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Ana Ligia Alves SILVA, Fernanda Meneghetti FERRO, Juliana das Neves MARTINS, Tailene Munhoz BARBOSA & Thaís Machado de SÁ
1. Introdução
O presente trabalho tem como tema a classificação semântica dos substantivos e
se propõe a analisar, de modo comparativo, o tratamento dispensado a essa categoria
gramatical em diferentes materiais didáticos: Caderno do aluno da Proposta Curricular
– São Paulo faz escola – 6º ano/volume 1/1º bimestre, ano de 2010, Caderno do
Professor da Proposta Curricular – São Paulo faz escola – 6º ano/volume 1/1º bimestre,
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Trabalho apresentado às disciplinas Semântica da Língua Portuguesa e Estágios Curriculares
Supervisionados II: Língua Materna, do 5º ano do Curso de Licenciatura em Letras do IBILCE/UNESP.
Orientação: Prof. Dr. Sebastião Carlos Leite Gonçalves (Departamento de Estudos Linguísticos e
Literários) e Profa. Ms. Marília Curado Valsechi (Departamento de Educação).
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ano de 2009, ambos produzidos pela Secretaria do Estado de São Paulo (SEE), livro
didático Para ler o mundo (6º ano), de Barreto, Sette, Paulino e Starling, publicado pela
editora Scipione no ano de 2002 e o livro didático Linguagem Nova (6º ano), de Faraco
e Moura, publicado pela editora Ática no ano de 2007.
Nessa análise, temos como objetivo verificar a abordagem do tema nos materiais
didáticos apresentados, buscando reconhecer se essas abordagens propiciam um ensino
significativo da língua materna. Além disso, temos também como meta avaliar se esses
materiais didáticos estão em consonância com as diretrizes contidas nos documentos
oficiais – Parâmetros Curriculares Nacionais de língua portuguesa (1998) e Proposta
Curricular do Estado de São Paulo (2008). Para realizarmos esse trabalho, adotamos
como método a análise comparativa dos materiais didáticos, com o intuito de apontar,
com base nas comparações dos resultados obtidos, os problemas encontrados, bem
como possíveis reflexões e críticas em relação a esses materiais.
De acordo com o que propomos neste artigo, consideramos de grande relevância
a realização deste trabalho, dado que o livro didático é um material muito importante
que auxilia o professor na sua prática docente. Segundo o que afirma Batista (1999, p.
543, apud BUNZEN, 2007, p. 79), em suas discussões, o livro didático “[...] desenvolve
um importante papel no quadro mais amplo da cultura brasileira, das práticas de
letramento e do campo da produção editorial e compreende, consequentemente,
diferentes dimensões de nossa cultura, de suas relações com a escrita e com o
letramento.” Nesse sentido, analisar esses materiais didáticos representa uma atividade
muito produtiva para nós futuros professores, uma vez que encontraremos esses tipos de
materiais e teremos por obrigação saber utilizá-los de modo significativo para o
processo de ensino/aprendizagem dos nossos alunos.
Tendo em vista o objetivo deste trabalho, o presente artigo está organizado nas
seguintes seções: Fundamentação teórica, cujo conteúdo contempla os subsídios
teóricos que embasaram nossa pesquisa, Descrição e Análise, seção na qual
apresentamos, separadamente, a análise de cada um dos materiais didáticos
supramencionados, em seguida, está a seção Encaminhamentos, na qual apresentamos
possíveis propostas de como abordar em sala de aula, de modo significativo, o tema
“classificação semântica dos substantivos” e, por fim, a seção Considerações Finais,
cujo conteúdo refere-se às conclusões, as quais chegamos após realizarmos a análise dos
materiais didáticos objetos de estudo deste trabalho.
