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O RPG como técnica de ensino na influência dos educandos para uma melhor
relação social
Imperatriz
2011
MARCEL SILVA GUIMARÃES
O RPG como técnica de ensino na influência dos educandos para uma melhor
relação social
Imperatriz
2011
MARCEL SILVA GUIMARÃES
O RPG como técnica de ensino na influência dos educandos para uma melhor
relação social
Aprovada:_____/_____/______
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________________
Francisco de Assis Carvalho de Almada (Orientador)
Doutor em Educação
Universidade Federal do Maranhão
______________________________________________________
Jónata Ferreira de Moura
Especialista em Educação Infantil
Universidade Federal do Maranhão
______________________________________________________
Ricardo Seidel Guimarães
Especialista em Docência do Ensino Superior
Universidade Estadual do Maranhão
Dedico a Deus. E a todos os
jogadores de RPG.
AGRADECIMENTOS
(J. R. R. Tolkien)
Este trabalho tem como objetivo recolher informações que possibilitem mostrar como
o RPG como técnica de ensino pode influencias na relação social dos educando. E
para que este objetivo seja alcançado, pois se trata de um tema não muito
conhecido, fundamentamos teoricamente este trabalhando buscando mostrar
através das abordagens de Andrade (2006) os conceitos e possibilidades do RPG,
detalhando o que é esse jogo e como podemos jogá-lo. Mostrando também um
pouco do histórico do RPG desde seu surgimento, através de jogos de estratégia e
sua ambientação inicial baseado no mundo de fantasia de J.R.R. Tolkien autor do
livro O Senhor dos Anéis, até as suas novas ambientações baseadas no mundo
atual e futurístico. E ainda vendo o seu surgimento e desenvolvimento desse jogo no
Brasil com realização de grandes eventos que insere o RPG dentro da educação. E
será norteado através de alguns autores como Rocha (2006), Pereira (2003) e
Marcatto (1999) os limites e possibilidades do RPG como técnica de ensino,
verificando o que o RPG possui que o faz poder ser utilizado como algo que será
benéfico à educação, primeiro conceituando o que é o jogo e mostrando
características que se destacam na educação atual. E com algumas contribuições
de Vygotsky (1984) apontando o ato de brincar e interagir, características que o
RPG possui, no melhor desenvolvimento cognitivo das crianças levando estas
experiências adquiridas na infância melhorando assim sua relação humana e seu
convívio na sociedade. Ainda apontaremos como o RPG se insere na educação,
como ele será usado metodologicamente, e dentro de quais matérias ele tem a
possibilidade de ser inserido melhorando assim a educação e aprendizagem dos
educando, tanto na resolução de problemas como no incentivo a leitura e
aperfeiçoamento do raciocínio. E como esse RPG pode melhorar a relação social
das pessoas, Vasques (2008) ira mostrar um pouco dessa contribuição do RPG na
melhoria do relacionamento social, através da interação entre os participantes do
jogo. E a utilização do RPG como técnica de ensino pode melhorar as relações
sociais através de suas características como o incentivo a leitura, a fantasia, o
raciocínio, entre outros fatores que no mundo de hoje precisamos aprender para
melhor se inserir na sociedade.
This study aims to collect information that allows to show how the RPG as a teaching
technique in social relations can influence the learner. And that this goal is achieved,
because it is a subject not well known, theoretical work seeking to demonstrate this
through the approaches de Andrade (2006) concepts and possibilities of the RPG,
detailing what this game is and how we can play it. Also showing a bit of RPG history
since its inception, through games of strategy and its setting based on the original
fantasy world of author JRR Tolkien's book Lord of the Rings, until their new stage
settings based on current and futuristic world. And seeing its emergence and
development of this game in Brazil with major events that inserts the RPG within
education. It will be guided by some authors as Rocha (2006), Pereira (2003) and
Marcatto (1999) the limits and possibilities of the RPG as a teaching technique,
verifying that the RPG has is that it can be used as something that will be beneficial
education, which is first conceptualized the game and showing characteristics that
stand out in education today. And with some contributions of Vygotsky (1984)
pointing to the act of playing and interacting features that RPG has, at best cognitive
development of children taking these childhood experiences thus improving their
relationship and their interaction in human society. Although implicated as the RPG is
part of the education, it will be used as methodologically, and in what subjects he is
able to be inserted thereby improving education and student learning, both in
problem solving as in encouraging reading and improving the reasoning. And how
this RPG can improve social relationships of people, Vasques (2008) will show a bit
of RPG's contribution in improving the social relationships through interaction among
the participants of the game. And the use of RPG as a teaching technique can
improve the social relations through its features such as the incentive to read,
fantasy, thinking, among other factors that in today's world we must learn to better fit
into society.
