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RAFAEL AUGUSTO

FOTO CAPA

TECNOLOGIA EM
MEIO AMBIENTE
UNIDADE 1

TECNOLOGIA E O PENSAMENTO
CIENTÍFICO NA HISTÓRIA

Ao analisar a história da humanidade é possível perceber as transformações que a


sociedade vivenciou por meio das diversas descobertas em diferentes campos do co-
nhecimento. Por sua vez, grande parte dessas descobertas, se não todas, foram possi-
bilitadas pelo desenvolvimento de tecnologias.

1.1 PRODUÇÃO TECNOLÓGICA E SEUS IMPACTOS


A partir do entendimento da importância que a tecnologia possui para o desenvolvimen-
to da humanidade, é necessário compreender o que se entende por tecnologia, que de-
riva do grego techne, que significa arte, e logos, tratado. Há algumas concepções sobre
o termo tecnologia, sendo a mais ampla dessas concepções a concretização das ideias
da classe dominante sobre toda a sociedade, ou seja, a elaboração de ações capazes
de promover o domínio e o poder sobre o recurso e sobre o outro.

De forma simplificada, tecnologia pode ser entendida como: o estudo da técnica e da habili-
dade do fazer que dispõe uma sociedade em qualquer fase histórica.

Não se pode, assim, ignorar o fato de que o desenvolvimento tecnológico está associado
ao Pensamento Científico. Porém, antes de definir o Pensamento Científico, deve-se
entender como pré-requisito o Princípio Socrático da Aceitação do ser humano da
própria ignorância, pois o conhecimento do cientista termina onde sua ignorância come-
ça e, assim, cria-se a necessidade de estudar e descobrir. A própria figura do cientista,
nesse contexto, se apresenta e se define por aquele que busca o conhecimento.

Fazendo referência a Mithen e a Daniel Dennett quando tratam de ciência e cientista, é


possível produzir uma conceituação de Pensamento Científico ao considerar a presença
de três fatores obrigatoriamente interdependentes. O primeiro fator é a habilidade de
gerar e testar hipóteses, o segundo fator se apresenta na aptidão de desenvolver
e utilizar ferramentas para a solução de problemas, ambas habilidades já foram
amplamente observadas em outros animais, principalmente outros primatas, o que não
necessariamente os apresentaria como criaturas capazes do Pensamento Científico.
Com isso, temos o último fator, a capacidade do uso de metáforas e analogias, ferra-
mentas do pensamento.

Essa capacidade se apresenta como uma ferramenta poderosa quando associada a


uma entidade viva, como um fenômeno, objeto, natureza, entre outros. Por exemplo, a
analogia e a metáfora podem ser observadas em descrições como do sistema circula-
tório “rios de sangue” ou algo prazeroso como “um pedaço do céu”.

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Produção tecnológica e seus impactos U1

Figura 01. Elementos do pensamento científico

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Pensamento
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Científico

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C

Desenvolver e utilizer
ferramentas na resolução
de problemas
Fonte: elaborada pelo autor

Dessa forma, o termo pensamento científico é, simultaneamente, simples e extremamente


complexo. Logo, pode-se apontar que essa é a forma de se pensar para obter uma
resolução para um problema identificado. De forma complexa, pode-se dizer que a mais
simples necessidade gera a procura de uma solução, mas a prática dessa solução não
necessariamente se encaixa como pensamento científico. Neste ponto, apresenta-se
um paradoxo, em que o ato da procura de uma solução para um problema se encaixa
como pensamento científico, mas a reprodução contínua dessa solução, não.

É importante salientar que o pensamento científico é um processo que apresenta os


primeiros vestígios datados pela arqueologia a partir dos últimos três mil anos, prova-
velmente com início na Idade Antiga (século VII ou VI a.C.).

Importante
Lembre-se que, a contagem dos séculos no período antes de Cristo, ou seja, a.C. é decrescente.

