Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Universidade de Coimbra
W
As redes sociais na produção de bem-estar
IE
EV
PR
Coimbra
2006
Índice
Agradecimentos ............................................................................................................ 1
INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 3
I PARTE
Capítulo 1
OS MUNDOS DE BEM-ESTAR
W
Introdução ....................................................................................................................... 15
1.1 │ Três mundos ou mais? ......................................................................................... 17
IE
1.2 │ Portugal: que modelo? ....................................................................................... 32
Capítulo 2
EV
2.2 │ A família.................................................................................................................. 76
2.3 │ As redes ................................................................................................................101
Capítulo 3
O ROTEIRO DA PESQUISA
Introdução .....................................................................................................................133
3.1 │ O modelo analítico ............................................................................................136
3.1.1. │ As hipóteses ....................................................................................................... 137
3.1.2. │ A operacionalização ....................................................................................... 139
3.1.3. │ O objecto empírico.......................................................................................... 148
3.2 │ A metodologia ....................................................................................................152
3.3 │ A entrevista ..........................................................................................................160
II PARTE
Capítulo 4
AS HISTÓRIAS DA(S) FAMÍLIA(S)
Introdução ..................................................................................................................... 177
4.1 │ Quem contou a sua história ............................................................................. 179
4.2 │ As histórias de amor: o casamento e o namoro........................................... 188
4.3 │ Histórias de cuidados: os filhos ......................................................................... 203
4.4 │ Histórias novas com enredos antigos.............................................................. 210
Capítulo 5
AS COISAS E OS MODOS (I) – A HABITAÇÃO
W
Introdução ..................................................................................................................... 217
5.1 │ Os proprietários ................................................................................................... 219
IE
5.1.1 │ A compra ............................................................................................................. 221
5.1.2 │ A autoconstrução............................................................................................... 237
5.1.3 │ A doação............................................................................................................. 253
EV
Capítulo 6
AS COISAS E OS MODOS (II) – O EMPREGO
Introdução ..................................................................................................................... 277
6.1 │ O primeiro emprego .......................................................................................... 280
6.2 │ As trajectórias ...................................................................................................... 294
6.2.1│ A carreira............................................................................................................... 296
6.2.2│ O emprego seguro .............................................................................................. 307
6.2.3│ A mudança........................................................................................................... 311
6.3 │ As diferenças ....................................................................................................... 330
6.4 │ O sobretrabalho.................................................................................................. 346
6.5 │ O emprego e as redes sociais.......................................................................... 358
Capítulo 7
AS COISAS E OS MODOS (III) – OS CUIDADOS DE SAÚDE
Introdução .....................................................................................................................363
7.1 │ Os serviços públicos............................................................................................367
7.2 │ Os serviços privados ...........................................................................................381
7.3 │ Os cuidados informais........................................................................................387
7.4 │ Os cuidados de saúde e as redes sociais ......................................................393
Capítulo 8
AS COISAS E OS MODOS (IV) – OS BENS MATERIAIS
Introdução .....................................................................................................................397
8.1 │ A poupança ........................................................................................................402
W
8.2 │ O crédito ..............................................................................................................407
8.3 │ A dádiva...............................................................................................................412
8.4 │ Os bens materiais e as redes sociais ...............................................................435
IE
Capítulo 9
EV
9.2 │ Os idosos...............................................................................................................455
9.3 │ O trabalho doméstico .......................................................................................462
9.4 │ Criar e cuidar no interior das redes sociais ....................................................479
Capítulo 10
AS PESSOAS
Introdução .....................................................................................................................483
10.1 │ Os nós..................................................................................................................484
10.1.1 │ Os parentes ....................................................................................................... 490
10.1.2 │ Os outros ............................................................................................................ 516
10.2 │ Os laços ..............................................................................................................531
10.3 │ As redes ..............................................................................................................537
10.4 │ Quanto valem as pessoas? As redes como capital social .......................553
Capítulo 11
AS NORMAS
Introdução ..................................................................................................................... 559
11.1 │ Reciprocidade, mas... .................................................................................... 563
11.2 │ Obrigação, mas... ........................................................................................... 577
11.3 │ Igualdade, mas... ............................................................................................. 592
11.4 │ Autonomia, mas... ........................................................................................... 607
11.5 │ As normas e os problemas ............................................................................. 620
CONCLUSÃO................................................................................................................ 623
W
ANEXOS ......................................................................................................................... 679
IE
EV
PR
AGRADECIMENTOS
O primeiro agradecimento dirijo-o ao Prof. Doutor Pedro Hespanha, que orientou esta
tese com a disponibilidade e a generosidade que lhe são conhecidas. O seu papel na
minha carreira académica e científica vai muito para além da função de orientador dos
meus trabalhos científicos. Ao longo dos anos tenho tido o privilégio de poder beneficiar
da sua sabedoria em inúmeras ocasiões e de poder partilhar com ele muitas outras
aventuras para além desta tese.
