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Fonte 1 – População e Engenhos – séc.

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Fonte 2 -O documento apresentado a seguir é uma carta do capitão Duarte Coelho, donatário
da capitania de Pernambuco, na qual relata ao rei D. João III vários problemas da colonização e
indica algumas alternativas:

Quero dar conta a V.A. (...) que (...) vim a saber por cartas de meus amigos, em especial por uma
de Manuel de Albuquerque, que me disso deu conta por já dá ter passado alguma prática (...)
com algumas pessoas que no negócio entendam (...) se oferecem a V.A. de quererem povoar ou
ajudar a “povoar as capitanias perdidas de lá debaixo” (...) para o qual pedem a V.A.: que por
vinte anos lhe dê o “brasil” de toda a costa (...) que dentro do dito tempo lhe largue e dê todos
os dízimos, rendas de todas as terras e costa do Brasil (...) Parecem quererem esses “armadores
ou contratadores” (...) gastos e despezas e derramamento de sangue (...) e por cima de tudo V.A.
fará o que for servido, posto que de minha livre vontade não concederei em me meterem em tais
“armações e companhias (...) Haja por bem de me dar licença que em cada um ano possa mandar
de cá três mil quintais de “brasil” às minhas próprias custas, fora de todos os direitos (...) E
outrossim pessoas nobres e poderosas que lá estão no Reino e cá (...) fazer “engonho”, que é
coisa real e que muito aumenta e acrescenta o bem da terra (...) E outrossim dizem lá e levantam
outro sobeismo que não hão de gosar das liberdades os moradores e povoadores que de cá
mandam “açúcares ou algodões” senão os que forem de sua lavra e colheita, isto, Senhor, parece
abusar (...) uns fazem engenhos de “açúcar” porque são poderosos para isso (...) conforme ao
regimento que tenho posto, outros são mestres de engenhos, outros mestres de açúcares (...)
Acerca das coisas do “brasil” projeva a V.A. assim pela desordem como porque o roubar com
estas desordens e assim o afirmo do que levo grande paixão e desgosto (TAPAJÓS, 1956, p. 203-
208).

Com base na leitura do documento, desenvolva os itens que se seguem:

1. Justifique o interesse manifestado por vários empreendedores na exploração do Brasil.

2. Aponte um conflito que já se delineava na nascente sociedade colonial.


Fonte 3 - Livro das Horas de D. Manuel
Fonte 4 - Leia com atenção o segundo capítulo do livro História do Brasil, do frei Vicente do
Salvador. O autor nasceu na Bahia por volta de 1564 e foi batizado como Vicente Rodrigues Palha.
Formou-se em Teologia e Cânones pela Universidade de Coimbra, retornando à América, ainda
nos Quinhentos, em fi ns dos anos oitenta. Foi cônego, vigário-geral e governador do bispado,
mas só em 1597 vestiu o hábito de São Francisco. Sua História do Brasil, segundo o historiador
Capistrano de Abreu, “é um dos maiores livros de nossa literatura colonial”

Capítulo Segundo - Do nome do Brasil

O dia que o capitão mor Pedro Álvares Cabral levantou a Cruz, que no capítulo atrás dissemos,
era a três de maio, quando se celebra a Invenção da Santa Cruz, em que cristo nosso Redentor
morreu por nós, e por esta causa pôs nome à terra, que havia descoberta de santa Cruz e por
este nome foi conhecida muitos anos. Porém, como o Demônio com o sinal da Cruz perdeu todo
o Domínio que tinha sobre os homens, receando perder também o muito que tinha em os desta
terra, trabalhou que se esquecesse o primeiro nome e lhe fi casse o de Brasil, por causa de um
pau assim chamado, de cor abrasada e vermelha com que tingem panos, que o daquele divino
pau, que deu tinta e virtude a todos os sacramentos da Igreja, e sobre que ela foi edifi cada, e fi
cou tão fi rme e bem fundada como sabemos. E por ventura por isto, ainda que ao nome de Brasil
ajuntaram o de estado e lhe chamam estado do Brasil, fi cou ele tão pouco estável que, com não
haver hoje cem anos, quando isto escrevo, que se começou a povoar, já se hão despovoados
alguns lugares e, sendo a terra tão grande e fértil como ao diante veremos, nem por isso vai em
aumento, antes em diminuição

