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DICIONÁRIO DE TRABALH O E T ECNOLOGIA

. ·dade produzidas - - -. · A esperança de Pandora : ensaios sobre


bJ·eUVl , . a realidade dos estudos científicos. Bauru, SP:
e sll •ais e teoncas. Edusc, 2001.
as d -es soc1
. 1orJ11 dificaç 0 ologias elenca- MACKENZIE , Donald A. Statistics in Bri tain
3' Jllº as tecn
/ e51as as JlOV roduto fidedig- 1865-1930: a social construction of scientifi~
.J qtJe a um P knowledge. Edinbourgh: Edinbourgh Univer-
r ,.,ais Jldaill d Jos dominantes sity Press, 1981.
.,1"" sPº mo e
iv o,rre _ çẠdos de controle capi- MATTEDI, Marcos. Sociologia e Conhecimen-
1,1s pllca uva e
0aatora prodllvirtud e da credibilidade to: introdução à abordagem sociológica do pro-
, . blema do conhecimento. Chapecó: Argos, 2006.
e5tfll •to eIJl tilidade pratica -
Ja 111\ll . e sua u d MERTON, Robert K. The Sociology ot Science:
_tista •ênClª gérmen a sua theorical and empírica] investigations. Chica-
iY d3 Cl . esmo, o
1, ..ialll•
ern si Ill
dida elll
que extravasam go: University of Chicago Press, 1973 .
f 31v. ºª
~açaO, egéUCOS q
rne . ue originalmente PINCH, Trevor. Towards an analysis of scientific
observation: the externality and evidential sig-
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viathan y la bomba de vacuo: Hobbes, Boyle y
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.,iJ.DAv• , estudo com
~-~ade:~ a Ed-, 1974.
if'l p; pjonelf . HUGHES, Th_omas P.;
fdUS~º Wiebe E., ocial constructwn of te-
' cJ-1"' nevorThes · · th e so-
SOCIOLOGIA DA
• . ws directions m
P~1,.,;;cal systems-0~~echnoJogy. Cambridge, TECNOLOGIA
(Jll "'".,.,. d ]iistory
~ atl . MIT Press, 1997. Fabricio Monteiro Neves
~lassachusetts- . J{nowledge and Soei·a1 Imagery. Adriano Premebida
BI,(JOR, DaVId- ·ty of Chicago Press, 1991.
. . UoiVer51 . ,.
(lJíeago• • 0 campo cientifico. ln:
soURDIEU, Pi(errge.) Pierre Bourdieu: Sociolo- 1. A sociologia da tecnologia é uma área
Renato or · ·
o.KilZ,São Pa o.
ul . Ática 1983. p. 122-155.
' de investigação que busca discutir o re-
N, Michel. Some e~em~nts of a sociol- lacionamento entre tecnologia e socieda-
(ALLO tt·on· domestication of the scal-

:~hn
""'1 of tranS1ª .
"'
.
d the fishermen of St. Bneuc: Bay. n:
I
(ed.). Power, action and bellef: a new
socio/ogy of knowledge? London: Routledge &
de, atentando para o caráter construído e
contextual de toda a tecnologia. A pers-
Kegan Paul, 1986. p. 196-229.
pectiva sociológica da tecnologia veio a
COLUNS, Harry. Stages in the Empirical Pro- ser desenvolvida somente no fim do sécu-
giam of Relativism. Social Studies of Science, v. lo passado, levando alguns pesquisadores
11, n. 1, p. 3-10, 1981.
a romperem com a maneira tradicional
COLUNS, Randall; RESTIVO, Sal. Develop-
men~ Diversity and Conflict in the Sociology of de se estudar a tecnologia e seus desdo-
Science. The Sociological Quarterly, v. 24, n. 2, bramentos sociais. Três desafios a foram
i 16.5-200, 1983.
enfrentados: a) superar a perspectiva in-
! ºRR·CETINA, Karin. Epistemic cultures:
wthesciences makes knowledge. Cambrid- dividualista da tecnologia; b) abandonar
ge.Harvard University Press, 1999.
IATOlJR B . o determinismo tecnológico; c) abdicar
deJan. ' runo. Jamais fomos modernos. Rio
euo: Ed. 34, 1994. da perspectiva que separava a produção
::-,-_; WOOLGAR St
lório: a Prod _ • eve.
A .
vida em Jabora-
tecnológica de sua base social (Bijker;
1illeiro: R uçao dos fatos científicos. Rio de HugHes; pinch, 1987). A resposta a esses
eI\Une Dumará, 1997
ià;--•Ciência em - · desafios deveria possibilitar a abertura da
1-0 eengenbe· açao: como seguir cientis-
·Unesp, 2~~s sociedade afora. São Paulo: caixa-preta da tecnologia, fazendo com
que a produção tecnológica passasse a

