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Medgrupo - Ciclo 2: M.E.

D Clínica Médica - Volume 4 2

VÍDEO DE INTRODUÇÃO

Síndrome Metabólica 2
Diabetes e Obesidade

Diagnóstico Diferencial B) Estado Hiperglicêmico Hiperosmolar


(Hypothesis) Fisiopatologia
Manifestações Clínicas
Seção 1: Diagnóstico
Diabetes Mellitus Tratamento
Conceitos Gerais Complicações
Introdução 2) Hipoglicemia
Fisiopatologia Fisiopatologia
Classificação Diagnóstico
1) Diabetes Mellitus Tipo 1 Tratamento
2) Diabetes Mellitus Tipo 2
3) Tipos Específicos de Diabetes Mellitus Complicações CRÔNICAs do Diabetes
4) Diabetes Gestacional Complicações Microvasculares
Diagnóstico
1) Retinopatia Diabética
1) Rastreamento de Diabetes
2) Nefropatia Diabética
2) Diagnóstico de Diabetes
3) Neuropatia Diabética
3) Risco Aumentado de Diabetes
4) “Pé Diabético”
Tratamento
5) Manifestações Dermatológicas
Controle da Glicemia
Complicações Macrovasculares
Controle de Outros Fatores de Risco
Cardiovasculares Outras Morbidades Associadas
A) Hipertensão Arterial
B) Dislipidemia Seção 2:
C) Obesidade Obesidade
D) Efeitos Antitrombóticos (Antiplaquetários) Definição e Epidemiologia
E) Cessar Tabagismo Fisiopatologia
Como Controlar a Glicemia no DM Tipo 1? Etiologia
A) Tipos de Insulina Manifestações Clínicas
B) Esquemas Terapêuticos Diagnóstico
C) Outras Terapias Tratamento
Como Controlar a Glicemia no DM Tipo 2? 1)Tratamento Clínico
A) Dieta e Atividade Física 2)Tratamento Cirúrgico
B) Antidiabéticos Cirurgias Predominantemente Disabsortivas
C) Organizando o Tratamento Cirurgias Predominantemente Restritivas
Cirurgias Restritivas
Complicações Agudas do Diabetes
1) Crises Hiperglicêmicas MED R3 - CLÍNICA MÉDICA
A) Cetoacidose Diabética
Fisiopatologia MED R3 - CIRURGIA
Manifestações Clínicas
Diagnóstico Área de Treinamento M.E.D
Tratamento Questões DE CONCURSOS
Complicações comentários

clínica médica - VOLUME 4


M.E.D - 2017
Angélica, 16, anos procura atendimento ginecológico no
1 por tentoso consultório do Dr. Charla Town por conta de prurido
Caso vulvar e secreção vaginal esbranquiçada. Esta queixa já dura alguns meses, sendo
frequente a utilização de agentes tópicos que levam apenas à resolução temporária.
Nos últimos meses, vem apresentando também poliúria, emagrecimento não associado a qualquer
tipo de dieta e com apetite preservado e episódios sucessivos de infecção urinária. Refere nunca ter
praticado qualquer tipo de modalidade sexual e que até o momento só teve dois namorados, um deles
hoje é seminarista e o outro estilista. Relata também ciclos menstruais regulares, sendo o último há 1
semana e nega a utilização de drogas intravenosas. Traz consigo alguns exames realizados anteriormente
por conta das queixas urinárias, quando encontramos: Hb 14 g/dl; Ht 42%; Leucócitos 14.000 cels/
mm3; VHS 30 mm/h; EAS com pH 7,0 / piúria exuberante / 6 hemácias por campo; glicosúria 4+/4+.
Neste momento, Dr. Charla Town, desconfiado de alguns relatos da paciente, solicita sorologia para
vírus HIV e sífilis sendo todas negativas após repetição em 3 laboratórios diferentes.

Qual a principal hipótese diagnóstica para o caso?

Qual seria a fisiopatologia relacionada?

Esse diagnóstico pode ser confirmado no momento?

4
Supondo a confirmação diagnóstica para Angélica, defina um
esquema terapêutico para esta paciente:

Caso 2
Mary Montanha é uma lutadora de sumô em treinamento
para o Campeonato Mundial a ser disputado no
Japão. Nessa preparação, ela dorme 14 horas,
chega a fazer oito horas diárias de medi-
tação e, no restante do dia, dedica-se a
uma alimentação à base de 5.000 kcal/
dia. Antes de embarcar, foi obrigada a
realizar alguns exames laboratoriais de
rotina. Hoje ela traz esses exames para
você, sendo que a única alteração é uma
glicemia de jejum de 180 mg/dl. Mary
tem IMC de 34 kg/m2 e circunferência
abdominal de 92 cm.
A respeito deste caso, pergunta-se:

Qual seria a fisiopatologia da hiperglicemia


de Mary Montanha?

Podemos afirmar que Mary é diabética?

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Caso fosse confirmado o diagnóstico, qual seria a primeira
medida terapêutica para o caso de Mary Montanha?

E se o controle glicêmico não for adequado apenas com esta medicação?

Caso 3

os , sa bid am en te dia bé tic a há 20 an os , fu nc ionária


Maria Bromélia, 58 an sua repar tição pelas
pública pre ste s a se ap os en ta r, é co nh ec ida em
licen ça s mé dic as qu e já tir ou . Na pr im ei ra, o motivo foi a
inúmeras a im possibilitavam de
urina es pu mo sa e a inc on tin ên cia uri ná ria qu e
s fo ra da se cre ta ria . C he go u a inv es tig ar , mas o
frequentar compromisso or ie nt ou qu e uti liz as se fraldas
ginecologista disse qu e es ta va tud o no rm al e
os de po is, fo i a hi stó ria de qu e "e sta va fic ando
ocasionalmente. Temp lic ad o co m "ra io las er". Para
cega" e que precisava fa ze r um tra ta me nt o de
en ça ac on te ce u há um a se ma na , qu an do rel atou
completar, a última lic pé dir ei to . O pa trã o de
um "formigamento" na s pe rn as e um a fe rid a no
de sc on te nt e e pro cu ro u a op ini ão de um mé dico do
Maria Bromélia está on te cendo...
trabalho pa ra en te nd er me lho r o qu e es ta va ac

Como associar todas as licenças médicas de Maria


dentro de uma doença?

6
Como essas licenças poderiam ser prevenidas?

Estudante do ensino médio é levado à sala de enfermagem do colégio


a s o 4 após apresentar mal-estar durante a aula de Educação Física. Nega qualquer
C doença prévia ou uso de medicações regulares. Ao exame, mostra-se hipocorado
+/4+, hipo-hidratado ++++/4, afebril, taquipneico e torporoso. Mensurada
glicemia capilar pelo glicosímetro que mostrava 400 mg/dl. Enquanto o médico responsável
pela sala de atendimento não chegava, um astuto acadêmico de Medicina decidiu aplicar
uma injeção subcutânea de 20 unidades de insulina regular. Quando o médico responsável
chegou ao recinto, uma surpresa: o acadêmico já havia intubado e iniciado procedimentos
de ressuscitação cardiopulmonar.

Qual a principal hipótese diagnóstica deste paciente e o


que levou à piora no seu quadro?

Como este caso deveria ser conduzido?

Em que momento poderíamos dizer que o quadro está controlado?

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Jovem de 22 anos, sexo feminino, sabidamente por ta-
Prescrição dora de diabetes mellitus tipo 1 há 8 anos, dá entrada no
pronto-socorro com quadro de febre, disúria, poliúria, dor
abdominal e confusão mental. Familiares referem que, após
brigar com o namorado, a paciente passou a transgredir sua dieta com mais frequência e a abandonar
o esquema terapêutico baseado em 4 aplicações diárias de insulina. Ao exame físico, apresentava-se
emagrecida, bastante desidratada, taquipneica, PA 100 x 60 mmHg, FC 120 bpm, ritmo cardíaco
regular, bulhas hiperfonéticas, sem sopros, MVUA sem ruídos adventícios. Sinal de Giordano positivo.
Realizados exames iniciais que mostravam Hb 11g/dl; Ht 34%; leucócitos 12.000/mm3 com 8% de
bastões; glicemia de 500 mg/dl; pH = 7,2; bicarbonato 15 mEq/; pCO2 29 mmHg; BE = - 3.
Com base no quadro, qual seria sua prescrição para esta paciente?

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Mulher de 28 anos é internada para
investigação de anemia e dor abdominal sob os
cuidados do eminente Dr. Charla Town. Não relata morbidades
prévias e não faz uso de qualquer medicação regular. Hábito intestinal preservado,
negando a presença de fezes gordurosas ou sanguinolentas, bem como peso corporal mantido nos
últimos meses.

Ao exame físico, as principais alterações identificadas foram presença de hipotensão postural


assintomática e distribuição de lesões hiperpigmentadas nas unhas e região palmar (foto). Uma discreta
queilite angular também podia ser observada. Ainda sob acompanhamento ambulatorial, havia realizado
endoscopia digestiva alta, cuja alteração predominante fora o achado de gastrite crônica atrófica.
Sem saber por onde prosseguir, o Dr. Charla Town mandou um e-mail à
equipe acadêmica da sua faculdade de formação, que
o orientou sobre algumas hipóteses diagnósticas e os
exames necessários para o diagnóstico.

Aflito, este prestigiado médico de formação profícua


retorna o e-mail, dois dias depois, com os seguintes
resultados: Hb 10,8 mg/dl; Ht 33%; VCM 120 fl; HCM
30fl; Leucócitos 2.100/mm 3; Plaquetas normais;
Reticulócitos; Reticulócitos 0,8%; Glicose 280 mg/dl;
HbA1C 10%; Potássio 6 mEq/L; Sódio 124 mEq/L;
TSH 7,0 mUI/L; TSH 1,0 ng/dl. Exame de urina
com proteinúria +/4+ e glicosúria
+++/4+.

A respeito do caso, pergunta-se:

Qual o diagnóstico sindrômico deste paciente e quais os


achados que o levaram a pensar nesta condição?

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Que outras alterações poderiam ser esperadas?

Defina um esquema terapêutico para a hiperglicemia


deste paciente:

a m e n t o Abaixo você encontrará cinco fotografias da retina de pacientes


Trein co hiper tensos ou diabéticos. Cite as alterações marcadas pela seta, a
Práti doença a que estão relacionadas e o estadiamento adequado.

Figura 1

Achado:
Doença:
Estágio:

Figura 2

Achado:
Doença:
Estágio:

Figura 3

Achado:
Doença:
Estágio:

10
Figura 4

Achado:
Doença:
Estágio:

Figura 5

Achado:
Doença:
Estágio:

Caso Extra
Nhonho é dono de uma famosa
lanchonete da região. Cozinheiro
de mão cheia, não percebeu que
seu peso vinha aumentando
nos últimos anos e que
isso lhe trouxera
consequências. Mostra-
-se cansado, indisposto
e acordando com muito
sono. Assim, procurou
atendimento médico. Em
suas anotações, este registrou
peso de 120 kg, altura de
1,70 m e circunferência
abdominal de 110 cm. Descreveu,
em seguida, a presença de uma
cicatriz de bordas elevadas na
região subcostal direita. Detectou
ainda, no exame do aparelho
cardiorrespiratório, redução da
expansibilidade torácica, ritmo cardíaco
irregular, FC de 110 bpm e PA de 160 x 100 mmHg. Ao avaliar o
aparelho locomotor, notou crepitações nos dois joelhos. Na tentativa de completar o
exame físico, Nhonho não concordou em se submeter ao toque retal. Apesar
de explicar a necessidade do exame, o paciente, ainda assustado com a
presteza do atendimento, deixou-o para a próxima ocasião.

Em relação ao caso, responda.

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Como classificar este paciente de acordo com o IMC?

Que alterações decorrentes da obesidade ele apresenta?


Qual pode ter sido a preocupação do médico com a realização do toque retal?

Quando indicar e quais os tratamentos não-cirúrgicos


disponíveis?

Quando indicar e quais os tratamentos cirúrgicos disponíveis?

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Diabetes Mellitus

N a primeira apostila relacionada à síndrome metabólica,


abordamos principalmente a hipertensão arterial, a dislipidemia
e a aterosclerose. Dando continuidade ao tema, falaremos agora
de diabetes e de obesidade. Mais uma vez, vamos reforçar: atenção
máxima a esse que é um dos assuntos mais frequentes nas provas
de residência!!! Adiante!

Conceito: doença do metabolismo inter- Diagnóstico:


mediário, caracterizada por hiperglicemia e Rastreamento de Diabetes:
suas complicações agudas (cetoacidose dia-
bética, estado hiperglicêmico hiperosmolar, (1) qualquer pessoa a partir dos 45 anos
hipoglicemia) e crônicas (microvasculares e de idade.
macrovasculares).
(2) independentemente da idade, se tiver so-
O que é o metabolismo intermediário? brepeso (IMC > 25 kg/m2 ou > 23 kg/m2 em
Conjunto de reações responsáveis pela síntese asiáticos) e, pelo menos, um dos fatores
(anabolismo) e degradação (catabolismo) dos de risco abaixo:
nutrientes. Insulina = anabolismo x hormônios • História familiar de DM em parente de pri-
contrainsulínicos (glucagon, cortisol, GH, adre- meiro grau.
nalina) = catabolismo.
• Etnicidade de risco (negros, hispânicos,
Classificação: são quatro classes: nativos americanos, asiáticos, moradores
• DM tipo 1. de ilhas do Pacífico).
• DM tipo 2. • Hipertensos (PA ≥ 140 x 90 mmHg ou em
• Tipos específicos (genéticos, endocrinopa- tratamento para hipertensão).
tias, drogas, etc.). • Dislipidemia (HDL-c < 35 mg/dl e/ou trigli-
• Diabetes gestacional. cerídeos > 250 mg/dl).

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• Sedentarismo. * Padrão-ouro = bomba de infusão contínua.


• Síndrome dos ovários policísticos. Transplante de pâncreas em casos selecio-
• História de doença cardiovascular. nados.
• História prévia de glicemia alterada ou in- DM tipo 2: terapia não farmacológica / anti-
tolerância à glicose ou HbA1c ≥ 5,7%. diabéticos / insulinoterapia / pramlintida. Os
• História de diabetes gestacional ou RN antidiabéticos podem ser drogas:
com peso > 4 kg. (1) que reduzem a resistência insulínica;
• Outras condições associadas à Síndrome (2) que estimulam a célula beta a secretar
Metabólica (ex.: acantose nigricans, obe- mais insulina;
sidade mórbida). (3) que reduzem ou retardam a absorção
intestinal da glicose;
Diabetes: (4) incretinomiméticas (inibidores DPP-4 e
• Glicemia de jejum ≥ 126 mg/dl ou TOTG-75 análogos GLP-1);
(2h) ≥ 200 mg/dl ou HbA1c≥ 6,5% em, pelo (5) que atuam no túbulo renal proximal (ini-
menos, duas ocasiões. bidor SGLT2).
• Glicemia casual ≥ 200 mg/dl associada a Que drogas levam à redução do peso? Mef-
sintomas típicos. tormin, análogo GLP-1 e inibidor SGLT2.
Que drogas causam hipoglicemia? Sulfoni-
Risco aumentado de diabetes (pré-diabetes): lureia e glinida.
• Glicemia de jejum 100-125 mg/dl; TOTG 140-
Que drogas levam à redução da glicemia
199 mg/dl; HbA1c 5,7-6,4%.
pós-prandial? Acarbose, glinidas e increti-
nomiméticas.
Tratamento:
* Principais Metas: * Conduta:
• HbA1c < 7%. Terapia inicial = mudança no estilo de vida +
• PA < 140/90 mmHg. metformina.
* Terapia: Se não atingir alvo = associar antidiabético
DM tipo 1: terapia não farmacológica + insu- oral ou agonista do GLP-1 ou insulina.
linoterapia + pramlintida. Hiperglicemia refratária à terapia combinada;
* Conhecer as características das principais glicemia > 250-300 mg/dl; sintomas francos
insulinas (NPH, Regular, Glargina e Lispro). = insulinoterapia plena.
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conceitos gerais

Introdução ou seja, a síntese de macromoléculas, como


glicogênio, proteínas e triglicerídeos. Aliás, é
Gostando ou não de Endocrinologia, todos te- por isso que insulina “engorda”... A insulina,
mos algumas noções básicas sobre diabetes, naturalmente, possui uma secreção basal pe-
já que é uma doença do dia a dia de qualquer las células betapancreáticas, mas o principal
médico e até mesmo do leigo. Por conta disso, estímulo para sua secreção é o aumento da
não vamos fazer um “tratado” sobre o tema glicemia que ocorre após as refeições (estado
como fazem corriqueiramente os livros de pós-prandial).
referência, mas abordar a doença da forma
mais objetiva e atualizada possível. (2) Hormônios contrainsulínicos: como
em todos os sistemas do organismo, todo
Em primeiro lugar, vamos entender a impor- mecanismo de regulação é composto de um
tância do assunto que estamos tratando. A agonista e um antagonista. É o caso, por
prevalência de DM aumentou acentuadamen- exemplo, do sistema de coagulação. Se só
te em todo o mundo, nos últimos anos. Em existissem fatores de coagulação, qualquer
1985, eram cerca de 30 milhões de casos, lesão tecidual levaria a uma grave condição
elevando-se para 382 milhões em 2013 e clínica conhecida como coagulação intravas-
previsão para 471 milhões em 2035!!! Esse cular disseminada. Por isso, é necessário um
aumento é muito mais significativo para o sistema fibrinolítico para controlar a formação
DM tipo 2, graças a sua associação com de coágulos. No caso do metabolismo inter-
obesidade e sedentarismo – dois grandes mediário, antagonizando os efeitos da insulina,
problemas do mundo atual. Cerca de 80% temos quatro hormônios principais. São eles:
desses pacientes vivem em países em de-
senvolvimento. No Brasil, no final da década • Glucagon - produzido pelas células alfa das
de 1980, estimou-se a prevalência de DM ilhotas do pâncreas.
na população adulta em 7,6%; dados mais
recentes apontam para taxas mais elevadas, • Adrenalina - produzida pela medula su-
como 13,5% em São Carlos-SP e 15% em prarrenal.
Ribeirão Preto-SP. Em 2014, estimou-se que
existiriam 11.933.580 pessoas com diabetes • Cortisol - produzido pelo córtex suprarrenal.
no país, na faixa etária de 20 a 79 anos, po-
dendo alcançar 19 milhões em 2035. • GH - produzido na adenoipófise.

Quanto à definição clássica dos livros para o Os hormônios contrainsulínicos são todos hi-
diabetes, quem é que nunca viu??? Diabetes perglicemiantes. Eles provocam a hiperglicemia
é um distúrbio do metabolismo intermediário, ao estimular a produção hepática de glicose,
caracterizado pelas complicações agudas ou através de uma reação bioquímica – a glico-
crônicas da hiperglicemia... Percebam que não neogênese!! A gliconeogênese hepática é
se pode entender diabetes, sem que alguns um processo que transforma os produtos não
aspectos do nosso metabolismo sejam recor- glicídicos do catabolismo (glicerol, aminoáci-
dados... Então vamos iniciar por ele! dos) em glicose que, por sua vez, é liberada
na corrente sanguínea. No jejum prolongado,
a gliconeogênese é essencial, sendo a res-
Fisiopatologia ponsável por manter os níveis glicêmicos após
se esgotarem as reservas de glicogênio (após
Inicialmente, devemos lembrar que a home- 12-48h). Embora no estado de jejum, os ácidos
ostase do nosso organismo depende de um graxos, provenientes do catabolismo lipídico
conjunto de reações responsáveis pela síntese (lipólise), possam ser utilizados na maio-
(anabolismo) e degradação (catabolismo) de ria das células como substrato energético, os
proteínas, carboidratos e lipídios a que chama- neurônios precisam da glicose para manter a
mos de Metabolismo Intermediário. E para sua função...
regular essas reações de anabolismo e catabo-
lismo, nosso organismo desenvolveu dois gru- Por conta disso, dizemos que estes hormônios
pos hormonais principais que se “revezam” em também deflagram o catabolismo, ou seja, a
suas funções de acordo com as necessidades: “quebra” das macromoléculas, liberando subs-
a insulina e os hormônios contrainsulínicos. tratos, como glicose, glicerol, ácidos graxos
e aminoácidos, necessários ao organismo
(1) Insulina: promove a entrada de glicose durante o jejum prolongado e o estado de
nas células, além de estimular a sua utilização estresse, clínico ou cirúrgico. O efeito desses
como principal substrato energético para a cé- hormônios só é percebido quando há defici-
lula. A insulina também deflagra o anabolismo, ência na ação insulínica.

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Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 16

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011


INSTITUTO DE CARDIOLOGIA
DO RIO GRANDE DO SUL – RS
O efeito da insulina sobre o transporte de
glicose é:
a) Permitir o transporte contra um gradiente
Figura 1: Balança hormonal do Metabo-
de concentração.
lismo Intermediário. b) Aumentar o transporte através do epitélio
tubular renal.
c) Aumentar o transporte para o cérebro.
d) Aumentar o transporte através da mucosa
intestinal.
e) Aumentar o transporte através da mem-
brana celular.

Vamos aproveitar e aprender mais um pou-


co com a questão. A insulina tem uma ação
absolutamente anabólica, isto é, ela armaze-
na nutrientes no interior celular. Deste modo,
com relação ao transporte de glicose (a prin-
cipal fonte energética de nossas células!),
Figura 2
sua ação é aumentá-lo através da membrana
celular, especialmente nas fibras musculares
e adipócitos, onde ele é mediado pelo trans-
Mais recentemente, outros fatores também portador GLUT-4 (um sinal insulínico resulta
passaram a ser considerados fundamentais na translocação do GLUT-4 para a membra-
e deram origem a novos medicamentos an- na celular), o que facilita a entrada de glicose
tidiabéticos, entre eles os hormônios incretí- nestes tecidos. Resposta: letra E.
nicos GLP-1 e GIP (peptídeo semelhante ao
glucagon tipo 1 e peptídeo inibitório gástrico, Agora observe esta questão...
respectivamente) e a amilina.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2005
Normalmente​​, a ingestão de alimentos resul- ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA – UNIFESP
ta na liberação de peptídeos gastrointestinais Resposta ao estado de jejum prolongado e
(GLP-1 e GIP), bem como hormônios pancre- declínio da glicemia, é correto afirmar que a
áticos das células beta (insulina e amilina). secreção de insulina é:
Tanto GLP-1 como amilina têm efeitos inibitó- a) Mantida, mas sua ação é prejudicada pelo
rios sobre o esvaziamento gástrico, liberação aumento do glucagon, resultando em redução
de glucagon e o apetite. Após a absorção dos na captação de glicose, aumento de glicoge-
alimentos, GLP-1 e GIP promovem a secre- nólise, lipólise, proteólise e neoglicogênese.
ção de insulina (efeito incretínico na secre- b) Mantida, pois depende da ativação simpá-
ção de insulina glicose-dependente). Assim, tica que aumenta no estado de jejum, resul-
o controle homeostático da glicemia (alterado tando em redução na captação de glicose,
no diabetes) poderia ser reduzido na figura aumento da glicogenólise, lipólise, proteólise
seguinte. Mais adiante o conceito ficará mais e neoglicogênese.
claro com a descrição das drogas. c) Mantida, mas sua ação é prejudicada, resultan-
do em redução na captação de glicose, aumento
da glicogenólise, lipólise e neoglicogênese.
Conceito
d) Suprimida, resultando em redução na cap-
Diabetes mellitus é uma desordem metabólica tação de glicose, redução da glicogenólise,
crônica decorrente do estado de hipoinsuli- aumento da lipólise, formação de corpos ce-
nismo. Ou seja: uma deficiência absoluta (na tônicos e neoglicogênese.
produção) e/ou relativa (no efeito periférico) e) Suprimida, resultando em redução na cap-
da insulina! Em virtude da sua deficiência, os
tação de glicose, aumento de glicogenólise,
efeitos dos hormônios contrainsulínicos irão
lipólise, proteólise e neoglicogênese.
predominar, exagerando as reações bioquími-
cas típicas do estado de jejum: gliconeogênese
exacerbada, lançando uma alta da taxa de Uma questão antiga, porém conceitual que
glicose no sangue, além de um estado catabó- mantivemos para iniciar o capítulo! A resposta
lico, com a “queima” de glicogênio, proteína e fisiológica hormonal ao estado de jejum pro-
triglicerídeos, liberando na corrente sanguínea longado e à queda inicial da glicemia precisa
mais glicose, aminoácidos, glicerol e ácidos ser de tal forma que consiga manter e restau-
graxos. Além disso, após uma refeição ou após rar o estado euglicêmico, permitindo a boa
uma carga oral de glicose, o hipoinsulinismo função dos neurônios do SNC. Para isso, tem
impedirá a captação de glicose pelas células que haver supressão da produção de insuli-
(especialmente as células musculares es- na e ao mesmo tempo aumento da produção
queléticas). O resultado será a hiperglicemia, dos hormônios contrainsulínicos (glucagon,
mantida mesmo no estado de jejum e agrava- adrenalina, cortisol, GH). A combinação da
da após uma refeição. Ao longo dos anos, se elevação plasmática desses hormônios com a
não tratado adequadamente, serão quadros supressão de insulina modifica as reações bio-
de AVE, IAM, nefropatia, retinopatia... químicas celulares para o catabolismo!!!
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 17

Assim, haverá “quebra” das macromoléculas: nológicos), deflagra-se uma resposta necroin-
glicogenólise, lipólise e proteólise. Os ácidos flamatória nas ilhotas pancreáticas, levando à
graxos livres liberados pela lipólise serão uti- destruição progressiva de praticamente todas
lizados pelo músculo e outros tecidos como as células betapancreáticas. Os achados da
substrato energético, no lugar da glicose. O doença não se tornam evidentes até que se
glicerol e alguns aminoácidos oriundos do destrua pelo menos 70-80% delas. Isto é,
catabolismo serão usados no fígado para a quando o paciente abre o quadro clínico, o
gliconeogênese, principal reação bio- faz de forma abrupta, pois o seu pâncreas
química que garante os níveis glicêmicos no não secreta mais insulina!!! O marcador la-
jejum prolongado. Portanto, não pestaneje: boratorial da destruição completa das ilhotas
Resposta E. pancreáticas é o peptídeo C indetectável ou
em níveis abaixo de 0,1 ng/dl. Podemos dizer,
portanto, que o problema é a falta de produ-
Classificação ção de insulina! Infelizmente, a destruição das
ilhotas pancreáticas é irreversível... (figura
Sabemos que existem basicamente dois tipos 3A). Sem nenhuma insulina circulante, no
de diabetes mellitus: DM tipo 1 (5-10%) e DM DM tipo 1 as reações catabólicas chegam
tipo 2 (90-95%). Ambos os tipos têm em co- ao extremo e a lipólise segue sem nenhuma
mum a deficiência (absoluta ou relativa) na pro- restrição, lançando na circulação uma quan-
dução de insulina pelo pâncreas, mas só o tipo tidade enorme de ácidos graxos, que serão
2 apresenta um importante componente de au- convertidos em corpos cetônicos no fígado.
mento da resistência periférica insulínica. Va- Tal estado descontrolado de cetogênese ex-
mos entender bem estas diferentes condições. plica a constante tendência a desenvolver a
cetoacidose diabética, uma síndrome letal na
ausência da reposição da insulina exógena. O
1– Diabetes Mellitus Tipo 1 estado catabólico acentuado justifica o preo-
cupante emagrecimento destes pacientes, e
É uma doença autoimune!!! Por uma intera- a hiperglicemia explica a poliúria osmótica,
ção de fatores (genéticos, ambientais e imu- acompanhada de polidipsia.

Figura 3A Figura 3B

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 à dosagem desse hormônio, principalmente


UNIVERSIDADE FEDERAL DO relacionado à sua curta meia-vida (em torno
ESTADO DO RIO DE JANEIRO – UNIRIO de quatro minutos). É aí que temos de nos
Desejando estabelecer se paciente idoso, com lembrar do peptídeo C, molécula produzida e
diabetes tipo 2 de longa duração, mantém secretada em conjunto com a insulina pelas
preservada alguma produção endógena de células beta do pâncreas, que pode ser con-
insulina, você solicitaria: siderada como um marcador independente
a) Frutosamina. da secreção de insulina. Ele possui algumas
b) Peptídeo C sérico. vantagens em relação à determinação da
c) Microalbuminúria. insulina plasmática como a meia-vida mais
d) Hemoglobina glicosilada. longa (30 minutos) e o fato de não sofrer
e) Anticorpo anticélula B. metabolização hepática significativa, além
de um clearance mais previsível. Resposta:
Obviamente a dosagem da própria insuli- B. Apenas para acrescentar, alguns estudos
na para avaliar a função da célula beta, em já chegaram a examinar a relação entre pep-
um primeiro momento, poderia ser pensado tídeo C e complicações crônicas no DM1,
como o teste mais prático e rápido. Entretanto como no “Diabetes Control Clinical Trial”, em
existem algumas desvantagens com relação que a presença de peptídeo C detectável foi
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 18

associada à redução da incidência de retino- d) Anticorpo antitireoperoxidase (anti-TPO).


patia e nefropatia. Por outro lado, pacientes e) Anticorpo antidescarboxilase do ácido glu-
com peptídeo C < 0,2 nmol/l apresentaram tâmico (anti-GAD).
um risco 4,6 vezes maior de progressão da
retinopatia e desenvolveram 4,4 vezes mais Vejamos um grande rodapé com essa
albuminúria do que os demais. Além disso, questão! Sabendo que o diabetes tipo I é uma
foi proposto um papel terapêutico para o doença autoimune contra as ilhotas pancre-
peptídeo C, no controle e possível remissão áticas, é claro que surgem no plasma auto-
da nefropatia e retinopatia diabética. Alguns anticorpos voltados para estruturas antigêni-
estudos randomizados em humanos diabéti- cas presentes nas próprias ilhotas. Embora o
cos tipo 1 mostraram melhora da função renal anticorpo anti-insulina seja o primeiro a apa-
quando estes pacientes foram submetidos à recer e também o presente em títulos mais
administração de insulina e curtos períodos elevados em crianças mais novas com DM1,
de peptídeo C. eles estarão presentes dentro de duas sema-
nas em qualquer paciente que utilize insuli-
na subcutânea. Ou seja, num paciente com
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 diagnóstico há dois anos e provavelmente já
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS – PE usando a insulina, este já não seria o melhor
Paciente com 18 anos de idade chega a Per- marcador... O anti-GAD, por sua vez, também
nambuco com diagnóstico de diabetes mellitus é comum (70% dos pacientes) e pode per-
tipo 1 há 2 anos. Pensando na confirmação manecer positivo após dez anos em até 50%
diagnóstica, qual dos anticorpos abaixo apre- dos casos. Por essa razão, é normalmente
senta a maior chance de ainda estar positivo? o marcador autoimune ideal na investigação
a) Anticorpo anti-insulina. de pacientes com DM de longa duração, para
b) Anticorpo antitirosina-fosfatase (anti-IA2). classificação etiológica adequada. Resposta:
c) Anticorpo anti-ilhota de Langerhans (ICA). letra E.

Observação 1: O que é mesmo o peptídeo C? A insulina sintetizada pelas células beta do pân-
creas é armazenada como pró-insulina e composta de duas cadeias (A e B) unidas pelo peptídeo
C. Durante a secreção de insulina, o peptídeo C é clivado por uma protease e liberado conjun-
tamente com o hormônio.Resumindo, trata-se de um peptídeo produzido e liberado em conjunto
com a insulina pelas células beta das ilhotas pancreáticas. Quando as células estão destruídas
(DM tipo 1), os seus níveis séricos geralmente são indetectáveis. Quando viáveis (DM tipo 2), os
seus níveis encontram-se acima de 0,1 ng/dl.
Observação 2: A susceptibilidade genética para o DM tipo 1 está localizada principalmente no
cromossomo 6, na região do sistema antígeno leucocitário humano (HLA DR3/DR4). Polimorfis-
mos nos genes da insulina, CTL-4, receptor de IL-2A e PTPN22 também estão relacionados. A
concordância entre gêmeos monozigóticos se situa entre 40-50%. Embora o risco de desenvolver
DM tipo 1 seja 10x maior em parentes de pacientes com este tipo de diabetes, o risco em si é
baixo (3-4% se os pais são diabéticos) e a maioria dos portadores de DM tipo 1 não tem parentes
de primeiro grau com a doença.
Observação 3: Outro dado importante: por ser autoimune, autoanticorpos geralmente estão pre-
sentes na circulação, voltados contra estruturas antigênicas das ilhotas pancreáticas (anti-ICAs
– anticorpos Anti Células da Ilhota). Eles podem aparecer meses ou anos antes do diagnóstico
clínico e em até 90% dos indivíduous quando se detecta a hiperglicemia. Os principais são anti-
-insulina (primeiros a aparecer), anti-GAD (antidescarboxilase do ácido glutâmico), anti-IA-2/
ICA 512 (antiproteína 2 associada ao insulinoma ou seu fragmento de clivagem ICA 512 ou sim-
plesmente antitirosina fosfatases), anti-ZnT8 (antitransportador de Zinco). O DM tipo 1 pode se
associar a outras endocrinopatias autoimunes, configurando a síndrome de Schmidt, ou sín-
drome poliglandular autoimune tipo II: doença de Addison + tireoidite de Hashimoto + DM tipo 1.
Anemia perniciosa e vitiligo também podem participar da síndrome.
Observação 4: O diabetes tipo 1 pode ser ainda subclassificado em 1A e 1B. O tipo 1A seria o
que acabamos de discutir, de origem autoimune, predominante em caucasianos. Mas existe tam-
bém o tipo 1B, idiopático, mais comum em negros e asiáticos, em que não se encontram autoan-
ticorpos. É importante destacar também que existe uma forma lentamente progressiva em adultos
conhecida como LADA (Late-onset Autoimmune Diabetes of Adulthood). São indivíduos com DM
autoimune, mas cuja destruição das ilhotas pancreáticas evolui de forma mais lenta e tardia. No
início do quadro, alguns até respondem aos diabéticos orais, por meio das células beta que ainda
não foram destruídas. Porém, ao longo dos próximos meses, a regra é a dependência de insulina.

2 – Diabetes Mellitus Tipo 2 ser levantada. Não há destruição das ilhotas


pancreáticas (peptídeo C acima de 0,1 ng/dl)
É uma doença genética precipitada por fa- e nem fenômeno autoimune (autoanticorpos
tores ambientais!!! É justamente neste tipo negativos). (figura 3B).
de diabetes, responsável por 90% de todos
os diabéticos, em que a questão “deficiência O fato é que 80% dos diabéticos tipo 2 são
de insulina versus resistência insulínica” deve obesos, apresentando uma obesidade do tipo
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 19

androgênica, ou seja, abdominovisceral. Esta sidade), contudo nesses indivíduos predomina


obesidade não é causada pelo diabetes (dia- a disfunção das células beta e a insulinopenia.
betes causa emagrecimento), mas certamen-
te é um importante fator contribuinte para a Para completar, segundo a ADA, existiriam
causa do diabetes. Obesidade androgênica ainda mais dois tipos de diabetes:
provoca resistência periférica à insulina –
nunca esqueça esse conceito! Mas também
é fato que somente a minoria dos obesos 3 – Tipos Específicos de
abdominoviscerais se tornam diabéticos... Diabetes Mellitus
Conclusão direta: o aumento da resistência
periférica insulínica não é suficiente para cau- São representados por causas menos comuns
sar diabetes mellitus! e de apresentação clínica variada.

