Você está na página 1de 60

""

^J*6C*> / >^v-^ ^'* ^fò isét


"-.

BANDARRA

DESCUBERTO NAS SUAS TROVAS.

Collecçam de Profecias mais notaveis, respeito a


felicidade de Portugal, e Cahida dos
maiores Imperios do mundo.

íonvres:
Impresso por W. Lewjs, Paternostcr-nm,

1810. i
r
y .

. - i . ' >.-«_ X.

:. .

o . .'..

23-2'l8S9]
PREFAÇÃO.

C_^OM a maior satifaçaõ e alvoroço, recebeo o pub


lico iilustrado aediçaõ q'em 1809, se fizera em Bar
celona das obras de Gonçalo annes Bandarra: ediçaõ
completa, q' naõ sõ abrange tudo, quanto se achava,
na que se havia feito em Nantes em 1644 ; mas taõ
bem as trovas, q' se descobrirao muitos annos depois,
de eque existem copias antiquíssimas, e as que ulti
mamente aparecerao em 1729, na Igreja de S. Pedro
da Villa de Trancoso Pátria do seu Autor, cujo
original escrito pela Letra do Padre Gabriel Joaõ
da mesma Villa q' era amanuense de Bandarra,
porque este naõ sabia escrever, se acha entre o»
papeis do Santo Ofticio* de Lisboa havendo lho
remetido o seu commissario Domingos Furtado de
Mendonça, depois de se terem extrahido diversas
copias muito fieis, e authenticas. Pela primeira
ves, viraõ estas ultimas a Luz da imprensa, sendo
certo q' se naõ faziaõ menos dignas desta honra, do
q' as q' ja se haviaõ publicado em 1644.
Nestas primeiras profetizou Bandarra em termos
taõ frizantes, como claros a famoza acclamaçaõ do
Senhor D. Joaõ 4; annunciando o, hum seculo antes
pelo seu próprio nome, assim como Izaias (guar
dada a devida proporçao) havia dois seculos antes
annunciado a Cyro. Nas segundas agora pela pri-
a 2
"

IV TREFAÇAÕ.

meira ves impressas, Bandarra nos fala de successos


bem diferentes, fixando a epoca de que deviaõ datar
se estec novos acontecimeutos, de huma maneira
taÕ clara, e maravilhoza, como adiante faremos ver,
quando explicarmos a primeira trova da sua in
troduçao.
Negar o dom Profetico a Gonçalo annes Bandarra
JiaÕ digo que seja impiedade: mas sim rematado
desvario. Os que a isso se tem proposto tiveraõ
o arrojo de recorrer a hum expediente extravagan
tissimo. Atreverao se a escrever, que tal Gon
çalo annes Bandarra nunca havia existido e que as
trovas, que corriaõ em seu nome, haviaõ sido for
jadas pelos Jezuitas depois d' acclamaçaõ do Senhor
D. Joaõ 4o- Mas que desgraçadissimo expediente?
So o rancor, e implacável odió jurado aos Jezuitas,
podia lembrar hum semelhante recurso.
A existencia de Gonçalo annes Bandarra, o tempo
em que existio, e a autheítticidade, doque escreveo,
e delle temos ; tudo isto está de tal maneira pro
vado por documentos historicos, que todo o que
s' atrever a duvidar de qualquer daquelles artigos,
naõ poderá deixar de ser estigmatizado com a nota,
ou d' ignorância, ou da tolice. Deduziremos al
gumas Authoridades dos mais celebres Escriptores
1 ;/j»r^e Antiquidade, e seja a primeira de Antonio de
'HJL, Souza, e Macedo na sua Ljizjtania Libertada. Pelos
annos de 1550, diz elle, reinando em Portugal El
Rey D. Joaõ 3o- morreo na nobre villa de Trancozo-,
o celebre Gonçalo annes Bandarra, que deixou de
cantados, em verso, muitos successos deste Reynq,
PREFAÇÃO. T
c muitos ânuos antes de haverem succedido, dos
quaes versos, alem dos nossos escriptores, faz mençaõ
D. Joaõ de Horasco, Castelhano no seu tratado de U-
verdadeira, e falsa Profecia, cap. 14. O mesmo )£*im/ *-
autõTTthtonio de Souza è Macedo falando do tu- /C» '
mulo, que se havia erigido a Gonçalo annes Ban
darra diz— No anno e 1641 D. Álvaro d'Abran-
ches Generel da Provincia da Beira elevou honro
samente com hum nobre epitafio á humilde Sepul
tura deste homem no portico da Igreja de S. Pedro
da dita Villa de Trancozo, e depois disto o Rey D.
Joaõ 4o. deu huma capella de muito boa renda a
hum seu parente, e com muita justiça; porque se
Nabucodonozor, e Cyro deraõ grandes remunera-
çoens a Izaias, e Jeremias ; porque haviaõ profeti
zado delles, e se Alexandre Magno, adorou a Jaddo
Supremo Pontifice de Jeruzalem por obsequio a
Daniel, que tinha profetizado as suas victorias,
com mais razaõ hum Principe Christianissimo, maior
que Alexandre, devia mostrar a sua gratidao ge-
neroza.
D. Joaõ de Horasco dá taõ bem hum testemunho
gloriozo de Bandarra, e dos seos escritos no Lugar
citado por Antonio de Souza e Macedo. O mesmo
faz D. Nicolao Monteiro na sua obra intitulada,
a voz da rola—e o Pc. Vaseoncellos no seu livro da S^X$
restauração de Portugal—como tudo se pode ver
com hum só trabalho na Biblioteca Lusitana do nosso
Barboza Macedo. Taõbem naõ he de pequeno
pezo a authoridade de D. Vasco Luiz da Gama 5o.
Conde da Vidigueira, e primeiro Marqnêz de Niza.

<*
VÍ PREFAÇÃO.
que mandou fazer a impressao das obras de Bandarra
em Nantes em 1644. ; e hé o Autor da dedicatoria, ,
e Prologo, que se lè naquella ediçao, e fielmente
na que agora se fez em 1809.
Naõ sei eu, como homens, que tenhaõ lido tudo
isto, se atrevaõ a escrever, que nunca existira Gon
çalo annes Bandarra, e que as trovas, que elle dictára
pelos annos do Reynado do Snr. D. Joaõ 3o- foraõ
escritas pelo Pe. Antonio Vieira nos princípios do
Reynado do S'. D. Joaõ 4o. mediando naõ menos
do que hum seculo. Mas que muito que se vejaõ
destas incredulidades em hum scculo em que as
verdades mais evidentes, e demonstradas naõ estaõ
em abrigo de serem atacadas, e postas em duvida?
Demonstrada por aquelle modo a existência de
Gonçalo annes Bandarra, o tempo, em que vivera, e
dictára as suas trovas, e a authoridade delias ; naõ
he possível o duvidar se, deque elle tivera o dom
profetico, e fora hum daquelles homens, aquem
Deos Nosso Senhor, que destribue os seos dons
como, e porquem lhe apraz se dignou de revelar os
successos, que estavaõ por vir, e os futuros contin
gentes ; o em quanto a Santa Igreja, nos naõ mandar
o contrario com toda a tranquilidade de nossas con-
ciencias podemos assim o crer com huma Fé humana
e piedoza. E se este nome de Profeta, que lhe
damos, como taõ bem o de profecias, com que ape
lidamos as suas obras, desagrada a alguns ouvidos
delicados, e melindrozos com excesso, que nos façaÕ
estes critiçoens a mercê de dizemos que nome de
vemos dàr ao Autor de huns escritos, nos quaes
PREFAÇÃO. vu

expressamente se annunciaõ successos, que depois


se viraõ fielmente realizados passado hum seculo, e
mais?
D. Vasco Luis da Gama na dedicatoria que
assima fizemos mençao e o Pe. Antonia Vieira da
extincta companhia de Jesus fizeraõ huma fiel
acommodaçaõ do primeiro corpo das trovas do Ban
darra aos successos que nellas se achavaõ profeti
zados e de que elles haviaõ visto com os seos pro
prios olhos o cumprimento, e realizaçao ; naõ po
derao porem fazer o mesmo ás trovas, que compõem
o 2o. e 3o. corpo, naõ só porque ainda naõ tinhaõ
visto o seu cumprimento ; mas porque ainda naõ tin
haõ aparecido, rezervando a divina Providencia o
seu Aparecimento para o Anno de 1729 e Reinado
do Snr. D. Joa 5o. que he a epoca, de donde Ban
darra, rios manda expressamente datar, o que vai a
annunciarnos.
Sem nos prezar de possuir os talentos daquelles
dois expositores, nos propomos a fazer a acommo
daçaõ destas ultimas trovas aos successos, que temos
visto, e estamos vendo realizados em nossos dias,
esperando que o amor da patria, e zelo pela sua
gloria, e felicidade; artigos, em que nos naõ julga
mos inferiores, nem a D. Luiz, nem ao Vieira su
priraõ o excesso, e ventagem que elles nos levaõ em
talento, e sciencia. He todo o nosso projecto neste
breve opúsculo. Deos se digne de o dirigir !

