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Figura 123: Aspecto do imóvel no ano de 1987 integrando o conjunto da Rua Tertuliano Brandão Filho.
Fonte: SILVA FILHO (2007, v. 2, p. 40).
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Figura 125: Planta baixa atual do antigo edifício sede da Associação Rural de Pedro II.
Fonte: Arquivo 19ª Superintendência Regional do IPHAN.
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Na Europa, o período entre 1760 e 1830 foi marcado pela Revolução Industrial que
trouxe inúmeros avanços técnicos e materiais. No âmbito da arquitetura, o Neoclassicismo é
o estilo desse momento, iniciando-se na França e na Inglaterra. Ao longo de todo o século
XIX e até o começo do século XX, a arquitetura neoclássica foi marcante nas construções
de outros países, como o Brasil, que aderiu a essa prática após a chegada da Missão
Artística Francesa em 1816. O objetivo principal era transformar o Rio de Janeiro, que agora
abrigava a Corte Portuguesa, em uma cidade com padrões europeus. A Academia de Belas
Artes incentivou as construções neoclássicas por todo o país (REIS FILHO, 2010).
A principal característica desse estilo foi a busca pelo classicismo, pela pureza da
arte clássica. Suas plantas geralmente apresentam formas quadradas, retangulares ou
centradas. Os frontões e as colunatas são muito utilizados, mas não há sobreposição de
ordens arquitetônicas. O exterior procura demonstrar suntuosidade, enquanto o interior
deseja a comodidade, o bem-estar. O templo grego aparece como a inspiração principal, e
as linhas volumétricas dominantes são as horizontais. Há autonomia entre os elementos
decorativos e os principais materiais utilizados eram os tijolos, a pedra, o mármore branco, a
pedra calcária e o granito (MELO, 2012).
Muitos teóricos associam a produção neoclássica no Brasil ao Ecletismo, como uma
espécie de introdução desse estilo no país. Isso decorre do fato de que quando o
Neoclassicismo foi absorvido pela arquitetura nacional, ele acabou perdendo sua
genuinidade, devido às influências locais e às dificuldades de encontrar materiais e mão de
obra especializada, passando a ser interpretado livremente, assim como a arquitetura
eclética.
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De acordo com Reis Filho (2010), a simplicidade das formas e a clareza construtiva
caracterizaram a arquitetura neoclássica no Brasil. Nos telhados, adotam-se soluções mais
complexas, como o uso de quatro águas. Cornijas, platibandas e balaustradas substituem e
escondem os beirais. As paredes eram de pedras e/ou tijolos revestidos e pintados. As
janelas e portas costumavam apresentar bandeiras e vidros transparentes. Foi durante a
incorporação dessa arquitetura que ocorreu o aparecimento do porão alto, com a utilização
dos óculos para ventilar e não deixar a umidade chegar ao piso que frequentemente era
em tabuado de madeira. Muitas vezes, os esquemas rígidos dos tempos coloniais eram
mantidos, deixando o uso do neoclássico restrito aos elementos decorativos das fachadas.
Quanto ao espaço interno, geralmente sua configuração ainda era a mesma da
arquitetura tradicional do período colonial, mas as paredes passaram a receber pinturas em
tons pastéis. O mobiliário passou a ser uma preocupação, tornando-se mais complexo em
busca do conforto. Os objetos passaram a ser mais refinados, como cristais, louças e
porcelanas (MELO, 2012).
Seguindo o aspecto do neoclassicismo aplicado no Brasil, o Memorial Tertuliano
Brandão Filho manteve a rigidez colonial, restringindo quase que totalmente a aplicação da
arquitetura neoclássica aos ornamentos das fachadas mas conseguindo demonstrar a
grandiosidade e força características da prática arquitetônica. Remete ao estilo tradicional
com aplicação do padrão tipológico da “morada e meia”, entretanto adotando planta baixa
de formato retangular. Em tempos mais recentes foram construídos anexos de apoio
independentes da estrutura original. Localizado em um lote de esquina, o edifício apresenta
implantação sobre os limites frontal e de uma das laterais do terreno (Figura 128).
preservados e alguns cômodos são dotados de forro em tábuas corridas. As vergas são
retas, as sobrevergas em meio círculo e as esquadrias possuem vedações de calha e
venezianas e pintura esmalte cinza. O passeio tem pavimentação executada em blocos de
pedra (Figuras 131, 132, 134 e 135).