Na verdade, existem indivíduos geneticamen-  Defeitos genéticos na função das células


te predispostos a desenvolver o DM tipo 2. beta: MODY 1, 2, 3, 4... (Maturity Onset
A genética tem total influência neste tipo de Diabetes of the Young); DM mitocondrial.
diabetes! Tanto é que a concordância do DM
tipo 2 entre gêmeos univitelinos é superior a  Defeitos genéticos na ação da insulina:
80%, contra somente 30% para o DM tipo 1. resistência à insulina tipo A, leprechaunis-
O problema genético provavelmente está mo, síndrome de Rabson-Mendenhall, DM
no pâncreas, nas células beta das ilhotas! lipoatrófico.
As células beta desses pacientes não estão
preparadas para um estado de resistência  Doenças do pâncreas exócrino: pancrea-
insulínica. Numa pessoa sem predisposição tite, pancreatectomia ou trauma, neoplasia,
genética, a resistência insulínica apenas esti- fibrose cística, pancreatopatia fibrocalculosa.
mula o pâncreas a secretar mais insulina, ge-
rando hiperinsulinemia, suficiente para manter  Endocrinopatias: acromegalia, síndrome
o indivíduo euglicêmico. Ele então nunca se de Cushing, glucagonoma, feocromocitoma,
tornará diabético... Por outro lado, se houver somatostinoma, aldosteronoma.
a pré-disposição genética, a resistência
insulínica, ao “forçar” as células beta do  Induzido por medicamentos ou agentes
pâncreas a produzir mais insulina, induz químicos: toxinas, pentamidina, ácido nico-
um estado de disfunção, uma espécie de tínico, glicocorticoides, hormônio tireoidiano,
“fadiga secretória”. diazóxido, agonistas beta-adrenérgicos, tia-
zídicos, interferon alfa.
Esta disfunção é progressiva: quanto maior a
resistência insulínica, maior a hiperglicemia e  Infecções: rubéola congênita, citomegalovírus.
mais as células beta se tornam disfuncionan-
tes, formando-se um ciclo vicioso. Numa fase  Formas incomuns de DM autoimune: sín-
precoce, o pâncreas estimulado pode secretar drome stiff man, anticorpos antir­re­ceptores
mais insulina que o normal, gerando hiperin- de insulina.
sulinemia, porém insuficiente para evitar a hi-
perglicemia em casos de resistência insulínica  Síndromes genéticas: síndrome de Down,
acentuada!! Com o passar do tempo, a disfun- Klinefelter, Turner, ataxia de Friedreich, co-
ção beta avança e o pâncreas secreta cada reia de Huntington, síndrome de Laurence-
vez menos insulina (fase insulinopênica). Após -Moon-Biedl, Prader Willi.
10-20 anos de doença, muitos diabéticos tipo
2, não tratados adequadamente, apresentam Dentre estas condições, atentem para a MODY
deficiência quase absoluta da secreção pan- (Maturity-Onset Diabetes of the Young).
creática de insulina, acabando por necessitar Trata-se de uma doença genética com heran-
da reposição exógena desse hormônio. ça autossômica dominante (história familiar
positiva é a regra!), que acomete indivíduos
É importante ressaltar que todo este processo entre 10-30 anos (média: 20-25 anos) e que
pode ser contido ou até revertido, se a resistên- desenvolvem diabetes mellitus não autoimune,
cia insulínica e a hiperglicemia forem combati- geralmente assintomáticos ou oligossintomá-
dos na fase precoce do DM tipo 2 ou na fase ticos, obesos ou magros (mais comum). Exis-
pré-diabética. Uma medida de fundamental tem seis tipos de MODY, de acordo com o tipo
importância é corrigir a obesidade!! Por outro de gene afetado pela mutação. O mais comum
lado, se a disfunção das células beta já estiver é o MODY 3, cujo gene alterado é o HNF-1-
numa fase avançada, torna-se, pelo menos em -alfa (HNF = Hepatocyte Nuclear Factor),
parte, irreversível. Nesse ponto, o tratamento levando a uma secreção anormal de insulina.
poderá até abrandá-la, mas não revertê-la. O segundo tipo é o MODY-2, cujo gene alte-
rado é o da Glucoquinase (GCK), um sensor
E o diabético tipo 2 magro? de glicose. Os demais quatro tipos são raros.
Os pacientes do grupo MODY representam o
Cerca de 20% dos diabéticos tipo 2 não têm obe- tipo mais comum de diabetes monogênico e
sidade. Eles até possuem certo grau de resis- pela heterogeneidade do quadro podem ser
tência insulínica (por fatores diferentes da obe- confundidos com DM tipo 1 ou 2.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 20

4 – Diabetes Gestacional a) Diabetes Mellitus tipo II com insulinopenia.


b) Tolerância diminuída à glicose, sem diabetes.
Vamos recordar um detalhe sobre a fisiologia c) Diabetes Mellitus tipo I de início tardio.
da gravidez... Durante a gestação, é esperado d) Diabetes Mellitus tipo II do jovem.
o surgimento de um estado de intolerância à e) Diabetes Mellitus tipo I, em fase inicial.
glicose e hiperinsulinemia que predispõem ao
desenvolvimento de diabetes. Isso se deve à Questão que exige uma análise cuidado-
secreção placentária de hormônios hiperglice- sa. Este paciente jovem já tem critérios para
miantes, bem como ao maior depósito adiposo o diagnóstico de diabetes (conforme vere-
na gestante, maior ingesta calórica e redução mos logo em seguida) e queremos saber
da atividade física. Considerando que o diabe- qual tipo de diabetes ele possui. Os achados
tes gestacional traz importantes riscos para a clínicos são compatíveis com DM do tipo 2:
saúde maternofetal, existem recomendações circunferência abdominal aumentada, IMC
específicas para o rastreamento e diagnóstico de 28 (sobrepeso); assim, como os achados
nesta situação. Por ora, vamos apenas lembrar laboratoriais: um peptídeo C elevado indi-
este dado. Como se trata de um tema mais ca que o paciente não é insulinopênico (ou
específico, ele é discutido com suas particula- seja, não é DM tipo 1), já que o peptídeo C
ridades no módulo de Obstetrícia. é secretado na mesma quantidade que a in-
sulina; e o índice HOMA-IR, que é utilizado
para avaliar na prática a presença de resis-
Saiba Mais!
tência insulínica, seu cálculo é feito pela fór-
mula - glicemia de jejum (mmol/l = mg/dl:18)
Como diferenciar clinicamente DM tipo
x insulinemia de jejum (µU/ml)/22,5 – está
1 e DM tipo 2?
aumentado... Valores aumentados de HO-
DM tipo 1: MA-IR são encontrados em pacientes com
resistência insulínica, ou seja, pacientes tipi-
Geralmente se inicia antes dos 20 anos
(tipicamente entre 10-15 anos) e de forma camente DM tipo 2. Resposta: Letra D.
abrupta e sintomática (emagrecimento,
poliúria, polidipsia). A glicemia em geral
supera os 200 mg/dl. Os autoanticorpos Saiba Mais!
(anti-GAD, anti-IA-2...) são positivos e os
níveis séricos do peptídeo C são inferiores Apesar de comum a pesquisa de resistência à
a 0,1 ng/dl ou indetectáveis. Praticamente insulina no dia a dia, não há consenso sobre
todos os pacientes são magros e não res- quando e como avaliar este quadro. O que
pondem a antidiabéticos orais. Além dis- temos são métodos utilizados na pesquisa
so, sem insulina, acabam evoluindo para clínica como a técnica do clamp euglicêmico-
cetoacidose diabética. hiperglicêmico e o teste de tolerância à glicose
intravenosa, bem como cálculo de índices a
exemplo do HOMA-IR (Modelo de Avaliação
DM tipo 2: da Homeostase – Índice de Resistência).
Geralmente se inicia após os 45 anos e de Todos eles acabam sendo extrapolados para
forma insidiosa e assintomática. Os sinto- a prática, embora não haja recomendação
mas (poliúria, polidipsia, emagrecimento) formal de utilizá-los.
são tardios, quando a glicemia alcança
níveis acima de 200 mg/dl. Os autoanticor-
pos são negativos e os níveis séricos de
peptídeo C estão acima de 0,1 ng/dl. Cerca RESIDÊNCIA MÉDICA – 2007
de 80% dos pacientes têm obesidade. A ASSOCIAÇÃO MÉDICA
maioria (mesmo os magros) responde aos PARANAENSE – AMP
antidiabéticos orais. A cetoacidose diabética
é evento raro.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010


SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – BA
Paciente, 24 anos de idade, peso: 88 kg, altu-
ra: 1,76 m, circunferência abdominal: 101 cm,
TA: 135 x 85 mmHg, vem apresentando fa- Associe CORRETAMENTE os momentos 1,
diga acentuada e náuseas matinais. Antece- 2, 3, 4 e 5 às descrições abaixo:
dentes: história familiar de Diabetes mellitus. a) O pâncreas produz cada vez menos insuli-
Realizou exames que revelaram glicemia de na, chegando a níveis tão baixos que apenas
jejum: 112 mg/dl, glicemia pós-prandial de 2 pílulas não são mais suficientes. Neste ponto
horas 220 mg/dl, hemoglobina glicada (HbA é necessário iniciar injeções de insulina. As
1C): 8%. Peptídeo C em jejum: 5 mg/ml (VN > pílulas que diminuem a resistência à insulina
1,5 mg/ml). O cálculo do índice de HOMA-IR ainda podem ser usadas.
(modelo de avaliação da homeostase da gli- b) As células do corpo começam a ficar resis-
cose - “homeostatic model of assessement”) tentes à insulina. O pâncreas trabalha mais
foi de 5,6 (VN para o IMC do paciente: 0,4 para produzir mais insulina e compensar a
a 4,3). Esse paciente pode ser classificado resistência. Os níveis de glicose no sangue
como portador de: elevam-se acima do normal (glicose de jejum
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 21

alterada ou intolerância à glicose). Pessoas é feito o diagnóstico de DM tipo 2, o paciente


neste estágio encontram-se propícias a desen- já apresenta complicações crônicas do diabe-
volver o diabetes. Exercícios e a alimentação tes, como retinopatia, nefropatia, neuropatia,
saudável podem ajudar a prevenir ou retardar pois era diabético, mas nem sabia!!
o aparecimento do diabetes.
c) Antes do diabetes manifestar-se o pâncreas Atualmente, o rastreamento populacional
produz a quantidade certa de insulina. As cé- (“Screening”) para DM tipo 2 está indicado em
lulas do corpo usam a insulina corretamente. duas situações:
Assim o nível de glicose no sangue é normal;
d) A resistência à insulina continua a ser um 1- qualquer pessoa a partir dos 45 anos
problema e a produção de insulina continua de idade.
a diminuir. Ambos os problemas precisam de
tratamento neste estágio. Uma combinação 2- independentemente da idade, se tiver so-
de dois tipos de pílulas é geralmente prescrita. brepeso (IMC > 25 kg/m2 ou > 23 kg/m2) e,
e) O pâncreas não consegue mais produzir pelo menos, um dos fatores de risco abaixo:
insulina suficiente. Os níveis de glicose no san-
gue elevam-se ainda mais. O diabetes pode • História familiar de DM em parente de
ser detectado com testes de sangue neste es- primeiro grau.
tágio. Quando o diabetes é diagnosticado, um
plano alimentar e de exercícios são prescritos. • Etnicidade de risco (negros, hispânicos,
nativos americanos, asiáticos, moradores
Medicamentos também podem ser prescritos de ilhas do Pacífico).
para reduzir a resistência à insulina ou para
aumentar a sua produção. Alternativas: • Hipertensos (PA ≥ 140 x 90 mmHg ou em
a) 1-d; 2-a; 3-b; 4-e; 5-c. tratamento para hipertensão).
b) 1-c; 2-b; 3-d; 4-a; 5-e.
c) 1-c; 2-b; 3-e; 4-d; 5-a. • Dislipidemia (HDL-c < 35 mg/dl e/ou trigli-
d) 1-a; 2-e; 3-b; 4-d; 5-c. cerídeos > 250 mg/dl).
e) 1-c; 2-d; 3-e; 4-b; 5-a.
• Sedentarismo.
Aproveite esta questão para fixar este gráfico
que resume toda a história natural dos diabé- • Síndrome dos ovários policísticos.
ticos tipo 2. É sempre bom lembrar que em
alguns estudos, quase 50% desses pacientes • História de doença cardiovascular.
chegam a necessitar de insulinoterapia. O es-
quema de antidiabéticos orais deverá ser manti- • História prévia de glicemia alterada ou in-
do, quando associado à insulina, principalmente tolerância à glicose ou HbA1c ≥ 5,7%.
medicamentos que facilitem a ação dela, como
as biguanidas e as glitazonas. Resposta C. • História de diabetes gestacional.

• Outras condições associadas à síndrome


Diagnóstico metabólica (ex.: acantose nigricans, obe-
sidade mórbida).
Situação comum do nosso dia a dia... Um
paciente será submetido à cirurgia eletiva e O rastreamento pode ser feito com glicemia
revela, dentre seus exames pré-operatórios, de jejum, TOTG 75 (2h) ou HbA1c. Caso o
uma glicemia de jejum elevada. Podemos dizer teste esteja normal, ele deve ser repetido
que ele seja diabético? A partir de que níveis dentro de três anos.
estamos autorizados a confirmar esse diag-
nóstico? Será que poderíamos ter detectado
mais precocemente o diagnóstico? Saiba Mais!
Para responder a essas perguntas, vamos Em crianças e adolescentes (< 18 anos) a re-
ver as recomendações atuais da American comendação é um pouco diferente... Seria a
Diabetes Association (ADA), em seu mais partir dos dez anos de idade ou com o início
recente posicionamento. da puberdade, para aqueles com sobrepeso
(ex.: IMC > percentil 85) e que tenham dois
fatores adicionais. Os fatores são semelhantes
1– Rastreamento de Diabetes ao que vimos para adultos, com a inclusão na
história familiar de parentes de segundo grau.
Com o crescente interesse pela detecção pre- Outro dado importante: estas são as recomen-
coce de pacientes diabéticos, o rastreamento dações da ADA, o que não quer dizer que todos
passou a ser considerado importante medida concordem com elas. Por exemplo, profissionais
de saúde pública. Este conceito vale para o de saúde pública frequentemente se apoiam em
DM tipo 2, uma vez que o DM tipo 1 abre o dados populacionais mais validados como os
quadro clínico abruptamente e com sintomas utilizados pela U.S. Preventive Services Task
clássicos, quase sempre permitindo o diagnós- Force (USPSTF). Segundo este grupo, o rastre-
tico precoce. Já o DM tipo 2 tem um grande amento para o DM tipo 2 estaria indicado apenas
problema: a doença evolui assintomática para aqueles com sobrepeso ou obesidade.
durante muitos anos!! Muitas vezes, quando
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 22

Existe rastreamento para DM tipo 1? 2 – Diagnóstico de Diabetes

Embora não haja recomendações para a po- Atualmente, os marcadores que definem o
pulação em geral, a última diretriz da ADA re- diagnóstico de diabetes são: glicemia de je-
força que parentes de pacientes com DM tipo jum, glicemia obtida após duas horas do Teste
1 podem ser encaminhados para a pesquisa Oral de Tolerância à Glicose (TOTG), hemo-
de anticorpos num centro de pesquisa clínica globina glicosilada (HbA1C) e glicemia alea-
e que eles devem ser informados desta pos- tória. Os valores foram estipulados de acordo
sibilidade. Devido a maior frequência de do- com modelos fisiológicos e estudos populacio-
enças autoimunes, portadores de DM tipo 1 nais que demonstraram que níveis persisten-
devem ainda fazer rastreamento para disfun- temente iguais ou superiores a esses limites
ção tireoideana, deficiência de B12 e doença estão relacionados ao distúrbio funcional ou
celíaca, especialmente na presença de sinto- estrutural das células betapancreáticas e ao
mas (em assintomáticos ainda é questioná- aumento de complicações. Veja no quadro a
vel, embora muitos também o indiquem). seguir os critérios vigentes:

Critérios Diagnósticos
Saiba Mais!
para Diabetes
Recentemente, um estudo entre jovens com
DM tipo 1 recém-diagnosticado, especialmente 1- Glicemia de jejum ≥ 126 mg/dl. O jejum é
entre 8 e 14 anos, mostrou que a imunoterapia definido pela ausência de ingestão calórica
com anticorpos anti-CD3 (teplizumabe) atenu- por oito horas*.
aria o declínio da função das células beta, OU
mesmo 12 meses após o diagnóstico. O trata- 2- Glicemia duas horas pós-TOTG ≥ 200
mento teria o potencial de prolongar o “período mg/dl. TOTG é o teste oral de tolerância
de lua de mel”, em que os pacientes continuam à glicose com 75 g de glicose anidra
produzindo um pouco de insulina endógena. dissolvida em água*.
Tais resultados podem mudar a história do ras-
OU
treamento do DM tipo 1 num futuro próximo,
indicando-o de uma forma mais ampla. 3- Hemoglobina glicada (HbA1c) ≥ 6,5%.*+
OU
4- Glicemia aleatória (realizada a qualquer
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 hora do dia, independente do horário das
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA refeições) ≥ 200 mg/dl em um paciente
UNIVERSIDADE ESTADUAL com sintomas clássicos de hiperglicemia
DE LONDRINA – PR (poliúria, polidipsia e perda de peso) ou
O Diabetes Mellitus (DM) tipo 1 é uma doen- crise hiperglicêmica.
ça autoimune caracterizada por uma destrui- * Na ausência de hiperglicemia inequívoca,
ção das células betapancreáticas produtoras estes testes devem ser repetidos para confir-
de insulina. Nos pacientes portadores de DM mação do resultado em um dia diferente.
tipo 1, há uma susceptibilidade genética au-
+ Em situações de turnover anormal das hemá-
mentada para outras doenças autoimunes.
cias, como na gestação, transfusão ou perda
Assinale a alternativa que contém as duas
sanguínea recentes e algumas anemias, ape-
doenças autoimunes mais frequentes nos nas a glicemia deve ser utilizada como critério.
pacientes diabéticos:
a) Doença de Addison e doença celíaca.
b) Tireoidite de Hashimoto e doença de Addison. E o que é a hemoglobina glicada mesmo???
c) Tireoidite de Hashimoto e hepatite autoimune.
d) Hepatite autoimune e doença celíaca. Conhecida como HbGli ou HbA1c, trata-se de
e) Tireoidite de Hashimoto e doença celíaca. uma fração da hemoglobina que se liga à glico-
se de forma irreversível. Ela se eleva progres-
Existe uma associação entre DM1 e certas sivamente de acordo com o valor da glicemia,
doenças autoimunes. A tireoidite de Hashi- sendo proporcional à média das glicemias nos
moto, por exemplo, é frequentemente asso- últimos três meses (o nível glicêmico no mês
ciada ao DM1 em crianças, com uma preva- precedente contribui com cerca de 50% para
lência 2-20 vezes maior que nas populações o valor). Este período equivale aproximada-
de controle. Em toda criança diabética está mente ao tempo de vida da hemoglobina das
indicada a palpação periódica da tireoide e, hemácias (cerca de 120 dias). Contudo, não é
com base no exame, avaliação dos hormô- um marcador perfeito, pois está sujeita a fato-
nios tireoideanos. A doença celíaca também res que alterem a sobrevivência das hemácias:
ocorre com significante frequência em crian- valores falsamente elevados estão presentes
ças DM1 e, nas crianças acometidas, é co- quando o turnover é baixo (ex.: anemias caren-
mum observarmos sintomas gastrointesti- ciais) e falsamente reduzidos quando o turno-
nais, deficiência do crescimento e reações ver está aumentado (ex.: hemólise, anemias
hipoglicêmicas. Vale lembrar que no adulto, carenciais em tratamento e uso de eritropoeti-
também existe associação entre DM1, vitiligo na). Observe a seguir os principais fatores que
e anemia perniciosa. poderiam interferir com o resultado da HbA1c e
Resposta: E. a correlação com os níveis glicêmicos:
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 23

ALTERAÇÃO RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011


Condição
Esperada SECRETARIA MUNICIPAL DE
Anemia hemolítica SAÚDE DE FORTALEZA – CE
Estados hemorrágicos  Algumas situações clínicas podem alterar os
Hipervitaminoses C e E resultados reais do teste de hemoglobina gli-
Anemia carencial (ferro, cada. Marque a opção incorreta.
vitamina B12 ou folato) a) Anemia hemolítica ou estados hemorrágicos
Gravidez tardia (deficiên- aumentam os níveis de hemoglobina glicada.
cia de ferro)  b) Aumento de triglicérides, bilirrubinas e ureia
aumentam os níveis de hemoglobina glicada.
Aumento de triglicerídeos, c) Presença de grandes quantidades de vita-
bilirrubinas e ureia minas C e E no sangue reduzem os níveis de
Hemoglobinopatias  ou  hemoglobina glicada.
d) Anemia por carência de ferro, vitamina B12
ou ácido fólico aumentam os níveis de hemo-
Glicemia média globina glicada.
HbA1C (%)
(mg/dl)
6 126 Questão interessante... Existem fatores
7 154 biológicos (como a duração da hemácia) que
8 183 podem interferir nos níveis de hemoglobina
9 212 glicosilada. Ela pode vir aumentada em situa-
10 240
ções onde a renovação de hemácias é menor,
11 269
como anemias carenciais (ferro, B12 e ácido
12 298
fólico) – LETRA D CERTA. Entretanto, pode
vir falsamente reduzida se a renovação de
células for muito rápida, como pacientes com
Os alunos perguntam... anemia hemolítica e aqueles que acabaram
Reunimos dúvidas clássicas acer- de receber ferro, B12 e ácido fólico e, por isso,
ca do diagnóstico de diabetes. começam a produzir mais linhagem eritrocitá-
Elas talvez sejam suas também. Confiram! ria – LETRA A ERRADA. Seus níveis podem
ser alterados – para mais ou para menos – na
1) E se o resultado da glicemia de jejum
insuficiência renal crônica. Elevações falsas
for discrepante da HbA1c... O que fazer?
podem ocorrer por análise equivocada da he-
Nesse caso, o teste que estiver acima dos
moglobina carbamilada, que é formada em si-
valores limites deve ser repetido e o diag-
tuações de elevação de ureia. Por outro lado,
nóstico fechado com base nele. Exemplo:
a hemodiálise, ao destruir células, intensifica
um paciente que tenha HbA1c > 6,5%, mas
glicemia de jejum < 126 mg/dl, deve ter a a renovação e pode reduzir a hemoglobina
HbA1c repetida. Caso essa se mantenha glicada. Resposta a ser marcada: letra A.
elevada, fica definido o diagnóstico de dia-
betes. Caso se mostre abaixo de 6,5%, o
paciente deve ser acompanhado e repetir os 3 – Risco Aumentado de
exames dentro de 3-6 meses. Diabetes (Pré-Diabetes)
2) Caso o paciente tenha glicemia entre
100 e 125, mas TOTG 75 após duas horas Bom, agora vamos passar isso para o mun-
de 230 mg/dl ou uma HbA1c de 8%, o que do real?! Fazer diagnóstico de diabetes é
considero para este paciente? Diabéti- simples. Basta conhecermos alguns limites
co? Ou devo repetir o TOTG ou a HbA1C laboratoriais e pronto! Mas o que precisamos
para termos dois resultados positivos? entender também é que a glicose não aumen-
Na ausência de hiperglicemia inequívoca (sin- ta de um dia para o outro, de forma totalmente
tomáticos francos), o diagnóstico de diabetes inesperada. Considerando a inexistência de
normalmente exige dois exames com valores erro laboratorial, o paciente não faz uma gli-
acima dos pontos de corte (sendo o segun- cemia de jejum num dia e tem como resultado
do feito no dia seguinte) para descartar um 70 mg/dl e, no outro dia, como num passe de
erro laboratorial. Idealmente, devemos fazer mágica, ela se transforma em 140 mg/dl!!! Não
duas amostras do mesmo teste. No entanto, é isso que ocorre. O que queremos dizer é
mesmo quando os testes sejam distintos o que existe uma fase que antecede o diagnós-
diagnóstico também poderia ser confirmado tico de diabetes. O indivíduo vai se tornando
segundo as diretrizes da ADA. Assim, nesse diabético aos poucos, principalmente no DM
caso temos que ter dois testes positivos (2 tipo 2, em que a insulina vai se esgotando
TOTG ou 2 HbA1C ou 1 TOTG + 1 HbA1C). com o tempo.
3) E se o primeiro teste estiver elevado e
o segundo não? Trata-se de uma fase em que grande parte
Esta situação também é citada no consenso desses pacientes, se não tratados, tornar-
e os pacientes são considerados na margem -se-ão diabéticos tipo 2 no futuro. A maioria
para o diagnóstico. Não existiria uma reco- deles tem obesidade e resistência insulínica
mendação formal – a Medicina não é uma e são definidos pela presença de “glicemia de
ciência exata e os exames estão sujeitos a jejum alterada” ou “intolerância à glicose”. A
discretas variações. Nessa situação, o mé- HbA1c desde 2010 também foi incluída entre
dico poderia optar por uma reavaliação den- os critérios e o valor a ser considerado é de
tro de 3-6 meses. 5,7 a 6,4%.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 24

Critérios para Risco Aumentado de Vejamos as alternativas...


Diabetes (Pré -Diabetes) Item I correto: A epidemia de DM tipo 2 obser-
1- Glicemia de jejum de 100-125 mg/dl vada atualmente se deve a diversos fatores,
(“glicemia de jejum alterada”). entre eles o envelhecimento populacional e a
2 - Glicemia pós-prandial ou TOTG 75 (2h) adoção de estilo de vida inadequado.
de 140-199 mg/dl (“intolerância à glicose”). Item II incorreto: conceito de Medicina Preven-
tiva. A prevenção para DM a partir do rastrea-
3 - HbA1c de 5,7-6,4% .
mento seria detecção precoce e classificada
como secundária e não primária.
Observe que aqui não há a recomendação de Item III incorreto: Onde está o erro mesmo???
repetir os exames em duas ocasiões, como Muita atenção, o critério diagnóstico é a glice-
vimos para o diagnóstico de diabetes. Contu- mia de jejum e não a glicemia capilar.
do, quando se faz o diagnóstico de glicemia Assim, a única resposta correta é a letra A.
de jejum alterada, o que se costuma fazer é
solicitar, em seguida, o TOTG para verificar se
há também intolerância à glicose ou mesmo RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
diabetes por este último teste. ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO RIO
GRANDE DO SUL – RS
E qual é a conduta com esses pacientes? Paciente masculino, 52 anos, branco, consul-
ta em Unidade Básica de Saúde com perda
Uma vez classificados como pré-diabéticos, de peso de 10 kg nos últimos 3 meses. Re-
estes pacientes devem ser monitorados anu- fere sede excessiva e poliúria. Mãe diabética.
almente para o desenvolvimento de diabetes. - Aos 46 anos apresentou glicemia de jejum =
Segundo o consenso de Diagnóstico e Abor- 108 mg/dl. Solicitado teste oral de tolerância à
dagem de Pré-diabéticos da American College glicose, que revelou glicemia de jejum = 102
of Endocrinology, essa monitorização poderia mg/dl e, 2h após, carga de 150 mg/dl. - Aos 48
ser feita com TOTG e albuminúria anualmen- anos, fez glicemia de jejum que resultou 129
te e glicemia de jejum, HbA1c e lipidograma mg/dl. O exame foi repetido e resultou 134 mg/
se­mes­tralmente. Outros fatores de risco car- dl. - Os exames atuais são glicemia de jejum =
diovasculares também devem ser abordados. 221 mg/dl. Repetido exame em jejum que re-
sultou 196 mg/dl. Os diagnósticos aos 46, aos
Estes pacientes devem receber medidas te- 48 e aos 52 anos foram, respectivamente:
rapêuticas, sobretudo em relação a condições a) Intolerância à glicose, diabetes e diabetes.
associadas, como obesidade (perda de 7% do b) Intolerância à glicose, intolerância à glico-
peso corporal) e sedentarismo (150 minutos se e diabetes.
de atividade moderada, como caminhadas, c) Intolerância à glicose nas 3 idades.
por semana). A Metformina também deve ser d) Diabetes nas 3 idades.
considerada, especialmente naqueles com e) Normoglicemia, normoglicemia e diabetes.
menos de 60 anos, IMC > 35 kg/m2 e mulheres
com história prévia de diabetes gestacional. Questão clássica sobre o diagnóstico de
O importante é sempre reconhecermos que cenários hiperglicêmicos. Vamos retomar
este grupo de pacientes apresenta maior risco os dados:
de desenvolver DM tipo 2 (25-40% dentro de (1) Paciente aos 46 anos: glicemia pós-pran-
cinco anos) e doenças cardiovasculares. dial ou após TOTG75 entre 140-199 mg/dl =
intolerância à glicose.
(2) Paciente aos 48 anos e atualmente: glico-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 se plasmática > 126 mg/dl em duas oportuni-
ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA dades = diabetes.
DE PORTO ALEGRE – ESPPA Sendo assim, ficamos como resposta a letra A.
Considere as afirmativas abaixo relativas ao
Diabetes Mellitus:
I. O envelhecimento da população, o processo RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
de urbanização crescente e a adoção de há- UNIVERSIDADE FEDERAL DO
bitos de vida não saudáveis, como o sedenta- RIO DE JANEIRO – UFRJ
rismo, são responsáveis pelo aumento da in- Homem, 60 anos, hipertenso, com sobrepeso,
cidência e prevalência de Diabete Mellitus. realiza glicemia de jejum cujo resultado mos-
II. O principal papel da atenção básica é a tra 112 mg/dl. Neste caso:
prevenção primária do Diabete Mellitus, ou a) Testar a tolerância oral à glicose pode ser útil
seja, a identificação de casos não diagnosti- para definir o diagnóstico de diabetes mellitus.
cados de diabete para tratamento. b) Está descartado diabetes mellitus, porém a
III. Glicemia capilar > 126 mg/dl e glicemia > glicemia de jejum deve ser repetida em 6 me-
200 mg/dl na segunda hora após ingesta de ses a 1 ano.
75 gramas de glicose são critérios laboratoriais c) Existe alto risco de diabetes mellitus e está
para diagnóstico de Diabetes Mellitus. indicada prevenção com metformina e estatina.
Quais estão corretas? d) Trata-se de diabetes mellitus e inicia-se
a) Apenas I. tratamento metformina.
b) Apenas I e II.
c) Apenas I e III. O teste da tolerância oral à glicose (TOTG
d) Apenas II e III. 75) nos permite extrair mais informações a res-
e) I, II e III. peito do metabolismo glicêmico do que a sim-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 25

ples glicemia de jejum. Dessa forma, após uma pelo menos duas vezes por ano ou a cada três
glicemia de jejum alterada, a realização do meses naqueles que não atingirem o alvo tera-
TOTG 75 estaria indicada para avaliar a possi- pêutico ou que tenham alterado seu esquema
bilidade de diagnóstico de diabetes mellitus. terapêutico. Atualmente, recomenda-se como
Resposta: A. alvo da terapia manter a HbGli < 7%. ou < 7,5%
em crianças e adolescentes. Nos pacientes
com diabetes diagnosticado há pouco tempo,
Saiba Mais! elevada expectativa de vida e sem doença
Existe alguma diferença entre glicemia de cardiovascular significativa, níveis mais baixos
jejum alterada e intolerância à glicose? podem ser considerados (HbGli < 6,5%). Por
A resposta é sim. Embora ambas representem outro lado, em alguns grupos devemos ter mais
uma ideia semelhante – relacionada à presen- cautela (HbA1c < 8% ou mais, dependendo do
ça de resistência insulínica – o Teste Oral de caso), entre os quais se incluem aqueles com
Tolerância à Glicose (TOTG) é o mais com- diabetes de longa duração, história conhecida
pleto e mais sensível. Aproximadamente 30% de hipoglicemia grave, complicações micro e
dos pacientes com diabetes diagnosticado macrovasculares avançadas e idade elevada.
pelo TOTG teriam glicemia de jejum normal. Técnicas recentes (POC, Point-Of-Care) po-
Isso porque, segundo estudos fisiológicos, deriam ainda permitir a avaliação da HbA1C
uma glicemia de jejum alterada se correlacio- na hora da consulta, auxiliando na tomada de
na apenas com a redução da resposta aguda decisão. Além disso, podemos transformar
da secreção de insulina. Já pacientes com seus valores na forma de Glicemia Média Es-
intolerância à glicose apresentam redução das timada (GME = 28,7 x HbA1C - 46,7). Para que
secreções aguda e crônica de insulina, con- se tenha um exemplo, um valor de HbA1c de
seguindo captar mais pacientes. Além disso, 7% corresponde a uma GEM de 154 mg/dl.
o tipo de resistência é diferente: glicemia de
jejum alterada envolve predominantemente
a hepática; intolerância à glicose, predomi- Diabético bem HbGli < 7%
controlado =
nantemente a periférica. Por último, a maioria
dos benefícios de trabalhos com intervenção
primária (antes do diagnóstico de diabetes) se  Outro método é a testagem da glicemia
dão para pacientes com intolerância à glicose,
capilar (automonitorização glicêmica ou, do
e não com glicemia alterada.
inglês, Self-Monitoring of Blood Glucose –
SBMG) em aparelhos portáteis. Quanto à
Abordados estes conceitos, dê uma pausa, frequência das medidas, não há um padrão
respire fundo! Entraremos agora numa parte fixo a ser utilizado. Os que mais se beneficiam
bastante cobrada: o tratamento do diabetes! de medidas regulares são os pacientes DM
A partir de agora, atenção redobrada... tipo 1, em uso de múltiplas doses de insulina:

 DM tipo 1 = Medir antes das refeições e


Tratamento lanches; de dormir; de atividades físicas ou
tarefas críticas como dirigir; na suspeita de
Após definido o diagnóstico e o tipo de diabe- hipoglicemia e até que esta seja corrigida;
tes que o paciente tem, o tratamento deve ser e ocasionalmente após as refeições. Isso
multidisciplinar e compreender todas as suas leva a cerca de 6-8 medidas/dia ou até mais
necessidades, daí ser reconhecido nos livros dependendo das atividades de cada pessoa.
como “comprehensive care”. Nesse ponto,
 DM tipo 2 = Não definido, devendo ser ava-
podemos focá-lo em três pilares:
liado de acordo com o perfil de resposta do
(1) Detecção de complicações; paciente. O valor é maior para aqueles em
(2) Controle da glicemia; uso de insulina, quando é recomendável
(3) Controle de outros fatores de risco car- que medições mais regulares sejam feitas,
diovasculares. a exemplo do DM tipo 1.

A detecção e abordagem das complicações


(agudas e crônicas) serão tratadas nos capítu- Os alvos esperados para o controle da glice-
los seguintes. Por ora, vamos nos concentrar mia capilar do diabético, de acordo com as
nos outros dois pilares. diretrizes vigentes, encontram-se abaixo.