-'

' >
;
TROVAS,
DE v

GONÇALO ANNES BANDARRA,

SONHADAS DESDE OANNO DE 1527 PARA 152S,

Escritas pelo Pe. Gabriel Joaõ desta Villá de Trancozo, co


piadas aqui do proprio original achado
na parede da Igreja desta Villa.

la. IroVA.
Lm vos que haveis de ser Quinto
Depois de morto o secundo
, , Minhas Profecias fundo
Co estas Letras que aqui pinto.

Èm -cos.—Esta he a primeira das Sete Trovas q' Ban-


darra escreveo para servirem d'Introducçaõ aos chamados
Sonhos, q' depois se seguem, en cilas abrange rezumida-
mfrite tudo quanto ao depois dis com mais extençaõ, e nos
fixa a época de q' devem contarse os numeros de q' adiante
fala. Esta epoca he o felis Reinado do Sr' D. Ioaõ o 5o-
q' começou a reinar pela morte de seu Pay o SrJ). Pedro
O.o- ; [nem nós temos outro Quinto, q' reinasse depois da»
morte de hum Segundo, para o que bastará so ver o
Catalogo de nossos Reys, em qualquer folhinha d'algibeira.
Tudo pois quanto Bandarra nos vai a dizer, se funda no
Reinado do sobredito S*. D. Ioaõ 5o- e deste período por di
ante, hé q' sedeve entender, q*ovai a dizer nosj o que hetao .
evidente, e claro, como a Luz do Sol. Q' nos quererá po
rem dizer Bandarra naquelle ultimo verso. Co estas Le
tras, que aqui pinto ? Que letras seraõ estas ? Serao por
B
5s'' ',ffisypmyr'm

( 10 )
ventura todas as com q' estaõ escritas as suas trovas?
Naõ o parece : vejamos se a trova seguinte nos aclara aqui
alguma particularidade.
2a. Trova.
Inda o tronco está por vir
Ja vos vejo erguido Cedro.
-.-••>... . Pouco vai de Pedro a Pedro
Se o rama o tronco medir.

Inda o tronco. —Se bem repararmos acharemos q' as Le


tras iniciaes desta trova, quero dizer por q' escreveo para
todos, a Letra primeira de cada hum dos quatro versos saõ
no lo. hum—I—no '2o. outro—I—no 3o- hum—P—,
e no ultiomo hum—S—. Saõ pois as Letras iniciaes
I. J. P. S. Será por ventura huma extravagancia muito
digna de chacota, e Rizo, o dizer eu agora, q* aquellas
quatro Letras, parecem ser as iniciaes dos nomes dos
nossos Monarcas desde a epoca em qr Bandarra funda as
suas novas Profecias ? E qT o primeiro.—I—annuncia o Sr.
P Ioaõ o 5<>-,—o>2o- I, ao Sr. D. Ioze o 1<>—o P, ao Sr-
D* Pedro 3<>. e o, S—ao Sr. liey D. Sebastiao ? Ora eu
peço aquem disto ler. q' pondo de parte a prevençaõ arro
gante, çom q' neste Seculo muito incrédulo se olha para
tudo o q' cheira a misterio, pense maduramente sobre o ul
timo verso da primeira Trova, e sobre as quatro Letras
iniciaes da segunda, e me diga se a sua conciencia o naõ in
clina para esta parte, e se naõ sente dizer lhe ella falar a ver
dade, lá parece. Taõ bem naõ parece ser despropozito o
entendermo-lo pelo—erguido cedro—de q' Bandarra fula
no 2o- verso, cuja inicial denota ao Sr. lley D» Ioze, a
EstaUiaiíqucstreq' se lheergueo e levantou com muitaJus-
tiça ; c pelos dois—Pedros—expressamente nomeados no 3°-
enja inicial denota ao Sr. D. Pedro 3o. os dois que da real
fanil ia se achaõ n'America com aquelle nome, e a aclara- .
çaõ da Letra—P—por que começa a mesmo verso.
C li ) .

3«. Trova.
Fiz Trovas de ferro, e prata
Dignas de qualquer thezouro
Hoje quanto faço he oiro.
Que em vos Senhor se remata.

Fiz Trovas. Aqui alude Bandarra as suas primeiras


Trovas a que chama de ferro por haver annunciado nellas
o captiveiro de Portugal no tempo doz Felipes, e de prata
por que taõ bom nellas annunciou o termo do captiveiro
pela feliz Acclamaçaõ do Sr- li E Y D. Ioaõ o 4o. , cujo
Reinado naõ deixarao chegar ao ponto da maior preciozi-
dade as guerras que sobrevierao e nos affiigiraõ por lar
gos annos ; e só no tempo do Sr. D. Ioaõ o 5». se deixarao de
sentir os seos terriveis c (leitos vivendo todos cm
paz e abundancia, taõ grande a riqueza e abundancia do oiro
como se sabe, e he por isso que Bandarra agora : isto no
tempo do Reinado da quelle, em que elle fuuda as suas
Profecias, tudo quanto faz hé oiro.

4* Trova.
Naõ conto çapatarias
( Que n1 outro tempo sonhei ;
O que agora eontarci
Saõ mais altas Profecias.

NaÕ conto. A qui taõ bem Bandarra alude ás Trovas


primeiras nas quaes com graça intrometia efalava nos instru
mentos do seu officio ; e nos promete tomar hum tom mais
nobre para aconimodar á natureza c qualidade dos novos
suecessos, de q' vai a falar e que saõ tanto mais altas do
que as outras que ja havia annunciado, e que se viérao
a realizar pela acclamaçaõ do S Rey D. Ioaõ 4o.
82
( 12 )

5»- Trova.
A giesta naõse troce
Muito amargo o Sargaço
Tudo quanto agora faço
Sao bocados de erva doce.

A giesta."-Nesta Trova parece que Bandarra fala da


heroica tenacidade, com que oMinisterioPortuguez,sena5
torceo ás repetidas instancias, e amargas violencias com
que a França pertendeo unimos á chamada grande cauza
continental querendo antes a final deixar a Eu ropa, e reti-
rarse ás suas Colonias do que torcerse para abraçar o parti
do de Napoliaõ e separar-se da sua adhesaõ á Graá Bretan
ha, como taõ bem da tenacidade heroica com que a Naçao
se naõ torceo mas sempre se conservou inimiga dos Fran-
cezes,; e amiga dos Inglczes, e unindose a estes na primeira
ocaziaÔ opportuna, e revoltandose contra aquelles, apenas
o pude fizer, e conservando se direita, e firme neste odio,
c naquella amizade. Nada parece taô fácil como torcer
huma giesta olhandose para a sua pequenez, entre tanto
he mais facil o quebrala, do que Q torcela. Os Francezes
olhando para a pequenez do nosso Reyno julgavaõ facili»
mo o torcemos para o seu partido, e contra os nossos
Amigos os Inglezes, maz nunca o poderao conseguir agezar
de todas as amarguras, com que aquelles agrestes Sargaços
nos atromentaraõ. Taõ bem quadra a Portugal o Símbo
lo da giesta e á França o de Sargaço !

6* Trova.
Faço Trovas muito inteiras
Versos muito bem medidos
Que haõ de vir a ser cumpridos
La nas eras derradeiras.
faço Trovas,—Torna nesta Trova o Bandarra a confir
( 13 )
mar nos no que JS nos havia dito na Trova 4a- , de que
agora o seu estilo, e até a metrificaçao será mais castigada,
e correcta, exigindo o assim a maior grandeza dos succes-
sos, que annuncia nestas suas mais altas Profecias, prome
tendo nos no seu cumprimento Lá para as eras derradeiras;
isto hé para tempos muito remotos daquelles em que elle
vivia, e as dictava ; que ja nos nossos dias, vem a ter decor.
rido quazi trezentos annos. Quando nos queremos exage
rar, o quanto está distante qualquer couza, que so se poderá
realizar daqui a cem, oumais annos, costumamos dizer-isso
La de ser Là para o fim do mundo-ezprcssaõ que em fraze
mais solida corresponde, La nas eras derradeiras.

7a- Trova. '


Eu componho, mas naõ ponho.
As Letrinhas no papel
Que o devoto Gabriel
Vai riscando quanto Eu sonho.

Eu componho.—Bandarra naõ sabia escrevar, o que


provar bem que Deos lhe inspirava quanto elle dizia, e
que hc tanto assima da*esfera de hum pobre çapateiro,
que nem escrever sabia : o Pc Gabriel IoaÕ seu Patrício
era o que puuha por. escrito, quanto elle dictava, e com*-
punha.

Primeiro Sonho.
la. Thova.
Vejo, mas naõ sei se vejo
O certo hc que me cheira
Que me vem honrar á Beira
Hum Grande do pê do Tejo.
f ejo—Acabada a sualntroducçaõdá Bandarra princi
pio ao seu chamado Sonho por esta Trova verdadeira Pro
fecia, do que ao depois se vio quando D. "Álvaro d'Abran
( 1* )
ches, Neto do primeiro Conde de Villa Franca, e cazado
com a D. Maria de Laucastre da Cara d'Alvito, de quem
houve a primeira Condessa de Valadares, e a May do pri
meiro Conde de Povolide lhe foi em 1641 fazer levantar
hum Mauzuleo na igreja de S. Pedro em Trancozo, como
deixamos dito na Prefaçaõ, aonde taõ bem dissemos, que
estas Trovas sô aparecerao em 1729.

