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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

FACULDADE DE LETRAS
Projeto de Pesquisa
TÍTULO: A projeção e recepção da imagem nas mídias sociais
AUTORES: Anna Clara Souza Vieira da Costa
Gabriel Rossi Pereira
Isabela Jesus Santos
Maria Luiza Maia Garcia
PERÍODO PREVISTO: 12 meses

I. Introdução
No princípio do século XXI, observou-se uma profunda mudança na sociedade, que
só seria intensificada na década seguinte. Esse processo de transformação diz respeito à
inserção do digital, por meio da internet, nas hierarquias das relações interpessoais. Como
Tolentino (2019) expõe, essa fase inicial é conhecida como Web 1.0, um termo dependente
do termo Web 2.0 — a fase atual —, criado por DiNucci 1 (1999, p.32 apud TOLENTINO,
2019, p. 16), que elabora que os elementos estáticos vistos na tela de dispositivos no final
do século XX são somente um protótipo da web que fará parte da vida das pessoas, e que
os sinais do surgimento da Web 2.0 já eram perceptíveis e indicavam que esta não se
limitaria a ser um conjunto de telas com linguagem verbal e não-verbal, mas seria uma
forma de transporte, um caminho no qual a interatividade é o centro.

A partir do advento da Web 2.0, as relações entre as pessoas se tornaram, ao mesmo


tempo, estreitas e diluídas com a popularização das mídias sociais e o estabelecimento de
dinâmicas centradas no “eu”, uma vez que agora todos os indivíduos podem fazer uma
curadoria de si mesmos e definir uma estética a ser compartilhada com outros. Dessa
forma, termos como “seguidores”, “curtir”, “compartilhar”, “comentar” e
“influenciadores” passaram a fazer parte do repertório comum da vida em sociedade. Além
da ascensão da posição de influenciador, celebridades que já estavam na mídia tradicional
passam a fazer uso das múltiplas redes sociais, em um sistema que fornece uma espécie de
poder social nessa nova camada da vida. Assim, essas pessoas produzem conteúdo em

1
DINUCCI, Darcy. Fragmented Future. Print, v. 53, n. 4, p. 32, Apr. 1999.

1
forma adequada à cada espaço virtual, produzindo uma estética, que está em diálogo com
aqueles responsáveis pelo status social virtual: os seguidores.

Embora o conceito de ‘estética’, no sentido grego da ‘aesthesis’, estivesse


ligado originariamente a uma noção física de ‘sensibilidade’, logo a
palavra passou a ser entendida também como a percepção estética que
gera algum tipo de resposta potencialmente diferente do objeto que a
causou; mais do que uma reação a uma percepção, a estética parece
ganhar uma dimensão produtiva. (MARTINO, 2016, p.47)
Essa abordagem estética pode ser visualizada de diversas formas. Uma delas se dá na
caracterização e na “seleção” de aspectos específicos para um determinado público-alvo, a
criação de uma nova persona, por assim dizer. Essa espécie de máscara, frequente nas
mídias, tende a trazer aspectos que valorizem cada vez mais sua identidade, tomando uma
distância ainda maior do “eu” real, criando uma personalidade incompatível com a de seu
criador. Este processo não ocorre somente com os influencers, mas também com os seus
seguidores e as pessoas que usufruem das redes sociais de maneira geral.

Persona é o nome dado à máscara usada pelos atores no teatro grego para
identificar o personagem interpretado, sendo uma peça de vital importância
para o desempenho do artista. Em comparação a esse adereço, a Persona,
como termo utilizado na psicologia analítica, é uma máscara irreal vestida
pelo indivíduo para a adaptação aos conteúdos socialmente aceitos e
almejados. (FARIAS e MONTEIRO, 2012, p. 5)

A criação de uma persona por parte do influencer não se dá apenas em função do


público-alvo, mas também mediante a situação em que a personalidade digital se encontra:
em meio a uma situação polêmica, por exemplo, nota-se uma mudança nos perfis pessoais
que, seja de maneira explícita ou subliminar, dedicam-se a gerenciar a crise na imagem e
reputação do indivíduo. Uma evidência de tal fenômeno seria a popularização dos “vídeos
de desculpas”, comumente postados no YouTube ou no Instagram, onde influenciadores
envolvidos em controvérsias procuram restaurar sua relação com a audiência a partir de
pedidos de desculpas. Ao longo dos anos e com o desenvolvimento do mundo digital, esses
vídeos passaram a ser construídos de maneira cada vez mais meticulosa, procurando
agregar a linguagem não verbal a um discurso verbal minuciosamente pensado, com o
objetivo de aumentar as chances de uma boa recepção do pedido de desculpas por parte
dos seguidores.