W
persegui familiares, amigos, colegas, conhecidos, familiares de conhecidos, amigos de
familiares, conhecidos de conhecidos… em busca de um contacto. Ao fazer a lista das
pessoas que me ajudaram nesta fase do trabalho de campo conclui que ela daria um
IE
bom estudo de redes sociais… Esperando não ter esquecido ninguém entretanto, aqui
ficam os nomes de quem que me deu uma inestimável ajuda: Ágata Midões, Alexandra
Mendonça, Amélia Ricardo, Ana Antunes, Ana Maria Palhares, Ana Raquel Matos, Ana
EV
Seixas, Cristina Milagre, Fernando Padilha, Ita Carreira, José Palhares, Laurinda Gamboa,
Luís Guerra, Luís Januário, Luís Peres Lopes, Margarida Antunes, Maria do Céu Seixas, Nuno
Moita, Nuno Serra, Paulo Rodrigues, Rosa Lopes, Rosalina Santos, Rosário Dias Ferreira.
Durante o trabalho de campo, pude contar, de Norte a Sul do país, com uma vasta rede
PR
de apoio que tornou mais quente o inverno frio e longo em que realizei as entrevistas. As
agruras da pesquisa foram menorizadas pelo acolhimento e pelo afecto de muitos dos
que acima referi. Gostaria de destacar, no entanto, pelo apoio que constituiram durante
as minhas deslocações, os mimos inigualáveis das primas Rosalina e Mélinha, o
acolhimento amigo da Ita e do Heitor, a recepção “cinco estrelas” das famílias Antunes e
Seixas, as provas de iguarias regionais com o Luís Guerra, o imbatível coelho do Nuno
Serra e as inesquecíveis histórias da sua mãe.
W
final da tese.
Devo, ainda, um agradecimento aos colegas do grupo R.E.D.E.S – Paulo Henrique Martins,
IE
Breno Fontes, Eliane da Fonte, Cristina Reigadas e Adriana Marrero, com quem nos dois
últimos anos pude partilhar e discutir ideias que contribuiram para o enriquecimento
deste trabalho.
EV
Esta tese não teria sido possível sem o apoio da minha família e amigos. Quase todos já
foram nomeados acima, resta-me agradecer aos que não tiveram tarefas concretas
distribuídas. Pelos pais que sempre foram, mas, sobretudo, pelos avós que são, à minha
mãe e ao meu pai. Por serem os meus amigos da vida toda, ao Rui Tavares de Almeida e
à Guida Fernandes. Por ser minha amiga de infância, à Margarida Viegas. Pelos
PR
momentos prazenteiros de uma vida para além da tese, ao John Mock e ao Luís Moura
Ramos. Por conseguirem dar abraços fraternos, mesmo com o Atlântico no meio à Alice
Nunes e à Eloisa Cabral. Pela memória dos dias felizes, ao Nuno Baptista – se já não posso
contar com ele no presente, fica a certeza de que o futuro se constrói também com o
que de bom nos fica do passado.
As minhas últimas palavras vão para aqueles que estão sempre em primeiro lugar. Ao
Quim, companheiro da vida toda, devo a certeza de que há modos novos de construir a
família e o desígnio de renovar no quotidiano aquele poema que há muitos anos
elegemos como nosso. Ao meu filho querido Guilherme, que revolucionou a minha vida,
devo muitos ensinamentos, mas, sobretudo, a aprendizagem do sentido relativo das
coisas. Sem isso todo o caminho teria sido muito mais difícil.
W
IE
EV
PR
I NTRODUÇÃO
W
IE
EV
“turbilhão de mudanças” que o país sofreu nos últimos 30 anos (2005: 13). Uma
leitura dos dados extensivos e das análises apresentadas nesta obra permite
tardia, mas o seu ritmo vertiginoso (Almeida et al., 2002 e 2004; Bandeira, 1996;
família e em família, nos diferentes países. Se existem alguns traços que definem o
W
sobretudo “teórico” e tem concretizações muito diversas no interior da Europa
individualismo, mais forte nos países do Norte do que do Sul (Commaille e Singly,
1997). As diferenças não se justificam, no entanto, por um “atraso” do Sul, mas sim
colectivo.
Se, hoje, a “questão familiar” passa (ou melhor, volta) a estar no centro da
“questão social” (Déchaux, 1996), ela tem, também, que ser reformulada devido
6│
Introdução
(Mozzicafreddo, 1992 e 1997; Santos, 1990, 1993; Santos e Ferreira, 2001). São estas
W
44), cujo défice
Apesar de nunca ter atingido os níveis de cobertura social dos países centrais,
PR
Portugal tem, no entanto, nos últimos anos, adoptado algumas das medidas
sociedade civil. É “como se Portugal estivesse a passar por uma crise do Estado-
Esta realidade exige uma nova reflexão sobre o papel dos sistemas informais de
│7
Introdução
novos tipos de relação que hoje estabelece com o Estado e o mercado obrigam
Este processo tem, por um lado, criado novos tipos de solidariedade, de base
W
modernos como características pós-modernas (Hespanha, 1995; Santos, 1993).
