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Escola da APEL
Disciplina: EMRC
O consumismo e o
hiperconsumismo
• Claro que, para viver, temos de consumir. Todos temos necessidades de alimentação, vestuário ou
habitação. A essas podemos acrescentar outras, não tão primárias, mas igualmente fundamentais, como
as necessidades afetivas, culturais, religiosas.
• É natural consumir. É impossível não consumir. O problema está em passar de consumidor a consumista.
Isso acontece quando do “consumir para viver” se passa ao “viver para consumir”. Estamos, então, no
campo do consumismo e, mesmo, do hiperconsumismo.
O Hiperconsumismo
Alguns filósofos e sociólogos dizem mesmo que já vivemos numa época de hiperconsumismo,
que consiste na procura do prazer pelo consumo irracional, impulsivo, sem olhar a
consequências, e comporta a ilusão de que tudo é transacionável. Começa por ser o consumo
de objetos, espétaculos, diversões e viagens, para abarcar todos os outros âmbitos da
vida. Afirma o filósofo francês Gilles Lipovetsky:
“O espírito de consumidor difunde-se por domínios que não são comerciais. Todas as grandes
instituições sociais são colonizadas pelo consumismo. O casamento deixa de ser para a vida
e passa a ser um contrato rescindível: se não estou bem, mudo. Na relação com a política
passa-se o mesmo: os eleitores decidem cada vez menos em função de uma militância
partidária e cada vez mais segundo uma lógica individual, mudam o seu voto consoante as
questões em jogo em cada eleição, o voto estratégico do consumidor político tende a
substituir o voto de classes à moda antiga. E até a saúde é hoje encarada numa perspetiva
consumista(…) com os gastos em prevenção, em análises, em consultas de rotina, nos mais
variados tratamentos que visam manter o que são”.
Todos experimentamos o apelo e mesmo a sujeição ao consumo. Como o sistema económico não tem, em si
mesmo, critérios que permitam distinguir as formas mais elevadas de satisfação das necessidades
humanas, das necessidades artificialmente criadas e que podem causar danos físicos, morais e sociais.
Há que notar, ainda, que o sistema económico promove o consumo, ao criar bens com ciclos de vida
cada vez mais curtos e de difícil(ou mais cara) reparação ou que rapidamente evoluem para a modelos
melhores.
Uma crítica ao hiperconsumismo pode assentar nestes pontos:
• 1. Nem tudo se pode comprar; é perigoso transformar em bem comercializável o que deve ser do
domínio do gratuito;
• 2. O hiperconsumismo leva ao sobre-endividamento. Como a dose de consumo cada vez tem de ser maior
e mais cara, são precisos mais recursos; O acesso ao crédito(o crédito ao consumo) é a solução. Não
é de admirar que haja pessoas com cincos ou seis créditos e que os institutos de proteção ao
consumidor revelem números crescentes de famílias sobre endividadas, isto é, que têm encargos com o
pagamento de dívidas superiores aos rendimentos de que dispõem;
• 3. O hiperconsumismo contribui para a catástrofe ecológica; consumir é gastar recursos;
hiperconsumir é hiperpoluir.
• 4. O hiperconsumismo promete a felicidade através do consumo, mas os resultados são bem diferentes.
Aprender a consumir
Para uma hierarquia das necessidades
Os livros de economia distinguem entre necessidades livres(gratuitas: ir à praia,
passear no jardim) e necessidades económicas, entre necessidades
primárias(alimentação), secundárias(cultura) e terciárias ou supérfluas(ténias de
marca), e ainda entre necessidades individuais e coletivas(ruas, segurança, leis).
João Paulo II, por seu turno, na encíclica Centesimus Annus, afirma que é
necessário subordinar as “necessidades materiais e instintivas às instintivas às
interiores e espirituais”. Por outras palavras, subordinar o ter ao ser, porque o
consumo deve ser um meio e não um fim.
Como reação ao consumismo surgiu o consumerismo. Trata-se de movimentos e
organizações que começaram a surgir na década de 1950 e defendem um consumo
esclarecido, racional, controlado, responsável, ecológico. Estas organizações,
pretendem, não só informar e proteger o consumidor, mas também criar equilíbrio
entre produtores, distribuidores e consumidores, e contribuir para a preservação de
valores sociais e ambientais.
Consumo, mas não deixo de “existir”
Perante o projeto da abundância(ter), é indispensável afirmar o projeto da autenticidade(ser).
Numa sociedade que condena a pessoa à unidimensionalidade e a manipula através do consumismo,
impõe-se o repto de um novo modelo de Homem; sóbrio e austero(frente ao consumismo), generoso
na gratuidade(frente ao mercantilismo) e solidário com os demais(frente à competitividade).
Perante o consumismo, é preciso:
• Guiar-se por uma imagem integral do homem, subordinando as necessidades materiais e
instintivas às interiores e espirituais; e a satisfação das necessidades principais e
autênticas às particulares e secundárias(CA,11);
• Empreender uma grande obra educativa e cultural, para saber escolher corretamente as
necessidades;
• Evitar exemplos do consumismo alienante e contrário à dignidade do homem: droga, pornografia;
• Fomentar estilos de vida que orientem as opções do consumo, das poupanças e das aplicações;
• Investir adequadamente;