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EIXO TEMÁTICO 3 – ARQUITETURA E DOCUMENTAÇÃO: A

PESQUISA NA ÁREA DA HISTÓRIA DA ARQUITETURA E DO


URBANISMO - A PESQUISA NA ÁREA DA HISTÓRIA DA
ARQUITETURA E DO URBANISMO; HISTORIOGRAFIA E
DOCUMENTAÇÃO: AS FONTES DOCUMENTAIS E A ESCRITA DA
HISTÓRIA DA ARQUITETURA; O EDIFÍCIO COMO DOCUMENTO;
BIOGRAFIAS: OS ARQUITETOS NA HISTÓRIA DA ARQUITETURA;
DOCUMENTAÇÃO E PRESERVAÇÃO DAS TÉCNICAS
CONSTRUTIVAS E DA ARQUITETURA VERNACULAR; POÉTICA,
CULTURA, ESTÉTICA: ARTE, ARQUITETURA, ARQUIVOS.

INOVAÇÕES NO PROGRAMA RESIDENCIAL VERNÁCULO DO


SERTÃO DO CENTRO-SUL BRASILEIRO A PARTIR DAS NORMAS
HIGIENISTAS

UNES, WOLNEY (1); RIBEIRO, GABRIELLE (2); RODRIGUES, ISABEL (3)


1. Universidade Federal de Goiás. Centro de Estudos Brasileiros
Rua 94, 1149, Setor Sul, Goiânia-GO, 74083-060
engenho21@gmail.com

2. Universidade Federal de Goiás. Arquitetura e Urbanismo


Rua 227, 360, apto 1205, Setor Leste Universitário, Goiânia-GO, 74605-080
gabriellercosta96@gmail.com

3. Universidade Federal de Goiás. Arquitetura e Urbanismo


Alameda Imbé, 497, casa 30, Parque Amazonas, Goiânia-GO, 74835-460
isabelrodriguesp17@gmail.com

RESUMO
A partir de meados do séc. 19, com o crescimento das cidades e seu adensamento populacional
provocados pela Revolução Industrial, surgem as primeiras preocupações com a higiene pública, em
Londres e Paris. No início do séc. 20, o Brasil inicia também o processo de reestruturação de suas
cidades de acordo com as novas normas higienistas. Goiânia, cidade fundada em 1933, incorpora
essas normas, em detrimento da tradição construtiva regional. Essas normas estão no cerne do
nascimento do Urbanismo como disciplina e foram trazidas ao projeto de Goiânia pelo primeiro
urbanista formado (em Paris) a trabalhar no País, Atílio Correia Lima. Neste artigo, partimos do
estudo de uma das primeiras residências privadas da cidade, a Casa de Altamiro de Moura Pacheco,
construída de acordo com as novas normas edilícias, para verificar o impacto dessas normas no
programa residencial no sertão do centro-sul brasileiro. Analisam-se em especial as diferenças na
locação do edifício, seus alinhamentos e os ambientes molhados.

Palavras-chave: urbanismo; a casa; higienismo; Goiânia; Atílio Correia Lima

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Introdução
A partir do grande crescimento e adensamento das cidades verificado na esteira da
Revolução Industrial, no início do século 19, inicia-se um longo debate entre sanitaristas,
políticos, engenheiros e arquitetos sobre a higiene e saúde pública das cidades. Os grandes
centros da Europa ocidental foram os primeiros a perceber o problema, especialmente bem
documentado em Paris e Londres.

Em Paris, a população que vinha se mantendo estável desde o séc. 17, passa em apenas
um século de 540 mil habitantes (em 1800) para 2,7 milhões (em 1900), em grande parte
por conta da migração a partir do campo. A densidade habitacional chegou a 26 mil/km2 em
1900, em comparação com 64/km2 para o restante da França (Insee). Cronistas da época
descreviam Paris como “oficina de putrefação, em que miséria pestilência e doenças
trabalham em concerto, e a luz do sol e o ar fresco raramente penetram” (Victor
Considerant, apud De Moncan, 2012, p.18).

A teoria dos miasmas, emanações oriundas de matéria orgânica em decomposição, era


comumente usada como explicação para a proliferação de doenças. Apesar de hoje
sabidamente incorreta, essa teoria apontou apropriadamente algumas soluções, como dotar
grandes cidades de sistemas de remoção de águas servidas e propiciar melhor ventilação
por meio do afastamento entre edifícios. É o caso das remodelações levadas a cabo por
Haussmann a partir de 1853, com o intuito de “arejar, unificar e embelezar” Paris (De
Moncan, 2012, p.19).

