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3 Máquinas térmicas

TEMA

Você já ouviu falar em moto-contínuo?


O moto-contínuo é uma categoria de máqui-
nas hipotéticas que reutilizariam indefinidamente
a energia gerada por seu próprio movimento,
mantendo um movimento perpétuo a partir de
um dado impulso inicial.
As respostas e os comentários das atividades
estão disponíveis no Manual do Professor.
YURI KORCHMAR/DREAMSTIMS/GLOW IMAGES

1 Qual sua opinião sobre a possibilidade de uma


máquina de movimento perpétuo? Faça uma
pesquisa e organize com o professor um painel
com as pesquisas e opiniões dos colegas, de
maneira que cada um possa mostrar o que pes-
quisou sobre o assunto, embasados por artigos
e referências para discutir sobre a possibilidade
» Representação de máquina do movimento perpétuo ou não da existência dessa máquina.
idealizada por Leonardo da Vinci. Não escreva no livro

Transformações gasosas
reversíveis e irreversíveis
Quando um sistema gasoso muda de um estado térmico para outro, diz-se que
sofreu uma transformação gasosa, que pode ser reversível ou irreversível.
São reversíveis as transformações nas quais o estado inicial do gás pode
também ser o estado final, ou seja, essas transformações podem ser realizadas
em ambos os sentidos. De modo que o retorno ao estado inicial passa por todos
os estados intermediários, com as mesmas variáveis de estado.
As transformações irreversíveis são aquelas que só podem ser executadas
em um sentido, sem que haja a possibilidade da realização do processo inverso, a
não ser por processos mais complexos, envolvendo interações com outros corpos.
A volta ao estado inicial de uma transformação gasosa pode ser atingida em
uma transformação cíclica, que compreende uma sequência de transformações que
retorna ao estado inicial, começando novamente o mesmo processo em seguida.

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A transformação ABC, representada no p
diagrama pressão versus volume, pode ser um
exemplo de transformação cíclica. pC C

Considerando o início do ciclo em A, o


sistema volta a ter as mesmas característi-
cas (variáveis de estado) após passar por uma pB = pA
A B
expansão isobárica (AB), seguida de um aqueci-

SONIA VAZ
mento isocórico (BC) e uma compressão na qual
VA VB = VC V
também ocorre resfriamento (CA).

Segunda lei da Termodinâmica


Se dois corpos, A e B, com temperaturas diferentes, TA e TB, sendo TA > TB, entrarem em
contato, a energia térmica fluirá no sentido do corpo (A), com maior temperatura, para o corpo
(B), com menor temperatura, até que ocorra o equilíbrio térmico entre eles. Mas seria possível
que o fenômeno inverso acontecesse? Ou ainda, seria possível que o fluxo de calor ocorresse
de B para A?
Para essas duas perguntas a resposta é não, pelo menos não espontaneamente.

Espaços de aprendizagem Calor

O livro a seguir apresenta a


evolução histórica dos conceitos » Representação do
da Termodinâmica que possibili-
ALEX SILVA

sentido do fluxo
taram a invenção das máquinas A B de calor entre
térmicas. Caso queira conhecê- dois corpos com
-la, leia-o. QUADROS, Sérgio. A temperaturas
termodinâmica e a invenção das diferentes (imagem
máquinas térmicas. 1. ed. São TA > TB sem escala;
Paulo: Ed. Scipione, 2006. 96p. cores-fantasia).

Em 1850, o físico alemão Rudolf Julius Emanuel Clausius (1822 – 1888) publicou um artigo
sobre a teoria mecânica do calor, no qual expôs pela primeira vez, as ideias básicas que deram
origem à Segunda lei da Termodinâmica, que afirma: “É impossível para uma máquina auto
atuante, sem auxílio de um agente externo, transferir calor de um determinado corpo a outro
de maior temperatura.”
Que pode ser simplificado para:

O calor não passa espontaneamente de um corpo com menor tempe-


ratura para outro de temperatura mais alta.