Somente um desses dois edifícios citados foi analisado por este trabalho, já que
o outro se encontrava fechado. Trata-se da residência do professor Dielson Brandão,
denominada aqui como Casa Art déco. Ela possui planta baixa na configuração da tipologia
morada inteira da arquitetura tradicional. Sua implantação, da mesma forma que nas casas
mais antigas, continuou sobre os limites laterais e frontal do terreno. Localizada no entorno
da Praça Domingos Mourão (Rua Agostinho Pinheiro, 396), foi construída na primeira
metade do século XX, possivelmente no ano de 1939 como atesta a grafia na platibanda
(Figuras 138 e 139).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como visto nos capítulos que se passaram, desde os princípios do Período Colonial
brasileiro, os núcleos urbanos que surgiam constituíam-se por um método representativo de
produção arquitetônica praticado em grande parte da extensão territorial, seguindo padrões
básicos e assim concebendo edifícios semelhantes por todos os lados. Com as Ordenações
Reais do século XVIII passando a conter normas sobre a maneira que o urbanismo
e a arquitetura deveriam ser implementados, a situação referente à constância dos
partidos arquitetônicos solidificou-se, com casas edificadas de modo uniforme segundo
padronizações das Cartas Régias que tinham por finalidade garantir aos centros urbanos
uma aparência portuguesa.
Delson (1997) afirma que as experiências lusitanas de planificação urbana no Brasil
e a reconstrução posterior de centros urbanos em Portugal deixaram claro que o governo
real havia compreendido que tal planificação podia servir pata fins administrativos práticos e,
ao mesmo tempo, ser esteticamente agradável, tornando-se um instrumento de política
estatal. Assimilou-se que um programa de construção de vilas abrangia uma potencialidade
de ampliação da autoridade real. Em meados do século XVIII, essa fórmula foi interpretada
pelas autoridades como a condição indispensável do bom governo, acrescentando-lhe o seu
reconhecimento da dimensão sociocultural do programa. O modelo de vila utilizado no Brasil
nessa época era apreciado não só pelo seu traçado ordenado e esteticamente agradável,
mas também porque simbolizava um nível de sofisticação ao qual a regência achava que o
interior do Brasil devia aspirar.
Apesar disso, estudos sobre o Brasil pós-colonial mostram que as tentativas de
enfraquecer a classe latifundiária estiveram longe de lograr êxito, fato que não elimina as
motivações subjacentes a esses esforços, notadamente avançadas para a conjuntura do
século XVIII. Nesse período a Coroa conseguiu estabelecer precedente para o controle da
distribuição de terras pela autoridade real, para a supervisão governamental das subdivisões
urbanas e para a planificação oficial do desenvolvimento interiorano. Atualmente é possível
perceber que a Coroa superestimou as suas possibilidades, contudo, o desafio à ordem
social e econômica colonial vigente estava muitos anos à frente do seu tempo e era sem
paralelo em matéria de política colonial naquela época. O planejamento urbano no Brasil
chegou equivaler à sistema de controle e absolutismo: a configuração urbana
caprichosamente regulamentada que orientou a construção interiorana no século XVIII
desenvolveu-se como uma representação simbólica de “bom governo”, uma indicação de
que a sociedade estava funcionando dentro de limites predeterminados e disciplinados.
Essa fórmula convenceu o pensamento dos administradores coloniais durante toda a
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segunda metade dos Setecentos e as preferências estilísticas pelo traçado urbano regular e
simétrico predominaram até uma época bem avançada no século seguinte.
Em incontáveis casos, o critério para elevar oficialmente uma aldeia à categoria de
vila baseava-se apenas na necessidade de instalar funcionários do governo em uma área
ainda não controlada. Entretanto, em outras conjunturas, a criação legal de uma vila
marcava o início de um grande projeto de planificação urbana, bem como a instalação da
administração governamental. Em um nível mais elevado, quando as vilas eram promovidas
a cidade, com frequência sofriam uma ampla remodelação urbana com a finalidade de lhes
dar uma aparência adequada ao seu novo título. Desse modo, o verdadeiro significado das
cartas régias que conferiam formalmente o título de vila não era necessariamente o
reconhecimento do crescimento físico do arraial ou aldeia, mas sim a percepção pragmática
de que, dentro daquela área específica, era preciso assumir determinadas
responsabilidades administrativas.