357
A NTON I() V• -- ·

, um empreendime nto a be.r- A construção des .


ses
ser vista como . stituíções e uma sén e (pode-se p en sar, alé ªrn.Plos .
rn do 8. St~
to que envolve as lil m redes na estabi- co, na rede mundial d tstellta li~
, . teragindo e . . e~rn. &
de atores in tecnológicos. Os es- s1Stema de dist.ribuiça· l>u.tA,1. ""\i!.
d artefatos . o de i-
lização º.s s sob essa perspectiva têm m tegrado de coleta d 1, • . . 9~ , no S' ''-,
el.!..\Oe l~.
tudos reahzado d . m construtívísta da dades, no sistema de rn. 9tanrt~~l/lil
a abor age esgoto
em corou.m . d a qual os arte fatos n ecessita, fundamentai ' entre O ti .
·a
tecno log1 '
segun °
bil. am a partir da in-
.
tég1as dos construtores (
mente
'
lltr°'l
das %
e se esta iz 8Ysteni b· a.
emergem diversos que ope ram em em outros momentos h •tiiJt1_
ão de atores . e ªInad ~ ij
teraç ó . de sentido espedfi- preendedores (en trepren os de Pt.
eur) a
um universo pr pno, ~IIJ.
inven tam e desenvolvem ' . C{UeJes rn..
Co ' contextualizado. t· os sis•~- 1 '11;
d perspec 1- nológicos, de forma a "fo ~1.11c1S ~-
2. Há, basicamente , uas . . . rçar a un·
e sociológica da tecnologia. d1vers1da de, centralização na
vas na anális . ,. . no Plural;.,.__
ntra no conceitq de sistema coere n cia no caos" (ibidem: )_ --U10 e
Uma se cOnce 52 0
e considera a heterogeneidade dos ele- se s atores fazem é chamado de ,, ¾ees.
mentos envolvidos, os quais apresentam ria h eterogênea", devido a· engenha.
neces ·
uma coerência autocentrada dada pelo de lidarem com elementos dicl;_ Sidade
=uutos na es.
sentido específico envolvido na relação truturação do sistema tecnol' .
. üglco. Todos
dos componentes. Nesse caso, é paradig- os eleme ntos do s1Stema tecnológico . -
mático o trabalho de Thomas Hughes, suas ca~a ct ens
'ti' têm
c~ e posições derivadas
que apresenta a tecnologia como pro- dele. Tais caractensticas mudam CIUando
dução de um sistema fechado de muitos se muda uma determinada dimensão dã
elementos. Esse sistema é sua unidade de rede , quando é inserida uma nova ferra.
análise e é composto por uma diversidade menta técnica , por exemplo, o que leva a
de componentes, entre os quais organiza- redefinição do sistema como um todo. A
ções e artefatos legislativos, econômicos, definição e redefinição dos limites do sis-
científicos, políticos e físicos. Segundo o tema tecnológico ocorrem em função do
autor, a justaposição desses elementos he- exercício de controle assumido pelos ar-
terogêneos se dá pela função do sistema, tefatos e operadores humanos. No entan·
implicando em uma homogeneidade na to, essas partes do sistema não devem ser
heterogeneidade. Assim, caso se observe definidas da mesma forma. Como argu·
o resultado, abstraindo-o dos componen- menta Hughes, "inventores, industriais,
tes subjacentes distintos, pode-se perder engenheiros, administradores, financislaS
de vista todo um sistema de luz elétrica, e trabalhadores são componentes dosiste-
se houver a observação somente de uma ma, mas não artefatos" (ibidem: 54), par·
1· . de que apresentanl
ampada acesa, ou um conjunto de fios. que o grau de liberda
~m artefato de um sistema tecnológico ,. nsurável.
na tomada de decisão e mcoroe
mt~rage com outros artefatos, os quais . o autor se
Com o argumento aclffia, . a
con1untamente contribuem diretamente . . e o sJSteID
manifesta contra a ideia de qu tal·
ou através de t , tundanien
. .
0 Objetivo c
ou ros componentes para pode ser autônomo: ele e trlltore5
omum do sistema" (Hughes, . - dos cons
1987 : 51) . mente fruto das deosoes . d auto·
, 1·de1a e
do sistema. Opondo-se ª

