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■■ INTRODUÇÃO
No Brasil, estima-se que ocorram em torno de 1 milhão de acidentes por queimadura por ano, sendo
que 100 mil desses pacientes procurarão atendimento hospitalar, com uma mortalidade de 2,5%.1
O prognóstico dos pacientes queimados melhorou substancialmente nas últimas duas décadas. A
melhora nos resultados pode ser atribuída ao atendimento em centros de queimados especializados,
avanços na reanimação e cuidados críticos protocolados.2
■■ OBJETIVOS
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
Profundidade da queimadura
Diagnóstico e classificação
Superfície corporal queimada
Manejo inicial
Ressuscitação
Tratamento tópico
Infecção
Agentes tópicos
Manejo das feridas
Tratamento pós-estabilização
Fisiopatologia
Lesão inalatória Diagnóstico
Tratamento
Caso clínico 1
Caso clínico 2
Casos clínicos
Caso clínico 3
Caso clínico 4
Conclusão
■■ DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
Os fatores que devem-se levar em consideração na avaliação inicial são a profundidade da lesão
e a determinação da SCQ.
11
PROFUNDIDADE DA QUEIMADURA
Quadro 1
A maioria das queimaduras em crianças é classificada como de espessura parcial. Uma queimadura
pode ter componentes de espessura múltipla, com a parte mais profunda normalmente no centro.
A profundidade da queimadura é proporcional à temperatura da fonte, consistência e duração do
contato, podendo evoluir e aprofundar nas primeiras 24 a 48 horas.3
■■ pneumonia;
■■ síndrome compartimental das extremidades;
■■ infecções;
■■ síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA);
■■ insuficiência cardiovascular;
■■ falência de múltiplos órgãos;
12
■■ morte.
|
QUEIMADOS: MANEJO ATUAL
A fórmula de Lund-Browder, é a mais utilizada para uma rápida estimativa das queimaduras da
SCQ. Criada em 1944, contém esquemas do corpo para diferentes faixas etárias. Esses esquemas
são então divididos em um conjunto de zonas com porcentagens correspondentes de SCQ (Figuras
1A–C e Quadro 2).
A A
1
1
2 2 2 2
13 13
1½ 1½ 1% 1%
1½ 1½ 1½ 1½
1 2½ 2½
B B B B
C C
C C
1¾ 1¾
1¾ 1¾
I II
1%
1%
2% 2% 2% 2%
13% 13%
1,5% 1,5% 1,5% 1,5%
1% 1% 1% 1%
1% 2,5% 2,5%
II II II II
Idade 0 1 5 10 15 Adulto
Metade da frente ou de trás (%) (%) (%) (%) (%) (%)
I (cabeça) 9½ 8½ 6½ 5½ 4½ 3½
II (coxa) 2¾ 3¾ 4 4¼ 4½ 4¾
III (perna) 2½ 2½ 2¾ 3 3¼ 3½
Quadro 2
LEMBRAR
As queimaduras superficiais (primeiro grau) não são incorporadas no cálculo da SCQ.7
13
A “regra dos nove” tem-se mostrado relativamente acurada em pacientes adultos, mas requer
10
13
36
15 9 9
9½ 9½
32
19 9½ 9½
32
9½ 32 9½ 18 18
17 17 18 18
15 15
As crianças têm quase três vezes a relação da superfície corporal para massa corporal de
adultos. A cabeça é proporcionalmente maior, enquanto as coxas representam menos.6
ATIVIDADES
A) Apenas a I.
B) Apenas a II.
C) Apenas a I e a III.
D) Apenas a II e a III.
Resposta no final do artigo
■■ MANEJO INICIAL
O manejo inicial do grande queimado obedece ao ABCDE do trauma, com atendimento sistematizado,
identificação, tratamento e reavaliação (Figura 3).
Avaliação Secundária:
■ Exame físico completo
■ Anamnese/ alergias?/ Vacinas?
■■ roncos;
■■ estridor;
■■ aumento do esforço ventilatório;
■■ taquipneia;
■■ uso de musculatura acessória.
LEMBRAR
As crianças menores, como os lactentes, têm grande risco de desenvolver obstrução
alta pelo pequeno diâmetro das suas vias aéreas. Nesse caso, a intubação precoce
é indicada. Esses pacientes podem desenvolver obstrução alta por edema devido à
ressuscitação, mesmo sem queimadura de face. Os pacientes com SCQ maior do
que 40% devem ser monitorados, e a intubação, quando indicada, deve ser realizada
por profissional treinado para via aérea difícil.7
A respiração deve ser avaliada quanto ao risco de lesão inalatória. A intubação precoce,
quando houver hipóxia ou hipercarbia, previne complicações. Crianças com comprometimento
respiratório devem ser transferidas para centros especializados.
Grandes queimados com SCQ maior que 15% sofrem com síndrome da resposta inflamatória
sistêmica (SRIS) e necessitam de ressuscitação hídrica para prevenir o choque e a morte. A pronta
ressuscitação é muito importante, principalmente em pacientes pediátricos que tem pequeno
volume de sangue circulante.7–9 Atrasos na ressuscitação por dificuldade de acesso venoso ou por
incapacidade de avaliação adequada da SCQ aumentam as taxas de complicações.7,8
A punção periférica pode ser feita, se necessário, sobre a área queimada e em casos de
dificuldade de acesso venoso a via intraóssea deve ser utilizada.
Uma vez avaliada a SCQ e decidido pelo início da ressuscitação, muitas fórmulas têm sido
estudadas para estimativa da quantidade de líquido adequada a ser oferecida.2,8 A mais comumente
usada é a fórmula de Parkland, que oferta o volume de solução cristaloide (ringer lactato [RL])
em 24 horas, sendo metade desse volume nas primeiras 8 horas e outra metade nas 16 horas
seguintes, contando a partir do momento da queimadura.2,3,7–9 Deve-se incluir a ração hídrica diária
de manutenção na criança.
Fórmula de Parkland
2–4mL/Kg/% SCQ = volume de reposição nas primeiras 24 horas + volume de manutenção
de 1.500mL/m²/dia de solução de RL
As fórmulas são apenas estimativas da necessidade que podem estar incorretas, principalmente
em pacientes com:
16
|QUEIMADOS: MANEJO ATUAL
Um dos pontos mais importantes nos cuidados com grandes queimados é fornecer uma
ressuscitação suficiente para manter a perfusão tecidual e prevenir o choque sem causar
sobrecarga hídrica.3,8,9
■■ RESSUSCITAÇÃO
Vários eventos catastróficos estão relacionados a uma ressuscitação insuficiente, como falência
de múltiplos órgãos e morte. Por outro lado, uma ressuscitação exagerada leva a complicações,
como:2,8,10
■■ edema pulmonar;
■■ derrame pericárdico e pleural;
■■ anasarca;
■■ síndrome compartimental abdominal (SCA) e de extremidades.
■■ aumento do risco de SDRA, pneumonia e infecção.
A ressuscitação hídrica deve ser reavaliada a cada hora e ajustada de acordo com as necessidades
do paciente. A melhor e mais fácil maneira de avaliar esta ressuscitação é por meio do débito
urinário (DU).2,7,8
LEMBRAR
Em crianças com menos de 30kg, o objetivo é uma diurese de 1 a 1,5mL/kg/h; em
crianças com mais de 30kg, de 0,5 a 1mL/kg/h. Quando o paciente apresentar volumes
maiores ou menores, a ressuscitação deverá ser ajustada.2,3,8
O DU não deve ser o único parâmetro levado em consideração. Outros aspectos devem ser
valorizados, como:
Não precisa colocar parâmetro,melhor sem
■■ parâmetro sensório;
■■ tempo de enchimento capilar (TEC);
■■ pressão sanguínea;
■■ lactato sérico.
