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Talk Test e Limiares de Transição Metabólica
Talk Test e Limiares de Transição Metabólica
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RESUMO
LUCCA, L.; OLIVEIRA, F. R.; CARMINATTI, L. J. Talk test e limiares de transição metabólica durante o
exercício. Brazilian Journal of Biomotricity. v. 6, n. 3, p. 174-184, 2012. A dificuldade na fala é utilizada no
controle da intensidade de exercício através de uma metodologia conhecida como Talk Test (Talk Test). O
objetivo do presente estudo foi comparar os estágios do Talk Test com limiares de transição metabólica.
Treze sujeitos do sexo masculino realizaram um teste incremental até a exaustão para determinação do
primeiro (LL1) e segundo (LL2) limiar de transição metabólica, frequência cardíaca (FC) e Percepção
subjetiva de esforço (PSE). Em cada estágio do teste os indivíduos deveriam recitar uma frase padrão com
64 letras por duas vezes consecutivas e determinar um de três níveis possíveis de fala confortável (Sim,
Talvez e Não). Para posterior análise nos interessava o último estágio onde a fala ainda era confortável
(Usim), o último estágio de dúvida sobre essa percepção subjetiva (Utalv) e o primeiro estágio negativo
(PN). Os valores de potência (WLL2) e FC (FCLL2) no LL2 (169,5 ± 22,6W; 157 ± 14 bpm) não foram
diferentes significativamente dos valores no Utalv (178, 8± 30,3W; 161 ± 15 bpm) (p=0,195) com os valores
de FC sendo correlacionados significativamente (r=0,57; p<0,05). Os valores de Potência (WUsim) e FC
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(FCUsim) do Usim foram significativamente maiores que os valores no LL1 e menores que o LL2. As
variáveis derivadas do PN foram significativamente maiores que todos os outros limiares. Pode-se concluir
que o Talk Test pode ser utilizado nesta população para prescrever exercício, pois aproxima a intensidade
referência do segundo limiar de transição metabólica.
ABSTRACT
LUCCA, L.; OLIVEIRA, F. R.; CARMINATTI, L. J. Test talk and thresholds metabolic transition during
exercise. Brazilian Journal of Biomotricity. v. 6, n. 3, p. 174-184, 2012. The speech production difficult is
used to control aerobic exercise intensity by the Talk Test method (Talk Test). The aim of the present study
was to compare the Talk Test variables to metabolic thresholds during exercise. Thirteen male subjects
performed an incremental cycle test to identify the first (LL1) and the second (LL2) metabolic transition
thresholds, heart rate values (HR) and rates of perceived exertion (RPE). Subjects should recite two times a
standard paragraph with 64 lyrics and chose one from 3 possible levels of comfortable speech production
(Yes, Maybe or Not). For further analysis we took the last positive (Usim), last equivocal (Utalv) and first
negative stages (PN) of this subjective perception. The power output (WLL2) and HR (FCLL2) at LL2 (169,5 ±
22,6W; 157 ± 14 bpm) were not significantly different to Utalv (178, 8± 30,3W; 161 ± 15 bpm) (p=0,195) and
HR values were correlated (r=0,57; p<0,05). The power output (W-USim) and HR (FC-Usim) at Usim were
significantly higher than WLL1 and lower than WLL2. PN values were significantly higher than all other Talk
Test and metabolic thresholds values. Based on these results, we concluded that Talk Test can be used in
this population to prescribe exercise, once it approaches the second metabolic transition threshold intensity.
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(PERSINGER et al., 2004). Na literatura, variáveis do Talk Test já serviram como marcadores de
intensidade de exercício em grupos de cardiopatas (VOELKER et al., 2002), estudantes
universitários (DEHART-BEVERLY, 2000) e atletas (RECALDE et al., 2002).