Controle da Glicemia Parâmetros valor


Glicemia capilar
80-130 mg/dl
pré-prandial
Visando atingir os alvos preconizados para
Glicemia capilar
os pacientes diabéticos, existem duas formas < 180 mg/dl
pós-prandial*
principais de monitorizarmos a glicemia:
*Monitoramento pós-prandial pode ser recomendado
 Todos os consensos concordam que o melhor a pacientes: 1) com HbA1c elevada e glicemias de
jejum dentro do alvo; 2) em início de tratamento in-
parâmetro de um bom controle glicêmico em tensivo, com problemas para atingir o controle glicê-
diabéticos é a hemoglobina glicosi- mico; 3) que estejam fazendo ajustes na contagem
lada (HbGli; HbA1c). Ela deve ser solicitada de carboidrato ou do fator sensibilidade.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 26

(> 50 mg/dl), implica maior estresse oxidativo


Conceito e comprometimento da função endotelial.
Os dois métodos principais de monitorização
atuam de forma complementar: os testes de
glicemia para o controle mais instantâneo e a
HbA1c para a média dos últimos três meses.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009


FUNDAÇÃO FACULDADE FEDERAL
DE CIÊNCIAS MÉDICAS DE PORTO
ALEGRE – FFFCMPA
Qual o padrão-ouro para acompanhamento, a
longo prazo, do controle glicêmico de paciente Exemplo de um Sistema de Monitorização
com diabetes mellitus? Contínua da Glicose (CGMS).
a) Glicemias de jejum.
b) Glicemias de jejum pós-prandial.
c) Hemoglobina glicosilada.
d) Controle regular com glicemia capilar (HGT). Alvo Glicêmico em Pacientes
e) Frutosamina. Hospitalizados
Devido aos reconhecidos efeitos prejudiciais
Resposta C. De tudo que falamos até ago-
relacionados à hiperglicemia em pacientes
ra, você pode estranhar: e a frutosamina?? hospitalizados (maior risco de infecção, baixa
Bom, essa seria uma tentativa de mensurar cicatrização, distúrbio hidroeletrolítico e au-
o controle glicêmico, de forma bem seme- mento da mortalidade), durante muito tempo
lhante à HbGli. A frutosamina corresponde a vivemos a era do controle glicêmico intensi-
uma proteína (albumina) que também sofre vo para esses pacientes, sobretudo os mais
reação de glicosilação e é capaz de refletir a críticos. Naquela época, saltavam aos olhos
glicemia dos últimos 7-14 dias. Ela seria uma os resultados da Dra. Van der Berg com seus
boa alternativa nos indivíduos portadores de pacientes cirúrgicos mantidos com glicemia
hemoglobinopatias em que a HbGli não pudes- entre 80-110 mg/dl.
se ser um marcador confiável. No entanto, sua Mas a história começou a mudar quando
correlação com a glicemia plasmática e seu alguns estudos multicêntricos (a exemplo
valor-alvo não foram tão bem estabelecidos do NICE-SUGAR) mostraram maior morta-
quanto à HbA1c nos estudos clínicos. lidade nos pacientes submetidos a controle
intensivo da glicemia quando comparados
ao grupo sob controle convencional. Embora
Saiba Mais! a razão para esta diferença ainda não esteja
Além da frutosamina, outro marcador que bem clara, percebeu-se que definir níveis
pode ser incorporado nos próximos anos é o muito rigorosos de glicemia aos pacientes
1,5-anidroglucitol (1,5-AG). Sua reabsorção implicava também expor a um maior risco
nos túbulos renais é inibida de maneira com- de hipoglicemia...
petitiva pela glicose. Assim, conforme temos Mas cuidado!!! Não quer dizer que a hiper-
o aumento da filtração glomerular de glicose, glicemia deva ser abandonada. De forma al-
cai a sua reabsorção tubular, provocando guma, mas apenas que não precisamos ser
elevação de sua excreção renal e queda de tão rigorosos como antes. De acordo com a
seu nível sérico. Ele se comportaria inversa- diretriz da ADA, a recomendação seria:
mente à glicosúria e ao tempo permanecido • Pacientes sem doença crítica: apesar de
em hiperglicemia. não existirem evidências muito claras para
este grupo de pacientes, o alvo glicêmico
pré-prandial deve se manter abaixo de
140 mg/dl com glicemia aleatória abaixo
Saiba Mais!
de 180 mg/dl.
Outro método mais recente para a monitori- • Pacientes críticos: iniciar protocolo de insu-
zação da glicemia é a monitorização contínua lina intravenosa regular (associado à dieta
da glicose (do inglês, Continuous Glucose enteral ou reposição de soro glicosado) para
Monitoring System – CGMS). Ele está indi- valores acima de 180 mg/dl, objetivando
cado em situações que exigem informações manter a glicemia entre 140-180 mg/dl. Ní-
detalhadas sobre as flutuações da glice- veis mais rigorosos (110-140 mg/dl) podem
mia, como nos pacientes que apresentem ser aplicados em casos selecionados, desde
episódios frequentes de hipoglicemia. Este que não haja desenvolvimento de hipoglice-
método consiste em um sensor de glicose mia. Alguns detalhes técnicos... Utiliza-se
que fica no subcutâneo fazendo o registro preferencialmente a insulina regular humana
das variações de glicose no fluido intersticial em soluções de 100 unidades diluídas em
ao longo do dia. Ele poderia ser comparado 100 ml de solução salina 0,9% (1 U/ml), com
à MAPA para avaliação da pressão arterial. homogenização do meio. Deve-se desprezar
Com ele podemos avaliar melhor, a partir de 10% da solução através do equipo plástico,
softwares específicos, outro parâmetro im- pois parte da insulina corrente adsorve ao
portante e muito valorizado nos últimos anos: equipo e pode atrasar a ação da insulina. É
a variabilidade glicêmica. Quando elevada válido efetuar a troca da bolsa de solução
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 27

pelo menos a cada seis horas, em razão da fim de 90 dias e maior incidência de hipoglice-
precipitação e perda de efetividade da insu- mia grave no grupo que recebeu terapia insu-
lina. Embora cada unidade de atendimento línica intensiva. Como o NICE-SUGAR foi um
desenvolva protocolos próprios, uma forma trabalho de qualidade técnica muito superior
de calcular o ritmo de infusão inicial seria ao de Van den Berghe, a orientação vigente
pela fórmula: Ritmo (ml/h) = (Glicemia Atu- atualmente é a de não se proceder com o con-
al – Glicemia Mínima) x Fator de Correção trole glicêmico agressivo em pacientes cirúrgi-
(FC). A glicemia mínima depende de cada cos críticos. O alvo glicêmico atual não é mui-
caso, podendo ser estabelecida em 100 mg/ to bem determinado, porém há uma tendência
dl. O FC depende da resistência insulínica em se manter a glicemia desses pacientes na
estimada do paciente, sendo comum iniciar faixa entre 140-180 mg/dl. Resposta: letra C.
com FC = 0,02, elevando-se este fator em
0,03-0,05 para casos mais resistentes ou
reduzindo-se para 0,01 nos pacientes mais Controle de Outros Fatores
sensíveis a insulina. Alguns autores utilizam
de Risco Cardiovasculares
aplicação inicial de bolus de insulina IV antes
de iniciar a infusão contínua, para reduzir o
Devemos sempre lembrar que o objetivo pri-
efeito da glicotoxicidade nas hiperglicemias
mordial do tratamento do diabetes mellitus
acima de 300 mg/dl.
é prevenir as complicações. Para isso, não
basta apenas controlar a glicemia, mas tam-
bém agir sobre os demais fatores envolvidos
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 nestas complicações, sobretudo a hipertensão
HOSPITAL EVANGÉLICO DE CACHOEIRO arterial, a obesidade e a dislipidemia.
DE ITAPEMIRIM – ES
Sob o controle glicêmico pós-operatório, mar-
que a alternativa CORRETA:
A) Hipertensão Arterial
a) Conforme demonstrado no estudo de Van
den Berghe em 2001, o controle glicêmico ri- A hipertensão arterial é muito comum em dia-
goroso (90-110), portanto, deve ser a meta te- béticos, especialmente do tipo 2, quando é
rapêutica para todos os serviços de excelên- encontrada em 40-60% dos casos, geralmente
cia em pós-operatório de grandes cirurgias. fazendo parte da síndrome metabólica. Nestes
b) O risco de hipoglicemia quando se usa o con- casos, a hipertensão costuma ser do tipo primá-
trole rigoroso da glicemia só é maior que o gru- ria, embora o risco de hipertensão renovascular
po tradicional (144-180) se protocolos de ma- aterosclerótica seja maior que na população
nejo glicêmico não tiverem sido empregados. não diabética. Já no DM tipo 1, a hipertensão
c) O estudo prospectivo, multicêntrico e ran- é menos comum e, quando presente, em geral
domizado NICE-SUGAR de 2009 não conse- é decorrente da nefropatia diabética.
guiu reproduzir os achados de Van den Ber-
ghe em 2001, demonstrando ao contrário, Qual é o alvo da PA nos diabéticos?
taxas até maiores de mortalidade em 90 dias
no grupo de controle glicêmico rigoroso. A combinação diabetes mellitus + hipertensão
d) Apesar de ainda não estar bem definido, traz um risco bastante elevado de complica-
após o NICE-SUGAR a meta glicêmica de ções cardiovasculares e microvasculares,
180 mg/dl é considerada a ideal no momento. comparável ao risco de um hipertenso com
e) Vários estudos prospectivos e randomi- lesão de órgão alvo.
zados posteriores ao de Van den Berghe de
2001 demonstraram resultados semelhantes, Esses alvos terapêuticos entraram em discus-
mas como foram feitos em países em desen- são nos últimos anos, especialmente após
volvimento e não foram publicados em gran- dados obtidos com o estudo ACCORD, que não
des revistas, não foram aceitos pela comuni- mostraram benefícios sobre doença coronaria-
dade científica. na e mortalidade com uma redução mais rigo-
rosa da PA para abaixo de 120 mmHg. Outros
Sabemos que a Medicina está sempre mu- estudos como o ADVANCE e o INVEST tam-
dando e que determinadas situações que são bém mostraram resultados semelhantes. Sen-
consideradas verdades absolutas, acabam por do assim, as sociedades médicas propuseram
cair em pouco tempo. O controle glicêmico de mudança nesses valores e atualmente, de
pacientes críticos é algo que mudou muito nos acordo com a ADA e o VIII Joint, preconiza-se
últimos anos. Em 2001, o trabalho de Van den o alvo < 140 x 90 mmHg. Valores mais baixos
Berghe chamado Intensive Insulin Therapy in poderiam ser aplicados para pacientes mais
Critically Ill Patients, mostrou que a terapia in- jovens, com albuminúria ou com outros fatores
sulínica intensiva em pacientes cirúrgicos críti- de risco cardiovascular além da hipertensão.
cos, buscando uma glicemia alvo entre 80-110 Por outro lado, em idosos, deve-se evitar redu-
mg/dl, foi associada à redução da morbidade ções da PA abaixo de 130 x 70 mmHg.
e mortalidade de uma maneira geral. Porém,
em 2009, um estudo multicêntrico, randomiza-
do chamado Normoglycemia in Intensive Care Alvo da
Evaluation Survival Using Glucose Algorithm PA em = < 140 x 90 mmHg
Regulation (NICE-SUGAR), não só não mos-
Diabéticos
trou benefício no controle glicêmico estrito,
como evidenciou aumento da mortalidade ao
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 28

Qual é o anti-hipertensivo de escolha no cos de complicações vasculares. Além do


DM tipo 2? plano dietético, as estatinas são a droga de
escolha, pois além de serem as mais efetivas
Diversos anti-hipertensivos mostraram-se efi- para baixar o LDL-C, possuem um efeito qua-
cazes, não só em baixar a PA, mas também litativo benéfico sobre o LDL-C aterogênico
em reduzir o risco de complicações vascula- dos diabéticos e sobre o endotélio.
res no DM tipo 2. Por conta dos seus efeitos
no sistema renina-angiotensina-aldosterona, Na mesma linha das recomendações da Ame-
a escolha inicial permanece sendo com um rican College of Cardiology/American Heart
IECA ou um ARA II. Caso o alvo pressórico Association (ACC/AHA), a abordagem do LDL
não seja atingido, acrescenta-se um tiazídico passou a ser determinada não mais a partir de
ou antagonista de cálcio como a anlodipina. alvos, mas do risco cardiovascular, quando se
deve definir a intensidade da terapia com as
Betabloqueadores no DM tipo 2: os beta-BQ estatinas. A única crítica que se faz é à calcu-
bloqueiam os receptores beta-1-adrenérgicos ladora utilizada pelas sociedades de cardio-
das ilhotas pancreáticas, reduzindo a secre- logia, que ainda não estariam validadas, pois
ção de insulina. Por isso, em alguns pacientes parecem superestimar o risco dos pacientes.
com DM tipo 2 os beta-BQ podem dificultar Além disso, um documento recente da ADA
o controle glicêmico (e também, por outros trouxe, como possivelmente benéfica, a adição
mecanismos, o controle da dislipidemia). Con- de ezetimibe à terapia de moderada intensida-
tudo, na maioria dos pacientes, os beta-BQ de com estatina nos pacientes com síndrome
são muito bem tolerados e não trazem proble- coronariana aguda e LDL > 50 mg/dl, ou para
mas no controle metabólico, além de reduzir aqueles que não possam tolerar terapia de alta
o risco de complicações cardiovasculares. intensidade com as estatinas.
Nos pacientes em uso de sulfonilureias, os
beta-BQ (especialmente o propranolol) podem
predispor à hipoglicemia, ao bloquear os re- Como controlar a Hipertrigliceridemia e o
ceptores beta-2-adrenérgicos que promovem baixo nível de HDL-C em diabéticos?
gliconeogênese nos hepatócitos.
A combinação de hipertrigliceridemia (> 150
Betabloqueadores no DM tipo 1: o DM tipo mg/dl) + baixo HDL-C (< 40 mg/dl em homens
1 é uma contraindicação relativa para os e < 50 mg/dl em mulheres) é coprovadamen-
beta-BQ, pela predisposição à hipoglicemia te aterogênica! Quase sempre dieta e exercí-
iatrogênica, ao bloquear os receptores beta-2- cio físico regular são suficientes para conse-
-hepáticos para a gliconeogênese. Além disso, guir o alvo lipêmico neste tipo de dislipidemia!!
os beta-BQ inibem a resposta adrenérgica à Portanto, antes de começar qualquer droga,
hipoglicemia, dificultando o reconhecimento deve-se tentar o controle lipêmico com as
precoce do episódio hipoglicêmico... medidas não farmacológicas, exceto em caso
de TG > 500-1.000 mg/dl, quando as drogas
passam a ser indicadas, pelo risco de pancre-
B) Dislipidemia atite aguda...

Como também vimos na apostila de Síndrome


Metabólica I, a dislipidemia clássica dos dia- C) Obesidade
béticos é a combinação de hipertrigliceridemia
com baixos níveis de HDL-C, compondo a Além da terapia não farmacológica e farma-
síndrome metabólica de resistência à insuli- cológica disponíveis, atualmente, a cirurgia
na. Embora não haja associação com níveis bariátrica encontra-se indicada aos pacientes
elevados de LDL-C em comparação com os diabéticos tipo 2 com IMC > 35 kg/m2. Embora
não diabéticos, sabemos que o LDL-C dos pequenos ensaios clínicos tenham demons-
diabéticos é bem mais aterogênico (alteração trado benefício em pacientes com IMC de
qualitativa), por ser formado basicamente de 30-35 kg/m2, não há evidências suficientes
partículas pequenas e densas. Vamos conferir para utilizar esta indicação de forma consen-
alguns detalhes... sual. Por ora, guarde esses dados. Este tema
será abordado com detalhes mais adiante, na
Com qual frequência devemos pesquisar seção de Obesidade.
a dislipidemia?

O perfil lipídico deve ser solicitado para todos D) Efeito Antitrombótico


os diabéticos no momento do diagnóstico, na (Antiplaquetários)
primeira avaliação médica e/ou a partir dos 40
anos e, em seguida, periodicamente (a cada O diabetes mellitus leva ao aumento da ativida-
1-2 anos). de plaquetária, principalmente à custa da ativa-
ção do tromboxane A2. Estudos randomizados
Como controlar o LDL-colesterol em dia- demonstraram o benefício do AAS (75-162 mg/
béticos? dia) tanto para a prevenção primária quanto
secundária dos eventos cardiovasculares.
Esta é a prioridade do controle lipêmico por
ser a estratégia mais eficaz em reduzir os ris- A recomendação atual é:
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 29

 Profilaxia Primária: diabéticos tipo 1 ou E) Cessar tabagismo


2 com risco cardiovascular aumentado.
Neste grupo encaixam-se homens ou Não é novidade para todos nós que os pacien-
mulheres ≥ 50 anos com, pelo menos, tes diabéticos devem ser aconselhados a parar
um importante fator de risco adicional de fumar! Mas vamos deixar a discussão sobre
(história familiar, hipertensão, tabagismo, o controle do tabagismo e suas medidas não
dislipidemia, albuminúria). farmacológicas e farmacológicas mais para
frente, quando falarmos de câncer de pulmão
 Profilaxia Secundária: diabéticos com na apostila de Oncologia.
história de doença cardiovascular. Caso
sejam alérgicos ao AAS, a opção passa Como são doenças de fisiopatologia dife-
a ser o clopidogrel. A combinação AAS + rente, para atingir os alvos glicêmicos, a
clopidogrel deve ser considerada durante terapia também difere em pontos funda-
um ano naqueles que apresentaram uma mentais entre o DM tipo 1 e o DM tipo 2!!
síndrome coronariana aguda. Vejamos como...

Como controlar a Glicemia no DM tipo 1?

Como vimos, os pacientes com DM tipo 1 1ª fase – pico pós-prandial: a opção é pelas
têm um pâncreas incapaz de secretar insuli- insulinas de ação rápida, aplicadas sempre
na, pela destruição completa ou quase com- antes de uma refeição.
pleta de suas ilhotas. Portanto só há um jeito
de tratar: insulinoterapia! É claro que medi- 2ª fase – secreção basal: a opção é pelas
das não farmacológicas baseadas na tera- insulinas de ação lenta, aplicadas uma ou duas
pia nutricional e na atividade física são fun- vezes ao dia.
damentais (comentaremos mais sobre elas
no tratamento do DM tipo 2). Mas, para as
provas, devemos focar mesmo é no uso da
insulina. E a premissa é a de que devemos
sempre tentar simular o que ocorre natural-
mente no organismo. Vamos ver exatamen-
te como fazer isso:

Figura 4
A) TIPOS DE INSULINA
Perceba então que se torna fundamental co-
No nosso organismo, a secreção endógena nhecer os tipos de insulina disponíveis – veja
de insulina se dá em duas fases: na tabela a seguir:

Tipo de insulina Início de Ação Pico Duração


Ação ultrarrápida 5-15min 30min-1h 3-5h
- Lispro (Humalog®)
- Asparte (Novorapid®)
- Glulisina (Apidra®)
Ação Rápida 30min-1h 2-4h 5-8h
- Regular
Ação Intermediária 2-4h 6-12h 10-18h
- NPH
- Lenta
Ação Prolongada
- Glargina (Lantus®) 2-4h Sem pico 20-24h
- Detemir (Levemir®) 1-3h 6-8h 18-22h
Obs.: 1) De uma forma geral, podemos dizer que existem dois tipos de insulina: as de ação lenta e as de
ação rápida. Dentro de cada um desses grupos existem umas que são mais lentas e outras que são mais
rápidas. É bom “guardar” cada um desses tempos (principalmente da lispro, regular, NPH e glargina) para
poder entender quando devemos utilizá-las. Utilizamos aqui os dados fornecidos pela SBD, mas que podem
variar um pouco para outras referências.
Obs.: 2) A dose média de insulina gira em torno de 0,5-1,0 U/kg/dia. No entanto, por um reduzido espaço
de tempo após o diagnóstico, esta dose pode ser menor pelo fato de o pâncreas ainda apresentar uma pe-
quena reserva endógena. Este período é conhecido como “lua de mel”.
Obs.: 3) Apesar de não constar na lista, dispomos também de pré-misturas em proporções fixas que dão
mais conveniência ao paciente. São preparações com pré-mistura de insulinas de ação prandial com insu-
linas de ação basal e porcentagens específicas - NPH + regular (70/30); NPL + lispro (50/50 e 75/25) e
asparte protaminada + asparte (70/30). Como vantagens, temos o menor risco de erro ao misturar insulinas,
menor número de picadas e maior adesão ao tratamento.
Como desvantagens, dificuldade para titular a dose do bolus, menor flexibilidade de horários e risco de hi-
poglicemia pelo pico da insulina intermediária.
Obs.: 4) Recentemente voltou a ser disponibilizada uma forma inalatória de insulina de ação rápida (Affreza),
com doses mais limitadas e necessidade de vigilância com testes respiratórios.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 30

e conveniência para crianças e adolescen-


tes. Imagine um diabético tomando insulina
regular... Ele aplica a insulina às 11h30min,
achando que irá almoçar às 12h00min – só
que ocorreu um problema e ele não pode
almoçar no horário pré-estabelecido; como
resultado, o rapaz terá um episódio de hipo-
glicemia no meio da tarde, principalmente se
fizer algum esforço físico! Com as insulinas
ultrarrápidas, este problema não acontece,
pois o paciente deixa para aplicá-las apenas
Figura 5
na hora da refeição, ou seja, quando já está
sentado em frente ao prato de comida...

 Substituindo insulina NPH por insulina de


B) ESQUEMAS TERAPÊUTICOS ação prolongada (glargina, detemir): Estas
apresentam ação mais prolongada, redução
Tendo em mãos estes tipos de insulina, te- da variabilidade glicêmica e redução de hi-
mos que definir a melhor estratégia de trata- poglicemias (principalmente noturnas), com
mento, sabendo que buscaremos manter os manutenção ou discreta melhora da A1C. A
alvos glicêmicos controlados a maior parte glargina deve ser aplicada uma vez ao dia,
do tempo. E desde o clássico estudo Diabe- pela manhã ou à noite. A detemir pode ser
tes Control and Complications Trial (DCCT) aplicada uma (pela manhã ou à noite) ou
ficou definido que a melhor estratégia para a duas vezes ao dia. Está também associada a
prevenção de complicações crônicas no DM menor ganho ponderal. As insulinas detemir
tipo 1 seria o tratamento intensivo com múlti- e glargina não devem ser misturadas com
plas doses de insulina. Por ele devemos ter a outras insulinas pelo risco de modificação
combinação de uma dose estável e basal de da farmacocinética de uma delas.
insulina (de ação prolongada, intermediária ou
mais rápida por infusão contínua) associada a A dose inicial em pacientes recém-diagnos-
doses ajustáveis pré-refeição (de ação rápida ticados é de 0,3 a 0,5 U/kg/dia, tendendo a
ou ultrarrápida). Esse tratamento pode ser ob- ser mais baixa nas crianças mais novas e
tido de diversas formas, sendo as principais: maior nos adolescentes ou adultos jovens.
Aproximadamente 40-60% da dose total deve
ser fornecida com insulina basal. No caso da
1 – Tratamento intensivo NPH, normalmente se faz 2/3 da dose de
clássico manhã e 1/3 à noite. O restante da dose de
insulina se faz com as de ação rápida ou ul-
Um esquema representativo e de acesso trarrápida. Este ajuste pode ser realizado pela
mais fácil consiste na utilização de duas do- contagem de carboidratos da refeição que se
ses de insulina intermediária (antes do café pretende comer, considerando a razão insu-
da manhã e antes de dormir), com três doses lina-carboidrato (500/dose total diária de in-
de insulina Regular 30 minutos antes das re- sulina). Por exemplo, se um paciente faz dose
feições (café da manhã, do almoço e jantar). total de 50 U insulina, então a razão insulina-
A insulina Regular (R) deve ser usada 30 mi- carboidrato será 500/50, ou seja, 1 U para 10
nutos antes da refeição para que o pico de g de carboidrato. A essa dose, deve ser adi-
ação coincida com a absorção do alimento. cionada insulina de acordo com o fator de
Já em relação à insulina intermediária ou correção ou de sensibilidade (quanto 1 U
NPH (Neutral Protamine Hagedorn), temos insulina reduz na glicemia – FS = 1.500/dose
a adição de protamina à insulina, o que re- total de insulina do dia). Assim, nesse mesmo
tarda a absorção da insulina após aplicação paciente que faz 50 U de insulina, o fator de
no subcutâneo. Caracteristicamente, ela correção é 1.500/50 = 30; isto é, 1 U leva à
apresenta uma suspensão de aspecto turvo redução de 30 mg/dl na glicemia. Se a glice-
e que exige uma mistura prévia antes de ser mia pré-prandial dele for então de 160 mg/dl
aplicada para homogeneização. Como va- e quisermos reduzir para 100 mg/dl, precisa-
riações desse tratamento, o paciente pode mos fazer 2 U extra de insulina regular.
substituir as insulinas humanas pelos análo-
gos de insulina obtidos por técnicas de DNA Além da definição da dose, outro ponto im-
recombinante: portante é o tipo de insulina a ser prescrito.
Pelas propriedades farmacológicas que aca-
 Substituir a insulina Regular por insulinas ul- bamos de ver, é compreensível que os es-
trarrápidas (lispro, asparte, glulisina): Estas quemas com análogos de insulina passassem
insulinas possuem início de ação mais rápi- a receber a preferência de muitos... No en-
do, pico mais precoce e tempo de duração tanto, devido ao custo mais alto, a sua distri-
mais curto que a insulina regular, o que traz buição pelas unidades públicas deve obede-
algumas vantagens. Temos menos excursões cer a critérios planejados, buscando atender
hiperglicêmicas pós-prandiais, menor risco de os que mais necessitam delas (episódios
hipoglicemias, e redução discreta da hemo- recorrentes de hipoglicemia e dificuldades no
globina glicada, e permitem maior flexibilidade controle glicêmico).
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 31

2 – Bomba de infusão contínua vem em uso de insulina NPH 20 U às 7 horas


de insulina e 8 U às 19 horas. O exame laboratorial de
controle mostrou hemoglobina glicada de 8 %.
É a terapia mais “fisiológica” disponível, sendo A monitorização das glicemias obtidas duran-
considerada a padrão-ouro. Nesse modelo, te o dia apresentou o seguinte padrão:
administra-se a insulina (geralmente de ação 6h - 95
rápida, presente num reservatório) através de 11h - 107
uma bomba infusora com cateter implantado no 18h - 206
subcutâneo do abdome, podendo-se programar 22h - 101
horários de redução e aumento de dose con- Para melhor controle glicêmico, a conduta
forme os hábitos do paciente. Doses em bolus mais adequada será:
também podem ser fornecidas de acordo com a) Introduzir sulfonilureia pela manhã.
a monitorização da glicemia capilar. Como des- b) Introduzir insulina lispro às 11 horas.
vantagem, além do custo, necessita de acom- c) Aumentar a dose da insulina NPH das 7
panhamento por equipe habilitada, tem risco horas.
de obstruir (principal complicação) e de levar a d) Substituir a insulina NPH pela insulina Aspart.
infecções locais (devendo ser trocado o sítio de
aplicação a cada 2-3 dias). Inicialmente temos que entender fisiologi-
camente como as insulinas estão agindo para
que os ajustes sejam propostos. Poderíamos
então fazer o seguinte esquema:

Reparem que o problema deste paciente está


na hiperglicemia das 18h. E a insulina que está
Figura 6: Modelo de aplicação contínua agindo nesse horário é a NPH que foi admi-
de insulina. A bomba infunde insulina de nistrada às 7h. Ou seja, neste caso, a sugestão
um reservatório através de um cateter fica para que a dose desta aplicação seja cor-
inserido por meio de uma pequena agulha no
subcutâneo do paciente. rigida. Resposta: letra C.

3 – Insulinoterapia Mas é claro que colocamos uma situação bem


“Tradicional”: simples. Outra um pouco mais trabalhosa e
bastante explorada em provas é a hiperglicemia
Infelizmente, um esquema de insulinoterapia matinal diante de um esquema terapêutico mais
tradicionalmente utilizado nos postos de saú- elaborado, cabendo aqui alguns comentários
de, pelo acesso e compreensão mais fáceis, essenciais... O ponto chave é entender que, se
é composto de apenas duas aplicações (ma- o paciente tem hiperglicemia antes do café da
tinal e vespertina) contendo, cada uma delas, manhã, podemos dizer que a insulina prolon-
insulina NPH e Regular. Inicialmente, devemos gada (basal) que ele está fazendo não está
dividir a dose total diária em metade para NPH sendo suficiente para controlar a glicemia até
e metade para regular. Daí, faríamos NPH (2/3 a manhã do dia seguinte, concordam? Por
matinal e 1/3 vespertina); Regular (1/2 matinal exemplo, imaginem aquele esquema tradicional
e 1/2 vespertina). No entanto, há muito tempo do PS que acabamos de citar:
este esquema não é mais aconselhado por se
afastar do que seria fisiológico e estar relacio-
nado a um controle mais irregular da glicemia. - Glicemia pré-café da manhã (matinal) =
NPH vespertina do dia anterior
- Glicemia pré-almoço = Regular da manhã
Ajustes de Doses - Glicemia pré-jantar = NPH da manhã
Com o início da insulinoterapia, o paciente deve - Glicemia ao deitar = Regular vespertina.
ser acompanhado mais de perto para que seja
avaliada a adequação do esquema. Nesse Quem está determinando a glicemia pré-café
momento, diferentes padrões de comportamen- da manhã é a NPH vespertina do dia anterior!
to glicêmico podem aparecer. Inicialmente, o E o mais lógico seria aumentar a dose desta
problema pode estar apenas no estilo de vida NPH, não é mesmo? Mas vamos entender o
com hábitos alimentares inapropriados e irre- que pode estar acontecendo... Para isso é ne-
gulares. Contudo, ao longo do tempo, alguns cessário que sejam conhecidos dois conceitos:
ajustes de doses certamente deverão ser defi-
nidos. Observe esta questão para ilustrar:
 Fenômeno do Alvorecer (“dawn
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009 phenomenon”): caracterizado por hi-
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO perglicemia matinal devido ao pico fisiológi-
RIO DE JANEIRO – UERJ co de GH durante a madrugada. Lembre-se
Paciente portador de diabetes mellitus tipo 1 de que o GH é um hormônio contrainsulínico
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 32

hiperglicemiante. Ao acordar, o paciente tipo 1 há 3 anos, em tratamento com insuli-


ainda tem níveis séricos altos de GH, mas na NPH antes do café da manhã e da ceia,
a NPH vespertina perdeu parcial ou com- e insulina regular antes das refeições, vem
pletamente o seu efeito. apresentando o seguinte perfil glicêmico:
jejum = 216 mg/dl; antes do almoço = 110
 Efeito Somogyi: trata-se de uma hi- mg/dl; antes do jantar = 186 mg/dl; antes da
perglicemia matinal de rebote, decorrente ceia = 122 mg/dl, madrugada = 46 mg/dl.
do seguinte fenômeno em sequência: (1) Como deveria ser o reajuste do esquema
a insulina NPH pré-jantar faz o seu pico de de insulina desta paciente?
madrugada (entre 03h00min e 04h00min), a) Aumentar a dose de insulina NPH da ma-
num momento em que o paciente está em nhã e reduzir a dose da insulina NPH antes
completo jejum; (2) isso provoca hipoglicemia da ceia.
na madrugada, sem o paciente saber; (3) a b) Aumentar a dose da insulina regular de an-
hipoglicemia estimula a secreção pancreática tes do café da manhã.
de glucagon, provocando hiperglicemia de c) Aumentar a dose de insulina NPH da ma-
rebote no início da manhã, momento em que nhã.
o efeito da última NPH está acabando... d) Aumentar a dose de insulina NPH da ma-
nhã e aumentar a dose de insulina NPH de
antes da ceia.
Perceba que tanto o efeito Somogyi como o
fenômeno do alvorecer se expressam por hi- A paciente da questão faz um tratamento
perglicemia matinal de difícil controle, embora com múltiplas doses de insulina (NPH dividida
tenham a gênese totalmente diferente. Ambos em duas doses associada à insulina regular an-
estão relacionados com a NPH vespertina (an- tes das principais refeições) e vem evoluindo
tes do jantar), o primeiro causado pelo excesso com um controle glicêmico inadequado, apre-
desta e o segundo pela dose insuficiente. As- sentando episódios de hiperglicemia pela ma-
sim, a diferenciação entre os dois fenômenos nhã e antes do jantar. A hiperglicemia antes do
é feita dosando-se a glicemia capilar às jantar pode ser explicada pela ação reduzida
03h00min. Se estiver reduzida (hipoglicemia), da NPH aplicada antes do café, visto que apre-
o diagnóstico é Somogyi; se estiver normal ou senta um pico de ação entre 4-8 horas após a
elevada, ficamos com o fenômeno do alvorecer. sua administração com uma duração efetiva de
Entendendo: um médico desavisado que, ao 10-16 horas. A conduta neste caso seria a apli-
ver as glicemias de jejum elevadas do pacien- cação da NPH da manhã antes do almoço ou
te, imediatamente eleve a dose da NPH ves- aumentar a dose da NPH da manhã. Já a hipo-
pertina, poderia agravar o problema caso fosse glicemia da madrugada e a hiperglicemia mati-
uma hipoglicemia da madrugada. Pelo contrá- nal são fenômenos provavelmente interligados:
rio, a melhor medida seria até mesmo reduzir a dose de NPH pré-jantar pode desencadear o
a dose dela... chamado efeito Somogyi, em que um pico de
ação da insulina no meio da madrugada levaria
Resumindo, como nem sempre é possível ava- ao desenvolvimento de hipoglicemia que, por
liar a glicemia da madrugada, uma medida mais sua vez, acarretaria um rebote matinal dos hor-
genérica que poderia ser tomada, seria deslo- mônios contrarreguladores da insulina, geran-
car a NPH do final da tarde para a hora de dor- do um aumento glicêmico no período da ma-
mir (por volta das 22h). Dessa forma, quando nhã. Neste caso, a opção seria reduzir a dose
o paciente acorda, esta dose de NPH estará da NPH da noite ou mesmo postergá-la para
fazendo o seu pico, contrabalançando o GH do antes de dormir. Logo, resposta: letra A.
fenômeno do alvorecer. Como não faz mais pico
pela madrugada, o efeito Somogyi também dei- Entendidos esses conceitos, vamos apenas
xa de existir... Veja como é feito este esquema: chamar sua atenção para o fato de que hoje
a primeira aplicação é feita pela manhã, com existe uma tendência a não mais valorizar
NPH + regular; a segunda aplicação é feita an- tanto essa discussão. Isso porque o efeito
tes do jantar, somente com regular; e a terceira Somogyi seria bem menos comum que o fe-
aplicação é feita antes de dormir, somente com nômeno do alvorecer, tratando-se de uma
NPH. Uma dose extra de NPH pode ser inclu- hipótese lançada nos anos 30 pelo Dr. Micha-
ída no almoço para compensar o adiantamen- el Somogyi, mas que carece de comprovação
to da NPH vespertina. É por isso que uma va- até hoje. Certos autores inclusive questionam
riante desse esquema que tem proporcionado se ele existiria de fato, atribuindo seus acha-
bons resultados é a utilização de três a quatro dos a outras justificativas, como a hipoinsuli-
doses de insulina humana NPH (antes do café, nemia. Ou seja, a principal preocupação é
do almoço, do jantar e de dormir), na tentativa sempre com o fenômeno do alvorecer.
de oferecer uma cobertura mais homogênea
de insulina durante as 24 horas do dia.
Vamos treinar algumas questões de insu-
Veja agora esta questão: linoterapia...

