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Os Influenciadores Digitais na Promoção de Produtos de Moda:

Construções Virtuais

Carolina Sasso Simon (1); Aline Hilsendeger Pereira de Oliveira (2);


(1) Discente do curso superior em Tecnologia em Design de Moda; Instituto Federal de Santa Catarina; Araranguá- SC;
carolina.ssimon@gmail.com; (2) Docente do curso superior de Tecnologia em Design de Modaç Instituto Federal de Santa Catarina;
Araranguá-SC; alinep@ifsc.edu.br

Resumo: O presente estudo buscou mostrar a idealização do lifestyle dos influenciadores digitais na
promoção de produtos de moda. A revisão bibliográfica foi realizada em bases de dados, literatura cinza e
livros. Os resultados mostraram que marcas de moda procuram os influenciadores digitais baseados no estilo
de vida apresentado nas redes, visando popularizar seus produtos e formar um elo, mesmo que virtual, com
os consumidores.
Palavras-chave: Mídias Sociais; Consumo; Lifestyle.

INTRODUÇÃO estudou sobre o assunto. Existem, porém, pesquisas


científicas que se baseiam unicamente na pesquisa
bibliográfica, procurando referências teóricas
A sociedade atual regida pelo consumo
publicadas com o objetivo de recolher informações
de imagens e idealização de estilos de vida, se utiliza
ou conhecimentos prévios sobre o problema a
de mídias sociais para fortalecer seu ideal. O
respeito do qual se procura a resposta (FONSECA,
crescimento das mídias sociais resultou no aumento
2002, p. 32).
significativo o número de usuários, fato este que fez
Realizou-se uma exaustiva pesquisa
com que as marcas de moda migrassem para estas
nas bases de dados periódicos da Coordenação de
plataformas a fim de buscar uma maior interação e
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
aproximação com seu público. Em tempos de
(CAPES), Literatura Cinza e em livros. As bases de
estetização da realidade, o ato de comprar vai além
dados foram acessadas com busca pelos seguintes
da aquisição de um simples produto, visando a busca
termos: redes sociais, consumo, lifestyle,
por uma nova experiência, complementando o
influenciadores digitais.
lifestyle que o consumidor possui ou do que pretende
possuir.
A construção de estilos de vida
RESULTADOS E DISCUSSÃO
idealizados e expostos em redes sociais torna os
influenciadores digitais importantes ferramentas de
Redes sociais
marketing. A influência exercida por estes indivíduos
atuantes em diversas plataformas, como Instagram,
Youtube e Facebook, fez com que marcas Com aparecimento datado no ano de 1997,
apostassem no seu poder de persuasão como meio as redes sociais por definição são sites da web que
de divulgação de seus produtos. permitem aos usuários a construção de perfis
públicos ou parcialmente públicos dentro dos limites
METODOLOGIA de um sistema, possibilitando a articulação e
compartilhamento de conteúdo com outros usuários
Entende-se por metodologia o caminho com quem possuem conexão (BOYD; ELLISON,
do pensamento e a prática exercida na abordagem 2007). Ciribeli e Paiva (2011) destacam que os
da realidade. Neste sentido, a metodologia ocupa um indivíduos de modo geral sentem a necessidade de
lugar central no interior das teorias e está sempre convívio em grupos, no qual se relacionam com os
referida a elas (MINAYO, 2001). indivíduos que possuem características afins, assim
A pesquisa se caracteriza como um as redes sociais se tornam grandes responsáveis por
estudo qualitativo, de revisão bibliográfica. A fomentar estas organizações. O triunfo das redes
pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento sociais se baseia na liberdade de expressão,
de referências teóricas já analisadas, e publicadas provocando o usuário a expor seus sentimentos e
por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos opiniões, que postos em discussão repercutem tanto
científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho de forma positiva, quanto negativa.
científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica,
que permite ao pesquisador conhecer o que já se Cultura de consumo, a construção do lifestyle
ideal combinado a um sentimento, perdendo assim a
lógica de sua funcionalidade original.
O consumo moderno é baseado na Featherstone (1995) explana que a intensa
necessidade ilusória produzida pela sociedade. A estetização da realidade provoca no indivíduo buscas
grande abundância de mercadorias provoca desejos constantes por novidades, seja por novas tendências
que satisfazem necessidades de individualização, de moda, novos estilos, sensações ou experiências
