Você está na página 1de 30

INTRODUÇÃO À PESQUISA CIENTÍFICA E

TECNOLÓGICA

[LA
r N D I C E

Introdução . . . . . . . . . . . . . . • . . . . . . . ·. . • . . · · • · · · · • · • •

I I -Ciência e Tecnologia ............................ . 2

I I I -A Pesquisa Científica .......................... . 6

IV Atitude Científica e Método Científico ...•.••••.

1. O Universo das atitudes (Polis-Cosmos-Caps):


Mito da Neutralidade ................ . ....... ,

2. O espírito científico . • . • . . . • . . . . . . . . . . . , ... T 8


3 . O método c i e n t í f i c o . . • . • . . . . . . . . . • . • . . • . • . . • . Il

3.1 -Problema- Obsticulo- ld~ia ......••.•. 13

3.2 - Raciocínio - Dedução 14

3.3 - Observação - Teste - Experimento ....... 14

3. 4 -Pontos Principais . . . . . . . . . . . • . . • • • . . • • •. l5

V -A Pesquisa Tecnológica .......................... 17

VI - Tipos de Pesquisa 19

1. De laboratório lS

2. De campo ••.••.•••.•.•••..•. . • • . . . . . . • , . . • • • . . • ~O

3 . Por 1 e v a n ta me n to . • . . • . • • • • . • . . . • . . . . . . . . . • • • • 2 1

4. ••·Ex Pos t Fac to•• • •• . • •• . • • • • • • . • . • • • • • • •. • • • • . 23

VIl - Conclusão ••..•....••.•••••••••••••.•.••••••••••• 28

VIII - Bibliografia .................................... ?8


PESQU~SA CIENTJFICA E TECNOLGGICA

I - Introdução

Propõe-se neste trabalho a conceituação de Ciên


cia, Tecr.~olog~a, Pesquisa Científica, Pesquisa Tecnológica,
suas abordagens e interações, bem como uma avaliação sobre
a questão do método, sua abrangência e interações de modo a
permitir uma disciplina metodológica sobre a pesquisa.
-2-

I I - Ciência e Tecnologia;

O que e Ciência?

O que e Tecnologia?

A busca às respostas certamente na- o se complet~

rá, visto que ambas exigem um contexto tão amplo e um espe~

tro de projeção tão abrangente que as tentativas se perde-


-
rao no percurso.
Sem querer dar uma definição direca de . - c . d,
(..lê(! j

procurar-se-á mostrar as funções da ciência. Aqui se encon-


tram duas vistas distintas. O homem prático, geralmente não
cientista, pensa a ciência como uma atividade com propÓsito
de desenvolver coisas, de fazer o progresso. Alguns cienti~

tas, também têm esse ponto de vista. A função da ciência, sob


esse ângulo e fazer descobertas, aprender fatos, avançar os
conhecimentos para desenvolver coisas. Matérias de ciência
que são claramente desse caráter recebem grande e forte su-
porte como, por exemplo, as pesquisas médicas e militares nos
Últimos cinquenta anos.
Uma vista muito diferente da função da ciência
é muito bem expressada por Braithwaite (1) 11 Á junção da c.i..-
~nc.ia ~ e~~abelec.e~ lei6 ge~ai6 c.ob~indo o c.ompo~~amento e~
pZ~ic.o de even~ob ou objetivo~ c.om o qual a cl~ncla em que!
tão e~~~ ~elacionada, capacitando-no~, a6~im, a liga~ OJ
no6.606 conhec.imen.~o-6 do-6 even~o6 conhecido~ .óepa~adame.nte c
a 6azeJt p~evi6Õe6 viâ.vei.6 de even~o.ó ainda de6c.onhecido.6 11 •
O que é Tecnologia? O que a mesma significa pa-
-3-

ra o desenvolvimento? O que é o desenvolvimen~o? Por que os


outros têm tecnologia e nos não? O que nos falta para obter
esta coisa tão preciosa chamada Tecnologia? Por que as nos
sas universidades não nos dão a Tecnologia? Por que gasta-
mos tanto dinheiro com Institutos de Pesquisas, Centros de
Estudos Avançados e mais uma série de departamento,divisões
e secções de Tecnologia e continuamos a gastar um dinheiro
que nao temos, comprando Tecnologia do Exterior? Por que
sustentar, à custa do sangue retirado do povo sob a forma
de impostos, todas essas organizações que não fornecem o
que precisamos? O que tais institutos estão pesquisando?
Quais as final idades de tais pesquisas? Tais perguntas -
sao
feitas diariamente nas conversas entre os vários indivfduos
pertencentes aos mais variados segmentos sa Sociedade, jun-
to com os comentários sobre o aumento do custo de vida, in-
flação, dÍvida externa, modelo econômico e demais assuntos
do dia-a-dia. Procuraremos verificar o que há de verdade em
todos esses ~ementários, quais as reclamações corretas e
quais as originadas pela falta de informações dentro do pr~

prio meio sócial. Verificaremos que, possivelmente, tal fal


ta de informações é a principal responsável pelos problemas.
Isso porque o esclarecimento, em qualquer assunto,provém da
troca de idéias e ampla 1 iberdade de discussões. Na ausên -
cia delas, sobrevém a dúvida, a desconfiança e o descrédito,
uma vez que ninguém acredita naquilo que não conhece e -
nao
sabe o que realmente é.
Iniciaremos nossa discussão verificando alguns
pontos muito importantes, como: O que é um povo desenvolvi-
do? O que é o desenvolvimento? Por que temos cientistas, fa
te inegável, e apesar disso não temos Tecnologia? O que é
realmente Tecnologia? Como a Tecnologia se desenvolve?Qual,
realmente, a vantagem do desenvolvimento tecnológico? Tais
perguntas, quando respondidas, indicarão,irrediatamente, quais
as respostas às perguntas feitas anteriormente, assim como
quais as perguntas que nao têm razão de ser. Em primeiro lu
gar, todos sabem que e por meio da Tecnologia que são fabri
cados os automóveis, geladeiras, máquinas de lavar e/ou se-
car roupa, televisões, rádios, gravadores, telefones, fer-
ros de passar e mais uma série de confortos. (2)
-4-

Henrique Silveira de Almeida, em sua tese de dou-


toramento classifica os fatores de produção: matérias pri-
mas, recursos humanos e capital bem como as técnicas como
Estoques, ou seja, compartimentos estanques que só e n t r a m em
Fluxo mediante a ação da Tecnologia. Assim, tecnologia é o
fluxo que interage entre estoques.
A questão científico-tecnolÓgica, sem sombra de
dúvida, é uma questão polÍtica. O desenvolvimento científi-
co-tecnológico leva inevitavelmente, ao desenvolvimento do