2. TECNOLOGIA E O PENSAMENTO CIENTÍFICO NA PRÉ-HISTÓRIA


Os efeitos da produção tecnológica podem ser verificados nos períodos históricos.
Durante a Pré-História, as dimensões físicas do planeta Terra eram desconhecidas e
o homem se aventurava em desbravar novos territórios em busca de alimentação, por
necessidade o homem expandia o seu domínio pelas dimensões físicas do planeta.
Assim, pode-se definir o homem pré-histórico (Homo sapiens) como o homem mais
ignorante, ou seja, aquele que possuía o menor conhecimento sobre o planeta, pois ele
se encontra em um estado de transição do instintivo para o racional.

É possível também realizar alguns paralelos com a produção tecnológica que está sem-
pre ampliando seu domínio sobre as áreas do planeta, pois, o homem coletor da Pré-
-História teve seus hábitos modificados pela produção tecnológica. Nesse momento, a
prática de caça e coleta deixa de ser feita de forma natural e instintiva e se inicia a caça
racional, com o uso de técnicas desenvolvidas e seus ensinamentos.

Tecnologia em Meio Ambiente 11


U1 Produção tecnológica e seus impactos

As moradias (cavernas) se tornaram o refúgio seguro para a sociedade humana pré-


histórica, tal tecnologia possibilitou ao homem se proteger das intempéries do tempo,
dos animais selvagens e dos clãs inimigos, prolongando a vida dos seres humanos.
Associadas às moradias estavam as vestimentas que, ao serem colocadas sobre a pele
frágil do ser humano, eram capazes de aquecer o corpo, proteger do frio e de infecções
que poderiam atingir o organismo exposto a sujeira.

Figura 02. Pintura rupestre pré-histórica de Tassili n’Ajjer, na Argélia

Fonte: 123rf
As ferramentas, desde então, são tecnologias revolucionárias que serviram e servem
para promover o acesso e a facilitação dos recursos necessários para a sobrevivência
e recursos capazes de oferecer o conforto na existência em sociedade. Assim, a vida
do homem muda cada vez mais, ferramentas são feitas de metais, e novos metais são
descobertos e, até mesmo, aprimorados, como é o caso do ferro e do aço. O homem se
apresenta forjando sua própria sobrevivência, absorvendo o conhecimento do mundo
para sua adaptação ao ambiente.

Por último e não menos importante, assim como não possui a intenção de extinguir a
análise das diversas tecnologias que surgiram no período pré-histórico, é preciso destacar
o fogo como tecnologia que foi capaz de alterar a forma de viver da sociedade. O fogo se
tornou ferramenta para iluminar os ambientes escuros, para afugentar os animais ferozes
e propiciou uma mudança no hábito alimentar ao permitir o cozimento dos alimentos.

Desse modo, podemos concluir que, durante a Pré-História, o processo de


sustentabilidade era natural, pois o homem utilizava os recursos da natureza para
sobreviver, inicialmente era coletor e caçador e, após séculos, tornou-se agricultor e
criador. Esse mesmo homem vivia em equilíbrio com a natureza. Todas essas produções
tecnológicas não se limitaram apenas ao período da Pré-História, pois também é
possível percebê-las durante a Idade Antiga.

3. TECNOLOGIA E O PENSAMENTO CIENTÍFICO NA IDADE ANTIGA


Na Idade Antiga, é possível destacar diferentes civilizações, como os Fenícios que,
motivados pela atividade comercial, desenvolveram os primeiros navios movidos a duas
forças motrizes, a vela e os remos, eram navios menores, porém, mais rápidos. Em

12 Tecnologia em Meio Ambiente


Produção tecnológica e seus impactos U1

caso de guerras, eles poderiam ser lançados contra navios maiores, pois sua grande
velocidade e proa pontiaguda (frente do navio) eram capazes de perfurar seus cascos.