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 09
4 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 35
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 38
ANEXOS ................................................................................................................... 40
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1 INTRODUÇÃO
sempre agradáveis dentro do jogo e que o trabalho em equipe era muitas vezes a
melhor solução.
Depois que comecei a estudar Pedagogia na Universidade Federal do
Maranhão no campus de Imperatriz comecei a ver que muitos conhecimentos que
aprendi na universidade encaixavam dentro desse jogo. Principalmente no que se
refere a aprendizagem. O RPG me estimulou a fazer leituras para conhecer melhor o
meu personagem e para resolver melhor as situações de jogo e que com a interação
que havia em jogo os jogadores se sentiam mais a vontade uns com os outros,
mesmo quando encontravam pessoas diferentes que não conheciam, mas que
também jogavam RPG, o comportamento era algo de pessoas com certos
conhecimentos, não só do jogo, porém de pessoas mais amadurecidas. Então
resolvi juntar algo que estimula o aprendizado, no aspecto da leitura, interação,
raciocínio, fantasia, soluções de problemas e que ao mesmo tempo é algo divertido,
pois você é quem faz as suas ações e ao mesmo tempo você aprendi resolvendo
problemas, e que alguns desses enfrentamos no nosso cotidiano. Estimulando uma
relação com o outro melhor ou em um simples calculo que é colocado de uma forma
divertida. É uma oportunidade de mostrar que o RPG não é algo ruim, mas que pode
colaborar para o crescimento da nossa educação e dos cidadãos que estamos
educando para inserir na sociedade.
Esta pesquisa torna-se oportuna porque muito se tem falado sobre o RPG e,
quase sempre, de forma negativa. Principalmente por parte da imprensa. No âmbito
acadêmico já podemos vislumbrar alguns trabalhos que tratam do assunto e
relacionados com a educação. Nesse sentido, destacamos os trabalhos de Schmidt
(2008) que faz alguns apontamentos teóricos como meio de reflexão para
educadores e pesquisadores sobre o RPG aplicado à educação. Silva (2009) estuda
a utilização do jogo de papéis (RPG) como tecnologia educacional em apoio ao
processo de aprendizagem no Ensino Médio. De certo modo essa nossa pesquisa
filia-se a estes trabalhos por sua relação com a educação, especialmente a
incorporação dos jogos.
Vendo que os jogos na educação não são uma novidade sendo comumente
usados pelos profissionais da área. E usá-los como uma técnica de ensino não é
algo simples, pois constitui tempo para serem elaborados para que tenham algum
significado durante o uso em sala de aula. Pesquisas mostram que o RPG, como
técnica de ensino, vem sendo muito utilizado tentando mostrar que favorece varias
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Temos que conhecer primeiro algo para falarmos dele, não da para querer
expor um tema sem saber o que ele significa e o RPG como algo novo dentro da
educação deve ser bem explicado. Assim podemos definir o RPG que em sua
tradução seria jogo de interpretação. Segundo o jornalista Andrade (2006, p. 03),
RPG “[...] é um jogo onde o jogador interpreta um personagem criado por ele. Este
personagem, porém, deverá ser criado dentro de um determinado cenário,
conhecido como ambientação”. Esta ambientação pode ser cidades dos tempos
atuais, cenários medievais, estilo filmes como Senhor dos anéis, ou cenários
futurísticos. Enfim, são muitas as possibilidades. Cada jogador cria sua personagem
para a ambientação escolhida. Esta personagem será criada de acordo com um
sistema de regras e obedecendo a lógica do mundo para o qual ela está sendo
criada. O sistema de regras serve para organizar a ação dos personagens durante o
jogo, determinando os limites do que eles podem ou não podem fazer. O sistema de
regras tem como finalidade fazer uma simulação da realidade dentro do jogo, mas,
numa realidade fictícia, influenciando a ação dos personagens nas ações mais
complexas.