Após a Independência do Brasil em 1822, o Império deu seguimento ao método
urbanizador baseado na regularidade dos traçados, declarando que o crescimento por meio
desse aspecto padronizador era não só desejável como verdadeiramente obrigatório. Assim,
a Lei de Organização Municipal, de 1828, que determinou as diretrizes para a expansão das
vilas e cidades no país no século XIX, continha instruções precisas para as prefeituras no
que se referia à configuração urbana. As câmaras municipais deveriam não só zelar pela
conservação e aparência das suas respectivas cidades, mas também procurar conseguir, o
tempo todo, a “elegância” e a regularidade exterior dos prédios e ruas. A supremacia das
malhas urbanas ortogonais estava assegurada. Nas localidades onde, ocasionalmente,
disposições estilísticas tais como a homogeneidade das fachadas foram abandonadas em
favor de um tipo de construção menos pesada, as aglomerações, alinhadas desde o início
segundo as diretrizes modernas, continuaram a apresentar um aspecto regular, a invariável
regularidade da construção urbana brasileira. Os conceitos de ordem e precisão, outrora
ditados pelo programa disciplinar para o interior sem lei, agora haviam se tornado padrões
de bom gosto para toda a nação (DELSON, 1997).
Mesmo que a maior parte dos estudos tradicionais da história latino-americana
descreva os administradores reais portugueses como altamente inábeis, as informações
aqui apresentadas comprovam que a Coroa tinha um plano de modernização de grande
alcance que abrangia o Brasil inteiro e que foi executado por etapas no decorrer do século
XVIII (DELSON, 1997). No âmbito do território piauiense, visto que a liturgia católica, através
das igrejas e de seus adros, formatou os momentos iniciais do processo de urbanização,
com a exceção de Parnaíba, a organização espacial das primeiras vilas precedeu ao ato
político de fundação. Com a norma urbanística apareceram os traçados ortogonais. A
instalação das seis vilas e da cidade de Oeiras, única do Piauí setecentista, foi uma façanha
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política admirável, enquanto polos urbanos movidos pela economia rural. Todas, com maior
ou menor intensidade, são hoje importantes cidades do estado. No século XIX o comércio
prevaleceu como base geradora das nucleações, notadamente à beira do rio Parnaíba, com
a maioria delas ainda seguindo os modelos de traçados ortogonais, definidos na centúria
anterior por meio das ordenações do Reino português (SILVA FILHO, 2007).
Em relação à arquitetura desenvolvida nas nucleações urbanas piauienses desses
tempos, enquanto a estrutura, os materiais e os sistemas construtivos repetiram esquemas
adotados na costa, a forma igualmente mostrou aproximações com o litoral, na distribuição
equilibrada dos vãos sobre frontarias compartimentadas por simulacros de colunas, cornijas
e marcação dos embasamentos. A regularidade das casas justapostas à testada dos lotes,
unidas umas às outras, expressou uma interdependência construtiva e conferiu uma
unidade urbana embasa nas Ordenações Reais, difundidas por todo o período colonial,
como também posteriormente, durante a época imperial, o que possibilitou a abrangência
da cidade de Pedro II. Houve uma coesão espacial ordenando as frontarias e articulando o
interior com os planos das fachadas, coberturas e sistemas construtivos, confirmando a
aplicação de esquemas reguladores. Em algumas cidades, a utilização de estruturas de
carnaúba amarradas por cordas fibras vegetais demonstram as particularidades dessa
arquitetura praticada em solo piauiense. A estética artesanal fica evidente nos frequentes
desaprumos e nas diferenças, por exemplo, entre os tamanhos das telhas e dos vãos das
esquadrias. Mesmo assim, as formas se espelham, os telhados se unificam e os vãos se
correspondem. Nessas casas, a preocupação de acomodação às condições climáticas do
sertão abrasivo, ajustou as varandas internas se abrindo para os quintais e as fachadas se
fechando para o exterior, com poucas aberturas normalmente protegidas por vedações de
calha, resultando em edifícios com o predomínio dos cheios sobre os vazios; fato decorrente
também da utilização de materiais muito pesados na constituição estrutural das edificações.
Normalmente eram isentas de elementos decorativos e quando possuíam adornos, esses se
limitavam a leves saliências de cornijas nas fachadas frontais ou nas molduras dos vãos.
Existiu, entretanto, em alguns imóveis, uma intenção de ordem plástica, sutilmente impressa
nos acabamentos e colorido das alvenarias e esquadrias (SILVA FILHO, 2007).
Alguns aspectos da arquitetura piauiense podem ainda vir a ser discutidos, como a
questão dos beirais esparramados. Prática comum desde os momentos exclusivamente
rurais, em que as construções limitando-se geralmente às sedes das fazendas, as varandas
possuíam pés direitos bastante reduzidos devido à continuação de uma das águas do beiral.
Conservada aos edifícios urbanos, incluindo muitos de Pedro II, consiste na diminuição
drástica da altura das coberturas nos cômodos localizados na parte posterior da casa,
permitindo proteção contra os raios solares que incidem fortemente. Assim, explicou Barreto
(1975), para ser confrontado posteriormente pela hipótese de Silva Filho (2007), que
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