Você está na página 1de 4

Construindo uma Identidade de Consumo: Uma Abordagem Sociocultural da População de

Baixa Renda no Brasil

Palavras-chaves: Consumo. Consumo consciente. Baixa renda. Consumismo.

Introdução

O estudo e análise do consumo e de sua dinâmica têm sido objetos de pesquisa cada vez
mais frequentes. No entanto, é essencial adotar abordagens diferenciadas ao examinar grupos
sociais específicos. Este artigo tem como objetivo analisar o comportamento do consumidor de
baixa renda no Brasil e compreender por que o consumo desempenha um papel proeminente
nessa realidade, dada a significativa presença dessa classe na sociedade. Ampliando assim as
teorias existentes, adicionando uma abordagem que enxergue o consumo excessivo como uma
consequência do contexto social em que a comunidade de menor poder aquisitivo se encontra.
Além de enfrentar desvantagens sociais e lidar com desafios diários, a classe de baixa renda
muitas vezes adota práticas que agravam ainda mais sua situação, incluindo o consumo
excessivo e descontrolado.

O estudo do consumo como um fator social é fundamental para entender a economia, a


sociedade e o meio ambiente. Ele oferece compreensões valiosas que podem informar políticas,
estratégias de negócios e ações individuais que podem moldar um futuro mais sustentável e
inclusivo tanto para o Brasil quanto para o mundo. À primeira vista, o consumo pode parecer
trivial, pois faz parte intrínseca do cotidiano. Porém, o consumo é um processo social
enigmático e ambíguo, que engloba diferentes dimensões, o que justifica sua investigação em
diferentes campos do conhecimento. Para a construção de uma compreensão abrangente desse
assunto, é necessário destacar contribuições relevantes relacionadas a este tema.

Segundo Zygmunt Bauman (1999), a busca constante pelo novo supera a satisfação
proporcionada pelo próprio objeto, impulsionando assim o consumidor. Nesse contexto, a
relação entre necessidade e contentamento se inverte, uma vez que a promessa de satisfazer um
desejo supera a mera necessidade. Portanto, quando o sujeito adquire o objeto, isso gera uma
sensação imediata de satisfação, o que logo é sucedido por um novo anseio. Uma busca
incessante pelo inédito se instaura, mesmo que esse novo desejo seja desconhecido pelo
indivíduo, o interesse pelo mesmo será despertado por meio de ofertas e apelos que surgirão. O
autor argumenta que é essa busca incessante que nutre e sustenta a sociedade de consumo.

Em contrapartida, na visão de Slater (2002), a natureza enigmática do consumo decorre


do fato de que, como um processo social, ele estabelece conexões entre questões do dia a dia e
questões fundamentais da sociedade contemporânea. Slater aborda o consumo como um
processo cultural, ele explicita a influência da mídia e da publicidade na construção das
aspirações e desejos dos consumidores. É através da adesão a padrões de consumo
culturalmente diferentes, que as relações sociais e a estrutura da sociedade são alteradas e
perpetuadas.

O consumismo é uma característica proeminente na sociedade brasileira


contemporânea, onde o consumo excessivo de bens, produtos e serviços é notável. Em seu livro
Sociedade de Consumo (2008), Baudrillrd observa que os indivíduos estão sempre cultuando e
admirando o novo, incentivando uma produção extremamente rápida de novos bens e serviços.
Essa necessidade frequente de obter algo moderno, faz com que as pessoas estejam
constantemente adquirindo itens supérfluos e desnecessários, apenas pela sensação de prazer
trazida pela abastança e ostentação. Tal característica contemporânea aflige principalmente a
população de baixa renda, que está constantemente exposta a mecanismos que incitam a prática.

Em 2021, pelos critérios do Banco Mundial, 62,5 milhões de pessoas (29,4% da


população do Brasil) estavam na pobreza e, entre elas, 17,9 milhões (8,4% da população) eram
extremamente pobres (IBGE). Tal estatística deixa evidente a expressividade da população em
situação de pobreza no Brasil, e consequentemente, uma parcela significativa no mercado
consumidor brasileiro. Cerca de três quartos das famílias brasileiras estão incluídas nas classes
C, D e E, o que implica em uma renda familiar mensal média de aproximadamente R$ 927,00,
valor que, ajustado de acordo com o salário-mínimo, equivaleria a cerca de R$ 2.100,00 em
2007. Essas famílias representam 42% do consumo no país e movimentam, anualmente, cerca
de 390 bilhões de reais (BARRETO e BOCHI, 2002; BLECHER E TEIXEIRA JR., 2003).