358
DIC IO NÁRI O DE TRABALH O E TECNOLOG IA

·t de momentum e sociais presentes no contexto. Portan-


conce1 o
O
ere . tema consolidado to, cada fase também vai apre sentar uma
. sll g ue o s1s . "
00 11 3•
55 ar q . de movimento , "cultura da tecnologia" específica, com-
o etPre "inércia .
,,ara umª - objetivos, mte- posta de distintos valores, ideias e insti-
r e!lta . direçao,
aPres adquiriu . . ado e toda sorte de tuições (Constant, 1987: 229) .
(!lle . õn10 fiX , . fi •
já patriJll •ra trajetona de m- 3. Uma abordagem próxima a de Hu-
5es, que sug1
re5 ristiCª radores humanos . ghes é a de Edward Constant, em sua
,acte elos ope
ca idida P m profundamente análise da prática tecnológica . Nessa
aec _ envo1ve
M decisoes , . o dotando os siste- perspectiva, concepções consideradas an-
Bssas ciotecnic , ,
o!lteJCtO so , ticas ou estilos espec1- tagônicas sobre a construção da tecnolo-
0C acteris
de car emplo ao país onde gia não o são necessariame nte, podendo
Jllas por ex '
·cos, ugados, , A "adaptação é uma cada qual assumir uma dimensão distinta
fi strt11dos.
raill con tes ambientes e adapta- na análise da tecnologia. Tais concepções
!O ctiferen
re5p0sta a . ulmina em estilo" (Hu- articuladas são a sistêmica, a comunitá-
mb1ente c .
(Ạªºª S) Com isso, nenhum s1ste- ria e a organizacional, articuladas pelo
1987: 6 ·
gbes, outros contextos sem que autor para descrever a extensão da rede,
·rcula para
01a
O
il . ambiente e o contexto a inovação e a mudança tecnológica, res-
de seu est o. 0
01u . corporados às peças e ao pectivamente. O grupo social relevante
·o sempre m .. al
sa que participa na construção da tecnologia
fuDCIO
. namento ongm .
apresenta essas três dimensões e, depen-
SistemaS tecnológicos aumentam a
dendo do âmbito focalizado, o grupo terá
comp1eXI•ctade na medida em que envol-
vemnovos componentes e expandem a mecanismos específicos para autoidenti-
rede, 0 que aumenta concomitantemente ficação, persistência e desenvolvimento.
05 problemas de controle. Essa expansão "Para comunidades de técnicos (practi-
dosistema é dotada de fases, que Hughes tioners), este mecanismo é a tradição da
denomina invenção, desenvolvimento, prática. Para sistema é momentum . Para
inovação, transferência, crescimento, organizações é função tecnológica. Todos
competição e consolidação, e não ocor- têm processos subsidiários para o proble-
rem necessariamente nessa sequência, ma de reconhecimento, definição e solu-
Podendo cada fase se sobrepor à outra . ção . Para comunidades de técnicos estes
Cada fase apresenta aquilo que o autor processos incluem falhas funcionais e
chamou de sa1·1enc1a • · reversa, componen-
anomalia presumida. Para sistemas eles
tes que fi
cam defasados em relação aos são as saliências reversas e os problemas '
outros e pod
em gerar problemas para a críticos. Para organizações eles são uma
superação d d .
nã . e etermmada etapa caso variedade de interfaces ambientais e im-
ose1am a· '
fases d Ju st ªdos (Hess, 1997). Após as perativos de desenvolvimento interno"
e expansãO
terna e consolidação, o sis- (Constant, 1987 : 238).
apresenta .
tilo, 0 qu , mais claramente seu es- A prática tecnológica pode ser diferen-
e e fruto b ·
corno O asicamente da forma ciada em termos de objetivos e propostas
Processo f .
Ponentes . o1 conduzido, dos com- relacionados àqueles âmbitos (a saber,
das que fizeram
caracten . parte do processo e o sistêmico, o comunitário e o organiza-
sticas ec • .
onom1cas, políticas cional). Sendo assim, "a função principal

