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Longas asas, breve vôo.

– Ricardo Tavares

E o que vem depois dos bravos ventos?

E pra onde vamos quando o que nos resta são apenas as asas?Aquelas asas que todos temos
quando somos livres e pequenos e nada sabemos nem queremos da vida?

Um dia ouvi um velho me dizer que as asas pertenciam aos ventos e que tentar não voar
quando o vento vem forte é querer ser carregado violentamente pelo mesmo vento que te
levaria pra dançar... É, aquele velho parecia ter o dom de transformar o que poderia ser uma
tragédia em poesia!

Pena que eu não o ouvi. E o vento veio forte!

Estranha a capacidade que temos em negar a nossa essência! Às vezes me pergunto se a água
gosta de estar contida em um jarro, quando ela sabe que pode ser um rio inteiro! As vezes me
pergunto se um animal selvagem gosta do “conforto” de uma jaula, quando ele pode ter uma
selva inteira, ainda que passe fome uns dias, ainda que passe sede uns dias... Ainda Que tenha
que enfrentar seus predadores ou ter que disputar territórios um dia...

E porque nós passamos a vida toda buscando e prezando a liberdade se depois de um olhar
demorado e um beijo nos deixamos prender?

Essa é a diferença.Deixamo-nos prender, temos consciência do que está havendo e ainda


assim nos deixamos prender!

Então, sem que menos se espere, vem o vento forte e arrebenta as grades, e escancara as
portas e derruba as janelas.

E aí você percebe que como no começo de tudo, só sobrou você, suas asas e o vento.

Talvez tenha levado tempo demais para poder perceber isso, talvez tenha levado tempo
demais para me sentar aqui no alto dessa pedra na beira do mar novamente, como eu fazia
quando criança...

Estranho é parecer sentir aquele velho aqui perto e ter a nítida impressão de que ele me diz:

- Não, você não demorou tempo demais não! Até mesmo os maiores pássaros precisam de um
bom tempo pra poder alçar voô! Até mesmo para voar é necessário amadurecer!

Estar aqui apesar de me dar um certo conforto, me faz voltar no tempo e é nessa volta que eu
quero saber aonde eu me esqueci do meu dom de voar e porque o vento me levou pra tão
longe de mim!

Queria uma canção pra essa volta! E queria também um silêncio!

Sendo assim, fico aqui no alto, entre o precipício e as ondas, revendo minha história,
esperando a minha hora de poder voar.

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