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Dia 18 de agosto muitos consumidores foram pegos de surpresa com a suspensão de bilhetes aéreos e

pacotes promo da empresa 123 milhas. Essa modalidade de compra implicava em compras futura de
passagens aéreas que seriam emi das através de milhas negociadas pela empresa em massa junto às
companhias aéreas o que daria à empresa esse acesso aos baixos preços.

Com a suspensão da emissão dos pacotes entre setembro e dezembro de 2023 a empresa deu a
possibilidade de negociação com os clientes apenas através de vouchers que somente poderiam ser
aproveitados no próprio site e de maneira parcelada.

Outro ponto importante foi a venda de produtos promo até a véspera do anúncio da suspensão da
emissão dos pacotes, o que para além de aumentar o passivo dessa empresa com mais consumidores,
gerou uma surpresa total para todo o mercado e uma grande euforia.

Diante do ajuizamento em massa de ações, com algumas liminares já deferidas no país, a 123 Milhas
ajuizou ontem perante o TJMG, pedido de recuperação judicial para tentar ajustar os débitos e fazer
uma negociação cole va com todos os credores da empresa, inclusive os consumidores. Uma das
medidas urgentes requeridas é justamente a suspensão de todas os atos de constrição patrimonial da
empresa por 180 dias a fim de que a mesma tenha um “respiro” em suas operações com o intuito de
honrar parte dos compromissos.

Pois bem. Porque foi tão di cil monitorar essa crise das 123 milhas? Você sabe o que é uma
recuperação judicial? Sabe qual é o impacto desse procedimento no resultado dos processos?

Em primeiro lugar, precisamos dizer que o monitoramento das a vidades empresariais e do balanço
patrimonial da empresa é mais dificultoso pois a 123 milhas é uma empresa de capital fechado e não
possui sua saúde financeira divulgada anualmente como acontece com as Sociedades Anônimas, por
exemplo, então, diferente do que aconteceu com algumas companhias aéreas ou com outras empresas,
muito embora já houvessem rumores no setor, era realmente di cil para o consumidor adivinhar o
tamanho da crise que a empresa enfrentava por esta falta de monitoramento.

Sabe-se da importância do setor empresarial para o fortalecimento da economia nacional e as


empresas acabam sendo o alicerce desse desenvolvimento. Muito tem se falado sobre o es mulo ao
empreendedorismo e como as formas cria vas de negócios são posi vas, empregando muita gente e
trazendo modernização para as relações.

Justamente pensando em manter a saúde do setor e a redução dos prejuízos em casos de crises e que
no direito brasileiro surge o ins tuto da recuperação judicial que nada mais é que um processo legal
pelo qual uma empresa em dificuldades financeiras pode buscar reorganizar suas a vidades e dívidas
para evitar a falência. Esse processo oferece à empresa a oportunidade de renegociar seus débitos com
credores e desenvolver um plano de reestruturação viável, permi ndo assim sua con nuidade
operacional. Durante a recuperação judicial, a empresa é protegida de ações de cobrança por parte
dos credores, a fim de possibilitar a estabilização e a recuperação de suas finanças. O processo é
supervisionado pelo Poder Judiciário e deve seguir as diretrizes e prazos estabelecidos pela lei de
recuperação judicial do país em questão.

Esse processo é possível ser ajuizado por qualquer empresa, muito embora o alto grau de
complexidade de seus atos acabe exigindo um especialista em direito empresarial com experiencia na
área de recuperação, bem como um nível de conhecimento técnico também do julgador, o que acaba
por afastar os pequenos empreendedores que geralmente amargam o fechamento forçado de seus
CNPJ e assunção de débitos por meio de seus patrimônios pessoais.

É importante ressaltar que o consumidor, tendo ajuizado ou não ações contra a 123 milhas observe
junto ao processo de recuperação judicial caso assim ele seja aceito pelo juiz de primeiro grau de Minas
Gerais, se o seu crédito consta no processo da recuperação, para que assim, em algum momento ele
seja ressarcido no todo ou em parte os valores pagos em serviços não prestados ou indenizações.

Dessa maneira, é absolutamente legí mo que se imagine que uma empresa que passe por uma crise
abrupta recorra a tal ins tuto para se manter viva no mercado, gerando riqueza e desenvolvimento ao
país, entretanto, é muito importante que os operadores do direito e as agências reguladoras observem
de perto qual a responsabilidade dos dirigentes dessa empresa diante de tamanho dano à dignidade
do setor e principalmente os danos materiais al ssimos aos consumidores. As regras cons tucionais
do país reservam aos empresários a possibilidade responsável e segura da exploração de uma a vidade
em busca do lucro, em contrapar da deve ser dele o risco do mercado, guardadas todas as crí cas à
burocracia e alto custo da a vidade empresarial.

Será que não estamos tomando um rumo perigoso e aceitando o absurdo em nome de um “livre
mercado”? Esse po de conduta empresarial beneficia o livre mercado? Descobriremos logo mais, dia
30 de agosto às 18 horas no depoimento dos dirigentes das 123 milhas na CPI das pirâmides financeiras
na Câmara dos deputados.

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