2a- Trova.
Formas, cabos, e sovelas
Lavradinhas com primor.
Mandareis abrir Senhor
Muitos gostarao de ve-las.
Formas.— Com bem natural propriedade, e aluzaõ man
dou aquelle honrado Fidalgo abrir na pedra do tumulo,
que fizera erigir a Bandarra os instrumentos do seu officio,
c esta mesma circumstancia nao escapou ao nosso Profeta.
Ja na Prefaçaõ advirtimos a catolica restricçam, com que
lhe damos este nome e estamos promptos aceder, quando a
Igreja no lo mande, e os impugnadores de Bandarra nos
digaõ, que nome se deve dar, a quem taõ terminantemente
annuncia futuros contingentes.

3»- Trova.
Mas ay ! que Ja vejo vir
O Presbitero maior
A riscar todo o primor
Que outra vez hade surgir.
Mas ay .'-r-Só quem for taõ cego que nem olhos tenha
deixará de ver profetizada nesta Trova a Ordem do Inqui
ridor Geral destes Reynos D. Verissino de Lancastre para
que se riscasse, abolisse, e consumisse o Epitafio, que na
Sepultura de Bandarra mandara abrir D. Álvaro d'Abran
ches, e. que he o seguinte. —Aqui jas Gonçalo annes Ban~
( 15 )
dana que em seu tempo profetizou a restauraçaõ deste
Rejno.—Epitafio q' o P'- Ioze .Agostinho, diz a pagina
64 do seu Livro intitulado. — Os Sebastianistas—que D. Ál
varo d'Abranches lhe mandara gravar, e a paginas 10 de
huma pequena folha, aq'. pòz por alcunha sua—dtfença
diz q' fora falsam,e- atribuido pelos Jezuitas a D. Álvaro
d'Abranches; mas que diga o quequizer; porque ainda
que muito máo, he Poeta. Naõ faça duvida o servir se
Bandarra do termo—Presbítero maior— e se alguém quiser
que se entenda por eronica sendo á pessoa e naõ ao cargo
do dito. D. Verisimo, euso escreverei. O primor de que
aqui fala diz relaçao ao primor de que fala na Trova an
tecedente protesta que outra vez hade surgir aquelle
primor riscado ; e assim o veremos, ou veraõ os nossos vin
douros ; por que havendo-se cumprido as três partes da
Profecia taõ fielmente, seria desvario desconfiar, de que
a quarta se naõ houvesse de realizar.
.
'1 '
Segundo Sonho.
la. Tuova.
Augurai Gentes Vindouras
Que o Rey que de vos ha dehir
Vos hade tornar a vir
Passadas trinta tezouras.

Augurai.—T)k Bandarra principio a^áé sonho por esta


Trova em todo o sentido grande. Njâirj pode haver a mais
pequena duvida sobre a intelligelraa dos tres primeiro?
versos. Depois que Bandarra escreveo nenhum outro REY
A daqui se foi, senaõ El Rey D. Sebastiao, sahindo pela Gar
ra de Lisboa ém Junho de 1578, e naõ tem voltado mais
até aqui. He pois, e naõ pode deixar de ser deste
que aqui fala Bandarra e que promete que ha de tor
nar a vir. Mas quando ? Passadas trinta tezouras.
Aqui esta a grande dificuldade que para ser vencida, ca
( 16 )
recemos de lhe terminar 1o- q' numero entenda aqni
Bandarra por tezoura ? 2o- de q' anno se deva começar
a contar o produclo daquelle numero multiplicado por
trinta ? Em quanto ao lo. he evidente que Bandarra en*-
tende aqui por tezoura aquelle numero q' mais sé assemel
ha e parece a huma tezoura,em como este se pode considerar,
ou fechada, ou aberta, he claro, que fechada se parece com
hum 8 d'algarismo numerico, especialmente 'sendo das te
zouras, de que uzaó os çapateiros, Officio de Gonçalo annes
Bandarra, e a aberta com hum X de conta Romana. Ora
como nesta parte Bandarra nao diz como n' outras, tezou
ra aberta, deve se entender fechada, que he o estado, dei-
xem-me assim dizer, natural da tezoura. Por este modo as-
trinta tizouras, ou trinta vezes oito vem a fazer produeto
de duzentos e quarenta ; bem está : mas desde quando se
hao de contar estes 210, que he a 2a. couza que deve de-
terminarse? Agora o diremos. Saõ duas as epocas de
hum Reinado, A Ia- he lixada pelo dia em que o Impe
rante toma posse do Reinado : a 2;>- pelo dia em que mor
re. He evidente que a respeito d'El Rey D. Sebastiao sô
temos a primeira epoca, que he fixada pelo anno, mez,
e dia em que tomou posse do Reinado, e foi a 20 de Ja
neiro de 1568, aos quaes se ajuntarmos os 240, a que mon
tao as trinta tezouras, teremos 1808. Mas este anno ja
passou, e El REY D. Sebastiao naõ aparece ? Respondo,
que Bandarra diz muito claramente, que liade vir passadas
trinta tezouras, em quanto naõ vermos passar as trinta e hur
ma, que só preenchem para 1816, naõ podemos ter por er
rado este calculo ; e muito menos por falsa a Profecia,
pois que até esse prazo estamos dentro dos termos da mesma
Profecia, quando alcançarmos a Trova 4a- do 4o. sonho,
teremos ocaziaõ de nos explanar mais sobre esta materia.
( 17 )

; lia. ThOVA.
O Pastorinho ná Serra
Grita que tenhaõ cuidado
Qiie sevai perdendo o gado
Por mais que gritando berra-

O Pastorinho. Aqui parece falar Bandarrra das fadi*


gas, e disvelos, que o nosso Augusto Principe Regente tem
tomado, e sofrido, e ainda actualmente toma e sofre para
evitar a entrada dos Frahcézes em Portugal, e apartar dos
seosReynos a entrada, e persiguiçoens do malvado espirito
Francês. Trabalhou incansavelmente, S. A. R. porque os
Francezes naõ iuvadissem a Portugal ; em Mafra, em Quel-
lus, en Ajuda eraõ frequentíssimos os concelhos d'Estado ;
a nada perdoou aquelle grande Principe de tudo o q ue pod ia
cohcurrir para afugentar aquelle flagelo, e verdadeira
peste, mas outros eraõ osdestinos daProvidencia ; e oAugusto
Soberano vendo, que os Francezes entravaõ e que osVassalos
o precioso gado se hia perdendo sedignou de retirarse para
as Americas, aonde naõ tem enfraquecido o seil zelo,
e amor a seo& Vassalos eomo temos visto, e estamos vendo.

II Ia- Trova.
Desemparar o Cortiço
Huma Abelha mestra vejo,
As outras com muito pejo.
v Naõ sem azas para isso.

Desemparar. —Naõ permitindo Deos que produzissem


os suspirados effeitos aquellas fadigas expressadas assima
pelo termo gritar se rçalisou a retirada para o Brazil , e assim
se vio a nossa Agustissima ltaynha obrigada a desemparar
nos, e se nos naõ faltassem as Azas para isso com muito
.pejo e dor nossa, qual de nos deixaria d'acompanhar ta»
c
C 18 )
grande Raynha ? Se a alguem parecer pouco decente
o nome de Pastor e d'abellia mestra para ser aplicado a
Iium grande Principe, e Augusta Raynha, Lembrese de
que estas expressoens saõ em casos semelhantes empregadas
pelos profetas mesmo Canonicos e de quem o Evangelho de
IEZUS CHR1STO he comparado ao Pastor, á Galinha, ao
Lavrador ; e o Reyno dos Ceos a hum graõ de mostarda.
A Linguagem de Deos nunca hé indecente.

IV». Trova.
IràÕ tempos de Lazeiras
Viraõ tempos de farturas.
Ôs Frades haverao tristuras
Por acudirem ás Freiras.
Irão tempos. —No primeiro verso desta Trova, vemos
profetizada a mendicidade quazi universal deste Reyno, no
tempo dos malvados Francczes, e no 2o- a abundancia,
graças a Deos, em que estamos vivendo comparativamente
ao que vimos, e sofremos. Jâ senaõ encontrao cardumes
de mendigos a cada paço. Quanto os Frades tem padecido
por acudir às Freiras nós o temos visto, especialmente na
ocaziaó da entrada dos Franccze em Évora, e Leiria, e na
sua invazaõ nas nossas Provincias do Norte, entrada no
.Minho, e Tras os Montes.

V*. Trona.
Este Souho que sonhei
He verdade muito certa
Que Lá da Ilha encoberta
Vos ha de chegar este Rey.

Este Sonho. —Aqui nos torna a protestar a verdade de


seos Sonhos, e Profecias, e depois de nos ter falado do
que teriamos que sofrer, e Já temos sofrido, nos consola
com a certeza e segurança de que para por termo, e nos vin
[ 19 3
gar de tantos males, nos ha de chegar o Rey de que nps fala
rá na primeira Trova deste segundo Sonho ; e assim como
esta que estamos explicando he a ultima, concordando,
e dando as maõs a principio com o fim do Sonho. Sé al
guem nos perguntar, que Ilha encuberta he esta ? Respon
deremos que he aquelle Lugar, aonde segundo Bandarra,
Deos tem rezervado o nosso REY ; e nada mais sobre isto
diremos.
Sonho 3o-
la- Trova.
Sonhei que estava sonhando
Que passados cem Janeiros
Os Portuguezes primeiros
Se Levantarão em bando.

