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© 2014 Anthony Giddens and Philip W.

Sutton
© 2015 Editora Unesp
Título original: Essential Concepts in Sociology
(1.ed.)
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G385c

Giddens, Anthony
Conceitos essenciais da sociologia / Anthony Giddens, Philip W. Sutton; tradução Claudia
Freire. – 1. ed. – São Paulo: Editora Unesp Digital, 2017.

Tradução de: Essential Concepts in Sociology


Formato: Digital
ISBN: 978-85-9546-063-8

1. Sociologia. 2. Conceitos. 3. Livros eletrônicos. I. Sutton, Philip W. II. Freire, Claudia. III.
Título.

17-42311 CDD: 301


CDU: 316

Editora Afiliada:
sistema de comércio de carbono tenha êxito, o preço precisaria estar em torno
de 420 dólares por tonelada de CO2. Contudo, o preço de mercado em 2009
era de [117] apenas 15 euros por tonelada! A radical disparidade do preço de
mercado obviamente levanta sérias dúvidas sobre a exequibilidade dessas
medidas capitalistas orientadas para o mercado para combater o aquecimento
global.

Referências e leitura complementar

CAMPBELL, J. L.; PEDERSEN, O. K. Institutional competitiveness in the global


economy: Denmark, the United States and the varieties of capitalism, Regulation and
Governance, 1(3), 2007, p.230-46.
INGHAM, G. Capitalism. Cambridge: Polity, 2008.
MARKANDYA, A. Can climate change be reversed under capitalism?, Development
and Change, 40(6), 2009, p.1139-52.
MARX, K.; ENGELS, F. The Communist Manifesto. London: Longman, 2005 [1848].
[Ed. Bras.: O Manifesto Comunista. São Paulo: Boitempo, 1988.]

Consumismo
Definição prática

Modo de vida comum às sociedades relativamente ricas que promove a


aquisição incessante de bens de consumo como algo benéfico para a
economia e satisfação pessoal.

Origens do conceito
Pode-se dizer que o consumismo remonta à época da Revolução
Industrial no início do século XIX, quando a quantidade total de bens
materiais em produção aumentou vertiginosamente e preços mais baixos
possibilitaram a muitos grupos sociais iniciarem o seu consumo. Os primeiros
grupos a surgirem como consumidores modernos foram as classes mais altas
e a aristocracia, que se constituíam no maior mercado de novos produtos de
luxo. Ao longo dos séculos XIX e XX, o notável consumo se disseminou para
muitos outros grupos sociais e, em meados [118] do século XX, o
consumismo como modo de vida passou a caracterizar as economias
desenvolvidas.
Um dos importantes avanços que estimularam o crescimento do
consumismo foi a maior disponibilidade de crédito a partir do início do
século XX. Ao final do século, viver com enormes montantes de dívidas
passava a ser normal e a competição por status social se instalava cada vez
mais na arena dos padrões de consumo. Desde os anos 1960, os sociólogos
afirmam que as sociedades capitalistas se tornaram dependentes do
consumismo, o que incentiva estilos de vida altamente materiais e o desejo de
ter e usar as mercadorias adquiridas. Acredita-se que essas mudanças tenham
resultado na “sociedade de consumo”. Os ativistas ambientalistas afirmam
que a mudança na direção das sociedades de consumo elevado tenha
provocado danos ambientais desastrosos, desperdícios desnecessários e
práticas não sustentáveis.

