Você está na página 1de 4

Comentário sobre Luiza Michel (1882)

O poema Luiza Michel foi escrito por Euclides da Cunha em 1882. Como o título
de poema implica, esta obra retrata uma das revolucionárias da Comuna de Paris,
Luiza Michel, que foi presa e exilada depois da revolução.
No primeiro trecho do poema, o autor mostra-nos a paixão a agitação das turbas
da sociedade francesa, em que surge a personagem revolucionária, Luzia Michel,
febril e cadavérica. Na pena do autor, ela é “sublimemente feia, horrivelmente bela” o
que nos confere a primeira impressão complexa desta revolucionária, isto é, uma
personagem com feiura aparente e beleza íntima. É de notar que esta oposição entre a
sua histérica e o seu sublime revolucionário foi sublinhada pelo autor no trecho
seguinte, o que constitui já um alto elogio da bravura de Luiza Michel. Quando
Euclides de Cunha disse que “a noute é negra, é feia e- tem no seio- a estrela”, ele fez
uma metáfora sobre esta mulher corajosa. Enfrentando o dilema da Comuna de Paris,
Luiza Michel era uma estrela que continuou a se esforçar e a luminar. Embora seja
aparentemente enlameada, murcha, pálida, magra, hedionda e hirta, a sua
determinação e radicalidade revolucionária tornam-na sublime e bela.
Através destas descrições, é bastante evidente que o autor tenha simpatia para a
revolucionária Luiza Michel, para a Comuna de Paria e para o socialismo. É sem
dúvida que Luiza Michel é uma representante dos vários participantes da Comuna de
Paris, o que implica que não só a revolucionária no poema, mas também os outros
revolucionários da Comuna de Paris eram grandiosos e os seus feitos sublimes devem
ser valorizados.
2. Quais são, na visão do livro, as principais causas históricas, atuais, internas e
externas do problema da fome?
Causas históricas:
A fome no Brasil é consequência de seu passado histórico, com os seus grupos
humanos, sempre em luta e quase nunca em harmonia com os quadros naturais. Os
colonizadores eram indiferentes a tudo que não significasse vantagem direta e
imediata para os seus planos de aventura mercantil. Por isso, foi desenvolvida a
economia do tipo colonista mas não a agricultura para subsistência, o que constituí
uma ameaça do abastecimento alimentar do povo brasileiro.
Causas atuais e internas:
(1) A dualidade da civilização brasileira, com a sua estrutura económica bem
integrada e próspera no setor da indústria e sua estrutura agrária arcaica, de tipo
semicolonial, com manifesta tendência à monocultura latifundiária, é principal
responsável pela sobrevivência da fome no quadro social brasileiro.
(2) Com um regime inadequado de propriedade, com relações de trabalho socialmente
superadas e com a não-utilização da riqueza potencial dos solos, a estrutura
agrária feudal do Brasil constitui um fator negativo para a situação de
abastecimento alimentar do país.
(3) Os baixos índices de produtividade agrícola, produto da exploração empírica e
desordenada da terra, a produção insuficiente pela exiguidade de terras cultivas, os
insuficientes meios de transporte e de armazenagem, dos produtos se constituíram
como fatores de base no condicionamento de um abastecimento alimentar
insuficiente às necessidades do povo brasileiro.
(4) A inflação que provoca alta contínua dos preços dos produtos alimentares e a
baixa capacidade de compra de largos setores da população também têm
acentuado as dificuldades do abastecimento alimentar adequado de uma grande
parcela do povo brasileiro.
(5) Por causa da centralização e da política de fachada da república, foi o quase
abandono do campo e o surto de urbanização. Urbanização que, não encontrando
no país nenhuma civilização rural bem enraizada, com uma exploração racional do
solo, veio acentuar de maneira alarmante a nossa deficiência alimentar.
(6) Os governos se mostraram incapazes para impedir a interferência dos monopólios
estrangeiros na economia brasileira.
Causas externas:
Em face da fraqueza do poder político central, os interesses colonistas manipularam
no sentido de que o progresso económico se limitasse a ampliar os lucros de um
pequeno número de proprietários agrícolas, sem atingir, entretanto, o conjunto de
população. Orientada a princípio pelos colonizadores europeus e depois pelo capital
estrangeiro expandiu-se no país uma agricultura extensiva de produtos exportáveis ao
invés de uma agricultura intensiva de subsistência, capaz de matar a fome do nosso
povo.

3. Por que o autor considera importante descrever uma “geografia” da fome? No


que esta “geografia” pode ajudar na superação do problema?
O autor considera importante descrever uma “geografia” da fome porque o
método interpretativo da moderna ciência geográfica permite estudar o problema da
fome na sua realidade total, sem arrebentar-lhe as raízes que o ligam
subterraneamente a outras manifestações económicas e sociais da vida dos povos. Na
opinião do autor, um dos obstáculos ao planejamento de soluções adequadas ao
problema da alimentação dos povos reside na falta de conhecimento compreensivo do
assunto, visto que a maior parte dos estudos científicos sobre o assunto só se limita a
um dos seus aspetos parciais. Sendo assim, o método geográfico, com capacidade de
destacar de maneira compreensiva as ligações e influências dos inúmeros fatores
relacionados com o fenómeno, é julgado indispensável no estudo do assunto de fome.
No que diz respeito aos aspetos que esta geografia pode ajudar na superação do
problema, este método pode localizar com precisão, delimitar e correlacionar os
fenómenos naturais e culturais que ocorrem à superfície da Terra. Além disso, sendo
método importante para a análise dos hábitos alimentares dos diferentes grupos
humanos ligados a determinadas áreas geográficas, a “geografia” favorecerá também
a indagação das causas naturais e sociais que condicionaram o seu tipo de
alimentação, com suas falhas de defeitos caraterísticos e, o que implica o
desvelamento das causas profundas do fenómeno da fome e a possibilidade de
encontrar soluções eficaz e eficiente.

5. Apesar da enorme repercussão nacional e internacional de sua obra, Josué de


Castro foi perseguido pela ditadura militar de 1964 e teve que se exilar em
França. Morreu em Paris sem poder retornar à sua pátria e a sua cidade natal
(Recife). Porque o assunto da fome é, nas palavras do próprio autor, “bastante
delicado e perigoso”?
O assunto da fome é “bastante delicado e perigoso” porque os interesses e os
preconceitos de ordem moral e de ordem política tornaram a fome num tema pouco
aconselhável de ser abordado publicamente.
Em primeiro lugar, a cultura racionalista como cultura brasileira procura sempre
por todos meios impor o predomínio da razão sobre o dos instintos na conduta
humana e, por isso, considerado como instinto primário, o fenómeno de fome, tanto a
fome de alimentos, como a fome sexual, era chocante para a cultura daquele contexto.
Foi este fundamento moral que, de certa maneira, deu origem da interdição do tema
de fome.
Ao lado dos preconceitos morais, o assunto da fome é bastante perigoso porque o
desvelamento deste fenómeno constitui uma ameaça dos interesses económicos das
minorias dominantes. Ignorando as condições miseráveis em que viviam os povos dos
países subdesenvolvidos, os grandes importadores da Europa tiravam normalmente
grandes proventos das suas importações dos países subdesenvolvidos. Se os seus
feitos chamassem a atenção do público, os seus interesses poderiam ser estragados.
Sendo assim, a discussão pública do tema de fome podia levar perigo para alguns
intelectuais.

Você também pode gostar