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ANATOMIA

Gabriela Augusta
Introdução à anatomia:
terminologia anatômica
e níveis de organização
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar os principais níveis de organização do corpo humano.


 Definir as especialidades em anatomia humana.
 Utilizar termos anatômicos para descrever planos de secção, regiões
do corpo, posições relativas e a posição anatômica.

Introdução
O conhecimento da anatomia humana é imprescindível para o desenvol-
vimento de habilidades e competências do profissional da Área da Saúde.
Você deve estudar o corpo humano por meio das várias abordagens
anatômicas, considerando os níveis de organização do corpo e a nomen-
clatura específica aplicada a este estudo. Nesse contexto, é fundamental
compreender a importância do conhecimento da anatomia humana
e suas especialidades, além de conhecer a linguagem que descreve a
abordagem inicial para o estudo do corpo humano e de suas partes.

Níveis de organização do corpo


Para que você compreenda a anatomia do corpo humano, é necessário conhecer
da menor até a maior dimensão de seus componentes, os quais são usualmente
distribuídos em níveis de organização:
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 Nível químico: inclui os átomos e as moléculas, como o hidrogênio, o


oxigênio, o carbono e o nitrogênio. Os átomos interagem entre si para
formar compostos tridimensionais com propriedades específicas.
 Nível celular: as moléculas se combinam para formar estruturas do
nível celular. As células são as unidades básicas funcionais e estruturais
do corpo e podem ser, por exemplo, as células sanguíneas, cardíacas,
musculares, hepáticas e nervosas.
 Nível tecidual: as células, por sua vez, compõem os tecidos e trabalham
para realizar uma determinada função ou funções. Os tecidos existentes
no corpo são o conectivo, o nervoso, o muscular e o epitelial.
 Nível orgânico: os órgãos são compostos por diferentes tipos de tecidos
que interagem para desempenhar determinadas funções, como, por
exemplo, os intestinos, que desempenham diversas funções digestórias.
 Nível sistêmico: um sistema é composto por órgãos relacionados entre si.

Abordagens ou especialidades anatômicas


Duas categorias gerais do estudo anatômico são amplamente consideradas: a
anatomia microscópica e a anatomia macroscópica. A anatomia microscópica
estuda estruturas que não podem ser visualizadas a olho nu, valendo-se de
equipamentos como lupas e microscópios ópticos e eletrônicos. A anatomia
macroscópica é a que você irá conhecer agora, a qual considera as estruturas
visíveis a olho nu e que se vale de formas de estudo como a anatomia de
superfície, a anatomia topográfica (ou regional) e a anatomia sistêmica. Estas
formas de estudo se complementam e geram a perspectiva mais ampla para
o conhecimento. Entenda-as:

 Anatomia de superfície: considera os pontos ou regiões superficiais


do corpo, sem usar métodos de dissecção, através da palpação ou
observação.
 Anatomia topográfica: estuda as características internas e externas de
uma determinada região do corpo, como tórax, abdome e membros
superiores e inferiores.
 Anatomia sistêmica: estudo por sistemas corporais; por exemplo, sistema
ósseo, muscular, nervoso e digestório. Considera as características
anatômicas de um grupo de órgãos que funcionam integrados para
produzir efeitos coordenados.
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Além das abordagens descritas anteriormente, ainda podem ser aplicadas


as seguintes formas de estudo:

 Anatomia do desenvolvimento ou embriologia: acompanha o desenvol-


vimento do ser humano desde sua concepção até a maturidade física;
 Anatomia clínica: compreende as características anatômicas encontradas
nas patologias.
 Anatomia comparada: relaciona a anatomia de outros animais que apre-
sentam um processo de desenvolvimento semelhante ao do ser humano;
 Anatomia por imagem ou anatomia radiológica: gera o conhecimento
anatômico por meio da visualização e da interpretação de imagens
radiológicas, como as da radiografia, da tomografia computadorizada,
da ressonância magnética (Figura 1). As imagens geradas pelo aparelho
de ultrassom (ecografia) também estão incluídas.

As imagens radiológicas podem ser úteis não só no estudo da anatomia


normal do corpo humano, mas também para que você possa conhecer as
variações anatômicas, as patologias e as diferenças morfológicas no recém-
-nascido, na criança, no adulto jovem, no adulto e no idoso.