No Brasil, essas novas normas tiveram sua primeira aplicação no Rio de Janeiro, com as
reformas urbanas de Pereira Passos (prefeito entre 1902 e 1906) e Oswaldo Cruz (diretor
geral de Saúde Pública a partir de 1903), especialmente por meio do Decreto Municipal n°
391 (do Rio de Janeiro), de 1903, e de lá se tornariam norma em todo o País.

O primeiro profissional a ostentar o título de urbanista a trabalhar no Brasil foi Atílio Correia
Lima, diplomado em Paris em 1930 no Instituto de Urbanismo da Universidade de Paris,
após sua graduação como engenheiro-arquiteto na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio
de Janeiro, em 1925. Atílio é autor do projeto da cidade de Goiânia.

Antecedentes

A decisão de construir uma nova cidade para ser a capital do Estado de Goiás, em 1933, foi
um evento que mudaria para sempre a região. Para além de implicações políticas e

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geográficas, houve grande impacto na arquitetura da região, tanto em termos de processos
construtivos como de materiais.

Até essa época, a residência típica do Brasil Central utilizava-se preferencialmente de


materiais locais, como pedra, cal, barro e madeira. A técnica era também simples: a partir de
uma base de pedras, socadas em valas abertas no solo, apoiava-se a estrutura, quase
sempre madeira nobre, preferencialmente aroeira. As paredes eram erguidas de três
maneiras: desde apenas uma treliça de madeira (pau a pique), eventualmente preenchida
com barro (taipa) até os grandes tijolos de adobe, não cozidos, apenas secos ao sol.

Os edifícios eram cobertos em geral com telhas cerâmicas do tipo canal e bica, apoiadas em
caibros de madeira. Forros eram eventuais, os mais sofisticados de madeira, mas também
de palha ou simplesmente um tecido estendido. Portas, pisos e janelas eram
invariavelmente construídos de madeira, ao passo que os revestimentos variavam apenas
entre pedra e cal, vez ou outra com alguma pigmentação. Os pisos de madeira geralmente
eram formados por grandes tábuas, apoiadas sobre engastes nos pilares. Nas áreas de
serviço, eventualmente havia tijolos planos de barro no piso, mezanelas, lajes de pedras ou
simplesmente o solo apiloado (Imagem 1). Materiais como vidro, louças ou metais eram
raros, reservados apenas para as casas mais ricas, já que vinham sempre de fora da região.

Imagem 1. Processos construtivos tradicionais do Brasil Central. Da esquerda para a direita: muro
com tijolos de adobe (Pirenópolis, GO, séc. 20); casa com estrutura de aroeira, paredes de tijolos
de adobe, reboco de saibro, caiação branca, janelas de madeira e telhas de barro (Crixás, GO,
séc. 18); forro de tecido (Pirenópolis, GO, séc. 18)
Fonte: Fotografias dos autores

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Em termos urbanísticos, a casa tradicional do interior de Goiás alinhava-se no limite da via
pública, com generosas áreas aos fundos, ocupadas por pomares, hortas, instalações
sanitárias (inclusive fossas e cisternas) ou simplesmente o chamado terreiro. As fachadas
caiadas, geralmente de branco, variavam apenas nas cores das janelas de madeira.

O programa era simples: a partir da entrada principal, distribuíam-se os dormitórios, muitos


deles sem janelas ou aberturas para o exterior. A área molhada, banheiros e cozinha, ficava
aos fundos, muitas vezes em edícula separada do corpo principal da casa (Imagem 2).

Imagem 2. Quatro momentos da inserção do sanitário na residência do Brasil Central: 1. Edícula aos
fundos, separada do corpo da residência, chamada “casinha”; 2. Sanitário edificado anexo à
residência; 3. O banheiro migra para o corpo da residência, mas sempre aos fundos; 4. Banheiros no
corredor e incorporados aos quartos, chega a “suíte”.
Fonte: Levantamento arquitetônico de Pirenópolis, Inventário Nacional de Sítios Urbanos, 2005

No Brasil Central, não havia redes públicas de abastecimento até o início do século 20, e a
água era coletada de cisternas ou fontes públicas. Águas servidas eram descarregadas em
fossas, dentro do próprio terreno, quando não canalizadas até o próximo córrego.

Tomada a decisão de construir a nova capital, portanto, o governo estadual assina contrato
com a empresa P. Antunes Ribeiro e Cia., da qual fazia parte o arquiteto Atílio Correia Lima,
instalado na capital federal. O planejamento da cidade se inicia com a publicação do
Decreto 3.547, de 6 de julho de 1933, que previa, além da elaboração do projeto da cidade,
a necessidade de elaboração de projeto para “20 tipos de casas para funcionários” (art. 8º,
VIII). Correia Lima, que havia tido parte de sua formação no Instituto de Urbanismo da

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Universidade de Paris, entre 1927 e 1930, previu em seus projetos materiais e técnicas
contemporâneas, em uso nos grandes centros, de modo a obter uma cidade dentro dos
novos conceitos urbanísticos.