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2. Fundamentação teórica
O ensino de língua materna, desde os anos 70, tem sido bastante discutido com o
objetivo de alcançar melhorias na qualidade de ensino no país. A base dessa discussão
consistia, principalmente, nas competências de leitura e de escrita, dado que o baixo
rendimento dos alunos nessas competências configurava o principal motivo da má
qualidade de ensino. Diante desse cenário, surgiram propostas de reformulação do
ensino que visavam mudanças na maneira de ensinar que pouco consideravam os
conteúdos de ensino. Nesse sentido, a valorização da criatividade dos alunos passou a
ser concebida como ponto de partida para o desenvolvimento das habilidades de
comunicação e expressão dos aprendizes. Apesar dessa iniciativa de revisão do ensino,
foi somente na década de 80 que as críticas à educação se estabeleceram de forma
consistente, dando origem a práticas de ensino em que o uso da linguagem pode ser
tanto o ponto de partida como o ponto de chegada. Com o decorrer do tempo, tais
discussões em torno do ensino de Língua Portuguesa foram desenvolvendo-se,
possibilitando o advento de documentos oficiais que apresentam novas concepções
acerca do ensino de língua materna no Brasil. Um desses documentos de nível nacional
são os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), cuja elaboração data do ano de 1998.
É possível dizer que esse documento é de base funcionalista, uma vez que
assume uma nova concepção de língua, não mais concebida como um sistema fechado,
“[...] mas como produto e instrumento de comunicação, de persuasão, de expressão, de
simulação, enfim, das manifestações humanas.” (OLIVEIRA; CEZARIO, 2007, p. 89).
Diante disso, o ensino de Língua Portuguesa passa a priorizar o desenvolvimento de um
sujeito autônomo, que domine, principalmente, as competências de leitura e produção
textual.
Com essa nova visão de ensino, a proposta é a de que a gramática deixe de ser o
foco, visto que o texto passa a ser a unidade de ensino e o gênero do discurso o objeto,
se a gramática passa a ser considerada como
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Com base na citação acima, o ensino deve orientar-se pelo eixo do uso (prática
de leitura e escuta de textos e prática de produção de textos orais e escritos), bem como
pelo eixo da reflexão (prática da análise linguística – AL). Para Mendonça (2006a, p.
204), a AL configura-se como uma complementação “[...] às práticas de leitura e
produção de texto, dado que possibilitaria a reflexão consciente sobre fenômenos
gramaticais e textual-discursivos que perpassam os usos linguísticos, seja no momento
de ler/escutar, de produzir textos ou de refletir sobre esses mesmos usos da língua.”
Tendo em vista essa nova organização do ensino de língua portuguesa, o ensino
gramatical não deve ser desarticulado das práticas de linguagem, além de não dever se
atentar exclusivamente a regras e imposições de uso, características de um modelo
clássico cujo objetivo é identificar, definir e classificar estruturas, categorizando-as
como um mero exercício de repetição. Como alternativa a esse modelo tradicional de
categorização, a prática de ensino da língua portuguesa pode adotar os pressupostos de
uma teoria de base cognitivista, como a teoria dos protótipos, cuja finalidade é conceber
as categorias linguísticas como não discretas. Desse modo, o que a tradição gramatical
classifica como pertencente ou não pertencente a uma dada categoria, a teoria da
prototipicidade conceberá graus de pertencimento a uma dada categoria. A adoção da
perspectiva da prototipicidade permite que se alcance resultados diferentes daqueles
almejados pela gramática tradicional, cuja descrição, geralmente, não condiz com os
usos da linguagem, fato que evidencia a necessidade de se buscar apoio em outros
materiais e fontes, como, por exemplo, em manuais de linguística, que contemplam a
língua em seu uso comunicativo. Com a adoção dessa perspectiva alternativa de ensino,
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(CUNHA; CINTRA, 2008, p. “Palavra com que designamos ou nomeamos os seres em geral.”
191)
(CEGALLA, 2005, p. 130) “São palavras que designam os seres.”
(ABAURRE; PONTARA, “São as palavras que designam seres em geral, reais ou
2006, p. 172) imaginários.”
