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E. M.

d e M e l o e C a s t r o

A N T O L O G I A E F Ê M E R A
[poemas 1 9 5 0 - 2 0 0 0 ]

jQv,
© 2000 by, Ernesto M. de Melo e Castro

Direitos desta edição adquiridos pela


Editora Nova Aguilar S.A.
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C a pa e d ia g r a m a ç ã o

Karin M atuhy

C a pa

sobre imagem fractal


original do autor

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SIND ICA TO N ACIO N AL D O S ED ITO RES D E LIVROS, RJ

C35a

Castro, E.M. de Melo e


Antologia efêmera: poemas 1950-2000 / E. M. de
Melo e Castro. - Rio de Janeiro: Lacerda Ed., 2000

ISBN 85-7384-074-9

1. Poesia portuguesa. I. Título.

00-1494. C D D 869.1
C D U 869.0-1
d** I t y jn p l o m il 1 '^ / .........................

I J i i f a r i n n i l t ' ..........................................................

N ã o é ti J lo r .........................................................
P ro je c ç ã o r e a l.................................................
A interpretação da n atureza ..........................

d e Q u eda livre — 1 9 6 1 ........................................

R e fu ta ç ã o p ac ífica da b e l e z a ...................
C a ix a da e s p e r a n ç a ......................................
Sangue incenáeia p a la v r a s ..............

O c a is ...................................................
Q u atro paredes são meu c a n to ......
O s d a d o s ............................................
P r o m e t e u ..........................................
C o n j u g a ç ã o ......................................
Palavras são da lu z e da esperança

E n tr e o s o m e o s u l .....................................
N as arestas d a s e r r a ......................................
C a m in h o p ara o m a r ...................
O m a r é s u l ......................................
S u l ........................................................
C ic lo d e a m o r c í r c u l o ................................
C asa-casas ........................................................
Q u e d a l i v r e .....................................................
M u d o m u d a n d o ............................................
P ara a d e s tru iç ã o da d o r .............................

de Poligonia do soneto — 1 9 6 3 .........................

1 — conto quem abre um p o ç o .......................


3 — um linguajar no in terio r .........................
4 - “ E ” (L E IA -S E I) ..................................
5 — o objecto é em si m e s m o .........................
7 - S O N E S S O N E T I C U M ...................
8 — am or não sentim ento não tern u ra ........
19 — as v o ze s p e la v o z p o r esta v o z .........
21 — as casas têm quatro paredes .............................................................................. 78
22 — quando de todo em todo não p u d e re s ............................................................. 70
23 - M A U S O L É U ....................................................................................................79
26 - S O N E T O S O M E 14 X ............................................................................... 80
35 — m inha v o z é só tim b r e ....................................................................................... 80
36 — a m anhã é a tua melhor p a r t e ......................................................................... BO
37 — como quem se abre num p o ç o ........................................................................... 81
41 — como os óculos se inventam .............................................................................. 81
42 - N E G Ó C I O ........................................................................................................81
45 - S ............................................................................................................................... 82
47 — o objecto v ir tu a l ................................................................................................... 82
48 - Q U A D R A D O .................................................................................................. 83
54 - C Í R C U L O ......................................................................................................... 83
55 - T R I Â N G U L O ................................................................................................. 83
58 — U m homem que canta ....................................................................................... 84
59 — agora j á o sono não descança - olh os ............................................................ B4

de Versus-in-versus — 1 9 6 8 ............................................................................................. 85

Versus in -versu s .................................................................................................... 85


O b servem o s ...................................................................................................................... 85
U m a ch am a ...................................................................................................................... 85

Q u an do se d i z ................................................................................................................ 00
Cadeira cadeira .............................................................................................................. 00

L ivra-te de t i ................................................................................................................... 87

0 E n v o lv im e n to da M a té ria ................................................................................ 87
F ra g m e n to d o lir is m o ............................................................................................... 80
B lo c o b ra n c o — 3 ........................................................................................................80
R e d u n d â n c ia a b e r t a .................................................................................................. 89
3 v ersões a le a tó ria s ..................................................................................................... 90
1 te x to e 6 p o s t e x t o s .................................................................................................91
S em issérie .......................................................................................................................93
C o m b in a tó ria E x iste n cial ( in é d ito ) ................................................................. 95
A F o n te / A F r e n t e ....................................................................................................97

d e Á le a e v a zio - 1 9 7 1 .................................................................................................... 98

T e t r a k ty s ......................................................................................................................... 98
S éries ...............................................................................................................................101
U m pouco como um oco ............................................................................................. 102

S érie n u l a .......................................................................................................................102
M o d o d e a g i r .............................................................................................................. 103
R e la ç õ e s p e rig o s a s ..................................................................................................... 103
A v e rd a d e p r á t i c a ...................................................................................................... 104
D i á l o g o ...........................................................................................................................105
T u d o p o d e ser d ito n u m p o e m a ........................................................................ 105
S ilê n c io s ......................................................................................................................... 10/
F é n ix ............................................................................................................................... 10?
D e s c o n tin u id a d e ........................................................................................................10?
não me digas ja m a is que o vento sopra .................................................................. 108

e m ais esta e x p e r i ê n c i a ........................................................................................... 10?

d e Resistência das palavras — 1 9 7 5 .............................................................................. 109

I d e n tid a d e s ....................................................................................................................100
I n - s a io ............................................ .................................................................................112
C a n t o a n t o ..................................................................................................................... 1M
A n a ló g ic o .......................................................................................................................115
C o m p a c t o ..................................................................................................................... 115
4 p ro p o stas iguais d iferen tes ................................................................................ 115
É clo g a 3 ......................................................................................................................... 118
D o v a ria n te v a r ia d o .................................................................................................. 110

d e Cara Ih amas — 1 9 7 5 ................................................................................................ 121

abro .................................................................................................................................. 121


e de repente ...................................................................................................................... 122
am as-lhe a cara .............................................................................................................. 122

mais d if íc il ...................................................................................................................... 123


de r e d o n d o ...................................................................................................................... 124
colhe .................................................................................................................................. 124

cometa ............................................ ................................................................................125


C a ra lh a m a .................................................................................................................. 125
L isboa r o m â n t i c a ........................................................................................................126
O s erro s d e E r o s ......................................................................................................... 126
[de poli goni a do sonet o - 1963
P O L IG O N IA - qualidade de polígono
- c o n h ec im e n to vário e m últiplo
—de m uitas agonias

1. com o quem abre um poço


e quente se desdobra
ju n to dos objectos
com o quem vê e sobra

a obra se objectiva
em pele e seu volum e
com o qu em sente quente
do frio o frio lum e

vibrado poeta objecto


todo olhar só ferm ento
de tacto devorado

com o quem desinventa


o corpo nos objectos
e neles se dá e tenta

3. um linguajar no interior
de m im encubro tão d i-
ferente o soluço tão
um a disciplina que

tropeço no que peço


de m im no arco todo
neste m arco que m eço
de m etros e de lodo

feito estrutura des-


conheço o sentido que
ligo que esqueço

para ficar só mão


que vai ao fundo
para voltar ou não

4. “ E ” (LEIA-SE I)

cópula
(ac)tiva
solitária
ligação
livre
copulação
elo
entre

ele
e
ela

po
pul
a(c)ção

5. o objecto é em si m esm o
em sua form a avulta
com o a resposta boa
faz esquecer a pergunta

