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DEFINIÇÃO

Conceituar a Engenharia e a sua influência na construção e desenvolvimento da


civilização ocidental, analisar seus impactos na organização de países e impérios,
formular seu possível papel como agente estratégico de desenvolvimento de um país.

PROPÓSITO

Identificar a essência da profissão, através da sua importância histórica e futura, como


elemento motivador, para que o aluno tenha, ao longo do curso e da carreira, uma postura
ativa diante das oportunidades de construção das habilidades e competências inerentes
ao exercício pleno da Engenharia.

OBJETIVOS

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CONSTRUÇÃO DE UM CONCEITO PARA A ENGENHARIA

A etimologia* nos fornece bases para compreender a adoção e manutenção da palavra


engenharia para denominar a profissão ao longo de tantos anos.

*Etimologia: Estudo da origem das palavras.

A palavra latina ingenium, associada a significados como talento e inteligência,


características inatas, originou a palavra engenhosidade. Dessa forma, entende-se
que a Engenharia seja uma profissão que carrega em si um forte viés de criação
direcionada para a inovação (engenhosidade).

Ao se apresentar como engenheiro, o profissional gera uma expectativa de ser uma


pessoa engenhosa, criativa, com grande capacidade intelectual e prática, voltada para a
solução de problemas.

Agora, vamos listar algumas definições conhecidas para a engenharia:

1920
S. E. Lindsay

Engenharia é a prática da aplicação segura e econômica das leis científicas que governam
as forças e materiais da natureza, através da organização, design e construção, para o
benefício da humanidade.

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1939
Vannevar Bush

Engenharia, em um sentido amplo, é a aplicação da ciência de maneira econômica para as


necessidades da humanidade.

1941
T. J. Hoover e J. C. L. Fish

Engenharia é a aplicação profissional e sistemática da ciência para a utilização eficiente


dos recursos naturais a fim de produzir riqueza.

1963
John C. Calhoun, Jr.

É responsabilidade do engenheiro estar atento às necessidades sociais e decidir como as


leis da ciência podem ser mais bem adaptadas através da Engenharia a fim de cumprir
essas necessidades.

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1982
Comitê de Certificação de Engenharia e Tecnologia dos Estados Unidos

Engenharia é a profissão na qual o conhecimento das ciências matemáticas e naturais,


obtido através do estudo, experiência e prática, é aplicado com julgamento no
desenvolvimento de novos meios de utilizar, economicamente, os materiais e forças da
natureza para o benefício da humanidade.

PENSE NISSO

Após tantas definições, convido você a um exercício de reflexão.


Construa uma versão inicial e pessoal do seu entendimento de
Engenharia.

Se, ocasionalmente, você revisitar esse conceito, certamente ele


haverá se transformado e evoluído. Obter o real entendimento da
profissão que escolheu, seguramente, fará de você um
profissional melhor.

ENGENHOSIDADE E HISTÓRIA

Como já é possível calcular a dimensão do significado da Engenharia, podemos pensar na


sua participação na história das civilizações. Proponho, como exercício inicial, que você
pense no seu dia a dia e que elimine, um por um, os recursos de que dispomos que sejam
relacionados à Engenharia.

Digamos que eliminássemos os celulares e, na sequência, os computadores pessoais de


nossas vidas. Seria um retrocesso de 40 anos. Agora, imagine o fim da aviação e dos
automóveis; da tecnologia associada à saúde e da energia elétrica. Nesse sentido, já
teríamos retrocedido mais de um século, e se pensarmos nas grandes edificações e no
saneamento, rapidamente chegaríamos à Idade Média.

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SAIBA MAIS

Formalmente, focada em ensinos técnicos, a primeira escola de


Engenharia surgiu na França, em 1747, com o nome de École des
Ponts et Chaussées. Em 1774, foi fundada a École
Polytechnique com forte fundamentação teórica e, em sequência,
escolas de Engenharia foram surgindo em vários países. Não é
coincidência a Revolução Industrial ter se desenvolvido a partir
de 1760, ao longo de aproximadamente 80 anos.

Vamos finalmente iniciar nosso passeio pela história, destacando e analisando fatos
relevantes da civilização ocidental e suas relações com a Engenharia, ou com a
engenhosidade, em uma linha do tempo de início indefinido até a formalização
universitária da profissão. É muito difícil dissociar a história da humanidade da
engenharia, visto que o ser humano busca soluções engenhosas para resolver seus
problemas desde sempre.

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Considera-se que o primeiro engenheiro
foi Imhotep, responsável por projetar e
construir a primeira pirâmide do Egito,
em degraus, para abrigar o túmulo do
Faraó Djoser (2630 – 2611 a.C.). No
entanto, o uso da denominação
engenheiro começou a ser utilizada
somente no século XI para definir
alguém que atuava com criatividade
para resolver problemas práticos com
invenções engenhosas.

Sakkara. (Fonte: Arthur R. / Shutterstock)

A engenhosidade foi responsável por produzir diversos artefatos que modificaram


substancialmente a nossa história, bem como objetos cortantes de pedra lascada que
permitiram a caça e a introdução da proteína como alimentação, além do uso da pele
como proteção.

Faca com lâmina de sílex. (Fonte: Nik Keevil e prapann / Shutterstock)

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A Relevância do Arado

O arado é um dos artefatos mais


revolucionários da história da
humanidade, pois permitiu que os
grupos humanos deixassem de ser
nômades e se fixassem à terra, o
que impactou de forma relevante a
produtividade agrícola. Os
excedentes de produção e a
capacidade de armazenar alimentos
provocaram o surgimento de
trabalhos especializados, como
construtores, artesãos, médicos,
comerciantes, as comunidades, as Arado com tração animal no antigo Egito. (Fonte: Wikimedia
Commons)
primeiras vilas e as cidades.

Acredita-se que o arado tenha surgido ao sul da Mesopotâmia, em torno de 4500 a.C., a
partir da iniciativa de um homem arrastar uma vara pelo chão para abrir um sulco no solo,
de modo a facilitar o depósito das sementes. O aperfeiçoamento do artefato, de forma a
permitir a adoção da tração animal, trouxe evolução ao possibilitar um salto de
produtividade, visto que os bois conseguiam trabalhar todos os dias sem se cansarem, ao
contrário do homem.

A utilização de animais também viabilizou a prática do arado em solos não arenosos e


que exigiam um esforço maior. Os chineses desenvolveram soluções típicas de
engenharia para aperfeiçoar o arado ao substituírem a madeira por ponteiras de rocha
pontiagudas que, além de facilitar o trabalho em qualquer tipo de solo, possibilitavam a
abertura de sulcos mais profundos, mesmo em solos não arenosos.

A capacidade de abertura de sulcos mais profundos deflagrou um novo problema, porque


após a passagem do arado, parte do solo escavado caía novamente no sulco aberto,
exigindo a remoção posterior. No entanto, o obstáculo foi solucionado através da criação
da aiveca, uma placa que impedia que o solo arado retornasse à fenda, forçando o
depósito lateral.

A última inovação consistia em permitir que o arado pudesse ser ajustado para abrir
diferentes profundidades de sulcos para o uso em diferentes tipos de solo. Apesar disso,
esses aprimoramentos somente chegaram ao mundo ocidental no século XVII e apenas
no fim do século XVIII foram produzidos arados em ferro, com partes substituíveis,
permitindo o uso da lâmina adequada para cada tipo de solo.

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O Surgimento dos Metais

O uso dos metais propiciou o desenvolvimento e aperfeiçoamento de ferramentas e


armas. A chamada Idade dos Metais, última etapa do Período Neolítico, teve início com o
uso do cobre e, em seguida, do estanho. Por volta de 3000 a.C., a união desses dois
metais deu origem ao bronze. O uso do ferro, iniciado em torno de 1500 a.C. na Ásia
Menor, por exigir técnicas de manipulação mais sofisticadas, demorou a se difundir.

O Cobre

O cobre, material dúctil*, pode ser trabalhado a frio e a quente, quando são necessários
fornos para liquefazer o metal e depositá-lo em moldes. O processo é relativamente
simples, mas exige temperatura elevada conseguida através da injeção de ar pelo sopro.
Como o cobre pode ser refundido, surgiram os lingotes*.

*Dúctil: Capacidade de se deformar sem romper.

*Lingotes: São massas de metal ou de um material condutor, que após terem sido
aquecidas a uma temperatura superior ao seu ponto de fusão, são vertidas em um molde,
tomando uma forma que torna mais fácil o seu manuseamento, geralmente uma barra ou
um bloco.

Egyptian metal workers. (Fonte: Wikimedia Commons)

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Pepita de cobre nativo. (Fonte: Wikimedia Commons)

Lingote de cobre. (Fonte: Wikimedia Commons)

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O bronze é resultado da adição do estanho ao cobre, em proporções que variam de 3% a
25% na liga, resultando em um material com características mecânicas mais
interessantes do que o cobre em muitas situações, sendo menos maleável e mais
resistente e com ponto de fusão mais baixo. Os moldes, em geral, eram de cerâmica e se
perdiam a cada moldagem.

Espada de dois fios em bronze:

Brozen sword. (Fonte: Wikimedia Commons)

O Ferro

Os primeiros a dominar a produção do ferro foram os hititas, os quais monopolizaram o


processo até serem derrotados pelos assírios, fato que dispersou os ferreiros,
possibilitando que as técnicas fossem difundidas.