Sonhei. Admiravel sobre modo he esta primeira


Trova deste 3o- Sonbo, e a providencia nos fez vir ao Mun
do no tempo prefixo do seu cumprimento. Jà fizemos
ver na exposiçao da'primeíra Trova desta pequena obra,
que o Reinado do Sr- D. Ioaõo 5». era a Época aonde de-
viaõ começar a contarse os numeros que Randarra empre
gasse no corpo das Trovas. Foi aquelle Monarca accla-
mado em 1707 e passados os cem Janeiros, de que aqui
fala, nos vimos a achar em 1808, em que os Portuguezes
primeiros ; isto hc os habitantes do Minho, e Tras os Mon
tes se levantaraõ em bando, ou em massa contra os malva
dos Francezes. Eu naõ sei como possa haver, quem s'atie-
va a negar, que Bandarra fosse hum verdadeiro Profeta,
vendo tãõ fielmente realizados os suecessos, que tantos Se
culos antes, elle havia vaticinado com tanta individuaçaõ ;
hé hiuna Cegueira era extremo lamentavel.

c?
( 20 )

2a Trova.
Erguese a Águia Imperial
Com seos filhos ao rabo
E com as unhas no cabo
Faz o ninho em Portugal.

Erguese."—Para nos confirmar-mos mais que o Levanta-


mento cm bando, ou em.masa, de que se fala na Trova an
tecedente, bé o que em 1S08 fizemos contra os malvados
Francezes, alem de cahir pontualmente certa a conta dos
Cem annos, ou Cem Janeiros, temos a prezente Trova ;
na qual expressamente se vaticina a entrada dos Francezes
em Portugal, simbulizados aquelles na Águia Imperial
das suas bandeiras, eos soldados, que a seguem, nosfilhos
da mesma aguia, que esvoaçaõ atras delia ; e que depois
de haverem roubado a Europa toda por cabo aqui vieraõ
a empolegar suas cenhas rapinadoras nas riquezas deste
Reyno, aonde fizerao ninho; isto he, estabelesceraÕ sua
morada, que felismente forao obrigados a deixar.

3a Trova.
Põem hum—A—pernas assima
Tiralhe a risca do meio
E por detras lha arrirna
Saberás quem te nomeio,

Põem hum. — Quizerafí alguns que este—A^-pernas


assima pondo se lhe atras a risca, que te nomeio, viesse a
formar hum IV. de Letra Romana, e queriaõ apljcalo ao
Siír. D. JoaÕ 4°. Nap se lembrarão primeiro de que nada
disto pertence ao Snr. D. JoaÕ 4V. porque fica para traz
da Época que o Profeta fixou em seu Neto o Snr. D. Joaõ
o 5". e segundo porque naõ manda simplesmente, por
atraza risca que se tiver tirado do meio-—-A—posto pernas
( 21 )
essima ; mas sim manda, que se Ih' arrime, e pegue, o que
forma inquestionavelmente hum—N—Letra inicial do no
me do Imperador dos Francezes, o impio Napoleao, assim,
como as quatro da segunda Trova da sua Introducçaõ aos
Sonhos, saó as Letras iniciaes dos Monarcas, que eraÕ
comprehend idos nestas Trovas. Naõ pode haver a mais
leve duvida de que seja este quem Bandarra nos nomeia
por aquella Letra ; porque assim vem esta Trova a unirsc,
e atarse, com as duas antecedentes ; nomeandonos nella
ao Imperador daquelles c&ntra quem passados os cem Janei
ros d pois da Coroaçao do Snr. D. Joaõ o 5Q. fundamento
de todo este edifício Profetico, se levantarao os Portu-
guczes como diz a Trova la. deste 3*. Sonho e que man
dou a sua Águia Imperial, e rapinadora, seguida como
defilhos seos : isto lie de Soldados igualmente rapinadores
a impolegar as unhas, por cabo neste Reyno, e fazer nelle
o ninho, como dis na 2a. Trova deste mesmo Sonho. Na
da hé taõ natural como o que houvesse de ser reveladora
Bandarra o nome de Napoleão assim como lhe havia sido
revelado o Levantamento dos Portuguezes contra as suas
Tropas, e o anno, em que teria effeito ; e a vinda e entrada
da sua Águia Imperial, com os seos filhos rapinadores
ao rabo. Pelo que ainda que absolutamente falando a-
quelle—N—possa denotar qualquer outro, cujo nome ten
ha por inicial aquella Letra, attendida a serie, e ordem
das couzas, que uns Trovas antecedentes se tem tractado,
e se tractaraõ nas que se seguem, naõ podo aquella Leira
denotar a outro, que nao seja Napoleao.

44>. Trova.
Tudo tenho na rnulcira
O passado e o futuro,
E quem for homem madura.
Me ha de dar t'6 inteira.
Tudo tenho—He muito facil d'cntcndef-se csti Trova
( 22 )
reflectindo pelo modo seguinte.. Bandarra figura se aqui
nesta Troya existindo no momento actual entre nos, e
chama com razao passado ao tempo em que elle profeti
zara a Acclamaçaõ do Sfir. Key D. Joaõ o 4". e esta se
realizou ; e chama futuro ao tempo, em que da Ilha en
coberta hade vir, e aparecer entre nos El Rey D. Sebas
tião, como diz na Trova Ia. e 5a. do 2° . Sonho, e como
outra vea repete na seguinte Trova deste Sonho. Ex
aqui pois o passado, c futuro, que elle diz tem na muleira.
Em quanto aos dois últimos versos, profetiza, que muitos
duvidarão dar fé ao que elle diz ; mas que estes sô scriaõ
bandalhos petitmaitres, e gentes de cabeça dura, e verde, o
que nos ja vimos ; porque em quanto aos Homens madu
ros estes Uvc haviaõ dar fé inteira.

5» Trova.
Vejo sem abrir os olhos
Tanto ao Longe, como' ao perto
Virá do mundo encuberto
Quem mate d' aguia os polhos.

Vejo. A qui nos torna Bandarra a assegurar da vinda


do grande Rcy, para acabar de todo com os Francezes,
polhos da Águia, os quaes figurando se ainda entre nos
no momento actual, diz que esta vendo de perto; assim
como sem abrir os olhos, no mesmo instante cstá vendo ao
Longe no mundo encuberto, aquelle que vira matar da
slguia os polhos.
Sonho 4«.
1a Trova.
Là para as partes do Norte
Vejo como por peneira
Levantar huma poeira
Que nos ameaça a morte.
( *s )
. Lá para. —O grande successo aniumciado nesta Trova,
ainda certamente está por cumprir, e parece ser o mesmo,
que Bocarro descreve nas dez oitavas que adiante copia
remos quando alcançarmos a Trova 5a. deste 4o. Sonho,
e certamente naõ he outro, que o actual ajuntamento dos
Príncipes da Europa agora na capital da França, aonde
se decretará contra nos. Entretanto por mais tcrrivcl, que
seja sô nos ameaça a morte, e nada mais.

2». Trova.
Vosso grande Capitao
O Povo errado, e perverso
Ja caminha com o terço,
E vos dormindo no chaõ ?

Vosso grande. —Que este grande Capitao, seja o Rpy


que da Ilha ou mundo encuberto ha de vir a defendernos
contra aqueila grande poeira, que nos ameaçara a morte
parece naõ ter duvida alguma, e a reprehençaõ que Ban
darra nos dá nesta Trova parece recahe sobre a indolencia,
que ao principio haverá entre nos naõ o seguindo logo
que elle se ponha em marcha ao caminho, e deixando nos
ficar dormindo,
i

3a. Tnov-A.
Na era que eu nomear
Terá fim a herezia
Verás certa a Profecia
Se bem souberes contar.

Na era. —Nesta Trova nos manda Bandarra estar muito


attentos e tomar muito sentido, e conta, no que se segue, e
em que elle vái a dizer nos, e declaramos fixamente o
tempo em que teraõ fim todas as desgraças da Igreja, e do
( u >
mundo pela chegada do grande Capitao, e Rey, vindo- da
Ilha, e mundo encuberto.
9
Poem trcs tizouras abertas
Diante hum Linhol direito
Contra seis vezes cinco
E mais hum, vai satisfeito.