Significado e interpretação

As sociedades capitalistas industriais se baseiam em um sistema de


produção em massa, mas isso, portanto, significa que também há consumo
em massa. Bens e serviços precisam ser comprados e consumidos, embora a
produção e o consumo possam muito bem ocorrer em locais geográficos
bastante diferentes. As mercadorias serão produzidas onde quer que seja mais
barato, mas consumidas onde o melhor preço puder ser obtido, e a
probabilidade é de que ambas as coisas ocorram em lugares distintos.
Durante o século XX, a diretriz central das sociedades capitalistas industriais
mudou do “paradigma de produção” para o de “consumo”. Hoje é comum
notar na Sociologia que sociedades relativamente ricas sejam caracterizadas
como “sociedades de consumo” ou “capitalismo de consumo”.
O trabalho aos poucos fica menos importante no processo de formação
da identidade. Na realidade, o consumo oferece às pessoas a oportunidade de
construir uma identidade pessoal comprando os diversos elementos, dando
pelo menos a impressão de mais liberdade de escolha e individualidade. O
foco central no consumo e a ideologia do [119] consumismo promovem uma
rápida circulação de produtos baseada em mudanças da moda do valor de
troca das mercadorias e, como consequência, produzem mais desperdício. A
identificação do consumidor com produtos e marcas faz que o consumo seja
fundamental para as rotinas cotidianas. Em segundo lugar, as corporações
estão mais preocupadas em aproveitar e produzir para uma demanda de
consumidores flexível e diferenciada, em vez de priorizar as necessidades de
produção e só então se preocupar com os clientes. Em geral, essa mudança é
representada como o fim dos métodos de produção uniformes “fordistas” e
uma tendência a seguir os métodos “pós-fordistas” mais flexíveis, dirigidos
aos mercados de nichos. O consumidor, não o trabalhador, torna-se o
protagonista. Em terceiro lugar, como as sociedades de consumo permitem a
construção de identidades pessoais, isso serve para tirar do foco os conflitos
sociais baseados na produção, envolvendo mais grupos sociais no processo
competitivo da disputa por status por meio de trocas simbólicas. A mudança
em direção ao consumismo e à sociedade de consumo, portanto, marca
mudanças significativas nas esferas econômica, política e cultural.
O consumismo também é um modo de pensar, uma mentalidade ou até
mesmo uma ideologia que funciona para produzir o desejo de consumir sem
parar. Os sociólogos do consumo afirmam que o prazer de consumir não está
no uso dos produtos, mas na expectativa de comprar coisas. As pessoas
passam horas folheando revistas, namorando vitrines e navegando pela
internet à procura de produtos, desejando-os, antes de efetuarem a compra.
Campbell (2005) acredita que isso se deva ao fato de a parte mais satisfatória
e viciante do consumismo moderno consistir no querer, no cobiçar, no
procurar e no desejar os produtos, não no uso que se faz deles. Trata-se de
uma “ética romântica” do consumo baseada no desejo e veementemente
incentivada pela indústria publicitária, o que explica por que as pessoas, no
fundo, nunca estão satisfeitas.

Aspectos controversos

Ainda que o conceito de consumismo tenha agregado uma nova


dimensão à nossa compreensão sobre o capitalismo, não ficou muito [120]
claro se ele é a causa da expansão capitalista. A ideia de que o consumo
impulsiona a produção dá um peso muito grande às demandas dos
consumidores, porém há quem ache isso bastante implausível, ressaltando os
orçamentos astronômicos de marketing e criação de marcas das empresas,
cujo objetivo é criar desejos e demandas, transformando as pessoas em
consumidores ativos. A grande questão em jogo aqui é quem de fato exerce o
poder nesse sistema: fabricante ou consumidor? Será que as grandes
corporações capitalistas transnacionais realmente estão à mercê da demanda
do consumidor?
Há ainda quem critique o consumismo propriamente dito, considerado
responsável pela destruição das relações sociais e do meio ambiente. O
consumismo “funciona” transformando desejos em “necessidades” e,
portanto, persuadindo as pessoas de que elas podem e devem supri-las. Assim
sendo, há um fluxo potencialmente interminável de modismos, novos
produtos e serviços para o nosso consumo. Essa fusão de necessidades e
desejos é considerada perigosa, pois induz à falsa crença de que felicidade
pode ser comprada e de que consumir produtos é algo natural. Em vez disso,
deveríamos separar o que é desejo do que é necessidade e deixar o desejo de
fora para assegurar que as reais necessidades das pessoas no mundo inteiro
possam ser atendidas. O problema é que todas as tentativas de definir o que é
“necessidade” foram um fiasco. As necessidades são definidas dentro de um
contexto cultural e não há um critério rígido consensual que torne essa
distinção possível.