A fabricação do ferro não é similar ao processo do cobre e do bronze, já que o material


não se liquefaz. Os fornos devem ter capacidade para altas temperaturas, obtidas através
de grandes quantidades de carvão e lenha e insuflados por oxigênio continuamente.

Após um preaquecimento em forno, o material deve receber muitos golpes, processo que
elimina uma série de impurezas. Em seguida, deve ser aquecido em um segundo forno até
ficar incandescente para, novamente, receber golpes. O processo repetitivo de
martelagem a quente e aquecimento leva a uma barra forjada bem pura e maleável.

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A têmpera é um processo importante para determinadas funções como armas e
algumas ferramentas, sendo obtida através do rápido resfriamento com uso de
água, que favorecia a absorção do carbono, e algumas modificações na estrutura
molecular, que provocavam o aumento da resistência.

Como material, o ferro é superior ao bronze


em algumas funções, principalmente para
armas e ferramentas. Apesar do processo
de obtenção mais complexo, a abundância
do material na natureza e o melhor
desempenho para as referidas funções
fizeram do ferro uma importante e relevante
inovação da metalurgia.

Machado de ferro da Idade do Ferro sueca. (Fonte: Wikimedia Commons)

A Invenção da Roda

A roda é uma das maiores invenções da história da humanidade, cujo registro mais antigo
data de 3500 a.C., em uma placa de argila, que mostra a roda sendo utilizada para
transporte humano. A roda possibilitou o transporte de carga em longa distância, abrindo
várias possibilidades, inclusive para o comércio.

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Possível esquema de desenvolvimento da roda para deslocar cargas pesadas.

A capacidade de construir permitiu que surgissem as primeiras cidades mais complexas


próximas ao rio Nilo, no Egito, e na China, por volta de 2000 a.C. Por falar em cidades,
vamos dar um salto até a Grécia Antiga e conhecer um pouco de suas cidades-estados
(poleis).

Vamos nos concentrar em Atenas, que representou um modelo em pleno século IV a.C.
que, não à toa, transformou-se no berço da democracia, da cidadania e da base filosófica
de toda a civilização ocidental, incluindo a concepção da escola, responsável pela
transmissão do conhecimento, na Academia de Platão e no Liceu de Aristóteles.

O projeto de Atenas favoreceu fortemente para tamanho sucesso, pois o urbanismo foi
fundamentado na participação ativa dos cidadãos na vida pública. As vias eram
distribuídas em uma malha ortogonal e a organização do espaço urbano se baseava em
pequenos núcleos com funções específicas. Uma elevação natural foi destinada às
práticas religiosas (acrópole) com vários templos, com destaque para o Partenon.

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Na região onde se localizavam os prédios públicos, havia uma praça (ágora) reservada
para se desenvolver a vida política. Também havia os ginásios, as arenas e os teatros que
ofereciam entretenimento e reflexão. Os bairros residenciais, dos artesãos e dos
comerciantes ficavam mais afastados do centro.

As áreas de cultivo e o porto ficavam


do lado externo da cidade, que era
cercada por um grande muro. Aliás, o
porto de Pireu foi determinante para
a expansão comercial marítima,
fundamental para a ampliação dos
seus domínios e estabelecimento do
poderio político e econômico.
Registra-se, aqui, outra grande
contribuição da engenharia na área
de transporte marítimo e instalações
portuárias.
(Fonte: NAPA / Shutterstock)

A Preocupação Ambiental na Grécia Antiga

Um aspecto muito interessante ocorrido na Grécia Antiga consistia no registro do que


talvez tenha sido a primeira preocupação com o impacto ambiental. Com a multiplicação
das construções e o uso intensivo da madeira, que também era utilizada nas
embarcações e como carvão vegetal nas fundições de bronze, chumbo, cobre, estanho e,
principalmente, ferro, as florestas gregas começaram a ficar escassas.

Em determinado momento, Atenas proibiu a exportação de madeira para construção e o


uso de madeira de oliveira para produzir carvão. Em outros locais, a madeira foi taxada, e
o estado passou a controlar a venda de carvão.

A engenharia reagiu aumentando o uso de alvenaria como alternativa construtiva para


diminuir o uso da madeira e começou o que podemos chamar de construções
sustentáveis, já que os projetistas desenvolveram uma técnica em que as paredes
absorviam o calor do sol e liberavam gradualmente o calor durante a noite, diminuindo a
necessidade de calefação. O posicionamento da edificação em relação ao sol também foi
estudado de forma a aproveitar o sol do inverno. Assim, segundo Aristóteles, nascia a
edificação racional.

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A sequência histórica nos leva ao rápido Império Macedônico, que atingiu seu ápice com
Alexandre, o Grande, tutelado por ninguém menos que Aristóteles*, e tornando-se um dos
maiores gênios militares da história. Em apenas 13 anos (336 a 323 a.C.), Alexandre criou
o maior império do mundo, à época, dominando toda a Pérsia e chegando até o Egito.

*Aristóteles: Os principais trabalhos de Aristóteles, conhecidos até hoje, foram


desenvolvidos durante o período de Alexandre.

Alexandre, o Grande, foi o principal


responsável por disseminar a cultura
helênica pelo mundo, através da
filosofia, da matemática, do teatro e
da literatura. A cidade egípcia de
Alexandria tornou-se, à época, o
principal centro de ciências do
mundo com a criação do Museu de
Alexandria que, na verdade, tratava-
se de uma instituição com ênfase na
investigação da natureza com
recursos inimagináveis até então,
como laboratórios de pesquisa, (Fonte: GK1982 / Shutterstock)

jardim botânico, zoológico, salas de dissecação, observatório astronômico e uma grande


biblioteca.

Euclides, matemático grego que


fundou o estudo da Geometria
consolidado no famoso tratado Os
Elementos, e Arquimedes, que
inventou o chamado Parafuso de
Arquimedes e formulou o princípio
da alavanca e do empuxo, bem como
projetou várias armas de guerra, são
figuras proeminentes do Museu de
Alexandria.

(Fonte: Nor Gal / Shutterstock)

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Com a morte de Alexandre, o império subdividiu-se e somente em 27 a.C. estabeleceu-se
o Império Romano, considerado o maior da história da civilização ocidental, conectando a
Europa, a Ásia e a África e que perdurou até 475 d.C., marcando o fim da Idade Antiga e o
início da Idade Média, período este muito fértil para a engenharia, com muitas inovações e
aperfeiçoamentos.

Aquedutos

Roma possuía um consumo de


água per capita similar ao atual, sendo
alimentada por 14 aquedutos a um
volume diário de 10 mil metros
cúbicos. Os aquedutos podiam medir
até 100km, captando a água e
transportando-a até os reservatórios
próximos da cidade.

Segóvia, Espanha. Vista na Plaza del Azoguejo e o


antigo aqueduto romano. (Fonte: emperorcosar / Shutterstock)

Os romanos foram precursores na


utilização da água como fonte de
energia, que movimentava as
chamadas rodas d´água,
principalmente para moer grãos, ideia
muito difundida pela costa do
Mediterrâneo.

Roda d´água. (Fonte: Martchan / Shutterstock)

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Em Barbegal, França, os romanos
construíram, no século IV, um
inacreditável complexo de rodas
d´água alimentado por um único
aqueduto de 2 metros de largura, com
uma inclinação de 30 graus, que
alimentava um conjunto de 8 pares de
rodas d´água para moer.

O complexo tinha uma capacidade


para produzir até 2,8 toneladas diárias
de farinha que, em grande parte, era Complexo de Barbegal, França. (Fonte: Leandro PP /
Shutterstock)
embarcada no porto de Arles para Roma.

A água também era conduzida e armazenada em reservatórios para a chamada


mineração hidráulica. Os romanos desenvolveram uma técnica denominada ruina
montium que se mostrou devastadora como o próprio nome sugere (destruição da
montanha). A ideia baseava-se em utilizar a força hidráulica de grandes volumes de água
desviada, que forçavam a erosão e o carreamento de grandes volumes de sedimentos que
eram minuciosamente manipulados, para procurar pepitas e resíduos de ouro.

Os romanos não pouparam esforços para que, ao longo de dois séculos, cerca de 60.000
trabalhadores retirassem mais de 1,5 toneladas de ouro das minas de Las Médulas, região
da Espanha que abrigava fabulosos veios de ouro. Para isso, foram utilizados complexos
sistemas de aquedutos e canais, incluindo o armazenamento em grandes tanques a uma
cota de aproximadamente 250 metros acima do nível das minas, gerando poderosa
pressão hidráulica para o desmonte das rochas.

Com o andamento dos trabalhos, novos


túneis eram cavados para direcionar o
fluxo da água em alta pressão em
novas áreas de interesse, e o rastro de
destruição se formava. Talvez esse
processo tenha sido o primeiro grande
impacto ambiental localizado, causado
pela ação humana.

Paisagem devastada das montanhas de


Las Médulas, Espanha. A seta vermelha
indica uma galeria aberta durante a
A mina de ouro romana de Las Médulas. (Fonte: AK- mineração.
Media / Shutterstock)

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Pontes

Os romanos construíram muitas pontes entre as maiores já construídas até então, sempre
utilizando o arco como recurso e, muitas vezes, um núcleo de concreto.