Poem tres.—Na exposiçãõ da 1». Trova do 2». Sonho,


mostramos que.tizoura aberta he hum X.' da Conta Ro
mana, conseguin temente três tizouras abertas somaõ trinta,
o Linhol direito hehnma unidade, ou hum, que com trinta,
faz trinta e hum, e"mais seis vezes cinco, que saõ trinta faz
secenla e hum, e manda em fim acrescentar mais hum, o
que tudo faz secenta e dois. Na exposiçao da Trova pri
meira mostramos que do Snr. D. Joaõ o 5o. sedeve come
çar a fazer todas estas contas, por ser nelle, que Ban
darra expressamente diz, que funda estas Profecias. Ahi
taõ bem dissemos que saõ duas as Épocas de hum Reina
do, Acclamaçaõ, e morte do Reynante. Morreu o Sfir,
D. Joaõ o 5o, em 1750; se a estes ajuntarmos os 62; que
, Bandarra nos manda nesta Trova contar, viremos ater
1812; e exaqui o anno aprazado por Bandarra para a vin-
!da do Grande Rey, destruiçao dos Francezes, tranquilida
de da Igreja, paz universal da Europa e do mundo. Ob-
servese como esta conta concorda com a que fizemos na
exposiçao da Ia. Trova do 2o. Sonho. Taõ bem esta con
corda ja se sabe, (guardando a devida proporçao), com
o cnpo. 7, vo. 25, de Daniel e com o Apocalipse de S.
Joaõcap. 13o. yo. 5". com as do Pretinho do Japaõ, que
annuncia a chegada do Rey, três invernos, e hum veraõ,
depois da sahida do Papa do Capital do mundo que ha
vendo sahido em 1808, tivemos os invernos de 809 e 810,
teremos o de 81 1, e o Veraõ que se lhe seguir, e consegui n-
temente vem a deitar a mesma era de 812, em que a Igreja,
C 25 )
e os seos Santos saõ perseguidos por 42 mezes, concorda
com o que dizem alguns vaticinios achados pela morte do
Snr. Rey D. Manoel, e que dao a vinda, e chegada do
seu Bisneto o Snr. D. Sebastiao, de cinco annos naõ com
pletos de perseguiçao ; que havendo começado pelos fins
de 807, vem taõ bem a deitar a 1812. E se a algum pare
cer este calculo mais engenhozo do que natural rogamos
lhe que queira ler os immensos que os Theologos e Escrip-
turarios tem feito sobre as Semanas de Daniel. Ja se sabe
se he permitido aplicar grandes exemplos a couzas pe
quenas.
5a. Trova.
Muito rijo bate ovento
Na parede da Igreja,
Alguem cahicla a dezeja,
No Levantar vai o tento..

Muito rijo.—Aqui fala Bandarra das perseguiçoens da


Igreja nos nossos dias ; hc bem digno de notarse, que tendo
sido a primeira perseguiçao feita por Nero no principio
da Igreja, seja esta feita agora por Napoleao para se cum
prir a Profecia de Hum sô Pastor, e hum so Rebanho*
principiando, e acabando estas perseguiçoens por Nero, e
Napoleao, sendo o—N—a primeira Letra inicial dos dois
Imperadores, e dos grandes dezejos, que Napoleao tem de
a ver cabida, e dos esforços que faz, e tem feito para o
conseguir ; o que tudo mais difusamente explica o grande
Bocarro nas seguintes Oitavas impressas em 1624, e que
fielmente aqui copeio.

Oitavas.
119.
Na terra a Santa Astrea desprezada
Quantas calamidades lhe promete !
D
C 26 )
A grandeza melhor, mal governada
A que exícios crueis, se nao submete !
A Republica em fim despedaçada
Cujo reparo a Deos Jà so compete,
Naõ sei se temera novos tributos
De novas Leys, de novos Estatutos.

120.
Denota que hum profano Herisiarca
Com dogmas, quer turbar, e altos errores
Ao mundo de que intenta ser Monarca
De muitos estipado seos factores :
Naufrágios quer formar de Pedro á Barca
Entre Astaroth, e falsos Belphegores
Que porque nelle sumai tem Altezas
Com vícios se va o mundo, e com larguezas

121.
Damno horrendo ameaça o sego immundo,
Promulgando infernal, e dogma inorme ;
Aos mais Potentes Príncipes do mundo
A seyta faz seguir torpe, e deforme :
Mas o que termo pos ao môr profundo
Pará que de seos vícios se reforme
O Povo, que remio atropelando
Taõ nocivo, e contrario, e taõ nefando,

122.
Escolhera por raio ao Luzitano
Que de perfídia tal tome vingança
Que favor taõ Divino, e Soberano
Pelo zelo que tem do Olympo alcança :
E vos ó Gente sega que no engano
Que Lucifer ordio a confiança
( 27 )
Pondes do Ethereo bem a própria Alteza
Vede que eis de abater á Portngueza.

133.
Que se andaõ ao Aquilaõ por tantas vezes
Turbando a Santa fé torpes Harpias
Enchendo Gaulos, Ângulos, e Hollandezes
E Germanos féroces de herezias ;
No pequeno poder dos Portuguezes,
(Pela fé propaganda Apologias)
Q Ceo ha de mostrar, O gente inica
Como Roma de vos triunfante fica.

Vereis de vossas Armas Victoriozo


Ao Pendaõ Orthodoxo e subjugados
De Pedro ao Substituto Religiozo
Esses que vos dominaS Potentados :
O Heretico renaio e licenciozo
De que hydropsicos fortes, e enganados
Co antidoto de Christo Soberano
A força bade perder respeito humauo.

125.
Com tudo no Universo horendas clades
Sinto do Polo irado vacilando
Co Potente Dominio as Magestadcs
Do fado estrangido mizerando
Mas tu graá Lusitania ; que impiedades
Naõ seguiste do Herejé o Dogma infando
Naõ temas do alto Olympo a influencia
Se he que ao Justo segura a innocencia.

P2
( 28 )

126.
Refreia amada Patria os tristes vultos,
As Lagrimas comprime, e naõ te espantem
Effeitos das Estrelas que se occultos,
Porti Já gode ser, que se levantem ;
Na mesma confuzaõ e nos tumultos
Deixa que por teu Rey victorias cantem
Que de quanto o solve Neptuno a Barca
Será comtigo universal Monarçha.

12T.
Muitos perecerao, se naô me engano
Reynos do mundo o Polo significa
Mas o famoso Imperio Lusitano
Livre do Ocazo eterno se amplifica.
O do Gentio, Mouro, o do Othomano,
Que incensarios a Lúcifer dedica
Sogeitò ao Luzo forte brevemente
Verás, que adora ai Christo Omnipotente,

128.
Verrâs hum só Pastor, hum só Rebanho
Que o Successor de Pedro só proveja
Nem na terra nem no liquido estanho
Impugnara nimgnem a Madre Igreja :
O ser de Portugal, será tamanho,
Que o mundo todo sô nelle se veja.
Imperio do Universo Summo.e Grande
/Para que seu Monarca todo mande.

Xjom estas outayns do grande Bocarro consordaõ as


Profesias de Santa Jzidoro, S. Cvrilo, Santa Leocadia,
Bento Gil, Beato Antonio, as que se acharao junto ao
AJtar de Santo Thomp em Miliapor, as de S. Theophilo,
( 29 )
as do Monje Rolando, e as de hum Frade de 8. Francisco
Napolitano ; as quaes todas vaõ fielmente copiadas no fim
desta pequena obra.
6a. Trova.
Mas ay do calçado a obra
Logo requer o Salario
Porem naó ha muito sobra
Se naó dobra o Campanario,

Mas ay. —Parece que nasta Trova profetica deplora o


Bandarra a pobreza, e a mendicidade, a que pelos France
ses tem sido reduzidos o Clero tanto regular, como Secu-
lar, tendolhe custado muito a poder proverse das couzas
da maior necessidade, como saó o sustento, o vestido, e o
calçado, per lhe haverem tirado, o que lhes era pessoal,
e pela mizeria publica paralizado as esmolas e offerta dos
fieis, de que hum, e outro Clero vive.

Sanho 5 o.
la, Trova.
Vejo vejo dizer vejo
Andar a terra ao redor
E o barborinho sem dor
Revolve hum, e outro Sexo,
Veja.'—Nesta Trova porque começa o seu 5o. Sonho
fala Bandarra da estranha dezordem dor e borborinho em
que nos pòs a segunda entrada dos Francezes em Portugal
pelas Provincias do Norte, o que cauzou entre nos hum
susto, e terror maior, que o da primeira invazaõ.
ga. Trova.
Rugia a porca do Sino,
O Sino naó badalava
A grimpa se revirava
E e Sino andava a pino.
( 30 )
Rugia.—Esfe maravilhozo successo ainda (ao hem
naõ foi cumprido, e será sem duvida hum dos muitos,
qui sé admirarao na chegada do Grande Rey. Esperemos
pois o seu cumprimento, e naõ nos intrometamos a arriscar
conjecturas como nos dieta a prudencia.

3a Trova.
Meto a Sovela nas viras
E vejo pelo boraco
Os ossos de Pectro Jaco
No penedo das mentiras.

Meto—EntaÕ quando se realizar aquella grande mara«


vilha de que na Trova antecedente, e muitas outras, que
devem acompanhar a vinda> e chegada do Grande Rey,
se acabarao os incredulos de desenganar, de que elle se con
serva vivo, e do embuste, com que se pertendeo enganar os
Povos, enterrando cm Bellem hum Corpo, que diziaõ ser
do mesmo Rey, quando alias entaô será conhecido, que
era o de Pedro Jaco. O Autor do Folheto intitulado—
Os Sebastianistas increpa a paginas 102 a Bandarra de se
servir deste nome de Pedro Jaco, chamandolhe Chocarreiro,
e ridículo. Eu naõ sei que o nome de Pedro Jaco faça
diferença de qualquer ourto nome, por exemplo Joze'
Agostinho, ou Joaõ Francisco, Joze Luiz, ou Joze Affonço,
Com muita propriedade e elegancia, chama penedo das
mentiras ao mauzuleo, que está ém Bellem.

