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Introdução

No presente trabalho esmiuçarei sobre a Arte Nova tendo como caso de estudo a
Ervanária Sambo que expressa através da linha sinuosa, elástica e flexível,
geometrizada, na procura do movimento, do ritmo, da expressão e do simbolismo
poético, que apelava a fantasia e a sensibilidade estética do observador posicionado na
trama urbana Angolana.

Nesta senda a arte nova em Angola representa uma pérola áspera e rústica, de riqueza
ignorada e abandonada, que surgiu por volta de 1920 até 1940 devido aos atrasos de
comunicação entre a metrópole e Luanda.

Um Trecho sobre a Arte Nova na Arquitectura

A Arte Nova ou Arte Nouveau compreende o período nos finais do século XIX
princípios do século XX onde as comunidades estavam num processo de transição, mas
que ao mesmo tempo uma época de estabilidade e de progresso técnico e económico por
isso denominada La Belle Époque, sendo assim surge simualteamente em vários países
da Euroupa sobre nomes diferentes; Modern Style na Inglaterra, Art Nouveau na França
e Bélgica, Jugendstile na Alemanha, Sezession na Aústria entre outros. A Arte nova
surge combinando a arte e a arquitectura, com proporcionalidade e harmonia com
bastante destaque na ornamentação e design.

A nível técnico, adotou o betão armado, o vidro, o ferro, o aço, utilizando-os como
materiais estruturais e de acabamentos, tirando partido pelas suas capacidades
expressivas e maleabilidade.

A nível formal partiu para plantas livres, distribuindo os espaços de maneira funcional
e favoreceu os volumes irregulares e assimétricos, as superfícies sinuosas e
movimentadas, em fachadas onde o vidro ganha maior superfície.

A nível estético as principais características; platibandas escalonadas; motivos


geométricos com funções decorativas; ranhuras e saliências, conferindo variedade e
ritmo as fachadas, marquizes que adornam as janelas, cores constrastantes.

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Enquadramento histórico e simbólico:

O edifíco foi construído na década de 20, época em que Luanda, experimentava


expansão e crescimento e uma transformação física e social, marcado pela ocupação
acérrima da burguesia na zona da mutamba e o afastmanto dos naturais para as zonas
compreendidas do Maculusso e Alto das Cruzes, mais afastado da baía. O crescimento
nessa altura foi em grande parte social e não urbano, trazendo para a capital uma grande
onda de comércio. O mesmo quando foi construído serviu de residência e ervanária da
família sambo, família essa oriunda de Lândana em Cabinda, onde Luís Sambo antes de
falecer deixou os seus conhecimentos como ervanário ao seu neto, José Sambo que
mudou-se para Luanda onde edificou tal estabelecimento, na cidade baixa, o mesmo
durante todo esse período partilhava a função de residência nas zonas traseiras e
superior, até que na década de 80 torna apenas residência de sua família, que em 1993
vende o estabelecimento ao actual dono que tenta conservar a imagem do que é um
grande exemplar vivo da Arte Nouveau em Luanda. Na década de 90 a quando da nova
ocupação houve a substituição da placa de madeira entre os pisos por uma de betão, e
também cobriu-se as escadas de madeira com mosaico, pois a mesma estava a
deteriorar-se e pouco apelativa.

Hoje representa um espelho do equilíbrio entre o belo e o valor simbólico dos seus
relevos que marcaram uma fase que deixou apenas lembranças, daqueles que um dia ali
estiveram e salvaram-se das suas efermidades.

Valor patrimonial:

Apesar de não constar dos patrimónios reconhecidos pelo Estado, em si, contém
valiosas informações da riqueza arquitectónica e da geometrização que deu origem ao
protoracionalismo ou protomoderno, marcando a fase de transição ao moderno, e não
só, também por ser ponto de referência na cidade onde as pessoas frequentavam e
faziam a sua vida, curando efermidades e outros problemas da óptica medicinal, mas de
forma natural e não invasiva. Portanto a mesma nessa perspectiva torna-se um
património humano por carregar a força de todos os eventos que ali tomaram lugar, e
também porque na zona onde estava inserido era de realçe e destaque.