Com a melhoria das condições de transporte, vários materiais de construção industrializados


começaram a chegar com maior rapidez e menor custo. Coincidentemente, a indústria
nacional tomara novo ímpeto no primeiro quartel do século 20 e naquele momento já estava
apta a fornecer grande parte desses novos materiais: esquadrias metálicas, peças de
madeira trabalhadas em torno, pisos cerâmicos, telhas francesas, luminárias, louças e
peças de ferro fundido completavam o novo cardápio à disposição dos construtores, e agora
podiam ser adquiridas de fabricantes nacionais.

As novas especificações contrastavam fortemente com a prática construtiva da cidade de


Goiás e materializaram o ideal de dar à cidade uma “aparência moderna”, expressão contida
em vários relatórios da época. Essa aparência moderna manifestava-se ainda, é claro, nos
padrões urbanísticos, que determinavam para o edifício residencial recuos frontal e laterais
(de 5 m e 1,5 m respectivamente), entre várias outras condicionantes, como a área
construída limitada a 45% do terreno.

Essas normas eram fruto dos recentes entendimentos sanitários da época. Nas
especificações para Goiânia, o recuo frontal poderia ser ocupado por jardim e cercado com
muro baixo: “Nas zonas residenciais não será permitida, nas divisas dos lotes, construção
de muros de altura superior a 1,00 m. Será permitida cerca de arame, até a execução
posterior de cerca viva, nas divisas dos fundos, e laterais do terreno” (Portaria 67, art. 22).
Essas medidas de isolamento do corpo do edifício seriam mantidas nos Códigos de Obras
de Goiânia subsequentes, desde o primeiro deles, de 1947 (Decreto-lei 574), e vige até
hoje.

As Normas Gerais para a Regulamentação de Construções decretavam o fim de


construções de taipa ou adobe, especificando que as paredes externas deveriam ser “de
uma vez (de um tijolo) em espessura” (Portaria 67, art. 18), o que significava que os tijolos
deveriam ser assentados transversalmente, produzindo uma parede acabada com pelo
menos 25 cm de espessura.

Além de detalhes técnicos construtivos, as normas previam até mesmo o programa


arquitetônico: peças como garagem, dispensa, cozinha e banheiro não poderiam se
comunicar com dormitórios, sempre com “paredes revestidas de material impermeável, até a
altura de 1,50 m” (Portaria 67, art. 21), outra manifestação higienista.

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Ao passo que as casas tradicionais do Brasil Central eram estreitas e profundas, alinhadas
com o limite da rua e com grandes terreiros nos fundos, as propostas da nova capital
traziam casas afastadas da rua e dos vizinhos, isoladas ao centro do terreno, com jardim
frontal, iluminadas e ventiladas por todas as fachadas. Essa situação traria consequências
para toda a região e as inovações foram alegremente assimiladas pela população e
construtores: alpendres, suítes, salas de visita, forro em laje. Esse efeito esteve em
consonância com as previsões do arquiteto Correia Lima, que prognosticou em 1937 que
Goiânia teria “função de cabeça e orientador (...) modelar (...), quer no seu traçado quer na
sua edificação, (...) principalmente pela influência que poderá exercer”. E conclui: “num País
ou num Estado, a capital é sempre o padrão, onde os outros satélites se espelham” (Lima,
1937, p.47).

Seria esse projeto piloto, imbuído da prática construtiva moderna, que capitanearia a
aniquilação das técnicas tradicionais e sua substituição pelas inovações: a troca da caiação
pela pintura à base d´água ou óleo; dos forros de tecido, palha ou madeira pelas lajes de
concreto; das estruturas de madeira pela de concreto armado; além da introdução dos pisos
de ladrilhos e tacos.

Uma das primeiras edificações residenciais privadas da nova capital é a casa mandada
construir pelo então médico Altamiro de Moura Pacheco. Formado no Rio de Janeiro no
exato ano de fundação de Goiânia, em 1933, o médico muda-se para a nascente cidade em
1936 e em 1938 inaugura sua clínica, o Instituto Médico-Cirúrgico de Goiânia, na Rua 3,
esquina com Av. Araguaia, uma das primeiras instituições médicas da cidade. Dentro da
tradição local, imediatamente passa a dedicar-se também à atividade pecuária, com a
aquisição de uma grande fazenda a nordeste da nova capital. Em 1942 adquire de Eurico
Teixeira um terreno próximo à sua clínica, na Avenida Araguaia, onde edificaria sua casa.
Em vista da falta de documentação precisa, em análise de fotografias cidade na época, a
data da construção da casa na Avenida Araguaia, esquina com Rua 15, n° 240 pode ser
situada entre 1947 e 1950, cerca de 15 anos portanto depois das primeiras ações para a
construção da nova cidade. Cópia do projeto arquitetônico seria registrada na prefeitura da
cidade apenas em 1954.