359
ANTONIO D. CATTANI & LORENA HOLZMANN

da comunidade de técnicos é explicar o com Bruno Latour (1 992 )


. , desen
desenvolvimento e a revolução tecnoló- teona do ator-rede (ou 8 . Volveu
_ oc10Jogia a
gica, conceitua! ou cognitiva, novidade, duçao). Callon questiona b . da Iro.
invenção e inovação. Em termos gerais, a possibilidade de se dist'. a~icarnente
1ngu1r ,
modelos organizacionais buscam explicar cesso de construção da tec '_no Pro.
. . no1og1a f
mudança tecnológica, inovação, empreen- ou atividades técnicas ou e· , . ' ases
A • ien hficas
dimento e crescimento econômico e orga- economicas, assumindo um das
. a Perspecr
nizacional. A perspectiva sistêmica busca que abole a dicotomia clássica . iva
. . entre Inter
explicar a emergência e desenvolvimento nahstas/externalistas nos estudos s .. ·
. oc1a1s
d a cienc1a e tecnologia (Call
A •

dos sistemas sociotécnicos - especialmen- on, 1987)


te invenção e empreendimento" (ibidem). Ao reconhecer a heterogeneidad d ·
e e ele.
O autor considera a comunidade de téc- mentos envolvidos na rede CaU
' on teve
nicos como o lócus do conhecimento tec- que buscar uma estratégia metodol ' .
og1ca
nológico, as organizações como o lócus que reduzisse o número deles, valendo-se
da função tecnológica e o macrossistema do conceito de simplificação, que permite
sociotécnico como o contexto estrutural manusear, compreensivamente, a extre-
de ambas. Essa perspectiva aponta para ma complexidade dos elementos envolvi-
a necessidade de se articular âmbitos no dos, incluindo os elementos "não huma-
intuito de apreender o fenômeno da tec- nos". Todavia, ainda assim, é ,necessário
nologia em suas mais diversas manifes- outro conceito, a saber, o de justaposição,
tações e relacioná-lo a contextos sociais ou seja, a limitação do contexto no qual
específicos, levando a um entendimento os elementos simplificados estão justa-
mais complexo das relações entre prática postos: •~ simplificações só são possíveis
tecnológica e sociedade. Essa estratégia se os elementos estão justapostos em uma
de diferenciação teve pouca repercussão rede de relações, mas a justaposição dos
nos estudos sociais da ciência e tecnolo- elementos requer que eles estejam simpli-
gia, em função, basicamente, da opção por ficados" (Callon, 1987: 95).
uma abordagem simétrica entre os âmbi- De certa forma, a teoria do ator-rede,
tos a que Constant faz referência, aborda- ao examinar a produção/aplicação tec-
gem que ficou consagrada como a teoria nológica, busca estabelecer as articula-
do ator-rede (Actor-Network Theory). ções teóricas entre o processo de escolhas
4. A outra forma sociológica consagra- técnicas e seus desdobramentos sociais.
da no estudo da tecnologia advém dos Esse modelo problematiza a divisão entre
estudos das redes, que quebram com a ciência e tecnologia ou a tecnologia como
distinção entre humanos e não humanos aplicação direta da ciência. Para nomear
na construção de sistemas sociotécnicos. essa interdependência entre produção
Essa opção teórica enfoca parte dos seus científica e tecnológica é muito utilizado
estudos na dinâmica de estabilização dos nessa abordagem o termo tecnociência .
artefatos tecnológicos a partir da intera- Ao não dissociar a dimensão científica
ção de atores humanos, ambientes físicos da produção tecnológica, a teoria do ator·
e conhecimento. Aqui se destaca o traba- rede privilegia as passagens dos artefatos
lho de Michel Callon (1987), que, junto técnicos do laboratório para a indústria e

