciar


conhecimento e salvação. Embora o conhecimento seja necessário a fim de
ser salvo, o conhecimento por si só não salvar os pecadores. Foi-nos dito que

Nossa posição diante de Deus depende não da quantidade


de luz que temos recebido, mas do uso que fazemos da que
possuímos. Assim, mesmo o pagão que prefere o direito, na
proporção em que lhe é possível distingui- 10, acha-se em
condições mais favoráveis do que os que têm grande luz e
professam servir a Deus, mas desatendem a essa luz, e por sua
vida diária contradizem sua profissão de fé.17

Revelação geral, revelação particular e mesmo a revelação especial


não são suficientes para a salvação de uma alma. Sempre que utilizamos
a frase “conhecimento salvífico”, devemos definir o que queremos dizer
com isso, porque esse conhecimento por si só, não é salvífico. Os seres
humanos precisam de algo mais.

Pneumatologia e missão: a iluminação do Espírito


Nesse ponto do nosso estudo, precisamos introduzir outro elemento
importante, talvez o mais importante, ou seja, a obra do Espírito Santo
no coração humano: a iluminação do Espírito. Sem 0 Espírito Santo, a
mente humana compreende mal a revelação especial de Deus, a revelação
geral na natureza e a revelação particular recebida por alguns indivíduos.
Voltamos para a afirmação feita anteriormente de que a missão da Igreja
é a missão de Deus e que na ausência de crentes, o Espírito mesmo a
cumpre. Jesus, através da obra misteriosa do Espírito, continua a ser “a
verdadeira luz, que vinda ao mundo, ilumina a todo o homem” (Jo 1:9).
Uma vez que o Espírito “sopra onde quer” (Jo 3:8), pode-se sugerir que
há pessoas entre aqueles que vivem fora de contato com o povo de Deus
que, quando tocadas pelo Espírito, sinceramente anseiam por algo melhor
(cf. Tg 1:17). Neste caso específico, Ellen G. White é muito exata ao dizer:

17Ibid., 239.
Religiões mundiais e salvação: ponto de vista adventista | 337

Entre todas as nações, tribos e línguas, Ele [Deus] vê homens


e mulheres que estão orando por luz e conhecimento. Suas
almas estão insatisfeitas... Eles são sinceros de coração e
desejam aprender um caminho melhor [revelação específica],
Embora nas profundezas do paganismo [não evangelizados],
sem o conhecimento da lei escrita de Deus nem de seu Filho
Jesus [nenhuma revelação especial], eles têm revelado de
várias maneiras a poderosa obra divina na mente e no caráter
[transformados através do Espírito].18

Essa afirmação traz uma série de pontos importantes. Primeiro, há


pessoas sinceras e honestas que estão insatisfeitas com o que possuem e
anseiam por algo melhor, um caminho melhor. Em segundo lugar, estão
orando por mais luz, “tateando como cegos.” Provavelmente ela esteja
referindo-se à mesma experiência quando diz que “o pagão inculto aprende
suas lições através da natureza e através de suas próprias necessidades, e,
insatisfeito com a escuridão, achega-se à luz, à procura de Deus na Primeira
Grande Causa.”19 E acrescenta: “Deus fala aos pagãos”.20 Em terceiro
lugar, eles não têm o benefício da revelação especial, mas o Espírito vem
transformando sua mente e caráter. Eles estão sendo guiados pelo Espírito.
Em outro lugar, Ellen White afirma que “o Espírito Santo implantou a
graça de Cristo no coração do inculto.”21 Atribui isso a Jesus, a luz que
ilumina todo o ser humano. White parece sugerir que, através do Espírito,
Cristo habita em seus corações.22 A graça comum também está disponível
para os não cristãos, caso respondam positivamente, serão transformados.
Podem experimentar o poder salvador de Deus na mente e caráter. Seu

18Ellen G. White, Profetas e Reis, 376.


'9The Upward Look, 278. Ela acrescenta: “Muitos dos filósofos pagãos tinham um
conhecimento de Deus que era puro, mas a degeneração e o culto às coisas criadas come-
çaram a obscurecer esse conhecimento. A obra de Deus no mundo natural o sol, a lua, as
estrelas eram adorados”. (Ibid.).
20Ibid.
21Ellen G. White, Parábolas de Jesus, 386.
22Ibid.
338 I Ángel Manuel Rodriguez

conhecimento de Deus pode ser extremamente limitado, mas Deus o usa e


eles são transformados através do poder do Espirito.
Tal compreensão da obra do Espírito no coração do não cristão
necessita de mais clarificação, a fim de evitar mal entendidos. Em primeiro
lugar, a obra da graça divina através do Espírito que descreví, não legitima
qualquer religião mundial em particular. Não conduz ao pluralismo
religioso. O que descreví rejeita, basicamente, o significado soteriológico
de ambos. Devemos lembrar que a teologia bíblica da graça e salvação não
é mediada através de uma função sacramental de instrumentos humanos
ou institucionais, mas através do ministério de Cristo no santuário celestial
e da obra do Espírito no coração humano. Nessa obra reconciliadora, Deus
não reconhece diferenças nacionais, religiosas ou étnicas. “Seu amor é
tão amplo, tão profundo, tão pleno, que penetra em qualquer lugar.”23
Certamente o Espírito pode utilizar fragmentos da verdade encontrados em
cada religião em Sua obra, mas Ele não está limitado a esses elementos.
Deus tem outras maneiras de alcançá-los sem ter de passar pelo seu sistema
de crenças religiosas ou suas instituições religiosas. Pode parecer forte
demais, mas estou tentando dizer que Deus alcança os não evangelizados
e qualquer ser humano a despeito do sistema religioso dentro do qual ele
se encontra.
O segundo esclarecimento que gostaria de fazer relaciona-se ao
impacto de nossas conclusões na missão da igreja. Seria fácil concluir que
uma vez que o próprio Deus está no comando da missão e alcança de
diferentes maneiras aos que não ouviram o evangelho, a missão da igreja
é irrelevante. Essa conclusão coloca a missão da igreja em tensão com
a missão de Deus sugerindo que uma das duas é desnecessária. Ignora
0 fato de que a missão da igreja sempre é a missão de Deus, em outras
palavras, é o meio mais eficaz pelo qual Deus cumpre Sua missão no
mundo. Além disso, quando a igreja se envolve na missão, está fazendo
isso em obediência ao Senhor Ressuscitado, e não como um a atividade

23Ellen G. White, Profetas e Reis, 370.


Religiões mundiais e salvação: ponto de vista adventista | 339

opcional. A igreja é a igreja na medida em que está envolvida na missão. A


soberania de Deus é ilimitada e, consequentemente, Ele pode usar qualquer
outro meio que considere necessário para alcançar aqueles que vivem na
escuridão espiritual, sem neutralizar qualquer outro método. Esta obra de
Deus entre os não-evangelizados, sobre a qual a igreja pode saber muito
pouco ou nada, prepara o mundo para que a igreja cumpra sua missão
global (umapreparatio evangélica).
Em terceiro lugar, não devemos concluir que por haver um grupo
entre os não cristãos que já experimentou a reconciliação independente da
missão do remanescente, não há necessidade do povo remanescente de
Deus para o tempo do fim. Alguns podem perguntar: “Essas pessoas não
devem ser consideradas povo remanescente de Deus nessas religiões?”24
Tal conclusão seria ignorar o que já foi indicado, ou seja, que não estamos
legitimando as religiões mundiais. O conceito do remanescente legitima a
existência de um grupo maior do qual o remanescente foi preservado. O
que eu tenho descrito neste trabalho não é diferente do que os adventistas
têm tradicionalmente afirmado sobre as diferentes denominações e igrejas
cristãs. Acreditamos que existe um número significativo do povo de Deus
na Babilônia. Eles são crentes sinceros que, apesar das denominações a
que pertencem, estão tendo um relacionamento íntimo com o Senhor e
estão abertos a uma nova luz vinda das Escrituras. Eles precisam ouvir a
verdade presente proclamada pelo povo de Deus, o remanescente final do
tempo do fim, em preparação para o regresso do nosso Senhor.25 É através
da missão do remanescente que saem de Babilônia e se tomam parte do
povo visível de Deus.

24Para uma avaliação da ideia de que há um povo remanescente de Deus em cada


religião mundial, ver Frank M. Hasel, “The Remnant in Contemporary Adventist Theo-
logy,” em Toward a Theology o f the Remnant: An Adventist Ecclesiological Perspective ,
Angel M. Rodriguez, ed. (Silver Spring, MD: Biblical Research Institute, 2009), 166-170.
25Para um tratamento mais completo sobre esse tópico, ver Ángel M. Rodriguez,
“Concluding Essay: God’s End-Time Remnant and the Christian Church,” em Toward a
Theology o f the Remnant, 201-226.
340 I Ángel Manuel Rodriguez

Podemos concluir que, no caso dos que nunca ouviram o evangelho,


há aqueles que entregaram sua vida à obra do Espírito no coração e que,
ao serem confrontados com a mensagem do tempo do fim, a abraçarão.
Precisam da completa revelação de Deus encontrada ñas Escrituras, a fim
de melhor compreender o caráter amoroso de Deus, a magnífica revelação
em Jesus Cristo e estar prontos para confrontar as decepções do inimigo no
tempo do fim. Seu conhecimento atual não é suficiente para capacitá-los a
desmascarar a natureza dessa decepção. Por isso, a missão do remanescente
de Deus ao mundo no tempo do fim é simplesmente indispensável e
compatível com a obra do Espírito ente as religiões mundiais.

Conclusão

Quando lidamos com o tópico da salvação aos não evangelizados


devemos começar questionando o que é a missão. Sugeri que a missão de
reconciliar seres humanos com Deus originou-se em Deus e que era, é, e
continuará sendo a missão de Deus (missio Dei). Os que aceitam a oferta
divina de salvação são incorporados por Deus no cumprimento de Sua
missão salvífica. Vemos isso explícitamente na eleição de Israel e mais tarde,
na constituição da igreja como povo da aliança de Deus, aos quais confiou
Sua auto-revelação. Essa revelação especial esclareceu aos seres humanos a
gravidade de sua condição e do plano divino para reconciliá-los com Deus. A
comunidade da aliança foi beneficiária dessa ação reconciliadora e tomou-
se o instrumento de Deus para proclamá-la ao restante da raça humana.
Suscitamos a questão do destino final de todos aqueles que, por
diversas razões, não ouviram a mensagem da salvação através de Cristo,
proclamada pela comunidade da aliança de Deus. Sugerimos que em tais
condições não ideais, o Espírito Santo continua a cumprir a missão trinitária
da salvação com base na vontade divina para salvar a raça humana. Todos
os seres humanos são pecadores e necessitam de salvação. Através da
obra do Espírito no coração e na mente humana, os não evangelizados
Religiões mundiais e salvação: ponto de vista adventista | 341

podem receber por diferentes meios, incluindo revelações particulares, um


conhecimento limitado de Deus que o Espírito utiliza para conduzi-los
e oferecer-lhes algo melhor do que eles têm. Aqueles que são sinceros
em ouvir a testemunha silenciosa e poderosa do Espírito Santo em suas
vidas, entregam seus corações à Sua influência amorosa, e podem se tom ar
beneficiários da graça salvadora de Cristo. Isso resultará na transformação
de sua mente e seu caráter. Assim, eles estão reconciliados com Deus
através de Cristo.
Essas pessoas fazem parte da dimensão invisível da igreja de Cristo,
o povo de Deus, que ainda está em Babilônia. Ambos os gmpos precisam
ouvir a mensagem que 0 visível remanescente de Deus no tempo do fim
proclama. Isso os ajudará a compreender os aspectos do plano salvífico de
Deus, que contribuirá para libertá-los dos enganos satânicos dos últimos
dias e que vai reunir a plenitude do remanescente escatológico visível de
toda nação, povo e língua. Este remanescente estará fundamentado na
Escritura, a revelação especial de Deus, e estará totalmente entregue a Jesus
como Salvador e Senhor. E nesse sentido que a Divindade está envolvida
na missão e fomos incorporados a ela. Soteriologia e pneumatologia devem
estar sempre juntas na missio Dei.
OS PEQUENOS GRUPOS E A HERMENÉUTICA:
EVIDENCIAS BÍBLICAS E HISTÓRICAS EM
PERSPECTIVA

Wilson Paroschi
Centro Universitário Adventista de São Paulo, Brasil

11111mm1m1111111111111111111m111m111m1m11mm1m111111111mm1m111111111mm111r1111t1111111111m11m11rm1111!111m1m111111m11111m111111111111111t1111

Os pequenos grupos consistem numa das mais enfatizadas estratégias


de discipulado e crescimento da Igreja Adventista nos últimos anos. Muitos
administradores têm dado absoluta prioridade ao assunto e há relatos
impressionantes de igrejas que têm sido dinamizadas com esse programa
e de membros cuja vida espiritual tem sido grandemente revigorada. A
idéia toda costuma ser apresentada como tendo sólida base bíblica com
relação não apenas aos princípios que a regem como também aos detalhes
de seu funcionamento. Nas publicações que tratam do assunto, é comum
0 uso abundante de textos e episódios bíblicos tanto do Antigo quanto,
principalmente, do Novo Testamento para dar respaldo ao programa.
Alega-se, em particular, que os pequenos grupos consistem num retomo ao
modelo das igrejas-do-lar do período apostólico,1que tal modelo representa
0 plano divino para a igreja e que as comunidades que não se organizarem em
pequenos grupos estariamrejeitando oplano estabelecido pelo próprio Deus.2

1A expressão paulina ekklêsia kat’oikon (Rm 16:5; 1C0 16:19; Cl 4:15; Fm 1:2)
significa simplesmente “igreja em casa.” Essa é a tradução literal e mais adequada nos
contextos em que é usada (e.g., “a igreja que está na casa deles”). Neste trabalho, a opção
por “igreja-do-lar” atendeu a um critério tanto estilístico quanto técnico, diante da neces-
sidade de uma expressão que melhor caracterizasse essa antiga instituição cristã. “Igreja
domiciliar” também seria uma boa alternativa.
2A literatura denominacional sobre os pequenos grupos (em periódicos tais como
a Revista Adventista, Ministério e a Revista do Ancião, bem como em guias de estudos e
344 I Wilson Paroschi

Este trabalho analisa os fundamentos hermenêuticos dos pequenos


grupos. Ele está dividido em duas partes distintas: a primeira, que lida
mais com questões hermenêuticas, especialmente com relação ao Livro de
Atos, e a segunda, que investiga a origem e o desenvolvimento das igrejas-
do-lar no contexto da igreja primitiva, desde seus primordios até o quarto
século, que foi quando começaram a surgir as grandes congregações. O
objetivo do trabalho é fornecer subsídios hermenêuticos e históricos para
que o projeto dos pequenos grupos, que tem se revelado uma bênção para
a igreja, não venha a perder sua credibilidade e relevância.

A questão hermenêutica: a problemática do Livro de Atos

A questão fundamental que subjaz a esta discussão é como determinar


os elementos prescritivos e o grau de prescritibilidade presentes no Livro
de Atos. A rigor, conforme o próprio Lucas afirma (At 1:1-5; cf. Lc 1:1-
4),3Atos é um documento histórico,4 e, como tal, narra o desenvolvimento
da igreja apostólica nos primeiros trinta anos após a ascenção de Cristo.5
Em muitos círculos eclesiásticos e evangelísticos, porém, predomina a
crença, explícita ou implícita, de que este livro consiste verdadeiramente
manuais missionários) é abundante e de fácil acesso, sendo, portanto, desnecessário fazer
referências diretas. Também muito influente é o estudo por Russell Burrill, Como Rea-
vivar a Igreja do Século 21: O Poder Transformador dos Pequenos Grupos, trad. Ellen
Mary T. Β. de Franco (Tatuí: CPB, 2005).
3O Livro de Atos, assim como o Evangelho de Lucas, é anónimo. Para uma defesa
da autoria lucana desses dois livros, veja Joseph A. Fitzmyer, Luke the Theologian: As-
pects o f His Teaching (Nova York: Paulist, 1989), 1-26. Em português, veja D. A. Carson,
Douglas J. Moo e Leon Morris, Introdução ao Novo Testamento, trad. Márcio L. Redondo
(São Paulo: Vida Nova, 1997), 125-128, 208-210.
4Para discussão concernente ao gênero literário do Livro de Atos, veja Darryl W.
Palmer, “Acts and the Ancient Historical Monograph,” e L. C. A. Alexander, “Acts and
Ancient Intellectual Biography,” em Ancient Literary Setting, ed. Bruce W. Winter e An-
drew D. Clarke, vol. 1, The Book o f Acts in Its First Century Setting, 5 vols., ed. Bruce W.
Winter (Grand Rapids: Eerdmans, 1993-1996), resp. 1-29 e 31-63.
5Para a cronologia do Livro de Atos em conexão com o ministério de Paulo, veja
L. C. A. Alexander, “Chronology o f Paul,” DPL (Downers Grove: InterVarsity, 1993),
115-123. Veja também F. F. Bruce, “Acts o f the Apostles,” ISBE, 4 vols. (Grand Rapids:
Eerdmans, 1979-1988), 1:37-38.
Os pequenos grupos e a hermenéutica | 345

numa espécie de “manual da igreja” ou “manual de evangelismo,” com


orientações e exemplos práticos que, se forem seguidos à risca, produzirão
os mesmos resultados. C. Peter Wagner, por exemplo, declara o seguinte:
“Atos foi projetado para ser o manual de treinamento de Deus para os
cristãos modernos. Vendo e compreendendo aquilo que funcionou tão bem
quase dois mil anos atrás pode ser diretamente relevante para o seu serviço
a Deus hoje e pode dinamizar de forma poderosa e benfazeja sua vida
cristã.”6
Cuidadosa análise da evidência, porém, parece apontar para outra
direção. Em primeiro lugar, convém observar que, ao descrever a história
da igreja primitiva, Lucas não registra somente os triunfos e sucessos dos
apóstolos, mas também seus erros e retrocessos. Em Atos, não encontramos
apenas um a sucessão de experiências e relatos positivos que culminam com
o evangelho sendo pregado destemidamente e sem qualquer impedimento
até mesmo em Roma, no coração do império (At 28:30-31). Ali também
estão registradas inúmeras situações negativas envolvendo diretamente os
apóstolos, suas decisões e atitudes. Exemplos disso são a negligência para
com as viúvas helenistas (6:1), o preconceito e a reticência deles diante
da pregação aos gentios (10:1-11:18), a desavença entre Paulo e Bamabé
(1 5:3640‫)־‬, a transigência de Paulo para com a lei cerimonial (21:17-26)
e sua opção por ser julgado em Roma (25:9-12), o que se revelou um
grave erro estratégico (cf. 26:30-32). Há também duas outras experiências
que se revelaram particularmente negativas: a crença na volta imediata de
Jesus e o consequente arrefecimento do fervor evangelístico logo após o
Pentecoste.7

6C. Peter Wagner, The Book o f Acts: A Commentary, 3a. ed. (Ventura: Regai, 2008),
1. De uma forma ou de outra, essa mesma crença parece que está enraizada no seio da
Igreja Adventista também. Um simples exemplo é suficiente. Ao longo de toda a história
de nossas lições da Escola Sabatina (até o ano 2000), já tivemos 25 lições dedicadas direta
ou indiretamente ao Livro de Atos. Romanos e Apocalipse vêm em segundo lugar, com
apenas dez lições cada (informação fornecida por Ivan Samojluk, do Depto. da Escola
Sabatina da Divisão Sul Americana).
7A discussão a seguir reflete a posição hermenêutica oficial da Igreja Adventista
(votada no Concilio Outonal de 1986, realizado na cidade do Rio de Janeiro) no que con-
346 I Wilson Paroschi

Deixe-me explicar. A perspectiva evangelística predominante na


tradição judaica, tanto no Antigo Testamento (SI 22:27; Is 2:2-5; 56:6-
8; Sf 3:9-10; Zc 14:6) quanto na literatura intertestamentária (Tob 13:11;
T Ben. 9:2; Pss. Sol. 17:33-35; Sib. Or. 3.702-718, 772-776), é a do
chamado movimento centrípeto, ou seja, não é Israel que vai às nações;
são as nações que vêm a Israel, atraídas pela prosperidade e fidelidade do
povo de Deus.8 E há claros indícios de que, apesar da ordem de Jesus em
At 1:8, os apóstolos entenderam que, com a pregação no dia de Pentecoste
e a conversão de mais de três mil pessoas, a missão deles no mundo já
estava cumprida, ou pelo menos substancialmente cumprida. Como James
D. G. Dunn salienta, o modelo evangelístico que eles conheciam era o
que prevalecia no judaísmo de seus dias (cf. M t 8:11-12; 10:5-6, 23; Mc
11:17) e, no Pentecoste, o mundo todo veio até eles; Lucas menciona
mais de quinze diferentes nacionalidades ali representadas (At 2:9-11). O
que houve em seguida foi uma diminuição do entusiasmo evangelístico,
associado à idéia de que Jesus estaria voltando naqueles dias, como
ficara implícito na promessa no dia da ascenção (1:6-11; cf. 3:20-21; Mt
10:23). Foi por isso que eles permaneceram tão firmemente arraigados em

cerne às exposições bíblicas de Ellen G. White (neste caso, no livro Atos dos Apóstolos),
as quais, conquanto inspiradas, não esgotam 0 significado do texto bíblico e nem substi-
tuem a tarefa da exegese (“Methods o f Bible Study,” Ministry, April 1987: 23). Veja tarn-
bém o documento “The Inspiration and Authority o f the Ellen G. White Writings,” Minis-
try, February 1983: 24. Gerhard Pfandl, diretor associado do Biblical Research Institute,
da Associação Geral, declara: “Com frequência Ellen G. White usou homileticamente
as Escrituras.... Alguns adventistas do sétimo dia pensam nos escritos de Ellen G. White
como um comentário inspirado sobre a Bíblia. Se for assim, é vital reconhecer que em
seus escritos encontramos aplicações homiléticas de passagens bíblicas, além de comen-
tários exegéticos. Conquanto haja muitas jóias exegéticas em seus livros, principalmente
na série Conflito dos Séculos, a parte principal de seus escritos contém a mensagem de
Deus para a igreja remanescente, não discursos exegéticos sobre o significado do texto
bíblico” (“Ellen G. White e a Hermenêutica,” em Compreendendo as Escrituras: Uma
Abordagem Adventista, ed. George W. Reid, trad. Francisco A. de Pontes [Eng. Coelho:
Unaspress, 2007], 314-316).
8Para uma discussão introdutória do assunto, veja 0 artigo “The Role o f Israel in
Old Testament Prophecy,” em SDA Bible Commentary, 2a. ed., ed. Francis D. Nichol, 7
vols. (Hagerstown: Review & Herald, 1977), 4:25-38. Para informação adicional, veja E.
P. Sanders, Jesus and Judaism (Philadelphia: Fortress, 1985), 79-86.
Os pequenos grupos e a hermenéutica | 347

Jerusalém e centrados no templo (At 2:46; 3:1; 5:12, 20-21, 25, 42), até
porque, de acordo com a profecia de Malaquias (3:1), o templo seria o
ponto focal da iminente consumação.9 O elevado senso de fraternidade e
comunidade demonstrado pela igreja apostólica logo após o Pentecoste
(At 2:44-45; 4:32-35) revela que eles viviam na expectativa diária da volta
de Jesus.10 Posses ou bens materiais perderam o valor. Tudo era vendido e
o lucro trazido para um caixa comum para o benefício de todos. “Eles não
precisavam mais se preocupar com o futuro, pois não havería futuro.” 11
A atitude foi louvável, sem dúvida, mas o momento foi errado, ainda
que a iniciativa possa ter atendido a algumas necessidades específicas, como
a ajuda aos pobres da comunidade de crentes.12O espírito de desprendimento
e fraternidade que manisfestaram é, de fato, o que deve caracterizar o povo
de Deus pouco antes da volta de Jesus, mas naquele momento, representou
um retrocesso para a igrej a. A igreja de Jerusalém empobreceu (At 11:28; Rm
15:26; G1 2:10), passou a depender da generosidade das igrejas gentílicas
(At 11:29-30; Rm 15:25-26; 1C0 16:1-3) e não pôde sequer financiar o
evangelismo mundial. Isso coube às próprias igrejas gentílicas (At 13:1-
3; 15:35-36; 2 Co 11:8-9; Fp 4:15-18).13 Deus permitiu que se levantasse
uma perseguição contra a igreja (At 8:1-3) para dispersá-la de Jerusalém e,
assim, levá-la a cumprir sua missão mundial (8:4, 5-8, 26-40; 11:19-21).14

9James D. G. Dunn, Unity and Diversity in the New Testament: An Inquiry into the
Character o f Earliest Christianity, 2a. ed. (Londres: SCM, 1990), 238-239.
10Ibid, 323-324.
11C. K. Barrett, A Critical and Exegetical Commentary on the Acts o f the Apostles,
ICC (Edimburgo: T&T Clark, 1994-1998), 1:168.
12Veja Arthur G. Patzia, The Emergence o f the Church: Context, Growth, Leader-
ship and Worship (Downers Grove: InterVarsity, 2001), 213-214.
13Há claras evidência de que a igreja de Jerusalém continha membros de todas as
classes sociais, inclusive as mais altas (veja David A. Fiensy, “The Composition o f the
Jerusalem Church,” em Palestinian Setting, vol. 4, ed. Richard Bauckham, The Book o f
Acts in Its First Century Setting, 5 vols., ed. Bruce W. Winter [Grand Rapids: Eerdmans,
1993-1996], 226-230), mas independentemente da possibilidade de alguns deles terem
mantido seu status mesmo após a experiência de At 2:44-45 e 4:32-35, isso não parece ter
sido 0 bastante para mudar a situação geral da igreja judaica, conforme indicam os textos
de At 11:28, Rm 15:26 e G12:10.
14Conquanto se concentre em questões paralelas, Ellen G. White faz clara referên­
348 I Wilson Paroschi

Outros exemplos de experiências negativas também poderíam ser


citados, como as noções soteriológicas e eclesiológicas da igreja apostólica
naqueles primeiros anos de sua existência.15 E o que dizermos do fato de
Paulo ser um pregador itinerante, não ter família (1C0 7:7-9) e muitas
vezes ter que trabalhar pelo sustento próprio (At 18:1-4; 20:34; 1C0 4:12;
ITs 2:9)? É isso um modelo para o ministério evangélico? E quanto ao fato
de ele sempre, ou quase sempre, começar suas atividades evangelísticas
numa cidade pelas sinagogas judaicas (At 13:14-15, 42-44; 14:1; 17:1-2,
10, 17; 18:4, 19; 19:8)? E a abordagem filosófica que utilizou em Atenas
(17:16-34)? É isso um modelo para o evangelismo contemporâneo (cf.
1C0 2:1-5)?
Ou seja, é certamente um erro tratar o Livro de Atos como um
manual da igreja, e a igreja apostólica como um modelo em tudo para
a igreja de todos os tempos e lugares. Ao contrário do que mantém a
concepção popular, a igreja apostólica não era perfeita, nem do ponto
de vista doutrinário e muito menos do ponto de vista administrativo ou
eclesiástico. E um grave erro imaginar que, ao ascender ao Céu, Jesus
deixou na Terra uma igreja doutrinariamente madura e suficientemente
organizada para cumprir sua missão no mundo. Talvez seja melhor
descrever as primeiras décadas da história da igreja como um período de
transição e amadurecimento. Mesmo sob a guia do Espírito Santo, a igreja
primitiva precisou crescer em sua compreensão sobre o significado da
vida e da morte de Jesus, bem como sobre a tarefa que agora lhe cumpria
desempenhar. Os apóstolos, conquanto consagrados, dedicados e mesmo
inspirados por Deus, ainda eram humanos, com falhas e limitações, e foi

cia à diminuição do zelo missionário que se seguiu ao Pentecoste e salienta que foi “a fim
de espalhar Seus representantes por outras partes do mundo,” que “Deus permitiu que
lhes sobreviesse a perseguição. Expulsos de Jerusalém, os crentes ‘iam por toda a parte
anunciando a Palavra’” (Atos dos Apóstolos [Tatuí: CPB, 1999], 105).
15Veja, e.g., Wilson Paroschi, “Estevão, Israel e a Igreja,” Parousia 6:1 (2007):
39-52.
Os pequenos grupos e a hermenéutica | 349

por intermédio desses homens, por meio de seus erros e acertos, que Deus
atuou e 0 evangelho foi levado a todo o mundo.16
A segunda razão pela qual a igrej a apostólica não deve necessariamente
ser vista como um modelo em tudo é que ela mesma foi produto de uma
época, um lugar e uma cultura específica. A igreja apostólica nasceu no
contexto do judaismo do primeiro século. Ela aparece no cenário bíblico
como mais uma dentre as várias denominações ou “seitas” judaicas da
época.17 Ela teve que lidar com problemas tais como uma expectativa
messiânica distorcida, o escândalo da cruz e o legalismo judaico, a inclusão
dos gentios e a circuncisão, a idolatria no mundo grego-romano, filosofias
pagãs, enfim, uma longa lista problemas, quase todos muito diferentes dos
nossos.18 E por isso que muito cuidado deve ser tido na hora de apontar
os elementos prescritivos no Livro de Atos. Não é só abri-lo e achar que,
porque foi assim no passado, tem que ser assim no presente. Nós sabemos
disso e, com frequência, até interpretamos corretamente aquilo que não nos
interessa, relativizando sua relevância atual ou, então, desqualificando-a
por completo, como, por exemplo, o uso da sorte (1:26), o dom de línguas
(2:1-4, 7-8; 10:44-46; 19:6), o batismo em nome de Jesus apenas (2:38;
8:16; 10:48; 19:5; 22:16; etc.) e o voto de nazireu (18:18). O problema
é que nem sempre manifestamos o mesmo rigor hermenêutico para com
aquilo que nos interessa ou que julgamos válido ainda hoje.

16Sobre o desenvolvimento organizacional e administrativo da igreja primitiva,


veja R. N. Giles, “Church Order, Government,” DLNTD (Downers Grove: InterVarsity,
1997), 219-226.
17Três vezes Lucas se refere à comunidade cristã como “seita” (At 24:5,14; 28:22)
e, ao fazê-lo, ele usa a mesma palavra ( hairesis) com que descreve os saduceus (5:17) e
os fariseus (15:5; 26:5). A expressão de Paulo em At 26:5, “porque vivi fariseu conforme
a seita [hairesis] mais severa da nossa religião,” revela que entre os próprios judeus havia
0 conceito de que 0 judaísmo era uma religião pluralista. Sobre a natureza essencialmente
judaica da igreja primitiva em Jerusalém, veja Joseph A. Fitzmyer, “Jewish Christianity
in Acts in Light o f the Qumran Scrolls,” em Studies in Luke-Acts, ed. Leander E. Keek e
J. Louis Martyn (Philadelphia: Fortress, 1980), 234-240.
18Em seu clássico Evangelização na Igreja Primitiva ([São Paulo: Vida Nova,
1989], 31-54), Michael Green dedica um capítulo inteiro (cap. 2) para descrever os obs-
táculos à evangelização nos primeiros tempos da igreja.
350 I Wilson Paroschi

A pergunta, então, é: Como identificar verdades prescritivas em Atos


ou mesmo nas Epístolas? Nas Epístolas, isso é bem mais fácil. Verdades
prescritivas são encontradas especialmente nas exortações espirituais,
doutrinárias ou éticas. Lá encontramos princípios claros que devem reger
a vida individual e coletiva do cristão em geral, bem como dos líderes da
igreja. Encontramos também nítidos princípios de culto e adoração, de
organização eclesiástica e verdades fundamentais que alicerçam a fé cristã.
Mas, mesmo exortações claramente prescritivas podem não ser nada mais
que simples expressões culturais de um povo ou de um a época. Não é
assim que explicamos a recomendação para que os irmãos se saúdem uns
aos outros com ósculo santo (Rm 16:16; 1C0 16:20; 2Co 13:12; lTs 5:26;
lP e 5:14) e as mulheres usem o véu quando oram (1C0 11:5-16) e fiquem
caladas na igreja (1C0 14:34)? O ponto que eu gostaria de enfatizar é que
precisamos tratar as passagens que nos interessam ou que julgamos de
valor permanente com 0 mesmo rigor hermenêutico com que o fazemos
com passagens como essas, que não nos interessam tanto ou cujo conteúdo
não mais consideramos válido hoje em dia.
Com relação ao Livro de Atos, a situação é bem mais complexa.
Antes de prosseguir, porém, talvez convenha estabelecer uma diferença
entre a prescritibilidade das ações apostólicas relatadas em Atos e a
normatividade do livro em si. A dificuldade em se definir aquilo que é
prescritivo no conteúdo desse livro não afeta necessariamente seu caráter
normativo para a fé da igreja. O que garante isso é o fato de que, embora
sendo um relato histórico, a história ali relatada tem um teor profundamente
teológico: ela consiste num relato inspirado e autoritativo daquele que foi
um dos períodos mais importantes da história bíblica da salvação.19 Ou

19“História da salvação” é um princípio teológico que interpreta a Escritura como a


contínua história das atividades salvíficas de Deus na história. A expressão também pode
ser usada meramente de forma descritiva para se referir à teologia da história encontrada
em ambos os Testamentos, especialmente em livros como Deuteronômio e Lucas-Atos
(veja Richard N. Soulen, Handbook o f Biblical Criticism, 2a. ed. [Atlanta: John Knox,
1981], 82).
Os pequenos grupos e a hermenéutica | 351

seja, Atos visa acima de tudo a apresentar a maneira como Deus atuou por
meio dos apóstolos no estabelecimento de Sua igreja na Terra nas primeiras
décadas após a ascenção de Cristo. Isso ajuda a explicar o elevado grau de
seletividade presente no livro. Nem todos os fatos ocorridos nesse período
estão ali relatados, como nem todos os apóstolos recebem a devida atenção.
Como história teológica, o foco de Lucas não é outro senão as atividades de
Deus no cumprimento de Seu propósito salvífico. “Cada evento principal,”
destaca David G. Peterson, “é visto à luz dessa realização do plano de
Deus.”20
Sobre os aspectos prescritivos propriamente ditos e como reconhecê-
los, esta é uma das mais difíceis questões hermenêuticas relativas ao Livro
de Atos, e não são poucos os autores que se debatem com ela. Aqui, dois
extremos devem ser evitados, como bem salienta William J. Larkin. O
primeiro é tom ar Atos prescritivo demais, ignorando a realidade histórica
em que foi escrito e tomando cada episódio ou conceito uma norma a
ser seguida pela igreja. O outro extremo é concluir que, por ser histórico,
Atos não tem absolutamente nada de prescritivo para o crente moderno.21
Não há dúvida de que Atos contém importantes elementos prescritivos,
como o próprio Lucas sugere a Teófilo (Lc 1:4), a quem dedica seus dois
livros (Lc 1:3; At 1:1).22 A dúvida é como identificar tais elementos, visto
que os problemas particulares da igreja com os quais Lucas se ocupa já
praticamente não existem mais. No tocante às questões conceituais, os
temas recorrentes nos discursos certamente são verdades que extrapolam
as respectivas limitações temporais e espaciais presentes no livro. Nessa

20David G. Peterson, The Acts o f the Apostles, PNTC (Grand Rapids: Eerdmans,
2009), 27. Veja também Peter G. Bolt, “Mission and Witness,” em Witness to the Gospel:
The Theology o f Acts, ed. I. Howard Marshall e David Peterson (Grand Rapids: Eerd-
mans, 1998), 191-214.
21William J. Larkin, Acts, IVPNTCS (Downers Grove: InterVarsity, 1995), 15.
22D e acordo com Ben Witherington, a própria presença de Atos no cânon bíblico
reflete “a crença no permanente valor, importância e relevância da substância do livro
para a contínua vida da igreja” {Atos dos Apóstolos: A Socio-Rhetorical Commentary
[Grand Rapids: Eerdmans, 1998], 98-99).
352 I Wilson Paroschi

categoria estão, por exemplo, os seguintes conceitos: que a missão da


igreja é evangelizar o mundo (At 1:8; 8:4-5; 9:20; 16:10; 20:21, 24-25;
28:31); que a igreja só poderá cumprir a missão pelo poder do Espírito
Santo (At 1:4-5, 8, 16; 2:1-4; 4:8, 25, 31; 9:31; 28:25-27; etc.); que não
pode haver discriminação racial ou social no evangelismo ou dentro da
igreja em si (At 1:8; 10:9-16, 27-29, 34-35; 13:46-48; 15:2-3, 7, 12-
19; etc.); que a igreja foi fundada pelo próprio Deus (At 2:22, 39, 46-
47; 3:13, 15-18, 5:30-32, 38-39; 11:17-18; 20:28; etc.); que Deus está no
comando de todas as coisas e que tudo segue o plano por Ele estabelecido
(At 1:7; 2:11, 20-22, 23; 4:28; 5:38; 13:36; 20:27; etc.).23 Quanto às
questões relacionadas com aos episódios envolvendo os apóstolos e seus
associados, eu gostaria de sugerir os seguintes princípios interpretativos:
(1) princípios espirituais subjacentes aos episódios e aplicáveis à
nossa realidade podem ser prescritivos; (2) padrões recorrentes de
atitude ou comportamento podem ter sido registrados como exemplos
para os crentes de todos os tempos e lugares; e (3) comportamentos
e atitudes diretamente aprovados ou desaprovados por Deus podem
revelar Sua vontade em situações contemporâneas equivalentes.24
Enfim, muito cuidado deve-se tomar para não tom ar as ações da
igreja apostólica prescritivas demais. Elas não estão no mesmo nível de
infalibilidade das ações de Cristo. Nem tudo o que os apóstolos fizeram foi
correto ou positivo para a igreja, e aquilo que o foi, mesmo que tenha sido
elaborado sob a orientação divina e alcançado excelentes resultados, quase
sempre foi cultural ou sociologicamente condicionado. Por exemplo, o fato
de Paulo iniciar seus esforços evangelísticos pelas sinagogas judaicas pode
até ter sido uma estratégia recomendada pelo próprio Deus e produzido

23Veja I. Howard Marshall, Acts, TNTC (Grand Rapids: Eerdmans, 1980), 49-50;
Jacob Jervell, The Theology o f the Acts o f the Apostles, NTT (Cambridge: Cambridge
University Press, 1996), 18-115.
24Para uma discussão mais ampla, veja Larkin, 13-17; Witherington, 97-102; eesp.
Walter L. Liefeld, Interpreting the Book o f Acts, GNTE (Grand Rapids: Baker, 1995),
117-127. Veja também Henry A. Virkler e Karelynne G. Ayayo, Hermeneutics: Principles
and Processes o f Biblical Interpretation, 2a. ed. (Grand Rapids: Baker, 2007), 88-89.
Os pequenos grupos e a hermenéutica | 353

muitas conversões (At 13:43; 14:1, 21; 17:4, 1119:17-18 ;18:8 ;12‫)־‬, mas
nem por isso é necessariamente a estratégia que deve ser usada hoje em
dia. Os cristãos apostólicos não pensavam de si mesmos como formando
urna nova religião, à parte do judaismo. Para eles, o cristianismo era o
climax do judaismo, o que Paulo chamaria mais tarde de “o Israel de
Deus” (G1 6:16; cf. Rm 9:6-8). Os judeus da época, portanto, eram os
candidatos naturais para ouvir a mensagem do evangelho (At 13:46; 18:5-
6; cf. Rm 9:4-5) e as sinagogas espalhadas pelas principais cidades greco-
romanas, as portas-de-entrada legítimas e eficientes para se alcançar, em
primeiro lugar, os judeus, em segundo lugar, os gentios que simpatizavam
com a religião judaica e que também as frequentavam, os chamados
“tementes a Deus” (At 10:2, 22; 16:14; 18:7), e, em terceiro lugar, por
meio desses gentios, alcançar aos outros.25 Deve ser lembrado também
que, nos primeiros tempos do Império Romano e além da própria religião
imperial, o judaísmo era a única religio licita e que, se não fosse por sua
identificação com o judaísmo (cf. At 18:12-16), o cristianismo teria pouca
ou nenhuma chance de sobreviver no mundo grego-romano.26
Hoje a situação do mundo mudou e, olhando da perspectiva
adventista, os judeus não são o público-alvo primário da nossa mensagem,
nem as sinagogas judaicas as portas-de-entrada naturais para nossos
evangelistas. A relevância da Igreja Adventista do Sétimo Dia deve ser
vista, fundamentalmente, no contexto do mundo cristão. Nossa mensagem

25“É difícil imaginar como o evangelho podería ter sido pregado sem o prévio es-
tabelecimento das sinagogas no mundo mediterrâneo e à parte da pouca tolerância deste
para com mestres não-convencionais” (Bruce Chilton, “Synagogue,” DLNTD [Downers
Grove: InterVarsity, 1997], 1144).
26Os romanos, a princípio, consideravam o cristianismo apenas como uma seita
ou facção judaica. Foi somente na década de 60 que as diferenças começaram a ser no-
tadas, especialmente após o incêndio do ano 64 que devastou dez dos quatorze distritos
de Roma. Para remover a culpa de si mesmo e acalmar os ânimos da população, Nero
reponsabilizou os cristãos que, além de formar um grupo cada vez mais excéntrico, na
opinião dos romanos, também apregoavam a iminente destruição do mundo pelo fogo.
Foi assim que teve início a perseguição. Para uma análise da posição do cristianismo no
contexto religioso romano, veja Everett Ferguson, Backgrounds o f Early Christianity, 2a.
ed. (Grand Rapids: Eerdmans, 1993), 556-583.
354 I Wilson Paroschi

central, a tríplice mensagem angélica de Apocalipse 14 - a mensagem da


iminência do juízo, da queda de Babilonia e da validade dos mandamentos
de Deus, em particular o quarto mandamento - é a mensagem a ser levada
ao mundo cristão. Num contexto pagão ou não-cristão, a tríplice mensagem
angélica se tom a secundária. É por isso que os judeus, os árabes e mesmo
os neo-pagãos da sociedade pós-modema exigem, pelo menos a princípio,
uma mensagem e um a abordagem diferentes. Ninguém começa um estudo
com um muçulmano por Apocalipse 13.27
Em suma, a hermenêutica do Livro de Atos é bastante complexa. Não
há nenhuma dúvida de que Lucas pretendia que seu segundo livro tivesse
bem mais que um valor puramente histórico e a presença desse livro no
cânon permitiu que o Espírito Santo o usasse de várias formas através dos
séculos. “Nossa responsabilidade,” destaca Liefeld, “é encontrar meios
para aprender dele e aplicá-lo à nossa realidade, tomando os devidos
cuidados para não violar sua própria integridade.”28 Não é só porque está
relatado em Atos ou porque os apóstolos assim o fizeram que nós devemos
fazer o mesmo. Nem tudo o que está na Bíblia deve necessariamente
ser reproduzido pelos crentes de todos os tempos e lugares. Ao fazer a
aplicação para hoje, o intérprete deve sempre ter em mente o propósito
original do relato à luz do contexto histórico, cultural e social do primeiro
século. N a busca pelos elementos prescritivos do texto, temas e práticas
recorrentes adquirem especial relevância, mas acima de tudo deve-se
buscar o princípio por detrás do relato antes de aplicá-lo à situação atual. O
descuido para com os fatores históricos e a reprodução incondicional das
estratégias e ações apostólicas podem comprometer a eficácia dos esforços
evangelísticos e discipulares da igreja em face dos desafios característicos
da época em que vivemos.

27Talvez a mais eloquente apresentação da natureza distintamente escatológica e


restauradora da missão adventista no contexto do mundo cristão continua sendo a de
LeRoy E. Froom, em seu clássico Movement o f Destiny (Washington: Review & Herald,
1971). Veja especialmente o capítulo 41, intitulado “Our Bounden Mission and Commis-
sion” (629-654).
28Liefeld, 127.
Os pequenos grupos e a hermenéutica | 355

A questão histórica: a origem das Igrejas-do-lar

Não há qualquer evidência de que as igrej as-do-lar tenham se


originado como resultado de uma ordem ou recomendação divina. Pelo
contrário, a origem dessas igrejas parece ter sido muito mais circunstancial
que providencial, por assim dizer. Antes de mais nada, precisamos entender
a configuração religiosa do judaísmo do primeiro século. Duas eram as
instituições religiosas judaicas dos tempos de Cristo e dos apóstolos: o
templo e a sinagoga. O templo era lugar de sacrifício e oração, ao passo
que nas sinagogas as atividades centrais eram a leitura e a exposição das
Escrituras (Mt 13:54; Mc 1:21-22; Lc 4:16-22; Jo 6:58-59; At 13:14-
42; 15:21), embora também houvesse cânticos e orações. As reuniões
no templo eram diárias; nas sinagogas, semanais (sábados) embora elas
também pudessem ser usadas durante a semana pelos rabinos como escolas
de instrução religiosa e outras poucas atividades comunais ou cívicas.29
Quando estava em Jerusalém, Jesus sempre ia ao templo (Jo 2:13-17;
5:14; 7:14; 8:2; 10:23; 18:20) e, aos sábados, tinha por costume ir a uma
sinagoga (Lc 4:16).
Após a ascenção, Seus seguidores continuaram fazendo 0 mesmo.
Eles não se separaram de imediato das cerimônias do templo, pois,
além do significado escatológico que atribuíam ao local, eles ainda não
compreendiam plenamente o significado salvífico e as implicações
cúlticas da morte de Jesus. E verdade que eles aproveitavam as idas ao
templo para pregar (At 3:11 -26; 5:20-25,42), mas não há nenhuma dúvida
de que, por vários anos após a ressurreição e ascenção, muitos judeus-
cristãos continuaram, de alguma forma, apegados ao templo, como zelosos
cumpridores das leis cerimoniais (At 15:1-5; 21:20; Gí 2:3-5; 5:1-5);

29Para os detalhes estruturais e litúrgicos do templo e da sinagoga, veja Donald E.


Gowan, Bridge between the Testaments: A Reappraisal o f Judaism form the Exile to the
Birth o f Christianity, 3a. ed. (Allison Park: Pickwick, 1995), 193-225.
356 I Wilson Paroschi

eles ainda celebravam as festas judaicas (At 2:1; 20:16; 1C0 16:8) e até
ofereciam sacrifícios (At 3:1; 21:17-26; Hb 5:11-14).30
O argumento de que a igreja apostólica diariamente perseverava
unânime no templo e de casa em casa (At 2:46; 5:42), portanto, embora
muito utilizado como modelo para os pequenos grupos,31 não parece válido,
pelo menos no que diz respeito ao templo. Tal prática não justifica a ênfase
de que os cristãos devem se reunir frequentemente na igreja e de casa
em casa. Os cristãos apostólicos se reuniam no templo porque eles ainda
não haviam rompido com as práticas cerimoniais judaicas. As reuniões
nas sinagogas, sim, poderíam ser citadas como paradigmáticas, até porque
era ali que os crentes se congregavam todos os sábados (At 15:21; 22:19;
24:12; 26:11; Tg 2:2; Hb 10:25),32juntamente com os patrícios judeus. Até
o final do primeiro século, o judaísmo era caracterizado pela diversidade
e tolerância, e os membros das várias facções - fariseus, saduceus e
mesmo cristãos que, a princípio, não constituíam senão apenas mais uma
denominação judaica - frequentavam juntos as mesmas sinagogas e outras
instituições judaicas (cf. At 6:8-10; 23:6-8).

30A observância da lei cerimonial foi, talvez, 0 principal ponto de contenda na igre -
ja apostólica durante as primeiras décadas após a ascenção de Cristo. O concilio de Atos
15 liberou os cristãos gentios de suas obrigações (At 15:19-21), mas os cristãos judeus
não se sentiram igualmente livres de tais práticas (At 21:19-25). Eles foram incapazes de
ver que as observâncias cerimônias tiveram seu cumprimento em Cristo Jesus, não ape-
nas em relação aos gentios, mas também em relação aos judeus, e por isso continuaram
apegados a elas. O SDA Bible Commentary declara: “Os judeus cristãos ainda guardavam
as festas; eles ainda sacrificavam como anteriormente; eles ainda eram zelosos para com
a lei cerimonial. Eles não tinham senão uma vaga compreensão da obra de Cristo no
santuário celestial; eles sabiam muito pouco acerca de Seu ministério; eles não compre-
endiam que seus sacrifícios eram sem valor em vista do grande sacrifício sobre 0 Calvá-
rio” (Nichol, ed., 7:389). Veja também Ekkehardt Müller, Come Boldly do the Throne:
Sanctuary Themes in Hebrews (Nampa: Pacific Press, 2003), 10. O primeiro grupo cristão
que parece haver compreendido que a morte de Jesus colocara um ponto final às funções
cerimônias do templo e ao particularismo judaico foi o dos helenistas de At 6-7. Para
discussão do assunto, veja Paroschi, 39-52.
31Veja Burrill, 68.
32Segundo F. F. Bruce, a palavra episynagoge, em Hb 10:25, sugere que os judeus-
cristãos ainda não haviam rompido sua conexão com a sinagoga, embora eles pudessem
ter reuniões distintamente cristãs em locais separados (The Epistle fo the Hebrews, ed.
rev., NICNT [Grand Rapids: Eerdmans, 1990], 258).
Os pequenos grupos e a hermenéutica | 357

Havia muitas sinagogas em Israel. De acordo com a tradição judaica,


só em Jerusalém eram 480.33 Segundo os rabinos, onde quer que houvesse
dez homens adultos já poderia haver uma sinagoga.34 Muitas delas,
portanto, eram bem pequenas, talvez a maioria, e estavam localizadas em
casas particulares, ou então ocupavam salas adjacentes a uma casa (At
18:4-7). A “casa” na qual Jesus curou o paralítico e lhe perdoou os pecados
era possivelmente uma sinagoga (Mc 2:1-12). De acordo com Bruce
Chilton, “isso explicaria a multidão e o grau de controvérsia envolvida.”35
É claro que havia também muitas sinagogas que funcionavam em edifícios
independentes, construídos específicamente para esse propósito (cf.
Lc 7:5).36 A verdade, porém, é que nenhuma outra instituição judaica
influenciou mais a igreja primitiva do que a sinagoga, tanto em seu aspecto
físico e litúrgico quanto principalmente no seu propósito. Shaye Cohen
define a sinagoga como “uma instituição tripartite: uma casa de oração,
uma sala de estudo ou escola e uma casa de reuniões.”37 Somente a partir
dessa definição já é possível perceber a grande influência exercida pelas
sinagogas na formação das igrejas-do-lar do período primitivo da igreja.
Embora, como já dito anteriormente, os judeus que haviam crido em
Jesus continuassem a frequentar as sinagogas, eles também tinham que
observar pelo menos uma prática exclusiva à fé cristã, a Santa Ceia, o que
os forçava a ter encontros separados. E, no contexto da igreja apostólica,
conquanto fosse uma cerimônia de profundo significado religioso, a Santa
Ceia estava intrínsecamente ligada ao ambiente domiciliar. Ou seja, o
lugar de sua celebração não era outro senão os lares dos crentes e ela era
33J.T. Megillah 73d. O Talmude Babilónico fala em 394 sinagogas (B.T. Ketuboth
105a). Alguns eruditos, porém, acreditam que ambos os números sejam exagerados (e.g.,
Lester L. Grabbe, “Synagogues in Pre-70: A Re-Assessment,” em Ancient Synagogues:
Historical Analysis and Archaeological Discovery, ed. Dan Urman e Paul V. M. Flesher
[Leiden: Brill, 1995], 22).
34M. Megillah 4:1.
35Chilton, 1144.
36Veja Rainer Riesner, “Synagogues in Jerusalem,” em Palestinian Setting, vol. 4,
ed. Richard Bauckham, The Book o f Acts in Its First Century Setting, 5 vols., ed. Bruce
W. Winter (Grand Rapids: Eerdmans, 1993180 ,(1996‫ ־‬.
37Shaye J. D. Cohen, From the Maccabees to the Mishnah (Philadelphia: West-
minster, 1987), 111.
358 I Wilson Paroschi

celebrada em conexão com uma refeição comum. Só temos que nos lembrar
que a Santa Ceia foi instituída por Cristo durante a refeição pascoal (Lc
22:13-20) e a Páscoa judaica era uma celebração familiar, doméstica (Êx
12:1-28; M t26:17-19; L c 22:11-15), enãopública. A SantaC eia, portanto,
era uma cerimônia distintamente cristã e domiciliar e, por isso, não podia
ser administrada na sinagoga.38 E como Jesus conectara a Santa Ceia à
promessa de Sua volta (Lc 22:15-18; ICo 11:26), e a igreja apostólica,
logo depois da ascenção, acreditava que Jesus voltaria dentro de poucos
dias, eles celebravam a Santa Ceia diariamente e sempre no contexto de
uma refeição comum (At 2:42, 46; 1C0 11:17-34).39 E assim surgiram
as igrejas-do-lar. Com 0 passar do tempo, até mesmo a refeição comum
associada à Ceia se transformou, ela própria, numa celebração e passou
a ser chamada de Ágape (Jd 12; cf. 2Pe 2:13), talvez por considerarem a
confraternização entre os irmãos uma boa expressão do dever cristão de
amar uns aos outros.40

38Na verdade, pouco ou nada se sabe sobre a celebração da Santa Ceia no período
apostólico. Não se sabe ao certo se ela era de fato “administrada” por alguma autori-
dade religiosa, como um apóstolo ou um presbítero, ou apenas pelo líder familiar. As
evidências não permitem nenhuma conclusão segura (veja Stephen Neill e Tom Wright,
The Interpretation o f the New Testament: 1861-1986, 2a. ed. [Oxford: Oxford University
Press, 1988], 201).
39A discussão de Paulo em ICo 11:17-34 confirma que a Ceia era celebrada no
contexto de uma refeição comum, mas o que estava havendo em Corinto era um grave
desvio do ideal cristão. Os primeiros a chegar, supostamente os mais ricos, comiam ao
ponto de se fartar e até mesmo se embriagar, de modo que pouco ou nada sobrava para
os mais pobres, que normalmente chegavam mais tarde (cf. vss. 21-22). Para uma com-
pleta exposição da passagem, veja Gordon D. Fee, The First Epistle fo the Corinthians,
NICNT (Grand Rapids: Eerdmans, 1987), 531-567. Quanto à frequência da celebração
da Ceia no período apostólico, pelo menos na primeira parte do período, tudo depende de
como a expressão “partir o pão” de At 2:42 e 46 é interpretada. Que nem sempre ela se
refere à Santa Ceia, não há nenhuma dúvida (cf. At 27:35), mas pelo menos em Paulo a
expressão está claramente associada à cerimônia eucarística (1C0 10:16; 11:23-26). Visto
que os judeus não costumavam se referir a uma refeição ordinária mediante a expressão
“partir o pão,” algo mais — neste caso, a Santa Ceia — deveria ter estar envolvido nessas
refeições comuns da igreja. Isso explicaria o fato de “partir o pão” vir, com o tempo, a se
tomar uma expressão técnica para a Ceia. Assim sendo, At 2:42 e 46 parece aludir a uma
única refeição em conjunto da igreja primitiva da qual a Ceia era parte integrante (veja
Barrett, 1:164-166).
40Sobre o Agape na igreja apostólica e seus desenvolvimentos posteriores, veja G.
Wainwright, “Lord’s Supper, Love Feast,” DLNTD (Downers Grove: InterVarsity, 1997),
686-694.
Os pequenos grupos e a hermenéutica | 359

As igrejas-do-lar, portanto, parece que surgiram de modo inteiramente


circunstancial. Foi algo muito mais imposto por uma necessidade do que
propriamente uma estratégia divina para dinamizar a igreja e promover seu
crescimento, embora, é claro, esse tenha sido o resultado. As sinagogas
continuavam a ser 0 principal local de reuniões semanais, mas a presença
de judeus não-cristãos e, eventualmente, de gentios tementes a Deus
inviabilizava a realização da Santa Ceia, que, de qualquer modo, exigia
um ambiente domiciliar para sua celebração. Por conseguinte, as igrejas-
do-lar se originaram mais como opção para as atividades distintamente
cristãs do que como alternativa cristã às sinagogas judaicas ou aos templos
pagãos. Caso não houvesse nenhuma sinagoga nas proximidades, não há
dúvida de que todas as atividades religiosas cristãs, inclusive as reuniões
de sábado, seriam conduzidas nas igrejas-do-lar.41 E como o elemento mais
importante do culto era uma refeição, a parte da casa utilizada não era outra
senão a própria sala de jantar, o que significa dizer que nenhuma adaptação
física ou mobiliária era de fato necessária.42A situação econômica da igreja
em geral não lhe permitia a construção de locais próprios para as reuniões
(1C0 1:26-28; 2C0 8:l-2)43 e, raramente, seria ela capaz de alugar um
auditório, como fez a congregação de Éfeso por ocasião da permanência
de Paulo na cidade (At 19:9; cf. 16:13).
41A conclusão de Rober W. Gehring {House Church and Mission: The Importance
o f Household Structures in Early Christianity [Peabody: Hendrickson, 2004], 17 1 1 7 3 ‫) ־‬
de que 1C0 14:23 faz referência a uma reunião periódica de toda a igreja, ou seja, de todas
as igrejas-do-lar juntas, é certamente precipitada. O texto não permite nenhuma conclu-
são segura a este respeito e pode muito bem se aplicar à realidade de uma igreja-do-lar
em particular.
42Para uma descrição física das salas de jantar das residências tanto ocidentais
quanto médio-orientais nos primeiros séculos da era cristã, veja Richard Krautheimer,
Early Christian and Byzantine Architecture, 4a. ed. rev. Richard Krautheimer e Slobodan
Curcic (New Haven: Yale University Press, 1986), 24.
43Para a visão tradicional de que a igreja primitiva era relativamente pobre, veja
Gustav A dolf Deissmann, Paul: A Study in Social and Religious History, 2a. ed., trans.
William E. Wilson (Nova York: Harper & Row, 1957), 27-52. Em anos recentes, porém,
alguns autores têm sugerido que 0 poder aquisitivo dos cristãos primitivos, pelo menos
nas igrejas gentílicas, não era tão baixo como se supunha (e.g., Wayne A. Meeks, The
Fist Urban Christians: The Social World o f the Apostle Paul, 2a. ed. [New Haven: Yale
University Press, 2003], 51-73).
360 I Wilson Paroschi

O ponto é que, por quatro ou cinco décadas após a ascenção de Jesus,


o cristianismo ainda vivia à sombra do judaísmo como se fosse meramente
uma denominação judaica, fato esse percebido inclusive pelos de fora,
como aconteceu com Gálio, procónsul da Acaia (At 18:12-16). Apesar das
diferenças e uma progressiva escalada das tensões entre judeus e cristãos,
especialmente nas comunidades da diáspora (At 1 3 : 5 0 1 9 - 2 0 ,14:2-6 ;51
17:5-9, 13-14; 18:6, 12-17), eles ainda se toleravam mutuamente. Eles
frequentavam as mesmas sinagogas e tinham muitas práticas e interesses
comuns, tanto que mais de vinte anos depois de sua conversão, Paulo ainda
podia se levantar perante os líderes judaicos e chamá-los de irmãos (At
22:1), além de afirmar que continuava sendo fiel aos princípios religiosos
judaicos (23:1) e até mesmo dizer que ainda se considerava um bom fariseu
(23 :6).44Após a destruição de Jerusalém, porém, tudo isso mudou.
A rigor, apenas dois grupos judaicos sobreviveram à destruição
de Jerusalém pelos romanos no ano 70, os fariseus e os cristãos.45 Os
cristãos se refugiaram na cidade de Pella, do outro lado do rio Jordão,46
e os fariseus se estabeleceram em Jâmnia, na Galiléia, e ali começaram
a envidar esforços no sentido de reestruturar o judaísmo e reerguê-lo das
cinzas.47 Dentre as medidas que tomaram, duas afetaram diretamente
os cristãos e ocasionaram uma ruptura definitiva nas relações entre
o cristianismo e o judaísmo. A primeira foi a inclusão formal dos
cristãos, ou da seita dos nazarenos, como eles diziam (cf. At 24:5), na

44A respeiro da influência do judaísmo rabínico do primeiro século sobre o após-


tolo Paulo, veja o clássico de W. D. Davies, Paul and Rabbinic Judaism: Some Rabbinic
Elements in Pauline Theology, 4a. ed. (Philadelphia: Fortress, 1980).
45Os cristãos, porque reconheceram o sinal dado por Cristo e fizeram como lhes
ordenara (Le 21:20-24); os fariseus, por causa de uma artimanha do Rabino Yohanan
ben Zakkai, o líder fariseu por ocasião da invasão romana (veja o relato em B.T. Gittim
56ab). Para mais informação, veja James D. G. Dunn, The Partings o f the Ways between
Christianity and Judaism and their Significance for the Character o f Christianity (Phila-
delphia: Trinity, 1991), 231-232.
46Eusébio, Historia Eclesiástica 3.5.3.
47Veja George F. Moore, Judaism in the First Centuries: The Age o f Tannaim, 3
vols. (Peabody: Hendrickson, 1997), 1:83-92.
Os pequenos grupos e a hermenéutica | 361

lista de hereges do judaísmo. Eles criaram inclusive um a oração, o


chamado Birkat ha-Minim, que era parte da Amidah, também conhecida
como as Dezoito Bênçãos (shemoneh esreh), que amaldiçoava a todos
os judeus inféis {minim) e em particular os nazarenos (notsrim). A
decisão veio acompanhada da ameaça de expulsão das sinagogas,
algo que já havia sido predito por Jesus (Mt 10:17; 23:34; Le 21:12).48
A segunda medida, igualmente grave, foi a incorporação na liturgia
da sinagoga de certos rituais do templo, que jazia em ruínas. Entre esses
rituais, estava o toque da shofar, a trombeta de chifre de carneiro, por
ocasião da festa de Ano Novo, algo que no passado estivera restrito ao
templo.49 Para aqueles que viam Jesus como o iónico e verdadeiro acesso
para Deus, qualquer transferência da função do templo para a sinagoga
seria inaceitável e inevitalvelmente provocaria o rompimento com essa
instituição (cf. Ap 2:9; 3:9). Desse tempo em diante, cristianismo e
judaísmo começaram a seguir rumos distintos. Os cristãos não mais eram
bem-vindos nas sinagogas e nem podiam eles aceitar as novas tendências
litúrgicas nelas introduzidas. Foi a partir dessa época que as igrejas-do-lar
se estabeleceram definitivamente como os únicos locais de reunião e culto
cristão, algo que só viría a mudar em meados do quarto século, com a
assimilação da igreja pelo império.
As igrejas-do-lar do período apostólico certamente não passavam
de várias de pequenas congregações de fiéis que se reuniam nas casas dos
irmãos50 para a celebração das cerimônias exclusivas à fé cristã, como a
48A oração dizia o seguinte: “Para os apóstatas, que não haja nenhuma esperança, e
que 0 governo arrogante seja rapidamente arrancado em nossos dias. Que os Nazarenos e
os hereges sejam destruídos num momento, e que sejam riscados do Livro da Vida, e não
sejam inscritos junto com os justos. Abençoado sejas Tu, ó Senhor, que humilha o orgu-
lhoso” (Frederick C. Grant, Ancient Judaism and the New Testament [Londres: Oliver &
Boyd, 1960], 47). Para discussão adicional, veja J. Luis Martyn, History and Theology in
the Fourth Gospel, 2a. ed. (Nashville: Abingdon, 1979), 50-62.
49Veja Moore, 2:13-14.
50Como observa Robert J. Banks, a palavra “casa” (oikos), na expressão “a igreja
em sua casa” (Rm 16:5; 1C0 16:19; Cl 4:15; Fm 1:2), pode se referir à família (lar) ou à
casa em si (moradia). N o primeiro caso, os membros da própria família seriam a igreja;
no segundo, a casa seria o local de reuniões da comunidade, que podería eventualmente
mcluir membros de outras famílias. Embora haja vários exemplos no NT em que oikos se
362 I Wilson Paroschi

Santa Ceia e o Ágape (At 2:46; 5:42; 12:12; Rm 16:3-5, 10, 11, 14, 15;
IC o 16:19; Cl 4:15; Fm 1:2; cf. At 28:30).51 Eles também aproveitavam
essas reuniões para orar (At 1:14; 2:42; 12:12), cantar (IC o 14:15; E f
5:19; C1 3:16), estudar a palavra (At 17:11; 20:32; Cl 4:16; lT m 4:12),
compartilhar experiências (Cl 3:16) e pregar 0 evangelho (At 5:42), entre
outras coisas. Após o rompimento com a sinagoga e a transformação das
igrejas-do-lar nos únicos locais de reunião, uma nova mudança começou a
ocorrer: muitos dos lares que hospedavam as igrejas deixaram de ser lares
propriamente ditos e se transformaram em locais exclusivos de reunião. E
isso aconteceu possivelmente quando os crentes que já hospedavam igrejas
em suas casas passaram a entregá-las para que, com algumas adaptações,
fossem usadas pela igreja unicamente para fins religiosos. De acordo com
Richard Krautheimer, essa mudança se completou mais ou menos ao redor
do ano 150.52Foi por essa época, que o Ágape começou a ser descontinuado
e a Santa Ceia, a ficar mais formal. O uso do ambiente exclusivamente para
fins religiosos dificultava a prática da refeição coletiva, cujos alimentos não
mais podiam ser preparados no local. O local de reuniões não mais era uma
sala de jantar, o que fez com que a Santa Ceia começasse a se distanciar do
refere à família (At 10:2, 22; 11:14; 16:15,31-32; 18:8; Rm 16:10-11; 1C0 1:11, 16; etc),
passagens como Atos 12:12 e Romanos 16:15,23 parecem demonstrar que, nos textos em
questão, oikos diz respeito à casa propriamente dita como local de reuniões (Paul s Idea
o f Community: The Early House Churches in Their Cultural Setting, ed. rev. [Peabody:
Hendrickson, 1994], 31-32).
51No caso de Romanos 16:10 e 11, embora o termo “igreja” esteja ausente, a ex-
pressão “os da casa de,” de acordo com Reta H. Finger, pode ser entendido como referén-
cía a urna igreja-do-lar. Ela acredita que, juntamente com os versos 3-5, 14 e 15, os vss.
10 e 11 aludem a “cinco ...congregações de cristãos espalhadas por Roma das quais Paulo
tinha conhecimento por meio de seus contatos” (Roman House Churches fo r Today: A
Practical Guide for Small Groups, 2a. ed. [Grand Rapids: Eerdmans, 2007], 16-17). Veja
também Thomas R. Schreiner, Romans, BECNT (Grand Rapids: Baker, 1998), 797-798).
52Krautheimer, 23-24. Falando da perspectiva arquitetônica, Krautheimer acres-
centa que antes do terceiro século os cristãos ainda não construíam seus próprios templos,
nem poderíam fazê-lo. “Apenas a religião estatal erigia templos na tradição da arquitetura
grega e romana.... As congregações cristãs anteriores ao ano 200 estavam limitadas ao
domínio da arquitetura doméstica e, além disso, às inconspícuas moradias das classes
mais baixas” (24).
Os pequenos grupos e a hermenéutica | 363

contexto doméstico, familiar, e a perder sua espontaneidade, passando, aos


poucos, a adquirir contornos mais ritualísticos e hierárquicos.
Escavações arqueológicas têm trazido à luz muitas dessas casas que,
no segundo e terceiro séculos, foram remodeladas e transformadas em
locais de reunião apenas. Evidências dessas domus-ecclesias (igrejas-do-
lar), como eram chamadas,53 foram encontradas em praticamente todo o
mundo mediterrâneo, em lugares como a Itália (Roma), a Grécia, a ilha de
Delos, a Mesopotâmia e até mesmo a Palestina.54 A mais antiga de todas
as domus-ecclesias já descobertas não é outra senão a casa do próprio
apóstolo Pedro, em Cafamaum (Mt 8:14-15; 17:24-27; Lc 18:28). Ainda
no primeiro século, uma ampla sala (7 x 6,5 m, c. 45,5 m2) da casa foi usada
como local de culto cristão. Com o tempo, algumas modificações foram
feitas: um a das paredes e o teto foram substituídos, um a sala adicional
e um átrio foram construídos e, por fim, no quarto século, toda a área,
que é mais ou menos quadrada, foi cercada com um muro de 112,25 m
de perímetro. Apesar disso, restos do reboco e contra-piso originais ainda
podem ser vistos. Nas paredes, foram encontrados vários grafites datados
paleograficamente do terceiro ao quinto séculos com expressões litúrgicas
e invocações de Jesus.55
Portanto, assim como as igrejas-do-lar surgiram pela necessidade
de se celebrar as cerimônias distintivamente cristãs, quando os crentes
ainda frequentavam as sinagogas, seu estabelecimento definitivo como
único local de reunião se deu quando a frequência à sinagoga pelos

53O termo era bastante apropriado visto que a despeito das alterações estruturais,
ou mesmo quando as casas eram inteiramente reconstruídas, sua arquitetura não perdia
sua característica doméstica utilitária (ibid., 26). Em Roma, as domus-ecclesias foram
mais tarde (c. 250) chamadas de tituli (sing., titulus). Na verdade, titulus era o nome de
uma pequena placa de mármore afixada junto à porta com o nome do proprietário. Assim,
se tomou comum se referir a uma igreja como titulus e o nome do proprietário era usado
para diferenciar entre uma igreja e outra (Ibid., 28-29).
54Veja Bradley Blue, “Acts and the House Church,” em Graeco-Roman Setting,
vol. 2, ed. David W. Gill e Conrad Gempf, The Book o f Acts in Its First Century Setting,
5 vols., ed. Bm ce W. Winter [Grand Rapids: Eerdmans, 1993-1996], 119-222.
55Ibid, 138-140, 193-196; Gehring, 31-42.
364 I Wilson Paroschl

cristãos não mais se tom ou possível, já na parte final do primeiro século.


E exatamente por serem hospedadas nas casas dos irmãos, essas igrejas
eram e permaneceram substancialmente pequenas, com um número de
membros que, de acordo com o registro arqueológico, dificilmente excedia
a cinquenta pessoas.56 A maior delas já encontrada não comportava mais
que umas setenta pessoas. Elas continuaram onde estavam, em bairros
residenciais, e com aparência de uma residência comum. “Vistas da
rua,” declara Krautheimer, “as domus-ecclesias cristãs não podiam ser
distinguidas de nenhuma outra casa da vizinhança.”57
Essa rede de pequenas comunidades em zonas residenciais
proporcionou à igreja um eficiente meio de interação e crescimento
individual e coletivo que foi fundamental para a implantação da igreja
no primeiro século e sua assombrosa expansão no segundo e terceiro
séculos, apesar da intensa perseguição do império.58 Foi somente após a
conversão de Constantino, no ano 312, e a consequente transformação do
cristianismo numa religio licita, que começaram a surgir as monumentais
e luxuosas basílicas,59 exatamente sob o patrocínio do imperador e sua
56Jerome Murphy-O’Connor, St. Paul’s Corinth: Texts and Archaeology, GNS 6
(Wilmington: Glazier, 1983), 153-158.
57Krautheimer, 28.
58Só em Roma, no coração do império, a população cristã, em meados do terceiro
século, é estimada em, pelo menos, trinta mil membros (A dolf von Hamack, The Mis-
sion and Expansion o f Christianity in the First Three Centuries, trad. J. Moffatt, 2 vols.
[Londres: Williams & Norgate, 1908], 2:248-249). Krautheimer sugere que o número de
cristãos em Roma podia chegar a cinquenta mil, e que, na Ásia Menor, sessenta porcento
da população era cristã (24).
59Embora nos últimos anos anteriores a Constantino, principalmente após o térmi-
no da perseguição imposta por Diocleciano (303-305), algumas igrejas de tamanho bem
maior já tenham sido construídas. A igreja de São Crisógono (em Roma), por exemplo,
tinha 418,50 m2 (15,50 x 27 m). Mesmo assim, essas igrejas em nada se comparavam às
enormes basílicas que começaram a surgir após a conversão de Constantino. A Basílica
Laterana, por exemplo, cuja construção fora iniciada exatamente em 313, media (somente
a nave principal) 75 m de comprimento por 55 m de largura (4.125 m2) e podia comportar
uma congregação de vários milhares de fiéis. O santuário, que se estendia por mais 20
m além da nave, podia acomodar até duzentos ou mais clérigos (ibid., 48). J. B. Ward-
Perkins declara que “nem em Roma nem em qualquer outro lugar existe qualquer evidên-
cia que sugira que, antes da Paz da Igreja, os cristãos haviam desenvolvido, ou mesmo
começado a desenvolver, uma arquitetura monumental própria” (“Constantine and the
Origins o f the Christian Basilica,” PBSR 22 [1954]: 78).
Os pequenos grupos e a hermenéutica | 365

mãe Helena Augusta.60 Esse abandono do modelo das igrejas-do-lar, que


predominara por quase trezentos anos,61 foi também marcado por uma
radical aproximação entre a igreja e o império, e a consequente adoção
por parte daquela do modelo hierárquico imperial. Nas palavras de
Krautheimer, “a igreja se tom ou um corpo oficial intimamente ligado à
administração imperial e também um poder político.”62 Sob Constantino,
a igreja passou a ser vista como um reino, praticamente nos mesmos
moldes dos reinos terrestres; Cristo, como o Rei, cujo representante direto,
o “vicário de Cristo,” não era outro senão o próprio Constantino;63 e os
bispos, como oficiais de governo, com as insígnias e os privilégios dos mais
elevados oficiais governamentais.64 Isso teve um profundo efeito sobre
a liturgia da igreja, que acabou retomando ao modelo cúltico do antigo
templo de Israel: a igreja se tom ou templo; o bispo, sacerdote; o púlpito,
altar; e o culto, sacrifício, o sacrifício da missa.65 Tais mudanças, de graves

60Eusébio de Cesaréia, ao descrever as muitas boas ações de Constantino para com


a igreja e seus líderes logo após sua conversão, declara o seguinte: “Além disso, ele fez,
com seus próprios recursos, muitas obras beneficentes bastante custosas para a igreja de
Deus, tanto ampliando os edificios sagrados quanto adornando os majestosos santuários
da igreja com abundantes ofertas” ( Vida de Constantino 1.42). Para mais informação so-
bre a influência de Constantino na arquitetura da igreja, veja Krautheimer, 39-92. Para um
estudo mais técnico sobre a arquitetura cristã anterior ao quarto século, veja L. Michael
White, The Social Origins o f Christian Architecture, 2 vols., HTS (Valley Forge: Trinity
International, 1990-1997).
61“As reuniões de cristãos nos lares (ou lares renovados para que pudessem receber
reuniões cristãs) continuaram a ser a norma até as primeiras décadas do quarto século....
Por quase trezentos anos os fiéis se reuniram em lares, não em grandes igrejas construídas
para esse fim” (Blue, 124).
62Krautheimer, 39.
63Embora não fizesse parte do clero e não fosse sequer batizado (o que só acon-
tecería em seu leito de morte), Constantino se considerava o décimo-terceiro apóstolo e
0 vigário de Cristo na Terra. “Aos seus olhos, ele havia sido divinamente designado para
liderar a igreja de Cristo à vitória” (Ibid.). O próprio Eusébio de Cesaréia não hesitou em
se referir a ele como “bispo universal nomeado por Deus” ( Vida de Constantino 1.44).
64Para informação adicional, veja W. H.C. Frend, The Rise o f Christianity (Phila-
delphia: Fortress, 1984), 487-488.
65Como destaca Krautheimer, 0 cerimonialismo e a pompa foram totalmente in-
fluenciados pelas práticas imperiais. “A liturgia se tomou um cerimonial realizado diante
do Senhor ou diante de Seus representantes, os bispos, nos exatos moldes do cerimonial
realizado diante do imperador ou seus magistrados” (40). N o aspecto cúltico, porém, não
há nenhuma dúvida de que a inspiração veio do antigo templo de Israel.
366 I Wilson Paroschi

implicações teológicas, acabaram corrompendo algumas das verdades mais


fundamentais da fé cristã, como a salvação por Cristo apenas, Sua intercessão
no santuário celestial e o livre acesso do crente a Deus.66 A massificação,
associada à institucionalização e à obliteração da obra de Cristo, trouxe
apostasia e estagnação. Nunca mais a religião cristã seria a mesma.
Nem a reforma protestante e nem a pregação das três mensagens
angélicas conseguiu acabar com as grandes congregações.67A centralidade
de Cristo no plano da salvação foi restaurada, como também o foi o papel
preponderante da fé como meio de se alcançar a salvação. A verdade
do santuário celestial, a proximidade do juízo e a perene validade da
lei de Deus, em particular do mandamento do sábado, também foram
restauradas, mas continuamos com uma religião massificada, com
congregações enormes,68 onde a participação se limita a uns poucos
privilegiados, e talvez essa seja uma das principais razões pelas quais
ainda não conseguimos concluir a obra. O plano dos pequenos grupos é
certamente muito bem-vindo. Ele contribui para resolver o problema das
grandes congregações, embora não consista senão num retomo parcial
ao modelo das igrejas-do-lar do cristianismo primitivo. Apenas um
retomo completo - impossível, na minha opinião - àquele modelo, ou
seja, pequenas congregações com, no máximo, umas poucas dezenas de
membros, poderia gerar o nível de participação, comunhão e consagração
necessários para que avancemos definitivamente ram o à conclusão da
obra. E considero tal retomo impossível, em primeiro lugar, por causa

66Para mais detalhes, veja LeRoy E. Froom, The Prophetic Faith o f Our Fathers:
The Historical Development o f Prophetic Interpretation, 4 vols. (Washington: Review &
Herald, 1950-1954), 1:349-399.
67Embora Martinho Lutero tenha enfatizado, e muito, a importâncias dos pequenos
grupos (Gehring, 310; veja também Charles E. White, ed., “Concerning Earnest Chris-
tians: A N ew ly Discovered Letter o f Martin Luther,” C TM 10, n. 5 [1983]: 273-282).
68Para não mencionar 0 excessivo ritualismo que não raras vezes caracteriza, por
exemplo, a celebração da Santa Ceia em algumas de nossas igrejas, com cerimônias can-
sativas que se estendem por horas a fio, sendo que a maior parte do tempo é gasta tão-
somente com a distribuição do pão e do vinho. Em várias congregações, esse problema
já resolvido com a destruição conjunta dos emblemas e a adoção de cálices descartáveis,
que não necessitam ser recolhidos.
Os pequenos grupos e a hermenéutica | 367

da nossa própria cultura eclesiástica. Dificilmente construiríamos


vários pequenos edifícios com capacidade para quarenta ou cinquenta
membros apenas em vez de um edifício maior que comporte duzentas ou
trezentas pessoas. Uma mudança cultural, portanto, precisaria preceder
a mudança de paradigma. Em segundo lugar, o custo e as dificuldades
logísticas de se substituir as grandes igrejas por pequenas congregações
praticamente inviabilizam a idéia, pelo menos a curto e médio prazo. É por
isso que devemos apoiar o esforço pelos pequenos grupos. Embora, nos
moldes atuais, não representem exatamente a prática primitiva da igreja,
eles, sem dúvida, consistem na melhor opção para os problemas inerentes
à massificação congregacional.69

Conclusão

As igrejas-do-lar do período apostólico (e pré-Constantino) não


parecem ter sido implantadas em virtude de um imperativo divino, mas
como resultado de circunstâncias específicas que as tomaram praticamente
inevitáveis. Isso não significa, porém, (1) que Deus não estivesse guiando
as decisões e os destinos da igreja; (2) que o modelo não tenha sido uma
tremenda bênção para a igreja apostólica e pós-apostólica; ou (3) que
não devamos nos esforçar para retom ar a esse modelo. E é aqui que os
pequenos grupos se encaixam. Embora não sendo um retomo completo ao
modelo do cristianismo primitivo, eles certamente consistem na melhor

69Após seu exaustivo estudo das igrejas-do-lar do período primitivo da igreja e seu
impacto no cumprimento da missão, Gehring oferece uma valiosa reflexão sobre como
essa iniciativa pode ser útil à igreja de hoje. E, depois de citar alguns exemplos bem-
sucedidos em diversas partes do mundo contemporâneo, ele declara: “Passado e presente
transmitem uma clara mensagem: de modo algum deve o modelo das igrejas-do-lar ser
negligenciado hoje como uma opção viável para o crescimento da igreja; ele consiste
numa abordagem testada e aprovada. Por mais que se enalteça a contribuição eclesiástica
e missiológica a nível mundial de um pequeno grupo, seja ele uma igreja-do-lar no senti-
do pleno ou um grupo doméstico para 0 estudo da Bíblia, companheirismo, oração, e/ou
socialização, treinamento para líderes leigos, ou discussões evangelísticas, tal enaltecí-
mento nunca será demasiado” (309).
368 I Wilson Paroschi

estratégia disponível e viável no momento para diminuir o impacto das


grandes congregações, que não propiciam o envolvimento e a interação
necessários para que haja plena saúde e crescimento espiritual, tanto
individual quanto coletivo.
Conquanto não seja prudente apresentar os pequenos grupos
como verdade bíblica prescritiva, o esforço por implantá-los, como
alternativa metodológica para servir à missão da igreja, não está, portanto,
necessariamente equivocado. A luz de nossa estrutura eclesiástica atual,
acho que é o melhor que podemos fazer nesse momento e, por isso,
devemos nos esforçar para fazê-lo. Grupos pequenos têm uma lógica
inerente tão clara e óbvia que qualquer imperativo bíblico nesse sentido
chegaria a ser redundante. Além disso, nem tudo o que é bom ou nem tudo
o que fazemos precisa obrigatoriamente ser respaldado por um explícito
precedente bíblico ou recomendação divina. Não é assim, por exemplo,
com a Escola Sabatina, o Culto Jovem, o Clube de Desbravadores e vários
outros programas da igreja? Mesmo que não tenham explícita base bíblica,
ninguém ousaria dizer que eles são inválidos ou estão em desarmonia
com a razão de ser da igreja. Dentro dos claros parâmetros ou princípios
estabelecidos pelas Escrituras, temos liberdade para buscar alternativas e
estratégias que levem à otimização dos vários departamentos e atividades
da igreja como um todo e, assim, levá-la a cumprir mais cabalmente a obra
que lhe foi designada.
E nesse sentido que temos que melhorar nossa hermenêutica dos
pequenos grupos. Não que seja errado o uso da Bíblia para se promover a
idéia, mas o ideal seria fazê-lo, em primeiro lugar, no contexto mais amplo
da missão da igreja. Ou seja, embora não se deva insistir na existência
de uma teologia dos pequenos grupos (ou mesmo das igrejas-do-lar) no
Novo Testamento, e muito menos no Antigo Testamento, nada impede que
eles sejam apresentados como uma estratégia válida para o cumprimento
da missão da igreja de levar o evangelho a todo o mundo e de preparar
pessoas para o reino de Deus. Em segundo lugar, pode-se trabalhar também
Os pequenos grupos e a hermenéutica | 369

com a singela e espontânea comunhão que deve haver entre os membros


da igreja, o amor sincero que deve uni-los, a oração de uns para com os
outros, o encorajamento mútuo e o testemunho cristão. Tudo isso pode ser
mais fácilmente praticado em grupos pequenos e está baseado em claros
princípios bíblicos quanto ao espírito que deve reger a comunidade dos
crentes.
Por fim, os pequenos grupos também podem, e até devem, sim,
buscar inspiração nas antigas igrejas-do-lar, que muito contribuíram para o
estabelecimento e a rápida expansão da fé nos primeiros tempos da igreja.
Conquanto, por definição, os pequenos grupos de hoje e as igrejas-do-
lar do passado não sejam a mesma coisa, os vários pontos em comum
entre ambos certamente autorizam o uso de um como modelo para o outro.
Quanto aos detalhes de sua implantação e funcionamento, porém, essas
definitivamente são questões técnicas que os administradores e missiólogos
devem decidir à luz das situações específicas, tanto geográficas quanto
sociais e culturais, predominantes em nossas comunidades. Isso significa
que um único modelo pode não fazer justiça à diversidade que nos
caracteriza como igreja. Mas, como eu disse, essa é uma questão técnica
e, como tal, extrapola os propósitos deste trabalho e as atribuições deste
autor. A verdade é que talvez nunca tenha sido da vontade de Deus que
tivéssemos grandes congregações com centenas e, muito menos, com
milhares de membros. No período de maior crescimento da igreja, período
esse que se estendeu até o início do quarto século, as igrejas-do-lar, com
no máximo umas poucas dezenas de membros, foram o instrumento mais
eficiente para manter a igreja unida, fervorosa e dinâmica naquele que,
talvez, tenha sido o período mais difícil de sua história. Não tenho dúvida
de que os pequenos grupos poderão ter um efeito semelhante nesses
momentos finais de nossa história na Terra.
O MÉTODO CRÍTICO-HISTÓRICO E SUAS
CONSEQUÊNCIAS MISSIOLÓGICAS NA IGREJA
LUTERANA DOS ESTADOS UNIDOS1

Leonardo Godinho Nunes


Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia, Bahia, Brasil

iiiiiiiiiiKiiiiiiiiiiniiiiiiiiiiiH iiiim iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimiiiiiiiim miiiiiimiiiiiiiiiiiiiiiiiim iiim iiiiiiiiiiiiiimiiiiiKiiiiilim miiiiiiiiiiiiiilM iiiiiiiiiii

Introdução

O presente artigo busca analisar como o método crítico-histórico


e suas implicações para a teologia e a fé influenciaram a missão da
Evangelical Lutheran Church in America (ELCA).
Para que se possa avaliar corretamente a relação entre o método
crítico-histórico e a missão, faz-se necessário considerar primeiramente
a relação que o criticismo histórico tem para com a faculdade da razão
e suas possíveis consequências para o valor da Bíblia como a Palavra de
Deus. Em seguida, será analisado como o método crítico-histórico teria
influência direta na fé das pessoas, bem como nos possíveis resultados
dessa influência para a práxis missiológica da ELCA.
Como uma das maiores igrejas evangélicas protestantes
históricas dos Estados Unidos, a ELCA poderia servir de exemplo de
como a abordagem hermenêutica crítico-histórica age diretamente
na prática missiológica de determinada denominação, dando assim
subsídios para uma escolha consciente do processo hermenêutico mais
adequado, tendo sempre em vista um crescimento numérico saudável.

1Agradeço aos meus assistentes Gilson Dias da Silva e Iuri Antunes dos Santos
Haubrich por ajudarem nas pesquisas para este trabalho.
372 I Leonardo G. Nunes

O Método Crítico-Histórico e a Razão


A Bíblia sempre foi considerada como a Palavra de Deus,
normativa e fonte de inspiração missiológica nos círculos cristãos. Não
havia questionamento quanto à sua autoridade divina, e permitia-se que
a Escritura fosse sua própria intérprete.2 Com o advento do Iluminismo
mudou-se o paradigma hermenêutico, já que a visão iluminista rechaçou
qualquer outra autoridade que não a razão humana.3A crença na revelação
sobrenatural foi gradativamente substituída pelos métodos naturalistas nos
círculos acadêmicos.4 Ou seja, o método gramático-histórico foi sendo
substituído pelo método crítico-histórico. Para entendermos o processo de
desenvolvimento do método crítico-histórico, faz-se necessário uma breve
retrospectiva, bem como uma análise dos princípios e pressuposições
desse método.