A Casa de Altamiro, mesmo tratando-se de empreitada privada, seguiu, é claro, essas


especificações, da Portaria 67, bem como espírito da época, de abandonar técnicas e
materiais vernáculos e abusar dos novos materiais industriais. Como uma das primeiras
iniciativas privadas da nova capital, a Casa de Altamiro permanece hoje como testemunho
vivo de um tempo de grandes transições na prática construtiva do Brasil Central, ao

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incorporar toda a técnica contemporânea, possibilitada ainda pelo poder aquisitivo de seu
proprietário.

A casa
Quando Altamiro, já médico, encomenda sua residência em meados dos anos 1940, toda a
tecnologia e as inovações chegadas a Goiânia nas primeiras edificações construídas a partir
do contrato de 1937 foram ali também aplicadas. Ali podem-se ver pilares de concreto
armado esbelta e orgulhosamente exibidos já na entrada do alpendre, beirais revestidos e
adornados com molduras, vidros fantasia, esquadrias e gradis de ferro.

Ao passar pelo vão da porta principal, surge a grande sala, com seus incríveis 54 m2 em 10
m por 6 m de laje em vão livre, sem vigas ou quaisquer apoios para a laje, arrojo de que as
casas-tipo de 1937 nem sequer se aproximavam. Novamente aqui a nova técnica do
concreto armado é que possibilitou o vão. A vista do salão deixa-se emoldurar aos fundos
pela escada monolítica sólida em sua estrutura de concreto, que permite o aproveitamento
de parte de seu vão inferior como lavabo – um dos cinco banheiros da residência.

Com relação ao volume do edifício, sem dúvida houve influência das casas-tipo elaboradas
ainda por Atílio, nas Ruas 20 e 24. O próprio terreno adquirido por Altamiro para edificar sua
casa ficava próximo ao núcleo pioneiro, a apenas duas quadras da Rua 20, onde haviam
sido edificadas as primeiras residências de alvenaria, destinadas a funcionários transferidos
da antiga capital (as casas do contrato de 1937).

Programa
Entre as modificações introduzidas na arquitetura residencial vernácula em Goiás estava a
separação de usos por cômodo, o que definia todo o programa de necessidades da
residência. A tradição regional muitas vezes produziu residências que misturavam várias
atividades num mesmo cômodo. Na Casa de Altamiro, há clara separação entre área íntima
e espaço de convivência, bem como inovações na distribuição dos cômodos e na circulação
(Imagem 3).

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Logo na entrada já se anuncia o novo programa de distribuição: o antigo vestíbulo se
transfere para o alpendre, fora do corpo da casa. Diferentemente da varanda, o alpendre
não mais circunda todo o corpo da casa, como nas residências rurais, mas limita-se à área
de recepção da entrada. O acesso ao corpo do edifício, a partir do alpendre, fica, portanto,
reservado àquele convidado a entrar. É no alpendre que se toma a decisão de permitir a
entrada ao visitante, é o alpendre que separa o ambiente privado do lar do espaço público
da rua. Ao mesmo tempo em que se trata de uma zona tampão, único ponto de entrada na
residência, o alpendre oferece ainda a oportunidade de receber o estranho com algum
conforto, espaço amplo e mobiliário.

Imagem 3. Planta baixa original do térreo da Casa de Altamiro, datada de 1954, com carimbo do
Departamento de Obras Públicas e assinatura do autor, eng. Geraldo Duarte Passos.
Fonte: Arquivo Centro de Estudos Brasileiros UFG

Tomada a decisão de fazer passar o visitante para o interior, ao adentrar o corpo da


residência, salta aos olhos a eliminação do antigo corredor do programa vernáculo como
centro distribuidor de acesso aos vários cômodos. A Casa de Altamiro faz uso da sala-
praça: a partir do grande salão é que se ganha acesso à saleta, copa, piso superior e área
íntima.

No piso superior, a solução se repete: a escada termina numa nova sala-praça, que permite
acesso aos dormitórios aos fundos e aos salões da biblioteca e ao escritório. Nos fundos da
casa, distante do movimento e burburinho da Avenida Araguaia, é que se concentra a área
íntima, em dois quartos de dormir, um dos quais com banheiro próprio – uma suíte, outra
grande inovação para a época.

As medidas sanitárias e higienistas fizeram com que todos os ambientes fossem


configurados de modo a possuir aberturas que permitissem iluminação e ventilação naturais,
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além dos já citados recuos e afastamentos. Outra grande inovação foi levar em conta a
existência de novo membro da família, o automóvel, com a inclusão de área de garagem
coberta no próprio corpo do edifício.