é descoberta toda
em si própria a vida
que o poeta penetra
sabe devora vira

fica m udo nu uno


ainda que integrado
ainda que soluçado

objecto indeterm inado


com o ho m em só e alto
na rua pequeno átom o

7. S O N E S S O N E T IC U M

ornipuri palente condurita


parladina sulnata infiliana
citronala contuta calacita
oropeta m aluna dastriana

tofural solipendo ordinfesto


apertindo vizantes plurinates
trefibiclo clinate biliestro
capileta sedulor fadiates

carm etam o m elane sinditoro


m endunfila cecultro anoritana
rozorates trem enfus copetoro
perunital com pluto lartendur
filofedito d ondoro com burnates
am ipluro sulim infiriadur

8. am or não sentim ento não ternura


não desejo não sexo não am or
am or nada concreto não os olhos
preso nunca no peito não po r certo

am or fascínio fuga sal sedento


não ângulo não vértice de vidro
não as ruas desertas pensam ento
am or não sentim ento não sentido

não am or não entrega nunca posse


a fuga porque não nada fragm ento
não am or po r am or nunca deserto

am or não violento não de vento


não am or desejado m ão de invento
am or sem pre de não de tem po a tem po

19. as vozes pela voz po r esta voz


arrepio de voz altura e tim bre
a voz p o r esta voz ou pelas vozes
polivoz de polígono sem fim

voz sonora cascata constelar


pó sereno de súbito agitado
poliedro de espuma pulm onar
pé veneno vital vitral de lado

as vozes as volutas as violadas


as vagas violetas sublinguais
lialumes de luz de voz de lago

velozes vi as vozes vezes vezes


cham am entos extintos de ficar
as vozes pela voz pelo lugar

21. as casas têm quatro paredes


mas há paredes de veneno
a nossa tem mais paredes
para protecção do invento

para este nosso abraço


quatro são poucas paredes
é preciso ocultar o espaço
do am or com verdade dentro
assim po r am or pedreiro
desta casa vou tecendo
com o bicho a seda do encanto

o tecto o chão envolvendo


o espaço m aior ficando
os dois libertos lá dentro

22. quando de todo em todo não puderes


p orque p od er n em sem pre é um a força
onde de m ão em m ão já não houver
os dedos sensuais fibrilas forcas

quando m uito brilhantes não os olhos


descobrirem o brilho p or mais nada
onde o cabelo lum e dor de dor
se entregar pele na pele desdolorida

quando um olhar não descobrir mas for


um espelho de línguas descobertas
um con to rn o de tornos apertados

abraço estreito no leve sono aberto


em beijos só de beijos situados
p or nada só no nada de um a flor

23. M A U S O L É U

MAU SO L EU
AU SO LEUM
U SO L EUM A
M A R S U PIA L

SOLEU MAU
O LE UMA US
L EU M A U SO
S O L ID O SAL

SOLE DO NO
EU MAU SOL
MAR SO L ID O

SAL M ORREU
MAR SO B MAR
M A U SO LÉU
26. S O N E T O S O M A 14 X

14 3 4 2
2 3 3 0 6
4 16 12
3 2 2 16

5 0 0 18
2 12 5 4
14 0 18
3 2 4 14

3 12 3 5
5 4 12 2
3 0 4 2 5

4 3 3 13
5 12 15
8 9 3 5 3

35. m inha voz é só tim bre


o resto é surdo e rouco
o sono ritm o rosto
os sentidos do avesso

m inha voz não sintaxe


função desarticular
o resto é circulação
noz - p o r dentro gestada

sai pela boca a troco


do oxigênio e da enxada
nasal praga m odulada

propaga-se em qualquer voz


diz o tudo e diz o nada
depois de dita se apaga

36. a m anhã é a tua m elhor parte


noite que inventas e concentra
verão de luz e sem pre
pólen chuva sedenta

m anhã m elhor és tu
sobressalto de vento
sorrindo à no ite a m eio

é tão rara a m anhã


com o am anhã será
a m ão hoje que in -
venta o sopro do teu beijo
in-toca a curva in-laça
o repouso do laço
n octu rn o do desejo

37. com o quem se abre nu m poço


e n u m poço só se devora
assim o poeta rasga
a boca do corpo agora

que é tem po de tocar


não nos objectos p o r dentro
mas expor deles cá fora
o que o poeta é p o r dentro

bicho anatôm ico que vendo


suas entranhas violadas
faça delas as violências

em que se sente tocado


e exposto ao sal do vento
em que se entenda levado

41. com o os óculos se inventam


de cada cor e feitio
o real se desorienta
m ar areia objecto rio

o problem a recom eça


quando alguém se lem bra e nasce
e pelos olhos dedos m eça
cor peso toque e frio

que pelas portas abertas


a m ente objectos difunde
flui o volum e e a estrada

onde a viagem term ina —esqueço


onde a prosa não canta - o verso

42. N E G Ó C IO

o ho m em que anda com um pau


nessas feiras é o retrato
do h o m em que não anda com um pau
e conhece só as feiras pelo olfacto

tal com o o hom em que é sincero


sabe m en tir com o coração
e dizer o verbo vero
com a mesma insinuação
de voz que se põe no acto
de con v encer sem ser notado
e procurando obscuram ente
o pau para bater no tacto

que é a im agem negativa


da vida im aginativa

45. S
0
B
R

E
V
1
V

E
N
T

í
G
NEO

47. o objecto virtual


está sem pre no deserto
tanto quando está longe
com o quando está perto

é sem pre u m objecto


não m aterializado
mãos de quem dividido
sem pre se dinamiza

tem a força em si próprio


tem a própria camisa
porta que para dentro

se abre e realiza
mas fica sem pre porta
objecto corpo ventre
48. Q U A D R A D O

quadrado cubo
quadrado cubo
quadrado cubo
quadrado cubo

cavalo asa
cavalo casa
cavalo olho
cavalo m alho

cavá-lo alho
cavalo m eio
cavalo dado
cavá-lo cheio

pré-esforçado
pré-esforçado

54. C ÍR C U L O

inútil sol aberto


flauta cam pestre fala
um rio passa perto
carro de serra cala

a linha inventa a casa


a voz infiltra o vidro
o gesto tenta passa
floresta vindo nesta

mão oval com o a seda


fios de enten der m udo
que se dá e desterra

todos os pontos são


distantes do seu fruto
m esm o o centro da terra

55. T R IÂ N G U L O

seco tal um
ronco eco oco
alvo com um la-
do lido longo
fechado por um
poro para pedra
liberto mas tão
livre logo louco

e tiro o touro
trago o triân-
gulo de gula

e sinto sede á-
gua e terra
que m e engula

58. U m h om em que canta


no m eio do cam po
acalenta um sonho
que se vê.

U m h o m em
que se vê
cantando
no m eio do sonho.

U m h om em
que se sonha
no m eio do que canta.

U m ho m em
que canta
e vê.