Ponte de Alcântara. (Fonte: cge2010 / Shutterstock)

Represas

Os romanos construíram muitas represas para armazenar água para abastecimento e


mineração. A represa de Proserpina, na Espanha, já possui 2000 anos e ainda abastece a
região para irrigação.

Represa de Proserpina, Espanha. (Fonte: lunamarina / Shutterstock)

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Estradas

Pode-se dizer que a rede de estradas romanas foi o maior legado do Império, visto que,
além dos exércitos e mercadorias, também passaram ideias e influências culturais,
filosóficas e religiosas, incluindo o cristianismo.

A gigantesca rede atingiu cerca de 80.000 km no auge do império (117 d.C.) e conectou a
Europa, o Oriente Médio e o Norte da África, numa área hoje ocupada por mais de 30
países. Inicialmente, serviam para o transporte das tropas e suprimentos e se tornaram
rotas de comércio e de mensagens. Ao analisarmos, essa rede explica a gigantesca Igreja
Católica Apostólica Romana e expressões como “Todos os caminhos levam a Roma” e
“Quem tem boca vai a Roma”.

Diversas vias importantes saíam de Roma. A Via Ápia, a mais importante, ia até Brindisi,
cidade portuária com saída para o leste. As Vias Salária e Flamínia seguiam na direção do
mar Adriático, dando acesso aos Bálcãs e para as regiões cruzadas pelos rios Reno e
Danúbio. A Via Aurélia dava acesso à Península Ibérica e a Via Ostiense, levava até Óstia,
porto com acesso mais fácil para viagens à África.

Rede de estradas do Império Romano. (Fonte: alternatehistory.com)

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As estradas romanas eram cuidadosamente projetadas e construídas para serem
duradouras. Seus traçados privilegiavam trechos retilíneos e, quando tinham que
acompanhar os contornos do terreno, procuravam manter a horizontalidade.

O processo construtivo tinha início com a escavação de duas valas paralelas, geralmente
com distância de 4 metros. Na sequência, a região central era escavada até que se
encontrasse solo firme, como se fosse uma espécie de canal.

A região escavada era preenchida por camadas de diferentes materiais. A primeira era de
pedregulhos ou entulho, seguida por pedras pequenas ou achatadas, eventualmente
ligadas por argamassa. Por fim, uma camada de cascalho ou pedra britada.

A superfície variava entre o cascalho compactado e uma pavimentação com grandes


placas lisas de pedra, sempre mais altas no centro, com um leve caimento lateral para as
bordas da via, para que as águas provenientes da chuva escorressem lateralmente. Esse
processo foi tão bem-sucedido, que algumas estradas estão em uso até hoje.

Já falamos das pontes romanas, mas


ainda não falamos dos túneis, um
desafio para os recursos da época. Um
belo exemplo é o túnel do desfiladeiro
Furlo, na Via Flamínia (78 d.C.). Com 5
metros de largura e também 5 de altura,
o túnel se estende por 40 metros
escavados em rocha maciça. Desse
modo, a rede de estradas romanas se
constitui em um dos maiores
empreendimentos da humanidade.

Trecho da Via Ápia próximo de Roma. (Fonte: Jannis Tobias Werner / Shutterstock)

Construções

A arquitetura e as construções romanas formam um capítulo à parte, mas não há como


não se mencionar o Coliseu e o Pantheon. Construído em 8 anos, o Coliseu, com
capacidade de até 80.000 pessoas, foi concluído em 80 d.C. Maior anfiteatro já

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arquitetado, era utilizado para combates de gladiadores e para espetáculos públicos,
como encenações, execuções, simulações de batalhas famosas e dramas da mitologia
clássica. Hoje, é considerado uma das 7 maravilhas do mundo moderno.

Interior do Coliseu. (Fonte: K3S / Shutterstock) Fachada do Coliseu. (Fonte: K3S / Shutterstock)

O Pantheon é um edifício muito especial, sendo uma das estruturas mais bem
preservadas da Roma Antiga*. De planta circular, possui um grande pórtico na entrada,
que conduz a um ambiente coberto por uma cúpula de concreto, que por sua vez contém
uma abertura central e que permite a iluminação natural. Trata-se da maior cúpula de
concreto não armado da história. O diâmetro, de 43,3 metros, tem a mesma dimensão da
altura da abertura (óculo).

*Roma Antiga: A queda do Império Romano, que se desagregou em 476 d.C., quando a
parte ocidental foi ocupada pelos germânicos e a oriental permaneceu sob a
denominação de Império Bizantino, deveu-se a um período de crise econômica, com
sucessivos golpes e assassinatos. A instabilidade pode ser constatada com a troca de 16
imperadores em apenas 50 anos. Os germânicos, por não compartilharem a mesma
cultura e não falarem latim, eram considerados bárbaros.

Pantheon. (Fonte: Viacheslav Lopatin / Shutterstock) Vista inferior da cúpula de concreto com a abertura
central. (Fonte: Pierre Aden / Shutterstock)

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Dicionário Enciclopédico Brockhaus e Efron. (Fonte: Wikimedia Commons)

O fim do Império Romano marcou o começo da Idade Média, período que teve
início em 476 e foi até 1453, com a conquista de Constantinopla pelos Turcos-
Otomanos.

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A ruptura ocorrida na Europa alterou o ritmo do desenvolvimento local, mas a preservação
do Império Bizantino manteve a efervescência. Enquanto a Europa experimentava tempos
de estagnação, os árabes desenvolviam conhecimento até o século XII. Trata-se de um
período denominado Alta Idade Média.

SAIBA MAIS

No mundo antigo, o grego era o idioma da ciência. Com o


crescimento do Império Romano, o conhecimento era extraído e
traduzido para o Latim. No entanto, na transição para a Idade
Média, o conhecimento grego foi se tornando restrito, uma vez
que a Igreja Católica passou a reter o conhecimento em um
período entre os séculos V e XVII, constituindo o que poderia ser
chamado de monopólio do saber.

Nos séculos XI e XII, os dois mundos voltaram a interagir através dos mercadores árabes
do Mediterrâneo. Várias inovações foram incorporadas e impactaram a produção agrícola
e artesanal.

Técnicas como plantação em curvas de


nível, rodízio de culturas, técnicas
hidráulicas, uso correto do cavalo, moinhos
de vento, aperfeiçoamento do tear, evolução
nas embarcações, uso da bússola, do papel,
da pólvora e do canhão, bem como o
posterior surgimento da imprensa
impactaram de forma significativa.

Tal fato ocasionou um crescimento sem


precedentes na produção agrícola e no
intercâmbio de produtos, o que alterou as
relações sociais e econômicas da Europa,
que partiram da Península Ibérica até o
centro da Europa. Os entrepostos
comerciais se fortaleceram e deram origem
a uma nova classe, os burgueses.

Catedral de Notre-Dame, Paris, 1163 a 1245. (Fonte:


Surgiram as grandes catedrais e as TTstudio / Shutterstock)
primeiras universidades que necessitaram se
alimentar dos sábios do oriente como primeiros professores. Muitos vieram de
Alexandria, local que preservou os conhecimentos da Grécia Antiga.

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O final da Idade Média é um período de profundas contradições. Quando a Peste Negra de
1347 desintegrou cidades política e economicamente, coube à Igreja o papel de coordenar
os trabalhos de restauração através da autoridade do Papa.

A Europa entra em um período de vazio intelectual até ter início a Renascença, centrada
na Itália, primeira região a se recuperar da Peste Negra. Conforme sua localização
estratégica, a Itália tornou-se o centro do tráfego entre Europa e o Oriente Médio.

SAIBA MAIS

Nesse período, houve um rápido desenvolvimento de sistemas


administrativos, práticas bancárias e conhecimentos financeiros
em geral. A Matemática (Álgebra, Geometria e Trigonometria)
começou a ser utilizada na construção, na navegação, na
cartografia e no levantamento topográfico. As artes começaram
a florescer e as Instituições de ensino começaram a conquistar
autonomia em relação à Igreja.

Outro feito relevante da engenharia encontra-se na área naval, pois a evolução das
embarcações permitiu às grandes navegações a descoberta das Américas e a sua
incorporação em forma de colônia.

A ciência também se desenvolve com Copérnico, que conclui que a Terra gira em torno do
sol, e com Kepler, ao unir a Astronomia e a Física, excluindo o divino, e estabelecendo as
leis do movimento planetário. Por sua vez, Galileu deu continuidade à obra de Kepler e
organizou o ramo da Mecânica na Física, escrevendo a obra O Ensaiador, que trata do
Método Científico.

No ano da morte de Galileu, nasce Isaac Newton, que após se formar, em apenas 18
meses de reclusão por causa da peste bubônica, elaborou as chamadas Leis de Newton,
as quais deram início à ciência moderna. Assim, a grande revolução se deu através do
desenvolvimento de modelos matemáticos capazes de representar o comportamento
físico e encontrar valores experimentais.

Após retornar a Cambridge, publicou suas ideias somente 17 anos depois, em 1684, no
livro denominado Principia, considerada a mais influente obra escrita por uma única
pessoa em toda a história da humanidade. Foi a consolidação da ciência moderna com
Newton e o método científico que deram suporte à ideia de que não bastava entender o
mundo: Era preciso modificá-lo.