Outra civilização de destaque são os Egípcios, que controlavam as cheias do rio Nilo,
que trazia às terras egípcias o Húmus, ou seja, um material orgânico que fertilizava o solo
propiciando plantio e fartas colheitas. No entanto, nas cheias do rio Nilo, popularmente,
eram concebidas como um ritual cíclico da deusa Isis de luto pela morte de Osíris, onde
suas lágrimas criariam a cheia. Heródoto comprovou que esse fato era falso ao observar
que as cheias aconteciam após o desgelo da neve nas montanhas ao sul do Egito.

Dessa forma, Heródoto revolucionou o Pensamento Científico, sendo o primeiro a dar


importância às fontes e à confiabilidade da informação passada, onde, por meio da
observação e comprovação de fatos, encontrava-se a veracidade de teorias sobre eventos
naturais anteriormente concebidos como obras divinas. Além disso, na atualidade, ele é
amplamente criticado pela academia justamente por ter fontes históricas duvidosas.

Figura 03. Heródoto A Grécia foi um dos grandes berços do Pen-


samento Científico no mundo, Sócrates, por
meio de seus estudos sobre a lógica, foi o
pioneiro, que, apesar de atualmente ser
muito atacado, é respeitado pela sua “sim-
plicidade”, clareza de resultados e direta in-
fluência na lógica moderna.

Com Sócrates surgiu o Método Dedutivo,


permitindo, por meio da observação e inter-
pretação de fatos, que o homem começas-
se a observar os eventos naturais do nosso
mundo e criasse teorias sobre o porquê do
ocorrido, descartando assim algumas ex-
plicações precipitadas, na quais o próprio
Fonte: https://pixabay.com/pt/vectors/busto-famosos-
grego-her%C3%B3doto-2026845/. Acesso em: 29
Sócrates descreve como “portadoras de fal-
mar. 2021 sidade” ou, simplesmente, falsas.

Essa forma de pensamento provavelmente não foi exclusiva de Sócrates, ela poderia ter
vindo, inconscientemente, para outros, mas ele foi o primeiro a organizar e praticar conscien-
temente esse pensamento científico.

A respeito dos aspectos da natureza, os gregos defendiam a natureza como recurso


infinito. Essa filosofia – como vários aspectos da sociedade grega – foi herdada pelos
romanos, em que a natureza não seria capaz de impor sequer um obstáculo perante as
construções romanas. O desenvolvimento científico durante o período romano estava
totalmente ligado a tornar as tecnologias já desenvolvidas em algo mais prático e que
facilitasse o esforço de guerra e expansão do império, a imensa qualidade de suas vias
pavimentadas que são utilizadas até os dias de hoje por manterem sua qualidade cons-
trutiva demonstram suas intenções.

Tecnologia em Meio Ambiente 13


U1 Produção tecnológica e seus impactos

Figura 04. Via Ápia

Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/
d9/Via_appia.jpg. Acesso em: 14 dez. 2020.
No auge do poder de Roma foram construídos cerca de 85.000km de estradas que liga-
vam a capital às fronteiras mais distantes do império. Irradiavam de Roma 29 grandes
estradas militares, das quais a mais conhecida é a via Ápia, que se estendia por 660km
e chega a ter 10 metros de largura em certos trechos.

4. TECNOLOGIA E O PENSAMENTO CIENTÍFICO NA IDADE MÉDIA


Ao contrário do imaginado – principalmente pelo preconceito criado pelo termo “Idade
das Trevas” –, a Idade Média foi um momento de grandes descobertas nas áreas da
Matemática, Astronomia e Engenharia. Nesse sentido, é evidente que o motivo do ne-
gacionismo – comumente observado na historiografia desse período – foi a transição
do polo científico mundial da Europa para o Oriente Médio. Esse negacionismo tirou o
crédito de muitos cientistas medievais do Oriente Médio e o colocou sob uma bandeira
europeia, no entanto, é importante ressaltar que a Europa medieval não perdeu o pen-
samento científico.

Nesse período, pode-se lembrar do Império Mongol, quando Gengis Khan iniciou uma
grande rota de comércio e comunicação internacional. A comunicação tomou veloci-
dade, segundo Weatherford (2010), a notícia de uma morte foi levada da Mongólia a
Budapeste em apenas três semanas, em 1241, o que é impressionante, pois se trata de
uma distância de mais de 6.000km.