Os físicos Lord Kelvin (1824 – 1907) e Max Planck (1858 – 1947) propuseram outro enun-
ciado para a Segunda lei da Termodinâmica:

É impossível que uma máquina térmica, operando em ciclos, tenha


como único efeito a transformação integral de calor em trabalho.

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Máquinas térmicas
Máquinas térmicas são equipamentos que se utilizam do fluxo de calor para produzir trabalho,
ou seja, transformam calor em trabalho mecânico. Motores à explosão, presentes em veículos
que utilizam combustíveis como gaso- (A) (B)

lina ou etanol, locomotivas a vapor e Fonte quente Fonte quente

turbinas a vapor, utilizadas em usinas de Máquina Q 1


térmica
geração de energia elétrica, são exem-
Fluxo de calor
plos de máquinas térmicas.
» Máquina térmica que funciona entre duas Q 2

ALEX SILVA
temperaturas diferentes (imagem sem Fonte fria Fonte fria
escala; cores-fantasia).
Em (A) temos o fluxo de calor provocado pela diferença de temperatura entre a chamada
fonte quente (temperatura mais alta) e a fonte fria (temperatura mais baixa). A máquina
térmica (B) é construída de modo a aproveitar esse fluxo de calor para a realização de traba-
lho mecânico.
Para isso, ela retira da fonte quente uma quantidade Q1 de calor, rejeitando uma quantidade
de calor Q2 para a fonte fria, realizando, nesse processo, um trabalho mecânico t.
Pelo princípio da conservação de energia, o trabalho realizado (t) corresponde à diferença
entre as quantidades de calor Q1 e Q2. Assim:
t = Q1 – Q2

Importante destacar que a quantidade de calor Q2 não pode ser nula, pois isso violaria a
Segunda lei da Termodinâmica.
A máquina térmica será mais eficiente quanto maior for a quantidade de energia trans-
formada em trabalho em relação à quantidade de calor Q1. Assim, define-se a grandeza
rendimento da máquina térmica, que é dada pela razão entre a energia aproveitada (trabalho)
em relação ao total de energia disponível (Q1):

t
M=
Q1

Quanto maior o valor de η, mais eficiente é a máquina térmica para a realização de trabalho,
dissipando menos energia (Q2) para o meio exterior.
Essa expressão do rendimento pode ser escrita apenas em função do calor retirado da fonte
quente (Q1) e do calor rejeitado para a fonte fria (Q2):

t Q −Q Q2
M= ⇒M= 1 2 M = 1−
Q1 Q1 Q1

Nessa expressão, é possível ver que o rendimento sempre será menor que 1, ou seja, é
sempre menor do que 100%. Isso produz um importante questionamento: Qual é o máximo
rendimento de uma máquina térmica? Para responder, devemos estudar o ciclo de Carnot.

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» Ciclo de Carnot.
Ciclo de Carnot
p
Isotérmicas

SONIA VAZ
Em 1824, o engenheiro francês Nicolas Léonard Sadi A

Carnot (1796 – 1832) demonstrou que uma máquina térmica Adiabáticas


idealizada que funcionasse entre duas fontes térmicas de
B
temperaturas diferentes e que seguisse determinada sequên-
T1
cia de transformações gasosas teria o máximo rendimento. D
O ciclo de Carnot é composto por duas transformações iso- C T2
térmicas, intercaladas com duas transformações adiabáticas.
0 V

Considere uma máquina térmica funcionando entre as temperaturas T1 (fonte quente) e


T2 (fonte fria).
1. Partindo de A, o sistema gasoso passa 3. Inicia o processo de retorno, sofrendo
por uma expansão isotérmica, na tem- compressão isotérmica, na temperatura
peratura T1, até atingir o estado B. T2, até atingir o estado D.
p p

A
A

B
B
T1 T1
D
D
C T2 T2
SONIA VAZ

SONIA VAZ
V C
0 0 V
» Ciclo de Carnot com destaque para a expansão » Ciclo de Carnot com destaque para a compressão
isotérmica AB. isotérmica CD.