Outra área que se incorporava ao corpo do edifício foram os ambientes molhados. Com a
obrigação de sua incorporação ao corpo da residência, no sobrado essas peças foram
agrupadas em baterias com superposição das instalações hidráulicas, de modo a tirar
partido das prumadas de água. Na Casa de Altamiro há duas baterias: o banheiro da suíte
do andar superior sobrepõe-se ao banheiro do dormitório térreo e ao de serviço, ao passo
que o banheiro do piso superior se sobrepõe ao lavabo térreo sob a escada. No total, são,
portanto, duas prumadas, para uma cozinha e cinco banheiros – nada mal para uma peça
que apenas poucos anos antes havia encontrado seu caminho para dentro do corpo da
casa!

Na época de sua construção, a migração dos banheiros para o interior das casas era
fenômeno ainda recente. Esse movimento iniciou-se por volta de 1850, mas se disseminaria
entre residências da classe média apenas a partir dos anos 1870, em cidades como Londres
e Paris. Em outras partes, essa tendência se consolidaria apenas a partir de fins do século
19, e com velocidade de disseminação variada em cada cidade. O programa residencial
passou a prever inicialmente apenas um banheiro e, a partir de 1900, surge o conceito de
suíte em residências mais nobres, com a necessidade portanto de dois banheiros, um na
suíte e outro no corredor.

Talvez ainda mais importante que a especificação das peças seja um item das “Normas
Gerais para a Regulamentação de Construções em Goiânia” (Portaria nº 67, 1937), código
provisório de obras para Goiânia, que tinha como principal função facilitar a elaboração de
projetos por particulares (Portaria n° 67: Normas Gerais para Regulamentação das
Construções em Goiânia): “Art. 20 – Todo compartimento, seja qual for o seu destino,
deverá ter um vão de iluminação e ventilação (portas ou janelas) aberta diretamente para o
exterior.”

O banheiro

Além do banheiro contíguo ao quarto principal, há vários outros banheiros na Casa de


Altamiro. A profusão de banheiros nas casas da época é ao mesmo tempo inovação no
conforto doméstico como demonstração de pujança. Os banheiros na residência do início do
século 20 talvez representem a maior inovação tecnológica no programa residencial.

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Ao passo que o fornecimento de água encanada para cidades e individualmente para
residências é conhecido desde a Antiguidade, grande parte das peças utilizadas no banheiro
é produto da indústria fabril, frutos de processos industriais, numa grande mudança em
relação à prática anterior.

Antes da construção de Goiânia, as edificações do Brasil Central utilizavam-se de materiais


produzidos in loco, a partir de matéria-prima local, terra, pedra, madeira e cal. O parque
fabril nacional começa a se estruturar ainda em fins do século 19, notadamente em São
Paulo. A industrialização nacional ganharia novo ímpeto com a vinda dos inúmeros artífices
e artesãos nas grandes imigrações iniciadas em 1874, especialmente oriundas da Itália.
Convém um olhar mais detalhado nas várias inovações introduzidas para conforto dos
residentes da nova cidade e evidentes na Casa de Altamiro.

Tubulação
Convém ressaltar que a existência de banheiros plenamente funcionais no interior das
residências é algo que só se tornou possível com o advento das instalações hidráulicas
públicas. É preciso não só levar água até o banheiro, mas também de lá retirá-la.

Concebida a partir de 1932, Goiânia foi projetada já com a inovação de um sistema para
levar água limpa e retirar águas servidas de maneira individual de cada residência. O
sistema público entregava a água tratada diante de cada um dos vários terrenos da cidade e
entregava, a partir desse ponto de entrada de água, a responsabilidade ao proprietário.

Antes desses sistemas remotos, as necessidades de águas eram resolvidas no próprio


local, dentro do próprio terreno, o que em parte ainda ocorre em regiões sem sistemas
públicos: escava-se uma cisterna para obtenção de água do subterrâneo, e escava-se uma
fossa para emissão de resíduos. Cumpre não estarem próximos esses dois poços, de modo
a evitar o risco de percolação de líquidos entre eles. No Brasil Central, esse sistema
perdurou parcialmente até o início do século 20, no caso de coleta de águas servidas e em
parte é ainda utilizado em certos bairros ou mesmo cidades.

Anteriormente a sistemas remotos individualizados, havia a alternativa de abastecimento de


água coletivo, em fontes públicas. Esse sistema existe desde as primeiras aglomerações
urbanas, e no Brasil Central foi implantado inicialmente na cidade de Goiás, com uma
primeira fonte pública em 1772 (a Fonte da Carioca, ainda existente) e um chafariz em 1778.

Há relatos de instalação de sistemas de abastecimento público em Ouro Preto (então vila


Rica) já em 1710, com uma primeira fonte disponível à população já em 1722 (Carles, 2016,

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p.127), bem como em Mariana, em 1720 (Tedeschi, 2011, p. 28), e Diamantina (MG), por
volta de 1737, já com tubulação cerâmica (Starling & Germano, 2012, p.17).