(BECHARA, 2006, p. 70) “É a classe de palavra que se caracteriza por significar o que
convencionalmente chamamos objetos substantivos, isto é, em
primeiro lugar, substâncias (homem, casa, livro) e, em segundo
lugar, quaisquer outros objetos mentalmente apreendidos como
substâncias, quais sejam qualidades (bondade, brancura), estados
(saúde, doença), processos (chegada, entrega, aceitação)”
Quadro 1. Definição de substantivo segundo gramáticos.
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3. Descrição e análise
3.1. Proposta curricular – São Paulo faz escola (SÃO PAULO, 2008; 2009; 2010)
Uma das diretrizes contida nos documentos da Proposta Curricular do Estado
de São Paulo (São Paulo, 2008) é não pensar o ensino de língua portuguesa de maneira
fragmentada, como simples decodificação de conteúdos e reprodução de ideias. Nesse
sentido, objetiva-se ter como ponto de partida o texto no ensino de língua portuguesa,
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Circuito Fechado
Ricardo Ramos
Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de
barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para
cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, telefone, agenda, copo com lápis,
caneta, blocos de notas, espátula, pastas, caixa de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis,
cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas,
vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras,
esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz,
lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras,
copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo. xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de
dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone
interno, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maço de cigarros,
caixa de fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros.
Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, externo, papéis, prova de
anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel,
telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa
de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos,
guardanapos. Xícaras, cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro
e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água. Chinelos. Coberta,
cama, travesseiro.
(Fonte: SÃO PAULO. Caderno do aluno: língua portuguesa – linguagens, códigos e suas tecnologias,
ensino fundamental, 6o ano, volume 1/Secretaria da educação; Coord. Maria Inês Fini. – São Paulo: SEE,
2010. p. 39)
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Para ler o mundo e a Proposta Curricular – São Paulo faz escola assemelham-se em
relação aos conceitos aapresentados, já que, em ambos os materiais, esses conceitos
representam uma reprodução das definições contidas em gramáticas tradicionais.
Em relação aos exercícios presentes nesse LD, observamos que não partem do
texto, ao contrário disso, o texto surge como pretexto para o ensino de língua
portuguesa. Nesses exercícios, aparecem trechos e frases de textos já abordados na
unidade, porém de forma fragmentada, não permitindo uma reflexão produtiva a
respeito do funcionamento efetivo da categoria em análise na língua.
Além disso, não há uma coerência entre os exercícios e as definições expostas,
dado que o livro apresenta os conceitos das várias subclassificações de substantivos,
bem como as noções de flexão de número e gênero referentes a essa categoria, mas
solicita nas atividades, predominantemente, atividades de flexão, dispensando apenas
três (de 12) exercícios para as classificações semânticas dos substantivos. Segue abaixo
um exemplo de exercício presente neste livro:
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Partindo do exemplo acima, observamos que o livro Linguagem Nova tem como
ponto de partida o trabalho com os gêneros textuais, além de abordar nos exercícios
uma diversidade de gêneros como, por exemplo, frases de revistas, o que é? o que é?,
poema, acróstico e certidão de nascimento, permitindo, assim, uma reflexão por parte
dos alunos acerca das características dos gêneros estudados.
De acordo com as considerações expostas, verificamos que os conceitos
trabalhados, nesse livro, diferentemente dos demais materiais, não correspondem a uma
reprodução fiel das gramáticas normativas, uma vez que as definições são um pouco
mais abrangentes e permitem uma reflexão diferente daquela propiciada pelos manuais
de gramática.
