Você está na página 1de 5

Dialeto dos escravos (1700a 1880) da cidade de Patrocínio-Mg

KALUNGA DOS ESCRAVOS


É uma mistura do português com palavras
africanas deturpadas e são grafadas conforme sua
pronúncia, uma vez que não há uso de regras ou
sinais gráficos, forma sendo agregado ao dialeto no
convívio diário das senzalas. (Patrocínio, Ontem e
Hoje, vol. I, Almeida, Maria de Fátima Machado).
Tínhamos nos anos de 1700 e de 1800 em
Patrocínio, escravos que usavam esse falar, para
conversar perto dos senhores das fazendas e estes
não entenderem algum segredo, que queriam
revelar um ao outro. Alguns grupos de escravos
usavam o verbo “aprumar” e outros usavam
“embanzar” para flexionar as palavras. Vejamos um
trecho, daqueles que usavam o “aprumar”:

A Calunga do kamano do imbuê de barbante


( A fala do violeiro)
I
“Camano da inglaterra de cengo, apruma curiná na
quiçaça”
(Homem da roça, vai trabalhar na lavoura)
“Emberelas, mafungafás, fain no embieté, curiná
com engome, cangulo e sanche”
(carnes, bananas, faca no pau, trabalhar com vaca,
porco e frango)
“Pra aprumá mavero, emberelas nas mucota dos
camano”
( para colocar leite, carnes nas bocas do povo).
II
“Camano da inglaterra de injó, apruma curiná nos
injó”
(Homem da cidade vai trabalhar nas casas)
“Bacuri, escrivante e caiúma, sucanado e semá”
(rádio, estudante e polícia, cartório, cabelo)
“Apruma a calunga do Kamano gula”
(use a fala dos escravos)
“Apruma tiponga, saravá e banzo, nanga, beca e
zipaque”
(use o chapéu, a dança e o sexo, calça, camisa e
dinheiro)
“Apruma marafu, tiambote e ireranha, combêdi e
amparo aprumado”
(use a cachaça, coisa à toa e cigarro, coisa séria, e
o rosto bonito)

Dicionário de Calunga
Obs: algumas palavras semelhantes às do Banto e
outras línguas da África, aqui aparecem com outros
significados.
amparo de semá: barba
amparo: rosto, proteção
aprumado: bonito
aprumar rango: almoçar
arprumar banzo: fazer sexo
bacuri: caixa
bacuri de kalunga: rádio
bambé: frio
banzo: sexo
beca: camisa
bronze: coração
buraco da nanga: bolso da calça
cacunda: costa
caéo: minuto
caiúma maioral: cel da polícia
caiúma: polícia
caixinha de semá: vagina
calungar tiambote: conversar fiado
cangundo: safado
caturina: café
coimbiá ou embiá: cão ou cadela
conena: fezes
conzecá: dormir
cumbre: horas
curiata: comida
curinar: trabalhar
emberela de cangulo: carne de porco
emberela de engome:, carne de vaca
emberela de ramo: abóbora
emberela de sanche: carne de frango
emberela: carne
embieté: pau
embira: defunto (morrer)
embirado: cinto
engarona: égua
escrivante: estudante
esquinhamas: pernas
fain: faca
ganzipe: pênis
gula: castigo
imbu: copo
imbuê de barbante: violão
indandará: criança
indaracin: bêbê
indarado: noite
indaro: sol
inglaterra de embira: cemitério
inglaterra: terra
injó de banzo: zona meretrícia
injó de emberela: açougue
injó de embira: funerária
injó de engome: curral
injó de escrivante: colégio
injó de maioral: prefeitura
injó de marafu: boteco
injó de naite: padaria
injó de santo: Igreja
injó de semá: salão de cabelo
injó de sucanado: cartório civil
injó de urungo de quatro quinhama: oficina de carro
injó de zipac: banco
kalunga de combêdí: conversa séria
kalunga vaporou: conversa escapou
Kamano fu: homem preto
Kamano pedaço do pedaço: neto
kamano pedaço: filho
Kamano: homem
kamono-ocaio: homossexual masculino
mapia: ladrão
mapuim: ar
marangola: cavalo
mãzap: mão
moché: sapo
mucafo; velho
muribi de mavêro: queijo
nacumba: dia
naiate: quitanda
naite: pão
oa: feio, ruim
ocanha: vagina
okaio: mulher
okaio-camano: homossexual feminino
omenha de ganzipe: urina
omenha de mavêro: leite
omenha maioral: rio
omenha na inglaterra: chuva
omenha: água
pisante: sapato
ponto de escutante: ouvido
ponto fungante: nariz
pote de conena: ânus
quiçaça: lavoura, mato rasteiro
sanche: frango
saravá: dança
semá: cabelo
sengo: mato
tiponga: boné (chapéu)
zingrine: dente

Você também pode gostar