E onde encontramos essas regras? As regras podem ser encontradas em
livros de RPG, que contém basicamente, a descrição mais ou menos detalhada de
uma ambientação e um sistema de regras. Não existe somente um sistema, cada
jogo de RPG costuma ter o seu. As possibilidades de jogos de RPG se multiplicam
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ainda mais, pois cada ambientação pode ser desenvolvida por diferentes sistemas
de regras. Ou seja, cada combinação ambientação-sistema dá origem a um jogo
diferente.
Só que no RPG nem todos são personagens jogadores, um deles é diferente.
E este jogador é conhecido como mestre do jogo. Ele é quem comandara o jogo, ele
fará a ambientação, o roteiro da história, os personagens secundários, o juiz do jogo.
Sobre ele recai a maior responsabilidade do jogo ser um sucesso e todos passar
momentos agradáveis juntos. De acordo com Andrade (2006, p. 04) “para quem não
conhece RPG, a função do mestre de jogo é a mais difícil de entender, mas é
fundamental que seja compreendida”. O mestre é o único que precisa ler o livro
inteiro, conhecer cada detalhe da ambientação e todo o sistema de regras.
Os outros integrantes precisaram apenas de uma noção geral da
ambientação para criarem um bom personagem e saber algumas das regras, pois a
maior parte se aprende durante o jogo.
A história, no RPG, é sempre uma criação coletiva tomando forma durante a
sessão de jogo. E a mesma história quando jogada outras vezes com jogadores
diferentes, terá um novo final, tal é o dinamismo que o jogo adquire a cada situação.
O mestre não se limita apenas a narrar à história e descrever os cenários, ele
também é responsável pela interpretação de todos os personagens da trama que
não forem controlados pelos jogadores, normalmente os vilões, os coadjuvantes, e
eventuais criaturas, animais ou outros seres. Os personagens controlados pelo
mestre são chamados de non player character (NPC). O mestre não joga contra nem
a favor dos jogadores. Ele esta ali para proporcionar uma boa história e diversão.
Suas decisões devem levar em conta o que é melhor para o desenvolvimento da
história e para a diversão dos participantes, incluindo ele próprio. Muitas vezes,
ajudar um jogador pode desagradá-lo, pois o desafio e a superação de limites é o
que costuma dar graça ao jogo. Nesse aspecto, o jogo adquire um caráter educativo
dos mais significativos, porque o jogador (aluno) se torna responsável por seu êxito
pessoal, não esperando que o mestre faça por ele o que ele próprio pode fazer.
Estes limites e desafios não são necessariamente físicos, como invadir um castelo
ou vencer um combate, mas também de essência dramática, como deixar de
conseguir a tão sonhada vingança para salvar a vida de um companheiro ou a
própria dificuldade em interpretar o seu personagem.
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O objetivo do jogo não é ganhar, mas completar uma história. Nem sempre
o obstáculo apresentado pelo mestre é superado, ou o objetivo apresentado
por ele é alcançado, mas o personagem continua lá, ele está vivo. É como
na vida, ela continua, ele poderá tentar de novo ou partir para outra
aventura.
Segundo o autor citado, talvez seja este o único objetivo do jogo, além de divertir,
como qualquer jogo o personagem deve continuar vivo. Mas fazer isso sempre no
limite, assumindo riscos e vivendo situações intensas. Os personagens podem
morrer. Quando isso acontece, o jogador deve criar outro diferente. Não é tão
simples como parece, o fato de morrer e fazer outro. Na realidade, não é tão simples
assim. Temos que levar em consideração que o jogador cria um forte vínculo afetivo
com o personagem, às vezes mais intenso do que ocorre entre um ator e seu
personagem. O personagem de um ator normalmente lhe é imposto, com o tempo é
que eles vão ganhando intimidade, mas sabem que mais adiante terão que se
separar. Já o personagem do jogador de RPG em sua criação ele já coloca um
pouco de si, são suas aspirações e fantasias que lhe dão vida, e com o tempo este
laço só tende a ficar mais estreito. Portanto, quando um personagem morre, há
comoção e muitas vezes lágrimas por parte dos jogadores. Não só do dono do
personagem, mas também de seus companheiros de jogo (ANDRADE, 2006).