Não só o empenho exercido na produção de tais vídeos, como também o


significativo aumento na ocorrência destes evidenciam a consolidação de uma nova
dinâmica nas redes sociais, onde a imagem é tratada como produto (PERINI, 2021).
2
Rushdy (2018, apud PERINI, 2021, p. 8)2 afirma: “Na sociedade consumista de hoje, o
público é Deus. E assim as celebridades pedem desculpas a nós – ao público – de uma
maneira que as pessoas costumavam apelar ao seu Deus”. Manter uma boa reputação com
os seguidores e garantir a lealdade dos mesmos tornam-se, deste modo, objetivos cruciais
para a carreira das celebridades da internet. A proximidade e as possibilidades de interação
promovidas pela web, portanto, são as principais responsáveis pelo vínculo parassocial
criado entre personalidade digital e seguidor, onde ambos os lados sofrem os efeitos, sejam
eles positivos ou negativos, das projeções estéticas no meio digital.

II. Justificativa
O presente projeto de pesquisa é relevante pois se atém sobre as relações estéticas
nas mídias sociais, que na última década provocaram uma notável mudança na
sociabilidade, que ganhou outras facetas, englobando também o universo online. Sendo
assim, a pesquisa se mostra imprescindível na atualidade, uma vez que, ao analisar os
mecanismos estéticos em plataformas digitais específicas, estará estudando os aspectos que
moldaram e continuam pautando a política contemporânea em seus mais diversos campos
ideológicos. Dessa forma, o projeto é fundamental por tentar entender as raízes de
movimentos coletivos dos últimos anos que agem sobre a conduta individual, observando
os dois novos extremos da sociabilidade contemporânea: os perfis públicos com altíssima
exposição e os seguidores que os alimentam com engajamento no pão e circo em que se
transformou o mundo digital.

III.Objetivos
Objetivo geral
Esta pesquisa visa fazer uma análise do comportamento de influenciadores digitais
através da imagem que projetam em suas redes sociais, de seu relacionamento com seus
seguidores e como isso impacta o psicológico dos mesmos. Partindo sobretudo de sua
construção de imagem, através de elementos de linguagem verbal e não-verbal que
mobilizam para atingir determinados objetivos principalmente nas situações de maior

2
RUSHDY, A. The art of the public apology. The Conversation, Nova Iorque, 30 jan. 2018. Disponível em:
https://theconversation.com/the-art-of-the-public-apology-90425

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visibilidade nos quais estes influenciadores estão envolvidos. A reação e comportamento
do público frente a essas situações também serão objeto de análise.

Objetivos específicos

· Analisar a maneira como os seguidores reagem perante as ‘performances’


realizadas pelos influencers;
· Discutir acerca da formação de uma nova persona, ou uma nova identidade, para as
mídias sociais, tanto a respeito dos seguidores quanto dos digital influencers;
· Examinar a forma de construção do discurso para formar uma personalidade e
imagem agradáveis ao público;
· Debater sobre as formas subliminares do discurso midiático, como cores, formas e
planos de fundo para a projeção de uma imagem específica;
· Investigar a influência psicológica das mídias sociais no bem-estar pessoal dos
seguidores;
· Analisar a relação entre público, autor e conteúdo. Até onde vão os limites da obra?

Referências bibliográficas
FARIAS, Lídia; MONTEIRO, Taís. A identidade adquirida nas redes sociais através do
conceito de persona. In: XIX Prêmio Expocom, 2012, Chapecó. Disponível em:
http://www.intercom.org.br/papers/regionais/nordeste2012/resumos/R32-1497-1.pdf.
Acesso em: 8 dez. 2021.
LOUREIRO, Giovana Perini Frizera de Morais. Analisando o desqualificável: um estudo
sobre pedidos de desculpas de figuras públicas em redes sociais. Orientadora: Ana Larissa
Marciotto de Oliveira. 2021. 135f. Tese (Doutorado em Programa de Pós-Graduação em
Linguística) — Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte, 2021.
MARTINO, Luís Mauro Sá. De um eu ao outro: narrativa, identidade e comunicação com
a alteridade. Parágrafo, São Paulo, v. 4, n. 1, ed. 7, p. 40-49, 2016.
TOLENTINO, Jia. O eu na internet. In: TOLENTINO, Jia. Falso Espelho: reflexões sobre
a autoilusão. 1. ed. São Paulo: Todavia, 2020. cap. 1, p. 13-49.

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