Contudo, esse LD também traz exercícios de identificação e classificação, mas
essas atividades não são predominantes e, ainda assim, podem ser consideradas mais
significativas em relação àquelas analisadas nos outros materiais didáticos. Segue
abaixo um exemplo:
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4. Encaminhamentos2
Diante da descrição e análise exposta na seção anterior e das diretrizes contidas
nos PCNs, temos como proposta um ensino que parta propriamente do texto, permitindo
uma reflexão crítica por parte dos alunos em relação à língua portuguesa. Nesse sentido,
visamos a um ensino que se paute na prática da análise linguística que, na esfera escolar
2
Todas as orientações para o ensino da categoria substantivo, presentes nesta seção, estão desenvolvidas
e detalhadas nos planos de aula que seguem em anexo.
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as categorias linguísticas não são discretas, isto é, que não devem ser
vistas umas em oposição às outras simplesmente, mas sim
interpretadas como protótipos. A noção de protótipo, então, serve para
mostrar que um elemento, mesmo não sendo prototipicamente
pertencente a uma categoria, pode funcionar como tal na interação
linguística, [...].” (RODRIGUES, 2010, p. 2010).
Tomando o ensino sob essa perspectiva, optamos por trabalhar com gêneros
textuais distintos, com o intuito de fazer com que os alunos conheçam as características
estilísticas de cada um dos textos selecionados, além de possibilitar uma reflexão que
aponte para uma das funções principais dos substantivos, isto é, a função de construção
de sentido de um texto. Com base nessa função dos substantivos, propomos uma
atividade que tenha como ponto de partida o texto Circuito fechado, de Ricardo Ramos,
presente na Proposta Curricular – São Paulo faz escola. O objetivo de empregar esse
texto é, justamente, o de mostrar aos alunos a importância dos substantivos na
construção de efeitos de sentido de um texto. Além disso, temos também como proposta
trabalhar o texto Tristelândia, de Henry Correa de Araújo, com a expectativa de fazer
com que os alunos percebam que não há de fato uma oposição entre as categorias
linguísticas, nesse caso, especificamente, entre as subclassificações dos substantivos, ou
seja, temos o intuito de expor que um substantivo comum ou abstrato, por exemplo,
pode vir a ser classificado como próprio a depender do seu contexto linguístico.
Outro ponto que consideramos relevante para o ensino da classe dos substantivos
é o trabalho com a subclassificação contáveis/não-contáveis. Entretanto, a abordagem
dessa subclassificação não está presente em nenhum dos materiais didáticos analisados
neste trabalho, além de não ser contemplada também nas gramáticas normativas, exceto
naquela escrita por Bechara (2006). Em contrapartida, os conceitos referentes aos
substantivos contáveis/não-contáveis são encontrados, facilmente, em manuais de
3
O plano de aula com o tema substantivo não foi pensado apenas para uma aula, mas para uma sequência
de aulas.
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linguística, que dão um tratamento bastante significativo a esse tema. Por essa razão,
optamos por uma proposta de ensino que leve em conta a abordagem desses
substantivos e sugerimos o trabalho com dois textos, de gêneros diferentes, um deles,
presente em uma rede social, funciona como instruções para o jogo Colheita feliz; o
outro é uma receita culinária. O objetivo de trabalhar com esses textos é mostrar para os
alunos como funciona essa classe de substantivos e como é possível que um substantivo
não-contável se transforme em contável a depender do contexto em que está inserido.
5. Considerações finais
Neste trabalho, levando em consideração os subsídios teóricos expostos,
apresentamos uma descrição e uma análise de diferentes materiais didáticos, com o
objetivo de verificar o tratamento dispensado por eles à classificação semântica dos
substantivos e reconhecer se as abordagens desses materiais propiciam um ensino
significativo da língua materna. Além disso, tínhamos como meta avaliar se os materiais
didáticos estão em consonância com as diretrizes presentes nos PCNs.
De acordo com a análise, observamos que o tratamento dado ao estudo dos
substantivos, na Proposta Curricular – São Paulo faz escola e no livro Para ler o
mundo, correspondem a uma reprodução dos conceitos presentes nas gramáticas
normativas e que os exercícios solicitados representam atividades mecânicas de cópia.
