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JOCIMAR DAOLIO

Prof. Carlos Lopes


Prof. Victor Alves
 A EF lida com conteúdos culturais.
 O profissional de educação física não atua sobre o corpo ou com o movimento
em si, não trabalha com o esporte em si, não lida com a ginástica em si. Ele trata
do ser humano nas suas manifestações culturais relacionadas ao corpo e ao
movimento humanos, historicamente definidas como jogo, esporte, dança, luta e
ginástica. O que irá definir se uma ação corporal é digna de trato pedagógico
pela educação física é a própria consideração e análise desta expressão na
dinâmica cultural específica do contexto onde se realiza.

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Marcel Mauss

"fato social total", cunhado ainda na década de 1920, e que, em síntese, propunha
uma totalidade na consideração do ser humano, englobando os aspectos
fisiológico, psicológico e sociológico.

“técnicas corporais” maneiras pelas quais os seres humanos, de forma tradicional


e específica, utilizam seus corpos. Assim, todo gesto corporal pode ser
considerado uma técnica, pois atende aos critérios de tradição e eficácia.
 Eficiência técnica: implica em pensar no fim, no resultado, no produto final.
 Eficácia simbólica é a forma cultural como os alunos utilizam as técnicas
corporais - implica em considerar o processo, o meio.

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Clifford Geertz

A cultura é eminentemente simbólica, como uma teia de significados.

Geertz faz uma crítica

“concepção estratigráfica”, que divide o ser humano em camadas, tendo o nível


biológico como núcleo, superposto pelos estratos psicológico, social e cultural.

Refuta essa visão, defendendo a chamada “concepção sintética”, na qual todas as


dimensões estão presentes, interagindo como variáveis no comportamento
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 Cultura ocorre na mediação entre os indivíduos, manipulando
padrões de significados que fazem sentido num contexto específico.

A “Cultura” na EF

Go Tani (Desenvolvimentista)
J. B. Freire (Construtivista-interascionista)
Coletivo de Autores (crítico-superadora)
Elenor Kunz (crítico-emancipatória)
Valter Bracht e Mauro Betti (análise de produções)
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Não se preocupou de trabalhar
Go Tani (desenvolvimentista) a cultura de forma direta.

 cultura faz parte do ser humano, mas não se constituem fator


determinante em seu desenvolvimento.
 Harrow : movimentos reflexos, habilidades básicas, habilidades
específicas e comunicação não verbal.
 sendo os dois primeiros geneticamente determinados e os dois
últimos, aprendidos e influenciáveis pela cultura.
 dimensão secundária e complementar à formação do sistema
nervoso humano, ou seja, a dimensão cultural aparece como
consequência dos níveis geneticamente determinados.

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 A cultura seria reduzida a uma fase do desenvolvimento humano, que
a criança poderia alcançar desde que passasse pelos pré-requisitos
estabelecidos biologicamente, através da produção do sistema
nervoso central.
Chegar-se-ia à
conclusão de que a
atuação cultural de
cada indivíduo
dependeria
prioritariamente da
Ser
possibilidade de
Motor
aquisição de
habilidades
motoras
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João Batista Freire Não se preocupou de trabalhar
(Construtivista-interascionista) a cultura de forma direta.

 Resende (1995) considera os trabalhos de João Batista Freire como vertentes da


pedagogia humanista, relacionando as proposições do autor com a crítica à
cientificização do mundo e à exacerbação racionalista da educação e da educação
física.
 Bracht (1999) entende que a obra de Freire se constitui em variante da abordagem
desenvolvimentista, cuja base teórica seria oriunda da psicologia da aprendizagem e
do desenvolvimento. A discussão de Go Tani daria ênfase ao desenvolvimento
motor e a de Freire ao desenvolvimento cognitivo.
 O conceito de cultura, quase sempre acompanhado da palavra “infantil”. Avalia a
cultura como uma característica intrínseca e internalizada no indivíduo a ser
expressa na sua atuação social.

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 Falta a esse conceito de cultura a necessária consideração de que, embora seja
internalizada pelos indivíduos, é também pública.
 padrões de movimento x esquemas motores
 Os jogos e brinquedos, tão lembrados como parte da cultura infantil, de onde o
programa deve necessariamente partir, são tomados como facilitadores ou
estimuladores do desenvolvimento e não como elementos do patrimônio cultural
humano que deve ser garantido a todos os alunos. São meios e não fins do
processo educacional empreendido pela educação física.
 Falta a esse conceito de cultura a necessária consideração de que, embora seja
internalizada pelos indivíduos, é também pública.

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Coletivo de Autores (crítico-superadora)

 O inegável mérito da abordagem crítico-superadora foi o estabelecimento da cultura


corporal como objeto de estudo da educação física.
 Quando os autores se referem à cultura corporal como patrimônio da humanidade,
enfatizam a dimensão do acúmulo de conhecimentos, das produções humanas, mas
não avançam na ideia de que os conhecimentos produzidos pelo ser humano ao
longo de sua história vão sendo atualizados e re-significados na dinâmica cotidiana
de suas vidas.
 o Coletivo de Autores não deixou claro se haveria uma cultura corporal para classe
trabalhadora e outra para classe dominante! Essa questão expõe uma das
fragilidades da abordagem crítico-superadora, sendo a principal, a dificuldade em
considerar a dimensão simbólica dos seres humanos.