59. agora já o sono não descansa —olhos


abertos para —param as imagens —demais
são as imagens são as coisas —e
os olhos fechados - as paisagens
do sono que não pára —a fadiga
das coisas —o toque dos meus dedos
- imagens sobrepostas - lacunares -
verm elho azul desfeito —e os
altos contornos - o teu peso
essa única aresta da violência
de fecharm os os olhos —a cegueira
de ver —o som do sono -
a submissa revolta de entender
- a seqüência fechada - o abandono
[de v e r s u s - i n - v e r s u s

versos m versos
veros in versos
versus in versus
virus inversos
versus in versos
ver sós in versos
ver sós in veros
eros in torsos
verão in verno
veros in versus
versão in tersus
versos inteiros
vários in nervos
veros sin verso
versusin versus


observem os tinteiro lápis cadeira
objectos própria m antém qualquer
seja encontre posição coloque
apresentam -se sólidos água
expande volum e desejarmos
quando m em ória dilui atestar
m ergulho adorm ecidos eléctrica porém
cenas nunca recuperam lados
p enetrem relações m esm o no dia
descer velozes contornos depende
o tacto subtrai-se agora pão
com um continuava fora linguagem
pedra caneta lá cortar objectos
escrita mesa observem os a mão


um a chama não cham a a m esm a chama
há um a outra cham a que se chama
em cada cham a que chama pela chama
que a cham a no cham ar se incendeia

um nom e não n o m e o m esm o nom e


um outro nom e nom e que nom eia
em cada no m e o m eio pelo nom e
que o nom e no nom e se incendeia
um a cham a um nom e a mesma cham a
há um o u tro no m e que se chama
em cada nom e o cham a pelo nom e
que a cham a no nom e se incendeia

um nom e um a cham a o m esm o nom e


há um a outra chama que nom eia
em cada cham a o nom e que se chama
o n om e que na cham a se incendeia


quando se diz de um hom em
é alarme é arame
tanto se vê na onda
é volum e é velame
com o se cava lum e
é botão é botânica
quando se diz de pó
é pó população
é am ostra colhida
de significação
quando se olha a terra
onde cai o arame
o alarme frequência
a enorm e semântica
e o disperso vendo
no sol que cai ileso
é azul é verm elho
ilha de u m igual peso
ao lum e prego aceso
de cinza o m ar m etal
v erm elho de que teço
rosa não tem com eço


cadeira cadeira mesa mesa janela
janela 1 porta mesa mesa rádio
porta janela 2 cadeira copo
alto janela 1 mesa 2 mala

copo alto cortina janela 3 vela


estante porta 1 quarto quatro
lâmpada sem porta 5 ela
água flor mesa copo magro

cadeira cadeira nua braço


cama janela cama calor tela
livro ama livro sono laço
escuro escuro leve mesa vão
janela livre porta flecha
eu nada tenh o a tua fria mão


livra-te de ti que peso m orto
são tão cheias as coisas só de coisas
livra-te das coisas elo ouro
tão vazio de ti com o não julgas,
vazio de navio e de pavio
aceso ir ao fundo só contigo
mais repleto de peito que desvio
o navegar que negas e que digo.
as coisas são o m edo mais as coisas
as subtis ligações lim o liame
e os dedos estes calos os enredos,
vai esm agar-te o m u n d o dos com etas
dos que com em as coisas mais abjectas
o livrar-te de ti o odiar-te.

0 Envolvimento da Matéria
m atéria m ater artéria
m atéria terra aérea
m atéria m ote m ortéria
m atéria areia matriz
série sinal cicatriz

cicatriz m atéria m ater


artéria m atéria terra
aérea m atéria m ote
m ortéria m atéria areia
m atriz série sinal

sinal cicatriz m atéria


m ater artéria m atéria
terra aérea m atéria
m ote m ortéria m atéria
areia m atriz série

série sinal cicatriz


m atéria m ater artéria
m atéria terra aérea
m atéria m ote m ortéria
m atéria areia m otriz
Fragmento de um Mapa
do Lirismo Português

onde lágrima
lá rima
com ama
sobra
um g de
gosto
gana
tem
um ri
de riso
am argo
onde
am ar
é gosto
gasto
e o
am or é só
a lágrima
derram a

Bloco Branco - 3

de que que de
de que de de de que
de de que que que que de de
de que de que de de que que
que de de que
que deque de dede que que
que dequede dequ equ e de de de
de quê de quem
de que dá dá deque que
de queque de qu equeque de dou
dou dou dou d o de do dou de que
dedo que doido que
de que de que da dado dou
de que d outo de que dourar
durar dura deque dentro deque de
de que te dar que dar
queda de que de que que
dar
Redundância Aberta

1. não há arte sem hom em


não há h om em sem arte
não sem arte há hom em
não sem h o m em há arte
não sendo h om em a arte
não sendo arte o h om em
vai sendo hom em a arte
vai sendo arte o hom em
vazando não o h om em
vazando não a arte
vai sem h om em a arte
vai sem arte o hom em

2. não há m orte sem hom em


não sem h om em há m orte
não há ho m em sem m orte
não sem m orte há hom em
não sendo h o m em a m orte
não sendo m orte o hom em
vai sendo ho m em a m orte
vai sendo m orte o hom em
falando não a m orte
falando não o hom em
vai sem h o m em a m orte
vai sem m orte o h o m em

3. não há m orte sem ontem


não sem on tem há m orte
não há on tem sem m orte
não sem m o rte há on tem
não sendo on tem a m orte
não sendo m orte o ontem
vai sendo on tem a m orte
vai sendo m orte o on tem
voando não a m o rte
voando não o on tem
vai sem o n tem a m orte
vai sem m orte o ontem

4. não há m orte m ãe o ntem


não m ãe ontem há m orte
não há on tem m ãe m orte
não m ãe m orte há o ntem
não v endo on tem a m orte
não vendo a m orte ontem
vai vindo o ntem a m orte
vai vindo m o rto o ontem
voltando não da m orte
voltando não do ontem
vai m ãe on tem a m orte
vai m ãe m orte o ontem

3 Versões Aleatórias

1. rural

nunca não será


a indiferença um a
floração séria

a navegação é pobre
par a par a vinha
vento volta asa

e sei de frade
que estudou nos
m ilhos os atalhos

da uva garra amiga


ferm entação do pé
envolve
o m osto
malvasia

2. clínico-filosófica

história não será


é a doença
inflamação artéria

o coração é nobre
pára no pulso a linha
tem po que solta casa

e dei à m orte
o que estacou
nestes m ilhões de olhos

a obra agora antiga


um a ilusão até
envolve
o rosto
desafia
3. financeira

nunca tao seria


im prensa na
infiltração série

sonegação é obra
para im posto m arinho
renda rota rasa

a lei da fraude
foi estudada nos
m ínim os detalhes

sua garantia
program ação do até
controle
escudo
nostalgia

1 Texto e 6 Postextos

texto — am or tecendo am or
am ortecendo a m orte
am ar-te sendo am or
am ar-te sendo a m orte

a m orte sendo a m orte


am ar-te sendo am ar-te
am ortecendo a m orte
am or tecendo am or

postextos

1.
(interfe- am ar tecendo am ar
rência do am artecendo a m arte
“a” sobre am ar-te sendo amar
o “o ”) am ar te sendo a m arte

a m arte sendo a m arte


am ar-te sendo am ar-te
am ar tecendo a m arte
am ar tecendo am ar
2.
(interfe- ó m orte sem m o to r
rência do om ortecend o o m orte
“ o ” sobre o m o r-te sendo hu m o r
o “a” , o m o r-te sendo o norte
com va-
riações) o m orte sendo o m orte
o m o r-te sendo o m o r-te
om ortecen do o m orte
o m orte sem tem or