Diante disso, consideramos que, nesses materiais, de modo geral, o ensino da categoria
de substantivo não é satisfatório, pois não possibilita uma reflexão crítica por parte dos
alunos sobre a língua portuguesa.
Em contrapartida, verificamos que o livro Linguagem Nova trata os substantivos
de maneira mais abrangente quando em comparação com os conteúdos dos manuais de
gramática, visto que os conceitos não correspondem fielmente aos encontrados nesses
manuais. Além disso, percebemos que, nesse livro didático, há uma tentativa de que o
ensino parta do texto de fato e, por esse motivo, a maioria dos exercícios propostos não
correspondem a atividades de identificação e classificação de estruturas linguísticas, ao
contrário, são exercícios que levam o aluno a refletir sobre a língua e seus usos.
Tendo em vista as considerações expostas nesta seção, concluímos que a
Proposta Curricular – São Paulo faz escola, assim como o livro didático Para ler o
mundo não estão em consonância com as diretrizes contidas nos PCNs. Todavia, o livro
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didático Linguagem Nova apresenta uma abordagem de ensino diferenciada, que atende
de modo mais significativo às propostas presentes no documento supracitado.
Além do que já foi discutido neste trabalho, outro ponto que avaliamos como
relevante para ser abordado é o papel do professor em relação ao material didático que
utiliza em sua prática docente, já que consideramos o livro didático como um material
que exerce forte influência nas práticas de ensino dos professores de língua portuguesa.
Por essa razão, pensamos que cabe ao professor trabalhar com os livros didáticos, de
modo a favorecer a relação do aluno com o conhecimento. De acordo com os PCNs
(BRASIL, 1998, p. 96) “é preciso que os professores estejam atentos à qualidade, à
coerência e a eventuais restrições que apresentem em relação aos objetivos educacionais
propostos”. Apesar de ser importante que o professor saiba trabalhar de modo
significativo com os materiais didáticos que lhe são oferecidos, vemos com mais
recorrência professores que se comportam como um indivíduo passivo diante desses
materiais.
Referências Bibliográficas
BARRETO, A.; SETTE, G.; PAULINO, M. A.; STARLING, R. Para ler o mundo:
Língua Portuguesa. (5ª série, 6º ano). São Paulo: Scipione, 2007.
36
FARACO, C. E.; MOURA, F. M. Linguagem Nova. 18. ed. São Paulo: Ática, 2007.
______. Análise linguística: refletindo sobre o que há de especial nos gêneros. In:
SANTOS, F. S.; MENDONÇA, M.; CAVALCANTE, M. C. B. (Org). Diversidade
textual: os gêneros na sala de aula. Belo Horizonte: Autêntica, 2006b.
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ANEXOS
ANEXO A
PLANO DE AULA
1. Identificação
1.1. Título: Os efeitos dos substantivos em gêneros diversos
1.2 Autoras: Ana Ligia Alves Silva, Fernanda Meneghetti Ferro, Juliana das Neves
Martins, Tailene Munhoz Barbosa e Thaís Machado de Sá
1.3. Tema/ assunto: Classificação semântica de substantivos
1.4. Tempo previsto: 4 (quatro) aulas, sendo 2 (duas) aulas duplas.
3. Objetivos
3.1. Gerais:
a) dar continuidade à formação do competente usuário da língua materna;
b) contribuir para a formação cultural do aluno e para a ampliação de suas práticas de
letramento na medida em que se propõem trabalhar com os vários sentidos que o texto
oferece.
3.2. Específicos
a) Proporcionar que os alunos reflitam sobre os vários sentidos que podem estar
presentes no texto;
b) Reflexão sobre os gêneros: conto, regras de jogo, receita culinária, com a finalidade
de o aluno conhecer sua composição característica, estilo e função sócio-comunicativa;
c) Praticar a leitura e a compreensão de textos;
d) Proporcionar aos alunos uma reflexão sobre a possibilidade de um texto ser
construído apenas por substantivos;
e) Trabalhar a prática de análise linguística no ensino do conteúdo referente aos
substantivos contáveis e não-contáveis.