360
DICIONÁRIO DE TRABALH O E TECNOLOGIA

Esse fluxo não é li- os interesses do grupo. No curso da estabi-


rcado- lização da rede sociotécnica naturalizam-
a o JJle dependente de pro-
, par
1 O
rnas se as propriedades, as competências e os
dª ü!lÍvoc ' . certezas técnicas e
ar e 'ficos, in . sentidos sociais dos dispositivos técnicos,
oe 5 cientl . lítico, cultura orgam-
1e[ll3 po10 Pº tornando-a irreversível (Callon, 2001).
b ciais, a conômicos e comer-
ereil áriOS e O modelo teórico ator-rede procura des-
gciºJlal, ceil difusas sobre a repercus-
za tas , . fi crever os arranjos constituintes da natureza
. •s e ap 05 ·tação do usuano na1.
0 a1 ale ace1 e do mundo social operados pelos cientis-
. cültüf _ de uma inovação tec-
sa0 50lidaçao , tas, técnicos, engenheiros e políticos, a fim
A con abordagem ocorrera
ara essa de mostrar como a ciência e a tecnologia
1ógica P . ção entre os atores he-
00 a associa
qiiaildo _ humanos e não humanos são fenômenos intrinsecamente sociais.
êileos A prática diária da produção tecnológica
tero9 . técnica estabili'zar. U ma
rede soc10 . expõe para o sociólogo as formas como os
, da , nica não tem um sentido
1
áO tecJlO O~-
iJlOvaÇ t belecido. O contexto de re- atores geram sentido e associam os objetos
·a1 prees a . técnicos e os humanos. A formação dessa
soCI _ e alcance do significado soe1al
O rede de associações é concomitantemente
cepǪº . vação tecnológica justapõem-
de uma ino natural e social. Sua apreensão metodoló-
. ul earnente ao encadeamento das
se sun tan . gica acontece pela análise das atividades
'rsias entre os atores engaJados
controve concretas de laboratório e da produção in-
·ações de modelos e conteúdos
nas negºCl dustrial, pelo exame das normas, das leis
técnicos de diversas ordens de conhe-
e dos processos gerenciais de um sistema
cimento, desde o laboratório até as con-
técnico até os meios discursivas sobre os
veniências do consumidor final (Callon,
2006). Atradução de necessidades de um
quais os atores legitimam e afirmam uma
empreendimento tecnológico dependerá inovação tecnológica. Um dos pontos críti-
da correlação de forças entre os atores, cos desse modelo teórico é sua difícil ope-
suas demandas e a imposição de uma racionalização metodológica e, apesar de
lógica própria sobre o sistema adotado. fomentar uma descrição de rede sem cos-
Quanto maiores forem a confiança e a turas através de uma epistemologia antidi-
interdependência nas associações entre ferenciacionista, necessita, constantemen-
múltiplos atores e elementos de uma rede te, utilizar uma narrativa empenhada em
sociotécnica, maiores serão as chances de unir campos sociais diferenciados e relati-
consolidação de uma agenda comum e vamente autônomos (Gingras, 1995). Afi-
ªpermanência do complexo de decisões nal, para haver uma cadeia de tradução, é
d . rede de relaçoes.
dessa - A cristalização de preciso pressupor a existência de mundos
ec1sões pa d sociais distintos e uma série de intermedi-
. ssa as não é fruto de esponta-
neidades ou ários, com suas próprias lógicas e normas
sec apenas das qualidades intrín-
as de um . t
capac·d SlS ema tecnológico, mas da de operação.
t ade de 5. As abordagens acima estão presentes
lllas e os atores elegerem proble-
rnaneiras p rti também em estudos que buscam relacio-
de recrut e nentes de resolvê-los,
. arem p rt
naohurn ° a-vozes das entidades nar sociedade moderna e tecnologia, res-
P anas de m0 bili' saltando a retroalimentação - "coconstru-
roduzire ' zarem aliados e de
1h. represe t - ção", segundo Misa - entre modernidade
n açoes de acordo com