4a Trova.
Que bellamcnte Joaõ
As Profesias direitas ?
Depois que forem perfeitas
Veraõ, que a terra povoaÕ.

Que bellamente— Dcnovo nos protesta pela direitura,


( SI )
e verdade das suas Profecias, e nos annuncia, que ellas
povoarão a terra toda; isto he que todos as procuraraõ
possuir, e ler quando forem perfeitas, isto he cumpridas.

Sonho 6o.
Ia Trova.
Doutos, e Sandeos conhecem
Pelo volver das Estrelas
Puras verdades mui bellas
Que ainda os Judeos naõ merecem.

Doutos— Chegado o tempo, cm que se cumprirao todas


estas Profecias, todos tanto doutos, como Sandeos, e idiotas,
conhecerão estas verdades puras e mui bellas e a certeza
destes calculos pelo volver das Estrelas. Os Judeos serao
os mais tardios em as conhecer, e acreditar por sua obsti
naçao, e tenacidade, mas a final »s conhecerão, e seraõ
convertidos.

2a Thova.
Quando o Sonho hé verdadeiro.
Da se li uma Luz muito clara :
Sonho agora que huma vara
Vai dando Luz a hum outeiro.

Quando—Aqui nos diz Bandarra ou quer dizer que


quando huma Luz muito chara o alumiava ao tempo do
Sonho, era hum sigual certo, deque o sonho era verdadeiro,
e que esta luz muito clara o alumiava, quando ellc sonhava
que hinna vara dava Luz a hum Ouleiío. Vejamos, o que
isto hé.

3* Tbova.
O Outeiro hé Portugal
L a vara Castelhana :
t 53 )
Da minha pobre choupana
Vejo esta Vara Real.

O Outeiro— Esta Trova se comprehcnderá muito bem


Lembrando-nos do que vimos em 1807, e 1808 no nosso
Reyno e no de Espanha; Quando a nossa Augustissima
Família Real tomou a generoza rezoluçaõ de se retirar
para o Brazil, houve muitos neste Reyno, e muitos mais
no de Espanha que desaprovarão aquela medida, e disseraõ
muitos atrevimentos. Quando porem ao depois se vio
o procedimento de Napoleao com a Familia Real d' Es
panha, este passo aclarou os entendimentos de tantos impo-
liticos Portuguezes, e áquella Luz clara, conhecerao
quanto erao errados os seos discursos, e o bem que havia
feito a Caza de Bragança em se retirar. Por este modo
a Vara que he a Espanha, aclarou o Outeiro, que he Por
tugal. Diz que vê da sua pobre choupana esta Fará Real
talves que representada no Senhor Infante D. Pedro Car
los. Vejamos a Trova seguinte.

4a Trova.
Dará fruto em tudo Santo
Nimguem ousara nega-lo :
O Choro será regalo, /
E será gostozo o pranto.

Dará—Naó se pode pensar sem horror, e susto, sobre a


«orle, que virá a ter a Familia Real da Espanha entre as
maõs da quelles seos perfidos, e barbaros inimigos. A ser,
o que se naõ deve dezejar, mas pode suppõr teremos aquella
grande Vara na pessoa do Senhor Infante D. Pedro Car
los, que está fora do alcance Frances, e ja se vé, com
quem se vira a realizar o seu Augusto Consorcio, e o Santo
fruto, que elle dará, nimguem, ousará a negar, naquelle
desgraçado cazo os seos Direitos a Coroa d' Espanha ; e à
< 33 )
vista desta grande maravilha todos chorarão" de prazet-,
« gosto.
5a Trova.
Bem Cuido que Ja vem perto
O fim destas Profecias
Passarao trezentos dias.
Depoiz de eu ser descuberto.

Bem cUido—Fala Bandarra nesta Trova com àquelles


que como nõs tiverem visto cumpridas as suas antece-
deites profecias e nos protesta que ô fim de todas ellas
Ja vir perto pela Chegada, e vinda do Encoberto que sup-
pomos taõ proxima como atraz deixamos dito, e mostrado.
Ta5 bem nos promete que elle hade ser descuberto, e que
passados trezentos dias depois deste descubrimento, se-
cumprirá tudo. He claro que este descubrimento de que
aqui fala, ainda se naõ realizou, nem pode ainda ser reali
zado visto que ha de realizar se trezentoz dias antes da
Nitrada do Encoberto, que ainda como se fez ver hade
tardar raah.de que trezentos dias.

6» Trova.
Em dois sitios me achareis
Por desgraça ou por ventura,
. Os ossos na Sepultura ;
E a Alma nestes papeis.

Em dois—Com muita propriedade se diz que a Alma


do Escritor, fica vivendo nos seos escritos, que saõ as
partes ou filhos da mesma Alma. No que elle dictára
lemas a Alma de Bandarra, a qual se vai nelles descu-
brindo/e achando á medida, que se for vulgarizando, len
do, e eatendendo estas suas Trovas, que neste anno de
E
( 34 )
1810, nos ehegárao a qui pela primeira ves impressas, e se
vaõ pouco a pouco vulgarizando. Achar se hnõ os scos
vssos na Sepultura quando se verificar o tornar outra ves
a surgir o primor de que fala na 3* Trova do lo Sonho,
como se pode ver na expozicaõ, que delia fizemos no seu
Lugar competente. Este achado será de ventura para os
seos estimados, e devotos ; e desdita para os que o despre-
zaõ e ridiculizaõ; porque ficaraõ corridos, c vexados
como he natural.

7a Trova.
Naõ ha pedra sobre pedra
Quando eu aqui for achado :
E* as Letrinhas do Letrado,
Há trezentos annos queda.

Naõ ha.—Pelo espasso dos quasi trezentos annos, que


tem decurrido depois que Bandarra está sepultado na
Igreja de S. Pedro de Trancozo, tem sofrido muitas
ruinas, mudanças e concertos; e sabemos que especialmente
em 1720, fora demolida totalmente a parede da Capclla
Mor, sendo por essa ocaziaõ achadas estas Trovas que
temos exposto e haviaõ sido escritas pelo Padre Gabriel
Joaõ em 1532, como elle attesta. Relativamente pois
ao Estado daquella Igreja quando elle nella fora enterrado,
diz Bandarra que nao haverá pedra sobre pedra, quando
outra ves surgir o primor, que fora riscado porquem já
dissemos na expozicaõ á Trova 3a. Em quanto aos tre
zentos annos, que diz haõ de ter quedas as Letrinhas do
Letrado, quando tudo o que nellas se contem for cumprido,
estes naõ ha duvida se devem contar desde 1532, em que-
forao escritas, o que fas chegar o termo detudo a 1832 ;
mas para conciliar esta conta com as que atraz se-achaõ,
diremos que aqui ha Synedoche muito uzada nas Escrip-

., _..
( 35 )
tnras e maiormente nos Urros proféticos que hé, de tomar
o numero perfeito redondo em Lugar de hum imperfeito,
e que acabe em unidades : assim em Lugar de dizer du
zentos e oitenta, dizem trezentos por ser mais breve em
qminto á enunciaçao. No uzo familiar nos esfamos ácada
passo servindo desta figura. Com esta Trova dá o Grande
Bandarra fim as suas Profecias, a que só pode negar este
nome, quem como já dissemoz ou for muito ignorante
ou naõ tiver Juizo. Especialmente depois que peta ac«
clamaçaõ do Senhor D. Joaõ o 4°. se virao cumpridas
todas as que se-contemno primeiro Corpo, todo o Portugal
comprehendendo as personagens mais respeitaveis pela sua
Sciencia, Sangue, ou dignidades, lhe tem dado este nome,
sem o mais leve escrupulo. O mesmo Senhor Rey D.
Joaõ o 4o seos Augustos Filhos ; e que lhe succederaõ no
Reyno ; e o grande, e sabio Principe D. Theodozio respei-
tavao estas Trovas como inspiradas. Nesta posse se con
servarao ate que pelos tormentozos annos de 1760 por diante,
o rancor, e odio as quiz empurrar aos Jezuitas para lhe
formar mais hum Crime. Mas emfim a verdade, sempre
vem a triunfar. Remateremos esta parte do nosso tra
balho copiando fielmente a certidao que passara o P".
GabrielJoaõ e se acha no mesmo pergaminho em que estaõ
as Trovas e que como dissemos se guarda no Santo Officio.

CERTIDÃO»

Eu o Padre Gabriel Joaõ desta Villa de Trançozo por


ser Visinho do sobredito Gouçalo. annes, e reconhecer a
sua verdade escrevi estes ditps seos, e os guardei a seu man
dado na abertura da parede desta Igreja de S, Pedro para,
serem achados n' outro tempo, como elle me disse ; e por
eu conhecer, e. suspeitar teraõ aloura misterio estes Sonhos,
vendo lho dar a alguns delles, fiz o que elle me mandou'
e 2
( se >
Em fé do que tudo me assignei, e o Juro anno de 1532. O
Padre Gabriel Joaõ. JE naõ continha mais verso algum
o difo original que bem e fiel aqui vai tresladado, e pode
servir d' origiflal .

m-

^
( W )

COLLECCAO CEVARIAS PROFECIAS,

IMPRESSAS MUITO ANTES DA FELIS ACCLAMAÇAõ DO


«NHOK D, JOAÕ 4o. - , . pr '.