Após as primeiras 24 horas, o volume ofertado deve ser o de manutenção habitual do paciente
pediátrico com glicose. A hipoglicemia é uma possibilidade no paciente pediátrico e deve ser
monitorada e tratada prontamente.
Os exames laboratoriais devem ser coletados na internação e ser repetidos a cada 4 a 6 horas
para guiar a ressuscitação. Esses exames incluem:
■■ hemograma;
■■ plaquetas;
■■ eletrólitos;
■■ função renal;
■■ lactato;
■■ gasometria arterial (GA).
Quadro 3
■■ CPK
A cada 24 horas
■■ Mioglobinúria
■■ Raio X de tórax
Se há suspeita de lesão inalatória
■■ COHb
Fonte: Palmiere (2016).7
18
|
QUEIMADOS: MANEJO ATUAL
ATIVIDADES
I — O volume ofertado deve ser metade em cristaloide e metade em coloide, uma vez
que a perda proteica pela exsudação da queimadura é significativa.
II — A metade do volume deve ser ofertada nas primeiras 8 horas e, a outra metade,
nas próximas 16 horas, considerando sempre o momento do acidente como ponto
zero.
III — O paciente que não atinge os objetivos da ressuscitação não deve receber volume
além do calculado, sob pena de sobrecarga hídrica.
A) Apenas a I.
B) Apenas a II.
C) Apenas a II e a III.
D) A I, a II e a III.
Resposta no final do artigo
■■ HIPERMETABOLISMO
A principal causa de desfechos desfavoráveis após queimaduras está associada à resposta
hipermetabólica com alterações no metabolismo da glicose, lipídeos e aminoácidos.2,11,12 O
hipermetabolismo causa intenso catabolismo com destruição de proteínas nos músculos e órgãos,
levando à disfunção de múltiplos órgãos.
A resposta hipermetabólica induzida pela queimadura inicia precocemente nas primeiras 48 horas.
É extremamente complexa e relacionada a estresse e inflamação. O aumento persistente de
catecolaminas, glicocorticoides, glucagon e dopamina participam como gatilho para resposta
hipermetabólica e posterior catabolismo. Ocorre ativação da cascata de coagulação, complementos
e citoquinas.2,9
19
A persistência do catabolismo muscular é intensa nos queimados. Estima-se que nos primeiros
21 dias perde-se até 16% da proteína corporal total a despeito do suporte nutricional.11 Outras
alterações importantes no hipermetabolismo de queimados são o metabolismo da glicose com
resistência à insulina (RI) e hiperglicemia, e o metabolismo dos lipídeos com aumento da lipólise.2
Temperatura ambiente
A resposta hipermetabólica surge, ao menos parcialmente, para compensar perda de calor corporal
resultante da exsudação. Esta aumenta a temperatura da pele e central em, pelo menos, 2ºC. A
mudança na temperatura ambiente reduz a perda de energia.
Fisioterapia
A fisioterapia é crucial para o manejo precoce da resposta hipermetabólica, mas também é importante
para evitar retrações e aumentar a massa muscular. Os exercícios contra resistência são seguros
e não estão relacionados a hiperpirexia.
20
Nutrição
|
QUEIMADOS: MANEJO ATUAL
Quadro 4
EQUAÇÃO DE SCHOFIELD
Idade e sexo Necessidades (kg/dia)
Meninas 3–10 anos (16,97 × peso kg) + (1,618 × altura cm) + 371,2
Meninos 3–10 anos (19,6 × peso kg) + (1,033 × altura cm) + 414,9
Meninas 10–18 anos (8,365 × peso kg) + (4,65 × altura cm) + 200
Meninos 10–18 anos (16,25 × peso kg) + (1,372 × altura cm) + 515,5
Fonte: Berger (2009). 11
De acordo com a literatura atual, as necessidades calóricas do queimado grave variam de 1,3 a
1,8 vezes a estimada pela equação. Essa necessidade se modifica com o do tempo, com pico em
2 a 6 semanas da lesão, dependendo da gravidade e das complicações de cada paciente.9,11,12
O início da alimentação é recomendado em 6 a 12 horas após a lesão, podendo ser via oral (VO)
ou por sonda. A alimentação precoce está relacionada à diminuição da resposta hipermetabólica,
ao aumento da produção de imunoglobulinas, à redução da úlcera gástrica, à diminuição dos níveis
de hormônios de estresse e à redução da desnutrição e do déficit energético.2,7,9,11,12
O retardo no esvaziamento gástrico pode ser observado como resultado do uso de analgesia e
sedação. Nesses casos, pode-se optar pela dieta transpilórica para evitar déficit nutricionais.
LEMBRAR
A diarreia é outra complicação frequente na alimentação por sonda. As causas são várias,
como uso de antibióticos, velocidade de infusão excessiva e dietas hiperosmolares.
Por outro lado, o uso de opioides em altas doses pode causar constipação, que pode ser manejada
com dietas ricas em fibras e emolientes.2,11
LEMBRAR
Na composição da dieta, recomenda-se que os lipídios não sejam responsáveis por
mais 30% das necessidades calóricas porque a lipólise encontra-se aumentada na
fase aguda.11,13
Dois aminoácidos devem ser considerados para a dieta do paciente queimado: a arginina e a
glutamina, que melhoram a função da mucosa intestinal e a imunidade.9,13 A suplementação
de micronutrientes como cobre, selênio, zinco magnésio, assim como vitaminas B, C, D
e E é defendida, pois parece estar relacionada à diminuição de mortalidade.2,9
A despeito de suas limitações, alguns marcadores do estado nutricional podem auxiliar na monitoração
da eficácia da terapia nutricional. Deve-se reconhecer que mudanças no peso durante a fase aguda
precoce podem estar relacionadas ao manejo hídrico e não a mudanças reais no peso seco do
paciente.
A albumina sérica é um marcador ruim na fase inicial, devendo ser usada apenas na fase de
reabilitação. A melhor avaliação pode ser feita com o uso de proteínas viscerais como a pré-albumina
em associação com proteínas de fase aguda (PFA), como a proteína C-reativa (CRP). Quando a
ingesta é adequada, ocorre aumento gradual da pré-albumina e diminuição da CRP (Quadro 5).12
Quadro 5
A cada 2 semanas
Ter como base o peso
Peso 1×/semana Todas as consultas
seco antes da ressusci-
tação
Se o estado nutricio-
Ingestão calórica nal for preocupante,
Diariamente Diariamente
e proteica telefonar a cada 24
horas
Somente se
Albumina Não coletar Mensalmente estado nutricional for
preocupante
Pré-albumina A cada 2 semanas Não coletar Não coletar
CRP A cada 2 semanas Não coletar Não coletar
Nitrogênio ureico 1×/semana
Não coletar Não coletar
urinário Ajustar ingesta proteica
Calorimetria Se o ganho de peso não Se o ganho de peso
1×/semana
indireta for alcançado não for alcançado
CRP: proteína C-reativa.
Fonte: Prelack e colaboradores (2007).12
Quadro 6
que 60% desses centros usam essa medicação, chegando a 82% nos centros pediátricos. A dose
reportada foi de 0,1 a 5mg/kg dividido em 2 ou 4 vezes ao dia, titulada pela frequência cardíaca
(FC).14 Poucos efeitos adversos são observados e esse medicamento pode ser mantido por até 6
meses a 1 ano após a injúria.14,15
Outras substâncias têm sido descritas para redução da resposta hipermetabólica do grande
queimado, como:
■■ GH;
■■ oxandrolona;
■■ insulina;
■■ metformina;
■■ glucagon;
■■ fenofibrato.
ATIVIDADES
A) Apenas a I.
B) Apenas a I e a II.
C) Apenas a II e a III.
D) A I, a II e a III.