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Estado de conservação:

O edifício apresenta um estado de conservação bom pois o seu proprietário conseguiu


manter cerca de 70% da sua fachada da forma original, apesar que ao longo do tempo
foi-se adicionando motores dos equipamentos de ventilação mecânica, que vão
corroendo a estrutura e escondendo a sua beleza, nas suas pilastras com relevos.

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Ficha Técnica

Identificação da Obra:

Edifício:

Edifício Matimar-Angola, comercial de cortinados e tapetes. Ex. Ervanária Sambo;

Autor do projecto e ano de construção:

1925

Localização:

Calçada Comandante Veneno, nº 55 R/C, Município de Luanda, Distrito Urbano da


Ingombota, Bairro da Mutamba.

Estilo:

Arte Nova

Função:

Desde a sua construção em 1925, até a sua compra por um privado, serviu como
ervanária, onde se comerciava plantas medicinais que apresentavam cura para muitas
doenças, após ter sido comprada nos anos 80, serve de edifício para venda de
cortinados, tapetes e outros tecidos de uso quotidiano.

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Características do Edifício

Tipologia:

Residêncial / Comercial

Composição formal:

Desde a sua construção que o edifício tem a forma de um rectângulo de 8 metros de


fachada frontal, e 23 metros de fundo, constituído por um piso e um sotão. O edifício é
de cor azul oceano com alguns detalhes amarelos. Nos anos 80 foi adicionado um
terraço não pertencente ao edifício.

Análise Funcional/Circulação:

Em relação ao contexto espacial em que o mesmo está inserido, esse, permaneceu


imutável, desde a sua construção, assim sendo, o edifício é baixo, mas está bem
enquadrado com os que lhe circundam, o seu acesso é executado no eixo de simetria
transversal por uma porta batente de 3 metros de altura, seguido a um mesanino de 3
metros e a área comercial sem divisórias internas, sendo a comunicação feita pelas
escadas até ao sotão onde encontramos o armazém e respectivos escritórios.

Acessibilidade:

O acesso ao edifício poderá ser feito pela Calçada Comandante Veneno, que está por
sua vez entre as ruas Rainha Ginga e a rua da Missão. O edifício conta com duas portas
de acesso localizada de forma centralizada.

Proporcionalidade:

A relação dos elementos arquitectónicos é dada por um fator, criando assim um módulo
de projecto de construção, fornecendo as dimensões essenciais sem que a proporção seja
perdida. Essa mesma repetição do factor x em vários eixos torna possível o equilíbrio
existente entre vãos e bastante confortável mesmo com a completa ornamentação da
Arte Nova na fachada.

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Escala:

A escala usada é claramente humana pois na trama urbana fornece uma altura de
conforto, e as suas estruturas fornecem distâncias que são cômodas de se atravessar e
nos permite sentir uma parte integrante de toda a obra arquitectônica.

Volume:

O volume constitui um paralelepípedo de cerca de 7 metros de altura bastante delgado


ditado pelo seu lote que está entre dois edifícios. Segundo qualquer código de obra
actual as leis de permeabilidade do solo, leis de recuo lateral e frontal foram transpostas
pela inexistência das mesmas na altura em que o projecto tivera sido dimensionado e
proposto.

Dados Técnicos

Orientação

Está geodirecionado na posição Nordeste-Sudoeste, tendo a fachada frontal bastante


iluminada no período matinal compreendido das 6-10. Sengundo os ventos dominantes
o edifício está mal orientado, pois o seu lote nas fachadas posterior e laterais partilha
paredes duplas.

Luz e Sombra:

O jogo de luz e sombra em locais estratégicos tem presença nos seus relevos que saltam
a vista proporcionando uma vista aprazível e limpra combinando, com os 4 vãos de
cinco metros de altura, dois centrais que marcam com austeridade a entrada do
estabelecimento e mais dois laterais que no seu início serviram de janelas, mas hoje um
tem apenas a funcão de vitrine e o outro vão tornou-se entrada para outro
estabelecimento comercial.

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Ventilação e Iluminação Natural:

A iluminação é presente e bem captada pelos vãos altos e largos, mas a ventilação
pouco tem notoriedade já que o vão de vitrine é fixo e a porta está sempre fechada não
permitindo nenhum tipo de ventilação, recorrendo apenas a aparelhos de ventilação
artificial.