Versos Latino» achado* em Meliapor Junto ao Altar de Santo


Thome, e impressoíHneste Reyno em 1627 ; e na restauração da
Portugal prodigioza em 1643 ap 103. . ': , .. . " f

1. Regnabii Rex in pubertaíe sua


Et viduabitur Regnum cum Lacrimis. i.
2. Introducetur Prudentia cura rigore,
Et devastavit reliquias confitentium.
3. Tunc adjunget Hegnurn Regnis,, » ;| /;
Et vivens yermibus scaturiet.
t. Egredietur alter intertium,
Et ob mutescet ia eo prudentia secundi.
5. Triumphabit ia Regno alieno
Et non congratalabitur illi.
6. Dormiet in pace Regnum dormientis
Et cadent stellae ejus in agros. * ...
T« Pulcelabit virga ejus in Sceptrum,
Repulcelabunt seditiones ia populis.
8. Ejus qui est tumulatus, et inortuus
Et noa permanebit in mortais plus.
( 38 )
9. Scindetur virga in brachio ejus '
Et exultabunt pauperes in laetitia.
10. Dicent divites nos insensati
Et fatui prudentibos deridebunt.
11. Tunc ascendet in Hesperia Leo
Et dividetur Regnum a Regnis.
12. Prevalebit Lusitania «rentibus.
Et laeta acquiescet Regi suo.
13. Congratulabunt illi Reges multi,
Et divitiis luxuriabit.
14. Repulcelabit sceptrum renovatum
Et non auferetur unquam habetur. ;

1. Reinara hum Rey nos annos da sua puberdade, e o


Reino ficara Viuvo, e chorozo.
2. Introduzir se ha a prudencia com o rigor, e devastará
as Religioens dos que confessaõ.
3. Entaõ ajuntará hum Reino a outros Reynos, e es
tando ainda vivo, fervilharao os bichos em seu corpo.
4. Virá outro chamado terceiro, e nelle ficará muda
a prudencia do segundo
5. Triunfará no Reyno alheio, e nimguém lhe dará os
parabens.
6. Dormirá em paz o Reino do que dorme, e as Estrelas
delle cahiraõ nos campos.
7. Levantar se ha em sceptro a sua Vara, e rebentarao
humas, a por outras as Sediçoens nos Povos.
8. Aos Povos daquelle, que seda por sepultado, e
morto, mas que nao permanecerá sempre morto.
9. Estalar lhe há a vara no braço, e os pobres exultarao
de alegria. ....
10. Diraõ os ricos, como fomos Loucos ! e os que eraõ
tidos por fátuos se riraõ dos que se julgavaõ prudentes.
11. Entaõ se levantara na Hesperia hum Lea5; e»
Reyno sera separado dos Reynos. -;'•''
( 39 )
12. Prevalescerà a Luzitania ás outras gentes, e alegre
obedecerá ao seu Rey.
J3. Muitos Reys lhe daraó os parabéns, e abundara
muito em riquezas.
14. Tornar se ha a levantar o sceptro renovado, e nunca
lhe será tirado.

FIM.

O verso 6o. e 8o. foraõ engolidos pelo Autor da Res


tauração de Portugal prodigiosa ; porque de nenhuma, os
podia acomodar ao Senhor Rey D. Joaõ o 4o. e dizem sò
respeito ao Senhor Rey D. Sebastiao Io.

PROFECIAS DE BEATO GIL,

Da Ordem dos Pregadores.


Lusitânia sanguine orbata regio, diu ingemiset et mul-
tipliciter patietur, sed propitius tibi Deus. Salus et lon
gínquo veniet, et insperate ab Tnsperato redimeris. Affrica
debellabitur ; Imperium Othomanum recet : Ecclesia
martiribus coronabitur : Bisantium subvertetur : Domus
Dei, recuperabitur, omuia mutabuntur.

Lusitania.—A Luritania privada de seos Legítimos So


beranos gemerá por Largos annos, e sofrerá por diversos
modos, mas Deos lhe será propicio. A salvação lhe virá
de longe, e inesperadamente será remida por quem se naÕ
espera. A Affrica será destruída, cahirà o imperio do
Turco ; a Igreja será coroada de Martires ; Constan
tinopla subvertida ; a Caza de Deos recuperada ; mudado
tudo.

FIM BA PROFECIA.

Esta Profecia do Beato Gil fez conta ao da Restauraçao


prodigiosa para ser accommodada ao nosso Rey o Senhor
( 40 )
D. Joa6 4o de paginas 19, ate 85 da sua obra ; e a outra
parte das Profecias, que principia da destruição d' Affrica
até chegar á Caza de Deos ser recuperada, na3 lhe fez
conta o acomadalas, por isso as naõ traz na sua obra,
quando o fim desta Profecia he a destruiçao do Imperio
Turco, e o estabelecimento da Ley de Christo em todo
o Mundo, por aquellé que ha de vir de longe inesperada
mente.
PROFECIA DE S1"1 IZlDORO E CASSANDRA.
Iziáorus, et Cassandra filia PriamiRegisTrojanorum con-
cordati in unum dixerunt. In ultimis diebus in Hispânia
Majori regnabit Rex bis piedatus, et regnabit per feminam ,
cujus nomen per J. Grecum inchoabitur, et terminabitur
per L. et dictus Rex ex partibns Orientalibus veniet et
regnabit in Juventute : Ipse expurgabit spurilias His-
paniarum, et quod Ignis devorabit Gladius vastabitj reg
nabit super Domum Agar et obtenebit Jerusalem, et super
Sanctum Sepulchrum signum cruxifixi ponet, et erit Mo*
narcha Maximus.
Izidorus et Cassandra.—Santo Izidoro, e Cassandra
filha de Priamo,Rey dosTrojanos; dizem concordemente,
que para os ultimos tempos, ha de reinar na Hespanha
Maior hnm Rey duas vezes piedosamente dado, e que rey-
nara por huma mulher, cujo nome começará por—I.—
Grego, e acabara em—L— e que o dito Rey hade vir das
partes do Oriente, e reinara de poucos annos s que puri
ficará a Hespanha de suas impurezas, e que a espada hadé
devastar o que o fogo naõ consumir, que hade reinar sobre
a Caza de Agar ; e que ha de ter Jerusalem ; e que hadé
arvorar a Cruz do Crucificado sobre o Santo Sepulchro ; e
que ha de ser hum Monarcha Máximo.

FIM DESTA PROFECrA;


Deve lerse para verdadeira inteligencia da Profecia
( « )
assima referida a vida de Santa IzabelRaynha de Portugal,
a p. 206, e 207, á qual foi prometido pelo mesmo Jezus
Christo, que por ella Izabel livraria aquelle seu descen
dente figurado no Senhor Rey D. Sebastiao, e nelle se-
cumpriria a sua mizericordia. Esta Profecia de Santo
Izidoro, vem em Vieira no libro 13, p. 257.

PROFECIA DE S. THIOFILO.
O qual falando de hum Pontífice de Hespanha diz.
Qui cum uno Rege dictae Província?, qui oblitus, mortuus,
e non regnaturus putabatur, regna deperdita recupera-
bitur. Soldanum sua? ditioni subjugabit, et Christianis
Domum Del restituet, &c.

Qui cum uno.— O qual com hum Rey da dita Província


de Hespanha, que julgava esquecido, e morto, e que naõ
havia de reinar, recuperará os Reynos perdidos; sugei-
tarà o SultaÕ ao seu domínio, e fará restituir aos Chris-
taõs a Gaza de Deos.

PROFECIAS DO MONJE ROLANDO,


2.iie existio no Século 14; e faraó descubertas em 1600,
em hum mauuscripto antigo, e preciozo.
EPIGRAMA.
Lusiadum populi, mente alta condite vestra,
Qua3 servent vobis fata morata Deum.
Principis effigie .... cussum cum fulserit áuram
Venturum Regem non procul esse docet.
Pontificis Summi, Sacro e Commercio Roma
Interdicta negant posse Latére dice.
Hoc siniul ac fiant, tunc Lusitania gaude
Nam dubie adventus spcs tibi certa venit.
Imperium capies toto dominaberis orbi
Et solemnes muri sub tua sceptra cadent.
( « )
Lusiadum.—Pm-os da Luzitania cdhservai altamente
na memoria o que os tardios Fados dos Deozes vos tem
destinado.
Quando vireis cunhada em ouro a imagem do Príncipe,
isto vos ensina, que o Rey, que hade vir ja naõ está
longe.
Quando vireis cortado o Commercio com o Summo Pon
tífice, e Sagrada Roma, sabei, què elle ja naõ poderá
estar por muito tempo encuberto.
Apenas isto vires, alegrate ó Portugal, e tem por certa
a esperança daquella vinda de que seduvidava.
Apossarte has do Império ; dominaras em todo o Orbe e os
muros de Jerusalem cahiraõ debaixo dos teos Sceptros.

