Resumo
1. Introdução
A escolha do tema deste artigo se baseia na importância que o uso da energia elétrica
teve para a história da humanidade, estimulando as relações sociais, transformando os
ambientes de trabalho e domésticos , dando início a uma aceleração exponencial do ritmo de
vida que chega ao século XXI colocando-nos dia e noite conectados virtualmente uns aos
outros através de dispositivos movidos pela tecnologia popularizada há mais de cem anos. O
fornecimento regular de energia elétrica chega a ser considerado por Banham (1975), a maior
revolução ambiental da história humana desde a domesticação do fogo.
O objetivo deste trabalho é analisar, através de pesquisa bibliográfica, como a
arquitetura reagiu aos avanços tecnológicos da iluminação artificial na primeira metade do
século XX, nos primeiros tempos do contato com a energia elétrica no convivio diário, e
esclarecer como se deu o amadurecimento da relação da produção de arquitetura com essa
tecnologia que, um século depois, se desenvolve à procura de caminhos alternativos e resgata
técnicas conhecidas e outrora desprezadas para dar corpo à chamada sustentatibilidade.
2. Desenvolvimento
Figura 3 – Entrada para o metrô da estação Port Douphine, Paris, cerca de 1900.
Fonte: Fiell(2005)
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Ao mesmo tempo, o cinema dá seus primeiros passos. Segundo Sembach (2007), não é
possível comprovar uma ligação direta entre ambos, visto que o cinema começou a reclamar a
qualidade de artístico numa altura em que o Art Nouveau praticamente já tinha desaparecido.
Mas é inevitavel identificar o elemento dinâmico como princípio fundamental do cinema e
como essência estética do Art Nouveau.
Segundo Charlote e Peter Fill (2005), foi na Exposição Universal de Paris, em 1900,
que, além da exibição da novidade cinematográfica, o desenho de iluminação pôde mostrar
seu desenvolvimento. Os criadores eram artistas e conseguiram muito harmonicamente
integrar a lâmpada elétrica à bases esculturais, figurando sempre a vida em movimento. Os
materiais usados nas bases eram em geral metais, como bronze ou ferro forjado, e a fonte de
luz podia ou não ter um elemento difusor anti-ofuscamento em vidro ou cerâmica. É
importante lembrar que as lâmpadas eram uma novidade para ser admirada e não escondida.
Bons exemplos do que foi exibido na exposição em relação a peças luminárias são as
arandelas bulles de savon appliques, c.1900, Figura 4, que compõem-se de cabeças de bronze
platinado, soprando canudos ligados a grandes bolhas de vidro. Ou também na Figura 5, a
escultura de Georges Flamand, de 1900, executada em bronze dourado, figurando um dos
motivos preferidos do Art Nouveau francês, a femme-fleur, a figura da jovem lânguida
iluminada por três lâmpadas expostas, sem nenhum tipo de quebra-luz.
Figura 4 – Bulles de savon appliques, 1900. Estrutura em bronze platinado, quebra-luzes de vidro, 28 cm de
altura, França.
Fonte: Fiell(2005)
Figura 5 – Figural table light, 1900. Escultura em bronze dourado, George Flamand, near Paris, France.
Fonte: Fiell(2005)
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Os arquitetos estavam presos a seus primeiros esboços [...]. Como pode um homem
treinado para modelar formas sob a luz exterior e suas sombras projetadas [...]
mudar sua arte e modelar suas formas à luz proveniente do interior e sem sombras?
[...]. A iluminação elétrica esboçou, assim, aos arquitetos o desafio da tecnologia do
ambiente em relação direta com a arquitetura, porque a grande abundância de luz
junto com as grandes superfícies envidraçadas inverteram, efetivamente, todos os
hábitos visuais sob os quais os edifícios eram vistos. Pela primeira vez era possível
conceber edifícios cuja natureza podia ser percebida durante a noite, quando a luz
artificial resplandecia para fora através de sua estrutura. E essa possibilidade foi
realizada e explorada sem suporte de nenhum esquema teórico adaptado às novas
circunstâncias e, nem sequer, de um vocabulário praticável para descrever esses
efeitos visuais e suas conseqüências [...]. O uso que os arquitetos fizeram da luz foi
tímido e as mudanças das formas unidas em luz para a luz unida em formas foram,
ainda, demasiado grandes para a maioria.
É nos arredores de Chicago que apareceu o trabalho de Wrigth. Em 1894, com apenas
vinte e cinco anos de idade, construiu uma casa-atelier em Oak Park, na periferia da cidade,
onde desenvolveu grande sucesso profissional, principalmente relacionado aos seus projetos
mais luxuosos. Wright propunha cristalizar uma emancipação ao mesmo tempo arquitetônica
e social, apresentando um estilo de vida aos clientes, novo, americano, não convencional, que
tinha novas expectativas relacionadas à utilidade e ao valor prático das coisas.