Figura 1. Imagens do tórax: (a) tomografia computadorizada; (b) radiografia; (c)


ressonância magnética.
Fonte: Chen, 2012; Talanow, 2012.
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Apesar de a anatomia estar direcionada ao estudo das características morfológicas do


corpo humano, você realmente construirá o conhecimento anatômico vinculando-o à
fisiologia, pois cada estrutura do corpo está adaptada para a realização de determinadas
funções. Desta forma, você compreenderá a anatomia através de uma visão integrada,
o que pode lhe trazer a base para a aplicação clínica no exercício de sua profissão.

Existem formas não invasivas para avaliar aspectos estruturais e funcionais do corpo
humano, como, por exemplo a palpação, na qual o profissional usa as mãos para
identificar aspectos anatômicos da superfície do corpo. Outro exemplo é a auscultação,
em que o profissional usa um estetoscópio para avaliar os sons corporais; e a percussão,
que é usada pelo examinador para avaliar a presença anormal de líquidos, a consistência
de tecidos e as respostas reflexas, por meio das próprias mãos ou usando instrumentos
como martelos de percussão.

Terminologia anatômica
A anatomia é uma ciência que se vale essencialmente da observação e da des-
crição daquilo que se vê. Há séculos, os anatomistas estudam o corpo humano
e tentam descrever o que encontram e o que visualizam; para isso, necessitam
de um vocabulário específico, que traduza a imagem em linguagem. Esta
linguagem se origina essencialmente de termos e étimos vindos do grego e do
latim. Por exemplo, a palavra intercostal é composta pelas raízes do latim inter,
que significa entre, e costo, que significa costelas; então, a palavra intercostal
significa entre as costelas, como, por exemplo, os músculos intercostais.
Essa linguagem anatomoclínica é aplicada extensamente na área da saúde,
e você deve utilizá-la para comunicar-se no ambiente acadêmico e na sua vida
profissional.
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Você deve e precisa ter o domínio da linguagem anatomoclínica para que o seu
desenvolvimento como profissional da área da saúde seja completo.
O seu conhecimento sobre a origem e a aplicação dos termos anatômicos lhe trará
maior facilidade na compreensão da comunicação médica, da linguagem dos laudos
clínicos, das patologias e de artigos científicos.
Mas atenção!
Você pode usar a linguagem comum com o seu paciente, para facilitar seu entendi-
mento e garantir sua confiança. Por exemplo: se você precisa que seu paciente deite
de barriga para cima, você não irá solicitar que ele fique em decúbito dorsal! Nesse
tipo de situação, o melhor é não usar a linguagem anatomoclínica.

Anatomia de superfície
Existe uma nomenclatura relacionada às regiões e às referências ou marcadores
de superfície do corpo e seus termos anatômicos (Figuras 2 e 3). A seguir,
você irá conhecer esses termos que devem ser necessariamente assimilados
para que você construa a linguagem anatômica.
Na Figura 2, o corpo humano está posicionado em dois diferentes planos:
o corpo em vista anterior (Figura 2[a]) e em vista posterior (Figura 2[b]).
Note, por exemplo, que a virilha é chamada de região inguinal. Assim, por
exemplo, tudo que se refere a inguinal será considerado como localizado nessa
região, e daí derivam os nomes de algumas estruturas ou alterações, como,
por exemplo, ligamento inguinal ou hérnia inguinal.
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Figura 2. Marcadores anatômicos e superfície: (a) corpo em vista anterior; (b) corpo em
vista posterior.
Fonte: Martini, 2009.
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Figura 3. Nomenclatura das regiões do corpo humano.


Fonte: Martini, 2009.
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Posição anatômica
O termo posição anatômica é mais uma convenção para que se estude o corpo
humano de forma organizada e metodológica. Esse termo exige que a posição
seja a seguinte: o corpo humano está de pé (ereto), com o olhar direcionado
para o horizonte, as palmas das mãos estão para frente (em supinação), os
membros superiores e inferiores estão estendidos (em extensão) e os pés estão
levemente afastados (Figura 2[a]). Assim, com esse termo definido, você não
precisa mais visualizar uma imagem, e sim imaginar o corpo posicionado
dessa forma.