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012


FACULDADE DE MEDICINA RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
DE PETRÓPOLIS – RJ HOSPITAL MUNICIPAL DE SÃO
Paciente de 12 anos, sexo feminino, branca, JOSÉ DOS CAMPOS – SP
sabidamente portadora de Diabetes mellitus O tempo de duração da ação da insulina NPH
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 33

ou lenta após a administração da SC (subcu- mimetizar a secreção endógena de insulina,


tânea) é de: sendo, portanto, necessária uma insulina de
a) 3-4 horas. c) 16-24 horas. ação lenta (mimetizando a liberação basal
b) 5-8 horas. d) 24-28 horas. de insulina) e outra de ação rápida (mime-
tizando a liberação pós-prandial do pico in-
Questão sobre a farmacocinética da insu- sulínico). Um esquema bastante usado é a
lina NPH... Sabemos que a NPH é uma in- insulina NPH 2x/dia (ação lenta – pico de 6 a
sulina de ação intermediária, iniciando o seu 12 horas e duração total de 12-24h) com in-
efeito 2-4 horas após a sua administração, sulina rápida (regular, lispro) antes das refei-
apresentando um pico de efeito entre 6-12 ções. Esse paciente mostra um controle gli-
horas e uma duração efetiva de 10-18 horas. cêmico insatisfatório no fim do dia, que é um
Observe que não há nenhuma resposta ple- momento em que ainda percebemos a ação
namente correta, mas a alternativa que mais da NPH da manhã. Desta forma, uma pos-
se aproxima seria a letra C. sibilidade seria aumentar esta dose matinal
de NPH ou mesmo fracioná-la, administran-
do uma fração antes do café e outra antes do
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 almoço. A administração desta fração antes
UNIVERSIDADE FEDERAL do almoço aumentaria o tempo de cobertura
DO CEARÁ – UFC da insulina, evitando a hiperglicemia antes do
Qual dos seguintes efeitos está comprova- jantar. Entenda que a antecipação da dose da
damente associado ao uso de análogos de NPH para o fim da tarde não trará qualquer
insulina de ação prolongada em comparação benefício, pois não terá tempo suficiente para
com a insulina NPH? agir na glicemia do final do dia, acarretando
a) Menor frequência de hipoglicemia. apenas um risco de hipoglicemia durante a
b) Maior prevalência de controle metabólico. madrugada. Resposta: letra D.
c) Menor prevalência de complicações micro-
vasculares.
d) Menor prevalência de complicações ma- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009
crovasculares. HOSPITAL DO SERVIDOR
e) Menor risco de desenvolvimento de câncer. PÚBLICO MUNICIPAL – HSPM
Homem de 25 anos, diabético há 5 anos, apre-
Os análogos de ação prolongada, apesar senta hemoglobina glicada variando de 8,5% a
de mais caros, são boas drogas por se asse- 9,7%. Há 8 meses com a utilização de insulina
melharem à secreção basal de insulina, não I antes das 3 principais refeições, e insulina
fazendo “pico”. Sendo assim, eles se tornam II em dose única aplicada na hora de dormir,
capazes de diminuir o risco de hipoglicemia. o nível de hemoglobina glicada diminuiu para
Este é o grande benefício. Resposta: A. 6,5%. Provavelmente as insulinas I e II são,
respectivamente:
a) Detemir e NPH.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 b) Glargina e aspart.
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO c) Regular e lispro.
ONOFRE LOPES – UFRN d) NPH e aspart.
Ao se avaliar um adolescente de 14 anos, e) Lispro e glargina.
diabético de tipo 1 desde os dez anos de ida-
de, observa-se que os controles de glicemias Resposta E.
capilares que ele apresenta para a consulta
revelam tendência à hiperglicemia no fim da
tarde e antes do jantar. Não tem poliúria, poli- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2007
dipsia, nem perda de peso, e está usando in- UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS – UFG
sulina NPH no café e antes do jantar, além de Em relação às insulinas, é INCORRETO
insulina rápida (análogo lispro) antes das re- afirmar:
feições. Apresenta também glico-hemoglobina a) A insulina glargina é um análogo da insulina
de 8,5% (normal entre 4-6% por HPLC). A pri- humana com alta solubilidade ao pH ácido e
meira conduta aconselhada para este caso é: possui perfil de ação semelhante à secreção
a) Introduzir uma dose de insulina rápida no fisiológica basal da insulina endógena.
lanche da tarde. b) A insulina glargina, devido a seu perfil de
b) Aumentar a dose da insulina rápida antes ação, aumenta o risco de hipoglicemia, sendo
do almoço. contraindicada na Diabetes Mellitus lábil.
c) Antecipar a dose de NPH da noite para o c) Os análogos de insulina lispro, e mais re-
fim da tarde. centemente a aspart, são preparados sintéti-
d) Fracionar a dose de NPH, adicionando cos com tempo de início rápido e com a meia
uma terceira dose antes do almoço. vida curta.
d) A correção da hiperglicemia matinal causa-
Alguns dados no enunciado nos revelam da pelo fenômeno de Dawn é conseguida por
que o esquema de insulinoterapia atual des- meio da alteração do horário de administração
se paciente não está adequado: episódios de da dose de insulina noturna, aplicando-a antes
hiperglicemia no fim da tarde e antes do jantar de deitar.
e a sua glico-hemoglobina confirmam o mau
controle glicêmico. Como ajustar as doses de Agora que acabamos de estudar as insuli-
insulina? Lembre-se de que a ideia é sempre nas, ficou simples. Como sabemos, a insulina
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 34

glargina não tem pico de ação, mantendo ní- avanços significativos nos últimos anos. Ob-
veis aproximadamente constantes de insulina serve no quadro alguns pontos principais que
e simulando a secreção basal do hormônio. devem ser destacados.
Desta forma, não há risco aumentado de hi-
poglicemia. Resposta B.
Vantagens: Melhora da qualidade de vida
Obs.: Só para não confundir, fenômeno de (dieta mais flexível, glicemia mais estável e in-
Dawn é o mesmo que o fenômeno do alvorecer. terrupção da insulinoterapia e das medidas di-
árias da glicemia capilar). O benefício é maior
para aqueles pacientes que apresentavam
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2007 difícil controle glicêmico antes do transplante.
HOSPITAL SÍRIO LIBANÊS – HSL Ainda não existem dados suficientes em rela-
ção à prevenção de complicações crônicas.
Desvantagens: Necessidade de imunossu-
pressão contínua, o que pode acarretar inú-
meros efeitos adversos. É a velha história: se
não for bem indicado, é só trocar um proble-
ma por outro!
Portanto, vamos às indicações para o
transplante de pâncreas:
As figuras que representam a Insulina do tipo • Pâncreas e rim simultaneamente: DM tipo
Regular e a Insulina NPH, respectivamente, 1 ou insulinodependentes com insuficiência
são: renal em diálise ou prestes a iniciar trata-
a) 1 e 2. mento dialítico. É o tipo de transplante com
b) 1 e 3. d) 2 e 3. os melhores resultados tanto em termos de
c) 1 e 4. e) 2 e 4. sobrevida do enxerto como do paciente.
• Pâncreas após rim: DM1 ou insulinodepen-
Questão muito interessante para exercitar- dentes submetidos a transplante renal com
mos nosso raciocínio insulínico! O gráfico 1 é sucesso com clearance de creatinina supe-
da insulina lispro/aspart que tem início de efeito rior a 55 a 60 ml/minuto e que apresentem
imediato. Pico em 1-2h e duração = 3-4h. O difícil controle glicêmico ou hipoglicemias as-
gráfico 2 é o da insulina regular, pois ela tem um sintomáticas. Pode ocorrer perda da função
início de ação em meia hora, um pico de ação renal após o transplante em cerca de 25%
em 2-3h e uma duração do efeito em 4-8h. O dos pacientes. Não existem dados suficien-
gráfico 3 é a insulina NPH com início entre 2-4h, tes sobre melhora de complicações crônicas,
pico em 6-12 e duração de 16-24h. O gráfico 4 da sobrevida e da qualidade de vida.
é a insulina glargina, pois não tem pico de ação,
mantendo níveis aproximadamente constantes • Pâncreas isolado: DM1 ou insulinodepen-
de insulina ao longo do dia. Resposta D. dentes com crises frequentes de descom-
pensações (hipoglicemias e/ou hiperglice-
mias). Outra indicação seria para aqueles
c) OUTRAS TERAPIAS com problemas clínicos e emocionais ad-
vindos da insulinoterapia e que os tornem
1 – Análogo da Amilina incapacitados para atividades cotidianas.
• Transplante de ilhotas: modalidade ainda ex-
A amilina é um peptídeo armazenado nas perimental. Está indicada a pessoas com DM1
células beta do pâncreas e secretado junto com níveis glicêmicos bastante variáveis ou
com a insulina no período pós-prandial. Ele com quadros de hipoglicemia assintomática.
atua no metabolismo glicídico, inibindo a se- Apesar de ser menos invasivo do que o trans-
creção de glucagon, retardando o esvazia- plante de órgão total, a demanda por alta tec-
mento gástrico e levando à sensação de sa- nologia na purificação das ilhotas eleva bas-
ciedade. Ou seja, um efeito final semelhante tante a dificuldade do procedimento.
ao da insulina!

Atualmente, um análogo sintético da amilina, 3 – Pâncreas Artificial


mais estável, de administração subcutânea
– a PRANLINTIDA (Symlin®) – é utilizado Recentemente liberado pelo FDA, o pâncreas
tanto para pacientes DM tipo 1 ou tipo 2 em artificial é um dispositivo pequeno e portátil
uso de insulina que não estejam conseguin- com duas vias colocadas sob a pele (uma para
do obter o controle glicêmico. Uma de suas detecção dos níveis de glicose e a outra para
vantagens é não causar hipoglicemia, já que infundir insulina e glucagon). Contudo, ainda
inibe apenas a secreção desproporcional de é um aparelho basicamente experimental e
glucagon em diabéticos, após a refeição. restrito ao ambiente hospitalar.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010


2 – Transplante de Pâncreas HOSPITAL PITANGUEIRAS – SP
Paciente diabético do tipo 1 com clearance
O transplante seria mais uma opção no trata- de creatinina de 20 ml/min, idade de 35 anos,
mento de pacientes diabéticos, apresentando sem comorbidade cardíaca, nem vascular
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 35

periférica. A alternativa mais adequada atual- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010


mente seria: ALIANÇA SAÚDE – PUC – PR
a) Transplante de pâncreas isolado, uma vez Sobre o Transplante Pancreático, é INCOR-
que este paciente ainda apresenta função re- RETO afirmar:
nal, com o intuito de salvar a função renal re- a) O transplante duplo rim-pâncreas é indi-
sidual. cado, sobretudo para diabéticos tipo II com
b) Transplante duplo de rim com o pâncreas insuficiência renal crônica.
antes da falência renal completa, pois no mo- b) O transplante isolado de pâncreas está in-
mento o paciente encontra-se em melhores dicado em diabéticos tipo I, com função renal
condições. normal com 2 ou mais complicações secun-
c) Transplante isolado de rim com órgão ca- dárias do diabetes.
davérico, pois como o paciente continuará c) A drenagem exócrina pode ser feita tanto
diabético não seria coerente submeter um fa- na bexiga quanto em alça delgada.
miliar ao risco de uma doação intervivos para d) Outra indicação do transplante solitário de
um órgão que terá uma curta sobrevida. pâncreas é o diabetes hiperlábil.
d) Transplante intervivos de pâncreas, pois é e) A vascularização do enxerto pancreático é
um receptor muito jovem para pâncreas ca- feita por ramos da esplênica e da mesentérica
davérico. superior.
e) Transplante de rim cadavérico associado
ao transplante de ilhotas pan­creáticas. O objetivo do transplante de pâncreas, como
medida terapêutica para o DM, é simplesmen-
A conduta que comprovadamente aumen- te a normalização da glicemia para prevenir as
ta a sobrevida e melhora a qualidade de vida complicações microvasculares relacionadas.
do paciente diabético com doença renal crô- O alvo são basicamente os diabéticos tipo I
nica avançada é o transplante renal. Sabe-se (devido à falta de insulina). A vascularização
que a diálise traz uma série de inconvenien- do órgão transplantado pode ser realizada
tes neste grupo de indivíduos, como a maior pela artéria ilíaca externa, artéria mesentérica
ocorrência de hipotensão intradialítica (por superior e a artéria esplênica e a localização
disautonomia diabética), bem como maior deve ser preferencialmente à direita, pois a
risco de hemorragia vítrea e descolamento mobilização do cólon e a anatomia vascu-
de retina (em pacientes com retinopatia dia- lar são mais favoráveis nesse lado. A drena-
bética proliferativa que fazem hemodiálise gem do pâncreas deve ser preferencialmente
com heparina). O candidato ideal ao trans- intestinal, mas existe a opção de se realizar
plante é o paciente mais jovem, que ainda uma drenagem vesical. A insuficiência renal
não apresenta complicações da doença que justifica o transplante combinado pâncreas-rim
possam comprometer o sucesso da cirurgia no paciente diabético tipo I. Para aqueles que
ou a própria sobrevida a longo prazo (parti- não possuem complicações renais, é preciso
cularmente a doença coronariana – a princi- que existam outras alterações microvascula-
pal causa de morte em diabéticos nefropa- res, que possam justificar o risco de um trans-
tas). Pois bem, como se trata de diabético plante. O Ministério da Saúde coloca como um
tipo 1, é válido empreender o transplante de desses critérios a hiperlabilidade do controle
células produtoras de insulina, que pode ser glicêmico e a neuropatia autonômica modera-
feito pelo transplante completo do pâncre- da ou grave. Resposta: A.
as. Esse segundo órgão pode ser enxertado
ao mesmo tempo que o rim (transplante “du-
plo”) ou em uma segunda cirurgia. A gran- E uma questão para lá de maldosa:
de vantagem de se transplantar também um
pâncreas no DM 1 é que a cura do diabetes
reduz o risco de perda do enxerto por glo- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2005
meruloesclerose diabética! Outro conceito UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE
importante: o diabético se torna sintomático JANEIRO – UERJ
da uremia muito antes que um paciente não Na atualidade, o local de eleição para implan-
diabético! Diversos “alvos” da uremia são os te de células de ilhotas pancreáticas, em um
mesmos do DM, e pelo fato de já haver al- paciente com diabetes mellitus tipo 1, é o:
gum grau de disfunção desses órgãos pelo a) Rim. c) Fígado.
diabetes (ex.: nervos periféricos e autonô- b) Baço. d) Pâncreas.
micos), graus menos intensos de azotemia
já são capazes de desencadear sintomas Resposta C. A opção pelo fígado deve-se
urêmicos. Assim, não devemos esperar que a um importante conceito já revisado sobre
o paciente atinja TFG extremamente redu- este órgão: sua imensa capacidade regene-
zida para indicar o transplante! No caso do rativa. Além disso, é bastante vascularizado
DM, este já deve ser considerado enquanto (permitindo a vascularização das células im-
o doente ainda está em relativo bom estado plantadas) e tem maior capacidade de tolerar
geral. Resposta: B. corpos estranhos.
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Como controlar a Glicemia no DM tipo 2?

A) DIETA E ATIVIDADE FÍSICA b) ANTIDIABÉTICOS

Para o controle da glicemia no DM tipo 2, assim Como o paciente com DM tipo 2 mantém se-
como no DM tipo 1, utilizaremos tanto medi- creção de insulina durante algum tempo da
das não farmacológicas como farmacológicas. sua doença, estas drogas assumem papel
Dentre as não farmacológicas, além de itens de maior relevância e é a elas que nos dedi-
como a cessação do tabagismo, usar sapatos caremos agora. Para facilitar nosso entendi-
especiais, cuidar da higiene etc. destacam-se mento, vamos classificá-las em cinco grupos
as ações voltadas para a terapia nutricional e principais de acordo com seus mecanismos
a prática de atividade física. Recentemente, de ação:
a ADA publicou novas recomendações sobre
este item que resumimos no quadro a seguir. (1) drogas que reduzem a resistência insulínica;

(2) drogas que estimulam a célula beta a se-


TERAPIA NUTRICIONAL cretar mais insulina;
O principal conceito, diferente do que se (3) drogas que reduzem ou retardam a absor-
preconizava, anteriormente, é que não
ção intestinal da glicose;
existe nenhum percentual ideal de calorias
de carboidratos, proteínas ou gorduras que (4) drogas incretinomiméticas;
possa ser aplicado de forma genérica. O
padrão alimentar deve ser individualizado, (5) drogas que atuam sobre o túbulo renal
levando em consideração os objetivos meta- com glicosúria (inibidores de SGLT2).
bólicos de cada um, bem como a caracterís-
ticas econômicas e culturais. É fato apenas
que, em pacientes com sobrepeso ou obesi- 1 – Redução da Resistência à
dade, uma modesta redução do peso já pode
Insulina
trazer importantes mudanças na glicemia,
pressão arterial e perfil lipídico do paciente.
Combater a resistência à insulina é a pedra
Quanto aos carboidratos, deve-se monitori- mestra no tratamento dos diabéticos tipo 2,
zar sua ingestão por métodos como a utiliza- pois além de ser o item central da doença, ela
ção de tabelas para a contagem ou mesmo pode contribuir para a melhora na disfunção
pela experiência do paciente. Devem ser evi- das células beta. Os pacientes que mais se
tados aqueles que vêm associados ao sódio, beneficiam desta estratégia terapêutica são
açúcares ou gorduras. os diabéticos obesos e aqueles nas fases mais
Para as gorduras, a qualidade parece ser precoces da evolução da doença, com níveis
mais importante que a quantidade, com glicêmicos inferiores a 300 mg/dl.
preferência para as gorduras mono ou poli-
-insaturadas. Como se recomenda para a Existem duas classes de fármacos que atuam
população em geral, deve ser estimulada baixando a resistência periférica à insulina. São
a ingestão de alimentos contendo os áci- eles: (1) biguanidas (metformina) e (2) glitazo-
dos graxos ômega-3. A orientação sobre a nas ou tiazolidinedionas. Como essas drogas
ingestão de colesterol, gordura saturada e não são secretagogas, isto é, não aumentam a
gordura trans permanece a mesma, confor- secreção pancreática de insulina, elas não são
me vimos no módulo de dislipidemia. causadoras de hipoglicemia iatrogênica!
Por último, suplementos minerais ou à base
de vitaminas não apresentam benefícios
comprovados e não estão indicados de ro- BIGUANIDAS (METFORMINA)
tina; o uso de álcool, quando desejado, deve  Mecanismo de ação: ativa a AMP-quinase,
ser moderado (até uma ou duas doses diá- uma enzima que atua como sensor da carga
rias para mulheres e homens, respectiva- de energia celular. Como resultado, temos
mente) e o uso de sódio reduzido a menos o aumento do efeito da insulina nos hepató-
de 2.300 mg/dia (pode ser menor ainda em
citos, bloqueando a glicogenólise e a glico-
diabéticos e hipertensos).
neogênese, principais reações responsáveis
pela hiperglicemia persistente dos diabéti-
ATIVIDADE FÍSICA
cos tipo 2. Por não estimularem a secreção
Enquanto as crianças devem ser orientadas pancreática de insulina e por um pequeno
à prática diária de 60 minutos de atividade efeito anorexígeno, as biguanidas promovem
física, os adultos são orientados a realizar redução de peso nos obesos. No estudo
atividade aeróbica de moderada intensidade UKPDS (maior estudo randomizado no DM
(50-70% da FC máxima) por pelo menos 150 tipo 2), foi a única droga que reduziu o risco
minutos/semana. Ela deve ser dividida em
de eventos cardiovasculares ateroscleróticos
pelo menos três dias da semana, sem que fi-
nos diabéticos obesos! A única biguanida
que dois dias consecutivos sem se exercitar.
usada atualmente no tratamento do DM tipo
Exercícios de resistência (ex.: musculação)
2 é a metformina (Glifage®), numa posologia
devem ser encorajados a pelo menos duas
vezes/semana. de 850 mg/dia ou 500 mg 2x/dia, junto com
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 37

as refeições (para melhorar a tolerância). lina por aumentar a reabsorção de sódio e


Após 5-7 dias, caso não haja intolerância água no túbulo coletor cortical (onde age a
gastrointestinal, passar para 850 mg 2x/dia aldosterona). Por conta disso, as glitazonas
antes das refeições. Caso o paciente apre- são contraindicadas em pacientes com
sente queixas, diminuir para dose prévia e ICC grave, classes III e IV da NYHA. As
aumentar a dose posteriormente. Procura-se glitazonas também estão contraindicadas
alcançar a dose máxima, que seria de 1.000 em caso de insuficiência hepática.
mg 2x/dia, dentro de 1-2 meses, embora al-
gum benefício possa ser obtido com doses
de até 2.550 mg/dia (1 cp de 850 mg 3x/dia). Saiba Mais 1
 Efeito esperado: redução na HbA1c de • Recentemente, outro efeito adverso da metfor-
1-2%. mina tem chamado a atenção, relacionado à
redução na absorção de vitamina B12. Ainda
 Efeitos adversos: além da intolerância gás-
não há consenso, mas pode ser que usuários
trica (efeito adverso mais comum), existe uma
dessa biguanida devam receber suplementa-
rara e temida complicação da metformina: a ção de B12. Fique atento para uma questão
acidose lática!! É decorrente do estímulo ao que cobre esse conceito na sua prova!
metabolismo anaeróbico dos enterócitos.
Esta grave e potencialmente fatal compli-
cação geralmente só ocorre em pacientes
Saiba Mais 2
predispostos à acidose lática: creatinina
elevada > 1,5 mg/dl em homens, > 1,4 mg/ • Desde 2007, alguns trabalhos vêm mostrando
dl em mulheres ou TFG < 60-30 ml/min, a associação das glitazonas (especificamente
a rosiglitazona) com mortes por causas car-
insuficiência cardíaca descompensada,
diovasculares e cerebrovasculares. No entan-
hepatopatias, instabilidade hemodinâmi-
to, embora a desconfiança no meio médico
ca, hipoxemia, antes de realizar exames
seja cada vez maior sobre esta classe, ainda
contratados e pacientes hospitalizados.
faltam dados conclusivos sobre a questão!
Estas são as contraindicações formais ao
uso da metformina. • Outro efeito das glitazonas que vem sendo
valorizado é a relação com fraturas, sendo
 Comentários: por esses efeitos, a met- mais relevante para mulheres acima de 65
formina deve ser suspensa na véspera de anos. Isso ocorre porque existem receptores
qualquer cirurgia!! Idosos com mais de 80 para essas drogas no tecido ósseo capazes
anos também devem evitar, se possível, a de afetar o seu processo de remodelamento
medicação... Além disso, apesar de toda a e levar à desmineralização. Mais um ponto
polêmica ao redor da sua utilização em ne- contra esses fármacos!!!
fropatas, alguns trabalhos têm mostrado que
a droga pode ser utilizada com segurança
em pacientes com clearance de creatinina 2 – Aumento da Secreção
acima de 30 ml/min e em pacientes com IC de Insulina
compensada.
Aqui temos um grupo de drogas que estimula
as células betapancreáticas a secretar mais
glitazonas (tiazolidinedionas): insulina. São duas as classes de drogas dis-
poníveis: sulfonilureias (hipoglicemiantes
 Mecanismo de ação: este grupo de drogas tradicionais do DM tipo 2) e glinidas. Quan-
atua como moduladoras do receptor PPAR- do usadas sem os cuidados adequados, os
gama, aumentando o efeito insulínico na secretagogos de insulina podem provocar
captação e utilização energética da glicose hipoglicemia iatrogênica!!
principalmente no músculo esquelético. Al-
guns autores dizem que essas drogas po- Obs: As incretinas também agem estimulan-
dem também agir como “regeneradores de do a secreção de insulina, mas de uma forma
células beta”. O integrante deste grupo atual- bem diferente, sem levar à hipoglicemia, como
mente é a pioglitazona (Actos®). A troglitazona veremos adiante.
(Rezulin®) foi retirada do mercado após ser res-
ponsabilizada por alguns casos de insuficiência
hepática, e a rosiglitazona (Avandia®) teve sua sulfonilurEias
venda suspensa em diversos países no final
 Mecanismo de ação: são drogas que atuam
de 2010, após relatos de aumento do risco de
nas células betapancreática, aumentando a
eventos cardiovasculares e cerebrovasculares
secreção basal de insulina, através do blo-
(vide quadro “Saiba Mais”).
queio dos canais de K+ ATP-dependentes
da membrana plasmática.
 Efeito esperado: redução na HbA1c de
0,5-1,4%  Efeito esperado: redução na HbA1c de
1,0-2,0%.
 Efeitos adversos: o principal efeito indese-  Efeitos adversos: o principal é a hipogli-
jado é o aumento de peso (média de 2-3 kg), cemia iatrogênica. Os diabéticos tipo 2 que
necessitando cuidado quando administradas tomam sulfonilureias devem ter exatamente
nos obesos. O acúmulo de gordura é do tipo os mesmos cuidados que os diabéticos tipo
periférico, e não do tipo abdominovisceral. 1 em insulinoterapia. Outro problema pode
Outro efeito adverso é a retenção hidrossa- ser o ganho de peso, pelo efeito anabólico
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 38

do aumento dos níveis séricos de insulina. 3 – Redução na Absorção


As sulfonilureias também estão contraindi- Intestinal de Glicose
cadas na gravidez e em caso de insuficiên-
cia renal ou hepática. A única medicação disponível é um inibidor
 Representantes: no grupo de primeira ge- da alfaglucosidase, a acarbose (Glucobay®).
ração, destaca-se a clorpropamida (Diabi- Confira alguns detalhes:
nese®) – esta droga tornou-se obsoleta pelo
alto índice de hipoglicemia, hiponatremia e
contraindicação relativa em pacientes com acarbose
insuficiência renal. No grupo de segunda  Mecanismo de ação: substância que
geração, temos a glibenclamida, ou glibu- age inibindo a digestão dos carboidratos
rida (Daonil®), a glipizida (Minidiab®) e a em monossacarídeos, como a glicose e,
gliclazida (Diamicron®); no grupo de terceira por isso, retarda a absorção intestinal de
geração, encontra-se a glimepirida (Amaryl®). glicose (reduzindo a hiperglicemia pós-
Quanto maior a geração, menor o risco de -prandial). Atualmente, poderia ser usada
hipoglicemia e menor eliminação por via como parte de uma terapia combinada
renal. Por isso mesmo, são clássicas as com o metformin.
questões em pacientes com DM 2 utilizando Obs.: Perceba que a acarbose e as glinidas
sulfonilureias (geralmente mais antigas) e são as drogas que servem para o controle
que começam a fazer episódios frequentes da glicemia pós-prandial nos diabéticos...
de hipoglicemia com as doses habituais – a  Efeito esperado: redução na HbA1c de
resposta é sempre a investigação da função 0,5-0,8%.
renal!!! As sulfonilureias possuem um “teto
 Efeitos adversos: flatulência e diarreia. A
de dose”, acima do qual, o efeito não mais
acarbose está contraindicada na gravidez e
aumenta. Por exemplo: para a glibenclamida,
em caso de insuficiência renal ou hepática.
a faixa de dose vai de 2,5-20 mg/dia...
 Comentários: estes foram os primeiros anti-
diabéticos orais do mercado, desde a década
de 70... Como a disfunção beta continua pro- 4 – Ação Incretinomimética
gredindo, a falência secundária é observada
numa taxa de 5-10% ao ano (o diabetes torna- As incretinas são hormônios secretados por
-se refratário ao efeito dos secretagogos). células endócrinas (células K e L) do intestino
delgado. Entre os principais representantes
dessa classe de hormônios está o GLP-1 (pep-
tídeo 1 semelhante ao glucagon). O GLP-1
glinidas (metiglinidas) promove estímulo da síntese e secreção de
insulina dependente da glicemia, inibição da
 Mecanismo de ação: são fármacos que
secreção de glucagon e retardamento do es-
também atuam na célula beta pancreática
vaziamento gástrico.
como secretagogos de insulina; contudo, di-
ferentemente das sulfonilureias, aumentam
As drogas desse grupo podem tanto aumen-
o pico rápido de glicemia pós-prandial, por
tar a atividade endógena do próprio GLP-1
estimularem outros receptores de membra-
(ao impedir sua degradação), quanto agirem
na. Têm como principal papel o controle
como análogas mais resistentes do GLP-1
da hiperglicemia pós-prandial no DM tipo
quanto. Veja abaixo:
2 e só podem ser administrados antes
das refeições. Os representantes deste
grupo são a repaglinida (Prandin®, Gluco-
norm®, Novonorm®) e a nateglinida (Starlix®, INIBIDORAS DA DPP-IV (GLIPTINAS)
Starform®). Como apresentam rápida meia-  Mecanismo de ação: são drogas inibidoras
-vida, precisam ser administrados 3x/dia. da enzima Dipeptidilpeptidase IV (DPP-IV),
 Efeito esperado: redução na HbA1c de que inativa o GLP-1.
0,5-1,5% (a repaglinida é a mais eficaz).  Efeito esperado: redução na HbA1c de
 Efeitos adversos: hipoglicemia iatrogênica, 0,5-0,8%.
se administrados em pacientes que ficarão  Efeitos adversos: são drogas caras e sem
em jejum. estudos que garantam sua segurança a lon-
 Comentários: drogas muito pouco utili- go prazo. Existem relatos esporádicos de
zadas na prática pelo alto custo e por não urticária, angioedema e pancreatite.
oferecerem mais benefícios sobre o controle  Comentários: representam uma classe de
glicêmico que as sulfonilureias. A nateglinida drogas capaz de aumentar a secreção de
não deve ser utilizada em caso de insuficiên- insulina apenas no estado de hiperglicemia
cia renal ou hepática. A repaglinida, por ser (glicose-dependente), não alterando o peso
metabolizada principalmente pelo fígado, corporal. Os principais fármacos represen-
poderia ser usada com mais segurança em tantes são a sitagliptina, vildagliptina, saxa-
pacientes renais crônicos. gliptina, alogliptina e linagliptina.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 39

ANÁLOGOS DO GLP-1 ENDÓGENO (efeito independente da insulina). Os exem-


 Mecanismo de ação: são drogas que atuam plos principais são dapaglifozin (Forxiga®),
sobre o receptor do GLP-1, apresentando o canaglifozin (Invokana®) e empaglifozin
mesmo efeito que o hormônio endógeno, com (recentemente destacado pelo seu poten-
a vantagem de possuírem maior resistência cial benefício no desfecho cardiovascular).
à degradação e, com isso, maior meia-vida.
 Efeito esperado: redução na HbA1c de
0,5-1,0%.
 Efeitos adversos: efeitos gastrointestinais
6 – Outras drogas
são frequentes. Também são drogas caras e
sem estudos que garantam sua segurança a
Uma classe de drogas recentemente aprova-
longo prazo. Alguns trabalhos mostraram um
da para o tratamento da hiperglicemia em pa-
risco de pancreatite com o uso dessas dro-
gas. O liraglutide foi associado em animais a cientes com DM tipo 2 é a das resinas seques-
tumores medulares da tireoide e hiperplasia tradoras de colesterol, também utilizadas no
de células C. tratamento da dislipidemia. No entanto, por se-
rem menos eficazes que as estatinas e apre-
 Comentários: uma grande vantagem desse
sentarem efeitos adversos indesejáveis como
grupo é a perda de peso (por supressão do
a constipação, caíram em desuso. Atualmente,
apetite) e uma desvantagem seria a adminis-
tração subcutânea. Entre os principais repre- um representante, o colesevelam, foi aprova-
sentantes, temos o EXENATIDE (Byetta®) e do para ser usado como monoterapia ou em
o LIRAGLUTIDE (Victoza®, com a vantagem combinação. O mecanismo provável é a mo-
de ser utilizado em dose única). Outros dis- dulação do sistema das incretinas. Apesar da
poníveis seriam o lixisenatide, albiglutide e baixa redução glicêmica (queda de 0,5% da
dulaglutide – os dois últimos com uma dose HbA1c), é uma opção válida pelo perfil não as-
semanal! sociado a manifestações sistêmicas e pela re-
dução concomitante do LDL-colesterol. Como
todas as resinas aumentam os triglicerídeos,
essas drogas estão contraindicadas no caso
de TG > 500 mg/dl ou quando houver pancre-
atite relacionada à hipertrigliceridemia. Outra
contraindicação é a obstrução intestinal.
Outra classe é a dos agonistas dos receptores
D2 da dopamina – em que a bromocriptina
é o representante aprovado para terapia em
diabéticos do tipo 2. O mecanismo associado
é uma provável alteração em neurotransmis-
sores hipotalâmicos, levando a efeitos na
oxidação de ácidos graxos e na produção
hepática de glicose. Não altera o peso, nem
está associado à hipoglicemia. Entre os efeitos
adversos, temos hipotensão, tonteira, exacer-
Figura 7: Desenho esquemático do papel da bação de doenças psicóticas, sonolência e
DPP-IV na inativação das incretinas (GLP-
1). Em pacientes com DM tipo 2, os níveis náusea. Como era de se esperar, a droga não
de incretina liberados não são suficientes deve ser utilizada em usuários de antagonistas
para regulação do metabolismo glicídico, dopaminérgicos.
o que passa a ocorrer quando se faz a
inibição da DPP-IV.

c) Organizando o
5 – Ação no Túbulo renal
tratamento
(Glicosúria)
Bom, agora que estudamos as drogas dispo-
INIBIDORES DE SGLT2 níveis, vamos organizar um pouco o assun-
 Mecanismo de ação: agem inibindo o to, trazendo-o para o nosso dia-a-dia. Já foi
cotransportador sódio-glicose tipo 2 (SGLT o tempo em que o paciente portador de DM
2), expresso no túbulo renal proximal e que tipo 2 era submetido à dieta e exercício físi-
participa da reabsorção de 90% da glicose co e, só daí a alguns meses, caso nenhum
filtrada pelo rim. efeito fosse obtido, pensaríamos em usar
 Efeito esperado: redução na HbA1c de algum medicamento... Pior ainda, quando
0,5-1,0%. queríamos tratar, não tínhamos muito o que
 Efeitos adversos: candidíase vulvovagi- pensar, pois só estavam disponíveis uma ou
nal, infecções urinárias, depleção volêmica duas drogas. Muita coisa mudou! Desde uma
(glicosúria). Não deve ser indicada na insu- conduta inicial mais agressiva até a inclusão
ficiência renal moderada a grave. de novas drogas no arsenal terapêutico. A
 Comentários: estas drogas promovem a evolução é tamanha e a passos tão rápidos
excreção renal de glicose, com modesta que mesmo drogas mais novas e liberadas
redução da glicemia. Outros benefícios há pouco já estão sendo questionadas por
seriam a redução da pressão arterial e do seus efeitos deletérios e por vezes retiradas
peso, com baixa incidência de hipoglicemia de mercado.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 40

Aí você pensa: ainda bem que existem as leves ou ausentes (sem a presença de outras
diretrizes para me recomendar o que fazer... doenças agudas concomitantes), estão indi-
Mas do outro lado, vem a pérola: não vamos cados os medicamentos que não promovam
mais orientar nenhuma estratégia específica, aumento na secreção de insulina, principal-
mas uma avaliação centrada no paciente, em mente se o paciente for obeso. A associação
que diversos fatores devem ser pesados!!! entre hiperglicemia (geralmente acima de 200
Acreditem, é assim mesmo que aparece nas mg//dl) e perda de peso sinaliza a deficiência
principais diretrizes de diabetes! Como fazer de insulina, e os secretagogos costumam ser
então? Bom, nessa plêiade de opções tera- os mais indicados. Repare que as diretrizes
pêuticas e de artigos que inundam nosso dia da ADA colocam as sulfonilureias como repre-
a dia e caixa de e-mails, tentaremos organizar sentante dos secretagogos, não citando as
a seguir da forma mais coerente possível o glinidas, que são mais caras e não oferecem
conhecimento vigente. Para isso, ao encon- nenhuma vantagem terapêutica significativa.
trarmos um paciente com DM tipo 2 no nosso Elas seriam uma boa opção em caso de aler-
ambulatório, podemos organizar nossa con- gia às sulfonilureias ou intolerância a estas
duta por etapas. drogas em renais crônicos (a repaglinida tem
metabolização hepática). Da mesma forma,
não citam a acarbose, por conta da sua menor
1 – No Momento do eficácia, menor tolerância e custo elevado.
Diagnóstico – Monoterapia
Mais três meses são dados. Se o objetivo não
Ao fazermos o diagnóstico de DM tipo 2, en- for alcançado, seguimos para o PASSO 3.
contram-se indicados imediatamente:
• Modificação no Estilo de Vida (MEV).
• Metformina. 3 – Alvo Glicêmico AINDA
Não Atingido – Combinação
Apesar de inúmeras discussões sobre qual a de três drogas
melhor droga para utilizar no diabético, para
a primeira medicação não há dúvidas, é a Neste momento, para o paciente que já esta-
metformina! E por que iniciar logo uma droga? va em uso de duas drogas, acrescentaremos
Será que as intervenções não farmacológicas uma terceira. Por exemplo, se ele já usava
não poderiam ser suficientes? Até poderiam. metformina e sulfonilureia, deve receber uma
Para cada uma dessas intervenções (MEV ou glitazona, inibidor de DPP-4, agonista do
metformina) espera-se um decréscimo de GLP-1, inibidor SGLT2 ou insulina basal. Mais
1-2% na HbA1c. O grande problema é que a três meses são dados. Se o objetivo não for
perda ponderal não se mantém efetiva a longo alcançado, seguimos...
prazo para a maioria dos pacientes... Na prá-
tica, eles voltam a ganhar os quilos perdidos!
4 – Terapia combinada Injetável
Assim, desde o início já começamos o trata-
mento com o metformina. Devido aos seus Neste momento, manteremos a metformina e
frequentes efeitos adversos gastrointesti- nosso paciente deve receber drogas injetá-
nais, deve ser iniciado em baixas doses com veis: agonista do GLP-1, insulina basal e in-
aumentos graduais. Naqueles com níveis sulina pré-prandial. Atualmente, temos dispo-
de base de HbA1C mais elevados (> 9%), a nível ainda a pramlintida (descrita no tratamen-
monoterapia provavelmente não dará conta, to DM tipo 1) – um análogo sintético da amili-
sendo recomendado que já se combine uma na que pode ser utilizado de forma comple-
segunda droga ou que se utilize a insulina. mentar à insulina. Observe a seguir o fluxo-
Esta fica ainda mais indicada quando o pacien- grama apresentado pela ADA em sua diretriz
te apresenta achados francos de hiperglice- mais recente (FIGURA 8).
mia ou níveis ainda mais elevados de HbA1C
(>10-12%). Se após três meses de iniciada a
monoterapia não obtivermos resposta (HbA1c 5 – Insulinoterapia No
≥ 7%), devemos seguir para a próxima etapa. Diabetes Tipo 2

Esperem um pouco – insulinoterapia no DM


2 – Alvo Glicêmico Não Atingido tipo 2? Isso faz sentido??? Mas o diabético tipo
– Combinação de duas Drogas 2 continua produzindo insulina pelo pâncreas!
As células beta não estariam apenas disfuncio-
Neste momento, optaremos por uma das se- nantes? Pois é... Mas o fato é que muitos dia-
guintes condutas: béticos tipo 2 acabam precisando de insulina
• Associar agente antidiabético oral (sul- exógena como a única forma de alcançar o alvo
fonilureia / glitazona / gliptina / inibidor de glicêmico ideal. Veja o que acontece:
SGLT2) OU agonista do GLP-1 OU insu-
lina basal ao esquema terapêutico. Como vimos, o DM tipo 2 tende a ser uma
doença progressiva, havendo uma piora qua-
Qualquer uma dessas opções é válida!!! E a se que inexorável da disfunção das células
escolha dependerá da vontade do pacientes beta com o passar dos anos. O primeiro indí-
e das características da droga. Quando a gli- cio é a dificuldade de se controlar a glicemia
cemia for inferior a 200 mg/dl, com sintomas com a dose máxima da terapia oral combina-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 41

da, associada à dieta e exercício físico. Numa do jantar e de dormir). De acordo com a neces-
fase avançada da doença, alguns pacientes sidade em cada período, adicionamos uma
se tornam hipercatabólicos, semelhantes ao segunda aplicação, começando por 4 U e ajus-
DM tipo 1, evoluindo com emagrecimento e tando 2 U a cada três dias. Se ainda assim a
intensa poliúria e polidipsia. Esse quadro pode HbA1c permanecer elevada, checar a glicemia
ser antecipado por um estresse adrenérgico, pósprandial, inserindo ou modificando dose da
numa infecção aguda ou durante uma cirurgia insulina rápida pré-prandial.
de grande porte. Alguns pacientes chegam a
desenvolver cetose!! Outros evoluem com  Caso durante o reajuste de doses ocorra hipo-
hiperglicemia acentuada, acima de 500 mg/dl, glicemia ou glicemia < 70 mg/dl nesse período,
e podem complicar com a síndrome hiperos- reduzir a dose em 4 U ou 10% (o que for maior).
molar diabética não cetótica (ver adiante). Insulinas padronizadas (pré-misturadas) não
Ainda existe o chamado efeito glicotóxico: devem ser usadas para o ajuste de dose, mas
níveis glicêmicos acima de 300 mg/dl por tem- apenas após estabilização da mesma.
po prolongado possuem um efeito inibitório
sobre as células betapancreáticas, agravando  Com o início da insulina basal, pode-se sus-
a sua disfunção. Muitas vezes, tal efeito só pender o antidiabético oral ou mantê-lo. Nor-
pode ser revertido com a insulinoterapia. malmente, a última opção é escolhida, uma vez
que reduzirá as doses necessárias de insulina.
Você decidiu iniciar insulina para o paciente.
Como fazer? Veja a seguir as principais indicações de insu-
linoterapia no DM tipo 2:
 Devemos iniciar com a insulina NPH antes
de dormir (bedtime insulin), visando reduzir a Nas situações especiais, como nas gestantes
gliconeogênese hepática noturna, estimulada e nos estados de grande estresse clínico, o pa-
por hormônios contrainsulínicos (como o GH). ciente deve ter monitorização mais rigorosa da
Outra opção mais onerosa seria utilizar insulina dieta e controle mais rígido da glicemia capilar
de ação prolongada (glargina) de manhã ou (4/4h), podendo ser deixados sob esquemas
antes de dormir. A dose é de 10 U ou 0,2 U/kg. “SOS” de insulinoterapia ou mesmo serem insuli-
nizados plenamente de acordo com as glicemias
 Realizar a dosagem da glicemia capilar apresentadas. Nos pacientes em pré-operatório,
1x/dia e de acordo com o resultado, aumentar além da suspensão da droga na véspera da
2 U a cada três dias. O objetivo, você se lembra! cirurgia (48h se em uso de clorpropamida), a
Manter a glicemia pré-prandial entre 80-130 cirurgia deve ser realizada preferencialmente
mg/dl. Se a glicemia permanecer > 180 mg/dl, pela manhã, com administração de metade ou
podemos aumentar a dose a passos mais rá- 1/3 da dose usual de insulina, caso já venha
pidos 4 U a cada três dias. Após 2-3 meses em uso da mesma. Esses pacientes usuários
(antes não adianta, nós já sabemos), dosamos de insulina, da mesma forma que aqueles que
a HbA1c. Se estiver abaixo de 7%, mantemos estejam mal controlados, ou sejam submetidos
o esquema. Se estiver acima de 7%, investiga- a procedimentos maiores, precisarão também
remos os demais períodos (antes do almoço, de infusão venosa durante a cirurgia.