Conhecimento.
Quem detém Conhecimento, detém Poder!
Quem detém Poder, tem de fato, lndependênciê), Res
peitabilidade, Soberania; e,isso é ditado pelas leis do mun
do em que vivemos!
A História nos ensina tantas vezes: - a espada
de Damasco; o uso da pólvora como munição,nas Grandes Desco
bertas; o rifle de repetição, no Oeste Norte-Americano; a
Bomba atômica, na Guerra do Pacífico Sul; ou a aventura nas
Malvinas. Antes de tudo, um embate tecnológico.
Fazendo uma revisão no avanço científico-tecnoló-
gico obtido pelos Estados Unidos ou mesmo pela União Sovié
tica, na corrida espacial, podemos dizer que a chegada do
Homem à Lua foi apenas um símbolo, diante do que se apren
deu ao alcançá-la; perscrutando o que se dará diante do Pr~

jeto Guerra nas Estrelas, o maciço investimento nesse proj~

to trará mudanças tão violentas no Conhecimento Científico-


tecnológico que o r i s c o de um a g u e r r a ex t rem a se to r n a r á em
mero símbolo!
Diante disso, como garantir nossa participação na
política científico-tecnolÓgica?
Paralelamente, muito deve ser feito na direção de
pesquisas em tecnologias apropriadas, desde a alocação de
recursos, a formação de engenheiros e tecnólogos nessa a-
rea, o desenvolvimento de pesquisas. Nesse caso, o retorno
de investimentos, mais do que o lucro imediatista, sera con
tabilizado em Bem-Estar Humano, Equilíbrio Social, Realiza-
ção do Homem, valores que os burocratas não consideram.
Assim sendo, caminhando, de um lado em busca de
tecnologias de ponta, capital intensivo de outro, e, pa-
~5-

rale1amente em busca de tecnologias mão-de-obra intensi-


vas o País deve capacitar-se a produzir tecnologias concor-
renciais, competitivas onde necessárias, adequadas, sempre!
-6-

I I I - A Pesquisa Científica

"A pe~qul~a Qlen~Z6lQa ~ uma lnve~~lgaç~o ~i~~em~


tiQa, Qon~~otada, empl~iQa e Q~Z~lQa da~ p~opo~lçõe~ hipoti
tica~ ~ob~e ~elaçõe~ p~e~umlvel~ en~~e 6enõmeno~ na~u~ai~."
Esta é uma definição abrangente, da qual podem se
destacar dois comentários:
-quando se diz que a pesquisa científica é siste
mática e controlada quer dizer que é uma pesquisa tão orde-
nada que os investigadores podem ter uma confiança crítica
nos resultados obtidos; isso significa que as observações de-
correntes da investigação são rigidamente discipl inadas,se~

do que das diversas alternativas de explicação de um fenôme


no, todas menos uma, são sistematicamente excluídas;

- a investigação científica é empírica, pois se


um investigador acredita em algo verdadeiro, ele deve, de
algum modo, colocar sua convicção em teste. Pontos de vista
subjetivos, devem ser vai idados por real idades objetivas.
O cientista, na busca da verdade nas Ciências,d~

ve sempre submeter suas conclusões ao julgamento, com tal


disciplina e criticismo que transcedam a -
ingenuidade de vas
proposiçÕes. A tudo a nova e inédita verdade deve resistir.
-7-

IV - Atitude Científica e Método Científico

1. O Universo das Atitudes (Pol is-Cosmos-Caos)


Mito da Neutra! idade

-Nossas atitudes nao -


- sao e nunca serao neutras
na sua prática. Nós podemos mantê-las, ao nível da ingenui-
dade, esta ilusão da neutra! idade.

- Polis: é toda a estrutura organizada; é todo o modo de


produção que determina o tipo de organização social e a
razão desta organização social.

-Cosmos: é todo o universo de valores (dos religiosos aos


estéticos), que vão legitimar a polis, que vão dar cosmo-
visão, as leis, as normas éticas, as morais, os princ_.!:.
pios.

Toda pol is tem um cosmos que lhe corresponde. Todo cosmos


nasce de tipo de estruturação da pol is, nasce da intera -
ção dos vários elementos que integrem na produção.

- Caos: quando nossas atitudes contestam a estrutura da po-


lis ou do cosmos, elas são vistas como caos. A situação
caótica pode ser ao nível de cosmos (quando emitimos um
outro parecer moral, religioso, social, etc.), ou de ní-
vel da polis (quando criticamos o tipo de organização so-
cial, p. ex.). Ora toda crítica à polis atinge o cosmos e
vice-versa.

Por isso nossas atitudes nao sao neutras: elas legitimam


-8-

o cosmos e a pol is que o engendra, ou elas contestam o


cosmos e a polis. Por isso elas são políticas, elas tomam
uma decisio, assumem uma posição, enfim, definem-se. Elas
são polÍticas quando definimos as situações e oodemos sa-
ber se estamos a favor ou contra e o que decorre de nos
sas atitudes.

-A ciência: não escapa desta dimensão. Ela é produzida te~

do em vista uma polis e um cosmos (p.ex. o uso da psicol~

gia na propaganda; o uso do químico na guerra, etc.). Não


h á a t i tu de neutra . E 1 a sempre está 1 i g a da a i n te r esses con
eretos que a incentivam.

2. O Espírito Científico

As exigências da Razão, se encontram na Ciência,


pois a ciência é o saber organizado. Tais exigências, por-
tanto, constituem o ••espírito científico 11 • Na verdade, como
acentua Boutroux "o e~pl~i~o cien~l6ico n~o ~ alguma coi~a
que j~ ~ dado, ma~ ele ~e 6o~ma na medida em que a ci~ncia
~ c..~ada e.. p~og~ide". Um filÓsofo contemporâneo falou de um
11
1'l.OVO e~pl~i;to c..ie..n~l{;ico" (Bachelard). Muitas vezes, este
progresso se aplica sobretudo aos conceitos gerais, as "ca-
- .
tegorias 11 que sao a estrutura da Ciência, e enfim ã propr1a
Razão, nao e gratuito que todas as ciências apresentam, no
espírito que anima, na atitude mental que exigem,certas ca-
racterísticas comuns e que, por isso, é possível determinar
os elementos deste 11
espírito científico 11 •

a) Primeiramente o espírito científico implica n~

ma certa curiosidade. Supõe não apenas o desejo de conhecer,


mas ainda a assimilação de todo um conhecimento científico
anterior conquistado: o estudioso não pode pretender refa-
zer toda obra dos predecessores, mas deverá começar por se
informar sobre o estado em que se encontra a questão a ser
estudada. A curiosidade acima referida não e qualquer uma,
mas a curiosidade intelectual, isto é, uma necessidade mais
de compreender do que conhecer, diferenciando-se desta ma-
neira, da puramente sensível. Será necessário não confundir
o es;:;Írito científ;co coíil o espirito de erudição quF s;=. " ...
racteriza pela curiosidade dos detalhes:

che1ard.