Relevância contínua

O conceito de consumismo e seu corolário, a sociedade de consumo,


foram muito proveitosos para os sociólogos. Viabilizou-se uma compreensão
mais equilibrada do capitalismo associando-se os processos de produção aos
padrões de consumo. Por exemplo, uma das abordagens que mesclou os dois
elementos com êxito é a teoria da “esteira rolante de produção e consumo”
[treadmill of production and consumption]. Nela, combinam-se
industrialização, economia capitalista e consumismo de massa para entender
como a modernidade transformou a relação entre [121] sociedade humana e
meio ambiente. A imagem da esteira rolante demonstra que, uma vez que o
sistema de produção e consumo em massa começa, fica impossível cessá-lo.
O consumismo virou não só um estilo de vida, mas também um traço do
curso de vida como um todo, incluindo o período prolongado dos últimos
anos de vida que se tornou comum no mundo desenvolvido. Jones et al.
(2008) observam que é justamente esse o caso, já que muitas pessoas mais
velhas hoje, na Grã-Bretanha e em outros locais, possuem rendas mais altas
do que as gerações anteriores, e algumas optam por antecipar a
aposentadoria, parcial ou totalmente. A atual geração de idosos é também a
que ajudou a gerar a cultura de consumo pós-1945. Estão entre os primeiros
“cidadãos-consumidores” e, como tal, continuam consumindo ativamente por
muitos anos da velhice em vez de se acomodarem no “consumo passivo” de
serviços. Esse estudo empírico analisa detalhadamente as diversas formas por
meio das quais os idosos ao mesmo tempo impulsionam e sofrem os impactos
do consumismo.
Uma das tendências cada vez mais em voga é a do consumo “verde”,
ainda que esse seja um conceito tão abrangente que fica difícil explicá-lo com
clareza. Em uma pesquisa com 1.600 casas em Devon, na Inglaterra, Gilg,
Barr e Ford (2005) se aprofundaram no que motiva os consumidores verdes a
tentar adotar estilos de vida mais sustentáveis. A pesquisa identificou quatro
grupos principais. Os ambientalistas engajados tinham mais propensão a
abraçar o consumo sustentável – comprando produtos da região, orgânicos e
a preços justos e praticando a compostagem. Os ambientalistas tradicionais
se engajavam em comportamentos bastante parecidos com esse, exceto pela
compostagem, enquanto os ambientalistas de ocasião muito raramente ou
quase nunca adotavam essas medidas. Os não ambientalistas não
demonstraram inclinação para realizar nenhuma dessas ações que foram
descritas. Havia uma conexão entre o consumo sustentável e os valores
ambientalistas, o que sugere que os governos podem enfrentar dificuldades
para incentivar uma mudança do consumo verde para estilos de vida
sustentáveis.

[122] Referências e leitura complementar

ALDRIDGE, A. Consumption. Cambridge: Polity, 2003.


CAMPBELL, C. The Romantic Ethic and the Spirit of Modern Consumerism. Oxford:
Blackwell, 2005.
GILG, A.; BARR, S.; FORD, N. Green consumption or sustainable lifestyles?
Identifying the sustainable consumer, Futures, 37(6), 2005, p.481-504.
JONES, I. R.; HYDE, M.; HIGGS, P.; VICTOR, C. R. Ageing in a Consumer Society:
From Passive to Active Consumption in Britain. Bristol: Policy Press, 2008, esp. cap.
5.

Divisão do trabalho
Definição prática

Separação das tarefas e ocupações do trabalho em um processo de


produção que cria uma abrangente interdependência econômica.

Origens do conceito

Uma das primeiras explorações sistemáticas sobre o tema da divisão do


trabalho é A riqueza das nações (1776) de Adam Smith, em que o autor
descreve a divisão do trabalho em uma fábrica de alfinetes. Smith afirmou
que uma pessoa que trabalhasse sozinha poderia fabricar vinte alfinetes por
dia, mas desmembrando a tarefa em diversas atividades simples, a produção
coletiva atingiria 48 mil alfinetes por dia. Trata-se de um exemplo clássico
dos imensos benefícios obtidos em uma divisão do trabalho sistemática e
planejada. Segundo a teoria de Émile Durkheim (1984 [1893]), a divisão
industrial do trabalho, em seu sentido mais amplo, conduzia a mudanças
fundamentais no tipo de solidariedade social que une a sociedade. Para ele, as
formas tradicionais de solidariedade fundamentadas nas semelhanças davam
lugar a uma forma moderna alicerçada nas diferenças e na cooperação. Para
Durkheim, a divisão do trabalho não era apenas um fenômeno econômico,
mas uma transformação da sociedade como um todo.

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