Resposta no final do artigo
25
6. Sobre a composição da dieta no tratamento do hipercatabolismo do paciente queimado,
A) A albumina sérica deve ser coletada apenas na fase inicial, visto que é um marcador
ruim nas fases seguintes.
B) O peso deve ser verificado diariamente na fase aguda, e em todas as consultas na
fase de convalescença.
C) O nitrogênio ureico urinário deve ser coletado mensalmente nas fases de reabilitação
e convalescença.
D) A CRP deve ser coletada a cada duas semanas na fase aguda e não coletada nas
fases seguintes.
Resposta no final do artigo
A) Desmopressina.
B) Propranolol.
C) Insulina.
D) GH recombinante humano.
Resposta no final do artigo
■■ ANALGESIA E SEDAÇÃO
As crianças queimadas são submetidas a procedimentos e intervenções frequentes que, além de
dor, geram ansiedade e estresse. Além disso, a hospitalização, a separação de familiares e a
distorção da imagem corporal podem levar à ansiedade, a distúrbios do sono, ao medo e à depressão.
26
MEDIDAS NÃO FARMACOLÓGICAS PARA CONTROLE DE DOR, ESTRESSE E ANSIEDADE
|
QUEIMADOS: MANEJO ATUAL
Os dados recentes sugerem que pode haver uma melhora nos resultados das crianças cuja dor e
ansiedade são melhor controladas. As crianças que foram distraídas com um dispositivo multimodal
tiveram menores escores de dor durante as trocas de curativos e, subsequentemente, reepitelização
mais rápida de suas feridas. Os autores sugerem que o controle da dor e da ansiedade pode
atenuar a resposta neuro-hormonal ao estresse que se sabe estar associada à cicatrização mais
lenta da ferida.18
As unidades que recebem pacientes queimados devem ter protocolos com escalas para
avaliação de dor. Entre as escalas utilizadas em pediatria, somente a escala de Comfort-B
foi validada para pacientes queimados, apesar de outras serem amplamente utilizadas.19
Existem dois tipos principais de sedação em pacientes com queimaduras: sedação para os
procedimentos e sedação contínua, particularmente no paciente intubado.
■■ opioides;
■■ benzodiazepínicos (BZDs);
■■ cetamina;
■■ agonistas alfa-adrenérgicos.
A utilização de opioides é uma das bases para a analgesia. Nos grandes queimados,
pode-se iniciar com morfina por via endovenosa (EV), em infusão contínua, na dose de
0,01 a 0,04mg/kg/h. Geralmente, essa dose é eficaz e não costuma causar depressão
respiratória. Pequenas doses (em bolo) de 0,05 a 0,1mg/kg podem ser administradas
até atingir analgesia adequada. Com o início da alimentação enteral, pode-se substituir
a infusão EV por codeína VO na dose de 0,5 a 1mg/kg/dose a cada 4 a 6 horas.20
LEMBRAR
Os analgésicos não opioides, como paracetamol, ibuprofeno e dipirona podem ser
úteis para suprimir dor de leve intensidade e para diminuir o uso de analgésicos
mais potentes.
Quadro 7
Midazolam
O midazolam é, frequentemente, considerado tratamento de primeira linha para reduzir o medo
e a ansiedade em pacientes com queimadura.
28
O midazolam apresenta rápido início de ação de 1 a 5 minutos após administração EV. Os efeitos
|
QUEIMADOS: MANEJO ATUAL
duram de 30 a 120 minutos após uma única infusão e até 48 horas após 1 semana de infusão contínua.
LEMBRAR
A administração de midazolam por períodos prolongados desenvolve tolerância,
exigindo doses cada vez mais altas para o mesmo efeito. A sedação com BZD está
associada a maior tempo de internação na UTI que a sedação com não BZD, bem
como a um risco aumentado de delirium.19,21
Dexmedetomidina
A dexmedetomidina é um fármaco menos delirogênico do que os BZDs. É um alfa-2 adrenorreceptor
agonista altamente seletivo usado para sedação devido às suas propriedades ansiolíticas e
analgésicas sem comprometimento respiratório.
A dexmedetomidina possui uma afinidade para alfa-1/alfa-2 receptor oito vezes maior que a clonidina.
Pode ser administrada em bolo intravenoso, infusão contínua ou intramuscular. A meia-vida de
eliminação é de aproximadamente duas horas, e a duração de ação é de quatro horas.
■■ hipertensão;
■■ náusea;
■■ vômito;
■■ febre;
■■ hipóxia;
■■ taquicardia;
■■ anemia.
Propofol
O propofol é de ação e depuração muito rápida. Pode diminuir a pressão arterial (PA), devido à
diminuição da resistência vascular sistêmica (RVS) e à contratilidade cardíaca. A principal vantagem
é que o tempo de recuperação e o tempo total de sedação são mais curtos do que os de outras
modalidades de tratamento. Embora o propofol tenha ganhado popularidade para a sedação em
curto prazo, a experiência clínica é limitada no tratamento prolongado, especialmente em crianças.21
29
Cetamina
■■ depressão respiratória;
■■ taquicardia;
■■ hipertensão;
■■ delírio;
■■ hipersalivação.
O efeito adverso mais frequentemente mencionado é a alucinação. A tolerância aos efeitos anestésicos
da cetamina tem sido relatada, e vários estudos demonstram um aumento da necessidade de dose
e/ou diminuição do tempo de sono com a mesma dose de cetamina após exposição repetida à
medicação.21
Haloperidol
A principal indicação para o uso de haloperidol é a presença de agitação e inquietação. A indicação
menos comum é o uso no delírio com desorientação acentuada e alucinações. Esse medicamento
tem sido usado para tratar pacientes queimados quando o protocolo padrão de tratamento de dor
e ansiedade se mostra insuficiente.
Outros sintomas adversos menos comuns são as convulsões e a síndrome maligna neuroléptica
potencialmente fatal. Os sintomas extrapiramidais podem ser aliviados com a redução da dose.21
30
|
QUEIMADOS: MANEJO ATUAL
ATIVIDADES
A) A dexmedetomidina tem como vantagens seu baixo custo e o fato de ser uma
substância menos delirogênica que os BZDs.
B) Em pacientes pediátricos, a combinação midazolam e cetamina produz uma melhor
pré-medicação do que qualquer fármaco administrado isoladamente.
C) O haloperidol é a medicação mais eficaz e segura para a sedação de procedimento,
e é a mais utilizada em pediatria.
D) Os efeitos colaterais do propofol incluem sintomas extrapiramidais, como reações
distônicas agudas, reações parkinsonianas, desregulação da temperatura corporal
e acatisia.
Resposta no final do artigo
10. Quais são os efeitos colaterais de uma sedação inadequada, insuficiente ou excessiva?
............................................................................................................................................
............................................................................................................................................
............................................................................................................................................
............................................................................................................................................
Resposta no final do artigo
■■ CONTROLE DO PRURIDO
O prurido pós-queimadura é um sintoma comum que afeta mais de 80% dos adultos sobreviventes
de queimaduras, com incidência semelhante relatada em crianças.24–26 Um estudo com 430 pacientes
pediátricos que sofreram queimaduras com uma SCQ média de 40,8% demonstrou que o prurido
está presente na maioria das crianças (93%) e é de intensidade moderada (5,7 ± 3,1) no momento
da alta. A frequência e a intensidade do prurido diminuem ao longo do tempo, mas a maioria das
crianças (63%) continua a relatar sintomas por dois anos.26
Mesmo as pequenas queimaduras estão associadas ao prurido em até 50% dos casos,
o que pode ter impacto substancial na qualidade de vida, levando a distúrbios do sono,
prejuízo das atividades da vida diária (AVD) e afetando o bem-estar psicossocial.27 Além
disso, o arranhamento constante dos enxertos de pele pode resultar em danos que
exijam mais cirurgias.25
31
A gravidade do prurido pode ser medida com a escala de Manch Man (Figura 4), que foi desenvolvida
especificamente para pacientes pediátricos com queimaduras e é considerada válida e confiável
em uma população de até 18 anos de idade.28 A pontuação varia de 0 a 4, e é apoiada por cinco
ilustrações. Crianças com menos de 6 anos de idade são avaliadas utilizando-se a resposta dos pais.