Figura 8
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 42

Vamos listar as indicações de insulinoterapia no DM tipo 2:


• Pacientes refratários à dieta + exercício + monoterapia com metformina ou terapia combinada.
• Pacientes em franco estado catabólico: emagrecimento, poliúria e polidipsia, com glicemia de jejum
acima de 250 mg/dl ou glicemias aleatórias consistentemente acima de 300 mg/dl ou cetose.
• Troca de diagnóstico: o que parecia ser um DM tipo 2, na verdade é um DM tipo 1 tardio (síndrome
LADA: Late-onset Autoimmune Diabetes of Adulthood).
• Situações especiais: gestantes e pacientes sob estresse clínico (infecção, IAM, AVE) ou ci-
rúrgico; doença renal ou hepática; pré-operatório.

Figura 9

Vamos ver como isso cai em prova: - Análogos do GLP-1 (atuam sobre o receptor
do GLP-1, apresentando o mesmo efeito do
hormônio endógeno, com maior meia-vida) e
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 tem como principais representantes a liraglu-
UNIVERSIDADE FEDERAL tida, dulaglutida e exenatide.
DE SERGIPE – SE
Quais das seguintes classes de drogas são Alternativa C correta.
ambas baseadas em incretina?
a) Biguanida e secretagogo.
b) Biguanida e agonista do receptor de GLP-1. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
c) Inibidor de DPP-4 e agonista do receptor UNIVERSIDADE DO ESTADO
de GLP-1. DO RIO DE JANEIRO – UERJ
d) Inibidor de DPP-4 e inibidor de SGLT-2. Uma senhora (68 anos), IMC = 34, domés-
tica, está em acompanhamento de Diabetes
As incretinas são hormônios secretados por em uma unidade de saúde, refere pareste-
células endócrinas (células K e L) do intesti- sia em bota e apresenta lesão ulcerada em
no delgado. Entre os principais representan- região plantar. Está em uso de Metformim
tes dessa classe de hormônios está GLP-1, o (2.550 mg/dia) e Glibenclamida 20 mg/dia
qual promove estímulo à síntese e secreção com boa adesão aos medicamentos. Os
de insulina dependente da glicemia, inibição exames recentes evidenciam Glicemia de
da secreção de glucagon e retardo no esva- jejum = 180, HbA1c = 9 em função do qua-
ziamento gástrico. As classes de drogas que dro clínico atual, a conduta a ser tomada é:
possuem ação incretinomimética são: a) Manter os hipoglicemiantes e iniciar insu-
lina de ação intermediária à noite.
- Inibidores da dipeptidilpeptidase IV (enzima b) Suspender os hipoglicemiantes e iniciar in-
que inativa o GLP-1), cujos principais repre- sulina de ação intermediária à noite.
sentantes são a sitagliptina, linagliptina, vida- c) Manter os hipoglicemiantes e iniciar insu-
gliptina e saxagliptina. linização plena com insulina de ação rápida.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 43

d) Suspender os hipoglicemiantes e iniciar in- tese e secreção de insulina dependente da


sulinização plena com insulina de ação inter- glicemia, inibição da secreção de glucagon e
mediária. retardamento do esvaziamento gástrico. Per-
ceba que, como essas drogas acabam inter-
Diante de uma paciente diabética tipo 2 que, ferindo apenas na secreção de insulina no
apesar da terapia combinada com dois anti- estado de hiperglicemia (glicose-dependen-
diabéticos orais (uma biguanida e uma sulfo- te), como a hiperglicemia pós-prandial, não
nilureia) em doses otimizadas, apresenta evi- há risco de hipoglicemia e não altera o peso
dências laboratoriais de controle ineficaz dos corporal. Vamos ao conceito das outras dro-
níveis glicêmicos, passamos a ter indicação gas: – orlistat: redutor de absorção de gordu-
de alterar o esquema terapêutico. Neste caso, ra intestinal; – glimepirida: sulfonilureia de 3ª
o ideal seria iniciar uma insulina NPH bedtime geração (secretagogo de insulina); – piogli-
ou uma insulina de ação prolongada pela ma- tazona: tipo de tiazolidenediona (reduz resis-
nhã na dose de 0,2 UI/kg ou 10 UI, além da tência insulínica); – nateglinida: tipo de glini-
manutenção dos antidiabéticos orais. da, ou seja, atua também como secretagogo
Resposta: A. de insulina, aumentando o pico pós-prandial
deste hormônio. Resposta: letra E.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012


ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – PR RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
Qual das medicações abaixo diminui a absor- UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE
ção intestinal de carboidratos, podendo ser JANEIRO – UERJ
utilizada no tratamento do diabetes Mellitus? Ao ser introduzida a terapia com um inibidor
a) Ezetimibe. da dipeptidilpeptidase-IV no tratamento de um
b) Acarbose. paciente diabético, a seguinte característica
c) Sitagliptina. benéfica não deve ser esperada:
d) Metformina. a) Ausência de ganho ponderal.
e) Glimepirida. b) Ausência de risco de hipoglicemia.
c) Ação destacada na hiperglicemia pós-pran-
A acarbose é uma enzima inibidora da dial.
alfaglucosidase (que transforma carboidra- d) Dispensa de correção da dose na insufi-
tos polissacarídeos em monossacarídeos), ciência renal.
desta forma, reduzindo a absorção de glico-
se e a glicemia pós-prandial. Resposta: B. Podemos dizer que todas as opções são
E as demais opções? A alternativa “A” traz vantagens obtidas com as gliptinas, exceto
uma droga que atua inibindo a absorção de pela opção D. A dose deve ser corrigida em
colesterol no trato digestivo, o ezetimibe. caso de insuficiência renal. No caso da sita-
No item “C”, temos um inibidor da enzima gliptina, por exemplo, a correção está indicada
DPP-4. No item “D” temos a metformina, a partir do clearance de creatinina abaixo de
uma biguanida que atua inibindo a gliconeo- 50 ml/min, reduzindo-se a dose de 100 mg/dia
gênse no fígado e melhorando a sensibili- para 50 mg/dia (30-50 ml/min) ou 25 mg/dia
dade à insulina. Por último, no item “E”, te- (< 30 ml/min). Resposta: D.
mos um exemplo de sulfonilureia, que atua
estimulando o pâncreas a produzir insulina,
independentemente da situação. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – BA
Paciente, sexo masculino, 53 anos de idade,
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 pesando 65 quilos, residente em Salvador, en-
HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN genheiro, etilista social, diabético há 12 anos,
– SP é atendido em unidade básica de saúde. Re-
Se o médico decidir pela introdução de um lata dificuldade em manter ereções penianas,
incretinomimético no tratamento de um pacien- perda de peso, insônia e que faz uso regular
te portador de diabetes tipo 2 poderá optar, de hipoglicemiante oral. Última glicemia de
por exemplo, por: jejum: 180 mg/dl.
a) Orlistat. De acordo com esses dados, a primeira con-
b) Glimepirida. duta a ser assumida, visando ao controle da
c) Pioglitazona. glicemia, é:
d) Nateglinida. a) Repetir a glicemia de jejum e solicitar he-
e) Vildagliptina. moglobina glicosilada.
b) Solicitar hemoglobina glicosilada e avaliar
Os inibidores da DPP-IV, como a sitaglip- a dose do hipoglicemiante oral em uso, a ne-
tina e a vildagliptina (letra E), são exemplos cessidade de adequar dieta e introduzir o uso
de drogas incretinomiméticas, ou seja, que de insulina.
aumentam a ação das incretinas, especial- c) Encaminhar o paciente à nutricionista e
mente o GLP-1 (peptídeo 1 semelhante ao ao urologista para tratar a perda de peso e a
glucagon). Essas drogas inibem a enzima possível disfunção erétil.
dipeptidilpeptidase IV que inativa o GLP-1, d) Verificar os sinais vitais, avaliar e ajustar
ou seja, de fato aumentam o nível sérico des- a dieta e a dose do hipoglicemiante oral, e
ta substância, elevando a sua atividade en- investigar a causa da insônia.
dógena. O GLP-1 promove estímulo da sín- e) Orientar a necessidade de mudanças no
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 44

estilo de vida e a importância de realizar ati- proibida em alguns países da Europa e circu-
vidades físicas. la com grande limitação nos demais países,
em virtude de seus possíveis efeitos cardio-
Estamos frente a um paciente com diabetes vasculares deletérios, embora faltem ainda
tipo 2, diagnosticado há 12 anos (na verdade, dados conclusivos a respeito dessa relação.
deve ter muito mais tempo de doença) mal Resposta: letra C.
controlado e que apresenta lesões crônicas
(dificuldade de ereção), além de estar sintomá-
tico (emagrecimento). O que fazer? Além de RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
mudanças no estilo de vida e avaliar a hemo- HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE GOIÁS – GO
globina glicada e a dose do hipoglicemiante, Paciente do sexo feminino, 52 anos, com
devemos iniciar insulinoterapia. Observem diagnóstico de diabetes mellitus há três
que o paciente já está apresentando sinais de anos. Está em uso de glimepirida (6 mg/dia)
“fadiga” pancreática, não havendo motivo para e metformina (850 mg, duas vezes/dia). Re-
adiar a introdução da insulina. Resposta: B. fere perda gradual de peso nos últimos seis
meses, apesar de alimentar-se corretamen-
te e manter sua atividade física regular. Sua
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 monitorização glicêmica domiciliar mostra
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO glicemias elevadas, tanto em jejum (mínimo
PRESIDENTE DUTRA – MA de 200 mg/dia) quanto pós-prandial (até
Das drogas antidiabéticas orais, qual das 300 mg/dl) e HbA1c sistematicamente em
abaixo, pelo seu mecanismo de ação, não é torno de 9,5% (VR: 4,0-6,0%). Ao exame
hipoglicemiante: físico: IMC = 23,8 kg/m2, cintura abdominal
a) Metformina. d) Glipizida. = 81 cm, PA = 120 x 80 mmHg. O restante
b) Repaglinida. e) Glicazida. do exame físico está sem alterações. A me-
c) Nateglinida. lhor conduta inicial para se obter um bom
controle metabólico, nessa paciente, é:
Questão conceitual sobre o mecanismo de a) Associar uma glitazona.
ação dos antidiabéticos orais. Vamos a eles: b) Associar uma glinida antes das refeições.
METFORMINA: É o gabarito da questão, uma c) Associar insulina glargina ao deitar.
vez que age reduzindo a resistência periféri- d) Aumentar a dose de metformina.
ca à ação da insulina (aumentando o efeito
do hormônio nos hepatócitos e bloqueando O cenário é de um paciente diabético tipo
a glicogenólise e a gliconeogênese), mas II, que apesar do uso de dois antidiabéticos
não estimula a sua secreção. REPAGLINIDA orais (uma biguanida e uma sulfonilureia) e
e NATEGLINIDA: São tipos de glinidas (me- da aderência às medidas comportamentais,
tilglinidas), que constituem secretagogos de se mantém sintomático (perda de peso) e com
insulina com meiavida rápida e que agem au- descontrole glicêmico importante, qual deve
mentando o pico rápido de insulina pós-pran- ser o próximo passo em relação às interven-
dial. Por aumentarem a secreção de insulina, ções terapêuticas? Nesta situação em que o
podem induzir hipoglicemia iatrogênica caso paciente se mantém distante de seus alvos
os pacientes permaneçam em jejum. - GLI- mesmo com uso de dois ou três antidiabéticos
PIZIDA e GLICAZIDA: São sulfonilureias de orais, o ideal é iniciar a insulinoterapia. Uma
2ª geração (como a glibenclamida), ou seja, única dose de insulina NPH ou análogo de
são secretagogos de insulina, mas que agem ação prolongada (glargina ou detemir) ao
aumentando a secreção basal de insulina. deitar, é considerada a estratégia preferencial
Mais uma vez, por aumentarem a secreção para início de insulinoterapia no DM2 em uso
de insulina, há o risco de hipoglicemia. Resu- de hipoglicemiantes orais. Uma opção que
mindo: para ter hipoglicemia, tem que existir poderíamos pensar seria aumentar a dose de
aumento dos níveis de insulina. E quais são metformina para a dose máxima de 850 mg
as drogas que atuam aumentando a secre- 3x/dia, mas o efeito seria pequeno nessa
ção do hormônio? São as sulfonilureias e as paciente magra. Resposta: letra C.
glinidas. Resposta: letra A.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010


RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 UNIVERSIDADE FEDERAL
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO SÃO PAULO – UNIFESP
PRESIDENTE DUTRA – MA Entre as ações dos medicamentos utilizados
Qual dos antidiabéticos orais recentemente para o tratamento do diabete mellitus do tipo
teve sua comercialização suspensa devido 2, é correto afirmar que:
associação com aumento de risco cardiovas- a) Os miméticos do GLP1 diminuem o tempo
cular em diabéticos? de esvaziamento gástrico e aumentam a se-
a) Acarbose. d) Sibutramina. creção de glucagon.
b) Metformina. e) Nateglinida. b) As sulfonilureias estimulam a secreção de
c) Rosiglitazona. insulina e inibem a produção hepática de gli-
cose.
Desde 2007, começou-se a associar as gli- c) As glitazonas inibem a produção hepática
tazonas ou tiazolidenediona (especialmente de glicose, suprimem a produção de ácidos
a rosiglitazona) com mortes de origem car- graxos não esterificados e a perda de glicose
diovascular. Assim, no final de 2010, ela foi na urina.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 45

d) Os inibidores da alfaglucosidase inibem a dieta e a atividade física desempenham impor-


absorção de glicose intestinal e diminuem a tante papel no controle dos níveis glicêmicos,
secreção das incretinas. mas, não raramente, a prescrição de hipogli-
e) A metformina aumenta a sensibilidade he- cemiantes orais se torna também necessária.
pática à insulina e diminui a produção hepáti- Dentre estes, incluem-se fármacos cuja ação
ca de glicose. se exerce através da inibição da alfaglucosi-
dade, dos quais um exemplo é:
A metformina, única biguanida disponível no a) Acarbose
mercado, age caracteristicamente aumentan- b) Nateglinida
do o efeito da insulina nos hepatócitos, levan- c) Metformina
do ao bloqueio da glicogenólise e da gliconeo- d) Rosiglitazona
gênese, reações associadas à hiperglicemia
persistente dos diabéticos tipo 2. Resposta: E. Questão conceitual, a acarbose é a única
que exerce esta ação. Impede a absorção da
glicose, pois impede a ação desta dissacari-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2007 dase no intestino. Problemas: sobra açúcar
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE – RJ no intestino – que fermenta e gera flatulência
Em enfermos com diabete mellitus do tipo II, a e diarreia.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 46

complicações agudas
do diabetes

P odemos dividir as complicações agudas do diabetes em dois grupos


principais: (1) crises hiperglicêmicas e (2) hipoglicemia. As crises
hiperglicêmicas são as complicações mais graves, representadas pela
cetoacidose diabética e o estado hiperglicêmico hiperosmolar. A hipoglicemia
é a principal causa de coma em pacientes diabéticos. O melhor de tudo é que
estas condições se tornam reversíveis quando adequadamente manejadas.
No entanto, uma abordagem que pode parecer tão simples, acaba muitas
vezes nos surpreendendo no dia a dia como ainda dá margem a práticas
tão inadequadas...

46
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 47

1) cRISES HIPERGLICÊMICAS

tabela - resumo
Estado Hiperglicê-
Cetoacidose Diabética (CAD) mico Hiperosmo-
lar (EHH)
Parâmetro Leve Moderada Grave
Glicemia > 250 mg/dl > 600 mg/dl
pH arterial 7,25-7,30 7,00-7,24 < 7,00 > 7,30
Bicarbonato sérico
15-18 10-14 < 10 > 18
(mEq/L)
Cetonúria Positiva Positiva Positiva Discreta
Cetonemia Positiva Positiva Positiva Discreta
Osmolaridade sérica
Variável Variável Variável > 320 mOsm/kg
efetiva
Ânion-gap > 10 > 12 > 12 Variável
Alerta/sono-
Nível de consciência Alerta Estupor/coma Estupor/coma
lento
Qual é a semelhança entre a CAD e EHH?
São crises hiperglicêmicas associadas à glicosúria e diurese osmótica, que podem vir relacionadas
a perdas corporais de sódio, potássio, fosfato e magnésio.
No que se caracterizam principalmente?
Pela desidratação e osmolaridade mais acentuada (EHH) e pela acidose metabólica com ânion-
-gap aumentado (CAD).
Qual é o principal fator desencadeante dessas condições?
Infecção.
Qual é a base do tratamento de ambas as complicações?
Hidratação vigorosa, insulinoterapia e reposição de potássio.

A - cetoacidose diabética

Fisiopatologia 1- Aumento da osmolaridade: uma hiper-


glicemia superior a 400 mg/dl aumenta
Esta é a complicação metabólica aguda clás- significativamente a osmolaridade efetiva
sica do DM tipo 1, ou seja, ausência completa do plasma, o que acarreta a desidratação
ou quase completa de insulina. Sem insulina, o neuronal. Ou seja, a cetoacidose diabética
estado catabólico torna-se exagerado – a lipó- também seria, de certa forma, uma “síndro-
lise lança na circulação uma quantidade enor- me hiperosmolar”, só que uma síndrome
me de ácidos graxos que serão transformados hiperosmolar cetótica! Mas cuidado com o
em corpos cetônicos no fígado. O hipercata- conceito! Apesar de hiperosmolar, ela não
bolismo também libera glicerol, aminoácidos chega nem aos pés do estado hiperosmolar
e lactato dos tecidos, que serão utilizados na hiperglicêmico que veremos em seguida...
gliconeogênese hepática. O resultado será a
ocorrência de níveis bem elevados de glicemia 2- Espoliação hidroeletrolítica: quando a
e produção exacerbada de corpos cetônicos, glicemia ultrapassa a faixa dos 200 mg/dl,
levando à cetoacidose diabética. surge glicosúria. A glicose urinária, por
sua vez, atua como “diurético osmótico”,
Obs.: Sempre que o catabolismo é intenso, provocando poliúria e depleção volêmica
gerando um excesso de ácidos graxos, es- e eletrolítica.
tes passam a ser metabolizados no fígado,
convertendo-se em corpos cetônicos, numa 3- Acidose metabólica: dos três corpos cetô-
reação chamada cetogênese. Os corpos nicos, dois são ácidos (cetoácidos): ácido
cetônicos são substratos alternativos para a acetoacético e ácido beta-hidroxibutírico.
produção energética pelas células, inclusive Em altas concentrações no plasma, os ce-
os neurônios. toácidos provocam uma acidose metabólica
com ânion-gap elevado, por vezes grave. O
A cetoacidose diabética é bem menos comum terceiro corpo cetônico é a acetona, inócua
no DM tipo 2, embora também possa ocorrer. para o organismo, manifestando-se apenas
Estes pacientes geralmente estão na fase in- pelo hálito cetônico.
sulinopênica da doença e apresentam algum
tipo de estresse adrenérgico agudo (infecção,
IAM, AVE, cirurgia, etc.). Manifestações Clínicas

Quais são as consequências deletérias da Quais são os fatores precipitantes da ce-


cetoacidose diabética? toacidose diabética?
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 48

Apenas uma minoria de diabéticos tipo 1 abre Visualize um paciente com cetoacidose dia-
a doença de forma tão abrupta que tem como bética... Pense numa criança ou num adoles-
primeira manifestação do diabetes a Cetoaci- cente entrando pelo pronto-socorro, queixan-
dose (a CAD é o primeiro sintoma da doença do-se de intensa dor abdominal e vomitando.
em 17% dos adultos). Em crianças e adoles- Muitos plantonistas achariam que se trata de
centes, ela já assume uma importância maior, um “abdome agudo”, pensando, por exemplo,
abrindo o quadro em até 30% dos casos. numa apendicite aguda ou mesmo numa pan-
creatite aguda... cuidado!!! Todo paciente
Na história clínica, é importante reconhecer- jovem que chega ao hospital com suposto
mos que a CAD costuma ter um fator desen- “abdome agudo” deve sempre ser avaliado
cadeante (apenas em 2-10% dos casos a em relação à possibilidade de cetoacidose
causa da descompensação é desconhecida). diabética. Quer ver?
Geralmente ela é desencadeada por:

• Condição de estresse metabólico agudo (in- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011


fecção, cirurgia, etc.). Em tais situações, os UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE
níveis séricos de catecolaminas (adrenalina) DO NORTE – UFRN
e de cortisol estimulam a lipólise e provocam Paciente do sexo masculino, 19 anos, dá en-
a cetoacidose diabética. trada no Pronto-Socorro com quadro de dor
abdominal de início há 2 horas, associado a
• Suspensão inadvertida da insulinoterapia por aumento de diurese. Nega febre ou outras al-
um paciente diabético tipo 1! terações. Nega alteração do trânsito intestinal.
Relata antecedente de asma na infância. Nega
• Outros fatores incluídos: distúrbios alimen- uso de medicamentos. Exame físico: EGR,
tares, drogas (corticoides, tiazídicos, simpa- acianótico, afebril, desidratado (3+) taquidisp-
ticomiméticos, pentamidina, antipsicóticos neico (FR: 32), agitado (não colaborando com
típicos e atípicos). exame físico nem com história clínica), MV +
sem RA, RCR, 2T, BNF, sem sopros. PA: 150
Atualmente, vem se notando um aumento de x 80 mmHg FC: 98, Abdome sem massas ou
casos de CAD sem causa precipitante em visceromegalias, doloroso à palpação profunda,
crianças, adolescentes e adultos com diabetes difusamente com sinais de irritação peritoneal
tipo 2 (DM tipo 2 predisposto a cetose). Seriam (descompressão brusca positiva). MMII: sem
estes pacientes com necessidade transitória edema. Exames laboratoriais: Glicemia capilar:
de insulina e que conseguem, posteriormente, 415 mg/dl, Gasometria Arterial: Ph: 7,21; Bic:
o controle glicêmico apenas com dieta e dro- 14; pO2; 80; pCO2: 30; BE: - 13. Hb/Ht: 13/39;
gas antidiabéticas orais. Leucócitos: 15.000 (3% bastões/60 segmenta-
dos/ 3 eosinófilos/-/29 Linfócitos/ 5 monócitos).
Plaquetas: 240.000; Rx de Tórax: Normal. [...]
Os sinais e sintomas da cetoacidose dia-
bética são típicos: Temos um paciente jovem com dor abdominal,
aumento da diurese, desidratação e taquipneia,
• Sintomas gastrointestinais: dor abdominal, que dá entrada na emergência com glicemia ca-
náuseas e vômitos. pilar = 415. É assim que alguns pacientes abrem
o quadro de DM1, com uma crise de cetoacidose
• Dispneia: devido à hiperventilação para com- diabética! Mas afinal de contas o que justifica
pensar a acidose (respiração de Kussmaul). essa “irritação peritoneal”? Postula-se que ocor-
ra devido ao atrito entre os folhetos peritoneais,
• Rebaixamento da consciência: desorienta- que se encontram desidratados – podendo in-
ção, confusão, letargia, coma. O rebaixa- clusive simular um abdome agudo cirúrgico! A
mento da consciência nem sempre ocorre. questão ilustra bem o que acabamos de falar:
O seu mecanismo principal é a hiperosmo- imagine se a glicemia capilar não tivesse sido
laridade levando à desidratação neuronal, realizada e o cirurgião tivesse sido chamado,
quando os níveis glicêmicos estão muito sem atentar a esse detalhe...
elevados. Uma acidemia grave (pH < 7,00)
pode contribuir para o distúrbio neurológico
nestes pacientes. Quais são os distúrbios hidroeletrolíticos
da cetoacidose diabética?
• Poliúria, polidipsia, emagrecimento e desidra-
tação: muitas vezes estes sintomas não são A intensa poliúria osmótica que o paciente
relatados espontaneamente pelo paciente ou desenvolve leva à perda de uma grande quan-
seu familiar, aparecendo apenas na anam- tidade de sódio + água (expoliação volêmica),
nese dirigida... Além disso, é comum que além de potássio e fosfato. Surge então hipo-
o paciente não esteja poliúrico na chegada volemia e desidratação. A estimativa de perda
ao hospital, pois ele já perdeu tanto líquido hídrica oscila entre 3-6 litros!!
que a poliúria já cessou e ainda pode ter se
transformado em oligúria... Em relação ao potássio e ao fosfato, um pen-
samento simplista concluiria que, devido à
• Hálito de acetona: dado não confiável. expoliação urinária, o paciente se apresenta
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 49

com hipocalemia e hipofosfatemia. Porém ção), hipertrigliceridemia e um leve aumento


isso não é verdade!! Aliás, pelo contrário!! da amilase sérica, tomando-se o cuidado
Cerca de dois terços dos pacientes possuem para não confundir com a pancreatite agu-
discreta hipercalemia e hiperfosfatemia na pri- da. Mesmo a lipase pode vir discretamente
meira dosagem!! Como explicar o fenômeno?? elevada nessa situação, dificultando o diag-
nóstico diferencial. No EAS pode haver piúria
Este é o primeiro “paradoxo eletro- ou proteinúria, que nem sempre devem ser
lítico” da cetoacidose diabética! Veja: O valorizadas como sinais de infecção.
corpo está bastante depletado de potássio e
fosfato, mas existem três fortes estímulos que
promovem a saída contínua de potássio e fos- Diagnóstico
fato das células para o plasma: a hiperosmo-
laridade, a acidemia e a depleção de insulina. Suspeitou de cetoacidose diabética? Como
Portanto, o potássio e o fosfato séricos não confirmar o diagnóstico?
refletem as perdas corporais – encontram-
-se normais ou ligeiramente aumentados, Aprenda o seguinte conceito: O diagnóstico
embora as células estejam bastante deple- da cetoacidose diabética se baseia em um
tadas destes eletrólitos. É fundamental saber “tripé”:
que este “paradoxo” é logo desfeito após o
início da insulinoterapia: a insulina promo-  Hiperglicemia
ve a entrada imediata de potássio e fosfato (Glicemia > 250 mg/dl)
nas células, fazendo a calemia e fosfatemia  Acidose metabólica
“despencarem” após as primeiras horas do (pH < 7,30 e HCO3 < 15 mEq/L)
tratamento!!! Daí a necessidade rotineira da
 Cetose Moderada
reposição de potássio e fosfato logo após a
(Cetonemia ou Cetonúria de
introdução da insulinoterapia!
3+ ou 4+)
O segundo “paradoxo eletrolítico”
da cetoacidose diabética é a presença de
hiponatremia com hiperosmolaridade. O mo- Na prática, a glicemia encontra-se em média
tivo é o seguinte: a hiperglicemia acentuada entre 400-800 mg/dl. A acidose metabólica
aumenta por si só a osmolaridade efetiva do frequentemente é grave, com pH < 7,20, HCO3
plasma; isto provoca a saída de água das cé- < 10 mEq/L e BE mais negativo do que -10,0
lulas, diluindo o sódio plasmático. Como você mEq/L. E a cetonúria??
verá em outra apostila do MED, para cada
aumento de 100 mg/dl da glicemia, o sódio cai A cetonúria tem um problema... O corpo
1,6 mEq/L. O “sódio corrigido” deve ser cetônico predominante no sangue e na urina
calculado fazendo-se a conta inversa (cada nos pacientes com cetoacidose é o beta-hi-
aumento de 100 mg/dl na glicemia, aumenta o droxibutirato, derivado do ácido beta-hidroxi-
sódio sérico em 1,6 mEq/L). Muitas vezes, o butírico. Contudo, a fita que mede a cetonúria
“sódio corrigido” está elevado, indicando que não detecta o beta-hidroxibutirato, mas, sim,
após o controle da glicemia o paciente ficará o acetoacetato e a acetona. Isto faz com que
hipernatrêmico e com deficit de água livre. alguns pacientes com cetoacidose apresentem
a primeira medida da cetonúria negativa ou
Além da hiponatremia dilucional, pode ocorrer levemente positiva, ocultando o diagnóstico.
pseudo-hiponatremia pela hiperlipemia. O só- O macete neste caso é repetir o exame de uri-
dio cai 2 mEq/l para cada 1 g/dl de aumento na adicionando um pouco de água oxigenada
de triglicerídeo. Outro distúrbio eletrolítico que (peróxido de hidrogênio) na urina do paciente.
pode ser encontrado é a Hipomagnesemia. A água oxigenada tem a propriedade de pro-
mover a conversão não enzimática de beta-hi-
droxibutirato em acetoacetato, revelando uma
E as escórias nitrogenadas? cetonúria diagnóstica!! Este método é aconse-
lhado em todos os casos de forte suspeita de
A ureia e a creatinina podem se elevar em cetoacidose, mas com cetonúria negativa ou
casos de hipovolemia grave, devido à insufi- discretamente positiva.
ciência pré-renal (baixo fluxo sanguíneo para
os rins). Curiosamente, a creatinina pode se Qual é o tipo de acidose metabólica na ce-
elevar, para uma faixa entre 2-3 mg/dl, mesmo toacidose diabética?
sem nenhuma disfunção renal ou pré-renal
(ureia normal). O motivo é que o acetoacetato Apesar de cerca de 10% dos pacientes apre-
plasmático é “lido” na espectofotometria do sentarem glicemia abaixo desses limites (CAD
laboratório como creatinina. Portanto, um falso euglicêmica), na prática, a glicemia encontra-
aumento de creatinina pode estar presente. se em média entre 400-800 mg/dl. A acidose
metabólica frequentemente é grave, com pH
< 7,20, HCO3 < 10 mEq/L e BE mais negativo
Pode haver outras alterações laboratoriais? do que -10,0 mEq/L. E a cetonúria??

A resposta é sim! A cetoacidose diabética É do tipo Ânion-Gap (AG) aumentado, normo-


pode provocar leucocitose neutrofílica de até clorêmica!!! Você vai recordar no módulo de
25.000/mm3 (mesmo na ausência de infec- Distúrbio Ácido-Básico do MED o Ânion-Gap.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 50

Este parâmetro representa a soma de todos d) Glicemia > 500 mg/dl; pH arterial < 7,35
os ânions plasmáticos diferentes do cloro e e/ou bicarbonato < 12 mmol/L e cetonúria
do bicarbonato. (...) Diante de uma acidose positiva.
metabólica é sempre válido calcular o AG,
usando a fórmula: AG = Na - Cl - HCO3. O
valor médio do AG é de 10 mEq/L. Logo, na Tratamento
cetoacidose temos AG > 12 mEq/L. Como
diagnóstico diferencial, temos que pensar na “Todo médico que se preze e que vai trabalhar
acidose lática, na síndrome urêmica e nas em unidades de emergência tem obrigação de
intoxicações exógenas por salicilato, metanol reconhecer e tratar corretamente uma cetoaci-
ou etilenoglicol. dose diabética!”. Se a terapia for realizada de
forma adequada, a equipe de saúde do hospital
Mas por que o AG está elevado na cetoaci- salvará literalmente a vida do paciente!! Sem o
dose? Por causa dos cetoânions!! São eles o tratamento, a letalidade da cetoacidose diabé-
acetoacetato e o beta-hidroxibutirato, deriva- tica é de 100%!!!! Com o tratamento correto,
dos da dissociação dos ácidos acetoacético e a letalidade cai para menos de 5%!!!
beta-hidroxibutírico, respectivamente. Ou seja,
a medida do AG é uma forma indireta de se A terapia da cetoacidose diabética também
medir a cetonemia... funciona como um “tripé” (de forma análoga
ao diagnóstico):
CUIDADO COM AS “ARMADILHAS”
DA CETOACIDOSE DIABÉTICA  Reposição volêmica
 Insulinoterapia
1) Existe um caso no qual o paciente com  Reposição de potássio
cetoacidose diabética se apresenta sem
acidose metabólica na gasometria... Esta
“armadilha” pode ocorrer quando o paciente
teve múltiplos episódios de vômitos. Ora, os Primeira Medida: Reposição
vômitos causam alcalose metabólica que, Volêmica Rápida
combinada à cetoacidose, pode deixar a ga-
sometria totalmente normal!!! O diagnóstico, Embora todos os componentes da terapia devam
neste caso, é feito por dados da história clíni- ser iniciados o mais rapidamente possível, existe
ca, níveis glicêmicos, cetonúria francamente uma ordem cronológica que deve ser respeitada.
positiva e um Ânion-Gap bastante elevado!! O primeiro passo é infundir 1-1,5L de soro fi-
2) Existe também uma situação em que a siológico 0,9% 1ª hora (15-20 ml/kg/h), para
cetoacidose cursa com acidose metabóli- iniciar a correção da hipovolemia. Esta medi-
ca hiperclorêmica, com AG normal. Isto é da deve ser realizada obrigatoriamente antes
comum logo após o início da insulinoterapia. da insulina, para prevenir um possível efeito
Qual é o motivo? Veja: A liberação de cetoá- expoliante da insulina sobre a volemia – a
cidos na circulação, na verdade, origina dois insulina promove a entrada de glicose nas
elementos: os cetoânions (responsáveis pelo células que, por efeito osmótico, é acompa-
AG elevado) e os íons H+ (responsáveis pela nhada por água, que sai do vaso e interstício
acidose metabólica). A insulinoterapia depura e entra nas células. Em seguida, o esquema
rapidamente os cetoânions do plasma, antes de reposição volêmica dependerá dos níveis
que os rins consigam eliminar o excesso de séricos corrigidos do sódio.
H+. Neste momento, surge um período em
que o paciente ainda está em acidose, mas • Sódio normal ou elevado (> 135 mEq/L) = uti-
o seu AG normalizou-se – automaticamente lizar salina 0,45% (misturar SF 0,9% + água
ocorre retenção de cloro para compensar o destilada; meio a meio). A salina hipotônica
HCO3 baixo no equilíbrio eletroquímico (aci- também tem o intuito de repor o deficit de
dose hiperclorêmica). água livre que costuma estar presente.