Do Racionalismo ao conceito de mito


O Iluminismo, também conhecido como Século das Luzes (em
oposição à Idade Média que era caracterizada como Idade das Trevas)5
é um movimento intelectual que surgiu inicialmente na França, no
século XVIII. Tinha como objetivo defender a liberdade de pensamento
e a igualdade de todos. Propunha ainda, um rompimento com as
estruturas prevalecentes na época, tais como o direito divino dos reis,
a política mercantilista e o poder político da Igreja Católica. Também

2Cf.: Alberto R. Timm, “Antecedentes Históricos da Interpretação Bíblica Adven-


tista,” em Compreendendo as Escrituras: Uma Abordagem Adventista, ed. George W.
Reid (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2007), 1-14.
3Ángel Manuel Rodriguez, “Hermenéutica Contemporánea: Cuestiones y Prob-
lemas,” em Entender la Palabra: Hermenéutica Adventista Para el Nuevo Siglo, ed. Ger-
aid A. Klingbeil Merling Alomía, Martin G. Klingbeil e Jorge Torreblanca (Cochabamba,
Bolívia: UAB, 2000), 7.
4Conforme relata Alberto Timm, “... os modernos racionalistas desenvolveram o
Método Crítico-Histórico para acomodar a Bíblia retrocedendo [grifo do autor] às antigas
culturas em que ela foi produzida” Timm, 4.
5Paulo W. Buss compara a Idade Média com “uma selva obscura cheia de obs-
táculos.” Bengt Hãgglund, História da Teologia, trad. Mário L. Rehfeldt e Gládis Knak
Rehfeldt, 7a ed. (Porto Alegre - RS: Concórdia, 2003), 7.
O método crítico-histórico e suas consequências missiológicas | 373

criticava a intolerância religiosa e a corrupção do clero.6 Kant definia o


iluminismo como o uso livre da razão.7 Segundo Cotrim, o pensamento
iluminista confia na razão para resolver os problemas de sua sociedade.8
Durante este período, portanto, a razão tomou-se “o critério último
e fonte principal do conhecimento.”9 Consequentemente, o princípio
protestante Sola Scriptura,10 Isto é, somente a Escritura, que foi o grito
de guerra da Reforma, foi substituído em alguns círculos académicos
por urna nova abordagem no estudo da Bíblia.11 Isto resultou da

6José Jobson Arruda, Historia Integrada: do Fim do Antigo Regime à Industrial-


ização e ao Imperialismo (São Paulo: Atica, 1996), 17.
7Para um estado mais ampio sobre a definição kantiniana de autonomia da razão,
ver: Paul Tillich, Perspectivas da Teologia Protestante dos Séculos XIX e XX. , trad.
Jaci C. Maraschin, 2a ed. (São Paulo: ASTE, 1999), 56-59. Sobre a influência de Rene
Descartes e Isaac Newton ver: Cláudio Vicentino, História Geral, 10a ed. (São Paulo:
Scipione, 2007), 239. Sobre os principais filósofos do Iluminismo: Vicentino, 240-241.
8Gilberto Cotrim, Historia Global: Brasil e Geral, 7 ed. (São Paulo: Saraiva,
2003), 266-267.
9Gerhard F. Hasel, Teologia do Antigo e Novo Testamento: Questões Básicas no
Debate Atual, trad. Luís M. Sander e Jussara Maríndir P. S. Arias (São Paulo: Academia
Cristã, 2007), 34-35.
10Os reformadores utilizaram o principio Sola Scriptura ao afirmarem que, em
matéria de fé e de doutrina somente a Bíblia é a suprema autoridade, “só ela é 0 árbitro
de todas as controvérsias.” Alderi Souza de Matos, http://www.monergismo.com/textos/
cinco_solas/solascriptura_alderi.htm (accessed em 23 de Março de 2009). Ver também:
Gottfried Brakemeier, “Somente a Escritura: Avaliação de Um Princípio Protestante.
Reação a Gunter Wenz, Evangelho e Bíblia no Contexto da Tradição Confessional de
Wittenberg,” Estudos Teológicos 44/1 (2004). http://www3.est.edu.br/publicacoes/esta-
dosteologicos/indicedow nload.htm [accessed em 23 de março de 2009]; Nisto Cremos:
As 28 Crenças Fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia, ed. Associação Min-
isterial da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, trad. Helio L. Grellmann, 8a
ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008).289, 327; Woodrow Whidden, Jerry
Moon, and John W. Reeve, A Trindade: Como Entender os Misterios da Pessoa de Deus
na Biblia e na Historia do Cristianismo, trad. Hélio Luiz Grellmann, 2a ed. (Tatuí, SP:
Casa Publicadora Brasileira, 2006), 187, 189, 196-197; Jaroslav Pelikan, The Christian
Tradition: A History o f the Development o f Doctrine, 5 vols., vol. 5 (Chicago: University
o f Chicago Press, 1971-1989), 194.
11Para um estado mais amplo sobre o princípio Sola Scriptura e seu uso pelos
reformadores ver: Frank M. Hasel, “Pressuposições na Interpretação das Escrituras,” em
Compreendendo as Escrituras: Uma Abordagem Adventista, ed. George W. Reid (En-
genheiro Coelho, SP: Unaspress, 2007), 36-40. ver também: Peter M. van Bemmelen,
“A Autoridade das Escrituras,” em Compreendendo as Escrituras: Uma Abordagem Ad-
ventista, ed. George W. Reid (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2007), 80-83. E ainda:
374 I Leonardo G . Nunes

influência de vários fatores, entre eles o racionalismo,12 a crítica literária


radical,13 e pelo desenvolvimento de um a nova hermenêutica, através do
método crítico-histórico,14 o qual predomina até hoje no liberalismo.15
A Razão se tom ou norma da verdade não apenas no ambiente
secular, mas também na teologia e na religião. Para Baruch Spinoza, a
Escritura deveria estar sujeita e concorde com a razão.16 A razão para
Spinoza, como declarado em seu Tratactus Theologico-Politicus (1670)
é o guia do homem para a verdade.17 Seguindo esta linha de raciocínio, J.
S. Semler (1725-1791) que é geralmente considerado o pai do criticismo
histórico,18 considerou a Bíblia como um documento histórico, e que
Alberto R. Timm e Am inA. Rodor, “A Trindade nas Escrituras,” Parous ia 2005, 32; onde
é mencionado que este princípio era o ideal do protestantismo.
12O racionalismo sustentava que a religião revelada inclui uma religião baseada
inteiramente na razão e que gradualmente se desenvolve até chegar a ela. Assim, aban-
donou a concepção ortodoxa da inspiração da Bíblia. Desta forma, a Bíblia tomou-se um
livro da Antiguidade, a ser estudado como qualquer outro documento antigo. Ver: Hasel,
Teologia do Antigo e Novo Testamento: Questões Básicas no Debate Atual, 35. Ver tam-
bém: Hágglund, 303-305.
13A Crítica Literária tem como objetivo encontrar e distinguir as supostas fontes
literárias usadas pelos escritores, em nosso caso os escritores bíblicos. Por outro lado, se
usada positivamente, ela pode ser útil para evitar uma interpretação errônea do texto. Para
mais detalhes e uma extensa bibliografia ver: Norman L. Geisler, Baker Encyclopedia o f
Christian Apologetics (Grand Rapids - Michigan: Baker Books, 1999).
14Daqui em diante o Método Crítico-Histórico será chamado MCH. É também
conhecido como “alta-crítica,” ver: R. K. Mclver, “The Historical-Critical Method: The
Adventist Debate,” Ministry, Março 1996, 14. “criticismo histórico,” ver: A. L. Nations,
“Historical Criticism and the Current Methodological Crisis,” SJT 36/1 (1983): 59-71.
“criticismo bíblico,” ver: Gerhard F. Hasel, “The Origen o f the Biblical Sabbath and
the Historical-Critical Method: A Methodological Test Case,” Journal o f the Adventist
Theological Society 4/1 (1993): 25. “criticismo racionalista,” ver: Roy A. Harrisville and
Walter Sundberg, The Bible in Modern Culture: Theology and Historical-Critical Method
from Spinoza to Kdsemann (Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1995), 32. “liberal” ou
“científico moderno,” cf.: Roberto Pereyra, “El Método Histórico Crítico: Un Debate
Adventista Contemporáneo,” em Entender la Palabra, ed. Merling Alomía et al. (Coch-
abamba: UAB, 2000), 5 9 6 0 ‫־‬.
15Para mais esclarecimentos sobre o desenvolvimento do método crítico-histórico
ver: Edgar Krentz, The Historical-Critical Method (Philadelphia: Fortress Press, 1995).
Ver também: Alan Richardson, The Bible in the Age o f Science (Londres: 1961), 9-312.
16Cf.: Krentz, 14.
17Cf.: Hasel, Teologia do Antigo e Novo Testamento: Questões Básicas no Debate
Atual, 271.
18Douglas Stuart and Gordon D. Fee, Entendes o Que Lês?, trad. Gordon Chown,
O método crítico-histórico e suas consequências missiológicas | 375

deveria ser interpretado com uma metodologia puramente histórica, Isto é,


crítica, como qualquer outro documento antigo, fazendo distinção entre a
Escritura e a Palavra de D eus.19
Na visão da teologia protestante do Iluminismo, houve uma mudança
do pensamento ortodoxo quanto à natureza do Antigo Testamento. Este
deixou de ser aceito como uma coleção de revelação sobrenatural, e
começou a ser considerado como um conjunto de fontes provindas de uma
cultura tão antiga e distante para ser compreendida.20
Jean Astruc (1684-1766), um dos pioneiros em defender a idéia de que
o Pentateuco foi redigido a partir de diversas fontes, aplicou os princípios
da crítica literária radical à Bíblia.21 Apesar de suas opiniões não terem
sido aceitas prontamente, desenvolveu o critério dos nomes divinos, que
consistia em demonstrar que Moisés utilizou-se de dois autores principais,
cada um conhecendo apenas um nome para a divindade, um Elohim e o
outro YHWH, para a análise do livro de Gênesis. Este critério de divisão
de fontes acabou por ser a premissa fundamental da Hipótese Documental,
que serviu de base para a assim chamada, alta crítica.22

2a ed. (São Paulo: Vida Nova, 1998), 246. Ver também: Krentz, 19. e ainda: Hasel, Teolo-
gia do Antigo e Novo Testamento: Questões Básicas no Debate Atual, 273.
19Para maiores detalhes ver Johann Salomo Semler, Albhandlung Von Freier Un-
tersuchung des Canon, 4 vols., vol. 4 (Halle: 1771-1775). Ver também Wemer Georg
Kümmel, The New Testament: The History o f the Investigation o f Its Problems (Nash-
ville: Abingdon Press, 1972), 64. Semler afirmou que “a Escritura e a Palavra de Deus
são claramente distintas, pois conhecemos a diferença... Pertencem a Sagrada Escritura
Rute, Ester, Cantares de Salomão, etc., mas nem todos esses livros, chamados de sagra-
dos, pertencem à Palavra de Deus...” Johann Salomo Semler, Albhandlung Von Freier
Untersuchung des Canon, 4 vols., vol. 1 (Halle: 1771-1775), 75.
20Stefan Heidemann, “Der Deutschen Morgenland: Bilder des Orients in der
Deutschen Literatur Und Kultur Von 1770 Bis 1850,” (2008). http://www.unijena.de/
data/unijena_/faculties/phil/iskvo/Heidemann_Texte/Heidemann-Morgenland+2008-
Paradigmenwechsel.pdf [accessed Em 23 de Fevereiro de 2009 ].
21Hasel, Teologia do Antigo e Novo Testamento: Questões Básicas no Debate Atu-
al, 35. Sobre a divisão das fontes do Pentateuco conforme Jean Astruc ver Jr. Gleason L.
Archer, Merece Confiança o Antigo Testamento?, trad. Gordon Chown, 7a ed. (São Paulo:
Vida Nova, 2007), 466.
22Ver o Histórico da Teoria Documental do Pentateuco em: Gleason L. Archer,
465-476. Ver também: Greg King, “A Hipótese Documentária,” Revista Teológica do
SALT-IAENE 4/2, Jul-Dez (2000): 29-36.
376 I Leonardo G. Nunes

O termo “alta crítica” foi empregado pela primeira vez por


Johann Gottfried Eichhom (1752-1827) em sua segunda edição da sua
“Einsleitung” em 1787.23 Aplicou o critério dos nomes divinos à grande
parte do Pentateuco. Mas foi Julius Wellhausen (1844-1918) que deu
forma final à Hipótese Documental. Demonstrou um desenvolvimento
maduro do M CH em sua obra “Introdução à História de Israel.24‫ ״‬Ganhou
apoio entre vários eruditos alemães rapidamente, pois sua teoria estava em
conformidade com o dialeticismo hegeliano e o evolucionismo darwiniano
que predominavam nos círculos acadêmicos da época.25
A era do Iluminismo foi fundamental para a teologia bíblica, pois
trouxe mudanças que tiveram uma “influência definitiva,”26transformando-a
em uma ciência histórica que descreve o que os autores bíblicos pensavam,
isto é, “o que queriam dizer.”27 Desta forma, a interpretação das Escrituras
depende da filosofia predominante na época dos críticos bíblicos. Foi
também neste período que o supematuralismo foi rejeitado.28
Ainda neste contexto, desenvolveu-se a escola da história das
religiões,29 que tem por finalidade averiguar a influência que a literatura
extra-bíblica exerceu sobre as Escrituras, conhecida por este motivo como

23F. Prat, “Biblical Criticism,” Original Catholic Encyclopedia. (1914). http://oce.


catholic.com/index.php?title=Biblical_Criticism [accessed em 23 de fevereiro de 2009.].
24Geisler, 769. Ver maiores informações sobre a contribuição de Julius Wellhausen
à Hipótese Documental em Julius Wellhausen, Die Composition Des Hexateuchs Und
Der Historischen Bücher Des Alten Testaments, 2a ed. (Universidade de Princeton: G.
Reimer, 1889).; Julius Wellhausen, Prolegomena Zur Geschichte Israels, 5“ ed. (Berlin:
Druck und verlag von G. Reimer, 1899).
25Na dialética hegeliana, um conceito (tese) inevitavelmente origina um conceito
antagônico a si próprio (antítese), e a interação destes leva a um novo conceito (síntese).
Este por sua vez se toma a tese de uma nova tríade. (Detroit - NY: Columbia University
Press, 2000), s.v. “The Columbia Encyclopedia.” Ver também: Gleason L. Archer, 472.
26Hasel, Teologia do Antigo e Novo Testamento: Questões Básicas no Debate At-
ual, 273.
27Ibid.
28O supematuralismo se “fundamentava na necessidade de revelação e da autori-
dade da Escritura.” Hãgglund, 304.
29Para um estudo mais amplo sobre a Escola da Historia das Religiões ver: Ibid,
340-343.
O método crítico-histórico e suas consequências missiológicas | 3 7 7

método comparativo.30 De Wette (1780-1849) vê um “desenvolvimento


genético da religião,” começando pelo hebraísmo, passando pelo
judaismo até o cristianismo.31 Sobre o prisma da historia das religiões
existe urna descontinuidade entre AT e NT, e urna marcante rejeição do
supematuralismo também pode ser observada.32 Sob este ponto de vista,
deveria ser retirado da Escritura tudo aquilo que fosse considerado local e
temporal, a fim de chegar àquilo que é permanente.33A tarefa do criticismo
histórico era recuperar a verdade que repousa oculta na Biblia.34 Ñas
palavras de James A. Sanders, “a autoridade não repousa na Escritura,
mas entre as linhas da Escritura, em algo que pode ser recuperado apenas
pelas ferramentas que o Iluminismo nos dá.”35 Segundo Gabler (1753-
1826) os teólogos necessitariam distinguir entre os vários períodos da
velha e da nova religião.36 A ocupação, portanto, seria averiguar quais
conceitos do cristianismo seriam relevantes para o homem de hoje.37 Desta
forma introduziu o conceito de mito nos estudos do Novo Testamento.38

A Demitologização e o Existencialismo
O conceito de mito alcançou o seu ápice com o programa da
“demitologização” de Bultmann (1884-1976). O seu discurso em 1941
provocou um acentuado debate sobre o NT e a mitologia.39 Bultmann

30Odette Mainville, A Bíblia à Luz da Historia: Guia de Exegese-Histórico-Críti-


ca, trad. Magno Vilela (São Paulo: Paulinas, 1999), 1 0 4 1 0 5 ‫ ־‬.
31O. Merk, Biblische Theologie des Neuen Testaments in Ihrer Anfangszeit (Mar-
burg: 1970), 210-214.
32Hasel, Teologia do Antigo e Novo Testamento: Questões Básicas no Debate At-
ual, 274
33Ibid., 274.
34Jaques De Senarclens, Herdeiros da Reforma, trad. A. Sapsezian (São Paulo:
ASTE, 1970), 82.
35James A. Sanders, “From Sacred Story to Sacred Text: Canon as Paradigm.”
Religious Studies Review 15 (April 1989), 99.
36Johann Philipp Gabler, Kleinere Theologische Schriften, vol. 2 (Cambridge,
Massachusetts: Stettin, 1831), 186; ver também Kümmel, 99.
37Ibid., 100
38Krentz, 21.
39Para um estudo mais amplo sobre o discurso de Bultmann e o debate que este
378 I Leonardo G. Nunes

propunha que o NT foi escrito em linguagem mitológica e que existem


palavras que são incompreensíveis ao homem moderno e devem ser
demitologizadas, Isto é, reinterpretadas de maneira existencialista.40 A
tarefa da teologia, portanto, é demitologizar a pregação cristã, já que, “em
se tratando de linguagem mitológica, ela é inverossímil para o ser humano
de hoje...”41
N a teologia bultmanniana, a história não tem caráter decisivo em
questões teológicas, pois as verdades morais do NT podem ser aceitas
independentemente de se ter um conhecimento de quem ou em que época
essas verdades tenham sido apresentadas pela primeira vez.42 Krentz afirma
que na teologia existencial há um perigo de a história ser interiorizada.43
O objetivo dos evangelhos, portanto, não seria apresentar uma
biografia de Jesus, mas a mensagem de Jesus e das comunidades cristãs
primitivas.44 Ele via um desenvolvimento de unidades de tradições na
narrativa dos evangelhos que surgiram a partir das ansiedades da igreja
primitiva. Esta idéia era compartilhada por outros eruditos, como Hermann
Gunkel e M artim Dibelius, em cuja visão, os evangelhos são o resultado
de uma variedade de tradições orais pré-literárias, e que os evangelistas
teriam sido os editores dessas tradições. Os eruditos da escola da crítica
das formas buscavam encontrar o Sitz im Leben no qual as tradições orais
surgiram. Apesar de Bultmann não ter sido o seu pioneiro, este objetivo foi
por ele expandido.45

provocou ver: Hasel, Teologia do Antigo e Novo Testamento: Questões Básicas no De-
bate Atual, 301. Ver também: N ilo Duarte de Oliveira, “A Demitologização das Escrituras
de Rudolf Bultmann e a Reação Protestante” (Centro Universitário Bennett, 2004).
40Sobre a interpretação existencialista de Bultmann ver: Hâgglund, 352-353.
41Rudolf Bultmann, Crer e Compreender: Artigos Selecionados, ed. Walter Alt-
mann, trad. Walter O. Schlupp e Walter Altmann (São Leopoldo - RS: Sinodal, 1987), 14.
[Os grifos são do autor].
42Ibid., 22.
43Krentz, 31.
44Para um estado mais ampio ver Rudolf Bultmann, Jesus and the Word, trad.
Louise Pettibone Smith and Erminie Huntness Lanteno (New York: Scribner’s, 1958).
Ver também Hâgglund, 352.
45Para um estado mais amplo ver Rudolf Bultmann, The History o f the Synoptic
O método crítico-histórico e suas consequências missiológicas | 3 7 9

Enquanto a crítica da forma se relaciona com a busca das tradições


orais, a crítica literária investiga as fontes escritas dos evangelhos. Ela
se divide em uma série de disciplinas, como a crítica das fontes, a crítica
da redação, a crítica do gênero, a crítica da narrativa, o estruturalismo,
entre outros.46 Surge, então, a chamada “Nova Hermenêutica,” cujos
conceitos interpretativos foram tomados tanto de Bultmann quanto de
Barth. Embora trabalhassem com o texto de forma distinta, consideravam
que sua interpretação deveria ser baseada na mensagem do texto ou no
que o texto “falaria” ao leitor,47 quando este o abordasse através de uma
pergunta existencial.48
Uma das contribuições de Barth foi discordar da posição em que a
Bíblia é considerada um livro meramente humano. N a sua neo-ortodoxia,
contudo,49 a Bíblia se tom a a palavra de Deus quando há um encontro entre
a humanidade e divindade.50 Um encontro existencial entre a Escritura e
o homem.51 A semelhança entre a neo-ortodoxia e a nova hermenêutica
pode ser notada na contestação das verdades proposicionais, porque estas
verdades apenas existiríam campo existencial.52N a opinião de Zuck, a nova
Tradition, trad. John Marsh (New York Harper and Row, 1963). Ver também William
Baird, “N ew Testament Criticism,” em The Anchor Bible Dictionary, ed. David Noel
Freedman (New York: Doubleday, 1996), 732-733, 844.
46Para maiores esclarecimentos sobre estas disciplinas, ver: Baird, 732-736; ver
também Millard J. Erickson, Christian Theology (Grand Rapids: Baker, 1983-85), 81-
104; Gerhard F. Hasel, Understanding the Living Word o f God (Mountain View, Califór-
nia: Pacific Press, 1980).
47Stuart and Fee, 249.
48Werner G. Jeanrond, “History o f Biblical Hermeneutics,” em The Anchor Bible
Dictionary, ed. David N oel Freedman (New York: Doubleday, 1992), 443.
49A neo-ortodoxia é uma corrente teológica que surgiu no século XX. Segundo
esta corrente teológica, “a Bíblia não é a revelação de Deus, mas um testemunho dessa
revelação.” Pereyra, 139.
50“O Criador pode vir ao nosso encontro, pode revelar-Se a nós e, assim, salvar-
nos do pecado.” Ibid. Em relação à teologia do encontro na erudição adventista, ver:
Fernando L. Canale, “Revelação E Inspiração,” em Compreendendo as Escrituras, ed.
George W. Reid (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2007), 60.
51Antonio M. Artola e José Manuel Sánchez Caro, A Bíblia e a Palavra de Deus,
trad. Frei Antônio Eduardo Quirino de Oliveira, vol. 2o (São Paulo: AM Edições, 1996),
270.
52Roy B. Zuck, A Interpretação Bíblica: Meios de Descobrir a Verdade da Bíblia,
trad. Cesar de F. A. Bueno Vieira (São Paulo: Vida Nova, 1994), 62-63.
380 I Leonardo G. Nunes

hermenêutica leva o texto bíblico a “ter o sentido que o leitor desejar,”53


pois a verdade reside na experiência do leitor (campo existencial).54

Reação ao Método Crítico-Histórico


O Método Crítico Histórico (MCH) começou a ser questionado mesmo
fora dos círculos mais conservadores. Karl Barth (1886 -1 9 6 8 ) propôs uma
crítica ao método declarando ser este semelhante à doutrina da infalibilidade
defendida pela igreja romana, visto que ambas substituem a autoridade
divina das Escrituras por uma autoridade humana.55 Paul Tillich (1886 -
1965) declarou a impossibilidade de que algum método possa reivindicar
ser apropriado para todo assunto. Para explicar os conteúdos da fé cristã,
propôs o método da correlação, utilizando-se de perguntas existenciais e de
respostas teológicas que se relacionam de forma mútua e interdependente.56
Tillich, através do método da correlação, procurou “demonstrar que
a mensagem cristã é a resposta a todos os problemas envolvidos no
humanismo autocrítico; é o que chamamos hoje de existencialismo.”57

53Ibid., 63
54Ibid.
55Karl Barth, Church Dogmatics, trans. G. T. Thompson, vol. 1 (Edimburgo: T. &
T. Clark, 1963), 119; ver também Norman Gulley, Cristo Viene! Un Enfoque Cristocén-
trico de Los Enventos de Los Últimos Días, trad. David P. Gullón, Ia ed. (Buenos Aires:
Asociación Casa Editora Sudamericana, 2003), 103.
56O método da correlação apresentada por Tillich é diferente do apresentado por
Troeltsch que apresentaremos mais a frente. Para um estado mais ampio sobre o método
da correlação de Tillich ver: Paul Tillich, Systematic Theology, 3 vols. (Chicago: Uni-
versity o f Chicago, 1967). Esta obra foi publicada em português, em um volume único,
sob o título: Paul Tillich, Teologia Sistemática, trad. Getúlio Bertelli (São Paulo: Sinodal
- Paulinas, 1967). Veja também: Cláudio Carvalhaes, “Uma Crítica das Teologías Pós-
Modernas à Teologia Ontológica de Paul Tillich,” Universidade Metodista de São Paulo
http://www.metodista.br/ppc/correlatio/correlatio03/uma-critica-das-teologias-pos-mod-
emas-a-teologia-ontologica-de-paul-tillich/ (accessed em 23 de Março de 2009); sobre
a relação de perguntas existenciais e respostas teológicas, ver David Tracy, “Tillich and
Contemporary Theology,” em The Thought o f Paul Tillich, ed. Wilhelm Pauck James
Luther Adams, Roger Licoln Shinn (San Francisco: Harper and Row Publishers, 1985),
266-267.
57Paul Tillich, Historia do Pensamento Cristão, 2a ed. (São Bernardo do Campo:
ASTE, 2000), 287-289.
O método crítico-histórico e suas consequências missiológicas | 381

A teologia de Tillich serviu como um referencial para urna


nova postura teológica pós-modema, já que a correlação permitiu um
questionamento dos dogmas da teologia.58 De fato a agenda pós-modema
nega a possibilidade de se explicar tudo sobre o homem e o mundo através
de uma meta-narrativa como a Bíblia.59
Para William Baird o M CH tem se tomado crescentemente
problemático, e a variedade de propostas indica uma busca para um novo
paradigma que ainda não foi encontrado.60 Alguns teólogos histórico-
críticos chegaram a falar em falência da crítica bíblica.61 Walter Wink
(1935), ex-professor do Union Theological Seminary, em Nova Iorque,
declarou em seu livro que o MCH entrou “em bancarrota.”62 A mesma
posição foi defendida por Gerhard M aier em seu livro The End o f the
Historical-Critical Method, ao anunciar o fracasso do M CH,63 “porque
apresenta uma impossibilidade intema.”64 M aier também enfatizou a
necessidade da busca de um método alternativo, que levasse em conta a
revelação divina da Escritura. Propôs, então, 0 método bíblico-histórico,65

58Carvalhaes, (accessed em 23 de Março de 2009).


59Carlos Ceia, “Metanarrativa,” E-Dicionário de Termos Literários (2005). http://
www2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/M/metanarrativa.htm [accessed em 23 de março de
2009],
60Baird, 725-736.
61D. A. Carson, “Biblical Interpretation and the Church: Text and Context.,” (Ex-
eter: Paternoster Press, 2000), 46.
62Walter Wink, The Bible in Human Transformatin: Toward a New Paradigma for
Biblical Study (Filadélfia: Fortress Press, 1973), 1; veja ainda Wayne G. Rollins, “The
Second Shoe: An Appreciation and Critique o f Walter Wink’s the Fluman Being “ Cross
Currents. 2003, 296; veja também: Gerhard F. Hasel, A Interpretação Bíblica Hoje, trad.
Carlos A Trezza (Itapecerica da Serra - SP: SALT - IAE, 1985), 84.
63Gerhard Maier, The End o f the Historical-Critical Method, trad. Edwin W.
Leverez and Rudolph F. Norden (Eugene: W ipf& Stock, 2001), 11-25 ver também Hasel,
A Interpretação Bíblica Hoje, 87-91.
64Maier. 23; ver também Richard M. Davidson, “A Personal Pilgrimage,” Journal
o f the Adventist Theological Society 1/1 (1990), 49.
65Também conhecido como “Método Gramático-Histórico” ver: Richard M. Da-
vidson, “Biblical Interpretation,” em Handbook o f Seventh-Day Adventist Theology, ed.
Raoul Dederen (Hagerstown, MD: Review and Herald Publishing Association, 2000),
90, ver: Hasel, A Interpretação Bíblica Hoje, 03; “método literário-gramático-histórico,”
ver: William Larkin Jr, Culture and Biblical Hermeneutics (Grand Rapids: Baker Book
382 I Leonardo G. Nunes

o qual “é baseado no contexto bíblico de inspiração, na atividade de Deus


na História através de atos e da palavra, no testemunho da Escritura sobre si
mesma, no princípio da Bíblia como sua intérprete, etc.”66 Brevard Childs
(1923 - 2007) apontou para uma abordagem pós-crítica, ao fazer teologia
dentro do contexto do cânon, propondo assim o que viria a ser conhecido
como um a “nova teologia bíblica.”67
O MCH, entretanto, continua vivo,68 sendo utilizado de maneiras
variadas, dentre as quais, destacamos o “contextualismo,”69 “criticismo
orientado pelo leitor,”70bem como outras versões modificadas do método.71
O MCH, porém, mantém seu “axioma básico” como bem salientou Maier,
que é fazer distinção entre a Escritura e a Palavra de Deus, isto é, separar

House, 1988). Davidson prefere chamar “interpretação bíblico-histórica,” ver: Davidson,


“A Personal Pilgrimage,” 55. Este foi 0 método da Reforma protestante e é também da
Igreja Adventista do Sétimo Dia, ver: Davidson, “A Personal Pilgrimage,” 42.
66Hasel, A Interpretação Bíblica Hoje, 91.
67Brevard S. Childs, Biblical Theology in Crisis (Philadelphia: Westminster, 1970),
100; ver também Gerald T. Sheppard, “Canonical Criticism,” em The Anchor Bible Die-
tionary, ed. David N oel Freedman (New York: Doubleday, 1992), 861-866; Hasel, Teolo-
gia Do Antigo E Novo Testamento: Questões Básicas No Debate Atual, 135-136.
68Augustus Nicodemus Lopes, “O Dilema do Método Histórico-Crítico na Inter-
pretação Bíblica,” Fides ReformataX, N° 1 (2005). http://www.mackenzie.br/fides_refor-
mata.html [accessed em 25 de Março de 2009],
69Nesta abordagem a Bíblia é vista como qualquer outro livro ou documento, isto
é, de origem puramente humana. Os contextos do Oriente Próximo, (estratificação social,
realidades e dinâmicas econômicas, estruturas familiares e tradições sociais, dinâmicas
psicológicas e convenções literárias e retóricas) no qual a Bíblia foi escrita, são os únicos
permitidos para a interpretação da Bíblia. Ver: Robin Scroggs, “Can N ew Testament The-
ology Be Saved? The Threat o f Contextualisms,” Union Seminary Quarterly Review 42
n° 1-2 (1988), 17-18.
70Nesta abordagem o significado do texto é buscado no leitor moderno e não nas
Escrituras. Ver análise e propósito em: Edgar V. McKnight, Post-Modern Use o f the Bi-
ble: The Emergence o f Reader-Oriented Criticism (Nashville: Abingdon, 1988).
71A questão do método crítico-histórico tem divido os eruditos adventistas em três
grupos: “a) os que aceitam o método com suas pressuposições; b) os que creem que uma
versão modificada do método pode ser útil independentemente de suas pressuposições
fundamentais; e c) os que descartam o método porque este não pode divorciar-se de suas
pressuposições ideológicas cépticas.” Pereyra, 68-69. A “Comissão de Métodos de Es-
tudo da Bíblia” da Associação Geral, votou no Concilio Anual de 1986 no Rio de Janeiro,
o relatório dobre o uso do MCH na erudição adventista. Ver: “Métodos De Estudos Da
Bíblia,” em Compreendendo as Escrituras: Uma Abordagem Adventista, ed. George W.
Reíd (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2007), 329-337.
O método crítico-histórico e suas consequências missiológicas | 383

o elemento divino do humano.72 Nas palavras de McKnight, o MCH


coloca “a razão humana e a supremacia da razão como critério final para
a verdade.”73 Ninguém há, portanto, que se utilize do MCH, não importa
como, que considere “a Biblia como a plena Palavra de Deus.”74
Em resumo, a partir do iluminismo, portanto, a razão tomou-se
o critério último e final do conhecimento. Este conceito influenciou a
maneira de interpretar as Escrituras. Neste contexto, muitos pesquisadores
tentaram explicar a Bíblia de acordo com as teorias que predominavam
nos círculos acadêmicos da época, como o darwinismo e a filosofia
hegeliana. As verdades proposicionais da Bíblia foram questionadas, sua
historicidade foi colocada posta em dúvida, bem como a sua reivindicação
como guia para o homem moderno. Dentre essas teorias a demitologização
e o existencialismo ocuparam lugar de destaque, pois, em sua interpretação
da Escritura, esta deveria ser baseada na mensagem que o texto falaria ao
leitor, adquirindo um sentido peculiar ao investigador. Desta forma, este
pensamento tom a a Bíblia um livro comum, isto é, sem autoridade divina.
Para chegarem a estas conclusões, foram utilizadas na abordagem do texto
bíblico, técnicas literárias de cunho crítico e histórico.
As diversas abordagens do MCH estão fundamentadas em três
pressuposições básicas organizadas por Em st Troeltsch (1865-1923),75

72Maier, 16-17. Ellen G. White afirma que a Bíblia possui a mesma união divino-
humana manifestada em Jesus: “A união do divino e humano, manifestada em Cristo,
existe também na Bíblia. As verdades reveladas são todas ‘dadas por inspiração divina’;
contudo, elas são expressas em palavras de homens e adaptadas às necessidades huma-
nas. Assim, pode ser dito do Livro de Deus, como foi dito de Cristo, que ‘a Palavra se
fez carne e habitou entre nós’. E esse fato, longe de ser um argumento contra a Bíblia,
deve fortalecer a fé nela como a palavra de Deus.” Ellen G. White, Testemunhos Para
a Igreja, trad. Cesar Luis Pagani, 9 vols., vol. 7 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,
2000), 747.
73McKnight, 45.
74Gerhard F. Hasel, “The Crisis o f the Authority o f the Bible as the Word o f God,”
Journal o f the Adventist Theological Society 1/1 (1990), 20.
75Para a articulação destes três princípios ver: Emst Troeltsch, “Historiography,” in
Encyclopedia o f Religion and Ethics, ed. James Hastings (New York: Charles Scribner’s
Sons, 1914), 716-723. Emst Troeltsch, Gesammelte Schrifien, vol. 2 (Tubingen: J.C.B.
Mohr, 1913), 729-753. Para conhecer a contribuição de Emst Troeltsch ver: Robert Mor-
384 I Leonardo G. Nunes

que aplicou à hermenêutica princípios semelhantes aos praticados em


outras ciências, como a crítica, a analogia e a correlação.76 Estes princípios
básicos permeiam o método crítico histórico, os quais serão apresentados
a seguir.

O Método Crítico-Histórico e suas pressuposições


A premissa de que os procedimentos utilizados nas ciências seculares
devem ser aplicados na Teologia, ficou conhecido como norma secular.77
Esta premissa levou Troeltsch a organizar os três princípios básicos que
norteiam o MCH.
O primeiro princípio é o da crítica, o qual sustenta que os relatos
históricos a que temos acesso hoje, por si só não podem ser considerados
como fatos históricos. O historiador deve usar todo o conhecimento de
que dispõe para sua análise, incluindo o que ele pensa ser possível ou
não.78 Desta forma é claramente permitido pressuposições e preconceitos
racionalistas em relação à historicidade da Escritura. Em outras palavras,
crer em milagres é contrário à crítica histórica, e para fazer verdadeira
crítica histórica é necessário ser cético em relação à intervenção divina na
história.79

gan, Ernst Troeltsch: Writings on Theology and Religion (Atlanta: John Knox, 1977).;
ver também Samuel Koranteng-Pipim, Receiving the Word: How New Approaches to the
Bible Impact Our Biblical Feith and Lifestyle (Michigan: Berean Books, 1996), 64.
76Uwe Wegner, Exegese do Novo Testamento: Manual de Metodologia (São Leo-
poldo Sinodal - Paulus, 1998), 18.
77Davidson, “Biblical Interpretation,” 94. Pode-se observar esta aplicação na teo-
logia de Gabler e em sua forte ênfase histórica, a aplicação dos mesmos métodos utiliza-
dos em ciências seculares na ciência bíblica. Ver: Henning Graf Reventlow, “History o f
Biblical Theology,” em The Anchor Bible Dictionary, ed. David N oel Freedman (New
York: Doubleday, 1992), 485.
78Norman L. Geisler, Miracles and the Modern Mind: A Defense o f Biblical Mira-
cles (Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1992), 77.
79Ibid, 77-78. “Quando aplicado à Bíblia, 0 Método Crítico-Histórico levou muitos
a reinterpretar suas referências a milagres e intervenções sobrenaturais como artifícios
retóricos humanos e sua mensagem como obsoleta em face do moderno ambiente cientí-
fico.” Timm, “Antecedentes Históricos da Interpretação Bíblica Adventista,” 5.
O método crítico-histórico e suas consequências missiológicas | 385

Não havendo verdade histórica absoluta, mas apenas possibilidades,80


o pesquisador, portanto, deve se utilizar de uma dúvida metodológica,
questionando o objeto de sua análise. Isto, na prática, significa que
as declarações bíblicas serão submetidas a uma avaliação “de maior
ou menor probabilidade histórica.”81 Wilhelm Egger declara em sua
Metodologia do Novo Testamento que “o estudo dos fatos históricos
não lê os textos neotestamentários como testemunhos de fé, mas como
fontes.”82 A história, no M CH age como o paradigma pelo qual se
deve medir algo como falso ou verdadeiro.83 Desta forma, é observado
que a Escritura acaba por ser subordinada à razão humana. “Assim, o
investigador interroga, avalia e julga a informação bíblica livremente
sobre a base da relatividade de seus juízos que se fundamentam
num ceticismo sistemático, a chave para chegar à verdade.”84
O segundo princípio é o da analogia, que é considerado “a chave de
toda compreensão histórica.”85 Somente podem ser avaliados os eventos
de um passado desconhecido mediante a analogia com eventos conhecidos
do presente. Desta forma, alguns argumentam que os milagres não devem
ser cridos, já que, eles não se relacionam com nenhum evento atual.86 Uwe
Wegner, teólogo luterano, admite que se o pressuposto da analogia for
rigorosamente seguido, inibiría a aceitação da intervenção de Deus na
história de maneira extraordinária, como se dá na ressurreição de Jesus.87
Ao assumir que todos os eventos do passado e do presente são
uniformemente os mesmos, o pesquisador acaba por contrariar o
pensamento científico, já que nem sempre eventos do passado são de fato

80Mark Ellingsen, “Modem Science, Critical Historiography, and Their Challenge


to Biblical Authority: It’s Everybody’s Problem,” Faith and Missions 10 (Fall 1992), 47.
81Wegner, 18.
82Wilhelm Egger, Metodologia do Novo Testamento: Introdução aos Métodos
Linguísticos e Histórico-Críticos, trad. Johan Konings and Inés Borges, 2a ed. (São Paulo:
Loyola, 2005), 193.
83Senarclens, 89.
84Cf. Pereyra, 65.
85Senarclens, 88.
86Geisler, Baker Encyclopedia o f Christian Apologetics, 738.
87Wegner, 18-19.
386 I Leonardo G. Nunes

uniformes com os do presente; muitos eventos do passado são singulares.88


Ademais, no princípio da analogia a experiência presente do pesquisador
é o critério da interpretação da Escritura,89 o que o tom aria um princípio
subjetivo.
O terceiro princípio é o da correlação que pressupõe que
existem ligações entre um determinado evento histórico pretendido e
seüs antecedentes ou causas.90 Os fenômenos históricos estão inter-
relacionados,91 ou seja, cada evento da história é parte de um sistema, e
qualquer alteração numa parte altera o todo.92 Desenrolando-se, assim,
numa cadeia de causa e efeito históricos explicados como tendo origem
natural e/ou humana,93 metodológicamente retirando, então, o espaço
para a intervenção sobrenatural.94 Os eventos bíblicos sobrenaturais, isto
é, os milagres causados pela divindade, são vistos apenas como “causas
históricas imanentes.”95 Os milagres são, deste modo, atribuídos a causas
humanas ou naturais, não divinas. Assim, a Bíblia toma-se uma obra
literária como qualquer outro livro, apenas um documento de origem
humana.96
Além destes três princípios iniciais do MCH, há outras
pressuposições oriundas destes princípios, tais como desunião da Escritura,
condicionamento cultural, e a dicotomía entre o elemento divino e humano
na Escritura.

88Geisler, Baker Encyclopedia o f Christian Apologetics, 738-739. Para um estudo


mais amplo sobre 0 princípio da analogia, ver: Ellingsen, 49-51. ver também: Davidson,
“Biblical Interpretation,” 90; ver ainda: Geisler, Miracles and the Modern Mind: A De-
fense o f Biblical Miracles, 75.
89Davidson, “Biblical Interpretation,” 90.
90Ellingsen, 49.
91Wegner, 18-19.
92Senarclens, 88
93Pereyra, 64
94Davidson, “Biblical Interpretation,” 91.
95Rudolf Bultmann, Existence and Faith, trad. Schubert M. Ogden (New York:
World, 1960), 292.
96George Eldon Ladd, The New Testament and Criticism (Michigan: Eerdmans
1967), 39.
O método crítico-histórico e suas consequências missiológicas | 3 8 7

Para o pressuposto da desunião da Escritura,97as repetições nos textos


bíblicos são vistas como indicadores da existência de uma compilação de
várias fontes para redação do texto bíblico, havendo, portanto, mais de
um autor/redator, que ora utilizavam a mesma fonte e outras vezes fontes
diversas.98 Mainville considera que alguns livros da Bíblia foram escritos
durante várias décadas e outros levaram vários séculos.99 Existe uma
depreciação do Antigo Testamento em relação ao Novo Testamento, com
isto, a unidade dogmática da Escritura é quebrada.100
N a pressuposição do condicionamento cultural, existiría uma
dependência cultural do texto bíblico para com os textos dos antigos povos
do Oriente Próximo e do mundo greco-romano.101 Procura-se identificar o
ambiente vital que gerou, ou motivou a utilização de um gênero literário
específico.102 Sendo assim, o teólogo deve fazer distinção entre aquilo que
pertence inerentemente a uma cultura e/ou intervalo de tempo e aquilo
que é para todos os tempos e universal.103 O programa de demitologização
e a crítica da forma aplicada por Bultmann demonstram a visão de que
a Bíblia está culturalmente e temporalmente condicionada, e que ela se
utilizou da religião e filosofia correntes em seu tem po.104

97Carson, 45.
98Mainville, 65-87.
99Ibid., 39.
,00Reventlow, 485. Stanley concorda que o resultado final do MCH destróí a uni-
dade das Escrituras. Cf: Stanley N. Gundry, “Typology as a Means o f Interpretation: Past
and Present,” Journal o f the Evangelical Theological Society 12/4 Fall (1969), 237-238.
Ver também: Gerhard Von Rad, “Typological Interpretation o f the Old Testament,” em
Essays on Ot Hermeneutics, ed. C. Westermann (Richmond: John Knox Press, 1963),
22; Gerhard von Rad, Old Testament Theology (Edinburgh: 1965), 366, publicado em
português sob 0 título: Gerhard von Rad, Teologia do Antigo Testamento, trad. Francisco
Catao, 2a ed. (São Paulo: Aste, 2006).
101Davidson, “A Personal Pilgrimage,” 44, ver também: Mainville, 108-109.
102Mainville, 92-93
103Werner E. Lemke, “Theology: Old Testament,” em The Anchor Bible Diction-
ary, ed. David Noel Freedman (New York: Doubleday, 1992), 451.
104Brian A. Shealy, “Redrawing the Line between Hermeneutics and Application,”
M aster’s Seminary Journal 8/1 Spring (1997), 86. Para um estudo mais amplo ver as
seguintes obras: Bultmann, Jesus and the Wor, 8-11; Bultmann, The History o f the Syn-
optic Tradition, 244-45; Rudolf Bultmann, Faith and Understanding ed. Robert W. Funk,
388 I Leonardo G. Nunes

Já que os textos da Escritura estão condicionados culturalmente e


temporalmente, pode-se deduzir que os elementos divinos e humanos da
Escritura devem ser separados. Os teólogos pró-feminismo argumentam
que os textos bíblicos são historicamente condicionados J á que os escritores
bíblicos viveram em urna época patriarcal, e por isso escreveram de forma
preconceituosa em relação às mulheres. Os textos bíblicos, portanto, devem
ser “lidos com suspeita.”105 E a solução apresentada é reinterpretar, isto é,
remover os elementos culturais a fim de se resgatar a palavra de D eus.106
A distinção entre o que é ou não “Palavra de Deus” tem permanecido
até os nossos dias, mesmo em publicações consideradas evangélicas.107As
partes consideradas inspiradas, seriam apenas aquelas que se referem aos
valores morais e à fé.108 Os livros da Bíblia, desta forma, não são totalmente
inspirados, e muitas das suas declarações não são verdadeiras e que porções
de suas histórias não são históricas de fato.109 Esse pensamento acaba por
colocar todo o texto sob o juízo da razão humana.110

trad. Louise Pettibone Smith (New York: Harper and Row, 1966), 247-52; Rudolf Bult-
mann, New Testament and Mythology, trad. Schubert M. Ogden (Philadelphia: Fortress,
1984), 2-3; Bultmann, Existence and Faith, 58-60.
105Alice L. Laffey, Introdução ao Antigo Testamento: Perpectiva Feminista, trad.
José Raimundo Vidigal (São Paulo: Paulus, 1994), 10-11. Ver também: Edward E. Hind-
son, “The Inerrancy Debate and the Use o f Scripture in Counseling,” Grace Theological
Journal 3/1 Spring (1982).
106Laffey, 10-11; ver também Hindson. Para maiores esclarecimentos sobre teo-
logia feminista ver: Wanda Deifelt, “Temas e Metodologias da Teologia Feminista,” em
Gênero e Teologia: Interpelações e Perspectivas, ed. SOTER (São Paulo: Loyola, 2003).
Ver também: Elisabeth Schussler Fiorenza, As Origens Cristãs a Partir da Mulher: Uma
Nova Hermenêutica, trad. João Rezende Costa (São Paulo: Paulinas, 1992).
107Robert K. DeVries, “Book Reviews,” Bibliotheca Sacra 120 Apr-Jun (1963),
176.
108Louis Berkhof, Princípios de Interpretação Bíblica, trad. Merval Rosa (Rio de
Janeiro: JUERP, 1994), 35.
109Barry Waugh, “Manuscript by B. B. Warfield Concerning the Trial o f Charles
A. Briggs,” Westminster Theological Journal 66/2 (2004), 406. Ver também: William T.
Riviere, “The Word and Some Notions o f Today,” Bibliotheca Sacra Volume 93 Jul/Sep
(1936), 288-300.
110Merrill F. Unger, “The Inspiration o f the Old Testament “ Bibliotheca Sacra
Volume 107 - Oct/Dec (1950), 442.
O método crítico-histórico e suas consequências missiológicas | 3 8 9

O Método Crítico-Histórico, a Fé e a Missão

Um dos resultados do MCH é o de que a Bíblia tem contradições e


não é totalmente confiável.111 Sendo assim, a necessidade de fé em Deus é
minimizada.112Além de ser “pernicioso para a fé,” 113 o MCH também traz
implicações para a missão da igreja. É sobre esta relação entre o MCH, a
fé e a missão que abordaremos agora.

O Método Crítico-Histórico e a fé
Sendo que o uso do M CH no processo hermenêutico destroi a fé nas
Escrituras como aPalavra de Deus, faz-se necessário uma breve análise sobre
as conseqüências que isto traz à vida do crente. Michael Green observou que
o uso do M CH estava destruindo a fé daqueles que estavam se preparando
para o ministério.114 Frank Hasel argumenta que as pressuposições afetam
diretamente a teologia, a autoridade que as Escrituras têm na vida do crente,
além de afetar também a doutrina. E como conseqüência, afeta a identidade
espiritual e teológica da igreja, bem como a sua m issão.115 Ele também
argumenta que o orgulho leva o intérprete a exaltar a razão humana como
0 “árbitro final do que alguém deve conhecer, crer e obedecer” e como
resultado deprecia a inspiração bíblica, bem como sua autoridade divina.116

111Moisés Silva, “Abordagens Contemporâneas na Interpretação Bíblica,” Fides


Reformata 4/2 (1999). Ver também Lopes, 122.
112“Métodos de Estudos da Bíblia,” 329.
113Lopes, 131.
114Michael Green, The Empty Cross o f Jesus (Downers Grove, Illinois: Inter Var-
sity Press, 1984), 158.; ver também Norman Gulley, Christ is Coming! (Hagerstown:
Review and Herald, 1998), 96.
115“A aceitação de pressuposições bíblicas cristãs levará a conclusões muito dife-
rentes de, por exemplo, um compromisso com pressuposições naturalistas e mesmo
ateístas. Sendo que o método de interpretação é inseparável de suas pressuposições, as
respectivas pressuposições invariavelmente influenciam 0 resultado. Se o método de in-
terpretação exclui intervenções sobrenaturais, as Escrituras não serão lidas e compreen-
didas como relatos verdadeiros e confiáveis, mas interpretadas diferentemente.” Hasel,
“Pressuposições na Interpretação das Escrituras,” 27.
116“... A pessoa orgulhosa é caracterizada por uma mentalidade arrogante que se
eleva a si mesma acima de Deus e de Sua Palavra e, assim, perde qualquer equilíbrio que
390 I Leonardo G. Nunes

Apesar de um a pesquisa feita em 2200 artigos e livros publicados


nos últimos 30 anos indicar que 75% dos estudiosos aceitam a ressurreição
como um fato,117 cabe notar que para alguns defensores do MCH, os
milagres, incluindo a ressurreição, não são históricos, como pode ser
expresso nas palavras de Bultmann: “Sua ressurreição não é um evento
histórico.”118 de fato o sobrenatural é considerado mito, ou ainda fraude,
mesmo que seja fraude piedosa.119
Em 1911, em seu livro Atos dos Apóstolos, Ellen G. White, porém, já
falava dos efeitos devastadores da crítica à Bíblia ao afirmar:

Para muitos a Bíblia é um a lâmpada sem óleo, porque


voltaram a mente para canais de crenças especulativas que
produzem má compreensão e confusão. A obra da “alta
crítica,” em dissecar, conjecturar, reconstruir está destruindo
a fé na Bíblia como uma revelação divina. Está roubando

podería originar-se de um reconhecimento da verdadeira posição de alguém em relação a


Deus e à Sua Palavra,” ibid. 30. O orgulho de opinião é desesperador, incurável e ainda
impede o crescimento. White, 199-200. Além do orgulho, Hasel lista também a auto-
ilusão que “também afeta a devida compreensão da Palavra escrita de Deus” (2Tm 4:3-4;
cf. 3:13); a dúvida “que se aprofunda quando uma pessoa duvidosa é confrontada com o
testemunho verbal ou escrito da verdade” (cf. Jo 5:46-47); distância e distorção “criada
pelo pecado leva a uma distorção do nosso conhecimento de Deus”; e a desobediência
que toma o desobediente “incapaz de ouvir corretamente e compreender a Palavra de
Deus.” Hasel, “Pressuposições na Interpretação das Escrituras,” 30-32. Sobre o papel da
razão na teologia ver: Frank M. Hasel, “Theology and the Role o f Reason,” Journal o f the
Adventist Theological Society 4/2 (1993), 172-198; ver também o capítulo Fé, Razão e 0
Espírito Santo, em: John T. Baldwin, “Fé, Razão e o Espírito Santo na Hermenêutica,” em
Compreendendo as Escrituras: Uma Abordagem Adventista ed. George W. Reid (Engen-
heiro Coelho, SP: Unaspress, 2007), 15-26.
117Gary Habermas, “Resurrection Research from 1975 to the Present: What Are
Critical Scholars Saying?,” Journal for the Study o f the New Historical Jesus 3 (2005).
http://www.garyhabermas.com/articles/J_Study_Historical_Jesus_3-2_2005/J_Study_
Historical_Jesus_3-2_2005.htm [accessed em 23 de Abril de 2009].
118Bultmann, Crer e Compreender: Artigos Selecionados, 246.
119Baird, 730. Ver também: Gerd Luedemann, The Resurrection o f Jesus: History,
Experience, Theology, trad. John Bowden (Fortress Press, 1994). Jr. Gleason L. Archer,
“Modem Rationalism and the Book o f Daniel,” Bibliotheca Sacra 136 (1979). Thomas
S. McCall, “The Biblical Impact o f the Revised Egyptian History “ Conservative Theo-
logical Journal Volume 2 (1998). Philip Schaff and David Schley Schaff, “History o f the
Christian Church,” (Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1997), 83.
O método crítico-histórico e suas consequências missiológicas | 391

a Palavra de Deus em seu poder de controlar, erguer e inspirar


vidas humanas.120
A razão, portanto, deve estar subordinada à autoridade divina, pois

Deus deseja que 0 homem exercite suas faculdades de


raciocínio; e o estudo da Bíblia robustecerá e elevará 0 espírito
como nenhum outro. Convém, entretanto, acautelar-nos contra
o deificar a razão, a qual está sujeita à fraqueza e enfermidade
humanas. Caso não queiramos que as Escrituras se fechem
ao nosso entendimento, de modo que as mais claras verdades
deixem de ser compreendidas, devemos ter a simplicidade e a
fé de uma criancinha, estar dispostos a aprender, buscando o
auxílio do Espírito Santo.... Ao lermos a Bíblia, a razão deve
reconhecer uma autoridade superior a si própria, e o coração
e a inteligência se devem curvar perante o grande EU SOU.121

O uso do MCH diminui a autoridade da Bíblia, impedindo que


haja “uma verdadeira história da salvação” na vida do crente,122 destrói
“a fé nos ensinos da Palavra de Deus e 0 plano da salvação,”123 bem
como a “confiança em Jesus Cristo como Redentor da raça humana.” 124
Ao diminuir ou negar a fé nas Escrituras, por mais que sejam usados
métodos rigorosos de interpretação, tomar-se-á impossível ao leitor
compreender sua mensagem.125Nas palavras de Jesus, “se alguém quiser
fazer a vontade dEle, conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus
120Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, trad. Carlos Trezza, 9a ed. (Tatuí, SP Casa
publicadora Brasileira, 2006), 474.
121Ellen G. White, Caminho a Cristo, trad. Isolina A. Waldvogel (Tatuí - SP Casa
Publicadora Brasileira, 2003), 110. White também afirma que: “Quando homens, em seu
juízo finito, julgam necessário fazer um exame de textos para definir o que é inspirado e
o que o não é, estão dando um passo adiante de Jesus a fim de mostrar-Lhe um caminho
melhor do que aquele em que Ele nos tem guiado.” Ellen G. White, Mensagens Escolhí-
das, trans. Isolina A. Waldvogel e Luiz Waldvogel, 3a ed., 3 vols., vol. 1 (Santo André, SP:
Casa Publicadora Brasileira, 1985), 17.
122Hasel, “The Crisis o f the Authority o f the Bible as the Word o f God,” 27.
123C. M. Snow, “The N ew Salvation,” Review and Herald, Nov. 28. 1907, 5.
124C. M. Snow, “The Higher Critics and God’s Word,” Review and Herald, Nov.
28. 1907, 04.
125“Métodos de Estudos da Bíblia,” 337.
392 I Leonardo G. Nunes

ou se eu falo por mim mesmo” (Jo 7:17). Segundo o apóstolo Paulo a


“fé vem pelo ouvir,126 e o ouvir pela palavra de Deus” (Rm 10:17).
É necessário, pois, deixar de ler a Bíblia como um livro comum, e ter
disposição para obedecê-la, pela fé.127 N a primeira parte desta pesquisa
procurou-se analisar a relação entre o M CH e a fé. Desde que o MCH
minimiza a fé, quais seriam os resultados da aplicação deste método
para a missão da igreja? Este será o próximo tópico a ser abordado.

O Método Crítico-Histórico e a missão


Os textos que conhecemos como “a grande comissão” fazem
referência a dois temas: a fé e a missão.128 Sob a fé no Cristo ressuscitado,
os discípulos levaram o evangelho a “todo o mundo” conhecido.129Nenhum
historiador contesta que esta fé, desde seu início, tem sido fundamental
para a proclamação da mensagem cristã.130 O MCH, contudo, como
mencionamos acima, nega o elemento sobrenatural, e também de maneira
específica a ressurreição de Jesus, trazendo, desta forma, um prejuízo para
o cumprimento da missão, pois “somente o evento da ressurreição de Jesus
e a confissão desta ação de Deus cumprida em Jesus tom a compreensível
o desenvolvimento da missão cristã primitiva.” 131 Paulo observou que “se
Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a vossa fé” (1 Co 15:10).

126Do grego akoe que significa: a) 0 sentido da “audição”; b) o ato de “ouvir” ou


ainda 0 “ouvir da fé” cf. Gálatás 3:2,5, traduzido na ARA como “pregação da fé”; cf.: W.
E. Vine, Merril F. Unger, and William White, Dicionário Vine: O Significado Exegético
e Expositivo das Palavras do Antigo e do Novo Testamento, trad. Luis Aron de Macedo
(Rio de Janeiro CPAD, 2006), 1483. Também significa “o recebimento de urna mensa-
gem,” algo mais do que um sentido da “audição,” ver: Vine, Unger, and White, 841.
127Somente a fé tomará “acessível ao leitor as verdades espirituais da Palavra de
Deus.” Hasel, “Pressuposições na Interpretação das Escrituras,” 34.
128Lamar Williamson Jr., Mark, Interpretation Commentary (Atlanta: John Knox,
1983). Ver também Allen Black, The College Press Niv Commentary, Me 16:14. (Joplin,
Mo.: College Press Pub. Co., 1995).
129Colossenses 1:4-6 e 23.
130Christian Hartlich, “Historical-Critical Method in Its Application to Statements
Concerning Events in the Holy Scriptures “ Journal o f Higher Criticism 2/2 (1995).
http://depts.drew.edu/jhc/hartlich.html [accessed em 13 de Maio de 2009],
131Peter Stuhlmacher, Schriftauslegung Auf Dem Wege Zur Biblischen Théologie
(Gottingen: 1973), 141.
O método crítico-histórico e suas consequências missiológicas | 393

Um dos fatores apontados pelos estudiosos de crescimento de Igreja


é que a vitalidade espiritual é essencial para que uma congregação possa
crescer.132 Kelley observou cinco características comuns das igrejas que tem
um bom índice de crescimento. Estas características são: (1) uma demanda
por um alto compromisso dos seus membros, que inclui total lealdade e
solidariedade social; (2) rigorosa disciplina para com as crenças e 0 estilo de
vida; (3) zelo missionário, um forte desejo de anunciar as boas novas para
todas as pessoas; (4) são absolutas em suas crenças, ou seja, suas crenças são
totais, um sistema fechado, suficiente para todos os propósitos, sem revisões
ou concessões; (5) conformidade no estilo de vida, o que abarca muitas vezes
o comportamento de evitar os não-membros, ou uso de marcas visivelmente
distintas ou uniformes.133
Algumas características descritas acima, dificilmente poderíam ser
observadas numa igreja que aceitasse o MCH de forma aberta. A questãode
crenças absolutas, estilo de vida definido com uma disciplina exata
não pode acontecer onde a Bíblia não é a Palavra de Deus, mas palavra
de homens, e de homens de uma cultura tão remota que os princípios
por eles advogados dificilmente se adaptariam ao homem moderno.
Com relação às igrejas que não crescem, porém, Dean Kelley afirma
que estas igrejas são caracterizadas (1) por um relativismo nas crenças, (2)
tolerância na diversidade interna e pluralismo, (2) ausência na aplicação de
cânon ou doutrina, (3) preferência por uma atitude de diálogo com pessoas
de fora da denominação ao invés de proselitismo, (4) compromisso limitado
para com a igreja, e (5) pouca efetividade em compartilhar as convicções

132C. Kirk Hadaway, Facts on Grow: A New Look at the Dynamics o f Growth
and Decline in American Congregations Based on the Faith Communities Today 2005
National Survey o f Congregations, ed. David Roozen (Hartford, CT: Faith Communities
Today, 2006), 7.
133Dean M. Kelley, Why Conservative Churches Are Growing (New York: Harper
& Row 1972), 95; ver também Dean R. Hoge, “A Test o f Theories o f Denominational
Growth and Decline,” em Understanding Church Growth and Decline: 1950-1978, ed.
Dean R. Hoge and David A. Roozen (New York: The Pilgrim Press, 1979), 179.
394 I Leonardo G. Nunes

ou as percepções espirituais dentro do grupo.134 Dean Kelley mostra que


quando os padrões de determinada denominação tomam-se virtualmente
indistinguíveis de outras denominações, a quantidade de membros começa
rapidamente a declinar, porque as pessoas desejam pertencer a uma igreja
que mantenha os seus padrões. E como George R. Knight complementa,
“tais padrões, se quiserem fazer avançar a missão da igreja, devem ser
construídos sobre princípios bíblicos.”135 Algumas dessas características
podem ser vistas em igrejas que têm dado abertura para o MCH, como por
exemplo a ELCA.136

O Método Crítico-Histórico e a Evangelical Lutheran Church in


America
A EL C A veio à existência em I o de janeiro de 1988 pela união de três
denominações:137 a (1) American Lutheran Church (ALC), a (2) Lutheran
Church in America (LCA), e o último e menor corpo a se fundir na nova
denominação foi a (3) Association o f Evangelical Lutheran Churches
(AELC), que foi formada em 1976 por ministros que deixaram a Lutheran
Church - Missouri Synod (L C M S).138

134Kelley, 95. Hoge, 179-182.


135George R. Knight, The Fat Lady and the Kingdom (Boise, Idaho: Pacific Press
Publishing Association, 1995), 124 (grifo suprido). Para uma visão ampla a respeito do
declínio de igrejas nos Estados Unidos, ver: Mike Regele and Mark Schulz, Death o f the
Church (Grand Rapids, Michigan: Zondervan Publishing House, 1995).
136A “ELCA endossa e pratica o método crítico-histórico de interpretação da
Bíblia. Este é o único método que pode ser utilizado nos seminários da ELCA. O método
gramático-histórico é excluído.” John F. Brug, “Why the Historical-Critical Method o f
Interpreting Scripture is Incompatible with Confessional Lutheranism http://www.wl-
sessays.net/files/BrugHC.pdf [accessed em 18 de Maio de 2009], 3.
137“Lutheran Roots in America: The Historical Origins o f the Evangelical Luther-
an Church in America,” Lutheran Evangelical Church in America http://www.elca.org/
Who%20We%20 Are/History/Lutheran% 20Roots%20in%20 America, aspx (accessed
em 18 de Maio de 2009). Para conhecer mais sobre a posição doutrinária destas três de-
nominações ver John J. Baumgart, “The Doctrinal Situation o f Three Merging Churches,”
in Cypress Pastoral Conference (Keystone Heights, Florida: Wisconsin Lutheran Semi-
nary, 1985).
138“Association o f Evangelical Lutheran Churches,” The Association o f Religion
Data Archives. http://www.thearda.com/Denoms/D_1299.asp (accessed 19 de Maio
2009).
O método crítico-histórico e suas consequências missiológicas | 395

A história da ELCA tem início numa controvérsia sobre o uso do


MCH dentro de um dos maiores seminarios desta instituição.139Depois que
a ala mais conservadora obteve um maior controle na denominação, pediu
que o então presidente do Concordia Seminary, Dr. Tietjen, ensinasse a
Bíblia aos seus alunos de uma maneira mais literal. Por não chegarem a um
acordo, ele foi expulso em 1974 e, devido a sua influência, a maior parte
dos professores e estudantes deixarem a LCMS, e formaram o Seminex, o
“seminário no exílio.” 140
Em 1976, Dr. Tietjen ajudou a organizar a nova denominação, a
Association o f Evangelical Lutheran Churches (AELC), que contava com
400 congregações oriundas da LCMS. Como o líder do grupo, em 1987,
conduziu a fusão da AELC com a ALC e a LCA, formando, então, a ELCA 141
que já contava em seu inicio com cerca de cinco milhões e trezentos mil
membros.142 Sendo considerada a maior denominação luterana no EU A ,143
e a quinta maior denominação protestante neste país.144
139“Lutheran Leader Pressures School: Seminary in Missouri Told to Stop Doc-
trinal ‘Errors’,” New York Times, September 10, 1972. Ver também “Interpretations o f
Bible Divide Protestant Denominations; Biggest Denomination Affected Editor Backed
Conservatives a Healing or Divisive Process? A Break is Seen as Inevitable,” New York
Times September 16, 1979.
140“Rev. Dr. John Tietjen, 75, Leader in Lutheran Church Split in 70’s,” New York
Times February 18, 2004. Ver também “N ew Resignations Hit Lutheran Church; Major-
lty o f Officials Quit in Schism o f 2.8-Million-Member District o f the Missouri Synod,”
New York Times October 10, 1976. Para conhecer mais sobre o Seminex ver Christ Semi-
nary - Seminex, ed. Erwin L. Lueker, Luther Poellot, and Paul Jackson, Eletronic Edition
ed., Christian Cyclopedia (St. Louis: Concordia Publishing House, 2000). Todo o corpo
docente do Concordia Seminary abdicou por causa do direito de usar o MCH, cf.: Hasel,
"The Crisis o f the Authority o f the Bible as the Word o f God,” 25. Para uma melhor de-
scrição do desenvolvimento e explosão do MCH no Missouri Synod Lutheran ver: Kurt
E. Marquart, Anatomy o f an Explosion: Missouri in Lutheran Perspective (Concordia
Theological Seminary Press, 1977). Ver também: Kurt E. Marquart, Anatomy o f an Ex-
plosion: A Theological Analysis o f the Missouri Synod Conflict (Concordia Theological
Seminary: Baker Book House, 1978).
141“Rev. Dr. John Tietjen, 75, Leader in Lutheran Church Split in 70’s.”
142“Evangelical Lutheran Church in America,” The Association o f Religion Data
Archives http://www.thearda.com/Denoms/D_1415.asp (accessed 19 de Maio 2009).
143“Rev. Dr. John Tietjen, 75, Leader in Lutheran Church Split in 70’s.”
144Excluindo-se a Igreja Católica e os Mormons, a ELCA ocupa a quinta posição
entre as maiores denominações cristã americanas, cf.: “Yearbook o f American and Ca-
nadian Churches,” http://www.adherents.eom/rel_USA.html#bodies (accessed em 25 de
396 I Leonardo G. Nunes

Nesta nova denominação, a Bíblia foi considerada como contendo a


história da interação entre Deus e a humanidade, e como um instrumento
para que as pessoas tenham um encontro com D eus.145 Somente 3% do
clero e 29% do corpo leigo concorda que “A Bíblia é a palavra de Deus, a
ser tomada literalmente palavra por palavra.” 146 Há uma clara influência do
M CH nessa denominação, que pode ser observada na seguinte declaração:

Ao mesmo tempo, também encontramos na Bíblia


emoção humana, testemunho, opinião, limitação cultural
e preconceito. Os Luteranos da ELCA reconhecem que o
testemunho e a escrita humana estão relacionados e muitas
vezes limitados pela cultura, costumes e cosmovisão.
Porque os escritores, editores e compiladores bíblicos
eram limitados pelo seu tempo e cosmovisão, como nós o
somos, a Bíblia contém material conectado àqueles tempos
e lugares. Isto também significa que, os escritores, às vezes,
proveem visões discordantes e mesmo contraditórias da
Palavra, caminhos e vontade de D eus.147

A ressurreição de Jesus (e as aparições do Jesus ressuscitado) é


considerada pela ELCA como “uma realidade sobrenatural, que não
pertence a este mundo e não pode ser objeto de investigação histórica.” 148
Apesar de não definirem uma posição sobre o tema “Criação x Evolução,”
pontuam a possibilidade de Deus ter criado o mundo através da evolução,149

Maio de 2009). Ver também “South Dakota Synod, Elca,” http://www.southdakotasynod.


org/ (accessed em 25 de Maio de 2009). N o seu início a ELCA estava na quarta posição
entre as maiores denominações dos EUA, cf.: Ari L. Goldman, “New Lutheran Church
Formed from 3 Roots,” New York Times May 1, 1987.
145“Questions About the Bible,” Evangelical Lutheran Church in America http://
archive.elca.org/questions/Results.asp?recid=16 (accessed em 14 de Maio de 2009).
146Kenneth W. Inskeep, “The Context for Mission and Ministry in the Evangeli-
cal Lutheran Church in America,” (2003). http://www.elca.0rg/~/media/Files/Who%20
We%20Are /Office%20of%20the%20Presiding%20Bishop/Background%20Reading/
context.ashx [accessed em 26 de Maio de 2009], 26.
147“Questions About the Bible,” (accessed em 14 de Maio de 2009).
148“Ressurrection,” Evangelical Lutheran Church in America http://archive.elca.
org/questions/Results.asp?recid=23 (accessed em 19 de Maio de 2009).
149“Creation Vs. Evolution,” Evangelical Lutheran Church in America http://ar­
O método crítico-histórico e suas consequências missiológicas | 397

uma demonstração de uma leitura não-literal da narrativa da criação. Além


disso, existe também um grande esforço ecumênico nesta denominação.150
Esse pano de fundo teológico parece levar a uma práxis missiológica
em consonância com o que foi demonstrado pela pesquisa de Dean
Kelley. Apesar do grande número de membros com que a ELCA contava
inicialmente, houve, porém, um decréscimo considerável de fiéis nos anos
subseqüentes. Em 1987 a ELCA contava com 5.288.230 de membros, e
em 2005 com 4.850.776, ou seja, em apenas 19 anos, a ELCA teve um
decréscimo de 437.454 membros.151 Frank Im hoff nos informa ainda que o
último ganho líquido na membresia dessa denominação ocorreu em 1991,
quando a ELCA obteve, em todos os Estados Unidos, um acréscimo de
4.438, ou 0.084% em relação ao número total de membros. Nesse ano,
portanto, a ELCA precisou em média de 1181 membros para levar uma
pessoa ao batismo. Desde então não tem crescido no número de membros
batizados.152
Em conexão com os dados apresentados acima, é importante ressaltar
que 0 crescimento biológico é o principal meio de entrada de membros
para a ELCA. Desde o início, a maioria dos seus membros procede de
origem étnica alemã e escandinava.153 Esse evangelismo “étnico” continua
ainda hoje, como nos reporta a revista “The Lutheran”, já que em 2005
apenas 3,1% do número total de batismos vêm do grupo de “pessoas de

chive.elca.org/questions/Results.asp?recid=4 (accessed em 19 de maio de 2009).


150“Ecumenical and Inter-Religious Relations,” Evangelical Lutheran Church in
America http ://www. elca. org/Who-We‫־‬Are/Our-Three-Expressions/Churchwide-Orga-
nization/Ecumenical-and-Inter-Religious-Relations.aspx (accessed em 19 de maio de
2009).
151“Evangelical Lutheran Church in America The Association o f Religion Data
.Archives http://www.thearda.com/Denoms/D_1415.asp (accessed em 19 de Maio de
2009). Enquanto que a ELCA obteve um deficit de 8,27% em 19 anos, no mesmo perio-
do, denominações como a Southern Baptist Convention obtiveram um crescimento de
10,51% aproximadamente. “Southern Baptist Convention,” The Association o f Religion
Data Arquives http://www.thearda.com/Denoms/D_1087.asp (accessed 04 de junho de
2009.).
152Frank Imhoff, “Elca Membership Drops 1.6 Percent to 4.85 Million in 2005,”
The Lutheran 2006.
153Cf.: Goldman, 12.
398 I Leonardo G. Nunes

cor, cuja lingua principal não é o inglês.”154 Só há acréscimo de novos


membros “quando os filhos dos membros da igreja continuam dentro de
suas congregações... as razões pelas quais a juventude luterana permanece
em suas igrejas parecem ser principalmente étnicas.”155 Kenneth W.
Inskeep, diretor de pesquisa e avaliação da ELCA, admite que “na ELCA
o crescimento depende de famílias com crianças.” 156
Além da diminuição no número total de membros, pode-se observar,
também, um declínio na assistência aos cultos semanais. No ano de 2005,
em todos os Estados Unidos, a freqüência caiu para menos de 29,68 %. Ou
seja, dos 4.850.776 de membros, somente 1.439.711 freqüentam aos cultos
dominicais.157 Em relação à doação de ofertas destinada para o suporte
missionário, houve uma redução de 7,9% em 1990 para 5,8% em 2000.158
O MCH, portanto, revelou-se contraproducente para a práxis
missiológica da ELCA. A atitude do crente para com a Bíblia e a forma como
ela é interpretada pode influenciar diretamente a sua visão missiológica.159
Isto pôde ser observado através da aceitação e do uso do MCH pela ELCA,
o que foi um fator preponderante para o modelo missiológico da igreja, e
na consequente redução do seu número de membros.

154Cf.: Imhoff. O periódico “The Lutheran” pertence a ELCA. Em geral a ELCA


tem dificuldade de crescer entra a população não-branca. Ver também Inskeep, 13.
155William Read, Victor Monterroso, and Harmon Johnson, O Crescimento da
Igreja na America Latina trad. João Marques Bentes (São Paulo: Editora Mundo Cristão,
1969), 86-87.
156Inskeep, i.
157Imhoff.
158Inskeep, 18-22.
159Essa relação entre a fé e a missão também é percebida por Abdala. “Os concei-
tos da teologia e o fervor do evangelismo devem se apoiar mutuamente. Não podem ser
separados [grifo nosso].” Emílio Abdala, “A Importância do Treinamento Ministerial na
Educação Teológica,” Revista Teológica do SALT - IAENE 4/2, Jul-Dez (2000): 5.
O método crítico-histórico e suas consequências missiológicas | 3 9 9

Conclusão

Ao longo deste artigo procurou-se estabelecer a relação entre o


método crítico-histórico e a fé e a missão, em especial, a missão da ELCA.
A fim de alcançar esse objetivo, buscou-se primeiramente (através
de uma breve retrospectiva histórica e da exposição dos principios e
pressuposições do método crítico-histórico) mostrar como o criticismo
histórico tende a exaltar a razão humana em detrimento da fé ñas Escrituras
como a autoritativa Palavra de Deus.
N a segunda parte deste trabalho procurou-se explicitar como o
arrefecimento da fé ñas Escrituras influencia diretamente na vida religiosa
das pessoas, exercendo, por conseguinte, um impacto real na missão e no
crescimento numérico de determinada denominação, como demonstrado
na ELCA.
Conseqüentemente pôde-se constatar que o criticismo histórico, ao
depreciar a fé, a autoridade da Escritura e desse modo a própria missão
da igreja, interferiu diretamente (1) na diminuição do número total de
membros, (2) no decréscimo da quantidade de pessoas batizadas, (3)
no alvo missiológico (crescimento apenas biológico), (4) na redução da
frequência aos cultos semanais e (5) no percentual de ofertas destinadas ao
suporte missionário da Evangelical Lutheran Church in America (ELCA).
Fica evidente, portanto, que uma postura hermenêutica onde a Palavra
de Deus é desacreditada pode resultar em descrédito dos membros em
relação à sua própria igreja e a consequente decadência da denominação,
ou seja, um “suicídio” eclesiológico.
Espera-se que o exemplo da ELCA sirva de reflexão para a escolha
de uma abordagem hermenêutica coerente com o valor que a Escritura
possui e com a missão da igreja, tendo sempre em vista um crescimento
numérico saudável.
ASPECTOS MISSIOLÓGICOS E HISTÓRICOS DA
IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA

Wilson Borba
Colegio Adventista del Ecuador, Equador

111M1111111(11m11111N11111111111111111M1111111111m1r111111111111[m11111111111111i11i1111<1111m1j111111111111111111111m11111111m111111111m11uuuu1umuuu(uum

Introdução

É objetivo desta matéria, apresentar alguns aspectos missiológicos


e históricos que fizeram da Igreja Adventista do Sétimo Dia um bem-
sucedido movimento missionário mundial. Eles serão apresentados numa
significativa seqüência, cujo clímax focalizará a contribuição do Brasil na
evangelização mundial.

Os Estados Unidos como a primeira base missionária mundial

O movimento adventista sabatista surgiu providencialmente nos


Estados Unidos da América, como uma ramificação do milerismo após
o Desapontamento de outubro de 1844, com o propósito de restaurar a
“verdade presente” para o tempo do fim, no contexto das três mensagens
angélicas de Apocalipse 14:6-12.' “Até depois da Guerra Civil Norte-
americana, a Igreja Adventista do Sétimo Dia foi um a igreja principalmente 1

1Para um estudo mais detido da mensagem adventista em seus primordios ver


P. Gerard Damsteegt, Foundations o f the Seventh-day Adventist Message and Mission
(Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1981), 3-163; Alberto R. Timm, O Santuário e as Três
Mensagens Angélicas: Fatores Integrativos no Desenvolvimento das Doutrinas Adven-
tistas, 5a ed. (Engenheiro Coelho, SP: Imprensa Universitária Adventista, 2009), 13-134.
C. Mervyn Maxwell, História do Adventismo (Santo André, SP: Casa Publicadora Bra-
sileira, 1982).
402 I W ilson Borba

do norte dos Estados Unidos. Os adventistas estabeleceram-se inicialmente


nos estados do nordeste daquele país, e se expandiram mantendo suas
bases centrais em Battle Creek, M ichigan.”2 Mas o processo pelo qual os
Estados Unidos tomou-se a primeira e a mais influente base missionária
mundial dos adventistas do sétimo dia ocorreu de forma gradativa, a partir
da segunda metade do século 19. Os primeiros adventistas sabatistas criam
na teoria da “porta fechada”3 restringindo até o final da década de 1840 sua
missão aos ex-mileritas. Entretanto, pelo menos três fatores contribuíram
para que aqueles primeiros adventistas expandissem sua consciência de
missão para outras pessoas que não pertenceram ao movimento milerita:
(1) 0 fato de Jesus não ter vindo tão logo quanto esperado; (2) algumas
visões de Ellen G. White que falavam de um trabalho mais amplo; e (3) a
conversão de pessoas que não haviam pertencido ao movimento milerita.4
Nas décadas de 1850 e 1860 a consciência missiológica adventista
ainda se limitava em grande parte à América do Norte. Essa posição era
justificada, por exemplo, por Uriah Smith dizendo que, ao pregar para
as pessoas estrangeiras que viviam na América do Norte, as respectivas
nações de origem daquelas pessoas já estariam sendo evangelizadas.5

O ministério profético missionário de Ellen G. White

Foi a contínua influência do ministério profético da senhora White,


significativamente entre 1848 e 1901, o fator que mais contribuiu para
ampliar a visão missionária do movimento adventista. Já em 1848 ela
2Richard W. Schwarz/Floyd Greetüeaf, Portadores de Luz, (Buenos Aires, Argén-
tina: Asociación Casa Editora Sudamericana, 2002), 11.
3Esse período foi de 1844 a 1849 aproximadamente. Para um estudo desse período
e da doutrina da porta fechada ver R. W. Schwarz e Floyd Greenleaf, Light Bearers (Nam-
pa, ID: Pacific Press Publishing Association, 2000), 53-55; Arthur W. Spalding, Origin
and History o f Seventh-day Adventistas (Washington, DC: Review and Herald, 1961), 1:
153-170; Arthur L. White, Ellen White: The Early Years (Washington, DC: Review and
Herald, 1985), 1: 256-270; Herbert E. Douglass, Mensageira do Senhor (Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira, 2001), cap. 44 e apêndices.
4Werner Vyhmeister, Misión de la Iglesia Adventista (Brasília, DF: Seminário Ad-
ventista Latinoamericano, 1981), 45-49.
5Uriah Smith, “From Lewis”, Review and Herald, 3 de fevereiro de 1859, 59.
Aspectos missiológicos e históricos da Igreja Adventista do Sétimo Dia | 4 0 3

falava que as publicações adventistas seriam como “torrentes de luz que


circundavam o mundo” .6 Ellen White levou a Igreja Adventista do Sétimo
Dia norte-americana à consciência de uma mensagem de responsabilidade
mundial7 a ser pregada em toda a extensão da Terra8 com o estabelecimento
de hospitais, escolas, restaurantes e casas publicadoras.9 Nesse sentido, “a
Califórnia estabeleceu um padrão para as Missões adventistas ao redor do
mundo. Após reunir uma base populacional, os adventistas estabeleceram
uma editora (a Pacific Press) e um periódico (o Signs o f the Times), em
1874; um sanatório em Santa Helena, em 1878; e uma escola superior em
Healdsburg em 1882”.10

Missionários oficiais e não oficiais

Ellen W hite também enfatizou a necessidade de enviar as outras nações


pastores, médicos, enfermeiros, colportores, obreiros bíblicos e outros
consagrados membros leigos de diferentes talentos com conhecimento da
verdade presente.11 Um passo significativo para os Estados Unidos tomar-
se a prim eira base exportadora de missionários adventistas do sétimo dia
foi a ida de Miguel B.Czechowski (1818-1876) ao continente europeu
como o primeiro missionário adventista não oficial.12 Já em 1858, esse ex-
sacerdote católico nascido na Polônia, havia em carta dirigida a senhora
Ellen G. White manifestado o propósito de “visitar meu próprio país natal

6Ellen G. White, Vida e Ensinos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007),
128.
7Idem, Evangelismo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008), 179.
8Idem, O Grande Conflito, (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008), 355.
9Idem, Medicina e Salvação (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008), 330.
10George R. Knight, Uma Igreja Mundial, (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,
2000), 83.
11Ellen G. White, Medicina e Salvação, 331.
12Sobre Miguel Belina Czechowski ver Schwarz, 138, 140; Maxwell, 163-169;
M. Ellsworth Olsen, A History o f the Origin and Progress o f Seventh-day Adventists,
(Washington, DC, 1926), 301-302; Rajmund Ladyslaw Dabrowski, ed., Michal Belina
Czechowski, 1818-1876 (Varsóvia, Polonia: Znaki Czasu Publishing House, 1979).
404 I W ilson Borba

além do oceano, e falar sobre a vinda de Jesus e a gloriosa restauração, e de


como se devia observar os mandamentos de Deus e a fé de Jesus” .13
Mesmo não conseguindo o apoio dos adventistas do sétimo dia
Czechowski não desistiu do seu projeto. Financiado pela Associação
Milenial Americana que mais tarde se denominaria Adventistas
Evangélicos,14 Czekowski transferiu-se para a Europa. Entretanto, ele
pregava a mensagem e crenças dos adventistas do sétimo dia.15Esse homem
trabalhou cerca de doze anos na Europa fazendo conversos adventistas
do sétimo dia na Itália, Suíça, Polônia, França, Alemanha, Hungria e
Romênia.16As bases missionárias estavam sendo lançadas na Europa, mas
tomaria dez anos até que a Igreja Adventista do Sétimo Dia oficializasse
aqueles esforços além-mar. J. N. Andrews, primeiro missionário oficial
da Igreja Adventista partiu para a Europa em 1874, estabelecendo na
Suíça a primeira plataforma missionária adventista fora do continente
norte-americano, sendo ele mesmo o precursor de um grande número de
missionários que levariam a mensagem adventista do sétimo dia a todos os
continentes do m undo.17

Bases missionárias em países de economias fortes

À semelhança da expansão geográfico-missionária mencionada em


Atos 1:8, Ellen White profetizou que “a mensagem irá com poder a todas
as partes do mundo, ao Oregon, à Europa, à Austrália, às ilhas do mar,
a todas as nações, línguas e povos.”18 Por orientação escrita,19 e depois

13Miguel B. Czechowski, Review and Herald, 23 de setembro de 1858, 144.


14Maxwell, História do Adventismo, 166.
15Spalding, Origin and History o f Seventh-Day Adventists, v. 2, 198.
16M axwell, 166-167.
17Para estudar sobre a origem e desenvolvimento da Obra Adventista na Europa
ver: William A. Spicer, Our Story o f Missions (Mountain View, CA: Pacific Press Pub-
fishing Association, 1921), 94-169; Spalding, 3: 333-358; Don F. Neufeld, ed., Seventh-
day Adventist Encyclopedia, 2a ed., rev. (Hagerstown, MD: Review and Herald, 1996),
ver “Europe”; Maxwell, História do Adventismo, 171-179.
18Ellen G. White, Vida e Ensinos, 217.
19Idem, Evangelismo, 408-409.
Aspectos missiológicos e históricos da Igreja Adventista do Sétimo Dia | 4 0 5

por participação pessoal,20 Ellen White guiou a base norte-americana para


estabelecer instituições na Suiça, Escandinávia, Grã-Bretanha e Alemanha
a fim de que esses países se tomassem plataformas missionárias adventistas
tão promissoras como a dos Estados Unidos. Esse fenômeno, mais tarde,
deveria acontecer também com a base missionária da Austrália,21 à qual
Ellen White pessoalmente, a partir de 1891, dedicaria nove anos de
serviço.22A senhora White profetizou que a Austrália se tomaria uma base
missionária fornecedora de missionários para outros países.23 O que ocorreu
oficialmente a partir da Conferência Geral de 1901, ao ser transferida da
base norte-americana da igreja, a responsabilidade de supervisionar as
ilhas do Sul para a União Australiana.24

Periódicos denominacionais com foco missionário

Entre outros, dois periódicos norte-americanos, a Review and Herald


e o Missionary Magazine foram importantes em contribuir para a obra
adventista missionária mundial. Através deles, principalmente pastores
e obreiros da base norte-americana acompanhavam as notícias sendo
influenciados a trabalhar em algum campo missionário. Com a chegada de
W. A. Spicer como secretário da Associação Geral as notícias do campo
mundial estavam ao seu cargo e vinham com a sua assinatura.25 A Review
dava lugar não só para as notícias, mas também a artigos escritos pelos
missionários. Entretanto, parece que não era uma simples questão de dar
algum espaço editorial, pois, o periódico era dirigido por uma filosofia
claramente além-mar o que chegou a influenciar a pequena Revista Mensal

20Sobre o ministério de Ellen White na Europa ver D. A. Delafield, Ellen G. White


in Europe (Washington, DC: Review and Herald, 1983).
21White, Evangelismo, 407, 425 e 428.
22Arthur L. White, Ellen White: The Australian Years 1891-1900, (Washinghton,
DC, Review and Herald, 1983).
23Ellen G. White, Life Sketches, (Mountain View, CA: Pacific Press, 1943), 372-
376.
24Richard W. Schwarz e Floyd Greenleaf, Light Bearers, 280.
25Review and Herald, 26 de novembro de 1901,10.
406 I W ilson Borba

brasileira, pois boa parte do seu espaço era usada regularmente para as
notícias missionárias mundiais.
Já o periódico chamado Home Missionary existia desde 1889,
entretanto, a partir de 1898 recebeu o nome de Missionary Magazine. A
função desta publicação oficial, sob a coordenação da Junta de Missões
Estrangeiras, era motivar e desafiar os membros da igreja a doar para as
missões. Além disso, informava como a missão da igreja avançava no
mundo. Com a chegada de Arthur Daniells na presidência da Associação
Geral uma das suas primeiras medidas missionárias foi reorganizar o
Missionary Magazine colocando na liderança do periódico quem tinha
experiência prática em missões.
E para que cada membro da igreja lesse esse informativo, ele foi
vendido ao preço simbólico de cinco centavos de dólar para os Estados
Unidos e setenta e cinco centavos para os demais países.26 Até maio de
1902 o Missionary Magazine era publicado como um jornal separado, o que
foi descontinuado, passando suas notícias a serem incluídas na Review and
Herald que, por sua vez, aumentou de 16 para 24 páginas.27 Entretanto, a
partir de outubro de 1918 a Review diminuiu de vinte e quatro para dezesseis
páginas, mas não perdeu a sua ênfase nas notícias da missão além-mar,
que passaram a ocupar aproximadamente 45% do espaço do periódico.28
Essas mudanças também foram realizadas por A. G. Daniells a fim de que
a Review se tomasse uma revista realmente focada na missão mundial.
A Review foi um grande e poderoso instrumento da Igreja Adventista
para promover a missão mundial. Ela dava o tom e a direção para a igreja
mundial. Havia uma idéia bem clara a respeito do foco missionário mundial
da revista: “A Review and Herald é nosso grande periódico da igreja. Ela é
designada para guardar os membros da igreja em ligação com o progresso

26W. W. Prescott, Review and Herald, 14 de maio de 1901, 16.


27W. A. Spicer, “The Missionary to be merged into the Review”, Review and Her-
aid, maio de 1902, 6.
28“Missionary Enterprise in War Times”, Review and Herald, 24 de outubro de
1918.
Aspectos missíológicos e históricos da Igreja Adventista do Sétimo Dia | 4 0 7

do movimento do Segundo Advento em todas as partes do mundo; por


isso nós precisamos dar primeira consideração aos artigos deste caráter.”29

Editoras e publicações missionárias

Da base estratégica suíça, com o objetivo de evangelizar outros países,


J. N. Andrews preparava e enviava folhetos em alemão, italiano e francês.
Por exemplo, o Le Signes era enviado para quase todos os países e regiões
da Europa: Suécia, Áustria, Hungria, Prússia, Saxônia, Alsácia, Bélgica,
Holanda, Inglaterra, País de Gales, Escócia, Itália, Sicilia e Espanha
incluindo apropria Suiça, e também Rússia, índia, Egito e América do Sul.30
Fenômeno semelhante ocorreu na Noruega. Nesse país, a partir de 1877,
com a chegada de John Matteson, um dinamarquês convertido nos Estados
Unidos, surgiu a segunda base missionária européia da Igreja Adventista.
Matteson estabeleceu uma editora na Noruega preparando literatura
evangelística e de saúde, e a partir desse país, a mensagem adventista
alcançou as regiões nórdicas da Europa que compõem a Escandinávia.31
Por sua vez, o terceiro centro do adventismo na Europa foi iniciado na
Inglaterra em 1878 por Guilherme Ings e John Loughborough. Seguindo o
modelo das bases suiça e norueguesa, estes missionários estabeleceram uma
sociedade missionária de publicações para distribuição de literatura, nesse
caso, produzida nos Estados Unidos.32 A despeito do pequeno número de
membros a Inglaterra tomou-se uma base missionária adventista enviando
literatura para várias regiões do mundo.33

29Ibid., 3 de fevereiro de 1921,24.


30Maxwell, História do Adventismo, 179.
31Olsen, 345-361.
32Ibid, 363-365.
33Schwarz e Greenleaf, 209.
408 I W ilso n Borba

Colégios missionários

Em 1874 foi estabelecido o Battle Creek College, com o objetivo de


treinar missionários tanto para o campo nacional como para o estrangeiro.34
E, na Austrália, sob a supervisão de Ellen White deveria surgir um colégio
modelo para formar missionários.35 As instituições adventistas do sétimo
dia, especialmente escolas, por sua influência e prática, deveríam ser
produtoras de missionários e enviá-los aos campos estrangeiros,36 como foi
também o caso do Union College, próximo a Lincoln, Nebraska, nos Estados
Unidos fundado em 1891.37 Essa instituição transpirava missão além-
mar. Como evidência, apresentava um quadro referente aos missionários
adventistas do sétimo dia que ali se formaram, saindo como fios de ouro a
partir dessa instituição de ensino para os diversos continentes do planeta.38

Missionários de sustento próprio

Por sua vez o quarto centro europeu da Igreja Adventista do Sétimo


Dia surgiu na Alemanha. Desde a década de 1890 até a Primeira Guerra
Mundial, missionários alemães foram pioneiros em estabelecer a Obra
Adventista em vários países, como por exemplo, Brasil, Etiópia, Líbano,
Palestina, Síria e Egito.39 L. R. Conradi,40 que por décadas foi o líder

34Knight, Uma Igreja Mundial, 84.


35Ellen G. White, Conselhos aos Pais Professores e Estudantes, (Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira, 2007), 533.
36Ellen G. White, Evangelismo, 407 e 409; Ellen G. White, Fundamentos da Edu-
cação Cristã, (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1996), 368, 529 e 531.
37Para um estudo sobre 0 Union College, ver Everettt Dick, Union College o f de
Golden Cords (Lincoln, NE: Union College Press, 1967).
38Ibid.
39Borge Schantz, “The Development o f Seventh-day Adventist Missionary
Thought: Contemporary Appraisal” (tese de Ph.D., Fuller Theological Seminary, 1983),
2: 260.
40Para um estado sobre a influencia de L. R. Conradi no crescimento da Obra
Adventista na Europa ver G. Padderatz, Conradi und Hamburg (Hamburg: Druckladen
GmbH, 1978); Daniel Heinz, Ludwig Richard Conradi (Frankfurt: Peter Lang, 1987),
bd. 2.
Aspectos missíológicos e históricos da Igreja Adventista do Sétimo Dia | 4 0 9

do adventismo na Europa, organizou um instituto de treinamento para


colportores e obreiros bíblicos preparando literatura em doze línguas
além da alemã. N a década de 1890 havia cerca de cinquenta colportores
trabalhando na Alemanha e entre pessoas de fala alemã na Áustria, Hungria
e Bálcãs.41

A evangelização de estrangeiros nos Estados Unidos

Uriah Smith não estava errado de todo, ao dizer que, ao pregar para
as pessoas estrangeiras que viviam na América do Norte, as respectivas
nações de origem daquelas pessoas já estariam sendo evangelizadas,42 pois
em parte, suas proj eções se cumpriram. Alguns estrangeiros se converteram
nos Estados Unidos e ao voltarem à pátria levaram a mensagem adventista
aos seus parentes e conhecidos. Por exemplo, a obra missionária adventista
na Rússia iniciou através de colonos alemães que foram da Rússia para
os Estados Unidos na década de 1870 e que lá se tom aram adventistas
do sétimo dia. Ao retomarem à pátria natal introduziram a mensagem
adventista.43

O uso da estrutura das Uniões como bases missionárias

O que aconteceu na Austrália foi a implantação de um duplo modelo


missionário. Alguns têm olhado somente o colégio de Avondale como a
única instituição missionária modelar.44 Porém, é preciso incluir também
a União Australiana. N a Conferência Geral de 1901 estavam presentes
líderes das principais instituições adventistas do mundo. E na presença
deles, Ellen White declarou que em virtude da amplitude da obra mundial

41Richard W. Schwarz e Floyd Greenleaf, Light Bearers, 213.


42Uriah Smith, 59.
43Neufeld, ed., ver “Russia”; Para um estudo sobre surgimento do adventismo na
Rússia ver A lf Lohne, Adventistas na Rússia (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,
1988).
44Ellen G. White, Conselhos aos Pais Professores e Estudantes, 533.
410 I W ilso n Borba

ainda por realizar era urgente uma reorganização sobre um princípio


diferente.45 Como resultado, as Uniões foram investidas de autoridade em
sua esfera geográfica, que deveria ser direcionada para o cumprimento da
missão.
A base missionária australiana, ainda não tinha sido formada com
a chegada de S. N. Haskell e sua equipe de obreiros.46 Esses importantes
fatores foram formadores, mas a estrutura estratégica para evangelizar a
Austrália e por extensão N ova Zelândia e ilhas do sul47 só foi formada
oficialmente, quando surgiu a União Australiana. E a Conferência Geral
de 1901 marcou a transição de um modelo organizacional talvez suficiente
apenas para os Estados Unidos para uma estrutura mais ágil e eficiente no
estabelecimento mundial da igreja. E, embora, estava no início a obra de
evangelização na Austrália, Ellen White afirmou ser necessário realizar
naquele país, e também, N ova Zelândia, África, índia, China e nas ilhas
do mar a mesma obra que estava sendo realizada no campo nacional norte-
americano.48 Surgiríam outras bases missionárias oficiais devidamente
estruturadas em Uniões para estabelecer solidamente a Obra Adventista
como em 1901 foi transferida da base norte-americana a responsabilidade
de supervisionar e evangelizar as ilhas do Sul para a União Australiana.49
As Uniões, têm funcionado como bases administrativas missionárias
adventistas para os territórios a elas determinados. Ao que parece, o que
precisamos não é tanto de uma estrutura nova, mas usar propositalmente
a que já temos. O que algumas Uniões precisam é mais desafio e
território além-mar. Há um imenso e atrativo “bolo” chamado Janela

45Ellen G. White, General Conference Bulletin, 3 de abril de 1901.


46Sobre a expansão da Obra Adventista na Australia ver Neufeld, ed., em “Aus-
tralia”; William A. Spicer, Our Story o f Missions (Mountain View, CA: Pacific Press
Publishing Association), 285.
47Ellen G. White, Life Sketches, (Mountain View, CA: Pacific Press, 1943), 372-
376.
48Idem, Fundamentos da Educação Cristã, 208-209.
49Richard W. Schwarz e Floyd Greenleaf, Light Bearers, 280.
Aspectos missiológicos e históricos da Igreja Adventista do Sétimo Dia | 411

10x4050 considerada uma de sua prioridades missionárias.51 Devido às


macrodimensões deste bolo, não seria sensato dá-lo apenas para alguns.
Temos de convidar outros para a “festa” repartindo o grande bolo pelo
menos entre as principais Uniões do mundo. Isto implicaria em cada forte
União tomar-se uma intencional base missionária além-mar.

A revelação da justiça de Cristo na Conferência Geral de 1888

A revelação da justiça de Cristo a partir da Conferência Geral de


1888 tomou-se a mola propulsora das missões adventistas do sétimo dia. A
luz da justiça de Cristo, que brilhou intensamente naquela reunião da igreja
foi o princípio de uma luz maior que deverá inundar a Terra. Conforme
afirmou Ellen White, “O tempo de prova está exatamente diante de nós,
pois o alto clamor do terceiro anjo já começou na revelação da justiça de
Cristo, o Redentor que perdoa os pecados. Este é o principio da luz do anjo
cuja glória há de encher a Terra.”52 O historiador Arthur Maxwell afirmou
que o espantoso crescimento da Igreja Adventista na década de 1890 foi
resultado da revelação da justiça de Cristo na histórica reunião de 1888:
“a reação foi tão maravilhosa que o número de membros cresceu numa
média de quase dez por cento ao ano, quase triplicando em 1901 o total
que havia em 1888.”53 Segundo ele “0 ingresso em muitas outras terras e
os primeiros postos missionários para não-cristãos também marcaram a
década de 1890, bem como o segundo maior nível de crescimento (9,8%)

50A janela 10x40 é um espaço geográfico localizado no globo terrestre. Fica ao


norte da linha do equador, que passa pelo norte da África até a China, Japão e toda a Ásia
não cristã. N esse espaço vive aproximadamente 60% da população mundial, distribuída
em 83 países. Esta janela contém a maior quantidade de seguidores das três maiores re-
ligiões não cristãs do mundo: Islamismo, Budismo e Hinduísmo.
51Entrevista: Jan Paulsen, “Os desafios da Igreja”, Revista Adventista, agosto de
2002, 5.
52Ellen G. White, Mensagens Escolhidas (Santo André, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 1985), v. 1, 362 e 263.
53C. Mervyn Maxwell, História do Adventismo, 249.
412 I W ilson Borba

de todas as décadas” .54 Naquela época, a segunda vinda de Cristo passou


a ser apresentada como muito breve e as nações em sua desesperada
necessidade como a gritar pelo evangelho eterno.“() grito de milhões
chorando na índia, Cuba e Porto Rico, é: mensageiros. Do norte e sul,
leste e oeste, o grito macedónico é ouvido como nunca antes: ‘Venham
já, vocês Pedros da eloqüência; vocês Dorcas, com suas linhas e agulhas;
Tércios com suas penas e tinta, e vocês Bamabés com sua coragem; vocês
Nicodemos com seu conhecimento da lei, e vocês Lucas com seus cuidados
médicos. Venham e ajudem-nos”.55 E a obra missionária além-mar tomou-
se a resposta da Igreja ao grito humano vindo de todas as nações.56
Daniells tinha sido um dos líderes da Igreja Adventista que mais
demonstrou interesse e empenho em relação à obra missionária mundial.
Quando já não era mais o presidente da Associação Geral, 0 pastor Daniells
declarou humildemente que, não obstante todo o seu envolvimento
missionário tinha sido um formalista.57E depois de todos os anos dedicados
à presidência da Associação Geral e ao avanço das missões adventistas
pelo mundo ele afirmou sua maior necessidade, citando o conhecido texto
de Ellen White: “Um reavivamento da verdadeira piedade entre nós é a
maior e mais urgente de todas as necessidades. Buscá-lo deve ser nossa
principal ocupação” .58 À luz do corajoso testemunho deste homem de
Deus, parece que a Igreja Adventista atualmente não necessita tanto de
um a nova estrutura de níveis administrativos para a terminação da Obra.
Provavelmente, nossa maior necessidade seja um retom o à experiência da
justificação pela fé em Cristo. Naquela época, a denominação em geral
foi impactada pela revelação da justiça de Cristo. Portanto, não foi por
acaso, que bases adventistas, finalmente começaram a ser estruturadas no
“continente negligenciado” incluindo o Brasil.

54Ibid., 259.
55William P. Pearce. “Let the Whole Earth Be Filled With is Glory”, Review and
Herald, 16 de Janeiro de 1900, 35.
56W. A. Spicer, Review and Herald, 26 de novembro de 1901, 10.
57Idem, Carta a L. E. Froom, arquivos da Associação Geral, 13 de março de 1927.
58Ibid.
Aspectos missiológicos e históricos da Igreja Adventista do Sétimo Dia | 4 1 3

Implantar bases em todos os continentes

Mais uma vez, o Espírito de Deus atuou por intermédio de Ellen


White a fim de animar os líderes da Igreja para enviar missionários, a
outros continentes, inclusive a América do Sul, também conhecida como
“o continente negligenciado”59na certeza de que havería um a farta colheita
de almas, surgindo em resultado uma parte de um firmamento de escolhidos
que colaborariam no movimento final de pregação mundial.

Entre os habitantes do mundo, espalhados por toda a Terra, há


os que não têm dobrado os joelhos a Baal. Como as estrelas
do céu, que aparecem à noite, esses fiéis brilharão quando as
trevas cobrirem a Terra, e densa escuridão os povos. N a África
pagã, nas terras católicas da Europa e da América do Sul, na
China, na índia, nas ilhas do mar e em todos os escuros recantos
da Terra, Deus tem em reserva um firmamento de escolhidos
que brilharão em meio às trevas, revelando claramente a um
mundo apóstata o poder transformador da obediência a Sua lei.
Mesmo agora eles estão aparecendo em toda nação, entre toda
língua e povo; e na hora da mais profunda apostasia, quando o
supremo esforço de Satanás for feito no sentido de que “todos,
pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos” (Ap 13:16),
recebam, sob pena de morte, o sinal de submissão a um falso
dia de repouso, esses fiéis, “irrepreensíveis e sinceros, filhos
de Deus inculpáveis no meio de uma geração corrompida e
perversa”, resplandecerão “como astros no mundo” (Fp 2:15).
Quanto mais escura a noite, com maior brilho eles refulgirão.60

É evidente que o Brasil está incluído nesta profecia, porque além


de fazer parte do território da América do Sul, também é um país de
predominância católica romana. Considerando que a luz é difusível,
permitindo a cada astro enviar sua luz em todas as direções, alcançando
59F. H. Westphal, Pioneering in the Neglegected Continent, (Nashville, TE: South-
em Publishing Association, 1927.
60Ellen G. White, Profetas e Reis, (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008),
94.
414 I W ilson Borba

longas distâncias, parece que Ellen W hite predisse não só a possibilidade,


mas a realidade do envio de um grande número de missionários adventistas
do sétimo dia sul-americanos, entre eles brasileiros. Na década de 1880,
o continente sul-americano recebeu a mensagem adventista que entrou
primeiro na Argentina,61 por meio de três vias, independentes umas
das outras, mas quase simultâneas e entre pessoas de nacionalidades
diferentes.62 As novas vindas da Argentina chamaram a atenção da base
missionária norte-americana que enviou primeiro em 1891 os colportores
C. A. Nowlen, E. W. Snyder, e Albert Stauffer63 e, depois em 1894 o pastor
F. H. Westphal64 a fim de iniciar a Obra Adventista naquele país, e a partir
dessa base estratégica começar a alcançar os demais países sul-americanos.
No Brasil, a mensagem adventista já havia entrado entre 1879 e 1880
através de publicações que chegaram ao porto de Itajaí, SC.65A literatura em
língua alemã proveniente da base missionária adventista norte-americana66
alcançou alemães do vale do Itajaí surgindo interessados na mensagem
adventista.67 Em maio de 1893 por designação da Associação Geral, o
colportor Albert Stauffer chegou ao Brasil, após trabalhar dois anos no
Uruguai e na Argentina68 sendo logo seguido pelos seus companheiros de
equipe E. W. Snyder, C .A. Nowlen e Lionel Brooking a fim de evangelizarem
com publicações, principalmente, as colonias alemãs do sul do Brasil.69
Elwin Winthrop Snyder, durante suaperm anénciano Rio de Janeiro manteve
61Héctor J. Peverini, En Las Huellas de la Providencia (Buenos Aires: Asociación
Casa Editora Sudamericana, 1988), 37-38.
®Spicer, 255; Neufeld, ed., ver “Argentina”.
63Ibid.
64Ellswort Olsen, 561.
65T. L. Oswald, “Santa Catarina Biennial Session”, Review and Herald, 31 de julho
de 1958, 20.
66Alberto R. Timm, “Primordios do Adventismo no Brasil”, Revista Adventista,
Janeiro de 2005.
67Neufeld, ed., em “Brazil”. Para um estudo mais detido sobre como a mensagem
adventista chegou ao Brasil ver Michelson Borges, A Chegada do Adventismo ao Brasil
(Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2000).
68Gideon de Oliveira, Historia de Nossa Igreja (Santo André, SP: Casa Publicado-
ra Brasileña, 1965), 308.
69Church Heritage—A Course in Church History, Divisão Sul Americana da Igreja
Adventista, 90.
Aspectos missiológicos e históricos da Igreja Adventista do Sétimo Dia | 4 1 5

contato com Albert Bachmeyer, jovem marinheiro alemão que poucos


meses antes aceitara a fé evangélica em Liverpool. Depois de conquistá-
10 para a mensagem adventista Snyder preparou-o para a colportagem.70
Antes de ser batizado, Bachmeyer vendeu literatura adventista no
Estado de São Paulo na região de Indaiatuba, Rio Claro e Piracicaba.
Seu trabalho naquela região resultou na conversão de Guilherme Stein
Jr., primeiro adventista do sétimo dia batizado no Brasil.71 Em 1895, por
sua vez, o pastor F. H. Westphal chegou ao Brasil e batizou os primeiros
convertidos, em abril, no Estado de São Paulo,72 e em junho, no Estado
de Santa Catarina73 onde o colportor Bachmeyer também foi batizado. No
mesmo mês, o pastor Westphal organizou a primeira Igreja Adventista do
Sétimo Dia no Brasil em Gaspar Alto, Santa Catarina.74 Naquele ano de
1895, a Associação Geral designou o pastor Huldreich F. von Graf, nativo
da Alemanha, para atender a Obra Adventista no Brasil.
No mês de outubro daquele ano o pastor G raf organizou a segunda
Igreja Adventista no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro;75 e em dezembro
organizou a terceira igreja, na cidade de Santa M aria do Jetibá, Estado
do Espírito Santo batizando na mesma ocasião vinte e três pessoas.76 Em
1896, segundo Gideon de Oliveira, existiam no Brasil cinco grupos de
conversos adventistas do sétimo dia,77 que já realizavam a Escola Sabatina
nas seguintes cidades: Campo dos Quevedos78 e Taquari, no Rio Grande do
70Ruy Carlos de Camargo Vieira, Vida e Obra de Guilherme Stein Jr., (Tatuí, SP:
Casa Publicadora Brasileira, 1995), 133.
71Michelson Borges, 74-75.
72Para fazer um estudo mais detido sobre as raízes da Igreja Adventista do Sétimo
Dia no Brasil ver Ruy Carlos de Camargo Vieira, Vida e Obra de Guilherme Stein Jr.
(Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1995).
73Gideon de Oliveira, 310.
74Alberto R. Timm, “Primordios do Adventismo no Brasil”, Revista Adventista,
Fevereiro de 2005.
75Ibid.
76Mizael Ludtke, Origem e Desenvolvimento da Igreja Adventista no Espirito San-
to, (São Paulo: Instituto Adventista de Ensino, 1989).
77Gideon de Oliveira, 310.
78O autor deveria ter dito Não-Me-Toque e Taquari em vez de Campo dos Queve-
dos. Para fazer um estudo sobre a história da Igreja Adventista de Campo dos Quevedos
de 1905 a 2005 ver Albert R. Timm, Igreja Adventista Campo dos Quevedos 1905-2005
(Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2005).
416 I W ilson Borba

Sul; Joinvile, em Santa Catarina; Curitiba, no Paraná; e Rio Claro, em São


Paulo. Segundo William Spicer, o pastor G raff em sua primeira visita ao
sul do Brasil batizou crentes em Porto Alegre, Taquari, São Pedro e outros
lugares no Rio Grande do Sul.79 A Igreja Adventista do Sétimo Dia no
Brasil, portanto, desenvolveu-se no sentido sul-norte limitando-se de 1884
a 1900 às colônias alemãs da Região Sul, de São Paulo e Espírito Santo,
além de Teófilo Otoni em Minas Gerais.80 Desde seu humilde começo a
Obra Adventista no Brasil cresceu a ponto de em dezembro de 1997 tomar-
se o país com o maior número de adventistas do sétimo dia no mundo.81 No
final de 2008 havia 1.227.005 membros no Brasil que se reuniam em 6.109
igrejas e 6.306 grupos. Havia um total de 1936 pastores trabalhando nos 41
campos brasileiros.82 No final de 2008, o último relatório do departamento
de publicações registrou 2.871 colportores efetivos e 2.866 colportores
estudantes.83 A rede educacional adventista no Brasil tinha 455 escolas,
sendo 320 de ensino fundamental e 129 de ensino médio, seis instituições
de nível superior num total de 8.427 professores e 137.067 alunos.84

Estratégia de globalização missionária

O pastor Daniells deu continuidade ao processo e a crescente


globalização missionária que também tem sido chamada “de todo lugar para
todo lugar.”85 Trata-se de um fenômeno de multiplicação de missionários,
em que bases missionárias emergentes fornecem missionários adicionais
ao campo mundial, enquanto evangelizam seu próprio território. Por
exemplo: da Suíça. Erzberger e Alberto Vuilleumier saíram para trabalhar
79William Spicer, Our Story o f Missions, 265.
80Michelson Borges, 105.
81“O Brasil já é o país com o maior número de adventistas”, Revista Adventista,
dezembro de 1997, 12.
82Tanni Ferelli, Secretaria da Divisão Sul-Americana, Dados referentes ao final de
2008, entrevista por telefone realizada em 29 de janeiro de 2009.
83Warlei Oliveira, Departamento de Publicações da Divisão Sul-Americana, entre-
vista realizada em 29 de janeiro de 2009.
84Dados de Abertura 2008, Departamento de Educação da Divisão-Sul Americana,
janeiro de 2009.
85George R. Knight, 147.
Aspectos missiológicos e históricos da Igreja Adventista do Sétimo Dia | 4 1 7

na Alemanha e França antes mesmo de ser organizada a Associação


Suíça.86 Segundo Schantz, da Suiça o trabalho espalhou-se, não somente
para a Alemanha, mas também para Itália, França, e Romênia.87 Já, a
Inglaterra converteu-se em um campo base enviando missionários para
outras terras.88 Por exemplo, em 1920 cerca de vinte casais foram enviados
para 0 exterior e muitos mais em 1922.89
Outro modo, como a mensagem adventista entrou na Rússia, foi
através dos missionários adventistas alemães enviados à Rússia. Na década
de 1890, L. R. Conradi escreveu que havia mais adventistas do sétimo
dia na Rússia do que em qualquer outra parte da Europa, e que embora
muitos missionários adventistas do sétimo dia alemães tinham partido para
Estados Unidos, Argentina e Brasil, 500 ficaram para trás na Rússia a fim de
evangelizar os russos.90 Após estas considerações, conclui-se obviamente,
que a formação da base missionária adventista brasileira também foi
resultado de um plano intencional, e de uma organizada estratégia.
Evidentemente, esperava-se que o Brasil, por sua vez, intencionalmente
também viesse a produzir missionários adicionais enviando-os aos
necessitados campos como aconteceu com as bases missionárias anteriores.
De fato, o Brasil não só recebeu a mensagem adventista para
comunicá-la internamente, mas tomou-se uma base missionária da Igreja
Adventista do Sétimo Dia enviando missionários para outros países do
mundo. Desde que Johannes Ehlers,91 nascido no Brasil em 1867,92 deixou
0 Brasil, em 1903, para estabelecer a Missão do Pare entre o povo de

86Maxwell, História do Adventismo, 188.