Relação Interior Exterior:

O arquitecto trabalhou o seu interior de forma completamente díspar da sua fachada


exterior, não trazendo quaisquer elementos da fachada ao recinto interno, tendo assim
um interior completamente limpo e sem divisórias, com pilares que atravavessam toda a
sua altura e bastante salientes.

Relação Planta-Altura:

O sentido de grandiosidade é conseguido através de um mesanino originariamente de


madeira que depois foi substituido por uma placa de cimento e tecto falso, dando a
quem entra na loja uma dimensão de grandiosidade. O edifício apresenta uma face
frontal muito inferior a sua profundidade, sendo ela quase que o seu triplo. O seu tecto
apresenta uma moldura de bordo de cantos arrendondados na zona do sotão que geram
uma sensação de conforto apesar do seu pé direito livre ser inferior a 2 metros e 10.

Técnicas construtivas:

A técnica construtiva é a tradicional, bloco sobre bloco, com uma estrutura de concreto
e a cobertura em estrutura de duas águas.

Materiais de construção:

Divisórias externas de blocos de cimento e um ligante; Cobertura em duas águas,


madeiramento para as asnas e telha marselha, piso de betão que foi feito nos anos 60,
em substituição ao piso de terra que foi ladrilhado no ano de 1993; Madeira para as
divisórias do sotão e para a escada que depois foi coberta em ladrilho, vidro para as
vitrines e portas.

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Conclusão

Este trabalho permite de forma elucidativa e bastante clara perceber umas das fases da
arquitectura que Angola conheceu nos seus variadíssimos exemplares adaptados a
habitação, comércio ou até mesmo ao abandono. Assim sendo temos de resgatar essas
pérolas e não deixar serem perdidas e lavadas pelas águas do esquecimento, dando uma
nova vida e um novo carácter respeitando todos os processos que se levaram a cabo para
a sua construção enaltecendo assim a história de um país que tem 500 anos de
arquitectura para oferecer.

Temos que então valorizar as belíssimas formas de expressão, ensinando a respeitar, e


recuperar assim como, se fez no edifício da ervanária Sambo; Vamos deixar a nosssa
Arquitecura contar a história desse tão rico País.

Concluo que, a arte nova em Angola teve um papel preponderante, marcando um


capítulo completamente ignorado, vendo assim agora a importância de se conhecer essa
fase tão bela, com as suas linhas harmoniosas, rompendo e desligando o
ornamentalismo do barroco, criando o seu, através de novos materiais que pela sua
natureza têm características únicas e expressivas.

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Bibliografia e Webgrafia

CHING.Francis.Dicionário.Visual.de.Arquitectura.EdiçãoG.Gilis.México

PEPETELA.Luandando.Edição Elf Aquitaine Angola.1990.Porto

https://pt.wikipedia.org/wiki/Arquitetura_protomoderna

http://pt.slideshare.net/ladonordeste/a-arte-nova

https://issuu.com/adrianafonseca/docs/mwanaafrika_03_minha

http://jornaldeangola.sapo.ao/sociedade/medicina_natural_so_em_ultimo_caso

https://fr.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_Gomes_Sambo

http://jpintodeandrade.blogspot.com/2013/02/pinheiro-da-silva-e-luis-gomes-
sambo.html

http://www.angonoticias.com/Artigos/item/42574/luandenses-procuram-medicamentos-
para-epoca-de-frio

http://www.cabinda.net/CabindasCap9.html

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Fig. 1-Fachada Frontal

Esc. 1/100

Fig. 2 –Esquema

Fig.3 – Orientação geográfica

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Detalhe 1. - Banda Dentada

De aspiração e reminiscência grega esse elemento na arte nova sofre uma mudança na
sua forma que deixa de ser decorada e sinuosa, passando a adquirir uma característica
mais limpa e geométrica que constitui esse período.Percebemos também que a estrutura
de linhas gerais que compõe um templo, com os pilares de base alongada, fuste estreito
e capitel, seguido por inúmeros relevos que lembram os propósitos do entablamento, e a
cima, o frontão de característica arrendondada no centro, destacando o ano de
construção.

Fig.4- Corte Longitudinal

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Anexos

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