3.
(interfe- em er tecendo em er
rência to - em ertecende e m erte
tal do “ e” em er-te sende em er
com um a em er te sende e m erte
variação)
e m erte sende e m erte
em er-te sende em er-te
em ertecende inerte
em er tecende em er

4.
(desvoca- m r t c nd m r
lização) m rt c nd m rt
m r t s nd m r
m r t s nd m rt

m rt s nd m rt
m r t s nd m r t
m r t c nd m rt
m r t c nd am or

5.
(descon- a o e e o ao
sonanti- a o ee o a o e
zação) a a e e o ao
a a e e o a o

a o e e o a o e
a a e e o aa e
a o e e o a m orte
a o e e o ao
6.
(varia- h o m em tirando o m ar
çòes ím an tocando harpa
aleatórias) am anhecendo torpe
am ante sendo am ar

o m uro canto m ar

h u m o r tocando a m orte
o m ar tecendo o mar
o m orto canto m uro
am ar tocando a m orte

Semissérie

sem eadura se m e adora


semiama se m e ama
sem idura sem eadura
semiótica semevês
semivesga sem ipura
semicasa m inha vasa
sem igente toda a gente
sem iam em sem iquente
semirami semirrada
semialha sem itudo
sóm etade sum idade
semidado semivisto
sum idice semidisto
semilado semigesto
sem inado sem inu
sem ineste seminaste
semissérie semiséria
sem iganho semigasto
semipasto semigalho
semigalha sem icone
sem icone silicone
semivalha semivalho
semivelha semivala
semilava sem irrelho
sem ioco sem iporco
semielo semiolo
semialo sem ibolbo
semibala sem ibolo
semivasto semicalo
semifesta semigoso
emisama misecama
em isdura m ordedura
em isótica entrem ês
emisvesga emisfura
emisrasa emisfério
em isgente em istério
emislasa emiscasa
em istade amizade
emistalo em isdado
emisdisto em isdito
em isdice emisrisco
emisfarto em iszero
emiséria emissérie
em isgero em istolo
em isoco em islodo
emistaca em ístico
emislaca em isturo
emisfaca em isduro
em isnário em ispuro
sem eouves sem iovo
semicouves sem ipovo
semicomes semiavos
semiolhos semiolos
sem iquito sem iquipa
semifolha semibola
sem icobre semi vinho
semiata sem ilinho
misevale miseléria
misecena misevelas
m isantena miseela
m isepena m iseéria >
m iseaérea semisséria
miseária m iserérie
m isenobis seminós
semi trato m iserato
miserelas sem irérie
miserolas semiunhas
miserulisses semiceroulas
sem irulado em isenhoras
em isticado semiveado
m iserunhelas fungi violas
sem ioam a em istodam a
sem iotreta profeoeta
sem iopreta em iscolor
semisepais emispaís
semiofase emisfarol
m iserato em ister
em isratossem irradom iserrir
Combinatória Existencial

m atriz sígnica m atriz verbal

A B A V ID A M A T A -M E
C D O A M O R IM O L A -M E
E F A N O IT E O F U S C A -M E
G H A R A Z Ã O D E SO L A -M E

prim eira série com binatória

ABA ADA AFA AHA


A BC ADC A FC AHC
ABE ADE AFE AHE
A BG ADG A FG AHG

CBA CDA CFA CHA


CBC CDC CFC CHC
CB E CDE CFF CHE
CBG CDG C FG CHG

EB A EDA EFA EHA


EBC EDC E FC EHC
EBE ED E EFE EHE
EBG EDG E FG EHG

GBA GDA GFA GHA


GBC GDC G FC GHC
GBE GDE GFE GHE
G BG GDG G FG GHG

desenvolvim ento verbal

a vida m ata-m e a vida


a vida m ata-m e o am or
a vida m ata-m e a no ite
a vida m ata-m e a razão

o am or m ata-m e a vida
o am or m ata-m e o am or
o am or m ata-m e a noite
o am or m ata-m e a razão

a noite m ata-m e a vida


a noite m ata-m e o am or
a noite m ata-m e a noite
a noite m ata-m e a razão
a razão m ata-m e a vida
a razão m ata-m e o am or
a razão m ata-m e a noite
a razão m ata-m e a razão

a vida im ola-m e a vida


a vida im ola-m e o am or
a vida im ola-m e a noite
a vida im ola-m e a razão

o am or im ola-m e a vida
o am or im ola-m e o am or
o am or im ola-m e a noite
o am or im ola-m e a razão

a n oite im ola-m e a vida


a n oite im ola-m e o am or
a noite im ola-m e a noite
a noite im ola-m e a razão

a razão im ola-m e a vida


a razão im ola-m e o am or
a razão im ola-m e a noite
a razão im ola-m e a razão

a vida ofusca-m e a vida


a vida ofusca-m e o am or
a vida ofusca-m e a noite
a vida ofusca-m e a razão

o am or ofusca-m e a vida
o am or ofusca-m e o am or
o am or ofusca-m e a noite
o am or ofusca-m e a razão

a noite ofusca-m e a vida


a no ite ofusca-m e o am or
a noite ofusca-m e a noite
a noite ofusca-m e a razão

a razão ofusca-m e a vida


a razão ofusca-m e o am or
a razão ofusca-m e a noite
a razão ofusca-m e a razão

a vida desola-m e a vida


a vida desola-m e o am or
a vida desola-m e a noite
a vida desola-m e a razão
o am or desola-m e a vida
o am or desola-m e o am or
o am or desola-m e a noite
o am or desola-m e a razão

a noite desola-m e a vida


a noite desola-m e o am or
a no ite desola-m e a noite
a n o ite desola-m e a razão

a razão desola-m e a vida


a razão desola-m e o am or
a razão desola-m e a noite
a razão desola-m e a razão

(outras séries com binatórias são possíveis)

A Fonte / A Frente

a m inha fonte é a probabilidade


a fronte a prova a bílis a idade
o tem a fruto vem de não saber
antena frente a prova m ão subir
tanto v ento vulcão a íris ver
o tenaz p rocurar idade rir
a m inha frente é tudo o que vier
[de ál ea e v a z i o - 1971]
álea: a lei do acaso
o total das probabilidades
vazio: talvez o nada sobre que se funda a linguagem
álea e vazio: as probabilidades do dizer

Tetrak tys

1
acaso m e construo no plural unidade
um e só u m p or um o ego sol
igual a u m o eu alado ergo
u m com o um o u co m o vário azul
um e mais um , mais másculo o mastro
um m enos um m enos m atéria solo
em todos os fragm entos u m fragm ento
em todos os totais u m duplo pólo
que nos lim ites coisas bebo m el
eu que n u m acto gesto m e diverso
e no sexo que entro eu único m e abro
com o flor e fulgor u m cravo jacto
que nos fragm entos éguas o u tro m e dissolvo
e m e perco nos dados único absorvo