Por essa mesma época, porém, inaugurou-se em 1723, no Rio de Janeiro o Aqueduto da
Carioca (RJ), primeiro sistema de captação e distribuição pública de água em toda a
América. Ao passo que o sistema carioca optou por canalização aérea, os pequenos
sistemas das cidades mineiras o faziam por via subterrânea, todos sempre por gravidade.

Ao longo do tempo, vários materiais foram utilizados em encanamentos públicos urbanos,


como argila, cerâmica ou mesmo madeira. Cobre e latão eram os mais eficientes, em
termos de resistência, mas o alto custo de implantação foi e ainda é um impeditivo. O
chumbo, com sua facilidade de fabricação, baixo preço, alta resistência à corrosão e
ductilidade, apresentou-se como alternativa ideal durante muito tempo.

Não foi senão com o desenvolvimento da siderurgia, a partir de fins do século 19, que
tubulações de ferro galvanizado se tornaram a norma, material igualmente maleável, mas
sem os inconvenientes do chumbo. No início da construção de Goiânia, tubulações de ferro
eram o padrão, o que ocorreria até sua substituição por matéria plástica (em especial o
PVC, descoberto acidentalmente na Alemanha em 1835) a partir dos anos de 1960 (Olin,
1995, p. 257).

Nesse cenário, as especificações para as primeiras casas de Goiânia previam para ligações
e canos, respectivamente, chumbo e ferro: “As canalizações serão de ferro, sendo o tubo da
entrada de 3/4” e o da queda de 1” (...) As ligações serão em chumbo de 1/2”” (Contrato
com Coimbra Bueno & Cia. Ltda, 1935).

Águas servidas
Com o crescimento das cidades, na esteira da Revolução Industrial, no início do século 19,
inicia-se um longo debate entre sanitaristas, políticos, engenheiros e arquitetos, sobre a
higiene e saúde pública das cidades.

Assim, em 1846 proclama-se em Londres o Decreto de Remoção de Incômodos e


Prevenção de Doenças (Nuisances Removal and Diseases Prevention Act), bem como o
Decreto de Saúde Pública de 1848, primeiras iniciativas modernas a incentivar a construção
de redes subterrâneas de esgoto sólido e líquido, com o intuito de substituir o sistema de
fossas individualizadas.

Novamente aqui, a velocidade de implantação desses sistemas foi variada, com fossas
subsistindo ainda na Paris do início do século 20. Em Londres, maior e mais rica cidade do
mundo dessa época, o código de obras municipal só passou a exigir banheiros no interior de
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residências ligados à rede pública de água e esgotos depois da Primeira Guerra, com o
Relatório Tudor-Walters, de 1918. Interessante notar que um dos relatores da comissão foi o
engenheiro inglês Raymond Unwin, justamente o idealizador da cidade-jardim, que inspiraria
o Setor Sul de Goiânia.

Já para o esgotamento das águas servidas, no edital de concorrência pública para a


construção de 15 imóveis, a previsão era de tubulação de chumbo e cerâmica:

Esgotos: As canalizações de esgoto serão de chumbo de 1” para o bidet, lavatório,


pia e tanque para lavar roupa, e de 1 ¼ “para a banheira. O W. C. levará manilhas de
4”. (...) O esgoto será coletado por manilhas e lançado na fossa. (...) Os esgotos dos
aparelhos, com exceção do W. C., irão ter a um ralo sifonado de cerâmica ou
concreto. Esse ralo será ligado então á canalização geral do esgoto. (Edital, 1936)

O grande inconveniente da tubulação de ferro é sua propensão à ferrugem nas juntas e ao


acúmulo de depósito nas paredes internas, o que diminui o fluxo de água. Além disso, como
há disposição de reação com concreto, não é recomendada sua instalação dentro de peças
de concreto armado. É essa a tubulação utilizada majoritariamente na Casa de Altamiro, que
atualmente sofre desses três problemas. Para piorar a situação, como a água fornecida para
abastecimento público em Goiânia tem alguma acidez (com pH variando na faixa de 4,2-5,1)
e altos níveis de cálcio (Arantes, 2017, , p.17), a propensão é para acúmulo de sedimentos
internamente à tubulação. Além disso, a tubulação na Casa de Altamiro é instalada dentro
de vigas de concreto moldadas in loco, tornando a situação mais desfavorável.

