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Após queda de VP da

Eletrobras, Grupo Delta diz


que fundos operam
legalmente
O caso veio à tona após o Valor ter
acesso a uma denúncia de supostas
fraudes envolvendo as
comercializadoras Beta e Zeta, criadas a
partir de captações de fundos com
mesmos nomes pela gestora de ativos
da Delta
Após o anúncio da demissão do vice-presidente de
comercialização da Eletrobras, Carlos de Abreu
Guimarães, depois de denúncia apresentada à Comissão
de Valores Mobiliários (CVM) por supostas fraudes
praticadas na época que ele era presidente de um fundo
ligado ao Grupo Delta Energia, o grupo emitiu um
comunicado dizendo que as operações dos fundos são
“feitas legalmente”. (Veja a explicação do caso abaixo.)

O caso veio à tona após o Valor ter acesso a uma


denúncia de supostas fraudes envolvendo as
comercializadoras Beta e Zeta, criadas a partir de
captações de fundos com mesmos nomes pela gestora
de ativos da Delta. Guimarães era o então presidente do
fundo Beta desde sua criação, em 2017, mas deixou o
grupo para assumir a vice-presidência da Eletrobras em
abril deste ano.

Entre os documentos que foram anexados à denúncia – e


que o Valor teve acesso –, estão contratos que foram
apontados pelo denunciante como contendo a assinatura
de Guimarães.

A denúncia partiu de Paulo Enrique dos Santos Rocha, ex-


diretor da Comercializadora Brasil, que também estaria
envolvida no esquema. As supostas fraudes tiveram como
origem operações de compra e venda de energia feitas
entre empresas do grupo e terceiras, como a Brasil, que
teriam atuado como laranjas para desvio de recursos. A
Delta reafirma a legalidade de todas as operações.

Ainda segundo a Delta, as operações dos fundos também


estão de acordo com os regulamentos aprovados pelos
seus respectivos cotistas, registrados na CVM, com
contrapartes pré-aprovadas e validadas por auditorias
independentes. Nunca houve qualquer tipo de
questionamento de nenhuma parte envolvida, sobretudo
dos cotistas.

“O documento apresentado à CVM é de autoria de uma


pessoa física sem qualquer relação com o Grupo Delta
Energia e os respectivos fundos de investimento. Ele lista
acusações que não se sustentam e contêm inverdades a
respeito do funcionamento dos fundos e das operações
realizadas. O Grupo Delta Energia, que ainda não foi
oficiado pela CVM, buscará esclarecer todos os fatos
perante quaisquer autoridades, assim como a reparação
devida face às acusações infundadas das quais é vítima”,
diz a nota.

A Eletrobras não disse os motivos da demissão do


executivo, mas, na semana passada, a empresa tinha
informado que acompanhava o assunto referente a
notícias divulgadas na imprensa, fazendo referência às
supostas fraudes envolvendo empresas de
comercialização de energia. Segundo uma fonte próxima
à companhia, a demissão ocorreu para evitar uma crise de
imagem e para não ter no alto escalão um executivo que
teve seu nome envolvido em uma denúncia.

O grupo Delta Energia, que possui em seu guarda-chuva


duas comercializadoras – que são empresas responsáveis
por intermediar a compra e venda de energia no chamado
mercado livre –, se tornou alvo de uma denúncia na CVM.
Além das comercializadoras, o grupo é responsável por
dois fundos de investimento, que, segundo a denúncia,
teriam sido objeto de “negócios jurídicos fraudulentos”. A
Delta nega e diz que as denúncias são mentirosas.

As supostas fraudes apontadas teriam como origem um


emaranhado de operações de compra e venda de energia
feitas entre empresas do grupo e terceiras, sendo que as
últimas teriam atuado como laranjas para o desvio de
recursos, conforme a denúncia, a que o Valor teve
acesso. Ainda de acordo com a denúncia, protocolada
junto à CVM por um ex-diretor da comercializadora Brasil,
dentre tais operações apontadas como ilegais estão
contratos entre as comercializadoras do grupo e os
fundos.

Outra acusação é de que o grupo, para maquiar tais


operações, manipulava os resultados dos mesmos fundos
e também para reduzir a base tributária da Delta.
Procurada na semana passada, a Delta afirmou, em nota,
que ao “que tange às operações concernentes ao grupo
Delta, todas, sem exceção, não geraram quaisquer
benefícios indevidos a nenhuma das partes envolvidas, ao
contrário, foram celebradas estritamente de acordo com
as regras contidas nos regulamentos dos respectivos
fundos de investimento e, mais importante, foram
conhecidas e aprovadas pelos respectivos comitês de
investimentos e auditores”.

Para realizar essas operações apontadas como


fraudulentas, o grupo Delta teria utilizado outras
comercializadoras, como Argon, que está em
recuperação judicial, e a Brasil, que teriam triangulado as
operações entre as comercializadoras da Delta e os
fundos. Na ponta dessas transações que o documento
cita, estariam contratos de venda de energia envolvendo
os dois fundos do grupo, batizados de Beta e Zeta.

Para sustentar a denúncia, foram anexados 58


documentos, dentre eles fotos de contratos de
transações do sistema interno de compra e venda de
energia envolvendo o grupo.

Como supostamente funcionava o


esquema
Dentre as operações que aparecem na denúncia, uma
realizada em 2019 trataria de uma suposta compra pela
comercializadora Brasil pagando R$ 125 por megawatt-
hora (MWh) de energia da Beta (comercializadora do
fundo de mesmo nome), para depois revender para a
própria Beta, mas com um valor muito mais alto, a R$
501,34 por MWh. Com essa diferença de preços e
suposto prejuízo para a Beta, a operação teria, ao final,
gerado um “lucro” de cerca de R$ 2,8 milhões para a
Brasil.

No mesmo dia, contudo, teria sido realizada outra


operação, dessa vez entre a Brasil e a Delta. Nela, teria
sido feita a compra da Brasil da mesma quantidade de
energia da Delta pagando R$ 499,96 o MWh, com a
consequente venda para a Delta do mesmo volume, por
também R$ 125 (preço pago no início da primeira
transação).

Com isso teria havido, ao final, transferência de cerca dos


mesmos R$ 2,8 milhões da Brasil para a Delta. A
operação, como mostra a denúncia, não foi realizada
diretamente entre Delta e o fundo, mas teria utilizado a
Brasil como intermediária. No sistema interno, tais
operações estariam identificadas como “operações
especiais”.

A Delta afirmou à reportagem que o denunciante


conhecia apenas parte da operação e não sua íntegra e
que por isso entende que há má-fé na denúncia. “

Delta Energia é denunciada por suposta fraude; grupo


refuta — Foto: Imagem Valor Econômico

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