2
noite dia braços direito esquerdo
a lei quase sim étrica da m ão
dois são os olhos lados m edo
claro escuro u m dois o sim o não
o que dói o que dá desequilíbrio
u m que renasce igual um qu e destrói
ou em cim a ou em baixo as m etades do ébrio
os espelhos os gêm eos os amantes
o eu o o utro o instável presente
a curva o recto o depois e o antes
dois são agora aqui neste m o m en to
um que é u m com o se encontra ausente
dois que é dois e se conta p o r dentro

3
tal vez era um a vez inês talvez
em três talvez talvez talvez
um a vez que o u m se inclina para o três
tal com o o três se decom p õ e em três
e o u m se parte em três talvez
m ultiplicados todos cada vez
p o r seu talvez dividido por três
ou talvez a raiz de três talvez
ou talvez a raiz de três inês
ou a raiz talvez é só talvez
p o r todo o u m dividido em talvez
n o ar que vês em tudo o que não vês
da som a arbitrária do invés
do te m o r do terro r ou do am o r talvez

4
quarto quadrado o cubo a espera
as paredes quatro as portas quatro
as janelas fechadas quatro terra
estrutura do círculo o cubo da esfera
quatro im perfeito quadro quebro
o triângulo aberto o quatro encerra
quatro quadrante quadratura quarto
a parede do fundo o m uro o berro
sobre o plano invisível do quadrado
quatro os olhos no quarto descoberto
a mesa a casa a liberdade o erro
quatro p o r quatro a m elodia para
a força a forca a faca a festa
quatro ventos os quatro apocalipses

5
o grito o grito o berro o urro o grito
im potência de um o berro o grito
im potência de cinco o grito o berro
cinco sinais de vida o berro o urro
a m ão o grito a sim etria o dez
a prim eira recusa o grito o grito
cinco interrogações irrespondidas
o u rro o berro o grito o uivo o grito
cinco gritos de nada cinco acasos
cinco oceanos no espaço finito
o berro o u rro o berro o grito o uivo
o erro o oiro o quebro o rito o vivo
cinco dedos sem m ão cinco palavras
o uivo o u rro o grito o berro o digo

6
ígneo fogo de d entro do fogo
íris ovo de d en tro do ovo
seis o nov o n o ventre do novo
mais u m ano no vento do ano
fogo dentro do novo no mais
ovo ventre do ano do ígneo
novo vento no fogo da íris
ano dentro do ovo do seis
seis do sexo no eixo do ar
íris rosa do centro da luz
ígneo fogo do ventre do vácuo
ano espaço do dobro do cubo
centro ventre no dentro do vento
seis no seis no eixo do sexo

7
sete pintar de pintar sete
sete cavalos a correr leste
sete visões do luar sexto
sete mares para m orrer este
sete cabos a virar oeste
sete olhos para ver ver-te
sete aves a voar a peste
sete luas a arder deste
vezes sete sete vezes gesto
vezes on tem vezes hoje certo
vezes sete vezes vezes sete
vezes ver sete seteiras sete
setenta setas sete sete sete
etecetera etecetera etecetera

8
o gosto angústia não sem gosto
o desgaste do gosto desgostar
oito gotas de gozo gota a gota
na garganta contida no gostar
o olfacto o silêncio e um suor
nem oito sons em surdo ressoar
apenas o desgosto na garganta
apenas a angústia de gostar
a esgotar o gosto a dor do gosto
o húm ido calor o co n to rn o do ar
o escuro cair do tacto n o tocar
oito corpos de zeros sobrepostos
m odelados de nadas circulares
oito olhos finitos para dar

9
não. este espaço não sei já revelar
que perm anece estranho sob os pés
e que sobre a cabeça se distende
o nde a m em ória até se não consente
não a m em ória nova da m em ória
mas a que p o r si se m ultiplica e pisa
a raiz nova nove da m em ória invés
do que p o r si só se interioriza
o u a m nem ónica água contínua
n ove vezes lem brada e esquecida
porqu e em todos os passos cada vez
a d or do inventar se faz cum prida
não de novo nove vezes nem de mais:
não falo não oculto sou sinais

0
neste buraco vivo uivo
o vazio de uivar o vazio
onde todo o vazio se esvazia
e o uivo fica vivo
neste buraco uivo surdo
sem u m som que seja para ouvir
desde um cavo sentido
desde um alto ruído
de m uros a ruir
neste buraco rôo ronco
um uivo rouco
de roer as raízes
ovo oco do todo
nud o nó

Séries

tu que serves és servido com es


tu que com es és com ido cavas
tu que cavas és cavado m orres
tu que m orres já és m o rto matas
tu que somas és sum ido sabes
tu que sabes és sabido sobes
tu que olhas és olhado cabes
tu que foges és fugido foge
tu que paras és parado para
tu que voltas és voltado vácuo
tu que berras és bezerro burro
tu que pertences és pretenso tanso
tu que recusas recusado usado
tu que não usas és usado velho


um p ou co com o um oco
um dente com o um ente
colosso com o u m osso
u m com o com o u m coco

um p ou co com o u m louco
um osso com o u m osso
u m ente com o u m rente
coloco com o u m oco

um passo com o um aço


um poço com o um osso
um visto com o um isto

um duro com o um urro


um razão com o u m não
um não um não u m não

Série Nula
nada m e diz esta paisagem terra
p orq ue de terra sou eu feito água
p orq ue de água sou eu feito árvore
po rq u e de árvore sou eu feito terra
po rq u e de terra sou eu feito gás
p o rq u e de gás sou eu feito nuvem
p orque de nuvem sou eu feito sol
p orq ue de luz sou eu feito dia
p orq ue de dia sou eu feito som bra
p orq ue de som bra sou eu feito gesto
p o rq u e de gesto sou eu feito instante
p orq ue de instante sou eu feito am or
p orq ue de am or sou eu feito nada
p orq ue de nada sou eu feito espaço
p o rq u e de espaço sou eu feito m edo
p o rq u e de m edo sou feito m entira
p orq ue m entira sou feito de tudo
p orq ue de tudo sou eu feito nunca
p orq ue de nunca sou eu feito mesa
porqu e de mesa sou eu feito barco
porqu e de barco sou eu feito verm e
p o rq u e de verm e sou eu feito deus
p orq ue de deus sou eu feito de adeus
porqu e de adeus sou eu feito ho m em
p o rq u e de h o m em sou feito fragm ento
p orq ue fragm ento sou eu feito aqui
Modo de Agir
textualm ente teço esta teia de traços
m ensualm ente m eço esta m eia de maços
virtualm ente venço esta veia de vasos
o utonalm ente oiço esta onda de ossos
untualm ente u n to esta u m a de usos
actualm ente ando esta água de asas
p ontualm ente peso este peso de passos
bestialm ente bebo esta broa de beiços
factualm ente faço esta festa de factos
naturalm ente nasço esta norm a de nacos
literalm ente ligo este leito de laços
casualm ente caso esta coisa de cacos
intualm ente incho esta íngua de ínvios
ritualm ente rim o esta rim a de risos
quantualm ente queim o este quantum de quase
jesualm ente ja n to esta ju n ta de jazz
xessualm ente ergo este elo de eros
sensualm ente sou este senso de soros
gestualm ente gero esta gama de gozos
zenualm ente zuno esta zona de zenes
dem oalm ente dou esta data de dados
heteralm ente h erdo esta horda de horas