0 1 2 3 4
Confortável Um pouco Mais coceira Muita coceira; Coceira
sem coceira coceira não às vezes é difícil terrível;
interfere nas interfere nas ficar sem impossível
atividades atividades se mexer, ficar sem
concentrar-se se mexer,
concentrar-se
0: confortável, sem coceira; 1: um pouco de coceira, sem interferir na atividade; 2: mais coceira, algumas vezes interfere
com a atividade; 3: muita coceira, é difícil ficar sem se mover e se concentrar; 4: coceira terrível, impossível ficar parado
e se concentrar.
Figura 4 — Escala de prurido de Manch Man.
Fonte: Morris (2012).28
Várias estratégias terapêuticas são utilizadas para tratar o prurido. Alguns, como os
anti-histamínicos ou as malhas de compressão, intervêm nos aspectos periféricos da
via pruriginosa. Outros, como a gabapentina ou a massagem terapêutica, intervêm nos
aspectos centrais da via pruriginosa. A base atual do tratamento do controle do prurido
são os anti-histamínicos, embora uma abordagem combinada usando agentes de ação
central e periférica tenha sido considerada mais eficaz no tratamento do prurido agudo
pós-queimadura.26
TRATAMENTO TÓPICO
O modo de ação dos produtos varia muito. Esses podem agir contra as sensações causadas por
reações químicas ou farmacológicas. Alguns podem funcionar com mais de um modo de ação,
conforme apresenta-se a seguir.29
32
Agentes de resfriamento
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QUEIMADOS: MANEJO ATUAL
Os agentes como o mentol e a cânfora ativam canais da família de vanovilídeos, potenciais receptores
transitórios e induzem uma sensação de frio que mascara temporariamente a sensação de prurido.
Emolientes tópicos
Os emolientes tópicos são os coloides de aveia e de Aloe vera, além de hidratantes de base
oleosa, como lanolina, parafina ou cera de abelha. Os coloides de aveia formam uma barreira
oclusiva que preserva a hidratação e o pH da pele e tem propriedades anti-inflamatórias, estando
relacionado a uma melhora da cicatrização. Já a aloe vera estabiliza a membrana dos mastócitos
e inibe as reações inflamatórias. Seu uso é recomendado em feridas já cicatrizadas. Acredita-se
que a eficácia dos emolientes se deva à teoria do portão da dor, pois seria a estimulação tátil que
aliviaria o prurido e não o emoliente em si.
Resfriamento da ferida
O resfriamento da ferida é um dos métodos mais antigos de tratamento de queimaduras,
recomendado desde Galeno (129-199 D.C.). Além de evitar que o dano térmico atinja tecidos mais
profundos e de diminuir a formação de edema, atua na redução do prurido, mudando a faixa de
temperatura para a excitação das fibras C.
Doxepina creme 5%
A doxepina é um antidepressivo tricíclico capaz de bloquear fortemente os receptores histamínicos.
Só pode ser usada após a cicatrização dos ferimentos e não é recomendada para menores de 12
anos de idade. Pode ocasionar sonolência significativa.
Malhas de compressão
As malhas de compressão também recobrem a superfície afetada e, provavelmente, atuam no
prurido pela redução do aporte sanguíneo para a região e pela diminuição da produção de colágeno.
■■ dapsona tópica;
■■ prata nanocristalina 0,5/1%;
■■ leiser;
■■ toxina botulínica.
33
TRATAMENTO MEDICAMENTOSO
Anti-histamínicos
Os anti-histamínicos orais são o tratamento de primeira escolha para o prurido em 91% das
unidades de queimados, sendo o agente mais popular a clorfeniramina, seguida pela hidroxizina
(anti-histamínicos H1 de primeira geração).29 Esses medicamentos impedem o prurido, agindo como
agonistas inversos em receptores histamínicos.
Gabapentina
A ação da gabapentina se concentra no SNC.30 É um medicamento anticonvulsivante, usado para
o tratamento da epilepsia e da dor. Acredita-se que esse tenha efeitos antipruriginosos, bloqueando
os canais de cálcio pós-sinápticos ou inibindo a síntese de neurotransmissores.29
Outras medicações
Vários antidepressivos também foram considerados eficazes contra o prurido. A doxepina tem
propriedades potentes do receptor anti-histamínico H1, enquanto a mirtazapina possui propriedades
noradrenérgicas e serotoninérgicas, bem como anti-histamínicos H1. A paroxetina e a sertralina são
inibidores seletivos da recaptação de serotonina que têm como alvo os transportadores dependentes
de sódio e cálcio, inibindo a captação de neuromediadores em corpos celulares pré-sinápticos.
34
Nenhuma dessas substâncias, até o momento, foi relatada como útil em pacientes com queimaduras.
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QUEIMADOS: MANEJO ATUAL
Quadro 8
Passo 4
Passo 3
Passo 2 Gabapentina
Passo 1 Loratadina Adulto
Dia 1: 300mg, 1x/
Clorfeniramina Adulto
noite
10mg, 1x/dia
Hidratar e Adulto Dia 2: 300mg, 12/12
resfriar 4mg, 4/4horas (máx. horas
Criança
24mg/dia) Dia 3: 300mg, 8/8
2–5 anos de idade:
horas
5mg
Criança
2–5anos de idade Criança (> 10kg)
— 1mg 4–6/6 horas Dia 1: 5mg/kg, 1x/
(máx. 6mg/dia) noite
6–11anos de idade Dia 2: 5mg/kg, 12/12
— 2mg 4–6/6 horas horas
(máx. 12mg/dia) Dia 3: 5mg/kg, 8/8
> 12 anos de idade horas
— 4mg, 4–6/6 horas
(máx. 12mg/dia)
Acompanhamento psicológico: deve ser realizado desde o início do tratamento e continuado até o final.
Fonte: Elaborado pelas autoras.
35
A) Resfriamento da ferida.
B) Anti-histamínicos de primeira geração.
C) Malhas de compressão.
D) Gabapentina.
Resposta no final do artigo
■■ INFECÇÃO
As infecções são as complicações mais comuns após queimaduras. As mais frequentes são:
■■ pneumonia;
■■ infecções do trato urinário (ITU);
■■ celulite.
A lesão por queimadura altera a integridade da pele, a principal barreira contra patógenos
encontrados no meio ambiente. Portanto, a lesão térmica, por si só, aumenta o risco de
infecções. Além disso, um estado subsequente de inflamação sistêmica e imunossupressão
induzida por queimadura leva a uma suscetibilidade ainda maior a infecções e sepse.32
36
As queimaduras acima de 15% da SCQ levam à liberação de citoquinas.33 As citoquinas circulantes
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QUEIMADOS: MANEJO ATUAL
são detectadas no cérebro, especialmente no hipotálamo. A glândula pituitária faz com que haja
liberação de catecolaminas e glicocorticoides da glândula adrenal, levando a taquicardia, taquipneia
e aumento da taxa metabólica, o que caracteriza a SRIS.
LEMBRAR
Existem várias diferenças entre a sepse na população geral e a sepse encontrada
após uma lesão por queimadura. Quando há queimaduras extensas, a exposição a
patógenos persistirá por meses. Portanto, todas as queimaduras maiores de 15 a
20% de SCQ terão uma SRIS que persiste por meses após o fechamento da ferida.
■■ taquicardia persistente;
■■ taquipneia;
■■ leucocitose;
■■ temperatura corporal “normal” em torno de 38°C.