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A seguir...

O método científico estabeleceu as bases da ciência moderna e proporcionou a formação


científica que dá sustentação à Engenharia.

Vimos que, ao longo de alguns milhares de anos, a Engenharia vem se desenvolvendo


com muita intuição e engenhosidade, mas sem muita organização e método, apesar das
fantásticas realizações.

O que esperar da Engenharia sustentada pela ciência moderna?

Vamos entrar na era da industrialização com o primeiro grande salto promovido pela
Revolução Industrial.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. A engenhosidade humana, que mais tarde se transformou formalmente na Engenharia,


sempre esteve presente desde a pedra lascada. Em alguns momentos da história, essa
engenhosidade criou condições para que modelos e conceitos fundamentais para a
civilização ocidental, como a democracia, surgissem e fossem até efetivamente
implementados. Qual das opções abaixo pode ser associada a esta afirmação?

a) A pirâmide de Djoser, no Egito, projetada por Imhotep, tido como o primeiro engenheiro.

b) A cidade de Roma, centro do Império Romano, responsável pelo período mais fértil da
engenhosidade humana.

c) A cidade de Atenas, com o projeto que associou arquitetura funcional e engenharia.

d) A cidade de Paris, que reuniu tantas condições relativas à engenhosidade, que sediou a
primeira Escola de Engenharia.

Comentário

Parabéns! A alternativa C está correta.

O projeto da cidade de Atenas reservava áreas para funções específicas e favorecia a


participação ativa dos cidadãos na vida pública. Dessa forma, a cidade promoveu o
desenvolvimento do conhecimento, colaborando para que se tornasse a base da
civilização ocidental, nos campos da filosofia e da cidadania, transformando-a no berço
da democracia.

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2. A engenhosidade humana sempre se preocupou com a produtividade do trabalho,
criando inovações que facilitassem a execução das atividades através de ferramentas
específicas ou pela criação de máquinas que a substituísse no trabalho.

Aponte, dentre as inovações listadas, a responsável por um impacto ambiental relevante:

a) O arado associado à tração animal.

b) A roda d´água associada em série para moer trigo.

c) A técnica romana para a construção de sua gigantesca rede de estradas.

d) A mineração hidráulica.

Comentário

Parabéns! A alternativa D está correta.

O direcionamento do fluxo da água sob pressão destruía os maciços de terra para


viabilizar a mineração e o rastro de destruição se transformou em um grande impacto
ambiental causado pela ação humana.

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INTRODUÇÃO

Foi a partir da consolidação da ciência moderna que surgiram as escolas formais de


Engenharia no final do século XVIII e teve início a chamada Revolução Industrial, a partir
da máquina a vapor de James Watt.

Dampfmaschine. (Fonte: Wikipedia)

O Brasil foi pioneiro, uma vez que a primeira


Escola de Engenharia foi fundada na França
em 1747 e, em 1792, foi fundada no Rio de
Janeiro, onde hoje se encontra o Museu
Histórico Nacional, a Real Academia de
Artilharia, Fortificação e Desenho, a primeira
escola de formação de engenheiros das
Américas. A primeira escola americana foi a
Academia Militar de West Point, em 1802.
Instituto Militar de Engenharia. (Fonte: Wikipedia)
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Após sucessivas transformações na Real Academia, duas Escolas surgiram. Em 1839,
surgiu a Escola Militar, que deu origem ao IME, e em 1858, surgiu a Escola Central, para
formação de engenheiros civis, que deu origem à atual Escola Politécnica da UFRJ. Os
cursos sempre possuíram base científica na sua formação, assim permanecendo até
hoje.

PRIMEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Toda essa evolução tecnológica só foi possível porque os processos de fabricação


evoluíram com a criação das chamadas máquinas ferramentas, das quais muitas se
beneficiaram do acoplamento de uma máquina a vapor. Estamos falando de tornos
mecânicos, da fresadora mecânica, do esmeril, da plaina mecânica, processos de
soldagem, furadeira, serra mecânica, laminadores, trefiladora e extrusora.

As Ciências Econômicas e o sistema capitalista


nasceram deste ciclo produtivo. A base
conceitual já havia sido descrita por Adam
Smith* em seu célebre livro denominado Uma
Investigação da Natureza e as Causas da
Riqueza das Nações, publicado em 1776. Esta
obra ficou conhecida como A Riqueza das
Nações e ressaltava a importância do trabalho
humano, embora defendesse que a divisão
social do trabalho seria a chave para a
produtividade e, consequentemente, para a
geração de riqueza do país.

*Adam Smith: Foi o primeiro filósofo moral a


reconhecer que as ações de mercado mereciam
um estudo cuidadoso e em tempo integral numa
moderna disciplina das Ciências Sociais. Aos 14 Adam Smith. (Fonte: Infoescola)

anos, Smith foi para a Universidade de Glasgow, onde se tornou mestre e fascinou-se
pelas ideias do professor Francis Hutcheson, aprendendo Liberalismo Clássico, Direito
Natural e Economia Política.

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Em seu livro é desenvolvido um estudo de caso de fabricação de alfinetes. Se um operário
tiver que, sozinho, fabricar um alfinete, tendo que ele mesmo ir buscar a matéria-prima e
produzi-lo, teria uma produtividade baixíssima se comparada a um sistema industrial, em
que cada operário é responsável por uma etapa da fabricação. Em uma análise detalhada,
são listadas 18 atividades distintas que devem ser divididas por 10 funcionários.

Adam Smith evidencia que a organização da divisão social do trabalho*, limitada pelo
tamanho do mercado, passa a ser a chave da riqueza de uma nação e não mais a
quantidade de ouro, como pregava o mercantilismo. Nessa fase, o mercado entra como
limitador da riqueza, já que de nada adianta aumentar a produção se não houver para
quem vender.

*Divisão social do trabalho: A divisão social do trabalho pode gerar benefícios, pois a
destreza e habilidade do operário aumentam à medida que ele se especializa,
incrementando a produtividade e a qualidade. A mudança de atividade gera perda de
concentração e de tempo, logo, o foco nas etapas facilita o aprimoramento das máquinas
e até mesmo a invenção de outras mais eficientes. Em vários casos, os próprios operários
contribuíram e até mesmo desenvolveram máquinas.

O mercado se baseia em forças opostas. De um lado, o produtor quer vender o máximo


possível pelo maior preço e, de outro, o consumidor, que busca o menor preço. Embora
em um primeiro momento possa parecer uma contradição caótica, na verdade representa
a ordem natural do sistema econômico, que se equilibra na concorrência e na livre
iniciativa.

Smith era contra qualquer intervenção do governo, seja para garantir monopólio ou
subsídios, e considerou que o ideal seria uma atuação limitada do setor público, que
deveria estimular o comércio e a educação, incluindo saneamento, rodovias, ferrovias,
portos, correios, escolas e igrejas, e via a educação pública e gratuita como uma garantia
de crescimento da produtividade do trabalho e, consequentemente, da riqueza daquela
nação. O Estado também deveria proteger a sociedade de ataques externos, estabelecer e
criar leis de justiça e utilizar as instituições públicas como reguladores do excesso de
lucro, estimulando a concorrência entre as empresas.

Os cientistas e engenheiros eram considerados fundamentais para as invenções,


mas a observação do sistema de produção era primordial para importantes
melhorias.

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A industrialização gerou muitos impactos sociais. A busca por emprego provocou o êxodo
rural e o crescimento da vida urbana, transformando as cidades em centros de produção e
consumo e reposicionando o campo em uma situação economicamente secundária.

De 17 mil para 180 mil

A cidade de Manchester, por exemplo, experimentou um crescimento populacional de 17


mil habitantes em 1760 para 180 mil em 1830.

300 mil

Muitos locais chegaram a 300 mil habitantes na metade do século XIX,


como Birmingham, Bradford, Bristol, Leeds, Liverpool e Sheffield.

4 milhões

Em 1880, Londres chegou a 4 milhões de habitantes.

A distribuição foi alterada de tal forma que, em 1850, a Inglaterra possuía 52% de
população rural, percentual que caiu para 31% em 1880 e para 22% em 1910.

O início da industrialização trouxe tempos difíceis para a população, com altos custos
sociais para a classe trabalhadora, que era vista como um acessório das máquinas que

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representavam a modernidade e o capital, pois eram os principais recursos do novo
processo produtivo.

O excesso de trabalho trouxe jornadas diárias de até 16 horas em 6 dias por


semana e o crescimento acelerado das cidades tornou precárias as condições
habitacionais, ocasionando o surgimento de cortiços.

Como não poderia deixar de ser, cresceu o movimento sindical, por causa disso...

1833 1842 1847

A jornada de trabalho Foi proibido o trabalho A jornada de mulheres e


diminuiu para 12 horas nas infantil e de mulheres nas crianças foi limitada a 10
indústrias têxteis. minas de carvão. horas.

COMENTÁRIO

A sociedade se reorganizou e o poder absolutista do


mercantilismo foi perdendo o controle frente ao crescimento da
classe burguesa e ao fortalecimento do liberalismo econômico
como previu Adam Smith. Mais uma vez, vemos a engenharia
modificando substancialmente a forma de vida das pessoas.

O mundo observou a transformação da Inglaterra em uma potência baseada em um


fenômeno tecnológico que trouxe a industrialização, ampliou mercados, alterou de forma
significativa a relação capital-trabalho e promoveu o capitalismo como forma de
organização política e econômica.