b) O espfrito cientffico ~com efeito um esp~ritc

de análise que busca a decomposição dos dados concre:os ~

complexos, em elementos simples e gerais - com o fim de el i


:ninar os detalhes: "0/~ e..ó~O!tços do.ó ,sâb-i..o.:S, escreve H. Foi-
cara, .sc.mp!te. tc. ndc.-~am a ·'té'..h.6aLta,t_ o :)CflÔme.no da.dc di.Ju:-ta.mc~

te pela expe!ti~ncia num gJtande n&me~o de Sen5meno.6 e.tc.men~~


11
.'t C.-6 • N e s te se n t i do o e s p í r i to c i e n t í f i c o se d i s t i n g u e , sem
se opor, do espírito filosófico, que é mais um espfrito de
síntese. Num primeiro nível, visa distinguir, nos seres con
eretos que nos apresentam a observação, o que diferer. mais

ou menos uns dos outros, dos caracteres comuns cuja seme


lhança constitui os t:pos: este e- o momento da classifica
c ão . N u rr~ n í v e 1 ma i s p r o f un do , o que ca r a c t e r t z a as c i ê i·, c ~ a s
"expe:-irr.entais" prop1·iamence d'tas, a análise isola, nos TP

nomenos gerais da natureza, os da ~tica, por e.xernp1o . '


00S
• 7' ••
ele<Tientos conceituais entre os quais o pensamento c:entít~-

co estabelece relações constantes, isto é, leis e- o traba


lho específico da inducão.

c) t um espírito positivo, isto~. um esp;'ri;ode


submissão aos fatos: "O
troux, -e C..ó~encialme.nte.
o 6entido do 5ato, ~eg~a.
con:tJLoie. de. todo cc•nhe.c..éme.nto". Veremos, contudo, o qu:..' o

fato científico, longe de ser um fato bruto, e- em


parte interpretado exigindo para isso toda uma atividaae do
e sp í r i to . C 1 • Be r na r d , v a i ma i s l o n g e d i zen do 11
,~e u.m (J <2. H à riJ ~
no 6e. ap!tebenta numa expe~i~ncia totalme.n~e contJr..adit~~ia

xi~tencia.i..6 dete.Jtminada~, a Jr..azio devia Jr..e.cu~aJL o áato cc-


mo u.m não cie.nt.Z6ico". Isto não significa por outro lado qce
o cientista na- o levará em conta o fato: ao contrârio, e!e

se convence 11
q_ue. exi~tc.
a2 u.m c.JtJto ou ama. Ú1.óu5.ici..~nc.(.a ;w.
ob.6etr..vaç.ãc" e buscará 11 apc.Jt6e-i..ç.oa!t o/~ me..io.6 de. i..nvc.st.i.gaçiie: 1!
Portanto,nas ciências experimentais,~ o fato que decide e de
-10-

termina, ou como diz Cl. Bernard, é o fato que "ju.l9a a --L-

d"é.A_a".

d) O Espírito cientÍfico implica ainda o cuidado


da precisão e das idéias claras. Repugna-lhe o 11
mais ou me-
nos'' ou as idéias equívocas, mal definidas onde se misturam
o bom senso e o pensamento 1 iter~rio. Esta precisão se tra-
duz especialmente pela medida: "<Se pode.--é-6 medA_!t c da!t u.m
rlOmc. aqu.A_io que. ~atai~, escreve o fÍsico inglês Lord Kelvin
(1824-1907), habeJteih alguma ~oi<Sa a Jte<Spei~o de vohho bu-
;eito; do ~on~Jt~Jtio vo~<So<S ~onhe~imen~oh <Se.Jt~o pob!teh e po~
c.o :,a~;_h6a~Ô!tioh".Bache1ard também diz: "A<S dA._6eJtevz.~e~ épo-
ca~, de. uma c.iênc.A_a podem <Se.Jt de~e.Jtminada~ pela ~ec.nic.a de.
s cu.,:, Úlh-t.Jtu.me.n.:to~ de. medida".

e) Um dos mais importantes elementos do espírito


é o espírito crítico que é diferente do espírito de crítica.
O espírito crítico é atitude do espírito que tomou consciên
cia das condições de cada afirmação legítima e a partir daí
tomar cuidado contra aquilo que Descartes chama de 11
precipi_
tação'' contra esta credulidade natural que precede em nos a
crença reflexiva. O espírito crítico se manifesta pela dÚvi
da científica, - pela suspensão provisória do julga -
isto e,
mente, que nao se confunde com a dÚvida cética, pois esta
não acredita na verdade. Claude Bernard afirma que aquele
que duvida é o verdadeiro s~bio, pois, ele duvida de si mes
mo e de suas interpretações e acredita na ciência. O espíri
to crítico não é puramente negativo, mas ao contrário, é um
princípio de investigação e implica o amor à verdade. "Foi
poJt du.vidaJt de uma hipÔ~e.<Se de Coo!tke.b que Roen~gen de<Sco
bJtiu. Ob Jtaio~ X; noi ~ambem po!t duvida!t dab hipÔ~ebeb de
Gay-Lu.bbac e de Liebig e du.vidaJt de <Su.ab pJtÔpJtia<S hipÔ~e<Se~
que Pa<S~eu!t chega ã ~eoJtia do<S t}eJtmen.:to<S" (P. Lapie). En-
fim o espírito crítico se reporta à necessidade de prova: a
ciência, como diz G.Bachelard, é a união dos trabalhadores
e da prova.