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 A questão de cultura empreendida pelos autores do livro em questão parece
também refém do evolucionismo típico do século XIX, uma vez que vê como
produção humana, como algo material, externo ao ser humano.
 A consideração simbólica de cultura permite compreender a lógica dos conteúdos
de educação física de forma menos determinista e menos estruturada a partir de
padrões conscientes e objetivos. Permite compreender a dinâmica escolar da
educação física como prática cultural que atualiza, ressignifica e revaloriza os
conteúdos tradicionais da área, considerando as especificidades e características
próprias de cada grupo.

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Elenor Kunz (crítico-emancipatória)

 Daolio observa, nas proposições de Kunz, renovação em relação às outras


abordagens analisadas no que se refere ao trato com os conceitos de cultura e
de ser humano.
 Daolio percebe, na abordagem, claro esforço em romper com essas divisões, que
acabam por eliminar a possibilidade de tomar o ser humano e seus aspectos
como integrantes de um todo indissociável.
 Entretanto, talvez pelo fato de o autor utilizar uma abordagem mais filosófica que
sociocultural de antropologia, em alguns momentos ocorre uma visão um tanto
idealizada de ser humano que culmina com a clássica divisão entre certo e
errado, bom e mau.

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Valter Bracht

 coletâneas Educação física e aprendizagem social, publicada em


1992, e Educação física & ciência: cenas de um casamento (in)feliz,
de 1999
 Valter Bracht coloca-se claramente ao lado daqueles que entendem
que a educação física não é ciência e nem deve constituir-se em
nova ciência, pelo fato de ser uma prática pedagógica, embora, como
prática pedagógica, esteja interessada e necessite de explicações
científicas que a fundamentem.
 "[...] o que qualifica o movimento enquanto humano é o
sentido/significado do mover-se, sentido/ significado mediado
simbolicamente e que o coloca no plano da cultura“ BRACHT,1999.

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 Segundo ele, as abordagens de educação física baseadas em conceitos biológicos e
psicológicos, bem como os conceitos de corpo, de movimento, do próprio ser
humano daí advindos, apresentam-se desculturalizados. O autor alerta que não
basta discutir a educação física na perspectiva da cultura para colocá-la no âmbito
de uma concepção progressista de educação, porque o conceito de cultura pode
ser definido também em termos politicamente conservadores.
 "[...] nem movimento sem pensamento, nem movimento e pensamento, mas, sim,
movimento pensamento”
 Acredito que a discussão da cultura por Bracth é muito positiva para a EF e muito
me aproxima do autor.

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Mauro Betti (sistêmica)

 Educação do movimento (garante a especificidade da educação física, mas esquece


a dimensão da personalidade do indivíduo, que deve ser o alvo de todos os
componentes curriculares da escola)
X
 Educação pelo movimento (aproxima-se da ação sobre a personalidade,
integrando-se às outras áreas da educação, porém secundariza os objetivos
específicos da educação física).
 Cultura física seria um conjunto de valores relativos ao corpo, envolvendo a cultura
física pessoal, a comunidade cultural e correlates materiais dessa cultura.
 “cultura corporal de movimento", ou "cultura corporal"
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 O conceito de cultura utilizado por ele é atualizado e ampliado, considerando o
saber corporal inerente aos humanos e presente na tradição da área e
considerando também as mediações simbólicas necessárias para uma ação
pedagógica efetiva.
 O profissional de EF em sua atuação pedagógica precisa saber, de certa forma, ler,
aceitar e compreender os significados originais do grupo alvo e seu trabalho, a fim
de conseguir empreender sua ação pedagógica intencional, considerando também
os seus significados e aqueles atribuídos ao longo da tradição da cultura corporal
de movimento.

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Por uma Educação Física da Desordem

 “ordem” as abordagens da EF cientificistas positivistas. Por isso propõe a EF da


Desordem, para romper essa barreira e alcançar uma EF plural que aceita todas as
outras proposições de uma forma espiralada. Ele chama essa ruptura dos
conceitos limitados de princípio da alteridade.
 Princípio da alteridade: pressupõe a consideração do outro a partir de sua
totalidade. (pluralismo, diversidade, alteridade) ruptura dos conceitos limitados.
 A educação física da desordem, embora devesse ser sempre crítica, não assumiria
uma postura rígida em relação à sociedade;

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 A educação física da desordem não aceitaria a ideia de neutralidade
científica e não recusaria seu papel de intervenção na sociedade,
mas teria o cuidado para, reconhecendo as diferenças pessoais e
culturais, não atropelar o processo de grupos com outros tempos e
outros valores políticos culturalmente definidos.
 A discussão de cultura estaria libertando na Educação Física os
chamados elementos da ordem, a subjetividade, o indivíduo e a
história, para permitir sua transformação em elementos de desordem,
a intersubjetividade, a individualidade e a historicidade.

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