4. Metodologia
4.1. Caracterização do público-alvo: alunos do 6º ano do Ensino Fundamental, com
faixa etária entre 11 e 12 anos;
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a) material impresso;
b) giz;
c) lousa.
2. Ativação do conhecimento prévio: tendo em vista que os nomes dos alunos exercem a
função citada (cf. item 1), indagar-lhes sobre os textos que produzem por meio das
perguntas “E nos textos que vocês produzem?”, “Saberiam dizer como vocês constroem
o texto?”. Com essas perguntas temos o objetivo de saber o que os alunos supõem sobre
a maneira como um texto pode ser construído. (Acreditamos que possam responder que
um texto deve conter frases, pontuação, personagens, por exemplo).
6. Discussão oral do texto: verificar as hipóteses dos alunos, de acordo com a solicitação
para a leitura, ou seja, de que forma o sentido é construído no texto de Ricardo Ramos
(espera-se que percebam que o texto é constituído apenas por “palavras” –
substantivos). Perguntar-lhes se a presença unicamente de “palavras” (substantivos4)
compromete a compreensão do sentido do texto, bem como do que o texto trata.
Retomar a discussão sobre o título, que o próprio título caracteriza a vida, o cotidiano
do personagem principal, ou seja, um cotidiano fechado, sendo um ciclo que sempre se
repetirá. Após deixar os aprendizes comentarem o texto, que aborda uma atividade
rotineira, que as ações se repetem, indagar-lhes sobre o personagem, como é o dia a dia,
se é possível perceber se há uma satisfação por meio das ações realizadas por esse
4
Nesse momento da aula, ainda, não mencionaremos o termo substantivo, por isso utilizaremos o termo
palavras.
40
personagem. Explicar-lhes, ainda, que todos esses sentidos e essas interpretações são
proporcionados apenas pela presença de substantivos, palavras que podem cumprir a
função de construir o sentido básico de um texto. Durante a discussão e a consequente
explicação das professoras, anotar na lousa as características levantadas, e, depois,
fornecer um tempo para que os aprendizes copiem no caderno.
7. Informar aos aprendizes que, na sequencia, será trabalhado um outro texto cujo título
é Tristelândia (cf. anexo C). Será distribuído um texto para cada dois alunos. Em
seguida, perguntar-lhes se conhecem esse texto, se alguma vez já o leram.
8. Oferecimento de objetivos para a leitura: informar que deverão lê-lo e, após a leitura
– durante a discussão –, responder se alguma vez já ouviram falar acerca dos nomes dos
lugares, das pessoas presentes em Tristelândia.
9. Elaboração de hipóteses sobre o texto a ser lido: antes de oferecer a leitura, levantar
as hipóteses dos alunos sobre o que será tratado nesse texto, por exemplo, “Vocês
saberiam dizer a que a palavra Tristelândia pode fazer referência?” (espera-se que os
alunos respondam que pode referir-se a uma região, ou a uma cidade). Discutir
oralmente as hipóteses dos alunos, e, conforme respondam, as respostas serão anotadas
na lousa, para que possam ser retomadas, quando terminarem a leitura.