2. Em seguida, o sistema sofre uma expan- 4. Por fim, o gás sofre uma compressão adia-
são adiabática, saindo de B e atingindo o bática, partindo de D e atingindo o estado
estado C, situado na isoterma T2. inicial A, na isoterma T1, completando o
p ciclo. p

A A

B B
T1 T1
D D
T2 T2
C C
SONIA VAZ

SONIA VAZ

0 V 0 V
» Ciclo de Carnot com destaque para a expansão » Ciclo de Carnot com destaque para a
adiabática BC. compressão adiabática DA.

Carnot demonstrou que, na situação em que o rendimento é máximo, as temperaturas


absolutas T2 (da fonte fria) e T1 (da fonte quente) são proporcionais às quantidades de calor
rejeitada para a fonte fria (Q2) e a retirada da fonte quente (Q1). Assim:

Q2 T2
=
Q1 T1

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Q
Como o rendimento das máquinas térmicas é calculado por: M = 1− 2 , no caso das máqui-
Q1
nas de Carnot, pode-se escrever:

T2 Onde T1 e T2 são as temperaturas absolutas (na escala Kelvin)


M = 1−
T1 das fontes quente e fria, respectivamente.

Conceito de entropia
As transformações naturais têm um sentido preferencial, carac-
terizando-se, assim, pela irreversibilidade, em que mesmo não sendo
absolutamente impossível o sentido inverso, tem uma probabilidade
LEE WALKER/SHUTTERSTOCK.COM

quase nula.
Por exemplo, considere um baralho no qual suas cinquenta e duas
cartas estejam ordenadas por naipe e por valores. Embaralhando-as
de maneira a desorganizar todas as sequências anteriores (e sem
vê-las), elas irão se distribuir ao acaso.
» A probabilidade do baralho É possível refazer o processo de embaralhamento de forma a
voltar à sequência original é
praticamente nula. colocar as cartas novamente na sequência anterior? Apesar de não
ser impossível, a probabilidade é extremamente pequena, se aproxi-
mando, no limite, de zero.
O exemplo mostra que o processo inverso é extremamente impro-
vável, caracterizando uma transformação irreversível.
Voltando às transformações naturais, embora a energia total do
sistema sempre se conserve, a possibilidade de sua utilização para reali-
zar trabalho diminui à medida que o Universo evolui. Isso se explica porque
uma parte dessa energia se degrada em outras formas de energia prin-
cipalmente, energia de agitação térmica, que não podem ser utilizadas
As respostas e os comentários das diretamente. As transformações de energia em um sistema ocorrem
atividades estão disponíveis no Manual
do Professor.
sempre no sentido de atingir os estados mais prováveis, a passagem
espontânea acontece do estado mais ordenado para o menos ordenado.
2 Volte agora à questão
Essa tendência de os sistemas buscarem os níveis mais baixos
proposta no início do
de energia e, consequentemente, de ordenação, recebe o nome de
tema e, em grupo,
retome a discus- entropia, sendo uma propriedade dos sistemas, caracterizada pela
são inicial. Redijam, tendência de, espontaneamente, aumentar a desordem nos processos
em seu caderno, um naturais. Pode ser enunciada por:
texto para sistema-
tizar os argumentos A entropia é uma função de estado cuja medida sempre cresce durante processos
para a discussão sobre naturais em sistemas isolados, ou seja, em sistemas onde não ocorre a atuação de
a possibilidade ou um agente externo.
não da existência
de uma máquina de Isso significa que as transformações naturais sempre levam a um
moto-contínuo. aumento da entropia do Universo. Ela não é a medida do grau de desordem
Não escreva no livro do universo, mas quanto mais desorganizado ele for, maior sua entropia.