Outra característica dos RPG‟s é que raramente os jogadores respeitam
fielmente as regras. Trata-se de um jogo de ficção, que nasce da fantasia do autor e
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2
O estilo moderno da ficção científica do Traveller o personagem era baseado principalmente nas suas perícias
e isso definia suas capacidades e permitia que uma gama gigantescas de profissões e carreiras fossem geradas,
para tanto bastava combinar perícias para gerar, engenheiros espaciais, técnico em crio-engenharia, engenheiro
espacial, mecânico de naves, contrabandista, comerciante, soldado, corporado, espião, revolucionário etc. Mas
além de um sistema de combate de naves divertido (mas complexo) e uma variedade bem controlada de raça,
Traveller inovou com um cenário que envolvia um universo em expansão com colonizadores humanos
interagindo com outras raças, guerras épicas entre impérios, ataques de piratas espaciais e epidemias digitais
capazes d destruir mundos e poderes psionicos!
3
GURPS, sigla que significa Generic Universal Role Playing System (Sistema Genérico e Universal para Jogos
de Interpretação), é um sistema de RPG genérico, criado pela Steve Jackson Games em 1986, famoso pela sua
flexibilidade, abrangência, versatilidade, dinamismo e detalhismo.
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Assim, podemos constatar que inicialmente o RPG foi criado para fins
comerciais, mas ganhou, pouco a pouco, adeptos que expandiram suas
potencialidades. Hoje é tema de discussão em diversas áreas acadêmicas em
especial na educação.
Para que o RPG seja apresentado como uma opção no ensino, se faz
necessária a elaboração do conceito de jogo e de seu segmento educativo. A
palavra jogo é, geralmente, atrelada ao lúdico, dada sua origem na palavra ludus,
que servia tanto para designar atividades livres quanto atividades dirigidas, ou
escolares. De acordo com Brougere (1998), o termo também está relacionado à
técnica, lembrando os exercícios das antigas concepções de escola. Indo mais além
no sentido da palavra, o verbo correspondente (ludere) pode ter significado de
exercer, o que Rocha (2006) caracteriza como “fazer uma simulação de uma
atividade real e objetiva”.
Segundo Duflo (1999, p. 12), durante muito tempo “[...] o jogo era posto ao
lado do divertimento e assimilado por isso as coisas que não tem verdadeiramente
importância e as quais não devemos dar muita atenção”. Aristóteles acreditava que
“[...] as atividades serias valem mais e emanam da melhor parte da alma do que as
atividades lúdicas” (Idem, Ibidem, p. 13). Para Sneyders (1996, p.36): “Educar é ir
em direção à alegria. As técnicas lúdicas fazem com que a criança aprenda com
prazer, alegria e entretenimento, sendo relevante ressaltar que a educação lúdica
está distante da concepção ingênua de passa tempo, brincadeira vulgar, diversão
superficial”. Buscando essa parte lúdica através dos jogos no ensino e vendo o lado
sério do jogo no seu estímulo para a aprendizagem algo que pode ao mesmo tempo
ser considerado divertido e ao mesmo tempo educativo. De acordo com Rodrigues
(2004, p. 56) “[...] o RPG ensina valores por meio das regras do jogo”. Essas regras
são definidas pelos autores de RPG como um “sistema de simulação da realidade”
sendo que estas, “[...] no RPG favorecem e pressupõem a cooperação entre os
participantes, não a competição, diferentemente da maioria dos jogos” (PEREIRA,
2003, p. 29). Ainda no pensamento de Pereira (2003) é a própria interatividade que
pede a definição de regras claras no RPG para criação de personagem, combates,
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magias, etc., para dar um mínimo de „ordem a bagunça‟, visto que não ha um roteiro
pré-definido para a história aonde existe somente uma interação entre o mestre
(professor) e os personagens (alunos), que imaginam a situação de jogo descrita
pelo mestre que diz aos personagens o que eles vivem no momento enquanto eles
descrevem a melhor solução para vencer os desafios propostos, com criatividade e
também um pouco de sorte, pois no jogo algumas decisões são tomadas através da
jogada de dados que nem sempre cai no número esperado para decidir determinada
situação, como escalar uma montanha íngreme sem ter habilidades suficientes para
tal feito.