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SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Muitas inovações foram atribuídas à Segunda Revolução Industrial, mas algumas não
podem deixar de serem citadas:

• A siderurgia evoluiu com os novos processos


para a produção do aço, viabilizando a
construção de pontes e edifícios, além de
melhorar a produção de máquinas, trilhos e
ferramentas;
• Os meios de transporte evoluíram de tal forma
que, além da ampliação das ferrovias,
surgiram os automóveis e os aviões;
• A Invenção da lâmpada incandescente;
• O desenvolvimento e a infraestrutura para a
geração, produção e distribuição da energia
elétrica e as bases da Engenharia Elétrica;
• A invenção dos meios de comunicação
(telégrafo, telefone, cinema, rádio e televisão);
• A invenção da geladeira;
• A evolução da química aplicada, com a descoberta de novos materiais e do múltiplo
uso do petróleo, e as bases da Engenharia Química;
• A invenção de novos armamentos, como metralhadoras;
• Avanço da Medicina, com a invenção de antibióticos, vacinas, conhecimentos sobre
novas doenças e técnicas cirúrgicas.

Quando falamos das ideias de Adam Smith sobre o capitalismo, vimos que a livre
iniciativa e a livre concorrência são condições fundamentais para regular e equilibrar o
mercado, de forma que produtores e consumidores possam conviver em um ponto de
equilíbrio que seja bom para os dois lados. Não pode ser o mais caro possível como é
desejo do produtor, tampouco o mais barato possível, como é desejo do consumidor.

Existem ações que podem burlar esse equilíbrio, aumentando o preço dos produtos
através da diminuição da concorrência. Como empresas e indústrias podem concentrar
capital, é possível que as grandes consigam comprar as menores, ficando sozinhas no
mercado e eliminando a concorrência, o que chamamos de monopólio.

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Holdings, trustes e cartéis são formas distintas de união de empresários com
interesses comuns para, contra os consumidores, aumentarem seus lucros.

Holdings

As holdings podem ser entendidas como empresas distintas com o mesmo dono.

Na prática, podem se estabelecer através de empresários poderosos que compram ações


e controlam empresas do mesmo ramo, transformando a livre concorrência em uma
farsa.

Truste

Os trustes são formados por empresas que surgem a partir da fusão de empresas do
mesmo ramo.

Ao invés das empresas A e B competirem, elas se fundem e seus donos viram sócios,
diminuindo a concorrência. Dependendo da parcela de mercado de cada uma, a fusão
pode aproximá-las do domínio do mercado, ou até mesmo do monopólio.

Cartel

No que diz respeito ao cartel, trata-se de uma união secreta de empresas do mesmo ramo,
que combinam e praticam o mesmo preço final ao consumidor, eliminando a livre
concorrência.

SAIBA MAIS

Atualmente, o Brasil possui leis que proíbem trustes e cartéis,


sendo o controle feito pelo Conselho Administrativo de Defesa
Econômica (CADE). No entanto, as holdings são difíceis de serem
combatidas, pois são operações de compras de ações nas
Bolsas de Valores.

Como já vimos, a evolução da Engenharia é constante e, gradativamente vai aumentando


de complexidade e especificidade. Esta evolução também ocorre na formação do
engenheiro que começa a ter que atender a estas questões e refleti-las. Repare que, aqui

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nesse texto, já mencionamos as Engenharias Civil, Mecânica, Elétrica, Química e de
Produção.

TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

O trabalho na indústria mais uma vez é reestruturado com a adoção de um método


polivalente, flexível, menos hierarquizado e integrado em equipes, em um sistema em que
a criatividade individual dos trabalhadores é valorizada. A relação entre produção e
consumo é refletida no modelo Just-in-Time da Toyota, que preconiza o estoque mínimo e
o máximo de racionalização para evitar desperdícios. Dessa forma, a mão de obra não
qualificada vai sendo marginalizada do mercado de trabalho na indústria.

Nesse período, também vimos a


exploração espacial, o crescimento da
informática, Internet, telefonia celular,
biotecnologia, nanotecnologia,
sensoriamento remoto, GPS e tantas
outras tecnologias que fazem parte do
nosso dia a dia. Atualmente, temos um
mundo globalizado em que novas
regiões industriais de alta tecnologia
unem centros produtores de tecnologias
e centros de pesquisa, formando
tecnopolos, como o Vale do Silício (Fonte: ESB Professional / Shutterstock)
(Califórnia, EUA), a Route 128 (Boston,
EUA), Tóquio-Yokohama (Japão), o corredor M4 (Londres), entre tantos outros. No Brasil,
temos o eixo São Paulo–Campinas–São Carlos, que reúne a USP e a UNICAMP.

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QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Manufatura Aditiva (impressão 3D)

O termo manufatura aditiva se dá em contraponto ao processo tradicional de usinagem


que se inicia com um bloco maciço, que atinge a forma final com a retirada parcial de
material, que é perdido em um processo subtrativo.

O uso das impressoras 3D tem aumentado de forma contundente. A ideia do processo


também conhecido como fabricação digital é a criação de um objeto real a partir de um
modelo digital 3D criado em um tipo de software denominado modelador de sólidos. A
técnica utilizada consiste no depósito de camadas de material, de forma repetitiva, até
que o objeto se forme. Pensar em uma impressora doméstica nos leva a uma situação de
criação de protótipos plásticos, muitas vezes em escala reduzida.

A manufatura aditiva impõe algumas vantagens, como a prototipagem rápida, baixo custo
para pequenas quantidades, liberdade de formas e de complexidade, customização e
sustentabilidade, pois minimiza resíduos, consumo de material e energia.

Existem algumas tecnologias diferentes de manufatura aditiva, sendo as principais FDM, a


mais difundida, SLA e SLS. A modelagem por fusão e deposição
(Fused Deposition Modeling) é a tecnologia mais acessível e, por isso, popularizou-se.
Trata-se do uso de insumo plástico em forma de fio, que alimenta a impressora que o
derrete (fusão) e cuidadosamente acrescenta camada por camada, em alta precisão,
até imprimir o objeto por completo.

A técnica conhecida como estereografia (SLA) utiliza resina como insumo. O processo
também consiste no depósito repetitivo de camadas, mas a resina é solidificada pela
ação de um feixe de laser ultravioleta. A SLA é muito precisa e possui acabamento
superior mesmo em peças pequenas, sendo muito utilizada na criação de moldes.

Por fim, a sinterização seletiva a laser, que utiliza insumo em forma de pó, normalmente
polímeros. Este processo se dá através de laser de alta potência, que aglutina as camadas
do material na impressão do objeto. Já existem processos de manufatura aditiva em

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metal, como a Sinterização Direta de Metal a Laser (DMLS), um processo bem semelhante
ao SLS, mas que utiliza como insumos titânio e aço em pó. Outras tecnologias como
a Selective Laser Melting e Binder Jetting ainda possuem custo muito elevado, a ponto de
só empresas de alto investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) utilizarem.

A manufatura aditiva é considerada um dos pilares da Quarta Revolução Industrial,


porque, no futuro, será possível uma grande revolução logística a partir do momento em
que seja possível realizar a compra pela internet de um modelo digital customizado, em
qualquer lugar do mundo, que será rapidamente enviado a um centro de fabricação
próximo ao endereço de entrega para impressão e envio. A implantação dessa dinâmica
altera toda a lógica do sistema comercial e de cobrança de impostos, além de simplificar
a fabricação e valorizar o modelo digital, mais próximo do trabalho humano.

Inteligência Artificial (IA)

Grande estrela da Quarta Revolução Industrial, a Inteligência Artificial não é um recurso


recente. O computador sempre foi visto como um possível substituto da nossa
inteligência, o cérebro eletrônico. Como ciência, pode-se dizer que a IA teve início na
década de 1950 do século XX, com Alan Turing, e desde então vem evoluindo lado a lado
com os computadores.

O marco zero oficial aconteceu em 1956, na conferência de Dartmouth, em que todos os


pensadores do tema estavam presentes e o campo da pesquisa foi batizado de
Inteligência Artificial. As possibilidades eram tão animadoras, que imediatamente
conseguiram financiamentos de órgãos privados e governamentais.

Em 1957, Frank Rosenblatt apresenta uma máquina chamada Mark 1, que utilizava um
algoritmo denominado perceptron, baseado em uma rede neural de uma camada que
classificava resultados. No ano seguinte, surge a linguagem de programação LISP, que
virou padrão em IA. Em 1959, surge pela primeira vez o termo Machine Learning*, que
descrevia um sistema que daria aos computadores a capacidade de aprender algumas
funções sem terem sido programados diretamente para isso.

*Machine Learning: Aprendizagem de máquina.

Em 1964 nasceu ELIZA, o primeiro chatbot* do mundo. Tratava-se de uma psicanalista


virtual que conversava automaticamente, utilizando respostas baseadas em palavras-
chave em estruturas sintáticas. Em 1969, nos foi apresentado o robô Shakey, que possuía
mobilidade com alguma autonomia de ação e fala e que, apesar das falhas, teve a sua
funcionalidade. Após uma década de estagnação, em meados de 1980, surgiram os
sistemas especialistas, que realizavam atividades complexas específicas de um campo
do conhecimento, superando os humanos em velocidade de raciocínio e base de

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conhecimento. A IA voltava à evidência, mas logo viveu novo período de estagnação,
talvez por desencontro entre ideias e capacidade de processamento.