No início do tratamento, os pacientes com queimaduras sempre têm os sinais usados para diagnosticar
a sepse na população em geral.32,33 Como os pacientes com queimaduras têm SRIS persistente,
eles são sempre excluídos de qualquer protocolo de sepse. Em um esforço para criar definições
que se aplicam a pacientes queimados, membros da American Burn Association (ABA) realizaram
uma Conferência de Consenso em 2007.32,33
Quadro 9
A sepse raramente ocorre na primeira semana, mas semanas a meses após a lesão. Contanto que
a ferida permaneça aberta, o paciente com queimadura está em risco. Além disso, geralmente esse
requer cateteres venosos de longo prazo, cateteres urinários e intubação traqueal, aumentando os
riscos de pneumonia associada ao ventilador, ITU e infecções da corrente sanguínea.
Uma vez que a sepse é esperada, os antibióticos empíricos de amplo espectro devem
ser iniciados assim que houver suspeita de infecção.32,33
Deve-se avaliar as áreas queimadas quanto a sinais de infecção. A infecção por Pseudomonas
aeruginosa cria lesões púrpuras a cinzentas. Essas feridas devem ser desbridadas e deve ser
iniciado o tratamento com antibióticos específicos. Uma vez que a identificação e as sensibilidades
do patógeno são conhecidas, os antibióticos devem ser descalonados.32
O manejo da sepse secundária a infecções fúngicas ou virais segue os mesmos princípios, devendo
ser administrados antifúngicos sistêmicos ou antivirais. Em geral, os pacientes queimados com
fungemia são tratados por, pelo menos, duas semanas após a obtenção de hemoculturas negativas.32
38
|
QUEIMADOS: MANEJO ATUAL
ATIVIDADES
13. Nas queimaduras acima de 15% de SCQ, descreva o processo que caracteriza a
SIRS.
............................................................................................................................................
............................................................................................................................................
............................................................................................................................................
Resposta no final do artigo
Uns dos fatores determinantes do desfecho no paciente grande queimado são o desbridamento
e a enxertia precoce. Deve-se levar em consideração o local, a extensão e a profundidade da
queimadura (Quadro 10).
Quadro 10
A excisão precoce, com até uma semana de evolução da lesão, reduz a incidência de infecção
da queimadura, dor, perda de fluidos, e outras complicações do fechamento tardio como como
cicatrização hipertrófica2,7 (Quadro 11)
Quadro 11
LEMBRAR
A penetração do antibiótico sistêmico é limitada e inefetiva nas queimaduras profundas,
por essas serem avasculares e por levarem a infecção por germes multirresistentes.
Entretanto, os antimicrobianos tópicos têm ação local e penetram na ferida limitando
o crescimento bacteriano.34
40
Para escolher o agente tópico adequado, é importante conhecer o comportamento
|
QUEIMADOS: MANEJO ATUAL
■■ Staphylococcus aureus;
■■ Corynebacterium;
■■ Streptococcus.
Em torno de 5 a 7 dias de evolução, podem ser encontrados outros organismos oriundos dos pacientes
(como flora intestinal, respiratória e hospitalar). Geralmente, são organismos Gram-negativos, como:
■■ Pseudomonas aeruginosa;
■■ Enterobacters;
■■ Proteus;
■■ Escherichia coli.
Mais tardiamente, os fungos também podem ser encontrados e foram relacionados com alta
mortalidade.2,34
Quase todos os queimados graves têm suas feridas colonizadas, mas não necessariamente
infectadas. É considerada infectada a lesão com:34
LEMBRAR
A infecção da queimadura retarda a cicatrização e aumenta da reação inflamatória local.
AGENTES TÓPICOS
O agente tópico ideal deve apresentar as seguintes características:
Sulfadiazina de prata
A sulfadiazina de prata é utilizada universalmente como antimicrobiano tópico para queimados.
É um creme solúvel em água que contém 1% de sulfadiazina de prata e tem efeito contínuo de
dissociação e deposição de íons de prata sobre a ferida junto com a sulfadiazina que tem ação
bacteriostática. Pode retardar a epitelização e cicatrização pelo efeito tóxico sobre os fibroblastos
e queratinócitos, além de simular exsudato amarelado dificultando a avaliação da ferida. Deve ser
evitada em pacientes alérgicos a sulfa e menores de 2 meses pelo risco de kernicterus.
LEMBRAR
A prata é absorvida sistemicamente podendo se depositar em alguns órgãos como
fígado e rins. Outro efeito também observado, principalmente quando usada em
grandes extensões de áreas queimadas, é a ‘toxicidade medular”, podendo causar
leucopenia. Além destes efeitos a sulfadiazina tem curta duração de ação após a
aplicação e penetração apenas na superfície da ferida, devendo ser reaplicada pelo
menos duas vezes ao dia o que demanda uso de sedação e analgesia repetida nas
trocas de curativo.2,10,34
■■ curativos de prata nano cristalizada — são impregnados com nano cristais de prata que, quando
umedecidos, liberam sustentadamente prata;
■■ curativos de hidrocoloide e hidrofibra de prata — têm a prata ligada ao hidrocoloide ou à hidrofibra
e, quando umedecidos, produzem uma liberação gradual e sustentada de prata, absorvendo
os fluidos;
■■ curativos de carvão ativado com prata — absorvem a bactéria dentro do curativo e a destroem
pela prata;
■■ curativo de espuma com prata.
Todos esses curativos têm atividade antimicrobiana sobre bom espectro de bactérias, inclusive
fungos; mas, a maior vantagem é a liberação continuada de prata por alguns dias, o que diminui
muito a necessidade de trocas e, consequentemente, o uso de analgesia e sedação.2,7,9,34
TRATAMENTO PÓS-ESTABILIZAÇÃO
Em pacientes com queimaduras parciais profundas ou totais, o tratamento após a estabilização deve
ser, assim que possível, o desbridamento das queimaduras com retirada dos tecidos não viáveis e
o autoenxerto. O padrão-ouro de cobertura de queimaduras é o autoenxerto em folha ou malha.
42
O autoenxerto envolve a retirada cirúrgica de pele saudável (área doadora) e colocação sobre a
|
QUEIMADOS: MANEJO ATUAL
área queimada, resultando na produção de uma segunda cicatriz. A escolha do sítio doador para o
autoenxerto é uma decisão importante e envolve a identificação de grandes áreas planas de pele
saudável.7,9,34 Em grandes queimados o uso do couro cabeludo como área doadora é frequente,
pela extensão e pelo potencial de cicatrização rápido.
A área doadora costuma ser mais dolorosa do que a lesão primária e, em pacientes pediátricos,
demanda manejo cuidadoso para não impactar fisiologicamente o paciente. Com o objetivo de
diminuir o tamanho das áreas doadoras, pode-se fazer enxerto em malha. O enxerto em malha
expande a pele coletada permitindo cobrir uma área maior de queimadura com uma área doadora
menor. Entretanto, esses enxertos têm resultado estético inferior.3,34
Nos pacientes com grandes extensões queimadas, os sítios doadores podem ser usados mais de
uma vez. Para minimizar o risco de infecção durante o processo de reepitalização da área doadora,
pode-se lançar mão de aloenxerto (pele de cadáver) para cobertura temporária de queimaduras.
ATIVIDADES
A) Apenas a I.
B) Apenas a I e a II.
C) Apenas a II e a III.
D) A I, a II e a III.
Resposta no final do artigo
43
16. No que se refere ao manejo das feridas, quais características o agente tópico ideal
............................................................................................................................................
............................................................................................................................................
............................................................................................................................................
............................................................................................................................................