Vendo que a cada momento aparece uma nova maneira de ensinar os alunos
a melhor adquirir o conhecimento Andrade (2006) vem falar das mudanças que a
escola vem sofrendo, pois nos encontramos na era de informações, e as escolas
tradicionais não observam que se requerem significativas revisões no sistema
educacional. O mesmo autor ainda completa:
Andrade (2006, p.14) vem completar o que o RPG pode trazer para o meio
escolar, indagando que:
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Por fim, Brougere (1998) considera que uma das características que tornam o
jogo uma atividade educativa válida é o fato deste ser como um lugar de
experimentação do uso da linguagem, do papel do contexto: experimentar a
comunicação, sua introdução, o outro como interlocutor, o poder da linguagem para
fazer existir a imaginação e a ficção. Buscando explorar o melhor desenvolvimento
dos educando, através de jogos, sem que tirem o foco, é um desafio que os
educadores devem buscar cada vez mais, pois com eles a qualidade da
aprendizagem poderá ser aumentada sem perder o foco na educação.
Aprender em sala de aula sem que haja interação entre os alunos é algo que
na educação se torna difícil, pois o relacionamento humano desenvolve
características que sozinhos não seriam possíveis, e inserir jogos na educação para
incentivar essa melhor relação é algo que se faz agradável e divertido. Vygotsky4
(1984) atribui relevante papel ao ato de brincar na constituição do pensamento
infantil. É brincando, jogando, que a criança desenvolve seu estado cognitivo, visual,
auditivo, tátil, motor, seu modo de aprender e entrar em uma relação cognitiva com o
mundo de eventos, pessoas, coisas e símbolos.
A criança, por meio da brincadeira, reproduz o discurso externo e o
internaliza, construindo seu próprio pensamento. A linguagem, segundo Vygotsky
(1984), tem importante papel no desenvolvimento cognitivo da criança à medida que
4
A grafia do nome de Vygotsky é encontrada sob várias formas: Vigotsky, Vygotsky, Vigotski, Vigotskii,
Vygotski. No presente estudo, usaremos a grafia VYGOTSKY, mas nas citações e referências manteremos a
original das obras usadas.
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Nesse sentido o RPG se destaca por ter a fantasia como seu principal
instrumento. O jogador tem a oportunidade de viver diferentes personagens, viverem
em diferentes mundos, em diferentes realidades. E é isso que faz dele um jogo com
possibilidades incomuns. Segundo Freud (1911, p.48): “A fantasia é fundamental
para o desenvolvimento do pensamento, para o relacionamento do homem com a
realidade”. O RPG permite ao jogador exercitar sua fantasia e torná-la aceitável em
seu meio, o que confere ao jogo o papel de elemento socializante. No momento em
que o jogador começa a vivenciar seu personagem na história e sentir-se aceito,
suas inibições são despidas, e isto favorecerá, certamente, sua socialização.
Segundo Vygotsky (1984) o desenvolvimento do indivíduo é resultado do
processo sócio-histórico, dando ênfase ao papel da linguagem e do brinquedo na
aprendizagem e tendo como foco principal aquisição de conhecimentos pela
interação do sujeito com meio. Vygotsky (1984, p. 97) ainda coloca que:
Por meio das atividades lúdicas, a criança reproduz muitas situações vividas
em seu cotidiano, as quais, pela imaginação e pelo faz-de-conta, são reelaboradas.
