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2022/2023

Escola da APEL
Disciplina: EMRC

O consumismo e o
hiperconsumismo

José Tomás Silva Ornelas Nº9 12ºD


Consumismo
O consumismo é um estilo de
vida orientado por uma
crescente propensão ao
consumo de bens ou serviços,
em geral supérfluos, em
razão do seu significado
simbólico (prazer, sucesso,
felicidade), frequentemente
atribuído pelos meios de
comunicação social.
• “Consumo, logo existo”. “Sou o que visto, o que vejo, o que uso, o que mostro”. “I love marca X”.
“Adoro…”. “Keep calm and go shopping”. Estas expressões são lugares-comuns. A sociedade de consumo
vive de milhares, milhões de pessoas como nós, que consomem, trabalham para produzir, produzem para
consumir, consomem para viver. Por vezes, só vivem na medida em que consomem. E chegam mesmo a viver
para consumir. Parece que o consumo está no coração da sociedade moderna, que verificou que é mais
difícil vender que produzir e por isso incentiva o consumo com preços baixos, marketing e crédito,
associando estilos de vida a padrões de consumo. Mais do que cidadãos, somos consumidores – dizem.

• Claro que, para viver, temos de consumir. Todos temos necessidades de alimentação, vestuário ou
habitação. A essas podemos acrescentar outras, não tão primárias, mas igualmente fundamentais, como
as necessidades afetivas, culturais, religiosas.

• É natural consumir. É impossível não consumir. O problema está em passar de consumidor a consumista.
Isso acontece quando do “consumir para viver” se passa ao “viver para consumir”. Estamos, então, no
campo do consumismo e, mesmo, do hiperconsumismo.
O Hiperconsumismo
Alguns filósofos e sociólogos dizem mesmo que já vivemos numa época de hiperconsumismo,
que consiste na procura do prazer pelo consumo irracional, impulsivo, sem olhar a
consequências, e comporta a ilusão de que tudo é transacionável. Começa por ser o consumo
de objetos, espétaculos, diversões e viagens, para abarcar todos os outros âmbitos da
vida. Afirma o filósofo francês Gilles Lipovetsky:
“O espírito de consumidor difunde-se por domínios que não são comerciais. Todas as grandes
instituições sociais são colonizadas pelo consumismo. O casamento deixa de ser para a vida
e passa a ser um contrato rescindível: se não estou bem, mudo. Na relação com a política
passa-se o mesmo: os eleitores decidem cada vez menos em função de uma militância
partidária e cada vez mais segundo uma lógica individual, mudam o seu voto consoante as
questões em jogo em cada eleição, o voto estratégico do consumidor político tende a
substituir o voto de classes à moda antiga. E até a saúde é hoje encarada numa perspetiva
consumista(…) com os gastos em prevenção, em análises, em consultas de rotina, nos mais
variados tratamentos que visam manter o que são”.
Todos experimentamos o apelo e mesmo a sujeição ao consumo. Como o sistema económico não tem, em si
mesmo, critérios que permitam distinguir as formas mais elevadas de satisfação das necessidades
humanas, das necessidades artificialmente criadas e que podem causar danos físicos, morais e sociais.

Há que notar, ainda, que o sistema económico promove o consumo, ao criar bens com ciclos de vida
cada vez mais curtos e de difícil(ou mais cara) reparação ou que rapidamente evoluem para a modelos
melhores.
Uma crítica ao hiperconsumismo pode assentar nestes pontos:
• 1. Nem tudo se pode comprar; é perigoso transformar em bem comercializável o que deve ser do
domínio do gratuito;
• 2. O hiperconsumismo leva ao sobre-endividamento. Como a dose de consumo cada vez tem de ser maior
e mais cara, são precisos mais recursos; O acesso ao crédito(o crédito ao consumo) é a solução. Não
é de admirar que haja pessoas com cincos ou seis créditos e que os institutos de proteção ao
consumidor revelem números crescentes de famílias sobre endividadas, isto é, que têm encargos com o
pagamento de dívidas superiores aos rendimentos de que dispõem;
• 3. O hiperconsumismo contribui para a catástrofe ecológica; consumir é gastar recursos;
hiperconsumir é hiperpoluir.
• 4. O hiperconsumismo promete a felicidade através do consumo, mas os resultados são bem diferentes.
Aprender a consumir
Para uma hierarquia das necessidades
Os livros de economia distinguem entre necessidades livres(gratuitas: ir à praia,
passear no jardim) e necessidades económicas, entre necessidades
primárias(alimentação), secundárias(cultura) e terciárias ou supérfluas(ténias de
marca), e ainda entre necessidades individuais e coletivas(ruas, segurança, leis).
João Paulo II, por seu turno, na encíclica Centesimus Annus, afirma que é
necessário subordinar as “necessidades materiais e instintivas às instintivas às
interiores e espirituais”. Por outras palavras, subordinar o ter ao ser, porque o
consumo deve ser um meio e não um fim.
Como reação ao consumismo surgiu o consumerismo. Trata-se de movimentos e
organizações que começaram a surgir na década de 1950 e defendem um consumo
esclarecido, racional, controlado, responsável, ecológico. Estas organizações,
pretendem, não só informar e proteger o consumidor, mas também criar equilíbrio
entre produtores, distribuidores e consumidores, e contribuir para a preservação de
valores sociais e ambientais.
Consumo, mas não deixo de “existir”
Perante o projeto da abundância(ter), é indispensável afirmar o projeto da autenticidade(ser).
Numa sociedade que condena a pessoa à unidimensionalidade e a manipula através do consumismo,
impõe-se o repto de um novo modelo de Homem; sóbrio e austero(frente ao consumismo), generoso
na gratuidade(frente ao mercantilismo) e solidário com os demais(frente à competitividade).
Perante o consumismo, é preciso:
• Guiar-se por uma imagem integral do homem, subordinando as necessidades materiais e
instintivas às interiores e espirituais; e a satisfação das necessidades principais e
autênticas às particulares e secundárias(CA,11);
• Empreender uma grande obra educativa e cultural, para saber escolher corretamente as
necessidades;
• Evitar exemplos do consumismo alienante e contrário à dignidade do homem: droga, pornografia;
• Fomentar estilos de vida que orientem as opções do consumo, das poupanças e das aplicações;
• Investir adequadamente;

• Preservar o ambiente natural e salvaguardar o humano;


• Manter no horizonte, como luz irradiante e atrativa, o propósito de produzir e consumir
para ser mais e se realizar.

De contrário, sobrevém a perda de sentido autêntico da existência, evidente nas


sociedades ocidentais mais avançadas, quando se busca o produzir e o consumir como fins
em si mesmos e quando a pessoa se preocupa só, ou prevalentemente, com ter e gozar.
FIM

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