Resposta no final do artigo
■■ LESÃO INALATÓRIA
A lesão inalatória é um fator de risco para o aumento da morbidade e da mortalidade em pacientes
vítimas de queimaduras. Os estudos recentes sugerem que entre 20 e 30% de todas as queimaduras
graves estão associadas à lesão por inalação, e que entre 25 e 50% dos pacientes morrem se
necessitarem de suporte ventilatório por mais de uma semana após a queimadura.2,35,36
A injúria por inalação leva à hipóxia por meio de edema maciço do trato respiratório superior,
irritação química do trato respiratório inferior e inalação de gases tóxicos, como monóxido de
carbono (CO) e cianeto.
FISIOPATOLOGIA
A lesão traqueobrônquica abaixo das cordas vocais ocorre a partir de componentes químicos da
fumaça inalada. As principais alterações fisiopatológicas subglóticas que ocorrem após a lesão
por inalação são:35,36
liberação de neuropeptídios que são sintetizados na submucosa das vias aéreas. O grau de espasmo
depende dos compostos presentes na fumaça inalada, bem como da sensibilidade individual das
vias aéreas aos irritantes químicos e às toxinas.35,36
Geralmente, o dano ao parênquima pulmonar se manifesta 24 horas após a lesão inicial. A ativação
do sistema imunológico ocorre a partir da fumaça inalada no sistema traqueobrônquico. Ocorre
edema e consolidação do parênquima pulmonar que se manifesta clinicamente como alteração
de ventilação e perfusão. Com o dano extensivo à função mucociliar, aumento do exsudato,
consolidação e colapso alveolar, a eliminação de partículas de fumaça é prejudicada. Isso causa
inflamação e dano parenquimatoso adicionais e persistentes.35
O cianeto também produz hipóxia celular; no entanto, o mecanismo difere do CO. O cianeto
interrompe a geração mitocondrial de trifosfato de adenosina (ATP) por meio da ligação de íons
férricos no citocromo com oxidase. Isso interrompe a cadeia de transporte de elétrons e bloqueia
o metabolismo celular aeróbio.35
DIAGNÓSTICO
Avaliação clínica
A manifestação completa ocorre em até 48 horas após o insulto da inalação, quando a inflamação
atinge o seu pico. A apresentação clínica inicial pode não corresponder à intensidade da exposição.36
LEMBRAR
É importante determinar o local onde ocorreu o incêndio. Pacientes encontrados em
ambientes fechados, correm alto risco de ter inalado alguma fumaça. Além disso, os
incêndios que ocorrem em fábricas ou locais de armazenamento podem ter produzido
fumaça com alto teor de compostos inalados tóxicos.
Para pacientes pediátricos, agitação e confusão podem ser causadas por inalação de fumaça,
lesão ou medo. Sinais físicos como pelos nasais chamuscados, fuligem de fumaça no nariz e face
e fuligem na orofaringe são sinais inespecíficos de exposição à fumaça.2,20,35,36
■■ estridor;
■■ dispneia;
45
■■ rouquidão;
Exames de imagem
Raio X de tórax
Geralmente, o raio X de tórax não fornece informações úteis imediatamente devido às alterações
patológicas tardias que ocorrem com a inalação de fumaça. No entanto, infiltrados pulmonares já
na avaliação inicial podem indicar lesão por inalação grave.35,36
Tomografia computadorizada
A TC realizada precocemente após uma lesão mostra uma fina aparência de vidro moído nos
pulmões.35
Fibrobroncoscopia
A fibrobroncoscopia é o método mais utilizado e confiável para diagnosticar a extensão e a
gravidade das lesões inalatórias. Utilizada como diagnóstico para lesão por inalação aguda
desde 1975, a fibrobroncoscopia (flexível) ainda não está disponível universalmente, embora seja
amplamente utilizada, pois fornece uma visão imediata da via aérea e é confiável para fazer um
diagnóstico rápido de lesão por inalação e classificá-lo.
Esse método permite a visualização direta de estruturas supraglóticas e subglóticas e avalia o dano
tecidual das vias aéreas.36 Os achados podem variar de:2,35,36
A broncoscopia tem três papéis principais nos cuidados intensivos de lesão inalatória. Em
primeiro lugar, a gravidade da lesão das vias aéreas, avaliada pela visualização direta
na broncoscopia, tem mostrado ser preditiva de desfechos. Em segundo lugar, pode ser
usada para fornecer uma “lavagem” funcional da árvore brônquica, o que pode melhorar
a ventilação e reduzir o risco de atelectasia e pneumonia. Finalmente, é uma ferramenta
útil para obter secreção traqueal para cultura e, portanto, é uma terapia antimicrobiana
direcionada.37
A gravidade da lesão pode ser classificada de acordo com a Classificação Abreviada de Lesões
(AIS), resumida no Quadro 12. Essa classificação se correlaciona com mortalidade,37 embora sejam
necessários estudos prospectivos para validar totalmente a associação.
46
Quadro 12
|
QUEIMADOS: MANEJO ATUAL
■■ Moderado eritema
■■ Depósito carbonáceo
2 Lesão moderada
■■ Broncorreia
■■ Obstrução brônquica
TRATAMENTO
O tratamento da lesão por inalação consiste em cuidados de suporte e manejo das vias aéreas,
como umidificação, toalete agressivo e VPM.
O tratamento primário para uma lesão de inalação supraglótica que compromete a via
aérea é a intubação orotraqueal (IOT). Os pacientes com intubação precoce são aqueles
que recebem O2 suplementar e apresentam desconforto respiratório ou hipoxemia, ou
que mostram sinais de comprometimento das vias aéreas superiores, como edema de
mucosa, eritema, estridor ou rouquidão.
A injúria por inalação de fumaça também expõe os pacientes a várias toxinas inaladas. Aproximadamente
5% de todas as lesões por inalação pediátrica aguda envolvem a inalação de CO. A toxicidade pelo
cianeto é também um potencial contribuinte para a morbilidade e a mortalidade desses pacientes.
LEMBRAR
Embora a toxicidade por cianeto seja raramente relatada em crianças, níveis fatais
de cianeto são encontrados em mais de um terço das vítimas de incêndios fechados.
Quadro 13
O cianeto de hidrogênio (HCN) é a forma gasosa de cianeto e pode ser um componente significativo
da fumaça inalada. Clinicamente, pequenas quantidades de cianeto são metabolizadas no fígado.
No entanto, na lesão por inalação a absorção mais abundante de hidrogênio através dos pulmões
sobrecarrega o metabolismo hepático do cianeto, levando a níveis tóxicos.35
48
As manifestações clínicas da toxicidade incluem:35
|
QUEIMADOS: MANEJO ATUAL
■■ déficits neurológicos;
■■ acidose persistente e inexplicável;
■■ lactato sérico maior do que 8mmol/L.
Muitos sintomas clínicos são difíceis de diferenciar da lesão concomitante por queimaduras, já
que a confusão e a agitação em pacientes pediátricos são frequentes devido à ansiedade e à
dor causadas pela queimadura. Outros sinais de toxicidade por cianeto são semelhantes em
pacientes pediátricos e adultos, e incluem:
■■ hipotensão persistente;
■■ arritmias cardíacas;
■■ acidose metabólica (AM) persistente;
■■ diminuição do consumo de O2 venoso sérico ou misto;
■■ aumento persistente do lactato.
Existem vários métodos para diagnosticar a toxicidade do cianeto. O teste não direto inclui:35
Os níveis de cianeto também podem ser medidos no sangue, conforme mostra o Quadro 14.35
Quadro 14
Apesar da morbidade e da mortalidade relacionada s à lesão por inalação, a maioria dos sobreviventes
acabará por ter um bom resultado, com poucas sequelas a longo prazo.35
49
■■ TRANSFERÊNCIA PARA CENTROS ESPECIALIZADOS
Conforme a ABA, deve ser encaminhado para um centro de queimaduras o paciente com:36
ATIVIDADES
A) Apenas a I.