f) O espírito científico é um espírito de relati-


vidade. Enquanto a metafísica ontológica pretende chegar a
verdade absoluta, a ciência procede por aproximações suces-
-1 i-

sivas. As ciências modernas são essencialmente um conheci


mento aproximado (Bachelard). Por outro lado a Ciência evo-
lui: ela repousa sobre a noção do perpétuo-vir-a-ser dos s~

res e das coisas e do conhecimento a que o homem pode al-


cançar. O cientista "covr-6-éde,'!a toda e.x.p.t-écaç.ão come Jt.e..tat-é-
va e o n~meJt.o de 6evr5mevro-6 conhec-édo-6 em .õeu e-6tado pode
~efl pa-6~age-éJt.o onde queJt. que -6e encon~Jt.e atualmente. E-6ta
Jt.elat-év-édade não começa pa~ ~eu valo~ e nem coloca ob.õt~cu­
lo-6 a e.õte ac~mulo de covrhec-émento~ que ~ o p!t.;_me-éJt.o aJt.t-égo
de seu mé~odo" (Boutroux). O que se chama de cientifismo é
ao contrário da atitude, oposta ao verdadeiro espírito cie~

tífico que consiste em transformar as verdades científicas


em verdades absolutas e definitivas tornando-as dogmas imu-
táveis. f em síntese, uma contaminação da ciência pelo es-
pÍrito dogmático. t preciso dizer que isto acontece mais na
Filosofia do que na ciência autêntica.

g) Finalmente o espírito científico implica~ li-


berdade de análise: a ciência proclama soberana em seu domí
nio não admitindo nem a intromissão de autoridades estran -
geiras, qualquer que seja, religiosa ou política, sem limi-
tação de seu próprio campo de investigação. Elà acredita no
seu dever de expansão i 1 imitado e no seu valor indefinida -
mente crescente (Boutroux}. t claro, que o espírito de 1 i-
berdade de investigação não deve ser confundido com busca
de origina I idade e todo preço como acontece no domínio li te
rário, onde o pensamento parece às vezes, mais original ,co~

tudo é mais paradoxal e falho. Em ciências, pelo contrário,


11
é possível desenvolver este ÚJ..õ:tivr~o de obje~;_~·-édade ~o­

cia.t" que existe em trabalho de equipe, que faz do ensinado


o ensinamento reciprocamente, e que se desconhece por desen
volver de preferência o instinto de originalidade sem tomar
cuidado de caráter falso da original idade aprendida nas
disciplinas 1 iterárias (Bachelard). (3)

3. O Método Científico

O método científico consiste basicamente de um mo


- 1 2-

do de resolver problemas seguindo uma forma de atuaçao que


essencialmente se apeia em observar, classificar, demonst~r

e interpretar fenômenos, de maneira que possibilitem a pre-


dição e a explicação de questões significativas.
Como disse Pearson (4): "o método c..ie.ntZ].{c..o eu.-
n~c..c em toda~ a~ a4ea~ . .. A unidade da c..~~nc~a ccn-
e me.~mo
6~6te em 6eu método, n~o apcnah em 6eu mate4ial. A pe~~oa
que cla66i6ic..a 6ato6 de. qualque4 tipo, que ob6e4ua ~ua~ ~c­
laç5el m~tua6 e de6c4eve como 6e 6ucedem e6t~ aplicando o
método cient16ico e é um homem de ci~ncia ... N~o 6~c 06 Sa-
to6 em 6i que con6tituem a ci~ncia 6en~o o método corno 6C
o.l t4ata".
Assim pode se afirmar que uma ciência e uma ciên-
cia, não por seu objeto mas por seu método. Roy Francis as-
sinalou novas características da ciência pelo que diz res-
peito a seu método, por exemplo, que a ciência é empírica,
proposicional, lógica, operacional, pública, resolutora de
problemas, abstrata, sistemática e dinâmica. Dessas caracte
rísticas podem-se destacar algumas que merecem atençao esp~

c i a 1:
Em primeiro lugar, sua característica dinâmica e
proposicional que dão a ciência um caráter de provisíonall-
dade. Efetivamente, qualquer proposição pode ser revisada,
modificada e descartada em um momento posterior de tempo se
existir suficiente evidência que o justifique. Realmente,p~

de-se afirmar que nunca teremos segurança absoluta sobre um


conhecimento científico; os conhecimentos são sempre provi-
sórios e aceitáveis sempre que não hajam evidências em con-
trário.
Cabe aqui ressaltar que a dúvida metódica carte-
siana seja uma das guias do pensamento científico. Não de-
ve se confundir, a dúvida metódica com o ceticismo míope,que
pode negar a possibilidade de se descobrir na Natureza rela
ções de causal idade.
Outro caráter da ciência que deve ser destacado é
seu caráter lógico. Basicamente os princípios lógicos da in
vestigação social se referem a um modo de raciocinar que
consiste em partir de certas premissas para se chegar a cer
tas conclusões. Tais premissas consistirão em certos concei
- J 3-

tos e definições, certos conceitos operativos e certas ob-


servações empíricas, a partir das quais se poderão deduzir
certas conclusões. O raciocínio lógico é assim, eminenteme~

te dedutivo e, por conseguinte, a ciência é sobretudo, dedu


1: i va.
Mas, digamos uma vez mais, o raciocínio lÓgico e
apenas uma forma de atingir um argumento, para chegar a con
clusões e, por conseguinte, não determina as premissas das
quais deve partir. Por outro lado, a aceitação do método d~

dutivo de raciocínio não quer dizer que o método indutivode


va ser descartado. Em sociologia, por exemplo, ou em qual-
quer ciência em que se encontrem os princípios iniciais de
seu desenvolvimento, a indução tem um papel mais importante
que a dedução.
A dedução é um tipo de raciocínio mediante o qual
passamos do universal para o particular, ainda que a indu -
ção e a dedução não sejam fins antitéticos no reino da lógi
c a pu r a mente f o r mal .
Outros aspectos da ciência deverão abordar os pr~

blemas da conceituação, das proposições (teorias, hipóteses


e leis), os problemas de classificação e de medição e os
problemas da observação e da experimentação.
Dewey (1), em sua análise do pensamento refletivo
e indagação, nos apresenta uma abordagem geral da questão da
indagação.

3.1- Problema!- Obstáculo- Idéia: O cientistade


modo geral, se defrontará com um problema a compreender.
Uma vaga inquietação sobre um fenômeno observado
ou nao observado; uma ansiosidade sobre o porque de algu-
ma coisa. Uma primeira providência é consubstanciar a idéia,
expressar o problema de forma razoavelmente clara, estabele
cer a síntese de sua preocupaçao.
Parte importante, cuja transposição dela depende
indissociavelmente. Sem a configuração do problema, torna-
se impossível ao cientista, seguir em seu processo de inves
tigação.
- i 4-

3.2 - Raciocínio - Dedução

O cientista aplicará os métodos da Razão pa:a in-


ves~igar as hipóteses que formulou. Dedução e indução; a lÕ
gica com metodologia.
Neste ponto a experiência, o conhecimento, a per~

picácia e a sensibilidade de quem investiga sao importantes.