87Borge Schantz, 2: 260.
^ Church Heritage - A Course in Church History (Divisão Sul Americana, 1994),
48.
89Schantz, 2: 322.
90L. R. Conradi, “The German Russian, M ission Fiel”, Review and Herald, 5 de
dezembro de 1893.
91Revista Adventista, fevereiro de 1954, 25.
92Enciclopédia Adventista do Sétimo Dia, ver Ehlers, Johannes, Centro White, En-
genheiro Coelho, SP: Centro White, Unasp-II.
418 I W ilson Borba

Wapare na montanha de Pare, na África Oriental93 até 2009, mais de 500


missionários adventistas do sétimo dia brasileiros partiram para terras
vizinhas e além-mar. O número de missionários que a base adventista
do sétimo dia brasileira enviou pode ser apenas representativo de runa
quantidade ainda não sonhada por missiólogos da Igreja Adventista do
Sétimo Dia, devido às características positivas do missionário brasileiro
como, por exemplo, a idiossincrasia brasileira de apreciação por outras
nações, devido a sua cultura, tradição de paz e neutralidade no cenário
mundial. Os missionários brasileiros são em geral bem aceitos no
estrangeiro pelo menos por quatro motivos. Primeiro, a já mencionada
tradição de paz do Brasil e a sua neutralidade no cenário mundial. Depois,
porque o Brasil é a terra onde pessoas de quase todas as nações encontraram
um lar e convivem em paz. Por exemplo, o Brasil é o país com o maior
número de japoneses fora do Japão94 e com mais libaneses do que o
próprio Líbano.95 Em terceiro, devido à própria natureza alegre e gentil do
brasileiro. Finalmente, a aceitação do missionário brasileiro fora do Brasil
deve-se também ao futebol e a seleção brasileira. É apropriado lembrar
o testemunho dado em 2001 pelo missionário brasileiro, Pastor Wilmar
Hirle: “O Brasil é hoje o maior país adventista do mundo. Esse privilégio
gera uma grande responsabilidade. A ordem de Jesus foi: “Ide e pregai este
Evangelho a todo o mundo.” Praticamente não existem barreiras contra
brasileiros em muitos países onde normalmente é difícil a penetração de
estrangeiros. Creio que o Brasil terá uma participação muito marcante na
pregação do evangelho nos últimos dias. Deus está preparando o caminho.
Nossos jovens devem aprender falar inglês para serem enviados como
missionários a esses lugares. Jesus vai voltar logo.”96

93William Spicer, Our Story o f Missions, 234.


94http://www.suapesquisa.com/historiadobrasil/imigracaoJaponesa.htm
95http ://www.brazil-brasil.com/content/view/366/78/
96“Onde a religião não é mais o ópio do povo”, Revista Adventista, agosto de 2001,
5. Wilmar Hirle foi missionário na Divisão da Rússia e atualmente é secretário associado
do Departamento de Publicações da Associação Geral. Segundo 0 145th Annual Statisti-
cal Report-2008, 2, a índia atualmente é o país com o maior número de adventistas no
mundo. São 1.422.326 adventistas. O Brasil aparece em segundo lugar com 1.227.005
adventistas.
Aspectos missiológícos e históricos da Igreja Adventista do Sétimo Dia | 4 1 9

Diante das considerações deste artigo, agora, a Obra Adventista


no Brasil abençoada com singular pujança de instituições e número
de membros, deveria intencionalmente ampliar sua visão para além
do território nacional. Deveríamos estar à frente no preparo e envio de
missionários adventistas além-mar, e estes por sua vez, pela graça de Deus
brilhando como astros no mundo, deveríam dar poderosa contribuição no
processo da pregação do evangelho eterno aos que habitam sobre a terra e
a toda nação, e tribo, e língua, e povo. (Ap 14:6)
METODOLOGIA DA
MISSÃO
EL TODOPODEROSO EN LA MISIÓN DE BENDECIR A
TODAS LAS ETNÍAS DE LA TIERRA

Daniel Rode
Universidad Adventista del Plata, Argentina

Ι!Ι>ΙΙΙΙΙΙΜΜΙΊ|ΙΙΙ|ΙΙΙ|ΙΙ|||Ι||ΙΙΙΙΙ!ΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΜΙΊΙΙΙΜΙΙ1ΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΜΙΙΙ!ΙΙΙΜΙΙΜΙΙ!ΙΙΙΙΙ||ΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙ1ΙΙΙΙΜΙΙΙΙΙ!ΙΙΙΙΙΙΙΙΜΙΙ!ΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙ!ΙΜΜΜΙΙΙΙΙΜΙΙ

El término “misiones”, plural, fue usado primeramente por los


Jesuítas, en el siglo XVI. Desde entonces se lo utilizó para referirse a
las tareas del movimiento misionero, con un desvío humano. En muchas
misiones de Occidente se evangelizaba y “culturizaba” desde una
pretendida cultura superior. Algunos, con cierta soberbia, creían que
cuando el misionero “pisaba” el campo misionero “Dios llegaba a ese
territorio.” En la década de 1950 el cristianismo despertó a la idea Missio
Dei y con ella al uso del sentido singular de la “M isión”.1 Esto significó
un cambio de paradigma, es la misión de Dios, con la colaboración del
hombre (1 Co 3:9). Este nuevo paradigma contrastó con el paradigma de
la Ilustración, donde la razón era central.2 El primer exponente fue Kart
Barth, en la Conferencia del Consejo Misionero Internacional en 1952.
“Existe la Iglesia, porque existe la misión, y no al revés” .3 La misión nace
en el corazón de Dios, y existe “porque Dios ama a las personas.” Reconocer
que la misión pertenece a Dios, fue un descubrimiento asombroso respecto
a los siglos anteriores. Esto puede librar a la iglesia de una idea estrecha
de misión. “La misión es primera y finalmente la obra del Dios trin o ... un

1Walter C. Kaiser, Jr, Mission in the Old Testament: Israel as a Light to the Nations
(Grand Rapids, Michigan: Baker Books, 2000), 11.
2Ahora Dios era central. En la Ilustración la razón era central, Dios y la iglesia
habían sido eliminados. David Bosh, Misión en transformación: cambios de paradigmas
en la teología de la misión, (Grand Rapids, Michigan: Libros Desafío, 2000), 328.
3Bosch, Misión en transformación, 477.
424 I Daniel Rode

ministerio en el cual la Iglesia tiene el privilegio de participar”.4


La misión no debe estar antes que Dios. “Dios va delante de la
misión”. Antes que la antropología, la metodología y la tecnología, está
la teología. La mejor metodología es entender la teología.5 Cualquier
metodología de m isión que no está primeramente centrada en la teología
es mera antropología.

E l Shadday conduce la gran comisión en el Génesis


La expresión El Shadday aparece 48 veces en el AT, Moisés registra
40 de ellas. En Génesis aparece seis veces y todas son referencias a
Abraham, a Isaac y a Jacob. En Job aparece 31 veces. Moisés ya había
escrito Génesis y Job para el tiempo del Éxodo. En el libro de Éxodo
aparece una vez y es una referencia a Abraham, a Isaac y a Jacob. En
Números aparece dos veces y son referencias a Balaam (Nm 24:4, 16).
Moisés registra 33 veces El Shadday en relación con gente fuera del
pueblo de Dios (Job y Balaam); y siete veces en relación con Abraham, a
Isaac y a Jacob de ser bendición para todas las etnias de la tierra (Gn 17:1;
28:3; 35:9-11; 43:14; 48:3-4; 49:25; Ex 6:3).

La gran comisión de Génesis

“Aparecí a Abraham, a Isaac y a Jacob como Dios Todopoderoso”


E l S h a d d a y (Ex 6:3) y les dio la Misión

1. Abraham

“ Y serán bentidas en ti todas


Gn 12:3 mishpahot
las familias de la tierra.”

4Ibid, 479.
5John Piper, ¡Alégrense las nacionesl La supremacía de Dios en las misiones,
(Barcelona: Clie, 2007), 21.
El Todopoderoso en la misión de bendecir a todas las etnias | 4 2 5

“habiendo de ser benditas en


Gn 18:18 él todas las naciones de la goyim
tierra.”

“En tu serán
simiente
Gn 22:18 benditas todas las naciones goyim
de la tierra.”

2 ,Isaac

“Y todas las naciones de la


Gn 26:4 tierra serán benditas en tu goyim
simiente.”

3. Jacob

“Y todas las familias de la


Gn 28:14 tierra serán benditas en ti y mishpahot
en tu simiente.”

En estos cinco textos de la gran comisión en Génesis (Gn 12:3; 18:18;


22:18; 26:4; 28:14) y textos adicionales (Ex 6:3; Gn 17:1) El Shadday es
el que envía y promete que serán bendecidas (NVI) todas las familias y
naciones de la tierra.

El pueblo de Dios “crece y se multiplica” porque E l S h a d d a y lo bendijo


La fórmula de Génesis 1:28 y 9:1 de “crecer y multiplicarse llegó
a ser una fórmula usual de bendición,” que cruza toda la Biblia, hasta el
NT.6 En las seis veces que aparece El Shadday en Génesis (Gn 17:1-6;
28:3; 35:9-11; 43:14; 48:3-4; 49:25) está relacionado con “Bendición” y
“crecer y multiplicarse” (Heb. “beraca” y “pereh urebeh” ; gr.: “eulogia” y

6Nichol, Comentario Bíblico Adventista, I: 226.


426 I Daniel Rode

“auxano y pletyno”). En Génesis, “crecer y multiplicarse” tienen relación


con el Creador; con El Shadday, y la Gran Comisión dada a Abraham, a
Isaac y a Jacob. Debían “crecer y multiplicarse” : las aves y los peces (Gn
1:22); Adan y Eva (Gn 1:28); Noé y familia (Gn 9:1, 7); Abraham, Isaac,
Jacob y su descendencia (Gn 17:1-6, 16; 28:3; 35:9-11; 48:3-4) así como
Israel en Egipto (Ex 1:7).

L a s 6 a p a r ic io n e s d e E l S h a d d a y e n G é n e s is y su r e la c ió n 1 0 0 % c o n
A b r a h a m , I s a a c y J a c o b : Y 7 8 % ( 1 4 /1 8 ) c o n “b e n d ic ió n c r e c e r e
m u lt ip lic a r s e ”

u
>> ce
0‫נ‬ ‫נס‬ ‫נס‬
ee μ
ee ce ss
-o
*‫שינס‬ s-.
es
h a m , Is

‫ם׳‬
T e x to s

‫נס‬
Jacob

‫ם׳‬ *‫פ‬ ‫ש‬ »P*


cí ·1m *
Λ Ό &
ΧΛ a ‫ס‬ ‫ש‬
OJ
ce « ‫נס‬ ‫ש‬
tí u ‫נס‬
JO ‫נס‬
U
< U

/_v
17 ce
O ·‫צ‬
(N O? Ü
ce 'U
0‫נ‬4 ‫ש־׳‬
\£ 03 ^
ce ‫נ״‬ O ce
80" ‫הד‬ _T ce ‫נס‬ o
‫הד‬ ‫הד‬ tg
ce § g ‫ש‬ ^‫נס‬
ci ‫ש‬ ‫נס‬ ‫ש־׳‬ ce
¿‫כ‬ o o
W
fi >> ‫נס‬ i^‫נס‬ [S h
Vh ‫שיי‬
ce ce
‫ט‬ h-1 Λ I
>-‫ג‬ £

ce
4‫כ‬ o ‫נס‬
<tí
en ‫הד‬
o
o
ce
ce
.‫ע‬
‫שיי‬
o
&
<N ‫ש‬ ‫ש‬ ‫ש׳‬
Μ !>‫>־‬ ‫נס‬
o
‫ש‬ 00 o
ce
a
ce ‫נס‬ &Q g
Μ Η ce
HΖH
Λ 4=3 £
‫נס‬
H
El Todopoderoso en la misión de bendecir a todas las etnias | 427

£
o -4-J

>< ‫כד‬ O O
43 3
O ) 05 O
o

<υ <U T i
¿‫ד‬ 43
‫בס‬

‫ר־־י‬
X)
O
»-<
*·tí
en

‫ן‬ tí
w hJ
O


tí 05 ‫־‬O
‫כד‬ ‫אוי‬ ‫<־י‬
‫כד‬ O O
en o ω o
t í- o
43 tí ­‫ס‬ <d
tí ‫בס‬ ►
‫־־‬Ϊ
s3 «
O
w

5-<
o d) tí

t í‫־‬ ‫רס‬ o o
1 & ;^ ‫ל‬ <D
O
en ‫כד‬
‫כד‬
‫כד‬ U
O
‫״‬t í .
tí tí tí -4-^
00 a>
,t í * rtí X) X i H 3
‫ן‬/‫כ‬ O 05
d> <υ 43 a
e> m tí
►‫ר־י‬ s o
‫י‬4—‫י‬
£

00
a>

o
S) 8
en
t/n & 3
O
es ‫כדי‬ ‫ד־י‬ tí
0)
0 \ tí 05 1 1
x : rO
GO ^tí
tí O
o o

<‫ע‬
o
‫כד‬

<u
‫מ‬

En base a estos textos y sus relaciones veremos cuatro aspectos de


esta teología y metodología divinas: 1) el Omnipotente conduce la misión
a todas las etnias de bendecir, crecer y multiplicarse, 2) la misión consiste
en compartir bendiciones, 3) seres humanos comunes comparten las
bendiciones del Mesías; y 4) el destino de las bendiciones son todas las
etnias, grandes y pequeñas de la tierra.
428 I Daniel Rode

E l Shadday conduce la misión a todas las etnias de bendecir, crecer y


multiplicarse
Dios bendijo a los Israelitas en Egipto. “Y los hijos de Israel
fructificaron y se multiplicaron, y fueron aumentados y fortalecidos en
extremo, y se llenó de ellos la tierra” (Ex 1:7). El enemigo trata de destruir
a su pueblo; pero “cuanto más los oprimían, tanto más se multiplicaban
y crecían (Ex 1:12). Entonces, Moisés es enviado a liberar a Israel de
Egipto. Cuando el pueblo se queja porque los oprimían más, Moisés se
queja a Dios diciendo: “ ¡Y tú no has hecho nada para librarlo!” (Ex 5:23,
NVI). Dios le recuerda a Moisés que, la misión a Egipto sigue el modelo
de la misión dada a Abraham, Isaac y Jacob, donde El Shadday conduce
la misión. Le dice: “Me mostré,” (NC) a Abrahám, a Isaac, y a Jacob
como Dios Omnipotente” (El-Shadday; Ex 6:3).7 También le dice, que Él
recuerda el pacto (Ex 6: 4-5), que “ha oído el gemido” de Su pueblo, y
que todo está bajo Su control. Además le dice que le diga al pueblo: “Yo
soy Jehová: y yo os sacaré; y os libraré; y os redimiré; y os tomaré por mi
pueblo; y os meteré en la tierra de Canaán; y yo os la daré por heredad”,
firmado: “Yo Jehová” (Ex 6 :6 8 ‫)־‬. Y así lo hizo.
Efectivamente, “a los quince día del mes prim ero... salieron los
hijos de Israel con mano poderosa, a vista de todos los egipcios” (Nm
33:3). El Shadday conducía la misión. Los sacó de Egipto “a los ojos de
las naciones, para ser su Dios” (Lv 26:45). “Cuando estaban en E gipto...
decidí actuar en honor a mi nombre, para que no fuera profanado entre las
naciones entre las cuales vivían los israelitas. Porque al sacar a los israelitas
de Egipto yo me di a conocer a ellos, en presencia de las naciones” (Ez
20:8-9 NVI). Siempre, “las naciones fueron testigos reales. Las acciones
salvadoras de Jehová, el castigo y la restauración de Israel, fueron al

7Todopoderoso en Gn 17:1-6, cuando cambia el nombre Abrám por Abrahám. En


Gn 28:3 cuando Isaac envía a Jacob. En Gn 35:11 cuando a Jacob se le cambia el nom-
bre por Israel y se le dice “crece y multiplícate”. En Gn 43:14 cuando Jacob ruega por
misericordia delante de José en Egipto. En Gn 48:3; 49:25, cuando Jacob bendice a José.
El Todopoderoso en la misión de bendecir a todas las etnias | 429

mismo tiempo una predicación para las naciones.”8 Sólo El Todopoderoso


puede realmente hacer crecer la iglesia. Pero su iglesia debe testificar con
su vida. “La misión de Dios involucra al pueblo de Dios viviendo a la
manera de Dios a la vista de las naciones” .9

El increíble desvío del “plan de Sarai” con Agar (misión humana)


Abram y Sarai llevaban unos diez años en Canaán cumpliendo la
misión de levantar altares (Gn 12:7-9) pero, la descendencia continuadora
de la misión no llegaba. Los registros mesopotámicos aluden a costumbres
bien reglamentadas de como matrimonios ricos sin hijos, dejaban su
herencia a uno de sus criados de confianza. Abram se lamentaba que
“el mayordomo de mi casa (Lit. “el hijo de la posesión de mi casa” o el
"heredero de mi casa”) 101es este damasceno Eliézer” (Gn 15:2). Pero Dios
le dice: “No te heredará este, sino un hijo tuyo,‫ ״‬es decir, un hijo de Abram
(Gn 15:4). Pareciera que Sara percibió un plan divino sin ella.
“D ijo... Sarai a Abram: ‘Ya ves que Jehová me ha hecho estéril·,
te ruego, pues, que te llegues a mi sierva; quizá tendré hijos de ella’. Y
atendió Abram al ruego de Sarai” (Gn 16:2). Sarai culpó a Jehová por su
esterilidad. Su amargura la llevó por el camino de la misión errada. Y
propone a Abram que tenga hijos con Agar, su sierva. “Esta modalidad
estaba en armonía con las costumbres de Mesopotamia, durante la era
patriarcal” . Así lo establecía el Código de Amurabi.11 Pero no estaba en
“armonía” con “el Código” y la voluntad de Dios. Era el plan humano sin
fe en las promesas dadas a Abram (Gn. 15:4); “y todo lo que no proviene
de fe es pecado” (Ro 14:23). Eran las “hojas de higuera” (Gn 3:7) de Adán
y Eva; y el “fruto de la tierra” de la adoración sin sangre de Caín (Gn 4:3).

8Walter Vogels, G od’s Universal Covenant; A Biblical Study. 2nded. (Ottawa: Uni-
versity o f Ottawa Press, 1986), 67-68; en Wright, The Mission o f God, 473.
9Vogels, 68. Wright, The Mission o f God, 470.
10Nichol, Comentario Bíblico Adventista del Séptimo Día, 1:324.
11Siegfried H. Hom, Diccionario Bíblico Adventista del Séptimo Día (Florida, Bs.
As.: ACES, 1995), 589. El código de Hammurabi, secciones 144-146, 170, 171 legislaba
sobre esto. Nichol, Comentario bíblico Adventista del Séptimo Día, 1:330.
430 I Daniel Rode

Dios no necesitaba la misión sólo humana de Sarai y Abram


intentando “ayudarle”. Ismael nació y con él los problemas inmediatos
(Gn 16:4-9). Y por siempre hasta hoy, las guerras entre sus descendientes
literales y espirituales han sido un escollo para la misión divina. Siempre
que su pueblo ha querido suplir la ausencia de las obras poderosas de
El Shadday con acciones humanas, aparecen las maldiciones del varón
“que confía en el hombre” (Jer 17:5). Esto siempre ha perjudicado la
misión divina. En cambio, “cuando la voluntad del hombre coopera con
la voluntad de Dios, llega a ser omnipotente.”1213

“Misión” humana tipo: “Plan Ismael” que condena Jesús


El “proselitismo judío” es un desvío de la misión divina como el caso
“Ismael” . “Proselitismo” es totalmente distinto que “evangelizar”/ 5 Los
autores paganos acusaban al judaismo de la ‘diáspora’ de su proselitismo,
propaganda y coacción.14Y “en Palestina, se coaccionaba más fuertemente
que en la ‘diáspora’.”15 Horacio, poeta latino del siglo IA C , decía: “Si no
quieres venir voluntariamente haremos como los judíos y te obligaremos a
venir”.16 Latourette dice que: “Por el judaism o helenístico fueron ganados
muchos convertidos de entre las comunidades

12Elena G. de White, Palabras de vida del Gran Maestro (Florida, Bs. As.: Casa
Editora Sudamericana, 1960), 312.
13Proselitismo es hacer seguidores de un grupo (adventistas por ejemplo) como
si fuera un partido político. Esto podría degenerar en la “numerolatría”. El Diccionario
Enciclopédico Salvat define el proselitismo como el “celo de ganar prosélitos”. Prosélito
es una persona ganada para una religión, para una facción. Prosélito es un “partidario
que se gana para una facción, parcialidad o doctrina” (Salvat). La evangelización es algo
distinto. “Evangelizar es presentar de tal manera a Cristo Jesús, en el poder del Espíritu
Santo, que los hombres y mujeres lleguen a poner su confianza en Dios, a través de él, a
aceptarlo como su Salvador, y a servirlo como su rey en la comunión de su iglesia.” Pablo
Deirós, Diccionario hispano americano de la misión (Santa Fe, Argentina: COMIBÁM-
Cooperación Misionera Iberoamericana-, 1997), 181. C. Peter Wagner, Strategies fo r
Church Growth: Tools fo r Effective Mission and Evangelism (Ventura, California: Regal
Books, 1987), 128.
14Horacio, Sátiras 1.4.142-143. Manuel de Tuya, Biblia comentada (Madrid: Bi-
blioteca de autores cristianos, 1964), 504.
15Josefa, Vita 23. Tuya, Biblia comentada, 504.
16Sátiras 1.4.143.
El Todopoderoso en la misión de bendecir a todas las etnias | 431

gentiles vecinas. Los judíos estaban profundamente convencidos de que la


suya era la única religión verdadera y que algún día vendría a ser la fe de
toda la humanidad”}1
Ya sea por el enfoque humano y de “coacción” o porque “hacían
sus obras para ser vistos por los hombres” (Mt 23:5); Jesucristo condenó
el proselitismo judío. Dijo: “ ¡Ay de vosotros, escribas y fariseos,
hipócritas! porque cerráis el reino de los cielos delante de los hombres;
pues ni entráis vosotros, ni dejáis entrar a los que están entrando... ¡Ay
de vosotros, escribas y fariseos, hipócritas! porque recorréis mar y tierra
para hacer un prosélito, y una vez hecho, le hacéis dos veces más hijo del
infiemo que vosotros” (Mt 23:13 y 15). Los fariseos cerraban el reino. Y
hacían a las personas dos veces más merecedores (NVI) del infiemo. Los
prosélitos eran más fanáticos que los judíos. “San Justino... cuenta que
un judío ‘prosélito’ blasfema de Cristo el doble que un judío de sangre” .1718
Además, la mayoría eran conversiones aparentes que traían al judaismo
gente pésima. “El mismo Talmud llega a decir que los ‘prosélitos’ eran
una enfermedad en Israel. Y los presenta como un obstáculo a la venida
del Mesías.” 19
¿La evangelización que “coacciona” las decisiones al bautismo y
que luego no conduce al nuevo “converso” por el camino del discipulado
podría estar siendo, hoy, un obstáculo para la segunda venida del Mesías?
En 1882, Elena de White advertía del peligro de hábitos y prácticas
no cristianas, similar al proselitismo judío. En el libro El evangelismo, en el
capítulo 9: “Afirmemos el interés”; en la sección: “El bautismo y la entrada
a la iglesia”; bajo el subtítulo: “Un punto débil de nuestra evangelización”;
y en la misma página donde Elena de W hite dice que son preferibles seis
convertidos que 60 que hacen profesión de fe sólo nominal, ella dice:

17Latourette, Historia del cristianismo, tomo 1, 45.


18Tuya, Biblia comentada, 505.
19Bab. Niddoth 13:2. De Tuya, Biblia comentada, 505.
432 I Daniel Rode

La incorporación de miembros cuyos corazones no han sido


renovados, ni reformadas sus vidas es una fuente de debilidad
para la iglesia. Este hecho se ignora a menudo. Algunos
ministros e iglesias están tan deseosos de asegurarse un
aumento de los números que no dan un testimonio fiel contra
los hábitos y las prácticas que no son cristianas.20

E l Shadday y su relación con bendeción, crecer y multiplicarse

Abram con 100 años y Sarai estéril y de 90 (Gn 16:2; 11:30; 17:17)
no podían ser progenitores de multitudes que serían bendición para todas
las etnias. Por eso, aparece El Shadday y le dice a Abram: “vive en mi
presencia y sé intachable. Así confirmaré mi pacto contigo, y multiplicaré
tu descendencia en gran manera” (Gn 17:1-6, NVI). Abrám debía vivir
diferente, dejar las mentiras y las prácticas y costumbres paganas, había
que cooperar con El Shadday, caminar con Él y ser perfecto. Dios les
cambia los nombres. El padre enaltecido (Abrám) tenía que ser humilde
y confiar en El Shadday para poder ser íipadre de multitudes'” (Abrahám)
(Gn 17:4-6). Su esposa Sarai, “mi princesa”, sería Sara, “una princesa”,
es decir una “madre de naciones” (Gn 17:15-16).
Abrahám se postró pero riéndose. El no podía entender como él con
100 años y Sara con 90 podían tener hijos. Entonces vuelve a pensar en
Ismael (Gn 17:17). “Y dijo Abraham a Dios: Ojalá Ismael viva delante
de ti” (Gn 17:18). “Abrahám intercedió a favor de Ismael a quien amaba
entrañablemente y a quien había considerado como su hijo y heredero (Gn
17:18-19)” .21 Prefería “el hijo de su propio plan, aún en lugar de aquel
que naciera de Sara. Además esto le ahorraría la turbación de renunciar
públicamente a su plan para Ismael como heredero suyo”.22 Dios en
su misericordia le repite la fórmula de bendición dada a Adán y a Noé
(Gn 1:28; 9:1), “le bendeciré, y le haré fructificar y multiplicar” (Gn
20Elena G. de White, El evangelismo (Florida, Buenos Aires: ACES, 1975), 235.
21Hom, Diccionario Bíblico Adventista, 582.
22Nichol, CBA, 1.336. White, Patriarcas y profetas, 142-143.
El Todopoderoso en la misión de bendecir a todas las etnias | 433

17:20).23 Era una misión dentro de la Missio Dei. Pero fuera del plan
de Dios para Isaac. Era una bendición sobre un Ismael “no culpable”.
Pero de todas formas, “Ismael no podría quedar más tiempo en el hogar
sin poner en peligro el plan de Dios para Isaac” (Gn 21:12). Porque, el
pacto divino y las bendiciones espirituales seguirían siendo con Isaac
(Gn 17:21).24 Abrahám debía entender que “muchas veces nuestros
planes fracasan, para que los de Dios respecto a nosotros tengan éxito.25‫״‬

“La misión consiste en compartir bendiciones”

El tem a de “la bendición” es sumamente importante en Génesis.


La palabra hebrea “beraka”, “bendición", ocurre 73 veces en Génesis y
sólo 9 veces la palabra “maldición”.26 “Bendición en el sentido bíblico
significa... impartir favores sobrenaturales,”2728 y también “ ventaja o
beneficio” 28 Sólo la bendición divina permitiría a Abrahám y a su
descendencia ser bendición. Dios dijo: “Te bendeciré... y serás bendición”
(Gn 12:2).
La bendición tuvo una dimensión material y una espiritual.29 Dios
bendijo a los animales y al hombre para que fructifiquen y se multipliquen
y llenen todo el mundo (Gn 1:22, 28). El hombre creado a imagen de
Dios debía reproducir esa imagen y cubrir toda la tierra (Gn 1:26-28; Sal
57:5). “El huerto del Edén era una representación de lo que Dios deseaba
que llegase a ser toda la tierra, y su propósito era que a medida que la
familia humana creciera en número estableciese otros hogares y escuelas

23Víctor P. Hamilton, The Book o f Genesis, cap. 1-1 7 (Grand Rapids, Michigan:
Eerdmans, 1990), 313.
24Nichol, CBA 1: 357, 331, 336.
25Elena G. de White, El ministerio de curación (Mountain View, California: Pa-
cific Press, 1959), 376.
26Alexander, From Paradise to the Promised Land, 33.
27Wilkinson, The Prayer o f Jabez, 23
28Horn, 155.
29Carroll R., “Blessing the Nationes: Toward a Biblical Theology o f Mission from
Genesis”, 23.
434 I Daniel Rode

semejantes a los que él había dado”.30


Carroll cree que, el tema de la bendición define la misión de Abrám
y sus descendientes para, “todas las familias de la tierra” (Gn 12:3).31
Cuando Abrám entró a Canaán, empezó inmediatamente la misión a las
etnias de esa tierra (Gn 12:6). Uno de los primeros actos de Abrám en
Canaán fue construir altares, para levantar el símbolo de la bendición
de Dios para todas las etnias: El Cordero (Gn 12:7-8).32 Los sacrificios
dirigían la mente hacia el Mesías venidero,33 la simiente de la mujer (Gn
3:15) y la mayor bendición para este mundo.

Seres humanos comunes conducidos por El Shadday comparten las


bendiciones del Mesías

La expresión “en ti” y “en é l” de Génesis 12:3 y 18:18, hacen


referencia a la bendición que Abrám debía ser para las familias. Las
etnias en el tiempo de Abram eran “el cananeo, el fereseo y otros
pueblos” quienes recibieron un testimonio visible positivo de la vida
de Abram. Pero también las contiendas entre los hermanos eran un
testimonio negativo. Abrám levantaba altares (Gn 12:6-8), y los pastores
peleaban mientras Abrám les animaba a dejar la contienda “porque
somos hermanos”. “Y el cananeo y el fereseo” observaban aquel doble
mensaje (Gn 13:7-8). Las acciones en el pueblo de Dios, afectan las
etnias, y las acciones de Dios en las etnias, afectan al pueblo de Dios.34

30Elena G. de White, La educación (Florida, Buenos Aires: ACES, 1978), 22.


31Carroll R., “Blessing the Naílones: Toward a Biblical Theology o f Mission from
Genesis, 21.
32Ibid., 28.
33Elena G. de White, Patriarcas y profetas (Mountain View, CA: Pacific Press,
1955), 120-121.
34Christopher J. H. Wright, The Message o f Ezefiel: A New Heart and a New Spirit,
The Bible Speaks Today (Downers Grove, Illinois: InterVarsity Press, 2001), 260. en
Christopher J. H. Wright, The Mission o f God: Unlocking the Bible's Grand Narrative
(Downers Grove, Illinois: InterVarsity Press, 2006), 473-474.
El Todopoderoso en la misión de bendecir a todas las etnias | 435

Dios esperaba influir positivamente en las etnias de Sodoma


y Gomorra por medio de Abrahám (Gn 18). Esa tierra le pertenecía a
Abrahám,35 Dios se la había dado a él y a su descendencia para cumplir Su
misión (Gn 12:1, 7, 13:15-18). “La familia de Abrahán comprendía más
de mil almas... Abrahán... educaba a los padres de familia, y sus métodos
de gobierno eran puestos en práctica en las casas que ellos presidían” .36 La
influencia de Abrahám había llegado a Sodoma y Gomorra, por lo menos,
de dos formas distintas: por medio de la vida de Lot y por la liberación
que hizo su ejército de “trescientos dieciocho” criados nacidos en su casa
(Gn 13 y 14:14). Era una cortesía de parte de Dios informarle a su amigo
(2 Cr 20:7) lo que pensaba hacer con esas dos etnias que Abrahám debía
bendecir (Gn 18:18). Abrám que, “ una vez los había salvado mediante
su espada, ahora trató de salvarlos por medio de la oración”.37 “Ser
bendición en este contexto significa, tener uno que interceda delante de
Dios a favor del destino de otro, es tener uno que, ‘haga intercesión por
el trasgresor ’(Is 53:12) ”.38
“Jehová había bendecido a Abraham en todo” (Gn 24:1), y por eso
pudo ser una bendición para otros. La etnia de los heteos lo reconoce como
“unpríncipe de Jehová entre ellos ” (Gn 23:6). También Isaac, bendecido
por Dios (Gn 26:12) fue reconocido por los filisteos como un “bendecido
de Jehová ” (Gn 26:28,29; NVI). “La misión de Dios involucra, al pueblo
de Dios viviendo a la manera de Dios, a la vista de las naciones.”39
También en el NT, cuando hombres comunes se colocaron
humildemente al servicio del que tiene “todapotestad... en el cielo y en la
tierra” (Mt 28:18). El “Todopoderoso” (pantokrator) (Ap 1:8),40 produjo
35Nichol, Comentario bíblico Adventista del Séptimo Día, 1:341.
36White, Patriarcas y profetas, 136.
37Ibid., 134.
38R. K. Harrison y Robert L. Hubbard, The New International Commentary on
the Old Testament. The Book o f Genesis, chapter 18-50 (Grand Rapids, MI: Eerdmans,
1990), 18.
39Vogels, 68. Wright, The Mission o f God, 470.
40Apocalipsis 1:8, el Alfa y la Omega, que es, era y ha de venir; 4.8, que era, es, y
ha de venir; 11:17, eres, eras y has de venir; 15:3, cántico de Moisés y justos y verdaderos
caminos; 16:7, juicios justos y verdaderos; 14, la gran batalla del Dios Todopoderoso;
19:6, el Dios Todopoderoso reina; 15, la ira del Dios Todopoderoso; 21:22, el Dios Todo­
436 I Daniel Rode

crecimiento. “ Crecía la Palabra del Señor y el número de los discípulos se


multiplicaba grandemente” (Hch 6:7). “La Palabra del Señor crecía y se
multiplicaba” (Hch 12:24).

En tu simiente

El NT interpreta la referencia “en tu simiente” (Hch 3:25) como


singular y como referencia a Jesucristo (Hch 3:19, 22, 25, 26). Pablo dice
directamente, “a Abrahám fueron hechas las promesas, y a su simiente.
No dice: Y a las simientes, como si hablase de muchos, sino como de uno:
Y a. tu simiente, la cual es Cristo” (Gá 3:16). En resumen, por medio de
Abrahám, por medio de “su descendencia”, el “Israel literal” y “el Israel
espiritual;” y especialmente por medio de “la simiente” que es Cristo,
todas las etnias de la tierra recibirían Su bendición.

El destino de las bendiciones son todas las etnias, grandes y pequeñas


de la tierra

En la primera y quinta referencias a la gran comisión (Gn 12:3 y


28:14) la palabra hebrea que aparece es mishpahot (plural de mishpaha).
Un estudio contextual del uso del término en el AT, que aparece unas 300
veces, muestra41 que puede ser una subdivisión de una tribu, toda una tribu
y aún todo un pueblo como es mencionado Israel por Amos (Am. 3:1-
2). Pero en forma específica, los léxicos hebreos le dan a mishpaha el
significado de “clan ” o “familia Todos reconocen que se trata de una
subdivisión de una tribu o un pueblo.42 Entonces, en forma específica una

poderoso era su templo.


41Showalter, “All the Clans, All the Peoples”, 123-126.
42Ludwig Koehler y Walter Baumgartner, Lexicon in Veteris Testamenti Libros
(Grand Rapids, Michigan: Eeerdmans, 1951), 579. Kittel, Theological Dictionary o f the
New Testament, Vol. //(G rand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1964), 369. E. A. Speiser,
The anchor Biblia: Genesis (New York: Doubleday, 1964), 86. Showalter, ‘‘A ll the Clans,
All the Peoples ”, 124.
El Todopoderoso en la misión de bendecir a todas las etnias | 437

mishpaha “es un grupo social más chico que una tribu y más grande que
una familia nuclear.”43
En las otras tres referencias (Gn 18:18; 22:18 y 26:4) el término
hebreo que aparece es goyim que se refiere especialmente a naciones no
Israelitas.44 Las “goyim ” que Dios destruiría para que Israel se instale
en Canaán son mencionados como “naciones” (Dt 31:3; Jos 23:3) o
“pueblos” (Jos 24:18). Estas “naciones” son: “el heteo, el amorreo, el
cananeo, el fereseo, el heveo y el jebuseo” (Jos 12:8). Claramente eran
“grupos étnicos”.

Desde el momento que nociones antiguas de la identidad


nacional están conectadas a la consanguinidad y cultura
común, encontramos que los clanes y los pueblos o naciones
de la comisión de Génesis debe ser una particular, pero aún
inclusiva, referencia a la humanidad en todas sus subdivisiones.
Por lo tanto el tremendo impacto de la promesa de bendecir
a “todos los clanes/naciones” de la tierra significa que por
medio suyo los pueblos de la tierra serán benditos, aún hasta
las subculturas individuales. La promesa es para cada una
de aquellas subdivisiones de la humanidad en las cuales los
pueblos encuentran su identidad.45

Esta es la forma bíblica de ver al mundo para evangelizarlo, como


grupos étnicos. “Las naciones de la humanidad preocupan la narrativa
bíblica desde el comienzo hasta el fin.”46 “Desde el llamado de Abraham
en Génesis 12 en adelante a través de la historia Bíblica, la preocupación
de Dios ha sido siempre que la bendición de Su redención fluya a todos
los pueblos, y a todos los grupos de gente dentro de estos pueblos” .47 Las
43Showalter, “All the Clans, All the Peoples”, 123. John Robb, Focus! The Power
o f People Group Thinking (Monrovia, California: MARC (Missions Advanced Research
& Communication Center), 1989), 14.
44Aunque en algunos contextos puede referirse al pueblo de Israel. Por ejemplo,
de Abrahám se dijo que sería una “nación (o goy) grande” (Gn 12:2).
45Showalter, “All the Clans, All the Peoples”, 126.
46Wright, The Mission o f God , 454.
47Robb, Focus! The Power o f People Group Thinking, 14.
438 I Daniel Rode

naciones o etnias, aparecen 996 veces en la Biblia: 818 en el AT y 178


en NT. En el Pentateuco aparece 80 veces; en los Salmos 61 veces; en
Isaías 60 veces y en los Evangelios 24 veces.48 Sólo en el Salmos 67:1-7,
hay ocho referencias a los pueblos o naciones. Los Salmos “celebran el
carácter transcultural de la misión. Ellos son la música de las misiones49.‫״‬
Hay más de 175 referencias en los Salmos llevando esperanza de salvación
a las naciones.50
En la tierra nueva habrá, redimidos de todas las etnias. “Digno
eres... porque tú fuiste inmolado, y con tu sangre nos has redimido para
Dios, de todo linaje y lengua y pueblo y nación‫( ״‬Ap 5:9). “Después de
esto miré, y he aquí una gran multitud, la cual nadie podía contar, de todas
naciones y tribus y pueblos y lenguas‫( ״‬Ap 7:9). En el Apocalipsis Juan
coloca siete veces y siempre de forma distinta la cuádruple frase “nación,
tribu, lengua y pueblo Como pueblo adventista es famosa la registrada
enA p 14:6, pero hay seis más (5:9; 7:9; 10:11; 11:9; 13:7; 14:6; 17:15). El
tema de las naciones da para hacer un estudio, en cada libro de la Biblia,
especialmente en el Apocalipsis.
El Todopoderoso (Ap 1:8) Jesús prometió: “Yo edificaré mi iglesia”
(Mt 16:18). “Será predicado este evangelio del reino en todo el mundo,
para (o “p o r”,51 o “con el fin de dar”) testimonio a todas las naciones
(etnias); y entonces vendrá el fin” (Mt 24:14). Es el propósito de Dios
que el evangelio sea predicado en todo el mundo “con el fin de‫ ״‬que en
todas las etnias, haya un testimonio visible. Orlando Costas lo denomina
“el quinto evangelio”. Todo habitante tiene el derecho de leer este “quinto
evangelio”, en la vida de los discípulos de Cristo de su propia etnia,52

48C. P. Denyer, Concordancia de las Sagradas Escrituras Revisión de 1960 de la


versión Reina Valera (San José, Costa Rica: Editorial Caribe, 1969), 603-605.
49W. Creighton Marlowe, ‘‘Music o f Missions: Themes o f Cross-Cultural Outreach
in the Psalms, ” Missiology 26 (1998): 452. Whright, The Mission o f God, 484.
50George Peters, A Biblical Theology o f Missions (Chicago: Moody Press, 1972),
115-116. Whright, The Mission o f God, 484.
S1NVI, Hugo M Setter, La nueva concordancia greco-española del NT con índices
(Buenos Aires: Casa Bautista de Publicaciones, 1980), 169.
52Orlando Costas, Liberating News: A Theology o f Contextual Evangelization
(Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1989), 133.
El Todopoderoso en la misión de bendecir a todas las etnias | 439

cuando esto se cumpla vendrá el fin. Elena de White interpretó M t 24:14 y


le atribuyó un doble cumplimiento. El primer cumplimiento se dio con la
predicación apostólica (Col 1:23) antes de la destrucción de Jerusalén; y
garantiza el segundo cumplimiento.

Antes de la caída de Jerusalén, Pablo, escribiendo bajo la


inspiración del Espíritu Santo, declaró que el Evangelio
había sido predicado a “toda criatura que está bajo el cielo”
(Col. 1:23). Así también ahora, antes de la venida del
Hijo del hombre, el Evangelio eterno ha de ser predicado
“a toda nación y tribu y lengua y pueblo” (Ap 14:6).53

Cuando la iglesia llegó a “todas las etnias” en el siglo I, “vino el fin”


para Jerusalén. Cuando la iglesia llegue con su testimonio a “todas las
etnias”, también “vendrá el fin” . Lo que separa a la iglesia del fin es una
misión como Dios había mandado. En 1898, Elena de White decía: “Si la
iglesia de Cristo hubiese hecho su obra como el Señor le ordenaba, todo
el mundo habría sido ya amonestado, y el Señor Jesús habría venido” .54
En el contexto de esta cita está Mateo 24:14; 28:18-20 y Apocalipsis 14:6
donde se indica cómo le ordenó el Señor a la iglesia que hiciera la obra.
La obra consiste en colaborar con El “Todopoderoso”, haciendo discípulos
que, den testimonio en toda nación, tribu, lengua y pueblo. Cuando esto
se cumpla vendrá el fin.55 En 1909, Elena de White decía: “Los ángeles
del cielo han esperado por mucho tiempo La Colaboración de los agentes
humanos, de los miembros de la iglesia, en la gran obra que debe hacerse.
Ellos os están esperando.”56
Señales de esperanza

El cristianismo cambió en 1950 hacia la Missio Dei. La Iglesia


53La referencia de Ap 14:6 fue agregada. White, El Deseado de todas las gentes,
587.
54White, El Deseado de todas las gentes, 587-588. La cursiva y el subrayado
fueron agregados.
55Bauckham, The Climax ofProphecy: Studies on the Book o f revelation, 264-265.
56White, Joyas de los testimonios, tomo 3:308-309.
440 I Daniel Rode

Adventista en 1980, también empezó a cambiar hacia la Missio Dei cuando,


agregó la creencia N° 17, sobre “Los dones y ministerios espirituales” y lo
volvió a hacer en 2005 cuando agregó la creencia n° 11, “El crecimiento
en Cristo.”
El cristianismo en general, cambió en 1974 hacia la idea de llegar
a todos los pueblos no-alcanzados”, todas las etnias, en el Congreso
Internacional de Evangelización Mundial en Lausana, Suiza. En esa
ocasión, Edward Dayton distribuyó un directorio de “pueblos no-
alcanzados ” y se comenzó a tomar conciencia de la misión a las etnias.57
La Iglesia Adventista también tuvo un proceso, en el desarrollo de la
misión. Recién en el Concilio Mundial de Río de Janeiro de 1987, se
reconoce que falta una estrategia global para alcanzar a todas las etnias.
Entonces Neil Wilson, presidente de la Iglesia Adventista dijo:

Se han identificado aproximadamente 25.000 grupos en el


mundo. De ellos, 15.000 no han sido tocados todavía. Si me
pregunan por nuestra estrategia para alcanzar a esos grupos,
no sabría que responder... Estoy agradecido por la iniciativa de
las iglesias. Pero eso no es una estrategia global.5*

Bruce Bauer dijo: “Misión Global ha sido lo mejor que le pudo ocurrir,
a la Iglesia Adventista en el área de las misiones en los últimos 50 años”.59
La Iglesia Adventista ha llegado a 204 países de los 228 existentes, y trabaja
en forma escrita y oral en 817 idiomas y dialectos. Pero recordemos que
existen 13.600 idiomas y dialectos vivos.60 La Biblia está en 6.600 de esos
idiomas y dialectos que hablan 6.405.000.000 de habitantes; el 95,6% de
la población del mundo. Aún falta colocar la Biblia, en 7.000 idiomas y
.dialectos que hablan 286.000.000 de habitantes; el 4,4% de la población.61
57Wagner, Strategies for Church Growth, 178-180.
58Neal Wilson, “Hacia una estrategia global”, Revista Adventista, 1987:3.
59Bruce Bauer, Adventist Mission in the 21st. Century (Hagerstown, MD: Review
and Herald, 1999), 164.
60Asociación General de la IASD, Annual Statistical Report (Silver Spring, Mary-
land: Asociación General de la IASD, 2000), 67, 75.
61David B. Barret, Todd M. Johnson, y Peter F. Crossing, “Missiometrics 2008”,
El Todopoderoso en la misión de bendecir a todas las etnias | 441

Por otro lado, hay unos 12.000 a 100.000 grupos, grandes y pequeños
donde establecer obra. Mike Ryan, vice-presidente de la Iglesia Adventista
del Séptimo Día (IASD), decía que, los adventistas gastamos el 99,98%
de nuestros diezmos y ofrendas, en áreas donde la obra adventista está
establecida y sólo el 0,02% en territorios de Misión Global. Por otro lado,
en la Ventana 10-40, vive el 60% de la población del mundo, pero sólo
el 10% de la feligresía es adventista.62 Algo se ha hecho en los últimos
congresos de la Asociación General (AG), pero aún no se ve una estrategia
mundial agresiva para llegar a todas las etnias.63

Conclusiones y más señales de esperanza

El Espíritu Santo está conduciendo a su iglesia a concretar el sueño


de Dios. La humildad, en algunos ámbitos, para aceptar nuestros errores
y analizar por qué se nos está yendo la gente;64 un interés mayor por el
tema de la oración intercesora y por el Espíritu Santo;65 una atención de
más ministerios provistos por los dones del Espíritu; el tema de los grupos
pequeños volviendo al estilo de vida de la iglesia primitiva; el proyecto

“Dilo al mundo” (2005) que espera que 5.000.000 de discípulos, en


5 años, logremos por lo menos 5.000.000 de discípulos más en todo el
mundo; el despertar por la fundación de iglesias; la contextualización a
todas las etnias; las 40 madrugadas, los seis frentes misioneros y el “ciclo
IBMR. [Enero 2008] Vol 32, N° 1, 29-30.
62Esto decía en 1999, Bauer, “Structure and Mission”, en Dybdahl, ed., Adventist
Mission in the 21st. Century, 160-161.
63White, Protetas y reyes, 279-280. Mario Veloso, Entrevista personal, 12 de junio
de 2002.
64Roger L. Dudley, Why Our Teenagers Leave the Church (Hagerstown, MD: Re-
view and Herald, 2000).
65Varios movimientos de oración intercesora y reuniones especiales para orar por
el Espíritu Santo han surgido últimamente. El Ministerio de la Mujer está impulsando
la oración intercesora, se han editado varios libros sobre la oración como: Kris Coffin
Stevenson, Aliento del corazón (ACES, 2001); Richard W. O ’Ffill, La oración fuente de
poder inagotable (Miami, FL: APIA, 2000); Joe Engelkemier, Grandes oraciones de la
Biblia, y quienes las elevaron (ACES, 2000); Elena de White, La oración (ACES, 2006);
y otros libros más.
442 I Daniel Rode

de discipulado” de la División Sudamericana (DSA), entre otros aspectos,


nos dicen que como iglesia, poco a poco, estamos sacando los estorbos y
permitiendo que se concrete el sueño de El Shadday, de cubrir la tierra con
su gloria. Pareciera que la iglesia se está encaminando hacia los siguientes
principios básicos de una metodología bíblica, para la terminación de la
obra:
1. Mediante la oración intercesora dejar en las manos de El Shadday
la misión de bendecir a todas las etnias creciendo y multiplicándose.
2. Entender que la misión es primero divina y luego humana. Que es
misión divina con cooperación humana. Por lo tanto, con toda humildad
cooperar con Dios.
3. Continuar tomando conciencia que, “los desvíos humanos tipo
Agar”, o el “proselitismo judío” o “el juego de números” con motivaciones
no cristianas, debilitan la iglesia del Señor. Por lo tanto, pedir perdón a
Dios y continuar corrigiendo el problema.
4. Continuar tomando conciencia que la vida de la comunidad
adventista, debe seguir siendo la bendición de un testimonio visible,
relevante y de esperanza para todas las etnias = misión centrípeta.
5. Continuar procurando que la comunidad misionera siga
cumpliendo la misión de predicar el evangelio, mediante un servicio
humilde de acuerdo a los dones = misión centrífuga.
6. Seguir procurando que la bendición del Mesías con su Palabra,
vuelvan a ser el centro de la teología metodológica de la misión.
7. Siendo que del comienzo al El Shadday fin, la Biblia, trata de la
relación del Mesías con las etnias; enfocar aún más la misión de cada
iglesia en la apertura de nuevas misiones y congregaciones, en todos los
barrios, tribus, pueblos, lenguas y naciones.
EDUCAÇÃO MISSIOLÓGICA E A MISSÃO GLOBAL:
PERSPECTIVAS TEOLÓGICAS E METODOLÓGICAS
PARA A IGREJA ADVENTISTA

Wagner Kuhn
Andrews University, EUA

1111m11M111111m1111111111111m111111m111111111m111111111m11111111!11111m1111!111111111111111Jm1111111m1111111m11H111m11m111h11111111111111111111m111111<11n

Introdução

Os desafios missiológicos frequentemente enfrentados por


missionários interculturais precisam de respostas (métodos) que sejam
bíblicamente orientadas, pois aplicar estas respostas ou métodos à
realidade vivida pelo missionário não é tarefa fácil. O difícil é harmonizar
esses métodos, que, embora estando de acordo com a Palavra de Deus, não
satisfazem às expectativas e compreensão que os líderes da Igreja (que
enviam ou recebem missionários) têm acerca doassunto.1 Muitas vezes as
respostas e métodos usados pelos missionários, ou o curso deação tomados
por eles, fogem ao padrão normal ou esperado. Isso ocorre por vários
fatores, como linguagem diferente, costumes e culturas variados, clima
e cosmovisão distintos daqueles do missionário ou da cultura, tradição
religiosa, e estilo de vida no seu país de origem. Por isso, além de vários
outros fatores, é imprescindível que o missionário transcultural obtenha
educação teológica e missiológica adequada e pertinente à sua missão, ao
1Ellen G. White escreveu: “Entristeço-me ao ver homens procurarem determinar
o rumo exato que os missionários de terras distantes devem seguir. Devemos entregar as
questões mais na mão dAquele que professamos seguir, a fim de que Ele possa operar por
meio dos agentes que designou como Lhe aprouver”. (Testemunhos Para Ministros, São
Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 1993: 212).
444 I W agner Kuhn

seu contexto (lugar de trabalho), bem como às responsabilidades que terá


de desempenhar.2
As oportunidades que a educação missiológica oferece aos que
desejam envolver-se na missão global da Igreja Adventista são de alcance
atemporal, pois a verdadeira educação é redenção.3 Quem é educado para
uma missão divina deveria ter como objetivo fundamental ver pessoas
redimidas e transformadas em discípulas de Cristo. “A verdadeira educação
é um preparo missionário. Os filhos e filhas de Deus são chamadospara
serem missionários; somos chamados ao serviço de Deus e de nossos
semelhantes e habilitar-nos para esse serviço deve ser o objetivo de nossa
educação” .4Assim como os pastores passam vários anos em treinamento
e formação teológica, os futuros missionários também devem obter
adequada formação missiológica. Por isso a educação missiológica deve
fazer parte do currículo de formação ministerial como qualquer outra
disciplina acadêmica bíblica ou teológica, pois levar o evangelho aonde
este ainda não foi anunciado é uma questão de fidelidade e obediência à
ordem de Cristo.
A Igreja Adventista no Brasil e na América do Sul tem o
grande privilégio, a oportunidade e também a responsabilidade de,

2Para uma compreensão mais ampla dos mais variados aspectos e questões que
afetam e influenciam a vida, o trabalho e o treinamento de missionários cross-culturais,
consulte o excelente livro de Tom Steffen e Lois McKinney Douglas, Encountering Mis-
sionaryLife and Work: Preparingfor lntercultural Ministry (Grand Rapids: Baker, 2008).
3Ver Ellen G. White, Educação (São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 1997),
30. “N o mais alto sentido, a obra da redenção e da educação são uma; pois na educação,
com na redenção, ‘ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto 0 qual
é Jesus Cristo’” (1C0 3:10).A autora expande este princípio ao afirmar que “Rendenção é
o processo pelo qual a alma é preparada [trained, treinada/educada] para o céu. Esse pre-
paro [training, treinamento/educação] implica conhecer a Cristo. Significa emancipação
de idéias, hábitos e práticas adquiridos na escola do príncipe das trevas.A alma se deve
libertar de tudo que se opõe à lealdade para com Deus” {Desejado de Todas as Nações,
São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 1991: 313).Em meu entendimento este é um
princípio universal com implicações teológicas e missiológicas para a Igreja Adventista
em todos os lugares.
4EllenWhite, A Ciência do Bom Viver{Santo André, São Paulo: Casa Publicadora
Brasileira, 1977), 395.
Educação missiológica e a missão global | 445

intencionalmente, participar na missão global da Igreja5não somente nestes


territórios, mas também em lugares de aceso difícil, lugares distantes,
onde o evangelho ainda não foi anunciado, como é 0 caso de alguns países
e regiões da chamada Janela 10/40. Os desafios globais exigem que os
futuros missionários adquiram o preparo que os habilite a desempenhar a
sagrada tarefa de pregar as boas-novas da salvação em Cristo para 0 seu
contexto e lugar de atuação. Assim, a Igreja Adventista de nossa região,
por ser fiel à missão, deve prosseguir incentivando, treinando e enviando
missionários.

Considerações pessoais preliminares

Este artigo não define todos os pormenores ou os instrumentos a


serem empregados no planejamento de um currículo e na implementação
da educação missiológica. O presente trabalho reflete a experiência do
autor, sua visão, compreensão e prática missiológica. E está apoiado na
compreesão do autor de temas como a Segunda Vinda de Cristo, o Grande
Conflito, a Bíblia como Palavra de Deus, a teologia e a missão Adventista,
a urgência na proclamação das Três Mensagens Angélicas de Apocalipse
14, o Movimento Adventista, o Remanescente e os Mandamentos de Deus,
para mencionar alguns. O artigo também reflete a caminhada pessoal
do autor com Deus, sua infância e educação, sua experiência no campo
missionário, bem como treinamento e educação missiológica. Como as
fontes são bastante escassas, o presente artigo é pioneiro no campo de
educação missiológica Adventista.6
Fui gerado em Minas Gerais e nascí no Rio Grande do Sul, em um
lar Adventista. Minha mãe7 veio de uma família de quatro gerações de

5Ver dois artigos escritos recentemente por Alberto R. Timm, ‘“Impact Hope’ Proj-
ect: An Integrated Missional Experiment” {Journal o f Adventist Mission Studies'), 2009,
Vol. 5, No. 1: 60-67; and “Building a Growing Church: The South American Experience”
{Ministry), 2008, October: 20-23.
6Como se trata de uma narrativa pessoal, alguns trechos do texto serão redigidos
em primeira pessoa.
7Ester Kuhn (Mendes de Oliveira - sobrenome de solteira).
446 I W agner Kuhn

Adventistas. Para solidificar sua participação na missão da Igreja, após


passar alguns anos estudando na Escola Adventista de Rolante e no
IACS, ela tomou-se uma dinâmica obreira bíblica da Associação Sul-Rio-
Grandense. Sempre fiel à Igreja, procurou fazer o que estava ao seu alcance
para levar a Cristo o maior número de pessoas. Era descrita como alguém
que possuia “paixão pelas almas”, por ser incansável em seu zelo. Com
hinos no coração e nos lábios, ela deu muitos estudos bíblicos, conduzindo
pelo poder de Deus centenas de pessoas ao batismo. Fiel a Deus e leal à
Igreja, ela fez uma diferença marcante na minha vida.
Meu pai8 crê ter se convertido pela providência do Espírito Santo ao
encontrar um exemplar do livro O Grande Conflito na casa de sua tia. Este
exemplar havia sido vendido por dois colportores estudantes9 na cidade de
Novo Hamburgo, RS. Ávido leitor, ele ‘devorou’ o livro em dois ou três
dias. Ao terminar de ler a obra pela segunda vez, em uma semana, ele saiu
caminhando literalmente pela cidade à procura de uma Igreja Adventista.
Como herança religiosa meu pai trazia em sua jornada espiritual o
Luteranismo. Sua conversão à fé Adventista e, mais específicamente, sua
conversão a Deus e sua subsequente dedicação à educação Adventista,
criaram condições para a vocação missionária de seus filhos. Ele é
considerado como uma pessoa extremamente fiel a Deus. A fidelidade a
Deus e aos princípios e doutrinas adventistas exemplificadas por meu pai,
em seu exemplo de vida, e a fidelidade de minha mãe a Deus e sua lealdade
incondicional à Igreja Adventista, consolidaram em mim os princípios
bíblicos Adventistas e a forte convicção de servir a Deus e à Igreja
como missionário adventista no Brasil bem como em terras além-mar.
Durante minha infância e juventude, meus pais faziam culto
matutino e vespertino todos os dias. M inha mãe sempre contava histórias

8Helmo Kuhn.
9Evidências circunstanciais indicam que os dois corportores eram: Elias Reis de
Azevedo e Wilson H. Endruweit, segundo relatado por meus pais.
Educação missiológica e a missão global | 447

de missionários e orávamos diariamente (tanto em nosso lar como no lar


de meus avós matemos) pelos “obreiros da causa de Deus”: colportores,
pastores, professores, médicos e missionários. Meu pai estudava a Bíblia
e os livros do Espírito de Profecia regularmente e sistematicamente. Foi
ele quem me ajudou a entender o caráter de amor e bondade de Deus, bem
como os princípios eternos de Deus encontrados na Bíblia e refletidos nos
escritos de Ellen G. White. Foi meu pai quem primeiro me ensinou de
forma abrangente o tema do “Grande Conflito” e sua função integrativa
na compreensão das doutrinas, princípios e profecias da Bíblia. Ele ajudou
a solidificar minha lealdade a Deus e meu compromisso com a missão da
Igreja Adventista.
Minha jom ada pessoal confirma não só a influência exercida por
meus pais a fim de que me tomasse um missionário (e missiólogo), mas
também sua confiança na educação Adventista, educação esta que olha
para o futuro, que visa o melhor e o que é superior, que liberta e que prepara
para o serviço em prol dos membros da família, da Igreja e do mundo.
Uma educação que exerce influências que não podem ser medidas nesta
vida. Digo isso porque, na qualidade de missionário, tive experiências
que só pude suportar devido ao preparo antecipado, devido à educação
anteriormente adquirida.
Após ter cursado o bacharelado em Teologia, trabalhei por algum
tempo como pastor no Brasil. Antes de servir como missionário obtive
a oportunidade de cursar o mestrado em missiologia na Universidade
Andrews, Estados Unidos. (Andrews University, USA) Esta foi a base que
recebi para passar pela minha primeira experiência como missionário na
República Autônoma de Nakichevan. Algum tempo depois, tive outra
oportunidade, a de continuar os estudos, agora em nível de doutorado, no
Seminário Teológico Fuller, na Califórnia (EUA). O chamado seguinte
foi para voltar ao campo missionário por mais cinco anos, imediatamente
antes de retom ar e servir por alguns anos no UNASP (Campus Engenheiro
Coelho), São Paulo.
448 I Wagner Kuhn

Enfim, minha trajetória como missionário, e agora como missiólogo,


atuando como diretor associado do Instituto Mundial de Missão e professor
do Departamento de Missão do Seminário Teológico da Universidade
Andrews, deve-se ao fato da determinação e a oportunidade de servir como
missionário, de haver estudado teologia, e ainda (quem sabe mais ainda)
de ter recebido treinamento e educação missiológica.
Minha educação missiológica foi principalmente de modo formal,
enquanto fazia o mestrado e o doutorado, mas também se deu de modo não
formal, uma vez que sempre participei de seminários, palestras, conferências
sobre missão, bem como mantendo diálogo com colegas missionários,
missiólogos e teólogos. Também foi uma educação missiológica informal,10
no sentido de que a educação e visão que recebí e aprendí de meus pais, de
outros pastores, leigos e missionários ao longo do caminho me prepararam
para a experiência como missionário e missiólogo. Nessa perspectiva, com
a graça de Deus desejo continuar educando e treinando novos missionários
para a missão de Deus e da Igreja. Essa educação trará uma visão mais
ampla da obra a ser feita em nível local e mundial, e poderá se tom ar uma
ponte de aproximação entre a teologia e a missão.

Revelação e visão: teologia e missão andam de mãos dadas

Na perspectiva bíblica, a missão que recebemos vem a partir de


revelação de Deus a nós, de sua iniciativa de buscar e salvar (Gn 3:9,
15, 21). É uma missão que tem que ver com a revelação (teologia) que
Deus faz de si mesmo, e com a visão adquirida a partir desta revelação
(encontro). Esta visão ou revelação dá sentido, conteúdo e direção à missão.
Teologia e missão estão sempre presentes no processo da salvação iniciado
pelo Deus que se revela, toma iniciativa, possibilita uma visão e, então,
por misericórdia, dá uma missão. Sua missão toma-se a nossa missão.

10Sobre esses três modos de educação (formal, não-formal e informal), ver Ed-
gar J. Elliston, “Options for Training”, in Christian Relief and Development: developing
-workers fo r effective ministry (Dallas, TX: Word, 1989), 237-250.
Educação missiológica e a missão global | 449

Toda missão procedente de Deus é baseada na revelação (teologia)


de seu caráter e em sua iniciativa de salvar (Missio Dei)}10 caso de Moisés
ilustra isso ao Deus falar com ele do meio da sarça ardente - Deus tem
um encontro com Moisés (teologia/teofania). A partir dessa experiência
de revelação que acontece pela iniciativa divina, Moisés começa a
compreender a Deus e ao mesmo tempo recebe a missão (Êx. 3).
A revelação de Deus a Moisés continua e Ele se revela (teologia)
progressivamente. Moisés entende mais e acredita mais. Ele recebe uma
missão. A partir dessa revelação, caminha com Deus cumprindo a vontade
divina que inclui não somente libertar 0 povo de Israel, mas também
escrever o Pentateuco, o evangelho no Antigo Testamento. Sua missão
inclui revelar o conhecimento de Deus a Israel e às nações através de
sua Palavra escrita. Nos escritos de Moisés, Deus revela Seu caráter, Sua
vontade, Seus planos, quem Ele é, e o que Ele requer de Seus filhos.
Do mesmo modo acontece com o profeta Isaías. Ele recebe uma
visão na qual Deus se revela. Através desta revelação Isaías consegue
entender um pouco mais sobre a glória e majestade de Deus, Sua divina e
absoluta santidade. Entende sua condição, bem como a condição humana,
caída, de pecado, de mortalidade e finitude. Ele não pode permanecer na
presença de Deus, o rei do universo dessa maneira. Deus toma a iniciativa
e envia um serafim que o toca com uma brasa. Isaías é perdoado e, ao
ouvir o chamado de Deus, ele responde: “Eis-me aqui, envia-me a m im”
(Is 6:8). A resposta ao chamado e à missão é dada a partir da revelação e do
encontro com Deus, de uma compreensão de Seu caráter, de Sua santidade,
e uma infusão de Sua graça perdoadora. Este método divino de iniciar o1

11Samuel F. Rowen, parafraseando Abraham Kuyper, diz que “ 0 conhecimento ga-


nho na teologia, conhecimento de Deus, é obtido porque 0 objeto de estudo está ativo em
fazer-se conhecido [revelar-se]. Deus ativamente comunica este conhecimento na criação
e na revelação da redenção nas Escrituras”. Rowen, citando Elias dos Santos Medeiros,
um missiólogo brasileiro, comenta que “existe um ‘movimento m issiológico’ em Deus
no qual Ele se faz conhecer [se revela]. Deus está em uma missão, e a missão é tomar sua
glória conhecida através de toda a terra. O único conhecimento de Deus que temos é 0
conhecimento de um Deus que está numa missão” (1996:97).
450 I W agner Kuhn

processo de transformação necessário à nossa salvação implica Sua auto-


revelação (teologia) através da Palavra e também de visões que contém
Sua missão e a nossa missão (Mt 28:19-20).
Esta revelação também é concedida em missão. Ao cumprir a missão,
Davi vai conhecendo gradualmente a Deus e nos encontros com Ele vai
crescendo e aprofundando sua compreensão de Deus. Davi escreve sobre
teologia e sobre a redenção que se cumprirá com o Messias vindouro. Essa
teologia é compreendida e escrita ao cumprir sua missão, ao obedecer e
fazer a vontade de Deus e ao internalizar Sua lei em seu ser. Ele aprende,
educa-se, e essa educação que recebe e transmite é feita enquanto está
envolvido em missão.
O encontro (revelação) e a visão que o apóstolo Paulo tem com Cristo
talvez proporcionem o melhor exemplo humano da união da teologia e da
missão e de como esses dois conceitos, estas duas disciplinas (e facetas
da revelação de Deus) andam de mãos dadas. No conhecimento de Deus
(teologia) e prática ou pregação do evangelho (missão), a salvação é
transmitida, é dada aos gentios. Paulo conhece a Deus, prega o evangelho
dirigido pelo Espírito Santo, escreve um a boa parte do Novo Testamento, e
o faz a partir da visão, do encontro com o Ser Eterno. Ele escreve e transmite
teologia em missão, e a missão que foi dada a ele pelo próprio Cristo (At 9)
é o fator que produz teologia. Pregando ele escreve e escrevendo ele prega.
E a teologia e a missão andando de mãos dadas.
N a visão de Pedro (At 10), Deus revela uma missão mais abarcante.
Ao receber a visão e a revelação divinas, e pela instrução do Espírito Santo,
a compreensão teológica de Pedro se amplia e ele entende que Cristo deseja
salvar a todos, em especial os gentios. A cosmovisão de Pedro é sacudida
e transformada. Esta revelação da missão de Deus e Seu plano de salvação
(que inclui todas as pessoas, raças, línguas e nações) levam 0 apóstolo a
ampliar sua missão. A visão, dada pela revelação divina e instrução do
Educação missiológica e a missão global | 451

Espírito Santo, quebra barreiras, tradições e regras humanas, proporciona


uma mais ampla compreensão de Deus (teologia) e determina a missão da
Igreja.
Jesus, nosso Criador e Redentor, Aquele que nos proporciona a
melhor teologia e compreensão do Eterno Deus, o faz em m issão.12 NEle,
Emanuel (Is 7:14), recebemos o conhecimento e teologia de um Deus que
não somente é eterno, divino: é também um Deus pessoal (Jo 1:1,14). Jesus
revelou-se (encarnação), e a partir desta revelação se cumpre a missão.
Deus continua a revelação (teologia) para transformar (educação) e salvar
0 pecador (redenção). Em Cristo (missão de Deus) temos o exemplo da
metodologia e do princípio por excelência para a missão ser humano.
Toda a Bíblia segue esse padrão. Deus se revela e o faz em missão,
pois Sua missão é revelar-se para salvar, para redimir. Contudo, isso não
significa que a missão seja a mãe da teologia13como alguns advogam,
e tampouco mais importante que esta. A teologia, como disciplina
acadêmica e como busca do conhecimento de Deus, de igual forma não é
mais importante do que a missão. A Bíblia como um todo, como procuro
demonstrar nos exemplos citados, e particularmente os quatro Evangelhos
oferecem uma compreensão equibrada da teologia e da missão, ou seja, a
ideia de que uma não é superior e mais importante que a outra. Isto se tom a
evidente na vida e ministério de Cristo, uma vez que Deus se une ao homem
para salvá-lo. M isteriosamente Cristo se encama para servir, assumindo a
forma de um servo. Em Cristo, Deus cumpre perfeitamente Sua missão
12Ellen G. White, no livro O Desejado de Todas as Nações, expande essa compre-
ensão: “Foi para manifestar essa glória que Ele veio ao mundo. Veio à Terra entenebre-
cida pelo pecado, para revelar a luz do amor de Deus, para ser ‘Deus Conosco’. .. .Vindo
habitar conosco, Jesus devia revelar Deus tanto aos homens como aos anjos.Ele era a
Palavra de Deus— o pensamento de Deus tomado andível” (1991: 15).
13Em seu livro Transforming Mission: Paradigm Shifts in Theology o f Mission
(Missão Transformadora: Mudanças de Paradigma na Teologia da Missão, 2002 [edição
em Português]), David J. Bosch declara que emditos contemporâneos do Novo Testa-
mento afirmam o que o teólogo sistemático Martin Kahler afirmou no começo do século
passado (1907), que a “missão é a mãe da teologia” (1991: 16, 489).
450 I W agner Kuhn

processo de transformação necessário à nossa salvação implica Sua auto-


revelação (teologia) através da Palavra e também de visões que contém
Sua missão e a nossa missão (Mt 28:19-20).
Esta revelação também é concedida em missão. Ao cumprir a missão,
Davi vai conhecendo gradualmente a Deus e nos encontros com Ele vai
crescendo e aprofundando sua compreensão de Deus. Davi escreve sobre
teologia e sobre a redenção que se cumprirá com o Messias vindouro. Essa
teologia é compreendida e escrita ao cumprir sua missão, ao obedecer e
fazer a vontade de Deus e ao internalizar Sua lei em seu ser. Ele aprende,
educa-se, e essa educação que recebe e transmite é feita enquanto está
envolvido em missão.
O encontro (revelação) e a visão que o apóstolo Paulo tem com Cristo
talvez proporcionem o melhor exemplo humano da união da teologia e da
missão e de como esses dois conceitos, estas duas disciplinas (e facetas
da revelação de Deus) andam de mãos dadas. No conhecimento de Deus
(teologia) e prática ou pregação do evangelho (missão), a salvação é
transmitida, é dada aos gentios. Paulo conhece a Deus, prega o evangelho
dirigido pelo Espírito Santo, escreve um a boa parte do Novo Testamento, e
o faz a partir da visão, do encontro com o Ser Eterno. Ele escreve e transmite
teologia em missão, e a missão que foi dada a ele pelo próprio Cristo (At 9)
é o fator que produz teologia. Pregando ele escreve e escrevendo ele prega.
É a teologia e a missão andando de mãos dadas.
N a visão de Pedro (At 10), Deus revela um a missão mais abarcante.
Ao receber a visão e a revelação divinas, e pela instrução do Espírito Santo,
a compreensão teológica de Pedro se amplia e ele entende que Cristo deseja
salvar a todos, em especial os gentios. A cosmovisão de Pedro é sacudida
e transformada. Esta revelação da missão de Deus e Seu plano de salvação
(que inclui todas as pessoas, raças, línguas e nações) levam o apóstolo a
ampliar sua missão. A visão, dada pela revelação divina e instrução do
Educação missiológica e a missão global | 451

Espírito Santo, quebra barreiras, tradições e regras humanas, proporciona


uma mais ampla compreensão de Deus (teologia) e determina a missão da
Igreja.
Jesus, nosso Criador e Redentor, Aquele que nos proporciona a
melhor teologia e compreensão do Eterno Deus, o faz em m issão.12 NEle,
Emanuel (Is 7:14), recebemos o conhecimento e teologia de um Deus que
não somente é eterno, divino: é também um Deus pessoal (Jo 1:1,14). Jesus
revelou-se (encarnação), e a partir desta revelação se cumpre a missão.
Deus continua a revelação (teologia) para transformar (educação) e salvar
o pecador (redenção). Em Cristo (missão de Deus) temos o exemplo da
metodologia e do princípio por excelência para a missão ser humano.
Toda a Bíblia segue esse padrão. Deus se revela e o faz em missão,
pois Sua missão é revelar-se para salvar, para redimir. Contudo, isso não
significa que a missão seja a mãe da teologia13como alguns advogam,
e tampouco mais importante que esta. A teologia, como disciplina
acadêmica e como busca do conhecimento de Deus, de igual forma não é
mais importante do que a missão. A Bíblia como um todo, como procuro
demonstrar nos exemplos citados, e particularmente os quatro Evangelhos
oferecem uma compreensão equibrada da teologia e da missão, ou seja, a
ideia de que uma não é superior e mais importante que a outra. Isto se tom a
evidente na vida e ministério de Cristo, uma vez que Deus se une ao homem
para salvá-lo. Misteriosamente Cristo se encama para servir, assumindo a
forma de um servo. Em Cristo, Deus cumpre perfeitamente Sua missão
12Ellen G. White, no livro O Desejado de Todas as Nações, expande essa compre-
ensão: “Foi para manifestar essa glória que Ele veio ao mundo. Veio à Terra entenebre-
cida pelo pecado, para revelar a luz do amor de Deus, para ser ‘Deus Conosco’. .. .Vindo
habitar conosco, Jesus devia revelar Deus tanto aos homens como aos anjos.Ele era a
Palavra de Deus— 0 pensamento de Deus tomado andível” (1991: 15).
13Em seu livro Transforming Mission: Paradigm Shifts in Theology o f Mission
(Missão Transformadora: Mudanças de Paradigma na Teologia da Missão, 2002 [edição
em Português]), David J. Bosch declara que emditos contemporâneos do Novo Testa-
mento afirmam o que o teólogo sistemático Martin Kahler afirmou no começo do século
passado (1907), que a “missão é a mãe da teologia” (1991: 16,489).
452 I W agner Kuhn

de salvar e revelar (teologia) Seu caráter da forma mais objetiva possível.


Por isso não se pode valorizar uma disciplina em detrimento da outra.

Integrando missiologia à educação teológica

A grande razão da teologia e da missão é demonstrar em palavras e


ações, na teoria e na prática, o evangelho eterno (Ap 14). É ter em vista
a cruz do Calvário, declarando e apresentando com eficácia e poder o
“Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29). Essa teologia
com uma missão e essa missão com uma teologia, ambas fundamentadas na
Bíblia, têm como objetivo supremo a salvação do maior número possível
de seres humano porque se originam em um Deus, que é amor (Jo 3:16, 1
Jo 4:8-10, 19).14 O “amor, base da criação e redenção, é o fundamento da
educação verdadeira”.15
Paulo demonstra essa missão e teologia tentando chegar o mais perto
possível das pessoas para poder salva-lás para Cristo. Ele diz: “Fiz-me tudo
para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns” (IC o
9:22). Esta é a metodologia de Paulo, que em palavras e ações, pela teologia
e pela missão que lhe foi dada, em seu ministério tanto o conhecimento
como a pregação do evangelho— teologia e missão. Por isso Paulo diz:
“Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (1C0 11:1).
Ele toma o exemplo de Cristo e o aplica em sua própria vida apostólica.
A disciplina de missiologia e o treinamento sobre “missões, portanto,
deve ser ensinada por todo consciencioso professor de teologia”,16 para
que seja compreendida e praticada como uma missiologia teológica no

14“Deus é amor.” Esta é uma frase usada por Ellen G. White surpreendentemente
como a primeira afirmação do livro Patriarcas e Profetas (São Paulo: Casa Publicadora
Brasileira, 1997: 33), e como última afirmação do livro O Grande Conflito (São Paulo:
Casa Publicadora Brasileira, 1987: 684). Estes são respectivamente 0 primeiro e 0 último
dos livros da série o Grande dos Séculos.
15Ellen White, A Ciência do Bom Viver (Santo André, São Paulo: Casa Publicadora
Brasileira, 1977), 16.
16Norman E. Thomas, Classic Texts in Mission & World Christianity (Maryknoll,
NY: Orbis Books. 1995), 291.
Educação missiológica e a missão global | 453

contexto de uma teologia missionária.17A teologia e a missão do apóstolo


Paulo se relacionam uma com a outra não simplesmente como teoria e
prática no sentido de que sua missão flui de sua teologia, mas ao contrário,
no sentido que sua teologia é uma teologia missionária, e que sua missão
está integralmente relacionada com sua identidade, pensamento, vocação
e chamado. Paulo é teólogo, mas acima de tudo ele é um apóstolo, um
missionário.18
Para que a integração da missiologia e da teologia ocorra é necessário
que se entenda que os frutos produzidos por uma missão e um a teologia
adventistas é o resultado do trabalho de Cristo através do Espírito Santo,
pois este é o agente que tom a ambas possível.19 Ele é dado para que a
Igreja proclame o evangelho eterno com poder, pois esta é sua missão. O
Espírito Santo é concedido para o cumprimento desta, pois desempenha
funções importantíssimas como: capacitação pela Palavra; orientação
e instmção para a missão; fornece vida e poder, transformando pessoas
pelo ensino e testemunho da Palavra; dá a visão, o incentivo, a coragem
e perverança para os missionários em missão; escolhe, chama e os leva a
cruzar fronteiras para pregar o evangelho, ensinar, batizar e fazer discípulos;
capacita a Igreja para apoiar as ações missionárias; opera milagres e
vitórias através da Igreja e dos missionários; inspira o relato de histórias

17Francis Anekwe Oborji argumenta que “a missiologia em suas funções deve


sempre desafiar outros ramos da teologia para que esta esteja a serviço da missão evange-
lizadora da igreja. Além do mais, a missiologia deve desafiar outras áreas da teologia para
que esta reconheça sempre que todos os povos são súditos do plano de Deus de salvar....
Assim, a missiologia tem a tarefa inegociável de constantemente examinar sua própria
linguagem e a linguagem dos outros ramos da teologia bem como a linguagem da igreja
evangelizadora em relação com a missão e as pessoas que estão sendo evangelizadas”
(.Missiology, Vol. XXXIV, No. 3, July 2006: 395).
18Ver Bosch, 1991: 492-496, e 123-124.
19A experiência que Ellen G. White teve ao considerar e aceitar o convite para
trabalhar na Europa como uma missionária intercultural revela sua antecipação, seu es-
forço por entender sua responsabilidade missionária e profética no contexto europeu, e
ao mesmo tempo sua dependência constante da direção do Espírito Santo. Ver 0 seguinte
artigo de Martin G. Klingbeil sobre este assunto: “The Word Has Gone Forth in Europe,
‘Go Forward’! Ellen G. White as an Intercultural Missionary.” Em: Klingbeil, Gerald,
ed., Misión y cor¡textualización. Llevar el mensaje bíblico a un mundo multicultural. (Li-
bertador San Martín: Universidad Adventista del Plata, 2005), 113-130.
454 ] W agn er Kuhn

daquilo que Deus faz e dos encontros de Deus com aqueles qufe Ele deseja
salvar. Ao dar o Espírito Santo à Igreja, Jesus concede, junto com Ele,
todos os outros dons necessários para que a missão de Deus seja cumprida.
Enfim, o Espírito Santo deseja cumprir a missão de Deus, revelando
a salvação em Cristo ao mundo. Além disso, Ele é o agente unificador dos
membros do corpo de Cristo (a Igreja) para a missão. E para que unamos
missiologia e teologia como o Espírito une os crentes com Cristo, temos
que entender que a missiologia Adventista pode e deve ser compreendida
a partir dos seguintes aspectos:
1. A missiologia deve ser compreendida a partir da bondade de Deus
para salvar a todos (Ex.: Deus chama e envia Jonas para proclamar sua
mensagem a Nínive);
2. Missiologia que parte do amor de Deus ao enviar seu Filho (Gn
3:15, Jo 3:16, A t 4:12, 1C0. 13); Assim é uma missiologia que nasce das
promessas de Deus cumpridas no “Deus conosco” - Jesus (Is 7:14, Jo 1:1,
14), e na vida da Igreja;
3. Missiologia a partir da história dos patriarcas e profetas, da história
do povo de Deus, da história dos apóstolos, da história das missões, da
história dos mártires, da história da salvação no contexto do grande
conflito, e da história da redenção e restauração final;
4. M issiologia a partir do professor, da sala de aula, do ensino e
treinamento teológico. A partir do professor de teologia, do professor de
Bíblia, enfim uma missiologia a partir da vida e ensinos do professor, de
seu exemplo integral - sua teologia e sua missão;
5. M issiologia a partir da vida de integridade e sacrifício do
missionário. M uitas pessoas não cristãs (e cristãs) aceitam a Cristo
pelo exemplo demonstrado na vida de integridade e sacrifício dos que
Educação missiológica e a missão global | 455

proclamam o evangelho como missionários.20 A vida e a história destas


pessoas devem orientar essa educação missiológica Adventista;
6. M issiologia bíblica a partir da ordem de Jesus expressa na Grande
Comissão (Mt 28:18-20) e motivada pelo desejo e a visão de vermos o
Evangelho eterno alcançando toda nação, tribo língua e povo (Ap 14:6-
12);
7. Uma missiologia a partir do sacrifício de amor de Cristo em
prol dos necessitados, dos caídos e perdidos. Uma missiologia a partir da
necessidade e do sofrimento humano, pois Cristo, ao ver as multidões,
tinha compaixão das pessoas;
8. E por fim, uma missiologia não por causa das capacidades e dons
ou habilidades humanas, mas pela sabedoria de Deus, pelo que Ele pode
fazer através de cada missionário.21 Se nossa missão é a missão de Deus,
esta irá avante pelo poder, sabedoria, e pela vitória que vem de Deus.
Assim, não podemos ensinar teologia se esta não estiver integrada
com a missão de Deus, pois esta (a missão de Deus) é a missão da Igreja. Da
mesma forma como o Espírito Santo une teologia com a missão, teólogos
e missiólogos devem unir teologia à missão para que esta tenha conteúdo
baseado na Palavra. Ademais, devem também unir missão à teologia para
que a teologia tenha um objetivo, um alvo. Assim uma disciplina deve
estar integrada à outra em mútua complementariedade.

20Ellen G. White declara: “Necessita-se no campo missionário de energia e es-


pírito de sacrifício. Deus pede homens que promovam os triunfos da cruz; homens que
perseverem sob desánimos e privações; homens que possuam o zelo, a resolução e a fé
indispensáveis no campo missionário” (Obreiros Evangélicos, São Paulo: Casa Publica-
dora Brasileira, 1993: 469).
21Ellen G. White, no livro Parábolas de Jesus, comenta: “Não precisais ir aos ex-
tremos da Terra em busca de sabedoria, porque Deus está perto. Não são as capacidades
que agora possuís ou haveis de possuir, que vos darão êxito. E o que o Senhor pode fazer
por vós. Deveriamos depositar muito menos confiança no que o homem é capaz de fazer,
e muito mais no que Deus pode fazer para cada alma crente. Anseia Ele que Lhe esten-
dais as mãos pela fé. Anseia que espereis grandes coisas dEle. Anela dar-vos sabedoria,
tanto nos assuntos temporais como nos espirituais.Pode atilar 0 intelecto.Pode dar tato e
habilidade. Empregai vossos talentos na obra, pedi a Deus sabedoria, e ser-vos-á dada”
(1980: 146).
456 I W agner Kuhn

O currículo de formação pastoral (educação teológica) deve conter


educação missiológia, pois todas as disciplinas e o conteúdo do currículo
de teologia para a formação pastoral-ministerial têm um único objetivo:
a pregação do evangelho da salvação em Cristo a todas as pessoas e em
todos os lugares. Esta é a missão da igreja. Portanto, devemos investir na
consolidação de um a teologia que seja missionária e uma missiologia que
seja teológica. Ambas, porém, devem estar alicerçadas na Bíblia e devem
seguir metodologias e filosofias Adventistas.

O “Grande Conflito” como princípio teológico fundamental na


educação teológica e missiológica

Assim como a teologia sofre demasiadamente ao seguir


filosofias e metodologias apoiadas em pressuposições erradas que não
condizem com os ensinamentos bíblicos, a missiologia é afetada por
este mesmo problema. Tanto a teologia como a missiologia podem
absover pressuposições contrárias aos ensinos bíblicos. No esforço por
interpretar a Bíblia segundo as exigências da academia, alguns teológos
adventistas correm o risco de adotar conceitos e empregar metodologias
ou “ferramentas” baseadas em presuposições errôneas. Sendo assim,
a tradição toma o lugar da revelação e os conceitos formulados e as
conclusões extraídas podem resultar em meras tentativas humanas de
compreender a Deus e sua vontade. Sem os princípios fundamentais22
recebidos e revelados por Deus, quando Ele expressa Seu caráter (teologia)
e Sua vontade (missão), nem teólogos nem missiólogos poderão formular
metodologias eficazes para o estudo e prática da teologia e da missão.
Creio ser possível que tanto a teologia quanto a missiologia estudem
os métodos e formas existentes em disciplinas acadêmicas afins, analizem
estes métodos tirando exemplos a serem aplicados à teologia e à missão
da Igreja Adventista, sem serem influenciadas por suas pressuposições e

22Refiro-me específicamente aqui ao que foi revelado na Bíblia, que é a sua pala-
vra, e também na revelação de Deus à Igreja Adventista, através dos escritos de Ellen G.
White, conhecidos como os livros ou escritos do Espírito de Profecia.
Educação missiológica e a missão global | 457

premissas distorcidas. Este trabalho é complexo e difícil, mas ao mesmo


tempo necessário, importante e inevitável.23
Algo similar ocorre no âmbito específico da missiologia. Quando
a missiologia tenta se apoiar em algumas áreas das ciências sociais,
corre o risco de ser influenciada por teorias e metodologias sociais e
humanísticas, o que pode produzir resultados indesejáveis por não estarem
fundamentadas na revelação. Vários missiólogos adventistas também têm
procurado articular uma missiologia desde uma perspectiva adventista; e
bastante já foi feito nesta área, mas ainda há muito por fazer.24
Contudo, a grande necessidade da Igreja Adventista é de estabelecer
uma metodologia para o estudo acadêmico da teologia e missiologia que
seja baseada num princípio teológico bíblico integrativo e fundamental.25
23Vários teólogos e missiólogos adventistas têm tentado fazer isso em suas áreas
respectivas de atuação, mas uma integração mais intencional e eficaz das disciplinas de
missiologia e teologia por estes eruditos ainda está para ser colocada em prática no futuro,
espera-se. Alguns exemplos destes esforços feitos principalmente por teólogos adven-
tistas são os seguintes: Norman Gulley, Systematic Theology: Prolegomena ; George W.
Reid, Understanding the Scriptures: An Adventist Aproach; e Femando Canale, Creation,
Evolution, and Theology: The Role o f Method in Theological Accomodation ; “Decons-
tructing Evangelical Theology”; “Absolute Theological Tmth in Postmodern Times”;
“On the Future o f Adventism: Reason or Debate”; “From Vision to System: Finishing
the Task o f Adventist Theology Part I: Flistorical Review”; “From Vision to System: Fi-
nishing theTask o f Adventist Biblical and Systematic Theologies— II”; “From Vision to
System: Finishing theTask o f Adventist Theology Part III: Sanctuary and Hermeneutics.”
24Alguns exemplos são os seguintes:Gerhard P. Damsteegt, Foundations o f the
Seventh-day Adventist Messageand Mission‫׳‬, Borge Schantz, “The Development o f Sev-
enth-day Adventist Missionary Thought: a Contemporary Appraisal”; Adventist Mission
in the 21st Century: The Joy and Challenges o f Presenting Jesus to a Diverse World,
Jon L. Dibdahl, Editor; Misión y Contextualización: Llevar el Mensaje Bíblico a un
Mundo Multicultural, Gerald A. Klingbeil, editor; Lester Merklin, “The Remnant Mis-
sion”; Cristian Dumitrescu, “M ission Theology in the Old Testament: A N ew Paradigm”;
Carlos G. Martin, “C-5 Muslims, C-5 Missionaries, or C-5 Strategies”; Journal o f Ad-
ventist Mission Studies, Bruce L. Bauer, editor, Vols. 1-5, (2005-2009); A Man with a
Vision: Mission, Rudi Maier, editor;Fazf/? Development in Context: Presenting Christ in
Creative Ways, Bruce L. Bauer, editor; Adventist Responses to Cross-Cultural Mission:
Global Mission Issues Committee Papers, Vol. 1, 1998-2001 (2006) e Vol. 11, 2002-2005
(2007).
25Teólogos adventistas como Gerhard Hasel, Richard Davidson, George Reid,
Norman Guley, e mais específicamente Femando Canale têm articulado assuntos que
tocam neste princípio teológico como sendo a base ou fundamento da metodologia e
filosofia teológica adventista. Veja referências a alguns destes autores em nota anterior.
458 I W agner Kuhn

Este princípio deve (ao mesmo tempo) formar um fundamento filosófico


coerente que se constitua na base sobre a qual muitos -estudos sejam
formulados e referidos. Tal princípio teológico deve resistir às críticas dos
eruditos e acadêmicos, pois será consistente e coerente, com fundamentos
teológicos bíblicos oriundos da revelação e missão de Deus para a Igreja
Adventista.
Este fundamento bíblico-teológico é o tema ou conceito denominado
por Elle G. W hite de “O Grande Conflito” . Apesar de alguns estudos já
terem abordado aspectos deste tema fundamental das Sagradas Escrituras
e muito enfatizado pelo Espírito de Profecia, ainda não temos uma obra
ou estudo que estabeleça uma metodologia para o estudo da teologia e
missiologia que tenha o princípio teológico do “Grande Conflito” como
fundamento e base para esta metodologia. Assim, formular um a filosofia e
metodogia de estudo, baseadas no princípio bíblico-teológico do “Grande
Conflito” é vital para a teologia e missiologia adventistas. A existência
da Igreja Adventista e sua unidade teológica, assim como a eficácia de
sua missão global, dependem da compreensão do Grande Conflito e suas
implicações práticas.
O princípio teológico do “Grande Conflito” pode integrar as doutrinas
bíblicas com a teologia adventista para que seja estabelecida uma base
metodológica para a educação teológica e missiológica. Creio que quando este
princípio teológico adventista integrativo e unificador for organizado em uma
metodologia acadêmica para dar a base e fundamento aos estudos teológico-
bíblicos mais formais (e até mesmo avançados), a teologia adventista se
tomará mais missionária e a missiologia adventista mais teológica e bíblica.
E, a partir dessa base, a educação missiológica, cujo objetivo é preparar
missionários transculturais para a evangelização em terras estrangeiras,
exercerá uma função eficaz e importante na missão global da Igrej a Adventista.
Educação missiológica e a missão global | 459

Educação missiológica26 e a missão global da Igreja

Os desafios globais contemporâneos exigem que o missionário atual


compreenda bem a teologia bíblica Adventista e, ao mesmo tempo, entenda
as realidades locais e as peculiaridades distintas do povo em lugares onde
o evangelho precisa ser anunciado.27 As oportunidades imediatas para a
missão transcultural, geradas pela globalização e pelas crises e catástrofes de
proporções mundiais, requerem do missionário conhecimentos, habilidades
e experiências diferenciadas. O documento entitulado “Roadmap for
Mission” (Roteiro para a Missão), recém aprovado pela Associação Geral,
diz o seguinte:

Hoje, devido à imigração e outros fatores, adeptos das grandes


religiões mundiais não cristãs se encontram por todo mundo.
Neste novo contexto, líderes em todas as Divisões mundiais
deveríam desenvolver planos específicos para levar a mensagem
da Igreja Adventista do Sétimo Dia para estas pessoas.

Para o cumprimento global da missão, a Igreja necessita


ajudar pessoas a desenvolver habilidades nos escritos de outras
religiões, junto com literatura e programas para treinar pastores
e membros leigos a alcançar adeptos destas religiões. Os Centros
de Estudos da Missão Global devem exercer função principal,
mas não exclusiva, nestes empenhos.