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Funcionamento do motor a combustão interna
Também chamado de motor de explosão (apesar de não ser uma nomenclatura tecni-
camente correta), o motor de combustão interna é uma máquina térmica que transforma a
energia proveniente da queima do combustível (reação de combustão) em energia mecânica.
O processo de conversão ocorre por meio de ciclos termodinâmicos que envolvem expansão,
compressão e mudança de temperatura dos gases no interior de uma câmara de combustão.
A combustão ocorre no interior de câmaras próprias, impulsionando os pistões que reali-
zarão os processos de compressão e expansão da massa gasosa.
O motor a combustão dos automóveis também é chamado de “motor de quatro tempos”
porque seu funcionamento ocorre em quatro estágios ou tempos diferentes. São eles: admis-
são, compressão, combustão e escape.
1o estágio – Admissão: 2o estágio – Compressão:
a câmara de combustão está o pistão sobe e comprime
a baixa pressão e “aspira” a a mistura de ar e vapor de
mistura de ar e vapor de combustível. Esse estágio
combustível que entra pela finaliza quando o pistão sobe
válvula de admissão. A seguir totalmente.
a válvula se fecha, finalizando
o estágio.

» O pistão desce, diminuindo


a pressão na câmara. O » O pistão sobe, comprimindo a
combustível entra pela válvula. mistura de ar e combustível.

3o estágio – Combustão: 4o estágio – Escape:


a vela de ignição solta uma após a combustão, a válvula
faísca e dá início à combustão de escape se abre, permi-
da mistura de ar e combustível tindo que resíduos sejam
que está comprimida. A com- retirados de dentro do motor.
bustão causa a expansão da Quando o pistão sobe, a
massa gasosa empurrando o válvula de escape abre e os
pistão para baixo. gases residuais são expulsos
SHUTTERSTOCK.COM

da câmara.
FABER-ALEX/

» A faísca salta da vela de ignição, provocando a » O pistão sobe e libera os gases


combustão e a expansão da mistura gasosa. formados na combustão.
As respostas e os comentários das atividades
estão disponíveis no Manual do Professor.

Espaços de aprendizagem
Junto com seu professor, organize uma visita a uma fábrica de motores de veículos, escola pro-
fissionalizante com curso na área de mecânica, ou oficina mecânica, e verifique a possibilidade de
um profissional apresentar o funcionamento de um motor. Aproveite a oportunidade e questione-o
sobre as competências que envolvem a profissão de mecânico.

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Atividades Respostas e comentários das atividades estão nas Orientações para o professor.
Não escreva no livro

1. A ilustração é uma representação artística que mostra o princípio de fun-


cionamento de uma máquina térmica, utilizada para realizar trabalho
mecânico.

Vapor
Caldeira Pistão Roda

Válvula de entrada
Cilindro

Água

Válvula
de saída
Condensador
SELMA CAPARROZ

Água de
Forno
refrigeração

Em relação a essa máquina: » Funcionamento de uma


a) Qual é a substância de operação? máquina térmica e seu
trabalho mecânico
b) Onde estão localizadas a fonte quente e a fonte fria?
(imagem sem escala;
c) Qual o trabalho realizado pela substância de operação da máquina? cores-fantasia).
Onde ocorre?
d) Como essa máquina térmica tem seu funcionamento alimentado? Por
qual processo?
2. Uma caldeira à temperatura de 327 ºC fornece, a cada segundo, 4.000 cal
de energia térmica a uma turbina, rejeitando, nesse tempo, 3.200 cal em
sua operação. Considere 1 cal = 4 J.
a) Esquematize a máquina térmica, indicando o fluxo de calor e trabalho
que ocorre em seu funcionamento.
b) Calcule o trabalho realizado em um ciclo de funcionamento dessa
máquina.
c) Determine o rendimento dessa máquina.
d) Qual a potência dessa máquina, em watts (W)?
3. Um inventor de determinada máquina térmica afirma que seu produto
oferece um rendimento de 60% quando opera entre as temperaturas de
27ºC e 227ºC.
Suponha que um possível comprador consulte você sobre maneiras de
verificar a veracidade dessa informação, antes de efetuar a compra. Como
você poderia ajudá-lo?
4. Uma máquina térmica que tem seu funcionamento aproximado para
uma máquina de Carnot opera recebendo 1000 kcal de energia da fonte
quente e rejeitando, a cada ciclo, 640 kcal. Sabendo-se que a tempe-
ratura da fonte quente é de 227 °C, determine a temperatura em que
a fonte fria deve operar.

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