Genghis Khan foi o primeiro a construir um império participativo e multicultural. Além


de produtos, ele difundiu ideias, ou seja, desenvolveu tecnologias. Um sistema bancário
também foi instituído nos postos, assim, o viajante podia depositar dinheiro em uma

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Produção tecnológica e seus impactos U1

estação e pegar de volta em outra. O império Mongol aprendeu a fazer vidro com os
iranianos, e o Irã aprendeu a fazer pólvora com os Mongóis. Dessa maneira, ocorreu
uma certa união das civilizações importantes da época ao se permitirem efetuar trocas
de tecnologia.

Figura 05. Genghis Khan, fundador do Império Mongol

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Gengis_
Khan#/media/Ficheiro:Genghis_Khan.jpg.
Acesso em: 29 mar. 2021.
Durante a Idade Média, na Europa, ocorreu um recuo dos habitantes das cidades para o
campo devido às invasões bárbaras que ocorriam nas cidades. Isso levou a devastação
de áreas de bosques e florestas. O homem medieval devastou as florestas em busca de
madeira, promovendo o esgotamento de uma série de reservas minerais. Porém, ao in-
vadir o meio natural, o homem se tornou suscetível a uma série de doenças endêmicas
desse ambiente selvagem, que não os atingiam no meio urbano, como o vírus Ebola.
Por sua vez, a sustentabilidade deixou de existir no processo de avanço da civilização,
já que os recursos naturais eram abundantes e disponíveis.

5. TECNOLOGIA E O PENSAMENTO CIENTÍFICO NA


IDADE MODERNA
Outro período de destaque para o desenvolvimento tecnológico foi a Idade Moderna. A
partir do século XV, sob a liderança de portugueses e espanhóis, os europeus começam
um processo de intensa troca de tecnologias, a chamada Expansão Marítima.

Assim, o homem europeu interagiu com povos de outros continentes, relacionando-se


comercialmente, culturalmente e tecnologicamente. Ele constrói grandes embarcações
capazes de atravessar os oceanos e resistir aos grandes impactos das águas, além do
desenvolvimento das novas rotas marítimas e de descoberta de novas localidades.

Como consequência, o eixo econômico mudou, deixando de ser o Mar Mediterrâneo e


passando a ser o oceano Atlântico. Consequentemente, com essas mudanças e des-
cobertas, é preciso elaborar tratados internacionais para acalmar os ânimos das gran-
des nações descobridoras. Nesse contexto, as grandes navegações trouxeram como
consequência a devastação das grandes áreas costeiras do Atlântico que propiciavam
locais perfeitos para instalação de feitorias e exploração de recursos naturais.

Tecnologia em Meio Ambiente 15


U1 Produção tecnológica e seus impactos

Nesse período, René Descartes desenvolveu o chamado Método Cartesiano, uma


evolução clara do pensamento Aristotélico, que se utiliza do ceticismo metodológico, em
que tudo aceito até aquele momento como verdade deve ser duvidado. Dessa forma,
Descartes defende a experimentação, registro, análise meticulosa dos dados coletados
para obter a verdade sobre o objeto de estudo.

Figura 06. René Descartes A partir desse período histórico, a Revolução In-
dustrial teve seu estopim, além disso, também foi
o início da crise ambiental no mundo, pois ainda
não se considerava as consequências do desen-
volvimento das tecnologias em relação aos recur-
sos utilizados em tecnologias e produtos.

Com sua origem na Inglaterra, a Revolução In-


dustrial se apresentou como uma evolução tec-
nológica totalmente interligada ao Pensamento
Científico da época. Com isso, criou-se o modelo
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/ de produção industrial, como seu próprio nome
Ren%C3%A9_Descartes#/media/ diz, que se apresenta mais efetivo e substitui os
Ficheiro:Frans_Hals_-_Portret_van_
Ren%C3%A9_Descartes.jpg.
modelos utilizados até aquele momento, como o
Acesso em: 29 mar. 2021 artesanato e a manufatura.