O modelo teórico do Talk Test é sustentado pelas mudanças que ocorrem a partir do LV, dado
pela perda da eficiência ventilatória e incremento preferencial da frequência ventilatória a partir
desta intensidade (JAMES et al., 1989). Nesta faixa, o incremento da ventilação pode influenciar e
dificultar a manutenção de uma conversa confortável durante o exercício (PERSINGER et al.,
2004), sendo esta a razão do LV ser a variável mais utilizada para relacionar e explicar os
momentos de transição do Talk Test. Foi demonstrado que a zona de intensidade do exercício
correspondente ao último estágio onde o indivíduo consegue conversar confortavelmente estaria
entre 85 a 88% da FCmáx, e acima de 90% quando a fala confortável não era mais possível, sendo
essa intensidade acima dos limites recomendados pelo American College of Sports Medicine
(2000) como zona de segurança para treinamento cardiopulmonar (DEHART-BEVERLY et al.,
2000). Utilizando o LV como referência, foi observado que: a) a fase positiva – intensidade na qual
a fala ainda é confortável - consiste numa intensidade recomendável para exercício abaixo do LV;
b) o último estágio onde o sujeito tinha dúvida se a fala estava confortável seria correspondente
ao LV e; c) o primeiro estágio negativo, ou seja, onde o avaliado não conseguia mais falar
confortavelmente estaria acima de uma zona de segurança recomendável para exercício aeróbio
ou acima do LV (PERSINGER et al., 2004; BRAWNER et al., 2006;)
Apesar do seu largo emprego, o LV pode ser considerado um método indireto ou duplamente
indireto, pois a sua sustentação está basicamente dependente do comportamento das [La] e
variáveis associadas, o que diz contra a sua utilização como critério para obtenção de evidências
de validade de variáveis do Talk Test, como observado em estudos anteriores. Neste item, é mais
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estágio e três minutos após o término do teste. Essas amostras foram analisadas através
de um lactímetro Yellow Springs® (modelo 1500 Sport). Após os dados serem plotados
em gráficos [la] vs carga, o primeiro limiar de lactato (LL1) foi identificado como sendo o
menor valor do equivalente das [la]/carga (BERG et al., 1990). O segundo limar de
transição (LL2) foi identificado pelo método Dmáx ADAPT proposto pelo Australian
Institute of Sport (BOURDON, 2000). Esse método consiste em calcular a maior distância
entre a curva formada pelos pontos da [la] em função da carga e uma reta traçada a partir
do LL1 e o último ponto da curva. O ponto da curva onde se localiza a maior distância
entre a curva e a reta foi considerado como o Limiar Anaeróbio (LL2). Esse método já teve
sua validade testada em Laboratórios australianos que realizam avaliações de atletas de
elite. O erro técnico de mensuração do LL1 e LL2 utilizando o ADAPT mostrou grande
precisão ao ser aplicado na avaliação de atletas de endurance como ciclistas, corredores
e remadores (BOURDON, 2000) e apresentou correlação com variáveis fisiológicas
obtidas em teste de 30 minutos em ciclistas veteranos (FELL, 2008).
Para determinar a dificuldade na produção de fala, uma placa foi colocada na altura dos
olhos do indivíduo, a 2 metros de distância do cicloergômetro para facilitar a leitura. Nesta
placa estava escrita a seguinte frase:
“parabéns pra você nesta data querida, muitas felicidades muitos anos de vida”.
A escolha da frase justifica-se pela fácil assimilação por parte do avaliado, pois é muito
conhecida pela população brasileira. O sujeito deveria recitar em voz alta por duas vezes
consecutivas essa frase durante os últimos 30 segundos de cada estágio do teste. Após
recitar a frase este era questionado pelo avaliador: Você pode recitar o “parabéns pra
você” confortavelmente? Os sujeitos deveriam responder de forma direta se “sim” o que
RESULTADOS
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VARIÁVEIS MÉDIA ± DP
Idade (anos) 20,6 ± 2,0
Massa corporal (kg) 75,9 ± 14,0
Estatura (cm) 176,8 ± 7,4 cm
Potência Máxima (W) 230 ± 23,0
Frequência Cardiaca de Máxima (bpm) 187 ± 9
Pico de Concentração de Lactato
11,7 ± 2,7
Sanguíneo (mmol.L-1)
Percepção Subjetiva de Esforço máxima 9±1
Tabela 2: Variáveis de limiares de transição fisiológica e Talk Test obtidas durante o teste
progressivo
Utalv 178, 8± 30,3b,c 161 ± 15 b,c 77,6 ± 8,4 b,c 86,3 ± 7,3 b,c
LL1: primeiro limiar de lactato; LL2: segundo limiar de lactato; FC: Frequência Cardíaca; %Wmáx: Valores relativos à Potência Máxima;
%FCmáx: Valores relativos à Frequência Cardíaca Máxima; Usim: Último estágio positivo do Talk Test; Utalv: Último estágio de dúvida
do Talk Test; PN: Primeiro estágio negativo do Talk Test. (a) Diferença significativa pra LL2, USim e UTalvez; (b) Diferença Significativa
para USim; (c) Diferença significativa para LL1.