• Sódio baixo (< 135 mEq/L) = utilizar NaCl


RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 0,9%.
PROCESSO SELETIVO UNIFICADO – MG
Menino com diabetes mellitus tipo I, em uso A taxa de reposição deve começar entre
irregular de insulina, apresenta nos últimos 250-500 ml/h (4-14 ml/kg/h) e se ajustar de
dias polidipsia, poliúria, respiração rápida e acordo com o resultado dos exames e o esta-
profunda, desidratação e certa letargia. Além do clínico do paciente. Em crianças menores,
dessas manifestações clínicas, os parâmetros a infusão de SF 0,9% é preferível pelo menor
bioquímicos para caracterizar cetoacidose risco de edema cerebral.
diabética são:
a) Glicemia > 400 mg/dl; pH venoso < 7,2 e/
ou bicarbonato < 12 mmol/L e cetonemia > Segunda Medida:
3 mmol/L. Insulinoterapia e Continuação
b) Glicemia > 200 mg/dl; pH < 7,3 e/ou bicar- da Hidratação Venosa
bonato < 15 mmol/L e cetonúria positiva.
c) Glicemia > 400 mg/dl; pH arterial < 6,9 e/ou Após entrar o primeiro litro de soro, a insulinote-
bicarbonato < 8 mmol/L e cetonemia > rapia é iniciada. Administra-se um bolus venoso
3 mmol/L. de insulina regular na dose de 0,1 U/kg, seguido
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 51

de imediato por 0,1 U/kg/h em infusão venosa mia hemolítica. É extremamente importante
contínua (bomba infusora). Uma solução muito acompanhar a dosagem sérica de potássio
usada é a de 100 U de insulina regular em 100 a cada 2h, pelo menos nas primeiras 12h de
ml de SF 0,9%, no qual 1 ml = 1 U. Uma pessoa reposição. Veja abaixo o protocolo de repo-
de 60 kg deve receber então uma infusão inicial sição de potássio na cetoacidose baseados
de 6 U/h = 6 ml/h. Existe uma tendência hoje na aferição da calemia a cada 2h!! Esse
de não se fazer mais bolus de insulina, a partir protocolo varia um pouco de acordo com
da publicação de diversos estudos prospecti- cada referência.
vos. Nesse caso, para que a dose de insulina
seja suficiente, ela deve ser um pouco maior
(0,14 U/kg/h). No entanto, todas as principais  Se K > 5,2 mEq/L: Aguardar a pró-
referências de prova mantêm essa dose de xima dosagem
ataque antes da infusão contínua. Na ausência
de uma bomba infusora, é permitida a adminis-  Se K 3,3-5,2 mEq/L: Repor 20-30
tração subcutânea de análogos de insulina de mEq em cada litro da solução de
ação mais rápida (lispro/aspart) a cada 1-2 ho- reposição IV
ras. Na falta de acesso venoso ou nos quadros
leves de cetoacidose a injeção intramuscular  Se K < 3,3 mEq/L: Não adminis-
também seria uma alternativa. Uma das suges- trar provisoriamente a insulina.
tões seria o bolus IM de 0,3 U/kg seguida de Repor 20-30 mEq/h Até que K >
manutenção com 0,1 U/kg/h por via IM ou SC. 3,3 mEq/L

A glicemia capilar deve ser aferida a cada


1-2h no primeiro dia!! A velocidade de redu- Orientações práticas:
ção da glicemia deve ser de 50-75 mg/dl/h.
Se baixar menos de 50 mg/dl/h, a infusão de 1- Cada ampola de KCl 10% (10 ml) contém
insulina deve ser dobrada; se baixar mais de 1 g de KCl ou 13 mEq de K. Há também a
75 mg/dl/h, a infusão precisa ser reduzida à ampola de KCl 19,1% com 25 mEq de K.
metade, para evitar o edema cerebral (ver
adiante). Durante a insulinoterapia, a hidra- 2- Decida quantos mEq de K você quer repor
tação venosa deve continuar, até que todo o nas próximas 2h (ex.: 60 mEq) e distribua
deficit volêmico e hídrico sejam restaurados uniformemente pelos soros que irão entrar
(cerca de 3-5 L). neste período (ex.: se vão entrar 1.000 ml de
salina, distribua 30 mEq em cada 500 ml).
Quando a glicemia cair para 250 mg/dl (ou
conforme citado por alguns autores 200 mg/ 3- Calcule quantas ampolas de KCl 10% en-
dl na CAD e 300 mg/dl no EHH), não deve ser trariam se a reposição fosse feita apenas
suspensa a infusão venosa de insulina, mas com KCl, dividindo o número de mEq de K
sua dose reduzida para 0,05 U/kg/h e o soro de por 13 (ex.: 30 mEq de K correspondem a
reposição ser trocado para uma composição de duas ampolas de KCl).
soro glicosado 5% em salina 0,45% (misturar
SG 5% + SF 0,9% meio a meio), mantendo-se 4- Utilize de preferência a salina 0,45%, para
150-200 ml/h para prevenir a hipoglicemia. evitar que o soro fique hipertônico após adi-
Outra opção para esta solução que consta em cionar o potássio.
alguns manuais seria o acréscimo de NaCl 20%
(22 ml) a 1.000 ml de SG5%. 5- Hipocalemia refratária deve levantar a sus-
peita de hipomagnesemia.

A regra no tratamento da cetoacidose é a glice- 6- Um dos riscos da reposição de fosfato é


mia compensar antes da acidose, geralmente hipocalcemia. Portanto, o cálcio sérico tam-
na metade do tempo – por isto que a infusão bém deve ser monitorizado periodicamente.
de insulina não pode ser suspensa assim que
a glicemia compensar, pois certamente o pa- 7- O objetivo é manter o potássio na faixa nor-
ciente ainda estará em acidose!! mal de 4-5,0 mEq/L. Antes da reposição de
potássio, verificar a função renal – o paciente
deve ter um débito urinário de pelo menos
50 ml/h.
Terceira Medida:
Reposição de Potássio
Outras Medidas
O início da insulina, como vimos, irá precipitar
a queda acentuada da calemia e fosfatemia.
Este é o momento de iniciar a reposição de Bicarbonato de Sódio
potássio (na forma de KCl). A reposição de
fosfato é um pouco mais controversa, porém A princípio, o bicarbonato de sódio não
deve ser iniciada quando níveis menores está indicado no tratamento da cetoacidose
que 1 mg/dl ou evidência de comprometi- diabética!! Em primeiro lugar, por não haver
mento cardiorrespiratório, hipóxia ou ane- necessidade, já que a acidose metabólica será
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 52

corrigida somente pela insulinoterapia. Em até aumentar logo após a compensação da


segundo lugar, o bicarbonato pode ser dele- cetoacidose. A cetonúria só desaparecerá
tério, ao provocar hipocalemia e/ou acidose numa fase tardia.
liquórica paradoxal. O mecanismo é: a corre-
ção brusca do pH plasmático com a reposição
de NaHCO3 retira o principal estímulo para a Complicações
hiperventilação acidótica, fazendo aumentar
a PCO2; como o CO2 é um gás altamente
difusível pela barreira hematoencefálica (ao As complicações podem advir da própria ce-
contrário do HCO3), o líquor aumentará a sua toacidose ou podem ser decorrentes do trata-
PCO2, reduzindo o seu pH. mento incorreto.

Pelo último consenso de Crises Hiperglicêmi- 1- Complicações eletrolíticas iatrogêni-


cas da ADA, o NaHCO3 está indicado apenas cas: se o médico esquecer de prescrever a
quando o paciente tem pH < 6,9, pelos riscos reposição de potássio, o paciente certamen-
da acidemia grave. A dose preconizada é de te fará hipocalemia, que pode ser aguda e
100 mEq (100 ml diluídos em 400 ml de água grave, com elevado risco de taquiarritmias
destilada ou solução isotônica) com 20 mEq e fibrilação ventricular!! A presença de hi-
de KCl a uma taxa de infusão de 200 ml/h por pomagnesemia associada aumenta este
duas horas, até que pH esteja acima de 7,0. Se risco... Um distúrbio eletrolítico muito pouco
ainda assim, o pH permanecer abaixo de 7,0 a lembrado e diagnosticado pelos médicos é
infusão deve ser repetida a cada duas horas. a hipofosfatemia (P < 2,5 mg/dl). Quando
grave (P < 1,0 mg/dl), o paciente poderá de-
*Obs.: O consenso anterior falava em doses senvolver um quadro de anemia hemolítica
diferenciadas (50 mEq e 100 mEq) segundo aguda, depressão respiratória, insuficiência
o pH respectivamente menor que 7,0 e menor cardíaca e rabdomiólise.
que 6,9. Isso ainda consta em alguns livros,
como na última edição do Cecil. 2- Hipoglicemia iatrogênica: se a dose da in-
fusão de insulina for excessiva, a hipoglicemia
instalar-se-á, manifestando-se com liberação
Conduta após a Compensação adrenérgica e queda do sensório. Em casos
graves, pode deixar sequelas... A hiperglice-
Se o tratamento for correto, a compensação mia por retirada precoce da insulinoterapia
da glicemia (Gli < 200 mg/dl) ocorrerá após também pode ocorrer.
uma média de 8h e a compensação da acido-
se metabólica (HCO3 > 15 mEq/L, AG ≤ 12 e 3- Edema cerebral iatrogênico: é uma com-
pH > 7,30) ocorrerá após uma média de 16h. plicação mais comum do que se pensa, princi-
Nesse momento, geralmente o paciente torna- palmente em crianças, sendo a principal expli-
-se assintomático e surge fome. cação para a ausência de melhora do quadro
neurológico durante e após a compensação
Mas o que fazer agora? da cetoacidose. O mecanismo é exatamente
o mesmo do edema cerebral decorrente da
Bem... O que não pode de jeito nenhum ocorrer rápida compensação de uma hipernatremia...
é a suspensão da insulinoterapia por completo, Neste caso, o motivo é a rápida correção da
pois isto acarretará certamente a recrudescên- hiperglicemia: quando a insulina reduz a gli-
cia da cetoacidose em poucas horas!! A con- cemia numa velocidade acima de 100 mg/
duta ideal é começar insulina subcutânea (10 U dl/h, o paciente entra num estágio transitório
insulina regular), cerca de 1-2h antes de parar em que a osmolaridade plasmática está infe-
o dripping de insulina venosa. Caso o paciente rior à osmolaridade dos neurônios, que então
permaneça em dieta zero, a insulina IV deve absorvem água.
continuar. Se o paciente tiver boa aceitação,
uma dieta oral balanceada deve ser iniciada, 4- Mucormicose (zigomicose): a cetoacido-
permitindo a aplicação da insulina NPH, na se diabética é o principal fator de risco para
dose que já usava anteriormente, ou se virgem esta rara micose profunda invasiva, causada
de tratamento, 0,5-0,8 U/kg. Daí em diante, o por fungos saprófitas oportunistas do gênero
paciente fará uso da insulina conforme glicemia Rhizopus sp. e Mucor sp. Na forma rinocere-
capilar, aferida a cada 4-6h, de preferência bral (mais comum), os fungos invadem o septo
antes das refeições e ao deitar. nasal, o palato e atingem o seio cavernoso e o
cérebro. O primeiro sinal é a eliminação de uma
Aos poucos, o esquema de insulina vai sendo secreção enegrecida inodora do nariz. Outra
adaptado ao paciente, para manter o controle forma, ainda mais rara, é a forma gastrointes-
adequado de sua glicemia a longo prazo. tinal. Sem tratamento precoce, a maioria dos
pacientes evolui para o óbito em poucos dias.
A conduta deve se iniciar com anfotericina B
* Cetonúria na cetoacidose diabética com- venosa e indicar o debridamento cirúrgico.
pensada: Nunca acompanhe a eficácia do
tratamento da cetoacidose pela cetonúria!!! 5- Trombose venosa profunda: a cetoacido-
A insulinoterapia, antes de depurar todos os se diabética é uma condição pró-inflamatória e
cetoânions, irá converter o beta-hidroxibutirato pró-coagulante, estando associada a quadros
em acetoacetato. Portanto, a cetonúria pode de trombose.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 53

Saiba Mais ! Com base nesses dados clínicos e epidemio-


Recentemente, um novo protocolo para o manejo lógicos, qual seria o diagnóstico?
de casos leves de cetoacidose vem ganhando a) Aspergilose sinusal.
destaque. Seu nome é EVADE - Emergency b) Zigomicose rinocerebral.
Valuable Approach and Diabetes Education e c) Neuroparacoccidioidomicose.
foi desenvolvido pelo Joslin Diabetes Center. A d) Fusariose disseminada.
proposta é facilitar a administração da insulina e) Neurocriptococose.
IV e a hidratação, buscando aumentar o
número das altas hospitalares sem assumir a Mesmo sem saber identificar na lâmina a
internação como uma rotina. Pela adoção deste presença de fungos patogênicos, todo diabé-
protocolo, o tempo médio de permanência foi tico com quadro de cetoacidose e infecção
de 20 horas para os que foram liberados ainda invasiva iniciada após quadro sugestivo de
na emergência. sinusite nos deve apontar para a mucormico-
se ou zigomicose na sua forma rinocerebral
(acometimento de seios paranasais e SNC por
contiguidade). Resposta: B.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011


UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UNB
Acerca de alterações glicêmicas na infância,
julgue o item a seguir. No tratamento de pa-
ciente em vigência de cetoacidose diabética,
deve-se utilizar insulina de ação rápida (regu-
lar) ou insulina de ação ultrarrápida.
a) Certo. b) Errado.

Figura 1: Invasão da cavidade nasal e Mais um conceito! Um dos pilares do trata-


do seio maxilar esquerdo num paciente mento da cetoacidose é a redução glicêmica
diabético com mucormicose. com a administração de insulina, uma vez que
se trata essencialmente de um estado de defi-
Vamos ver como a cetoacidose diabética ciência, absoluta ou relativa, desse hormônio. A
aparece nas questões... administração intravenosa da insulina, na forma
de insulina regular (o único tipo que pode ser
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 administrado de forma intravenosa, intramus-
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – cular e subcutânea), mostra-se a forma mais
UFPR efetiva na redução dos cetoácidos nas primei-
Um paciente diabético descompensado é inter- ras horas de tratamento, quando comparada à
nado em cetoacidose. Refere intensa cefaleia administração de insulina por via intramuscular
frontal e, ao exame, encontra-se confuso, com ou subcutânea. Porém, já se demonstrou que
edema do nariz, proptose ocular esquerda e a administração sequencial da insulina ultrarrá-
lesão ulceronecrótica em palato duro, cuja cure- pida por via subcutânea é tão segura e eficaz
tagem revelou os seguintes elementos fúngicos: quanto à administração da insulina regular por
via endovenosa. Com relação à insulina NPH,
esta não deve ser administrada nos momentos
iniciais, pois, além de sua via de administração
ser subcutânea, a absorção é mais lenta. Po-
derá ser iniciada somente na transição de insu-
lina venosa para subcutânea, quando o quadro
emergencial já estiver resolvido. A afirmativa
encontra-se, portanto, correta.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 54

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 associada à hidratação oral (solução de hi-


HOSPITAL SÃO LUCAS DA PONTIFÍCIA dratação da OMS).
UNIVERSIDADE CATÓLICA – RS d) Administrar uma dose de ataque de insulina
Adolescente, 12 anos, com DM1, é internada por regular (0,1 U/kg) e iniciar reposição hídrica
cetoacidose diabética, recebendo insulina em com NaCl a 0,45%, ambos por via intravenosa.
bomba de infusão contínua e solução fisiológica, e) Instituir reposição hídrica com NaCl a 0,9%
seguidos de administração IV de cloreto de po- e administrar insulina regular contínua (0,1 U/
tássio. Após algumas horas, há redução impor- kg/h), ambos por via intravenosa.
tante da glicemia e normalização do pH sanguí-
neo, porém, com acentuação da cetonemia. O enunciado da questão deixa bastante ób-
Qual a conduta mais apropriada nesta situação? vio a presença de uma cetoacidose diabética:
a) Aumentar a velocidade de infusão IV de hiperglicemia + acidose metabólica (pH e HCO3
insulina. reduzidos) + cetose moderada (cetonúria).
b) Acrescentar antibioticoterapia empírica. Como tratar? INICIALMENTE, é a hidratação
c) Manter o planejamento terapêutico pro- venosa com SF 0,9% e não a insulina, já que
gramado. esse paciente está, via de regra, BASTANTE
d) Mudar o tipo de insulina que vinha sendo DESIDRATADO. Além disso, a insulinoterapia,
utilizado. administrada antes da hidratação venosa, le-
e) Administrar bolus IV de bicarbonato de só- varia à entrada de glicose e líquido nas células,
dio para corrigir a acidose metabólica residual. agravando a hipovolemia. Em seguida, pode
ser iniciada a infusão contínua de insulina re-
Questão interessante! Quando se inicia o gular (0,1 µ/kg/h). A reposição de bicarbonato
tratamento da cetoacidose com o clássico tripé de sódio 8,4% na cetoacidose não é necessá-
hidratação/insulina/avaliação do potássio, a ria, a princípio, pois a pedra angular do trata-
glicemia normaliza antes que a acidose: a com- mento é a insulinoterapia, que por si só já
pensação da glicemia (< 200) ocorrerá após transforma o lactato e os cetoácidos em bicar-
uma média de 8h, enquanto a compensação bonato. Atualmente, só se considera o uso de
da acidose (HCO3 > 15, AG < 12 e pH > 7,30) bicarbonato em acidoses gravíssimas (pH <
só ocorre com uma média de 16h. Com relação 6,9). Lembre-se de que o controle do potássio
à cetose, ocorre um fenômeno interessante. Os é também importante, pois seu nível sérico
reagentes usados para detectar a cetonemia reduzirá com a instituição da insulinoterapia,
(sangue) e a cetonúria (urina) conseguem de- de modo que a reposição deste eletrólito só
terminar a presença de acetoacetato e acetona, não será feita em casos de hipercalemia. Res-
mas não identificam o beta-hidroxibutirato. Du- posta: letra E.
rante a insulinoterapia, o paciente vai melhoran-
do seus distúrbios metabólicos (glicemia, aci-
dose) e há conversão de beta-hidroxibutirato RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
em acetoacetato. Neste momento, os reagentes HOSPITAL CENTRAL DA
detectam mais corpos cetônicos, o que dá a POLÍCIA MILITAR – RJ
impressão equivocada ao médico que a cetose São complicações do tratamento da Cetoaci-
piorou, o que não é verdade. Desta forma, per- dose Diabética:
cebemos um conceito fundamental: A CETO- a) Hiperglicemia, oligúria e cegueira.
NEMIA E A CETONÚRIA NÃO DEVEM SER b) Hiperglicemia, infecção e a neuropatia.
USADAS COMO INDICADORES DE RESPOS- c) Hipoglicemia, a hipocalemia e o edema
TA TERAPÊUTICA. Assim, no caso da questão, cerebral.
o ideal é manter o planejamento inicialmente d) Infecção, hipoglicemia e cegueira.
programado. Resposta: letra C. e) Hipercalcemia, a alcalose metabólica e a
hipoglicemia.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 O tripé do tratamento da cetoacidose se


HOSPITAL DAS CLÍNICAS baseia na hidratação vigorosa, na insulinote-
DE PORTO ALEGRE – RS rapia e na avaliação da reposição de potás-
Escolar de 12 anos, diabético desde os 4, foi sio. O uso de insulina pode levar o paciente
trazido à emergência por confusão mental, de- à hipoglicemia, bem como uma redução mais
sidratação de grau ll e taquipneia. Os exames acentuada na glicemia pode alterar a osmo-
laboratoriais revelaram glicemia de 450 mg/dl, laridade plasmática rapidamente e induzir o
pH de 7,1 pCO2 de 20 mmHg, K de 4,5 mEq/L surgimento de um edema cerebral. Além dis-
pO2 de 98 mmHg, HCO3 de 5 mEq/L e cetonas so, o uso de insulina reduz a calemia por cau-
urinárias (++++). Além da reposição de potássio, sar um influxo celular de potássio – por conta
qual a conduta inicial mais apropriada? disso, deve-se sempre avaliar a reposição ca-
a) Tratar imediatamente a acidose com bicarbo- lêmica, uma vez que estes pacientes já estão
nato de sódio e uma dose de ataque de insulina depletados de potássio pela diurese osmótica
regular (0,1 U/kg), ambos por via intravenosa. da cetoacidose e podem, com o tratamento,
b) Tratar imediatamente a acidose com bicar- complicar com hipocalemia. Vale a pena citar
bonato de sódio e iniciar reposição hídrica ainda duas importantes complicações: mu-
com soro fisiológico (NaCI a 0,9%), ambos cormicose (micose profunda invasiva) e trom-
por via intravenosa. bose venosa profunda (a cetoacidose é uma
c) Administrar uma dose de ataque de insu- condição pró-inflamatória e pró-coagulante).
lina regular por via intravenosa (0,1 U/kg) Resposta: letra C.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 55

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 Agora atentem para as próximas questões:


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO
GROSSO DO SUL – UFMS
O tratamento da cetoacidose diabética baseia- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
-se nos princípios abaixo, EXCETO: UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE –
a) Restauração do volume fluido com uma UFF
expansão inicial de 20 a 40 ml/kg de SF 0,9% Paciente, oito anos, é trazido ao Serviço de
em 1 hora. Emergência Pediátrica do HUAP com quadro
b) Inibição da lipólise e consequente formação de cetoacidose diabética. Submetido à inves-
de corpos cetônicos e cetoácidos com o uso tigação, apresenta os seguintes resultados la-
de bicarbonato. boratoriais: gasometria arterial: pH = 7,08; PO2
c) Reposição de eletrólitos. = 122; PCO2 = 15; bicarbonato = 10; BE = -6,5;
d) Correção da acidose com manuseio da de- glicemia: 721 mg/dl; sódio: 122 mEq/L; potássio:
sidratação e uso de insulina. 3,1 mEq/L.
e) Prevenção e manuseio do edema cerebral. A conduta médica imediata deve ser a reposi-
ção hídrica (20 ml/kg/hora) com soro fisiológico
As opções B e D são praticamente opostas!!! ou Ringer lactato, acrescida de:
Mas na CAD, como acabamos de discutir, a) Insulina regular subcutânea, conforme gli-
quem inibe a formação de corpos cetônicos cemia capilar.
e, por isso, corrige o quadro acidótico é a in- b) Insulina venosa, em infusão contínua (0,1 Un/
sulina, não o bicarbonato. Resposta: B. kg/hora) e bicarbonato de sódio (1-2 mEq/kg).
c) Insulina regular subcutânea, conforme glice-
mia capilar e bicarbonato de sódio (0,5 mEq/kg).
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 d) Insulina venosa, em infusão contínua (0,1
HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN – Un/kg/hora).
SP e) Insulina venosa, em infusão contínua (1 -2
Jovem de 18 anos é admitido no pronto-so- Un/kg/hora).
corro com polidipsia, desidratação e confusão
mental. Os exames mostram sódio de 125 Na época, essa questão foi motivo de inúme-
mEq/L, pH de 7,13, bicarbonato de 10 mEq/L, ros recursos (e com toda a razão). Temos um
glicemia de 900 mg/dl, glicosúria e cetonúria paciente com CAD e o primeiro passo já está
++++. É correto afirmar que a osmolaridade para ser feito: reposição volêmica vigorosa.
efetiva (em mOsm/L) e o corpo cetônico de- Ótimo! Mas não podemos nos esquecer de um
tectado na urina são, respectivamente: detalhe. O potássio está baixo (< 3,3-3,5 mEq/L).
a) 250 e acetoacetato.
b) 300 e acetoacetato. Nessa situação, não podemos fazer insulina
c) 300 e beta-hidroxibutirato. sob risco de piora da calemia.
d) 350 e acetoacetato.
e) 350 e beta-hidroxibutirato. Mas observem que todas as respostas apre-
sentam a utilização de insulina. O que fazer???
Vamos lá: temos um paciente com quadro
clássico de cetoacidose diabética nesta ques- Tempo Terapia
tão. Aproveite para observar a presença de 1ª hora 10-20 ml/kg IV em bolus de
todas as características diagnósticas: hipergli- SF 0,9% ou RInger
cemia > 250 mg/dl, acidose metabólica e ceto- Iniciar drip de insulina a
núria. A osmolaridade plasmática é calculada 0,05-0,1 U/kg/h
pela fórmula 2 x Na + Gli/18 + Ur/6, enquanto a 2ª hora NaCl 0,45% + infusão contínua
osmolaridade efetiva não inclui a ureia, já que de insulina
esta molécula pode atravessar livremente as 20 mEq/L de KPO4 + 20 mEq/L
membranas celulares. Assim, a osmolaridade de KAcetato.
efetiva, neste caso, é 125 x 2 + 50 = 300 mOs- Se K< 3 mEq/L dar 0,5-1,0 mEq/kg por
m/L (aumentada). Na presença de cetonúria, solução oral ou aumentar a reposição
podem ser detectados na urina dois “corpos ce- IV para 80mEq/L.
tônicos”: o acetoacetato e o beta-hidroxibutira- SG 5% se glicemia < 250 mg/dl
to, este último considerado o mais importante.
Contudo, existe um detalhe que você deve co- Vejamos o motivo da polêmica a partir de uma
nhecer para acertar a questão: apenas o ace- tabela do Nelson, que institui um protocolo
toacetato é detectado pelas “fitas” (dipstick) de para tratamento da CAD.
EAS. Por isso, muitas vezes não observamos
cetonúria importante mesmo em casos graves Perceberam que, na 1ª hora (diferente dos
de cetoacidose diabética. Um artifício utiliza- consensos de diabetes), além da reposição
do é a adição de água oxigenada à urina, que volêmica já está indicada a insulinoterapia e
aumenta a conversão de beta-hidroxibutirato que o potássio apenas entra num segundo
em acetoacetato. Além disso, a insulinoterapia momento? Pois é, por isso a resposta oficial
também aumenta essa conversão, ou seja, às foi a opção D. Mensagem final: apesar do
vezes a cetonúria detectada pelo EAS pode conceito estar errado, isto é, não se pode
“piorar” após o início do tratamento, assustan- fazer insulina sem que o potássio esteja em
do os médicos que por ventura desconheçam faixas mínimas de segurança (já que hiper-
essa informação (e que, a partir de agora, você glicemia pode não matar, mas certamente
não vai mais esquecer). Resposta: letra B. hipocalemia o faz); nas provas de pediatria
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 56

teremos que “aceitar” essa conduta por conta O achado de poliúria e polidipsia em um
da referência de prova. pré-escolar de 5 anos sugere fortemente o
diagnóstico de diabetes mellitus. Somado a
Mais alguns detalhes: isto, a presença de taquipneia e desidratação
nos faz pensar em um diabetes complicando
- EM CRIANÇAS NÃO SE RECOMENDA O com cetoacidose diabética (CAD), uma forma
“BOLUS OU ATAQUE” DE INSULINA, prefe- frequente de abertura do quadro de DM em
rindo-se a infusão regular. crianças. A CAD é o evento bioquímico final
da deficiência de insulina no organismo. A
- O pediatra deve ter sempre à “mão” o manitol reduzida utilização da glicose pelos tecidos
(1 g/kg EV) para o tratamento de um possível periféricos provoca hiperglicemia, a qual deter-
edema cerebral, complicação possível duran- mina diurese osmótica com perda de água e
te esta etapa de expansão rápida. eletrólitos, e consequentemente desidratação;
esta, por sua vez, leva à ativação do sistema
- O bicarbonato deve ter seu uso restrito pelo renina-angiotensina-aldosterona, com perda de
risco de potencializar o edema cerebral e de mais potássio pela urina (hipopotassemia). O
induzir hipocalemia. Alguns autores sugerem processo catabólico faz com que a célula per-
a possibilidade de administração apenas nas ca sódio, potássio e fosfato. O tecido adiposo
acidoses metabólicas graves, com pH inferior libera ácidos graxos para serem convertidos
a 7,15 na dose de 1 mEq/kg/EV. a cetoácidos no fígado, os quais funcionarão
como substrato energético para os tecidos,
impossibilitados de usar a glicose como fonte
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 de ATP. Com isso, desenvolve-se a acidose
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UNB metabólica. Resposta correta: Letra E.
Uma paciente de 5 anos de idade deu entrada
ao pronto-socorro. A mãe referiu que a filha
apresenta emagrecimento nos últimos dois
meses, poliúria, polidipsia e polifagia. Hoje, O aluno pergunta...
teve queda do estado geral, com sonolência Paciente sem queixas, exames de
excessiva. No exame físico, a paciente en- rotina, com presença de corpos ce-
contrava-se magra, desidratada ++/4 e com tônicos no EAS, glicemia de jejum normal,
respiração acidótica (Kussmaul). Os exames merece algum outro tipo de investigação?
laboratoriais apresentam glicemia de 512 mg/ A primeira coisa que devemos recordar é que
dl, acidose metabólica (pH 7,2 e bicarbonato - toda vez que houver estímulo exacerbado à li-
12 mEq/L) cetonúria positiva (+++) e potássio pólise e formação de ácidos graxos, há libera-
de 4,5 mEq/L. A principal suspeita diagnóstica ção de corpos cetônicos que serão detectados
foi de diabetes mellitus, e os quadros clínico e na urina. Isso é bem característico do diabetes
laboratorial foram compatíveis com cetoacidose tipo 1, em que a ausência de insulina para con-
diabética. Nessa situação, a terapêutica mais trabalancear a ação do glucagon leva a essa tal
indicada é hidratação rápida, insulinoterapia “lipólise exacerbada”. No entanto, apesar de ser
em doses baixas e oferta precoce de potássio. a causa mais característica, não é a única! Va-
a) Certo. b) Errado. mos dividir, então, a cetonúria em dois grupos:

Mais uma vez, na primeira hora, segundo 1) Cetonúria Diabética.


o Nelson, devem entrar volume + insulina.
Potássio entraria num segundo momento. Daí 2) Cetonúria não diabética. E é nesse grupo que
o gabarito ser a opção B. Mas para ressaltar- se encaixa sua pergunta. Veja os exemplos:
mos o conceito correto. Ainda que tenhamos • Crianças: é comum encontrar cetonúria
potássio normal, ele cairá com a infusão de em doenças febris agudas e toxemia as-
insulina. Isso é fisiologia pura!!!! sociada a vômitos e diarreia. Erros inatos
Então obrigatoriamente teríamos que iniciar do metabolismo podem levar à cetonúria
reposição de potássio (20-30 mEq/L) e a afir- em neonatos.
mativa estaria correta. • Adultos: Caquexia, jejum prolongado, pós-
-operatório, exercício extenuante, exposi-
ção ao frio, dieta rigorosa. Funciona, mais
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 ou menos, como o DM tipo 1, em que ocor-
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS – SP re uma explosão de hormônios contrainsu-
Uma pré-escolar de 5 anos apresenta história línicos para equilibrar o deficit de carboi-
de poliúria, polidipsia e náuseas. O exame físi- dratos. Outra situação é a acidose láctica
co revela a presença de desidratação intensa (choque, insuficiência renal, hepatopatia,
e taquidispneia importante. Levando-se em intoxicação por salicilato...) cujos níveis de
conta o provável diagnóstico deste caso, es- beta-hidroxibutirato estão elevados.
tará ocorrendo nesta criança: • Gestante: Hiperêmese gravídica, gravidez
a) Elevação da incorporação periférica de normal (cetonúria discreta).
glicose.
b) Redução na concentração sérica de insuli- Portanto, pelo que você nos traz, não há motivo
na e hipo-osmolaridade sérica. para investigação adicional. O que pode ter
c) Redução da quebra de triglicérides. acontecido é que o paciente tenha passado por
d) Redução do catabolismo de aminoácidos. um jejum prolongado ou realizado algum tipo de
e) Baixa concentração intracelular de potássio. exercício extenuante antes da coleta da urina.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 57

B - ESTADO HIPERGLICÊMICO hiperosmolar

Fisiopatologia 2- Espoliação hidroeletrolítica: exata-


mente o mesmo fenômeno que ocorre na
Tão importante quanto a cetoacidose diabética cetoacidose diabética.
é o estado hiperglicêmico hiperosmolar (EHH),
embora receba menor atenção por parte dos
médicos. O EHH é a complicação metabólica Quais os fatores precipitantes do EHH?
aguda mais característica do DM tipo 2!!
• Os principais são as infecções (pneumonia,
ITU, etc.), o AVE e o IAM. A grande maio-
Qual é a diferença básica entre a cetoaci- ria dos pacientes é da faixa etária idosa e
dose diabética e o EHH? muitos possuem doença debilitante prévia
(sequela de AVE, síndrome demencial se-
Os pacientes diabéticos tipo 2 secretam insu- nil, etc.)! O acidente vascular encefálico em
lina pelo pâncreas. Mesmo que em pequena diabéticos tipo 2 insulinopênicos possui uma
quantidade (insulinopenia relativa), os níveis grande tendência a evoluir com EHH, pois o
séricos de insulina destes pacientes são sufi- próprio AVE pode ser o fator que impede a
cientes para prevenir a cetoacidose, salvo em ingestão de fluidos e permite que o paciente
raros casos em que são submetidos a condi- desidrate com facilidade.
ções agudas e altíssimo estresse adrenérgico
(como frisado anteriormente). Embora o DM • Qualquer fator que piore a hiperglicemia do
tipo 2 proteja (até certo ponto) contra cetoaci- diabético tipo 2 pode precipitar o EHH, entre
dose, de forma nenhuma protege o paciente de eles: drogas hiperglicemiantes, estresse agu-
fazer uma hiperglicemia muito acentuada, pois do clínico ou cirúrgico, libação alimentar de
níveis baixos (porém presentes) de insulina as- carboidratos refinados (doces, açúcar), etc.
sociados a níveis altos dos hormônios contrain-
sulínicos já permitem o aumento exagerado da
produção hepática de glicose (gliconeogênese). Manifestações Clínicas

Para entender a gênese do EHH, observe a Além dos sinais e sintomas da doença de base
seguinte sequência de eventos: (1) Quando a desencadeante, o restante do quadro clínico é
glicemia se eleva acima de 200 mg/dl, o pa- nada mais do que uma síndrome hiperosmolar,
ciente apresenta poliúria por diurese osmótica, tal como na hipernatremia grave... O paciente
que, por sua vez, desidrata o paciente, concen- se apresenta com rebaixamento do nível de
trando mais a glicose plasmática, aumentando consciência, começando com desorientação e
a osmolaridade do plasma. (2) O aumento da evoluindo com letargia, torpor e até mesmo o
osmolaridade provoca sede no paciente, que estado de coma. A espoliação hidroeletrolítica
então bebe bastante água (polidipsia), evitan- costuma ser ainda maior que na cetoacidose
do maior aumento da osmolaridade plasmáti- diabética, pela maior intensidade da poliúria.
ca. (3) Acontece que os pacientes que fazem No entanto, a maioria dos pacientes, quando
a SHNC quase sempre apresentam um fator fazem os sintomas, já perderam tanto líquido
desencadeante que os torna debilitados e in- que se encontram oligúricos. Uma diferença
capazes de ingerir uma quantidade adequada marcante para a cetoacidose é a ausência dos
de líquidos. (4) O resultado é a criação de um sintomas gastrointestinais e da taquidispneia
ciclo vicioso: a ingestão insuficiente de fluidos (respiração de Kussmaul). Eles também não
permite que a osmolaridade se eleve a pon- apresentam hálito cetônico...
to de provocar desorientação (rebaixamento
do sensório), que, por sua vez, dificulta mais
ainda a procura do paciente por água, agra- O aluno pergunta...
vando mais e mais a hiperosmolaridade, até Tenho uma dúvida na apostila de
que os níveis glicêmicos ultrapassam 600-800 síndrome metabólica 2: se a irri-
mg/dl e o paciente entra no estado de coma tação peritoneal presente na ceto-
hiperosmolar. Em outras palavras: o EHH não acidose diabética ocorre devido
ocorreria se o paciente estivesse apto a beber ao atrito entre os folhetos peritoneais,
água no início da elevação glicêmica. que se encontram desidratados, por que
no EHH, onde a perda volêmica costuma
ser maior que na cetoacidose, não temos
Quais são as consequências deletérias dor abdominal e irritação peritoneal?
do EHH? Ótima pergunta. Mas, infelizmente, dessa vez
não teremos uma resposta definitiva para lhe
1- Hiperosmolaridade: esses pacientes dar... Outra justificativa seria a de que a dor
chegam a apresentar glicemias que sur- abdominal nessas situações apresenta origem
preendem até os médicos experientes. A multifatorial, correlacionando-se com o grau
glicemia, via de regra, está acima de 600 de acidose metabólica e possivelmente o
mg/dl, mas pode ultrapassar a faixa de desenvolvimento de íleo metabólico e retardo
1.000 mg/dl!! no esvaziamento gástrico.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 58

Diagnóstico Diabetes Association, são:


a) Glicemia capilar > 250 mg/dl; cetonemia; e
Suspeitou de EHH? Como confirmar o diag- pH < 7,3.
nóstico? b) Glicemia > 400 mg/dl; osmolalidade > 320
mosm/kg de água; e pH > 7,3.
O diagnóstico é confirmado pelos seguintes c) Glicemia > 600 mg/dl; sódio > 150 mEq/L
critérios: e pH< 7,3.
d) Glicemia > 600 mg/dl; osmolalidade >
 Hiperglicemia extrema 320 mosm/kg de água; e pH > 7,3.
(Glicemia > 600 mg/dl) e) Glicemia > 600 mg/dl; osmolalidade > 320
mosm/kg de água; e pH < 7,3.
 Hiperosmolaridade acentuada
(Osm efetiva pl > 320 mOsm/L)

 Ausência de acidose e cetose im- Tratamento


portante
(pH > 7,30, HCO3 > 18 mEq/L, ce- Sempre que você observar um paciente idoso
tonúria < +2) ou debilitado com rebaixamento da consciên-
cia, pense na possibilidade de um EHH!! Sem
o tratamento precoce, a letalidade é bastante
Lembre-se da fórmula da osmolaridade alta, influenciada pela doença de base. Mesmo
efetiva do plasma (“tonicidade plasmática”): com a terapia de reposição, a letalidade ainda
alcança 20%.