*Chatbot: Programa de computador que utiliza inteligência artificial para imitar conversas
com usuários de várias plataformas e aplicativos, como acontece no Facebook e em sites
de e-commerce.

A explosão da internet comercial na segunda metade dos anos 1990 trouxe a necessidade
da IA para aperfeiçoar os buscadores que vasculhavam a rede automaticamente em
busca das informações adequadas. Em 1997, a derrota do campeão mundial de xadrez,
Garry Kasparov para o Deep Blue*, da IBM, representou o marco da IA.

*Deep Blue: Supercomputador da IBM projetado para jogar em pé de igualdade contra


qualquer jogador de xadrez do mundo.

Em 2005, a Boston Dynamics apresentou o Big Dog, um robô com formas inspiradas nos
cachorros e especializado em se movimentar em terrenos de difícil acesso para humanos.
Outra evolução relevante, neste mesmo período, foram os veículos autônomos, caso
bastante complexo de gerenciamento de vários sensores e, com certeza, um dos
destaques da Quarta Revolução Industrial.

Na sequência, foi a vez do processamento da linguagem natural com o reconhecimento


de voz e o surgimento das assistentes virtuais como a Siri da Apple, a Alexa da Amazon, a
Cortana da Microsoft e o Google Assistente. O Watson da IBM começou a ganhar fama e
ser aplicado em vários campos, como Direito e Saúde.

Em 2011, um projeto despretensioso na Universidade de Stanford de um curso online


gratuito de Inteligência Artificial do professor Sebastian Thrun e de Peter Norvig
ocasionou grande sucesso com mais de 160 mil alunos de 190 países. E o resultado foi
melhor ainda, pois quatrocentos destes superaram o desempenho dos alunos de
Stanford. A partir daí, surgiu a Udacity, uma universidade focada em tecnologia que fosse
prática, barata, acessível e eficaz para o mundo.

Em 2012, a Google deu mais um salto em pesquisa em vídeos utilizando o Deep


Learning*, que pode ser aplicado em visão computacional, permitindo que o sistema lide
com a compreensão das imagens obtidas através de câmeras. Este conjunto de recursos
canalizados e com investimentos maciços vão cada vez mais fazer parte de nossas vidas.

*Deep Learning: Técnica de aprendizado de máquina a partir de Redes Neurais Artificiais.

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Big Data

O termo Big Data se consolidou como denominação para a área que trata de grandes
conjuntos de dados que devem ser armazenados e processados.

O volume de dados produzidos cresceu vertiginosamente. Para termos mais noção da


grandeza, um levantamento de 2019 mostra que temos metade da população mundial
conectada. Com toda essa gente, o que acontece em 1 minuto?

• 3,8 milhões de buscas no Google;


• Mais de 40 milhões de mensagens (Facebook + WhatsApp);
• 4,5 milhões de vídeos sendo visualizados no YouTube;
• 390 mil aplicativos baixados na Google Play e Apple Store.

A quantidade de dados é absurda, mas essa não é a única variável relevante. São 3 os
pilares do Big Data:

• Volume: A quantidade é tão grande que é difícil ter a noção da ordem de grandeza;
• Velocidade: A importância da velocidade é associada ao tempo de resposta, mas
quanto maior for a extensão da pesquisa, mais demorada será a resposta. Na prática,
quanto mais próximo do tempo real, melhor;
• Variedade: Os dados não estão organizados e estruturados. São textos, sensores,
áudios, vídeos, sensores, buscas, catracas etc.

Internet das Coisas (IoT)

A IoT (Internet of Things) ou Internet das Coisas pode ser vista como uma forma de
comunicação entre objetos ou entre objetos e pessoas.

Situações simples podem esclarecer a utilidade. Imagine uma situação corriqueira em um


mercado onde as pessoas vão pegando um determinado produto na prateleira e ela vai se
esvaziando. Essa prateleira pode ser inteligente e avisar que está na hora de repor. Para
isso, basta instalar um sensor que tenha essa percepção e que envie um determinado tipo
de sinal para o sistema interpretar a necessidade de reposição. Dessa forma, podemos ter
uma rede tão complexa quanto quisermos, atuando em casa, em um carro, em um
edifício, em um hospital, em uma indústria, em toda uma cidade.

Ao pensarmos em nosso corpo, o que acontece quando damos uma topada, por exemplo?
Ou quando sofremos um corte? E quando ouvimos ou vemos? Nossos sensores avisam
ao cérebro, que processa a informação. Percebeu a potencialidade da união da
Inteligência Artificial com a Internet das Coisas?

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Computação em Nuvem

No início da computação, os chamados computadores de grande porte eram acessados


por terminais utilizados por usuários que compartilhavam os recursos de armazenamento
e processamento do computador. Com o passar do tempo, surgiram os computadores
pessoais (PCs) e as pessoas passaram a administrar seus próprios recursos, tanto de
espaço de armazenamento, como de processamento, bem como os programas
instalados.

Com a internet, em um primeiro momento, os sites ficavam armazenados em algum


servidor, assim como os bancos de dados e nossos e-mails. De uma maneira geral, os
dados fluíam muito mais da web para nossa máquina do que o contrário. Em geral,
carregávamos informações para a internet para enviar por e-mail. Passados mais alguns
anos, já tínhamos espaço de armazenamento na chamada nuvem, local onde guardamos
fotos, mensagens, agenda de telefone do celular etc.

O barateamento dos recursos e o aumento de velocidade e estabilidade da rede viabilizam


o uso de software que esteja instalado em algum servidor e não na minha máquina. Isso
permite que não sejam precisos recursos relevantes no meu computador, que passa a ser
uma espécie de terminal conectado em serviços com capacidades quase infinitas.
Estamos falando de computação em nuvem.

Sistemas Ciber- Físicos (CPS)

Os dispositivos inteligentes estão se sofisticando e tendo suas capacidades ampliadas a


baixo custo. Eles atuam no ambiente em que estão instalados, coletando informações
através de sensores ou operando modificações através dos chamados atuadores.

As redes sem fio de alta velocidade e de sinal 4G em conjunto com a Internet das Coisas
permitem a atuação colaborativa entre dispositivos, que podem operar de forma individual
ou em conjunto, estabelecendo um sistema.

A conjugação destes recursos torna possível que um ambiente seja virtualizado a partir da
criação de um tipo de computação em nuvem que gerencie a comunicação entre os
dispositivos instalados no ambiente físico de interesse e dispositivos externos.

Os chamados sistemas Ciber-Físicos (CPS) atuam promovendo a sinergia entre os


mundos virtual e físico em um tipo de colaboração que permite tanto o monitoramento
quanto a modificação remota do ambiente físico. Quanto maior a inteligência distribuída,
mais profundo será o conhecimento do sistema, possibilitando ações mais precisas.

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Em princípio, não há limitações para a aplicação dos CPS, já tendo sido utilizados nos
sistemas produtivos industriais, em hospitais, na gestão de eficiência energética, em
edifícios inteligentes, na agricultura e em sistemas de transportes, entre outras tantas
possibilidades. Em um nível mais complexo, os CPS atuarão na gestão das cidades
inteligentes.

A seguir...

Vimos que a engenharia vem modificando e moldando a civilização com suas conquistas
e realizações. Da Idade da Pedra até a Quarta Revolução Industrial foram conquistas
incríveis em todas as áreas, mas ela também causou muitos problemas, principalmente
ambientais.

No final do século XX, a preocupação com o meio ambiente atingiu níveis alarmantes e a
palavra sustentabilidade passou a fazer parte do vocabulário comum. Recuperar o meio
ambiente passou a ser um problema global.

O mundo segue dividido entre países desenvolvidos, em desenvolvimento e


subdesenvolvidos, mas até que ponto é possível dissociar o social do ambiental? Surge a
responsabilidade socioambiental, a engenharia se humaniza e, se a engenharia sempre foi
vetor de desenvolvimento, agora podemos imaginar que o desenvolvimento seja um
desafio dela.

Mas, afinal, o que pode ser considerado desenvolvimento? Para se desenvolver um país,
certamente precisa-se de crescimento econômico e geração de riqueza, mas, a medida do
desenvolvimento inclui indicadores sociais, uma vez que miséria e desenvolvimento não
se misturam.

No próximo módulo, vamos analisar as relações entre a engenharia e o desenvolvimento.

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VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. A história nos mostra que, desde sempre, o ser humano procura formas de facilitar seu
trabalho e incrementar sua produtividade. São as chamadas inovações tecnológicas que
modificam a forma de viver com suas novas ferramentas, equipamentos e processos. A
Engenharia Civil se desenvolveu antes da formalização da profissão e a Engenharia
Mecânica, através da máquina a vapor, tornou-se a base da Primeira Revolução Industrial.
Vimos também que podemos associar a Engenharia Elétrica à Segunda Revolução
Industrial e a Engenharia de Controle e Automação à Terceira. Essa busca pela
produtividade lançou as bases da Engenharia de Produção. Qual das opções pode ser
dada como referencial para o surgimento da Engenharia de Produção?

a) Como na Engenharia Civil, não houve um fato marcante, já que, desde a Idade da Pedra
Lascada, o homem busca produtividade nas suas atividades.

b) Surgiu de forma espontânea e natural, com as indústrias iniciais da Primeira Revolução


Industrial.

c) A base conceitual foi a publicação de Frederick Taylor, Princípios da Administração


Científica (The Principles of Scientific Management).

d) Surgiu conceitualmente com as ideias de Adam Smith, que pregava a livre concorrência
e a competitividade como base para a riqueza das nações.