Os resultados mostraram que não houve diferença estatisticamente significante entre os valores
de Potência no LL2 (WLL2) e Utalv (W-Utaltv) (p=0,195), com uma tendência de correlação
(ρ=0,53; p=0,061) não significativa entre as duas intensidades de exercício (tabela 3). A potência
no PN (W-PN) foi significativamente mais alta que o LL1, LL2, Usim e Utalv (p<0,001). Não foram
encontradas diferenças significativas entre percentual da Potência máxima no LL2 (%W-LL2) e
Utalv (%W-Utalv) e esses valores não foram correlacionados. A W-Usim foi significativamente
maior que a potência no LL1 (W-LL1), e menor que o W-LL2, Utalv e PN. A W-LL2 foi
correlacionada significativamente W-Usim.
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(r=0,78; p<0,01). A %FCmáx no LL1 e %FCmáx no Usim foram significativamente diferentes, mas
apresentaram correlação significativa (r=0,70; p<0,01).
Tabela 3: Matriz de correlação entre os valores de Potência e Frequência Cardíaca nos limiares
de transição fisiológica e Talk Test
LL1: primeiro limiar de lactato; LL2: segundo limiar de lactato; Usim: Último estágio positivo do Talk Test; Utalv: Último estágio de dúvida
do Talk Test; PN: Primeiro estágio negativo do Talk Test . (**) Correlação significativa para o nível de significância de 0,01; (*)
Correlação significativa para o nível de significância de 0,05.
DISCUSSÃO
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Persinger et al (2004) demonstraram que valores de VO2 no LV não foram significativamente
diferentes do VO2 do Usim e do estágio de dúvida. Nos estudos de Dehart-Beverly et al (2000) e
Recalde et al (2002) com adultos jovens, não foram encontradas diferenças significativas no VO2,
%VO2pico, FC, %FCmáx no LV e no estágio de dúvida com correlação significativa entre estes. De
maneira similar aos achados do presente estudo, esses pesquisadores encontraram diferenças
significativas para todos os resultados entre LV e PN bem como LV e Usim. Voelker et al. (2002)
não encontraram diferença significativa entre VO2 no LV e VO2 no Usim e estágio de equívoco
(talvez) bem como correlação entre VO2 no LV e VO2 no Usim, Utalv e PN em pacientes com
doença cardíaca.
O interesse em comparar as variáveis do LL1 com valores do Talk Test, se fez necessário a partir
da ausência de análises comparativas que abordassem também o primeiro limiar de transição (LL1
ou LV1) na literatura. Além disso, as terminologias empregadas para diferenciar o primeiro e
segundo limiar de transição geram dúvidas de interpretação dos resultados. No presente estudo,
pode-se evidenciar que os estágios de dúvida estão próximos ao LL2 acima do LL1, e que o Usim,
ao contrário de hipótese prévia, não corresponde a intensidades próximas ao LL1 e ao contrário de
outros estudos (PERSINGER et al., 2004; VOELKER et al., 2002) encontra-se abaixo do LL2 .
Apesar de os resultados mostrarem que a potência, % da potência máxima, FC e %FCmáx no LL2 e
Utalv não apresentaram diferença significativa, apenas os valores de FC foram correlacionados.