Osm efetiva pl = 2 x Na + Gli/18 O tratamento é muito parecido com o da cetoa-


cidose diabética, baseando-se no conhecido
“tripé”:
O normal é até 295 mOsm/L. Todo paciente
com Osm efet pl > 320 mOsm/L pode entrar  Reposição hídrica
em coma pela desidratação dos neurônios  Insulinoterapia
do SNC. A hiperosmo­laridade grave pode ser  Reposição de potássio
decorrente de hipernatremia, de hiperglice-
mia extrema ou da combinação de ambas.
Por vezes, um sódio um pouco elevado (ex.: A estratégia terapêutica, a cronologia das
150 mEq/L) associado a uma glicemia medidas e os parâmetros ideais para a
elevada mas não extrema (ex.: 400 mg/ queda da glicemia são os mesmos que os
dl) pode desencadear o coma hiperos- da cetoacidose. A diferença seria o enfoque
molar. Aplique a fórmula: 2 x 150 + 400/ maior na hidratação, que forma a base da
18 = 322 mOsm/L. terapia, em vez da insulina para a cetoacido-
se. Estes pacientes precisam receber uma
grande quantidade de solução salina e de
Quais são os distúrbios hidroeletrolíticos água livre, pois o deficit estimado é maior.
do EHH? A salina 0,45% é o soro de escolha. Como
a acidose não costuma estar presente, o
São os mesmos da cetoacidose diabética e parâmetro de melhora é a queda na osmo-
provocados pelo mesmo motivo: a espoliação laridade abaixo de 310 mOsm/L.
hidroeletrolítica da poliúria intensa. A perda
volêmica costuma ser maior que na cetoa-
cidose, estimada em 8-10 litros. A perda de Complicações
água livre é bem maior nestes pacientes que
frequentemente apresentam hipernatremia. Ao A complicação mais temida é o edema cere-
corrigir o sódio pela hiperglicemia, o sódio séri- bral iatrogênico, causado pela correção rápi-
co chega a valores bem elevados!! Além disso, da demais da glicemia, especialmente quando
como geralmente são pacientes diabéticos de a glicemia baixa mais do que 100 mg/dl/h.
longa data e idosos, frequentemente já apre-
sentam algum grau de nefropatia diabética e
disfunção renal. Com a desidratação, agravam RESIDÊNCIA MÉDICA – 2007
ainda mais o problema, precipitando azotemia HOSPITAL NAVAL MARCÍLIO DIAS – HNMD
pré-renal. Isto contribui para a elevação extre- Com relação ao estado hiperosmolar hipergli-
ma da glicemia. O “paradoxo eletrolítico” do cêmico não cetótico, uma das complicações
potássio e do fosfato também está presente, agudas do diabetes, é INCORRETO afirmar que:
pois embora haja importante depleção corpo- a) É mais comum em indivíduos idosos e com
ral destes eletrólitos, a hiperosmolaridade os DM tipo 2.
“retira” da célula para o plasma. b) No exame físico encontramos desidrata-
ção profunda, hiperosmolaridade, hipotensão
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 arterial, taquicardia e alteração do nível de
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA consciência.
CATARINA – UFSC c) Estão notavelmente presentes os sintomas
Os critérios diagnósticos de estado hiperos- de náuseas, vômitos, dor abdominal e respi-
molar hiperglicêmico, segundo a American ração de Kussmaul.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 59

d) É frequentemente desencadeado por uma propensos a comorbidades, como IAM, AVE,


doença grave concomitante, como infarto infecções. Esta síndrome clínica é caracteriza-
agudo do miocárdio e acidente vascular en- da por hiperglicemia, que leva à desidratação
cefálico. e ao aumento da osmolaridade. Esta última,
e) As características laboratoriais mais im- quando acima de 320 mOsm/l, altera o nível
portantes são a hiperglicemia acentuada, a de consciência, promovendo desidratação
hiperosmolaridade e a azotemia pré-renal. neuronal. Por definição, não ocorre acidose
metabólica; não havendo dor abdominal nem
Questão muito maliciosa... Os idosos são respiração Kussmaul. Agora, cuidado, a desi-
mais predispostos, pois desidratam mais facil- dratação pode levar à hipoperfusão periférica,
mente, têm menos acesso à água e são mais gerando acidose láctica. Resposta C.

2) HIPoGLICeMIA

Qual o percentual de pacientes em uso de Na nefropatia diabética, na fase proteinúrica, a


insulina que desenvolvem hipoglicemia redução da taxa de filtração glomerular (clea-
sintomática ao longo de um ano? 100%! rance de creatinina) prejudica a depuração da
insulina, que é feita pelos rins. Todo paciente
diabético de longa data que começa a fa-
Fisiopatologia zer episódios de hipoglicemia, mantendo
exatamente a mesma dose de insulina e
A hipoglicemia no paciente diabético ocorre os mesmos hábitos de vida, deve levantar
quando um dos alicerces do tripé do controle suspeita sobre a nefropatia diabética, já
glicêmico é alterado! com queda da filtração glomerular!!!

Diagnóstico

A crise hipoglicêmica é identificada pela pre-


sença da Tríade de Whipple:

• Glicemia < 50 mg/dl. Nos diabéticos mal con-


trolados, acostumados com a hiperglicemia,
há uma adaptação e os sinais de hipoglice-
mia podem aparecer com níveis inferiores a
Figura 2: Tripé para o controle ideal do 80 mg/dl!!!
diabetes.
• Sintomas compatíveis com hipoglicemia:
Adrenérgicos (tremores finos de extremida-
Um preço pago pelo controle rígido da glicemia des, sudorese fria, palpitações, taquicardia,
nos diabéticos é o risco aumentado de episó- hipertensão arterial) e Neuroglicopênicos
dios hipoglicêmicos. Tais episódios geralmente (dificuldade de concentração, incoordenação,
são precipitados pela má disciplina terapêutica ataxia, lentificação do pensamento, letargia,
e pelo descontrole cronológico entre a aplica- torpor, coma e convulsões).
ção de insulina, alimentação e exercício físico.
Por exemplo, se o paciente aplicar uma insu- • Reversão com a normalização da glicose.
lina de ação rápida ou ultrarrápida e não fizer
uma refeição, certamente terá hipoglicemia.
Quem tem maior propensão à hipoglicemia?
Três outros fatores trazem uma predisposição
à hipoglicemia em diabéticos tipo 1: Os diabéticos tipo 1. A destruição autoimune
das ilhotas pancreáticas acabam por levar à
1) Betabloqueadores (especialmente os não perda de algumas células alfa, impedindo o
seletivos, como o propranolol). Os beta- principal mecanismo de defesa fisiológico con-
bloqueadores predispõem à hipoglicemia tra a hipoglicemia – a secreção de glucagon!!
iatrogênica no DM tipo 1 por bloquearem os
receptores beta-2 hepáticos, necessários
para o estímulo da gliconeogênese pela Tratamento
adrenalina. Por isso, são considerados
contraindicação relativa nestes pacientes. Os pacientes em insulinoterapia devem ser
No DM tipo 2 também oferecem este risco, orientados a reconhecer precocemente os sin-
lembrando que também podem vir relacio- tomas hipoglicêmicos; uma simples dificuldade
nados à hiperglicemia. de concentração ou o surgimento de sinais
adrenérgicos requerem o imediato consumo de
2) Ingestão de álcool. algum alimento doce pelo paciente. Em caso de
perda dos sentidos, um parente ou amigo pró-
3) Nefropatia diabética. ximo pode reverter o quadro com uma injeção
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 60

subcutânea de glucagon 0,5-1 mg (o paciente c) Malária cerebral e uso de quinina; feocro-


deve levar consigo a ampola e a seringa e avi- mocitoma.
sar aos companheiros). No ambiente hospitalar, d) Subnutrição e uso de tiazídicos; hemocro-
a hipoglicemia deve ser revertida com glicose matose.
hipertônica intravenosa - 20 g (4 ampolas de
glicose a 50% ou 8 ampolas de glicose a 25%). Vamos falar um pouco mais sobre a hipo-
glicemia. Na prática, podemos dividir as prin-
O que é a encefalopatia de Wernicke? cipais causas da seguinte forma:
• Drogas: insulina, secretagogos de insulina
É uma encefalopatia causada pela deficiência (sulfonilureia), quinino, pentamidina, IECA,
de Tiamina (vitamina B1), mais comum em al- quinolonas, lítio, sufametoxazol + trimeto-
coólatras e desnutridos crônicos. Ela se carac- prim, dentre outras.
teriza por outra tríade clássica: alteração dos • Doença grave: insuficiência hepática, insufi-
movimentos oculares (nistagmo, paralisia do ciência cardíaca ou insuficiência renal; sepse
VI par e do olhar conjugado), ataxia cerebelar grave; malária; inanição.
e confusão mental. • Deficiência hormonal: cortisol (insuficiência
adrenal primária ou secundária); glucagon.
Você provavelmente já deve ter ouvido que • Hiperinsulinismo endógeno: insulinoma; dis-
antes de repor glicose, sobretudo em etilis- função das células beta; hipoglicemia au-
tas e desnutridos, devemos administrar pre- toimune.
viamente tiamina 100 mg. Sabe por quê? A • Hipoglicemia acidental e intencional.
tiamina é um cofator de enzimas ligadas ao Pancreatite, feocromocitoma, tiazídicos e he-
metabolismo energético. Portanto, quanto mocromatose estão relacionados à hipergli-
maior a taxa metabólica, maior a necessidade cemia. Os demais, por sua vez, à hipoglice-
de tiamina. Quando você administra glicose mia. Assim, apenas a alternativa A responde
hipertônica, nada mais está fazendo do que adequadamente a questão.
acelerando esta via metabólica. A acelera-
ção levaria a um aumento da demanda pela
tiamina, o que tornaria ainda mais evidente RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
a sua deficiência! ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO RIO
GRANDE DO SUL – RS
Qual das abaixo é a causa menos frequente
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 de hipoglicemia em pacientes com Diabete
HOSPITAL CENTRAL DA Melito tipo 2?
POLÍCIA MILITAR – RJ a) Insuficiência renal crônica.
Homem de 32 anos vem apresentando sinto- b) Terapia com insulina.
mas compatíveis com hipoglicemia há cerca c) Uso excessivo de metformina.
de 30 dias. Nega uso de qualquer medicação. d) Terapia com sulfonilureias.
Os exames realizados revelaram os seguintes e) Má adesão à dieta.
resultados: glicemia de jejum = 28, 33 e 36
mg/dl; insulinas basais = 24, 45 e 43 U/ml (VR: A questão pergunta a causa menos fre-
2-19); peptídeo C = 8,2 mg/dl (VR: 0,36-3,59). quente de hipoglicemia em pacientes com
A hipótese diagnóstica mais plausível é: diabetes tipo 2, e, dentre as causas citadas,
a) Insulinoma. o uso de metformina é o menos comum, já
b) Hipoglicemia autoinduzida por insulina. que esta não é uma droga cuja hipoglicemia
c) Hipoglicemia autoinduzida por sulfonilureia. seja um efeito adverso esperado. A má ade-
d) Nesidioblastose. são à dieta nos pacientes diabéticos, por sua
e) Hipoglicemia autoimune. vez, pode causar frequentemente hipoglice-
mia, tanto nos pacientes que usam hipoglice-
Estamos diante de um caso de hipoglicemia, miantes orais quanto insulina (principalmen-
acompanhada por hiperinsulinemia. No caso te), diante da irregularidade da alimentação
apresentado, a dosagem elevada de peptídeo ou do jejum prolongado. Insuficiência renal
C sugere que a origem da insulina em excesso é uma grande causa de desenvolvimento de
é ENDÓGENA, já que este peptídeo é secre- hipoglicemia no paciente diabético; da mes-
tado pelo pâncreas em conjunto com a insulina, ma forma que o surgimento de hipoglicemia
compondo a molécula de pró-insulina. Uma vez ou a necessidade de menores doses de insu-
que não existe referência a uso de secretago- lina para um paciente deve sempre levantar
gos da insulina, a principal hipótese diagnósti- a suspeita de insuficiência renal. Por último,
ca é de insulinoma. Resposta: letra A. as sulfonilureias, ao contrário da metformi-
na, causam, frequentemente, hipoglicemia.
Resposta: C.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
FACULDADE DE MEDICINA
DE PETRÓPOLIS – RJ RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
A hipoglicemia em indivíduos com doença ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO
coexistente pode estar relacionada à: RIO GRANDE DO SUL – AMRIGS
a) Insuficiência renal e uso de sulfametoxazol- Qual a causa mais frequente de hipoglicemia
trimetoprima; doença de Addison. em pacientes com Diabetes mellitus tipo 2?
b) Pneumonia por Pneumocystis e uso de a) Terapia com insulina.
pentamidina; pancreatite. b) Insuficiência renal crônica.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 61

c) Uso excessivo de metformina. A tríade de Whipple vai aparecer nos casos


d) Terapia com sulfonilureias. relacionados à hipoglicemia, a exemplo dos
e) Má adesão à dieta. estados de excesso de insulina endógena (ex.:
insulinoma) ou exógena. Resposta: A.
Apesar da maior propensão ao desenvolvi-
mento de hipoglicemia em pacientes com DM
tipo 1, pacientes com DM tipo 2 em uso de RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
drogas hipoglicemiantes também podem apre- UNIVERSIDADE FEDERAL DE
sentá-la, em especial, aqueles sob terapia com MATO GROSSO DO SUL – UFMS
sulfonilureias. Cabe lembrar que a metformina São critérios da “Tríade de Whipple”:
não é uma droga hipoglicemiante. Resposta: D. a) Sintomas de hipoglicemia, hipoglicemia
laboratorial e recuperação dos sintomas
com correção da hipoglicemia.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 b) Hipoglicemia documentada durante o jejum,
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO RIO aumento da insulina sérica e peptídeo C.
GRANDE DO SUL – RS c) Hipoglicemia, tumor pancreático e diarreia.
No que se refere à hipoglicemia em diabéti- d) Hipoglicemia laboratorial com ou sem sinto-
cos, verifique as seguintes afirmações: mas, recuperação dos sintomas com correção
I - Nos pacientes com níveis glicêmicos cro- da hipoglicemia e aumento do nível sérico de
nicamente elevados, as manifestações de insulina.
hipoglicemia ocorrem em concentrações de e) Hipoglicemia, tumor pancreático e aumento
glicose plasmática acima de 75 mg/ dl. do peptídeo.
II - No diabetes tipo 1, a secreção de gluca-
gon, em resposta à hipoglicemia, é diminuída.
III - A maior depuração da insulina na insufi- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2007
ciência renal é fator de risco para a hipoglice- UNIVERSIDADE FEDERAL
mia iatrogênica relacionada à insulina. Assi- DO PARANÁ – UFPR
nale a alternativa correta: Paciente do sexo masculino, 68 anos, com
a) Apenas I. d) Apenas I e II. diabetes mellitus tipo 2 há 30 anos, em uso
b) Apenas II. e) Apenas I e III. de insulina e metformina, apresenta episó-
c) Apenas III. dios frequentes de hipoglicemia. Assinale a
conduta correta.
Vamos analisar as alternativas... I CORRE- a) Aumentar a dose de metformina e diminuir
TA: A Hipoglicemia relativa é um evento no a dose de insulina, pois a primeira não apre-
qual o paciente com DM apresenta sintomas senta risco de hipoglicemia.
de hipoglicemia com glicemia > 70 mg/dl. Isto b) Diminuir a dose de insulina, pois é mais
pode ser observado quando o controle glicêmi- provável tratar-se de um processo de reversão
co é inadequado e ocorre uma queda brusca e de glicotoxicidade.
acentuada da glicemia. II CORRETA: Os dia- c) A hipoglicemia assintomática, em pacientes
béticos tipo 1 têm uma resposta glucagônica com mais de 60 anos, é comum, e não deve
à hipoglicemia reduzida em relação aos nor- ser tratada.
mais, um motivo que os torna mais propensos d) Manter o tratamento farmacológico e apenas
à hipoglicemia. III ERRADA: A MENOR depu- orientá-lo a se alimentar de 3/3 horas.
ração da insulina na insuficiência renal é que é e) Pesquisar a função renal do paciente, pois
o fator de risco para a hipoglicemia iatrogênica podemos estar diante de diminuição da de-
relacionada à insulina. Resposta: Letra D. puração renal de insulina devido à nefropatia
diabética.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 Um conceito fundamental para a prática


UNIVERSIDADE FEDERAL DE médica!!! Todo paciente com DM, em uso de
SANTA CATARINA – UFSC insulina, que passa a necessitar de doses
A Tríade de Whipple está presente na maioria menores de insulina ou apresenta hipoglice-
dos casos de: mias com doses “normais”, você deve pensar
a) Insulinoma. sempre em insuficiência renal. É só lembrar
b) Glucagonoma. que a insulina é eliminada pelos rins e que, na
c) Colangiocarcinoma. presença de insuficiência renal, seus níveis
d) Adenocarcinoma de pâncreas. se tornam relativamente elevados, levando à
e) Adenocarcinoma da ampola de Vater. hipoglicemia. Resposta: E.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 62

complicações Crônicas
do diabetes

H oje em dia, com a melhora no tratamento do diabetes


mellitus, tanto do tipo 1 como do tipo 2, a ocorrência
de complicações metabólicas agudas (cetoacidose e EHH)
passou a dar mais espaço para a ocorrência das complicações
crônicas. Perceba então que, ao falarmos do tratamento do
paciente diabético, estamos falando, na verdade, em medidas e alvos
recomendados para prevenir o desenvolvimento das complicações
crônicas da doença!!

As complicações crônicas do DM podem Rastreamento: pesquisa de excreção uri-


ser divididas em micro e macrovasculares: nária aumentada de albumina e da taxa de
filtração glomerular estimada anualmente.
(1) MICROVASCULARES: Retinopatia – Ne- DM tipo 1 = a partir de 5 anos de doença.
fropatia – Neuropatia. DM tipo 2 = desde o diagnóstico.
 Retinopatia Tratamento: IECA/AAII, controle glicêmico
Tipos: Não proliferativa, proliferativa e e pressórico, estatina, cessar tabagismo.
maculopatia. (Lesão mais precoce: mi-  Neuropatia
croaneurismas).
Tipos: Sensitivomotora e autonômica.
Rastreamento = Exame oftalmológico (a
fotografia retiniana pode ser utilizada, mas Forma mais comum: Polineuropatia si-
não o substitui). métrica distal. Tratamento de escolha =
Antidepressivos tricíclicos.
DM tipo 1 (indicado para aqueles com
idade > 10 anos) = realizar a partir de 5 Rastreamento:
anos de doença. Polineuropatia sensitiva distal = Teste do
DM tipo 2 = realizar desde o diagnóstico. monofilamento/pesquisa de reflexos.
Gestante = trimestral e 1 ano após o parto. Neuropatia autonômica = Medida da PA
em pé e deitado; FC em repouso.
Tratamento: Quando? DM tipo 1 = a partir de 5 anos de
Não proliferativa = controle da glicemia, doença. DM tipo 2 = desde o diagnóstico.
HAS e dislipidemia.
Não proliferativa grave, proliferativa, ma- • Pé diabético:
culopatia = fotocoagulação panretiniana, Principal fator de risco = Neuropatia dia-
vitrectomia. bética.
Maculopatia = anticorpo anti-VEGF, foto-
coagulação. (2) MACROVASCULARES:
Principal causa de óbito nos diabéticos!!!
 Nefropatia Atentar para os últimos trabalhos que co-
Tipos: Excreção urinária de albumina mo- locam em questionamento a relação entre
deradamente aumentada (microalbuminú- controle glicêmico estrito e complicações
ria) e muito aumentada (macroalbuminúria). macrovasculares.

62
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 63

Complicações Microvasculares

Didaticamente, as complicações crônicas do Fatores de Risco


DM podem ser divididas em dois grandes
grupos: O principal é a hiperglicemia. O maior estudo
prospectivo em diabéticos tipo 1 – Diabetes
 MICROVASCULARES: Retinopatia, Ne- Control and Complications Trial (DCCT) –
fropatia e Neuropatia. mostrou que a terapia insulínica intensiva e
precoce reduziu a incidência de retinopatia
 MACROVASCULARES: Doença ateros- em 76% dos casos. Outros fatores incluem a
clerótica (IAM, AVE, DAP etc.). HAS, albuminúria e proteinúria, dislipidemia,
anemia e gravidez.

Começaremos pelas microvasculares...


Rastreamento
Podemos dizer que vários fatores participam
da formação dessas complicações, a exemplo
da hiperglicemia, tabagismo, hipertensão arte-  Método: Exame oftalmológico abran-
rial, dislipidemia e proteinúria. Mas, de todas, gente, com dilatação pupilar e fundoscopia,
a hiperglicemia é, sem dúvidas, a principal, que deve ser realizado pelo menos na pri-
gerando lesão a partir de quatro mecanismos meira consulta e conforme a necessidade
fisiopatológicos principais: encontrada pelo profissional. A fotografia
da retina após dilatação pupilar (Tropica-
1) formação de espécies reativas de oxigênio mida 0,5-1,0%) de alta qualidade, avaliada
(superóxidos) e acúmulo dos AGE (produ- por profissional treinado, pode ser utilizada
tos de glicosilação avançados), que são, como ferramenta de rastreamento, mas não
na verdade, aminoácidos ou proteínas que exclui o exame oftalmológico.
sofreram glicosilação irreversível; estes
compostos acabam por lesar o endotélio periodicidade: O intervalo entre os
microvascular (dano endotelial). exames é anual, mas, durante a gravi-
dez, em que também há possibilidade de
2) ativação de citocinas e fatores de cres- aceleração das lesões, os exames devem
cimento (TGF-beta, fator de crescimento ser trimestrais e um ano após o parto. Pa-
endotelial) com formação de microtrombos. cientes com um ou mais exames normais
podem ter exames menos frequentes (a
3) depleção de glicosaminoglicanas (GAGs) cada dois anos).
da membrana basal.
A prevalência da retinopatia diabética é muito
4) alterações hemodinâmicas, principalmente baixa nos pacientes menores que dez anos
na nefropatia diabética (elevação da pres- (< 2%), mas a puberdade é capaz de acelerar
são intraglomerular). as alterações. Assim, no DM tipo 1, o rastrea-
mento deve ser realizado em pacientes com
Em geral, as complicações microvasculares mais de dez anos de idade, após cinco anos
são condições que só começam a aparecer do diagnóstico.
cinco anos após a instalação do diabetes.
Contudo, como permanecem assintomá- Por outro lado, no DM tipo 2, como o diabe-
ticas até as suas fases mais avançadas, tes se instala de forma assintomática por
é fundamental que se faça algum tipo de muitos anos, não se sabe quando a hipergli-
rastreamento (triagem) visando detectá-las cemia começou; portanto o rastreamento da
numa fase mais precoce (e mais tratável). retinopatia deve ser feito desde o momento
Vejamos agora os principais aspectos de do diagnóstico!
cada uma delas.
Em gestantes diabéticas, o exame deve ser
realizado logo no primeiro trimestre, com se-
1– Retinopatia Diabética guimento rigoroso durante o parto e também
um ano após o parto.
A retinopatia é a causa mais importante de ce-
gueira entre os 20 e 74 anos. Além disso, é tam-
bém a complicação microvascular mais comum Formas de Lesão
nos diabéticos, ocorrendo, após 20 anos, em
quase 100% dos diabéticos tipo 1 e em 60-80% Assim como veremos para a nefropatia, a reti-
dos diabéticos tipo 2. Se o controle adequado nopatia diabética evolui em fases. Neste caso,
da glicemia for obtido precocemente na doença, temos duas fases principais: não proliferativa
o risco de retinopatia cai drasticamente. e proliferativa.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 64

1- Retinopatia Diabética Não Proliferativa mado durante a gravidez, quando a doença


(RDNP) parece estar acelerada. Todas as grávidas
com diabetes preexistente devem ser sub-
*RDNP - Fase precoce: é o primeiro indício metidas ao exame oftalmológico no primeiro
de retinopatia diabética... As lesões são trimestre. Alguns casos de RDNP grave po-
decorrentes da fraqueza dos microvasos e dem receber fotocoagulação como terapia.
aumento da permeabilidade vascular com
edema retiniano. O achado mais precoce é
o aparecimento dos microaneurismas (pe-
quenos pontos vermelhos) e, em seguida, 2- Retinopatia Diabética Proliferativa
dos exsudatos “duros” (pequenos nódulos (RDP)
amarelados de material lipoproteináceo ex-
travasado). Lesões um pouco mais tardias, Esta é a forma mais grave e avançada da reti-
as hemorragias puntiformes, de localização nopatia diabética, sendo decorrente da isque-
profunda, são difíceis de diferenciar dos mia de uma grande massa de tecido retiniano.
microaneurismas, sem o uso da angiografia A hipóxia retiniana estimula a liberação local de
com fluoresceína. fatores angiogênicos (IGF-1, VEGF), levando à
formação de neovasos (neovasculogênese).
*RDNP - Fase avançada: começam a surgir Os neovasos são facilmente reconhecidos na
as alterações de isquemia retiniana locali- fundoscopia e predominam na região adjacen-
zada. As lesões representativas desta fase te à papila óptica. Qual o problema dos neo-
são as hemorragias em “chama de vela” vasos? Eles “nascem” na camada superficial
(iguais às da retinopatia hipertensiva grau da retina e infiltram o corpo vítreo, provocando
III), de localização superficial, e as man- aderências vítreo-retinianas; com a retração
chas “algodonosas” (máculas brancas que degenerativa do vítreo, dois fenômenos podem
representam microinfartos retinianos). As surgir e provocar perda súbita da visão: (1)
manchas algodonosas (antigos “exsudatos hemorragia vítrea (rotura dos neovasos) e (2)
algodonosos”) são uma lesão mais tardia e descolamento tracional da retina (a contração
de pior prognóstico que as hemorragias!!! vítrea repuxa a retina macular, descolando-a).
Quando a doença avança ainda mais, as
hemorragias e as manchas algodonosas tor- Tratamento: Fotocoagulação panretinia-
nam-se numerosas e podem aparecer veias na – sob anestesia tópica, aplica-se o laser
tortuosas (“veias em rosário”) e as IRMA em 1.200-2.000 pontos da retina periférica
(anormalidades microvasculares intrarretinia- (extramacular). O objetivo é provocar a morte
nas). Estes pacientes possuem uma chance de uma grande massa de retina, reduzindo
muito alta de evolução rápida para retinopatia assim a produção dos fatores angiogênicos,
proliferativa, o tipo mais temido. o que permite a regressão dos neovasos. O
paciente passa a ter uma visão tunelizada,
porém com boa acuidade e o seu risco de
Tratamento: sem haver comprometi- cegueira se reduz em 95%!!! A presença de
mento da mácula (ver a seguir), a RDNP retinopatia não é contraindicação para o uso
não costuma provocar sintomas visuais e de AAS como cardioprotetor já que não au-
o seu diagnóstico é feito pelo rastreamen- menta a chance de sangramento retiniano.
to. O controle rígido da glicemia, pressão Inibidores do VEGF intravítreo (ver a seguir)
arterial e dislipidemia são importantes para podem ser utilizados, e a vitrectomia preco-
impedir o desenvolvimento e a progressão ce está indicada na presença de hemorragia
da retinopatia. Muito cuidado deve ser to- vítrea / descolamento tracional de retina.

Figura 1: Aparelho para fotografia de retina. As fotos podem ser lidas por pro-
fissionais treinados (ex.: optimetristas) e guardadas para comparação com exames
posteriores.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 65

Figura 2: Espectro da lesão retiniana

Neovascularização
Retinopatia Não proliferativa

Retinopatia proliferativa
Leve Moderada Grave

RD não proliferativa precoce: RD não proliferativa avançada:


exsudatos “duros”, microaneurismas Hemorragias, manchas algodonosas
RD proliferativa: Neovascularização (setas)

Tabela 1: Classificação das retinopatias diabéticas (A).