Relações Perigosas
Pai M ãe Filha Filho
A vô Avó T io-avô A vó A vó
T ia T io T ia-avó Sobrinho
P rim o P rim a Irm ã C un hada Pai
M ãe Esposa N e to N eta Filho
Avô Irm ão Prim a segunda N o ra
C oncunhado C oprim os Enteados
Afilhado S o brin ho -n eto Irm ão
S obrinho Filho M arido Esposa N eta
Trisavô G êm eos Bisneto Afilho
Padrinho T rin eto B itio-avô Padrasto
Sogro C otia Pai
C o -irm ão T ripai Bifilho A m arido
T etran eto C om padrasto C o m u lh er
Trifilho Apai P rim o C oncunhado
T ritia-avó C obisneto T rin o ra A parente
B iprim a Trim adrasta T etratia
T etrafilho C opai T etram ulher
F ilhoneto Filha P enta-m ãe
A Verdade Pratica

estes lugares não são lugares


estas casas não são casas
estes mares não são mares
estas asas não são asas

estes lugares não são casas


estas casas não são mares
estes mares não são asas
estas asas não são lugares

os lugares não são estes lugares


as casas não são estas casas
os mares não são estes mares
as asas não são estas asas

as casas que são lugares


os mares que são casas
as asas que são mares
os lugares que são asas

são os lugares que são lugares


são as casas que são casas
são os mares que são mares
são as asas que são asas

não são as casas que são lugares


não são os lugares que são asas
não são as asas que são mares
não são os mares que são casas

são as asas que são casas


são os mares que são lugares
são os lugares que são asas
são as casas que são mares

são estes ares que são lugares


são estas casas que são asas
são estes lugares que são mares
são estas asas que são rasas

e estes lugares são aqueles lugares


e estas casas são aquelas casas
e estes mares são aqueles mares
e estas asas são aquelas asas
Diálogo
eu não posso dizer o que não quero
tu não podes dizer o que eu quero
eu só posso dizer o que só quero
tu só podes dizer o que eu não quero

eu não digo p o d er o que não posso


tu não dizes que podes o que queres
eu digo o que não posso o que não quero
tu dizes que não podes que não queres

eu quero que não posso o que não digo


tu queres que não dizes o que podes
eu quero o que não quero o que digo
tu queres o que não podes o que dizes

eu não quero o que digo e o que posso


tu não queres dizer o que não podes
eu nem quero p o d er o que não digo
tu nem queres p oder tudo o que podes

Tudo pode ser dito num Poema

1) propõe-se o seguinte m odelo

em presença
acaso A é B de A (ou de B, ou de C , etc.)
na ausência

2) A e B são um par de contrários

exemplos:
tudo - nada
bem - mal
alto - baixo
belo - feio
preto —branco
etc. etc.

3) A e B são substantivos ou pronom es

exemplos:
h o m em —deus
arma —braço
casa —fogo
am or —vento

eu — tu
tu - ele

etc. etc.
4) C ê aleatório

5) escolha as suas palavras e desenvolva o m odelo segundo um a regra com binatória

6) estude atentam ente as proposições resultantes

7) não suspenda a sua pesquisa: tudo p ode ser dito n u m poem a

EXEMPLOS

acaso tudo é nada em presença de tudo


acaso nada é tudo em presença de tudo
acaso tudo é nada em presença do nada
acaso nada é tudo em presença do nada
acaso tudo é tudo em presença de tudo
acaso tudo é tudo em presença do nada
acaso nada é nada em presença de tudo
acaso nada é nada em presença do nada

acaso tudo é nada na ausência de tudo


acaso nada é tudo na ausência de tudo
acaso tudo é nada na ausência do nada
acaso nada é tudo na ausência do nada
acaso tudo é tudo na ausência de tudo
acaso tudo é tudo na ausência do nada
acaso nada é nada na ausência de tudo
acaso nada é nada na ausência do nada

acaso tu és tu em presença de ti
acaso tu és tu na ausência de ti
acaso tu és ele na presença de ti
acaso tu és ele na ausência de ti
acaso ele é tu na presença de ti
acaso ele é tu na ausência de ti
acaso ele é ele na presença de ti
acaso ele é ele na ausência de ti
acaso tu és tu na presença dele
acaso tu és tu na ausência dele

etc.
Silêncios
esta em oção seja total ou não
voz desdobrada desde o peito o u não
para além já de si sinal ou não
ou para já palavras únicas ou não
ou não palavras já só de som ou não
ou este grito no lim ite do som
ou a voz poliedro ou não ou não
e o lim ite do som do sem sentido ou não
e o tem po to ntura ou um a água ou não
o u não a mesma onda ou já quebrada a mão
ou o não desta m ão no traço gesto ou não
e o ouvir o olhar este gostar ou não
o u o partir ficando para voltar ou não
o u o m eio do m eio ou já silêncio ou não

Fénix
procuro a pena mas a pena é pato
que n u m bico de tinta se tortura
e esfera que roda na tontura
de um a letra difícil e que m ato

a pena é arm a e ama quem a usa


esferograficam ente ou só carvão de lápis
o sangue negro da caneta é rubro
com o u m sonho de rosas que se abusa

neste papel espelho narciso é filiforme


envolvido de dedos e impulsos
a perturbar a folha do plátano o u to n o

e a escrita surge em água ou animal


que foge pelo espaço dos seus usos
e se nega na entrega de um sinal

Descontinuidade
se todas estas árvores são árvores
aquelas árvores são árvores tam bém
mas eu não sei se as árvores são só árvores
ou se as árvores são pedras tam bém

ou se as nuvens são árvores ou casas


ou se as árvores são bichos ou to rren te
ou se a água não é sólida asa
ou as árvores animais e a pedra gente
p o rq u e nada que diz esta paisagem
está nos vales nas pedras ou nas serras
que se m ovem ao longo da viagem
das árvores das pedras e da gente

se todas estas pedras são árvores


se todas estas árvores são gente

não m e digas jam ais que o vento sopra


p o rq u e o vento não sopra nunca mais
que quando sopra o vento o que sobra
é o vento que sopra ainda mais

diz-m e antes que sopra o ven to apenas


quando o ar se aquieta ao m ovim ento
do que passa no ar m o to r de penas
ou o sopro co ntínuo deste vento

ou não m e digas nada nunca mais


que não sopra ou que sobra m ovim ento
que não sobra ou que sopra sem pre mais
ou diz-m e apenas só que és tu o vento

porque o vento que sopra se condensa


no nosso respirar que se condensa

e mais esta experiência se condensa


quanto mais esta experiência se
em cada cada quanto quanto mais
esta experiência se condensa se

e m e leva a colocar n u m só espaço


quanto nu m só espaço se condensa
quando a som a do todo não é tudo
que no fragm ento sobra e se condensa

e que nesta experiência se contém


em gotas em partículas em dança
quanto mais se condensa esta experiência

quanto mais n o quando se condensa


quanto mais se contém esta prem ência
quanto mais dolorosa esta experiência
[de resistência das palavras - 1975]

Identidades

(Para m eu Pai m orrendo)