361
& LORENA H OLZMANN
AN'fONIO D· CATTANI

esse autor, tecnologias Esse autor apresenta um moctei


e técnica. Para nte com natureza sintetiza as cnticas
, · ao modelo lin 0 que
rofundame ,, .
interagem p interações envolvem l~- gundo o qual a tecnologia deconeear, d se.-
e cultura e essas . rtezas e ambigm- .
ência aplicada, _ uma forma e Cl-
e propoe
. útuas mce .
fluências m , . '
produzm . do resistência, de se observar o relacionamento nova.
dade histonca, - . da entusias- entre
- aceitaçao e, am ' - ciência e tecnologia. O que o modelo de
acomodaçao, tar estas relaçoes Barnes mostra, e que vai servir para Orien.
Na tentativa de cap
mo., ó adotamos a noção de cocons- tar outros trabalhos que buscam entender
fluidas, n s_ 3. 3) A partir da dife- 0 relacionamento contemporâneo entre
- (M1sa 200 • ·
11

truçao '
. - tempora 1 do conhecimento tec- ciência e tecnologia, é que tal relação não
renciaçao moderno
nológico entre pré-moderno e é mais hierárquica, que não há um locus
emergem novas formas relacionadas . (a) de onde a iniciativa tecnológica parta.
da lado da diferenciação, como nsco Atualmente, a própria atividade de ino-
a ca . t te
tecnológico, aparentemente inexis e~ vação tecnológica serve de substrato para
em sociedades pré-modernas, e (b) a fnc- si mesma e suas potencialidades não são
ção entre o global e. o local (Rip, 20?3). mais restritas ao estado da ciência: elas se
6. Esses estudos discutiram tambem ou- apresentam como resultado interativo do
tro ponto importante na sociedade mode~- processo tecnocientífico horizontalizado,
na, qual seja, o caráter da relação entre ci- uma consequência no plano do sistema
ência e tecnologia e, com isto, a sociologia parcial da ciência e tecnologia da diferen-
da tecnologia repensou o modelo linear de ciação funcional da sociedade moderna.
relacionamento entre estes âmbitos. Cada Nesse sentido, qualquer abordagem que
vez mais essas grandes áreas de produção
busque um "caminho natural para a ino-
de conhecimento se tornam indissolúveis e
vação" simplificaria o processo, reprn du-
trazem consequências recíprocas. Ao mo-
zindo modelos hoje pouco analíticos.
delo linear de inovação tecnológica, que
No caso da discussão da estabilização
afirma que a tecnologia é fruto da ciência,