Parte desses problemas seria resolvida com o advento do processo da galvanização, em


meados do século 19. O processo aplicava uma camada de zinco – material resistente à
corrosão – sobre o ferro, resultando num produto mais resistente à corrosão. A partir do
início do século 20, as tubulações de ferro galvanizado tornam-se padrão na construção, e
na Casa de Altamiro há umas poucas peças galvanizadas. De qualquer maneira, a
recomendação de fabricantes de tubulações de ferro galvanizado sugere troca a cada 70
anos, tempo médio de vida útil na Casa de Altamiro atingido justamente neste momento.

Aparelhos sanitários, metais e outras peças hidráulicas

As especificações do edital de 1936, de concorrência para a construção das primeiras casas


de Goiânia, previam várias peças sanitárias nos banheiros:

Aparelhos: Serão colocados os seguintes: (1) Uma banheira de ferro esmaltado de


cinco pés com ladrão e válvula e torneiras niqueladas. (II) Um bidet de louça tipo

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popular com dois registros niquelados, uma ligação d´água quente e outra de água
fria. (III) Um W. C. com tampa simples envernizada. (IV) Um lavatório de ferro fundido
com uma torneira e válvula niquelados, que será instalado no quarto de banho,
quando não existir local mais apropriado para colocá-lo. (V) Uma pia de ferro
esmaltada n. 1, com pedra de granito, na cozinha. (VI) Uma caixa de descarga de
ferro fundido. (VII) Um chuveiro, com registro também na parede niquelado. Todos os
aparelhos serão de primeira escolha. (Edital, 1936)

Esses aparelhos representavam uma grande inovação e conforto na vida urbana.


Anteriormente à introdução dos banheiros internos, como forma de evitar a necessidade de
ter de deixar a casa à noite para ir à edícula nos fundos, a prática era a de usar recipientes
colocados sob a cama durante a noite (penicos ou comadres), cujo conteúdo era descartado
na manhã seguinte.

Essas primeiras peças sanitárias para os banheiros internos eram fabricadas tanto de metal
como de porcelana. No caso de peças de metal, a prática era recobrir o ferro de uma
camada de sílica, formando ferro esmaltado. O produto final tem grande resistência química
bem como impermeabilidade, além da facilidade de limpeza e resistência mecânica.

Por outro lado, o menor custo da porcelana, com características como durabilidade,
impermeabilidade e resistência à ferrugem, aos poucos suplantou o uso de peças de ferro
esmaltado. Na Casa de Altamiro, há nos banheiros peças de porcelana, como vasos
sanitários, colunas de sustentação de lavatórios e saboneteiras.

Uma grande inovação com o advento dos vasos sanitários foi o sistema de descarga de
dejetos sólidos. Na Casa de Altamiro, foram utilizadas válvulas “para descargas automáticas
de água em aparelhos sanitários”, conforme descrição de um fabricante de válvulas da
época.

Anteriormente à invenção das válvulas de descarga, os vasos sanitários eliminavam seus


dejetos por gravidade, diretamente em fossas sob eles. Com as válvulas de descarga,
tornou-se possível a instalação de vasos sanitários em qualquer parte da residência,
distante do ponto de eliminação dos dejetos, fosse fossa ou ligação à rede pública de
esgoto.

Na Casa de Altamiro, foram utilizadas Válvulas Itu, patenteadas e fabricadas em São Paulo
por Dino Ferraresi & Cia Ltda. (Imagem 4). O fabricante alterou seu nome a partir de 1948,
para Indústrias Ferraresi S. A., e seria mais tarde incorporado por uma empresa maior, que
continua ainda hoje a fabricar o mesmo tipo de válvula, agora com a marca “Hydra”.

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Uma peça que chama a atenção nos banheiros íntimos da Casa de Altamiro são os bidês
(Imagem 4). Essa peça destinada à higiene das partes íntimas ou dos pés perderia
importância a partir dos anos 1970. Concebida como peça de higiene para uso dentro do
próprio quarto de dormir, o bidê surge na França, a partir do séc. 17, inicialmente feito de
madeira ou porcelana.

Outra inovação na Casa de Altamiro é o uso de torneiras com misturadores nos banheiros.
Ao passo que torneiras são comuns em casas há vários séculos, os misturadores de água
quente e fria surgiram comercialmente apenas em fins do séc. 19. O equipamento propicia
conforto adicional ao usuário, uma vez que permite a seleção da temperatura adequada da
água. O uso de misturadores disseminou-se inicialmente pela Europa, mas, na Inglaterra,
por força de normas do código de obras local (British standard CP 310, 1965), lavatórios
exibem ainda hoje duas torneiras separadas. Ao passo que o sistema evita a contaminação
entre os dois sistemas de água e um eventual desbalanceamento de pressão, há a
desvantagem de não oferecer a possibilidade de temperatura média. Na Casa de Altamiro,
os dois modelos são utilizados, o modelo inglês com duas torneiras e o modelo com
misturador.