No âmbito do desenho de iluminação artificial, um projeto que se destaca é uma
grande casa projetada para Susan Lawrence, uma viúva da alta sociedade, em 1902. Segundo
Charlotte e Peter Fiell (2005), esse foi o primeiro projeto em que o arquiteto recebeu
liberdade plena para desenvolver além da arquitetura, peças de mobiliario e iluminação.
Nesse projeto, com mais de 1000m² de área construida, Wright desenhou mais de duzentas
estruturas para luminárias e clarabóias.
Figura 6 – Table Light for Susan Lawrence, 1903. Base de bronze com painéis de vidro chumbados, 56,5 cm de
altura. Linden Glass Co, Chicago, EUA.
Fonte: 1000 Lights, Charlotte & Petter Fiell, 2005.
A casa Baker, em Illinois, talvez seja a mais interessante para exemplificar o uso da
luz natural no espaço que Wright construiu. Uma grande janela está protegida por
um beiral largo no extremo sul; a janela continua em altura até a borda do beiral e
recua ao longo de ambos os lados da sala de estar, envolvendo seu perímetro
externo. Os efeitos conseguidos são, no mínimo, interessantes: o mirante é amplo o
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suficiente como o usado no medievo: um banco junto à janela para ler, costurar ou
apreciar a paisagem que a rodeia. Mas a iluminação do ambiente vem da parte
superior envidraçada. O banco da janela tem um radiador de calor em baixo (como
na Renascença), que permite a circulação do ar aquecido proveniente da tubulação
de água quente, produzindo a calefação do espaço do quarto, de envolvente leve
exposta ao rigor climático. Em:
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.063/438 . Acesso em : 6 de
março de 2013)
Figura 7 – Wall Light for Francis WQ. Little House, Peoria, Illinois, 1902. Estrutura em bronze com painéis de
vidro, 35,5 cm de altura. Linden Glass Co, Chicago, EUA.
Fonte: Fiell(2005)
Ainda de acordo com Mascaró, o o avanço tecnológico das décadas seguintes (60, 70 e
80) foi de extrema importância. Trabalhou-se na eficácia das lâmpadas, no controle de
ofuscamento, no sistema ótico das luminárias, nas pesquisas no campo da visão e da
percepção da luz, chegando a grandes evoluções como a correção da temperatura de cor.
Percebe-se que temas como a percepção da luz e o desenvolvimento da tecnologias
objetivando maior conforto , além de economia e praticidade, configuram um aspecto novo no
entendimento das questões humanas dentro das contruções. A partir de então, se inicia um
processo de transformação do entendimento da relação da luz e da consideração da arquitetura
como espaço vivenciado.
Certo ponto na história, localizável entre 1930 e 1950, onde a sociedade toma
consciência, inicialmente nos Estados Unidos da América, de que este material, luz,
tem efetivamente a capacidade de transformar os locais, podendo transmitir
atmosferas e sensações diversas. Nesse momento, o homem compreende também
que a possibilidade de transformação de espaços e locais através da luz passa ainda
pela compreensão dos fenômenos estéticos e poéticos que esse material traz consigo.
(LANONE, 2000, p.5)
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Mallard (2003) explica o que parece óbvio, mas estava esquecido: a razão de ser da
arquitetura está na espacialidade inerente ao ser humano. Todas as questões humanas
acontecem no espaço. O espaço pertence à essência do ser e incorpora todas as necessidades,
expectativas e desejos que fazem parte da existência humana.
Hoje, já na segunda década do século XXI, “a luz é confundida com o espaço, dando-
lhe visibilidade e com ele se integrando, ou seja, não se pode investigá-los
separadamente”(MENEZES, 2010:7). Além dessa conceituação mais integrada , verifica-se
nos dias atuais também um intenso trabalho em busca de uma arquitetura chamada de
sustentável em relação ao uso da energia. Materiais com propriedades térmicas auxiliares no
conforto através das fachadas, formas de captação de energia alternativas à energia elétrica,
aprimoramento e popularização da iluminação artificial econômica e termicamente inteligente
por meio do LED, entre outras tantas tecnologias, vêm sendo desenvolvidas para serem
incorporadas às novas edificações. Paralelamente, conceitos conhecidos e muito aplicados,
por exemplo, no aqui citado trabalho de Wright, vêm sendo resgatados. Telhados ajardinados,
melhor cálculo das aberturas e vedações, estudos de orientação solar e ventos, vegetação e
paisagismo como recurso térmico e de conrole de iluminação natural e proteção das aberturas
são velhos conhecidos da boa arquitetura, mas foram tão esmagados pelo tecnicismo
extremado que são tratados como novos.
3. Conclusão
BANHAM, Reiner. La arquitectura del entorno bien climatizado. Buenos Aires: Infinito,
1975.
GOMES, João paulo Pombeiro. VIEIRA, Marcelo Milano Falcão. O campo da energia
elétrica no Brasil de 1880 a 2002. Disponível em:
http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/3782 Acesso em: 6 de Março de 2013.
FIELL, Charlotte & Peter. 1000 Lights VOL. 1: 1878 TO 1959. São Paulo: Taschen, 2005.