dos artefatos tecnológicos na hiS tória da
atualmente se aceita que a ciência também
tecnologia, a tendência a tratar da esta-
pode se desenvolver em função das con-
bilização como um fenômeno determi-
sequências do conhecimento tecnológico.
Nesse sentido, atualmente os sociólogos da nado pelo sucesso dos empreendimentos
tecnologia estão muito menos propensos foi paulatinamente criticada - existiria
em pensar a tecnologia como subordinada uma cadeia processual linear que iria da
à ciência. Diferentemente, tem-se reconhe- pesquisa básica ao uso da tecnologia d(
cido ciência e tecnologia como dimensões forma relativamente estável, sem se leva
que se relacionam de maneira horizontal. em conta fenômenos de ordem econômic,
Como afirma Barnes (1982: 166), "tecno- e social. Para se contrapor a esse modele
logia e ciência poderiam sobreviver como a sociologia tem apresentado o fenômen
formas independentes de atividades insti- tecnológico de maneira "multidirecional
tucionalizadas, mas elas estão de fato en- O que se assume em contraposição a
redadas em um relacionamento simbiótico, modelo linear é que não haveriçt somen
em uma interação mutuamente benéfica". uma direção para o fenômeno tecnológ
co, ou seja, haveria outras possibilidad,
362
D1c 10NAR10 o e T
RABALHo
E
TECNOLOG!A

. h' Bijker, 1987: 28). Essas de conceb er o processo d .


(PlJlC ,
essº expressas com os con- lógica leva em e movação tecno-
,t1Cdes sao conta portant
oe .bjlidª e seleção, e estes, por ro variado de . t ' o, um núme-
,si ariaçao m erpretações e
f. de " !dados por uma concep- problema tecnol , . m torno do
~to5 ,0 resPª util. og1co e, por isso antes d
vez, 5ª . que leva em conta sua izar na análise , e
s~ª nolog1a
de teC . terpretativa", portanto, as- turalizant d
uma compree -
nsao na-
e a tecnolog· d
{ªº . ·dade lil. gência do processo de se- c t ia, eve-se ter em
.Jl.iibill on a que o fechamento da c .
11~ contlil
,doª . ão A interpretação, por sua tecnologia só foi , aixa preta da
variaÇ . d , ., d d poss1vel em decorrênc1·
,,rá0 e vincula o a mina e e de um p a
l , u!ll proce 550
*
rocesso complexo de solução de
reZ• e , rganizaçoes e grupos que pro~lemas. Isso faz com que se trate a ino-
. içoes, 0 *
iJlsotll . no processo de construçao e vaçao tecnológica como um fe nomeno