Com o uso de duas torneiras, a identificação da temperatura da água de cada torneira pode
não ser imediata, razão pela qual surge a necessidade de identificá-las. Essa identificação
pode ser feita com marcações em cada torneira, como letras ou cores, e há códigos de
obras que determinam ainda água quente à esquerda (como o já citado CP 310 inglês). Na
Casa de Altamiro, essa norma é seguida, além de cada torneira contar com identificadores
coloridos (Imagem 4).

Na Casa de Altamiro todos os banheiros utilizam uma mesma linha de metais, a Atlântica,
fabricada pela Indústria de Metais Vulcânia, estabelecida em São Paulo no início do séc. 20.
As torneiras desse modelo são de aço, com válvula de esfera, terminadas por uma manopla
plástica com cores vermelha e azul, identificando a temperatura da água. Com um sistema
simples e eficiente, a linha Atlântica apresentava-se como “mecânica revolucionária no
sentido técnico e moderno da palavra”.

No curso das obras de restauração em 2020, apesar das instalações de água quente e fria,
não foi identificado nenhum sistema de aquecimento de água. Como não há registros, pode-
se especular que o sistema tenha sido removido anteriormente ou mesmo que nunca tenha
sido instalado.

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Já as pias da cozinha da Casa de Altamiro utilizam torneiras simples, sem água quente, da
Metalúrgica Crevatin (Bedolini, 2019, p. 8). Imigrantes italianos, os irmãos Crevatin
patentearam em 1939 sua “torneira à pressão”, comercializada com a marca Cre,
abreviatura de seu sobrenome (Imagem 5). A torneira, desenhada para fixar-se na parede,
ficava na extremidade de um cabo de aprox. 23 cm. A abertura se dava pelo revolucionário
sistema de um quarto de volta, com poucas peças móveis. O sucesso do modelo foi tanto
que a marca tornou-se nome genérico, ainda hoje comercializado como “torneiras modelo
Cre”, por diversos fabricantes.

Imagem 4. Aparelhos e metais sanitários na Casa de Altamiro. À esq.: bidê Souza Noschese; acima à
direita: válvula sanitária Itu; abaixo: torneiras de água quente e fria Atlântica.
Fonte: Fotografias dos autores

A maioria dos metais hidráulicos da Casa de Altamiro têm acabamento galvanizado ou


cromado. Peças de acabamento, como torneiras, registros, válvulas e até sifões são todos
de metal revestido por camada de cromo.

No Brasil, surgiram logo as primeiras oficinas de cromagem, tanto que já em 1934


associaram-se em São Paulo trabalhadores de “galvanoplastia e niquelação” para formar
um sindicato do setor (Winkel, 2006, p.12). Como os primeiros processos industriais de
galvanoplastia utilizavam-se de níquel, o termo niquelagem era mais comum na época. Nas
especificações dos aparelhos sanitários no contrato de 1933, são previstos “válvula
nickelada (...) registros nickelados na parede (...) torneira, válvula e suportes nickelados (...)
chuveiro nickelado com registro na parede e braço nickelado.”

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A Casa de Altamiro avançou um passo para além da especificação, ao utilizar-se de metais
cromados em detrimento dos niquelados. Ainda hoje, em vista de sua maior durabilidade e
beleza (Olin, 1995, p.19), a preferência recai sobre metais cromados (Imagem 5).

Imagem 5. Torneira da cozinha da Casa de Altamiro, modelo Cre.


Fonte: Fotografia dos autores

Conclusão
A construção de uma nova capital trouxe a oportunidade de planejar e implantar conceitos
inovadores no interior do Brasil. O arquiteto-urbanista Atílio Correia Lima, graduado no Rio
de Janeiro e com experiência no exterior, foi o responsável por introduzir na nova cidade os
conceitos sanitaristas e de planejamento urbano.

Esse conjunto de normas causaria um impacto na arquitetura, nas técnicas construtivas e na


materialidade. No lugar de buscar adaptar processos e materiais à realidade local, o que se
viu foi o abandono de técnicas vernáculas e adoção das inovações, disseminadas para as
novas residências e edifícios. Esse processo deu-se mesmo em vista das grandes
distâncias, da nova cidade afastada de grandes centros e de difícil acesso a insumos e mão
de obra especializada. A Casa de Altamiro de Moura Pacheco, uma das primeiras
residências particulares construídas na nova capital, é um exemplo de edificação dentro
desse contexto. Construída por um particular, mesmo assim não se hesitou em adotar todas
as normas elaboradas para as construções financiadas pelo Estado, uma vez que se
vislumbraram os novos formatos de instalações hidráulicas, iluminação e ventilação natural
numa perspectiva de bem-estar, conforto e, no âmbito social e urbano, de saúde pública.
Goiânia e a Casa de Altamiro, em diferentes escalas, permanecem como testemunho da
transformação das técnicas construtivas.
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