1. e que tal no m e não existe é porta


n em que tal po rta se existisse é terra
ou que tal terra se chegar é peso
com o tal peso se pesar é gás
m esm o tal gás se o respirar não pulsa
nem esse pulso é ritm o pulm onar
ou só da célula o lento desfazer
com o fazer a terra ou refazer o ar
m esm o o nde o ar já é inútil ser
nem já o ser é sufocado ou porta
com o não há som bra nem nom e
que o escrito no sobre do não há

2. só circular a recta se cam inha só


o directo percurso insensível e recto
que na curva circula pelo pulso
ainda que do pulso já liberta
tanto se volta à volta em cada ponto
que se fecha p o r si com o se aperta
ou o tem po em cada instante ou nulo
na revolta da volta que se incerta
ou inscreve no lapso que em si gera
tanto o curso do braço tanto o vulto
se eclipsam de si em luz aberta
fica a escrita esférica da espera

3. a custo se apercebe a dureza das coisas


já talvez m esm o as mãos não têm dedos
ou os pés não sustentem nem cam inham
nem o sexo se filtra dos silêncios
tanto os ácidos com em com o as vértebras
ou as várias visões se conciliam
nem o susto se m ede pelas asas
lagos m esm o ou im em ória vendo
onde os inventos já não adivinham
pelos sextos sentidos dos incêndios
tanto os palácios do rm em os insectos
o u acordam percebem ilum inam
4. a substância desfaz-se nada em sub
tal o estar sujeito se sublima
em não saber em sobra sem sabor
em detritos detidos pela ausência
em dejectos objectos ou abjectos
adjectivos directos indirectos
subjacentes em aqui jaz não sente
os extrem os sublimes da expressão
do m istério não visto pela quím ica
sobre a final m olécula equação
nem a m ím ica m ácula do gesto
que se ergue no ar que não entende

5. inaugural senil somisolência


variante incontida filoxera
subtil tecedura texto breve
sondifundo perfum e om niausente
inaudível acorde imastigável
co ntu n d en te intacto cortar
acordar para onde para aquém
onde lá é cá ou já será
o que passa varrendo variante
do praticável im po tente olhar
o nde as formas são setas cervicais
incertas inconform es oculares

6. que nível superfície é o equívoco


o aqui vago na voz de não ouvir
a secura do eco no ouvido
a recusa em itida pelo som
da fala consum ida
já a sobre razão infra m otivo
o círculo dos altos e dos baixos
a m edida da voz
o inaudível
nível
ainda
vivo

7. devo fazer-te texto


se não tanto não posso
com o queria revolver-te
na terra e só na terra
desperto te encontrar
que disperso na escrita
te conduzo onde não mais te posso
fazer ou não fazer
ouvindo o oxigênio entrar-te na garganta
e sair destruído em m inha mão
deve o texto ser terra
e a terra teia a construir-nos

8. sabias não sabias - ignorava


tu vias ou não vias - eu nem tanto
comias não comias - devorava
cantavas não falavas - desouvindo
citando as soluções - ali ausentes
tu querias - eu não queria eu não queria
dormias não dormias - noite ou dia
o que eras não eras - perguntando
dizias não dizias - eu dizia
reage mas reage - não podias
esgotando-te o gosto - o onde o quando
só o tem po passava - só morrias

9. é a água em que estás a outra dim ensão


do possível diálogo n em ainda se nota
o código inventado para esta ficção
se nada m e disseres ou for m ensagem
a ênfase no não o sinal é o m esm o
que o contrário final de um a viagem
ou p o r outros sinais e emissão
é a serena verde vaquidade
sem a conotação verde verdade
na recta linha seca desenhada

10. as portas estão abertas mas fechadas


de quantas direcções se com ponentes
as vozes ditas cegas derivadas
das mais várias e últimas correntes
m ovim entos sistemas colunatas
olhares cruzadas dedos se dizentes
na procura dos erros e dos m edos
dos dias altos do alvor doentes
o u as partes partidas dos segredos
se procuram em m odos divergentes
nos silêncios sulcados e marcados
em faces confusão equivalentes
nas línguas m udas claras e faladas
as águas portas paradas e correntes
In-Saio

tonus
poesia m u d o u de ------- .. . .
r tonalidade

expressão . , „
Passou d a ----------------do eu do Poeta
sentim ento

à descrição da sua própria (da Poesia)

auto-em oção
identidade: a Palavra e a sua
texto

Passa . ag ° ra— ao projecto de alteração


fragm ento

constrói subjectiva
conceptual do q u e ----:----- — e — ---- :----
r destroí objectiva

Passa de um a outro e a outro discurso

operatório
através de um u s o ----------- —
material
radical

um a in-fragm entada noção de

con hecim ento do conhecido


.------------------------------------- -— ----- —- com o
desconhecim ento do desconhecido

indiferentes / diferentes.

A diferença é o texto n
ovo que
P

é ela própria com unicação do

i
m ediato m eio o u a linguagem

em uso inusual e inusitado.


T ratada com u m -----— ----- de nudez
nucleo

um „ re
—:— — taria a poesia ------- corre
p lu n per

a . lico
um transito m eta .— o u em
fonco

ultra
m áquina log o ---------passada
tres

electra , .
Q u an do a — :--------tom ca ou
letra

tecla electrónica se unia

“enquanto que de angústias sou lem brado


no dobrado sentir ou futuro ou passado
o circular o novo o incriado .....................

P erdi m eu estro na secular (de séculos


ou pouco) conquista do discurso.”

e assim u m -------com eço se ficou


m

O u com o com eçado era o conto


do herói

A palavra (es) foi-se esfarrapada


nas barcas

U m bárbaro ciciar inaugurará


um (con) (tínuo) ou tino estrepitante
que não se calará

E ntão toda a adição será dicção


e a vectorial m últipla língua
aqui (in) augurada terá a
solidez dos invernos cálidos
do (na) da
A berta a ruptura irrom pe.

transistorizado
historizado

responderá: —;— uso


ab

e a poesia será na luz


treviluzente da

Cantoanto

cantoanto cantoanto descontanto


com o tanto tantotanto despertante
dispersanto disperso disfarçante
cantoanto disfarce distendanto
duvidente vidantes videirante
convidrante visólido violanto
abraçante vidrólico viandante
ouvidentro do túm ulo violante
convidantro convexo convulsivo
involuntário andar p o r entre as
gentes genitivas gengivas conjugais
ju n to ao rio fluante fulm inente
conjuntivo inco njunto iluminais
filoterra furado perfurado
de balas finisterra ou fundíbulo
funcional esperança factuante
flutuante folice paracelso
filobera bendigo bestiantro
poliedro de ver-se vegetal
ventrolastro em bricante ventoleste
confinanto de canto confundente
Analógico
— igual/n ão igual/n ão d iferen te/o m esm o /in certo
— sem elhante/não sem elhante/não dissem elhante/regra
— p arecid o /n ão p are cid o / aparecido/desaparecido/algo
— equ ivalente/não equivalente
— afim /não afim /fim /isto
— substituível/não substituível/não ú n ic o /ú n ic o /n ã o
— rec íp ro c o /n ã o rec íp ro c o /u n ív o c o /v isto
— aparte/n ão ap a rte/c o n co rd an te/n ã o co n co rd an te/certo
— diferen te/n ão diferen te/n ão ig u a l/ig u a l/o u tro
— idêntico co n tu d o /id e al/in v isto
— rigoro so /n ão rig o ro so /caó tico /lid o