Quadrantes abdominais
Além dos termos relacionados à anatomia de superfície, existem os termos
que referenciam as regiões do abdome. Novamente, trata-se de uma conven-
ção para que a comunicação e a descrição anatômica na área da saúde sejam
padronizadas. Duas formas são normalmente aplicadas ao abdome: a divisão
em 4 e em 9 quadrantes (Figuras 4[a] e 4[b]). Essa divisão do abdome é usada
para facilitar a descrição da localização anatômica e é também muito útil
para a investigação de disfunções e patologias. Cada quadrante corresponde
a determinados órgãos e/ou estruturas internas, abdominais e pélvicas.
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Figura 4. Quadrantes abdominais: (a) divisão em 4 quadrantes; (b) Divisão em 9 quadrantes.


Fonte: Martini, 2009.
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Terminologia das orientações anatômicas


Para que possamos limitar um corpo no espaço, temos que traçar planos que
tangenciem esse corpo em seus limites físicos. Para isso, são empregados
os planos tangenciais chamados de anterior ou ventral, posterior ou dorsal,
superior, inferior e laterais direito e esquerdo.
Essa nomenclatura vale para qualquer objeto de estudo em anatomia, seja
uma estrutura, um órgão ou o próprio corpo humano. Se estivermos estudando
o corpo humano inteiro (Figura 5[a]), o plano anterior ou ventral será a frente,
onde temos o rosto e o ventre. O plano posterior ou dorsal limitará o corpo
na parte de trás, onde está o dorso. O plano superior limitará a porção mais
externa em cima do corpo, na calota craniana, e o plano inferior limitará o
corpo na planta dos pés. Os planos laterais limitam os lados direito e esquerdo
(Figura 5[b]), e essa lateralidade será sempre do objeto estudado e não do ob-
servador. Na Figura 6, vemos uma jovem deitada de lado, e o termo anatômico
para essa posição é decúbito lateral. Agora você teria que complementar o
termo, referindo de que lado ela está deitada. De que lado está jovem está
deitada? Lembre-se de que é o lado do corpo dela e não o da sua observação.
Se você respondeu lado esquerdo, acertou: decúbito lateral esquerdo.
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Figura 5. Terminologia das orientações anatômicas: (a) corpo humano em vista


lateral direita; (b) corpo humano em posição anatômica.
Fonte: Martini, 2009.
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Figura 6. Posição do corpo em decúbito lateral esquerdo.


Fonte: /Shutterstock.com

Além dos planos tangenciais, existem as direções anatômicas, como a


direção crânio-caudal, a direção lateral-medial e a direção proximal-distal.

 Direção crânio-caudal: refere-se à proximidade no sentido do crânio


ou no sentido da porção final da coluna vertebral ou da região inferior
do corpo.
 Direção lateral-medial: para empregar estes termos, é preciso traçar
uma linha imaginária ao longo e bem no meio do corpo. As referências
que estiverem mais próximas dessa linha serão consideradas mediais e
as que estiverem afastadas ou opostas a essa linha serão laterais (lateral,
aqui, significa para fora). Por exemplo: as clavículas possuem duas
extremidades, uma que se articula ao osso esterno, que é a extremidade
medial, e outra que se articula à escápula, que é a extremidade lateral.
 Direção proximal-distal: este termo é aplicado quando a referência é
a coluna vertebral, em qualquer uma de suas porções. Então, seguindo
a linha das articulações até chegar na coluna vertebral, uma estrutura
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será proximal ou distal à coluna vertebral. Por exemplo, se compararmos


a tíbia com o fêmur, a tíbia é distal em relação ao fêmur, pois está mais
distante da coluna quando comparada ao fêmur.

Anatomia seccional
Todas as estruturas em anatomia podem ser estudadas através de secções ou
dos chamados planos seccionais (Figura 7). Precisamos estudar os aspectos
anatômicos internos, e, para isto, foram padronizados três tipos de cortes ou
secções. Os planos seccionais são os seguintes;

 Plano transverso (corte transversal ou horizontal): forma um ângulo


reto com o eixo longitudinal da região ou parte do corpo que está sendo
estudada e a divide em porções superior e inferior. Na área radiológica,
este plano é chamado de axial.
 Plano frontal (corte coronal ou frontal): divide o corpo ou região em
porções anterior e posterior.
 Plano sagital (corte sagital ou sagital mediano): divide o corpo em por-
ções iguais, direita e esquerda, isto é, bem ao longo da linha mediana,
gerando metades de igual tamanho. Os cortes parassagitais são secções
que passam por linhas paralelas à linha mediana e dividem o corpo no
mesmo sentido longitudinal, mas em tamanhos diferentes.