Com frequência, pode ocorrer que o cientista ao deduzir as
consequências de uma hipótese que formulou, chegará a um
oroblema bem diferente daquele com o qual começou. Por ou-
tro lado, poderá achar que suas deduções o levam a crer que
o problema não pode ser resolvido com as atuais ferramentas
técnicas. Assim, antes da moderna estatística ter sido de-
senvolvida, era muito difícil, se não impossível, testar
duas ou três hipóteses independentes ao mesmo tempo; era
quase impossível testar o efeito interativo de variáveis.
O raciocínio pode ajudar a chegar a um mais largo,
mais básico e assim significativo problema, bem como prever
implicações operacionais do problema original.

3.3 - Observação - Teste - Experimento

Uma vez estabelecido o problema, consubstanciado


na síntese, estabelecidas as hipóteses adequadamente e for-
muladas suas implicações e interações por raciocínio lÓgico
através de deduções ou induções, esse passo e compulsório.
A essência de testar uma hipótese e testar a reJa
ção expressa pela mesma. Não se testa as variáveis, como
tais; testa-se a relação entre as mesmas. Toda observação,
todo teste, todo experimento tem um grande propósito: subme
ter a um teste empírico.
Os passos de uma abordagem científica não são con
cisamente fixados. O primeiro não precisa ser caprichosame~

te completado antes que o segundo comece. Ademais, pode-se


testar antes de deduzir totalmente as implicações das hipó-
teses. Essas mesmas podem parecer precisar de mais elabora-
ção e refinamento como resultado das implicações deduzidas
a partir delas.
Em resumo, a abordagem científica pode acontecer
da seguinte maneira: primeiramente existe uma dúvida, uma
-i 5-

barreira, uma situação indeterminada necessitando esclareci


mento. O cientista experimenta dúvidas, desenvolve idéias in-
cipientes. Luta para formular o problema, mesmo inadequada-
mente. Estuda a literatura, perscruta a sua própria experi-
ência e as dos outros. Muitas vezes tem que esperar um lan-
ce inventiva de sua mente. Talvez isso ocorra, -
talvez nao
o problema formulado, o resto é muito mais fácil. En-
~ao as hipóteses são construídas e depois suas implicaçoes
deduzidas. Nesse processo o problema original, e, certamen-
te, as hipÓteses originais podem ser mudadas. Pode ser aber
to ou estreitado; pode até ser abandonado. Por Último, mas
não finalmente, a relação expressa pela hipótese é testada
pela observação e experimentação. Baseado nas evidências da
pesquisa, as hipóteses são aceitas ou refeitas. Essas ir.for
mações sao, então, levadas de volta ao problema original e
o mesmo roderá ser mantido ou alterado como ditado pelas e
vidências.
A pesquisa é raramente um processo ordenado. Mui-
tas vezes muito mais desordenado do que o exposto pode dar
a parecer. A ordem ou a desordem, entretanto, não é de pri-
mária importância. O que é muito mais importante é o contr~

le racional da pesquisa cientffica como um processo de n-


vestigação refletiva, a natureza interdependente das partes
do processo e a importância preponderante do problema e sua
exposição.

3.4 - Pontos Principais


Pode-se inferir que os pontos principais de u~a

pesquisa frente a um problema-síntese, compreendem:

3. 4. 1 -Levantamento bibliográfico
3. 4. 2 - Seleção do material bibliográfico
3.4.3- Leitura geral da bibliografia (visão glo-
bal e modificações no plano)
3.4.4- Leitura da bibliografia por partes (plano
do assunto)
3.4.5 -Apontamentos
3.4.6 - Sistematização dos apontamentos
3.4.7 - Coleta de dados em campo e tabulação
- l 6-

3.4.8 - Crítica, análise, interpretação e conclu-


-
soes.
3.4.9 Redação da pesquisa
3.4. 1o Pub1 i cação - comunicação do trabalho

~ . - .
As dez atividades acima sao o m1n1mo necessar1o e
xigido para que o pesquisador possa chegar a alguns resulta
dos de cunho científico em sua pesquisa. Após ter escolhido
um determinado problema para pesquisa, formulado seus pro-
blemas básicos e significativos, feito seu plano do assunto,
o estudioso deverá começar desenvolvendo atividade por ati-
vidade e vencendo todas as etapas com método e racional ida-
de. Cada uma das atividades merecerá uma atenção especial p~
lo fato de exigirem técnicas diferentes e níveis de capaci-
tação diversificados na sua execuçao, podendo existir avan-
ços e retrocessos, numa interação dinâmica até sistematica-
mente atingir os objetivos perseguidos.
-17-

V - A Pesquisa Tecno16gica

Caracteriza-se Tecnologia a toda forma de conhecl


mento, científico ou não, capaz de ser sistematicamente di-
fundido.
Conhecimento apoiado no "saber fazer 11 mais do que
no "porque se faz".
t a Ciência que permite que a Tecnologia se desen
volva, uma vez que forma a base de todo e qualquer processo.
De um modo geral, bem poucos pensam no assunto, mas em qua~

quer atividade existem duas situações bem diversas. A pri-


meira é "saber como se faz". Esta parte não constitui segr~

do. Existem 1 ivros, publicações e revistas dos mais varia -


dos tipos, nas quais se ensinam como se faz praticamente qual-
quer coisa. Obviamente, o leitor deverá ter o preparo míni-
mo necessário para entender o que está lendo. Com isso, ele
ficará sabendocomo se faz desde grampos de cabelo a bombas
atômicas e satélites artificiais. A segunda situação consis
t e em •• s a b e r f a z e r 11 , a 1 g o d i f e r e n te do •• s a b e r c o mo s e f a z •' .
t preciso considerar que os conhecimentos realmente impor -
tantes se aprendem, mas não se ensinam. Tal paradoxo é aqul
lo que normalmente é denominado de experiência, que nao e
transmissível e muito menos hereditária. Então, a associa ~

çao das duas situações, o saber como se faz com o saber fa-
zer é que permite o desenvolvimento da Tecnologia. O proces
so, tão comum, de supor que um indivíduo despreparado e i-
nexperiente aprenda a fazer por meio da experiência,pela ob
- 1 8-

- de ''como os mais desenvolvidos fazem praticamente'.'


servaçao
para,com isso, reproduzir o mesmo em nosso meio é exequível
somente na cabeça de tecnocratas. Caso o observador possua
os conhecimentos fundamentais e a vivência com o problema.~