26Para uma análise acadêmica e abrangente sobre educação missiológica no con-


texto cristão contemporâneo em geral ver, Missiological Education fo r the 21st Century:
The Book, the Circle, and the Sandals, J. Dudley Woodberry, Charles Van Engen, and
Edgar J. Elliston, editors. Maryknoll, NY: Orbis Books. 1996; ver também uma edição
especial sobre o tema de educação missiológica e treinamento para o serviço missionário
cross-cultural em: Missiology, January 2008, Vol. XXXVI, No. 1.
27Os missionários cross-culturais devem ser educados para poder adaptar-se à re-
alidade do local onde ministram. Ellen G. White declara que: “O povo de cada país tem
suas peculiaridades distintas, e é necessário que os homens sejam sábios para poderem
saber como se adaptar às idéias peculiares do povo, e de tal maneira introduzir a verdade
que lhes possa fazer bem. Devem ser capazes de compreender e atender às suas necessi-
dades. Levantar-se-ão circunstâncias que exigirão ação imediata, e será necessário que os
que já estão no' campo tomem conta do interesse, e façam o que é necessário fazer, sob a
direção do Espírito Santo” ( Testemunhos Para Ministros, 1993: 213).
460 I W agner Kuhn

No mundo inteiro, nossos pastores e membros ríecessitam ser


educados a aceitarem novos crentes oriundos destas grandes
religiões mundiais não-cristãs. Isto requererá o desenvolvimento
de habilidades entre os líderes, anciãos locais, pastores,
missionários, e obreiros de linha de frente.28

Como vemos na declaração acima, é urgente a necessidade de se


desenvolverem novos planos e metodologias que sejam eficientes e eficazes,
bem como de preparar materiais e programas de treinamento para a missão
global da Igreja.29 Apesar de os Centros de Estudos da Missão Global
produzirem materiais para missões mais especializadas entre os hindus,
muçulmanos, budistas, judeus e os seculares/pós-modemos, isto não é
suficiente. Apesar de tudo o que tem sido feito pelo escritório de Missão
Adventista e o departamento de Missão Global da Associação Geral, ainda
há muito por fazer em comparação com os grandes desafios mundiais e as
oportunidades que existem.
Tanto o Departamento de Missão do Seminário Teológico Adventista
da Universidade Andrews, como o Instituto Mundial de Missão da
Associação Geral, têm tentado contribuir através do treinamento de
diversas modalidades de missionários,30 e também de acadêmicos,

28Ver o documento entitulado “Roadmap for Mission” (Roteiro ou Mapa para Mis-
são) que foi apresentado e votado (aprovado preliminarmente) pela Comissão Executiva
da Igreja Mundial no Concilio da Primavera da Associação Geral, em Abril de 2009.
29Ellen G. White afirma: “O obreiro em campos estrangeiros entrará em contato
com todas as classes de pessoas e todas as variedades de espíritos, e verificará serem
necessários diversos métodos de trabalho a fim de ir ao encontro das necessidades do
povo.... Nem sempre conseguimos os mesmos resultados mediante os mesmos métodos
e modos” ( Obreiros Evangélicos, 1993: 468). “O ministro não deve julgar que toda a ver-
dade tem que ser apresentada aos incrédulos em toda e qualquer ocasião. Ele deve estudar
com cuidado quando convém falar, 0 que dizer, e o que deixar de mencionar... Muitas
almas têm sido desviadas para uma direção errada, e assim perdidas para a causa de Deus,
devido à falta de habilidade e sabedoria da parte do obreiro. O tato e o critério centupli-
cam a utilidade do obreiro. Se profere as palavras convenientes no tempo oportuno, e ma-
nifesta o devido espírito, isso terá no coração daquele que ele está procurando ajudar, uma
influência capaz de 0 comover” (Ellen G. White: Obreiros Evangélicos, 1993: 117, 119).
30Estudantes missionários, voluntários, missionários de curto prazo, “tentmakers”
(missionários de sustento próprio), missionários de carreira (médio e longo prazo), pasto-
res e outros leigos e profissionais liberais dedicados à missão da Igreja.
Educação missiológica e a missão global | 461

pastores e leigos. Com tudo isso, esse treinamento atinge somente um


pouco mais de algumas centenas de pessoas a cada ano. Com a última
edição (2009) do livro Passport to Mission31 (Passaporte para a Missão
- traduzido e publicado tanto em português32 como em espanhol33 em
uma parceria entre o Instituto Mundial de Missão e o Departamento de
Voluntários da Divisão Sul-Americana) é de se esperar que esta ferramenta
de treinamento e educação missiológica seja usada eficazmente no preparo
de centenas ou milhares de missionários. Creio que em breve este livro
será também publicado em outras línguas como o coreano, o francês, o
russo, etc. Assim, o treinamento missiológico habilitará muitos obreiros
interculturais a serem missionários mais eficientes, possibilitando que a
missão da Igreja Adventista seja cumprida com eficácia, não somente na
America do Sul, mas em todas as regiões do mundo.34
Neste contexto, é imprescindível que a Igreja na América do Sul
continue a incentivar a obra missionária através da criação de material de
treinamento apropriado para as missões como tem feito mais recentemente
através do departamento de voluntários da Divisão. Mas ao mesmo
tempo é indispensável que, além destes materiais, seja implementado um
programa de educação missiológica inserido em disciplinas acadêmicas
para a formação teológica pastoral e também como parte de um currículo
para treinamento de missionários em geral.

31Passport to Mission, Cheryl Doss, editor, Erich W. Baumgartner, Jon L. Dyb-


dahl, Pat Gustin, Wagner Kuhn, Lester Merklin, and Bruce C. Moyer.Berrien Springs,
MI: Institute o f World Mission, Andrews University. Third Revised Edition, 2009
32Passaporte para a Missão, Brasília: Serviço Voluntário Adventista, DSA
(CASA), 2008.
33Pasaporte para la Misión, Brasilia: Servicio Voluntário Adventista, DSA
(ACES), 2008.
34Norberto Saracco observa que, apesar do aumento diário de missionários en-
viados por países Sul-Americanos, “as importantes contribuições que foram feitas pela
América Latina à teologia da missão não são visíveis. Em geral, as missões são con-
duzidas sob um espírito inquietantemente ingênuo. Em muitos casos, os missionários
latino-americanos estão repetindo os enganos que o movimento missionário cometeu em
seus inícios, coftio se as experiências reunidas durante séculos não fossem de qualquer
utilidade” (2001: 501-502).
462 I W agner Kuhn

Isto deve originar-se a partir dos seminarios teológicos (SALT), das


escolas e centros universitários, de programas de treinamento ministerial,
do departamento de voluntários e especialmente do programa de missão
global. E importante que estes esforços sejam coordenados pela Igreja35
para que os recursos sejam maximizados e não haja perda de tempo e
de dinheiro na duplicação e criação de materiais já existentes. Assim,
um número cada vez maior de obreiros para regiões nacionais distintas,
bem como de missionários interculturais, será m ais bem preparado para
participar com eficácia na missão global da Igreja Adventista na América
do Sul e no mundo.36
Atenção e ênfase especiais devem ser dadas ao definir o propósito,
objetivo, conteúdo, seleção de participantes, e a escolha de instrutores
para esse programa de educação missiológica. Questões relacionadas
aos custos, recursos, lugar, período, bem como a implementação deste
currículo de treinamento missiológico, devem ser programadas de acordo
com o propósito e a visão que Deus tem dado à sua Igreja, bem como à
missão que esta tem a cumprir. Urge priorizar a educação e treinamento
missiológicos para preparar missionários com habilidades específicas para
um ministério intercultural integral, cujo propósito central é a salvação
de pessoas segundo a ordem de Jesus expressa na Grande Comissão (Mt
28 : 18- 20).

35Departamentos de Educação, SALT, Missão Global, Ministerial, Jovem e Volun-


tariado.
36Um modelo de treinamento ministerial que inclui instrução acadêmica em sala
de aula, recursos bibliográficos, experiência prática de campo, discussões informais e re-
flexão pessoal, está sendo aplicado à educação teológica no IAENE, Bahia, e podería ser
adaptado e usado para educação missiológica na Divisão Sul-Americana; o modelo está
sendo implementado por Emílio Abdala.Veja o seguinte artigo: “Ministerial Training for
Seminarians at Northeast Brazil College,” Journal o f Adventist Mission Studies (2009),
Vol. 5, No. 1: 68-77.
Educação missiológica e a missão global | 463

Considerações finais e recomendações

Uma vez que “as Escrituras Sagradas são a perfeita norma da


verdade, e como tal, a elas se deve dar o mais alto lugar na educação”37,
todo o programa ou currículo de treinamento e educação missiológica
deve fazer da Bíblia sua base e fundamento. Metodologias apropriadas
para a educação missiológica devem ser informadas e fundamentadas nos
princípios, temas integrativos, e visão que procedem da Palavra de Deus,
pois a existência e a unidade teológica da Igreja Adventista no presente e
futuro, bem como a missão que esta tem a cumprir, dependem em muito da
compreensão e prática destes princípios fundamentais.
A revelação e a visão dadas por Deus aos apóstolos e profetas
bíblicos nos proporcionam um modelo coerente e integrado da união entre
teologia e missão, e de como estas disciplinas (facetas da revelação) devem
cooperar para os propósitos e da missão de Deus. O obreiro (missionário)
que é chamado por Deus e preparado para missão cross-cultural, que
compartilha as boas-novas da salvação em Cristo, é dirigido e guiado pelo
Espírito Santo, e o faz a partir da revelação, visão e encontro com Cristo.
Este recebe teologia em missão e a missão que realiza é o resultado tanto de
uma teologia missionária como de uma missiologia teológica, integradas
na edificação do corpo de Cristo (a Igreja) e na pregação do evangelho
eterno para a glória de Deus.
O que acaba de ser descrito é somente o começo desse assunto ou
temática, pois muito mais pode e deve ser feito em prol do treinamento
e da educação missiológica na América do Sul. Deve haver incentivo
para pesquisa acadêmica com preocupações que visem explorar várias
perspectivas bíblico-missiológicas. Alguns temas que merecem atenção
especial e deveríam ser estudados !mediatamente são os seguintes:

37Ellen G.‫ ־‬White, Educação. (Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira,
1997), 17.
1. Análise e avaliação do currículo teológico-mihisterial dos
Seminários para a inserção de disciplinas missiológicas e treinamento
cross-cultural.
2. Programar o investimento e preparo de pessoas que ministrem
estas disciplinas;
3. Sistematizar uma metodologia apropriada para a realidade local:
brasileira, sul-americana, internacional, transcultural, etc.;
4. Produzir materiais e recursos para o treinamento de missionários
transculturais;
5. Estudar o princípio teológico do “Grande Conflito” como
integrativo da teologia adventista para desenvolver uma metodologia que
seja a base para educação missiológica.
HACER DISCÍPULOS: MANDATO Y
RECOMENDACIONES

Bruno Alberto Raso


Divisão Sul-Americana

imiiiiiiiiiiiiimiiiiimiiiiiiiiiimiitiiiiiiiiiiiiuiiiiiiiiiimiiiimiiiiiiimmiiiiiiiiiiiiiiimimiiiiiiiiimiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimiiiiiiiiimi

La comisión evangélica en los Evangelios

“Por tanto, id, y haced discípulos a todas las naciones, bautizándolos


en el nombre del Padre, y del Hijo, y del Espíritu Santo; enseñándoles
que guarden todas las cosas que os he mandado; y he aquí yo estoy con
vosotros todos los días, hasta el fin del mundo” (Mt 2 8 :1 9 2 0 ‫)־‬.
El hacer discípulos es el centro del cometido misional, establecido
en tono imperativo y con sentido de urgencia. Los vocablos traducidos
como “id”, “bautizándolos” y “enseñándoles”, muestran acciones en
progreso, dependientes y simultáneas con la acción del verbo principal:
“haced discípulos” .
Para Mateo el “discipulado” es un concepto clave. David Bosch1
menciona que Mateo es quien más utiliza la expresión hacer discípulos, ya
que lo hace en 73 ocasiones mientras que Marcos lo cita en 46 oportunidades
y Lucas en 37 veces. Johnsson2 afirma que el evangelista Mateo, no está
interesado en registrar sólo la acción de los doce, sino en definir qué es un
“discípulo” de Jesucristo. Los capítulos 10, 16 y 18 parecen indicar con
claridad que cuando habla del discipulado no sólo tiene a los doce en vista

1David J. Bosch, Transforming Misión (New York: Orbis Book, 1993), 73.
2W illiam.G. Johnsson, Religion in Overalls (Nashville: Southern Publishing As-
sociation, 1977), 37.
466 I Bruno Alberto Raso

sino que éstos son un medio que utiliza Cristo para explicar el discipulado,
porque discípulos son todos los que siguen la enseñanza de Jesús.3
Jesucristo, al reencontrarse con sus discípulos después de su
resurrección, investido de toda autoridad en el cielo y en la tierra, presenta
la comisión evangélica de ir y hacer discípulos en todas las naciones,
bautizándolos en el nombre del Padre, del Hijo y del Espíritu Santo,
enseñándoles que guarden todas las cosas encomendadas por El, con la
promesa de que estará con ellos todos los días hasta el fin del mund.o.
Los participios usados en Mateo 28:18-20 adquieren el sentido
imperativo porque el verbo principal es un imperativo. Así poreuthentes,
(id), baptizontes, (bautizándolos) y didaskontes, (enseñándoles), están
subordinados al verbo central de la oración: matheteusate,4 “haced
discípulos” . Este es el foco y único imperativo en la comisión evangélica.
El mandato “haced discípulos” es el centro de la misión.5
En el comienzo de su ministerio, Jesucristo había encomendado
a sus discípulos la misión de predicar al pueblo judío. Les dio no sólo
instrucciones (Mt 10:5-6, 9-14), sino también les dio toda autoridad para
cumplir la tarea (Mt 10:1-2, 7-8). Después de su resurrección, Jesús, con
toda autoridad en el cielo y en la tierra, da una comisión imperativa a sus
discípulos: “Haced discípulos en todas las naciones” (Mt 28:19).
Según Nicoll,6 el poder de Dios se había manifestado en el Calvario
y en la tumba, venciendo al pecado y a la muerte. A partir de esta instancia
el evangelio podía y debía ser predicado, los discípulos debían ir a todo el

3Karl Rengstorf, Theological Dictionary o f the New Testament (Grand Rapids:


Eerdmans, 1964-1976)4:461.
4Proviene de: matheteuo, y en el texto en estudio está en segunda persona plural,
aoristo primero del imperativo activo. AGL, ver: “matheteusate”.
5El modo imperativo indica un mandato, transmitido con fuerza y con sentido
de urgencia que incluye el consentimiento de la persona que es objeto del mandato. El
imperativo aoristo denota una acción que debe ser emprendida de inmediato, expresado
en un tono de orden vigoroso. Por esta razón los antiguos griegos nunca empleaban el
imperativo en comunicación con sus superiores. Es utilizado generalmente en edictos
reales o en cartas a inferiores. Moulton, 1:172, 173.
6W. Robertson Nicoll, The Expositors Greek Testament, 4 vols. (Grand Rapids:
Eerdmans, 1967), 1:139.
Hacer discípulos: mandato y recomendaciones | 467

mundo y mostrar la realidad de ese poder, debían hacer discípulos en todas


las naciones.
Discípulo es el que establece una relación personal con su Maestro, es
decir, una relación de encuentro, dependencia, aprendizaje y crecimiento.
Gomá7 dice que hacer discípulos es transm itir esa experiencia de manera
tal que, la otra persona establezca la misma relación.
El bautismo y la enseñanza, son parte del mismo proceso y están
subordinados al verbo principal “hacer discípulos”. La enseñanza es
un proceso continuo, y no termina con la preparación doctrinal para el
bautismo. Es anterior y posterior al mismo con el objetivo de, capacitar al
discípulo para andar dignamente en su vocación.
“Hacer discípulos” es mostrarle a una persona a Jesús como Maestro
y Señor, para que lo conozca, lo acepte y decida seguirlo. “Ser discípulo”
es vivir como tal y vivir para hacer más discípulos, según Eims.8

Síntesis interpretativa de los cuatro Evangelios

Cada evangelista presenta la comisión en su propia vivencia personal.


En la opinión del autor, el creyente es enviado por Cristo, así como Él fue
enviado por el Padre para continuar con la misión. La misión no es hacer
adherentes sino discípulos, tal como lo expresa Kuhne.9 El mandato no es
“id” sino “haced” discípulos en todas las naciones, según Stagg.10
Proclamar, bautizar, enseñar, testificar, son aspectos de la misma
comisión de hacer discípulos. No se cumple con la misión a menos que
se lo haga integralmente. La obra más importante de toda la iglesia es el
negocio de hacer discípulos, según Green.11

7Isidro GomáCivit, El evangelio según San Mateo, 2 vols. (Madrid: Marova,


1966), 2:715.
8Leroy Eims, The Lost Art o f Disciple Making (Grand Rapids: Zondervan, 1978),
124.
9Gary Kuhne, La dinámica de adiestrar discípulos (Caparra Terrace: Betania,
1980), 10.
10Frank Stagg, Teología del Nuevo Testamento (El Paso: Casa Bautista de Publi-
caciones, 1976), 266.
11Michael Green, La evangelización en la iglesia primitiva, 6 vols. (Buenos Aires:
468 I Bruno Alberto Raso

Define magistralmente Gerber12 que la misión no teralina cuando se


llega a la gente con la proclamación. Tampoco finaliza con las profesiones
públicas de fe en el evangelio, ni cuando se relaciona a los convertidos con
la iglesia, por medio del bautismo y la enseñanza. La meta se logra cuando,
los nuevos conversos llegan a ser cristianos responsables y reproductivos
que, completan el ciclo y garantizan el proceso continuo de evangelismo
y crecimiento.
Se puede concluir en una paráfrasis interpretativa de Marcos 16:15-
16, Lucas 24:45-48, Juan 20:20-21 y Mateo 28:18-20 en una sola comisión:
Así como yo he sido enviado por mi Padre, os envío a vosotros. Por tanto
id y haced discípulos en todas las naciones; proclamando por palabra y
testimonio las buenas nuevas de arrepentimiento y perdón de los pecados
en Cristo; bautizando a todo aquel que cree; enseñando que vivan todo lo
que os he encomendado, inclusive el hacer discípulos, cerrando así un ciclo
responsable y reproductivo en el proceso evangelizador. Para cumplir con
esta comisión no están solos, porque “he aquí Yo estoy con vosotros todos
los días hasta el fin del mundo”.

La comisión evangélica en el ministerio de Cristo

En su ministerio terrenal Cristo, deja un modelo para hacer


discípulos. Al recorrer las ciudades enseñando, considera la totalidad del
ser humano; confronta al seguidor con el conocimiento de la voluntad de
Dios; procura que cada alumno se transforme en un discípulo; enseña en
público y en privado, en el templo, en la sinagoga, en las montañas y al
aire libre; inspira por precepto y por ejemplo. Ilustra su objetivo de hacer
discípulos con el sermón del monte, al instruir a los doce y a los setenta, en
la fiesta de los tabernáculos y en su encuentro con Nicodemo.
Cristo no sólo comparte instrucciones para formar capacidades y
habilidades, sino que también confronta al alumno con el conocimiento de
la voluntad de Dios. Al anunciar el Reino de Dios y el Evangelio, exige y

Certeza, 1976), 1:158.


12Gerber, 20.
Hacer discípulos: mandato y recomendaciones | 469

provoca decisiones, espera una entrega total y permanente. Cristo espera


que, el discípulo establezca una relación personal con él y viva en armonía
con la voluntad de Dios.
La proclamación de Cristo no respetó fronteras ni etnias. Un
ejemplo de ello es su encuentro con la mujer samaritana (Jn 4). Cuando ella
descubre que está frente al Dador de Agua Viva, inmediatamente abandona
su cántaro y va a su ciudad a comunicar su hallazgo. El testimonio de
la samaritana no es una simple confesión intelectual, o manifestación
emocional: es una confesión de fe que brota de una experiencia personal
con el Señor.13
En su encuentro con la mujer samaritana, Cristo no sólo proclama la
salvación ofreciéndole el agua de vida para apagar su sed espiritual, sino
que también, transforma a la mujer en una fuente por medio de la cual la
salvación llega a los habitantes de Samaria. Ella acepta a Jesús, se hace
discípula y va a hacer discípulos (Jn 4:39-42).
Al recorrer las ciudades sanando, el Señor manifiesta su misericordia
y compasión. Al servir a los necesitados y aliviar sus sufrimientos,
Cristo cumple su misión de hacer discípulos. Algunos ejemplos de ello
se encuentran en la curación del hijo del noble (Jn 4:43-54), del paralítico
de Betesda (Jn 5), del ciego de nacimiento (Jn 9) y del endemoniado de
Gadara (Le 8).
Los sanados, a pesar de laprohibición de contar lo sucedido, proclaman
lo que experimentaron en su encuentro con Jesús. El conocimiento de la
misericordia de Dios los lleva a comunicar esta realidad a los demás. Se
transforman en una proclamación viviente.14 Por ejemplo, Juan declara
que el ciego de nacimiento sanado por el milagro de Jesús, se transformó
en su discípulo (Jn 9:27-30). Testificó del poder de Dios que, había obrado
en su vida y frente a la investigación de los sacerdotes les dijo por qué
preguntaban tanto, ¿acaso querían ellos también hacerse sus discípulos?
(Jn 9:27).

13Veloso, 117.
14LotharCoenen, Theological Dictionary o f the New Testament, 4 vols. (Grand
Rapids: Eerdmans, 1964-1976) 2:63.
470 I Bruno Alberto Raso

El endemoniado de Gadara, luego de ser sanado quiso seguir a


Jesucristo, pero el Médico Divino le indicó que debía ir a los suyos y contar
las grandes cosas hechas con él (Le 8:39). Lleno de un celo agradecido, el
ex endemoniado extiende la noticia del milagro por toda Decápolis, un país
formado por diez ciudades al sureste del lago de Genesaret. El exposeso se
convirtió en proclamador. Fue sanado para ser un discípulo.
Cullmann15 afirma que Jesucristo durante su vida terrena se sintió
llamado a vivir su obra expiatoria más que a enseñarla. Por eso no se limitó
a predicar el perdón de los pecados, sino que curando a los enfermos, les
otorgaba también efectivamente este perdón.
Por su parte, W hite16 expresa que Jesús, dedicó en su ministerio más
tiempo a sanar que a predicar. Sus milagros atestiguaban la verdad de sus
palabras, que no había venido a destruir sino a salvar. Dondequiera que
fuera, le precedían las nuevas de su misericordia y la gente se regocijaba
en la salud y en las facultades recobradas.
En la enseñanza, predicación y sanidad, Jesús tenía el mismo
propósito: salvar a los que escuchaban, a los que enseñaba y a los que
sanaba y hacer de éstos, instrumentos de salvación de otros, discípulos que
vivían para hacer más discípulos.17
Al enviar a los doce (Le 9:1-6) y a los setenta (Le 10:1-12), Jesús les
da instrucciones, autoridad y poder. Los acompaña y los capacita para el
envío. Los organiza, los envía, los supervisa y los anima. Lleva fruto e
insta a los discípulos a llevar fruto abundante y permanente.
Tanto al recorrer Jesús las ciudades enseñando, predicando y sanando,
como al enviar a los doce y a los setenta, cumple con el cometido básico
de hacer discípulos. Tal como lo expresa Henrichsen,18 la reproducción

15Oscar Cullmann, Tus pecados te son perdonados (Salamanca: Ediciones


Sígueme, 1998), 115.
16Elena de White, El deseado de todas las gentes (Buenos Aires: ACES), 316.
17Carlyle Haynes, Living Evangelism (Washington: Review and Herald Publish-
ing, 1937), 54.
18Walter Henrichsen, El discípulo se hace, no nace (Barcelona: Clie, 1976), 149-
150.
Hacer discípulos: mandato y recomendaciones | 471

espiritual es un hecho. El hacer discípulos es la visión, la misión y el


método. El discipulado es el ministerio de Cristo. De igual forma como
establece la propagación física sobre la base de la multiplicación, asienta
el crecimiento espiritual sobre la misma base de la multiplicación, en el
cumplimiento de la misión de hacer discípulos.
Asimismo, Crane expresa que los creyentes y las congregaciones
aumentan porque sus miembros practican la reproducción espiritual. No se
limitan a ganar almas, sino que las cultivan para que se transformen en un
eslabón más, de una cadena ininterrumpida de reproducción espiritual.19
La gran comisión evangélica no consiste sólo en ir, hasta los confines
de la tierra predicando el evangelio, no es sólo bautizar en el nombre del
Dios trino a los convertidos, ni enseñar los preceptos de Cristo. La gran
comisión evangélica es hacer discípulos que a su vez, por intermedio de la
predicación, enseñanza y bautismo, preparen a hombres y mujeres que se
sientan constreñidos por la misión de Cristo, para guiar a otros en la tarea
de hacer más discípulos.20

La comisión evangélica en el ministerio de Pablo

El apóstol Pablo tiene la visión y la pasión de un profeta (1C0 13:9),


la mente de un erudito (2 P 3:15-16), el corazón de un evangelista (1C0
1:18-25;2 Ti. 4:1-8), la disciplina de un soldado (2 Ti 2:1-13), la devoción
de un amigo (lT s 5:26) y el fervor de un reformador (Ro 12:1-2).
La historia de Timoteo, Tito, Aquila y Priscila, y la concepción
paulina sobre los dones del Espíritu, ilustran que el apóstol entiende y vive
la comisión de hacer discípulos. Por intermedio de la proclamación, el
bautismo y la enseñanza, busca siempre cumplir con el propósito divino de

19James Crane, La reproducción espiritual (El Paso: Casa Bautista de Publicado-


nes, 1976), 14.
20Roberto Coleman, El plan supremo de evangelización (Buenos Aires: Casa Bau-
tista de Publicaciones, 1980), 90.
472 I Bruno Alberto Raso

hacer discípulos. Pablo no es un solitario evangelista, sino él comandante


de un grande y creciente círculo de misioneros, tal lo afirmado por Kane21.
Pablo es constituido en predicador, apóstol y maestro de los gentiles.
Se presenta con los títulos de heraldo (1 Co 9:27), apóstol (Ro 1:1; 1 Co
1:1; Tit 1:1) y maestro (2Ti 1:11).22 Heraldo, por cuanto su obligación
es proclamar los mandatos del que representa; apóstol, porque ha sido
llamado, establecido y enviado por Dios; y maestro, porque tiene que
enseñar a aquellos para quienes ha sido designado.23
Otro ejemplo de la comisión evangélica en el ministerio de Pablo,
lo constituye la cadena de reproducción espiritual iniciada en el apóstol
y continuada por Aquila, Priscila, Apolos y los creyentes fortalecidos de
Acaya (Hch 1:1-4; 24-28).24
Pablo entendió también que no sólo él como apóstol, sino todos los
apóstoles, profetas, evangelistas, pastores y maestros son depositarios de
dones que Dios dio a la iglesia. Además, comprendió que el propósito por
el cual fueron enviados es equipar, entrenar y disciplinar a los creyentes
para, el crecimiento de la iglesia y el cumplimiento de la misión. Estos
ministerios fueron provistos por Dios a fin de preparar al pueblo para el
cumplimiento del ministerio, el de ser y hacer más pueblo de Dios.25
Para la teología paulina, la misión apunta no sólo a lograr
conversiones, sino también a formar discípulos, porque la producción de
discípulos que se multipliquen es, la única manera de cumplir con la gran
comisión evangélica, dado que ésta incluye claramente la idea de enseñar
y formar maestros. Por lo cual, es imperativo trabajar para producir

21Herbert Kane, A Global View o f Christian Missions: From Pentecost to the Pres-
ent (Grand Rapids: Baker Book House, 1979), 72.
22Raymond Brown, dir., Comentario bíblico San Jerónimo, 5 vols. (Madrid: Cris-
tiandad, 1971), 5:778.
23Juan Calvino, Comentarios a las epístolas pastorales de San Pablo (Grand Rap-
ids: T.E.L.L., 1982), 231.
24Crane, 15.
25Roberto Pereyra, Preparación del obrero voluntario (Villa Libertador San Mar-
tin: SALT, 1985), 32.
Hacer discípulos: mandato y recomendaciones | 473

individuos capaces de enseñar a otros.26 Pablo mismo da el ejemplo de


hacer discípulos al decir “sed imitadores de mí, así como yo de Cristo” (1
Co 11:1).

La comisión evangélica en el tiempo contemporáneo

A partir de 1950 la IASD reconoce un compromiso misionero


mundial. En 1966 se crea en Andrews University el departamento de
misiones para proveer una clara visión de la misión de la iglesia, para
dirigir cursos intensivos de preparación y para servir como centro de
investigación de la misión.
En su tesis doctoral, Schantz27 concluye que la iglesia sistematiza
su estrategia considerando que cada creyente, está llamado a tener una
parte en este testimonio mundial, ya que todo miembro de iglesia tiene la
responsabilidad de llevar la divina comisión.
La comisión evangélica de hacer discípulos, tiene origen en la
iniciativa divina. Mateo, Marcos, Lucas, Juan y Pablo así lo interpretaron
y escribieron. Una breve reseña de la IASD muestra que, ella caminó en
la misma dirección del imperativo misional de, hacer discípulos en todas
las naciones. Beach28 indica que a todos los que aceptan a Cristo, se les
ordena trabajar por la salvación de sus semejantes, porque Cristo urge a
sus seguidores a hacer discípulos en todas las naciones del mundo” .

26Kuhne, 13-14.
27Borge Schantz, “The Development o f Seventh-Day Adventist Missionary
Thought: A Contemporary Appraisal” (Tesis Doctoral en Ph.D., Intercultural Studies,
Fuller Theological Seminary, 1983), 753.
28Walter Beach y Bert Beach, Pattern fo r Progress: The Role and Function o f
Church Organization (Washington: Review and Herald, 1985), 21.
474 I Bruno Alberto Raso

Factores de crecimiento comunes en diversos autores


Hacer discípulos: mandato y recomendaciones | 475
476

COON Editor GREENWAY FRED SMITH AUTOR

Líder discipulador Líder capacitador Líder LIDERAZGO

Integración de cada uno Iglesias grandes


Unidades homogéneas Grupos pequeños M INISTERIO
Grupos pequeños
I Bruno Alberto Raso

Adoración
Adoración Adoración espiritual ADORACIÓN
espiritual

Programa evangelístico Metodología aplicada Método de adaptación EVAN GELISMO

Confratemización
Unidades homogéneas RELACIONES
Espiritualidad

Nuevas iglesias Nuevas iglesias CRECIMIENTO

Investigación
Investigación social INVESTIG.
social

Planificación
• PLANIFICACIÓN
ciudad
DOUGLAS
REEVES - JENSON W IN ARN KUEN AUTOR
SMITH

Líder motivador Líder discipulador Líder discipulador Liderazgo LIDERAZGO

Ministerio Integración según Integración según


M INISTERIO
según dones dones PG dones

Adoración
Adoración que nutre Adoración ADORACIÓN
participativa

Evangelismo Método de Estrategia


EVANGELISMO
ganancia de almas adaptación evangelizadora

Confratemización Confratemización RELACIONES

Nuevas Nuevas
CRECIMIENTO
iglesias iglesias

INVESTIG.

Planificación
PLANIFICACIÓN
organizada
Hacer discípulos: mandato y recomendaciones | 477
478

DUDLEY - GRUESBECK HEMPHILL LEWIS AUTOR

Líder capacitador Líder siervo Liderazgo LIDERAZGO

Integración y Membresía entrenada


Movilización MINISTERIO
entrenamiento Unidades homogéneas
I Bruno Alberto Raso

Adoración Adoración Adoración ADORACIÓN

Estrategia Estrategia personalizada Método de adaptación EVANGELISMO

Confratemización Confratemización Espiritualidad RELACIONES

Nuevas
Nuevas iglesias Nuevas iglesias CRECIMIENTO
iglesias

INVESTIG.

Visión y planificación PLANIFICACIÓN


Hacer discípulos: mandato y recomendaciones | 479

Conclusiones y recomendaciones

Las conclusiones y recomendaciones son el resultado de una


investigación bibliográfica, bíblica, teológica y de campo, evaluando
las respuestas de 34 pastores y 973 hermanos de 29 iglesias elegidas
aleatoriamente.
480 I Bruno Alberto Raso

Conclusiones generales de los factores personales


1. Hay correlación o incidencia entre la calidad de vida espiritual de
los miembros y el número de personas llevadas al bautismo.
2. Existe correlación o incidencia al medir el nivel de, asociación
entre la frecuencia de asistencia a la iglesia y el número de personas
llevadas al bautismo.
3. Hay una correlación o incidencia entre el nivel de, fidelidad en la
devolución de los diezmos y el número de personas llevadas al bautismo.
4. Se refleja una clara correlación o incidencia entre la frecuencia de,
dar estudios bíblicos y el número de personas llevadas al bautismo, tal lo
evidenciado por el nivel de asociación del coeficiente.

Conclusiones generales de los factores eclesiásticos


1. Se evidencia una correlación o incidencia entre, la calidad del
ambiente de confraternidad y el número de personas llevadas al bautismo.
2. Existe una correlación o incidencia entre, la calidad del plan
misionero y el número de personas llevadas al bautismo.
3. Se evidencia una correlación o incidencia entre, la calidad del
compromiso misionero de los líderes y el número de personas llevadas al
bautismo.

Conclusiones generales de los factores pastorales


1. Se expone con claridad una correlación o incidencia entre, la
frecuencia de la visitación pastoral y el número de personas llevadas al
bautismo.
2. La calidad de la predicación bíblica y Cristocéntrica se correlaciona
con, e incide sobre, el número de personas llevadas al bautismo.
3. Asimismo, hay una correlación o incidencia entre, la calidad
del programa docente y capacitador y el número de personas llevadas al
bautismo.
_________________________________Hacer discípulos: mandato y recomendaciones | 481

Conclusiones generales de los factores comunitarios


1. Existe un grado de asociación que refleja correlación o incidencia
entre, el nivel social y el número de personas llevadas al bautismo.
2. Se evidencia un grado de correlación o incidencia entre, el nivel
económico y el número de personas llevadas al bautismo.

Recomendaciones para la administración eclesiástica


1. Priorizar la orientación ,y reorientación de las estructuras, los
programas, las metodologías, los recursos humanos e institucionales y los
materiales focalizados en la comisión evangélica de hacer discípulos.
2. Renovar o crear en el liderazgo de la iglesia en todos sus niveles,
una visión de administración de la misión de hacer discípulos, antes que
una administración de la estructura.
3. Visualizar de manera apropiada la esencia de la comisión
evangélica que es, la de hacer discípulos. No confundir ni siquiera a modo
de énfasis, los medios con el fin. Ir, evangelizar, predicar, enseñar, bautizar
son verbos que indican los medios para alcanzar el gran fin que es, hacer
discípulos que establezcan el reino de Dios. Recordar que el proceso del
discipulado es pre y pos bautismal. Que se requiere que cada converso
o recién bautizado sea llevado a través de un proceso de crecimiento
espiritual, motivación, entrenamiento, capacitación y equipamiento, que
lo habilite para vivir como un discípulo que participe activamente, en la
formación de nuevos discípulos.
4. Impulsar plenamente el trabajo de los grupos pequeños, como
células formadoras de discípulos, y hacerlo no como un método más, sino
como un estilo de vida de la iglesia.
5. Colocar un énfasis mayor en la atención de cada uno de los
factores considerados en la presente investigación, dada su relevancia para
el discipulado y para el crecimiento de iglesia evidenciado por las personas
llevadas al bautismo.
482 I Bruno Alberto Raso

6. De manera específica, fortalecer el ser del miembro, trabajando


sobre la calidad de su vida espiritual, su motivación para la asistencia a
la iglesia, su fidelidad en la mayordomía sistemática y su integración y
entrenamiento en la tarea de dar estudios bíblicos.
7. Mejorar la calidad del ambiente de confraternidad de la iglesia
mediante la koinonía social y espiritual de, los grupos pequeños y en todas
las actividades de la iglesia.
Además de estas recomendaciones vinculadas con los factores
centrales de este estudio, resulta pertinente complementarlas con otras
recomendaciones derivadas de la consideración de otros aspectos relevantes
informados en las encuestas:
1. Organizar, capacitar y equipar para la acción misionera a grupos
específicos, tomando en cuenta los factores demográficos y haciendo
aplicación del principio de unidades homogéneas. Así, por ejemplo,
grupos de jóvenes solteros o casados, de damas, de viudos, separados y
divorciados, de profesionales y empresarios, etc., a fin de alcanzar todos
los niveles sociales y económicos de la comunidad.
2. Considerando los reducidos porcentajes de miembros de iglesia
que han sido beneficiados con la educación adventista, en cualquiera de sus
niveles, y la incidencia negativa que esto tiene en la tarea del discipulado,
promover la educación adventista, creando conciencia y proveyendo
mayores posibilidades y recursos.
3. Dada la influencia en favor del discipulado, planificar una mejor
ubicación de los templos. Procurar además una mejor funcionalidad
de sus dependencias para, conseguir un mejor aprovechamiento en el
cumplimiento de la misión.
4. M ejorar los servicios de la iglesia de asistencia a la comunidad,
tanto en cantidad como en calidad.
SERVIÇO VOLUNTÁRIO ADVENTISTA: MOTIVANDO
E TREINANDO FUTURAS GERAÇÕES DE
MISSIONÁRIOS

Marly L. Ti mm
Divisão Sul-Americana

miiimiiiimmiíimiiiiimmiimnmmiimiiiiDiiiiHiimiiimmimimiiiDiiiniiimiimiiimmiimminmiiiimimiimiiiiiiiiiiimniiiiiimiiiuiimi

A história do Cristianismo foi marcada pela dedicação de inúmeros


voluntários que levaram a tocha do evangelho aos lugares mais remotos
da terra. O próprio Cristo depôs Sua glória e majestade para viver
humildemente neste mundo (ver Fp 2:5-8; M t 8:20), onde “andou por toda
parte, fazendo o bem” (At 10:3s).1 O apóstolo Paulo servia às igrejas de
sua época, em grande parte, como voluntário. Em seu último discurso aos
presbíteros da igreja de Éfeso, ele declarou: “De ninguém cobicei prata,
nem ouro, nem vestes; vós mesmos sabeis que estas mãos serviram para
o que me era necessário a mim e aos que estavam comigo. Tenho-vos
mostrado em tudo que, trabalhando assim, é mister socorrer os necessitados
e recordar as palavras do próprio Senhor Jesus: Mais bem-aventurado é dar
que receber” (At 20:33-35).
Esse mesmo espírito de serviço desinteressado marcou também 0
surgimento e a expansão da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) ao
redor do mundo. Muitos missionários adventistas deixaram o conforto
do seu lar para dedicarem sua vida e seus talentos nos lugares mais
longínquos da terra, sem uma remuneração condizente. Mas esse espírito
vem declinando nos círculos adventistas mais atingidos pelos problemas *

*Todas as referências bíblicas citadas neste texto foram extraídas da versão Al-
meida Revista e Atualizada, 2a edição.
484 I Marly L. Timm

da institucionalização e da secularização.2 Para que a Igreja mantenha sua


vitalidade, é indispensável que ela apóie e promova mais intencionalmente
o serviço voluntário e desinteressado dos seus membros.
O presente artigo aborda o Serviço Voluntário Adventista (SVA)
como uma importante estratégia para a formação das futuras gerações de
missionários da Igreja. Ênfase especial é dada (1) ao desenvolvimento
histórico do conceito de voluntariado na IASD; (2) à atual estrutura do
SVA; e (3) aos desafios e possibilidades futuras do SVA na construção da
identidade missiológica adventista.

Antecedentes históricos

Os esforços evangelísticos e missionários dos primeiros adventistas


estavam restritos aos Estados Unidos,3 cujo território demandava um
grande esforço para ser conquistado. Naquela época não havia um plano
adequado de manutenção financeira dos pregadores.4 Por exemplo, José
Bates utilizou seus recursos na pregação da mensagem adventista, a
ponto de enfrentar dificuldades para suprir as necessidades básicas de sua
família.5 Tiago e Ellen White também fizeram sacrifícios pessoais a fim de
levar avante a emergente obra de publicações.6 Outros mais enfrentaram
desafios semelhantes.

2Ver George R. Knight, The Fat Lady and the Kingdom: Adventist Mission Con-
fronts the Challenges o f Institutionalism and Secularization (Boise, ID: Pacific Press,
1995).
3Para mais informações sobre este período ver Richard W. Schwarz e Floyd Green-
leaf, Portadores de luz: historia da Igreja Adventista do Sétimo Dia (Engenheiro Coelho,
SP: Unaspress, 2009), 130-140; P. Gerard Damsteegt, Foundations o f the Seventh-day
Adventist Message and Mission (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1978), 149-155.
4Borge Schantz, “The Development of Seventh-day Adventist Missionary
Thought”, 2 vols (PhD Dissertation, Fuller Theological Seminary, 1983), 1:225-226).
5Ver C. Mervyn Maxwell, História do adventismo (Santo André, SP: Casa Publi-
cadora Brasileira, 1982), 83-85.
6Schwarz e Greenleaf, Portadores de luz, 71-76.
Serviço Voluntário Adventista | 485

Arthur W. Spalding relata que “o pagamento de um pregador era


muitas vezes um barril [aproximadamente 35 quilos] de farinha, meio
porco, ou ‘um pedaço de peixe grelhado e um favo de m el’”.7 Richard W.
Schwarz e Floyd G reenleaf comentam que

os problemas financeiros continuaram importunando os


pastores adventistas. A ajuda que eles recebiam era inteiramente
voluntária. Por seus primeiros três meses de trabalho, depois
de partir de Waukon, Loughborough recebeu cama e mesa,
um casaco de pelo de búfalo que valia cerca de dez dólares,
e dez dólares em dinheiro, quantia lamentavelmente pequena
para o trabalho de um inverno. A fim de economizar dinheiro,
Loughborough andou a pé os últimos 42 quilômetros de volta
para Waukon.... Outros, como J. H. Waggoner, andavam a pé.
A falta de dinheiro para substituir os sapatos e o vestuário
usados tom ava inevitável a aparência maltrapilha.8

Maior estabilidade financeira para os obreiros da Igreja só foi


conseguida com a implantação, em 1859, do plano de “Beneficência
Sistemática” e, na década de 1870, do programa regular do dízimo.9
Três passos significativos marcaram o início das missões mundiais
adventistas. O primeiro foi a ida de Miguel B. Czechowski para a Europa
em 1864, por iniciativa própria, sem um salário fixo e sem o apoio formal
da denominação. Ele pregou a mensagem adventista do sétimo dia em
vários países daquele continente, lançando as bases para o envio de outros

7Arthur W. Spalding, Origin and History o f Seventh-day Adventists (Washington,


DC: Review and Herald, 1961), 1:296. Durante os primeiros anos do movimento adven-
tista do sétimo dia o consumo de carne de porco era ainda praticado pela maioria. So-
mente depois de alguns anos com o amadurecimento da mensagem da reforma de saúde, a
carne de porco foi abandonada. Ver Herbert E. Douglass, Mensageira do Senhor: o minis-
térioprofético de Ellen G. White (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001), 291-294.
8Schwarz e Greenleaf, Portadores de luz, 86.
9J. W., “Systematic Benevolence”, Review and Herald (doravante RH), 3 de fe-
vereiro de 1859, 84; Schantz, “The Development of Seventh-day Adventist Missionary
Thought”, 1:226.
486 I Marly L. Timm

missionários.101Um segundo passo importante foi a formação da “Seventh-


day Adventist M issionary Society”, na Conferência Geral em Battle Creek,
Michigan, em maio de 1869, com o propósito de enviar missionários além-
mar.11 Outras sociedades e grupos foram estabelecidos posteriormente com
o propósito de apoiar a obra missionária adventista.12 Um terceiro passo
significativo para o início das missões mundiais adventistas foi o enviou
de J. N. Andrews para a Europa, em setembro de 1874, como o primeiro
missionário oficial da denominação. Em realidade, Andrews continuou e
consolidou o trabalho iniciado pelo voluntário Czechowski.
Muitos outros voluntários ajudaram a expandir as missões adventistas
ao redor do mundo. De acordo com Pat Gustin,

a obra na Ásia também começou com um voluntário, um idoso


marinheiro chamado Abram LaRue, que estava disposto a se
jubilar e servir a Deus além-mar. Os irmãos não consideravam
conveniente enviá-lo, assim ele foi por sua própria conta,
e iniciou a obra em Hong Kong e outros lugares da Ásia.
Voluntários foram também precursores em levar a obra à
América do Sul e África, algumas vezes trabalhando de
mãos dadas com os missionários regulares, outras vezes os
precedendo.13*15

10Ver Rajmund L. Dabrowski, ed., Michael Belina Czechowski, 1818-1876: Re-


suits o f historical symposium about his life and work held in Warsaw, Poland, May 17-23,
1976, commemorating the hundredth anniversary o f his death (Varsóvia, Polonia: Znaki
Czasu, 1979).
11James White e Uriah Smith, “Seventh-day Adventist Missionary Society,” RH,
June 15, 1869, 197.
12Ver, por exemplo, Norma J. Collins, Heartwarming Stories o f Adventist Pioneers
(Hagerstown, MD: Review and Herald, 2007), 95-96; S. N. Haskell, “The New-England
Conference Tract Society,” RH, 28 de fevereiro de 1871, 86; J. H. Waggoner and Μ. E.
Cornell, “General Meetings in New Ipswich, N. H.,” RH, 22 de novembro de 1870, 183.
Cf. “Revised Constitution of the International Tract and Missionary Society,” RH, 4 de
dezembro de 1883, 759.
15Pat Gustin, “Student Missionaries and Volunteers” em Erich W. Baumgartner,
ed., Re-visioning Adventist Mission in Europe (Berrien Springs, MI: Andrews University
Press, 1998), 160-161.
Serviço Voluntário Adventista | 487

Pelo menos três importantes programas ajudaram a despertar nos


jovens o senso de missão e a envolvê-los em algum projeto missionário.
O primeiro programa foi a Sociedade dos Missionários Voluntários.14
Em 1879, os jovens Luther Warren, de 14 anos, e Harry Fenner, de 17,
iniciaram a primeira sociedade de jovens adventistas. O objetivo deste
grupo era prover às necessidades de seus amigos, em especial àqueles
que eram menos espirituais. Para tanto foram organizadas reuniões com
música, oração, onde também se planejava a distribuição de literatura em
conjunto.15 Embora a atuação desses missionários voluntários fosse mais
restrita a sua comunidade local, o espírito de missão desenvolvido nas
reuniões dessas sociedades estabeleceu as bases para que muitos deles se
dispusessem a servir como voluntários em outras regiões. Isso pode ser
considerado o embrião do atual SVA.
Outro importante programa foi o Adventist Collegiate Taskforce,14156
que floresceu em instituições educacionais adventistas americanas
de nível superior nas décadas de 1960 e 1970. Centenas de estudantes
universitários decidiram trocar “a vida fácil” das férias por trabalho em
prol dos necessitados das comunidades carentes e pelo testemunho da fé
adventista ao redor do mundo.
Um terceiro importante programa para facilitar o envolvimento
dos jovens na missão tem sido o “Adventist Volunteer Service Corps”,
autorizado em 1968, pelo Concilio Anual da Associação Geral (AG), com
0 propósito de enviar voluntários além-mar para projetos missionários “de
sustento próprio”.17Esse voto de autorização representa o início do SVA na
AG, que coordena inúmeros projetos ao redor do mundo.

14Ver Nathaniel Krum, The MV Story (Washington, DC: Review and Herald, 1963).
15Schwarz e Greenleaf, Portadores de luz, 156 e 157.
16Ver Monte Sahlin, Student Power in Christian Action: The ACT Movement
(Mountain View, CA: Racific Press, 1972).
17Donald F. Yost, “Autumn Council Concludes Its Work”, Review and Herald, 31
de outubro de 1968, 1.
488 I Marly L. Timm

Além disso, merece destaque o “Movimento dos 1.000 M issionários”


(1000 M issionary M ovement).18 Idealizado por Jairyong Lee, reitor
do Seminário do Adventist International Institute o f Advanced Studies
(AIIAS), nas Filipinas, o programa foi aprovado pela Divisão Ásia-
Pacífico Sul em seu Concilio Anual em 11 de novembro de 1991, iniciando
oficialmente em 29 de outubro de 1992. Em 1995 foi adotado como uma
instituição daquela Divisão, sendo supervisionada atualmente pelas
Divisões Ásia-Pacífico Norte e Ásia-Pacífico Sul, mas sem vinculação
com o SVA.
Hoje o SVA conta com uma ampla rede de atuação e com muitos
projetos ao redor do mundo. Sua missão é “auxiliar a Igreja Adventista
do Sétimo Dia na proclamação do evangelho a todos os povos por meio
do ministério dos voluntários adventistas, combinando talentos, dons,
recursos e habilidades profissionais com necessidades específicas” .19

Estrutura do SVA

O SVA esteve ligado desde o início ao Departamento de Jovens


da AG; mas no dia 2 de abril de 1996, o Concilio da Primavera da AG
votou que o SVA passaria a ser vinculado à Secretaria da AG.20 Em 6 de
agosto de 1996 o pastor Ron Watts foi escolhido como o primeiro líder
do novo programa;21 mas acabou deixando a posição oito meses mais
tarde, por ter sido chamado para ser presidente da Divisão Sul Asiática.
Em 2 de outubro de 1997 foi nomeado o pastor Vemon B. Parmenter para
ocupar a função de diretor do SVA,22 e sob sua liderança teve início uma
18Ver http://1000missionary.com.
19Declaração de missão no site do Adventist Volunteer Service, www.adventist-
volunteers.org.
20Carlos Medley, “GC Spring Meetings Brings New Day for Media and Volun-
teers”, Adventist Review, 9 de maio de 1996, 20 e 21.
21General Conference Committee Minutes, 6 de agosto de 1996, 1; “Adventist
Volunteer Service Corps Authorized”, The Atlantic Union Gleaner, 28 de janeiro de 1969.
22“World Church Leaders for 2000-2005 - 57th General Conference Session”, Ad-
ventist Review, 20-27 de julho de 2000, 3.
Serviço Voluntário Adventista | 489

reestruturação do programa. Com a saída de Parmenter, o pastor Homer


Trecartin foi designado em outubro de 2008 para coordenar o SVA.23

Estrutura global
A principio todo o processo de cadastro de voluntários e de projetos
era feito manualmente, por meio do preenchimento de formulários
enviados pelo correio. Isso ocasionava uma demora considerável, em
especial para aqueles que se encontravam fora do território dos Estados
Unidos. Portanto, uma das metas mais urgentes de Parmenter era criar
um site que disponibilizasse, ao mesmo tempo, os projetos voluntários
da IASD ao redor do mundo, bem como um cadastro dos voluntários
disponíveis. Surgiu assim o site www.adventistvolunteers.org, como um
canal atualizado e de fácil acesso para o gerenciamento de centenas de
oportunidades de serviço voluntário ao redor do globo, além de milhares
de perfis de voluntários adventistas. Este sistema une todos os níveis
organizacionais da IASD no processamento dos voluntários, facilitando e
otimizando a comunicação entre todas as partes.
Fundamental para o êxito do SVA tem sido sua divulgação através
de diferentes meios. Desde o início, vários materiais promocionais
foram produzidos de forma a tomá-lo conhecido, e buscar despertar o
interesse de candidatos em potencial. Hoje o SVA está presente em todas
as 13 Divisões do mundo, e a cada ano seu crescimento se tom a mais
expressivo, .envolvendo um número cada vez maior de jovens, adultos e
pessoas jubiladas.
Os projetos oferecidos, tanto de curto prazo (até dois meses) quanto
de longo prazo (de três meses a dois anos), abrangem diversas áreas, como
evangelismo, educação, saúde, tecnologia e mídia, finanças e administração,
ADRA, dentre outras. Além disso, os projetos se classificam em três tipos
básicos, dependendo das necessidades do local onde se encontra: (1)
compartilhado {shared), onde o voluntário e os líderes do projeto dividem

23General Conference Committee Minutes, 12 de outubro de 2008, 1.


490 I Marly L. Timm

as despesas, geralmente cabendo a estes pro ver alojamento, alimentação,


transporte diário ao local de serviço, um pequeno estipêndio mensal para
manutenção do voluntário, e o seguro de viagem e saúde; e o voluntário
assume os gastos com documentação e visto, passagem de ida e volta e,
quando necessário, vacinas ou outros tipos de medicamentos específicos;
(2) patrocinado {sponsored), onde os líderes do projeto (ou o próprio
voluntário) conseguem um patrocinador para custear os gastos; e (3)
“Suas M ãos” (His Hands), onde o voluntário assume todas as despesas
envolvidas.
Para ser um voluntário a pessoa necessita ter entre 18 e 79 anos; estar
em boas condições de saúde; ser um membro ativo da IASD, tendo sido
batizado há pelo menos um ano; e preencher os requisitos do projeto no
qual deseja participar.
O impacto positivo do SVA é sentido tanto na vida dos voluntários
que saem para servir quanto na vida daqueles que foram por eles servidos.
Interessante também é ver o envolvimento e espírito de serviço das
instituições, igrejas e famílias que enviam seus voluntários; pois estes os
apoiam com suas orações e, por vezes, também com recursos financeiros.

O SVA na Divisão Sul-Americana (DSA)


Até o final da década de 1990, o SVA-DSA era coordenado pelo
Departamento de Jovens; mas no início de 2000 o SVA foi vinculado à
Secretaria da DSA, e de 2002 a meados de 2007, ao Departamento de Lar
e Família. Em julho de 2007 o SVA voltou a estar ligado à Secretaria da
DSA, mas com uma estrutura própria e com uma coordenação de dedicação
exclusiva.
Para dinamizar o funcionamento e a integração, o SVA-DSA instituiu
uma estrutura organizacional que nomeou a Secretaria das Uniões como
responsável pelos projetos e pelo movimento de voluntários dentro de seu
respectivo território. Além disso, cada campus universitário é estimulado
a estabelecer uma pequena Comissão do SVA para divulgar e coordenar
Serviço Voluntário Adventista | 491

projetos entre os estudantes. O coordenador dessa Comissão responde


diretamente à Secretaria da União local.
O SVA-DSA está atualmente estruturado em tomo de três grandes
metas: (1) ENVIAR - Divulgar, assessorar e capacitar voluntários a
participarem do programa mundial do SVA; (2) RECEBER - Coordenar,
treinar e dar assistência na implantação de um a estrutura necessária para
receber voluntários intra e inter-Divisão; e (3) PROJETOS - Dinamizar a
organização de projetos de serviço que apóiem o programa de missões da
Igreja. Assim, cada União e/ou Instituição será considerada participante do
programa de missão da Igreja se estiver cumprindo continuamente estas
três grandes metas.
A fim de auxiliar cada União no cumprimento da meta de enviar
voluntários, o SVA-DSA preparou um projeto de treinamento chamado
“Escola de M issões”. O objetivo é preparar urna nova geração de
missionários comprometidos e plenamente identificados com a missão
da Igreja, por meio de um programa continuo, a partir de uma estrutura
curricular proposta pelo próprio SVA-DSA e em harmonía com o Instituto
de Missões Mundiais da AG.
O SVA-DSA tem produzido e distribuido diversos materiais de
divulgação, em especial nos colégios e universidades adventistas, e está
desenvolvendo o site www.voluntariosadventistas.org, com o propósito de
disponibilizar em português e espanhol as informações contidas no site
do SVA-AG (www.adventistvolunteers.org). Além disso, o SVA-DSA
também coordenou a tradução e publicação em português e espanhol do
livro Passaporte para a missão, para ser lido por todos os que desejam
ingressar no SVA.
A fim de motivar os jovens para o cumprimento da missão, o SVA-
DSA instituiu cada terceiro sábado do mês de abril como um dia especial
para a promoção das missões. Nessa ocasião, cada internato adventista deve
oferecer uma programação de informações sobre os desafios dos campos
missionários, bem. como de estímulo para que estudantes dediquem um
período de sua vida como missionários voluntários.
492 I Marly L. Timm

Desafios e possibilidades do SVA


Há muitos desafios e possibilidades para o SYA na construção do
ideal missionário da IASD no território da DSA. Entre eles, merecem
destaque os seguintes aspectos:
Divulgação. Como o SVA ainda é um programa novo na DSA, o
maior desafio continua sendo tomá-lo conhecido entre os membros de
igrejas, instituições e colégios. Vários materiais promocionais (panfletos,
cartazes, DVDs, guias on-line, suvenires, etc.) têm sido preparados pelo
SVA-DSA e disponibilizados através das Secretarias das Uniões e das
instituições de ensino superior, a fim de tomá-lo conhecido e de fácil
acesso. O desconhecimento deste programa tem levado muitos jovens
a ingressarem em projetos de grupos/ministérios independentes ou em
projetos sociais desvinculados da ação missionária da Igreja.
Treinamento. Outro grande desafio é ter todas as Secretarias das 15
Uniões do território da DSA e pequenas comissões nas Instituições da DSA
devidamente treinadas no programa do SVA e em pleno funcionamento.
Expansão. O grande desafio é aumentar significativamente o número
de projetos realizados, bem como o número de voluntários enviados e
recebidos.
Plano ESL (English Second Language). Visto que o domínio de
outra língua ainda é uma barreira para o ingresso em muitas das opções do
SVA, é necessário ter em todas as universidades/instituições e nas sedes
das Uniões, pelo menos um voluntário ocupando a vaga de professor de
ESL. O plano é que esse voluntário atenda especialmente os participantes
da Escola de Missões local.
Site SVA-DSA. Como já mencionado, o site www.
voluntariosadventistas.org está em processo de construção e deverá se
tom ar uma ferramenta de apoio e comunicação com os voluntários de toda
a DSA.
Igrejas patrocinadoras. Um grande reavivamento missionário
ocorrería nas igrejas locais se estas se envolvessem mais ativamente no
programa de missões. Famílias ou indivíduos sem condições de sair para
Serviço Voluntário Adventista | 493

os campos missionários poderíam participar indiretamente apoiando


jovens ou mesmo famílias que queiram participar diretamente do programa
missionário da Igreja. Ellen G. White indaga: “Por que não haveríam de os
membros de uma igreja, ou de várias pequenas igrejas, unir-se para manter
um missionário em campos estrangeiros?”24
E necessário desenvolver uma nova ênfase missionária na igreja
(1) capacitando e treinando a igreja; (2) orando por novas oportunidades
de evangelismo local ou além mar; (3) identificando e recomendando
os possíveis voluntários; (4) fazendo o levantamento de fundos para
patrocinar esses missionários voluntários; e (5) quando estiverem no
campo missionário, comunicando-se regularmente com eles mantendo a
igreja local informada a respeito das atividades que estão desenvolvendo
e, se possível, auxiliando de forma prática.
A igreja toda podería estar envolvida na oração intercessora, além
de estar distribuída em diferentes equipes de apoio para os missionários
voluntários que se dispõem a ir. Estas equipes poderíam ser de:
- Apoio moral e logístico. Estar ao lado, acompanhando, motivando
e ajudando em relação à busca de informações, etc.;
- Apoio financeiro. Patrocinar os gastos envolvidos;
- Apoio na comunicação. Enviar cartas e emails, e telefonar para o
voluntário enquanto ativo no projeto;
- Apoio no retorno. Mais do que simplesmente aplaudir o pouso
seguro do avião, o voluntário precisa de auxílio para se readaptar novamente
a cultura local.
Cada uma dessas ações é tão importante quanto o próprio ministério
que o missionário realiza no campo. Essa seria a oportunidade da Igreja
toda desenvolver um espírito missionário, participando na missão de enviar
e sentindo-se parte desse esforço evangelístico mundial.

24Ellen G'. White, Obreiros evangélicos, 5a (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,
1993), 466-467.
*494 I Marly L. Timm

Considerações finais

A história das missões adventistas tem sido enriquecida


significativamente pela contribuição de muitos missionários voluntários.
Desde que Miguel B. Czechowski partiu para a Europa em 1864 como
o primeiro voluntário adventista além-mar, muitos outros levaram o
evangelho eterno para diferentes partes do globo. Sem dúvida, participar
de um projeto de missões traz ao voluntário algo muito mais valioso do
que um simples contracheque no final do mês. Aqueles que participaram
de tais projetos reconhecem esta como tendo sido a melhor experiência
que já tiveram.
O pastor M ark Finley, evangelista e vice-presidente da AG, reconhece
que sua experiência como estudante missionário no Brasil contribuiu
decisivamente para a formação do seu perfil ministerial. Cerca de 40 anos
mais tarde, ele relembra:

Quando nos envolvemos na missão, ocorre uma mudança em


nossa própria vida, pois crescemos espiritualmente. Eu havia
me batizado há pouco tempo na IASD, tinha somente 21 anos, e
estudava no Atlantic Union College, EUA, quando me pediram
para ser um estudante missionário no Brasil.

A experiência que tive no rio Amazonas há mais de 40 anos mudou


minha vida. Você pode ser um leigo ou uma pessoa jovem, mas
Deus o está chamando para ser um voluntário em Sua missão.
Você não só será uma bênção para outros, não só aprenderá de
outra cultura, e verá Deus atuar em outra parte do mundo, mas
também terá a oportunidade de crescer espiritualmente. Não
perca essa oportunidade! Eu o encorajo, pois mudou minha vida,
e sei que mudará a sua vida também.25

25Mark Finley, entrevista pessoal, 27 de setembro de 2008.


Serviço Voluntário Adventista | 495

O pastor Homer Trecartin, Secretário-Associado da AG e diretor do


SVA-AG e de Missão Global da AG, também foi estudante missionário no
Amazonas. Em um a visita ao Brasil ele afirmou:

Quero incentivar os jovens do Brasil a se envolverem na


missão. Eu fui estudante missionário há 37 anos aqui no Brasil
e minha vida foi mudada. Aprendí mais sobre mim e sobre
meu relacionamento com Deus. Até me pergunto se fui eu que
auxiliei no Amazonas ou se foram eles que o fizeram por mim.
Essa experiência levou-me a amar e dedicar minha vida às
missões.26

Os resultados na transformação de vidas e no compromisso com o


serviço são tão importantes que qualquer esforço e risco que podem estar
envolvidos na execução desses projetos são válidos.
O que foi feito até agora parece ainda muito pouco em comparação
com as grandiosas obras que deverão ocorrer nos últimos dias. Ellen White
nos desafia: “Com tal exército de obreiros como o que podería fomecer a
nossa juventude devidamente preparada, quão depressa a mensagem de
um Salvador crucificado, ressuscitado e prestes a vir podería ser levada
ao mundo todo!”27 Ela ainda alerta: “O tempo é curto. Em toda a parte
há necessidade de obreiros para Cristo. Deveria haver cem trabalhadores
diligentes e fiéis nos campos missionários nacionais e estrangeiros onde
agora há só um.”28
Que 0'espírito de missão e amor pelas pessoas necessitadas em todo
o mundo possa ser revigorado na Igreja e certamente, pela graça de Deus,
logo serão vistas manifestações grandiosas de poder ocorrendo ao redor
do mundo!

26Homer Trecartin, entrevista pessoal, 25 de abril de 2009.


27Ellen G. White, Educação, 7a ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1997),
27L
28Ellen G. White, Evangelismo, 3a ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,
1997), 22.
LOS DONES ESPIRITUALES Y LOS MINISTERIOS:
HERRAMIENTAS EFECTIVAS PARA CUMPLIR LA
MISIÓN HOY

Miguel Ángel Salomón


Universidad Peruana Unión, Peru

.
ΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙ IIIIIIII [11111lllllll llltllll IIIIJI11llilll lili lili .......... ...
mu IIIIIIIIII....

Introducción

Hoy más que nunca, la Iglesia Adventista del Séptimo Día, es el


último movimiento profético del planeta, está interesada en clarificar con
precisión, primeramente cuál es su misión en esta tierra, y en segundo
lugar, cómo cumplir de manera eficaz esta misión.
El tema a considerar gira en tomo a las herramientas que Dios
ha elegido, según lo ha establecido en su Palabra, para hacer posible el
cumplimiento de la Misión. Es decir, la presencia del Espíritu Santo en
cada discípulo ministrando los Dones Espirituales (DE), para convertirlos
en Ministerios.
Abordaremos el tema analizando primeramente el fundamento
bíblico, las enseñanzas de Cristo y las declaraciones de los apóstoles acerca
de los DE. Luego consideraremos algunas declaraciones del Don Profético
sobre el tema. También tomaremos en cuenta los conceptos de los expertos
en crecimiento de iglesia. Finalmente, mostraremos cómo articular los DE
en Ministerios, basados en algunas experiencias contemporáneas.
498 I Miguel Ángel Salomón

La enseñanza de la Biblia sobre los dones espirituales

Jesucristo y los dones espirituales


Aunque en las enseñanzas de Jesús, no encontramos declaraciones
explícitas sobre la función de los dones espirituales1 en la iglesia, como es
el caso de los apóstoles, especialmente Pablo (1 Co 12; Ro 12; E f 4:8-11),
y Pedro (1 P 4:7-11). Jesús sí utilizó una serie de parábolas, para referirse
a la importancia del empleo de los dones.
La primera referencia conocida es la clásica Parábola de los Talentos12
de Mateo 25:14-30, que forma parte de las cinco parábolas de Jesús, dadas
en el contexto de la espera de su Segunda Venida (Mt 24: 42-44; 45-51;
25:1-13; 14-30; 31-46). De esta enseñanza se pueden extraer las siguientes
lecciones: a) Los talentos le pertenecen al “hombre” o “ Señor de aquellos
siervos” (Jesús), y él los reparte de acuerdo a su propia voluntad; b) todos
los siervos (los miembros de iglesia) recibieron algún talento; c) los
talentos entregados a los siervos son diferentes, ilustrado por las diferentes
cantidades recibidas; d) la diferencia está en el uso que se da a cada
uno de los talentos y no en la superioridad de los mismo y e) existe una
responsabilidad al recibir los talentos, es decir, hay recompensa y castigo.
Con relación a la responsabilidad que debemos tener en el uso de
los talentos, debemos comprender que: (1). Quien haga un buen uso de los

1“Un don espiritual es un atributo especial que el Espíritu Santo da a cada miem-
bro del Cuerpo de Cristo según la gracia de Dios para usarlo dentro del contexto de su
Cuerpo.” C. Peter Wagner, Sus dones espirituales pueden ayudar a crecer a su iglesia,
trad. Xavier Vila (Barcelona: Clie, 1980), 38. Por su parte, Daniel J. Rode, hace una dife-
rencia entre los dones espirituales y los talentos naturales, indica que estos últimos, son
dados por Dios en el momento en que nacemos aclara; también hace la diferencia con
los frutos del Espíritu. Además, establece la diferencia entre un don y una función o rol
eclesiástico, señalando que quien desempeña una rol, no necesariamente puede poseer
un don espiritual. Daniel J. Rode, Estrategias de crecimiento de iglesia (Buenos Aires:
Seminario Adventista Latinoamericano de Teología, 1998), 173
2Por la palabra “talento” debemos entender el conjunto de habilidades, facultades
o dones que Dios otorga a sus hijos, para cumplir diferentes tareas o responsabilidades.
William Barclay, Comentario al Nuevo Testamento-Mateo, trad. Alberto Araujo, (Barce-
lona: Clie, 1997), 2: 372.
Los dones espirituales y los ministerios | 499

talentos, tendrá mayor capacidad para enfrentar nuevos y mayores desafíos


en su tarea, (2) la recompensa está directamente relacionada con el buen
uso de los talentos y (3) el castigo que es la privación de los deleites de la
eternidad, se da a los que no hicieron nada con los talentos recibidos.
Al referirse a esta parábola, William Barclay indica: “Es la lección
de la vida que, la única manera de conservar un don es usarlo en el servicio
de Dios y de nuestros semejantes” .3 En este sentido, la mejor forma de
aguardar el retomo de Cristo y ser aprobado por Dios, es realizando
acciones que promuevan su reino en base a los DE que él nos ha otorgado.4
La quinta parábola de Jesús, aunque no se refiere específicamente
a los talentos, forma parte del gmpo de parábolas que enseñan cómo
aguardar el encuentro con Cristo. Al respecto George Knight indica que
ésta “concluye la enseñanza que Jesús viene desarrollando acerca de
cómo estar listos. Mientras que las primeras tres parábolas de la secuencia
ponían énfasis en la vigilancia (24:42-25:13), y la cuarta destacaba la
importancia de trabajar mientras se vela (25:14-30), ésta (25:31-46), cuál
es la naturaleza esencial de tal obra”.5 La naturaleza de esa evaluación es
que, “Dios nos juzgará de acuerdo con nuestra reacción a las necesidades
humanas”.6 En este juicio final no cuentan los conocimientos teológicos,
la experiencia cristiana, el estatus o cualquier otra cosa. Lo que importa, es
la respuesta de los cristianos para satisfacer las necesidades más sentidas
del prójimo, a través de los dones que Dios otorgó a sus hijos.
Refiriéndose a esta evaluación final, el don profético señala: “Cuando
las naciones estén reunidas delante de él, habrá tan sólo dos clases; y su
destino eterno quedará determinado por lo que hayan hecho o dejado de

3William Barclay, Comentario al Nuevo Testamento-Santiago y Pedro, trad. Al-


berto Araujo (Barcelona: Editorial Clie, 1996), 2:293.
4George Knight, La Biblia amplificada: Mateo, trad. Tulio N. Peverini y Miguel A.
Valdivia (Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 1998), 245, 246.
5Ibid., 246. ‫־‬
6Barclay, 374.
500 I Miguel Ángel Salomón

hacer por él, en la persona de los pobres y dolientes”.7 Es en-este contexto


que Jesús exhortó a sus discípulos a realizar obras de bien a sus semejantes,
como parte de su primera gira misionera, el dijo: “de gracia recibisteis, dad
de gracia” (Mt 10:8). De esta manera, muy acertadamente señala León
Morris: “debemos tener en cuenta que en todo el cuadro de las Escrituras,
es común que, somos salvos por gracia y juzgados por obras... Las obras
que hacemos son evidencia, o de la gracia de Dios que obra en nosotros, o
de nuestro rechazo de dicha gracia” .8

La enseñanza de Pablo y Pedro sobre los dones espirituales.

Pablo y los dones espirituales


Pablo es quien aborda de manera más amplia y sistemática el tema
de los DE. Lo hace en tres de sus epístolas: 1 Corintios 12, Romanos 12 y
Efesios 4.
Al parecer, estas tres listas presentada por el apóstol referente a los
dones, no son completas sino de carácter ilustrativo;9y la lista de 1Corintios
12, enfatiza el lugar que ocupan todos y cada uno de los creyentes como
parte del cuerpo de Cristo y su específica función dentro del m ismo.101Al
referirse a los dones espirituales, Pablo utiliza la palabra griega charis
equivalente a “gracia”, “don”, “regalo”, en español. La gracia en sus
diferentes manifestaciones, presenta al acto redentor de Cristo como el
principal don, y “junto a él aparece el don del Espíritu santo [sic], con sus
diferentes carismas”.11 Los carismas que acompañan a la tercera persona
de la deidad indudablemente se refieren a los DE, porque según Pablo,

7Elena G. de White, El Deseado de todas las gentes (Mountain View, CA.: Publi-
caciones Interamericana, 1955), 592.
8León Morris, The Gospel According to Matthew (Grand Rapids, Mi.: Eerdmans,
1992), 634.
9Arnold Wallenkampf, Renovados por el espíritu, trad. Miguel A. Valdivia (Bue-
nos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 2006), 75.
10Ibid., 77.
11Lothar Coenen, Beyreuther Ereich y Bietenhard Hans, Diccionario teológico del
Nuevo Testamento (Salamanca: Sígueme, 1985), 46.
Los dones espirituales y los ministerios | 501

“todas estas cosas las hace uno y el mismo Espíritu, repartiendo a cada
uno en particular como él quiere.” (1 Co 12:11). El propósito de los DE
es tener la capacidad para brindar un servicio espiritual tanto, dentro de la
comunidad de creyentes como a favor de la comunidad externa.12 Según
la teología paulina sobre la manifestación de los DE, es imposible para él,
concebir a un cristiano desprovisto de algún don de la gracia.13

Pedro y los dones espirituales (1P. 4:7-11).


La referencia de Pedro sobre el uso de los DE es hecha en el contexto
de la inminente venida de Cristo: “El fin de todas las cosas se acerca.” (1 P
4:7). De ahí la importancia de ser fieles mayordomos en el ministerio de los
dones. “Cada uno, implica que todo cristiano tiene algún don que poner en
práctica. Las observaciones de Pedro sobre mayordomía son significativas
a la luz del hecho de que Jesús habló de este tema especialmente a Pedro
en Lucas 12:42-48”.14
Por su parte, Barclay indica que:

La mente de Pedro está dominada en esta sección por la


convicción de que el fin de todas las cosas está cerca. Es
sumamente interesante y significativo notar que no usa esa
convicción para exhortar a la gente a que se retire del mundo y
entre en una especie de campaña privada para salvar su propia
alma; la usa para exhortar a entrar en el mundo y servir a
nuestros semejantes”.15

'2Ibid., 240.
13Ibid.
14David H. Wheaton, IPe 4:7-11, Nuevo comentario bíblico Siglo Veintiuno, CD-
ROM, versión 2.1 (Logós Library Sistem, 2000).
15William Barclay, Comentario al Nuevo Testamento-Santiago y Pedro, trad. Al-
berto Araujo (Barcelona: Editorial Clie, 1996), 14:293.
•502 I Miguel Ángel Salomón

Declaraciones de Elena G. de White sobre los dones espirituales.

Los dones espirituales capacitan para conocer la voluntad de Dios


La voluntad de Dios debe llegar a ser la nuestra. Se nos han confiado
dones físicos, mentales y espirituales. En la Biblia se da a conocer
plenamente la voluntad del Señor. Dios espera que cada hombre use sus
dones de tal modo que le den un mayor conocimiento de las cosas divinas,
y lo capaciten para progresar, para que cada vez sea más refinado, noble y
puro.16

La causa de la debilidad espiritual


La fe en los DE, nos fortalecerá espiritualmente, como ella nos aclara
así: La mayor causa de nuestra flaqueza espiritual, como pueblo es la falta
de una fe real en los dones espirituales.17 El empleo de los DE ayudan en
la preparación de la venida de Cristo.

Dios ha dado a la iglesia dones distintos. Estos son preciosos


en sus lugares apropiados, y todos podrán tener parte en el
trabajo de preparar a la gente para la pronta venida de Cristo.18

Se debe depender del Espíritu Santo y no de la oratoria del púlpito

Los sermones han estado en gran demanda en nuestras iglesias.


Los miembros han dependido de la oratoria del púlpito en vez de
dependerdelEspírituSanto.Sinserreclamadosousados,losdones
espirituales que se les han disminuido, tomándoles débiles.19

16División Interamericana de la Iglesia Adventista, Biblioteca electrónica: Funda-


mentos de la Esperanza, CD-ROM, versión 1.0 (Miami: Folio VIP Electronic Publishing,
1992-1993). Registro: 73015/409576.
11Elena G. de White, “An Appeal to the Friends of Thruth,” Review and Herald,
14 enero 1868, 8.
18Elena G. de White, Obreros evangélicos (Buenos Aires: Asociación Casa Editora
Sudamericana, 1971), 496.
19Elena G. de White, Mensajes selectos (Mountain View, CA.: Publicaciones Inte-
ramericanas, 1966), 1: 148.
Los dones espirituales y los ministerios | 503

El descuido frecuente de los ministros: los dones espirituales

Los ministros descuidan frecuentemente estas ramas


importantes de la obra: la reforma pro salud, los dones
espirituales, la benevolencia sistemática, y las grandes ramas
del trabajo misionero. Bajo sus trabajos, grandes cantidades
de personas aceptan la teoría de la verdad, pero con el tiempo,
se encuentra que hay muchos que no llevarán la aprobación de
Dios.20

La luz recibida sobre los DE es para nuestra superación y crecimiento

Nuestra fe debe crecer. Debemos parecemos más a Jesús en


conducta y disposición. Si se obedece, la luz que alumbra sobre
nuestro sendero, la verdad que nuestra inteligencia no puede
rechazar, santificará y transformará el alma... El conocimiento
de la verdad, la sabiduría celestial, los dones espirituales y los
bienes del cielo nos son concedidos para que experimentemos
un mejoramiento sabio.21

De las declaraciones del Don Profético pueden sacarse algunas


conclusiones. En primer lugar, Elena G. de White tenía una comprensión
clara sobre el rol de los DE en la iglesia. En segundo lugar, ella enseña
que el ministerios de los DE son una verdad que, ha sido descuidada
frecuentemente en el seno de los adventistas. En tercer lugar, menciona ella
que el ejercicio de los DE en la comunidad de creyentes, hace posible la
aprobación divina del trabajo de la iglesia. Finalmente, como adventistas,
tenemos una misión de preparar un pueblo para la segunda venida, es
necesario restaurar la enseñanza bíblica sobre el ministerio de los DE.22

20Elena G. de White, Evangelismo (Buenos Aires: Asociación Casa Editora Su-


damericana, 1975), 252.
1'Biblioteca electrónica: Fundamentos de laEsperanza, (Registro: 112477/409576).
22Rusell Burill, Iglesias adventistas saludables trad. Carlos A. Molina (Mayaguez,
PR.: Ediciones de la Vid, 2005), 33.
504 I Miguel Ángel Salomón

Algunos especialistas en crecimiento de iglesia, los dones espirituales


y los ministerios.

La mayoría de los expertos en crecimiento de iglesia, casi sin


excepción, consideran a los DE convertidos en ministerios, como una
condición fundamental para cumplir la misión y por lo tanto, para hacer
crecer la iglesia.
Christian Schwarz, considera a los DE convertidos en ministerios
como, una de las ocho características esenciales para considerar una iglesia
viva y activa. Este investigador señala que:

Dios ha establecido la función que debe desempeñar cada


creyente, y el trabajo de los líderes consiste en auxiliar a los
miembros a identificar sus dones espirituales y asignarles una
tarea de acuerdo con esos dones. Esta especial experiencia en
cada miembro es obra del Espíritu Santo, por cuanto la obra
de la iglesia no está restringida a unos pocos, sino compete a
cada uno de los miembros y recobra la enseñanza bíblica del
sacerdocio de todos los creyentes.23

Otro elemento destacable de Schwarz, son las razones que él señala


como obstáculos o resistencia a este plan bíblico de convertir los DE en
ministerios, a saber:

Quien está imbuido del pensamiento tecnocrático, tiende a


concebir y planear, el mismo, los servicios que deberán realizar
los miembros de iglesia, para luego buscar voluntarios que los
lleven a cabo. Si estos no se encuentran fácilmente, se ejercerá
más o menos presión para promover las decisiones. Las tareas
ya fijadas se constituirán en puntos inamovibles, a los cuales
se debe amoldar cada uno.24

23Christian A. Schwarz, Las 8 características básicas de una iglesia saludable


(Barcelona: Clie, 1996), 24.
24Ibid., 25. (La cursiva fue añadida).
Los dones espirituales y los ministerios | 505

Esta observación parece señalar la experiencia que se vive en el seno


de la Iglesia Adventista. Las actividades que deben poner en ejecución, los
miembros de la iglesia para el cumplimiento de la misión, son diseñadas
sin tomar en cuenta los dones espirituales, de tal forma que los miembros
se deben adaptar a los planes, como una especie de camisa de fuerza, sin
permitir el ministerio del Espíritu Santo, a través de los DE.25
En relación a este apasionante tema de los DE, Schwarz añade: “Lo
que está en juego aquí es nada más y nada menos que la misma esencia
del cuerpo de Cristo... si los miembros no descubren y usan sus dones
espirituales, la iglesia no puede esperar grandes progresos en ningún área
del desarrollo de la iglesia” .26
Donald McGavran, otra autoridad en crecimiento de iglesia, al
referirse a los DE los identifica como básicos para producir el crecimiento
de la iglesia en todas las áreas, que Dios no está limitado en la actualidad una
cantidad determinada de dones, sino que por su poder, puede habilitar a la
iglesia para enfrentar las diferentes necesidades, en pos del cumplimiento
de la m isión.27
Otro experto en esta área de estudio es Peter Wagner, y en sus
distintas obras se refiere a los DE. El anota las causas del desconocimiento
acerca del tema: “La ignorancia de los dones espirituales puede ser la
causa principal de retraso del crecimiento de la iglesia hoy” .28 Por lo

25Como iglesia, creemos que es necesario modificar la estrategia en el momento de


planificar e implementar los planes, para llevar adelante la misión. Los administradores
y secretarios de departamentos de los diferentes niveles, no deberían ignorar o pasar por
alto esta clara enseñanza bíblica, que el Espíritu Santo es soberano al otorgar los dones
espirituales a cada uno de los miembros, y habilitarlos para cada una de las tareas, y de
esta manera, cumplir la misión. No hacerlo, equivale a creer que el Espíritu Santo se ha
reservado los dones espirituales únicamente para los dirigentes, y los ha negado a los
miembros de la iglesia en general. Esta manera de proceder puede ser la causa para pre-
sionar a los miembros para producir el crecimiento en la iglesia, sin tomar en cuenta que
Dios es quien lo produce.
26Christian A. Schwarz, Desarrollo natural de la iglesia en la práctica, trad. Abel
Gálvez, Beatriz Fernández (Barcelona: Clie, 1999), 62. (La cursiva fue añadida).
27Donald McGavran y Win Am, How to Grow Church (Ventura, CA.: Regal
Books, 1973), 35, 36.
28Wagner, Sus dones espirituales pueden ayudar a crecer a su iglesia, 28.
506 I Miguel Ángel Salomón

tanto, Wagner indica que el desafío de cada cristiano es relacionarse con


su Dios para alcanzar la experiencia de conocer sus dones espirituales y
ponerlos en acción para tener vitalidad y sentido de realización en la vida
cristiana.29 Otra observación de Wagner, que debería tomarse en cuenta
es, la necesidad de incorporar modificaciones en la formación académica
de los futuros pastores, en cuanto a los conocimientos sobre los dones
espirituales, como elementos claves para el crecimiento de la iglesia. Si el
pastor es la persona clave para que la iglesia crezca, debe ser adiestrado
para este particular cumplimiento de su tarea.30
Además, al referirse a la lista de los DE el apóstol Pablo indica: “En
cada una de las tres listas de dones espirituales de la Biblia, Romanos 12,
1 de Corintios 12, y Efesios 4, los dones se presentan en el contexto del
cuerpo de Cristo” .31 Luego, señala que, no es responsabilidad del creyente
elegir sus dones espirituales, como tampoco sus tareas a desempeñar, sino
descubrir los dones que Dios le ha otorgado.32 Para descubrirlos, Wagner
sugiere cinco pasos: “ 1. Explorar las posibilidades, 2. experimente con
todos cuantos le sea posible, 3. examine sus sentimiento, 4. evalúe su
eficiencia y 5. espere confirmación por parte del cuerpo”.33
En el ambiente adventista, son varios los exponentes del crecimiento
de iglesia,34 cada uno de ellos ha aportado con diferentes trabajos, artículos

29Ibid., 28, 29.


30Ibid., 136.
31C. Peter Wagner, Su iglesia puede crecer: siete características de una iglesia
viva, trad. Xavier Vila (Barcelona: Clie, 1980), 90.
32Ibid.
33Ibid., 91.
34Rusell Burrill, Iglesias adventistas saludables trad. Carlos A. Molina (Maya-
guez, PR.: Ediciones de la Vid, 2005), La iglesia revolucionada del siglo XXI, trad. Clau-
día Blath (Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 2007); Daniel J. Rode,
Estrategias de crecimiento de iglesia (Buenos Aires: Seminario Adventista Latinoameri-
cano de Teología, 1998), y otros; Emilio Abdala, Guía de plantío de igreja (Sao Paulo:
Seminario Adventista Latinoamericano de Teología, 2007); James Zackrison, From Spec-
tators to Disciples: A Biblical Strategy fo r Church Growth, s.l, 1997; Una obra contra
reloj: El mensaje evangélico en la evangelización personal (Buenos Aires: Asociación
Casa Editora Sudamericana, 1993).
Los dones espirituales y los ministerios | 507

y ponencias en el ambiente académico. Del mismo modo, cada uno de ellos


le asigna un rol importante a los ministerios de la iglesia basados en los
dones espirituales. Según Burill, la iglesia hoy, al orar por la lluvia tardía,
debería hacerlo rogando para que muchos dones espirituales capaciten a
los miembros de la iglesia para la tarea, porque “El ministerio de los dones
espirituales no es una opción para la iglesia adventista. Más bien, es una
necesidad vital” .35 Burill añade: “El producto final de este enfoque basado
en los dones es que la gente llegue a, desarrollarse como discípulos de
Jesús. La participación en algún ministerio es, una de las maneras que Dios
diseñó para lograr este propósito”.36
Por su parte, Daniel J. Rode señala la necesidad de “Descubrir,
desarrollar y usar”, los dones espirituales, y sus resultados se verán cuando:
“ 1) Cada miembro conozca la descripción del trabajo del Espíritu para su
vida en la iglesia, 2) cambien las actitudes, 3) Exista madurez en el cuerpo,
4) La iglesia crezca en calidad y cantidad y 5) Dios sea glorificado”.37
Entre los autores adventistas, Zackrison ha logrado mostrar un plan
más pragmático en cuanto a cómo desarrollar ministerios en la iglesia,
en base a los DE. Basado en Sharing Your Faith With Friends Without
Losing Either de Monte, Sahlin Zackrison enumera y explica cinco pasos
para construir un ministerio dentro de la iglesia, basado en los DE: “ 1.
Defina sus necesidades, 2. Especifique el ministerio, 3. Organice un equipo
para el ministerio, 4. Diseñe un plan de acción, 5. Desarrolle un ministerio
agudo y sensible que se relacione con la estrategia total, de evangelismo
de la iglesia” .38 La efectividad de los ministerios sugeridos, consiste en
contemplar las necesidades internas de la iglesia, como las necesidades
extemas, basados en encuestas y estudios de ambas comunidades. De esta
35R. Burill, Iglesias adventistas saludables, 30-33.
36Ibid., 35.
37Daniel J. Rode, 172.
38Zackrison, From Spectators to Disciples: A Biblical Strategyfor Church Growth,
102.
508 I Miguel Ángel Salomón

manera, se garantiza un trabajo completo que involucre a todos los miembros


de iglesia, de acuerdo con sus DE.39
Después de considerar las enseñanzas sobre los DE convertidos en
ministerios, corresponde analizar lo que está sucediendo en la iglesia hoy, en
relación con esta enseñanza vital. Hemos elegido dos experiencias sobre los
ministerios basados en los DE, una de ellas corresponde a la Iglesia Central
de Santa Cruz, Bolivia, y la otra a la Iglesia de Miradores, Lima, Perú.

Experiencias actuales de los dones espirituales convertidos en


ministerios, en la Iglesia Adventista.

Los dones espirituales y los ministerios en la Iglesia Central de Santa


Cruz, Bolivia
En la Iglesia Central de la ciudad de Santa Cruz, hace más de 10 años,
se inició un ministerio en favor de las mujeres de la cárcel de Palma Sola,
el mismo continúa activo hasta este momento. Un grupo de cinco damas
de la iglesia, debidamente organizadas, decidieron realizar actividades para
ayudar a las mujeres recluidas. Al detectar las necesidades más urgentes,
gratuitamente desarrollaron las siguientes tareas:
1. Terapia ocupacional, con talleres de pintura en vidrio y en tela,
cursos de nutrición y cocina vegetariana. Seminarios sobre Hogar y Familia.
2. Asistencia médica, con el apoyo de profesionales para la atención
y consultas en los horarios de los sábados y domingos.
3. Asistencia social, a través del reparto de alimentos no perecibles,
ropa, calzados, a las personas más necesitadas. A los hijos menores de las
reclusas (niños en edad escolar), se les proveyó ayuda educativa (becas),
en las escuelas de la iglesia y otras instituciones.
4. Asistencia legal, mediante un grupo de abogados voluntarios que,
viabilizar los procesos judiciales, detenidos por la retardación de la justicia.
Como resultado de esta acción, cuatro reclusas consiguieron su libertad.

39Ibid., 102-104.
Los dones espirituales y los ministerios | 509

A ellas se les consiguió fuentes de trabajo, para lograr su reinserción en la


sociedad.
5. Apoyo espiritual, a través del seminario “Paz para vivir” (Curso
de investigación bíblica).
La asistencia promedio a cada uno de los programas fluctuó entre, 30
a 40 personas. Con el seminario de apoyo espiritual, se finalizó la primera
serie de actividades, como resultado se logró bautizar a las primeras cuatro
personas. El ministerio continúa con actividades más ambiciosas, como
la edificación de ambientes para realizar las distintas actividades con las
reclusas. Este ministerio aglutina a más de 20 miembros de iglesia, con
distintos dones espirituales.

Ministerio “Libertad en Cristo”, Miraflores, Lima, Perú


Otro ministerio carcelario similar, denominado “Libertad en Cristo”,
se realiza en la cárcel de mujeres de Chorrillos, en Lima, Perú. Este
ministerio está liderado por un joven, quien con el apoyo de un equipo de
damas y varones, ha logrado dar continuidad al proyecto.
El apoyo a las reclusas se realiza mayormente durante fechas
especiales, como ser Día de la Madre, Navidad, Día de la Mujer, y otras,
mediante programas especiales.
De igual manera, el apoyo espiritual es personalizado, debido
a las diferentes nacionalidades de las reclusas. De acuerdo al idioma,
los miembros de iglesia apoyan para dar cursos bíblicos y otras ayudas
necesarias. Se apoya también, con profesionales en la salud física y mental.
Por esta labor realizada, las autoridades carcelarias reconocen la
labor social y espiritual de la Iglesia Adventista. Como en el caso anterior,
distintas reclusas ya consiguieron su libertad en Cristo al unirse a la iglesia
mediante el bautismo, alrededor de 20 mujeres hasta el momento.
51·0 I Miguel Ángel Salomón

Conclusión

1. La enseñanza acerca de los dones espirituales es bíblica, y por


lo tanto debe merecer una consideración especial por parte de todos los
miembros de la iglesia, (tanto administradores como los miembros laicos).
2. En la iglesia adventista se ha descuidado el estudio y por
consecuencia, la implementación de las distintas actividades de la iglesia,
basada en los dones espirituales.
3. Se debe corregir el error presente, que muestra que sólo los
dirigentes de la iglesia poseen los dones espirituales y que los miembros
en general, no lo poseen. Esto es evidente, porque a los miembros se le
asignan tareas a cumplir, sin tomar en cuenta, el ministerio del Espíritu
Santo y los dones espirituales que puedan tener.
4. Existe una necesidad urgente de introducir cambios en la formación
ministerial, para capacitar mejor a los futuros pastores en el tema de los
dones espirituales y los ministerios.
5. La organización de ministerios basados en los dones espirituales,
que contemplen las necesidades, tanto dentro como fuera de la iglesia, es
un imperativo urgente para la iglesia hoy.
6. Cuando la iglesia adventista corrija el error de haber descuidado
el tema de los dones espirituales, entonces se verán mayores resultados,
porque se estará cumpliendo el plan de Dios.
LAS PUBLICACIONES Y LA EVANGELIZACIÓN

Carlos A. Steger
Universidad Adventista del Plata, Argentina

iiiiiiimiiiiiiiiiiiiiiiiiimiiiimiiiiiiiiiMmiiiiiiiiiiiiiimiiiiiiiiiiiiiiNiiiiiiiiiiiiimiiiiiiiiiiiimiiMiNiiiiiiiiiiiiiiimmiimiiiiiiiNimiiiiiiiiiimiiiiiiiii

Introducción

La historia de nuestra iglesia en el territorio de la División


Sudamericana m uestra que el mensaje adventista entró en casi todos los
países (excepto Perú) por medio de las publicaciones. En Brasil, el mensaje
adventista entró por prim era vez a través de publicaciones que arribaron
al puerto de Itajaí, Santa Catarina, en 1879. En cuanto a la Argentina,
aunque hay distintas versiones de lo ocurrido, posiblemente el mensaje
se conoció mediante las publicaciones que recibió Pedro Peverini en Las
Garzas, en 1886, lo mismo que Julio Dupertuís, por la misma época,
en Felicia. Los prim eros misioneros que llegaron a Uruguay fueron
los colportores A. B. Stauffer, E. W. Snyder y C. A. Nowlen, en 1891.
También en Paraguay, fueron las publicaciones las que introdujeron el
mensaje adventista mediante el colportor Lionel Brooking, en 1892. De
la misma manera, el prim er misionero adventista que trabajó en Chile fue
el colportor Clair A. Nowlen, que llegó a Valparaiso en 1894, y dos meses
más tarde llegaron los colportores Fredrick W. Bishop y Thomas H. Davis.
En Bolivia, el colportor Juan Pereira (ex presbiteriano), vendió libros en
1897, y luego Eduardo Thom ann y José Luis Escobar colportaron en
1902. Por último, fue Thomas H. Davis quien llevó el mensaje adventista
512· I Carlos A. Steger

por primera vez a Ecuador, mediante las publicaciones, ·en 1904.1


En la actualidad, la iglesia en Sudamérica está usando cada vez
más las publicaciones para la evangelización. Por ejemplo, en 2005 se
distribuyeron 500.000 ejemplares de Conflicto Cósmico, y al año siguiente
ese mismo libro se utilizó como libro misionero del año y se distribuyeron
1.200.000 ejemplares. El plan del “libro m isionero del año” creció en
2007 a 3.300.000 ejemplares del libro Los diez mandamientos. En 2008
se distribuyeron 1.900.000 ejemplares de Esperanza para Vivir. Ese año
también se entregaron más de 21 millones de revistas Viva con esperanza,
como parte del proyecto “Impacto Esperanza”. En 2009 el libro misionero
del año fue Señales de Esperanza, con una distribución de 7.350.000
ejemplares. Para el año 2010 se están imprimiendo más de 8.000.000 de
ejemplares del libro Tiempo de Esperanza. El próximo año también se
distribuirán más de 30 millones de revistas Un día de Esperanza.
Dios es un gran escritor. Para él es importante que su mensaje quede
escrito. El mismo escribió los Diez Mandamientos en tablas de piedra (Ex.
24:12; 31:18) y quiere escribir esa ley en nuestro corazón (Jer. 31:33), lo
que posiblemente es tan difícil como escribir en tablas de piedra. Además,
Dios ordenó a sus profetas que escribieran los mensajes que él les daba.
La orden “escribe” aparece 26 veces en la Biblia. De ellas, 21 veces es una
orden de Dios a sus profetas.
El Señor desea que su mensaje sea escrito claramente para que pueda
tener la máxima efectividad. “Y el Señor me respondió: Escribe la visión,
y haz que resalte claramente en las tablillas, para que pueda leerse de
corrido” (Hab. 2:2, NVI).
¿Por qué Dios le da tanta importancia a lo que se escribe? Porque las
publicaciones desempeñan un papel fundamental en la comunicación del
evangelio. Esa función no puede ser realizada por otros medios, por las
razones que presento a continuación.

1Ver Seventh-day Adventist Encyclopedia (1996), s.v. “Brazil”, “Argentina”, “Uru-


guay”, “Paraguay”, “Chile”, “Bolivia” y “Ecuador”. Ver también Héctor Peverini, En las
huellas de la providencia (Florida, Buenos Aires: ACES, 1988), 35-37.
Las publicaciones y la evangelización | 513

Las publicaciones pueden llegar a lugares a los que nosotros no


podemos llegar

Jeremías tenía un mensaje para Judá y para sus dirigentes, pero


tenía prohibido ir al templo o a lugares públicos. Tampoco podía entrar
al palacio del rey. ¿Cómo podría transmitir el mensaje que Dios le había
encomendado? La solución fue escribir un libro, por medio del escriba
Baruc. Luego pidió a Baruc que fuera al templo y leyera el libro a oídos
de todos (Jer. 36:5, 6). Los funcionarios del rey se enteraron y pidieron a
Baruc el libro para conocer su contenido. Luego lo llevaron hasta el rey
(Jer. 36:11-21). Así, todos escucharon el mensaje, a pesar de la prohibición
que pesaba sobre Jeremías.
Pablo estuvo preso más de una vez. No podía ir a visitar las iglesias,
pero podía escribirles. Durante su primer encarcelamiento en Roma (61-63
d.C.) escribió Efesios, Filipenses, Colosenses y Filemón. En su segundo
encarcelamiento (66 d.C.) escribió 2 Timoteo.
De la misma manera, el apóstol Juan, preso en Patmos, no podía ir
a predicar a las siete iglesias de Asia. Para suplir esto, Dios le ordenó que
les escribiera.
“Flay muchos lugares en los cuales no puede oírse la voz del predicador,
lugares que pueden ser alcanzados únicamente por nuestras publicaciones:
los libros, periódicos y folletos que contienen las verdades bíblicas que el
pueblo necesita. Nuestras publicaciones han de ser distribuidas por todas
partes. La verdad ha de ser sembradajunto a todas las aguas; pues no sabemos
cuál ha de prosperar, si esto o lo otro. Ennuestrojuicio falible podemos pensar
que no es aconsejable dar las publicaciones precisamente a las personas
que más rápidamente aceptarían la verdad. No sabemos cuáles pueden ser
los resultados de entregar un solo folleto que contiene la verdad presente”.2

2Elena G. de White, El colportor evangélico, tercera edición (Florida, Buenos Ai-


res: 1999), 5.
5 4 ‫ · ו‬I Carlos A. Steger

Las publicaciones pueden llegar a más personas que nosotros

Si Pablo o Juan no hubieran estado presos, hubieran dado sus


mensajes en forma oral y no escrita. Posiblemente hubieran predicado
sermones poderosos, pero su efecto habría llegado solamente a sus oyentes
de ese momento. Gracias a Dios que, en lugar de predicar, escribieron sus
mensajes. De esa forma han beneficiado a millones de personas.
Satanás conoce el poder de las publicaciones. Por eso trata de
destruirlas y obstaculizar su obra. En tiempos de Jeremías, el rey quemo el
rollo que había escrito Baruc, pero Dios le ordenó al profeta que escribiera
nuevamente sus mensajes en otro rollo (Jer. 36:28, 32).
La invención de la imprenta con tipos móviles multiplicó las
posibilidades de difusión de las publicaciones. El prim er libro impreso por
Johannes Gutenberg, en 1456, fue la Biblia. Hasta ese entonces, copiar la
Biblia a mano requería años de trabajo. Pero la imprenta permitió acortar
drásticamente estos tiempos. Con las prensas actuales se puede imprimir
miles de Biblias en pocos días.
Antes de la aparición de la imprenta, era relativamente fácil destruir
las publicaciones. Pero luego de la invención de la imprenta, resultó
prácticamente imposible. Por eso, en aquella época un prelado declaró:
“Debemos eliminar la imprenta, o ella nos eliminará a nosotros”.3
El movimiento millerita creció, en buena medida, gracias a las
publicaciones. A principios de la década de 1840 se publicaban cerca de 40
periódicos diferentes anunciando el mensaje del segundo advenimiento.4
En mayo de 1844, Joshua Himes anunció que se habían distribuido
más de cinco millones de ejemplares de periódicos y folletos acerca del
advenimiento.5

3Edwin R. Palmer, The Printing Press and the Gospel (Washington: Review and
Herald, 1947), 21-22.
4Ver Alberto R. Timm, O Santuário e as Três Mensagens Angélicas (Engenheiro
Coelho, SP: Imprensa Universitária Adventista, 1998), 18-19.
5Ver Richard W. Schwarz y Floyd Greenleaf, Portadores de luz (Florida, Buenos
Aires: ACES, 2002), 37.
Las publicaciones y la evangelización | 515

Luego del chasco de 1844, los adventistas observadores del sábado


también sintieron la necesidad de utilizar las publicaciones para difundir
la verdad. Al principio, sin embargo, el puñado de creyentes tenía recursos
muy escasos para embarcarse de lleno en la obra de las publicaciones;
José Bates escribió un folleto acerca de la verdad del sábado y, pese a que
carecía totalmente de recursos económicos, avanzó por fe y Dios proveyó
los medios para publicarlo.6
En noviembre de 1848, Elena de White tuvo una visión sobre la
proclamación del mensaje y el deber de publicar la luz. Al terminarla, dijo
a su esposo: “Debes imprimir un pequeño periódico y enviarlo a la gente.
Será pequeño al comienzo; pero a medida que la gente lo lea, te enviarán
los recursos para imprimirlo, y será un éxito desde el principio. Se me
ha mostrado que de este pequeño comienzo brotarán raudales de luz que
han de circuir el globo” .7 Así surgió Present Truth, el primer periódico
adventista del séptimo día, cuyo primer número se publicó en julio de
1849. Al año siguiente, comenzó a publicarse la Second Advent Review and
Sabbath Herald (conocida por su nombre acortado, Review and Herald, que
actualmente llamada Adventist Review). Todo esto ocurría cuando el grupo
de adventistas guardadores del sábado era muy pequeño (algo más que
cien personas), no tenían ninguna organización, ni templos, ni ministros
reconocidos por todos, ni recursos para mantenerlos.8A pesar de todas estas
dificultades, las publicaciones adventistas, especialmente la Review and
Herald, tuvieron un papel fundamental para producir la unidad doctrinal y
la unidad de acción de la naciente iglesia, y para la difusión del evangelio.9
La década de 1870 a 1880 fue la de mayor crecimiento en la historia
de la Iglesia Adventista, con un crecimiento neto superior al 11% anual.