10. Discussão oral do texto: verificar as hipóteses dos alunos, de acordo com a
solicitação para a leitura, ou seja, a que Tristelândia faz referência. A partir da resposta
dos alunos, que se refere a uma cidade, perguntar-lhes do que o texto trata, como essa
cidade é caracterizada no texto (espera-se que respondam que é uma cidade triste,
isolada e sem vida). Apontar tais características no texto junto com os alunos. Explicar-
lhes que a tristeza é caracterizada nos personagens, nas suas atitudes, por exemplo, “as
crianças de Tristelândia não brincavam e não sorriam”, além do modo como é
apresentado o espaço, por exemplo, a rua principal: “De principal só tinha o apelido,
pois era pequena, feia e mal-acabada”. Indagar-lhes se alguma vez já ouviram falar
acerca dos nomes dos lugares, das pessoas presentes em Tristelândia, a fim de que
percebam e reconheçam que os nomes têm relação com o aspecto triste da cidade e que
há características particulares nessas designações. Explicar-lhes por meio do exemplo
amargura que, geralmente, remete a um outro referente, no texto, torna-se único, Zeca
Amargura é único entre vários. Além disso, dizer-lhes que uma mesma palavra pode ter
funções diferentes: Tristelândia se torna um substantivo próprio e perde sua
característica de abstrato. Essas características também serão apontadas no texto junto
com os alunos, por meio dos exemplos citados e de outros que se fazem presentes no
texto, além de serem anotadas na lousa. Terminada a explicação, fornecer um tempo
para que os alunos copiem as informações no caderno.
41
3. A partir das respostas dos aprendizes (cf. item 2), requerer-lhes como, em geral,
medem ou contam aquilo que é designado pelo substantivo terra. Caso tenham alguma
dificuldade, dizer-lhes para observarem o texto. Os alunos podem mencionar que,
durante o jogo, devem adquirir terras por meio de lotes, forma pela qual o substantivo
terra é contado, para aumentar a própria propriedade. Explicar-lhes também que a
medida lotes cumpre a função de medir o conteúdo que o nome terra designa, algo que
não pode ser contado, sendo, por isso considerada uma grandeza. Dizer-lhes, ainda, que
o substantivo terra, da mesma forma que outros, como, fogo, ar, céu, óleo etc
apresentam uma expansão ilimitada, devido a esse fato são denominados de
substantivos não-contáveis. Solicitar-lhes que recorram ao texto Circuito fechado, dado
na aula anterior, a fim de que procurem exemplos de substantivos contáveis, ou seja,
que percebam aqueles que possuem limites precisos, como, por exemplo, chinelos,
escova, telefone, xícara etc. Em seguida, anotar na lousa os exemplos, bem como os
aspectos citados, e, depois, fornecer um tempo aos aprendizes para que copiem no
caderno.
4. Informar aos aprendizes que, na sequencia, será trabalhado um outro texto cujo título
é Pavê de chocolate e café e perguntar aos alunos “Que texto é esse”? “Que nome se dá
a esse gênero de texto?” Em seguida, escrever na lousa que o texto caracteriza uma
receita culinária.
5
Nesse momento, será apenas mencionado o título aos alunos, posteriormente, é que será explicitado que
o texto contém regras sobre como adquirir mais terras.
42
(como, por exemplo, Torta) mais o nome da substância (ingrediente) principal (como,
por exemplo, de frango). Conforme os alunos respondam, as respostas serão anotadas
na lousa para que possam ser retomadas, quando terminarem a leitura.
6. Oferecimento de objetivos para a leitura: informar aos aprendizes que será distribuído
um texto, para cada dois alunos, e que deverão ler o texto buscando verificar se os
aspectos mencionados (cf. item 5) são encontrados no referido texto.
9. A partir da discussão e das respostas dos alunos, dado que os dois textos – texto de
regras de jogo e a receita culinária – apresentam substantivos não contáveis – perguntar-
lhes: “de que forma os ingredientes são contados?”, “em relação a essas substâncias,
vocês perceberam alguma semelhança com o primeiro texto?” (espera-se que
respondam que na receita também há substantivos não-contáveis). Em seguida, retomar
a explicação dada. (cf. item 3).
ANEXO B
Circuito Fechado
Ricardo Ramos
Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma,
6
Consideramos que o trabalho com a música Águas de Março, de Antonio Carlos Jobim, poderia também
ser produtivo, já que apresenta substantivos não-contáveis, como água, mas que funciona como contável
no contexto da música. Porém, dado o tempo da aula não utilizaremos esse texto neste plano de aula.