B) Apenas a I e a II.
C) Apenas II e a III.
D) A I, a II e a III.
Resposta no final do artigo
19. Quais são os três principais papeis da broncoscopia nos cuidados intensivos de lesão
inalatória?
............................................................................................................................................
............................................................................................................................................
............................................................................................................................................
............................................................................................................................................
Resposta no final do artigo
A) V—F—V—F
B) F—V—F—V
C) V—F—F—V
D) F—V—V—F
Resposta no final do artigo
21. Dentre as alternativas a seguir, assinale a que NÃO tem indicação para transferência
para centro especializado em queimadura.
22. Avaliando as imagens das Figuras 5A–D, considerando que não há queimadura de
dorso e couro cabeludo, e usando a fórmula de Lund-Browder, qual é a SCQ estimada
nesse caso?
23. De acordo com a fórmula de Parkland, e considerando 3mL/kg/SCQ, como deve ser
o soro de reposição nas primeiras 24 horas?
............................................................................................................................................
............................................................................................................................................
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Resposta no final do artigo
............................................................................................................................................
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Resposta no final do artigo
CASO CLÍNICO 2
S. M. A.,1 ano e 10 meses de idade, 12kg. A paciente estava na cozinha de casa com a
mãe, quando puxou a toalha da mesa onde estava o bule de café quente. Foi levada ao
pronto atendimento, onde foi avaliada como SCQ de 12% por escaldamento.
ATIVIDADES
ATIVIDADE
27. Sobre o diagnóstico e o manejo clínico indicado para esse caso, assinale a alternativa
correta.
CASO CLÍNICO 4
Paciente vítima de queimadura por incêndio em local fechado encontra-se obnubilado,
com queimadura de face e discreto estridor inspiratório. Saturando 100% em ar ambiente.
ATIVIDADE
A especificidade e a particularidade dos tratamentos exigidos pelos pacientes queimados faz deste
artigo parte importante da formação do médico intensivista. faz-se necessária a qualificação no
atendimento desse importante problema de saúde pública se faz necessária.
Atividade 2
Resposta: C
Comentário: A primeira e a terceira afirmativas estão corretas. A segunda afirmativa está incorreta
porque o cálculo exato da SCQ é um dos fatores mais importantes no manejo inicial de pacientes com
queimaduras. Há evidências na literatura de que as avaliações iniciais da SCQ são frequentemente
imprecisas e geralmente superestimadas. Valores erroneamente altos podem levar a transporte
desnecessário, uso excessivo de recursos e aumento de custo. Além disso, implica na reposição
hídrica excessiva com todos efeitos adversos da sobrecarga volumétrica, incluindo um risco
aumentado de pneumonia, síndrome compartimental das extremidades, infecções, SDRA, insuficiência
cardiovascular, falência de múltiplos órgãos e morte.
Atividade 3
Resposta: B
Comentário: A fórmula de Parkland oferta o volume de solução cristaloide (RL) em 24 horas, sendo
metade deste volume nas primeiras 8 horas e outra metade nas 16 horas seguintes, contando a
partir do momento da queimadura. Um dos pontos mais importantes nos cuidados com grandes
queimados é fornecer uma ressuscitação suficiente para manter a perfusão tecidual e prevenir o
choque sem causar sobrecarga hídrica, a resposta deve ser avaliada a cada hora ajustando sempre
que necessário o volume a ser infundido.
Atividade 4
Resposta: B
57
Comentário: Crianças menores como lactentes são de alto risco para desenvolver obstrução alta
Atividade 5
Resposta: D
Comentário: O padrão-ouro para estimativa das necessidades calóricas em grandes queimados é
calorimetria indireta, que faz estimativa da taxa metabólica basal, mas este método não está disponível
na maioria dos serviços. A alternativa é o uso da equação de Schofield, que pode subestimar as
necessidades calóricas e deve ser, sempre que necessário, arredondada para cima. De acordo
com a literatura atual, as necessidades calóricas do queimado grave variam de 1,3 a 1,8 vezes a
estimada pela equação. O início de alimentação é recomendado em 6 a 12 horas após a lesão,
podendo ser VO ou por sonda. A alimentação precoce está relacionada a diminuição da resposta
hipermetabólica, aumento da produção de imunoglobulinas, redução da úlcera gástrica, diminuição
dos níveis de hormônios de estresse, redução da desnutrição e déficit energético.
Atividade 6
Resposta: D
Comentário: Os carboidratos devem suprir 55 a 60% das necessidades calóricas, sem exceder uma
taxa de infusão maior do que 5 a 8mg/kg/min. Recomenda-se que os lipídios não sejam responsáveis
por mais 30% das necessidades calóricas, justamente porque a lipólise encontra-se aumentada na
fase aguda. Os dois aminoácidos que devem ser considerados para a dieta do paciente queimado,
pois melhoram a função da mucosa intestinal e a imunidade, são a arginina e a glutamina.
Atividade 7
Resposta: D
Comentário: A albumina sérica é um marcador ruim na fase inicial devendo ser utilizada apenas
na fase de reabilitação, mensalmente; na fase de convalescença somente se estado nutricional
for preocupante. O peso deve ser verificado na fase aguda a cada duas semanas (ter como base
o peso seco antes da ressuscitação), uma vez na semana na fase de reabilitação e em todas as
consultas na convalescença. O nitrogênio ureico urinário deve ser coletado uma vez na semana na
fase aguda (ajustar ingesta proteica), e não coletado nas fases de reabilitação e de convalescença.
Atividade 8
Resposta: A
Comentário: O propranolol é anti-inflamatório, antiestresse, anticatabólico e aumenta massa magra,
diminui hiperglicemia. A longo prazo, aumenta crescimento, diminui o hipercatabolismo, diminui
acúmulo de gordura e previne perda óssea. A insulina diminui o catabolismo proteico muscular, melhora
integridade intestinal, reduz a fase aguda e RI. O GH recombinante humano acelera a cicatrização
da área doadora, anti-inflamatório, diminui gasto basal de energia e preserva o crescimento.
Atividade 9
Resposta: B
58
Comentário: A dexmedetomidina é, sim, uma droga menos delirogênica do que os BZDs, mas a
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QUEIMADOS: MANEJO ATUAL
razão mais comum para não ser tão utilizada é justamente seu alto custo. A cetamina tem sido
considerada uma das medicações mais eficazes e seguras para a sedação de procedimento, e esta
sim é a mais utilizada no nosso meio. A principal indicação para o uso de haloperidol é agitação
e inquietação; tem sido utilizado para tratar pacientes queimados quando o protocolo padrão de
tratamento de dor e ansiedade se mostra insuficiente. São os efeitos colaterais do haloperidol
que incluem sintomas extrapiramidais, como reações distônicas agudas, reações parkinsonianas,
desregulação da temperatura corporal e acatisia.
Atividade 10
Resposta: Os efeitos colaterais de uma sedação inadequada, insuficiente ou excessiva são aumento
da duração da VM, infecções hospitalares, instabilidade hemodinâmica, extubação acidental ou
falha na extubação, desenvolvimento de síndromes de abstinência, desfechos neuropsicológicos
adversos a longo prazo.
Atividade 11
Resposta: D
Comentário: O resfriamento da ferida muda a faixa de temperatura para excitação das fibras C
e as malhas de compressão diminuem o aporte sanguíneo na região e diminuem a produção de
colágeno, tendo ação periférica. Os anti-histamínicos de primeira geração agem como antagonistas
inversos em receptores histamínicos e também tem ação periférica. A gabapentina possui ação em
SNC, bloqueando os canais de cálcio pós-sinápticos ou inibindo a síntese de neurotransmissores.