pertencimento e diferenciação (DEBORD, 1997). Da que uma mercadoria pode proporcionar. Benjamin
mesma forma, Lipovetsky (2009) destaca que a (2009, p. 118) afirma que, “quanto mais efêmera é
sociedade de consumo está focada nas uma época, tanto mais ela se orienta na moda”, isto
necessidades expandidas regida por leis de posto é importante salientar o quanto o consumo se
obsolescência, sedução e diversificação, na qual são torna mais que apenas o ato de adquirir algo, a
impostas regras de renovação precipitada dos gostos. transformação das compras em seu estilo de vida fica
Debord (1997) afirma que o consumo refletida nas escolhas feitas, a compra do carro,
moderno está embasado em uma falsa necessidade decoração da casa, estilo do vestir, este conjunto de
imposta pela sociedade e pela história, acarretando fatores tornam a prática da compra um método de
na ruptura pela procura das reais necessidades comunicação com o meio em que vive.
sociais. Desta forma é evidenciada a cultura do
consumo como forma ilusória de construção social. Influenciadores digitais, a personificação do
Morin (1997, p.169) segue no mesmo viés afirmando lifestyle ideal
que:
Essa proximidade entre o pólo real e o pólo Os denominados influenciadores digitais
imaginário permite incessantes eletrólises. O
são indivíduos que possuem potencial para
que constitui a originalidade, a
especificidade da cultura de massas é a influenciar outros através de mídias sociais, por meio
direção de uma parte do consumo imaginário, de criação de conteúdo, difusão de ideias e
pela orientação dos processos de divulgação de marcas (ZIETEK, 2016). Como
identificação, para as realizações. afirmam Ioanid, Militaru e Mihai (2015) os
influenciadores funcionam como um filtro,
Featherstone (1995) aponta que a intensa desempenhando um papel de intermediário entre a
oferta de produtos novos no mercado cria a falsa marca e o consumidor, transmitindo opiniões e
necessidade de aquisição. A procura por status explicações de interesse de seu público.
contida na obtenção de determinado item nem Bauman (2001, p. 88) destaca a autoridade
sempre completa a ideia de posicionamento social virtual, colocando que “a autoridade amplia o número
desejada pelo comprador. Lipovetsky (2009, p. 201) de seguidores, mas, no mundo de fins incertos e
menciona que o consumo possui caráter do cronicamente subdeterminados, é o número de
“utilitarismo e do privatismo hedonista”, sendo os seguidores que faz-que é- a autoridade”. O número
impulsos de compra motivações advindas do prazer, de seguidores fortalece a efetivação do estilo de vida
liberdade e realização individual. Bauman (2001, idealizado por cada influenciador, facilitando a
p.108) complementa colocando que a “dependência identificação deste pelas marcas.
do consumidor é a condição sine qua non de toda Carrera (2015) afirma que os
liberdade individual”, a compra se torna artifício na influenciadores desenvolvem “habilidades sociais” a
construção da identidade do comprador. fim de auxiliar na interação com seu público, sendo
A chamada cultura de consumo enfatiza a assim sua percepção social costumeiramente
ideia de uma sociedade estruturada em um mundo intencional faz com que sejam construídos conteúdos
de mercadorias. O duplo panorama aponta tanto a que capturem a atenção ao passo que estimulam o
ideia de dimensão cultural relacionando os bens compartilhamento. A manipulação da imagem
materiais como símbolos de comunicação, quanto construída considera “expressões transmitidas”, que
como economicamente onde se enfatiza os por ser realizada por meio de símbolos conhecidos
princípios de mercado – oferta, demanda, pelo público são facilmente aceitas, e as “expressões
acumulação de capital, competição e monopolização emitidas”, se configuram como linguagens não
– o qual encara a mercadoria apenas como algo que intencionais, ampliando para interpretações.
possui valor de troca e uso (FEATHERSTONE,1995). Como corrobora Morin (1997, p. 35), “a
Lipovetsky (2007, p.153) sustenta a ideia de que procura de um público variado implica a procura de
“toda a vida das sociedades superdesenvolvidas se variedade na informação ou no imaginário; a procura
apresenta como uma imensa acumulação de signos de um grande público implica a procura de um
do prazer e da felicidade”, desta forma a associação denominador comum”, assim, a busca das marcas
dos bens de consumo a ideia de luxo, beleza, por divulgação por meio dos influenciadores digitais
fantasia e exotismo, faz com que cada produto seja resulta no encontro deste denominador comum.
Na sociedade de consumo moderna, caracterizada UFMG, 2009.