Profecia de hum
Frade de S. Francisco Napolitano um IS 20.
Vse tibi Lusitania, quo dominaberis omnibus nationibut
quia venient profecto dies, in quibus Lux tua extinguetur :
eris sub cr.lcaneo aliorum, qui te confrigent, tanquarn. vas
figuli, auferent namque a te opes, et divitias tuas:
tunc sub tributo eris gemens, et dolens, et non erit qni
consuletup te ex omnibus charis tuis: honor tuus muta-
bitur, gens tua delebitur, e infideles accipient civitates
tuas, sed tunc Pater misericordiarum respiciét, e videbit
oprobrium tuum et suscitabit ex medio tui salvatorem qui
te liberabit a servitute alienorum, postquam mittet alium
tanquam mortuum, qui te in miseria posuit, ipse restituet
te in pristinum splendorem et exaltabit Irr.perium tuum,
et dilatabit (idem Christi : destruetMahometicam Domum:
tunc manebit Imperium tuum in eternum, et dicet omnis
populus Icstare Lusitania quia Princeps Provinciarum, et
Domina gentium a Deo facta est.

Vse tibi.— Ay de ti Portugal, que dominarás em todas


as Naçoens porque hade vir sem falencia tempo, em que
( *3 )
a tua Luz se apagarara ; ver te bas debaixo dos pes dos ou
tros, que te quebrarao, como se fosses hum vazo de barro
tuas riquezas, e thezouros : entaõ serás tributaria, geme
ras, e dé todos que te amavaô, nenhum te consolará. A tua
honra será mudada, a tua Gente destruida, as tuas Cidades
tomadas pelos infiéis. Mas entaõ o Pay das misericordias
tç porá os olhos, veia o teu oprobrio, e do meio deti
fará surgir o Salvador, que te libertará da Escravidao
alheia. Depois do que mandarte hà outro, que se repu
tava m,orto, e este, que te havia posto em mizeria, te resti
tuirà ao teu antigo splendor, exaltara o teu Império,
e dilatara a fé de Christo. Destruirá a Gaza de Mahomet.
Então o seu Imperio sera eterno, e todo o Povo dira—
Alegrate 6 Portugal porque Deos te fez a primeira das
Provincias, e Dominadora das Naçoens.

Professia do Abbade Gillo,


Achada no Convento de Nossa Senhora d" Ara Cali da Filia
d' Alcácer do Sal.
Ex suo Regno, egrediêtur ad Barbaros devastandos, ex
permissione Divina perditus est: attamen Deus misericor
dia: commotus cum Reyno suo restituet eum post multum
tempus perigrinationis, et patienciae :

Ex suo Regno.—O tal Monarca hade sahir para haver


d' expugnar e destruir os Barbaros, e por permissao Divina
sehade perder, Deos com tudo movido de sua mizericor-
dia, o restituirá com o seu Reyno depois de muito tempo
de perigrinaçaõ, e paciencia.

Profecia de S. Cláudio
que vem no fim do Livro das
Profecias de Santo Izidoro im
presso em Valença na era
de 1520 per Joge Costilha Impressor.
F 2
( 44 )
Hum Rey de Hespanha, que será Coroado aos quatorze
annos de sua idade, e guerreiro até os vinte e quatro su-
geitara a maior parte do mundo, e reinará Trinta e cinco
annos, e tomará a Caza Santa, &c.

i Profecia de S. Cyrilo.
O mesmo Monarca, havia nascer na era de 1554 e em
dia de S. Fabiaõ o que vemos verificado no nosso Rey D.
Sebastiao, que he o mesmo, de que hum insigne Varao
por nome Lontibergio profetizou, hum Principe muito
honesto, e de grande authoridade reinara em toda a parte
nos effeitos da conjunçaõ de Jupiter, e Saturno, cujos ef-
feitos forao na era de 1554 vindo esta a combinar com
a deS»Cyrilo de que havia nascer na era de 1554 que hé a
mesma, em que nasceo o nosso Rey D. Sebastiao, e a
mesma conjunçao de Planetas^ que houve em 1808.

t-J Profecia de SAnta Leocabia


Virgem^ e Martir, que se achou na sua
Tresladaçaõ, dentro da sua Sepultura
no anno de 1587 estando prezente
El Rey Felipe 2o ; depois de
varias couzas: diz assim.

Por el alto saber dei sempiterno


Unirá La voluntad en amor paterno
Y el Ibero com el Luso e em compania
Hará navigacion ai solio de Maria
Y ai Santo Mausuleo
Donde el Lusitano solio
Coronado de Affrica e Palestina
Exaltara su nombre por la fé Divina.
( 45 )

PROFECIA
Do Padre Joze de Anxieta, que elle disse a Manoe*
da Gaia, morado nà Villa do Santo Espirito.
' A seguinte.
Que El Rey D. Sebastião havia passar tres vezes a
Africa que a havia ganhar, e conquistar ; e que muita
parte da gente Mourisma havia de receber o Sagrado Bap
tismo pedido por ella com livre vontade ; e que tomaria
a Cidade d' Alexandria, onde se' tomariaõ grandes rique
zas; destruiria a Caza de Mecca, daqual nao ficaria me
moria : conquistaria toda a Palestina, Anteochia, Jerusa
lém, e todo o Imperio Turco ; que se tomariaõ grandes
riquezas, e que conquistaria o Império d' Alemanha por
reinar nelle Imperador herege ; e que seria Purtugal hu-
ma ave Pheniz como fora antigamente Roma, que senho-
riou o mundo, por que tudo isto está ordenado pelo Se
nhor, e El Rey D. Sebastiao era hum Santo Rey, pelo que
ó guardava Deos para por elle obrar tudo o que fica dito.

E mais disse, que toda a gente do Norte, e Septentrio-


nal viriao ao grémio da Igreja, e dariaõ obediencia ao
Santo Padre ; e, que seriaó muitos povos de Portugal go
vernados pelos pequenos, pelo que seriaó melhor gover
nados do que antes, e com justiça.

Eu seria fastidioso, se quizesse reproduzir todas quan


tas Profecias, Prognosticos, e Revelaçoens há respeito ao
nosso Rey D. Sebastiao, julgo suficiente as que tenho refe
rido, e acabarei esta pequena obra com a geraçao 16a ate
nuada na pessoa de El Rey D. Sebastião.
Querendo os Anti-Sebastianistas verificar mal, e fea
mente o vaticínio, que se havia de cumprir na Decima
( 4<? )
sexta Geraçao na pessoa do Senhor Rey D. Joao 4'. con-
taõ oito Reys Portuguezes athe o Senhor D. Joaõ pri
meiro, e oito Duques que hou veraõ na Caza de Bragança
atbe o Senhor, D, Jç-aÕ 4o.. inclusivo i e do mesmo modo,
que aquelle^ fazem a conta.enap se verificou, a attenuaçaÕ
da prole no Senhor D. Joaõ 4o. eu o mostro verificado em
tudo no Senhor D. Sebastiao primeiro Rey de Portugal,
tanto a successaó, como por geração.
, ..-...,:.. , -. .- -: ; .i .. '...'
GbraçaÔ.
D. AffonsQ '1°. . , . bua.
D. Sancho . i,°« t, ♦ , r .*.- duav ! ^ . n
D. AíFqnsq. 2o- , . v . tre*. ,.;
D. Sancho, com seu Irmaó.
D. Affonso quatro. ; ; .
D. Diniz . . i. . v ,- .-.; cinco. , , .
D. Affonsq» ». '•'. \'.'-^-\ seis.
D. Pedro pro. .'- . . .' i SCfcC.
D. Fernando, com seu Irmaõ.
D. JoaÕ pro. . . . . . ' oito.
D. Affonso, pro. Duque . nove;
D. Isabel casada com o Infante D. Joaó, dez.
D. Isabel Rainha de Castella cazada com £1 Rey D.
Joaõ 2*. . ..'.., onze. .
D. Isabel, e D. Fernando Catholico . . doze.
D. Joanna Rainha de Castella, e D". Felippe Conde de
Flandes . . . treze.
D. Carlos. 5o. Imperador . . . quatorze.
D. Joanqa Cazada com o Principe D. Joaó . . quinze.
D. Sebastiao filho de D. Joanna, e Principe D. JoaÕ
dezaseis.
( « )

SuCCESSAÔ.

D. Affonso lo. ...... hum,


D. Sancho 1o. dous.
D. Affonso 2o tres.
D. Sancho 2o. .... . quatro.
D. Affons 3o cinco.
D. Diniz 1o. seis.
D. Affonso 4o. ; . . . . sete.
D. Pedro Io oito.
D. Fernando ..... nove.
D. Joaõ Io. dez.
D. Duarte ...... onze.
D. Affonso 5o doze.
D. Joao 2o treze.
D. Manoel quatorze.
D. Joao 3o quinze.
D. Sebastiao ..... dezaseis.
Exaqui a 16o. Geraçao, e successaõ atenuad».

F I M.

Impregno por W. Lewb, Paternoster-row, Londres.


í-/

f< •*.

Você também pode gostar