Disto dão alguns a culpa aos Reis de Portugal, outros aos povoadores: aos Reis pelo pouco caso
que hão feito deste tão grande estado, que nem o título quiseram dele, pois, intitulando-se
senhores de Guiné, por uma caravelinha que lá vai e vem, como disse o Rei do Congo, do Brasil
não se quiseram intitular; nem depois da morte d’El Rei d. João Terceiro, que o mandou povoar e
soube estimá-lo, houve outro que dele curasse, senão para colher suas rendas e direitos. E deste
mesmo modo se hão os povoadores, os quais, por mais arraigados, que na terra estejam e mais
ricos que sejam, tudo pretendem levar a Portugal, e se as fazendas e bens que possuem
souberam [soubessem] falar, também lhes houveram [haveriam] de ensinar a dizer como os
papagaios, aos quais a primeira coisa que ensinam é: papagaio real para Portugal, porque tudo
querem para lá. E isto não tem só os que de lá vieram, mas ainda os que cá nasceram, que uns e
outros usam da terra, não como senhores, mas como usufrutuários, só para a desfrutarem, e a
deixarem destruída.

Donde nasce também que nenhum homem nesta terra é repúblico, nem zela ou trata do bem
comum, senão cada um do bem particular. Não notei eu isto tanto quanto o vi notar a um Bispo
de Tucuman da Ordem de São Domingos, que por algumas destas terras passou para a corte. Era
grande canonista, homem de bom entendimento e prudência, e assim ia muito rico. Notava as
cousas e via que mandava comprar um frangão, quatro ovos ou um peixe para comer e nada lhe
traziam, porque não se achava na praça nem no açougue e, se mandava pedir as ditas cousas e
outras mais a casas particulares lhas mandavam. Então disse o Bispo: verdadeiramente que
nesta terra andam as cousas trocadas, porque toda ela não é república, sendo-o cada casa

E assim é que, estando as casas dos ricos (ainda que seja à custa alheia, pois muitos devem,
quanto tem) providas de todo o necessário, porque tem escravos, pescadores e caçadores que
lhes trazem a carne e o peixe, pipas de vinho e de azeite que compram por junto, nas vilas muitas
vezes se não acha isto de [à] venda. Pois o que é fontes, pontes, caminhos e outras cousas
públicas é uma piedade, porque, atendo-se uns aos outros nenhum as faz, ainda que bebam água
suja e se molhem ao passar dos rios ou se orvalhem pelos caminhos, e tudo isto vem de não
tratarem do que há cá de fi car, senão do que hão de levar para o Reino.

Estas são as razões porque alguns como muitos dizem que não permanece o Brasil nem vai em
crescimento; e a estas se pode ajuntar a que atrás tocamos de lhe haverem chamado Estado do
Brasil, tirando-lhe o de Santa Cruz, com que pudera ser Estado e ter Estabilidade e fi rmeza.
(Transcrição feita a partir das edições de Capistrano de Abreu (1918, p. 15-17) e de Maria Leda
Oliveira (2008, f. 4, v. 5))

1. Com base no texto, responda: a. Para o autor, quem foi o responsável pela mudança de
nome da terra descoberta pelos portugueses?
2. Você notou que frei Vicente afi rma que, apesar de se ter adicionado a palavra “Estado”
ao Brasil, fi cando "Estado do Brasil", de fato a terra não era estável. Note que aqui há
um jogo que foi retomado no fi nal do texto: o Estado não era estável. E mais, apesar de
grande e fértil, não crescia; pelo contrário, diminuía. Para usar a palavra do autor – de
cunho religioso –, de quem é a “culpa”?
3. Qual é o traço comum de responsabilidade entre reis e povoadores na “diminuição” da
terra?
4. De que natureza é esse traço, religiosa ou econômica? Justifique.
5. Retire do texto a passagem em que frei Vicente expõe com toda clareza a exploração da
terra.
6. Explique o signifi cado da seguinte passagem: “verdadeiramente que nesta terra andam
as cousas trocadas, porque toda ela não é república, sendo-o cada casa”
7. Qual é a última razão arrolada pelo autor para o fato de o Brasil não crescer?

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