ngaJaill . li , . so-
se e , de tecnologia, ou seJa, ana sa- cia1emergente, que não pode ser reduzido
0
agregaça á-la segundo os significados a nenhuma das pªrt es que part1c1param
..
iJJCorpor '
lae ente compartilhados. Isso exclui de seu fechamento, mas deve ser conside-
j]Jterlla!Jl
. ilidade de um s1gm . .fi cad o exten- rado em função de todas elas.
apass1b .
. da tecnologia, ou seJa, que supere a 7. As abordagens contemporâneas dos
sJVO
. emântica que d'a " au tanomia . m-
. estudos sociais em ciência e tecnologia
bafl'erra s
retativa" a esses âmbitos sociais. Isso buscam ultrapassar as discussões essen-
te!P . ,. • d ,.
. cllll. no entanto, a existenc1a e am- cializantes e descontextualizadas dos
naoex ,
bitos internos que se diferenciam quanto à sistemas tecnológicos, com ênfase em
validade da interpretação assumida, o que pressupostos teóricos que direcionam as
corriqueiramente leva a "conflitos inter- pesquisas sobre os processos sociais de
pretativos" no interior dos mesmos. negociação envolvidos na construção,
Esses conflitos são de extrema impor- seleção e consequências sociais das tec-
tância para a estabilização do artefato e do nologias. A produção e a mudança tecno-
processo tecnológico. Eles estarão ligados lógicas são condicionadas por inúmeros
à solução de problemas relacionados à' fatores sociais e sempre exercerão impac-
tecnologia. Mais que isto, estarão ligados to nas formas de interação social e orde-
àseleção de técnicas e métodos de pesqui- namento institucional de organizações
sa; no caso de departamentos de pesquisa científicas, dos sistemas educacionais e
edesenvolvimento, ao montante de inves- produção industrial. Em decorrência dos
timentos·, no ca so d as fir mas, as
, poss1'bili' - permanentes impactos, a sociologia da
dades de danos ambientais·, no caso dos tecnologia atenta-se para um conjunto de
gru
no pos de protesto, à adequação jurídica ferramentas conceituais que permitam a
caso dos e . , . avaliação das tecnologias através de fó-
s· scntonos de patentes· e as-
l!JJ por ctiant ' runs de debate e participação pública nas
'!Ue . e, enquanto existirem grupos
c1rcU1em decisões sociotécnicas.
noto'rn em torno do "problema tec-
~,co" M . As tecnologias estão intercaladas nos
Pela "efi .·• uitas vezes, a solução não é
ciencia" , pelo "legal" pelo "segu- grandes temas políticos, tais como ener-
1o" p
, e1o "l , gia transporte, urbanização, mudanças
der ao d Ucrativo" , mas vai. correspon-
, ' • * Estão aber-
n0 . esn1ve1 d climáticas, saúde e movaçao.
inten e poder entre os grupos s e ·ustamente
tas a diversas interpretaçoe ' 1
*
or de
ssas esferas. Essa maneira
ANTONIO D• CATTANI & LORENA HoLZMANN

. o ' são fontes potenciais de contro-


por lSS . _ . Redes tecno-econónl'
, . As d1·vergências referentes aos
. . s1s- lidad. Redes: Revista de Estud~as e irrever
versias. e. .
1enc1a, v. 8, n. 17, p. 83-126, los Soe
1. 1·ales .
temas ou artefatos tecnológicos explicitam 200 0
_ . Luchas y negociaciones
os valores e interesses subjacentes à estr~- es y qué no es problemático LaPar~ definir
l
a tra d ucc1on.
. , Redes: Revista. de E
soc10
t 10' g1ca
. 1

tura formativa do sistema tecnológico, p01s


les de la Ciencia, v. 12, n. 23 p 8 Udios Soe
em todo mecanismo de fechamento da fle- 103•128 2
' · so
CONSTANT, Edward W. Th.e . l ' O(
xibilidade interpretativa existe um modelo technological practice: communi;a 10cus
e definição de sociedade embutidos. As organization? ln: BIJKER, Wieber• stern '~i
mediações entre os processos produtivos e Thomas; PINCH, Trevor (eds.). op' ·t GiiE
. ' CI ·, 1987
GINGRAS, Yves. Un a1r de radicali
as tecnologias abrangem muito mais que
quelques tendances récentes en socioli~e. S
os atores humanos e as máquinas, mas as science et de la techno1ogie. Actes de lagRie de
ehe en Sc1ences
• . 1es, n. 108, p. 3- l ?, eche_
Soc1a
formas de estruturação do trabalho, das
1995
disposições aos investimentos em inova- HABER~dAS, J~rgen . Técnic~ e . ciência en
quanto 1 eo1og1a. 1n: Ben1amm Ad
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através de abordagens teóricas e meto- construction of facts and artifacts: or how the
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dológicas que maximizam uma teoria da nology might benefit each other. In: BIJKER,
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London, England: MIT Press, 2003.
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cal analysis. ln: BIJKER, Wieber; HUGHES,
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envolvidos em atividades de produção de
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