IE
Deste modo é, hoje, fundamental reflectir sobre o lugar da família na construção
tese. Parto do princípio, enunciado por João Arriscado Nunes, de que “na
1992a: 304). Assim, a análise que aqui desenvolvo pretende ser mais um
Carapinheiro, 2001; Santos, 1993; Santos e Ferreira, 2001). Parto de uma análise ao
nível individual para discutir efeitos sociais mais amplos, procurando uma
8│
Introdução
W
Do ponto de vista metodológico, a prossecução destes objectivos implicou o
vozes dos actores sociais. Se a base desta investigação assenta num modelo
foi a de uma abertura à indução. Deste modo, a riqueza dos discursos obtidos
PR
jovens famílias com dupla inserção no mercado de trabalho, cujos cônjuges têm
sociais e da família.
│9
Introdução
do modelo do Sul.
W
contemporâneas e a importância das redes sociais e da família na produção de
das redes, por um lado, enquadrar a família em estruturas relacionais mais vastas
10│
Introdução
W
da(s) Família(s) – apresenta uma caracterização das pessoas entrevistadas e das
conjugal.
permite verificar que existe uma relação entre o desenho das redes e o acesso a
diferentes recursos. Redes constituídas por laços fortes ou laços fracos, por laços
│11
Introdução
do Estado e do mercado, com base numa lógica distinta das destes, assente no
fluxos que circulam nas redes e centro-me na análise dos nós e dos laços, de
W
rede, bem como discutir as potencialidades das redes enquanto forma de
capital social.
IE
No capítulo 11 – As Normas – analiso os princípios normativos que regem a acção
EV
interior das redes sociais não são lineares. As interacções e as trocas obedecem
no interior das redes sociais, permitem, também, verificar que esta aplicação não
12│
1
W
OS MUNDOS DE BEM-ESTAR
IE
EV
PR
Introdução
das suas funções, o Estado passou a ocupar um papel central na satisfação das
entanto, a partir dos anos 70, a crise económica fez com que a maioria dos
W
Providência, pelo menos dentro do paradigma sustentado pelas ideias de Keynes
e Beveridge.
IE
Deste modo, no centro dos debates políticos e teóricos coloca-se de novo a
Neste capítulo pretende-se dar conta destes debates. Tomando como ponto de
Capitalism (1990), que, sem dúvida, marcou as reflexões nos últimos anos, procuro
16│
Os Mundos de Bem-Estar
sua realidade.
W
of Welfare Capitalism (1990) os resultados de vastas pesquisas estatísticas e
1 Já em 1974, Richard Titmuss, na sua obra Social Policy. An Introduction, apresenta três modelos de
política social (Titmuss, 1974). Para uma discussão conjunta das perspectivas de Titmuss e de Esping-
Andersen, e das coincidências das suas posições, cf. Faria (1998).
│17
Capítulo 1
W
uma maioria capaz de pagar planos privados de protecção social.
dos indivíduos não são os princípios estruturantes. No entanto, também não existe
EV
o pressuposto de que a provisão pública deva ser dominante; pelo contrário, ela
valores tradicionais da família. Este facto teve fortes implicações nas políticas de
18│
Os Mundos de Bem-Estar
pelo seu trabalho, dada a sua importância para a presente pesquisa. A primeira,
autor, prende-se com a sua aplicação na Europa. Por um lado, os três mundos de
W
Esping-Andersen dão escassa atenção aos países do sul da Europa, tratando-os
Europeia e aos critérios de convergência que esta implica, factor sublinhado por
diversos autores para a compreensão das actuais tendências das políticas sociais
Hespanha, 2001).
2 Para uma síntese sistemática das críticas ao trabalho de Esping-Andersen cf. SEDEC (1998) e Arts e
Gelissen (2002).
3 Cf. o conjunto de artigos reunidos no número especial Southern European Welfare States da
revista South European Society and Politics (Rhodes, 1996) e, mais recentemente, Andreotti et al.
(2001).
│19
Capítulo 1
W
que têm direito, mas também a sua relação com o mercado.
Virgínia Ferreira (2002) evidencia que é necessário recorrer não apenas às teorias
PR
dos mercados de trabalho, mas também fazer uso extensivo das teorias dos
para o nível global. Virgínia Ferreira revela como a globalização traz mudanças à
20│
Os Mundos de Bem-Estar
nos padrões de divisão sexual desse trabalho. A autora conclui que “a dinâmica
pessoais estão cada vez mais sujeitas a grande turbulência. No centro dessa
W
homens passam a maior parte da sua vida adulta como trabalhadores que
levanta diversos problemas (Daly, 1996: 107-109): o primeiro diz respeito ao facto
EV
de a maioria das mulheres ter sempre vivido fora das relações mercantis. Não
porque a sua experiência tenha sido desmercantilizada, mas porque nunca foi
PR
mulheres está condicionada pelas suas relações familiares, tal como pela sua
│21
Capítulo 1
W
apresenta.
mais recente é visível a influência das critícas neste domínio: basta ver os dois
22│
Reproduced with permission of copyright owner. Further reproduction prohibited without permission.