6Verlbíd., 70,71.
7Elena G. de White, El ministerio de las publicaciones (Florida, Buenos Aires:
ACES, 1999), 16.
8Ver R. Sheffel, “A importância da imprensa”, Revista Adventista, Janeiro 2006,
17.
9Ver Portadores de luz, 79; C. Mervyn Maxwell, Tell It to the World, second
revised edition (Mountain View, CA: Pacific Press Publishing Association, 1982), 103.
516 I Carlos A. Steger

En 1870 había 5.440 miembros, mientras que diez años más tarde (1880)
había 15.570 miembros. Uno de los factores claves para este crecimiento
fue la distribución masiva de publicaciones, promocionada por la Tract
and M issionary Society (Sociedad M isionera de Publicaciones). Según
el pastor John Loughborough, que vivió en ese tiempo y fue el primer
historiador de la Iglesia Adventista, la creación de esta sociedad introdujo
una nueva era en la predicación del mensaje, pues trajo a la iglesia casi
tantas almas como las provenientes de los esfuerzos del ministerio.101 ·
Del modesto comienzo mencionado en los párrafos precedentes, la
obra de las publicaciones adventistas ha crecido en forma extraordinaria.
Actualmente hay 62 casas editoras adventistas en el mundo (incluyendo
sucursales) que publican el mensaje en 362 idiomas.11
Una publicación puede ser leída por muchas personas, lo que amplía
en forma insospechada su influencia a lo largo del tiempo. Así ocurrió con
un libro que Elena de W hite obsequió en un viaje, y que trajo a decenas de
personas al conocimiento de la verdad.12

Las publicaciones pueden hacer una obra que nosotros


no podemos hacer

Muchas personas leen estos folletos y revistas, lo que despierta su


espíritu combativo y llenos de ira arrojan lejos el mensajero silencioso. Pero
las ideas nuevas para ellos, aunque no eran bienvenidas, ya han causado
su impresión, y mientras el mensajero silencioso soporta el maltrato sin
tomarse el desquite, no hay nada que alimente la ira que se había despertado.

10Ver J. N. Loughborough, Rise and Progress o f the Seventh-day Adventists (Battle


Creek, MI: General Conference Association of the Seventh-day Adventists, 1892), 290-
291; y Víctor Casali, Laicos, publicaciones y crecimiento de iglesia, segunda ed. revisada
y ampliada (Libertador San Martín: Centro de Investigación White, 1993), 10-11, 21,
28-29.
11Ver http://www.adventist.org/world_church/facts_and_figures/index.html.en.
12Ver Elena G. de White, El evangelismo (Florida, Buenos Aires: ACES, 1993),
328-329.
Las publicaciones y la evangelizaron | 517

Una vez más la mano toma la revista o el folleto rechazados y los ojos leen
las líneas con la verdad; pero el lector nuevamente airado, arroja lejos de
sí el material de lectura. Sin embargo, la mente no reposa, y finalmente la
persona lee la revista detestada, y la verdad, punto por punto, comienza
su obra de convicción; la reforma se lleva a cabo paso a paso. Muere el
yo, y desaparecen la lucha y el antagonismo contra la verdad. La revista
despreciada, en adelante es honrada como instrumento de conversión del
porfiado corazón y para subyugar la perversa voluntad, poniéndolos en
sujeción a Cristo. Si el predicador viviente hubiera hablado con la misma
claridad y exactitud, estas personas se habrían alejado de él sin aceptar las
ideas nuevas y extrañas que presentaba. Las revistas y los folletos pueden
ir a donde el predicador vivo no puede; y aunque pudiera llegar, no tendría
acceso a la gente a causa de sus prejuicios contra la verdad.13
Se me ha mostrado que las publicaciones ya han estado realizando
una obra en algunas mentes en otros países, quebrantando los muros de
prejuicio y superstición. Me fueron mostrados hombres y mujeres que
estudiaban con intenso interés periódicos y unas pocas páginas de folletos
sobre la verdad presente. Leían las evidencias tan maravillosas y nuevas
para ellos, y abrían sus Biblias con interés nuevo y profundo, a medida
que los temas de la verdad que les habían resultado oscuros eran aclarados,
especialmente la luz con respecto al sábado del cuarto mandamiento.
Mientras investigaban las Escrituras para ver si estas cosas eran así, una
nueva luz brillaba en su comprensión, los ángeles se cernían sobre ellos, e
impresionaban su mente con las verdades contenidas en las publicaciones
que habían estado leyendo.
Los vi sosteniendo periódicos y folletos en una mano, y la Biblia
en la otra, mientras sus mejillas eran humedecidas por las lágrimas,
e inclinándose delante de Dios en oración ferviente y humilde para ser
guiados a toda verdad, precisamente lo que él estaba haciendo por ellos
antes que se dirigieran al Señor. Y cuando recibieron la verdad en sus

13Elena G. de White, El ministerio de las publicaciones, 440-441.


518. I Carlos A. Steger

corazones, y vieron la armoniosa, cadena de verdad, la Biblia fue para


ellos un libro nuevo; la estrecharon contra su corazón con gozo agradecido,
mientras su semblante resplandecía de felicidad y santo gozo.
No estaban satisfechos de gozar ellos solos de la luz, y comenzaron
a trabajar por otros. Algunos, hicieron grandes sacrificios por causa de la
verdad y para ayudar a sus hermanos que estaban en tinieblas. Se prepara
así el camino para hacer una gran obra en la distribución de folletos y
periódicos en otros idiomas.14
A veces pueden pasar muchos años hasta que la semilla da frutos,
pero finalmente produce una rica cosecha.15

Conclusión

Elena de W hite anunció enfáticamente que la obra de las publicaciones


debe continuar creciendo hasta el fin. En 1875 ella vio en visión la obra que
debía hacerse en muchos países extranjeros. Vio las prensas funcionando
en diferentes casas editoras, imprimiendo periódicos, folletos y libros que
contenían la verdad presente para los habitantes de esas naciones. Luego,
cuando visitó Europa (10 años más tarde) y Australia (16 años más tarde),
reconoció esas casas editoras (particularmente el departamento de prensas)
en Basilea (Suiza, Oslo (Noruega), y Melbourne (Australia).16
“Las casas editoras y las prensas son instrumentos en las manos de
Dios para enviar a toda lengua y nación la preciosa luz de la verdad” .17
“Los libros y las revistas que salen de nuestras casas editoras tienen una
obra definida y de mucho alcance que realizar.... A medida que la obra
avanza, debiera aumentar la circulación de nuestras publicaciones en
todos los idiomas”.18 “Es también, en gran medida, por medio de nuestras

14Elena G. de White, El colportor evangélico, 206-208.


15Ver Pablo Rodríguez, “Los pioneros y las publicaciones”, Revista Adventista,
diciembre 2003, 32-33.
16Ver Elena G. de White, El ministerio de las publicaciones, 36, 37.
17Ibíd., 428.
18Ibíd, 438.
Las publicaciones y la evangelización | 519

imprentas como debe cumplirse la obra de aquel otro ángel que baja del
cielo con gran potencia y alumbra la tierra con su gloria”.19
En 1925, un joven carpintero adventista le vendió a mi abuelo El
conflicto de los siglos, de Elena G. de White, acompañado por otro libro.
El los guardó en su biblioteca, junto a una buena colección de novelas.
Vivía en el puerto de Moliendo, en la República de Perú, donde había
establecido una farmacia en sociedad con un amigo.
Un día, su esposa decidió quemar esos libros protestantes, y los sacó
del anaquel. Antes de salir de aquella habitación, se dio vuelta para mirar
la biblioteca y notó que había quedado un espacio vacío poco estético.
“Bien - pensó -, dejaré los libros hasta que mi marido compre algunas otras
novelas” .
Y así, esos dos tomos quedaron en la biblioteca hasta que, un día, mi
abuelo decidió leer El conflicto de los siglos. Nunca imaginó que la lectura
de ese libro cambiaría completamente el rumbo de su vida.
En varias ocasiones había intentado dejar el vicio del cigarrillo,
pero siempre había fracasado. Una mañana, después de abrir la farmacia
a las siete, continuó la lectura de El conflicto de los siglos con su habitual
cigarrillo en los labios, cuando comprendió, de pronto, que nuestro cuerpo
es templo del Espíritu Santo. Pasó al laboratorio de la farmacia, se arrodilló
y pidió al Señor que lo ayudara a desprenderse de aquel vicio. Desde aquella
memorable mañana, no volvió a fumar; fue suprim era victoria. A medida que
avanzaba eñ la lectura de El conflicto de los siglos y su gran Biblia católica,
crecía su interés por conocer más y más acerca de Cristo y de la verdad.
Finalmente, decidió que era necesario guardar el sábado del Señor.
El problema era muy serio: por ley, la farmacia no podía permanecer
cerrada los días sábados. Además, su esposa era una católica ferviente,
que no tenía ningún interés en oír, ni mucho menos aceptar esas nuevas
ideas. El oraba al Señor para que le diera luz y abriera un camino que le
permitiera servirlo.

19Ibíd, 430.
520 I Carlos A. Steger

Una mañana, lo visitó un joven zapatero adventista y le vendió


el libro Hacia la edad de oro, de Marcelo I. Fayard, que explica el
origen del mal. Éste abrió ante su mente un nuevo panorama y pensó
que, presentándole este asunto a su esposa, ella aceptaría la verdad. Le
quiso dar estudios bíblicos, pero al principio ella no aceptó. Finalmente
accedió, con la condición de que usaran la versión católica de la Biblia.
Enseguida comenzaron los estudios, uno tras otro. Ella leía los textos en
forma mecánica y sin interés, hasta que llegaron al tema de la eucaristía. Al
estudiarlo, se sintió movida como por un resorte y fue como si, de repente,
hubiera brotado en ella una avidez por las verdades bíblicas.
- He estado engañada - concluyó al finalizar el estudio-; quiero
conocer más acerca de la verdad.
Ese estudio la había transformado. Pronto estuvo preparada para
asimilar los demás aspectos de la verdad y, al llegar al estudio acerca del
verdadero día de reposo, tomó la iniciativa y le dijo a su esposo:
- Alfredo, debemos guardar el sábado.
- Está bien -acordó él - . Pero ¿y la farmacia?
- Si es necesario que vayamos a vivir en medio de la plaza, lo
haremos. “Es menester obedecer a Dios antes que a los hombres” -afirm ó,
resuelta.
Inmediatamente, hicieron planes para ordenar sus vidas de acuerdo
con la Palabra de Dios. Él hizo arreglos para que el empleado de la farmacia
atendiera solo los sábados y, en cambio, le daría libre cualquier otro día de
la semana. Entonces, comenzaron a asistir a la iglesia.
Pero el asunto no fue tan sencillo. La gente supo enseguida que se
habían convertido al adventismo, que él no trabajaba los sábados y que
asistía, con su familia, a una iglesia que, según decían, rendía culto a la
cabeza de cerdo (suposición basada en el hecho de que no consumimos
carne de cerdo). La noticia llegó a su socio de la ciudad de Arequipa, con
____ ____ Las publicaciones y la evangelización | 521

quien hacía poco más de un año que trabajaba. Muy alarmado, éste fue a
visitarlo y lo instó a trabajar los sábados. Pero él le explicó que no podía ir
contra su conciencia.
- Bien - dijo el socio-, si no lo haces, disolvemos ahora mismo la
sociedad. No firmaremos la escritura de contrato que está por firmarse ni
te pagaré las utilidades del año.
Y así ocurrió. Subió a su casa, en la planta alta de la farmacia, y le
contó a su esposa que habían terminado la sociedad de la farmacia y que el
socio se negaba a reconocerle las utilidades del año, que ascendían a más
de diez mil soles. También le dijo que debían dejar la casa y que no tenían
adonde ir ni otro trabajo. Entonces, se arrodillaron y presentaron su caso
delante de Dios.
Al día siguiente fue al correo y, para su sorpresa, recibió una carta
del pastor R. J. Roy, presidente de la Misión del Lago Titicaca, invitándolo
a trabajar como administrador de la Clínica Americana de Juliaca. Así
comenzó el servicio que durante más de cuarenta años prestó a la iglesia
mi abuelo, el pastor Alfredo Bellido.
¡Gracias a Dios por las publicaciones adventistas! Si no fuera por
ellas, mi familia no habría conocido el evangelio, ni yo estaría escribiendo
esto.20
Sin duda, hay muchas historias semejantes. Pero ¡cuántas más
podrían ocurrir, si cada uno de nosotros entregara nuestras publicaciones a
las personas con las que nos relacionamos!

20Ver Carlos A. Steger, “Todo por un libro”, Revista Adventista, marzo 2004, 2-3.
LA PLANTACIÓN DE IGLESIAS EN TERRITORIOS
NO ALCANZADOS: UN AXIOMA PARA EL
CUMPLIMIENTO DE LA MISIÓN EN LA DSA

Cristhian Álvarez Zaldúa


Colegio Adventista del Ecuador, Equador

llllllllllllllllllllllllllll'lllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllKKIIIII

En un informe presentado en la junta plenaria de la División


Sudamericana (DSA) en mayo del 2008, el Departamento de Misión Global
mostró el total de municipios que existe en todo el territorio de la División,
contrastado el total de municipios en donde se ha establecido la obra, con
aquellos en donde no se tiene presencia adventista. En el siguiente cuadro
se puede observar la realidad presentada hasta esa fecha.

Tabla 1

Países de la Total de Con presencia Sin presencia


DSA Municipios adventista adventista

Chile 354 275 79

Argentina,
Paraguay, y 1.194 725 469
Uruguay

Perú 1.744 1.060 684

Ecuador 217 141 76


•524 I Cristhian Alvarez Zaldúa

Bolivia 327 168 159

Brasil 5.559 3.217 2.342

TOTAL 9.395 5.564 3.831

Partiendo de este esquema, se puede observar que de un total de


9.395 municipios que existen en el territorio de la División Sudamericana
de la Iglesia Adventista (DSA), la iglesia mantiene presencia en un 59,
22% de ellos, mientras que el 40,77% de ellos no. Este cuadro vuelve
interesante la realidad de la evangelización en Sudamérica, porque aunque
el crecimiento de nuevos miembros en Sudamérica es notable y pujante, la
estadística nos enfrenta con una realidad con la que debemos trabajar antes
de esperar que la obra se termine en este territorio, la realidad de expandir la
obra hacia los territorios no penetrados con el mensaje de los tres ángeles,
es decir con el establecimiento o plantación de nuevas iglesias.
Aunque el número de bautismos ha crecido, el crecimiento se ha
focalizado más en la expansión de la iglesia local que, en la extensión de
la iglesia hacia nuevos territorios.1 Esto no quiere decir que no se realice
ninguna clase de proyecto de extensión. En realidad, muchas iglesias
locales de la DSA están empeñadas en la plantación de iglesias hacia
vecindarios sin presencia adventista, mayormente en municipios en donde
la iglesia ya existe, pero existe un menor énfasis en el trabajo dirigido
hacia ciudades no alcanzadas.

1Técnicamente expansión y extensión se reflejan dos clases de realidades en el tra-


bajo evangelístico de la iglesia. Expansión tiene que ver con “una iglesia en crecimiento,
pero un crecimiento que se produce exclusivamente dentro de sí misma. No hay planes
de multiplicarse en nuevas congregaciones, sino que el único objetivo es acrecentar el
número de miembros de la iglesia ya existente”. Por otro lado, extensión se refiere a la
acción que impulsa “a los miembros en todas direcciones, constituyéndose en líderes de
pequeños grupos de creyentes que, a su vez, se subdividen no bien alcanzan cierta dimen-
sión”. (Juan Carlos Viera, La iglesia y el mundo: una perspectiva adventista de la misión
de la iglesia en el contexto sudamericano [Buenos Aires: Ediciones SALT, 1990], 98.
La plantación de iglesias en territorios no alcanzados | 525

Es indiscutible que la expansión de la iglesia local constituye uno


de los elementos vitales en el cumplimiento de la Misión, y de ninguna
manera se puede cuestionar esta estrategia. Lo mismo se debe decir de
la plantación de iglesias, en vecindarios dentro de municipios donde la
presencia adventista ya está establecida. Pero, se debe recordar que lo
que permitió la expansión explosiva de la iglesia del Nuevo Testamento,
fue la introducción del evangelio hacia nuevos territorios. Dentro de este
contexto, existen por lo menos tres implicaciones validas que deben llevar
a la iglesia contemporánea a considerar con seriedad, la realización de
esfuerzos misioneros intencionados hacia territorios que aún, no han sido
alcanzadas con el evangelio.

Primer: existe una dimensión cosmológica


Satanás ha reclamado los reinos de este mundo, como su posesión,
razón por la cual la Escritura le asigna el título de “dios de este siglo” . Su
pretensión de presentarse como dueño máximo de este planeta, se pusieron
de manifiesto en la tentación en el desierto, cuando de manera enfática
afirmó: “A ti te daré toda esta potestad, y la gloria de ellos; porque a mí ha
sido entregada, y a quién quiero la doy” (Le 4:6). En este escenario Jesús
no negó la pretensión ambiciosa de su archienemigo, en realidad Cristo
mismo en otras ocasiones habría de referirse a él como “el príncipe de
este mundo” (Jn 12:31; 14:30; 16:11). Esta calificación señala al territorio
usurpado por Satanás, en el cual despliega todas las actividades diabólicas
contrarias al reino de Dios.

Ha sido el invisible gobernante de muchos de los grandes


reinos e imperios de la tierra... Gobierna el corazón de la
mayoría de sus habitantes (cf. E f 2 : 1-2). El mundo obedece
sus dictados, se rinde ante sus tentaciones, toma parte en sus
impiedades y abominaciones. El es el autor y el instigador
de todo pecado y de toda manifestación del mismo. Los que
pecan voluntariamente se dice que están entregados a Satanás
5 2 6 · I Cristhian Alvarez Zaldúa

(1C0 5: 5; cf. ITi 1: 20). Es el “dios de este mundo” debido a


su dominio, aunque limitado, de las fuerzas de la naturaleza,
de los elementos de la tierra, el mar y la atmósfera.2

En este sentido, Juan afirma que “el mundo entero está bajo el control
del maligno” (lJn 5:19, NVI), Satanás “engaña al mundo entero” (Ap
12:9), y los “espíritus de demonios que hacen señales”, van “a los reyes de
la tierra en todo el mundo” (Ap 16:14). En el tiempo final, la bestia “obra
maestra del poder de Satanás”,3en un esfuerzo por dirigir la total adoraçión
de los habitantes de la tierra hacia el dragón (Ap 13:4), pretenderá extender
su autoridad sobre “toda tribu, pueblo, lengua y nación” (Ap 13:7).
No obstante, Dios no ha renunciado a su soberanía en este mundo.
El profeta Isaías muestra que su propósito es llenar la tierra con “el
conocimiento de Jehová, como cubren la mar las aguas” (Is 11: 9). En
ese contexto los términos de la misión de la iglesia tal como aparecen en
él mensaje del primer ángel, están definidos y dirigidos hacia los mismos
territorios que el enemigo ha pretendido usurpar, a saber “a toda nación,
tribu, lengua y pueblo” (Ap 14:6). A la luz de esta cosmovisión, plantar
iglesias en territorios no alcanzados no es un fin en sí mismo, sino que
debe ser visto como el medio por el cual Dios, pretende atraer gloria a su
nombre, en la vida de las personas “libradas de la potestad de las tinieblas
y trasladadas al reino de su amado Hijo” (Col 1:13). Esa es la razón por la
cual, en el tiempo final “Satanás se pondrá alerta al ver que la controversia
se extiende a nuevos campos, y que la atención del pueblo es dirigida a
la pisoteada ley de Dios”,4 y en un esfuerzo por impedir lo inevitable,
tratará de frenar los avances del pueblo de Dios al predicar en nuevos
lugares. Pero la cosmovisión bíblica nos muestra que Satanás ya es un ser

2Francis D. Nichol, ed., Comentario bíblico adventista del séptimo día, trad. Víctor
E. AmpueroMatta, 7 vols. (Miami: Publicaciones Interamericanas, 1990), 6:850.
3Elena de White, Seguridad y paz en el conflicto de los siglos, en Biblioteca elec-
trónica: Fundamentos de la Esperanza. CD-ROM, versión 1.0 (Miami: Folio VIP Elec-
tronic Publishing, 1992-1993), 54.
4 ‫י‬Ibid., 665.
La plantación de iglesias en territorios no alcanzados | 527

derrotado (Col 2:15), y que su reino fue conducido a la destrucción a partir


de la invasión de Cristo a su reino (Heb 2:14-16). Plantar iglesias significa
edificar el reino de Dios, y reducir los territorios usurpados por el enemigo.
De manera que, “Al final de la historia del pecado (Ap 20-22) ‘las naciones
(ta ethne) engañadas, el diablo, la bestia y el falso profeta serán destruidos’
(Ap 20:7-10). Por otro lado, ‘las naciones (ta ethne) que hubieran sido
salvas ...llevarán la gloria y la honra de las naciones a ella’ (Ap 21:24-27)”.5

Segundo: existe un elemento de urgencia.


El Nuevo Testamento presenta el acontecimiento de la parusía como
un evento cercano y pronto a ocurrir (1C0 16:22; Heb 10:35-38; Ap 22:7,
12, 20), lo que requiere urgencia misiológica con el fin de alcanzar a
los no alcanzados. “Se nos avecina una crisis. Por el poder del Espíritu
Santo, debemos proclamar las grandes verdades para estos últimos días.
No transcurrirá mucho tiempo antes de que todos hayan oído el mensaje
amonestador y hecho su resolución. Entonces vendrá el fin.” 67
El crecimiento a través de la plantación de nuevas congregaciones,
permite acelerar la predicación del evangelio en dimensiones inimaginadas
y con resultados impredecibles. Con respecto a una escalada en el trabajo
misionero Elena de White afirmó:

Nuestra obra misionera debe ser más agresiva hoy que en


lo pasado. Debemos añadir nuevos territorios; la norma de
la verdad debe ser establecida en nuevos lugares; hay que
fundar iglesias; hay que hacer todo lo posible para cumplir
este cometido: 'Por tanto, id, y haced discípulos a todas las
naciones' (Mt 28:19)7

5Daniel Julio Rode, Métodos de establecer iglesias (Universidad Adventista del


Plata: Facultad de Teología, 2007), 20, 21.
6Elena G. de White, Testimonios selectos, 5 vols. en Biblioteca electrónica: Fun-
damentos de la Esperanza. CD-ROM, versión 1.0 (Miami: Folio VIP Electronic Publish-
ing, 1992-1993), 1:218.
7Elena de White, Signs o f the Times, 21 de agosto de 1901.
528 * I Cristhian Alvarez Zaldúa

Nótese que una obra misionera “más agresiva” desde la perspectiva


de Elena de White implica “añadir nuevos territorios”, establecer la verdad
“en nuevos lugares”, lo cual es igualado con la cumplir la gran comisión
de Mateo 28. Esto lleva a la iglesia a descartar toda pequeñez de sus planes
evangelísticos, un llamado a vislumbrar un gran panorama del crecimiento
eclesiástico a través de la plantación de iglesias en ciudades importantes
y estratégicas aun no alcanzadas. Desde esas ciudades, en las que desde la
perspectiva de Dios él visualiza mucho pueblo (cf. Hch 18:10), se puede
esperar que el evangelio llegue a otras personas y lugares a los cuales
nunca jamás llegaría si no se hicieran planes con el propósito de acercar
el evangelio en maneras y formas que sean contextual y culturalmente
comprensivas para ellos. Mientras más iglesias se planten, más el reino
de Dios crecerá, ofreciendo así más posibilidades para que, las personas
conozcan a Cristo y sean alcanzadas. Las nuevas iglesias alcanzan lugares
y personas que, no hubieran sido jamás alcanzadas por las iglesias
ya existentes, en los territorios en donde el evangelio ya se encuentra
establecido hace mucho tiempo. La experiencia de la iglesia apostólica
tal como aparece en el libro de Hechos, nos enseña que, los primeros
cristianos aceptaron la gran comisión de Cristo. Desde la perspectiva de la
plantación de nuevas iglesias ellos (los miembros de la iglesia apostólica)
se entregaron a sí mismos, para ser instrumentos de Dios. Fue en esa
dimensión de crecimiento que Pablo pudo afirmar que, se predica el
evangelio “en toda la creación que está debajo del cielo” (Col 1:20).

Tercer: fomenta las condiciones para un desarrollo espiritual.


Ya sea que una nueva iglesia sea plantada por un equipo
evangelizador, o sea el resultado de otra metodología, posee un gran
potencial de crecimiento, tanto cualitativo como cuantitativo. Los estudios
de crecimiento de iglesia han demostrado que, las iglesias nuevas producen
un crecimiento cuantitativo diez veces más rápido de lo que, crecería una
La plantación de iglesias en territorios no alcanzados | 529

iglesia antigua y solitaria.8Por otro lado, cuando las iglesias viejas adoptan
la estrategia de plantar una nueva iglesia desprendiéndose de un grupo de
líderes que, trabajan en relación con los nuevos conversos, fomentan el
desarrollo de nuevos líderes. Esto es debido a que, miembros que salen
de la vieja iglesia deben desarrollar habilidades nuevas en relación con,
el sostenimiento y conducción de la nueva iglesia. Es posible que estos
miembros no lleguen a conocer sus cualidades personales de liderazgo,
sino hasta que salen de la vieja iglesia y trabajan para fortalecer la nueva.
La iglesia vieja sustituye el vacío dejado por los miembros que salieron al
permitir el desarrollo del liderazgo de miembros que, de otra manera no
hubieran podido crecer cualitativamente.
Esto sin duda alguna es, una forma de acelerar la predicación del
evangelio en una dimensión que permite obtener doble ganancia para el
reino de Dios, por un lado se obtiene una iglesia nueva alcanzando gente
que, de otra forma no podría ser alcanzada; pero por otro lado, se logra
la reactivación de una iglesia vieja que se adapta para crecer de manera
sustancial.9 Esto armoniza con la visión que Elena de White tuvo de la
plantación de iglesias, para ella la vitalidad de las nuevas iglesias puede
ser ilustrada con el trasplante que realiza un jardinero cuando, observa en
su sembrío plantas amontonadas que no crecen saludablemente.

Muchos de los miembros de nuestras iglesias grandes hacen


muy poco o comparativamente nada. Podrían realizar una
buena obra, si, en vez de hacinarse, se dispersasen por lugares
donde todavía no ha penetrado la verdad. Los árboles plantados
en forma demasiado apretada no prosperan. El jardinero los
trasplanta para que tengan lugar donde crecer, y no quedar
atrofiados y enfermizos. La misma regla surtiría efecto en

8Roger L. Dudley, Clarence B. Gruesbeck, Plant a Church, Reap a Harvest (Os-


hawa, Ontario, Canada: Pacific Press, 1989), 203.
9“Un año después de plantar una iglesia, su asistencia es el 20% mayor (entre las
dos iglesias: la madre y la hija) que antes. Cinco años más tarde, la asistencia aumenta el
50%. Y después de una década, la asistencia del sábado se ha duplicado. A menudo esto
sucede aún más rápidamente” (Ron Gladen, PlanttheFuture [Nampa, ID: PacificPress,
2000], 45.)
530* I Cristhian Álvarez Zaldúa

nuestras iglesias grandes. Muchos de los miembros están


muriendo espiritualmente porque no se hace precisamente esto.
Se están volviendo enfermizos y deficientes. Trasplantados,
tendrían lugar donde crecer fuertes y vigorosos.101

Esta realidad es la que ha venido experimentado la iglesia Norte,


en la ciudad de Guayaquil, Ecuador. Esta ciudad por ser comercial,
cosmopolita, que alberga personas de todas las partes del país y con un
crecimiento demográfico importante es dentro de la DSA, un territorio
importante a fortalecer con la presencia adventista. La zona norte de
Guayaquil se ha caracterizado por albergar personas pertenecientes a la
clase social media y media alta, por esa razón en esa fracción de la ciudad,
la iglesia no crece con la misma rapidez con que lo hace en otros sectores.
A pesar de estas características, la iglesia norte, directa o
indirectamente ha dado origen a varias otras iglesias en este sector, de
ella surgió la iglesia de Nueva Alborada (la que ya ha originado las
congregaciones: de Orquídeas, Vergeles, Atarazana y Sauces). Cada
una de estas iglesias ha dependido en mayor o menor proporción de
miembros pertenecientes a la iglesia norte, pero aunque esta iglesia ha
estado constantemente entregando líderes para fortalecer las nuevas
iglesias, ella sigue manteniendo un renovado liderazgo y un número
igual de miembros que los que tenía antes de empezar a plantar iglesias.11
La experiencia similar puede observarse en la iglesia adventista de
la Era, en Ñafia, Lima.

De la iglesia de la Era han surgido varias hijas; a unas diez


cuadras de esta, la iglesia de Los Pinos; a 5 cuadras en la

10Elena G. de White, Joyas de los testimonios, 3 vols. en Biblioteca electrónica:


Fundamentos de la Esperanza. CD-ROM, versión 1.0 (Miami: Folio VIP Electronic Pub-
lishing, 1992-1993), 3:248.
11Compararestarealidad con los comentarios de Thomas Rainer, The Book o f
Church Growth: Histroy, Theology, and Pricniples (Nashville, Tennessee: Broadman,
1993), 207.
La plantación de iglesias en territorios no alcanzados | 531

misma dirección está El Inti; en otra dirección a 4 cuadras


está El Faro; a 5 cuadras hacia el cerro está Monte Sinai; a

5 cuadras en otra dirección cerro arriba, está Adevenir; y un


poco más arriba en la misma dirección, la congregación de
Monte Horeb. Pero aquí no termina; del otro lado del cerro, a
unas 10 cuadras esta la iglesia de las Colinas; y en el año 2000,
5 cuadras cerro arriba de esta iglesia se abrió la congregación
Redención; y en el año 2001, enfrente de la Universidad, junto
al Río se abrió otra iglesia. Para el año 2004, aun no se había
terminado la capilla de la iglesia madre, pero casi todas sus
hijas tenían capillas propias en construcción.12

Modelo paulino: plantar iglesias en ciudades estratégicas


Una de las metas de Misión Global es el establecimiento de la obra
adventista en los grupos geopolíticos y etnolingüísticos de al menos, un
millón de personas.13No obstante, se debe recordar que, el modelo paulino
para el establecimiento de iglesias tal como se encuentra en el libro de
Hechos, no se concentra necesariamente en el número de habitantes
que tenían las ciudades en el mundo greco-romano; sino en su posición
estratégica como ciudades claves para la propagación del evangelio
esperando que, desde ahí surjan misioneros que irradien el mensaje de
salvación en dirección a territorios no alcanzados (ver lTs 1:8). Esto
muestra que aunque habría ciudades o pueblos, a los que Pablo no habría
pensado llevar personalmente el evangelio, todas las ciudades a donde fue
“eran centros políticos y comerciales importantes, y por lo tanto, en la
mente de Pablo, eran sitios estratégicos desde donde el evangelio de Cristo
podría esparcirse por todo el imperio”.14

12Rodé, 127.
13Zinaldo A. Santos, “Iniciativa Divina”, entrevista a Edison Choque, coordinador
de Misión Global en la DSA, Ministerio Adventista, noviembre-diciembre 2008, 5.
14Tom Hale, Stephen Thorson, Apliquemos la palabra: un comentario práctico del
Nuevo Testamento (David C. Cook , 2006), 560.
532 I Cristhian Alvarez Zaldúa

Primer viaje misionero


Pablo y Bernabé no fueron los responsables directos de llevar el
evangelio a Antioquía de Siria, pero no puede dejar de observarse que tan
pronto como la obra se inició en esa ciudad, Bernabé fue enviado por la
iglesia de Jerusalén,para atender las necesidades de esto nuevos creyentes
(Hch 11:22), y él introduciría a Pablo en las actividades misioneras (vs 25,
26). A partir de ahí, ambos apóstoles estuvieron íntimamente relacionados
con el avance y crecimiento de la iglesia en Antioquia. Desde un .punto
de vista geográfico, Antioquía era una ciudad importante, ya que después
de Roma, Alejandría y Efeso, era la ciudad más grande en el imperio
Romano.15 Es notable que la iglesia plantada en Antioquía creció hasta
el punto de convertirse en un centro importante del cristianismo y base
misionera, desde la cual empezó de manera intencional la plantación de
iglesias en territorios aun no alcanzados (Hch 13:1-3).
Por otro lado debe notarse que, el tiempo que Pablo y Bernabé se
establecieron para realizar su trabaj o en Antioquía podría muy bien ser visto
como, el tiempo de clarificación y formulación de un modelo estratégico
que sería reproducido en el ideal de establecer iglesias en las ciudades más
importantes del imperio. Antioquía “tenía una colonia grande de judíos,
de cuya religión había allí numerosos convertidos, o ‘prosélitos’. ‘Era
casi una Roma oriental, en donde se hallaban representantes de todas las
formas de la vida civilizada del imperio; y durante los primeros dos siglos
de la era cristiana fue, lo que llegó a ser Constantinopla después, ‘la puerta
del Oriente’ ”.16 En esta ciudad se desarrollaba un extenso comercio que
“atraía mucha gente de diversas nacionalidades”,17 siendo el “punto de
reunión para los amantes de la comodidad y el placer, por causa de su
15Nichol, 6: 260.
16Jamieson, Roberto, Fausset, A. R., Brown, David: Comentario Exegético y Ex-
plicativo de la Biblia - Tomo 2: E\ Nuevo Testamento, 2 vols. (El Paso, T X : Casa Bautista
de Publicaciones, 2002), 2:256.
17Elena G. de White, Hechos de los apóstoles, en Biblioteca electrónica: Funda-
mentos de la Esperanza. CD-ROM, versión 1.0 (Miami: Folio VIP Electronic Publishing,
1992-1993), 126.
La plantación de iglesias en territorios no alcanzados | 533

situación saludable, de hermosos alrededores y de la riqueza, la cultura y


el refinamiento que allí se hallaban”.18
Por esa razón, bien puede decirse que cuando el Espíritu Santo
seleccionó a Pablo y Bernabé para su primer viaje misionero, ellos habían
desarrollado una estrategia que la multiplicarían durante su experiencia
misionera. Se observa claramente (salvo algunas pocas excepciones) que
la misma consistía en el establecimiento del evangelio, en ciudades de
ubicación estratégica.
Al dejar Antioquía se puede observar a Pablo y Bernabé desplegando
esfuerzos misioneros en ciudades como Pafos, puerto importante por ser
la sede del gobernador romanos de Chipre. Posteriormente se lo observa
navegando a Perge de Panfilia, y pasando de allí al sur de Galacia, llegando
a las ciudades de Iconio, Listra y Derbe.

Segundo viaje misionero


El segundo viaje no solo fue aprovechado para confirmar los ánimos
de las iglesias establecidas durante su primer viaje misionero, sino que
sirvió para establecer iglesias en ciudades claves como, Filipos, una
ciudad que estaba conectada estratégicamente por caminos que hacían
que todo el comercio del este al oeste, pasasen por ella, convirtiéndola
también en importante, desde el punto de vista militar. De ahí Pablo
se dirigió a Tesalónica, sin necesidad de detenerse en Anfípolis ni en
Apoloniafpor cuanto su estrategia de “seleccionar ciudades importantes, y
convertirlas en centros para la propagación del evangelio”19 seguía firme.
Luego se dirige hacia Berea, después a Atenas y finalmente a
Corinto. Estas dos últimas ciudades, constituían centros urbanos totalmente
secularizados y materializados, siendo dos de los más grandes desafíos que
Pablo tuvo, en su afán por predicar. Pero él sabía que, de lograr plantar
iglesias en ambas localidades, significaría tener puestos de avanzada, en

18Ibid.
19Nichol, 7: 231,232.
534 I Cristhian Álvarez Zaldúa

dos ciudades estratégicas, por la afluencia cosmopolita de personas que se


relacionaban con ellas.

Tercer viaje misionero


Pablo viajó por Galacia y Frigia confirmando los ánimos de los
creyentes e instruyéndolos. Permaneció tres años en la ciudad de Éfeso
considerada como, el centro administrativo y religioso de la provincia
romana de Asia y en donde existía el famoso templo de Diana, considerado
como una de las siete maravillas del mundo antiguo. Ahí Pablo estableció
una iglesia fuerte en donde Timoteo más tarde ministraría.
La estrategia paulina, que era la estrategia del Espíritu Santo, nos
instruye acerca de la metodología que debemos seguir en el proceso de
plantar iglesias. Nuestras fuerzas deben concentrarse en llegar con el
evangelio a las principales ciudades de nuestro territorio. Principales no
significa necesariamente grandes, desde el punto de vista demográfico
(aunque esto siempre será vital), sino por su importancia sociopolítica
dentro del territorio en el que se encuentra. Lo que quiere decir es que,
la iglesia no solo debe concentrarse en las grandes ciudades y descuidar
ciudades más pequeñas, ya que se podrían estar alcanzando a personas
que, de otras formas no tendrían la oportunidad de escuchar el evangelio
en las grandes ciudades.
Así, se puede decir que nuestras fuerzas no deben ir hacia sectores
que estratégicamente no servirían para sitiar o cercar los territorios aun no
alcanzados. Al igual que Pablo, podemos esperar que una vez alcanzadas las
principales ciudades de nuestro territorio, las iglesias locales establecidas
en esas zonas, bien capacitadas y dirigidas, terminarán por transmitir
el evangelio en las regiones o pueblos circundantes considerados no
estratégicos en la actualidad.20

20Invertir recursos en poblaciones de importancia secundaria desde un punto de


vista geopolítico, es un esfuerzo mal enfocado si es que en ese territorio existieran muni-
cipios aún no alcanzados, y en donde generalmente se concentran personas de todas las
zonas rurales y urbanas y de distintos estratos sociales. Estas personas una vez alcanzadas
por la iglesia, se convertirán en los verdaderos misioneros que, facilitarán para que el
evangelio alcance su zona aledaña o su estrato social.
La plantación de iglesias en territorios no alcanzados | 535

A la luz de nuestra organización geopolítica, bien se puede continuar


con la terminología de “municipios” como ciudades válidas para plantar
el evangelio, a través de una metodología bien planificada y dirigida.
Esto jamás debe entenderse como un desprecio hacia las localidades
más pequeñas, pero debe recordarse que cuando los recursos humanos y
financieros son limitados, la iglesia debe concretar estrategias que permitan
un resultado mucho más fructífero. Jesús mismo afirmó: “Por camino de
gentiles no vayáis, y en ciudad de samaritanos no entréis” (M tl0:5,6). Esta
instrucción no puede ser interpretada como discriminación misiológica;
evidentemente había un contexto profético en esta orden, pero más allá de
eso se puede afirmar que, Jesús tenía una estrategia en su afán de alcanzar
a su pueblo con el mensaje. La estrategia significaba concentrar las fuerzas
en quienes correspondía en ese momento, y esperar el tiempo cuando, se
alcanzaría a los grupos que no eran la razón del esfuerzo prioritario.

Desafíos, visión y vislumbres en Sudamérica


Sin duda, alcanzar los municipios no penetrados encierra grandes
desafíos para una División que crece rápidamente en la ganancia de almas,
como ocurre en la DSA. Los desafíos deben ser mayores en territorios de
nuestro mundo, en donde la tasa de crecimiento es más baja. Sin embargo,
si cada distrito misionero dentro del territorio de la DSA pudiese establecer
una estrategia en la cual se realizasen esfuerzos intencionales, para alcanzar
un nueva municipio cada año, entonces se podría en poco tiempo alcanzar
los 3.831 municipios que aún, no han escuchado el mensaje de salvación
en Sudamérica.21

21Aunque en Sudamérica se está impulsando con fuerza la implementación de Gru-


pos Pequeños como parte de la organización de la iglesia, la plantación de iglesia no debe
verse como una estrategia que milita contra los Grupos. Al contrario, algunas iglesias
podrían nacer de Grupos Pequeños que se dirigen hacia nuevos territorios para formar una
nueva iglesia, o en si la iglesia nueva es producto de un equipo evangelizado^ los diri-
gentes pueden notar que las iglesias nuevas son más receptivas a las ideas nuevas y estar
mejor predispuestas para ser organizadas en Grupos Pequeños desde su mismo inicio, lo
que favorece para que se convierta en un estilo de vida permanente.
536 I Cristhian Alvarez Zaldúa

Evidentemente esto requiere un compromiso de los administradores


de campo, pastores, y miembros de iglesia que reconozcan que plantar
iglesias se convierte en un axioma, en el cumplimiento de la misión
evangélica. Pero sin duda, el instrumento fundamental que puede catalizar
los elementos a nivel de la iglesia local para producir el resultado anhelado,
es el líder visionario o pastor. En este punto se puede decir que Dios,
necesita esa clase de líder que, mirando por encima de los desafíos que
presentan los territorios aun no alcanzados sea capaz de, ver los campos
“blancos para la siega” (Jn 4: 35), y lleno del Espíritu Santo, pueda plantar
iglesias en esos municipios no alcanzados.

La viña es todo el mundo y se ha de labrar cada una de sus


partes. Lugares hay que son ahora un desierto moral y se
han de convertir en jardín del Señor. Se han de cultivar los
dilatados lugares de la tierra para que broten y florezcan
como la rosa. Nuevos territorios se han de labrar por hombres
inspirados por el Espíritu Santo. Se han de establecer nuevas
iglesias y organizar nuevas congregaciones. En nuestro tiempo
ha de haber representantes de la verdad presente en todas las
ciudades y en las más remotas partes de la tierra, pues la tierra
entera ha de quedar iluminada con la gloria de la verdad de
Dios. La luz ha de brillar en todos los países y en todos los
pueblos. Y ha de brotar la luz de quienes ya la han recibido. La
estrella matutina refulge sobre nosotros, y hemos de proyectar
su luz sobre el camino de quienes andan en tinieblas.22

De acuerdo a Elena de White los pastores del rebaño deben enseñar


a las iglesias ya existentes a: “...saber cómo trabajar con éxito. Dedique el
ministro más de su tiempo a educar que a predicar”,23pero tan pronto como
la iglesia aprende a depender de Cristo y no del pastor, la instrucción es:

22Elena G. de White, Testimonios selectos , 5 vols. en Biblioteca electrónica: Fun-


damentos de la Esperanza. CD-ROM, versión 1.0 (Miami: Folio VIP Electronic Publish-
ing, 1992-1993), 1:217,218.
23Idem, Testimonies, 7:22.
_________ La plantación de iglesias en territorios no alcanzados | 537

Nuestros ministros no han de dedicar su tiempo a trabajar por


aquellos que ya han aceptado la verdad. Teniendo el amor de
Cristo ardiendo en su corazón, deben salir a ganar pecadores

para el Salvador. Junto a todas las aguas han de sembrar la


simiente de verdad, visitando un lugar tras otro para suscitar
iglesia tras iglesia. Los que se deciden por la verdad, deben ser
organizados en iglesias, y luego el predicador pasará adelante
a otros campos igualmente importantes.24

Esto requiere planificación, inversión de tiempo y recursos, como


dependencia total del Espíritu Santo por cuanto él es, el gran estratega en
toda la tarea de ganar almas. Afortunadamente en el territorio de la DSA,
e! Espíritu Santo está levantando diversos proyectos de Misión Global que
exitosamente plantan nuevas iglesias. Entre estos tenemos el Proyecto
Caleb, perteneciente a la Unión Nordeste Brasileña en donde jóvenes
de 15-30 años dedican un mes entero a realizar evangelismo público y
personal. También existe el Proyecto Antioquía desarrollado por los
estudiantes de Teología del IAENE (Brasil), quienes deben plantar iglesias
como un requisito de práctica pastoral. El Proyecto Macedonia utilizado
en la Unión Peruana del Norte, que busca desafíos de Misión Global para
juntamente entre pastores y laicos realizar seminarios evangelísticos que,
den como resultado la formación de nuevas iglesias. También el Proyecto
de Misión Global de los estudiantes de Teología del ITSAE (Ecuador),
quienes’dedican un total de seis semanas cada año con el propósito de
plantar iglesias solamente en municipios nuevos. Este último proyecto, si
pudiese recibir fortalecimiento económico, alcanzaría en un ciclo de seis
años, a los 76 municipios que faltan alcanzar para Cristo en Ecuador.

24Idem, Joyas de los testimonios, 3 vols. en Biblioteca electrónica: Fundamentos


de la Esperanza. CD-ROM, versión 1.0 (Miami: Folio VIP Electronic Publishing, 1992-
‫־‬.993 ), 3:83 .
538 I Cristhian Álvarez Zaldúa

Conclusión

El cumplimiento de la misión nos lleva a mirar más allá de los


lugares donde la luz ya brilla. Siguiendo el modelo apostólico debemos
concentramos hacia aquellos territorios o municipios, en donde aún la
verdad presente no ha brillado. Aunque Satanás reclama como suyos esos
territorios, Cristo derrotó al gran usurpador y ahora envía a la iglesia a
plantar monumentos en esos lugares en donde el evangelio, aúh no
se ha escuchado, y en donde no existen adoradores que se gozan en la
“bienaventurada esperanza”, ni glorifican su nombre.
La DSA está creciendo rápidamente en el crecimiento de expansión,
pero si queremos realmente terminar la predicación del evangelio en
nuestro territorio, debemos llegar a entender que, plantar iglesias no es
solo un método más, sino un axioma, en el cumplimiento de esta bendita
misión.
COMERCIALIZANDO O EVANGELHO

Ed Zinke
Adventist Theological Society, EUA

m11)111111111111'm11111t111[1111!111111111111!11t111f1111111m11111tJ1m1111[111111N111f111111111!11t111!1m111111111111111111!11jm111111111111111m11i11111j1111m1jm1111

Introdução

Estou muito contente por unir-me a vocês nesta Conferência Bíblica


na Divisão Sul-Americana. Minha primeira viagem à América do Sul foi
no final dos anos setenta, quando 0 Instituto de Pesquisa Bíblica realizou
conferências em três locais nesta divisão. Tive o privilégio de trabalhar
com Enoque Oliveira durante as mesmas e, mais tarde, quando se tomou
vice-presidente da Conferência Geral. Mario Veloso foi meu tradutor
durante as conferências. Menciono esses líderes com um objetivo. Eles,
junto com muitos outros nesta divisão, tinham um compromisso absoluto
com a mensagem da Escritura e sua proclamação no evangelismo. O
resultado é que a Divisão Sul-Americana tem prosperado com a pregação
da Palavra de Deus. Continuo impressionado com esta Divisão, com o
seu crescimento, liderança, instituições, recursos humanos e teólogos. Por
que a DSA foi tão bem sucedida? São muitas as razões, mas em parte
devido à sua fidelidade à mensagem bíblica, e por causa de sua forte ênfase
na pregação e em compartilhar essa mensagem. Houve um compromisso
contínuo com a proclamação da Palavra de Deus! A proclamação da
mensagem das Escrituras traz consigo o poder da Palavra de Deus para
transformar vidas, além de um compromisso de continuar a partilhar a
mensagem de Deus com os outros. Isso proporciona saúde e crescimento
espiritual para suas instituições.
540 I Ed Zinke

Considerando a próxima fase de seu crescimento, quais são os


problemas que vocês enfrentarão? Quais são as perguntas missiológicas
que devem ser feitas se quiserem manter o excelente curso que estão
percorrendo?
Vocês devem embarcar no estudo da antropologia social, a fim de
descobrir as melhores ferramentas para atingir as massas? Devem procurar
garantir uma base mais segura para a proclamação intelectual? Devem
considerar a criação de uma nova estrutura social mais justa? O objetivo
deve ser melhorar o nível educacional da população em geral?
Qual é a relação entre missão e teologia? A missão dá base à teologia?
Como contextualizar a mensagem, de modo a ser ouvido? A mensagem
deve ser lida e proclamada através dos olhos do holocausto, da escravidão,
dos desfavorecidos ou em qualquer outro ambiente contemporâneo
cultural? Como vamos atingir as pessoas “onde estão”, para que possamos
convencê-las da verdade do evangelho? Que papel deve ter a avenida
Madison na comercialização do evangelho? A análise social pode melhorar
as nossas possibilidades científicas para ganhar almas?
Contrastaremos a abordagem bíblica para 0 evangelismo com
a abordagem da avenida Madison para a comercialização. A Avenida
Madison é um centro de comercialização em Nova York. Muitas das
principais empresas de comercialização do mundo estão sediadas na
avenida Madison. Essa avenida reúne os gênios mundiais, que dominam
as últimas técnicas de marketing para criar estratégias de desenvolvimento
e comercialização de produtos para os melhores resultados possíveis em
vendas. Nesta apresentação, a Avenida Madison representará a potência,
inteligência e criatividade humana, todas utilizadas independentemente de
Deus e de Sua Palavra. Ela representa uma abordagem humanística para o
evangelismo em contraste com uma abordagem bíblica.
Vamos considerar uma situação de marketing ao vivo, a fim
de determinar se a avenida Madison tem um papel fundamental na
proclamação do evangelho. Por muitos anos, minha esposa e eu tivemos
Comercializando o Evangelho | 541

uma empresa que vendia vários tipos de nozes e frutas secas, incluindo
castanhas de caju. Na realidade, Fortaleza foi uma das principais rotas de
abastecimento para nossas castanhas de caju. Nosso objetivo era vender
0 máximo de castanhas de caju. Partimos para desenvolver um produto
que combinaria com o gosto de cada grupo de consumidores concebível.
Queríamos vender castanhas de caju a toda nação, língua e povo.
Começamos a desenvolver novas castanhas de caju. Nós as
revestimos de açúcar, mel e as temperamos com canela, aromatizamos
com temperos saborosos e, finalmente, levamos em consideração revestir
o mel com canela e amaretto1, com sabor de chocolate ao leite coberto com
castanha de caju.
Não importa se este produto tem pouca semelhança com a castanha
de caju. Nossa meta era vender o máximo que pudéssemos, alcançando
o maior número de pessoas possível. Estávamos procurando por lentes
que nos permitissem ver as castanhas de caju, desde uma perspectiva
que criaria um produto que as vendería a cada mercado imaginável.
Queríamos o poder da melhor estratégia de mercado possível, um designer
que imaginasse novas formas para as castanhas de caju a fim de alcançar
cada tribo, nação, língua e povo. Desta forma, reconstruímos o produto.
Em nosso entusiasmo em ajudar a Deus na proclamação do evangelho,
às vezes engendramos um “designer de deus”; um “deus” que possamos
vender, que possa ser comercializado. Queremos fazer que Deus pareça
bom, e o limpamos de algo que nos atrapalhe. Não queremos ter que nos
desculpar por Ele. Queremos que nosso “deus” seja atrativo e simpático,
então procuramos as lentes certas para vê-lo, a perspectiva correta para
estudá-lo, explicá-lo e apresentá-lo. Queremos um “deus” que possa ser
vendido e que tenha um apelo de compra e venda a cada nação, língua e
povo. Em nosso zelo para fazer com que Deus pareça bom, corremos o
risco de criar um “designer de deus” à imagem de cada sociedade com a
qual nos comunicamos.1
1Nota: Amaretto - Um biscoito italiano feito com amêndoas.
542 I Ed Zinke

Analisamos a cultura, estudamos a sociedade e desenvolvemos uma


perspectiva moral dentro da qual o reinterpretamos. Numa sociedade
platônica, desenvolvemos uma fé platônica em um “deus” platônico. No
racionalismo, queremos um “deus” que se conforme aos ditames da razão.
Uma cultura pragmática exige um “deus” pragmático. No empirismo,
desenvolvemos um “deus” que seja aprovado no teste dos métodos
críticos. O “deus” existencial transcende e responde ao limite da estrutura
da existência humana.
Num mundo pós-modemo, criamos um “deus” que está em processo
e, portanto, nada é definitivo para qualquer coisa, exceto o processo.
Como em outras cosmovisões, no mundo pós-modemo sentimos que
temos direito a um “deus” que se conforme com nossa noção de verdade,
lógica, amor, liberdade, justiça, tempo, futuro e assim por diante. E se ele
não se encaixa, nós o recriamos para que se ajuste à nossa sociedade, ou
o deixamos de lado, trocando-o por outro “deus,” com um perfil melhor.
Assim, criamos um “deus designer” que é comercializável, que não
nos atrapalha, a quem possamos amar, admirar, respeitar, adorar e explicar,
em harmonia com os ditames da cultura. Temos agora nosso “deus de mel”
revestido de canela e amaretto, com sabor de chocolate ao leite. Podemos
estar orgulhosos em apresentá-lo à mesa da sociedade a qual esperamos
proclamar o evangelho.
O resultado é um “deus adaptado” para uma “humanidade adaptada”
e um “evangelho adaptado” para um “relacionamento adaptado”, onde
“deus” é a imagem de nosso mercado alvo. Este “deus” é produto da
Avenida Madison, foi projetado e racionalizado para uma cultura específica,
e, portanto, será vendável.
O “deus” da Avenida Madison sempre tem sido uma tentação.
Sua primeira aparição terrestre registrada foi no Éden, na Árvore do
Conhecimento do Bem e do Mal. É Deus realmente quem Ele diz ser?
Comercializando o Evangelho | 543

Desenvolverei um “deus” que se encaixa na definição que encontrei na


árvore e que não me impedirá de subir ao mesmo céu para pegar meu lugar
no universo.
Noé não sabia como responder aos argumentos do “deus” da Avenida
Madison. Mas ele sabia como proclamar a mensagem do Deus do Céu. A
mensagem de Deus, pregada por Noé, não perdeu seu poder devido a uma
falta de estratégia fundamentada na Avenida Madison.
Israel, por outro lado, seguiu o “deus” da Avenida Madison rodeando
0 deserto por quarenta anos. Não posso imaginar um “deus”, em sua razão,
que lhes pedisse para seguir em frente apesar das montanhas fortificadas,
cidades fechadas, e os gigantes na terra. Ajustando-se ao “deus” da Avenida
Madison, falharam em confiar no poder do Deus do Céu para guiá-los à
Terra Prometida.
Em Sua segunda tentação, Cristo também encontrou o “deus” da
Avenida Madison no pináculo do templo. Imagine a publicidade inicial ao
pisar fora do pináculo e flutuar gentilmente rumo à audiência expectante.
Cristo resistiu dizendo: “Viverei pela orientação e poder da Palavra de
Deus, ao invés de orientar-me pela Avenida Madison”.
Tentação é a argila a conduzir o oleiro de acordo com seu
entendimento. É dizer a Deus que Ele veio de um molde errado, e que
se for paciente, definiremos o que o fará parecer melhor, e o treinaremos
sobre a forma de exercer as Suas funções no universo.
Os líderes do tempo de Jesus não O aceitaram como o Messias.
Eles O rejeitaram porque Ele não era o Messias da Avenida Madison que
esperavam. Impuseram seu molde à Bíblia, e não O reconheceram como 0
Cristo que viria.
A igreja da Idade Média desejou tomar o cristianismo atraente aos
pagãos. Argumentavam que filosofias contemporâneas (Avenida Madison)
fomeceriam o método perfeito para mostrar as melhores qualidades de
Deus e tomá-lo -aceitável aos pagãos. Curvaram-se à Avenida Madison
de seus dias, ao invés de submeterem-se à Bíblia como a Palavra de Deus.
544 I Ed Zinke

Tomando o evangelho em suas próprias mãos, adaptaram-no para encantar


os pagãos de seu tempo. Adotaram o poder do paganismo em lugar da
Palavra de Deus.
Quando a missiologia toma a abordagem da Avenida Madison para a
proclamação do Deus do evangelho, tende a substituir a sabedoria e poder
da Palavra de Deus. Não é nosso trabalho colocar Deus à venda. Cristo
nos deu a missão de proclamá-Lo, não a tarefa de vendê‫־‬L0 . Não é a nossa
função criar o produto, como foi feito à castanha de caju.
Não criamos Deus. Deus é quem Ele é, o Grande EU SOU. Ele
não é um produto que eu possa produzir com minhas próprias mãos ou
mente. Deus apresenta-se. E o único diante de quem não pode haver
outros deuses. O evangelho foi loucura para os gregos que queriam criar e
conter seu “deus” pelo poder de sua sabedoria e filosofia. O evangelho foi
um escândalo para os judeus que queriam que seu Deus fosse aprovado no
teste do empirismo.
O tipo de missiologia da Avenida Madison faz um bom trabalho ao
me dizer como vender castanha de caju no Brasil. Mas não me diz como
comercializar o evangelho. Deus não depende do princípio da Avenida
Madison. Ele vem com Seu próprio plano de comercialização.
O evangelho é o que precisamos não porque foi projetado pela
Avenida Madison, mas porque foi projetado por Deus. Somos pecadores
que necessitam de um Salvador. Deus proporciona salvação através de
Jesus Cristo. Estamos perdidos nas trevas, sem o conhecimento de Deus
e este Ele nos concede através de Jesus Cristo e de Sua Palavra, a Bíblia.
Deus não depende da perspectiva ou do poder da Avenida Madison.
Sua Palavra dá a perspectiva e vem com Seu poder. Pastores, vocês
possuem a mais poderosa estratégia disponível, e ela (Bíblia) está em suas
mãos. Cristo disse: “E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a
mim mesmo” (Jo 12:32-33). “Portanto, se alguém está em Cristo, nova
criatura é, as coisas antigas já passaram, eis que se fizeram novas” (2C0
5: 17,18).
Comercializando o Evangelho | 545

João distingue o testemunho da abordagem da Avenida Madison a


partir do testemunho de Deus:

Se admitimos o testemunho dos homens, 0 testemunho de


Deus é maior; ora, este é o testemunho de Deus, que Ele dá
acerca de Seu Filho. Aquele que crê no Filho de Deus tem,
em si, o testemunho. Aquele que não dá crédito a Deus o faz
mentiroso, porque não crê no testemunho que Deus dá acerca
do seu Filho. E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida
eterna; e esta vida está no Seu Filho. Aquele que tem o Filho
tem a vida.... Também sabemos que o Filho de Deus é vindo e
nos tem dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro;
e estamos no verdadeiro, em seu Filho, Jesus Cristo. Este é o
verdadeiro Deus e a vida eterna (1J0 5:9-12; 20).

O tema do poder transformador da Palavra de Deus é repetido


várias vezes nas Escrituras. “Pois fostes regenerados não de semente
corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive
e é permanente, por que ‘toda carne é como a erva, e toda a sua glória,
como a flor da erva. Seca-se a erva e cai a sua flor; a palavra do Senhor,
porém, permanece eternamente’ (não a Avenida Madison). Ora, esta é a
palavra que vos foi evangelizada” (lPe 1:23-25).
“As Palavras (não a Avenida Madison) que eu vos tenho dito são
espírito e são vida” (Jo 6:63). É a Palavra em vós implantada que é
poderosa para vos salvar (Tg 1:21). “Em verdade, em verdade vos digo:
quem ouve a minha palavra (não Avenida Madison) e crê nAquele que me
enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a
vida” (Jo 5:24).
Você prefere apropriar-se do poder de Platão, Aristóteles, Kant,
Hume, Whitehead ou ainda da Avenida Madison ao invés das Palavras
de vida eterna quando vai para o púlpito? Cada empresa na Avenida
Madison, adoraria ter o poder da mensagem bíblica. E você o tem em suas
mãos. Não há nenhuma razão para pedir desculpas a ninguém por causa
546 I Ed Zinke

do evangelho do Senhor Jesus Cristo. Se prestarmos atenção*à sua Palavra


e crermos nEle, teremos vida eterna!
Há princípios revelados nas Sagradas Letras, que a Avenida Madison
não fornece. O primeiro deles, como vimos, é 0 poder da Palavra de Deus.
Vamos considerar, novamente, uma série de textos. Paulo diz que não se
envergonha do evangelho de Cristo porque é o poder de Deus (não da
Avenida Madison) para a salvação (Rm 1:16); o poder divino nos é dado
através do conhecimento de Cristo (lPe 1:2,3) e a Palavra de Deus traz
santificação (não a Avenida Madison) (Jo 17:17, 19).
O evangelho é velado aos que manuseiam a Palavra de Deus
enganosamente e com astúcia, porque os deuses deste século (o “deus”
da Avenida Madison) cegaram aqueles que não creem, para que a glória
de Cristo, que é a imagem de Deus, não brilhe sobre eles. Porque não
pregamos a nós mesmos em sabedoria humana (Avenida Madison), pois é
Deus quem mandou a luz resplandecer nas trevas e quem a tem demonstrado
em nossos corações para iluminação do conhecimento da glória de Deus
na face de Jesus (não da Avenida Madison) (2C0 4:1-7). Nós não devemos
endurecer o coração contra a Palavra de Deus:

Porque a Palavra de Deus [não a Avenida Madison] é viva e


eficaz e mais cortante que qualquer espada de dois gumes, e
penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas,
e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração
(Hb 4:12).

O segundo princípio é a função do Espírito Santo. É tentador dizer:


“Espírito Santo, um passo ao lado. Sei como apresentar o evangelho. Sou
um profissional da Avenida Madison, 0 único que trará a conversão. Tenho
sabedoria e o poder para trazer segurança, convicção e conversão”.
Mas a Avenida Madison não pode tomar o lugar da obra do Espírito
Santo. Tente substituir as palavras Avenida Madison por Espírito Santo,
nos textos seguintes: “O Pai vos dará outro Consolador (não a Avenida
Comercializando o Evangelho | 547

Madison) afim de que esteja sempre convosco, o Espírito da verdade (não


a Avenida Madison), a quem o mundo não pode receber, porque não o vê
nem o conhece” (Jo 14:16-17). O Espírito Santo (não a Avenida Madison)
convencerá do pecado, da justiça e do juízo. Ele (não a Avenida Madison)
guiará você em toda a verdade (Jo 16:9-14). A espada do Espírito é a
Palavra de Deus (não a Avenida Madison) (Ef 6:17). Ninguém pode
dizer que Jesus é Senhor senão pelo Espírito (não a Avenida Madison)
(1C0 12:3). “Porque o nosso evangelho não chegou até vós tão somente
em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo (não Avenida
Madison) e em plena convicção” (lTs 1:5). É o Espírito Santo (não a
Avenida Madison) que nos é dado como garantia de vida eterna, porque
andamos pela fé, não pela vista (2C0 5:5,7). A palavra profética é correta,
porque o Espírito Santo (não a Avenida Madison) moveu homens santos de
Deus para falarem a Palavra (lPe 1:19-21).

E o Espírito [não a Avenida Madison] que dá testemunho,


porque o Espírito é a Verdade. “Se admitimos o testemunho
dos homens [Avenida Madison], o testemunho de Deus [não da
Avenida Madison] é maior; ora, este é o testemunho de Deus
[não da Avenida Madison], que ele dá acerca de Seu Filho.
Aquele que crê no Filho de Deus tem, em si, o testemunho
[não a Avenida Madison], Aquele que não dá crédito a Deus
0 faz mentiroso, porque não crê no testemunho que Deus dá
acerca de Seu Filho. E o testemunho é este: que Deus nos deu
. a vida eterna; e esta vida está no seu Filho. Aquele que tem o
Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem
a vida. Estas coisas vos escreví, a fim de saberdes que tendes
a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de
Deus” (1J0 5:6, 9-13).

Paulo resume a diferença entre uma abordagem proveniente da


Avenida Madison e outra da Palavra de Deus. Ele contrasta os métodos
humanistas dos gregos e judeus com o que começa com o poder da Palavra
de Deus. Porque Cristo enviou-me
*548 I Ed Zinke

para pregar o evangelho, não com sabedoria de palavras


[Avenida Madison], para que não anule a cruz de Cristo [não
Avenida Madison], Certamente, a palavra da cruz é loucura
para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos,
poder de Deus [não da Avenida Madison], Pois está escrito:
Destruirei a sabedoria dos sábios [Avenida Madison], e
aniquilarei a inteligencia dos instruidos [Avenida Madison],
Onde está o sábio? Onde, o escriba? Onde, o inquiridor deste
século? Acaso Deus não tomou louca a sabedoria deste mundo
[Avenida Madison]? Visto como, na sabedoria de Deus, o
mundo não o conheceu por sua própria sabedoria [não pela
Avenida Madison], aprouve a Deus salvar os que creem pela
loucura da pregação [não da Avenida Madison], Porque tanto
os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria
[Avenida Madison]; mas nós pregamos a Cristo crucificado
[não a Avenida Madison], escândalo para os judeus, loucura
para os gentios [Avenida Madison]; mas para os que foram
chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo,
poder de Deus e sabedoria de Deus [não da Avenida Madison]
(1C0 1:17-24).

Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o


testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem
ou de sabedoria [não Avenida Madison], Porque decidi nada
saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado [não
Avenida Madison], E foi em fraqueza, temor e grande tremor
que eu estive ente vós. A minha palavra e a minha pregação
não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas
em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé
não se apoiasse em sabedoria humana [Avenida Madison], e
sim no poder de Deus [não Avenida Madison], (1C0 2:1-5).

Quando estudante, eu tinha grandes planos para minha carreira


intelectual. Estava construindo uma fundação sólida para a aceitação
da Bíblia como a Palavra de Deus (para Deus, a melhor empresa de
comercialização na Avenida Madison). Estava reunindo os pontos fortes
das disciplinas de arqueologia, história, filosofia, psicologia, sociologia,
Comercializando o Evangelho | 549

marketing, linguística, ciência, dentre outras, a fim de que tivesse uma base
firme para pregar 0 evangelho e atrair pessoas a essa mensagem. Em certo
sentido estava dizendo: “Afaste-se para o lado, Palavra de Deus, usarei a
abordagem da Avenida Madison para criar o firme alicerce sobre o qual
você poderá ficar. Mude de lugar, Espírito Santo, eu sei como apresentar
0 Evangelho de modo a trazer convicção. A Avenida Madison triunfará
novamente!”
Permita-me esclarecer. Deus nos concedeu pensamentos, talentos
diversos, a capacidade de comunicação e o mundo para estudar. Ele quer
que dediquemos a Ele nossos talentos e nossa mente e que os utilizemos em
sua plena capacidade. Mas cada um deles é uma ferramenta, não o alicerce.
A Avenida Madison não fornece um firme alicerce para o evangelho. A
habilidade da Avenida Madison em criar produtos vendáveis não deve ser
aplicada à Palavra de Deus. Por mais útil que a Avenida Madison possa
ser, ela não fornece um sólido fundamento para o evangelho. Quando a
utilizamos com esse propósito, estamos construindo a nossa própria torre
de Babel, atingindo o céu. Qualquer uso das habilidades e talentos do
mundo natural deve ser construído somente sobre o fundamento da Palavra
de Deus e rastreado por ela.
Não há outro fundamento além de Jesus e Sua Palavra. Ele é a única
rocha sobre a qual podemos construir nossa cosmovisão com segurança e
fazer uso de nossos talentos de acordo com Seus propósitos. Há um lugar
para os talentos da Avenida Madison, mas esse lugar não é a reinterpretação
do evangelho, tampouco o fundamento de nossa vida ou ainda o poder de
nossa pregação.
Costumava me imaginar como médico. Levaria a Palavra de Deus
para a sala de exame e a examinaria cuidadosamente como a um paciente.
Traria os discípulos da história, da ciência, da crítica, do estruturalismo,
da Avenida Madison. Enviaria a Palavra de Deus a outros especialistas
para opinarem. Aconselhar-nos-íamos mutuamente e diagnosticaríamos
os problemas da Palavra de Deus.
550 I Ed Zinke

Deitaria cuidadosamente a Palavra de Deus sobre a mesa de cirurgia,


sopraria em suas narinas o fôlego da vida para que ela não morresse quando
eu lhe administrasse o anestésico. Seria sensível, cuidadoso e reverente,
porque teria em minhas mãos a Palavra de Deus! Aplicaria o cutelo para
dissecá-la, operá-la e tentaria resolver seus problemas. Cuidaria, então, da
Palavra de Deus, tentando trazê-la de volta à boa saúde.
Através de uma série de eventos (que levaria muito tempo para
descrever) eu descobri que não sou médico. Na verdade, sou o paciente.
Devo estar disposto a ser colocado aos pés do verdadeiro médico. Devo
permitir que a Palavra de Deus faça o diagnóstico do meu caso. Devo
abrir minha vida a este poder e estar disposto a ser colocado sobre a mesa,
para que tanto o Espírito Santo quanto a Palavra de Deus possam operar
em minha vida e trazer-me a cura.
Há poder na Palavra de Deus. É a mesma Palavra que criou o
universo. Trouxe a vida à existência. Deu vista ao cego, audição ao surdo.
Se você abrir a porta ao convite do Espírito Santo, o poder da Palavra fará
o seu próprio caminho em sua vida, e estará presente em sua pregação do
evangelho.
Pastores, professores, teólogos, administradores da Divisão Sul-
Americana, a Avenida Madison não fornece a base para a nossa missão.
Continuem a pregar a Palavra, porque é a sabedoria e o poder de
Deus que são a base de seu sucesso contínuo.
MODELO DE DESENVOLVIMENTO DE LÍDERES
APOSTÓLICOS

Emílio Abdala
Associação Paulista Leste, União Central Brasileira, Brasil

IIIIIIIIIIMIINIIIIIIIIIIII1llllll!llll|l|llll<ll1mjllllMIMMMJIMIlMIMII!lllllhttlMIIIMII!IMjlll!lll!l)ll!!IIHIII|[IIIIIIMIIJIIIIIII|1IIMIIIIII!l|.1m||flllllllllll|l

Cada ano, de setembro a novembro, cerca de setenta novas igrejas


são estabelecidas na União Nordeste Brasileira pelos seminaristas do
IAENE. Apenas em 2008, como resultado do programa de treinamento
ministerial destes futuros pastores, 2200 novos membros foram conduzidos
ao arrependimento e à fé em Cristo, unindo-se à Igreja Adventista
do Sétimo Dia como membros responsáveis. O objetivo do presente
artigo é descrever brevemente a estratégia de treinamento ministerial
usada pelos professores do IAENE, e sugerir um modelo prático para
mostrar como os seminários teológicos podem ser integrados na missão
através de um programa de plantio de igrejas e multiplicação de líderes.
O treinamento para a vocação ministerial é um processo
educacional onde um professor - treinador {coach) procura inspirar
e capacitar o estudante em um ambiente específico de ministério
através da motivação e o ensino de novas perspectivas para efetuar
mudanças, na medida em que ele desenvolve o trabalho ministerial. A
educação teológica, como outros programas educacionais, tem quatro
aspectos distintos: a sala de aula com suas instruções acadêmicas, a
biblioteca com as leituras suplementares, a experiência de campo com
552 I Emilio Abdala

os seus aspectos práticos e a discussão informal com a reflexão pessoal.1


Billy Graham afirmou que o evangelismo pela adição é insuficiente
para alcançar o mundo.12 A população do mundo está multiplicando
enquanto a igreja está apenas adicionando. Mas qual é a tendência do
momento? O cristianismo, que foi estabelecido como um movimento de
pescadores de homens e mulheres tem se tomado hoje em “guardador
de aquário”. Há urna constante tendencia entre as igrejas em nossa
denominação em especializar-se em pescar peixes limpos ou em transferir
peixes de um tanque para 0 outro. Enquanto John Wesley dizia que “o
mundo é a minha paróquia”, alguns agem como se a sua paróquia fosse
o seu mundo. Grande parte dos ministros ordenados são mais “capelães”
do que “líderes apostólicos”. As funções centrais de alguns ministros têm
sido definidas como liderar a adoração, pregar, aconselhar e administrar.
O grande imperativo da estratégia denominacional e do treinamento
ministerial parece ser o de redescobrir a missão apostólica do ministério e
dos membros da igreja.3
Um exemplo deste princípio é visto na experiência de dois
contemporâneos, George Whitefield e John Wesley, que proporcionam
um evidente contraste entre a eficácia da liderança apostólica que inicia
métodos multiplicadores e aqueles que não o fazem. Ambos foram usados
por Deus para despertar um reavivamento que envolveu dois continentes no
século XIX. Ambos eram intelectualmente e espiritualmente capacitados e
culturalmente relevantes. Mas quando comparamos os frutos do ministério
no final de suas vidas, percebe-se uma diferença radical. Whitefield,
considerado o príncipe dos pregadores, pregou a milhares de pessoas.
Mas o seu impacto sobre o crescimento de igreja foi insignificante, porque
ele não se preocupou em fazer discípulos e multiplicar líderes. John
Wesley (1703-1791) foi usado por Deus para converter milhares de novos

1J. Christy Wilson, Ministers in Training: A Review o f Field Work Procedures in


Theological Education (Princeton, NJ: Princeton Theological Seminary, 1957), 3.
2Billie Hanks, Jr. “The Vision for multiplication”, Discipleship: Great Insights
form the Most Experienced Disciple Makers. (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1993), 25.
3George G. Hunter III, How to reach secular people, (Nashville: Abingdon Press,
1992), 114.
Modelo de desenvolvimento de líderes apostólicos | 553

membros. Entretanto, não havia líderes suficientes para supervisionar


este crescimento. Assim, acatando a sugestão de sua mãe, Wesley
desenvolveu um sistema multiplicador que ajudasse os novos membros a
se aperfeiçoarem a fim de ocupar as posições de liderança no movimento,
enquanto eles mesmos estavam fazendo e multiplicando discípulos.4
Ellen White afirma que a conversão de pecadores é a mais forte
prova de Deus o chamou para o ministério.

Aos que chama para a obra do ministério, o Senhor dará tato


e habilidade e entendimento. Se depois de trabalhar por doze
meses na obra evangelística, um homem não tem nenhum
fruto a apresentar por seus esforços, se as pessoas por quem ele
trabalhou não foram beneficiadas, se não elevou a norma em
lugares novos e não há almas convertidas por seus esforços,
esse homem deve humilhar o coração diante de Deus, e buscar
compreender se não se enganou em sua vocação. O ordenado
pago pela associação deve ser dado aos que mostram 0 fruto
por seu trabalho. A obra de uma pessoa que reconhece a Deus
como sua eficiência, que tem verdadeira concepção do valor de
almas, e a própria alma cheia do amor de Cristo, será frutífera.5

A conversão dos pecadores e sua santificação por meio da


verdade é a mais forte prova, para um pastor, de que Deus o
chamou para o ministério. A evidência de seu apostolado está
escrita no coração desses conversos, e é testemunhada por sua
vida renovada. Cristo, a esperança da glória, é neles formado.
­‫ בסס‬pastor é grandemente fortalecido por esses sinais de seu
ministério.6

Não pode haver treinamento na vida cristã, a menos que pessoas


sejam salvas. E quando você ensina “como” fazer discípulos, que a os

4Robert E. Logan, Be fruitful and multiply: embracing God’s heart for church mul-
tiplication. (2006)
5Ellen G. White, Evangelismo (São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 1978),
686-687.
6Idem, Atos dos Apóstolos (São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2006), 328.
554 I Emilio Abdala

estudantes aprendem a importância de sair para fazer discípulos.7 Tem


havido uma crescente valorização do papel dos seminários para a formação
de um novo paradigma de treinamento ministerial. Em seu livro Church
Next, Gibbs afirma:

No novo paradigma da igreja, o foco da especialização do


ministério não é tanto em capacitar estudantes para servir
em múltiplas equipes de grandes igrejas, mas em treiná-los
para o ministério apostólico em situações de pioneirismo. O
treinamento é designado a produzir os plantadores de igrejas
do amanhã... nas sociedades urbanas, industrializadas e high-
tech.8

Liderança apostólica: a estratégia de Jesus

A Bíblia apresenta o treinamento como um processo interativo onde


os aprendizes ganham conhecimento e habilidades, aplicando depois o
que foi aprendido sob a supervisão do treinador. Quando se examina os
evangelhos é perceptível este padrão no método discipulador de Cristo.
Robert Coleman identifica os seguintes princípios da estratégia de Jesus
para a formação de líderes apostólicos:

1. Ele selecionava os discípulos (Lc 6:13-17/ Mc 3:13-19)


2. Ele Se associava com eles (Jo 1:39, 43, 46; Mc 1:17; Mt
4:19; Lc 5:10)
3. Ele os instruía (Mc 4:10-25; Lc 11:1-4)
4. Ele os enviava em uma missão supervisionada (Mt 10; Lc
10; 10:17; Mc 6:30)
5. Ele esperava que eles se multiplicassem (Mt 28:19)

7Walter C. Kaiser, Jr., “Leadership for Evangelism in Theological Education”,


Evangelism in the Cutting Edge, ed. Robert Coleman (Old Tappan, NJ: Fleming H. Rev-
ell, 1986), 144.
8Eddie Gibbs, Church Next: quantum changes in how we do ministry (Downers
Grove, IL: InterVarsity Press, 2000), 118.
Modelo de desenvolvimento de líderes apostólicos | 555

A tradição não descreve o apóstolo primariamente como


administradores da igreja ou teólogos. Primariamente eles eram
“enviados” (gr. apostello) ao mundo pelo Espírito Santo, geralmente a
um novo campo ou a uma população étnica, objetivando estender a igreja
aos grupos de pessoas que ainda não haviam recebido a mensagem. Esta
era a sua vocação; e sua igreja, uma vez plantada, continuava o processo
de evangelização. A tradição nos diz que Pedro levou 0 evangelho à
Bitínia (Ásia Menor), Tomé pregou e plantou igrejas entre os Parthians e,
eventualmente, fundou o cristianismo no sul da índia. Filipe estabeleceu
0 cristianismo em Eherápolis onde foi executado. Simão o Zelote e Judas
formaram uma equipe apostólica para comunicar o evangelho na Pérsia.
Tiago, irmão de João, tornou-se um apóstolo na Espanha, onde o seu
corpo está sepultado. Bartolomeu levou o evangelho de Mateus à índia e,
eventualmente, tomou-se um apóstolo na Birmânia.9
O livro de Atos registra como os discípulos imediatamente saíram
para o trabalho. Em cada cidade, naquilo que alguns chamam de Ciclo
Paulino,10 as equipes apostólicas repetiam 0 mesmo padrão:
No segundo capítulo de sua última carta a Timóteo, Paulo usa sete
imagens que ilustram as qualificações para a posição de liderança cristã.
A primeira é a de professor (2Tm 2:2). Em ambas as epístolas a Timóteo,
ele afirma que o obreiro deve ser “apto a ensinar” (lTm 3:2; 2Tm 2:24).
À ênfase do ensino deve ser na “sã doutrina” (lTm 1:10; 2Tm 1:13; 4:3;
Tt 1:9-13; 2:1‫)־‬. Ele deve ser um estudante diligente da mensagem bíblica,
além de fiel praticante e comprometido no treinamento de outros obreiros.
Ele usa a imagem de um soldado (2Tm 2:3-4) que rende completa
obediência ao chamado do comandante. O soldado se concentra em seu
trabalho e não dedica seu tempo e interesses a atividades que o desviam de

9Hunter III, 109..


10David Hesselgrave, Planting Churches Cross-Culturally: A Guide fo r Home and
Foreign Missions (Grand Rapids: Baker, 1980) 52-63.
556 I Emilio Abdala

sua responsabilidade primária. O atleta (2Tm 2:5) de jogos olímpicos era


outra imagem favorita de Paulo (ICo 9:25). O competidor profissional
é totalmente absorvido em suas metas através da disciplina própria e
apego às regras. A imagem de um fazendeiro (2Tm 2:6) sugere que 0
obreiro cristão trabalha para produzir alimento para outros através do
estudo da Palavra e cultiva novas áreas para semear a Palavra. O termo
usado para obreiro (2Tm 2:15) se aplica aos que estão envolvidos na
construção, na pesca ou na produção de artefatos. A ênfase aqui está na
aquisição de habilidades e não na diligencia. A imagem de vaso (2Tm
2:21) destaca a qualificação do caráter necessária à utilidade do líder.
Ele precisa separar-se da poluição moral (verso 20). E, finalmente a de
escravo (2Tm 2:24-25). Estas imagens sugerem quatro relacionamentos
Modelo de desenvolvimento de líderes apostólicos | 557

que os líderes necessitam cultivar: relacionamento com Deus; com as


Escrituras; com os outros e consigo mesmo através da disciplina própria.”

Alvos estratégicos
Que tipo de líderes pretende-se produzir? “Como podemos
providenciar o contexto onde o desenvolvimento integral ocorra?”
“Formar líderes, através do desenvolvimento de competências espirituais
e intelectuais, para o exercício pleno da atividade eclesiástica e para
a proclamação da mensagem e valores do Evangelho de Jesus Cristo”.
Tomando-se a declaração de missão do SALT-IAENE como ponto
de referência, nosso alvo é produzir líderes cuja “mente” (sabedoria),
“coração” (caráter) e “mãos” (habilidade) funcionem em harmonia.*12

"Roy B. Zuck, Vital Ministry Issues: examining concerns and conflicts in ministry
!Grand Rapids, MI: Kregel, 1994), 45-59.
12Rowland Forman, Jeff Jones e Bruce Miller, The Leadership Baton, (Grand Rap-
ids, Ml: Zondervan, 2007), 60.
558 I Emilio Abdala

Coração: líderes com o caráter piedoso


Liderança é influência. Uma influência piedosa não é produto de
títulos: ela é resultado de um conhecimento íntimo de Deus. Paulo expressa
este conceito da seguinte maneira: “Exercita-te, pessoalmente, na piedade.
Pois o exercício físico para pouco é proveitoso, mas a piedade para tudo
é proveitosa, porque tem a promessa da vida que agora é e da que há de
ser” (lTm 4:7-8). O assunto central do conselho de Paulo para a escolha de
líderes é a formação do caráter (lTm 3; Tt 1). Certamente que a ênfase de
Paulo no caráter ecoava o ensino de Jesus do Sermão do Monte (Mt 5-7)
e o Seu ensino sobre a humildade e o serviço (Mc 10:35-45; Jo 13:1-17).

Mente: líderes com sabedoria prática


Paulo escreve a Tito que os líderes da igreja devem se apegar
firmemente à mensagem para que possam encorajar outros pela sã
doutrina e refutar aos que se opõem a ela (Tt 1:9). Nossa estratégia de
desenvolvimento de liderança deve incluir oportunidades para que os
aspirantes a líderes cresçam em seu conhecimento de Deus e da Bíblia.

Mãos: líderes experientes que treinam outros


Em Efésios 4:11-12, Paulo ensina que os líderes da igreja não se
contentam em realizar o ministério, eles capacitam outros para servir a
Deus. Quando eles deixam o grupo, o sistema funciona de maneira eficiente
porque as pessoas foram treinadas para 0 serviço. A instrução de Paulo
em 2 Timóteo 2:2 indica que a tarefa de Timóteo era de criar a próxima
geração de pastores, plantadores de igrejas e missionários.

Líderes estratégicos
Asegunda questão que os formadores de líderes necessitam perguntar
é esta: “Quais são os grupos mais importantes a serem treinados e como
será o treinamento visando desenvolver sua mente, coração e mãos?”
Precisamos educar líderes não apenas para a colheita, mas também da
Modelo de desenvolvimento de líderes apostólicos | 559

colheita. Quando Jesus disse “faça discípulos de todas as nações”, Ele não
pretendia que iniciássemos apenas com os de dentro, mas com os de fora.
As grandes equipes de jogadores de futebol também possuem sua equipe
de base. Competições juvenis e subprofissionais ajudam a desenvolver
mais habilidades e experiência para a fase profissional, onde podem
corresponder às expectativas dos técnicos e da torcida. No contexto do
SALT, os grupos estratégicos envolvem os futuros pastores, alunos de
nossa instituição, os líderes das congregações locais onde os estudantes
realizam a prática pastoral e os líderes emergentes das novas igrejas que
eles plantarão no terceiro ano.

Alvos estratégicos:

O terceiro questionamento estratégico que os formadores de líderes


precisam fazer é este: “Como podemos providenciar um contexto ideal
para que o desenvolvimento integral dos futuros líderes aconteça?” Uma
sugestão de abordagem holística podería usar os seguintes componentes
estratégicos: classes, comunidade e comprometimento.
560 ‘ I Emilio Abdala

C LA SSES COMUNIDADE C O M P R O M IS S O

Classes: cultivando sabedoria bíblica


Antes de Sua ascensão Jesus lembrou Seus seguidores da necessidade
de ensinar todas as coisas que Ele ordenara (Mt 28:20). E em sua despedida
dos anciãos de Efeso, Paulo declarou: “porque jamais deixei de vos
anunciar todo desígnio de Deus” (At 20:27). Assim, 0 Senhor Jesus e Paulo
enfatizaram a importância de estudar toda Escritura. A formação de líderes
requer o desenvolvimento de um currículo com a mesma ênfase. Para os
estudantes do SALT já existe uma matriz curricular desenvolvida para
abranger os estudos em teologia bíblica, histórica e ética em seu currículo.
Para os líderes das igrejas atendidas pela prática pastoral e para os líderes
emergentes das novas igrejas, sugere-se um currículo com características
específicas.
Desde que o cristianismo é um estilo de vida, o currículo deve
abranger todas as áreas da vida. Ele deve ser focalizado em toda a Bíblia
(Mt 28:20; At 20:27); ser limitado em sua abrangência e amplo em suas
aplicações; ser dividido em níveis ou classes progressivas (Jo 16:12; Hb
5:11-14); promover relacionamentos sólidos através de discussão em
grupo; ser orientado para uma ação imediata de “fazer” (At 22:8,10) e
incluir exemplos bíblicos de despedida e da mobilidade dos evangelistas.

Comunidade: encorajando a espiritualidade relacionai


O homem é um ser social que não pode ser feliz sozinho.
Aparentemente, somos atraídos para os relacionamentos em grupos a fim
de nos tomarmos importantes para eles e eles para nós. Precisamos sentir
que somos necessários para o bem estar de outros. A doutrina cristã destaca
esta necessidade:
Modelo de desenvolvimento de líderes apostólicos | 561

• Deus valoriza a comunidade. Seu compromisso com a vida


em comunidade é percebido nos Salmos 133.

• A igreja é composta de pessoas em comunidade (Ef 2:1122‫)־‬.

• Jesus treinou os doze em comunidade (Mc 3:14).

• Os líderes devem ser o produto de comunidades exemplares.


Um exame do uso da expressão “uns aos outros” no Novo
Testamento revela algo da vida comunitária da igreja primitiva
(Rm 12:10; 12:16; 13:8; 14:13; 14:19; 15:7; 15:14; 16:16)

Comprometimento: facilitando a prática do ministério


Os médicos não se dedicam apenas a ler livros, eles são matriculados
em um programa de residência para exercerem a medicina. Igualmente,
os pastores, que cuidam da saúde espiritual, são treinados no ministério.
Existem dois momentos formais de treinamento ministerial dos
seminaristas, quando a dimensão prática desta educação teológica é
incorporada no currículo do estudante. Um é a prática pastoral durante o
próprio ano acadêmico, período no qual os estudantes residem no campus
de fevereiro a junho, e de agosto a novembro.13O outro momento ocorre no
6o período (3o ano do curso), de setembro a novembro, quando o estudante
se afasta da rotina normal da vida estudantil para se dedicar a um projeto
de plantio de igreja acompanhado pelo professor. Esse período é chamado
de prática de evangelismo.14
A prática pastoral geralmente ocorre em uma variedade de locais
ao redor do campus: congregações adventistas, escolas e em áreas
comunitárias que proveem oportunidades para o treinamento ministerial.
O objetivo deste programa é duplo: capacitar os estudantes em sua prática
13Ronald Homecker, “Choosing a Ministry Placement and Field Supervisor,” Ex-
periencing Ministry Supervision: A Field-Based Approach, ed. William T. Pyle and Mary
Alice Seals (Nashville, TN: Broadman and Holman Publishers, 1995), 24,25.
14Ibid.
562 I Emilio Abdala

ministerial e os líderes das igrejas locais assistidas por estes alunos. O


comprometimento normal em termos de tempo para o seminarista
engajado na prática pastoral é 12 a 15 horas semanais. No SALT-
IAENE, a prática pastoral funciona como em um processo de graduação.
No primeiro ano académico, os seminaristas participam em
diferentes elementos do serviço de adoração, ganham experiencia de
ensino diante de uma classe de Escola Sabatina e dão estudos bíblicos para
jovens do ensino fundamental e universitário no campus. O segundo ano
providencia experiências como assistentes do pastor distrital, supervisão
de um departamento da igreja e liderança de pequenos grupos. No terceiro
ano lhes é proporcionada a experiência em pregação e evangelismo
público. O último ano de treinamento oferece-lhes oportunidade para
tomarem decisões, treinamento e mobilização dos membros para o serviço
e atendimento de problemas específicos da igreja.
A prática de evangelismo ocupa os seminaristas do terceiro ano
em um ministério intensivo de tempo integral durante três meses, longe
da rotina normal do ano escolar. O objetivo deste período é treinar os
estudantes na prática de evangelismo e plantio de igrejas e desenvolver
os líderes emergentes das mesmas. Geralmente eles são enviados para as
grandes cidades onde são divididos entre os pastores distritais, designados
como evangelistas e monitorados pelos supervisores (o professor, o
departamental de Ministério Pessoal e o pastor distrital).
Este treinamento leva em consideração o fato de que mais e mais
estudantes poderão se encontrar em uma posição, ao final do curso
teológico, onde não haverá vagas em um determinado distrito que
justifique o seu “chamado” para as fileiras do ministério profissional. Por
isso, precisam estar preparados para o ministério apostólico em situações
de pioneirismo.15Este período é explicado na descrição do modelo.

15Eddie Gibbs, 118.