Compacto
o que disse não o que vi não
digo o que disse vi o que vi
não digo o que não vi o que
disse não digo vi não vi

o que sou não o que tenho não


sou o que sou ten h o o que tenho
não sou o que não ten h o o que
sou não sou ten h o não tenho

o que abro não o que quero não


abro o que abro quero o que quero
não abro o que nao quero o que
abro não abro quero não quero

o que am o não o que penso não


am o o que am o penso o que penso
não am o o que não penso o que
am o não am o penso não penso

4 Propostas Iguais Diferentes

I. retratos

igual & de frente


igual & deferente
igual ít da fronte
igual do pranto
diferente = de frente
diferente = deferente
diferente = da fronte
diferente = do canto

canto ^ diferente
pranto da frente
conto ^ da fonte

p om o = diferente
com o de fom e
povo = do nom e

(reminiscências do nosso m estre Caeiro)

as coisas diferentes
são diferentes p orqu e são coisas.
se fossem gente
seria de ou tro m odo.
p orque as pessoas diferentes
são diferentes
p orqu e são pessoas.
se fossem coisas
seria de o u tro m odo.
tal com o as coisas
se fossem todas iguais
não deixariam de ser coisas,
as pessoas deixariam de ser pessoas
se fossem coisas
em bora todas diferentes.
m esm o se as pessoas
fossem todas iguais
as pessoas não deixariam
de ser pessoas
ainda que coisas diferentes
não sejam pessoas diferentes.
as pessoas de facto diferentes
são tanto pessoas
com o as coisas de facto iguais
talvez sejam diferentes
e as pessoas iguais
são de facto iguais
po rque são pessoas.
as pessoas não são coisas
tal com o as coisas
talvez não sejam pessoas.
só o igual e o diferente
é que não são nada
n em igual
n em diferente.
apenas um simples desvio
casual
do olhar.

III. (dos sentim entos)

diferentes mas iguais que a diferença


pela diferença igual os com batia
um era igual outro era a densa
diferença que pela igualdade se dizia.

iguais em tudo m esm o na diferença


ou diferentes em tudo eram iguais
a diferença os pesava na igualdade tensa
de serem mais iguais que os iguais mais

e se pela igualdade os distinguia


a diferença que eram de diferentes
na presença igualada que os unia

u m para o outro mais que espelhos fontes


de um ru m orar obscuro que se ouvia
no olhar das diferentes iguais frontes

IV. dialécticas

diferente o je ito já era o que se tinha


na prática de ce rto -in -certo mas
p o r onde se cam inha sucum bim os
entre o que sobra vivo do deserto
ou nas iguais areias grão a grão
na segura secura que sabemos
insegura na m ão que nos aperta
os olhos livres as mãos crepusculares
da solidão escura aberta aberta
que armas verificam as conquistas?
que perguntas respondem previsivas?
iguais? dissimilares? equivalentes?
de que contracorrentes nos dizendo
aqui tão desiguais tão de ocidentes.
Q u e tudo dói igual é certo
q uer sejam estas tuas m inhas mãos
q u er o certo diferente nosso toque.
Mas que vamos cam inho que percurso
é de nós desatento? Q u e atenção nos com anda
do saber não nunca mais estar
no m esm o andar?

Écloga - 3

Q u e deixam os de nós? Q u e vagas


ímpias sussurrantes coisas
encontram os no dentro das
cisternas e levam os connosco
para o nada ou trazemos
connosco para o dia?

Q u e com o, ou tanto, ou tal


valia nos valermos das coisas
para dizerm os outras tantas
loucas correrias até à
curva estrada
obscura uva?

E donde o m esm o perguntar


só po r fazê-lo se m odela
de frases em novelo e
um discurso surge no lajedo
das trevas.

O h! imensas jornadas
calmas pradarias
vales profundam ente
que luzes estão n o fundo
do falar do escrever do ler

que nos p erm item ter


a voz de perguntar
consoante a m ente
se discorre e penetra
na sua noite e o ar
não sabe nada mais
que respirar.

Q u e faculta ou a quem
se nos pro p õ e um a
única via desdobrada
para o nos esquecer
A gora aqui é nada
não nascida mas
logo fragm entada
esta vontade longe
de dizer

Do Variante Variado
♦ E m etáfora. T odos sabemos que a raiz é m etáfora.
N ão há raiz alguma n em d entro nem fora da galáxia.
Só p o rq u e u m tronco se penetra em solo ou porque
duas coisas se conectam logo a raiz ressalta. O u
m etáfora lega a sua im agem . Q u e se as coisas p ro -
vêm de outras coisas não é a m ão que resulta do
braço n em com o o filho se prolonga pai. A raiz assegura
mas não mais. Está já fora da m eta do
ouvido da táctica do tacto do
âm bito da vista. Som. Luz. Pele. C o rp o ao corpo
mais

♦ ama o fragma ama. D e que degeneração ao dizeres o con tu d o


nula projecta? Interregno na terra. T o rre
erecta unipluriandante O h! versus vário em m im se
confinando.
C onfirm ado de cela-celular. N o ite form a form ando
o denso ar. Innescuro ela avança confundindo.
C o n to rren te. Infausto últim o ver. E n oite para noite.
T o r em tor O h T o rre n te de torres faleantes Falo filho de
mãe. D igo de terra. Invencível oh! vem venável
pela noite que ventre pluri-u-versal. Sem pre verso
variante O h! noite vale. V anidade voltaica de sabres
sabedora.
Lâm ina loca lua. Longa Longo.

♦ falo que sei e des não sei


de u m eu tangente tanto ou tudo
em florestas de íngrem es torrentes.
O u todas as esperas são tangentes
em que con tan to falo e digo escrevo.
O projecto do tacto tacteante
com as largas balizas desfilantes
o u recta rectórica do resto.
O fim m e vou. O fácil faleante sentido.
O u p o r dentro da casa m e consom e a m aior
♦ de am or se faz am or
de nada mais resulta am or
que am or se faz de am or
de nada mais.
resulta am or de am or
que am or se faz de nada.
mais resulta que am or de am or
se faz am or de nada.
mais.

♦ há u m vazio escuro na m em ória


não se pode escrever com sentim entos
nem o com das palavras
é mais gesto.

As palavras só dizem
quando ditas.
O poem a foi mesa luz cadeira
ou o m uro de terra
foi sintaxe.
U m a válvula estreita
subtrai a substância.
D a lágrima ao texto
do contexto ao objecto
contradição de leis
analogia contra analogia.

♦ e assim m e recolho em sulfuroso estado


esperando outro m ando de am ar que não
cuidado m e dê no desviar das horas, e
aqui m e olho sul furioso encontrando na
espera a recom pensa de males e a d o r de
bem saber que nunca a terra dará mais do
que sabores a lodo. e desenterro a bússola
do alto p o r este lado já desenvoltada que
nem m o rte nem água são viagem a q uem se
colha em recolhido estado de ficar voltado
o u revoltando em revolta do andar, não que nas
doces águas um m ergulhar m e vença, mas intenso
é o olhar rem ergulhado

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