pelo “transitório, o efêmero, o contingente”
(BAUDELAIRE, 1996, p.25), os artigos de moda se BOYD, D. M.; ELLISON, N. B.. Social Network Sites:
caracterizam como meio de satisfação estética, Definition, History, and Scholarship. Journal Of Computer-
mediated Communication, [s.l.], v. 13, n. 1, p.210-230, out.
sendo o prestígio de certa marca fator determinante 2007.Disponível em: <
para os consumidores, por conseguinte a opinião de http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1083-
influenciadores digitais faz se essencial. Conforme 6101.2007.00393.x/epdf> Acesso em: 14 mai. 2017
Bauman (2001, p.104) “quando muitas pessoas
correm simultaneamente na mesma direção, é CARRERA, F.. A construção do self marcário em sites de
preciso perguntar duas coisas: atrás de quê e do quê redes sociais à luz do modelo de habilidade social de
estão correndo”, desta forma cabe às marcas de Michael Argyle. Logos:comunicação e universidade, Rio
moda identificar e aproveitar da melhor forma o uso de Janeiro, v. 1, n. 22, p.54-70, jan. 2015.
Disponível :<http://www.e-
destes influenciadores e do estilo de vida que
publicacoes.uerj.br/index.php/logos/article/view/19554/141
propagam nas redes sociais como meio efetivo de 98>. Acesso em 14 mai. 2017
divulgação dos seus produtos.
CIRIBELI, J. P.; PAIVA, V. H. P.. Redes e mídias sociais na
CONCLUSÕES internet: realidades e perspectivas de um mundo
conectado. Mediação, Belo Horizonte, v. 13, n. 12, p.57-
As marcas de moda utilizam 74, jan. 2011. Disponível
progressivamente as redes sociais como forma de em:<http://www.fumec.br/revistas/mediacao/article/view/50
aproximação com seu cliente, podendo ser 9/504>. Acesso em:14 mai. 2017
considerado um método efetivo para veiculação de
DEBORD, G.. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro:
informações. A geração de conteúdo se tornou uma Contraponto, 1997. 238 p.
das principais estratégias para criação da imagem da FEATHERSTONE, M.. Cultura do consumo e pós-
marca e consequentemente a identificação com o modernismo. São Paulo: Studio Nobel, 1995. 223 p.
consumidor. A construção de lifestyle considerado
ideal por determinado influenciador nas mídias FONSECA, J. J. S. da. Metodologia da pesquisa
sociais, provoca no indivíduo o desejo de possuir científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila.
certos produtos. Estando além da satisfação de
necessidades básicas, o indivíduo pretende IOANID, A.; MILITARU, G.; MIHAI, P.. Social media
strategies for organizations using influencers’ power.
consumir para se aproximar do ideal posto.
European Scientific Journal, Bucareste, Edição Especial,
O uso das mídias digitais pelos p.139-143, ago. 2015. Disponível
influenciadores aumenta a proximidade com o em:<http://eujournal.org/index.php/esj/article/view/6144/59
público, já que personalidade e o lifestyle são 28>. Acesso em: 15 mai. 2017
elementos em primeiro plano na criação de conteúdo
a serem postados em plataformas como Instagram, LIPOVETSKY, G.. A felicidade paradoxal: Ensaio sobre a
YouTube, Facebook e Twitter. Desta forma, as sociedade de hiperconsumo. São Paulo: Companhia das
marcas de moda procuram cada vez mais contato Letras, 2007. 402 p
com os influenciadores digitais como estratégia para
divulgar seus produtos, objetivando estreitar o elo LIPOVETSKY, G.. O império do efêmero: a moda e seus
destino nas sociedades modernas. São Paulo:
com o cliente. Companhia das Letras, 2009. 347 p.

REFERÊNCIAS MINAYO, M. C. S. (Org.). Pesquisa Social: Teoria, método


e criatividade. 18. ed. Petrópolis: Vozes, 2001.
AMAYA, G. L.; ROJAS, T. At.. Youtube como herramienta
de marketing estratégico para la moda: Análisis del canal MORIN, E.. Cultura de massas no século XX. 9. ed. Rio
oficial What the chic en el 2015. Revista Científica de de Janeiro: Forense Universitária, 1997. 208 p.
Estrategias, Tendencias e Innovación En Comunicación,
Castellón, Esp, v. 1, n. 12, p.91-108, maio 2016. ZIETEK, N. Influencer Marketing: the characteristics and
components of fashion influencer marketing. 2016. 39 f.
BAUDELAIRE, C.. Sobre a modernidade: o pintor da vida Dissertação (Mestrado) - Curso de Textile Management,
moderna. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. The Swedish School Of Textiles, University Of Borãs,
Borãs, 2016. Disponível em: <http://www.diva-
BAUMAN, Z.. Modernidade Líquida. Rio De Janeiro: J. portal.org/smash/get/diva2:972106/fulltext01.pdf> Acesso
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BENJAMIN, W.. Passagens. Belo Horizonte: Editora

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