É fundamental entendermos o conjunto de transformações promovidas pela Revolução In-


dustrial, já que esse evento pode ser classificado em diversas fases, de acordo com o contex-
to político-econômico-tecnológico do período. Para Hobsbawm (2000), a vida do trabalhador
no início do século XVIII se caracteriza por uma transição, pois, em 1711, o trabalhador se
depara com a invenção do motor a vapor, fato que modifica o cálculo do lucro e do tempo de
produção; as fábricas que funcionam por mais tempo apresentam maior produção, a luz do
dia já não precisa ser levada em consideração, pois havia iluminação a gás; e o trabalhador
passa a se adequar ao ritmo das máquinas.

Inicia-se, com isso, um período de exploração do trabalho e, a partir da metade do sé-


culo XVIII, os trabalhadores perdem sua outra forma de subsistência, o cultivo em terras
rurais, já que tais propriedades rurais são reduzidas intensamente para dar mais espaço
aos cercamentos, política que incentivava a criação de ovinos para a produção de lã, a
fim de utilizá-la como matéria-prima na indústria.

Ademais, consolidam-se as principais características da Revolução Industrial, a explo-


ração do trabalho e do meio ambiente. O trabalhador se torna o operário que está
completamente envolvido e dependente da produção, como satiriza Charles Chaplin
em sua obra Tempos Modernos (1936), em que o homem se torna parte da máquina. O
meio ambiente começa a ser explorado em busca de matéria-prima, observa-se gran-
de avanço na mineração de carvão e ferro, o tempo de recuperação da terra pode ser
ignorado devido a invenção do fertilizante sintético, e praticamente todo aspecto de
exploração natural se intensifica de maneira descontrolada.

16 Tecnologia em Meio Ambiente


Produção tecnológica e seus impactos U1

A Revolução Industrial propiciou a separação do mundo natural do mundo do homem,


assim, o homem passou a ser visto como externo à natureza, devendo se apropriar da
natureza para sua sobrevivência.

6. TECNOLOGIA E O PENSAMENTO CIENTÍFICO NA


IDADE CONTEMPORÂNEA
Por fim, há a Idade Contemporânea, período de maior desenvolvimento tecnológico
em questão de quantidade, pois, nesse período, grandes alianças de interesses econô-
micos e políticos se formaram.

É nesse período histórico que ocorre a 2ª e a 3ª fase da Revolução Industrial. Porém, a


Revolução Industrial como um todo pode ser considerada o grande marco do desenvol-
vimento tecnológico da sociedade, em razão das máquinas automatizam e ampliam a
produção de uma forma nunca antes vista em toda a história da humanidade.

Esse é o cenário moderno do pensamento científico, o desenvolvimento incessante de


tecnologias, focando no comércio e no lucro. O impacto dessas tecnologias será con-
testado apenas após as grandes guerras do século XX.

Após o final da Segunda Guerra Mundial, ocorre a Polarização da economia, por meio
da disputa EUA X URSS (capitalismo x socialismo). O mundo Bipolar chega ao fim
quando o homem pisa na lua. Contudo, nesse processo, o desenvolvimento de novas
tecnologias avança velozmente e o acesso às novas tecnologias torna-se cada vez
mais popular. O mundo Multipolar tem início e o desenvolvimento tecnológico chega a
sua maturidade, mas não em seu fim.

O homem se encontra em uma situação de capacidade de produção cientifica em que a única


coisa que o impede de evoluir é a viabilidade dos recursos, o pensamento científico regride a
sua forma mais primordial, como encontrar mais recursos.

A humanidade, consequentemente, começou a se organizar de modo a formular


uma nova estratégia de desenvolvimento, na qual o meio ambiente era consi-
derado como parte fundamental do processo de evolução da sociedade. No ano
de 1992 ocorreu, no Rio de Janeiro, o maior e mais marcante evento em prol do
meio ambiente, a conferência batizada de Rio 92, ou “Cúpula da Terra”. O número
de participantes foi enorme, números nunca antes vistos em uma conferência com
esse propósito.