Comentário

Parabéns! A alternativa C está correta.

O engenheiro mecânico Frederick Taylor, ao publicar Princípios da Administração


Científica em 1911, estabeleceu as bases conceituais para que a produtividade industrial
fosse tratada como ciência, fato que deu origem e sustentação científica para a
Engenharia de Produção.

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2. Após a formalização da profissão de engenheiro e com a proliferação das Escolas de
Engenharia, entramos em um período contínuo de desenvolvimento tecnológico, que foi
marcado por algumas inovações disruptivas e que, por isso, foi identificado como sendo
composto por quatro revoluções industriais. Dentre as opções abaixo, escolha qual a que
melhor se encaixa como o período em que as diversas habilitações de Engenharia
começaram a surgir:

a) Movimento natural a partir da propagação das Escolas de Engenharia.

b) O capitalismo e o livre mercado a partir das ideias de Adam Smith.

c) A máquina a vapor.

d) A energia elétrica, marco da Segunda Revolução Industrial.

Comentário

Parabéns! A alternativa D está correta.

A energia elétrica (segunda RI) trouxe diversas possiblidades e a sua geração se deu a
partir de motores a gasolina, de hidrelétricas e, mais tarde, de motores nucleares, por
exemplo, trazendo a indústria do petróleo, a nuclear, as telecomunicações, a eletrônica
etc. Dessa forma, as engenharias começaram a se multiplicar no período da Segunda
Revolução Industrial.

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DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO X CRESCIMENTO ECONÔMICO

A complexidade do tema desenvolvimento tem início no seu próprio escopo. No contexto


da Engenharia, a abordagem mais óbvia é a do desenvolvimento tecnológico, que mesmo
se não for mencionado explicitamente, é plenamente percebido.

De uma forma mais genérica, podemos pensar nos países desenvolvidos e nos chamados
países em desenvolvimento. A primeira coisa que vem na cabeça da maioria das pessoas,
ao pensar em um país desenvolvido, é se tratar de um país rico. Em sequência, temos que
pensar em desenvolvimento econômico e em crescimento econômico, que seriam formas
de entrar no clube dos desenvolvidos.

Você acredita que as inovações tecnológicas implantadas pela Engenharia


promovem o crescimento econômico?

RESPOSTA

Antes de responder detalhadamente a essa pergunta, precisamos levar alguns


fundamentos em consideração...

Para começar, o que pode ser considerado como uma inovação


tecnológica?

Vamos construir este conceito:

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Pode-se classificar a inovação em 3 dimensões:

1 2 3

Quanto ao objeto (produto Quanto ao impacto Quanto ao modelo de


ou processo). causado no mercado. negócios.

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Vamos imaginar inicialmente a inovação no âmbito de uma empresa. Parece muito claro
que uma inovação bem-sucedida possa trazer crescimento econômico para uma
empresa, uma vez que pode alavancar suas vendas e aumentar sua participação no
mercado.

E se pensarmos em termos de país?

Ao pensarmos somente no mercado interno, o reposicionamento de uma empresa no


mercado pode apenas redistribuir as participações dos concorrentes. Eventualmente, o
mercado pode até se ampliar, mas o que é fundamental para o país é criar uma
efervescência capaz de trazer investimentos externos e aumentar as exportações,
alavancando o crescimento econômico.

Agora, podemos responder positivamente.

As inovações tecnológicas são fundamentais para se promover o crescimento


econômico. E o desenvolvimento econômico?

Já vimos que o crescimento econômico é fundamental para o desenvolvimento


econômico, mas o salto do crescimento para o desenvolvimento é complexo, uma vez que
não é natural e normalmente depende de políticas de Estado para que seja acelerado.

COMENTÁRIO

Obviamente, existe uma série de acontecimentos que podem ser


desencadeados naturalmente a partir do crescimento econômico
que favorecem o desenvolvimento. O crescimento econômico
gera empregos e renda, o que aumenta o consumo, o bem-estar,
eleva a arrecadação de impostos e todos os índices que medem
o desenvolvimento podem melhorar, gerando uma tendência ao
progresso.

Ao pensarmos no complexo contexto brasileiro, que envolve dimensões


continentais e disparidades sociais gigantescas, seria necessário um período de
crescimento econômico de quanto tempo para naturalmente equilibrarmos
socialmente o país?

Muito difícil responder a essa pergunta, mas apesar da lógica desse raciocínio, fica claro
que, havendo o crescimento econômico, é preciso política de Estado que promova o
desenvolvimento, com investimentos em infraestrutura que favoreçam tanto a população
diretamente quanto gerem condições de sustentação para o crescimento econômico. Por
infraestrutura, entende-se saneamento, escolas, hospitais, estradas, portos, aeroportos,
habitação etc.

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Já podemos responder à pergunta positivamente, mas com ressalvas:

RESPOSTA

As inovações tecnológicas implantadas pela Engenharia


promovem o crescimento econômico, criando todas as
condições para o desenvolvimento do país, desde que haja
política de Estado adequada a este propósito.

Como podemos relacionar a Engenharia ao desenvolvimento?

Vimos que o mundo evoluiu ao longo da história e os países foram se desenvolvendo com
mais ou menos sucesso, de acordo com as inovações tecnológicas que implantavam.
Vamos pensar em uma missão hipotética de desenvolver o Brasil.

Segundo o nosso raciocínio, precisamos criar condições que favoreçam o surgimento das
inovações tecnológicas.

Quais são os nossos pontos fracos?

• Precisamos muito de engenheiros, de profissionais de informática, de pesquisa


científica nas áreas de Física, Química e Biologia e de pesquisa aplicada em
Engenharia e TI;
• Precisamos de políticas que favoreçam a inovação;
• Precisamos de cultura empreendedora e de políticas de incentivo.

PENSE NISSO

Muitos profissionais só pensam em emprego ou concurso. Os


dois estão escassos e não possuem o potencial transformador
da inovação. Quem emprega um engenheiro? Essa resposta é
fácil: Outro engenheiro. Se inundarmos o mercado de
engenheiros, precisaremos de muitas pequenas empresas de
sucesso.

Como podemos iniciar esse processo?

O começo e a sustentação certamente passam por uma revolução na educação que deve
ser iniciada no ensino fundamental. E quem não é criança? Nós que não somos mais
crianças temos que nos adaptar para sobreviver. Lembre-se de que em um mundo
dinâmico e de grandes mudanças, o sucesso está bem mais próximo da capacidade de
adaptação do que da força.

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Diante de uma visão macro, a Engenharia nos dá 3 grandes áreas de atuação dentro de
cada habilitação (ambiental, civil, computação, controle e automação, elétrica, mecânica,
petróleo, produção, química, telecomunicações etc.):

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Projeto de produtos, Atuação no ciclo de vida do Atuação na formação de


sistemas e processos empreendimento, inclusive novos engenheiros.
produtivos. em sua gestão e
manutenção.

Por enquanto, ainda não podemos formular a resposta, mas já sabemos que
precisamos reunir condições que favoreçam a formação maciça de profissionais
ligados à tecnologia para que possamos promover conhecimento e inovação.

SAIBA MAIS

Algum país já fez isso com sucesso?

Sim, a Coreia do Sul investiu massivamente na formação e teve


um retorno espetacular em tempo reduzido.

Talvez você já esteja até pensando em inovar, mas logo vem à cabeça a figura do inventor,
daquela pessoa genial que cria algo que vai revolucionar o mundo. No entanto, não é por
aí.

Em primeiro lugar, somos ou seremos engenheiros. Enquanto as pessoas fogem dos


problemas, eles são a nossa razão de ser, e caso não tenhamos nenhum problema a ser
resolvido, estaremos perigosamente sem serviço, principalmente nesses tempos de
inteligência artificial.

É necessário ter em mente que cada problema representa uma oportunidade, e


que um mesmo problema pode ser atacado de forma diferenciada, dependendo de
características regionais, seja por soluções inéditas ou por aperfeiçoamentos ou
adaptações.

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Acho que agora já conseguimos formular uma resposta.

RESPOSTA

Devemos inundar o país de profissionais competentes, criativos,


inovadores e empreendedores para que, a partir de uma
atmosfera propícia à inovação tecnológica, seja possível de fato
gerar e operar o desenvolvimento do país. Como não poderia
deixar de ser, trata-se de uma parceria entre a população e o
Estado com um objetivo comum. De qualquer forma, antes dessa
parceria acontecer, temos que fazer nossa parte e atuar com
esse espírito. Além de ser um bom caminho para o sucesso
individual ou de um pequeno grupo de pessoas, será mais uma
contribuição para que a transformação global aconteça.

Vamos continuar nossa conversa com outra visão a respeito da evolução e das inovações
históricas que já vimos.

ENGENHARIA SUSTENTÁVEL

Até aqui só falamos coisas boas da Engenharia?