Esta representação do cotidiano se dá por meio da combinação entre experiências
passadas e novas possibilidades de interpretações e reproduções do real de acordo
com suas afeições, necessidades, desejos e paixões. Estas ações são fundamentais
para a atividade criadora do homem. É tanto que Vygotsky (1984) como para Piaget
(1975), embora esses autores partam de posicionamentos teóricos diferentes, uma
vez que Vygotsky é histórico cultural e Piaget é epistemogénetico, nesse caso eles
não diferem, comentam que o desenvolvimento não é linear, mas evolutivo e, nesse
trajeto, a imaginação se desenvolve. Uma vez que ao brincar a criança desenvolve a
capacidade para determinado tipo de conhecimento, uma vez adquirida essa
capacidade dificilmente ela a perderá. É com a formação de conceitos que se dá a
verdadeira aprendizagem e é no brincar que está um dos maiores espaços para a
formação de conceitos. Negrine (1994, p.19) sustenta que:
Cada jogador vai querer tirar o máximo proveito da situação para poder
triunfar no jogo. Sempre queremos ser o melhor personagem, o mais forte, o mais
inteligente, o que se dá melhor, pois é da natureza humana agir assim. O RPG
trabalha dentro de um cenário. Imaginem que viveremos uma aventura na Idade
Média: vocês são guerreiros medievais. Como é possível alguém tirar proveito das
situações, ou se colocar bem diante dos dilemas e dos problemas que aparecerão
se não souber absolutamente nada sobre a Idade Média? Assim, o jogador é
incentivado a buscar informações ou a processá-las com a intenção de usá-las em
proveito próprio. Ele será incentivado, com o decorrer dos jogos e das aventuras, a
visitar biblioteca, pesquisar sobre a Idade Média, como eram os cavaleiros, que tipo
de armadura, espada e cavalo usavam, onde moravam, em quais castelos, etc. Por
quê? Porque no jogo ele poderá dizer ao Mestre: O meu personagem é um barão,
portanto, por ser nobre, ele manda nos outros que são plebeus, ou então, Não, o
meu cavaleiro não tem essa espadinha mixuruca que você quer me dar, não. Ele
tem uma espada de duas mãos, uma montante, uma espada de cavalaria que
provoca muito mais dano, uma espada muito melhor que essa. Como? Porque ele
foi incentivado a procurar essas informações.
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Por que essa garotada consegue digerir um livro dessa grossura quando se
trata de RPG, mas chiam quando se pede para que leiam um paradidático,
se o livro tiver mais de cem páginas? Eu penso que essa questão se impõe,
e que devemos perceber que, para eles, RPG não é lição de casa: é lúdico,
é brincadeira. Apesar disso, um adolescente que joga, planeja e “mestra”
uma aventura vai ter de ler uma meia dúzia de outros livros, pesquisarem,
fazer todo um planejamento por escrito daquela aventura, desenvolver
personagens; lidar com os personagens dos jogadores, os PCs, criarem os
NPCs, os non-player characters. Por conta própria, esse pessoal está se
ligando ao mundo da leitura e da escrita, sem que tenhamos de fazer força.
Acho que esse é um dado digno de nota; vale a pena o professor, o
educador ou o pai vir aqui ao Encontro Internacional de RPG, só para
perceber isso. (RIOS, 2004, p. 223).
Martins (2000, p. 69) sonha com uma escola que se torne: Um espaço que
incentive a criatividade, a autonomia e a possibilidade de aprender a aprender,
desafiando desta forma uma visão segmentada da sociedade e do mundo, negando
a fragmentação do conhecimento. Dessa forma Rocha (2006, p. 88) diz:
E por fim o autor citado diz que os jogadores de RPG, na medida em que se
tornam mais experientes, tendem a valorizar muito mais a interação social de seus
personagens na resolução dos problemas, desprendendo-se das fichas, utilizando
muito menos seus poderes e força e muito mais suas capacidades sociais. Essa
evolução pode servir de subsídio para comprovar que, de fato, a prática do RPG
contribui para a sociabilidade.
E isso é reforçado na fala de Abt (1974) quando afirma que os jogos são de
grande valor educacional, pois oferecem muitos benefícios para a aprendizagem.
