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Dialnet-CulturaEIdentidadVenezolanasUnaMemoriaQueSeOlvida-4004773 PT
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JUDITH HERNÁNDEZ-MORA
Departamento de Inglês
da Universidade
Metropolitana
Resumo
Cada sociedade tem sua própria vontade de sobreviver culturalmente, e
é por isso que ela cria para si mesma uma complexa rede de significados
que lhe permite manter viva a lembrança e o esquecimento que compõem
sua memória.
Minha intenção é refletir sobre o conceito de memória para recriar esse
termo no cenário venezuelano atual e descrever sua incidência na
configuração de sujeitos culturais que se (des)conhecem e reafirmam, em
grande medida, certas características tradicionais do imaginário latino-
americano, como, por exemplo, a do caos sempre à espreita.
Resumo
Toda sociedade tem sua própria vontade de sobreviver culturalmente;
portanto, ela cria para si mesma uma complexa rede de significados que
permite que a memória e o esquecimento sejam mantidos vivos.
Minha ideia é pensar sobre o conceito de memória para, em seguida,
recriar esse termo na atual situação venezuelana, bem como descrever a
influência da memória na formação de sujeitos culturais que se
conhecem/desconhecem e reafirmam, até certo ponto, certas
características tradicionais do imaginário latino-americano, como o caos
que nos espera constantemente.
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E as pessoas o aplaudiram, tiraram fotos e vídeos dele e registraram suas
declarações exclusivas, enquanto, com uma clareza que se tornaria uma
névoa dolorosa, o conhecimento final veio a mim: o pesadelo mais atroz é
aquele que nos exclui definitivamente.
Carlos Monsiváis, Los rituales del caos.
Como a cultura é a memória do que foi vivenciado por uma coletividade, ela
está necessariamente relacionada à experiência histórica passada. A criação de
uma nova cultura implica que parte de sua experiência se tornará memória, "do
ponto de vista de um futuro reconstruível (e somente o futuro, é claro, será capaz
de demonstrar a legitimidade dessa conjectura)" (Lotman, 1979: 71). (Lotman,
1979: 71). Mas o que é memória?
Michel de Certeau, em seu livro The Practice of Everyday Life (1984), define
a memória como a mediadora das transformações espaciais que podem ser
produzidas pelas circunstâncias. De Certeau argumenta que a memória é um
senso do outro que é composto de fragmentos individuais, detalhes agudos,
experiências particulares que permitem que as sociedades se desenvolvam.
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O desenvolvimento dos meios de sua proteção e disseminação,
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como sua transmissão de uma geração para outra (Baczcko, 1991: 28).
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(Lotman, 1979: 74); fazendo uso do esquecimento, ou s e j a , "selecionando" um
determinado conjunto de fatos em detrimento de outros.
O esquecimento compulsório tem sido uma das formas mais agudas de luta
social no campo da cultura. Certos aspectos da experiência histórica das
sociedades, como as guerras, têm procurado ser compulsoriamente "apagados"
da memória coletiva. Na maioria dos casos, é interessante observar como isso
funcionou como um ativador da memória, criando uma série de resistências que
estruturaram a alteridade. A alteridade, no caso venezuelano, vem se
desenvolvendo gradualmente nos últimos anos e com extrema rapidez no ano
corrente. Assim, as recentes explosões de luta social que foram vivenciadas não
foram ampliadas com uma nostalgia evocada, nem nossa imaginação foi
(re)carregada com qualquer simbolismo específico. Nesse sentido, nossa memória
parece ser incapaz de validar/invalidar, justificar/desaprovar, enfim, de modificar a
lembrança de uma experiência histórica em que as expectativas de mudança eram
(e são) mistas, e o esquecimento parece nos colocar em uma experiência vivencial
que nos transporta para um estágio de eventos históricos que sabemos que
podem ser repetidos e que, portanto, nos coloca em um plano em que nossas
emoções em relação ao evento são vivenciadas novamente a partir de uma
posição em que poderíamos agir. Há um problema latente, que é o fato de os
ativadores externos encontrados no coletivo venezuelano não parecerem ativar
nossa memória e, portanto, nossos mecanismos de resistência que nos
permitiriam acessar respostas satisfatórias à mudança.
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necessário
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A cultura na qual esse signo se encontra deve possuir os ativadores que permitem
que ele seja interpretado, que lhe dê significado. No caso venezuelano, por
exemplo, vemos isso refletido na insistência alucinante e intransigente do atual
governo em nomear seu processo de mudança com o termo "revolução", que de
forma alguma nos remete a um passado substancial que possa alimentar qualquer
crença coletiva de que o futuro é um grande trabalho em andamento para sonhos
sociais de todos os tipos e em todas as esferas da vida social. Portanto, na
medida em que "a revolução" não tem nenhuma associação precedente de
qualquer tipo, para nós, como coletivo, a ideia de revolução não simboliza nenhum
ideal. Esse não é o caso, por exemplo, da epopeia da Revolução Mexicana. A
sociedade mexicana da revolução e a que surgiu depois dela possuem um vasto
campo de representações coletivas em que ideias, imagens, ritos e modos de
ação são articulados, formando todo um dispositivo social de funções múltiplas e
variáveis: a revolução definiu categorias sexuais, raciais e de classe.
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Referências bibliográficas
ANDERSON, Benedict. Imagined Communities. Reflections on the origin and
spread of nationalism [Reflexões sobre a origem e a disseminação do
nacionalismo]. México: Fondo de Cultura Económica, 1993.
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