Neste contexto propiciado pela Conferência de Estocolmo, em 1972, e ampliado


na Conferência Rio 92, é possível apropriar-se da definição de Sustentabilidade
sendo: “[...] possuir uma economia capaz de suprir as necessidades das gerações
presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras atenderem às suas
próprias necessidades”.

Tecnologia em Meio Ambiente 17


U1 Produção tecnológica e seus impactos

Figura 07. Elementos da sustentabilidade

33% 33% 33%

Fonte: elaborada pelo autor


Economia Social Ambiental

SUSTENTABILIDADE

O tripé da sustentabilidade prevê que o ambiental, o social e o econômico estejam em


equilíbrio propiciado pelas ações humanas como protagonistas nos anos vindouros.

7. GRANDES DESASTRES AMBIENTAIS CONTEMPORÂNEOS


Com a passagem das décadas sobrecarregadas pelas atividades industriais e explora-
tórias intermináveis praticadas pela humanidade, a sociedade passa a assistir e viven-
ciar desastres ambientais de grande intensidade.

Neste ponto, é importante compreender e diferenciar os termos impacto ambiental e


desastre ambiental. A definição de impacto ambiental é estabelecida em detalhes na Re-
solução Conama 01/86, mas, resumidamente, ele pode ser entendido como qualquer al-
teração do meio ambiente causada por atividades humanas. Já a concepção de desastre
ambiental, ou acidente ambiental, pode ser entendida como uma sequência de eventos
não planejados, que geram consequências indesejadas ao homem e ao meio ambiente.

O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) foi criado pela Lei Federal nº
SAIBA MAIS

6.938/1981. Sendo esse o órgão consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do


Meio Ambiente (Sisnama).

Para saber mais sobre este órgão, acesse o link disponível em: http://www2.mma.gov.
br/port/conama/. Acesso em: 15 jan. 2021.

Primavera Silenciosa (Silent Spring), de Rachel Carson, em 1962, foi a primeira obra a
detalhar os efeitos adversos da utilização dos pesticidas e inseticidas químicos sintéti-
cos, iniciando o debate acerca das implicações da atividade humana sobre o ambiente
e o custo ambiental dessa contaminação para a sociedade humana. Essa obra causou
um despertar para as questões relacionadas à natureza, e os países passaram a teste-
munhar desastres ambientais em seus próprios territórios.

O desleixo e inconsequência do pensamento industrial e exploratório fez eclodir


desastres ambientais, como o período do “Grande Fedor” do Rio Tâmisa, em Lon-

18 Tecnologia em Meio Ambiente


Produção tecnológica e seus impactos U1

dres, que estava em um estado deplorável devido ao despejo de dejetos humanos


e efluentes industriais.

De 1953 até 1997, 12.500 pessoas foram diagnosticadas com o “Mal de Minamata”.
Assim, a doença que degenera o sistema nervoso, provocada pelo despejo de efluentes
industriais, sobretudo mercúrio, contaminou o pescado da região, na Baía de Minamata,
no Japão.

Em 1986, a explosão do reator nuclear de Chernobyl (Ucrânia) espalhou radioativida-


de em quantidade superior a 10 bombas atômicas, causando a morte de 10 mil pessoas
e a contaminação de aproximadamente 800 mil pessoas.

Em 2010, ocorreu o derramamento tóxico de alumínio em Ajka, Hungria, em que uma


fábrica de alumínio acabou com um de seus diques de contenção arrebentados e derra-
mou, aproximadamente, 1 milhão de metros cúbicos de resíduos tóxicos nas ruas mais
próximas. O desastre ambiental, que aconteceu no dia 4 de outubro de 2010, resultou
em um “barro vermelho”, que chegou a 2 metros de altura, matando quatro pessoas e
deixando 123 feridos. Considerado o acidente mais grave da história da Hungria, es-
tima-se que pelo menos 400 moradores da região tiveram de ser removidos do local,
devido ao risco de queimaduras e irritação nos olhos que o chumbo e outros elementos
corrosivos poderiam causar.