Modelo de desenvolvimento de líderes apostólicos | 563

Desenvolvimento do modelo

O modelo escolhido para realizar o processo de treinamento


dos alunos do terceiro ano do SALT - IAENE segue as quatro fases de
treinamento e as seis etapas de ensino de Cristo:

1. MENTOREAR: “Diga-lhes o quê’; “Ensina-lhes o porquê”


2. MODELAR: “Mostre-lhes o como”; “Faça com eles”
3. MONITORAR: “Deixe-os fazer de maneira supervisionada”
4. MULTIPLICAR: “Comissiona-lhes a multiplicar líderes”

As qüatro fases de treinamento enfatizam dois pontos essenciais:


tempo e nível de comprometimento, enquanto as seis etapas do método
de ensino focalizam o treinamento e o nível de responsabilidade.16
Nesta abordagem, todas as quatro fases acontecem em dois períodos de
treinamento formal que ocorrem no primeiro semestre do ano letivo e
no segundo semestre. As quatro fases de treinamento levam um ano para
serem completadas e o processo de ação e reflexão acontece nos ambientes
da sala de aula e no campo missionário.
16Ibid.
564 I Emilio Abdala

Fase 1 - Mentorear: “Diga-lhes o qué”; “Ensina-lhes o porqué”


O objetivo desta primeira fase é providenciar um modelo de
educação cristã orientada para o cumprimento da missão a ser reproduzida
na igreja local pelos futuros pastores. Como foi mencionado previamente,
no terceiro ano da formação acadêmica dos alunos do SALT, o estágio
supervisionado tem como objetivo o crescimento experimental nas áreas
da pregação e do evangelismo público. O currículo normal para o primeiro
semestre no programa de estudos do seminário contem um curso de
Evangelismo e Crescimento de Igrejas (3 créditos) que inclui conceitos de
missão, discipulado e fatores de crescimento de igrejas.
Durante os cinco primeiros meses do ano, a tarefa do professor
é estabelecer convicção teológica sobre a melhor filosofia e o melhor
processo para 0 cumprimento da missão. Visando criar uma atmosfera
de otimismo e promover o preparo espiritual do grupo de estudantes, o
professor destaca o papel do Espírito Santo na missão da igreja e enfatiza
a necessidade de cada seminarista ser cheio e dirigido pelo mesmo.
No início deste estágio, os estudantes são introduzidos ao planej amento
estratégico e discutem os procedimentos de uma estratégia de evangelismo
e crescimento de igrejas. Eles também realizam estudos demográficos das
áreas que se pretende alcançar nos arredores do campus do IAENE. Então,
os membros de cada grupo trabalham no desenvolvimento de um plano
mestre para a evangelização da área.
Cada membro da equipe se concentra em dois ou três aspectos de
cada fase do plano, e 0 professor circula entre os grupos para responder
perguntas pertinentes e manter a discussão dentro de seus objetivos. Na
última sessão, cada unidade circula os rascunhos e relata publicamente os
principais pontos de sua estratégia. Os demais alunos oferecem críticas e
sugestões a serem consideradas na finalização dos vários planos estratégicos.
No final das classes, as equipes circulam o seu plano estratégico finalizado
e estão prontos para a fase 2, que envolve a implementação dos objetivos
nas igrejas e cidades vizinhas.
Modelo de desenvolvimento de líderes apostólicos | 565

Fase 2 - Modelar: “Mostre-lhes o como”; “Faça com eles”


É importante observar que as fases um e dois ocorrem de maneira
paralela no primeiro semestre do terceiro ano acadêmico. Porém, nesta
fase, eles têm um ambiente controlado onde podem experimentar e praticar
com o professor, a fim de entenderem as partes da estratégia e dominarem
a dinâmica do evangelismo da persuasão e as ferramentas evangelísticas
disponíveis que também serão usadas na fase 3.
O plano para esse treinamento em ação envolve pelo menos uma
semana especial de evangelismo realizado pelo professor/ treinador a fim de
que todos os estudantes observem e tenham uma oportunidade de clarificar
instruções. A seguir, as pequenas unidades (que desenvolveram o plano
mestre visando a evangelização de determinada área) são agora envolvidas
em um programa intensivo de 21 noites (aproveitando-se 0 recesso de
10 dias da Semana Santa) em local previamente escolhido mantendo-se
conselho com os pastores distritais das imediações do seminário.
Durante esta fase, os estudantes são expostos às pressões do
tempo, das circunstâncias e dos requisitos acadêmicos para integrar
simultaneamente as experiências da sala de aula e da prática. Eles são
encorajados a não descuidar dos variados aspectos de sua formação
espiritual e ainda se engajar na agitação, nas exigências e oportunidades
que o campo missionário oferece.
Essa prática acontece durante o período letivo do primeiro semestre,
providenciando um equilíbrio entre a prática do ministério e a reflexão sobre
esta experiência na sala de aula. Esse treinamento em ação é acrescentado
às instruções teóricas da sala de aula. Neste processo, os estudantes levam
as idéias teológicas para o campo de atividades e trazem para a sala de
aula as suas experiências de ministério para serem examinadas à luz do
conteúdo teológico. Esses grupos de ministério possuem uma missão
bem definida, e todos contribuem pela complementação de seus dons,
habilidades e recursos, a fim de alcançarem os objetivos propostos.
566 I Emilio Abdala

Fase 3 - Monitorar: “Deixe-os fazer de maneira supervisionada”


E importante repetir que o segundo semestre é dedicado à prática
intensiva, quando os estudantes dedicam todo o seu tempo às atividades
evangelizadoras, e longe da rotina dos trabalhos acadêmicos. No entanto,
antes de serem designados a um local específico para a sua missão
urbana (setembro a novembro), eles precisam de um período de reforço
objetivando revisar firmemente o conhecimento assimilado e todas as
instruções através de ensaios e simulações antes de serem enviados à
fase 3. Para isso, os seminaristas se inscrevem em uma classe intensiva
no mês de agosto. O curso de Evangelismo Público (2 créditos) se
concentra nas técnicas de comunicação de massa, publicidade e a arte de
alcançar decisões. Uma ênfase especial é dada na compreensão da Grande
Comissão, no processo de fazer discípulos e na importância de multiplicar
líderes para a evangelização do mundo.
Então, de setembro a dezembro do mesmo ano, os setenta estudantes
são distribuídos nas principais cidades do nordeste do Brasil, onde
terão uma experiência de evangelismo e plantio de igrejas de maneira
supervisionada. A duração deste programa de treinamento é de três meses.
A União Nordeste providencia o orçamento financeiro para adquirir todos
os materiais evangelísticos necessários para um kit especial (Bíblias,
literatura, folhetos, cursos, etc.) além das despesas de viagens do professor
de evangelismo para cobrir o circuito de supervisão aos locais onde estão
os estudantes.
As Associações e Missões se responsabilizam pelas despesas
relacionadas com os estudantes (hospedagem e salários) e obreiros bíblicos.
O plano estipula que os estudantes sejam associados com obreiros bíblicos
experientes para participar do projeto de plantio de igrejas. As igrejas
locais (igrejas mães) são responsáveis pela alimentação e hospedagem
dos estudantes em lugares próximos do campo de ação. E imperativo
providenciar possibilidades de privacidade para a equipe de estudantes.
Eles necessitam de silencio para orar, estudar e meditar cada dia.
Modelo de desenvolvimento de líderes apostólicos | 567

0 modelo usado para o estabelecimento de uma nova igreja


possui cinco fases que são modificados periodicamente: Planejamento,
Preparação, Pioneirismo, Proclamação, e Pós- evangelismo.17

Seis Estágios de Plantio de Igrejas

P la n e ja m e n to P ó s-M a tu rid a d e

Na fase do planejamento, a seleção das cidades a serem trabalhadas


é feita segundo um critério específico e votada na comissão executiva da
União Nordeste da IASD, que é responsável pela administração do IAENE.
A logística da campanha requer a designação dos estudantes para os seus
respectivos campos, caso estes campos estejam no território da UNeB.
Meses antes do início das reuniões evangelísticas, os membros da igreja
mãe realizam uma pesquisa na comunidade para descobrir informações
‫׳‬população, renda familiar, taxas de mortalidade, principais problemas
da comunidade, etc.) que possam ser úteis na composição da estratégia

17Esse moclelo_de componentes foi adaptado de Hesselgrave (1980) Modelo de dez


passos, Faircloth (1991) 45 eventos, Neighbour (1990) Pequenos grupos e Steffen Philip-
p!ne (1994) modelo.
568 I Emilio Abdala

e do calendário homilético. Tais pesquisas também ajudam* as equipes


de plantio a escolher os tipos de serviços e ministérios que necessitam
ser realizados nos projetos sociais que antecedem a proclamação da
campanha. O coordenador da campanha reúne-se com os líderes locais
para procurar os bairros e cidades mais receptivos para o evangelismo,
bem como acomodações para os estudantes e a escolha do local onde será
a futura igreja.
Aproxima fase está relacionada com a preparação das igrejas locais:
a revitalização das igrejas mães para se criar uma atmosfera de oração
e motivação para 0 cumprimento da missão. Durante este estágio, uma
ênfase especial é colocada no ensino. Isto inclui a capacitação da equipe
pioneira para descobrir e utilizar os seus dons espirituais no ambiente dos
pequenos grupos.
Na fase de pioneirismo, o núcleo da futura igreja realiza eventos que
atendem às necessidades da comunidade e desenvolvem relacionamentos
qualitativos os seus moradores. Os esforços para iniciar uma nova igreja
incluem uma mistura de projetos realizados nos pequenos grupos tais
como seminários profissionalizantes e tópicos relacionados coma família
e a saúde. O núcleo ou o pequeno grupo responsável pelo plantio de uma
nova igreja utiliza esses programas sociais como uma cunha de entrada
para realizar contatos na comunidade e criar uma imagem positiva para a
nova igreja.
Os pequenos grupos não apenas providenciam uma excelente
maneira de testar 0 nível de receptividade da área a ser alcançada antes de
se tentar construir uma nova igreja, mas também se toma o instrumento
de incorporação dos novos membros após o final da proclamação do
evangelho. Poucas pessoas que se unem a um pequeno gmpo experimentam
a apostasia. Assim, o envolvimento em tais grupos é essencial para os novos
discípulos. Outros métodos mais tradicionais podem ser usados nesta fase,
tais como os estudos bíblicos pessoais ou nas duplas missionárias.
Na fase proclamacional, 0 método tradicional adventista de colheita
Modelo de desenvolvimento de líderes apostólicos | 569

tem sido o evangelismo público. Contudo, para ceifar os interessados


cultivados para a nova igreja adventista, um plano bem definido é seguido
pelos seminaristas. A classe batismal nesta fase inicial de discipulado
enfatiza os princípios elementares da salvação e as doutrinas essenciais do
cristianismo. Esta fase pratica a descentralização do esforço dos seminaristas
em uma multiplicidade de pequenas campanhas. A coordenação do projeto
entende que um jovem evangelista acompanhado de um experiente obreiro
bíblico que vai a uma nova área ou bairro e ergue uma nova igreja de 25 a
30 membros, realiza um esforço mais bem sucedido em sua esfera do que
0 evangelista de uma associação que batiza cem pessoas em um local onde
já existe uma igreja.
Nesta abordagem, temos sete equipes de dez estudantes que
abrem setenta novas congregações, ou seja, cada estudante conduz
0 seu próprio projeto de plantio de uma nova igreja. Diferentes igrejas
são assim estabelecidas a uma distância razoável de onde eles estão
acomodados. Eles seguem o mesmo programa e pregam os mesmos temas
em sua apresentação pública. Isto confere ao estudante em processo de
treinamento um forte sentido de realização. Ali eles têm uma oportunidade
de aproíundar o senso de chamado, de serem produtivos e de praticar as
técnicas de liderança e os métodos de fazer discípulos.
Finalmente, na fase de assimilação dos novos membros, os
seminaristas utilizam os pequenos grupos, o mentoreamento dos guardiões
da fé, seminários de treinamento e o envolvimento dos novos membros
em tarefas e grupos. E muito importante que no relacionamento de
mentoreamento entre o estudante e o professor as metas e as expectativas
sejam definidas desde o início do projeto missionário. Os estudantes
precisam saber quais serão os critérios de sua avaliação, que envolve suas
habilidades específicas, seu caráter e, principalmente o seu desempenho no
cumprimento da missão. Espera-se que os estudantes plantem uma nova
:greja e iniciem um processo de discipulado com os novos membros e com
os líderes em potencial.
57Ò I Emilio Abdala

Fase 4 - Multiplicar: encoraje a multiplicação de líderes '


Com a tríplice fórmula da missão (autogovemada, autosustentada e
autopropagativa) como referência para o sucesso de um projeto de plantío
de igrejas, o evangelista precisa ter uma estratégia de partida. Paulo e sua
equipe também partiam quando completavam o trabalho e os objetivos eram
alcançados (At 13:13; 18:1,18,21, 23; 19:21). Oplantador de igrejas deve
evitar tanto a saída prematura quanto o paternalismo de uma permanência
muito prolongada. Os componentes de uma estratégia de partida devem
incluir a definição do local da nova igreja, a organização desta, a seleção
e o treinamento dos novos líderes e maneiras de manter relacionamentos
continuados com a igreja após a partida do evangelista. Isto mostra que 0
momento da partida ocorre quando os objetivos são alcançados e não tanto
pelo tempo planejado.
Como Moisés, ele deve evitar se apegar à sua função dominante,
mas permitir que todos participem (Nm ll:24:-30). E como Moisés, deve
evitar a exaustão pela sábia distribuição das tarefas (Ex 18) e identificar
os líderes em potencial dentre os mais “capazes” (Ex 18:21). Ou seja, os
que possuem caráter, comprometimento, certa competência e qualificação
para ensinar outros (2Tm 2:2). Os novos membros avançam através de
quatro estágios para se tomarem líderes eficientes: eles acompanham
os evangelistas em suas atividades; eles participam dentro de sua zona
de conforto; eles recebem treinamento teológico e expandem sua zona
de conforto liderando em novas áreas; eles tremam outros que têm sido
observadores de seu ministério.
Para evitar que a sua saída seja traumática para a jovem igreja, uma
mudança de ênfases ocorre na fase pós-evangelismo (Novembro) quando
o plantador de igrejas deve gradualmente assumir novas funções em sua
campanha evangelística. Três funções básicas foram identificadas para
evitar o colonialismo. Primeiro ele deve assumir a função de evangelista
para apresentar o evangelho de maneira eficiente. Então a ênfase muda para
a função de professor a fim de treinar os novos membros no crescimento
Modelo de desenvolvimento de líderes apostólicos | 571

a função de professor a fim de treinar os novos membros no crescimento


espiritual e no desenvolvimento do ministério. A última função muda a sua
participação ativa para o status de consultor ou conselheiro. Comparando
com a metáfora do futebol, ele experimenta uma transição da posição
de atacante para meio de campo, zagueiro e depois para o de treinador
{coach), onde observa 0 jogo do lado de fora do campo. Ao invés de
uma saída abrupta, gradualmente vai abandonando a liderança ativa. Ele
planeja ausências periódicas para testar as asas dos novos líderes em vários
ministérios e assume as funções de encorajamento e conselho. Na fase
final deste processo, ele se toma um parceiro a distância ou um conselheiro
itinerante. A separação física não significa, porém, separação espiritual.
572 I Emilio Abdala

CONSELHEIRO

O
PROFESSOR

0 EVANGELISTA

Saber quando se despedir de uma nova igreja é tão importante quanto


saber quando iniciar seu plantio.

Conclusão

Este modelo move-se de uma ênfase no evangelismo público para o


plantio de igrejas; de uma ênfase no plantio de uma igreja para a ênfase na
multiplicação de igrejas; de uma preocupação em assimilar novos membros
para o desenvolvimento de uma liderança local; e, finalmente, move-se
do entusiasmo do início de um programa evangelístico para uma saída
responsável. Os Adventistas do Sétimo Dia nasceram e se desenvolveram
como um movimento de plantio de igrejas. Iniciar e multiplicar novas
igrejas através do desenvolvimento de líderes multiplicadores é a única
maneira de obedecer completamente à ordem dada por Jesus de fazer
discípulos.
A educação teológica da prática pastoral não é menos importante
do que os estudos em teologia bíblica, histórica e ética do currículo de
um seminário, e não menos importante do que estudar o Pentateuco ou
os evangelhos sinóticos. O programa de treinamento ministerial ocupa a
função de ponte que preenche a lacuna entre a teologia bíblica e a sua
aplicação às situações relacionadas ao programa da igreja. As palavras de
C. Skovgaard, deão da catedral Luterana de Copenhagen, resumem este
necessário equilíbrio: “Busquei conselho da Palavra e ela me instruiu a
visitar a experiência. Fui à experiência e ela me enviou de volta à Palavra.
Assim, tornei-me um mensageiro feliz entre esses dois”.
MINISTRANDO A LAS MULTITUDES DE LAS
METRÓPOLIS

Juan Carlos Pizarro


Universidad Adventista de Chile, Chile

1111(ll1t11l1l1l1r11ll1mmlll11111111M11{1111111111111!1111111lll11111f1111m11M1N1r11111(inri ni 1111huí 1111mum1111iiiiiiinmiiiiiiiiimiii !111111Mili iiiiiimiinii

Introducción

Sudamérica donde vivimos y trabajamos en la actualidad, se


caracteriza por ser una población urbana. Un 82 % de la población de
América Latina vive en ciudades. Supera a Europa que alcanza (72%), a
Estados Unidos y Canadá con (81%), Oceania (71%), Asia (41%) y África
(39%). Ese 82% es el porcentaje de población urbana de Brasil, menor que
la de Chile con (82.5%), menor que Argentina (90 %), Venezuela (94%),
Uruguay (92%). Paraguay tiene a penas (60%) de población urbana, es el
país que contiene más población rural de Sudamérica.1
Actualmente el lugar al que Dios nos envía como sus representantes
es, mayormente a las ciudades. Como el fin de este mundo está tan
cercano, las ciudades deben oír el urgente llamado al arrepentimiento y a
la salvación.
¿Cómo debiéramos vivir y cumplir la misión los adventistas en
este mundo urbano? El contenido de este material, tiene el propósito
de examinar Hechos 11:19-30, con el fin de extraer lecciones y
métodos de desarrollo de la iglesia, en la ciudad de Antioquía de Siria.1

1Population Division o f the Department o f Economic and Social Affairs o f the


United Nations Secretariat. Urban Agglomerations 2003. http://www.un.org/esa/popula-
non/publications/wup2003/2003urba.agglo.
576 I Juan Carlos Pizarro

Desarrollo

En el momento en que surge el cristianismo, el proceso de urbanización


y creación de ciudades como forma socio-política de convivencia, tiene
una gran importancia, en toda la cuenca del Mediterráneo. Por eso es
absolutamente explicable que, la línea cristiana hegemônica, fue la que más
influyó en la historia posterior y que aparece como, un fenómeno urbano
en Asia Menor, Grecia y Roma. En efecto, la iglesia cristiana establecida
en las capitales de provincias o en ciudades claves, fueron como núcleos
de comunicación. De ahí que, el estudio de la iglesia de Antioquía de Siria
es un método muy instructivo para conocer el cristianismo primitivo.2
Conocida como “Antioquía, la hermosa”, este centro de comercio,
arte y cultura, era la capital de Siria,3y tercera ciudad del imperio romano.
También era el punto de reunión de muchas nacionalidades y grupos étnicos.
Este es el primer contacto que se menciona entre la naciente iglesia cristiana
y la capital de Siria. Después de Roma, Alejandría y Efeso, Antioquía era
la ciudad más grande del Imperio Romano.4 Durante largo tiempo fue un
importante centro del cristianismo. Nicolás, prosélito de Antioquía (Hch
6:5), quizá había regresado allí a proclamar su nueva fe. La penetración
del cristianismo en Antioquía fue de gran importancia. Estaba situada a
orillas del río Orontes, a unos 25 km del puerto de Seleucia, y había sido
fundada por Seleuco Nicator alrededor del afio 300 a. C., quien le dio su
nombre en honor de su padre el rey Antíoco. La ciudad había crecido en
riqueza y en poder hasta, llegar a ser la principal ciudad de Asia.
En Antioquía había una numerosa colonia judía en cuyo honor,
Herodes el Grande hizo construir una columnata de mármol que atravesaba
la ciudad. Antioquía era la sede del prefecto, o propretor romano de Siria.

2Rafael Aguirre, La iglesia de Antioquía de Siria (Bilbao, España: Desclée de


Brouwer, 1988), 10, 11.
3Elena G. de White, Los hechos de los apóstoles (Florida ; Buenos Aires: Asoci-
ación Casa Editora Sudamericana, 1977), 128.
4Aguirre menciona que es difícil calcular el número de habitantes, pero los histo-
dadores piensan que, superaría el medio millón en el período romano. Véase Aguirre, 14.
Ministrando a las multitudes de las metrópolis | 577

En Antioquía el cristianismo se relacionó más íntimamente con la cultura


griega que en Jerusalén, o en Cesárea. Aquí también tuvo que enfrentarse
con el paganismo en sus formas más seductoras y degradantes. Los bosques
de Dafne, eran famosos por su culto lleno de voluptuosidad e idolatría.
Una gran victoria hizo posible que, la iglesia convirtiera a Antioquía, en
una de sus principales sedes.
Como la mayoría de las iglesias del primer siglo, la de Antioquía
fue fundada por laicos. Era una iglesia mixta, compuesta de diferentes
nacionalidades y razas, judíos y no judíos, gente humilde y gente
encumbrada. Fue aquí donde el apóstol Pablo recibió su instrucción y
preparación para el servicio misionero. Finalmente, el desarrollo de la
iglesia en la ciudad de Antioquía se centró en el evangelio del Señor.

Análisis de Hechos 11:19-30


Hechos 11:19-30 es una continuación de lo que venía relatándose en
el cap. 8: 1 4 ‫־‬. Se hace una digresión para narrar la obra de Felipe con los
samaritanos (Hch 8:5-25) y con el etíope (Hch 8:26-40). La conversión de
Saulo y su obra en Damasco (Hch 9:1-22) y aún en Jerusalén (Hch 9:27-
30) La visión de Pedro, la predicación a Comelio en su casa (Hch 10:1-
48). Esta digresión prepara al lector para lo que sigue, que es el relato de
la conversión de los griegos al Evangelio.
La muerte del mártir fue seguida por una terrible persecución de los
cristianos'en Jerusalén (Hch 8:1-4). Esto causó la dispersión de muchos
creyentes. Felipe trabajó en Samaría y en Cesárea; otros fueron a Fenicia,
a las ciudades de Tiro, Sidón y Tolemaida, y probablemente, ayudaron a
fundar las iglesias mencionadas en otros lugares (Hch 21:3-7; 27: 3). En
Chipre se preparó el camino para la obra posterior de Bernabé y Saulo
(Hch 13:4-13).
Hasta aquí, los discípulos habían huido de la persecución, en
Jerusalén habían‫־‬limitado su actividad evangelizadora, a las colectividades
judías de los diversos lugares a los que llegaban. La idea de que, el
578 I Juan Carlos Pizarro

evangelio pudiera tener alguna importancia para los no judíos, rio era algo
que se les ocurriera naturalmente. Pero en Antioquía algunos hombres de
Chipre y Cirene, dieron un importante paso adelante en la evangelización
a los gentiles. Así que comenzaron a dar a conocer a la población griega
de Antioquía, lo que Jesús afirmaba acerca de si mismo como Señor y
Salvador. Muchos de los griego residentes en Antioquía, estaban tratando
de encontrar en los diversos cultos, a diversos dioses, un señor divino que,
garantizara la salvación y la inmortalidad a sus devotos. Finalmente ahora
los cristianos les aseguraban que, lo que habían estado buscando en vano
en aquellos templos, podían obtenerlo por la fe en el Hijo de Dios, que se
había hecho hombre, experimentado la muerte y vencido a la tumba en
Palestina.5
Sin embargo, y a pesar de que el peso de la evidencia de los antiguos
manuscritos griegos se inclina por, el texto “helenistas”, muchos sugieren
que debe entenderse “helenos”, o sea “gentiles”.6 Afirman que: (1) si no
se tratara de helenos gentiles, no tendría sentido la distinción que hace
Lucas entre los judíos del vers. 19 (entre los cuales podrían perfectamente
estar los judíos que hablaban griego) y los gentiles del vers. 20; (2)
en vista de que había judíos de habla griega en Jerusalén, no sería una
novedad que se los mencionara específicamente en Antioquía; (3) sería
completamente natural diferenciar a judíos de helenos (Hch 14: 1; 18: 4),
y registrar el progreso que hacía la iglesia al extenderse más allá de los
límites del pueblo judío; (4) referencias posteriores señalan la presencia
de cristianos de origen gentil en Antioquía de Siria (Hch 15:1, 28- 31)7;
(5) el hecho de que fueran helenos, no significa que fueran paganos
idólatras antes de convertirse, y que quizá, como Comelio, algunos de
ellos ya temían a Dios (Hch 10: 2) y asistían a la sinagoga (Hch 18: 4).8

5Bruce, 266.
6Aguirre, 24.
7Elena G. de White, Los hechos de los apóstoles (Florida; Buenos Aires: Asoci-
ación Casa Editora Sudamericana, 1977), 128-129
8“Los griegos” [Hechos 11:20], Comentario Bíblico Adventista, 6:261
Ministrando a las multitudes de las metrópolis | 579

Para Lucas era importante señalar que, una de las cuestiones


que todavía se discutía en su tiempo era la conversión de los gentiles,
rechazando la opinión de los “judaizantes”. Estos, los judaizantes, creían
que los gentiles que se convirtiesen al evangelio, tendrían que cumplir toda
la ley (e incluso circuncidarse, en el caso de los varones). Los cristianos de
Antioquía se hicieron cristianos sin hacerse judíos, y Lucas subraya que,
“el poder del Señor estaba con ellos”.9
El poder de Dios se manifestó en la conversión de los gentiles en esta
ciudad. Esta expresión aparece con frecuencia en el Antiguo Testamento
para referirse a la intervención directa de Dios, en los asuntos de la tierra.101
En Hechos 11:22-24, los líderes de la iglesia en Jerusalén,
reconocieron la novedad de la situación en Antioquía, cuando les llegaron
las noticias. Se consideraban responsables de la dirección del movimiento
en todas sus ramificaciones. Por lo tanto, así como Pedro y Juan habían
ido antes a Samaría, para afianzar el servicio misionero de Felipe, así
ahora Jerusalén envió un delegado a Antioquía, para que fortaleciera la
obra en esta ciudad, como también darle apoyo y aprobación. Se escogió a
Bernabé, quizá porque se sabía que simpatizaba con la obra que se estaba
haciendo en Antioquía. Era amigo de Saulo, a quien había presentado a
algunos de los discípulos, en Jerusalén (Hch 9:27), y debe haber conocido
las convicciones de Saulo y sus esperanzas en cuanto a los gentiles.11 Por
·lo tanto, estaría feliz de tener la oportunidad de trabajar de ese mismo
modo. También era una ventaja el hecho de que, era del mismo país
de algunos de los misioneros que, estaban trabajando en Antioquía.12
9Justo González, Hechos de los apóstoles (Buenos Aires: Ediciones Kairos, 2000),
220.
10Ver Ex 14: 31, donde el “hecho que Jehová ejecutó” en hebreo es la mano iyad )
de Jehová”. Compárese también con la frase “mano de Jehová” en Ex 9: 3; Rt 1: 13; 1 S
7: 13; Neh 2: 8; etc, que hace destacar la verdad de un Dios personal. Véase “La mano de
Señor” [Hch 11:21], CBA, 6:262.
11Véase González, 221.
13Bernabé mismo era chipriota, judío de nacimientos como algunos de aquellos
que habían comenzado‫ ׳‬a predicar el evangelio a los gentiles antioqueños. Véase F. F.
Bruce, Hechos de los apóstoles (Grand Rapids: W. B. Eerdmans Publishing Company,
1998), 267.
580 I Juan Carlos Pizarra

Bernabé vio en la nueva obra, sólo lo que era digno de su aprobación,


y el hecho de que más miembros se estuvieran añadiendo a la iglesia fue
para él, motivo de profundo gozo. En verdad, toda la experiencia y el
programa del cristiano debería ser siempre motivo de gozo continuo. Un
hombre de buen carácter como Bernabé, destacado entre los judíos griegos
de Antioquía, tendría una gran influencia entre judíos y griegos en esa
ciudad. Esteban tenía la misma característica (Hch 6: 5). Como resultado
de la persecución que siguió a la muerte de Esteban, los misioneros habían
ido a Antioquía. Algunos de ellos pueden haber sido helenistas activos, en
la obra por la cual, fue apedreado Esteban.
Esta frase “una gran multitud fue agregada” sugiere un gran
incremento, superior al que se registra en el vers. 21. La aprobación de lo
que se estaba haciendo en Jerusalén, tal como lo expresaban el gozo y la
exhortación de Bernabé, el “hijo de consolación”, sin duda serviría para
aumentar el celo de estos fervientes obreros de Cristo.13
En Hechos 11:25-26, se menciona que Bernabé “se encaminó
a Tarso para buscar a Saulo”. Bernabé no podía pensar en nadie más
perfectamente adecuado, para la responsabilidad de compartir su ministerio
en Antioquía.14 Esto es importante, pues presupone que Saulo, aprobaba
la obra que se estaba haciendo en Antioquía, y demuestra la confianza
que Bernabé tenía en que Saulo, era la persona apta para ayudar en la
obra allí. También sugiere que había habido comunicación con Saulo, ya
fuera mediante un mensajero o por carta, después de que éste salió de
Jerusalén. Se puede deducir que Saulo había permanecido en Tarso o en
sus alrededores, predicando el Evangelio y también en las aldeas vecinas
de Cilicia.15Ahora se le pide a Saulo, a quien el Señor se le había aparecido
y lo había señalado como, “instrumento escogido” (Hch 9:15), para llevar

13“Una gran multitud” [Hch 11:24], CBA, 6:262.


14Aguirre, 26.
15“Siria y Cilicia [Hch 15:41], CBA, 6: 315.
Ministrando a las multitudes de las metrópolis | 581

el nombre de Cristo a los gentiles. Debía unirse a Bernabé, en esta nueva


tarea de predicar a los gentiles de Antioquía. Saulo aceptó la invitación,
pues sin duda ya había oído de los resultados del poder de Dios allí.
A medida que los nuevos conversos gentiles, se unían a la iglesia
en Antioquía, se hacía difícil encontrar personas habilitadas para servir
y abarcar todo ese conjunto cosmopolita. Ya no eran todos nazarenos,
ni galileos, ni judíos griegos.16 Para los habitantes de Antioquía, les
debe haber parecido una mezcla extraña. Por lo tanto, la palabra híbrida
“cristiano”, basada en un término griego con terminación latina, parecía ser
adecuada.17 Y lo que en un principio fue una burla, más tarde se convirtió
en un nombre en el cual gloriarse: “Si alguno padece como cristiano, no se
avergüence” (1 P 4:16).18
El nombre de cristianos les fue dado porque, Cristo era el tema
principal de su predicación, su enseñanza y su conversación.19 El ejemplo
de los seguidores de Cristo en Antioquía debería constituir una inspiración
para todo creyente que, vive en las grandes ciudades del mundo de hoy.
La obra de Dios en la tierra necesita hoy día representantes vivientes de
la verdad bíblica. Los pastores no pueden hacer frente solos, a la tarea de
amonestar las grandes ciudades: Dios llama no solo a los ministros sino
también a los médicos, los enfermeros, los colportores, los instructores
bíblicos y a otros laicos consagrados, dotados de diversos talentos, que
conocen la Palabra de Dios y el poder de su gracia, y los invita a considerar
las necesidades de la ciudades.20

16El verbo traducido “se les llamó” es chrematisai que literalmente significa “hacer
‫־‬.ransacción comercial”. Negociar bajo un nombre determinado es, en efecto, ser conocido
públicamente por ese nombre. Véase Bruce, 270.
17Aguirre declara que el nombre de “cristianos” tiene que habérsele sido dado por
quienes veían al grupo de los creyentes en el Señor Jesús desde afuera y lo percibían con
ana identidad propia y diferenciada ya del judaismo. Aguirre, 26.
18“Se les llamó cristianos” [Hch 11:26], CBA, 6:263.
19González declara que los discípulos tomaron el nombre de “cristianos” dando a
entender que eran agentes del Rey Ungido, del “Cristo”, lo cual les daba ion importante
sentido de dignidad tanto en el presente difícil como en el reino por venir. González, 222.
20Véase White, 129, 130.
582 I Juan Carlos Pizarro

En Hechos 11:27-30, se menciona que, Agabo un profeta21 venido


de Jerusalén, realiza una predicción sobre un gran hambre que, vendría
sobre toda la tierra habitada. Ésta podía estar relacionada con las angustias
u tribulaciones de los últimos tiempos, que por entonces los cristianos
consideran como inminentes. La nota histórica “en tiempo de Claudio”,22
intenta constatar históricamente que la profecía se cumplió. En una
asamblea se toma la decisión de enviar el dinero de una colecta a Jerusalén.
Conforme a la comunidad de bienes, cada uno dará lo que libremente
pueda. En este contexto aparece la palabra “diakonid”, término que
significa servicio. Éste término, tiene de esta manera, un sentido técnico
referido a la colecta. Vemos pues, que la ayuda mutua entre los cristianos
tenía en este caso el significado de ayuda material. Aparecen en escena los
ancianos (presbíteros) de Jerusalén como depositarios del dinero obtenido
en la colecta. Este papel de autoridad asignando a los ancianos es referido
por primera vez en Hechos. Hasta ahora los responsables de la comunidad
son los Apóstoles.23Este dato, como se puede apreciar, tiene consecuencias
interesantes. Debido al crecimiento de la comunidad y a un cambio cada
vez más pronunciado en la perspectiva de la parousia inminente, así como
el rechazo por parte de la autoridad judía y de una gran parte de Israel;
el grupo de los Apóstoles tuvo que proceder a una reorganización de la
comunidad de Jerusalén.

21No es posible apreciar en el NT una descripción clara de lo que era la tarea del
“profeta”. Se trataba de personas que poseían un don del Espíritu, que algunas veces se
ocupaban en predicar y explicar la Palabra de Dios, y en otras ocasiones tenían la capa-
cidad de predecir acontecimientos futuros, como lo hizo Agabo (Hch 13: 1; 15:32; 19:
6; 21:9-10; Ro 12: 6; 1 Co 12: 10, 28-29; 13: 2; 14: 6, 29-37). La misión de los profetas
evidentemente debe ser considerada como otra muestra de aprobación dada por la iglesia
en Jerusalén a la obra que Saulo y Bernabé estaban realizando en Antioquía. Véase “Unos
profetas descendieron” [Hch 11:27], CBA, 6:263.
22El reinado de Claudio duró desde el año 41 hasta el 54 d. C. Fue un período
notable por sus frecuentes hambres, www.biografiasyvidas.com/biografia/c/claudio.htm.
23González afirma que estos “ancianos” o “presbíteros” no son los apóstoles. Una
posibilidad que pocos intérpretes menciona es que sean los “siete” elegidos en Hechos 6,
o sus sucesores. La razón de pensar en eso es que la función de los “siete” era administrar
lo recogido y la misma parece ser la función de estos “ancianos”. González, 223.
_________________________________ Ministrando a las multitudes de las metrópolis | 583

Conclusión

Por lo tanto, se concluye que, al examinar Hechos 11:19-30, se


pueden extraer las siguientes lecciones, de los métodos del desarrollo de la
iglesia en Antioquía de Siria.
1. La tarea no sólo se centró en la predicar acerca del Señor Jesús;
sino que los creyentes vivían en Jesucristo. Él era el centro de toda su
vida, pensamientos, acciones y conversaciones. No sorprende que allí, en
Antioquía, haya sido donde por primera vez, se llamó cristianos, a los
seguidores de Cristo (Hch 11:20, 26).
2. La iglesia continuó como un movimiento laico. La función de los
apóstoles y pastores, tales como Bernabé y Pablo, fue la de asistir a los
miembros en su papel de ministros de Jesucristo, en la ciudad (Hch 11:26).
3. El ministerio se llevó a cabo como trabajo de equipo, con los
profetas, pastores, maestros, administradores, benefactores y evangelistas
que trabajan juntos (Hch 11:20, 22-25, 27, 29).
4. Los creyentes vivían en la ciudad donde la gente podía oírlos y
observarlos en su vida y vocación diaria. Incluso los dirigentes tales como
Bernabé y Pablo, se unieron a los creyentes y vivían con ellos en la ciudad
(Hch 11:25,26).
5. La iglesia era dadivosa y tenía una profunda preocupación por el
prójimo. Los cristianos de Antioquía no son creyentes pasivos, en espera
de lo que venga de Jerusalén, sino que son creyentes activos, conscientes
de su propia responsabilidad misionera, no sólo para los gentiles, sino
hasta para con sus hermanos de Jerusalén (Hch 11:29, 30).
6. Eraunaiglesiamisionera, unhogary unaescueladepreparaciónpara
los misioneros. A partir de Hechos 13, Lucas se ocupa casi exclusivamente
de la iglesia de Antioquía y de su obra misionera, no porque fuera ella la
más antigua, la más rica o la más poderosa, sino porque fue, la que supo
enfrentarse a los nuevos retos del momento (Hch 11:21, 24).
7. Todo ministerio estaba arraigado en la obra del Espíritu Santo. No
584 I Juan Carlos Pizarra

sorprende que grandes multitudes creyeran y se volvieran al Señor (Hch


11:21,24, 28).
RELACIÓN ENTRE MISIOLOGÍA Y SALUD A LO
LARGO DE LA HISTORIA

Paulo dos Santos


Universidad Adventista de Bolivia, Bolivia

rnwHimimiisHiimiitmiiiimmiiimmimminriiiiiimmiNiJiii............................. iijmiiiii......... ............ . >1■tinrinririniiMiijiiiuiii

La misión legada por Cristo, antes de ascender al cielo, el “Id y


predicad el evangelio a toda criatura...” (Mt 28:1820‫)־‬, fue entendida
posteriormente por los pioneros de la Iglesia Adventista del Séptimo Día,
dentro del paradigma del mensaje de los tres ángeles (Ap 14:6-13).
Ellen G. de White al comentar esta misión (Ap 14:6); enfatiza su
blanco, urgencia, y simultáneamente subraya que, la reforma pro salud
está tan íntimamente ligada a ella como la mano, lo está al cuerpo.1
El presente estudio, describe brevemente el vínculo entre la salud,
y el evangelio eterno, en la misión de divulgar el Plan de Salvación a lo
largo del período bíblico. Igualmente destaca ciertas citaciones de White,
·referente a la participación de la reforma pro salud en la misiología de
la Iglesia Adventista del Séptimo Día; se presupone que, esta escritora
fue receptáculo del don profético, y sus escritos son considerados por los
adventistas como divinamente inspirados. Finalmente ofrece determinados
elementos que integran la reforma pro salud, los cuales pueden ser
empleados en el desenvolvimiento de la misiología de la Iglesia Adventista
del Séptimo Día, contemporánea.

1Elena G. White, Consejos sobre el régimen alimenticio (Mountain View, CA:


PaciñcPress, 1959), 81.
586 ‫׳‬ I Paulo dos Santos

Debido al alcance del asunto, el estudio se propone fomecer una


visión panorámica, focalizada en episodios bíblicos ilustrativos, igualmente
puntualizar exclusivamente algunas citaciones de White que, reflejan la
trascendencia de la salud en la misión de comunicar el evangelio eterno.

Relación entre misiología y salud en el Antiguo Testamento


La importancia de la salud para el género humano, es estimada con
la misma trascendencia y grandeza que lo es el agua potable.2Los registros
de las más antiguas civilizaciones destacan, la importancia que integra esa
virtud.3
El Código de Hamurabi, revela que el interés por la salud y la
religión estaban íntimamente vinculados. Registros de la antigua Grecia,
desvendan que la medicina era practicada en los templos. Destacando los
siguientes santuarios: el de Tricca en la Tesalia, Cnido en el litoral Iónico,
el de Cós en la isla fronteriza; y entre los santuarios dedicados al arte de la
cura, sobresale el de Epidauro en la Argólida.4
En la Mesopotamia, era posible diferenciar dos tipos de profesionales
que practicaban la medicina, uno encargado de diagnosticarla y el otro de
curarla: el ashipu y el asu. En cuanto que en Egipto, se podían verificar
tres: los sacerdotes mágicos, los hechiceros y los médicos.5 De este modo,
la restauración de la salud estaba íntimamente entretejida con ejercicios
espirituales, porque la carencia de esta, era atribuida al mundo espiritual.6

2Ingo Bemd Güntert e Silésia Delphino Tosí, edres. A face humana da medicina
(São Paulo: Casa Psi, Editora e Gráfica, 2003), 13.
3Ibid., 23-24.
4Ibid., 29.
5Ashipu era el médico sacerdote, cuya función más importante era diagnosticar
la enfermedad... Ashipu iría a determinar, cuál dios o demonio era el responsable. El
también buscaba determinar si la enfermedad era resultado de algún error o pecado real-
izado por el paciente... Ashipu podía todavía, encaminar el paciente a un tipo diferente
de curador, el Asu. Este era principalmente especializado en remedios bultu‫׳‬. que traían
vida. Ibíd., 24, 25.
6Los líderes religiosos estaban encargados del mantenimiento de la salud públi-
ca. (A. Lockward, ed., Nuevo diccionario de la Biblia, electronic ed. [Miami: Editorial
Unilit, 2003], 690).
Relación entre la misiología y la salud, a lo largo de la historia | 587

Esta ideología encuentra su correspondencia en la Sagrada Escritura,


donde se afirma que, el pecado, es responsable por la introducción de las
enfermedades en la historia humana (Sal 31:10; 38:3). De manera que,
en términos generales, toda enfermedad tiene una raiz definitiva en la
condición pecaminosa del hombre (Isl :6, 18).
Por otro lado, los términos salvación y salud, están entrelazados tanto
en el Antiguo cuanto en el Nuevo Testamento y derivan de raíces similares.
La palabra hebrea y asha‘ salvar, la cual generalmente corresponde al
término griego sozo, integra diversas traducciones tales como: “salvar”,
"rescatar”, “librar”, “dar la victoria” etc.
El verbo yasha ‘ se encuentra más de 200 veces en la Biblia.7 Se
lo traduce entre otros, por salvación, rescate, libramiento. Todos estos
adjetivos que derivan de yasha‘, son favores otorgados por Dios, que a
menudo, son efectuados por intermedio de instrumentos humanos. Así
Dios ordena a Gedeón: “Ve con tu fortaleza y salva (yasha 0, a Israel de
mano de los madianitas” (Jue 6:14). A Samuel se prescribe que unja a
Saúl, para que este salve (yasha “), al pueblo de la mano de los Filisteos
NS 9:16). Con todo se entiende que la obra es de Dios y no del hombre.
Isaías afirma: “Miradme a mí, y sed salvos (yasha “), todos los términos de
la tierra; porque Yo Soy Dios, y no existe ningún otro” (Is 45:22).8
Por otro lado yasha ‘ desenvuelve un significado físico, a través del
cual Dios no solamente salva y perdona, como también cura. En algunos
pasajes de la Biblia, por ejemplo: el de Jeremías 17:14 el verbo rapha‘
"sanar”, es paralelo a yasha ‘ “salvar”, adquiriendo yasha \ el significado
de sanar, lo que implica la cura de una enfermedad física. De esta manera,
■asha ‘ va más allá de la simple cura de una dolencia, encierra una sanidad
completa, física y espiritual. Esto puede ser aclarado a través de pasajes

7W.E. Vine, Vine diccionario expositivo de palabras del Antiguo y del Nuevo Tes-
:amento exhaustivo, electronic ed. (Nashville: Editorial Caribe, 2000, el 999). Ver: salvar,
kbrar.
8Robert Baker Girdlestone, Synonyms o f the Old Testament: Their Bearing on
Christian Doctrine (Oak Harbor, WA: Logos Research Systems, Inc., 1998), 124.
588 I Paulo dos Santos

como el de 2 Reyes 2: 21, “Así dice el Eterno: Yo sané e'sta agua, y no


habrá más muerte ni enfermedad en ella”,9 e Isaías 30:26 “...el día que
vendare Jehová la herida de su pueblo, y cure la llaga que él causó”.101
San Agustín comentando el Salmo 32:5 afirma que, la voz del
penitente “aún no está en los labios, cuando la herida ya ha sido curada”.11
De ese modo la salvación llega ser una fuerza dinámica que trae bienestar
espiritual, emocional y físico, cercando al ser humano holísticamente.
En la médula de las orientaciones fornecidas por Dios a ‫־‬Adán y
Eva, después de la creación, salud y salvación se encuentran implícitas
y entretejidas. El libro de Génesis menciona que les fue dada una dieta
constituida por cereales, oleaginosas y diversas frutas las cuales fornecería
los nutrientes necesarios, para que tuviesen salud y energía (Gn 1:27-29).12
Igualmente, se les dio libre acceso al árbol de la vida, el cual,
estaba dotado con propiedades que preservaban la salud (Ap 22:2), y
proporcionaba vida eterna (Gn 3:22), de cuyo fruto fueron privados de
comer inmediatamente después de haber pecado.13
Por otro lado, al describir la tentación que condujo a la caída y la
pérdida del estado de santidad, la Biblia describe ciertos incumplimientos
substancialmente relacionados con las orientaciones dadas por Dios,
referentes a los cuidados de la salud y la salvación.
White relata que, en la presencia de Eva, el tentador “Comió a su gusto
del fruto del árbol,”14y destacó: “que no sólo era inofensivo, sino además
delicioso y estimulante.”15 Cuando Eva, motivada por las declaraciones

9Peter C. Craigie, Jeremiah 1-25: Word Biblical Commentary (Dallas: Word, In-
corporated, 2002), 26:234.
10Robert L. Alden, Job , The New American Commentary, electronic ed. (Nash-
ville: Broadman & Holman Publishers, 2001, cl993). Ver; Job 5:18.
11Francis D. Nichols, ed., Comentario bíblico Adventista del Séptimo Día (Mon-
tain View, CA: Pacific Press, 1988), 3:715.
12Nichols, ed., 1:229.
13Elena G. de White, Seguridad y paz en el conflicto de los siglos (Mountain View,
CA: PacificPress, 1960), 587.
14Idem, La historia de la redención (Mountain View, CA: PacificPress, 1980), 35.
15Ibid.
Relación entre la mísiología y la salud, a lo largo de la historia | 589

del enemigo, cedió a la tentación, comiendo del árbol prohibido, se sintió


deleitada con el fruto. “Su sabor le resultó delicioso, y se imaginó que
estaba experimentando en sí misma sus maravillosos efectos.”16Conjeturó
que estaba sintiendo el poder vivificante de una nueva y elevada existencia,
como resultado de la influencia estimulante del fruto.
Además, White describe que ella (Eva), experimentó un:

Estado de excitación extraña y antinatural cuando buscó a su


esposo [con] las manos llenas del fruto prohibido. Le habló
acerca del sabio discurso de la serpiente y manifestó su deseo
de llevarlo inmediatamente junto al árbol del conocimiento. Le
dijo que había comido del fruto, y que en lugar de experimentar
una sensación de muerte, sentía una influencia estimulante y
placentera.17

Seguidamente, insistió en que él debería comer. Adán, “Tomó el fruto


y lo comió rápidamente, y al igual que Eva, no sintió inmediatamente sus
efectos perjudiciales.”18
De ese modo, la señal de lealtad para con el Creador, el estado de no
pecaminosidad, la permanencia en el jardín y el desenvolvimiento de la
misión establecida por Dios, estuvieron substancialmente relacionados a
los aspectos del apetito, y los cuidados de la salud.19
Inmediatamente después de la caída, el evangelio eterno fue
proclamado explícitamente por Dios (Gn 3:15), seguido por el anuncio de
las consecuencias funestas originadas por el pecado, las cuales afectarían
desde entonces su dieta y salud (Gn 3:18, 22).
Siglos más tarde, cuando Israel fue investido como portador de la
misión divina de transmitir, las buenas nuevas al género humano; Dios, a
través de Moisés, estableció más de seiscientas ordenanzas identificadas
hoy en el Pentateuco, referente al cuidado de la salud. De las cuales, unas
16Ibid, 36.
17Ibid, 37.
18Ibid, 38.
19Ibid., 24.
590 I Paulo dos Santos

doscientas trece están vinculadas a aspectos higiénicos y de. prevención,


que integran una verdadera clase de medicina preventiva y salud pública.20
Por ese intermedio la Divinidad objetivaba evitar en Su pueblo, todo tipo
de epidemias comunes de Egipto y la antigua Sumeria.
Entre las orientaciones prescritas, se destacaban el empleo de baños
e higienización frecuente, que reglamentaban la vida sexual, prohibían
la prostitución, aislaban a los enfermos contagiosos (estableciéndose
cuarentena), imponían reglas dietéticas, etc.21
Igualmente, Dios instituyó una dieta característica; la cual la Biblia
especifica como “trigo del cielo... [y] pan de ángeles” (Sal 78:24, 25).
Los frutos de la implementación de este régimen, es descripto por el
salmista como responsable de la erradicación de toda enfermedad de
aproximadamente 3.000.000 de personas, durante un período de cuarenta
años (Sal 105:37).
Por consiguiente, era el propósito de Dios que, por medio de la
implementación de estas orientaciones (Ex 15:26), el pueblo de Israel
tuviese las condiciones para que la Divinidad, extinguiera de en medio
de ellos, toda enfermedad y todas las malas plagas que provenían de
Egipto (Dt 7:15). Suprimiendo de ese modo, la voz de llanto y de lamento,
reduciendo la mortalidad infantil, de tal modo que, el que muriese a los
cien años, sería considerado como muerte prematura; y el que no alcanzase
e esa edad, seria catalogado maldito (Is 65:19, 20).

20Lockward, ed., Nuevo diccionario de la Biblia, 690.


21El rey Asa “enfermó gravemente de los pies, y en su enfermedad no buscó a
Jehová, sino a los médicos” (2 Cr 16:12). Este rey probablemente sufría de gota. Se
lo critica porque, en vez de buscar a Dios en oración, acudió a médicos, tratando de
curarse con encantamientos y conjuros. Algunos piensan que la referencia es a médicos
egipcios... Las plantas medicinales más conocidas eran la mirra, la canela, la casia, el gál-
baño, el aloe, el cálamo aromático, el comino, el eneldo, la mandrágora, la mostaza, etc.
(Plantas de la Biblia), con las cuales se preparaban bebidas con fines médicos. La mayoría
de las veces se aplicaban también tratamientos que consistían en lavamientos, untura de
ungüentos y bálsamos, el uso de vendajes para las heridas y fracturas, el baño en aguas
terapéuticas, etcétera. (Lockward, ed., Nuevo diccionario de la Biblia, 690).
Relación entre la misiología y la salud, a lo largo de la historia | 591

La concretización de estas promesas: de longevidad y de inmunidad,


conducirían incluso a los paganos a reconocer la superioridad del Dios
viviente, en comparación con los dioses de las naciones,22 y la gloria de
Dios, su majestad y poder, serían revelados por intermedio de toda esa
prosperidad.
Entretanto, la trasgresión de los preceptos divinos por parte del
pueblo de Israel no solo inhibió el cumplimiento de esas promesas, como
también los condujo al exilio. A pesar del fracaso de ellos, la misiología
establecida por Dios permaneció inamovible, podemos verificar esto
haciendo un pequeño flash en la vida de Daniel y sus tres compañeros
en la tierra de los caldeos (Dn 1), vemos allí la íntima relación que existe
entre, salud y misiología.

Relación entre misiología y salud, en el Nuevo Testamento


En el Nuevo Testamento, salvación procede del término griego sozo
o sotena, que es traducido por libertad,23 y a semejanza del Antiguo, en
diversos lugares integra no solamente el significado de cura espiritual,
pero conjuntamente la salud física.24 Cuando conjugado, sozo, sozomai,
puede significar no solo “curar” pero “permanecer con buena salud”.25
Esta connotación, integrando el aspecto físico de soteria, tiene su
origen en la fiesta anual de Zeus‫׳‬, sosipolis en Magnesia; en la cual se
rogaba por la soteria de la ciudad, de los ciudadanos, de las mujeres, de los
niños y de otros residentes, inclusive del ganado.26

22Elena G. de White, Palabras de vida del gran maestro (Mountain View, CA:
P3cificPress, 1971), 231.
23Barclay M. Newman. Jr., Concise Greek-English dictionary‫ ׳‬o f the New Testa-
u ent, electronic ed. (Stuttgart, Germany: Deutsche BibelGesellschaft; United Bible So-
::¿ties, 1993), 177.
24Henry George Liddell and Robert Scott., An Intermediate Greek-English Lexi-
con. electronic ed. (Oak Harbor, WA: Logos ResearchSystems, 1996), 789.
25En filosofía sozo, o soteria, integran mayormente características de la salud inte-
nor del hombre, aunque Filón a menudo emplea sozo para definir la obra de los médicos,
. -ando se refieren a la salud del enfermo. (Gerhard Kittel and Gerhard Friedrich, edres.,
~neological dictionary, o f the New Testament, electronic ed. [Grand Rapids, MI: Eerd-
‫ ־‬ans, 1964-cl976], 7:967, 968, 988).
26Ibid., 7:967.
592 I Paulo dos Santos

En diversos lugares del Nuevo Testamento se emplea el verbo


sosetai, que proviene de la misma raíz que soteria, el cual se lo traduce por
sanar (Mr 3:4; 5:23, 28, 34; 6:56; 10:52; 15:30; Le 7:50; 8:36, 50; 17:19;
Jn 11:12; 12:27; Hch 4:9). Entretanto, cuando Cristo sozo, nunca se refiere
a un simple miembro del cuerpo pero a todo el ser.27
De este modo, salvación y cura se encuentran entrelazados en
el mensaje bíblico, no se puede restaurar el estado físico ignorando el
espiritual y viceversa. Este hecho, puede ser detectado desde los albores
de la humanidad.
A pesar de que salvación y cura, sigan manteniendo el mismo vínculo
en Nuevo Testamento, la misión en este periodo nos deparará con algunas
alteraciones. A partir de ese momento se agregará un nuevo cometido a
la misión centrípeta, también tendrá la función centrífuga. Pero aun el
vínculo entre la misión y la salud, permanecieron inalterable. Esto puede
ser apreciado, en la propia dieta prescrita para el precursor de Cristo, Juan
el Bautista (Le. 1:15).
De un modo semejante, este hecho puede ser atestiguado desde el
mismo inicio de la misión de Cristo aquí en la Tierra, la cual según Mateo
integró tres elementos: “enseñanza”, “predicación” y “sanidad” (Mt 4:23),
destacándose la sanidad, como el elemento que absorbió la mayor parte de
tiempo y energía, del ministerio realizado por Cristo aquí en esta Tierra.28
Del mismo modo, la primera incursión misionera de los doce
apóstoles, les fue ordenado:

Id . . . Y proclamad que el reino de los cielos está cerca. Sanad


enfermos, limpiad leprosos, resucitad muertos, echad fuera
demonios.” (Mt. 10:7, 8). Y Marcos destaca que: “Entonces
salieron, y predicaron que los hombres se arrepintiesen.
Echaron muchos demonios, y ungieron con aceite a muchos
enfermos, y los sanaron (Mr. 6:13).
27Ibid., 7:990. (J. H. Bernard, A critical and exegetical commentary on the Gospel
according to St. John, electronic ed. [New York: C. Scribner’ Sons, 1929], 1:120).
28Nichols, ed., 5:581, 582.
Relación entre la misiología y la salud, a lo largo de la historia | 593

Igualmente, a los setenta enviados más tarde, el Maestro estableció:


“En cualquier ciudad en que entraren y los recibieren... Sanad a los enfermos
que haya en ella, y decidles: Έ1 reino de Dios se ha acercado a vosotros’.”
(Le. 10:8, 9). Finalmente, antes de la ascensión Cristo, recalcó la misión
afirmando que: “Sobre los enfermos pondrán sus manos y sanarán” (Mr.
16:15-18).
De modo semejante, los hechos ocurridos en el ministerio de Cristo
fueron atestiguados en la incipiente iglesia cristiana, a tal punto que: “de
las ciudades vecinas muchos venían a Jerusalén, trayendo enfermos y
atormentados por espíritus impuros. Y todos eran curados” (Hch. 5:16).
Stott resalta la afirmación de John Wimber diciendo que, Jesús
inauguró el reino mesiánico y la era cristiana, a través de señales y
milagros.29Del mismo modo, tanto el establecimiento, cuanto el crecimiento
da iglesia en el libro de Hechos, fue determinado en grande parte por la
predominancia de prodigios que integraban aspectos de la salud. La
presencia del Dios vivo, manifestada a través de las curas y milagros, era
alarmante para algunos, y atrayente para otros. Algunos huían por temor,
en cuanto otros eran atraídos.30

Relación entre la misiología y salud en la Iglesia Adventista


Habían pasado mil ochocientos años desde el inicio del cristianismo
hasta el surgimiento del pueblo remanente, anunciado por el profeta Daniel
(Dn 8:13, 14). Dos elementos descollantes, deberían ser desvendados
y restaurados en el interior de este movimiento profético: el primero,
relacionado con la adoración a Dios, en el verdadero día de reposo, el séptimo
día, Sábado (Ap 14:6,7; Is 58:12-14; Ex 20:8-11), que fue proclamado en
alta voz. El segundo, un ministerio humanitario, concentrado en desatar
“las ligaduras de impiedad, soltar las cargas opresivas, dejar libres a los
quebrantados” profetizado por Isaías (Is 58:6).

29John R. W. Stott, A mensagem de Atos (São Paulo: Editora ABUB, 2005), 111.
30John Wimber, Kevin Springer, The Power Evangelism (San Francisco: Harper
Row, 1987), 117.
594 I Paulo dos Santos

White, convalida ambos elementos, afirmando que Isaías 58 presenta


una doble reforma, señalada por el mismo Dios, en la cual la Divinidad
ordena que: exalte el monumento conmemorativo, el cual ha sido hollado
por pies sacrilegos, y manifieste misericordia, benevolencia y la más tierna
piedad por la raza caída. También hizo otros comentarios sobre este asunto:

El amor revelado hacia la humanidad doliente da significado y


poder a la verdad.31

Cada aspecto delmensaj e del tercer ángel ha de serproclamado en


todas partes del mundo. Esta obra es mucho más importante de lo
que muchos creen... Admitido en corazones honestos, resultará
ser un antídoto para todos los pecados y pesares del mundo.32

No tengo temor por los obreros que están empeñados en la


obra representada en el capítulo cincuenta y ocho de Isaías....
El mensaje del tercer ángel no debe ser relegado a segundo
término en esta obra, sino que debe ser uno con ella.... Esta
obra ha de ser para el mensaje, lo que la mano es para el
cuerpo. Las necesidades espirituales del alma deben estar en
primer término (Carta 24, 1898).33

Esto armoniza plenamente con declaraciones de otros libros de la


autora ya citada, en los cuales afirma que: “El evangelio de la salud debe
estar firmemente vinculado con el ministerio de la Palabra”34 “la curación
es la misma esencia del evangelio,”35 “en la obra del Evangelio, jamás
deben ir separadas la enseñanza y la curación.”36 “Es imposible trabajar
por la salvación de los hombres y las mujeres sin presentarles la necesidad
31Elena G. de White, Ministerio de la bondad (Buenos Aires: Casa Editora Sud
Americana, 198), 35, 36.
32Manuscrito 75, del 20 de septiembre de 1906, “Una advertencia en relación con
las grandes inversiones para la producción de alimentos”.
33Elena G. de White, Ministerio de la bondad, 37.
34Idem, El evangelismo (Mountain View, CA: PacificPress, 1975), 375.
35Idem, Consejo para los maestros padres y alumnos (Mountain View, CA: Pací-
ficPress, 1971), 453.
36Idem, El ministerio de curación (Mountain View, CA: PacificPress, 1975), 100.
Relación entre la misiología y la salud, a lo largo de la historia | 595

de romper las complacencias pecaminosas que destruyen la salud, rebajan


el alma e impiden que la verdad divina impresione la mente.”37
Y finalmente, reafirma que, la obra descrita por el profeta Isaías
es que: “Partas tu pan con el hambriento, y a los pobres errantes metas
en casa; que cuando vieres al desnudo lo cubras, y no te escondas de
tu carne...” (Is 58:7). Comentando sobre este versículo White dice: “Se
refiere a muchos que tienen el alma aquejada por una enfermedad que
ningún bálsamo ni médico puede curar. Roguemos por estas almas.
Llevémoslas a Jesús. Digámosles que en Galaad hay bálsamo y Médico”.38
De este modo, la Biblia no solo predijo el surgimiento del remanente,
como también la restauración efectuada por él, y los elementos que
estarían integrando su misión. Estos ingredientes están tan “íntimamente
vinculados con las leyes de la salud, como el brazo derecho está vinculado
al cuerpo.”39 Por tanto, la obra de Dios es la misma en todos los tiempos,
a pesar de que exista diversos grados de desenvolvimiento y diferentes
manifestaciones de Su poder.

Relación entre la misiología y salud en la posmodernidad


Desde los albores del cristianismo, muchas corrientes de pensamiento
agitaron la mente humana. Después de la edad media, asociado al
Modernismo surgió el desenvolvimiento científico, la tecnología, los
avances de la medicina, presagiando un futuro promisor sobre el cual la
humanidad depositó su esperanza. Pero al advertirse la imposibilidad de
la ciencia para solucionar los problemas básicos de la sociedad, el hombre
moderno renunció este modo de pensar, y buscó nuevas vislumbres a
las cuales aferrarse, generando de este modo el Posmodemismo o era
Posmodema.

37Idem, Consejos sobre la salud (Mountain View, CA: PacificPress, 1989), 443.
38Idem, La historia de los profetas y reyes (Buenos Aires: Casa Editora Sud Ameri-
cana, 1957), 530, 531.
39Idem, “Review and Herald”, 14-2-1888.
596‫ ל‬I Paulo dos Santos

Esta era, del Postmodemismo, surge en contraposición al Modernismo,


y es definida como época del desencanto. Se renuncia a las utopías y la idea
de progreso. Deja de importar el contenido del mensaje, para revalorizar
la forma en que este es transmitido y el grado de convicción que pueda
producir. Los individuos están preocupados en vivir el presente; el futuro
y el pasado pierden importancia. Hay una búsqueda de lo inmediato. Se
rinde culto al cuerpo y la liberación personal.
La gran preocupación se centraliza en el yo: el ser humano pos
moderno se preocupa con el beneficio que le proporciona él tocar, sentir
y recibir. No está interesado en una verdad abstracta, pero sí, que sea
relevante y práctica, que atienda a los diversos estratos de la sociedad y en
las diversas culturas.
En este contexto nuevamente se acentúa la importancia de la sanidad,
en el desenvolvimiento de la misiología. Ésta, constituye un estilo peculiar y
superior para acceder y satisfacer esa necesidad, sentida por el ser humano.
A medida que el cuerpo esté gozando de plena salud, simultáneamente
se instaurará una disposición mental auténtica, que habilitará al individuo
para recibir el evangelio, lo cual suplirá su real necesidad.
Por otro lado las más hermosas verdades de las Escrituras fueron
comunicadas a través de figuras, imágenes, metáforas y símbolos. La
Omnisciencia divina estaba al tanto de que ese tipo de lenguaje, no solo
facilitaría la compresión del mensaje, como también su retención.
White, a semejanza de los demás escritores bíblicos, emplea este
estilo literario, para comunicar los beneficios que integran el empleo de la
salud, en el desenvolvimiento de la misiología.
Relación entre la misiología y la salud, a lo largo de la historia | 597

Metáforas que revelan la relación entre la misiología, y la salud

Cuña
“Puedo ver que en la providencia de Dios la obra médico-misionera
ha de ser una gran cuña de entrada, por medio de la cual puede ser alcanzada
el alma enferma.”40

Llave
“Nada abrirá puertas para la verdad como la obra evangélica médica
misionera.... Puertas que han estado cerradas para el que meramente
predica el Evangelio, se abrirán para el médico misionero inteligente.
Dios alcanza los corazones por medio del socorro del alivio físico.”41

Puerta
“La obra médica misionera es una puerta a través de la cual la verdad
ha de encontrar entrada a numerosos hogares en las ciudades.”42
“Esta es la puerta a través de la cual la verdad ha de hallar entrada a
las grandes ciudades.”43

El trabajo médico misionero es una obra de pioneros para el


Evangelio, es la puerta por la cual la verdad para estos tiempos
hallará entrada en muchos hogares. De este modo muchas
personas que no serían alcanzadas de otra manera escucharán
el mensaje del Evangelio.44

En todas partes hay enfermos, y los que van como obreros


de Cristo debieran ser verdaderos reformadores en pro de
la salud, y debieran estar preparados para administrar a los

40White, Consejos sobre el régimen alimenticio, 90.


41Idem, El evangelismo, 374.
42Idem, Consejbs sobre salud, 557.
43Idem, Testimonies fortheChnrch (Nampa, ID: PacificPress, 1948), 9:167.
44Idem, Consejos sobre la salud, 497.
598 I Paulo dos Santos

enfermos los tratamientos sencillos que los aliviarán; después


de esto pueden orar con ellos. En esta forma abrirán la puerta
para la entrada de la verdad. La realización de esta obra será
seguida por buenos resultados (Medical Ministry, pág. 320.
Año 1911).45

La mano derecha
“Como la mano derecha del mensaje del tercer ángel, los métodos de
Dios para tratar la enfermedad abrirán puertas para la entrada de la verdad
presente.”46
“La obra de la reforma pro salud, es la mano derecha del mensaje
del tercer ángel. La mano derecha se usa para abrir puertas por las cuales
el cuerpo pueda entrar. Ésta es la parte que la obra médico-misionera ha
de desempeñar.”47

Prepara el camino
“Haced obra médico-misionera. Así ganaréis acceso a los corazones
de la gente. Se preparará el camino para una proclamación más decidida de
la verdad. Hallaréis que el aliviar el sufrimiento físico da una oportunidad
de ministrar a las necesidades espirituales de la gente.”48
“Por consiguiente, aliviando el dolor del cuerpo se abre el camino
para sanar al alma enferma de pecado.”49

Abre los corazones


“Esa obra hallará acceso a los corazones y las mentes, y será un
medio para convertir a muchas personas a la verdad.”50

45Idem, El evangelismo, 376.


46Ibid., 390.
47White, Medical Ministry (Nampa, ID: Pacific Press, 1963), 238.
48Idem, Un llamado al evangelismo médico y a la educación sanitaria (Mountain
View, CA: PacificPress, 1973), 9.
49Idem, Manuscrito 88, 1902.
50Idem, El evangelismo, 374.
Relación entre la misiología y la salud, a lo largo de la historia | 599

Quiebra prejuicios
“Una demostración de los principios de la reforma pro salud, hará
mucho para deshacer los prejuicios contra nuestro trabajo evangélico.”51
“Primero hay que satisfacer sus necesidades físicas. A medida que
vean evidencias de nuestro amor abnegado, será más fácil para ellos creer
en el amor de Cristo.”52
Por consiguiente, las metáforas, de la cufia, llave, puerta, mano
derecha, camino, etc., expresadas por White, comunican los diferentes
papeles que despeña la reforma pro salud, como parte del evangelio eterno,
en el desenvolvimiento de la misiología. Entretanto, conjuntamente con
las metáforas, nos deparamos con motivos específicos por los cuales, la
misiología y la salud deben estar vinculadas.

Razones por las cuales la misiología, y la salud deben estar unidas

Cristo lo empleó, y únicamente su método, puede dar auténtico


resultado
White afirma que únicamente el método de Cristo traerá verdadero
éxito. Y describe ese método comentando que, “El Salvador se mezclaba
con los hombres como alguien que deseaba su bien. Les manifestaba
simpatía, atendía a sus necesidades, y ganaba su confianza. Luego los
invitaba a que Lo siguieran.”53 Y luego expresa: “Mientras iba de un lugar
a otro, bendecía y consolaba a los sufrientes y sanaba a los enfermos.”54

Es parte de la verdad
“Soy libre de la sangre, [Pablo afirmó que]...no dejé de dar todo el
consejo de Dios” (Hch 20:26, 27).

51Idem, Consejos sobre la salud, 497.


52Idem, El evaiigelismo, 397.
5‫־‬,Idem, Obreros evangélicos (Mountain View, CA: Pacific Press, 1986), 376.
54Idem, Consejo sobre salud, 501.
600 I Paulo dos Santos

“Dijo el ángel: O s mego... que os abstengáis *de los deseos


camales que batallan contra el alma’ (1 P 2:11). Usted, ha tropezado
contra la reforma pro salud. A usted le parece que es un apéndice
innecesario de la verdad. No es así; es parte de la verdad.”55 En
otra ocasión White agrega: “La obra médica misionera, la atención
de los enfermos y dolientes, no se puede separar del Evangelio.56

El mundo está accesible a ella


White, al hablar de la accesibilidad del mundo para con la obra
médico misionera, emplea tres expresiones “Abierto”, “espera”, “está listo
para aceptarla”. Encontramos una frase de la autora que dice que: “hay
gran necesidad de esta obra, y el mundo está abierto hacia ella.”57
Se alcanzarán personas que, por otro medio no se lo lograría.
“Este mundo se parece a un hospital lleno de víctimas de enfermedades
físicas y espirituales.”58 “Por medio de esta obra, alcanzaremos almas así
en los caminos como en los vallados.”59
Traerá el aliento de vida para las Iglesias. “Mandad a las iglesias
obreros que vivan de acuerdo con los principios de la reforma pro salud.
Enviad a quienes puedan ver la necesidad de dominar el apetito, pues de lo
contrario serán una trampa para la iglesia. Ved si entonces no penetrará el
aliento de vida en nuestras iglesias.”60

55Idem, Consejo sobre el régimen alimenticio, 44, 45.


56Idem, Consejo sobre la salud, 535.
57Idem, El ministerio de la bondad (Mountain View, CA: PacificPress, 1987), 123.
Todo obrero evangélico debe comprender que la enseñanza de los principios que rigen
la salud forma parte de la tarea que se le ha señalado. Esta es muy necesaria y el mundo
la espera. (White, Consejos sobre régimen alimenticio, 550). Todo obrero evangélico de-
biera sentir que la enseñanza de los principios de la vida saludable, constituye una parte
de su propio trabajo. Existe una gran necesidad de esta obra y el mundo debe estar listo
para aceptarla. (White, Consejos sobre salud, 387).
58Idem, Consejo sobre el régimen alimenticio, 548.
59Ibid., 536.
60Idem, Joyas de los testimonios (Buenos Aires: Casa Editora Sud Americana,
1987), 2:505.
Relación entre la misiología y la salud, a lo largo de la historia | 601

Irá cobrando mayor importancia. “Debemos creer con una fe firme


y permanente que este mensaje irá cobrando siempre mayor importancia
hasta la consumación de los tiempos.”61
Propiciará la lluvia tardía. “La lluvia tardía será derramada
solamente sobre aquellos que hayan tenido, una experiencia previa de
victoria, sobre los hábitos erróneos de salud.”62
Por consiguiente, la misión de proclamar el “Evangelio Eterno”
debe ser inspirada y orientada en el método de Cristo, quien fue el primer
misionero a emplearla, teniendo en cuenta que ella es: parte de la verdad,
el mundo está accesible a ella y por su intermedio se alcanzará a personas
que por otros medios no se alcanzarían, traerá el aliento a la vida de la
iglesias, irá cobrando mayor importancia y en último lugar propiciará el
derramamiento de la lluvia tardía.

Conclusión

Finalmente, la misiología y la salud, se encuentran vinculados desde


el momento que Adán y Eva se hallaban en su estado de santidad en el
jardín del Edén. Este vínculo permaneció latente como una cadena a través
del ministerio de Israel como nación escogida por Dios. Continuó durante
el ministerio terrenal de Cristo, en la iglesia primitiva y en el surgimiento
del pueblo remanente. Igualmente, en la era pos Moderna, la salud como
parte de la misiología constituye un estilo peculiar y superior, para acceder
y satisfacer la necesidad que el ser humano siente, preparando así el
corazón, para la recepción del evangelio.
Ratificando que, este vínculo entre misiología y salud es inseparable,
sintetizaremos la trascendencia de esta unión a través de cinco razones:

61Idem, Consejo sobre el régimen alimenticio, 42.


62Idem, Testimonies, 1:486, 487.
602 I Paulo dos Santos

Primera: el pecado no afectó únicamente la naturaleza espiritual del


hombre; esto puede ser atestiguado por el hecho que desde los tiempos
más remotos, la medicina fue empleada por el hombre.63
Simultáneamente en la Biblia, salud y salvación son sinónimos; y
así como por todas partes existen personas enfermas físicamente, también
se encuentra personas enfermas por el pecado. La reforma pro salud
propiciará el acceso a esas almas que no tienen consciencia de su real
estado. ¿Si nuestro Evangelio no soluciona el problema de la salud, será
que puede ser considerado como buenas nuevas?
Segunda: tanto Cristo cuanto sus apóstoles, hicieron copioso uso de
métodos que envolvían salud, en el desenvolvimiento de la misión. De
modo semejante, la salud se encontró entre los dos elementos descollantes
profetizados por Isaías, que integrarían las restauraciones efectuadas por
el pueblo remanente.
Tercera: los medios modernos de comunicación transformaron el
mundo en una aldea global, por tanto el evangelio debe ser sensible a todas
las diferencias culturales, lingüísticas e ideológicas, o sea, multicultural.
El empleo de la salud, propiciará una misiología a través de un lenguaje
comprendido por el pueblo en general, atendiendo las necesidades de la
sociedad contemporánea globalizada, desde una perspectiva bíblica.
Cuarta: en la actualidad, la preocupación con la prevención de
las enfermedades, ha sido un tema frecuente en las diversas áreas del
conocimiento. La cuestión emergió a partir de la década del noventa; por
intermedio de investigaciones referentes a cuáles son los métodos efectivos
para, desenvolver comportamientos saludables y eliminar aquellos hábitos
que causan enfermedades. Desde entonces se tomó el tema preponderante
en los diferentes medios de comunicación.

63Los registros más antiguos, según los investigadores, pertenecen a los Vedas.
También hay registros junto a chinos, hindúes, egipcios y griegos, además de los indios
con sus curanderos.
Relación entre la misiología y la salud, a lo largo de la historia | 603

Por consiguiente, desarrollar cambios que desenvuelvan padrones de


comportamientos saludables y al mismo tiempo incrementen el aumento
y la calidad de vida, se tomó relevante y al mismo tiempo, solicitado
por todos los estratos de la sociedad. Podríamos afirmar que: desarrollar
cambios que desenvuelvan padrones de comportamientos saludables, es lo
que integra el ámago de los principios divinos de salud.
Quinta: el mundo pos moderno ha experimentado un cambio en los
últimos años, del pensamiento para el sentimiento. No están interesados
en definiciones abstractas de la verdad, pero sí, en una verdad relevante;
la cual pueda atender los diferentes sectores de la sociedad, así como las
diversas culturas proporcionando los beneficios esperados. La reforma pro
salud constituye un estilo peculiar y superior, para acceder y satisfacer
la necesidad que el ser humano siente. A medida que los cuerpos sean
sanados, las mentes quedarán aptas para recibir y vivir el evangelio.
Eso es confirmado por White cuando alega que “Muchas de
estas personas pueden ser alcanzadas únicamente, por actos de bondad
desinteresados. Hay que atender primero sus necesidades físicas:
alimentarlas, limpiarlas y vestirlas decentemente. Al ver la evidencia del
verdadero amor abnegado, les será más fácil creer en el amor de Cristo.”64
“El Gran Médico, el originador de la obra médica misionera,
bendecirá a todas las personas que se esfuercen por impartir la verdad para
este tiempo.”65 De este modo, la salud puede ser empleada a servicio de la
misión de Dios, en favor de la humanidad, acomodándose al hombre, a su
lenguaje, su cultura y a sus capacidades.66

64Idem, Palabras de vida del gran maestro, 319.


65Idem, Consejos sobre la salud, 497.
66Bernard Ramm, La revelación especial y la Palabra de Dios, (Buenos Aires:
Editorial la Aurora, 1967), 31.
AS RELAÇÕES DE PODER NA IGREJA E
SUAS IMPLICAÇÕES PARA O MODELO
CONGREGACIONALISTA E A MISSÃO DA IGREJA

Ozeas C. Moura
Centro Universitário Adventista de São Paulo, Brasil

111(11111111M11111111111111N11>111111111111111111111111111111n1111111111111111m11111m11111111111111111111111111]11111111mm1m11111111111111111111111111¡1111111111111111111

A terceira epístola de João lança luz sobre a maneira correta de


liderança na igreja e como isso afeta sua missão. A disputa pelo poder
travada por Diótrefes, contrapondo-se a Gaio, Demétrio e o apóstolo
João mostra que as idéias congregacionalistas não são tão novas assim.
O apóstolo João já as enfrentou por volta do I século de nossa era e
sua terceira epístola é de muito proveito quando se estuda o assunto da
liderança eclesiástica e a missão da igreja.

Autoria

O estilo similar dessa epístola com as outras duas atribuídas


ao apóstolo João, indicam esse apóstolo como seu autor. Nos antigos
manuscritos, seu título é loanou - “de João.”1
Apesar da disputa quanto à autoria joanina dessa e das outras duas
epístolas, não há argumentos convincentes para se duvidar de que João, o
discípulo amado, tenha escrito 0 que conhecemos como a Terceira Epístola
de João.1

1Nichol, F. D., ed. Comentario Bíblico Adventista del Séptimo Dia, Vol. 7. (Boise:
Publicaciones Interamericanas, 1990), 711.
606 I O zeas C. Moura

Data

A escassez de informações históricas dificulta a datação dessa


epístola. No entanto, os estudiosos da Bíblia mais conservadores creem
que ela foi escrita perto da morte de João, no fim do primeiro século da
era cristã.2

Tema

A terceira epístola de João foi escrita “contra tendências cismáticas,


exemplificadas pelas ações de Diótrefes”.3

Destinatário

A terceira epístola de João é uma das poucas que foi endereçada


a uma pessoa (as outras são Filemom, 1 e 2 Timóteo e Tito), em vez de
a uma congregação. O destinatário é Gaio, um fiel cristão e cooperador
do apóstolo João em uma ou mais igrejas sob a responsabilidade desse
apóstolo.4

Esboço de 3a João:

• Saudação a Gaio (vs. 1-4)


• O problema dos evangelistas itinerantes (vs. 5-8)
• Diótrefes, o ditador (vs. 9-11)
• Demétrio, o cooperador (v. 12)
• Conclusão (vs. 13-15)

2Nichol, F. D., op. cit., 711.


3Ibid.
4Champlin sugere que Gaio, um discípulo imediato de João, fosse tanto 0 repre-
sentante deste apóstolo, como aquele que manteve a influência e a autoridade joaninas,
após a morte de João (Champlin, R. N. O Novo Testamento Interpretado, Vol. 6. São
Paulo: Candeia, 1995), 314.
As relações de poder na Igreja e suas implicações | 607

Saudação a Gaio (vs. 1-4)

“O presbítero ao amado Gaio, a qaem en amo na verdade. Amado,


acima de tudo, faço votos por tna prosperidade e saúde, assim como é
próspera a tua alma. Pois fiquei sobremodo alegre pela vinda de irmãos e
pelo seu testemunho da tua verdade, como tu andas na verdade. Não tenho
maior alegria do que esta, a de ouvir que meus filhos andam na verdade. ”
“O presbítero...” (v. 1) - Essa palavra grega {presbíteros),
originalmente se referia a alguém idoso, que chegou a exercer 0
ministério pastoral, daí sua tradução como “ancião”.5 Com o passar do
tempo, o “presbítero” tomou-se “bispo” (episkopos), com autoridade
mais ampla. Esses termos gregos eram empregados como sinônimos no
Novo Testamento (cf. At 20:17,28; Tt 1:5-7). O vocábulo “presbítero” foi
empregado para se referir aos apóstolos como “anciãos supervisores”, que
exerciam autoridade especial nas igrejas. Esse é o uso do vocábulo em 3
João.
“...ao amado Gaio” (v. 1) - Este era um nome bastante comum na
época em que João escreveu essa epístola. Talvez fosse o nome mais
comum em todo o império romano.6 O Novo Testamento menciona várias
pessoas com esse nome (cf. At 19:29; 20:4; Rm 16:23; 1C0 1:14; 3J0 1).
O Gaio mencionado na 3a Epístola de João é descrito como alguém que
anda na verdade e que hospeda os irmãos, mesmo que fossem estrangeiros
(vs. 3 e 5).
Talvez Gaio, como representante do apóstolo João, exercesse
controle espiritual sobre uma área geral, que incluía a igreja onde Diótrefes
atuava, ou até fossem membros de uma mesma igreja.7 “De qualquer
maneira, o relacionamento entre ele e Diótrefes era bastante crítico.”8

5Ibid.
6Stott, J. R. W. 1,11, e 111João - introdução e comentário. (São Paulo: Vida Nova,
1985), 187.
7Ibid, 193. A opinião de C. H. Dodd é que Gaio e Diótrefes eram membros de
igrejas vizinhas.
8Champlin, R. N. O Novo Testamento Interpretado, V01.6, 315.
608 I O zeas C. Moura

“...pela vinda de irmãos” (v. 3) - “Irmão” é título 'comumente


aplicado aos crentes em Cristo, para indicar a fraternidade na fé, por terem
todos um mesmo Pai, um Irmão mais velho (Jesus), e por estarem unidos
pelos laços de amor à família espiritual, a igreja.9Nesse verso, o vocábulo
parece se aplicar aos evangelistas enviados por João, que agora retomavam
com notícias sobre a igreja da qual Gaio era membro, ou sob sua jurisdição.
“...meus filhos” (ta ema tekna) (v. 4) - designação a Gaio e aos
cristãos associados a ele.101

Os evangelistas itinerantes (vs. 5-8)

“Amado, procedes fielmente naquilo que praticas para com os


irmãos, e isto fazes mesmo quando são estrangeiros, os quais, perante a
igreja, deram testemunho do teu amor. Bem farás encaminhando-os em
sua jornada por modo digno de Deus; pois por causa do Nome fo i que
saíram, nada recebendo dos gentios. Portanto, devemos acolher esses
irmãos, para nos tornarmos cooperadores da verdade. ”
Os “irmãos..., mesmo quando são estrangeiros”, mencionados
no verso 5, eram evangelistas itinerantes, possivelmente enviados pelo
apóstolo João, os quais tiveram boa acolhida da parte de Gaio.11A verdade
é que a fé cristã deve ser manifestada de maneira prática, tal como Gaio
fazia.
“Bem farás encaminhando-os em sua jomada por modo digno...”
(v. 6). “Era costumeiro entre os judeus que vários deles acompanhassem
até certo ponto do caminho a um rabino que estivesse em viagem,
ajudando-o em seu trabalho por meio de doações. Esse costume, portanto,
foi incorporado na igreja cristã.”12 Um exemplo de “encaminhamento”
de líderes religiosos é o mencionado em Tito 3:13: “Encaminha com

9Ibid, 316.
10Ibid, 317.
11Ibid.
12Ibid., 318.
As relações de poder na Igreja e suas implicações ] 609

diligência Zenas, o intérprete da lei, e Apolo, a fim de que não lhes falte
coisa alguma.”
O Didaqué, manual eclesiástico do primeiro século ...mostra que, às
vezes, a hospitalidade cristã primitiva sofria abusos. São dadas instruções
no sentido de que um “apóstolo” não se hospede por mais de um dia, ou,
em caso de necessidade, dois. “Se ficar três dias, é falso profeta” (11.5). Ao
partir, ele pode receber alimento bastante para sustentá-lo em sua viagem.
Mas “se ele pedir dinheiro é falso profeta” (11.6), ...a menos que o dinheiro
seja “para outros, que estejam passando necessidade” (11.12).13
O pedido do apóstolo João é que os “irmãos” pregadores itinerantes
do evangelho fossem acolhidos (v.8), pois eles eram evangelistas autênticos
e não pregadores gananciosos.14 Vê-se, por esse pedido, que a prática da
hospitalidade cristã é uma maneira de nos tomarmos “cooperadores da
verdade” (v. 8).

Diótrefes, o ditador (vs. 911‫)־‬

“Escreví alguma coisa à igreja; mas Diótrefes, que gosta de exercer


a primazia entre eles, não nos dá acolhida. Por isso, se eu for aí, far-lhe-
ei lembradas as obras que ele pratica, proferindo contra nós palavras
maliciosas. E, não satisfeito com estas coisas, nem ele mesmo acolhe os
irmãos, como impede os que querem recebê-los e os expulsa da igreja.
Amado, não imites o que é mau, senão o que é bom. Aquele que pratica o
bem procede de Deus; aquele que pratica o mal jamais viu a Deus. ”
“Diótrefes” (v. 9) - Nome bastante raro, só encontrado em famílias
nobres e antigas.15 Seu nome significa “Nutrido por Deus”.16 Mas ele não
fazia jus a esse significado, pois nutria a si mesmo.

13Stott, J. R. W. I, II, e III João —introdução e comentário, 186-187.


14Champlin,*R. N. O Novo Testamento Interpretado, Vol. 6, 318.
15Stott, J. R. W., 194.
16Champlin, R. N., Vol. 6, 319.
6J O I O zeas C. Moura

“...que gosta de exercer a primazia entre eles...” (v.9). Diótrefes


“era um individuo refratário, dotado de excessivas ambições pessoais....
Ele repelia toda autoridade fora de si mesmo.”17 “Tinha a si mesmo como
senhor e Deus. Isso, naturalmente, é uma forma de idolatria, e da pior
espécie. E a atitude exatamente oposta à do amor, porquanto o amor
consiste de altruísmo, ao passo que fazer do próprio eu um pequeno ‘deus’
é a essência mesma do egoísmo.”18
“...não nos dá acolhida” (v. 9). Com essa expressão, João está dizendo
que Diótrefes não reconhece sua autoridade, “ou seja, a autoridade da‫־‬igreja
central de Efeso e, por consequência, a autoridade do evangelho apostólico
e das igrejas locais fundadas de acordo com atradição apostólica”.19A carta
que João mandara à igreja sob a influência de Diótrefes (v.9) parece que
foi destruída por esse “pequeno-césar”20, talvez por conter ensinamentos
anti-gnósticos, dos quais Diótrefes era adepto.21 “Diótrefes, em contraste
com Gaio, procurava entre eles o primado e recusava-se a reconhecer o
apóstolo [João] que, aparentemente, era 0 superintendente.”22
Ficamos admirados como um líder da igreja (talvez Diótrefes fosse
um “presbítero”) não mantivesse comunhão com um dos apóstolos de
Cristo. “Diótrefes teria aprendido muita coisa com João. Mas Jesus Cristo
não tinha a primazia em sua vida e, portanto, Diótrefes acreditava que
podería tratar o apóstolo idoso dessa maneira.”23E “a menos que Diótrefes
[fosse] detido, somente seguidores cegos [seriam] deixados em sua
congregação e ele a [transformaria] numa seita, no moderno sentido da
palavra.”24
17Ibid.
18Ibid., 319 e 320.
19Ibid., 320.
20Ibid.
21Nichol, F. D., ed. Comentário Bíblico Adventista del Séptimo Dia, Vol. 7. (Boise:
Publicaciones Interamericanas, 1990), 714.
22Harvey Blaney, J. S., in: Taylor, R. S., et al. Comentário Bíblico Beacon: A Ter-
ceira Epístola de João, Vol. 10. (Rio de Janeiro: CPAD, 2006).
23Wiersbe, W. W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento, Vol. 2. (Santo
André: Geográfica Editora, 2006), 696.
24Stem, David H. Comentário Judaico do Novo Testamento. (São Paulo: Atos,
2008), 851.
As relações de poder na Igreja e suas implicações | 611

A atitude de Diótrefes é o embrião do congregacionalismo, no qual as


igrejas tendem a se tomar independentes de qualquer órgão administrativo
fora dela mesma, e procuram caminhar sozinhas. Esse sistema de governo
prejudica a unidade da igreja, bem como o foco de sua missão. Caso as
igrejas sejam independentes umas das outras está aberto o caminho para
idéias heréticas (como parece ser 0 caso de Diótrefes que, possivelmente,
mantivesse idéias gnósticas)25, e para a impossibilidade de execução de
planos unificados para a pregação do evangelho, elaborados por um órgão
administrativo fora da igreja local.
“...nem ele mesmo acolhe os irmãos, como impede os que querem
recebê-los...” (v. 10). Esse “irmãos” devem ser distinguidos dos demais
irmãos, membros da igreja local onde Diótrefes era membro e dirigente.
São os “irmãos” mencionados no verso 5, ou seja, missionários ou
evangelistas itinerantes, enviados por e sob a autoridade do apóstolo João.
Os evangelistas itinerantes que ele se recusava a receber eram
despedidos porque representavam uma “autoridade” à qual ele não se
submetia. Além disso, provavelmente representavam uma doutrina
que ele não queria propagar em sua igreja ou igrejas. Disso se entende
que Diótrefes era advogado do erro gnóstico. Esse “pequeno-césar” se
recusava a cooperar com o movimento missionário da igreja apostólica.
Ele edificava o seu próprio pequeno império, o qual, provavelmente, não
faria parte da igreja cristã, quando ele tivesse terminado.26
“...como impede os que querem recebê-los e os expulsa da igreja”
(v. 10). Diótrefes fazia uma oposição tão feroz ao apóstolo João que, além
de não receber os enviados por esse apóstolo, excomungava aqueles que o
faziam. Agindo assim, promovia o cisma na igreja.27E, como consequência,
atrapalhava a pregação do evangelho e o crescimento da igreja.

25John Stott não concorda com essa ideía e diz que “não há provas que a divergên-
cia [com João] fosse teológica, pois se fosse, João teria exposto o erro com a mesma
linguagem intransigente que empregara na primeira e segunda epístolas. Não heresia
doutrinária, mas ambição pessoal, era a causa do aborrecimento” ( I, II, e 111 João - in-
U-odução e comentário, 195).
26Champlin, R. N., Vol. 6, 320.
27Ibid.
612 I O zeas C. Moura

“Amado, não imites o que é mau...” (v. 11). O “amado’5, aqui, é Gaio,
que é mencionado em contraposição ao “mau” Diótrefes. Este, além não
reconhecer a autoridade de João (v. 9), não acolher os enviados por esse
apóstolo, impedir os membros de sua igreja de recebê-los e expulsar da
igreja os que os recebiam, acrescentava à sua maldade o proferir palavras
“maliciosas” (ponerois) contra o apóstolo (v. 10). O vocábulo empregado
por João para caracterizar as palavras de Diótrefes {poneros) é o mesmo
que Jesus usou na Oração Modelo (Mt 6:13), ao se referir a Satanás. Isso
indica que a recusa de Diótrefes em atender as orientações de João e em
trabalhar em cooperação com esse apóstolo o colocara sob direta influência
do diabo, o “acusador dos irmãos” (Ap 12:10). Assim, não é de admirar
que o desejo de grandeza pessoal leve à rebelião contra as orientações
de outros, à perseguição e excomunhão daqueles que pensam de maneira
diferente, ao cisma na igreja, e ao comportamento claramente satânico. Tal
era o caso de Diótrefes.

Demétrio, o cooperador (v. 12)

“Quanto a Demétrio, todos lhe dão testemunho, até a própria


verdade, e nós também damos testemunho; e sabes que o nosso testemunho
é verdadeiro. ”
“Demétrio” é nome grego bastante comum. O nome significa
“pertencente a Demeter”, isto é, à deusa da agricultura, conhecida, em
latim, como Ceres.2829
Há, no Novo Testamento, duas pessoas chamadas “Demétrio”:
um ourives de Éfeso, o qual provocou um levante contra Paulo (At 19:24,
38), e este, mencionado na 3a Epístola de João, acerca do qual nada mais
sabemos, além das informações contidas nessa epístola. Talvez foi ele 0
portador dessa terceira epístola de João.29

28Nichol, F. D., ed. Comentário Bíblico Adventista del Séptimo Dia, Vol. 7, 715.
29Champlin, R. N. O Novo Testamento Interpretado, Vol. 6, 321.
As relações de poder na Igreja e soas implicações | 613

“Quanto a Demétrio, todos lhe dão testemunho, até a própria


verdade, e nós também damos testemunho...” (v. 12). Esse “elogio de João
quanto a Demétrio remove qualquer suspeita de que seu nome pagão 0
levasse a ter alguma simpatia para com a religião pagã.”30
Podemos apenas conjecturar quanto aos motivos do tríplice
testemunho de João (de todos, da verdade e do próprio apóstolo) sobre
Demétrio. Talvez (1) porque ele teria sido o portador da epístola, (2) porque
era um assistente itinerante do apóstolo João, ou (3) porque ele fora objeto
da maldade de Diótrefes, e era preciso recuperar a confiança de Gaio nele.
A primeira hipótese é a mais provável, visto que João recomenda Demétrio
a Gaio como se este ainda não o conhecesse.31
O apóstolo João relacionou Diótrefes com o que é “mau5(v.ll).
Demétrio, por sua vez, é relacionado ao que é “bom.” “A genuinidade
cristã de Demétrio não precisava da prova dos homens; provava-se por si
mesma. A verdade que ele professava estava tão encarnada nele, [que] sua
vida se ajustava a ela.”32
Uma vez que João contrapõe Diótrefes a Demétrio, podemos,
por inferência, perceber as qualidades deste último: pessoa de disposição
humilde, altruísta, cooperadora e acatadora das ordens da igreja em nível
mais amplo. Enfim, um promotor da paz, da harmonia e, por consequência,
do crescimento da igreja e do fortalecimento de seus irmãos na fé e nas
doutrinas verdadeiras.

Epílogo (vs. 13-15)

“Muitas coisas tinha que te escrever; todavia, não quis fazê-lo com
tinta e pena, pois, em breve, espero ver-te. Então, conversaremos de viva
voz. A paz seja contigo. Os amigos te saúdam. Saúda os amigos, nome por
nome. ”

30Nichol, F. D., ed. Comentário Bíblico Adventista del Séptimo Dia, Vol. 7, 715.
31Stott, J. R. W. I, II, e III João —introdução e comentário, 197.
32Ibid.
614 I O zeas C. Moura

“...em breve, espero ver-te” (v. 14). João esperava, se encontrar


não somente com Gaio (v. 14), mas também com Díótrefes (v. 10), para
tratar pessoalmente com esse líder rebelde, maldizente e ditador, além de
fortalecer a liderança correta de Gaio.
“Apaz [eirene] seja contigo” (v.l5a). Essa é uma saudação hebraica,
onde o vocábulo “eiréne” equivale à “shalom”. Jesus a empregou várias
vezes, após Sua ressurreição, para animar e fortalecer os temerosos
discípulos (ver João 20:19,21,26). Seu emprego no epílogo dessa epístola
é muito apropriado, visto que Gaio “tinha que exercer liderança numa
igreja onde Diótrefes estava provocando discórdia”.33
“Os amigos te saúdam” (v. 15b). Os “amigos” que enviavam
lembranças a Gaio eram, certamente, cristãos fiéis e colaboradores do
apóstolo João. Provavelmente fossem cristãos de Éfeso, onde se crê que
João viveu seus últimos anos. O vocábulo “amigos” {philoi) nos lembra
a declaração de Cristo aos discípulos: “Vós sois meus amigos, se fazeis
o que eu vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe
o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo
quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer” (Jo 15:14, 15). Por
essa declaração de Jesus, “amigo” é aquele que obedece, que acata ordens
- este não era o caso de Diótrefes, que havia se tomado um inimigo do
apóstolo João e dos que aceitavam sua liderança apostólica. No trato com
pessoas como Diótrefes era importante para Gaio saber que podia contar o
apoio de “amigos” sinceros e fiéis.
“Saúda os amigos, nome por nome” (v. 15c).Ao empregar a expressão
“nome por nome”, João destaca o fato de que a unidade pretendida por
Cristo para Sua igreja (Jo 17:23) não anula a individualidade dos membros.
Jesus mesmo conhece cada ovelha pelo seu nome (Jo 10:3). O que Jesus
pretendia era unidade, não uniformidade. Mas essa individualidade não
deve se transformar em individualismo, tal como o manifestado na pessoa
do “pequeno-césar”, Diótrefes, o qual desempenhava o “ministério de um
homem só”.34
33Ibid., 198.
34Champlin, Vol. 6, 314.
As relações de poder na Igreja e suas implicações | 615

Conclusão

Diótrefes e o modelo congregacionalista


Ao não acatar as orientações apostólicas de João, nem de seus
enviados, Diótrefes se identifica com o modelo congregacionalista de
liderança eclesiástica. Ele pretendeu que a igreja da qual era membro e
dirigente procurasse andar sozinha, independente de qualquer corpo
eclesiástico-administrativo. Mas esse não é o modelo de liderança
eclesiástica do Novo Testamento.
Vemos, na igreja apostólica, liderança local, desempenhada pelos
“anciãos” (presbíteros), também chamados de “bispos” (cf. At 20:17, 28;
Tt 1:5-7). Mas havia também a liderança geral, com sede em Jerusalém,
conforme nos mostra o Concilio havido nessa cidade, quando o assunto da
circuncisão foi debatido (ver At 15:1-31).
Ellen White nos advertiu quanto à liderança eclesiástica local,
desvinculada das orientações da igreja em nível geral:
“Nunca deve a mente de um homem ou de poucos homens ser
considerada suficiente em sabedoria e autoridade para controlar a obra
e dizer quais os planos que devam ser seguidos. Mas quando, numa
assembléia geral, é exercido o juízo dos irmãos reunidos de todas as partes
do campo, independência e juízo particulares não devem obstinadamente
ser mantidos, mas renunciados.”35

Gaio e Demétrio e o modelo representativo


Gaio aceitava a liderança apostólica exercida por João. Esse apóstolo
tinha a seu cuidado um território do qual faziam parte diversas igrejas,
com sede provavelmente em Éfeso. Hoje chamaríamos esse território
de “missão”, ou “associação”, sendo João seu presidente. Gaio era o
representante de sua igreja nesse território e, como tal, recebia ordens e

35E. G. White, Testemunhos Seletos , Vol. 3. (Santo André: Casa Publicadora


Brasileira, 1985), 408.
616 I O zeas C. Moura

orientações de João e as repassava para a igreja local onde êra membro e


dirigente.
E quanto a Demétrio? Se aceitarmos a hipótese de que ele era um
auxiliar de João, então ele representava a autoridade eclesiástica joanina
nas igrejas para onde era enviado, entre as quais a igreja onde Gaio era o
líder. Se ele era membro e líder da mesma igreja onde Diótrefes procurava
“exercer a primazia”, então ele era o representante dessa igreja em relação
ao campo sob os cuidados do apóstolo João. O certo é que, à semelhança
de Gaio, ele também aceitava as orientações e acatava as ordens de João.
A verdade é que “é preciso haver mais gente como Gaio e Demétrio
...e menos como Diótrefes.”36
A Igreja Adventista do Sétimo Dia, procurando seguir de perto
as orientações bíblicas quanto à liderança na igreja, adota o sistema
Representativo. Tal modelo permite que líderes locais exerçam seus dons
na condução dos negócios da igreja, mas trabalhem em consonância com
os planos e orientações da igreja em nível mais amplo - das missões,
associações, uniões, divisões e Associação Geral. Esse tipo de governo
eclesiástico é “capaz de (1) preservar a unidade doutrinária, (2) credenciar
e assalariar os ministros da denominação, (3) assegurar legalmente as
propriedades da igreja e (4) sistematizar a missão da igreja, especialmente
a penetração em novos territórios.”37
A igreja de Cristo está em perigo constante. Satanás está procurando
destruir o povo de Deus, e a mente de um só homem, seu discernimento,
não é suficiente para se confiar. Cristo gostaria que Seus seguidores fossem
unidos na qualidade de igreja, observando ordem, tendo regras e disciplina,
e todos sujeitos uns aos outros, considerando “os outros superiores a si
mesmo (Fp 2:3).38

36Wiersbe, W. W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento, Vol. 2, p. 698.


37Timm, A.. R. Revista do Ancião, julho-setembro de 2003, p. 32. (Tatuí: Casa
Publicadora Brasileira.)
38E. G. White, Testemunhos Para a Igreja, Vol. 3. (Tatuí: Casa Publicadora
Brasileira, 2002), 445.
As relações de poder na Igreja e suas implicações | 617

“Amado, não imites o que é mau, senão o que é bom” (3J0 11).
LA OBRA HUMANITARIA EN LA MISIÓN DE LA
IGLESIA ADVENTISTA

Sergio Becerra
Universidad Adventista del Plata, Argentina

ituuuuuuiuuuuumu'.iuuutunuumiuummnmuimtÍnimniiinmimmmiiiiiiiiimiii11111111Π111111111111111111Ν11111111‫ ווו‬im iiiiiiiim iiiiiiiiiiiii

Introducción

En un artículo cuyo título es “ADRA y las misiones adventistas:


¿rescatándolas o secuestrándolas? Las preocupaciones de un misiólogo,”1
publicado por la revista Spectrum en 2004, B0rge Schantz, un misiólogo
adventista danés de larga experiencia expone serios reparos a la misión
humanitaria de ADRA.*2 Reconoce que esta organización adventista hace
una excelente obra a favor de los necesitados y elimina prejuicios contra
los adventistas al tratar con gobiernos, organizaciones internacionales,
otras iglesias y empresas. Pero a su vez teme que, ADRA no trabaje en
consonancia con los objetivos y valores peculiares del adventismo.
Algunos de sus reproches son: que no predica el evangelio, que tiene
demasiada autonomía administrativa de la iglesia, que trabaja mayormente
con dineros gubernamentales, que los donantes le imponen restricciones
inaceptables a su carácter cristiano adventista, que usa dinero de la Campaña
de la Recolección, para tareas no relacionadas con la predicación, que sus
estatutos revelan una escatología basada en el Evangelio Social, que carece
de una auténtica teología de la acción social y que en fin de cuentas, lleva

'1Borge Schantz, “ADRA and Adventist Missions: Rescued o f Kidnapped?: The


Concerns o f a M issielogist”, en Spectrum, vol. 32, n° 1 (Winter 2004), 32-36.
2Siglas para el organismo asistencial y de desarrollo adventista, que en inglés es
Adventist Development and R elief Agency.
620 I Sergio Becerra

a cabo una tarea que podría ser cumplida por otras organizaciones sociales
religiosas y no religiosas.
Por otra parte, Reinder Bruinsma, antiguo administrador de la iglesia,
misiólogo y líder de ADRA, refuta en otro artículo del mismo número
cuyo título es “Redescubriendo el aspecto humanitario de la misión,”3 a
Schantz aunque concuerda con algunas de sus preocupaciones. El fondo del
argumento de Bruinsma a favor de la obra de ADRA consiste en aclarar, el
por qué de algunas de las características de ADRA, y enfatizar que su obra
es parte integrante de la misión de la Iglesia; porque la obra humanitaria es
una faceta de la predicación del evangelio que puede y deber ser cumplida
por la palabra o por la acción.
Este debate no es más que un ejemplo reciente de la tensión entre las
dimensiones evangelísticas y socioeconómicas de la misión. Ha existido
en la historia de la iglesia en general y la historia de la iglesia adventista
en particular.
En esta presentación queremos hacer una breve relación histórica
de la cuestión y luego, plantear algunas ideas que puedan contribuir
a una solución para esta tensión entre misión evangelística y misión
socioeconómica. A su vez, esperamos que contribuya a la formación de
una teología adventista de la misión humanitaria, como parte de la misión
adventista.