~a observação de poucas horas valerá mais que um estágio de


vários meses de um recém-formado. Há estreita relação, como
não poderia deixar de ser, um relacionamento Íntimo entre
o desenvolvimento científico e o desenvolvimento tecnolÓgi-
co. No passado, a Alemanha ganhava a maioria dos prêmios No
bel associados à Ciência, e era, na época, a detentora do
maior desenvolvimento tecnolÓgico. Hoje, o maior desenvolvi
menta tecnolÓgico pertence aos Estados Unidos, que, concomi
tantemente, é o maior detentor de prêmios Nobel, em Ciência
dos Últimos tempos. ~sabido que a Ciência permitiu que a
tecnologia se desenvolvesse, ou permitiu o aparecimento de
várias tecnologias, incluindo muitas que nao se desenvolve-
ram, apesar de se terem tornado possível graças aos conheci
mentos científicos desenvolvidos. Estas Últimas não aprese~

taram resultados, digamos, práticos, por motivos vários.Té~

nica alguma, produto ou artigo é passível de desenvolvimen-


to, se não houver um interesse ou mercado. Com isso, exis
tem inúmeras tecnologias, cientificamente possíveis,mas que
não são usadas ou não foram suficientemente desenvolvidas por
problemas vários, como custo, inviabilidade prática, compl~

xidade ou mesmo pela falta de desenvolvimento social par a


absorvê-las.
O desenvolvimento tecnológico e imediatista e se
apoia no tripé: Desenvolvimento - Marketing - Produção.
Busca, portanto, resultados práticos sem apresen-
tar necessariamente um embasamento científico.
-19-

VI - Tipos de Pesquisa

1- De laboratório
2- De campo
3- Por levantamento
4- 11
Ex Post Facto 11

Vejamos:

- Pesquisa de Laboratório

. 1 - O ex p e r i me n to de 1 a b o r a tório é um p r o cesso
de investigação onde se fixam determinadas variáveis de in-
fluência e ensaia-se outra isoladamente procurando avaliar
sua influência no processo e sua correlação com outra ou ou
tras variáveis. Neste experimento, a variância de todas ou
quase todas possíveis variáveis independentes, influentes,
- pertinentes ao problema imediato da investigação se
nao ma~
tem em um mínimo, sob controle. Isso se dá isolando a pes-
quisa em uma situação física específica, a parte da vida or
dinária e através da manipulação de uma ou mais variáveis in
dependentes, sob condições rigorosamente especificadas, op~

racionalizadas e controladas.

1.2 Considerações: Tal procedimento permit~ o


relativo controle completo. O pesquisador de laboratório p~

de, e este é um procedimento normal, isolar a situação em


quisa da vida em torno do laboratório pela eliminação de
muitas influências estranhas que podem afetar a vari~vel de
-2 Q.-

pendente.
Além disso, ao controle da situação, experimenta-
dores de laboratório geralmente podem usar a designação de
tarefas ao acaso e podem manipular uma ou mais variáveis de
pendentes. Existe outro aspecto de controle em laboratório:
o experimentador pode, na maioria dos casos, alcançar um a~

to grau de especificidade nas definiçÕes operacionaisde suas


variáveis.
Outra e a precisão e a possibilidade de repetir com
exatidão os experimentos de laboratório.
O maior ponto fraco dos experimentos de laborató-
rio é, provavelmente, a insuficiência de resistência das va
riáveis independentes. Uma vez que condições de laboratório
sao situações criadas para certos propósitos. Pode-se dizer
que os efeitos de manipulações experimentais são geralmente
fracos. Em outras palavras, a situação de pesquisa é artifi
c i a 1.
Experimentos de laboratórios tem três propósitos:
Primeiro, se prestam para descobrir relações entre condi
11
ções puras 11 e incontaminadas. O experimentador pergunta: X
é relacionado com Y? O quanto é forte a relação? Ele proc~

ra elaborar uma relação descoberta em uma forma funcional


Gostaria de escrever uma equação da forma Y = f(x), fazer
previsões com base na função, e realizar, além disso, expe-
rimentos de laboratórios, e talvez, até testes de campo pa-
ra verificar se valores empíricos de variável independente
Y estão de acordo ou não com os valores esperados.
O segundo propósito poderia ser mencionado junta-
mente com o primeiro: o teste de previsões derivadas da teo
r i a.
Uma terceira finalidade é refinar teorias ou hip§_
teses; formular hipóteses relacionadas com outras testadas
experimentalmente ou não experimentalmente.

2 - Pesquisa de Campo

2.1 - Ao contrário da anterior, onde situações


simuladas e ou modeladas, simplificam a realidade pesquisa-
da, pesquisa de campo atua em uma situação real, na qual u-
-2 1 -

ma ou mais variáveis independentes são manipuladas pelo ex-


perimentador sob condições tão cuidadosamente controladas quan
to possÍvel.

2.2 Considerações: As variáveis em um experi-


mento de campo são, 9eralmente, mais fortes do que aquelas
de um experimento de laboratório. O princípio é: quanto mais
real a situação de pesquisa, mais fortes as variáveis.
Outra virtude dos experimentos de campo é ser a-
propriado para estudar influências sociais complexas, pro -
cesses e mudanças em cenários reais. As dinâmicas e inter -
venção de grupos pequenos podem ser estudadas com bons re-
sultados através desse método.
Flexibilidade e aplicabilidade a uma larga varie-
dade de problemas são importantes características dos expe-
rimentos de campo.
A principal fraqueza é de ordem prática. A manip~

lação de variáveis independentes e a ocasionalização -


sao,
talvez, os dois mais importantes problemas.
Os experimentos de campo têm valores que os reco-
mendam especialmente aos psicólogos, sociólogos e educado -
res, porque, são admiravelmente apropriados para o estudo de
muitos problemas educacionais de interesse.
São muito bem recomendados para testar teorias e
para solução de problemas práticos.
-
Outra característica é que sao recomendados para
testar hipóteses generalizantes.