No ano 2000, a Baía de Guanabara sofreu com um grave vazamento de óleo, em que
um navio petroleiro e cerca de 1 milhão de litros de óleo foram derramados. Nesse caso,
o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis)
aplicou multas à Petrobras, que totalizaram em cerca de R$ 52 milhões, pelos danos
causados a fauna e flora local.

Já em 2015, o desastre foi o incêndio na Ultracargo, um terminal portuário em Santos.


A Ultracargo foi multada pelo lançamento de efluentes líquidos de forma inapropriada e
pelos efluentes gasosos lançados na atmosfera.

Também em 2015, houve o Rompimento da barragem de Mariana, no mês de novem-


bro, tal rompimento causou a liberação de uma onda de lama e rejeitos de mais de 10
metros de altura. Em Minas Gerais, na última década, ocorreram desastres ambientais
com mineração em Nova Lima (2001), em Miraí (2007) e em Itabirito (2014).

7.1 DISCUSSÕES SOBRE O AQUECIMENTO GLOBAL


Os temas desastres ambientais e impactos ambientais são sempre muito abordados
atualmente, sendo o Aquecimento Global o grande ponto de discussão e repercussão
nos últimos anos. Porém, para melhor compreender o aquecimento global é necessário
esclarecer outro fenômeno que está completamente vinculado, ou seja, é preciso abor-
damos sobre o efeito estufa.

O efeito estufa é um fenômeno natural que possibilita a existência de vida na Terra, esse
fenômeno, por sua vez, é caracterizado pela presença de vapor de água e gases na
atmosfera, elementos que absorvem parcialmente a radiação solar e mantêm a tempe-
ratura média do planeta próximo a 15ºC.

Tecnologia em Meio Ambiente 19


U1 Produção tecnológica e seus impactos

Sendo assim, o aquecimento do planeta por meio do efeito estufa é natural, no entanto,
o fato que não é natural é a intensificação dessa temperatura, isto é, do efeito estufa. A
essa intensificação convencionou-se chamar de Aquecimento Global, que é ocasionado
pela liberação de gases de efeito estufa por meio da queima de combustíveis fósseis e
áreas florestais e, também, pelas atividades industriais.

De acordo com os Cientistas do Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima


(IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU), diversas consequências do aque-
cimento global podem ser previstas para um futuro próximo, como o derretimento das
calotas polares e geleiras e a consequente elevação dos níveis dos oceanos e mares.
Essas mudanças drásticas climáticas produzirão a extinção de uma grande variedade
de espécies da fauna e flora, extinção de áreas florestadas, aumento de áreas de de-
sertos, intensificação de chuvas e secas.

Para reduzir o aquecimento global foram elaborados alguns tratados e mecanismos.


O protocolo de Kyoto se trata de um tratado internacional com compromissos para a
redução de emissão dos gases que provocam o efeito estufa. Outro mecanismo criado
foram os Créditos de Carbono, ou o Mercado de Carbono, que surgiu durante a Rio-
92. A intenção central do Protocolo de Kyoto é fazer os países reduzirem e limitarem
suas emissões de gases de efeito estufa.

Figura 08. Impactos ambientais

Fonte: 123rf

Nesse sentido, determinou-se que uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) corres-
ponde a 1 crédito de carbono. Com esse crédito, o país poderá realizar negociações
internacionais. Além do dióxido de carbono, existem outros gases que também podem
ser reduzidos e serem transformados em créditos de carbono, para essa conversão
utiliza-se do conceito de Carbono Equivalente.

Esses mecanismos apresentam alguns contrapontos, pois, a compra de créditos de car-


bono permite ao país ampliar a sua emissão de gases de efeito estufa, ou seja, o direito

20 Tecnologia em Meio Ambiente


Produção tecnológica e seus impactos U1

adquirido economicamente para poluir. Outro contraponto se relaciona ao meio ambien-


te, que se tornou um produto de mercado, sendo sua preservação um ato comercial.