O estudo anatômico em secções pode ser feito a partir da imagem ra-


diológica, através da interpretação diagnóstica de exames de tomografia
computadorizada e ressonância magnética. Se você tiver a oportunidade de
observar essas imagens radiológicas em cortes, você estará exercitando a
anatomia topográfica, pois observará estruturas e órgãos de vários sistemas
corporais em um único corte. Além disso, você estará testando seu raciocínio
espacial, tentando imaginar uma estrutura em três dimensões, partindo de
uma imagem em duas dimensões.
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Figura 7. Planos seccionais do corpo.


Fonte: Tortora, 2012.

Cavidades do corpo
O corpo é formado internamente por cavidades cujas funções vão desde a
proteção dos órgãos até a separação e sustentação dos mesmos (Figura 8).
As cavidades ventrais são a torácica e a abdominopélvica; as dorsais são as
cavidades craniana e vertebral.
A cavidade torácica é formada por duas cavidades menores: a cavidade
pericárdica, que é um espaço preenchido por líquido que circunda o coração, e
a cavidade pleural, que envolve os pulmões e também é preenchida por líquido.
A região central da cavidade torácica é o mediastino (Figura 9), um espaço
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que contém todas as estruturas torácicas, exceto os pulmões. No mediastino


localizam-se, por exemplo, o coração, os vasos da base do coração, a porção
terminal da traqueia, o esôfago e o timo.
O diafragma é um músculo em forma de abóboda que separa a cavidade
torácica da cavidade abdominal.
A cavidade abdominopélvica é formada por vários órgãos e se estende desde
o diafragma até a região inguinal. Diferente do limite físico entre o tórax e
o abdome pelo diafragma, a cavidade abdominal não apresenta separação ou
limite com a cavidade pélvica.
Na cavidade abdominal estão localizados vários órgãos e estruturas, como
os intestinos delgado e grosso, o estômago, o baço, o fígado, a vesícula biliar,
o pâncreas, a artéria aorta abdominal e a veia cava inferior.
A cavidade pélvica, formada pela junção dos ossos pélvicos e as vértebras
sacrais, contém órgãos genitais masculinos e femininos e a bexiga urinária,
entre outras estruturas vasculares e nervosas.
A cavidade craniana contém o encéfalo, protegido pelos ossos do neurocrâ-
nio. A cavidade vertebral, formada pelo empilhamento de forames vertebrais
das vértebras da coluna, contém a medula espinal e os nervos da cauda equina.

Figura 8. Cavidades dorsais e ventrais do corpo em vista lateral


direita (a) e vista anterior (b).
Fonte: Tortora, 2012.
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Figura 9. Representação da cavidade torácica evidenciando o mediastino com linhas


pontilhadas.
Fonte: Tortora, 2012.

Acesse o link a seguir para visualizar imagens anatômicas


do Projeto Homem Visível (Visible Human Project), que
contém imagens digitais de secções transversais do corpo
humano.

https://goo.gl/DrsLo
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CHEN, M. Y. M.; POPE, T. L.; OTT, D. J. Radiologia básica. 2. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012.
MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLITSCH, R. B. Anatomia humana. 6. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2009.
NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE. The Visible Human Project. Rockville Pike: NIH, 2015.
Disponível em: <https://www.nlm.nih.gov/research/visible/visible_human.html#>.
Acesso em: 09 out. 2017.
TALANOW, R. Radiologia de emergência: manual baseado em casos clínicos. Porto
Alegre: AMGH, 2012.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia.
8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012.

Leituras recomendadas
FREITAS, V. Anatomia: conceitos e fundamentos. Porto Alegre: Artmed, 2008.
HANKIN, M. H.; MORSE, D. E.; BENNETT-CLARKE, C. A. Anatomia clínica: uma abordagem
por estudos de caso. Porto Alegre: AMGH, 2015.
TANK, P. W.; GEST, T. R. Atlas de anatomia humana. Porto Alegre: Artmed, 2009.

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