3 - Pesquisa por Levantamento


3.1 -A pesquisa por levantamento estuda g ra-2
des e pequenos universos através da seleção e estudo de a-
mostras escolhidas da população para descobrir a relativa in
cidência, distribuição e interrelação de variáveis socioló-
gicas e psicológicas.
A pesquisa por levantamento é considerada uma ma-
téria de pesquisa científica social, o que imediatamente a
distingue da pesquisa por levantamento de estado que visa a
-22-

pena s 1 e v a n ta r o 11
s tatu s quo 11 sem e s tu da r a r e 1 ação entre as
variáveis.
Os procedimentos e métodos de pesquisa por levan-
tamento foram, em sua maioria, desenvolvidos por psicólogos,
antropólogos, economistas, cientistas polÍticos e estatTstl
cos. Esses profissionais imprimiram um rigor científico e
influenciaram profundamente as ciências sociais.
A definição está ligada ao universo e a amostra.O
pesquisador está interessado na obtenção acurada das carac-
terísticas do universo como um todo. Ele deseja saber, por
exemplo, quantas pessoas de um país votarão em um candidato
a Presidente e a relação entre os eleitores masculinos e fe
mininos e outras variáveis como raça, religião, etc. Enfim
a pesquisa visa levantar alguma característica do universo.
Somente raramente, entretanto, os pesquisadores e2_
tudam a população; eles estudam amostras tiradas da popula-
ção. Amostragens ao acaso podem muitas vezes fornecer as
mesmas informações que um censo a um custo muito menor, com
grande eficiência e muitas vezes com grande acuracidade.
Embora a abordagem e as técnicas de pesquisa de
levantamento possam ser usadas em qualquer conjunto de obj~

tivos que possa ser bem definido, esse tipo de pesquisa se


aplica muito bem sobre o povo, fatos vitais para o povo, as
suas crenças e opiniões, motivações e comportamento.
Apeia-se em técnicas estatísticas de amostragem.
Os t i p os de 1 e v anta me n to podem se r r e a 1 i z a dos p o r :

- entrevista pessoal,
- pela técnica do painel
-questionário pelo correio (mala direta),
telefone.

Desses todos, cada um realizado com característi-


cas próprias e apresentando vantagens e limitações, destaca
se de modo Ímpar, a entrevista pessoal pelas interações que
promove no ato da interlocução.
Destacaremos dessa alternativa alguns pontos pri~

c i pais:
A pesquisa de levantamento contribui muito para a
metodologia das ciências sociais. Suas importantes contri-
-23-

buições são o procedimento rigoroso de amostragem, seu pro-


jeto global e sua implementação, suas definições e especif~
cações sem amb i gu idades e a aná 1 i se dos dados.
Os pesquisadores usam uma planilha ou carta para
delinear o projeto e a subsequente implementação do levanta
mento. A planilha começa com os objetivos da pesquisa, 1 is-
ta cada passo a ser dado e, finalmente, o relatório final.
Portanto, nessa fase os problemas geral e específico que de
vem ser resolvidos, são cuidadosamente estabelecidos.
Um dos trabalhos mais importantes do investigador
é especificar e esclarecer o problema. As questÕes específ~

cas relacionadas com várias tarefas do problema devem, tam-


bém, ser colocadas no plano de entrevista.
O próximo passo na planilha é elaborar o plano de
amostragem. O universo a ser mostrado deve ser definido e u
ma decisão deve ser tomada para se ter o critério de como
titar a amostra e quantas serão tomadas. Amostras ao acaso
é o critério utilizado nas melhores pesquisas de levantame2
to. Por causa da dificuldade de execução, amostras ao aca-
so sao, muitas vezes, trocadas pela amostra quota. Neste ti
po, a representatividade é presumivelmente alcançada assu -
mindo quotas a serem entrevistadas. Amostras quotas devem
ser evitadas em pesquisas de levantamento comportamental ,po.!::_
que, embora possam alcançar representatividade, faltam as
virtudes da amostra ao acaso.
O próximo grande passo em um levantamento é a ela
boração do plano de entrevista e as escolhas dos instrumen-
tos de medidas a serem usados. A principal tarefa é tradu -
zir a questão em pesquisa em um instrumento de entrevista e
em qualquer outro instrumento construído para o levantamen
to. Após traçar o plano da entrevista e completados os ou-
tros instrumentos, eles devem ser pré-testados em uma amos
tragem representativa do universo. São, então, revisados e
postos na forma final.
Os passos descritos constituem a primeira parte de
qualquer levantamento. A coleta de dados e a segunda grande
parte. Entrevistadores são orientados, treinados e enviados
com instruções completas a quem entrevistar e como as entre
vistas têm que ser levadas a cabo. Nos melhores levantamen-
-24-

tos os entrevistadores não têm permissão para decidira quem


entrevistar. O trabalho dos entrevistadores é, também, sis-
tematicamente conferido de alguma maneira. Por exemplo, a
cada dez entrevistas pode haver uma verificação enviando ou
tro entrevistador aos mesmos entrevistados.
A terceira grande parte é analítica. As respostas
-
sao codificadas e tabeladas.
Os dados são, a seguir, analisados e interpreta-
dos. Finalmente, os resultados desse processo interpretati-
vo são relatados.

3.2 Consideraç~es: A pesquisa por levantame~


to tem um largo escopo: grande quantidade de informaç~es p~

dem ser obtidas de uma grande população. Um universo pode


ser estudado com muito menos despesas do que um censo gast~

ria. Embora levantamentos tendam a ser mais caros do que ex


perimentos de campo e de laboratório e estudos de campo, p~

ra a quantidade e qual idade de informaç~es que propiciam tor-


nam-se econômicos.
A pesquisa de campo é bastante acurada. Uma amos-
tra de 600 a 700 indivíduos ou famílias pode dar um retrato
marcadamente preciso de uma comunidade - seus valores, ati-
tudes e crenças.
Ao lado dessas vantagens também existem desvanta-
gens. Primeiro, geralmente a pesquisa de levantamento na- o
penetra muito a fundo, abaixo da superfície. Outros tipos de
pesquisas são, talvez, mais apropriadas para exploração pr~

funda de relaç~es.

Segundo ponto fraco é de ordem prática. Grandes


pesquisas podem levar meses antes de testar uma simples hi-
pótese.
Pesquisas de levantamento necessitam, também, de
uma boa dose de conhecimentos de pesquisa e sofisticação.