Historia de la tensión e intentos de solución

Un intento importante por resolver la tensión ya mencionada, es


diferenciando entre dos mandatos bíblicos: uno espiritual, basado en la
Gran Comisión de Cristo a sus apóstoles de “ir y hacer discípulos en todas
las naciones, bautizándolos y enseñándoles a guardar todo lo que Él les
había mandado.”4 El otro, sería socioeconómico y desarrollista basado en
las palabras del Rey en ocasión del juicio final: “En cuanto lo hicisteis a uno

3Reinder Bruinsma, “Rediscovering the Humanitarian Aspect o f Mission”, en


Spectrum, vol. 32, n° 1 (Winter 2004), 37-40.
4Mateo, 28:19, 20.
___________________ La obra humanitaria en la misión de la Iglesia Adventista | 621

de estos mis hermanos pequeños, a mí me lo hicisteis.”5Jonathan Edwards


(1703-1758), un teólogo puritano norteamericano del s. XVIII lo define en
esos términos. Para él la obra de redención divina posee claramente dos
facetas. La primera incluye la conversión y la santificación de individuos.
La segunda, corresponde al gran propósito divino en la creación, la historia
y la sociedad. Según Edwards, estos dos mandatos son inseparables.6
Esta perspectiva influencia al ideal protestante norteamericano durante
un siglo. El mismo es reforzado por el Segundo Gran Reavivamiento
Norteamericano de comienzos del siglo XIX. Charles G. Finney, el más
grande evangelista del movimiento desafiaba a los nuevos conversos a
transformar la sociedad, luchando contra sus injusticias y sus carencias
como fruto, de su nueva vida cristiana. La conversión debía mostrarse en
hechos que la sociedad pudiese ver y sentir.7
Varios de nuestros pioneros adventistas, se formaron en el contexto del
Segundo Gran Reavivamiento y participaron de los movimientos voluntarios
cristianos que nacen de él. Nuestro primer presidente, John Byington8tenía
a su cargo una estación del Ferrocarril Subterráneo que llevaba esclavos
fugitivos sureños a la libertad. José Bates9, uno de los fundadores, fue
líder del movimiento a favor de la temperancia y del abolicionismo de su
estado. La Sra. Sarepta Μ. I. Henry,10 líder de la Unión de Temperancia

5Mateo, 25:40
6Jonathan Edwards, Christian Charity or Our Duty o f Charity to the Poor, Ex-
plained and Enforced. S.I.: s.n., 1732. Consultado en Internet el 17 de diciembre de 2009
http://www.biblebb.com/files/edwards/charity.htm
7Cf. Keith J. Hadrman, Charles Grandison Finney 1792-1875: Revivalist and Re-
former. Syracuse: Syracuse University Press, 1987.
8John Byington. Seventh-day Adventist Encyclopedia, Volume A-L. 2a ed. rev.,
ed. por Bobbie Jane Van Dolson y Leo R. Van Dolson, Hagerstown, MD: Review and
Herald, 1996, vol. 10,266-267.
9Joseph Bates, The Autobiography o f Elder Joseph Bates, Battle Creek: Steam
Press o f the Seventh-day Adventist Publishing Association, 1868, 230-241. George R.
Kinght, Joseph Bates: the Real Founder o f Seventh-day Adventism, Hagerstown: Review
and Herald Publishing Association, 2004, 44-55.
10Mary Henry Rossiter, My Mother s Life: the Evolution o f a Recluse, New York:
F. H. Revell, 1900, es la biografía de Henry escrita por su hija. La obra puede accederse
en el sitio web de los Archivos Adventistas en http://www.adventistarchives.org/docs/
MSMIH/MSMIH1900/index.djvu.
622 I Sergio Becerra

Cristiana de Mujeres, se hizo adventista en la cumbre de su carrera porque


identificó a los ideales sociales del adventismo con los suyos. Sojourner
Truth,11 una famosa líder antiesclavista tuvo una experiencia similar. La
obra Bible Readingsfo r the Home Circle (Lecturas bíblicas para el círculo
del hogar), una de las primeras publicaciones usadas en el colportaje, en la
Sudamérica de fines del siglo XIX, poseía una sección titulada “Nuestro
deber para con los más pobres.”112Esta sensibilidad social fue sostenida por
nuestra iglesia, durante todo el siglo XIX y combinada con el evangelismo.
No obstante, de manera gradual se prioriza el mandato evangelístico.
Coincide con el desarrollo del premilenarismo evangélico en la segunda
mitad del siglo XIX, del cual el adventismo es parte, y con el movimiento
misionero mundial protestante. Más aún, de 1900-1930 toda preocupación
por el progreso socioeconómico, se hace sospechosa en círculos cristianos
conservadores. El debate entre el fundamentalismo y el liberalismo produce
una reacción contra el evangelio social del liberalismo que, parece preferir
mejorar el orden actual de las cosas, en vez de aspirar a su desaparición
y reemplazo por el Reino de Dios en el fin de los tiempos. Como fruto de
este conflicto, desde 1920 en adelante, en la Iglesia adventista, se minimiza
la importancia de la obra social como parte de la misión.13

Problemas con el modelo dual

Hay una serie de problemas con el modelo de una doble misión de la


iglesia. Queremos señalarlos brevemente:

11Hay dudas sobre la membresía adventista de Truth, pero tuvo amistad con líderes
adventistas en Battle Creek, donde residió. C f “Sojourner Truth”, Seventh-day Adventist
Encyclopedia, Volume M-Z. vol., 11, 796-797.
12Bible Readings fo r the Home Circle, Battle Creek: Review and Herald Publish-
ing Co., 1889, 349-350. Esta obra ha sido vuelta a publicar numerosas veces, y traducida
a los principales idiomas en los cuales publica la Iglesia adventista.
13 Jonathan Butler, “Adventism and the American Experience” en The Rise o f Ad-
ventism: Religion and Society in Mid-nineteenth-century America. Edwin S. Gaustad, ed.
New York: Harper and Row, 1974.
La obra humanitaria en la misión de la Iglesia Adventista \ 623

1. Divide la tarea de la iglesia, dando la impresión que se puede hacer


evangelismo sin dimensión social, o que se puede hacer obra humanitaria
sin componente evangelístico. Esto es absurdo. No es el ejemplo que
nos dejó el Señor Jesucristo, ni fue el ideal vivido por nuestros pioneros.
Ambos integraron los dos componentes para alcanzar al mundo.
2. Posee una visión eclesiocéntrica: todo gira en tomo a la iglesia,
su crecimiento y su expansión en el mundo. Según esta perspectiva, la
iglesia sería la originadora y el fin de la misión. Pero olvida que la misión
no comienza en la iglesia ni culmina en ella. La iglesia es el fruto de la
misión de Dios, que nace de las actividades salvíficas de Dios. Hablaremos
más de esto.
3. El énfasis en el evangelismo que data de la primera mitad del
siglo XX, da la impresión que éste es esencial, y que la tarea humanitaria
es opcional, que otros organismos pueden hacer esta tarea, y que la iglesia
debe dedicarse al evangelismo. Pero este énfasis presenta una dicotomía
entre la Palabra hablada, y la Palabra hecha visible en acciones de justicia
social y desarrollo, entre el amor de Dios expresado en el evangelio y el
amor en acción. Esta distinción no es bíblica.
4. El énfasis en el evangelismo no hace justicia al mensaje integral
de la iglesia adventista que, siempre ha pretendido atender las necesidades
de cada dimensión del ser humano: espíritu, alma y cuerpo. En la práctica,
no somos tan parciales, porque apoyamos el ministerio de la educación
cristiana y'el ministerio de la salud. No obstante, es inaceptable que la
obra humanitaria, sea sospechosa en nuestro medio. Puede comprenderse
debido a la mala reputación que dejó el “evangelio social” del liberalismo
protestante, pero no debería ser una excusa para cumplir la proclamación,
con obras de amor que Cristo mostró por su ejemplo, y que debe ser imitado
en la conducta del cristiano y la acción de la Iglesia.
5. El modelo de una misión dual no responde a las necesidades del
mundo secular contemporáneo. Se hace cada vez más difícil, tener un
evangelismo directo en muchas regiones del mundo, indiferentes u hostiles
•624 I Sergio Becerra

al mensaje del evangelio cristiano. Debemos abrimos a otras maneras de


llevar el evangelio en estos lugares, que probablemente deberán priorizar
la palabra en acción, a la palabra hablada.
6. Se necesita un nuevo paradigma de la misión para el mundo
contemporáneo, que no tenga estas deficiencias.

Elaborando un paradigma para la misión adventista contemporánea


Para contribuir al desarrollo de este nuevo paradigma misiológico
adventista, queremos mencionar algunos conceptos teológicos que deben
ser tomados en cuenta.

Concepto de Misión Divina


En las Escrituras se dan tensiones que deben ser reconocidas y
abordadas. Una de ellas es el hecho que, la Biblia presenta a Dios en
misión, la missio dei, de salvar al mundo. Paralelamente, Jesucristo entrega
la Gran Comisión a la Iglesia de proclamar el Evangelio y hacer discípulos
a todas las naciones, es decir, aparentemente la Iglesia, tiene su propia
misión de alcanzar el mundo con el Evangelio. ¿Por qué es necesario que,
la Iglesia participe de la misión de salvación? ¿No es ésta tarea de Dios?
¿Son estas misiones autoexcluyentes o complementarias? ¿Y si es así, cuál
tiene preeminencia, la misión divina o la humana? La edad contemporánea
prefiere las simplificaciones, a menudo al precio de sacrificar conceptos
importantes del mensaje bíblico. Es una tendencia que debería ser evitada.
No buscamos desarrollar todas las implicancias de nuestras preguntas
anteriores aquí, pero el sentido común nos conduce a comprender que la
misión de la Iglesia no compite con la misión divina, sino que al contrario
le es complementaria y subordinada, ya que la misión de la Iglesia es
posible gracias a la obra de Dios en Cristo. Por lo tanto, la misión no
comienza con la iglesia ni finaliza en ella. Podríamos decir incluso que la
Iglesia no tiene una misión sino que, es el fruto de la misión divina, que
tiene su origen en las iniciativas de envío de la Trinidad. Llevando esta
La obra humanitaria en la misión de la Iglesia Adventista | 625

idea hasta sus últimas consecuencias podemos afirmar que, la misión de


la Iglesia no es más que participar en la missio dei, que fue iniciada por
Dios, hecha posible por Él. Que fue pagada por su Hijo Jesucristo en la
cruz del Calvario, por la resurrección de Éste de entre los muertos, recibió
la dominación sobre el mundo y posibilita la proclamación. Que a su vez,
por el don del Espíritu Santo, capacita a la Iglesia para testificar al mundo.
Cristo es la encamación de la Misión Divina, que él mismo definió como
la restauración y la realización del Reino de Dios.
Lo anterior nos lleva a concluir que, una sana teología de la
misión de la Iglesia, no será nunca eclesiocéntrica. Al contrario, velará
por comprender toda la magnitud de la misión divina y se apropiará
genuinamente del privilegio de participar en ella, para la honra y gloria
de Dios. Una perspectiva que reduce la misión divina a la obra realizada
por la iglesia, a su crecimiento, desarrollo, influencia en el mundo y
prestigio es un concepto estrecho que subordina a Dios. En las Escrituras,
al contrario vemos a Dios obrando a través de su pueblo, y también fuera
de él. Llama suyos, a todos los habitantes de la tierra y se preocupa por su
bienestar. Extiende su misericordia a todos, justos e injustos y no ignora
las necesidades de ninguno.
Afirmar que, la misión de la Iglesia se limita al evangelismo, es
una manera muy pobre de representar la misión divina. Por esto podemos
aseverar que, toda tarea de la Iglesia que testifique al mundo del carácter
amante y'salvador de Dios, está en sintonía con la obra de Dios. Cristo
mismo nos dio el ejemplo con su ministerio de proclamación y de bondad.
La Iglesia no se equivocará nunca, al buscar imitarlo.

Concepto del establecimiento del Reino de Dios


Creemos que el establecimiento del Reino de Dios también es un
concepto bíblico importante que, contribuye a la comprensión del rol de
la iglesia en el mundo. Reconocemos que se ha sospechado de él debido a
que, en el catolicismo y las iglesias protestantes cercanas al catolicismo, se
626 I Sergio Becerra

ha igualado históricamente al Reino de Dios con la Iglesia, restringiendo


su amplitud.
El concepto neotestamentario va más en la línea de la extensión del
Reino de Dios, a través de la predicación del evangelio y su realización
escatológica presente, pero invisible. El mundo nuevo está aquí, pero sólo
para el que ve la realidad de la dominación de Cristo, en la proclamación
del evangelio al mundo. La Iglesia, es un testigo de Cristo en el mundo.
Es la luz del mundo, la sal de la tierra. Es por esto que debe predicar del
nuevo ideal del reino por la palabra y por el ejemplo del amor encamado.
El peligro al que estamos expuestos como pueblo adventista, con un
mensaje escatológico del Reino por Venir, es olvidamos, de la realidad
actual del Reino y su obra en el mundo de hoy. Somos parte de él aquí y
ahora. Dios nos ha dejado la misión de testificar de su amor en este mundo,
luchando contra sus injusticias y desigualdades, como fmto del amor de
Cristo en nuestros corazones. El famoso teólogo holandés W. A. Visser’t
hooft dijo una vez:

Un cristianismo que ha perdido su dimensión vertical o


espiritual ha perdido su sal, y no sólo es insípida sino inútil
para el mundo. Pero un cristianismo que usaría preocupaciones
verticales o espirituales como medio de escape a sus
responsabilidades a favor y en la vida del hombre común, es
una negación de la encamación del amor de Dios al mundo
manifestada en Cristo.14

Creemos que estas palabras son una advertencia que puede ser
aplicada, de manera concreta a la Iglesia Adventista. Tenemos el privilegio
de poseer un mensaje escatológico hermoso de anuncio del evangelio,

14Citado en David Syme, “Social Action Now: A Challenge to the Seventh-day


Adventist Church” en The Role o f Social Ministry in the Seventh-day Adventist Church,
John Wilcox, comp, y ed., Actas del Symposium on Mission and Social Action de ADRA,
10-11 de octubre de 1997, Silver Spring, Maryland, 4. Accesible en Internet en el sitio de
los Archivos Adventistas. Consultado el 18 de diciembre de 2009 en http://www.adven-
tistarchives.org/docs/SMSA/SMSA 19971010__B/index.dj vu.
La obra humanitaria en la misión de la Iglesia Adventista | 627

en el contexto del juicio y del fin del mundo. No obstante, éste puede
perder gran parte de su impacto si no es acompañado por actos de amor y
misericordia que muestren una identificación con, el ser humano que sufre
las consecuencias del pecado. La proclamación de nuestra fe no se debilita,
sino que se fortalece por la proclamación a través de, actos de misericordia
hacia los hambrientos, los pobres y los que sufren injusticias.

Concepto de misión holística


Como adventistas creemos que debemos ministrar al ser humano de
manera integral. Este incluye atender sus necesidades físicas, mentales y
espirituales. Sin embargo, cuando se trata de la misión, hemos dejado de
hacerlo. Se ha puesto principalmente el énfasis en la proclamación de la
verdad relegando a la misión humanitaria a un rol menor, optativo. Cuando
hablamos de la obra holística o integral de la Iglesia, citamos como ejemplo
nuestros ministerios educativo y médico. No obstante, éstos en general no
están dirigidos hacia la mayoría, sino a los que pueden pagar, lo cual limita
su eficacia.
Si quisiéramos realmente llevar adelante una misión integral,
deberíamos darle un rol paralelo a la obra humanitaria junto con, la
proclamación del evangelio, y los demás ministerios, porque se trata de
la proclamación, por el ejemplo. Es, a demás, un ministerio que puede ser
llevado adelante en grandes proyectos como los de ADRA o a un nivel más
reducido como el de una iglesia local o a un nivel personal. Hay varios
motivos por las cuales una misión holística haría mucho más eficaz nuestra
obra. Nombro algunas: los fisiólogos modernos hablan de dos hambres
de las cuales sufre el mundo, hambre física fruto de la pobreza y hambre
espiritual por ignorancia sobre Jesucristo. Si queremos ser creíbles en
el contexto del mundo de hoy, no podemos ignorar el hambre física, de
tantos seres humanos que nos rodean. Los beneficios para nosotros como
iglesia serán que: (1) Nos hará más equilibrados en nuestra perspectiva
escatológica, respecto al mundo presente. (2) Nos hará más creíbles ante
628 I Sergio Becerra

el mundo contemporáneo. (3) Le dará sano orgullo a la membrecía, sobre


todo a los jóvenes quienes comprenderán que, nuestro mensaje y obra son
relevantes. Un ejemplo interesante han sido los resultados producidos por
una encuesta entre los miembros de la Iglesia adventista de los EE.UU.,
resultados que muestran que la mayoría considera que su iglesia debería
hacer mucho más, por los necesitados y contra las injusticias de esta época.
- el 86 % concuerda con la siguiente frase: “Creo que nuestra iglesia
debería hacer algo por los problemas sociales, de nuestra comunidad.”
- el 63 % concuerda con la frase “Quiero aprender más sobre problemas
del hambre mundial, paz, y justicia social en la Escuela Sabática.”
- el 68 % afirma que, estarían dispuestos a dar más para proyectos
sociales específicos.
- el 87 % afirma que, estarían dispuestos a apoyar financieramente a
jóvenes por un año, en un proyecto en sectores carenciados de las grandes
ciudades.15
(4) La obra humanitaria fortalece ios lazos de amor de la comunidad
de la iglesia, y minimiza los conflictos y diferencias. (5) Nos ayudará a salir
de nuestra tendencia introspectiva y centrada en nuestras instituciones,
para involucramos más en el mundo real.

Conclusión

El desarrollo de una teología de la misión no puede estar separado


de la teología de la Iglesia. Y creemos que, una comprensión apropiada
de los conceptos de misión divina, del Reino de Dios aquí y ahora y la
del ministerio integral de la Iglesia a favor del ser humano, permitirá
15Comentario hecho por Monte Sahlin, asesor del presidente de la División
Norteamericana de la Iglesia adventista, que afirma haber estado a cargo de esta encuesta
el año 1990, luego de la presentación de la ponencia de David Syme, “Social Action
Now: A Challenge to the Seventh-day Adventist Church” en The Role o f Social Ministry
in the Seventh-day Adventist Church, John Wilcox, comp, y ed., Actas del Symposium on
Mission and Social Action de ADRA, 10-11 de octubre de 1997, Silver Spring, Maryland,
10- 11.
La obra humanitaria en la misión de la Iglesia Adventista | 629

desarrollar una eclesiología y una misiología equilibradas.


A su vez, no debería existir una relación difícil entre la dimensión
evangelística y socioeconómica de la misión. Ambas son parte integrante de
una misma misión, la Misión de Dios, y por consecuencia, y de la Iglesia. La
división histórica en dos misiones una evangelística y otra socioeconómica
es artificial y no bíblica. Menos aún es el énfasis en la misión evangelística,
la cual sería esencial, y que relega a la misión humanitaria a una condición
optativa. Una auténtica teología adventista de la misión será equilibrada,
y verdaderamente integral. Para esto es necesaria una mejor combinación
de los diferentes ministerios de la iglesia, a través del diálogo, la crítica
constructiva y la cooperación, todos buscando hacer avanzar el Reino
de Dios a través de, la proclamación del amor de Dios, por medio de la
predicación, de la enseñanza, de la salud y de la obra humanitaria.
Cierto sacerdote dijo una vez sobre las virtudes teologales, “la fe, la
esperanza y la caridad”:16

El orden natural de conducir las personas a Cristo es llevarlos a


la fe, lo cual les otorga esperanza y produce finalmente en ellos
la caridad. Pero a veces, éstas se encuentran tan sumidas en la
profundidad de la pobreza, la enfermedad o la injusticia, que
primero deben recibir nuestra caridad, para que nazca en ellas
la esperanza y luego lleguen a la fe.

Este es el rol de la obra humanitaria cristiana, alcanzar a las personas


allí donde se encuentren, para llevarlos a la fe salvadora en Jesucristo.

'6I Corintios 13:13.


MISSÃO E MINISTÉRIO NO MUNDO PÓS-MODERNO

Zinaldo A. Santos
Casa Publicadora Brasileira, Brasil

ΙΙΙΙΙΊΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΜΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΝΙΙΙΙΙΙΙ!ΙΙΙ!ΙΙΙΜΙ]||1ΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙ·ΙΙΙ!ΙΙΙΙΙ!ΙΙΜΙΙΕΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΙΜΙΙ!!Ι1ηΗΙ1η1Ι1υ1ΙΙΙ|ΙΗΙΙΙΙΙΙΙ|ΙΙΙΙΙΙΙΙ;Ι|ΙΙΙΙιΙΙΙΙΙΙΜΙΙΙΙΙΙΙΙ!ΙΙΙΙΙΙ

Inegavelmente, vivemos em tempos desafiadores para o exercício


do ministério pastoral e o cumprimento da missão evangelizadora. Como
comunicar a fé e o significado cristão da vida a pessoas que rejeitam a
igreja, não encontrando nela qualquer sentido? Como evangelizar pessoas
que descartam valores e práticas religiosos, considerando-os irrelevantes
e superados? Como podemos comunicar a fé a mentes saturadas pelas
mensagens transmitidas por revistas, novelas, músicas, jogos eletrônicos,
filmes e shows que não apenas alienam da realidade, mas dificultam a
própria capacidade de sentir e pensar em níveis mais profundos? Como
pregar ao homem altamente interessado em conforto material e gratificação
imediata dos desejos, incapaz de se relacionar com qualquer coisa além do
tempo e espaço de sua vida? Como falar de verdade absoluta a mentalidades
pluralistas e relativistas?

Trajetória de mudanças

Atualmente, vivemos mais um período de mudança intelectual e


cultural, numa trajetória que, segundo estudiosos do assunto, vem desde a
Idade Média, ou período pré-modemo, período em que a posse da verdade
era tida como privilégio de grupos especiais como clero, Igreja, sacerdotes
e Concilios. Quem desejasse conhecê-la simplesmente deveria ouvir a
‘632 I Zinaldo A. Santos

palavra final desses agentes. Em seguida, surgiu o chamado modernismo


cristão, no período da Reforma, quando começou a minar a confiança das
pessoas nos grupos privilegiados. A verdade, então, jánão era exclusividade
da Igreja e seu clero, mas podia ser encontrada por quem a pesquisasse nas
Escrituras, de uso anteriormente restrito, mas agora acessível a todas as
pessoas.
Essa ênfase, porém, foi desafiada pelo modernismo secular. A
grande maioria dos historiadores aponta o início da Era Moderna com 0
surgimento do movimento Iluminista do século 17. Para alguns, o termo
modernismo é apenas um rótulo para o Projeto Iluminista. Porém, suas
bases já haviam sido lançadas pelo Renascimento (séc. 14 - início do séc.
16).
Durante o Iluminismo, o espírito crítico foi impulsionado por duas
revoluções:
1. Revolução filosófica, centralizada no ser humano, tido como
essencialmente bom e racional, autônomo e inteligente. A máxima de
Descartes: “Penso, logo existo” representou muito bem esse autocentrismo
humano. Aqui, o conceito de “verdade” proveniente de qualquer autoridade
externa foi rejeitado, com 0 argumento de que era possível encontrá-la
através da razão humana e pela ciência. Moralidade e sociedade podem
estar baseadas apenas na razão; não precisam de revelação. Deus, portanto,
é supérfluo.
2. Revolução científica: A ciência tomou-se a medida de todas as
coisas, o método científico estava destinado a resolver os problemas do
mundo. Deus foi colocado à distância, embora leis naturais mantivessem
o Universo em seu curso, ordenadamente. O “Projeto Iluminista” previa a
exploração dos recursos do planeta para benefício humano, em construção
de um mundo melhor.
Desiludido pela falácia dessas propostas, eis o homem, hoje,
empenhado em construir sua própria verdade. Chegamos assim à era
pós-modema. As características do pós-modemismo indicam que este é
Missão e ministério no mundo pós-moderno | 633

um movimento que não é baseado em centralidade e/ou unidade. Não há


um determinado grupo de fatores que una os mais diversos elementos da
mentalidade pós-modema.

Marcas do pós-modernismo

Aqui e agora
De acordo com a Bíblia, os eventos históricos estão ligados
teleologicamente. O pós-modemismo nega o tempo como dimensão
explicativa dos eventos. Preocupa-se apenas com o presente. Não sente
necessidade de raízes, históricas nem de destino atraente.

Espiritualidade
Desconfia da religião institucional, mas é aberto à espiritualidade.
Aprecia o mistério e trabalha para popularizar a abordagem sobrenatural,
segundo o modelo da Nova Era, das questões da vida.

Ciência
A mentalidade pós-modema não vê a ciência como uma bênção
incondicional, conforme antigamente se pensava. Alguns cientistas já se
mostram mais modestos em seus argumentos e confessam que muitos dos
chamados fundamentos científicos podem não ser tão firmes.

Verdade
A verdade não se encontra nem na Bíblia, nem na igreja, nem
na ciência. Ela se encontra na comunidade e nas histórias dos seus
componentes. Todos nós temos nossas verdades privativas. Comunidades
e culturas têm seu próprio jogo de linguagem. Tudo é subjetivo, relativo,
incerto, contingencial e ambíguo. Se nada existe no plano sobrenatural
para decidir o destino humano, então a noção de verdade, o significado da
existência e seus valores passa a depender da situação.
634 I ZinaldoA. Santos
Pluralismo
Não existem absolutos. Valores e crenças são extremamente diversos.
Não há normas aceitas por todos. Nos valores e crenças não há referencial,
objetivo comum, que possa ser considerado verdade ou fato. Assim, não
existe consenso moral. Cada um formula seu próprio código de ética.

Globalização
As pessoas sabem que vivem numa aldeia global. O computador lhes
dá acesso instantâneo ao mundo. É nesse contexto que o pós-modemismo
planeja o estabelecimento de uma assim chamada “Nova Ordem Mundial”
centralizada na economia.

Igreja
E muito materialista, converteu-se num próspero negócio comercial.
É um poder dominante que manipula o pensamento, tolhe a liberdade
de expressão. É hipócrita: diz uma coisa e faz outra. É irrelevante, não
acompanha as mudanças do mundo; não consegue ser parte da vida real.

Vida
Mentalidade orientada para a vida. Os avanços na medicina, vencendo
muitas enfermidades e aumentando a expectativa de vida, criaram certa
ilusão que leva alguns a esquecer ou quase negar sua mortalidade.

Crise de identidade
Indivíduos pós-modemos anelam ter um claro senso e identidade
pessoal. Contudo, duvidam se poderão alcançá-lo por si mesmos. Sem
modelos para seguir, vivem em crise de identidade. Baixa autoestima é um
dos tópicos mais explorados na literatura.
Missão e ministério no mundo pós-moderno | 635

Busca pelo transcendente


Experiência vem antes da explicação. Experiência e emoção são
aprovadas; doutrinas são irrelevantes. Há muitas formas legítimas de
interpretação bíblica. O cristianismo é apenas uma opção religiosa, entre
outras respostas, igualmente válidas, do ser humano às coisas do além.

Pecado
Senso de mera frustração de que as coisas não tenham sido feitas
conforme as expectativas, deixando pouco ou nenhum espaço para algo
como expiação, onde Alguém assume a minha defesa.

Descompromisso
Não raro, pós-modemistas que se voltam para 0 cristianismo
revelam tendência para escolher quais ensinamentos vão aceitar, e se
mostram relutantes quando são chamados a assumir compromisso pleno
e permanente.

Como alcançar a mentalidade pós-moderna

Na tarefa de evangelizar indivíduos pós-modemos, precisamos


considerar alguns pressupostos:
1. Se o comunicador deseja ser ouvido e entendido, deve começar
com o ouvinte, onde ele se encontra; não onde imagina que ele esteja ou
onde gostaria que estivesse - contextualização. A Encarnação é o maior
exemplo de contextualização. “Aquele que é a Palavra tomou-Se carne e
viveu entre nós” (Jo 1:14, NVT).
2. As pessoas têm que receber a comunicação em linguagem que lhe
seja inteligível. O exemplo de Paulo: “Fiz-me tudo para com todos, para
por todos os meios chegar a salvar alguns. E eu faço isto por causa do
evangelho, para ser também participante dele.” (ICo 9:22).
636 I Zinaldo A. Santos

3. “Deus escolheu não concluir Sua Obra sem nós. Nã*o podemos
fazer sem Ele, aquilo que Ele decidiu não fazer sem nós”.1 Ele utiliza
pessoas para cumprir Seus propósitos. A igreja cumpre sua missão quando
o poder divino e o esforço humano, adequado e responsável, se unem.
4. Nossa tarefa é contar a “velha história” adaptando-a em formas
de linguagem e pensamento capazes de comunicar seu significado a um
auditório diferente. O que muda não é a história a ser contada, mas o
método, a abordagem da comunicação, a fim de que nossa proclamação
faça sentido ao mundo pós-modemo.
Com isso em mente, também necessitamos lembrar que desafios
dessa natureza não são exclusivos do nosso tempo e cultura. Segundo
alguns historiadores, a sociedade do primeiro século possuía características
semelhantes às da sociedade contemporânea, tais como: prostituição,
prática de aborto, homossexualidade, envolvimento com espetáculos
teatrais e danças, eventos esportivos, além da idolatria das posses materiais.
Apesar disso tudo, a pregação do evangelho de Cristo prosperou. Qual
o segredo? A junção do elemento humano com o poder do Espírito Santo.
Os atos do Espírito Santo já são conhecidos. O livro de Atos dos Apóstolos
contém o relato do memorável espetáculo que deu início à igreja primitiva.
O mesmo poder está a nossa disposição hoje. Precisamos desenvolver
sabedoria que nos possibilite identificar vias, através das quais 0 nosso
trabalho será mais efetivo, na dependência do Espírito Santo. Aqui estão
algumas dessas vias, abertas pela própria mentalidade pós-modemista:
A porta da fragilidade. Pós-modemistas não partilham da
autoconfiança dos modernistas seculares. Muitos têm um passado de
carência e sentem necessidade de cura interior. Embora esse sentimento
de fraqueza possa levar ao desespero, também representa uma porta aberta
para a restauração proporcionada pelo evangelho.
A porta da crise de identidade. Essa é uma abertura para a
identidade positiva que brota do conhecimento do preço que Cristo pagou
para restaurar o ser humano.
1Amin Rodor, Ministério maio/junho 2007: 6.
Missão e ministério no mundo pós-moderno | 637

A porta da tolerância. O pós-modemista tem grande habilidade


para conviver com os opostos. Então, aceita conviver conosco também.
Essa é nossa oportunidade para conduzi-lo a Cristo.
A porta da comunidade. O homem pós-modemista enfatiza a
experiência comunitária. E a comunidade (koinonia) é fundamental na
experiência cristã do Novo Testamento. Se aprendermos a expressar e
a vivenciar esse sentido de comunhão e relacionamento, podemos abrir
portas entre os pós-modemistas.
Evangelismo da amizade. “O evangelismo pessoal é a melhor forma
de ganhar o secularista. Somente pessoas conquistam pessoas. Indivíduos
de mentalidade secularista não são conquistados por programas, mas por
outros indivíduos que desenvolvam um relacionamento interpessoal com
eles.”2
Experiência religiosa autentica. Humildade, honestidade e
autenticidade são vistas em altíssima estima pelo pós-modernista. Se
a mentalidade pós-modemista enfatiza a experiência religiosa em lugar
de discurso artificializado e de aparência, então ela será atraída para o
cristianismo autêntico demonstrado na vida dos crentes. Ninguém pode
argumentar contra o que Cristo fez por nós individualmente.
Aproveitando a abertura possibilitada por essas características, entre
outras coisas, necessitamos priorizar as seguintes tarefas:
Pregação relevante. Relevância é “coçar onde o povo sente a
coceira”’. A pregação deve estar direcionada às necessidades humanas com
precisão infalível. Fazer uma profunda exposição teológica pode não ser
relevante para o ouvinte que luta contra 0 desespero e a depressão. Um
lembrete: Relevância e visitação se favorecem mutuamente.
Atenção às necessidades humanas. “Somente o método de Cristo
trará verdadeiro sucesso em alcançar pessoas. O Salvador misturava-Se
com os homens como alguém que lhes desejava o bem. Demonstrava Sua

2Mark Finley, “O Secularismo Ontem e Hoje”, Revista Ministério, v. 72, n.6


(2001): 23-25.
638 I Zinaldo A. Santos

simpatia a eles, ministrava às suas necessidades, e ganhava a sua confiança.


Então os convidava: ‘Segue-Me.’”3
“As necessidades imediatas, as provas presentes das almas em
conflito, devem ser enfrentadas com instrução prática e sadia com base
nos princípios fundamentais do cristianismo”.4

O exemplo de Cristo de ligar-Se aos interesses da humanidade


deve ser seguido por todos quantos pregam Sua Palavra, e todos
quantos receberam o evangelho de Sua graça. Não deVemos
renunciar à comunhão social. Não nos devemos retirar dos
outros. A fim de atingir todas as classes, precisamos ir ter com
elas.5

Vosso êxito não dependerá tanto de vosso saber e realizações,


como de vossa habilidade em chegar ao coração das pessoas.
Sendo sociáveis e aproximando-vos bem do povo, podereis
mudar-lhes a direção dos pensamentos muito mais facilmente
do que pelos mais bem feitos discursos.6

Presença comunitária. Programas de saúde. Programa de educação


religiosa, sólido e efetivo, para implantar valores morais nos jovens e
nas crianças, é extremamente importante. Aproveitar oportunidades para
marcar presença e abrir portas para nossa missão. Na apresentação do
evangelho, precisamos ser bíblicamente autênticos e sociologicamente
relevantes.
Mostrar a relevância da Bíblia. Partilhar profecias bíblicas, por
exemplo, despertará confiança e credibilidade nas Escrituras e tocará
corações. Depois de tudo, se a verdade encontra-se nas histórias pessoais,
podemos explorar as histórias e biografias bíblicas, como ponte para

3Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasilei-
ra),143.
4Idem, Atos dos Apóstolos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira), 252.
5Idem, O Desejado de Todas as Nações (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira),
152.
6Idem, Obreiros Evangélicos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira), 193.
Missão e ministério no mundo pós-moderno | 639

chegar ao coração e à mente pós-modemistas. Somente a Bíblia pode dar


significado às grandes questões da existência.
Pluralidade de métodos. Nenhum plano, enfoque, estratégia ou
método alcançará todos os indivíduos indistintamente, sem considerar
as condições socioculturais. E preciso avaliar e testar métodos que sejam
apropriados às realidades específicas.

“Conhecedores da época”

Novos desafios abrem portas para novas oportunidades. Tudo


depende da percepção que temos da realidade ao nosso redor. Hoje,
mais do que nunca, a igreja precisa de homens e mulheres que tenham a
habilidade que os filhos de Issacar possuíam como conhecedores de sua
época (lCr 12:32). Homens e mulheres que tenham a capacidade de olhar
ao redor e ver além daquilo que todos vêem. Sim, a igreja necessita de
líderes que compreendam não somente a época e a cultura em que vivemos,
mas, acima de tudo, que exerçam influência positiva sobre aqueles que
lideram. Líderes que tenham coragem e humildade para mudar paradigmas
ultrapassados, a fim de que sejam eficazes e efetivos na proclamação do
evangelho e no cumprimento da missão.
A IMPORTÂNCIA DA COSMOVISÃO PARA O
MINISTERIO NO SÉCULO XXI

Paulo Cândido de Oliveira


Associação Paulista Leste, União Central Brasileira, Brasil

11111i1111111111111111111111111111111111m1m111111111111111111111111111111111111111111111[111111111111!11111111111m111]1111111i111111111111!1m1111111>11111M1»111111m111111M

Introdução

Os desafios que são apresentados no avançar do século 21 são cada


vez mais evidentes. Tomemos como exemplo a revolução no ámbito
tecnológico, do transporte, comunicação e uma condição filosófica pós-
moderna, que mudaram a paisagem da sociedade para sempre. A questão a
ser respondida é a capacidade do ministério Adventista do Sétimo Dia e a
missão de se ajustar rapidamente, o suficiente para enfrentar tais desafios
e aproveitar as oportunidades que vêm com eles. Até o presente momento,
o paradigma adventista para ministério e missão muitas vezes ignora, ou
pelo menos apresenta, uma incapacidade para enfrentar essas mudanças.
O objetivo deste artigo é despertar consciência e diálogo entre
estudiosos e missionários adventistas1 sobre a importância do conceito de
cosmovisão ao realizar o ministério e a missão no século XXL A ênfase
adventista no conhecimento cognitivo e mudança comportamental (que
deveria realizar profundas alterações nos pressupostos da cosmovisão1

1Tenho a impressão de que a diferenciação entre missionários e ministros já não


mais existe. Ministros são missionários e missionários são ministros. Quando alguém está
realizando um ministério, está envolvido em atividades missionárias e quando em missão
está ministrando às pessoas. A comunicação transcultural acontece entre diferentes gera-
ções, raças, classes sociais e econômicas, etc. Partindo desse pressuposto, a diferenciação
entre 0 ministério e missão é vista como artificial e, portanto, desnecessária. De agora em
diante somente será mencionado o termo missionário.
6*42 I Paulo Cândido de Oliveira

e fidelidade) não está funcionando sob os novos paradigmas de urna


condição pós-modema. Os adventistas precisam entender e praticar a arte
de comunicar-se para produzir transformações no nível da cosmovisão.
O passo seguinte rumo a um novo paradigma do ministério e da missão
será originado na Revelação Divina, através de estudos bíblicos, e da
compreensão do contexto social por intermédio de estudos humanos
(figura 1).
A igreja, em algum momento, está reagindo a uma realidade já em
vigor. Algumas excelentes sugestões para enfrentar esta realidade estão
dando frutos aqui e acolá. Por exemplo, o desenvolvimento de igrejas
missionais muda a autocompreensão e atitude das congregações existentes.2
Além disso, entre os adventistas do sétimo dia, existe uma chamada para
reajustar o foco da cosmovisão estrutural da Igreja em todo o mundo em
direção (ou retomo) às missões.3
Este artigo sugere uma mudança de paradigma no ministério
adventista para lidar com a cosmovisão no nível da comunicação e
transformação ao invés de enfatizar o conhecimento cognitivo e alterações
comportamentais.4 Espera-se que o mesmo contribua com o diálogo para
a estrutura emergente, para o ministério e missão adventista ao redor do
globo.
2Robert E Webber, Journey to Jesus: The worship, evangelism, and nurture mis-
sion o f the church. (Nashville, TN: Abingdon Press, 2001), 20. Também Ed Stetzer,
Planting Missional Churches: Planting a Church that s Biblically Sound and Reaching
People in Culture. (Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers, 2006), 161-169.
3George R. Knight, The Fat Lady and the Kingdom: Adventist Mission Confronts
the Challenges o f Institutionalism and Secularization (Boise, ID: Pacific Press Publishing
Association, 1995). Também Barry D Oliver, SDA Organizational Structure: Past, Pres-
ent, and Future (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1989).
4E possível que o leitor esteja preocupado se tal mudança comprometería ou re-
levaria a importância do conhecimento cognitivo e do comportamento. Alguns indiví-
duos temem que tal movimento produza uma “crença fácil” (Webber 2001, 42) ou uma
“graça barata” (Borgenhofer 1959, 43-56). Desastrosa é a realidade que o medo de criar
tais “bestas” tem nos levado ao embaraço de já estar produzindo membros tipo “crença
fácil” e “graça barata”. As consequências podem variar: perda de adesão, a imaturidade
espiritual, indiferença para com a igreja, ou mesmo do sincretismo. A mudança para um
ministério e missão “worldviewishly” (Naugle 2002, xvi), é uma forma de corrigir e evi-
tar 0 que na verdade temos medo. Tem sido a experiência do autor nos últimos dois anos:
ministrar para transformar ao nível da cosmovisão.
A importância da cosmovisão para o ministério no século XXI | 643

R ev ela çã o
D ivin a

Teologia ΓΛ
Estudos Estudos
Bíblica li Antologia
Bíblicos Humanos

1
da Missão ( N
______________________________w 1

História da
Sociologia
Missão 11

Teologia
Sintemática \j\) Psicologia
da Missão

C o n tex to
H um ano

Figura 1. Ministério Missional. Fonte: 0 autor.

Faz-se necessária uma orientação aos leitores. Apesar de não se estar


escrevendo sobre o contexto específico do Brasil, local atual de trabalho,
acredita-se que o conceito de cosmovisão é aplicável a qualquer cultura,
inclusive a brasileira. Todas as culturas agem através de uma cosmovisão
que molda a realidade. Qualquer tentativa de comunicar a mensagem do
evangelho e produzir uma transformação real precisa se concentrar nos
níveis de .cosmovisão. Portanto, o estudo do conceito de cosmovisão é
essencial e aplicável em qualquer cultura, a fim de se produzir transformação
para a glória de Deus.
A seguir, será introduzida uma breve história do conceito de
cosmovisão, objetivando expor aos leitores a importância deste conceito
entre as variadas disciplinas acadêmicas.
*644 I Paulo Cândido de Oliveira

Uma breve história do conceito de cosmovisão

O conceito de cosmovisão é encontrado em várias áreas de


estudo. A origem da palavra inglesa “worldview” está na palavra alemã
‘W elta n sch a uung Este termo foi criado por Emmanuel Kant em 1790.5
Desde então, tem sido objeto de investigação no mundo cristão e secular.
Foi a filosofia a primeira disciplina a refletir sobre a cosmovisão.
Antony Flew, definindo Weltanschauung, afirma que 0 “termo é aplicado
a uma filosofia que afeta as atitudes e crenças (em oposição ao puramente
teórico) de seus partidários”.6 Apesar de ser criada por Kant, que
aparentemente utilizou o termo somente uma vez,7 a real metamorfose do
termo acontece mais tarde com Friedrich Wilhelm Joseph Von Schelling,
que aperfeiçoou o conceito em uma definição mais acurada: “uma forma
pessoal, fértil e consciente de perceber, apreender e interpretar o universo
de seres”.8
Da Filosofia à Ciência Natural a pesquisa varia de idéias abstratas
e pensamentos às questões referentes à epistemología. O primeiro a
concentrar-se no conceito foi o cientista judeu-húngaro Michael Polanyi,
seguido de Thomas Kuhn e sua revolução de paradigma.9 Este último
reconhece que o mundo objetivo, exterior e conhecido pela ciência é
parcialmente moldado pela mente científica orientando a pesquisa científica.
Da mesma forma, afirmou Ruth Benedict, quinze anos antes de Kuhn, que
a cosmovisão ou “costume”, como ela dizia, “não reclamou a atenção dos
teóricos sociais, pois era matéria prima de seu próprio pensamento: era a
5Immanuel Kant and Wemer S. Pluhar. Critique o f Judgment. (Indianapolis, IN:
HackenPub. Co., 1987).
6Ver: “Weltanschauung” Em: Antony Flew, A Dictionary o f Philosopy. (London:
Macmillan, 1979).
7David K. Naugle, Worldview: The history o f a concept. (Grand Rapids, MI: Ee-
rdmans, 2002), 59.
8Martin Heidegger, The Basic Problems o f Phenomenology (Bloomington, IN:
Indiana University Press, 1982), 4.
9Thomas S. Khun, The Structure o f Scientific Revolutions, 3d ed. (Chicago, IL:
University o f Chicago Press, 1996).
A importância da cosmovisão para o ministério no século XXI | 645

lente sem a qual não poderíam ver nada”.101


As Ciências Sociais, por outro lado, lidavam com tópicos referentes
aos padrões humanos de relacionamento: a psique humana (psicologia),
a sociedade (sociologia) e cultura (antropologia). A cosmovisão tem
despertado o interesse de psicólogos em áreas como: o desenvolvimento
da identidade, trauma, casamento e afins. Exemplo disso é Sigmund Freud,
negando que a psicanálise pudesse fornecer uma cosmovisão completa, mas
admitindo que a cosmovisão científica devesse ser aceita pela psicanálise,11
ao passo que Carl G. Jung propõe cinco conexões entre a psicoterapia e
a cosmovisão.12 Quanto à sociologia, homens como Peter Berger, Talcott
Parsons, Thomas Luckmann, Karl Mannheim dentre outros, forneceram
algumas informações úteis sobre o tema, apesar de serem utilizados outros
termos para referir-se ao que no presente estudo se denomina cosmovisão.
Termos como ideologia, estruturas sociais, pressupostos como cenário de
fundo, paradigmas, e outros, são diferenciações linguísticas de um assunto
semelhante.
Apesar das muitas contribuições das diversas áreas de investigação
para o estudo da cosmovisão, o campo da antropologia cultural tem
proporcionado o quadro mais utilizado para o diálogo atual no que diz
respeito à cosmovisão em missiologia. A partir deste campo, a cosmovisão
migrou para estudos em missão e outros ramos da teologia, passando a
ser uma palavra “importante”, amplamente utilizada e, por vezes utilizada
incorretamente devido à falta de entendimento da mesma. Felizmente, a
discussão a seguir corrigirá alguns mal-entendidos.

,0Ruth Benedict, Patterns o f Culture (New York, NY: Houghton Mifflin Company,
1934).
11Sigmund Freud, “The Question o f a Weltanschauung” In The Concordance to
the Standard Edition o f the complete Psychological Works o f Sigmund Freud, trans. By
Guttman, Samuel A. Jones, Randall L. Parrish, Stephen Mafield. (Bonston, MA: G. Hall,
1980).
12C. G. Jung, “Psychotherapy and a Philosophy o f Life”. In The Practice o f Psy-
chotherapy: Essays on the psychology o f the transference and other subjects. (Princeton,
NJ: Princeton University Press, 1966), 76-78.
646 I Paulo Cândido de Oliveira

Rumo a uma visão mais correta da cultura .

Uma das maneiras de entender a cosmovisão é a compreensão da


cultura. Toma-se necessário esclarecer que qualquer tentativa de estudar
a cultura enfrentará obstáculos para encontrar conclusões. Essa é uma das
razões porque até 1990 “não existe um texto único que reúna exemplos de
importantes trabalhos” no campo dos estudos culturais.13
É muito importante que os missionários tenham uma correta
compreensão da cultura. Van Rheenen propôs uma “Teologia da Cultura”14
porque “finalmente, as missões procuram trazer todos os aspectos da
cultura sob o domínio de Deus”.15 E verdade que uma conceituação pobre
da cultura levou as missões, no passado, a uma confusão transcultural e
ao etnocentrismo. E como o mundo se toma cada vez mais diversificado
culturalmente, 0 sucesso missionário no século XXI será definido, em
grande parte, pela compreensão missionária de cultura.

Visão popular da cultura


Popularmente, a palavra “cultura” é utilizada para indicar atitudes
ou comportamento da elite.16 Refere-se a certos aspectos pessoais como
comportamento cordial com os outros, “cavalheirismo”, preferência por
música clássica, conhecimento e prática das regras de etiqueta. No Brasil,
por exemplo, as pessoas referem-se a alguém com tais atitudes como culta,
ou uma pessoa que tem “cultura”. Os que não exibem tais características
são classificados como sem “cultura”. Nesse sentido, equipara-se cultura
ao comportamento do rico e educado e marginaliza-se o pobre e oprimido.

13Jeffrey C. Alexander and Steven Seidman, Culture and Society: Contemporary


debates (New York, NY: Cambridge University Press, 1990).
14Gailyn Van Rheenen, “A theology o f Culture: Desecularizing anthropology”. In‫׳‬.
International Journal o f Frontier Missions (1997), 14, 33-38.
15Ibid, 38.
16Paul G. Hiebert, “Culture and Cross-Cultural differences.” In: Perspectives on
the World Christian Movement: A reader, ed. Ralph D. Winter and Steven C. Hawthorne,
(Pasadena, CA: William Carey Library, 1981), 367-369.
A importância da cosmovisão para o ministério no século XXI | 647

Um missionário com um entendimento defeituoso da cultura pode


desenvolver uma atitude de superioridade com relação às culturas não
ocidentais. Alguém podería assumir as missões como uma deslocação do
superiorparaoinferior, do sofisticadoparao simples edocristãoparaopagão.
Uma visão equilibrada de culturaporparte dos missionários e a compreensão
dacosmovisão dependerão do entendimento do conceito de dimensão cultural.

Dimensões culturais
Hiebert apresenta três dimensões culturais com a função de trabalhar
com idéias, sentimentos e valores culturais.17 A primeira é a Dimensão
Cognitiva. Esta tem que ver com o conhecimento que uma sociedade
compartilha, oferecendo um “conteúdo conceituai” para a cultura,
informando às pessoas sobre o que é real ou não.18 As diversas culturas
usam diferentes formas de preservação do conhecimento cultural: livros,
histórias, provérbios, rituais, etc. Os missionários adventistas precisam estar
cientes desta dimensão para contextualização da mensagem do evangelho.
Em uma cultura este (o evangelho) pode ser muito bem comunicado através
de palestras, mas em outra pode ser necessário o uso de dramatização e
música. A seguir, temos a Dimensão Afetiva, que lida com sentimentos
culturais e se relaciona com “noção de beleza, preferências alimentares e
de vestuário, gostos e desgostos e maneiras de divertir-se ou experimentar
a tristeza”.19 Esta dimensão desempenha um papel importante na vida
da igreja. E através dela que as pessoas demonstram suas preferências
com relação à música ou estilo de adoração. Gosto e preferência estão
mais solidamente ligados ao nosso contexto cultural na história do que o
raciocínio lógico.

17Paul G. Hiebert, Anthropological Insights fo r Missionaries (Grand Rapids, MI:


Baker Book House, 1985).
18Ibid., 30-32.
19Ibid., 32-33.
648 I Paulo Cândido de Oliveira

A última é a Dimensão Avaliativa, que avalia as outras dimensões da


cultura em termos de verdadeiro ou falso, julga expressões emocionais, e
revê os valores para determinar o certo e o errado.20

Definindo cultura
Como base para a compreensão da cosmovisão, a cultura deve ser
adequadamente compreendida como “sistemas mais ou menos integrados
de idéias, sentimentos, valores e seus padrões de comportamento, e
produtos, compartilhados por um grupo de pessoas que organizam o que
pensam, sentem, e fazem”.21 Esta definição indica algumas das regras
básicas para tomar o processo de estudo da cosmovisão e relacioná-la às
missões adventistas: (1) cada cultura traz consigo o estilo de vida para
seus membros; (2) as culturas não devem ser comparadas em termos de
melhor ou pior, mas em termos de diversidade no estilo de vida; (3) todas
as culturas devem ser apreciadas; (4) as culturas não são neutras, possuem
o bem e o mal que deve ser conferido à luz das Escrituras; (5) à medida
que se aproxima de diferentes culturas, deve-se entender que Deus tem
sido ativo nessa cultura, antes da chegada dos missionários; (6) a cultura é
o contexto onde a missão acontece; (7) cultura é o lugar para uma teologia
em progresso; (8) as culturas não devem ser substituídas ou rejeitadas, mas
abraçadas e moldadas de acordo com as Escrituras; (9) todas as culturas
podem contribuir com o diálogo hermenêutico das Escrituras; e (10)
nenhuma cultura deve ser imposta como a cultura cristã padrão sobre as
outras culturas (figura 2).

20Ibid., 33-34.
21Ibid., 30.
A importância da cosmovisão para o ministério no século XXI [ 649

Cosmovisão

Figura 2. Níveis de Cultura.22

Compreendendo a cosmovisão
Cosmovisão é uma força silenciosa que explica, dá sentido e
avalia com o propósito de produzir um comportamento. É razoável
dizer que os seres humanos são prisioneiros de sua cosmovisão. É um
conceito complexo e abstrato em estudos com seres humanos, difícil de
compreender. Cosmovisão não é algo que pode ser listado facilmente,
enumerando hipóteses e premissas pessoais. Não é claramente percebido
nem rapidamente reconhecido.
Cosmovisão, como nível mais profundo da cultura, tem diversas
características e funções. Antes que se possa analisar e entender a
cosmovisão, é preciso compreender sua natureza, características, funções
e como impacta as pessoas como processo de um evento cultural que
vai passando através dos filtros cognitivos, afetivos e avaliativos. Este
processo é muito importante para entender o comportamento como
manifestação extema visível do pressuposto de cosmovisão e também o

22Baseado em anotações de sala de aula, M issiologia Aplicada para Pastores,


M.Div. Andrews University, Michigan, Outono 2004; e Hiebert, Paul G. 1985. Anthropo-
logical Insights fo r Missionaries. (Grand Rapids, MI: Baker Book House).
650 ] Paulo Cândido de Oliveira

processo missionário utilizado na descoberta, análise e expectativa quanto


às alterações na cosmovisão.

Natureza da cosmovisão
As cosmovisões são conceitos abstratos e invisíveis sobre o mundo,
localizadas em uma dimensão oculta da cultura. Tomam-se visíveis
através de manifestações externas, tais como comportamento e discurso.
E necessária uma diferenciação entre os pressupostos da cosmovisão e a
cosmovisão. No que diz respeito aos pressupostos, são proposições simples
sobre o mundo e devem ser entendidas como “declarações sobre uma
verdade percebida, com base na lógica de uma cultura particular”.23Logo,
cosmovisão é o conjunto de tais pressupostos. Ambas as dimensões
são importantes na descoberta de proposições culturais e produção de
mudanças. Os missionários têm o objetivo de produzir alteração no nível
de cosmovisão. Para ser capaz de se reconhecer e analisar os pressupostos
da cosmovisão, avaliá-los (à luz das Escrituras), e produzir mudanças em
direção à cosmovisão bíblica, é preciso compreender os aspectos internos
e externos da cosmovisão.

Perspectiva interna
Considerar uma cosmovisão sob a perspectiva interna é reconhecer
ou ler os pressupostos da cosmovisão. Três níveis de pressupostos são úteis
na percepção da cosmovisão “funcionando internamente como parte de
cosmovisões”24 e como os principais mecanismos internos da cosmovisão.
Ao descobrir o tema da cosmovisão, os missionários são capazes de
compreender e analisar o comportamento de uma dada cultura, comparando
com a Escritura, a fim de definir 0 que é necessário ser abordado na cultura
a fim de moldá-la à cosmovisão bíblica.
23Bruce Bradshaw, Change across Cultures: A Narrative Approach to Social
Transformation (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 2002), 18.
24Charles H. Kraft, October 2002. Worldviewfo r Christian Witness. Prepublication
Manuscript, cap. 12:2. And: Lloyd E. Kwast, “Understanding Culture” In Perspective on
the World Christian Movement: A Reader, ed. Ralph D. Winter and Steven C. Hawthorne.
(Pasadena, CA: William Carey Library, 1981).
A importância da cosmovisão para o ministério no século XXI | 6 5 T

Ο primeiro nível de pressupostos da cosmovisão refere-se ao tema.


Este conceito foi desenvolvido para indicar “um postulado ou posição,
declarado ou implícito, e, geralmente, comportamento controlador
ou atividade estimulante, que é tácitamente aprovado ou abertamente
promovido em uma sociedade”.25 Como exemplo, a hipótese de um tema na
cosmovisão norte-americana é dada por Kraft. Ele postula que “o dinheiro
e / ou bens materiais são a medida do sucesso”.2627Um tema de cosmovisão
terá hipóteses subsequentes relacionadas a si. Essas subproposições são
chamadas de Subtemas e constitui 0 nível dois. Um terceiro nível de
pressupostos da cosmovisão são os Paradigmas. A figura 3 pode ajudar
a perceber como os pressupostos da cosmovisão trabalham prescrevendo
valores, crenças e comportamento. Os leitores devem ser alertados que
as cosmovisões não são idéias estáveis e claras. Temas, Subtemas e
Paradigmas são formas didáticas de tom ar a cosmovisão compreensível.
Outras categorias podem ser descobertas.

Níveis Cosm ovisão

1. Tema - Dinheiro e/ou bens materiais são a medida do sucesso

·Tem po é dinheiro
2 . Subtem a - Mais "educação" (escolaridade) significa aumento de poder
- Quanto mais dinheiro se ganha, mais prestígio se tem

• 0 valor de uma pessoa pode ser calculado em termos de valor


monetário líquido
3. Paradigma
- Necessidade de "m anter as aparências" com casa, carros,
roupas, etc.
- Não perca muito tempo com atividades não monetárias

Figura 3. Tema, Subtema e Paradigma da Cosmovisão Norte-americana.27

25Morris E. Opler, “The Themal Approach in Cultural Anthropology and Its Ap-
plication to North Indian Data”. Southwestern Journal o f Anthropology, 1968, 198.
26Charles H. Kraft, cap. 12, 2.
27Charles H. Kraft, Anthropology fo r Christian Witness (Maryknoll, NY: Orbis.
1996.), cap. 12:3.
b52 I Paulo Cândido de Oliveira

Perspectiva externa
Essas categorias possibilitam uma análise sob a perspectiva interna
da cosmovisão. Isolados pressupostos e premissas de cosmovisão,
quando postos todos juntos, formarão o que Hiebert chama integração
cultural.28 A coleção de pressupostos e premissas sobre a realidade forma
a perspectiva externa de fora de uma cosmovisão. Portanto, quando se fala
em cosmovisão norte-americana, refere-se à constelação de pressupostos
dos indivíduos dentro da cultura dos Estados ETnidos.

Características da cosmovisão
Há cinco principais características da cosmovisão que são tão
importantes quanto a sua naturez.29 Em primeiro lugar, os pressupostos
da cosmovisão não são “fundamentados externamente, mas presume-
se serem verdadeiros, sem comprovação prévia” . Em segundo lugar, os
pressupostos da cosmovisão fornecem lentes e mapas de interpretação
cultural às pessoas, que moldam a forma como veem e interpretam o
mundo à sua volta. Terceiro, as pessoas organizam suas vidas em termos
dos pressupostos da cosmovisão como um todo integrado, que raramente
será questionado a menos que ocorra algo que não possa ser facilmente
harmonizado. Quarto, diferenças de cosmovisão são as situações mais
difíceis de lidar quando as várias culturas entram em contato. Isso se
dá porque os pressupostos da cosmovisão não estão fundamentados
externamente, visto que raramente ocorre ao membro de uma cultura que há
pessoas com pressupostos diferentes. As pessoas supõem que sua realidade
é universal, e que todos vivem da mesma maneira que elas. Isto provoca
muitos choques culturais e estresse. Por último, pessoas e cosmovisão
atuam juntas. As cosmovisões são ferramentas que os seres humanos
Utilizam para dar sentido e significado ao mundo e à sua existência. Falar
sobre estrutura cultural (cosmovisão, crenças e valores) é falar sobre uma
pessoa que age.

28Paul G. Hiebert, Anthropological Insights fo r Missionaries, 42, 30.


29Charles H. Kraft, 55-58.
A importância da cosmovisão para o ministério no século XXI | 653

A cosmovisão serve às pessoas de formas variadas. Didaticamente,


essas maneiras são chamadas de funções da cosmovisão.

Funções da cosmovisão
Há quatro funções da cosmovisão utilizadas diariamente pelas
pessoas. A primeira é a explicação. Esta fornece material cognitivo para
se criar um sistema de explicações que apoiem um sistema de crenças.
Diferentes pressupostos de cosmovisão levam a diferentes conclusões
sobre o mesmo assunto porque o explicam de modo distinto. Todas elas
proporcionam estabilidade emocional e conforto. A segunda função é a
validação/avaliação. E o material utilizado para avaliar as experiências.
É importante compreender que, ao realizar as missões, a realidade mais
importante não é a do missionário, mas a do povo, que está constantemente
avaliando e estabelecendo significado a fim de dar sentido ao que está
acontecendo.
A terceira função é a integração. A cosmovisão integra a cultura
como um todo. “Organiza nossas idéias, sentimentos e valores em um
projeto global único” .30 Cria imagens mais ou menos precisas do mundo,
“imagens que refletem o mundo”.31 Essas imagens, apesar de não serem
precisas, são utilizadas para guiar a ação. A quarta função da cosmovisão é
monitorar mudanças. A cosmovisão é composta de pressupostos dinâmicos
constantemente confrontados e contestados por novas informações e
experiências advindas da própria cultura ou de outras. Esses novos
pressupostos podem ser contrários a um pressuposto já existente ou
ligeiramente diferentes. Em ambos os casos, quando uma cosmovisão é
desafiada, é criada uma instabilidade e produzido 0 desconforto. Esta tensão
pode atrapalhar a tarefa da cosmovisão de integrar a cultura. Assim, por
causa da contradição interna, os pressupostos relacionados da cosmovisão
serão utilizados para produzir uma explicação que avalia e valida um ou

30Paul G. Hiebert, Anthropological Insights fo r Missionaries, 48.


31Michael Kearney, 5.
654 I ΡαυΙο Cândido de Oliveira

outro pressuposto, com a intenção de reduzir a tensão e o desconforto. O


produto final deste processo pode ser uma mudança gradual na cosmovisão.
Muitas pessoas, entretanto, nunca se conscientizam da transformação que
ocorreu na cosmovisão.
A argumentação fornece informações fundamentais aos leitores
para que compreendam a atividade da cosmovisão dentro de uma cultura,
prescrevendo significado e determinando o comportamento pessoal.
O comportamento cultural será uma reação a uma realidade percebida,
isto é, um estímulo externo. Esta realidade percebida será filtrada através
das lentes da cosmovisão e moldarão o que é visto. O desenvolvimento
da percepção é fundamental para entender o comportamento humano,
material do qual os missionários se utilizarão para analisar a hipótese na
cosmovisão. Este processo é repetido milhares de vezes a cada dia, enquanto
as pessoas reagem a estímulos externos. A ação é a manifestação visível
da cosmovisão pessoal. Aprendendo a reconhecer e moldar bíblicamente
a cosmovisão pessoal, os missionários podem alterar permanentemente o
comportamento na direção de um comportamento cristão.
A informação básica será harmonizada em um modelo, permitindo
que os leitores vejam a cosmovisão em ação, moldando a realidade e
prescrevendo comportamentos.

Cosmovisão em ação
Como apresentado antes, a cultura pode ser dividida em três
dimensões: cognitiva, afetiva e avaliativa. Na figura 4, essas dimensões
estão identificadas numa imagem tridimensional, sendo a cosmovisão a
base da cultura. Em resumo, eventos externos são experimentados por uma
pessoa ao mesmo tempo, por meio de duas dimensões: cognição (crenças) e
afeição (sentimentos). A cognição verifica se 0 que foi experimentado está
de acordo com os pressupostos estabelecidos; a afeição reagirá baseada
nos sentimentos percebidos pela experiência. Se a experiência percebida
harmonizar-se com os pressupostos estabelecidos pela cosmovisão,
A importância da cosmovisão para o ministério no século XXI | 655

a dimensão sentimental encontrará segurança; mas se a experiencia


percebida não harmonizar-se com a cosmovisão, a reação ocorrerá em
forma de desconforto e instabilidade. Essas duas dimensões transmitem
informação ao nível avaliativo, que determinará o valor da experiência e
seu nível de prioridade. Baseada nessa comunicação, a pessoa decidirá,
gerando um comportamento ou um produto cultural.

A intenção é pintar um quadro do processo de filtragem através da


cosmovisão. Quando a pessoa age, vemos o resultado da utilização da
cosmovisão para interpretar, atribuir significado e prescrever as respostas
adequadas, manifestadas em comportamento ou produto cultural que
reflete o processo e o nível da cosmovisão. Ela (a cosmovisão) é a base
para o comportamento (ação ou discurso).
Além de prescrever o comportamento, os pressupostos da cosmovisão
definem nossa relação com os outros. Estas proposições, compartilhadas
principalmente através de narrativas ontológicas, são ensinadas através de32

32Fonte: Paul G. Hiebert, Transforming Worldviews. Unpublished manuscript.


Deerfield, IL., 2003), 25. And: Ravi I. Jayakaran, Holistic Participatory Learning and
Action: Seeing the Spiritual and Whose Reality Counts. In Working with the Poor: New
Insights and learning’sfrom Development Practitioners, ed. Bryant L. Myers. (Monrovia,
CA: World Vision, 1999).
656 I Paulo Cândido de Oliveira

um processo de interação entre o Eu e os Outros, formando um a visão mais


ou menos coerente do mundo. Apesar das diferenças culturais, a cosmo visão
de um a dada cultura define a realidade e tem a responsabilidade de explicar
e avaliar os acontecimentos através da cosmovisão estabelecida, prescritas
por uma cultura em particular para 0 indivíduo. Portanto, o comportamento,
em todos os seus formatos, é a manifestação externa dos pressupostos e
premissas da cosmovisão.
Como o mais profundo pressuposto sobre a realidade, a cosmovisão
deve ser o foco de qualquer missão. Dominar a mensagem ou as ferramentas
missionárias não é suficiente para produzir mudanças profundas na
fidelidade. Um exemplo clássico é a visita de Paulo e Bamabé a Listra (At
14: 8-20). A mensagem e os milagres foram interpretados de acordo com
a cosmovisão cultural local. O resultado foi catastrófico para o evangelho
e para a missão de Paulo e Bamabé em Listra. Não há nenhuma história
subsequente da mesma natureza, indicando que eles aprenderam que as
pessoas interpretam os acontecimentos de acordo com sua cosmovisão.
A argumentação pontua que, ao realizar o ministério e a missão, a
realidade percebida pelas pessoas é o que conta quando se tenta comunicar
e produzir transformação cristã transcultural.

Análise da cosmovisão

Acredita-se que o propósito final da missão adventista é criar uma


cosmovisão bíblica em determinado contexto cultural. A fim de se realizar
este objetivo, os missionários precisam entender o conceito cosmovisão,
ser capazes de analisar e moldar culturas bíblicamente. No que se refere às
questões missão, consciência da própria cosmovisão e da cosmovisão dos
outros, estas se tomam tão essenciais quanto o fato de se ter conhecimento
bíblico ou teológico. Há uma realidade que “uma pessoa de fora
consistentemente interpreta mal os fenômenos de culturas exóticas para
A importância da cosmovisão para o ministério no século XXI | 657

ela, em termos de categorias implícitas à sua própria cultura”33 e o mesmo


princípio é verdadeiro para os missionários. A diferença é que para este
último as consequências podem ser: rejeição, distorção ou compreensão
inadequada da mensagem do evangelho, e outros problemas como,
equacionar os aspectos culturais da revelação bíblica e afins.
E preciso cautela ao lidar com a análise de cosmovisão. Estudar os
pressupostos de outra cultura é expor a sua própria cultura. E como segurar
um espelho, permitindo que a pessoa veja seus próprios pressupostos,
preconceitos e falhas. Ao lidar com esse tipo de análise, a cosmovisão
pessoal é a primeira a ser analisada. Este processo pode ser doloroso,
mas é necessário para se verificar a cultura dos missionários. A análise da
cosmovisão é uma busca por significado cultural,34 e não rígida legislação
cultural. Os significados da cosmovisão pessoal refletem nos valores e
comportamento,35 ao entrar em contato direto com o povo que se quer
moldar bíblicamente. E prudente ter em mente o seguinte conselho:

devemos começar onde estamos, com nós mesmos. ‘Conhece


a ti m esm o’ é um lembrete útil... O trabalho despendido ao
expressar claramente uma cosmovisão, os pressupostos sobre
como o mundo funciona, porque é como é, e o que podería
melhorar, é o trabalho digno de ser feito. Isso... deveria nos
tom ar mais eficazes.36

O racional para a análise da cosmovisão é pré-requisito para qualquer


tentativa de influência no nível da cosmovisão, e há elementos comuns
em cada cultura. Embora a cosmovisão seja privada no sentido de existir
dentro de uma pessoa, manifesta-se na arena pública, uma vez que também

33Richard Handler, Afterword: Mysteries of Culture. American Anthropologist


106, no. 3, 2004, 490.
34Clifford Geertz, The Interpretation o f Cultures; Selected Essays. (New York,
NY: Basic Books, 1973), 5.
33Lloyd E..Kwast.
36Bryant L. Myers, Walking with the Poor: Principles and Practices ofTransfor-
mational Development. (Maryknoll, NY: Orbis Books, 1999), 59.
658 I Paulo Cândido de Oliveira

é compartilhada nos pressupostos comuns que compõem um conjunto


cultural ou cosmovisão. Portanto, ao buscar os pressupostos de desta em
uma dada cultura, os missionários devem observar, questionar, pesquisar,
ouvir e aprender com os indivíduos dentro de um grupo social.

Cosmovisões universais
Os antropólogos Robert Redfield e, posteriormente, M ichael Kearney,
desenvolveram um modelo que indica 0 processo de categorização ou
classificação feito por um indivíduo ao olhar o universo a partir de um
ponto de vista. O modelo de cosmovisões universais segue o racional:
existem categorias básicas de pressupostos que cada povo tem de lidar. Este
modelo fornece uma maneira de se perceber semelhanças compartilhadas,
que ajudaria no processo de comparação entre as culturas. Por exemplo, os
poderes espirituais têm muito pouco a ver com os acontecimentos diários
na mente de muitos americanos. Em contrapartida, para os sul-americanos,
a consciência da influência dos poderes espirituais, como demônios é uma
constante. Este modelo segue um trajeto similar ao trabalho dos médicos.
Um médico trabalha com um conjunto de pressupostos essenciais. Mesmo
que sejam confrontados com diferentes pacientes esses elementos comuns
o guiarão em seu diagnóstico. Sua análise é baseada na pressão arterial,
pulso, respiração, etc. Prestará atenção a estes sinais vitais e chegará a
conclusões diferentes em pacientes diferentes. Na área das cosmovisões
universais este princípio também parece ser verdadeiro. E o conjunto de
semelhanças comuns a todas as culturas que tom a possível a análise e a
comparação.
As principais cosmovisões universais são resultado da concepção de:
Classificação, Eu, Outro, Causalidade, Tempo e Espaço. Os missionários
observarão os produtos culturais: livros, provérbios populares, histórias,
música, linguagem, etc., a fim de produzir hipóteses dos pressupostos da
cosmovisão.
A importância da cosmovisão para o ministério no século XXI | 659

A primeira cosmovisão universal é a Classificação. Desde o


nascimento a pessoa recebe informação sobre o mundo. Esta informação
deve ser classificada para dar ordem ao mundo. N a prática, todas as culturas
nomeiam a realidade (objetos, sociedade, animais, entidades sobrenaturais,
etc.), dividindo-a em categorias. Qualquer tentativa de analisar a
cosmovisão lidará com as “grandes categorias da realidade reconhecidas
por um povo e os critérios pelos quais se agrupam os conteúdos dessas
categorias em conjunto” .37
A segunda é um conceito básico e muito necessário à vida, o “primeiro
requerimento da cosmovisão”, isto é, o Eu. Reflete a busca humana para
a natureza real dos seres humanos. Exemplificando, Keamey diz respeito
ao uso espanhol das “construções dos verbos reflexivos tais como ‘meu
dente dói’, ou ‘meu corpo não deseja curar-se’38 como manifestação da
cosmovisão do Eu”. Isso implica que o Eu está dentro do corpo, mas,
de alguma forma, com uma existência separada. Este conceito pode ser
explicado pelo ensino popular católico de que o homem é composto por
corpo (matéria) e espírito. Gerar hipóteses sobre o Eu é um passo preliminar
rumo à avaliação de pressupostos da cosmovisão nas categorias universais
de cosmovisão.
A noção ou percepção do Outro é o terceiro elemento na lista de
cosmovisões universais. A ideia do Outro é complementar ao Eu39 desde
que 0 Eu obtenha sua identidade no relacionamento com o Outro. Esse
relacionamento pode ser positivo, negativo ou neutro e é utilizado para
definir o tipo de relacionamento que a pessoa terá. Por exemplo, as pessoas
aprendem como se relacionar com colegas de trabalho de forma ética,
aparentando conhecerem-se muito bem quando, na verdade, existe uma
“relação profissional” com limites claros para os envolvidos, o que muitas

37Michael Keamey
38Ibid., 69. ’
39Michael Keamey, 71.
66‫ס‬ I Paulo Cândido de Oliveira

vezes impede-os de conhecer pessoalmente seus colegas de trabalho. Além


disso, aprendemos a amar os membros da família e a manter um a distância
segura de estranhos. Em essência, aprendemos a classificar o Outro em
grupos e a cosmovisão prescreve como tratar cada tipo.40
A Causalidade segue o Eu e os Outros como a quarta cosmovisão
universal porque é dependente dos dois primeiros. O Eu e 0 Outro são a
“espinha dorsal de uma cosmovisão” .41 A Causalidade está relacionada ao
que é conhecido como causa e efeito. Pretende compreender o poder ou
poderes por trás dos eventos e busca resposta para perguntas como: “O que
produz as coisas? Que forças estão em ação no universo?” 42 É importante
lembrar ao leitor que os pressupostos da cosmovisão fornecem propósito
para a vida, explicam o passado (eventos), proporcionam significado ao
presente (momento) e oferecem orientação para 0 futuro.
A quinta cosmovisão universal é a noção de Tempo. As coisas estão
localizadas no tempo; as pessoas vivem num contexto temporal.43 A noção
de Tempo varia de acordo com a cultura. No Ocidente, as pessoas veem
o tempo como diário, semanal, mensal, anual, sazonal, etc. O tempo é
dividido em passado, presente e futuro. Outras culturas veem o tempo de
modo diferente e, consequentemente, seu comportamento e crença portar-
se-ão de acordo com sua visão de tempo. E importante ao adventismo
compreender a noção de tempo por causa do sétimo dia, o Sábado, ensino
bíblico que está diretamente relacionado ao tempo.
A última cosmovisão universal é a noção de Espaço. Tempo e
Espaço espelham a inseparabilidade virtual do Eu e do Outro como
apresentado acima. Estão amplamente relacionados. A definição de espaço
se desenvolve na vida diária por meio de elementos como: “padrões de
residência, construção de casas, arquitetura em geral, arranjo de mobiliário,

40Charles H. Kraft, Culture, communication, and Christianity: A Selection o f Writ-


ings. (Pasadena, CA: William Carey Library, 2001), 110.
41Michael Kearney, 88.
42Charles H Kraft, October cap. 9:6. And: Thomas S. Khun.
43Michael Kearney, 90.
A importância da cosmovisão para o ministério no século XXI | 661

danças folclóricas e assim por diante” .44 Sob uma ótica missiológica, os
pressupostos da cosmovisão sobre o espaço têm consequências profundas
sobre 0 modo de construir os edifícios e infundir significado teológico aos
lugares seculares/materiais e sagrados/espirituais. Depois, existe a noção
de espaço do céu, a localização dos anjos em relação aos seres humanos,
e assim por diante. A noção de espaço precisa de um a atenção na missão
transcultural, pois o espaço desempenha um papel determinante no sistema
de cosmovisão integrada.
Se as cosmovisões universais descritas aqui são descobertas em uma
determinada cultura pelo missionário, não se deve pensar que dominou
a cosmovisão do povo. As cosmovisões universais aqui apresentadas são
apenas o ponto de partida para a análise da cosmovisão: ajuda a tocar
apenas a superfície. Existem outros modelos para análise de cosmovisão
que também podem ser usados pelos missionários.45

Produzindo hipóteses
O próximo passo na análise de cosmovisão é ser capaz de começar
a mapear os temas, subtemas e paradigmas da cosmovisão, como descrito
anteriormente, bem como identificar o papel que desempenham como
temas e contratemas. Devido ao seu relacionamento, os temas funcionam
não apenas como determinantes das crenças, valores e comportamento, mas
também como barreira a outros temas. Quando um tema está funcionando

44Ibid., 92.
45Ver: Myers 1991; Jayakaran 1999). James Sire, Naming the Elephant: Worldview
as a Concept. (Downers Grove, IL: Inter Varsity Press. 2004). James Sire, The Universe
Next Door: A basic worldview catalog, 3d ed. (Downers Grove, IL: InterVarsity Press,
1997). Linda J. Myers, Suzette L. Speight, Pamela S. Highlen, Chikako I. Cox, Amy
L. Reynolds, Eve M. Adams, and C. Patricia Hanley. Identity Development and World-
view—Toward an Optimal Conceptualization. Journal o f Counseling and Development
1991, 70:54-63. Ravi I. Jayakaran, Holistic Participatory Learning and Action: Seeing
the Spiritual and Whose Reality Counts. In Working with the Poor: New Insights and
learning’s from Development Practitioners, ed. Bryant L. Myers. (Monrovia, CA: World
Vision, 1999).
<62‫ ל‬I Paulo Cândido de Oliveira

como limitador, é definido como um contratema.46 Para Opler 47(1968),


a compreensão das forças limitadoras é a chave para entender como o
equilíbrio ou integração é obtido em urna cultura. O objetivo dos temas e
contratemas no nível da cosmovisão é reduzir a possibilidade de que um
tema toma-se tão poderoso a ponto de prejudicar a harmonia cultural.
A questão da hipótese deve ser tratada para evitar a imposição de
suas próprias ideias distorcidas. Através da hipótese de uma conclusão
provisoria, com base em observação pessoal e lógica racional, sugerem-se
fenómenos relativos. A hipótese pode estar correta certa ou equivocada, e
deve ser testada para descobrir a sua verdadeira natureza. Ao fazer isso, os
missionários podem ser impedidos de ser deterministas, criando (com sua
análise de cosmovisão) uma “realidade” irreal. Se isso acontecer, existe
a chance de que as decisões e estratégias seguidas para uma determinada
hipótese estejam muito equivocadas, ou pelo menos distorcidas. Nesse
sentido, produzir a hipótese é sempre provisório.
A produção de uma hipótese dependerá da observação e criatividade
do observador. Testar tais hipóteses da cosmovisão, por outro lado,
dependerá da aplicação de ferramentas de verificação, a fim de que se
defina na hipótese verdade, erro ou a necessidade de ajustes. Pode-se chegar
às hipóteses através de dois modos principais. O primeiro é o método
da pergunta. Depois de formular um a hipótese pessoal sobre um dado
comportamento, pergunte aos líderes naturais sobre a formulação.48 Em
segundo lugar, uma vez que cosmovisões de forma integrada influenciam
ou sobrepõem-se umas às outras, procure outros comportamentos que
lancem luz para confirmar ou não a hipótese.49
Embora alguém esteja pronto para duvidar da conclusão, respostas
honestas, muitas vezes serão encontradas se o observador desenvolveu

46Morris E. Opler, “The Themal Approach in Cultural Anthropology and Its Appli-
cation to North Indian Data”, Southwestern Journal o f Anthropology 24 (1968): 215-227.
47Ibid., 201.
48Jones, W. T. World Views: Their Nature and Their Function. Current Anthropol-
ogy, 1972. 13:80.
49Ibid.
A importância da cosmovisão para o ministério no século XXI | 663

relações significativas com os líderes naturais, que estarão servindo como


informantes culturais. Em última análise, os temas da cosmovisão são
integrados e podem ser testados, quer por comparação ou por contagem da
expressão de temas de toda a cultura. Deve-se ter em mente que às vezes
as cosmovisões são internamente inconsistentes e contraditórias.50Através
do exercício de produção de hipóteses ao se analisar uma cultura, os
missionários estão abrindo o caminho para a produção de transformações
rumo a um a cosmovisão moldada bíblicamente.

Transformação da cosmovisão: rumo a uma cosmovisão moldada


bíblicamente

Um a das posições mais fortes neste artigo é a firme convicção de que


o objetivo da missiologia é produzir mudança permanente nos níveis mais
profundos de lealdade a Cristo e à Sua vontade revelada nas Escrituras.
Existe o perigo de se estar satisfeito com as mudanças superficiais. Como
Jayakaran adverte, “as comunidades que se dizem cristãs, mas não tiveram
suas cosmovisões transformadas, são susceptíveis a criação de divindades
para tratar de suas vulnerabilidades ou tentar torcer a Deus para cumprir
uma função utilitária” .51 O perigo, já percebido por experiência própria,
é que as hipóteses não são alteradas ao nível da cosmovisão. Como
resultado, uma pessoa pode acompanhar o comportamento “de igreja” nova
ou crença por um período de tempo, mas cedo ou tarde os pressupostos
intocados da cosmovisão reafirmam sua força sobre a vida e a pessoa
retoma para o antigo modo de vida. Shenk adverte: “mudanças culturais
superficiais deixam intacta a questão da lealdade e da identidade cristã”.52

50Michael Keamey, 135.


51Ravi I. Jayakaran, Holistic Participatory Learning and Action: Seeing the Spiri-
tual and Whose Reality Counts. In Working with the Poor: New Insights and learning’s
from Development Practitioners, ed. Bryant L. Myers. (Monrovia, CA: World Vision,
1999), 33.
52Wilbert R. Shenk, Recasting Theology of Mission: Impulses from the Non-West-
em World. International Bulletin o f Missionary Research, 2001. July:98-107.
664 I Paulo Cândido de Oliveira

Este artigo sugere que a transformação na visão geral ocorre através


da produção de instabilidade ao nível da cosmovisão, fornecendo novas
explicações. Como resultado, se desenvolve uma nova integração cultural
que incorporará os novos pressupostos da cosmovisão e os pressupostos
pessoais, moldando a nova percepção do todo e restaurando a estabilidade.
Além disso, sugere que um a nova experiência é o meio mais poderoso
para produzir uma mudança de cosmovisão. Portanto, a missão adventista
deve encontrar um uso equilibrado da experiência como agente capaz de
transformação.
Nenhuma cultura precisa submeter-se a total transformação para
tomar-se cristã. Os pressupostos contrários às verdades bíblicas são os que
precisam ser mudados, moldando a cosmovisão como um todo, ao invés
de sobrepor uma cultura à outra.
Particularmente entre os adventistas do sétimo dia parece existir
um a percepção de que o cristianismo ocidental (adventismo) é a maneira
“correta” de se fazer igreja, e raramente são feitos esforços para desenvolver
formas de expressões na cultura local, isto é, igrejas relevantes. Em vez
disso, o modelo da igreja ocidental: a música, as estratégias, vestuário,
administração, etc., são considerados como parte da mensagem do
evangelho com o resultado que a igreja é percebida como estrangeira.
Elementos culturais locais são retratados com frequência como não
cristãos ou não compatíveis com o estilo de vida adventista, mesmo que
não se posicione contra os princípios bíblicos. A solução é permitir que
as Escrituras julguem todas as culturas. Os pressupostos da cosmovisão
devem ser verificados sob a luz da Escritura para definir pontos que
precisam ser alterados e os que permanecem.
Cristãos de todo o mundo são chamados a desenvolver uma vida
orientada bíblicamente que não só impacte seu sistema de crenças, mas
esteja profundamente enraizada nos pressupostos sua cosmovisão.
Novamente, o objetivo de qualquer esforço missionário, portanto, é
permitir que a mensagem bíblica molde cada cultura numa cosmovisão
___________ A importância da cosmovisão para o ministério no século XXI | 665

bíblica. Nesse sentido, um adventista do sétimo dia da M ongólia será tão


adventista como um americano. Essa ideia liberta a igreja em diversos
contextos culturais para serem unidos em Cristo, e ainda manter a sua
identidade cultural e peculiaridades.

Conclusão

Paul Hiebert, um dos principais missiólogos a trazer esse conceito


para os estudos de cosmovisão missionária, afirma que no novo paradigma
do pós-modemismo “cosmovisão é a questão-chave”.53Como missionários,
é necessário avaliar as próprias lentes para que se possa analisar (e também
transformar) a lente daqueles a quem se quer ministrar. Os missionários
precisam avaliar seus próprios pressupostos e premissas de vida e trazê-
los à luz e ao exame das Escrituras. No demais, “viveremos tanto a vida
examinada como a não examinada”.54 O conceito de cosmovisão ajuda na
consideração das próprias lentes que moldam a maneira como se percebe o
mundo e os pressupostos das pessoas a quem se deseja ministrar.
É uma questão crítica na missão contemporânea, desenvolvimento
social, comunicação transcultural, ministério e diversas áreas, uma vez
que os pressupostos fundamentais são utilizados pelas pessoas para dar
sentido ao seu mundo, bem como orientar e prescrever o comportamento
na vida diária. H á uma necessidade crescente de compreender as diferentes
cosmovisões e ser sensível aos pressupostos que as pessoas fazem sobre
a realidade ao se apresentar a mensagem do evangelho. No século XXI,
em uma era de pluralismo e pós-modemismo, lidar com as transformações
ao nível da cosmovisão pode ser o grande diferencial para uma igreja
verdadeiramente convertida.

53Paul G. Hiebert, Transforming Worldviews. Unpublished manuscript. (Deer-


field, IL, 200.3).
54James Sire, The Universe Next Door: A basic worldview catalog, 3d ed. (Down-
ers Grove, IL: InterVarsity Press, 1997), 18.
666 I Paulo Cândido de Oliveira

Há um atraso quanto a ser sensível ao impacto da cosmovisão das


pessoas na sua percepção da realidade. A realidade de existir pressupostos
e premissas que moldam a percepção das pessoas sobre tudo o que é
dito ou feito leva às questões sobre as estratégias atuais, metodologias,
currículos e modelos de Igreja que os adventistas têm usado. Em uma
reflexão esclarecedora sobre sua longa experiência missionária, Clifton
Maberly oferece um a descrição das teorias aplicadas, práticas e resultados
ao realizar a missão, informado pelas ciências sociais que desafiam as
estratégias atuais e metodologias. Reconhece que fazer missões com
base na percepção das pessoas sobre a realidade não deve continuar a ser
praticada como tem sido feito e existe a “necessidade de uma formação
muito mais missiológica entre os líderes locais da Igreja”.55 Van Engen
(1991) afirma que “a missão convida-nos a um reexame radical”,56 e
estudos de cosmovisão convidam o ministério adventista e missão a um
reexame radical sobre o impacto da cosmovisão de um povo enquanto a
Igreja procura cumprir sua missão.

55Clifton Maberly, Using the Social Sciences in Mission and Ministry: Reflections
of a Returning Long-Term Missionary. In Mission: A Man with a Vision: A Festschrift
Honoring Russell L. Staples, ed. Rudi Maier. (Berrien Springs, MI: Department of World
Mission, Andrews University, 2005), 265.
56Charles Edward Van Engen, God’s Missionary People: Rethinking the Purpose
for the Local Church. (Grand Rapids, MI: Baker Book House. 1991), 80.
MENSAGEM DE
ENCERRAMENTO
“É CHEGADA A HORA DO SEU JUÍZO”

Ted N. C. Wilson
Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia
Presidente

11111111111!111[11111111j111!m111111111j1111111fm1!111m1f!11m11!fmj1111m111!1111ní11N11m11111MM1m1m111m1111mm11'1m1m11!1111mm11111mmm!11m111

Introdução

Há muito tempo os adventistas do sétimo dia compreendem seu


caráter e missão exclusivos, derivados de Apocalipse 14:6-12: as três
mensagens angélicas. A correta compreensão teológica orientará a uma
abordagem correta quanto à missão. A teologia e a missão adventista do
sétimo dia são inseparáveis. Estamos ensinando e pregando as preciosas
mensagens dos três anjos para este tempo da história terrestre. Cada um
daqueles anjos tem uma mensagem especial. O primeiro salienta que as
pessoas devem retom ar à verdadeira adoração a Deus; o segundo anuncia
que a religião apóstata abandonou a verdade bíblica e está caída; e o
terceiro fala das marcas distintivas entre o povo de Deus e os que são
contra Deus. O povo de Deus adorará no sábado do sétimo dia. A marca
da besta ou de Satanás representará aqueles que adoram em qualquer outro
dia que não seja o sábado.
Em alguns lugares as pessoas podem dizer que essas mensagens
são politicamente incorretas e inconvenientes para serem pregadas. Quero
dizer-lhes que elas são as mensagens mais importantes a serem pregadas.
Elas são nossa teologia e missão!
No volume 9 de Testemunhos para a Igreja, p. 19 lemos:
670 I Ted N. C. Wilson

Num sentido especial os adventistas do sétimo dia foram


postos no mundo como atalaias e portadores de luz. A eles
foi confiada a última mensagem de advertência a um mundo
prestes a perecer. Sobre eles brilha a maravilhosa luz da
palavra de Deus. A eles tem sido dada uma obra da mais
solene importância: a proclamação da primeira, segunda e
terceira mensagens angélicas. Não há outra obra de tão grande
importância. Eles não devem permitir que nada mais lhes
absorva a atenção.

Hoje, vamos nos deter na primeira mensagem angélica que está


relacionada à criação, juízo e à mensagem do santuário, teologia e a
missão; todos estess são temas próximos ao coração dos adventistas do
sétimo dia. Temas que precisamos pregar.

O Evangelho Eterno

Vamos a Apocalipse 14:6-7:

Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho


eterno para pregar aos que se assentam sobre a terra, e a cada
nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo, em grande voz: Temei
a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora do seu juízo; e
adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das
águas.

Observe esses dois versos de Apocalipse 14:


Verso 6: outro anjo. Há muitos anjos em Apocalipse, mas este é o
primeiro de três anjos ou mensageiros especiais. Este anjo está levando
a notícia mais excelente: “o evangelho eterno” , o plano da salvação. Na
cruz, Cristo pagou o preço pela nossa salvação. Está intercedendo em
nosso favor como sumo sacerdote.
O “evangelho eterno Justiça pela fé em Cristo, justiça imputada
através da justificação e justiça comunicada através da santificação e, por
“É chegada a hora do seu juízo” | 671

fim, glorificação: tudo por meio de Cristo. Essa mensagem da justiça de


Cristo e da salvação concedida a todo que crer deve ser levada a todo o
mundo: a cada nação, a cada grupo linguístico e a cada grupo étnico.
Verso 7: Não sussurre essa preciosa mensagem. Proclame-a em alta
voz.
Temor ou “respeito e honra ” a Deus. Glorifiquem a Ele, não a vocês
mesmos, porque a hora do seu juízo chegou. Glorifique-0 mostrando
lealdade a Ele por meio do que você crê. Glorifique-0 pelo modo como
vive: seu estilo de vida, sua pureza de vida, seu tempo, seu vestuário, suas
escolhas diárias, o que você come. Acredite: o que você come e bebe afeta
diretamente sua vida espiritual. A Bíblia e o Espírito de Profecia avisam
para abster-nos de substâncias prejudiciais como álcool, fumo, cafeína e
drogas. Viva de forma equilibrada e temperante sob a orientação do Espírito
Santo. Glorifique a Deus porque o tempo da salvação e do juízo chegou.
Esse anúncio especial ajuda as pessoas a se voltarem para a verdadeira
adoração a Deus, aquele que fez o céu, a terra, 0 m ar e todas as coisas. Ele
é o Criador.
Ele é digno de nosso louvor e adoração porque nos criou. É por isso
que O adoramos hoje, sábado do sétimo dia, porque Ele nos pede e porque
é o memorial da criação. Essa preciosa mensagem da criação em seis dias
literais, consecutivos, de 24 horas e de origem recente, é a base de nossa
adoração nesse sagrado dia de sábado, o mesmo sábado criado por Deus
há seis mil anos atrás. Essa preciosa verdade bíblica da criação literal que
tem sido atacada por descrentes secularizados e humanistas infelizmente
também tem sido atacada ou repudiada por alguns adventistas do sétimo
dia.
Nossa igreja tem adotado, por muito tempo, o método gramático-
histórico de interpretação bíblica, permitindo que o texto bíblico se
interprete a si mesmo, regra sobre regra, preceito sobre preceito. Um
dos ataques mais sinistros contra a Bíblia e a criação parte daqueles que
creem no método crítico-histórico de interpretação bíblica; indivíduos
672 I Ted N. C. Wilson

que são influenciados pela abordagem não bíblica da “alta crítica”, que
é uma inimiga mortal da nossa teologia e missão. Essa abordagem põe
um erudito ou uma pessoa acima da abordagem comum das Escrituras
e concede permissão inapropriada para decidir o que ele ou ela percebe
como verdade, baseado nos recursos e educação da crítica. Fique longe
desse tipo de abordagem! Ela não conduz as pessoas à confiança em Deus
e em Sua Palavra, e destruirá a teologia e a missão corretas.
Sem uma compreensão literal do poder criador de Deus como
entendido nos dois primeiros capítulos de Gênesis, da criação literal em
seis dias, não há razão para adorar a Deus no sétimo dia literal de uma
semana literal de sete dias. A mensagem do primeiro anjo é uma trombeta
chamando a cada pessoa do mundo para adorar a Deus no verdadeiro
Sábado, o sétimo dia.
Essa atividade singular de obediência e amor a Deus, adorando-0
no dia dEle, será a marca pública característica e selará o povo de Deus
nos últimos dias. Essa é outra razão porque o sábado é tão importante. Ele
nos identifica com o nosso Criador, como Alguém que está apontando às
pessoas o rumo de volta à verdadeira adoração a Deus no fim dos tempos.
Outra parte importante da primeira mensagem angélica fala sobre
o “evangelho eterno” e a mensagem do “juízo”. Quando João fala sobre
o “juízo” Apocalipse 14:7, está fazendo menção à “hora do Seu juízo”
ou “a hora do seu juízo ” chegou? Em certo sentido, poderia haver uma
compreensão dupla, se é um juízo a respeito de Deus ou um juízo a nosso
respeito. Sem dúvida, Deus está em juízo diante do universo para saber
se Ele é um Deus amoroso que deve ser obedecido por amor ou se é
um Deus que somente deve ser servido através da força e coerção. No
entanto, aquele juízo de Deus será finalmente confirmado para o universo
depois de passarmos o milênio no céu revendo os juízos feitos por Deus e
declarando-0 justo e verdadeiro!
Isso é importante para compreender a sequência do que acontecerá.
Quando Cristo vier pela segunda vez, todos os olhos O verão. Será a
“É chegada a hora do seu juízo” | 673

Bendita Esperança pela qual aguardamos e que, creio, ocorrerá logo.


Vemos ainda hoje que as coisas ao nosso redor estão caindo aos pedaços.
Sinais de Sua vinda próxima, agitação econômica, instabilidade política
em todos os lugares, doenças estranhas que criam pandemônios, evidente
decadência social e moral em todo lugar e movimentos ecumênicos que
visam criar um sistema religioso unificado, que se oporá à adoração a Deus
no sábado do sétimo dia, eliminará a liberdade religiosa e promoverá um
dia de adoração substituto. Com certeza, a vinda de Cristo esta às portas!
Quando Ele vier pela segunda vez, seus pés não tocarão a terra, mas
nós subiremos até a nuvem celeste “para encontrar o Senhor nos ares”, de
acordo com 1 Tessalonicenses 4:17. Antes, porém, dessa segunda vinda
gloriosa, Satanás tentará “enganar os próprios escolhidos”, como escrito em
Mateus 24:14. Satanás tentará transformar-se num “anjo de luz”, e tentará
representar a Cristo caminhando nessa terra, dizendo às pessoas que ele é o
Cristo e que mudou o dia de adoração do sábado para o domingo. Imagine
a frenética cobertura da mídia que supostamente “provará” a todos que
este “Cristo” é real. Você não poderá crer em seus olhos. Creia somente na
Bíblia. Você será perseguido e caçado porque crê somente na Bíblia e não
no que parece evidente.
Quando Cristo vier pela terceira vez, desceremos com Ele do céu
após o milênio.
A Nova Jerusalém descerá do céu e pousará no Monte das Oliveiras,
que se'dividirá e criará um grande vale como predito em Zacarias 14:4. Este
é o local onde Cristo ascendeu ao céu na primeira vez, como relatado em
Atos 1:9 1 2 ‫ ־‬e a este lugar Ele virá pela terceira vez. Seguiremos a Cristo
rumo à Nova Jerusalém. Satanás reunirá seus condenados seguidores
ressuscitados para atacar a N ova Jerusalém, mas então, o juízo final virá.
Leia o relato fascinante em “O Grande Conflito” cap. 42.
Antes que o exército do mal ataque a Cidade Santa, todos verão o
trono do Filho de Deus acima da cidade. Todos os olhos focalizarão a
coroação final de Cristo. Então o Reis dos Reis pronunciará a sentença de
. 674 I Ted N. C. Wilson

morte aos que se rebelaram contra Seu governo. Os livros de registro serão
abertos e os olhos de Jesus observarão os ímpios que estarão conscientes
de cada pecado que cometeram. Acima ao trono é revelada uma cruz e
ocorre uma retrospectiva panorâmica para que todos vejam os sucessivos
passos do plano da salvação e da vida, morte e ressurreição de Cristo nesta
Terra.
Como o Grande conflito indica na pág. 669, 670:

Satanás parece paralisado ao contemplar a glória e majestade


de Cristo.... Satanás vê que sua rebelião voluntária o inabilitou
para o Céu.... A exprobração que se esforçou por lançar sobre
Jeová repousa inteiramente sobre ele. E agora Satanás se curva
e confessa a justiça de sua sentença.