Dehart-Beverley et al. (2004) demonstraram que quando os indivíduos não estavam mais aptos a
manter uma conversa confortável durante o exercício, a intensidade estaria por volta dos 90% da
FCmáx e serviria como um indicador de um limite para exercício aeróbio. Esses pesquisadores
relataram que no último estágio de dúvida do Talk Test os sujeitos estavam se exercitando em
média a 87,8% da FCmáx. Persinger et al (2004) mostraram valores de 89% em esteira e 82% no
cicloergômetro. Esses valores são muito próximos aos encontrados no presente estudo, onde os
sujeitos estavam em média a 86,3% da FCmáx no momento do Utalv. Além disso, as variáveis
derivadas do PN indicam que a percepção de impossibilidade em manter a fala confortável estaria
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assumiram que o Talv-1 aproxima o LV2, a “downregulation” requerida para confirmar que a
intensidade absoluta de treinamento está abaixo do LV2 foi de 2 estágios, no caso o USim-1.
Assim, essa estratégia foi útil, pois os resultados da avaliação do exercício submáximo puderam
ser utilizados para definir uma intensidade absoluta de treino abaixo do LV, porém sem os
requerimentos técnicos de mensuração do LV em laboratório. Dessa forma, percebe-se que o
problema de predizer intensidades absolutas de treinamento a partir dos limiares metabólicos
obtidos em teste incremental reside no fato de haver um atraso nas respostas do método de
detecção (padrão de fala ou VE/[La]). Assim, a intensidade absoluta que produz a resposta
desejada durante o treinamento é constantemente mais baixa que a intensidade durante o
exercício incremental.
O presente estudo teve algumas limitações técnicas. Primeiro, o protocolo com estágios de 3
minutos fez-se necessário, pois entre 3-5 min é possível alcançar estados estáveis de FC e VO2.
Com isso as variáveis do Talk Test foram limitadas por 3 minutos de intervalo podendo ter afetado
a resolução temporal da relação com outras variáveis, os estágios de dificuldade na fala poderiam
ser mais precisos com maior variabilidade de valores de potência e melhor analisados com as
variáveis fisiológicas se o protocolo permitisse um maior número de estágios. Segundo, para a
determinação do Talk Test utilizamos um parágrafo que continha 24 palavras e 126 letras no total,
caracterizando uma passagem longa e provavelmente mais extensa do que seria comumente
falada durante o exercício. Esse método é similar ao de Persinger et al. (2004) e Recalde et al.
(2002) que adotaram uma passagem com 31 palavras e diferente do utilizado por Dehart-Beverly
et al. (2000) que utilizaram 101 palavras. E ainda, por se tratar de um método subjetivo, onde o
sujeito determinava o grau de dificuldade da fala, a real situação de comprometimento da
vocalização devido a parâmetros ventilatórios, talvez não foi bem elucidada e poderia ser avaliada
de forma menos subjetiva por outros avaliadores de acordo com uma escala de dificuldade
previamente elaborada. Outro ponto que deve ser questionado é se realmente os sujeitos
recitaram o parágrafo em voz alta, pois caso o tom de voz tenha sido baixo, os sujeitos poderiam
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fisiológico estaria o Talk Test. Além disso, a possibilidade de estimar a carga do segundo limiar de
lactato bem como intensidades de esforço de acordo com %FCmáx pode auxiliar treinadores e
demais profissionais que trabalham com o exercício físico na sua prescrição e monitoramento de
maneira simples e com baixo custo.
APLICAÇÕES PRÁTICAS
De acordo com os resultados apresentados, o Talk Test parece ser um bom método subjetivo
para estimar o segundo limiar de lactato e bastante válido para controle de intensidade de
exercícios aeróbios de maneira simples e sem custos adicionais. O último estágio de dúvida do
Talk Test parece acontecer em intensidades próximas ao inicio do acúmulo de lactato sanguíneo e
abaixo de 90% da FCMax. Assim, o treinador pode exigir que os atletas mantenham a conversa
confortável para intensidades abaixo do segundo limiar, conversa com algum desconforto para
intensidades correspondentes ou próximas ao limiar e conversa muito desconfortável ou
impossibilidade de fala para intensidades do domínio severo. Nas sessões de treinamento
contínuo e intervalado devem ser também avaliadas outras respostas psicofísicas, pois existe a
necessidade de se estimar a carga interna das intensidades derivadas do Talk Test em exercício
incremental.
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Name: Leonardo de Lucca
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