Quase sempre, em mais de uma oportunidade, foi comentado o impacto ambiental gerado
pelo processo de mineração adotado pelo Império Romano. De forma simplória, podemos
dizer que, em uma história linda de mais de 2000 anos, maltratamos tanto o planeta em
aproximadamente um século, que nos assustamos e reagimos.

ATENÇÃO

As soluções de engenharia muitas vezes trouxeram problemas


novos, principalmente os relacionados aos impactos ambientais,
antes desprezados. Normalmente, os insumos são recursos
naturais que foram consumidos de forma quase compulsiva,
incluindo o desmatamento pela exploração da madeira.

A poluição atmosférica causada pela industrialização, pelos transportes e pela geração de


energia, e a poluição dos corpos hídricos causada pela falta de saneamento, pelos
resíduos sólidos e efluentes, a contaminação do solo e do lençol freático, todas essas
modificações impõem um reposicionamento do equilíbrio dos sistemas do planeta,
trazendo consequências indesejáveis a todos e que também impactam negativamente no
desenvolvimento.

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Os processos antigos devem ser revistos com o olhar do impacto ambiental,
transformando-se em novas oportunidades de inovação. Os processos novos devem ter
como variável relevante o impacto ambiental. Aspectos como consumo de energia para
produzir um material passam a ser um atributo de valor. As questões ambientais são
tratadas pela Engenharia cada vez com maior naturalidade pelas mudanças na formação
acadêmica do profissional engenheiro, mas também pela atualização da legislação.

PENSE NISSO

A engenharia consegue trabalhar com novos materiais, consumir


menos energia em seus processos, reduzir os desperdícios
racionalizando processos, gerar energia cada vez mais limpa,
mas não impede a ação de pessoas mal-intencionadas. Para
isso, é preciso a ação fiscalizadora do Estado. No entanto,
algumas vezes o próprio Estado pode estar no lado errado da
história, assim como nos casos em que as próprias empresas
estatais levam esgoto in natura aos corpos hídricos.

Falamos muito até aqui de Desenvolvimento e Engenharia. Quando acrescentamos a


temática ambiental e as questões de sustentabilidade, surgem o Desenvolvimento
Sustentável e a Engenharia Sustentável, que merecem reflexões mais aprofundadas.

QUALIDADE DE VIDA

Para fecharmos nossa reflexão, vamos falar do que mais nos interessa: A
qualidade de vida. Afinal, o que podemos esperar mais da vida do que viver bem?

É claro que viver bem é um conceito muito relativo e individual. Todavia, a qualidade de
vida é um parâmetro que deve ser medido para que possamos lutar para promover ações
que possam melhorar os indicadores, sejam eles quais forem.

A intenção de se medir é ter a possibilidade de comparação e de se implantar melhorias.


Existe um padrão internacional que define um indicador denominado IDH (Índice de
Desenvolvimento Humano) que permite que se chegue a um número que tem significado
associado ao grau de desenvolvimento humano e que permite a comparação e a
classificação dos países em 3 categorias: Desenvolvidos, em desenvolvimento e
subdesenvolvidos.

O IDH é calculado a partir de 3 dimensões:

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Expectativa de vida ao PPC (PIB per capita). Educação (relação entre


nascer. anos médios de estudo e
anos esperados de
escolaridade).

O IDH é uma composição normalizada das 3 dimensões, o que faz com que seja um
número entre 0 e 1. O processo é muito criticado por gerar distorções.

Em 2019, o IDH do Brasil foi 0,761, considerado alto, que coloca o Brasil em 79º lugar em
uma lista de 189 países.

Em um mundo cada vez mais globalizado e competitivo, a tecnologia é o maior recurso


que um país pode ter para se reposicionar no cenário. Não há receita pronta e cada país
deve encontrar seu caminho. Como certeza, apenas que é um processo que demora pelo
menos de uma a duas gerações e que passa pela educação e pela engenharia.

(Fonte: Uthai pr / Shutterstock)

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VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. A forma adotada para se medir a qualidade de vida da população é o IDH. Tendo como
meta aumentar o IDH, qual das ações abaixo é menos efetiva?

a) Investir em saneamento.

b) Ações para que todas as crianças tenham acesso à escola.

c) Ações para reduzir a evasão escolar.

d) Oferta de crédito para aumento do consumo.

Comentário

Parabéns! A alternativa D está correta.

a) O investimento em saneamento melhora em muito a questão da saúde e,


consequentemente, a expectativa de vida.

b) Crianças em idade escolar fora da escola impactam fortemente o indicador relação


entre anos médios de estudo e anos esperados de escolaridade.

c) Diminuir a evasão eleva a relação entre anos médios de estudo e anos esperados de
escolaridade, pois aproxima os números.

d) O incentivo ao consumo pela facilidade do crédito estimula a produção porque as


vendas aumentam, mas o efeito é localizado e provoca o endividamento das famílias,
tornando esta opção a menos efetiva dentre as fornecidas.

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2. Para que o Brasil experimente um período de desenvolvimento econômico relevante e
sustentável, precisamos, entre outras coisas, investir em inovação tecnológica para nos
tornarmos mais competitivos no mundo globalizado. Das opções abaixo, em qual delas há
menos necessidade de investimento?

a) Oportunidades para inovação (temas).

b) Cultura empreendedora.

c) Educação.

d) Legislação.

Comentário

Parabéns! A alternativa A está correta.

Como foi visto, a Engenharia é a solucionadora de problemas, de forma que cada


obstáculo pode ser visto como uma oportunidade de inovação. Se o engenheiro possuir o
olhar crítico para os problemas da sua região, oportunidades não faltarão. A Universidade
deve ser o elo entre as novas tecnologias e os problemas da sociedade.

Todas as outras alternativas exigem investimentos e tempo de retorno, pois:

• Mudar a cultura empreendedora pode custar mais de uma geração;


• Melhorar a educação exige mais tempo ainda;
• Mudar a legislação tributária e com possibilidades de incentivo a novas empresas
também exige tempo e recursos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vimos o papel da Engenharia na construção da civilização ocidental até o processo


evolutivo da industrialização atual e sua importância como agente estratégico de
desenvolvimento de um país.

Assim, podemos concluir que a Engenharia e o desenvolvimento são indissociáveis e que


os desafios são infinitos.

Que isso sirva como elemento motivador e de orgulho para que, ao longo de toda a
formação e atuação profissional, todos tenham uma postura ativa diante das
oportunidades de aprendizagem e de transformação da sociedade.

REFERÊNCIAS

ABMES. Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Engenharia. In:


ABMES, Brasília, 2019.

AGOSTINHO, M.; AMORELLI, D.; BARBOSA, S. Introdução à Engenharia. Rio de Janeiro:


Lexicon, 2015.

BURNS, E. M. História da Civilização Ocidental: Do homem das cavernas até a bomba


atômica– O drama da raça humana. Rio de Janeiro: Globo, 1975.

FIRJAN. Indústria 4.0. In: Firjan. Rio de Janeiro, 2016.

HOLTZAPPLE, Mark T.; REECE, W. Dan. Introdução à Engenharia. Rio de Janeiro: LTC,
2006.

INDÚSTRIA40. Agenda brasileira para a Indústria 4.0. In: Indústria40, Brasília (s.d.).

INSTITUTO DE ENGENHARIA. Indústria 4.0 pede engenheiro empreendedor e


comunicativo. In: Instituto de Engenharia, São Paulo, 2018.

MOTA, R.; FLORES, R. Z.; SEPEL, L.; LORETO, E. Método Científico & Fronteiras do
Conhecimento. Santa Maria: Cesma, 2003.

MOTA, R.; MACHADO, L.; DE PAULA, S. M. Bases Físicas para Engenharia. Rio de Janeiro:
SESES, 2015.

SACOMANO, J. B. et al. Indústria 4.0: Conceitos e fundamentos. São Paulo: Blucher, 2018.

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VOLPATO, Neri (org.). Manufatura aditiva: Tecnologias e aplicações da impressão 3D. São
Paulo: Blucher, 2018.

VERASZTO, E. V. et al. A Engenharia e os Engenheiros ao Longo da História. Brasília:


Cobenge, 2003.

ZANINI, A. Sistemas cyber-físicos e cidades inteligentes. New York: Developer Works-


IBM, 2015.

EXPLORE+

Para saber mais sobre os assuntos explorados neste tema, assista:

Inteligência Artificial – IBM, Discovery Brasil.

Para saber mais sobre os assuntos explorados neste tema, leia:

• História dos engenheiros e da Engenharia ‒ VERASZTO, E. V. et al. A Engenharia e os


Engenheiros ao Longo da História. Brasília: Cobenge, 2003.
• Indústria 4.0 ‒ FIRJAN. Indústria 4.0. In: Firjan. Rio de Janeiro, 2016,
INDÚSTRIA40. Agenda brasileira para a Indústria 4.0. In: Indústria40, Brasília (s.d.),
INSTITUTO DE ENGENHARIA. Indústria 4.0 pede engenheiro empreendedor e
comunicativo. In: Instituto de Engenharia, São Paulo, 2018.
• Sistemas Ciber-Físicos ‒ ZANINI, A. Sistemas cyber-físicos e cidades
inteligentes. New York: Developer Works- IBM, 2015.

CONTEUDISTA

Luiz Gil Solon Guimarães

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