Leia os fascinantes detalhes em “O Grande Conflito” quando, afinal,


Satanás e os ímpios serão destruídos no fogo que purifica a terra para a
criação do Novo Éden. Esse é o juízo final que vindicará a Deus diante do
universo por toda eternidade.

A mensagem do santuário

No entanto, a ênfase primária da mensagem do primeiro anjo é


sobre o juízo de todas as pessoas que já viveram e das que estão vivas.
Este juízo celeste está acontecendo agora. Faz parte do plano da salvação
que começou antes da fundação do mundo. Um plano baseado na obra
salvadora de Cristo por nós, nesta Terra e no santuário celestial.
Depois que os filhos de Israel deixaram o Egito e vagaram no deserto
do Sinai, Deus deu a Moisés a visão do santuário terrestre. O santuário
lembraria o mundo da morte de Cristo na cruz por nossos pecados e a
transferência final do pecado àquele que a merece: Satanás. Por meio da
inauguração dos serviços no santuário terrestre, Deus instruiu o mundo
quanto à forma como Cristo trataria o problema do pecado e como Ele
procedería no juízo.
“É chegada a hora do seu juízo” | 675

Em Êxodo 25:8-9, Moisés relembra 0 que Deus disse: “E me farão


um santuário, para que eu possa habitar no meio deles. Segundo tudo o que
eu te mostrar para modelo do tabernáculo e para modelo de todos os seus
móveis, assim mesmo 0 fareis.”
Vários aspectos do santuário terrestre e seus serviços estão
relacionados à justiça de Cristo e ao modo como o juízo seria realizado.
Hebreus 8:2 diz que Jesus é “ministro do santuário e do verdadeiro
tabernáculo que o Senhor erigiu, não o homem.” Hebreus 8:5 indica que o
santuário terrestre era uma “sombra das coisas celestes ” .
O santuário mostra ao mundo como Deus está trabalhando para nos
salvar. A descrição da mobília e estrutura do santuário podem ser vistas
em Êxodo 25-28 e no livro “Patriarcas e Profetas” capítulo 30. Reflita
brevemente em alguns fatos extraordinários sobre o santuário:
Era o melhor que poderia ter sido provido aos filhos de Israel. Era
impressionante, mas compacto um a vez que seria transportado. As paredes
estavam cobertas de ouro colocadas em encaixes de prata. A área ao redor
do santuário foi rodeada por cortinas de linho fino. N essa área o altar de
bronze do holocausto fornecia o local para a queima dos sacrifícios ao
Senhor. Os chifres do altar eram aspergidos com o sangue do sacrifício
expiatório representando o sangue de Cristo derramado por nós.
A pia para os sacerdotes se lavarem representava o poder purificador
de Cristo. A mesa dos pães asmos representava a Jesus, o Pão da vida para
cada um de nós. O castiçal com sete lâmpadas, feito de uma peça de ouro,
representava Jesus, a Luz do mundo.
O altar de incenso, feito com madeira de acácia e coberto com ouro,
mostrava a presença de Deus com um fogo que Ele acendeu, e estava diante
da cortina, separando o Lugar Santo e o Lugar Santíssimo, representando
as orações e petições a Deus por perdão. Os chifres eram tocados com
sangue das ofertas pelo pecado e o sangue era espargido diante do véu,
indicando a transferência da culpa da pessoa para o santuário.
676 I Ted N. C. Wilson

A cortina entre o Lugar Santo e o Lugar Santíssimo *não atingiam


o teto para que o incenso se espalhasse no Lugar Santíssimo sobre o
Propiciatorio da Arca da Aliança, onde o serviço simbólico de expiação e
intercessão ocorriam ligando céu e terra.
A Arca da Aliança foi feita de madeira de acácia, recoberta com
ouro e continha os Dez Mandamentos, um pouco de maná e a vara de
Arão que floresceu, demonstrando o constante interesse de Deus em nossa
vida e Seu cuidado por nossas necessidades. A Arca do Propiciatorio foi
feita de um a sólida peça de ouro. Era protegida por dois querubins de
ouro, com uma asa estendida para o alto e a outra dobrada em reverência
e humildade. Representava a reverência do céu para com a lei de Deus e
o interesse no plano da redenção - do que trata o juízo - nosso livramento
por meio do sangue de Jesus e nossa humilde submissão e confissão a Ele,
reconhecendo nossa necessidade de perdão e o livramento que Ele oferece
no juízo.
Estou abismado com a santidade do santuário e da presença de Deus.
Seu poder e presença causam respeito. Assim como Ele está no santuário,
está aqui conosco hoje, através do Espírito Santo. Por isso deveríamos ser
reverentes em Sua presença, em Seu santuário.
Acima do propiciatorio, a glória do shekinah transmitia a manifestação
física da presença de Deus.
O livro Patriarcas e Profetas declara, na pág. 349:

A lei de Deus, encerrada na arca, era a grande regra de justiça


e juízo. Aquela lei sentenciava a morte ao transgressor; mas
acima da lei estava o propiciatorio, sobre o qual se revelava
a presença de Deus, e do qual, em virtude da obra expiatória,
se concedia o perdão ao pecador arrependido. Assim na obra
de Cristo pela nossa redenção simbolizada pelo ritual do
santuário, ‘a misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça
e a paz se beijaram ’ (Sl. 85:10).
“É chegada a hora do seu juízo” | 677

Tudo isso demonstrava 0 plano de Deus para a redenção, através do


sangue de Cristo. Um pecador viria à porta do santuário, colocaria a mão
sobre a cabeça do animal, confessando e transferindo, simbolicamente,
0 seu pecado para o inocente sacrifício. O sangue era, então, espargido
pelo sacerdote diante do véu no lugar Santo, mostrando a transferência
do pecado para o santuário. Essa obra espiritual acontecia diariamente.
Imagine o sangue presente e 0 acúmulo simbólico dos pecados no Lugar
Santo? Seria necessária uma obra especial para removê-los. Deus ordenou
que uma expiação fosse feita em cada um dos compartimentos santos.
Uma vez ao ano o sumo sacerdote entrava no santíssimo para realizar a
purificação do santuário.
No dia do juízo, uma vez ao ano, dois bodes eram trazidos à porta do
santuário. Um era morto como oferta pelo pecado do povo com o sangue
sendo trazido ao lugar santíssimo e espargido no propiciatorio, representando
o sangue de Cristo derramado por nós. Então o sumo sacerdote colocava
suas mãos sobre a cabeça do bode vivo - o bode expiatório representa a
Satanás - e confessava todos os pecados acumulados de Israel, transferindo
os pecados do santuário para o bode expiatório. O bode expiatório é levado
ao deserto para morrer, mostrando que Satanás irá finalmente carregar a
penalidade do pecado e morrerá, o que porá um fim em suas tentações.
Agora vamos relembrar o que aconteceu na morte de Cristo na cruz,
naquela sexta feira à tarde, na hora do sacrifício da tarde. O sacerdote
do templo em Jerusalém estava prestes a matar o cordeiro. A cortina que
separava o Lugar Santo e o Lugar Santíssimo foi “rasgada de alto a baixo,”
como recorda Mateus 27:51. O cordeiro sacrifical fugiu do sacerdote. O
Livro O Desejado de Todas as Nações, na pág. 757 relata:

Foi feito o grande sacrifício. Um novo, vivo caminho está


para todos preparado. Não mais necessita a pecadora, aflita
humanidade esperar a chegada do sumo sacerdote. Daí em
diante, devia o Salvador oficiar como Sacerdote e Advogado
no Céu dos Céus. Jesus, o sacrifício, tornou-se nosso sumo
sacerdote.
678 I Ted N. C. Wilson

Depois da ressurreição, Cristo subiu ao céu e iniciou este ministério


especial intercedendo por nós como sumo sacerdote. Hebreus 4:14-16 diz:

Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo


sacerdote que penetrou os céus, conservemos firmes a nossa
confissão. Porque não temos sumo sacerdote que não possa
compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado
em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado.
Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao‫ ־‬trono da
graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para
socorro em ocasião oportuna.

E Seu direito e privilégio representar-nos, ser nosso Sumo Sacerdote,


nosso Advogado. O Grande Conflito, pág. 415, indica que no “No templo
celestial, morada de Deus, acha-se o Seu trono, estabelecido em justiça e
juízo.”
Hebreus 6:19 indica que Ele entrou “além do véu,” no Lugar Santo,
fazendo Sua obra de mediação por 18 séculos. De acordo com a profecia
de Daniel 8:14: “Até duas mil e trezentas tardes e manhãs e o santuário
será purificado,” Ele adentrou no Lugar Santíssimo para iniciar Sua obra
final de juízo e ministrar em nosso favor.
Lemos no Grande Conflito, pág. 421: “Durante dezoito séculos este
ministério continuou no primeiro compartimento do santuário. O sangue
de Cristo, oferecido em favor dos crentes arrependidos, assegurava-
lhes perdão e aceitação perante 0 Pai; contudo, ainda permaneciam seus
pecados nos livros de registro. Como no serviço típico havia uma expiação
ao fim do ano, semelhantemente, antes que se complete a obra de Cristo
para redenção do homem, há também uma expiação para tirar o pecado
do santuário. Este é o serviço iniciado quando terminaram os 2.300 dias.
Naquela ocasião, conforme fora predito pelo profeta Daniel, nosso Sumo
Sacerdote entrou no lugar santíssimo para efetuar a última parte de Sua
solene obra - purificar o santuário.”
“É chegada a hora do seu juízo” | 679

Estamos vivendo durante o tempo final da obra de Cristo para


purificar o santuário, o juízo investigativo. As doutrinas do santuário
e do juízo investigativo são razões teológicas importantes porque os
adventistas do sétimo dia estão engajados em missão. Logo Cristo voltará
e finalmente Satanás receberá sua pena. O sangue de Jesus Cristo na cruz
(nosso Sacrifício), e o ministério de Jesus Cristo, nosso Sumo Sacerdote,
no santuário celestial, têm um propósito: que você, eu e todos os que se
submetem a Ele confessemos nossos pecados e O aceitemos como nosso
Salvador para sermos justificados e recebermos a vida eterna através do
ministério de Cristo na cruz e no santuário celestial. Não precisamos temer
o juízo se conhecemos o Cordeiro, se conhecemos o Sumo Sacerdote, o
Rei que virá.
As três mensagens angélicas transformam pessoas. O Espírito Santo
trabalha no coração daqueles que ouvem esta preciosa mensagem do
advento.
Poucos anos atrás, Vasili era um oficial de polícia em Moldova.
Convenceu-se da verdade bíblica e a preciosa mensagem do advento e
desejou ser batizado como adventista do sétimo dia. Contou à família
sobre sua nova fé. Seus pais lhe disseram que o renegariam. O irmão disse
para não considerá-lo mais como irmão. A esposa disse que se divorciaria
dele. O comandante da polícia disse que não o liberaria os sábados.

Conclusão

Vasili agonizava com Deus, orando para que Ele lhe desse
uma resposta direta ao abrir a Bíblia num texto. O que ele deveria
fazer? Abriu a Bíblia em M t 10:35-38 que aborda: como a família
pode ser nossa inimiga; se você amar pai ou mãe mais que a Cristo,
não é digno dEle; você deve tomar sua cruz e seguir a Cristo.
680 I Ted N. C. Wilson

Vasili agradeceu a Deus. Tomou uma decisão. Foi batizado na igreja.


Voltou para casa e contou para a esposa. Ela disse que aprontaria os papéis
do divórcio. Vasili não se agitou, mas disse que a amava.
Sugeriu à esposa que deveríam contar ao restante da família. Ela
concordou, porque pensava que os pais ajudariam a dissuadir o esposo de
ser um cristão. Ao visitar os pais, ficou evidente a atuação do Espírito Santo
porque reagiram positivamente depois que lhes contou sobre o batismo.
Eles disseram: “Tudo bem.” Falaram com o irmão dele, que disse: “Sem
problemas.”
A esposa de Vasili estava confusa e frustrada. Mas Vasili se manteve
calmo e equilibrado.
Depois, Vasili contou ao comandante da polícia sobre seu batismo,
com a intenção de pedir sua demissão. “O que é isso? Tire uma semana
para pensar sobre isso”- disse o oficial. Passada uma semana, Vasili
voltou e trouxe seu pedido de demissão. Ao invés de aceitar a demissão,
o comandante promoveu Vasili para que ele não tivesse problemas com 0
sábado.
Por este tempo, a esposa de Vasili teve um sério problema no trabalho
onde ela era a encarregada do caixa. O total do dia não bateu e a empresa
disse que ela deveria pagar. Ela pediu a Vasili que orasse por ela e ele, bem
humorado, disse que ela deveria orar. Naquela noite eles oraram juntos
sobre o problema. No dia seguinte, ela descobriu o erro de contabilidade
no valor exato do dinheiro. Vasili disse que ela deveria entregar o coração
a Deus por ter respondido à oração. Ela disse “não.”
Mais tarde, a sogra de Vasili contraiu câncer e a esposa dele ficou
arrasada. Visitaram a sogra de Vasili e oraram por ela. Deus interveio e
ela foi curada. A esposa de Vasili foi batizada. Deus trabalha de maneiras
extraordinárias quando as pessoas aceitam essa maravilhosa mensagem do
advento e permanecem firme com ele. Hoje Vasili é tesoureiro da União
Moldávia. Há milhares esperando para ouvir essas preciosas verdades,
concedidas para que as compartilhemos.
“É chegada a hora do seu juízo” | 681

Proclame a mensagem do primeiro anjo por toda parte através de sua


vida e das palavras: “Teme a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora
do Seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes
das águas.” Nós não temos que temer 0 juízo se nos colocarmos nas mãos
de Cristo. Confirmamos o que Paulo declarou em Hebreus 7:25: “Por isso,
também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a deus, vivendo
sempre para interceder por eles.”
Que mensagem o movimento adventista leva ao mundo nesses
últimos dias! Essa linda mensagem teológica orientará nossa missão: a
proclamação da primeira, segunda e terceira mensagens angélicas para
chamar as pessoas de volta à verdadeira adoração bíblica a Deus.
Que Criador! Que Redentor! Que Sumo Sacerdote! Que Advogado!
Que Amigo! Que Rei! Que Deus!
APÊNDICE
A MISSÃO ADVENTISTA NO MUNDO
CONTEMPORÂNEO

DECLARAÇÃO DE CONSENSO E COMPROMISSO

IlIlrlIlmilllllMIIIIIIIIIIUIimillllllllltllllllllllllllllllllllimilllIIIIIMIIIIINIIIIIimillllllIllllllllllllllllllllllllimlIllimiKlllllllllllllllllllllllllllllllllllll

N os dias 16-19 de julho de 2009, foi realizado no campus do


Instituto Adventista de Ensino do Nordeste, Cachoeira, BA, Brasil, o
VIII Simpósio Bíblico-Teológico Sul-Americano, sob o tema “Teologia e
Metodologia da Missão” . O evento contou com a participação de teólogos
sul-americanos, do Instituto de Pesquisas Bíblicas da Associação Geral e
de outras instituições, editores, administradores, departamentais e pastores
distritais, os quais elaboraram a seguinte Declaração de Consenso e
Compromisso:
Nós, os participantes do VIII Simpósio Bíblico-Teológico Sul-
Americano, no desejo de nos envolvermos ainda mais ativamente na
proclamação das três mensagens angélicas ao mundo contemporâneo:
1. Reafirmamos nossa convicção de que, embora Deus use
diferentes formas de alcançar os seres humanos para a salvação, Ele
suscitou a Igreja Adventista do Sétimo Dia como o movimento profético
para a restauração da verdade no tempo do fim, e que a sua doutrina e
organização são essenciais ao cumprimento desta tarefa.
2. Reafirmamos nosso compromisso com a “Declaração de Missão
da Igreja Adventista do Sétimo Dia” de “proclamar a todas as pessoas
o evangelho eterno do amor de Deus, no contexto das três mensagens
angélicas de Apocalipse 14:6-12, conforme está revelado na vida,
686 I Declaração de consenso e compromisso

morte, ressurreição e ministério sacerdotal de Jesus Cristo, convidando-


as a aceitar a Jesus como Salvador pessoal e Senhor, e a unir-se à Sua
Igreja remanescente, e assistindo-as e edificando-as espiritualmente em
preparação para Seu iminente retom o” (GC Working Policy 2008-2009,
p. 29).
3. Reafirmamos nossa convicção de que a pregação do evangelho
eterno “a cada nação, e tribo, e língua, e povo”, na “hora do seu juízo” (Ap
14:6, 7), é a prioridade missionária adventista. Portanto, comprometemo-
nos a continuar participando nesta missão juntamente com todos os
membros, todas as instituições e todos os programas da Igreja.
4. Reafirmamos que, de acordo com Mateus 28:18-20, a missão
de fazer discípulos, confiada a todos os crentes, (1) fundamenta-se na
autoridade do Senhor ressuscitado; (2) alcança todas as nações, sem
nenhuma restrição; (3) abrange o ensino integral da mensagem bíblica; e
(4) é assistida em todos os momentos pela presença divina.
5. Reafirmamos a necessidade de se contextualizar, isto é, adaptar
os métodos às diferentes culturas, sem com isso alterar o conteúdo da
mensagem.
6. Reafirmamos que todos os métodos para o cumprimento da
missão devem estar centralizados em Cristo e fundamentados na mensagem
bíblica.
7. Reafirmamos nosso compromisso com a diversidade de
métodos empregados pela Igreja no cumprimento da missão, reconhecendo
“a formação de pequenos grupos como a base do esforço cristão”
('Testemunhos Para a Igreja, vol. 7, p. 21).
8. Reafirmamos nosso compromisso com o modelo apostólico de
plantar igrejas, a fim de conquistar territórios ainda não alcançados.
9. Reafirmamos a importância da ação harmônica entre todos os
departamentos da Igreja, como enfatizado pelo plano do “Evangelismo
Integrado” .
A missão adventista no mundo contemporâneo | 687

10. Reafirmamos o compromisso com a ênfase missiológica


da Divisão Sul-Americana na “Comunhão e M issão”, baseada na obra
capacitadora do Espírito Santo através dos dons por Ele concedidos à
Igreja (1 Co 12:4-11).

Damos glórias a Deus nosso Pai, que nos concedeu a oportunidade


de participar deste evento; e oramos para que a missão a nós confiada por
nosso Senhor Jesus Cristo seja concluída em nossa geração pelo poder do
Espírito Santo.

Comissão de redação:

Presidente: Alberto R. Timm


Secretário: Elias Brasil de Souza
Membros: Ángel Manuel Rodríguez, Bolivar Alaña, Bruno
Raso, Carlos A. Steger, Cristhian Alvarez, Daniel Rode, Davi Tavares,
Efrain Velázquez, Emílio Abdala, Heber Pinheiro, Jolivê Chaves, Mario
Veloso, Paulo Pinheiro, Ricardo González, Roberto Pereyra, Roberto
Pinto, Segundo Teófilo Correa, Wagner Kuhn.

Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia


Facudades Adventistas da Bahia

Cachoeira, BA, Brasil, 19 de julho de 2009


ÍNDICES
INDICE DE AUTORES

mmmtitmmtmmmmmmmmmmimmtmmmmmimmimumiiimiiimiiiniiimiiiiMiiiiiiiiiiiiiiiiimiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimiMiiiiiiiiii'imiiii

Abdala, E. D. 398, 463.,506,551 Am, W. 477, 505

Adams, E. M. 661 Arrada, J. J. 373

Adams, R. 227 Artola, A. M. 379

Adams, W. R J. L. 380 Ash Jr., J. L. 314

Agnew, F. H. 283 Associação Geral da IASD 412

Aguirre, R. 576, 578, 580, 581 Astruc, J. 375

Alden, R. L. 588 Auné, D. E. 107, 139, 141,142


144, 150, 151, 152
Alexander, J. C. 646 153, 158, 168,315
Alexander, L. C. A. 317
344

Allen, R. 312 Autry, A. C. 293

Alomía, M. 85, 86, 372, 374 Ayayo, K. G. 352

Amedeo, M. 56 Bab. N. 431

AmpueroMatta, V. E. 211,526 Bachmann, M. 134

Andersen, A. 86 Badcock, G. D. 270

Anderson, B. W. 321 Baird, W. 379

Anderson, G. 331 Baker, D. W. 33

Anderson, J. 36, 268 Baldwin, J. T. 38,390

Archer Jr, G. E· 375,376 Banks, R. J. 361


390
Barclay, W. 298,498, 499, 501
692

Barr, D. L. 185 Beckwith, R. T. 85

Barr, W. R. 321 Benedict, R. 645

Barret, D. B. 441 Benedicto, M. 267, 2 7 1 ,2 7 8 ,2 8 8


294
Barreto, J. 121, 122, 126
Berdayev, N. 269
Barrett, C. K. 347, 358
Berger, R 644
Barth, K. 379, 380, 423
Berkhof, L. ‫־‬ 388
Barton, S. C. 270
Bernard, J. H. 592
Bastos, S. 111
BemdGüntert, I. 586
Bates, J. 6, 621
Bethmann, E. W 19
Bauckham, R. 133, 136, 139, 140
143, 148, 149, 152 Black, A. 392

Bauer, B. L. 2 4 ,2 5 ,4 4 0 ,4 4 1 , Blauw, J. 32, 35, 44


457
Block, D. I. 33
Baumgart, J. J. 394
Bloesch, D. G. 269
Baumgartner, E. W. 2 3 ,3 1 ,4 3 6
460, 486 Blue, B. 363, 365

Beach, B. 473 Boatman, R. 294

Beach, W. 473 Boff, L. 315

Beale, G. K. 135, 139, 141, 142 Borba, W. 401


144, 145, 148, 149
Borchet, 0 . 127
150, 151, 152, 154
160, 168,173 Borgenhofer 642

Becerra, S. 619 Borges, M. 4 1 4 ,4 1 5 ,4 1 0

Beck, T. D. 297 Borgman, P. 39


Becker, U. 217,334 Bosch, D. J. 3 1 ,3 5 ,3 6 , 268
3 0 1 ,3 3 1 ,4 2 3 ,4 5 1
Beckwith, I. T. 145 453, 465,
693

Bourdeau, D. T. 9 Buttrick, G. A. 45

Bowles, J. C. 8 Byington, J. 621

Boxall, I. 137 Caird, G. B. 155, 164, 165

Braaten, C. E. 176 Calvino, J. 472

Bradshaw, B. 650 Canale, F. L. 83, 207, 282, 379


457
Brakemeier, G. 373
Carballosa, E. 228
Bredin, M. 137, 147
Carroll, R. 433, 434
Brodeur, S. 277
Carson, D. A. 2 3 1 ,3 4 4 ,3 8 1 ,3 8 7
Bromiley, G. W. 45, 210
Cartledge, M. J. 294
Brown, D. 532
Carvalhaes, C. 380,381
Brown, R. E. 120, 122,293, 472
Casali, V. 516
Bruce, F. F. 118, 119, 344, 356
579, 581 Ceia, C. 381

Brueggemann, W. 48 Cesaréia, E. 365

Brug, J. F. 394 Champlin, R. N. 606, 607


608, 609,611,612
Bruinsma, R. 23, 296, 620 614
Brunner, E. 311 Childs, B. S. 382
Bulgakov, S. 321 Chilton, B. 309, 353, 357
Bull, M. 20 Choi, P. R. 180
Bultmann, R. 309, 377, 378, 379 Clarke, A. D. 344
386, 387, 388, 390
Clouzei, R. E. M 269
Burge, G. M. 292, 297
Coe, J. H. 319
Burrill, R. 23,316, 344, 356
506 Coenen, L. 469, 500

Buss, P W. 372 Cohen, S. J. D. 357


Cole, G. A. 298, 290,318 Dabney, D. L. 270

Cole, R. A. 115 Dabrowski, R. L. 403,486

Coleman, R. 471,554 Damsteegt, R G. 4, 7,401,


457, 484
Colie, R. D. 270
Davidson, B. 114
Collins, A. Y. 148,185
Davidson, R. M. 38, 52, 282
Collins, N. J. 12, 486 288, 2 8 9 ,3 8 1 ,3 8 2
384,38 6 ,3 8 7
Congar, Y. 306
457
Conradi, L. R. 408,417
Davies, W. D. 360
Cook, D. C. 531
Davis, J. J. 40
Coote, R. T. 36
Dayton, D. W. 272
Corrie, J. 33
De Vries, H. 276, 388
Costas, O. 438, 439
De Wette 377
Cotrim, G. 373
Debose, F. M. 36
Cottrell, R. F. 18
Dederen, R. 23, 232, 282, 294
Couch, M. 171 381

Cox, C. I. 661 Deifelt, W. 388

Coxon, R W. 90 Deirós, R 430

Craigie, R C. 588 Deissmann, G. A. 359

Crane, J. 471,472 Delafield, D. A. 405

Crockett, W. V. 44 Delitzsch 114

Crosby, T. 274,314 DeNoia, J. 327

Cullmann, O. 470 Denyer, C. P. 438

Curcic, S. 359 Descartes, R. 373, 632

D ’Acosta, G. 327 Desrosiers, G. 135


695

Detweiler, C. 137 Edwards, J. 621

DeVries, R. K. 388 Egger, W. 385

Dibdahl, J. L. 457 Egler, J. 85

Dibelius, M. 378 Eichhom, J. G. 376

Dick, E. 408 Eims, L. 467

Dillard, R. 62, 63, 70 Ellingsen, M. 385,386

Dodd, C. H. 309, 607 Elliston, E. J. 448, 459

Dollar, H. G. 276 Elwell, W. A. 38

Dorsey, D. A. 71, 72, 75 Ereich, B. 500

Doss, C. 23,272, 461 Erickson, M. 13

Dougherty, R. R 98 Erickson, M. J. 379

Douglas, H. 7, 217, 485, 402 Faircloth 567

Douglas, L. M. 444 Fairman, R. G. 318

Doukhan, J. B. 144, 145, Farmer, R. L. 133,158


213,218, 221,222
225,289 Fausset, A. R. 532

Dreytza, M. 270 Fee, G. D. 270, 292, 300, 358


374, 379
Dudley, R. L. 441,529
Ferelli, T. 416
Dunn, J. D. G. 103, 175
270, 279, 291,346 Ferguson, E. 353
347, 360
Ferret, R. B. 314
Dybdahl, J. L. 2 3 ,3 1 ,3 3 ,2 7 2
Fiensy, D. A. 347
274,3 1 3 ,3 1 6 , 441
Filbeck, D. 33
Dymess, W. A. 33
Filho, I. G. 117
Easley, K. H. 171,173
Filo 114
Edson, H. 6 ,7
696

Finger, R. H. 362 Geisler, N. L. 374, 376, 384, 385


386
Finley, M. A. 25, 26, 494, 637
Gempf, C. 363
Fiorenza, E. S. 155,164
388 Gerber 468

Fitzmyer, J. A. 282, 344, 349 Gero, S. 278

Flesher, R V. M. 357 Gibbs, E. 554, 562, 563

Flew, A. 644 Gil, A. D. ‫ ־‬85

Fockner, S. 38 Gilbert, F. C. 19,373

Forbes, C. 264 Giles, R. N. 349

Ford, J. M. 299 Gill, D. W. 363

Fox, D. E. 86 Girdlestone, R. B. 587

Fredricks, G. 288 Gladen, R. 529

Freedman, D. N. 86, 90, 379 Gladwell, M. 187


382, 384, 387
Glasser, A. F. 37
Frend, W. H. C. 365
Glover, R. H. 44
Freud, S. 645
Goldman, A. L. 396, 397
Froom, L. E. 27, 274, 286, 354
366,412 Goldstein, C. 219, 238

Fuller, K. 309 GomáCivit, I. 467

Gabler, J. P. 377, 384 González, J. 5 7 9 ,5 8 1 ,5 8 2 , 687

Gane, E. R. 226, 281 Gonzalez, V. E. 112

Gaustad, E. S. 622 Goulder, M. D. 289

Geertz, C. 657 Go wan, D. E. 355

Gehring, R. W. 359, 363 Grabbe, L. L. 357


366, 367
Grant, F. C. 361
697

Green, M. 349, 467 Hanley, C. P. 661

Greenleaf, F. 4, 9, 13,272,309, Hans, B. 500


402, 405, 407, 409
410 ‫ ״‬484 , 485 , 487 Hanson, K. C. 276
514
Harder, F. M. 12
Greenspahn, F. E. 317 Harrison, R. K. 71,435
Gruesbeck, C. B. 478, 529 Harrisville, R. A. 305, 374
Gulley, N. 85, 230, 380, 389 Hartlich, C. 392
457
Blaney, J. S. H. 610
Gundry, S. N. 387
Hasel, F. M. 339, 3 7 3 ,3 8 8 ,3 8 9
Gunkel, H. 305,378 390,391
Gustin, P. 461,486 Hasel, G. F. 294, 373, 374, 375
376, 377, 378, 379
Gwyther, A. 137
3 8 1 ,3 8 2 ,3 9 2 ,3 9 5
Habermas, G. 390 457

Habets, M. 270 Haskell, S. N. 12, 14, 16,410, 486

Hadaway, C. K. 393 Hastings, J. 383

Hadrman, K. J. 621 Hawkin, D. J. 133

Hãgglund 372, 374, 376, 378 Hawthorne, G. F. 277

Hagner, D. A. 173,229 Hawthorne, S. C. 36, 646, 650

Hahn, F. 35 Haynes, C. 470

Hale, T. 531 Hays, R. B. 174

Hamilton Jr, J. M. 281 Hedlund, R. E. 33

Hamilton, V. P. 233 Heidegger, M. 644

Handler, R. 657 Heidemann, S. 375

Handy, L. K. ‫־‬ 86 Heim, M. 328

Hanks, B. 552 Hemer, C. J. 153,154,158


698

Hendriksen, G. 122,123 Horacio 430

Hendry, G. S. 292 Horn, S. H. 432, 433

Henrichsen, W. 470 Homecker, R. 561

Henry, H. 36 Hõschele, S. 313

Heppenstall, E. 299 Howard-Brook, W. 17, 137

Herndon, B. 3 Hoy Jr., T. 321

Hicks, B. 36, 268 Hromádka, J. L. 32

Hiebert, P. G. 178, 179,183,188 Hubbard, R. L. 435


646, 647, 648, 649
652, 653, 655, 665 Hunter III, G. G. 552,555

Hur, J. 285
Highlen, P. S. 661
Hurtado, L. W. 280
Hildebrandt, W. 270
Huss, J. 34
Hill 61, 80, 82
Ibn Ezra 114
Hindson, E. E. 388
Imbelli, R. P. 270, 271
Hinze, B. E. 270
Imhoff, F. 397, 398
Hirle, W. 418
Inskeep, K. W. 396,398
Hoge, D. R. 393, 394
Irineu 268, 269, 284
Holbrook, F. B. 85, 136, 159
163,211,282 Jackson, P. 395
Holdsworth, B. 296 Jamieson 532
Hollenweger, W. J. 304 Jayakaran, R. I. 655,661
663
Hollinger, D. P. 133, 134
Jeanrond, W. G. 379
Hollingswort, A. 183,184
203 Jervell, J. 352
Holmes, R. 220, 221 Engelkemier, J. 441
Hook, M. R. 8
699

Zizioulasm, J. 270 Kim, S. 44

John, A. A. 14 King, F. 131

Johns, L. L. 136 King, G. A. 4 9 ,5 0 ,1 7 5

Johnson, D. E. 201 Kistemaker, S. J. 133,134


145, 151,153, 164
Johnson, H. 398
Kittel 436
Johnsson, W. G. 20, 25, 163
211,465 Kittel, G. 216,591

Jonathan, B. 622 Kline, M. G. 280

Jones, W. T. 662 Klingbeil, G. A. 38, 83,311


372,457
Josefo 317
Klingbeil, M. G. 3 8 ,3 1 1 ,3 7 2
Jung, C. G. 345 453
Kahler, M. 451 Kloppenburg, F.B . 297
Kaiser Jr, W. C. 3 3 ,3 5 ,3 6 Knight, G. R. 5, 7, 13, 16, 26, 27,
39, 112,114,115 308, 3 1 0 ,3 1 3 ,3 9 4
1 1 6 ,268,423,554 403, 408,416, 484
499, 642
Kane, H. 472
Knox, D. B. 290
Kant, E. 1 8 3 ,3 7 3 ,5 4 1 ,6 4 4
Koch, K. 99
Kãrkkàinen, V. 34, 270, 304
Koch, R. T. 270
Kearney, M. 653, 658, 659, 660
661, 663 Koehler, L. 436
Keck, L. E. 278 Konings, J. 122
Keener, C. S. 103, 156 Koranteng-Pipim, S. 384
Kelley, D. M. 393, 394, 397 Kostenberger, A. J. 318,320
Kerkeslager, A. 134 Koyama, K. 33
Kidner, D. 112,113 Kraft, C. H. 650, 651,652, 660
Kim, K. 272
700

Krautheimer, R. 359, 362 Lesher, W. R. 280


364, 365
Levison, J. R. 104, 270,317
Krentz, E. 374, 375, 377, 378
Lichtenwalter, L. L. 171, 175
Krodel, G. A. 135, 151
Liddell, H. G. 591
Krum, N. 13,487
Liefeld, W. L. 352, 354
Kubo, S. 56
Myers, L. J. 661
Kuhn, T. 644
Lindsey, J. 6, 8
Kuhn, W. 443,461
Lioy, D. 138
Kuhne, G. 467,476
Lo, H. C. 86
Kümmel, W. G. 375
Lockhart, K. 20
Küng, H. 301,500
Lockward, A. 586, 590
Kuyper, A. 276, 449
Logan, R. E. 553
Kwast, L. E. 65
Longenecker, B. W. 270
Ladd, G. E. 134, 232, 298,386
Longenecker, R. N. 283
Laffey, A. L. 388
Longman, T. 62, 63,70, 291
Larkin Jr.,W. J. 36, 129, 268
351,352,381 Lopes, A. N. 382,389

LaRondelle, Η. K. 124, 125 Lord, A. M. 272


126, 127, 155
Loughborough, J. N. 407, 485
156,213,231
516
232, 236, 237
Luckmann, T. 645
LaSor, W. 45, 64, 65
Ludtke, M. 415
Latourette 430, 431
Lueker, E. L. 395
Lemke, W. E. 387
Lull, R. 305
Lenski, R. C. H. 119
Maberly, C. 666
Leonard, H. 12
MacPherson, A. 230, 234 McDaniel, F. L. 36, 268

Magan, R T. 16 McDermont, G. R. 327, 328

Maier, G. 381,382,383 McDonnell, K. 270,271


272
Maier, R. 2 4 ,4 5 7 ,6 6 6
McDonough, S. M. 231
Maimônides 114
McGavran, D. 505
Mainville, O. 377, 387
McGlung, G. L. 304
Mannheim, K. 645
McGrath, J. F. 280
Marlowe, W. C. 348
McIntosh, J. A. 31,32
Marquart, K. E. 395
Mciver, R. K. 374
Marshall, I. H. 173,2 2 9 ,3 5 1 ,3 5 2
McKnight, E. V. 382,383
Marshall, Μ. T. 391,392
McKnight, S. 309
Martin, C. G. 457
McQuilkin, R. 289
Martin-Achard, R. 36
Medeiros, E. S. 449
Martyn, J. L. 349,361
Medley, C. 488
Massie, L. B. 8
Meeks, W. A. 359
Mateos, J. 121, 122
Menzies, R. R 293
Matos, A. S. 373
Merk, 0 . 371
Matthey, J. 272
Merklin, L. 457, 461
Maxwel, C. M. 8, 10, 156
234, 401, 404 Merling, D. 85
407,411,412
417, 484,515 Mesquita, A. N. 113,114

Millar, C. 33
Mayers, R. B. 318
Millard, A. R. 33, 379
McConnell, C. D. 272, 289
Miller, C. L. 211
McCown, CT. C. 45
.7 0 2

Miller, J. V. 129, 132, 148 Musvosvi, J. 232

Minear, S. 151 Mwansa, P. 316

Moltmann, J. 32, 269, 270, 297 Myers, B. L. 355,357, 661,663

Montano 315 Nations, A. L. 374

Monterroso, V. 398 Naugle, D. K. 178, 181, 182, 183


184, 185, 191, 192
Moo, D. J. 344 193, 198, 203,204
642, 644
Moon, J. 373
Neely, A. 305
Moore, G. F. 360
Neighbour 537
Moreau, A. S. 32, 37, 40, 276, 305
Neill, S. 359
Morgan, G. C. 297
Neufeld, D. F. 4, 7, 8 ,1 4 , 19, 272
Morgan, R. 383
404, 409, 410, 414
M organ-Wynne, J. E. 303
Newman. Jr, B. M. 591
Morgenland 375
Newton, I. 373
Morris, L. 139, 141, 143, 147
Nichol, F. D. 7 ,4 6 ,7 1 ,7 6 , 113,
158,294, 344, 500
115, 127, 144, 145
Moskala, J. 31,59, 79, 80, 267 152, 155, 168,211
284, 356, 425, 429,
Mounce, R. H. 145, 164, 168 432, 433, 455, 526,
532, 533, 588, 592,
Moura, O. C. 605 605, 606,610,612,
613
Mowinckel, S. 5, 275, 276
Nicoll, W. R. 466
Moyer, B. C. 261
Niebuhr, H. R. 187
Mueller, E. 129, 161
Nunes, L. G. 371
Müller, U. B. 133, 135, 140, 152
160, 356 Núñez, M. Á. 311
M urphy- θ ’Connor, J. 364 O ’Collins, G. 330
Mustard, A. G. 8 O ’Ffill, R. W. 441
703

Oberhuber, K. 98 Padilla, R. A. 85

Oborji, F. A. 453 Palmer, D. W. 344

Olivares, C. 208, 233 Palmer, E. R. 514

Oliveira, G. 414,415 Pannenberg, W. 270

Oliveira, N. D. 378 Paroschi, W. 343, 356

Oliveira, P. C. 641 Parsons,T. 645

Oliveira, P. 179, 187 Patón, D. M. 312

Oliveira, W. 416 Pattemore, S. 132, 148

Oliver, B. D. 16, 342,361 Patzia, A. G. 347

Olsen, Μ. E. 4, 4 0 3 ,4 0 7 ,4 1 4 Paulien, J. 138, 159

Olson, A. V. 13,42 Paulsen, J. 320,411

Olson, C. G. 42 Payne, T. 290

Oosterwal, G. 19, 272 Pearce, W. P. 412

Opler, Μ. E. 651, 662 Pelikan, J. 373

Oppenheim, A. L. 86, 91 Pereyra, R. 3 7 4 ,3 7 9 ,3 8 2 ,3 8 5


386, 472, 687
Orbegoso, O. M. 207
Peskett, H. 33
Osborne, G. R. 133,135
139, 140, 144, 148 Peters, G. 438
149, 150, 152, 153
160, 161, 194 Peters, 0 . K. 136, 147, 152, 153
154,170
Oswald, T. L. 414
Peterson, D. G. 351
Oswalt, J. N. 44
Pettegrew, L. 319
Oyen, A. B. 14
Peverini, H. J. 414,512
Packer, J. I. 321
Pfandl, G. 13,38, 136, 177
Padderatz, G". 408 236, 346
•704

Pfeiffer 5 ,7 Regele, M. 394

Philippine, S. 22 Reid, G. W. 346, 372, 373, 379


3 8 2 ,3 9 0 ,4 5 7
Phillips, J. M. 36
Rengstorf, K. 466
Pinnock, C. A. 269, 270
315 Resseguie, J. L. 185,197

Piper, J. 424 Reventlow, H. G. 384, 387

Pluhar, W. S. 644 Reynolds, A. L. . 661

Poehler, R. J. 7 Reynolds, E. 208

Poellot, L. 395 Rhodes, S. W. 8

Poirier, J. C. 134 R ice,R . 285, 286, 294

Polanyi, M. 644 Richardson, A. 374

Prescott, W. W. 406 Richardson, W. E. 316

Pringent, P. 151,156 Ridder, R. D. 33

Proebstle, M. 38 Riesner, R. 357

Puthussery, J. 147 Rissi, M. 134

Race, A. 327 Ritt, H. 143

Rahner, K. 270, 326, 327 Riviere, W. T. 388

Rainer, T. 530 Robb, J. 437, 438

Ramm, B. 321,603 Rode, D. J. 527

Ramos, J. C. 121, 122, 126 Rodor, A. A. 374, 636

Rashi 114 Rodriguez, A. M. 156, 325


339, 372
Read, W. 398
Rodríguez, P. 518
Redfield, R. 658
Rogers Jr, E. F. 271
Reeve, J. W. 373
Rollins, W. G. 381
705

Roloff, J. 151,164 Schantz, B. 4, 8 ,4 0 8 ,4 1 7 , 457


473, 484, 485, 619
Rooy, S. H. 33 620
Roozen, D. A. 393 Schindler, P. 328
Rossiter, Μ. H. 621 Schlimm, M. R. 64
Roux, Georges. 91 Schmitt, P. J. 8
Rowen, S. F. 449 Schnabel, E. J. 34
Russell, W. 286, 287, 288 Schõkel, L. A. 90
Ryken, P. G. 183 Schreiner, T. R. 362
Sahlin, M. 19, 25,487, 507 Schulz, M. 394
628
Schwantes, S. 85
Salomón, M. Á. 497
Schwarz, C. A. 504, 505
Sánchez, J. M. 379
Schwarz, R. W. 4, 9, 13,272
Sanders, E. P. 346 4 0 2 ,4 0 3 ,4 0 5 ,4 0 7
409,410, 474, 484
Sanders, J. A. 377
4 8 5 ,4 8 7 ,5 1 4 ,5 1 5
Santos, I. A. 371 Scott, R. 591

Santos, J. D. 25 Scroggs, R. 382

Santos, P. 585 Seidman, S. 646

Santos, Z. A. 531,631 Semler, J. S. 374, 375

Saracco, N. 461 Senarclens, J. 377, 385, 386

Sama, N. 39 Setter, Η. M. 438

Satyavrata, I. 292 Shea, W. H. 85, 98, 114, 123


2 0 9 ,2 1 0 ,2 1 1 ,3 8 7
Sawyer, M. J. 302
Shealy, B. A. 387
Schaff, D. S. 390
Sheffel, R. 515
Schaff, P. · 390
Shelton, J. B. 293
706

Shenk, W. R. 663 Specht, W. F. 280

Shepherd, W. H. 285 Speight, S. L. 661

Sheppard, G. T. 382 Speiser, E. A. 113,436

Shinn, R. L. 380 Spicer, W. A. 4, 404, 405, 406


4 1 0 ,4 1 2 ,4 1 4 ,4 1 6
Showalter 436, 437 418
Shults, F. L. 270 Spinoza, B. 374
Siecienski, A. E. 270 Springer, K. 593
Sigountos, J. G. 44 Stagg, F. 467
Silva, G. D. 371 Stanley, D. M. 118
Silva, M. 173,389 Stanton, G. N. 270
Sinnott-Armstrong, W. 334 Staples, R. L. 2 4 ,3 6 ,3 1 3 ,6 6 6
Sire, J. 661, 665 Steckel, C. 321
Slattery, C. L. 291 Stefanovic, R. 135, 145, 156, 159
1 6 4 ,2 1 4 ,2 1 5 ,2 2 9
Smalley, S. 134, 135, 138, 139
140,1 4 4 ,1 4 6 ,1 4 8 Steffen, T. 444
164, 173
Steger, C. A. 521,687
Smith, D. K. 302, 303
Stem, D. H. 610
Smith, E. 36, 268
Stetzer, E. 642
Smith, G. V. 66, 75, 79, 80, 84
Stevenson, K. 441
Smith, U. 11, 17,402, 409
486 Stott, J. R. W. 3 1 ,3 2 ,5 8 , 153
318, 593, 607
Snow, C. M. 391 609,611,613
614
Sommer, B. D. 317

Soulen, R. N. 350 Strand, K. A. 141, 143, 151

Spalding, A. W. 4, 14, 402 Strayer, B. E. 8


404, 485
707

Stronstad, R. 277 Timm, A. R. 83, 114, 121, 123


2 1 3 ,3 7 2 ,3 7 4 ,3 8 4
Stuart, D. 374, 379 4 0 1 ,4 1 4 ,4 1 5 ,4 1 6
4 4 5 ,5 1 4 ,6 1 6 , 687
Studebaker, J. 282
Tippett, Η. M. 3
Stuhlmacher, R 392
Tonstad, S. K. 175
Sullivan, F. A. 326
Torreblanca, J. 372
Sundberg, W. 374
T o sí , S. D. 586
Swain, Scott R. 320
Tracy, D. 380
Sweet, J. 135
Trafton, J. L. 172
Syme, D. 626, 628
Trecartin, H. 489, 495
Talbert, C. H. 155,172
Treier, D. J. 287
Tan, S. 321
Trevett, C. 315
Tanner, J. R 86
Treyer, E. 234
Taylor, B. 187
Troeltsch, E. 3 8 0 ,3 8 3 ,3 8 4
Taylor, J. V. 272
Turner, M. 270, 2 9 7 ,3 1 7 ,3 1 8
Taylor, R. S. 610
Tuya 430, 431
Tenney, M. C. 86, 119
Tyson, J. B. 56
Teodoreto 114
Unger, M. F. 388, 392
Térry, J. M. 36, 268, 284
Urman, D. 357
Thomas, N. E. 452
Bemmelen, R Μ. V. 373
Thorson, S. 531
Dolson, B. J. V. 321
Tiessen, T. L. 284
Dolson, L. R. V. 321
Tiessen, T. 328,334
Engen, C. E. V. 559, 666
Tietjen, J. 395
Rheenen, G. V. 646
Tillich, R 376,380,381
708

VanGemeren, W. A. 59, 65, 66 Wainwright, G. 358


78, 80, 81
Wallenkampf, A. V. 280,314
Vanhoozer, K. J. 320 319,500

Vassiliadis, P. 268, 272 Walton 61, 80, 82

Veloso, M. 124. 125,126, 127 Ward-Perkin, J. B. 364


237, 241,4 4 1 ,4 6 9
539,687 Warrington, K. 295

Venden, M. L. 18,294 Waugh, B. • 388

Verkuyl, J. 36 Webber, R. E. 642

Vicentino, C. 373 Weeks, Η. B. 17

Vieira, J. C. 524 Wegner, U. 3 8 4 ,3 8 5 ,3 8 6

Vieira, R. C. C. 415 Weiss, S. 309

Vine, W. E. 220, 392, 587 Welker, M. 270, 279, 294

Ramachandra, V 33 Wellhausen, J. 376

Virkler, H. A. 352 Wenham, G. J. 38, 113

Visser’t hooft, W. A. 626 Wenz, G. 373

Vogels, W. 429, 335 Were, L. F. 17, 18

Volf, M. 300 Westermann, C. 38, 387

Von Hamack, A. 364 Westphal, F. H. 13,413,414


415
Von Rad, G. 387
Wheaton, D. H. 501
Von Schelling, F. W. J. 644
Whidden, W. 373
Vyhmeister, W. 5, 7, 17, 402
White, A. L. 7, 15
Waggoner, J. H. 9, 12, 485
486 White, C. E. 366

Wagner, C. P. 345, 430, 440, 498 White, E .G . 4 ,7 ,8 ,1 5 ,1 8 ,2 5


505,506 26, 27, 105, 106, 110
111, 112, 116,117
709

120, 123, 125, 174, Wilson, J. C. 552


181,193,200, 203,
273, 274, 278, 294, Wilson, N. 440
295,298, 307,313,
Wilson, T. N. C. 271
322, 328, 332, 333,
3 3 5 ,3 3 6 ,3 3 7 ,3 3 8 , Wimber, J. 593
346, 347, 383, 390,
391,402, 403,404, Wink, W. 381
4 0 5 ,4 0 8 ,4 0 9 ,4 1 0 ,
41 1 ,4 1 2 ,4 1 3 ,4 1 4 , Winter, B. W. 344, 347, 357, 363
430, 431,432, 433,
Winter, R. D. 36, 646, 650
444, 445,439, 441,
443,444, 447, 451, Wiseman, D. J. 85
452, 453, 455, 456,
458, 459, 460, 463, W itherington III, B. 135, 144,
470, 484, 485, 493, 351,352
495, 500, 502, 503,
51 3 ,5 1 5 ,5 1 6 ,5 1 7 , Wolf, H. 116
518, 519, 526, 527,
Wong, J. H. 326, 327
528, 529, 530, 532,
533, 536, 545, 552, Wonsuk, M. 270
553, 576, 578, 581,
585, 586, 588, 589, Wood, I. F. 305
591, 594, 595, 596,
597, 598, 599, 600, Woodberry, J. D. 459
603,615,616, 638
Woodcock, E. 318
White, J. 6, 8, 9, 11,486
Wrigh, T. 358
White, L. M. 365
Wright, C. J. H. 32, 40, 267
White, W. 392 429, 434, 435
437
Whitney, B. L. 14
Wycliff, J. 34
Wiersbe, W. W. 610, 616
Yocom, R. M. 321
Wilkinson 433
Yong, A. 320
Williams, G. F. 313
Yost, D. F. 19, 487
Williams, J*. F. 3 6 ,129,268
Zackrison, J. W. 506, 507
W illiamson Jr, L. 392 508
Zbaraschu, T. 272

Zuck, R. B. 379, 380, 557


Johson, T. M. 441
Jones, S. A. 645
Thomas, R. L. 152
ÍNDICE DE REFERÊNCIAS BÍBLICAS

........................................... ...................

Gênesis 9:7 426 16 40


1:1 228 9:27 112,113, 114 16:2 429, 432
1:22 426, 433 10 40 16:4-9 430
1:26-27 334 11 166 17:1 424,425
1:27-29 433 11:1-9 38 17:1-2 426
1:28 37, 425, 426 11:30 432 17:1-6 425, 426, 428
432, 433 12 437 432
1-11 38 12:1 38, 435 17:4-6 432
1-15 38 12:1-3 32, 36, 124 17:6 426
3:7 429 329 17:11 234
3:8 31, 112 12:2 433,437 17:15-16 432
3:9 31,448 12:2-3 39, 55 17:16 426
3:15 3 1 ,3 7 ,2 1 7 12:3 39, 424, 425 17:17 432, 432
252, 434, 448, 434, 436 17:18 432
454 589 12:6 434 17:18-19 432
3:18 589 12:6-8 434 17:20 426, 433
3:21 31,448 12:7 40, 435 17:21 433
3:22 588, 589 12:7-8 434 18 435
4 37 12:7-9 429 18:16-33 40
4:1 112 12:8 40 18:18 39, 40, 425
4:3 429 12:10-20 40 434,437
4:26 37 13 435 18:19 41
5 ‫־‬ 37 13:4 40 19:1-29 190
5:24 38 13:7-8 434 20 40
6:1-8 38 13:15-18 435 20:1-3 335
6:3 3 1 ,3 6 ,3 7 13:18 40 21:12 433
38, 53 14:14 435 22:1-19 40
6:5 38, 97 14:17-24 40, 330 22:9-13 40
6:5-6 37 14:18-20 51, 54 22:18 39, 425, 437
6:8 37 15:2 429 23:6 435
6:9 38 15:4 429 24:1 435
6:11-13 37 15:6 56 26:4 3 9 ,4 1 ,4 2 5
6:11-17 190 15:7 38 437
8:1 37 15:13-16 53 26;5 40
9:1 425, 426, 432 15:16 65 26:12 435
71'2

26:28 435 10:2 36 16:16 11‫־‬3 ,2 2 5 , 238


26:29 435 12:1-28 358 16:26 219
28:3 424,425, 426 12:12 42, 53 16:30 225
428 12:24-27 35 16:31 219
28:13-15 41 13:9 234 16:33-34 225
28:14 39,425, 436 13:16 234 18:3 41
35:9 427 14:4 41 18-19 41
35:9-11 424 14:18 41 20:3 226
425,426 15:26 590 23:10 288
35:11 427, 428 17:8-13 66 23:15-17 288
35:11-12 41 17:14 66 26:11-12 112, 113
39:2-6 46 18 54, 570 26:14-16 82
39:20-21 46 18:1 52 26:45 428
41:25-28 335 18:10-11 52
41:37-41L 46 18:21 570 Números
43:14 424, 425, 427 19:3-6 55 6:24-26 46
428 19:4-6 3 2 ,3 6 7:12 52
45:5-8 42 19:5-6 33, 42,124 11:24-30 570
46:3 41 19:6 123, 149 12:1 239
48:3 428 19:16-19 282 12:4 239
48:3-4 424,425 20 230, 235 12:5 239
426, 427 20:4 229 13:32 239
49:25 424,425 20:8-11 593 14:2 239
427, 428 20:10 57 14:10 239
50:19-21 42 20:11 229 14:23 239
20:17 261 19:13 226
Êxodo 24:12 512 19:20 226
1:7 426, 428 25:8 113, 114,115 22:9 335
1:12 428 120, 127 22-25 158
3 54, 449 25:8-9 117, 675 23:11 335
3:2-4 145 25:10-21 239 24:1-3 275
3:6-8 41 25-28 675 24:2-4 335
3:7-10 33 26:1 123 24:4 424
3:10-15 42 28:5 123 24:16 424
5:15 239 28:6 123 24:17-19 52
5:23 428 29:45 113 22-24 52
5-15 46 29:45-46 116 28:26 288
6:2-8 41 31:13 234 31:8 52
6:3 424, 425, 428 31:17 234 31:16 158
6:4-5 428 31:18 512 33:3 428
6:6-8 428 32:34 82 33:4 42, 42
7:1-2 33 33 292 35:34 113
7:5 41
7:17 41 Levítico Deuteronômio
8:22 41 11:44-45 41 4:5-8 41
9:3 577 16 218 4:6 41
71 3

5:9 82 11:3 52 7:11 ‫־‬28 44


5:10 82 18:20 216
6:4-9 35 18:22 216 Neemias
7:15 590 18:25 216 2:1-10 44, 46, 50
12:5 115 18:27 216 2:8 577
12:11 115 23:2 275
12:21 115 Ester
14:1-3 41 1 Reis 1:4 220
14:24 115 9:3 115 1-9 54
19:15 141 10:1-9 46 4:12-14 45
26:19 220 11:36 115 4:12-16 46
28:15-68 82 14:21 115 8:15-17 45
31:3 437 17:9-24 42
34:11 42 Jó
2 Reis 1:1 52, 97
Josué 2:21 588 1:1-3 52
2 54 5 54 1:8 330
2:1-21 52 5:1-19 46 1:9 52
2:8-11 46 5:15 42 2:3 52
2:8-12 41 7:9 216
2:9-14 51 8:7-15 43 Salmos
6:17 52 14:25 65 1:2 219
6:25 52 20:12-19 49 2:4 134
7:14 39 23:34 44 7:12 134
12:8 437 9:7 239
23:3 437 1 Crônicas 9:8 239
24:18 437 2:11-12 52 9:20 173
2:16 196 9:21 173
Juizes 12:18 275 19:1-2 333
6:14 587 12:32 639 19:4 333
29:11 220 19:7 219
Rute 22:27 346
1:13 577 2 Crônicas 31:10 587
1:16 54 2:11-12 46 32:1-2 56
4:18-22 52 9:1-8 46 32:5 588
16:12 590 34:11 219
1 Samuel 20:7 435 38:3 587
3:1 317 32:31 49 40:6-7 122
7:13 577 33:7 115, 120 45:2-6 134
12:8 42 33:8 120 47:9 40
15:1-9 66 35:20-22 335 57:5 433
15:32 66 36:22-23 44, 50 57:9 45, 48
15:33 66 Esdras 67 36, 46
1:1-4 44, 54 67:1-7 47, 438
2 Samuel ‫־‬ 3-7 50 67:2 37
4:10 216 5:3-16 54 68:31 48
7‫ו‬4

68:32 48 2:3 50 20:1-6 · 68


72:11 48 2:3-4 45 21:2 68
72:19 48 2:4 36 21:1-10 68
74:9 317 6:1-5 202 21:9 231
75:8 166 6:6 202 21:11-12 61,69
76:12 48 6:7 202 21:13-17 69
78:24 590 6:8 449 22 69
78:25 590 7:14 118,451,454 22:13 69
82:8 48 9:1 45 23 61,69
85:10 676 10:5 81 23:9 66
86:9 48 10:6 81 24:14-16 66
87:4-6 48 11:1-5 331 24:23 ‫־‬ 66
96 46 11:9 526 24-27 66
96:2-9 47 13:4 67 25:9 66
96:3 37, 47 13:5 67 25:11 66
105:1-2 47 13:11 66 26:1-19 66
105:26 42 13:1-14:23 60, 67 30:26 588
105:37 590 13-22 66, 69 38:19 35
108: 48 13-23 36, 53, 54 39:1-8 49
115:1-8 173 14 166 40-12-17 80
117:1-2 45 14:1 57 40:18-20 173
119:22 219 14:1-2 54 40:25 228
119:46 47 14:1-3 66 40:26 228
119:105 142 14:13 66 42:1-9 40
126:2-3 47 14:14 66 42:6 42
126:10 47 14:24-28 67 42:6-7 41
133 561 14:29-32 60, 67 44:9-20 173
135:15-18 173 14:32 66 44:26-28 94
137:1-3 46 15 68 44:28 54
145:4-5 36 15:5 60 45:1-4 54
145:11-12 48 15-16 60 45:18 228
145:12 48 16 68 45:22 31, 55, 587
145:21 48 16:5 66 46-48 53
16:6 66 48:20 168
Provérbios 16:11 68 49:1-6 61
1:7 219 17 68 49:1-7 40
4:9 220 17:1-3 60 49:6 40
17:7 66 50:4-9 40
Isaías 18 68 52:13-53:12 40
1:6 587 18:7 54 56:2-8 45
1:10-31 115 19 60, 68 56:3-8 57
1:13 115 19:9-15 66 56:6-7 50
1:18 587 19:17-25 54 56:6-8 346
2:2 45 19:19-25 81 56:7 124, 125
2:2-4 81 19:23-25 54 58:6 593
2:2-5 346 20 68 58:7 595
715

58:8 41 72, 74 8 125


58:12-14 06, 593 47 60 8:1-18 115
59:2 112,115 47:1 73 9:3-11 198
60:1-3 40,41 47:1-7 72 9:4-6 166
61 275 48 60 10:22 115
61:1 104 48:1-7 72 16 232
61:9-11 48, 50, 49:1-6 72 16:1-35 115
51 49:7-22 61,72 16:22 115
62:1-2 41 75 16:23 115
62:2 4 8 ,5 0 49:23-27 60, 72 18:1-18 115
62:9-11 45 49:28-33 72 20:8-9 428
65:19 590 49:34-39 72 20:12 51,234
65:20 590 50:1-51:64 72 20:20 234
66:3 173 50:3 75 20:41 50
66:19 36, 37, 43, 48 50:4-5 75 21 232
66:23 4 3 ,4 9 50:4-7 74 24:1 76
50:9-16 75 25:1-7 61
Jeremias 50:17 75 25:7 81
1:5 33 50:19-20 75 25:8-11 60
2:5 173 50:20 74 25:11 81
3:16 122 50:21-32 75 25:12-14 61
3:17 45 50:33 74, 75 25:15-17 60
6:13-21 115 50:34 74,75 25:17 81
7:1-15 115 50:35-46 75 25-32 36, 53
7:4-10 125 50:44 80 75, 76, 78
10:3-8 173 50-51 60 26-28 61
17:5 430 51 80 28:16 81
17:14 587 51:6 75 28:25 76
31:3 201 51:7 231 28:26 76
31:31-34 282 51:10 75 29-32 60
33:9 45 51:45 168 29:6 78, 81
31:33 512 51:45-46 75 29:9 78
36:11-21 513 51:50-51 75 29:13-16 78
36:28 514 51:59 74 29:16 78, 81
36:32 514 51:59-64 43,53 29:21 81
38:7-13 52 51:60 74 30:8 78,81
43:5-7 44 51:61 80 30:25 78
44:1 44 30:26 81
44:15-18 44 Lamentações 32:15 81
46:1-26 60 3:12 134 32:17 76
46:1-28 72 36:20-21 50
46:13-14 44 Ezequiel 36:23 4 1 ,5 0 ,5 1
46:25-26 44 1:26-2:1 202 36:33-38 51
46:27 73 2:1-3 202 38:23 51
46:28 73 3:24 202 39:7 51
46-51 36, 53,71 3:22-23 202 39:25-29 81
71 6

39:27-29 51 7:1-14 45 Amós


47:1 126 7:7 222 1 62, 64
47:2 126 7:8 222 1-2 36, 53
7:9 212,218 l:3-2:3 64
Daniel 7:9-11 221,226 1:3-5 60
1 54,591 7:9-12 213,222 1:6-8 60
1:1 94 7:10 212,218 1:9-10 61
1:2 81,231 7:13 222 1:11-12 61
1:17 95 7:14 222 1:13-15 61
1:20 89, 92 7:25 222 2 62, 64
1:20-21 46 7:26-27 46 2:1-3 60
1:21 44, 94 8 224 2:4 ‫ ־‬64
1-3 44 8:12-13 222 3:1-2 436
2 54 8:13 593 3:7 38
2:1 335 8:14 0 6 ,212 ,2 1 3 9:7 53
2:9 97 221,226 ,5 9 3 9:12 50,81
2:21 46 678
2:23 92 9:2 95 Obadias
2:24 96 9:3 95 1:1-16 75
2:30 92 9:4 99 1:3 75
2:31-47 45 9:5-6 95 1:4 75
2:44 46 9:15-17 96 1:5-9 75
2:48 98 9:18-19 95 1:10-12 75
2:49 96 9:24-27 217 1:13 75
3 46 10:1 44, 94 1:14 75
4 44, 53, 54, 222 10:9-16 202 1:15 75
4:1-3 44 10:11 98 1:16 75
4:6-7 97 10:19 98 1:17-21 75
4:19 97 10:21 95, 100
4:25-27 97 10-12 145 Jonas
4:30 231 11:40-45 17 3 36
4:31 231 12:3 27, 45 3:4 80
4:37 44, 92 12:4 99 3:10 43
5 44 12:9 99 4:1 43
5:11 93, 97 12:13 99 4:6-11 43
5:11-12 93
5:14 9 3,97 Oséias Miquéias
5-6 46 1:9 50 4:1-2 45
6 44 2:21-23 50 4:1-5 49,81
6:1-3 89 4:2 50
6:4 89, 93 Joel 4:3 36
6:25-28 50 2:17 50 5:7 81
6:26-27 93 2:28-32 287 6:6-8 41
6:28 44, 94 3:1-3 53 6:8 38
7 4 6 ,213,221 3:12 36, 53
222, 224,226
7‫ו‬7

Naum Malaquias 11:10 145


1:12-15 65 2:7 145 12:6 117,306
3:1 347, 145 12:28 282
Ageu 4:5 07, 155 13:54 355
1:13 116 16 465
2:4 116 Mateus 17:10-13 07
2:5 116 1:1 52 17:24-27 363
2:7 116 1:5 52 18 465
2:9 116 1:5-6 52 18:20 127
1:18 277 21:13 121,125
Habacuque 1:20 277 23:5 431
2:2 512 1:23 112,117 23:13 125,431
2:4 56 118 127 23:15 431
2:6-17 60 3:16 278, 295 23:34 361
2:18 173 3:16-17 331 24 309
2:19 173 3:17 295 24:14 03, 103,155
4:1 295 156, 164, 438
Sofonias 4:3 295 439,673
2:4-7 70 4:6 295 24:24 216
2:4-3:8 70,71 4:17 104 24:30 280
2:8-11 70 4:19 554 24:31 280
2:11 49,81 4:23 216, 592 24:42-44 498
2:12 71 5:16 39, 50 24:42-25:13 499
2:13-3:8 71 5:45 333 24:45-51 498
3:8 81 5-7 558 25:1-13 498, 499
3:9 49 6:13 612 25:14-30 498
3:9-10 49, 346 7:11 334 25:21 99
3:10 49 7:13-14 153 25:31-46 498, 499
3:17 50 7:28 293 26:13 216
3:19-20 49 7:29 293 26:17-19 358
8:11-12 346 27:51 121, 122, 677
Zacarias 8:14-15 363 28 528
2:11 49, 50 8:20 484 28:10-20 275
4:1-10 141 9:35 216 28:18 280, 435
6:1-8 134 10 465,554 28:18-19 330
7:12 275 10:1 105,275 28:18-20 34
8:20-23 49,61 10:1-2 466 286, 292
8:22-23 126 10:5 130 329, 439, 462
8:23 45 10:5-6 346, 466, 535 465, 466, 468
9:1-8 61 10:7 104 587,686
13:8-9 49 10:7-8 466, 592 28:19 466, 527, 554
14:4 673 10:8 500 28:19-20 129,450
14:6 346 10:9-14 466 28:20 127, 560
14:16 126 10:17 361
14:16-19 49 10:23 346 Marcos
10:35-38 679 1:1 216,
718

1:8 104 2:25-38 277 1:1-3 137


1:10 278, 295 2:40 277 1:9 330,336
1:12 295 2:52 277 1:14 111, 117,119
1:15 216 3:21 278 120, 451,454, 635
1:17 554 3:22 120, 278, 295 1:18 298
1:21-22 355 4:1 278, 295,319 1:29 452
1:22 104 4:6 525 1:32 295
2:1-12 357 4:14 104, 278, 295 1:32-34 278
3:4 592 4:16 355 1:39 554
3:13-19 554 4:16-19 275 1:43 554
3:14 561 4:16-22 355 1:46 554
3:14-19 149 4:16-30 286 2:1-4 • 121
4:10-25 554 4:18 104, 278,317 2:1-12 121
5:23 592 4:19 278,317 2:3-22 125
5:28 592 5:10 554 2:13-17 355
5:34 592 6:13 ‫ ־‬17 554 2:13-22 111, 117
6:13 105,592 7:5 357 121, 122
6:30 554 7:50 592 2:14-22 121
6:56 592 8 469 2:19 122
9:18 105 8:3 127 2:54 121
9:28 105 8:36 592 2-4 127
9:29 105 8:39 470 3 298
10:35-45 558 8:50 592 3:1-5 125,127
10:52 592 9:1-6 470 3:5 126
11:17 121, 122, 346 10 554 3:8 302, 320, 336
13 309 10:8 593 3:10 43
13:10 155,164 10:9 593 3:16 2 1 7 ,3 3 1 ,4 5 2
13:26 280 10:17 554 454
13:27 280 10:1-12 470 3:16-21 198
15:30 592 11:1-4 554 4 469
16:14 392 11:20 282 4:1 43
16:15 130 12:42-48 501 4:1-42 122
16:15-16 468 12:48 82 4:4 126
16:15-18 275, 593, 17:19 592 4:7-18 122
18:28 363 4:14 126
Lucas 20:24 216 4:21-24 127
1:1-4 344 21 309 4:24 220
1:3 351 21:12 361 4:32-34 122
1:4 351 21:20-24 360 4:35 536
1:15 290, 592 22:13-20 358 4:39-42 122, 469
1:16 290 22:15-18 358 4:43-54 469
1:35 277 24:45-48 468 4:46-53 127
1:41 290 24:49 107, 297 5 469
1:42 290 5:14 355
1:67 290 João 5:24 545
2:14 220 1:1 451,454 5:29 223
7‫ ו‬9

5:40 201 17:19 546 2:39 352


6:58-59 355 17:23 614 2:41-47 108
6:63 545 18:20 355 2:42 358,362
7:14 355 19:34 126 2:44-45 347
7:17 392 20:19 614 2:46 347, 356
7:37 126 20:20-21 130, 468 58, 362
7:39 279 20:21 106, 275,614 2:46-47 352
7:46 293 20:22 106, 126, 275 3:1 347, 356
8:2 355 20:21-22 106 3:11-26 355
9 469 20:26 614 3:13 352
9:27 469 3:15-18 352
9:27-30 469 Atos 3:19 436
10:3 614 1:1 351 3:20-21 346
10:16 57 1:2 279 3:22 436
10:23 355 1:1-4 344, 472 3:25 39, 436
11:12 592 1:4-5 352 3:26 436
12:24 204 1:4-8 275, 283, 284 4:8 120, 352
12:27 592 1:5 106 4:8-13 284
12:28-33 279 1:6 107, 127 4:9 592
12:32 204 1:6-8 283,307 4:12 329, 454
12:31 525 1:6-11 346 4:13 108
12:32-33 544 1:7 352 4:17-18 108
12:33 204 1:7-8 107 4:21 108
13:1-17 558 1:8 297,3 3 1 ,3 5 2 4:25 352
14:6 256 1:9-12 673 4:28 352
14:15 166 1:14 107, 362 4:29 108,291
14:16 126 1:14-2:1 108 4:30 108
14:16-17 126,547 1:15-20 107 4:31 106, 108,282
14:17 107, 126, 281 1:16 352 291,352
14:26 139, 294 1:24-28 472 4:32-35 347
14:30 525 1:26 349 5:1-12 284
15:5 39 2 275, 284, 300 5:12 347
15:16 . 39 2:1 356 5:17 349
15:18 243 2:1-3 282 5:20-21 347
15:19 243 2:1-4 349, 352 5:20-25 355
15:26 107, 139 2:4 106, 290,319 5:25 347
16:7 139 2:7-8 349 5:30-32 352
16:9-14 547 2:9-11 346 5:38 352
16:11 525 2:11 352 5:38-39 352
16:12 560 2:20-22 352 5:42 347, 355
16:13 107, 297 2:22 352 356, 362
16:33 243 2:23 352 6 157, 284
17:3 329 2:29 287 6:1 345
17:4 331 2:33 279 6:3 290
17:15 58 2:36 149 6:5 290,580
17:17 546 2:38 288, 349 6:7 436’
720

6:21 580 11:25 583 15:14-15 50


8 287 11:25-26 532, 580 15:17 50
8:1-3 347 11:26 583 15:19-21 356
8:1-4 577 11:27 583 15:21 355,356
8:4 347 11:27-30 582 15:28 284
8:4-5 352 11:28 347, 583 15:28-31 578
8:5-8 347 11:29 583 15:32 582
8:5-25 577 11:29-30 347, 583 15:35-36 347
8:14-17 288 12:12 362 15:36-40 345
8:16 349 12:23 220 15:41 580
8:26-40 347, 577 12:24 436 16:6 284
9 450 13:1 127, 347, 582 16:7 ‘284
9:1-22 577 13:1-3 532 16:10 352
9:4 202 13:2-5 284 16:13 359
9:15 580 13:4-13 577 16:14 353
9:20 352 13:9 290 16:15 362
9:27 291,579 13:10 290 16:30-34 329
9:27-30 577 13:13 570 16:31-32 362
9:31 352 13:14-15 348 17:1-2 348
10 284, 287, 450 13:14-42 355 17:4 353
10:1-10 335 13:19 577 17:5 220
10:1-48 577 13:20 577 17:5-9 360
10:2 353,362,578 13:36 352 17:10 348
10:9-16 352 13:42-44 348 17:11 362
10:9-20 108 13:46 353 17:11-12 353
10:22 353,362 13:46-48 352, 17:13-14 360
10:27-29 352 13:50-51 360 17:17 348
10:34-35 352 13:52 290 17:24 155,220
10:36 330 14:1 348, 353, 578 17:25 333
10:38 104,484 14:2-6 360 17:27 333
10:44-46 108, 349 14:3 291 17:29 233
10:44-47 288 14:8-20 656 18:1 570
10:48 349 14:15 155 18:1-4 348
11 284 14:15-17 228 18:4 348, 578
11:14 362 14:19-20 360 18:4-7 357
11:15 108,288 14:21 353 18:5-6 353
11:17-18 352 14:27 153 18:6 360
11:19-30 575, 577 15:1 578 18:7 353
583 15:1-5 355 18:8 353
11:19-21 347 15:1-31 615 18:10 528
11:20 578, 583 15:2-3 352 18:12-16 353, 360
11:21 577 15:5 349 18:12-17 360
11:22 532 15:7 216,352 18:18 349, 570
11:22-24 577, 579 15:8 108,288 18:19 348
11:22-25 583 15:12-19 352 18:21 570
11:24 290, 580, 583 15:14 55 1823 570
72 ‫ו‬

19 287 Romanos 13:10 235


19:1-7 284, 288 1:1 472 14:13 561
19:5 349 1:2 216 14:19 561
19:6 349, 582 1:3 216 14:23 429
19:8 291, 348 1:5 216 15:7 561
19:9 359 1:9 216 15:14 561
19:17-18 353 1:16 216,217 15:19 216
19:21 570 329, 546 15:25 216
19:24 612 1:17 216,217 15:25-26 347
19:29 607 1:19-25 332 15:26 216, 347
19:38 612 1:25 228 16:3-5 362
20:4 607 2:4 204 16:5 343, 361
20:16 356 2:14-15 334 16:10 362
20:17 607,615 3:10 258 16:10-11 362
20:21 352 3:19 329 16:11 362
20:24-25 352, 599 3:21-25 217 16:14 362
20:27 352, 560 3:22-23 329 16:15 362
20:28 352, 607, 615 5:1 258 16:16 350,561
20:32 362 5:10 329 16:23 362, 607
20:33-35 484 5:14 329 16:25-27 250
20:34 348 5:18 329 16:26 252
20:38 278 6:11 329
21:3-7 577 6:23 227 1 Corintios
21:9-10 582 8:1 192 1:1 472
21:17-26 345,356 8:9-13 277 1:11 362
21:19-25 356 8:15-17 296 1:14 607
21:20 355 8:18 220, 296 1:16 362
22:1 360 8:21 220 1:17-24 548
22:8 560 8:26 295 1:18-25 471
22:10 560 8:26-27 296 1:26-28 359
22:16 349 8:31-34 192 2:1-5 348, 548
22:19 356 8:34 144 2:1-16 200
23:1 360 9:4-5 353 2:10 159
23:6 ‫־‬ 360 9:6-8 353 2:14 298
24:5 349, 360 10:9 329 3:9 423
24:12 356 10:17 392 3:10 444
24:14 349 12 498, 500 4:12 348
25:9-12 345 12:1 58 5:5 526
26:5 349 12:1-2 471 5:10 58, 392
26:11 356 12:2 58, 196 6:19 299
26:30-32 345 12:6 582 7:7-9 348
27:3 577 12:10 561 9:17 246
28:22 349 12:16 561 9:22 452,635
28:25-27 352 13:8 561 9:25 556,
28:30-31 345 13:8-10 236 9:27 472
28: 31 352 13:9 235 10:16 358
722

11:1 452, 473 13:12 350 6:17 547


11:5-16 350 6:19 216
11:17-34 358 Gálatas
11:21-22 358 1:6 216 Filipenses
11:23-26 358 2:3-5 355 1:7 216
12 275, 498,500 2:7 216 2:3 616
12:3 547 2:10 347 2:5-8 196, 484
12:4-11 687 3:6-9 55 2:8-11 279
12:8 237 3:8 39 2:15 413
12:10 237, 582 3:16 436 3:10 244
12:11 501 3:26-29 55 3:12 257
12:28-29 582 3:28 172 3:13 ‫ ־‬259
13 454 4:4 112, 247 3:15 258
13:2 582 5:1-5 355 3:21 220, 259
13:9 471 6:16 353 4:15-18 347
14:6 582
14:15 362 Efésios Colossenses
14:29-37 582 1:7 256 1:13 526
14:34 350 1:8 256 1:17 333
15:44-49 277 1:10 247 1:20 528
15:45 277 1:13 198 1:23 439
16:1-3 347 1:22 247 1:24 241,242, 243
16:8 356 1:23 247 1:24-2:3 241
16:9 153 2:1-2 525 1:25 245, 246, 249
16:19 343,361,362 2:8 248 1:25-27 241
16:20 350 2:10 39 244, 252
16:22 527 2:11-22 561 1:26 249, 252
2:14 127 1:27 253
2 Corintios 2:14-18 202 1:28 241,253
2:12 153,216 3:2 248 254, 256,257
3:1-11 275 3:2-7 251 1:29 2 4 1 ,2 5 3 ,2 5 9
3:3 285 3:2-9 246 2:1 260, 261
3:18 220 3:5 252 2:1-3 241,260
3:21 220 3:6 57,216 2:2-3 262
4:1-7 546 3:6-12 55 2:2 262,263, 264
5:5 547 3:8 246 2:3 262, 264
5:7 547 3:8-12 251 2:9 117, 118
5:10 223 3:9 246 2:15 527
5:14 13 3:10 252 3:11 172
5:14-15 330 4 500 3:16 362
5:17 544 4:8 279 4:3 153
5:18 544 4:8-11 498 4:15 3 4 3 ,3 6 1 ,3 6 2
5:19 330 4:11-12 558 4:16 362
8:1-2 359 4:30 198
10:14 216 5:18 318 1 Tessalonissenses
11:8-9 347 5:19 362 1:5 285, 547
723

1:8 531 2:1 555 2:9-10 245


1:9 155 3:13 608 2:11 600
2:9 348 2:20 175
4:16 280 Filemon 2:21 175
4:17 280, 673 1:2 343,3 6 1 ,3 6 2 3:18 277
5:26 350 4:7 501
Hebreus 4:7-11 498
1 Timóteo 1:3 220, 228 4:10 249
1:3 253 2:9 279 4:11 249
1:4 253 2:14 201 4:16 581
1:10 555 2:14-16 527 4:17 223
1:20 526 2:18 239 5:13 166
2:4 331 3:9 134 5:14 350
2:5 239 4:12 137, 546
2:6 330 4:14-16 678 2 Pedro
3 558 4:16 227, 239 1:21 237, 275
3:2 555 5:11-14 356, 560 2:5 38, 158
3:16 117 6:19 678 2:13 358
4:7-8 558 7:1-3 52 3:15-16 471
4:12 362 7:11-17 52
7:25 681 1 João
2 Timóteo 8:2 675 1:1-3 137
1:11 472 8:5 675 2:1 144, 239
1:13 555 8:10 282 4:8 175
2:1-13 471 9:14 277 4:8-10 452
2:2 555, 558, 570 10:25 356 4:19 452
2:3-4 555 10:26-30 223 5:6 547
2:5 556 10:35-38 527 5:9-12 545
2:6 556 11:7 97 5:9-13 547
2:8 216 11:31 52 5:20 526
2:15 556 13:8 83, 84
2:19 198 3 João
2:20 556 Tiago 1:1 607
2:21 ' 556 1:17 336 1:1-4 606
2:24 555 1:21 545 1:3 607, 608
2:24-25 556 2:2 356 1:4 608
4:1-8 471 2:10-12 166 1:5 607, 609
4:3 555 2:25 52 1:5-8 606, 608
1:6 608, 609
Tito 1 Pedro 1:8 609
1 558 1:2 546 1:9-11 606, 609
1:1 472 1:3 546 1:9 610,612
1:2 248 1:19-21 547 1:10 611,612,614
1:5-7 607, 615 1:23-25 545 1:11 609,612,613
1:9 558 2:9 39, 55, 124 617
1:9-13 555 149 1:12 606, 609, 61-2
724

613 1:17 201 3:14 135,145,146


1:13‫ ־‬15 606, 613 1:17-19 202 161
1:14 614 1:19 144, 190, 202 3:19 161, 162, 192
1:15 614 1:20 141, 145,152 3:21 134,190
1:11 143,208 3:22 139
Judas 2:1 141, 142, 145 4 162
1:11 158 2:1-3:22 190 4:1 154, 190
1:12 358 2:5 141,162 4:1-11:19 185
1: 14-15 38 2:6 157 4:2 139
1:14-16 38 2:7 134, 139, 187 4:3 145
2:8 145 4:4 134
Apocalipse 2:9 361, 150 4:5 ‫ ־‬138
1:1 130, 133, 134 2:10 134,177 4:8 161, 176
137, 139, 144 2:11 134, 139 189,435
146, 150, 190,215 2:12 137, 145 4:10 134
1:2 135, 136, 143 2:13 135, 146, 168 4:11 161, 165, 189
174 172, 190 5 162
1:1-3 136, 143 2:14 52, 130, 158 5:1 138
1:1-8 185 2:14-15 158 5:1-8:1 192
1:3 143,175 2:15 157 5:1-10 176
187,190 2:16 137,162 5:2 130, 144
1:4 138,189,190 2:17 134, 139 5:5 134, 197
1:4-5 138,149,191 2:18 145,202 5:6 130, 138
1:4-6 189 2:19 161 139,150
1:4-8 160 2:20 130,158 161,197
1:5 135, 146, 147 2:21 200 5:6-10 204
149, 160, 161 2:21-22 162 5:7 138
190, 191, 192 2:232 202 5:8 138, 174
196, 199, 202 2:24 158,168 5:9 161, 171, 173
1:5-6 160, 198 2:25 177 191, 192, 198
1:6 149, 160, 165 2:26 134 199, 438
191,192,196 2:29 139 5:9-10 191,192,196
199, 202 3:1 138,145 198,202,203
Τ5Γ 145, 160 3:3 162 5:10 149, 150, 191
161, 192 3:5 134, 144 192, 198, 199
1:8 189, 435,438 3:6 139 5:11 144
1:9 136, 147 3:7 145 5:12 165,199
174,177,201 3:8 153 5:12-13 138
1:9-3:22 185 3:9 192,361 5:13 138
1:10 139 150,161 6:1-9:21 190
1:10-13 197 3:10 139,167 6:9 136, 146, 147
1:11 144 172,173, 168
1:12 141 3:11 134 6:9-11 156,162,191
1:13 141 3:11-18 6:9-12 148
1:14 202 3:12 134 6:10 167, 168,
1:16 137, 202 3:13 139 172,173
‫‪725‬‬

‫‪6:15‬‬ ‫‪172‬‬ ‫‪151,157‬‬ ‫‪199, 209‬‬


‫‪6:17‬‬ ‫‪197‬‬ ‫‪10:8-10‬‬ ‫‪144‬‬ ‫‪12:9‬‬ ‫‪139, 145, 172‬‬
‫‪7‬‬ ‫‪168, 197,203‬‬ ‫‪10:10-11‬‬ ‫‪133‬‬ ‫‪526‬‬
‫‪7:1‬‬ ‫‪146‬‬ ‫‪10:11‬‬ ‫‪151, 157‬‬ ‫‪12:10‬‬ ‫‪119, 191, 192‬‬
‫‪7:1-3‬‬ ‫‪146‬‬ ‫‪171,173,438‬‬ ‫‪612‬‬
‫‪7:1-4‬‬ ‫‪197, 198‬‬ ‫‪11‬‬ ‫‪135,141,142‬‬ ‫‪12:10-11‬‬ ‫‪192‬‬
‫‪7:2‬‬ ‫‪144, 176‬‬ ‫‪11:2‬‬ ‫‪166‬‬ ‫‪204‬‬
‫‪7:2-3‬‬ ‫‪146‬‬ ‫‪11:3‬‬ ‫‪133,151‬‬ ‫‪12:10-171‬‬ ‫‪209‬‬
‫‪7:4‬‬ ‫‪197‬‬ ‫‪11:3-4‬‬ ‫‪151‬‬ ‫‪12:11‬‬ ‫‪134, 136,147‬‬
‫‪7:9‬‬ ‫‪27, 171, 173‬‬ ‫‪11:3-13‬‬ ‫‪143, 151‬‬ ‫‪161, 191, 192‬‬
‫‪192,197, 438‬‬ ‫‪11:4‬‬ ‫‪141,142‬‬ ‫‪195,197,199‬‬
‫‪7:9-10‬‬ ‫‪55, 197, 203‬‬ ‫‪11:5‬‬ ‫‪143‬‬ ‫>‪12:13-1(:‬‬ ‫‪208‬‬
‫‪7:9-15‬‬ ‫‪191‬‬ ‫‪11:6‬‬ ‫‪143‬‬ ‫‪12:14‬‬ ‫‪222‬‬
‫‪7:10‬‬ ‫‪192, 197‬‬ ‫‪11:7‬‬ ‫‪134, 136, 143‬‬ ‫‪12:15‬‬ ‫‪138‬‬
‫‪7:11‬‬ ‫‪144‬‬ ‫‪11:8‬‬ ‫‪142, 143‬‬ ‫‪12:17‬‬ ‫‪57, 136, 146‬‬
‫‪7:14‬‬ ‫‪161,191‬‬ ‫‪161,166‬‬ ‫‪147, 150, 154‬‬
‫‪192,197‬‬ ‫‪11:9‬‬ ‫‪143, 171,173‬‬ ‫‪162, 168, 174‬‬
‫‪198, 200, 203‬‬ ‫‪438‬‬ ‫‪176, 190, 191‬‬
‫‪7:15‬‬ ‫‪119, 150, 168‬‬ ‫‪11:10‬‬ ‫‪133, 150,167‬‬ ‫‪195, 200, 207‬‬
‫‪192,198, 199,203‬‬ ‫‪172, 173, 174‬‬ ‫‪208, 209,213‬‬
‫‪8‬‬ ‫‪289‬‬ ‫‪200‬‬ ‫‪214,215, 232‬‬
‫‪8:2-3‬‬ ‫‪146,192‬‬ ‫‪11:11‬‬ ‫‪139, 151‬‬ ‫‪234, 235,236‬‬
‫‪8:3‬‬ ‫‪174‬‬ ‫‪11:11-13‬‬ ‫‪202‬‬ ‫‪12-14‬‬ ‫‪208, 209,222‬‬
‫‪8:3-4‬‬ ‫‪191‬‬ ‫‪11:13‬‬ ‫‪165,‬‬ ‫‪168‬‬ ‫‪238‬‬
‫‪8:3-5‬‬ ‫‪144‬‬ ‫‪11:15‬‬ ‫‪137, 146‬‬ ‫‪13‬‬ ‫‪354, 163, 167‬‬
‫‪8:4‬‬ ‫‪174‬‬ ‫‪11:17‬‬ ‫‪136, 435‬‬ ‫‪178,195, 199‬‬
‫‪8:13‬‬ ‫‪172,173‬‬ ‫‪11:18‬‬ ‫‪150, 151, 172‬‬ ‫‪209, 210,229‬‬
‫‪9‬‬ ‫‪289‬‬ ‫‪174,190‬‬ ‫‪230, 234, 235‬‬
‫‪9:1‬‬ ‫‪146‬‬ ‫‪11:19‬‬ ‫‪166, 190, 209‬‬ ‫‪13:1‬‬ ‫‪176,222‬‬
‫‪9:4‬‬ ‫‪198‬‬ ‫‪210,235‬‬ ‫‪13:1-8 208,209, 210‬‬
‫‪9:7‬‬ ‫‪134‬‬ ‫‪12‬‬ ‫‪163, 168, 192‬‬ ‫‪13:1-10‬‬ ‫‪162, 195‬‬
‫‪9:11‬‬ ‫‪145‬‬ ‫‪195, 199,215‬‬ ‫‪13:1-18‬‬ ‫‪209, 210‬‬
‫‪9:13‬‬ ‫‪146‬‬ ‫‪12:1‬‬ ‫‪134‬‬ ‫‪13:2‬‬ ‫‪138‬‬
‫‪9:17-18‬‬ ‫‪142‬‬ ‫‪12:1-2‬‬ ‫‪209‬‬ ‫‪13:3‬‬ ‫‪139, 167‬‬
‫‪9:17-19‬‬ ‫‪137‬‬ ‫‪12:1-5‬‬ ‫‪208‬‬ ‫‪13:3-4‬‬ ‫‪167‬‬
‫‪9:18‬‬ ‫‪143‬‬ ‫‪12:1-16‬‬ ‫‪209‬‬ ‫‪13:4‬‬ ‫‪159, 526‬‬
‫‪9:20‬‬ ‫‪143, 173, 190‬‬ ‫‪12:1-17‬‬ ‫‪174, 190‬‬ ‫‪13:5‬‬ ‫‪138, 222‬‬
‫‪200‬‬ ‫‪12:1-14:20‬‬ ‫‪190‬‬ ‫‪13:6‬‬ ‫‪119, 138, 167‬‬
‫‪9:20-21‬‬ ‫‪162, 167‬‬ ‫‪ 5‬״ ‪12:1-22‬‬ ‫‪185‬‬ ‫‪13:7‬‬ ‫‪134, 438‬‬
‫‪9:21‬‬ ‫‪173,190‬‬ ‫‪12:3‬‬ ‫‪176‬‬ ‫‪167,168, 171‬‬
‫‪10‬‬ ‫‪145, 151‬‬ ‫‪12:3-4‬‬ ‫‪209‬‬ ‫‪173, 174, 212,526‬‬
‫‪10:1‬‬ ‫‪144‬‬ ‫‪12:4-5‬‬ ‫‪209‬‬ ‫‪13:8‬‬ ‫‪159, 167, 172‬‬
‫‪10:1-10‬‬ ‫‪146‬‬ ‫‪12:5‬‬ ‫‪137‬‬ ‫‪173, 187, 194‬‬
‫‪10:1-11: 19‬‬ ‫‪190‬‬ ‫‪12:5-7‬‬ ‫‪156‬‬ ‫‪197, 199, 200‬‬
‫‪10:5‬‬ ‫‪144‬‬ ‫‪12:6‬‬ ‫‪208,222‬‬ ‫‪13:9-10‬‬ ‫‪210‬‬
‫‪10:7‬‬ ‫‪130,132, 150‬‬ ‫‪12:7-12‬‬ ‫‪146‬‬ ‫‪13:9-18‬‬ ‫‪208‬‬
‫•‬
726*

209,232 171, 172, 173 14:14 134, 176,211


13:10 154 174, 177 176, 190, 195 213,222, 226
195,213 203,210, 226 14:14-15 214
214 229,2 8 9 ,4 1 9 14:14-17 212
13:11-15 163 438, 439, 526 14:14-20 208, 210
13:11-18 162, 195 587, 670, 686
210, 234 14:6-7 139,210,215 14:15-20 146
13:12 167, 172, 173 593,670 14:17-20 168
13:12-15 229 14:6-8 222 14:18 211
13:13-14 167 14:6-9 215 15 163,436
13:13-15 160 14:6-11 146, 209 15:1 146,210
13:14 172, 173 14:6-12 06, 22 15:2 •134
13:14-17 159,212, 155, 156, 163 15:2-4 210
13:14-18 234 170, 207, 208 15:3 189, 435
13:15 139, 229 2 0 9 ,2 1 3 ,2 1 4 15:4 162,189
13:16 413, 167, 172 232, 236, 239 15:5-8 210, 235
233, 234 240, 329, 401 15:6-7 146
13:16-17 159 455,669, 685 15:8 210, 238
13:16-18 163 14:6-13 57 15:9 210
13:17 233 173, 199, 587 15-22 208
13:18 195 14:7 57, 143, 162 16 103
13-14 229 166, 168, 175 16:6 150,174
14 138, 151, 163 189,218,218 16:7 436, 161
195, 197, 199 222, 224, 228 16:9 162, 165,168
209,211,215 229, 289, 671 190, 200
221,222, 226 672, 686 16:11 162, 190, 200
275, 436, 452 14:7-12 155 16:12-16 17
670 14:8 5 7 ,145,1 5 5 16:13 160, 237
14:1 154, 166 166,210, 226 16:13-14 139
176,195,196 230, 231,232 16:14 139,160
199,211 14:9 145, 155,200 172, 176, 526
14:1-5 148, 156, 163 211,212, 233 16:16 160
191, 195,202 14:9-11 58, 83 16:19 166
208,211,214 210 17 164, 166, 178
14:1-12 163 14:9-12 07 17:1 146
14:1-13 195 14:10 200, 212, 235 17:1-5 166, 197, 231
14:3 196, 198 14:11 144, 233, 235 232
14:3-4 154,161 14:12 03, 26, 57, 58 17:2 167, 172,173
14:4 154, 162, 170 154, 156, 166 17:3 139, 176, 231
196, 198, 199 174, 177, 190 17:4 176, 231
211 191, 195,200 17:6 135, 146, 147
14:5 137, 154, 165 201,202, 209 174
196 213,214,2 1 5 17:7-18 146
14:6 55, 56, 57 226, 232, 235 17:8 167, 172
130, 133 14:13 57, 139, 140 173, 194, 200
17:9
‫‪727‬‬

‫‪17:14‬‬ ‫‪134, 161, 191‬‬ ‫‪20:6‬‬ ‫‪149‬‬ ‫‪22:19‬‬ ‫‪175‬‬


‫‪195,196,197‬‬ ‫‪20:7-10‬‬ ‫‪527‬‬ ‫‪22:20‬‬ ‫‪135‬‬
‫‪198, 199‬‬ ‫‪20:9‬‬ ‫‪174‬‬ ‫‪22:21‬‬ ‫‪191‬‬
‫‪17:15‬‬ ‫‪171, 173,438‬‬ ‫‪20:10‬‬ ‫‪160‬‬
‫‪18‬‬ ‫‪164,166‬‬ ‫‪20:11‬‬ ‫‪161‬‬
‫‪175,178‬‬ ‫‪20:12‬‬ ‫‪223‬‬
‫‪18:1‬‬ ‫‪213,289‬‬ ‫‪20:15‬‬ ‫‪194‬‬
‫‪18:1-2‬‬ ‫‪146‬‬ ‫‪20:27‬‬ ‫‪191‬‬
‫‪18:1-4‬‬ ‫‪57‬‬ ‫‪20-22‬‬ ‫‪527‬‬
‫‪18:1-5‬‬ ‫‪213‬‬ ‫‪21‬‬ ‫‪162, 164, 169‬‬
‫‪18:2‬‬ ‫‪139, 166‬‬ ‫‪21:1-5‬‬ ‫‪197‬‬
‫‪18:4‬‬ ‫‪155, 165, 166‬‬ ‫‪21:1-8‬‬ ‫‪189‬‬
‫‪168, 190, 230‬‬ ‫‪21:3‬‬ ‫‪112,119,169‬‬
‫‪231,233‬‬ ‫‪21:6‬‬ ‫‪140‬‬
‫‪18:5‬‬ ‫‪190‬‬ ‫‪21:7‬‬ ‫‪134‬‬
‫‪18:20‬‬ ‫‪150, 174‬‬ ‫‪21:10‬‬ ‫‪139‬‬
‫‪18:24‬‬ ‫‪150, 174‬‬ ‫‪21:22‬‬ ‫‪436‬‬
‫‪19‬‬ ‫‪137,164, 169‬‬ ‫‪21:23‬‬ ‫‪141‬‬
‫‪19:1‬‬ ‫‪165‬‬ ‫‪21:24-27‬‬ ‫‪527‬‬
‫‪19:1-6‬‬ ‫‪189‬‬ ‫‪21:27‬‬ ‫‪161, 194‬‬
‫‪19:2‬‬ ‫‪227‬‬ ‫‪22‬‬ ‫‪162,164,‬‬
‫‪19:4‬‬ ‫‪162‬‬ ‫‪22:1‬‬ ‫‪126‬‬
‫‪19:5‬‬ ‫‪172‬‬ ‫‪22:2‬‬ ‫‪588‬‬
‫‪19:6‬‬ ‫‪436‬‬ ‫‪22:5‬‬ ‫‪141‬‬
‫‪19:6-9‬‬ ‫‪197‬‬ ‫‪22:6‬‬ ‫‪130, 133‬‬
‫‪19:7‬‬ ‫‪191‬‬ ‫‪139,150‬‬
‫‪19:7-8‬‬ ‫‪215‬‬ ‫‪22:6-9‬‬ ‫‪175‬‬
‫‪19:8‬‬ ‫‪174,191‬‬ ‫‪22:6-21‬‬ ‫‪140, 185‬‬
‫‪19:10‬‬ ‫‪57, 136, 139‬‬ ‫‪22:7‬‬ ‫‪175,187‬‬
‫‪140, 146, 147‬‬ ‫‪192,527‬‬
‫‪150,162,174‬‬ ‫‪22:8‬‬ ‫‪197, 221,237‬‬
‫‪175, 176, 221‬‬ ‫‪22:9‬‬ ‫‪136, 140,147‬‬
‫‪236‬‬ ‫‪150,162, 176‬‬
‫‪1-16‬־‪19:1‬‬ ‫‪134‬‬ ‫‪237‬‬
‫‪19:13‬‬ ‫‪137‬‬ ‫‪22:10‬‬ ‫‪175,176‬‬
‫‪19:15‬‬ ‫‪137‬‬ ‫‪22:11‬‬ ‫‪190‬‬
‫‪19:17-18‬‬ ‫‪146‬‬ ‫‪22:11-15‬‬ ‫‪190,198‬‬
‫‪19:18‬‬ ‫‪172‬‬ ‫‪22:12‬‬ ‫‪162,223‬‬
‫‪19:19‬‬ ‫‪18‬‬ ‫‪22:14‬‬ ‫‪191,200‬‬
‫‪19:20‬‬ ‫‪160,233‬‬ ‫‪22:15‬‬ ‫‪162‬‬
‫‪19:21‬‬ ‫‪137‬‬ ‫‪22:16‬‬ ‫‪135‬‬
‫‪20‬‬ ‫‪149, 162, 164‬‬ ‫‪22:17‬‬ ‫‪132, 139, 140‬‬
‫‪192‬‬ ‫‪162, 191,200‬‬
‫‪20:1‬‬ ‫‪176‬‬ ‫‪309‬‬
‫‪20:1-22:5‬‬ ‫‪191‬‬ ‫‪22:18‬‬ ‫‪135‬‬
‫‪20:4‬‬ ‫‪136, 147, 174‬‬ ‫‪22:18-20‬‬ ‫‪136‬‬ ‫•‬

Você também pode gostar