Portanto, é importante entender se todo esse consumo é realizado de forma 'consciente'.


O indivíduo que pratica o consumo consciente é aquele que, ao fazer suas escolhas de compra,
considera não apenas o meio ambiente, mas também a saúde humana e animal, relações de
trabalho justas, além de fatores como preço e marca. Esse tipo de consumidor está ciente de que
suas decisões de compra têm o potencial de contribuir para a transformação da sociedade.
Em 2016 o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e a Confederação Nacional de
Dirigentes Lojistas (CNDL) conduziram o cálculo do Indicador de Consumo Consciente (ICC)
pelo segundo ano consecutivo. O ICC alcançou 72,7%, mantendo-se estável em comparação
com 2015, quando registrou 69,3%. O ICC varia de 0% a 100%, onde um índice mais alto
indica um nível maior de consumo consciente. Numa escala de 1 a 10, os entrevistados atribuem
uma nota média de 8,9 para a importância do tema consumo consciente. No entanto, apenas três
em cada dez brasileiros (32,0%) podem ser considerados consumidores conscientes de fato
(SPC BRASIL).

Castilhos e Rossi (2009) destacam que para famílias de baixa renda, a habitação é
fundamental e consome grande parte de seus recursos financeiros. Além disso, dispositivos
eletrônicos desempenham um papel importante na conectividade com a modernidade. Alguns
eletrodomésticos, como geladeiras e fogões, são considerados essenciais, enquanto a compra
de móveis está relacionada a uma melhor qualidade de vida. Famílias de baixa renda, devido à
falta de educação financeira, são mais influenciadas por estratégias de marketing e publicidade.
Elas estão constantemente expostas a anúncios em várias plataformas, como TV, rádio,
transporte público, dispositivos móveis e websites, tornando difícil para essas pessoas
encontrarem momentos sem estímulos para o consumo.

Visto isso, a literatura apresenta um estudo feito em 2017 por Kícia Russano, cujo tema
era “Consumo, endividamento e exclusão social: uma análise sobre o consumo e seus impactos
financeiros e sociais em famílias brasileiras e cariocas de baixa renda”. A autora concluiu que
a sociedade de consumo aliena seus membros, não apenas no processo de produção de
mercadorias, mas também em relação aos impactos prejudiciais do alto consumo. Isso ocorre
por meio da criação de desejos e necessidades através dos meios de comunicação, que
transformam o consumo em um mito. A abundância é vista de forma positiva, ignorando suas
consequências sociais e a pobreza que resulta da má distribuição de recursos, sendo vista
constantemente associada ao progresso e ao crescimento.

Segundo Ciro Marcondes (1993) os produtos e serviços veiculados pela massa, utilizam
a identificação e a projeção para chegar até o consumidor e o convencer, colocando nos
produtos uma carga de simbolismo, transmitindo assim padrões de vida. Portanto, grande parte
dos produtos e serviços representam situações ideais, tanto na questão de valores, quanto na de
prazer. Assim, torna-se claro que o cenário em que vive o indivíduo de baixa renda, desempenha
um papel significativo no incentivo a comportamentos de consumo em excesso.
Hipótese

O cenário social em que os indivíduos de baixa renda estão inseridos, é um fator


determinante do consumo em excesso por parte deles.

Objetivos

Objetivo geral

O propósito deste estudo foi examinar o comportamento dos consumidores de baixa


renda no contexto brasileiro, visando compreender as razões que os levam a realizar suas
compras. Através de uma análise teórica detalhada, busca-se elucidar o papel desempenhado
pelo consumo na vida dessa parcela da população, bem como entender sua conexão com o
contexto social e cultural. Ao explorar essa relação, é possível determinar como o ambiente
social em que o indivíduo está inserido influencia suas práticas de consumo.

Objetivos específicos

Evidenciar a expressividade da população de baixa renda no público consumidor


brasileiro.

Conceituar o consumo, relatar seus pilares, e analisar a construção das estratégias que o
promovem.

Você também pode gostar