Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo: Este artigo tem por objetivo analisar as relações entre a moda e o modelo
capitalista vigente, confrontando esses itens com o comportamento da geração Z e
seus hábitos de consumo. Por fim, busca propor reflexões sobre este mecanismo e
onde encontrar oportunidades de atuação que estejam de acordo com as expectativas
dessa nova geração.
Introdução
O capitalismo e a moda
1
atualmente, um de seus pilares são as dívidas de milhares de consumidores,
dispostos a contraí-las pela promessa de “prazer instantâneo”. Ao longo dos anos, a
indústria da moda vem sendo uma das que mais contribui para a manutenção dessa
promessa. Para Lipovetsky a moda está diretamente ligada a construção da sociedade
moderna no ocidente, e consequentemente, da construção no modelo capitalista atual.
Nunes (2012) argumenta que se trata de uma população submetida a uma ótica que
tem na aparência, forma como esse indivíduo se apresenta ao mundo, a
representação de sua posição social. Essa visão é nutrida através de gatilhos que os
fazem crer que uma “boa aparência” está ligada a moda da estação e a grandes
marcas. Assim, ele se vê em um constante ritmo de consumo com objetivo de se
afirmar dentro do seu círculo social. Dessa forma, a moda ajudou a construir e manter
esse sistema pela “moldação de indivíduos com desejos ardentes de consumo
imediato” (NUNES, 2012). Para suprir esses desejos foi necessário a implementação
de uma cadeia exploratória que utiliza recursos naturais e humanos como combustível.
Movimentos como o Fashion Revolution vem procurando quebrar essa cadeia através
de ações locais e globais que buscam divulgar dados sobre a indústria da moda,
cobrar que empresas e governos tomem ações responsáveis e propor a reflexão do
público consumidor. Segundo Fashion Revolution (2020), as pesquisas realizadas
apontam que, desde o início de suas ações, houve uma melhora significativa em
diversos desses âmbitos, onde 94% dos entrevistados para a pesquisa disseram que
conhecer o movimento mudou suas em relação a indústria da moda e também houve
um aumento de 9% na pontuação média das 98 marcas analisadas para o Índice de
Transparência da Moda desde 2017. A Morgan Stanley (2019) cita que, mesmo com o
preço das roupas mais baixo, o volume de consumo no setor do vestuário começou a
diminuir nos mercados ocidentais. Essa queda se deve tanto a percepção do
consumidor que agora entende que “já possui roupas demais” e também ao aumento
da conscientização ambiental (MORGAN STANLEY, 2019).
Contudo, ainda há muitos pontos a serem melhorados. Mesmo com o aumento da
conscientização sobre o tema “milhões de trabalhadores [...] ao redor do mundo ainda
enfrentam pobreza, riscos e até a morte enquanto produzem as roupas que
compramos; em outras palavras, os negócios seguem como sempre” (FASHION
REVOLUTION, 2020). Dessa forma, e como já vem sendo mostrado, uma sociedade
2
consumidora consciente e exigente é fundamental para a construção de um mercado
de moda mais justo, pois, enquanto o anseio pelo consumo sobrepor a
responsabilidade social e ambiental, esse sistema continuará a explorar seus
recursos.
A geração Z e o consumo
3
através da rede social TikTok e reservou, mesmo sem intenção de comparecer,
milhares de ingressos para um comício do presidente Donald Trump, conhecido pelas
opiniões preconceituosas e conservadoras. A perspectiva era que o estádio para 19
mil pessoas estivesse lotado no dia do evento, contudo apenas 6.200 efetivamente
compareceram. A ação também foi citada pela deputada Alexandria Ocasio-Cortez na
rede social Twitter, onde atribui o ato a geração Z:
Na verdade, vocês [a organização do evento] foram simplesmente
derrubados por adolescentes no TikTok que inundaram a campanha de
Trump com reservas falsas de ingressos e os enganaram a acreditar que um
milhão de pessoas queria seu discurso supremacista branco, o suficiente
para encher uma arena durante a pandemia. Um salve para os Zoomers,
vocês me deixam orgulhosa. (OCASIO-CORTEZ, 2020, tradução nossa)
Para Penso (2020) todas essas peculiaridades os fazem uma geração extremamente
empática e exigente, características que acabam recaindo sobre sua ótica de
consumo. Segundo Francis e Hoefel (2018) esse consumo se traduz em três linhas: “o
consumo visto como acesso e não como posse; o consumo como uma expressão da
identidade individual; e o consumo baseado na ética.” Assim, se faz necessário
analisar essas demandas e criar formas de consumo que coincidam aos seus anseios.
Diversas iniciativas já vêm ganhando espaço há algum tempo. Ainda para Francis e
Hoefel (2018), o que antes eram considerados bens de consumo duráveis estão cada
vez mais se tornando serviços ou passando para o meio virtual. No que tange o âmbito
da individualidade, o uso da big data tem sido amplamente utilizado pelas empresas
com o objetivo de direcionar o conteúdo para o consumidor certo, apesar desse
consumidor não se sentir totalmente confortável com essa ideia. (FRANCIS e
HOEFEL, 2018). Ele quer se sentir único e não invadido. Assim, iniciativas de
personalização para ressaltar essa individualidade são bem-vindas. Quanto a ética, a
geração Z vem influenciando outras gerações a se preocuparem com a
sustentabilidade e vem demonstrando ainda mais pragmatismo ao consumir, avaliando
diferentes esferas antes do ato da compra e repensando também os próprios signos e
implicações do consumismo. Uma geração marcada por indivíduos que pontuam seus
ideais não quer ser representada por marcas e empresas que não se adequam a suas
expectativas e dá preferência aquelas que demonstram atitudes sustentáveis
ambiental e socialmente (FRANCIS e HOEFEL, 2018).
É interessante observar como estas propensões dialogam com a ideia de sociedade
moderna apontada por Lipovetsky (1989), onde a geração Z vem quebrando essa
4
lógica apontada como fundadora do sistema atual. Uma vez que o consumidor não
está mais tão preocupado com a aparência ideal criada a partir de um modelo
hierárquico de classes, conforme citado por Nunes (2012), se tem uma ruptura nesse
sistema que abre espaço para a construção de um novo modelo de consumo, no qual
a moda, novamente, pode servir como pilar de construção.
Referências bibliográficas
CRITEO. Gen Z Report Based on the Criteo Shopper Story, 2017. Disponivel em:
<https://www.criteo.com/wp-content/uploads/2018/05/GenZ-Report.pdf>. Acesso em: 4
de julho de 2020.
5
s>. Acesso em: 4 de julho de 2020.
FRANCIS, T.; HOEFEL, F. ‘True Gen’: Generation Z and its implications for
companies. McKinsey & Company, Novembro 2018. Disponivel em:
<https://www.mckinsey.com
/industries/consumer-packaged-goods/our-insights/true-gen-generation-z-and-its-implic
ations-for-companies>. Acesso em: 6 de julho de 2020.
OCASIO-CORTEZ, A. (AOC). “Actually you just got ROCKED by teens on TikTok who
flooded the Trump campaign w/ fake ticket reservations & tricked you into believing a
million people wanted your white supremacist open mic enough to pack an arena
during COVID Shout out to Zoomers. Y’all make me so proud.” 20 de junho de 2020,
9:27 pm. Tweet.
PENSO, A. Como a Geração Z pode nos fazer mudar? O Futuro das Coisas, 2020.
Disponivel em: <https://ofuturodascoisas.com/como-a-geracao-z-pode-nos-fazer
6
-mudar/>. Acesso em: 03 de julho de 2020.