Infelizmente, as vantagens do jogo para o aprendizado é pouco compreendido. Além
da motivação, o jogo influência positivamente a criança, dando subsídios para sua
formação como indivíduo, bem como a auxilia a enfrentar obstáculos e conviver
melhor em sociedade. E é isso que acreditam Dallabona (2004, p. 107), quando
afirmam que:
E o legal do RPG é que cada um vai ter o momento da sua ação, e eles vão
ter que aprender. Leva um tempinho, é preciso segurar essa ansiedade um pouco,
porque cada criança vai ter o momento da ação, e um vai ter que aprender a escutar
a ação do outro, e aí não vira uma bagunça tão grande assim (VALENTE, 1993, p.
46). E é por esse entre outras características já apresentadas que, o RPG como
técnica de ensino, serve para melhor relacionar-se socialmente, porque a própria
33
Lara (2004) afirma que os jogos, ultimamente, vêm ganhando espaço dentro
das escolas, numa tentativa de trazer o lúdico para dentro da sala de aula.
Acrescenta que a pretensão da maioria dos professores com a sua utilização é a de
tornar as aulas mais agradáveis com o intuito de fazer com que a aprendizagem
torne-se algo mais fascinante; além disso, as atividades lúdicas podem ser
consideradas como uma estratégia que estimula o raciocínio, levando o aluno a
enfrentar situações conflitantes relacionadas com o seu cotidiano preparando-o para
o meio social. E Resende (1999, p. 42-43), reforça isso quando diz que:
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[...] não queremos uma escola cuja aprendizagem esteja centrada nos
homens de “talentos”, nem nos gênios, já rotulados. O mundo está cheio de
talentos fracassados e de gênios incompreendidos, abandonados à própria
sorte. Precisamos de uma escola que forme homens, que possam usar seu
conhecimento para o enriquecimento pessoal, atendendo os anseios de
uma sociedade em busca de igualdade de oportunidade para todos.
Por isso mostrar que o RPG como uma técnica que venha a contribuir não só
com a educação das crianças e adolescente dentro da escola, mas que ira refletir no
comportamento desse educando na sociedade em geral, pois com as capacidades
de socialização mais desenvolvidas o seu relacionamento social ficara mais
adequado, do que aqueles que não aprendem a viverem em grupos.
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CONCLUSÃO
fazendo que esse ser desenvolvido mentalmente possa melhor se adaptar ao meio
em que convive entendendo melhor o comportamento humano. E assim o RPG
mesmo não sendo uma técnica muito fácil a se utilizar em sala de aula, pois deve se
conhecer ele melhor, e não tendo uma metodologia especifica a ser utilizada,
podemos observar que com suas características e com os benefícios que pode
trazer a educação, esse jogo não passe por uma brincadeira qualquer, mas na
diversão que ele proporciona para o aprendizado e para o convívio social.
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REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Paulo Nunes de. Educação lúdica: técnicas e jogos pedagógicos. São
Paulo: Loyola, 1995.
TELES, Maria Luiza Silveira. Socorro! É proibido brincar! Rio de Janeiro: Vozes,
1999.
ANEXOS
Anexo A
Livros base para se jogar D&D (Dungeons &Dragons) o RPG mais jogado no mundo. Livro do Mestre
onde demonstra as regras ao qual o mestre deve seguir para desenvolver a história. Livro do Jogador
informa as regras para a criação dos personagens. Livro dos Monstros, contem os NPCs
(Personagens não jogadores) manipulados pelo mestre que servem como antagonistas da história.
Forgoteen Realms livro que contem o mundo onde a história ira acontecer.
Anexo B
Ficha de personagem aonde os jogadores iram colocar as características dos seus personagens.
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Anexo C
Revista Dragão Brasil primeira revista nacional sobre RPG, serve de suplemento aos vários sistemas
do jogo RPG, nela contem histórias, novos personagens, explicações para dúvidas sobre o jogo,
matérias sobre o RPG e suas varias facetas e entretenimento para a descontração e alegria de quem
gosta do jogo.
Anexo D
Anexo E
Anexo F
Anexo G
Role Playing Game e a Pedagogia da Imaginação no Brasil foi a tese de doutorado que serviu como
marco para o olhar docente sobre o RPG no país.
Fonte: Editor Beltrano Brasil
46
Anexo H
NASA estimula seus astronautas a jogarem RPG para não ficarem entediados no espaço.