43
creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente,
toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos,
telefone, agenda, copo com lápis, caneta, blocos de notas, espátula, pastas, caixa de
entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara
pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques,
memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras,
esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes,
xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi.
Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo. xícara. Maço de
cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis,
telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, gravata, paletó.
Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maço de cigarros, caixa de
fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos.
Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis,
externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo,
papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro,
fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata.
Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos.
Xícaras, cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona.
Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma,
água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.
ANEXO C
Tristelândia
Henry Correa de Araújo
Tristelândia era uma cidade triste.
E por ser triste era também feia.
Todas as suas ruas, todos os prédios, todas as pessoas de Tristelândia tinham nomes
tristes e ali se nascia, vivia e morria chorando.
Ela ficava no alto do Morro da Saudade e não tinha árvores, não tinha flores, não tinha
passarinhos. Mas tinha muita poeira, muita pedra e cactos cheios de espinhos.
As ruas de Tristelândia não eram calçadas. As casas viviam com as janelas fechadas. As
portas não se abriam para as visitas e os corações dos habitantes de Tristelândia também
viviam fechados. Principalmente não se abriam para as crianças alegres da vida.
As crianças de Tristelândia não brincavam e não sorriam.
Era expressamente proibido sorrir em Tristelândia.
A Rua da Desilusão era a rua principal da cidade.
Na Rua da Desilusão ficavam os prédios mais importantes: a Prefeitura, a Escola
Pública, a Câmara dos Vereadores, o cinema e a Delegacia.
Pela rua principal passavam os carros de boi, as carroças, o prefeito, a professora, os
vereadores e o delegado.
Pela rua principal não passavam velocípedes, bicicletas, carrinhos de rolimã.
De uma tristeza só, a rua principal começava aqui, acabava ali. De principal só tinha o
apelido, pois era pequena, feia e mal-acabada.
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Era ali, naquela rua, que o prefeito passava o dia inteiro, vigiando as pessoas para não
deixá-las sorrir.
O prefeito chamava-se Zeca Amargura.
Sua maior amiga, a professora da Escola Pública, chamava-se Maria das Lágrimas.
“Maria das muitas lágrimas”, como gostava de chamá-la a gente grande da cidade.
De tanto chorar, de tanto lamentar sua sorte e seu destino, os olhos já saltavam para fora
do rosto e pareciam boiar sobre as lágrimas que, dia sim, dia não também, todo dia ela
derramava.
Era a professora certa para Tristelândia. Sabia de tudo sobre tempestade, enchentes,
vendavais, terremotos, furacões, guerras, doenças e fome. Uma catástrofe ambulante.
Lucinha das Dores era sua aluna mais adiantada. Não que fosse inteligente, aplicada.
Mas porque nas provas sempre chorava melhor que as colegas.
Tristelândia de tão triste ficava afastada das outras cidades.
Ninguém ia lá, ninguém saía de lá.
ANEXO D
Na tabela acima editada pelo Maisfacil.org, temos os valores de cada terra, moedas
verdes e de ouro e níveis necessários para que você estenda seus empreendimentos
agrícolas e se torne um fazendeiro de sucesso. Pelo que você já deve ter percebido não
há como comprar terra sem antes desembolsar uma grana comprando moedas verdes,
isso se você não quiser ficar para trás já que comprar terras significa aumentar sua
produção e consequentemente seus lucros. Fiquem sabendo que após comprar os 22
lotes disponíveis (digo 22 por que 6 você recebe do jogo para poder trabalhar), você terá
a possibilidade de adquirir mais 7 terrinhas, totalizando 29 e com as suas 6 gratuitas
fechamos em 35 lotes de terra. Perfeito! Agora é só trabalhar bastante na sua fazendinha
virtual e na vida real pra bancar esse crescimento e se tornar um grande latifundiário.
Fonte: Internet < http://colheitafeliz.org/tabelas-de-terras-colheita-feliz/>. Acesso em:
10 jun. 2011.
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ANEXO E
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