Um último contraponto está no fato de que o país determina a sua meta de emissão de
Gases de Efeito Estufa (GEE) e, também, determina o quanto foi lançado na atmosfera, ou
seja, os países que tiverem uma emissão abaixo da quantidade permitida poderão vender
essa sobra para outros países que desejam emitir gases além dos limites estabelecidos.

Nesse contexto, o Brasil ocupa a terceira posição mundial entre os países que participam
desse mercado, com cerca de 5% do total mundial. Esse mecanismo incentivou a criação de
novas tecnologias para a redução das emissões de gases poluentes no Brasil.

Além disso, há outro grupo mais tímido de pesquisadores mais céticos em relação as
consequências do Aquecimento Global, esse grupo propõe a tese que o planeta ao lon-
go de sua história passou por vários momentos quentes e frios, sendo que o último ciclo
quente do passado não está relacionado com as ações humanas, já que a interferência
humana existente no passado era quase nula. Nesse sentido, as mudanças climáticas
estariam associadas aos fenômenos externos, como manchas solares, e fenômenos
internos, como vulcanismos. Para os céticos, uma evidência desse ciclo está no fato de
que, entre os anos de 1998 e 2007, a temperatura do planeta diminuiu, mesmo existindo
uma imensa concentração de gases de efeito estufa na atmosfera.

Dessa forma, podemos observar que tratar sobre aquecimento global é um desafio,
logo, é preciso ponderações cientificas e políticas e, acima de tudo, equilíbrio, pois o
meio ambiente está sofrendo em diferentes aspectos com as ações humanas, por isso,
é preciso rever nossos hábitos e comportamentos. Por fim, é necessário cuidar do pla-
neta que é a casa da humanidade.
Figura 09. Timeline (Linha do Tempo)

A IDENTIFICAÇÃO DA TECNOLOGIA E PENSAMENTO CIENTÍFICO


A identificação da Tecnologia e do Pensamento Científico no decorrer da história.

Tecnologia é a habilida- Pensamento Científico é a bus-


de de realizar ca por uma resolução para um
problema identificado

A necessidade gerou o “Desenvolvimento de


O Pensamento Científico exige a ob- Tecnologias” e o “Pensamento Científico”
servação e análise dos fatos e fontes
antes de teorizar
A utilização dos
Pré-História
recursos naturais
A Tecnologia é 2.500 a.C.
Idade Antiga para sobreviver
o controle da
4.000 a.C.
natureza
Existência ecologicamente sustentável
A natureza é infinita e submis-
sa ao homem

Tecnologia em Meio Ambiente 21


U1 Produção tecnológica e seus impactos

Tecnologia é a habilida- Pensamento Científico é a bus-


de de realizar ca por uma resolução para um
problema identificado

Exploração desenfreada dos recursos naturais

Idade Média Intercâmbio de


O Pensamento Científica propõe ape- 476 d.C. tecnologias
nas o empirismo, a ação prática como
fonte de respostas

O Pensamento Científico passou a aprimorar


A Tecnologia as ciências como a Engenharia e Matemática
Idade Moderna
produz novas
1.453 d.C.
descobertas

O pensamento Científico se volta para a am-


O homem se apropria totalmen- pliação da produção
te da natureza como recurso.

Idade Contempo- A Tecnologia se


rânea 1.789 d.C. miniaturiza e se
torna nuclear

Desastres Surge o conceito de Sustentabilidade

A sociedade desperta para os


problemas ambientais, após
sofrer com diferentes
desastres ambientais. Aquecimento
Global

Fatalismo
x
Ceticismo

Fenômeno natural intensificado


pelas ações humanas e alvo de
muitas polêmicas políticas-econô-
micas-ambientais.

Futuro

Fonte: elaborada pelo autor.

22 Tecnologia em Meio Ambiente


Produção tecnológica e seus impactos U1

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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