4 - Pesquisa ''Ex Post Facto"

4.1- Pesquisa ''Ex Post Facto" é uma investiga-


ção empírica sistemática, na qual o cientista não tem con -
trole direto sobre as variáveis independentes porque suas
-25-

- inerentemente
man i festações já ocorreram ou porque sao
man i puláveis. S~o feitas inferincias s6bre as relações en-
tre as variáveis , sem i ntervenç~ o d i reta , através da varia-
ç ão c oncomitante das variáveis independentes e dependentes.
O perigo da adoção de s se t i po de pesquisa é que
s e pode e muitas vezes acontece , chegar a i nterpreta ç ões er
r oneas e enganosas dos dados da pesquisa, sendo o efe i to pa_r:.
ticularmente sério quando o cientista tem pouco ou nenhum
con t role sobre o tempo e das variáve i s independentes. Quan-
do está procurando expl i car um fenômeno que já a conteceu , o
i nvestigador está de frente com o fato desagradável que não
tem cont r ole das possíveis causas. Assim deve seguir u m c ur
so de ação de pesquisa d i ferente em execução e i nterpreta
ç ão do que o cientista que experimenta.
Como exemplo, assuma que um investigador este j a in
t eressado na relação entre sexo e criatividade em crianças.
Ele mede a criativ i dade de uma amostra de meninos e meninas
e testa a i mportância da diferença entre as médias de a m-
bos os sexos. A média dos men i nos é significativamente ma ior
do que a das meninas. Então conclui que os meninos são ma is
c r i ativos do que as meninas.lsso pode ser ou não uma conc l u
s~o vá l ida. A relação existe, mas apenas com essa evidênc i a
a conc l us~o é duvidosa. A quest~o é: a relaç~o demonstrada
e apenas entre se x o e criatividade?
Cons ~ derando que muitas outras variáveis estão re
! acionados com o sexo, poder i a ter sido uma outra dessas va
r iáveis que produziu a diferença entre os Índices de criat i
vidade dos dois sexos.

4.2 - Considerações: Os estudos de campo -


sao
investigações científicas ''Ex Post Facto" dirigidas à desco
berta de relações entre variáveis sociol6gicas, psicol6gi
cas e educacionais em estruturas rea i s.
São considerados estudos de campo qualquer estudo
científico, grande ou pequeno, que siste maticamente busca re
l a c i o na r e testa r h i p 6 teses que se dão em s i t u a ç Ões r e a i s co
mo comunidades, escolas, fábricas, etc.
Em um estudo de campo o investigador primeira men-
te procura uma situação social ou inst i tuciona l e então es-
-26-

tuda as relações entre atitudes, valores,percepções e com -


portamento de indivíduos e grupos na situação em foco. Ge-
-
ralmente na o se manipulam variáveis.
Os estudos de campo são fortem em realismo; têm
variáveis fortes, orientação e qual idade heurística.
- seu caracter
Alguns pontos fracos sao 11
Ex Post Fac
to", a falta de precisão na medida das variáveis e proble-
mas práticos, tais como viabilidade, custos, amostragem e
tempo.
Pfc SOUISA BASICA
Trabalho fl!ÓitCrJ ou cx~onmontal ornpreendtClo com o obJtttlvo de
üdqulflf c,.nhoJctmentú novo ~obre os fundamentos SllbJaCentes aos
fonôrnenos r1 fntos ooservi'lvets. 5em fttHlhdado de apltCJÇêo d~termi­
nada OlJ ospeciftca ou propósito prátiCO uned•Bto
PESQUISA CIENT1FICA

PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL


Atividade sistemática e criativa visando o aumento do esto- PESQUISA APLICADA
que do conhecimento a respeito da natureza 9 da cultura e Estudo enrpreendido no StHltldO de ad(luirir um conhecimento no\r'O,
nlaS dtngrdo por um ohjottvo prático ou da opllcaçfto.
o uso desse conhecimento para conceber novas aplicações.

DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL

lnvesttgeçao sistemátiCO baseada no conhecimento existente. estabe-


htc•do pela pesquisa ou pela experíênc•a práltCO. objOt!Yando a pro·
duçao da novos motenais, produtos e eqwpamentos, e determinação
de novos processos, sistemas e sarviços, o oporfetçoamento de pro-
cessos, sistemas e serviços ex•stentes

ATIVIDADE CIETIFICA E TECNOLÓGICA


e
Atividade cientffica tecnológica é toda a ativida-
de sistemática relacionada à geraçao. fomento, dis-
ENSINO E TREINAMENTO A NI\IEL SUPERIOR
seminaçao e aplicaçao do conhecimento cientffico
Atividades relacionadas ao ensino e treinamento de terceiro
nos domfnios das Ciências Exatas e· Naturais, nas ciclo, a nfvel de graduaçno 9 pós-greduaçao. realizadas em
Ciências Agropecuárias. nas Ciências da Engenha- universidades. estabelecimentos de. ensino superior fadara-
ria, nas Ciências da Saúde e nas Ciências Sociais e dos ou isolados. ti em como cursos de pós-graduação vincula-
Humanas. dos a instituições nao-integradas ao sistema de ensino supe-
rior.

Oocurnentaçao. lnformaçAo
Musnus. Jardtn!J o Rosorvas
Traduçao. Edtloraçào do L1vros o Per•ód•cos Tácruco·Ctentlffcos
SERVIÇOS Ti!CNICO-CIENTIFICOS l ovdnlilmunto. Prospocçfto. Mon•toramento (solo. fl~ua, atmosfera)
Atividadus rolac1onadas ll Po&quisa C10ntlf1ca e ao Dusunvol- Lovsntarnonto Sóc•o·úConónllco
Tas to, Padrontzaçao. r.J'fttrolou•a. Controla de Oueltdadu
I
vimento Exporimental que contnbuom para a produçao. [\)
Extensao '-.]
distribuiçno e aplicaçao do conhocimonto cientifiCO o toe·
Consullur•a I
no lógico. Patentcts o LtCtHl.;Bs
Poliltcu/romonto om Ctêncta o Tucnologia
-28-

VIl -Conclusão

Compreende este trabalho um levantamento sobre con-


figuração de pesquisa cientÍfica e tecnológica envolvendo as
pectos conceituais, sua delimitação, sua abrangência e met~
dologia, de modo a facilitar uma disciplina de trabalho no
desenvolvimento de pesquisas e de modo a permitir uma ava-
liação sobre a bibliografia e o conhecimento disponível no
assunto, fato que em muito veio acrescentar e facilitar meu
entendimento sobre o tema.

BIBLIOGRAFIA

(1) KEVLINGER, Fred N. - Foundations of Behavioral Research.

(2) NEPOMUCENO, L.X. - Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento

11
0 Estado de S.Paulo 11 - 12/5/83- p. 35

(3) CUVILLIER, A. Noveau de Philosophie- La connaissance,

Tome 1'?, 3a. ed., Armand Colin, 1966, p. 387-390.

( 4) NICOLAS, J.D.- Sociologia entre el funcionalismo y la

dialectica. Biblioteca Universitaria de Sociologia,

Guadian de Publicaciones S/A . Madrid, 1969, p. 242-

244.
(5) HEGENBERG, L. - Etapas da Investigação Científica - vol.

1 e 2.

Você também pode gostar