Atividade 12
Resposta: B
Comentário: É o resfriamento da ferida que, além de evitar que o dano térmico atinja tecidos mais
profundos e de diminuir a formação de edema, atua na redução do prurido, mudando a faixa de
temperatura para a excitação das fibras C. A doxepina creme 5%, que pode ocasionar sonolência
significativa, é um antidepressivo tricíclico capaz de bloquear fortemente receptores histamínicos,
só pode ser usado após a cicatrização e não é recomendado para menores de 12 anos de idade.
As malhas de compressão recobrem a superfície afetada e, provavelmente, atuam no prurido pela
redução do aporte sanguíneo para região e diminuição na produção de colágeno. Acredita-se que a
eficácia dos emolientes tópicos é que se se deva à teoria do portão da dor, pois seria a estimulação
tátil que aliviaria o prurido, e não o emoliente em si.
Atividade 13
Resposta: As queimaduras acima de 15% da SCQ levam à liberação de citoquinas. As citoquinas
circulantes são detectadas no cérebro, especialmente no hipotálamo. A glândula pituitária faz com
que haja liberação de catecolaminas e glicocorticoides da glândula adrenal, levando a taquicardia,
taquipneia e aumento da taxa metabólica, o que caracteriza a SRIS.
Atividade 14
Resposta: D
59
Comentário: Há várias diferenças entre a sepse na população geral e a sepse encontrada após
Atividade 15
Resposta: D
Comentário: A sulfadiazina de prata é um creme solúvel em água que contém 1% de sulfadiazina
de prata e tem efeito contínuo de dissociação e deposição de íons de prata sobre a ferida junto
com a sulfadiazina que tem ação bacteriostática. Pode retardar a epitelização e cicatrização pelo
efeito tóxico sobre os fibroblastos e queratinócitos, além de simular exsudato amarelado dificultando
a avaliação da ferida. Deve ser evitada em pacientes alérgicos a sulfa e menores de 2 meses
de idade pelo risco de kernicterus. A prata é absorvida sistemicamente podendo se depositar
em alguns órgãos como fígado e rins. Outro efeito observado, principalmente quando usada em
grandes extensões de áreas queimadas, é a toxicidade medular, que pode causar leucopenia. Além
desses efeitos, a sulfadiazina tem curta duração de ação após a aplicação e penetração apenas
na superfície da ferida, devendo ser reaplicada pelo menos duas vezes ao dia o que demanda uso
de sedação e analgesia.
Atividade 16
Resposta: O agente tópico ideal deve ter como características ter bom espectro de cobertura e não
estimular a resistência antimicrobiana; ter boa penetração, não causar dor e necessitar poucas trocas
ou reaplicação; não inibir a cicatrização; e ser não absorvível e não ter efeitos adversos sistêmicos.
Atividade 17
Resposta: B
Comentário: A primeira e a segunda afirmativas são verdadeiras. A terceira afirmativa é falsa porque
o dano ao parênquima pulmonar geralmente se manifesta 24 horas após a lesão inicial. A ativação
do sistema imunológico ocorre a partir da fumaça inalada no sistema traqueobrônquico. Ocorre
edema e consolidação do parênquima pulmonar que se manifesta clinicamente como alteração de
ventilação e perfusão. Com o dano extensivo à função mucociliar, aumento do exsudato, consolidação
e colapso alveolar, a eliminação de partículas de fumaça é prejudicada. Isso causa inflamação e
dano parenquimatoso adicionais e persistentes.
Atividade 18
Resposta: A
Comentário: O raio X de tórax geralmente não fornece informações úteis imediatamente devido
às alterações patológicas tardias que ocorrem com a inalação de fumaça, no entanto, infiltrados
pulmonares já na avaliação inicial podem indicar lesão por inalação grave. A fibrobroncoscopia é o
método mais utilizado e confiável para diagnosticar a extensão e a gravidade das lesões inalatórias.
Ela é amplamente utilizada, pois fornece uma visão imediata da via aérea e é confiável para fazer um
diagnóstico rápido de lesão por inalação e classificá-lo. A fibrobroncoscopia permite a visualização
direta de estruturas supraglóticas e subglóticas e avalia o dano tecidual das vias aéreas.
60
Atividade 19
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QUEIMADOS: MANEJO ATUAL
Resposta: A broncoscopia tem três papéis principais nos cuidados intensivos de lesão inalatória:
Em primeiro lugar, a gravidade da lesão das vias aéreas, avaliada pela visualização direta na
broncoscopia, tem mostrado ser preditiva de desfechos. Em segundo lugar, pode ser usada para
fornecer uma “lavagem” funcional da árvore brônquica, o que pode melhorar a ventilação e reduzir
o risco de atelectasia e pneumonia. Finalmente, é uma ferramenta útil para obter secreção traqueal
para cultura e, portanto, terapia antimicrobiana direcionada.
Atividade 20
Resposta: A
Comentário: A primeira e a terceira afirmativas são verdadeiras. A segunda afirmativa é falsa porque
é o lavado broncoalveolar que promove a remoção de resíduos carbonáceos — a solução salina
é usada para lavar os materiais contaminantes do pulmão até que o fluido saia limpo. A quarta
afirmativa é falsa porque níveis sanguíneos de cianeto de 0,5 a 1mg/dL causam rubor e taquicardia,
os níveis que podem induzir delírio e coma estão entre 1 e 2,5m/dL, e níveis acima de 3mg/dL causam
morte cefálica. Para o tratamento, a hidroxocobalamina mostrou alguma eficácia na redução dos
níveis de cianeto. Outra opção terapêutica é o tiossulfato de sódio, porém, devido ao seu rápido
início, segurança e eficácia, a hidroxocobalamina tem sido apontada como o antídoto de escolha.
Atividade 21
Resposta: A
Comentário: As queimaduras de espessura parcial têm indicação de transferência para centro
especializado quando maior do que 10% SCQ, exceto quando envolve face, cabeça, pescoço,
mão, pé, articulação e genitália.
Atividade 22
Resposta: B
Comentário: A estimativa da área queimada é de 20 a 30%, conforme pode-se verificar na Figura 7.
Atividade 23
61
Resposta: A fórmula de Parkland é 3mL/kg/SCQ em 24 horas, então, 3mL × 35kg × 22SCQ =
Atividade 24
Resposta: O tratamento para intoxicação com CO é oferecer O2 a 100% até que o nível de COHb
atinja o valor normal.
Atividade 25
Resposta: D
Comentário: Lesões tem eritema que empalidecem a digitopressão, áreas esbranquiçadas típicas
das lesões de espessura total.
Atividade 26
Resposta: C
Comentário: Paciente com 12% SCQ, com áreas de espessura total deve ser transferido para
tratamento em um centro especializado. A ressuscitação com fórmula de Parkland tem indicações
em pacientes com SCQ maior do que 15%. Os curativos de longa permanência podem ser usados
em qualquer momento da evolução.
Atividade 27
Resposta: C
Comentário: Pacientes com queimadura extensa (> 15–20% SCQ) apresentam SRIS persistente. É
considerado sepse quando há piora da curva térmica (> 39ºC), taquicardia e taquipneia progressiva
e incapacidade de alimentação enteral. Geralmente, a infecção ocorre após a primeira semana.
Deve-se monitorizar também o aspecto da ferida. Não está indicado o uso de antibiótico profilático.
Na suspeita de sepse, deve-se iniciar antibioticoterapia sistêmica com cobertura para S. aureus.
Atividade 28
Resposta: A
Comentário: Paciente com desconforto respiratório, estridor, queimadura de face e alteração de
nível de consciência com suspeita de inalação de gases tóxicos devem ter intubação precoce. Na
suspeita de intoxicação por CO deve-se oferecer O2 a 100%, independente da SatO2, até que os
níveis de COHb retornem ao normal. O uso de antibiótico e corticoide profiláticos é contraindicado.
■■ REFERÊNCIAS
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