Gravidade da retinopatia Achados à oftalmoscopia sob dilatação pupilar
Sem retinopatia aparente Sem alterações.
Retinopatia diabética não
Microaneurismas apenas.
proliferativa leve
Retinopatia diabética não Achados mais abundantes que na retinopatia não proliferativa leve,
proliferativa moderada e menos abundantes que na retinopatia não proliferativa grave.
Presença de um dos seguintes achados: mais de 20 hemorragias reti-
Retinopatia diabética não nianas em cada um dos quatro quadrantes retinianos, ensalsichamento
proliferativa grave venoso em dois quadrantes ou microanormalidades vasculares intrar-
retinianas em um quadrante.
Retinopatia diabética
Presença de neovasos e/ou hemorragia vítrea ou pré-retiniana.
proliferativa

3- Maculopatia Diabética Tratamento: fotocoagulação com laser


de argônio, com os raios aplicados na zona
Refere-se a uma lesão da mácula, mais co- parafoveal, determinando a regressão do
mum no DM tipo 2 e que é independente dos edema macular e melhora dos sintomas
graus de retinopatia descritos acima. Você visuais e a prevenção da amaurose.
lembra o que é a mácula? É simplesmente a Atualmente, como já mencionamos, dispomos
região correspondente ao polo posterior da de outras drogas para o tratamento da macu-
retina, ou retina central. Possui maior visão lopatia e da retinopatia proliferativa, que dimi-
para cores e contraste. Uma pequena área no nuem a necessidade de fotocoagulação com
seu centro, a fóvea, é a grande responsável laser: trata-se da utilização de anticorpo mo-
pela acuidade visual. A maculopatia diabética noclonal contra o VEGF (fator de crescimento
é decorrente do edema macular e o acúmulo do endotélio vascular), como o bevacizumabe,
de microaneurismas, hemorragias e exsuda- ranibixumabe e pegaptanibe. Outras terapias
tos na região macular. Os principais sintomas em estudo seriam o fenofibrato e a liberação
incluem borramento visual, metamorfopsia intravítrea sustentada de fluocinolona.
(visão distorcida) e escotoma central. Uma
vez atingindo a fóvea, provoca perda visual
completa e irreversível do olho afetado. Outras afecções oculares no
diabetes mellitus
O DM é um fator de risco independente de ca-
tarata adquirida e é causa de uma forma grave
e refratária (felizmente rara) de glaucoma – o
glaucoma neovascular. Vem associado à RDP
e depende da neovascularização da íris.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016


UNIVERSIDADE FEDERAL
DE CAMPINA GRANDE – PB
O bevacizumab é uma droga utilizada no
tratamento do câncer de pulmão, câncer de
mama, câncer de cólon e na retinopatia dia-
Maculopatia diabética: bética proliferativa de forma adjuvante à pan-
Exsudatos “duros” em volta da mácula,
edema macular. fotocoagulação a LASER, através de inje-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 66

ções intraoculares. Seu mecanismo de ação • RD proliferativa: surgimento de neovascula-


é Bloquear o receptor do(a): rização.
a) Fator de crescimento derivado de plaque-
tas (PDGF). Dessa forma, podemos dizer que a paciente
b) Fator de crescimento derivado do endoté- da questão possui uma RD não proliferativa
lio (VEGF). grave, também chamada de RD pré-prolifera-
c) Fator de necrose tumoral alfa (TNF-a) tiva (Letra C).
d) Interleucina-6 (IL-6).
e) Fator de crescimento transformador-beta
(TGF-ß). RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
UNIVERSIDADE ESTADUAL
O bevacizumab é um anticorpo monoclo- DE LONDRINA – UEL
nal contra o VEGF (fator de crescimento do O diabetes mellitus é uma doença sistêmica
endotélio vascular), neutralizando sua ação e que afeta vários órgãos, inclusive os olhos.
consequente ligação a receptores endoteliais. As alterações da retinopatia diabética podem
O fator de crescimento do endotélio vascular comprometer a visão e podem levar à ceguei-
é o principal fator de crescimento responsá- ra. Assinale a alternativa que apresenta as
vel pelo controle da angiogênese, mecanis- alterações que mais caracterizam a retinopatia
mo importante para o crescimento de tumo- diabética à oftalmoscopia.
res e formação da maculopatia diabética. A a) Microaneurismas, dilatação venosa e
inibição da expansão microvascular retarda o hemorragias.
crescimento de todos os tecidos, inclusive os b) Arteríolas em fio de cobre, arteríolas em fio
tumorais, tendo, portanto, aplicação no trata- de prata e exsudatos algodonosos.
mento de neoplasias e da degeneração ma- c) Aumento do brilho arteriolar (aumento do
cular. Gabarito: letra B. reflexo dorsal) e tortuosidade arteriolar.
d) Pigmentação e degeneração macular.
e) Bainhas de mielina ao redor do nervo óptico.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
INSTITUTO DE CARDIOLOGIA
DO RIO GRANDE DO SUL – RS RESIDÊNCIA MÉDICA – 2006
Beatriz, 60 anos, diabética tipo II, apresen- universidade federal do
ta ao exame de fundo de olho hemorragias rio de janeiro – ufrj
retinianas superficiais, exsudatos duros e Mulher, 32 anos, negra, queixa-se de fraqueza
algodonosos, veias tortuosas e dilatadas e iniciada há 1 mês. Refere diagnóstico de dia-
anormalidades vasculares intraretinianas (IR- betes mellitus aos 12 anos de idade, quando
MAS). Beatriz tem retinopatia diabética: iniciou tratamento com dieta e insulina. Aos 13
a) Não proliferativa incipiente. anos, os exames revelaram glicemia 250 mg/dl,
b) Não proliferativa exsudativa. creatinina 0,8 mg/dl, ureia 22 mg/dl e clearan-
c) Pré-proliferativa. ce de creatinina 132 ml/min. O seu tratamento
d) Proliferativa em fase inicial. sempre foi irregular. Aos 31 anos, deu à luz um
e) Proliferativa avançada. menino, a termo, pesando 2,3 kg. Exame físico:
pulso 96bpm, PA 150 x 80 mm Hg, 4ª bulha car-
A retinopatia diabética (RD) é classificada díaca presente. Edema +/4+ nos membros in-
em dois grandes grupos: retinopatia não pro- feriores, atingindo as regiões tibiais anteriores,
liferativa (RDNP) e retinopatia proliferativa. A frio, mole e indolor. Fundoscopia: presença de
forma não proliferativa ainda é desmembrada microaneurismas e exsudatos duros. Hemati-
em três subtipos (em algumas referências em metria: 3.5000,00/mm3, Hb 9,8 g%, hematócrito
quatro subtipos), cada um com característi- 29%, glicose 120 mg/dl, HbA1c 8%, proteínas
cas típicas. Vamos abaixo descrever os prin- totais 4,0 g%, albumina 2,0 g%, colesterol total
cipais achados de cada fase da retinopatia e 350 mg/dl, triglicerídios 350 mg/dl, HDL-coles-
nos aprofundarmos em mais alguns detalhes. terol 32 mg/dl, Cleareance de creatinina 90 ml/
min e proteinúria 800 mg/24h. Em relação às
• RDNP leve: microaneurismas associados à complicações apresentadas por esta paciente
exsudatos duros e a pequenas hemorragias pode-se afirmar que:
intrarretinianas em chama de vela. a) A taxa de filtração glomerular e a proteinú-
ria neste caso são o resultado de um quadro
• RDNP moderada: exsudatos algodonosos, persistente de hiperglicemia, independente
hemorragias intrarretinianas numerosas, de fatores genéticos.
veias em rosário em um quadrante. b) Os achados no exame de fundo de olho
refletem um dano endotelial que poderá ser
• RDNP grave (pré-proliferativa): hemorra- revertido com a manutenção da hemoglobina
gias intrarretinianas nos quatro quadrantes, glicada abaixo de 7%.
e/ou veias do rosário em pelo menos dois c) O peso do bebê é o resultado da passagem
quadrantes, e/ou alterações microvasculares placentária de insulina materna e, consequen-
intrarretinianas (as chamadas IRMAS) proe- temente, hipoglicemia fetal.
minentes em pelo menos um quadrante. Po- d) A HbA1c encontra-se falsamente elevada,
dem surgir também duplicações venosas e sendo que a frutosamina teria melhor correla-
veias em “formato ômega”. ção com a glicemia apresentada pela paciente.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 67

Questão difícil... Mas você já pode acer- de ser detectada pelos exames de urina
tar, só de olhar para a opção B: a retinopatia convencionais, como o EAS (Urina tipo I,
diabética da paciente é do tipo RDNP fase EQU, Sumário de Urina, Parcial de Urina).
precoce. Tais lesões são decorrentes de dano Neste caso, o exame a ser solicitado é a
endotelial, levando ao extravasamento de lí- relação albumina/creatinina (mg/g) numa
quido, lipídios e proteínas para a retina. Nesta amostra urinária aleatória (geralmente ma-
fase inicial de retinopatia, o controle glicêmico tinal) e considera-se aumentado quando a
rígido frequentemente previne a evolução para partir de 30 mg/g. Como existem situações
as fases mais avançadas de doença retiniana, comuns que provocam albuminúria transitó-
por reverter o dano endotelial. Resposta B. ria (exercício, infecção, febre, ICC, hipergli-
cemia ou HAS acentuadas), o teste exige a
confirmação em duas de três amostras de
urina, colhidas num período de 3-6 meses.
2 – Nefropatia Diabética
periodicidade: deve ser realizado em
Denominada atualmente como “Doença Re- todo diabético tipo 1 cinco anos após o diag-
nal Diabética”, é uma complicação menos nóstico e em todo diabético tipo 2 no mo-
comum que a retinopatia, mas nem por isso mento do diagnóstico. Enquanto se mostrar
menos importante! Nos EUA, a nefropatia negativo, o rastreamento deve ser repetido
diabética é a causa mais comum de rins anualmente. A medida da creatinina sérica
terminais (≥ 1/3 dos casos). No Brasil, ela também deve ser realizada anualmente
perde apenas para a nefropatia hipertensiva. para estimar a taxa de filtração glomerular
Trabalhos mais recentes têm mostrado que (TFG), independente do grau de excreção
o risco de nefropatia é equivalente entre os urinária de albumina.
dois tipos de diabetes, variando entre 20-40%,
diferente do que se acreditava anteriormente. * Para uma questão capciosa: a excreção uri-
No entanto, cuidado para não ser confundido nária de albumina aumentada também pode
com um dado epidemiológico. A proporção de ser diagnosticada em outra unidade, a partir
pacientes com DM tipo 2 é muito maior que a de 20 mcg/kg/min!
daqueles com DM tipo 1; assim, há muito mais
pacientes (em número absoluto) com lesão
renal e DM tipo 2. Formas de Lesão

Guarde este conceito: o diabetes gosta de


Fatores de Risco acometer GLOMÉRULO (daí o nome glo-
merulopatia diabética!) e a evolução se dá
Os principais são fatores genéticos; duração em fases.
do diabetes; níveis elevados de hemoglobi-
na glicada; HAS; dislipidemia; tabagismo e  Do ponto de vista histopatológico, o mar-
raça negra. co inicial da lesão renal diabética é a ex-
pansão mesangial. Com o passar dos
anos, sem tratamento, a lesão evolui para
Rastreamento o espessamento da membrana basal e
glomeruloesclerose nodular (lesão de
 Método: durante muito tempo, ba- Kimmelstiel-Wilson – específica da nefro-
seando-se na excreção urinária de al- patia diabética) ou glomeruloesclerose
bumina, os termos “microalbuminúria” difusa. É a glomeruloesclerose a lesão
e “macroalbuminúria” foram consagra- responsável pela proteinúria e lesão renal
dos para designar a perda de albumi- crônica, que acabará culminando na doen-
na na urina na faixa de 30-299 mg/g e ça renal terminal e necessidade de diálise
≥ 300 mg/g, respectivamente. No entanto, ou transplante renal.
de acordo como a última diretriz da ADA e
publicações mais recentes da Nefrologia,  Do ponto de vista funcional e clínico, te-
eles foram deixados de lado. Isso porque, mos bem no início o desenvolvimento de
a partir de um determinado nível (≥ 30 hiperfiltração, quando a lesão propriamente
mg/g), a albumina deve ser considerada dita ainda nem foi estabelecida. Ela surge,
como um marcador contínuo. Atualmente, em seguida com duas fases: inicial (pre-
temos então a seguinte distinção. coce) e tardia (avançada). A fase inicial
se caracteriza pela excreção urinária de
- Excreção urinária de albumina normal: < albumina moderadamente aumentada
30 mg/g. (a antiga MICROALBUMINÚRIA, 30-299
mg/g) e a fase avançada pela excreção
- Excreção urinária de albumina aumentada: urinária de albumina muito aumenta-
≥ 30 mg/g. da (a antiga MACROALBUMINÚRIA, e ≥
300 mg/g). Esta última fase também é a
Podemos dizer então que o rastreamen- fase relacionada à doença renal crônica
to da nefropatia consiste na pesquisa de (creatinina sérica ≥ 1,5 mg/dl), quando os
excreção urinária aumentada. Contudo, pacientes evoluem rapidamente (4-6 anos)
enquanto permaneça um aumento menos para doença renal terminal e diálise. A
pronunciado (30-299 mg/g), ela não é capaz diálise é indicada pelo aparecimento dos
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 68

sintomas urêmicos, que geralmente surgem cado em questão, assumindo metas menos
mais precocemente do que em nefropa- agressivas (PA < 140 x 90 em geral, conside-
tas não diabéticos. O transplante renal e rando < 130 x 80 naqueles com albuminúria).
transplante rim-pâncreas são excelentes Esta medida, embora não previna, pode retar-
alternativas para esses pacientes. dar a evolução para insuficiência renal crônica.
As principais drogas continuam sendo IECA e
Mas o que ocorre exatamente com os ARAII, mas quase sempre é necessária a te-
glomérulos? rapia anti-hipertensiva combinada para manter
o rígido controle pressórico, especialmente os
Além dos componentes genético e hiper-
diuréticos tiazídicos (ClCr > 30 ml/min/1,73 m2)
tensivo da lesão glomerular, temos que
ou de alça (ClCr < 30 ml/min/1,73 m2). Antago-
ressaltar o papel fundamental da hipergli-
nistas de cálcio e betabloqueadores também
cemia, através da formação dos AGE e da
podem ser utilizados.
hiperfiltração glomerular, com o clearance
de creatinina acima de 120 ml/mim. Não se
conhece bem o mecanismo, mas a hiperfil-
Controle Glicêmico
tração está presente em pelo menos metade
dos diabéticos, pouco tempo após a insta-
O controle intensivo da glicemia mostrou ser
lação da hiperglicemia... Ela conduz à hi-
capaz de atrasar o aparecimento de albuminú-
pertrofia glomerular e tubular, com aumento
ria e a progressão da doença renal no DM tipo
do tamanho dos rins – isto explica porque a
I e II, constando, portanto, entre as recomen-
nefropatia diabética é uma das causas clás-
dações. Na escolha do agente oral anti-hiper-
sicas de insuficiência renal crônica com rins
glicêmico deve sempre ser considerado o grau
de tamanho aumentado!!! A hiperfiltração
de disfunção renal (ver tratamento do diabetes).
também está associada ao espessamento
da membrana basal glomerular, encontrado
em um grande percentual de diabéticos. Em-
Outras medidas:
bora apenas a minoria dos diabéticos com
hiperfiltração glomerular evolua para nefro-
• Dieta com restrição proteica: não está mais
patia, sabe-se que quanto maior o clearance
recomendada segundo a mais recente diretriz
de creatinina nos primeiros anos do diabetes
da ADA, pois não altera medidas glicêmicas,
(revelando acentuado hiperfluxo!), maior a
do risco cardiovascular ou a taxa de declínio
chance do paciente se tornar um nefropata
da filtração glomerular.
no futuro...
• Interrupção do tabagismo, controle da dislip-
demia.
Tratamento Quadro 1 - Recomendações da abordagem
da doença renal crônica em diabéticos
segundo o KDOQI.
Controle da albuminúria e da TFG (ml/min/ Recomendação
pressão arterial 1,73 m2)
Todos Medidas anuais da creatinina,
excreção urinária de albumina
Excreção urinária de albumina e potássio.
moderadamente aumentada (antiga
45-60 Encaminhar ao nefrologista
microalbuminúria):
se risco de doença renal não
diabética (DM tipo 1 há me-
Momento ideal para tratar a nefropatia diabé- nos de dez anos; proteinúria
tica, pois tem a possibilidade de interromper acentuada; achados anormais
a progressão da doença ou até mesmo sua na USG renal; hipertensão re-
remissão! Drogas de escolha: Inibidores da sistente; queda acelerada da
ECA (IECA) ou antagonistas dos receptores TFG; sedimento urinário ativo).
da angio II (ARA II). Os IECA e os ARA II agem Considerar ajuste de dose das
reduzindo a hiperfiltração e a hipertensão intra- medicações.
glomerular, já que dilatam preferencialmente a Monitorar TFG a cada seis
arteríola eferente. O resultado é a diminuição meses.
direta da filtração de albumina no glomérulo Monitorar eletrólitos, bicarbona-
e a prevenção da glomeruloesclerose. É im- to, hemoglobina, cálcio, fósforo,
PTH (pelo menos anualmente).
portante frisar que, embora o benefício seja
maior na presença de hipertensão arterial, Assegurar suficiência de vita-
mina D.
recomenda-se que IECA ou ARA II também
Avaliar densidade mineral
sejam utilizados em pacientes com albuminú-
óssea.
ria aumentada e normotensos.
30-44 Monitorar TFG a cada três
meses.
Excreção urinária de albumina muito Monitorar eletrólitos, bicar-
bonato, hemoglobina, cálcio,
aumentada (antiga macroalbuminúria):
fósforo, PTH, albumina e peso
(a cada 3-6 meses).
A medida mais importante é o controle da PA!
< 30 Encaminhar ao nefrologista.
Recentemente, o alvo ideal vem sendo colo-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 69

Diferenciação: Nefropatia diabética ou outra momento, em termos de nefroproteção, é a


causa de síndrome nefrótica? melhora do controle glicêmico.
Tente se lembrar do primeiro bloco do Medcur-
Só com os dados clinicolaboratoriais for-
so, quando começamos a estudar as doen-
necidos, podemos dizer que estamos diante
ças glomerulares. O capítulo que aborda a
de um provável caso de nefropatia diabética
síndrome nefrótica diz que, a princípio, todo
avançada (fase 4 ou “fase azotêmica” da ne-
paciente deve ter o rim biopsiado. Mas pera
fropatia diabética): a paciente tem indícios
lá! Se a lesão renal avançada do diabético
de lesão renal glomerular (azotemia + pro-
se caracteriza por proteinúria importante (in-
teinúria declarada), rins de tamanho normal
clusive na faixa nefrótica), será que eu devo
(uma característica observada em poucas
biopsiar todos esses pacientes diabéticos??
etiologias de IRC, com destaque para o dia-
Por outro lado, você também pode pensar: e
betes) e lesão microvascular na retina (“re-
se o paciente diabético for portador de outra
tinopatia diabética”). Clinicamente, é muito
doença renal que esteja causando proteinúria,
comum que tais doentes apresentem HAS e
como a nefropatia membranosa ou a GESF
edema periférico... Ora, mas como é possí-
idiopática, se não biopsiar, eu não vou des-
vel o diagnóstico de nefropatia diabética se
cobrir nunca??
o diagnóstico do DM foi feito há apenas dois
anos (as complicações microvasculares do
Vejamos então a recomendação: se a sín-
DM em geral aparecem na segunda década
drome nefrótica ocorrer num diabético de
de doença)? Pense... O diagnóstico de DM
longa data (> 10 anos) ou houver retinopatia
1 geralmente é feito logo após a instalação
diabética associada (retinopatia e nefropatia
do quadro insulinopênico (ex.: surgimento de
andam juntas nos diabéticos!!) e o exame de
perda ponderal com polifagia, ou mesmo ce-
urina for “inocente” (proteinúria isolada, sem
toacidose diabética). No entanto, quando a
cilindros celulares ou hematúria dismórfica),
doença é o DM 2 (forma mais comum de DM)
não há necessidade de biópsia renal, pois
na grande maioria das vezes o diagnóstico é
o diagnóstico de nefropatia diabética está
feito de forma tardia, pois esta condição pode
firmado. Por outro lado, se for um diabético
se manter assintomática durante muitos anos
recente, sem retinopatia ou com exame de
(não raro, quando o diagnóstico é feito o pa-
urina rico (cilindros, hematúria dismórfica),
ciente já apresenta lesões microvasculares
então uma biópsia renal está indicada, pois
de órgãos-alvo). Num caso tão típico de ne-
podemos estar diante de outra causa de
fropatia diabética, a biópsia renal se torna ab-
síndrome nefrótica que não a nefropatia
solutamente dispensável, uma vez que será
diabética!!
extremamente alta a probabilidade pré-teste
de encontrar as lesões características desta
condição (ex.: glomeruloesclerose difusa ou
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 nodular – esta última conhecida como lesão
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO de Kimmestiel-Wilson) – A e C erradas. Se a
SÃO FRANCISCO DE PAULA – RS paciente já tem proteinúria declarada (detec-
Paciente feminina, 60 anos, obesa, com tável pelo EAS ou EQU – exame qualitativo
diagnóstico de Diabetes Mellitus (DM) há 2 de urina), não há necessidade de se dosar
anos, apresenta-se com creatinina plasmáti- a “microalbuminúria” (que serve para detec-
ca de 3,2 mg/dl, potássio 4,5 mEq/L, glicemia tar nefropatia diabética incipiente, isto é, an-
de jejum 230 mg/dl e ecografia renal normal, tes do surgimento de proteinúria declarada)
EQU com proteinúria ++ e glicosúria. O fun- – B errada. Quando o portador de nefropatia
do de olho mostra exsudatos algodonosos e diabética apresenta albuminúria aumenta-
hemorragias retinianas. Apresenta edema de da ou proteinúria, a conduta PRIORITÁRIA,
MMII ++/4+ e PA de 160/90 mmHg, sem uso que mostrou reduzir a velocidade de progres-
de anti-hipertensivo. Marque a assertiva que são para estágios mais avançados de insu-
melhor se relaciona com o caso proposto. ficiência renal, é o controle da pressão arte-
a) A paciente deverá ser submetida à punção rial sistêmica lançando mão de drogas que
biópsia renal, uma vez que o diagnóstico de conferem o benefício da nefroproteção. Por
nefropatia diabética é improvável tendo em “nefroproteção” se quer dizer “redução da hi-
vista o tempo de evolução da DM. pertensão intraglomerular” e tal efeito pode
b) Deverá ser dosada a microalbuminúria da ser obtido com drogas que relaxam a arte-
paciente e iniciado imediatamente inibidor da ríola eferente, como os IECA ou BRA. Cabe
ECA e metformin. ressaltar, no entanto, que a creatinina sérica
c) Trata-se de provável doença vascular da desta paciente já se encontra bem elevada
artéria renal com nefropatia isquêmica e a (> 3 mg/dl) e, por isso, os efeitos renais des-
paciente deverá ser submetida a uma angio- tes fármacos devem ser observados de perto
tomografia renal. após iniciados. Resposta: D.
d) Trata-se de provável nefropatia diabética
e a principal medida a ser tomada nesse mo-
mento, em termos de nefroproteção, é o início RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
de inibidor da ECA ou bloqueador do receptor HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDA-
da angiotensina. DE ESTADUAL DE LONDRINA – PR
e) Trata-se de provável nefropatia diabéti- Na nefropatia diabética, principalmente nas
ca e a principal medida a ser tomada nesse fases mais precoces, é possível e recomen-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 70

dável iniciar medidas terapêuticas eficazes, Para finalizar: não é só de glomerulopatia


com bom nível de evidência, para retardar a que vive o diabetes...
progressão da doença renal. Além do contro-
le glicêmico e pressórico intensivos, qual das A síndrome do hipoaldosteronismo hipor-
seguintes medidas encontra, de modo inde- reninêmico pode ocorrer nos nefropatas
pendente, boa evidência como sendo nefro- diabéticos, devido à degeneração do apare-
protetora? lho justaglomerular (secretor de renina). Esta
a) Uso de antioxidantes, especificamente o síndrome se manifesta com hipercalemia
tocoferol. desproporcional à creatinina sérica e discreta
b) Instituição da dieta DASH. acidose metabólica hiperclorêmica (ATR tipo
c) Uso de antiagregantes plaquetários. IV). Será descrita em outro volume do MED...
d) Uso de bloqueadores de aldosterona. O DM também predispõe a nefrotoxicida-
e) Cessação do tabagismo. de pelo radiocontraste iodado, necrose de
papila renal, ITU em mulheres, candidíase
Atenção para não confundir! As drogas genital e bexiga neurogênica.
com efeito nefroprotetor em diabéticos são
os inibidores da ECA (captopril, enalapril, etc)
e os bloqueadores do receptor da angioten- Veja esta questão muito inteligente que
siva (losartan, candesartan, etc). Os antago- enganou diversos alunos...
nistas da aldosterona (ex.: espironolactona),
embora atuem nesse mesmo “eixo”, não têm
efeito nefroprotetor, pois não estão associa- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008
dos à redução da pressão intraglomerular! A ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO RIO GRANDE
dieta DASH, embora possa contribuir para a DO SUL – AMRIGS
redução da PA, não pode ser indicada como Homem com 64 anos, diabético tipo II, hiper-
medida INDEPENDENTE para prevenção da tenso, com insuficiência renal fase 4, apre-
nefropatia. Muito menos o uso de antioxidan- senta glicemia de jejum 156 mg/dl, potássio
tes. Os antiagregantes plaquetários, por sua 6,9 mg/dl, bicarbonato 19 mEq/dl, creatinina
vez, seriam mais para as complicações ma- 1,8 mg/dl, colesterol 220 mg/dl, HDL coles-
crovasculares. E quanto ao tabagismo? Sem terol 32 mg/dl e triglicerídios 420 mg/dl. Está
dúvida nenhuma, um dos mais importantes tomando furosemida 40 mg ao dia, nifedipina
fatores para a aceleração do declínio da fun- 10 mg três vezes ao dia e insulina NPH 20UI.
ção renal. Portanto, melhor resposta, item E. A causa do distúrbio eletrolítico é:
a) Hiperaldosteronismo primário.
b) Hipoaldosteronismo hiporreninêmico.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 c) Insuficiência renal crônica.
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO RIO GRANDE d) Hipertrigliceridemia.
DO SUL – AMRIGS e) Uso de nifedipina.
O uso de inibidor da Enzima Conversora de
Angiotensinogênio (ECA) em diabetes mellitus Quase todos os desavisados marcaram a
com nefropatia clínica inicial protege o pacien- letra C. Mas veja bem, o que nos chama a
te contra a deterioração da função renal, mas atenção neste caso? Inicialmente, temos um
pode inicialmente: diabético descompensado, portador de disli-
a) Diminuir a creatinina e aumentar o potássio. pidemia e doença renal crônica, com acidose
b) Aumentar a creatinina e aumentar o potássio. metabólica (bicarbonato baixo) e hipercalemia.
c) Diminuir a creatinina e diminuir o potássio. Até aí, tudo se encaixaria para doença renal
d) Aumentar a creatinina e diminuir o potássio. crônica, não é verdade? Mas qual o valor da
e) Aumentar a creatinina e causar cetoacidose. creatinina e o estágio da disfunção renal deste
paciente? Notou alguma coisa estranha? Pois
A administração de IECA a pacientes pro- a partir de agora, guarde este conceito: pacien-
teinúricos pode elevar seus níveis de creatini- tes com IRC só começam a fazer retenção de
na, que tendem a se estabilizar dentro de dois potássio nos estágios mais avançados (TFG
meses. O que fazer nesses casos? Nada, < 5-10 ml/min). O paciente da questão está
só acompanhar! Um erro comum é suspen- numa fase mais precoce (fase 4, TFG 15-29
der os IECA nesta fase, justamente quando ml/min), ou seja, há uma hipercalemia despro-
mais são necessários para a preservação da porcional à redução da função renal. Que dis-
função renal. Além disso, a inibição do SRA túrbio é esse, então? É o hipoaldosteronismo
pode aumentar os níveis de potássio sérico, hiporreninêmico, uma condição encontrada
principalmente na presença de insuficiência principalmente em diabéticos com nefropatia
renal. Por essa razão, creatinina e potássio na fase inicial, que cursa com degeneração
séricos devem ser avaliados mensalmente do aparelho justaglomerular e acidose tubular
nos primeiros dois a três meses do início do renal tipo IV. Resposta B.
uso de IECA ou ARA II. Só mais um aviso:
apesar de elevações da creatinina serem
esperadas, aumentos muito grandes devem 3 – NEUROPATIA DIABÉTICA
sempre levantar a suspeita de estenose de
artéria renal, uma doença relativamente co- A neuropatia diabética pode ser detectada em
mum entre pacientes diabéticos. Resposta B. até 50% dos diabéticos de longa data sem
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 71

controle glicêmico adequado. Como nas ou- ser constituída de aspectos básicos do exa-
tras complicações microvasculares, ela pode me físico.
ser detectada desde o diagnóstico no DM tipo
2 e cinco anos ou mais após o diagnóstico
no tipo 1. Formas de Lesão

No entanto, devemos reconhecer que o ter- Já abordamos a neuropatia diabética em um


mo “neuropatias” envolve um acometimento tópico especial dentro do módulo de Síndro-
clínico heterogêneo em que se diferenciam mes Neurológicas, você se lembra? Ela foi
basicamente as alterações sensitivomotoras e citada entre outras causas clássicas de po-
autonômicas. Vejamos alguns detalhes sobre lineuropatia, como a síndrome de Guillains-
esta complicação. -Barré, infecção por HIV, álcool, etc.

Vamos rever os aspectos principais desta


Fatores de Risco condição.

O principal deles, como podemos imaginar, é


a duração e a gravidade da hiperglicemia. Ta- 1) Neuropatia sensitivomotora
bagismo, hipertensão e dislipidemia também
atuariam como fatores de risco.
a) Polineuropatia distal simétrica

Rastreamento Forma mais comum de neuropatia diabética,


arrastada, simétrica e de forte predomínio sen-
1) Polineuropatia distal simétrica: sitivo. Acomete principalmente os membros
inferiores (“em botas”), embora os superiores
 Método: a partir de testes clínicos sim- também possam ser afetados (“em luvas”).
ples (testes eletrofisiológicos são raramen- Sintomas: sensitivos e motores. Os primeiros
te necessários): incluem: dor neuropática, parestesia (“formi-
gamento”, “dormência”), hipoestesia (o maior
• Avaliação da sensibilidade dolorosa (palito fator de risco para o “pé diabético”), hipereste-
ou agulha), tátil (algodão ou monofilamen- sia, disestesia (sensação desagradável), câim-
to de Semmes-Weistein 5.07 – 10 g), tér- bra, quedas noturnas. Os sintomas motores
mica (quente/frio) e vibratória (diapasão de incluem: fraqueza muscular, atrofia, marcha
128 Hz ou bioestesiômetro); atáxica, distúrbios do equilíbrio.

• Pesquisa de reflexos tendinosos (aquileu,


patelar e tricipital). b) Neuropatia focal

Combinações de mais de um teste apresentam Geralmente apresentam acometimento mais


sensibilidade superior a 87% na detecção da agudo e assimétrico. Podem ser de dois tipos
polineuropatia. Cabe ressaltar que, em caso principais:
de quadros mais graves, outras causas devem
ser excluídas, como intoxicações, alcoolismo,  Mononeuropatia diabética (periférica,
deficiência de vitamina B12 (especialmente pares cranianos, radicular)
usuários de metformina por perío­do prolonga-
do), nefropatia, neuropatia desmielinizante Exemplos:
crônica, neuropatias hereditárias e vasculites.
 Mononeuropatia do IIIº par  complicação
 periodicidade: deve ser realizado no importante que deve ser reconhecida e dife-
momento do diagnóstico nos pacientes com renciada de doenças mais graves que lesam
DM tipo 2 e cinco anos após o diagnóstico ou comprimem o nervo oculomotor (IIIº par
naqueles com DM tipo 1. Caso o teste ve- craniano). Uma característica marcante e
nha a ser negativo, deve ser repetido anual- bastante sugestiva é a falta da midríase!!
mente. O motivo é o fato de a doença poupar as fi-
bras parassimpáticas do nervo... O paciente
se apresenta agudamente com ptose palpe-
2) Neuropatia autonômica: bral, oftalmoplegia, estrabismo divergente e
diplopia (visão dupla). Outra boa notícia: a
 Método: a partir de testes simples como desordem é sempre autolimitada, não neces-
a medida da PA em decúbito e ortostase sitando de terapia. O VIo e o VIIo pares (ab-
(buscando queda da PA sistólica ≥ ducente e facial) são outros nervos cranianos
20 mmHg quando em ortostase) e da FC que também costumam ser acometidos no
de repouso (acima de 100 bpm é sugestiva diabetes.
de disautonomia).
 Síndrome do túnel do carpo  A neuropa-
 periodicidade: desde o diagnóstico no tia do nervo mediano é a mononeuropatia
DM tipo 2 ou com cinco anos de doença no diabética mais comum. Manifesta-se com
DM tipo 1. Nenhuma referência traz a perio- parestesias, hipoestesia e fraqueza muscu-
dicidade desta avaliação, provavelmente por lar do polegar, indicador e dedo médio. Esta
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 72

síndrome possui múltiplas causas, sendo a • Diversos: Glândulas sudoríparas (pele


mais comum a DORT (distúrbios osteomus- seca, prurido, queda de cabelos, hiper-hi-
culares relacionados ao trabalho – antiga drose), dificuldade no reconhecimento da
LER, comum em datilógrafos) e voltará a ser hipoglicemia, ansiedade, distúrbios do sono.
descrita no volume sobre artrite reumatoide.

 Mononeuropatia múltipla (mononeurite Tratamento


multiplex)
 Dor neuropática: é o pior sintoma e
 Ocorre quando múltiplos nervos são acometi- costuma acordar o paciente à noite, com
dos. O principal diagnóstico diferencial é com sensações de “facadas” na região plantar
as síndromes vasculíticas (ex.: poliarterite dos pés. A base da terapia da dor neuro-
nodosa). pática e das parestesias/disestesias é o
controle glicêmico rígido e a introdução de
um antidepressivo tricíclico (amitriptilina,
c) Amiotrofia diabética (Neuropatia nortriptilina, imipramina, desipramina). Ou-
motora proximal,neuropatia femoral) tras opções seriam antidepressivos como a
venlafaxina, anticonvulsivantes (pregabali-
Uma rara desordem em diabéticos, caracte- na, gabapentina, carbamazepina), agentes
rizada por uma radiculoneuropatia de L2, L3 tópicos (creme de capsaicina a 0,075%
e/ou L4. O paciente se apresenta com dor – a substância da pimenta) e analgésicos
em uma das coxas, evoluindo com fraqueza (paracetamol, opioides de baixa potência).
proximal (incapacidade de se levantar de
uma cadeira ou de fletir o quadril) e atrofia  Disautonomia cardiovascular:
muscular proximal (amiotrofia). Após um evitar alterações bruscas de postura (ex.:
período variável, os sintomas acometem o levantar do leito por etapas), usar meias
membro contralateral. Os principais afeta- compressivas, elevação da cabeceira do
dos são os diabéticos do tipo 2 e os idosos. leito (30 cm), mineralocorticoides como a
A boa notícia é que esta entidade tende a fludrocortisona (Florinefe®, dose: 0,1-0,4
ser autolimitada, atingindo um platô em seis mg/dia, VO).
meses e regredindo ao longo de 1-2 anos.
A imunoglobulina venosa foi benéfica em  Disautonomia gastrointestinal:
estudos não randomizados. O tratamento da gastroparesia é feito com
pró-cinéticos e antieméticos (metoclopra-
mida, bromoprida, domperidona). O com-
2) Neuropatia autonômica plexo diarreia/constipação pode ser tratado
com antibiótico de amplo espectro, lope-
Esta neuropatia se manifesta das mais diver- ramida, difenoxilato e aumento da ingesta
sas formas, compondo a síndrome da disau- de fibra alimentar.
tonomia... Veja as principais:
 Disautonomia geniturinária:
• Cardiovascular: Hipotensão postural para a bexiga neurogênica, treinamento
sem taquicardia postural, síncope, taquicar- para esvaziamento vesical programado
dia fixa, aumento do risco de morte súbita (completo com manobras de compressão
cardíaca, intolerância ao exercício. abdominal e autossondagem); antibiotico-
terapia nas infecções urinárias e na sua
• Gastrointestinais: A gastroparesia prevenção e cloridrato de betanecol em
é o mais comum, decorrente da desnerva- caso de volume residual pós-miccional
ção gástrica. O paciente refere episódios significativo (≥ 100 ml). Disfunção erétil:
frequentes de plenitude pós-prandial, náu- o tratamento de primeira escolha são as
sea inexplicada, por vezes cursando com drogas inibidoras da fosfodiesterase (sil-
vômitos alimentares. A diarreia e a cons- denafil, vardenafil e tadalafil).
tipação diabética são menos frequentes,
porém de difícil controle. A diarreia lembra
uma diarreia secretória (apesar de não ser), RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
pois pode ocorrer no período noturno, du- FACULDADE DE MEDICINA DO ABC – SP
rante o sono. Incontinência fecal é outra Paciente com DM tipo 2, queixando formiga-
alteração possível. mento nas solas dos pés há 1 ano. Espera-se
encontrar, no exame neurológico:
• Geniturinárias: A bexiga neurogênica a) Hipoestesia com nível sensitivo abaixo de
é comum, do tipo hipotônica. O paciente per- L1 e reflexos aquileus exaltados.
de a sensibilidade de sentir a bexiga cheia b) Hipoestesia em luva e bota, com reflexos
e apresenta hesitação, retenção urinária, aquileus exaltados.
sintomas tipo “cistite” e predisposição a ITU c) Hipoestesia com nível sensitivo em L1 e
de repetição. A impotência é a complicação reflexos aquileus abolidos ou diminuídos.
mais temida do homem diabético, sendo d) Hipoestesia em luva e bota, com reflexos
causada pela neuropatia do plexo pélvico, aquileus abolidos ou diminuídos.
embora possa ter um componente vascular.
A mulher também pode apresentar perda da O formigamento “crônico” corresponde a
lubrificação genital. parestesias e, em paciente diabético, mui-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 73

to provavelmente se trata de neuropatia dia- b) Polineuropatia diabética autonômica.


bética. A apresentação mais comum dessa c) Polineuropatia diabética sensitiva motora
neuropatia é a polineuropatia periférica, que periférica e autonômica.
corresponde à neuropatia simétrica, de forte d) Mononeuropatia diabética múltipla.
predomínio sensitivo, que se manifesta com
combinações variáveis de hipoestesia, pares- Simples. Pela presença de constipação, ple-
tesia, disestesia e dor neuropática. Inicia-se nitude gástrica, retenção urinária e hipotensão
na região plantar dos pés, podendo progredir identificamos alterações de disautonomia. Por
até as panturrilhas (acometimento “em bota”) outro lado, parestesia de extremidades, “em
e posteriormente para as mãos (“em luva”). A luva ou em bota”, nos aponta para a polineuro-
perda do reflexo aquileu costuma ser precoce patia sensitiva-motora periférica. Resposta: C.
e fraqueza muscular é incomum. Resposta: D.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010


RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 UNIVERSIDADE FEDERAL DE
INSTITUTO DE CARDIOLOGIA SÃO PAULO – UNIFESP
DO RIO GRANDE DO SUL – RS Paciente diabético, com dor em queimação
Qual das drogas abaixo pode ser útil no trata- nas pernas e pés. Assinale o fármaco mais
mento da diarreia em diabéticos? indicado para o tratamento da dor:
a) Colestiramina. a) Fina.
b) Clonidina. b) Fenitoína.
c) Domperidona. c) Diclofenaco.
d) Metoclopramida. d) Antidepressivo tricíclico.
e) Vildagliptina. e) Tramadol.

Vamos aprender um conceito com essa Resposta D.


questão! O paciente diabético pode cursar
com o que chamamos de enteropatia diabé-
tica, a qual é caracterizada basicamente por RESIDÊNCIA MÉDICA – 2005
diarreia líquida, sem dor abdominal associada UNIVERSIDADE DO ESTADO
e podendo ou não vir acompanhada de inconti- DO RIO DE JANEIRO – UERJ
nência fecal. Apesar de sua fisiopatologia pos- Um paciente diabético, mal controlado há cer-
suir um caráter multifatorial, acredita-se que a ca de 15 anos, apresentou, há uma semana,
neuropatia autonômica do diabetes seria uma um quadro de dor intensa progressiva na coxa
das grandes responsáveis pelo seu surgimen- direita, com incapacidade de fletir o quadril. O
to, já que além de acarretar alterações da mo- diagnóstico mais provável neste caso é:
tilidade intestinal, gera também certo grau de a) Piomiosite aguda.
disfunção anorretal. Em relação ao tratamento, b) Amiotrofia diabética.
o controle da glicemia e a reposição hidroele- c) Insuficiência arterial periférica.
trolítica são essenciais, bem como técnicas d) Necrose asséptica da cabeça do fêmur.
de “biofeedback training” e de “toilet training”,
que consistem em exercícios que levariam Questão difícil, porém, não agora que você
ao aumento da força de contração do esfínc- acabou de ler sobre a Amiotrofia diabética.
ter anal externo e a redução da sensação de Resposta B.
enchimento retal. Além disso, fármacos como
a loperamida, a codeína e o difenoxilato, por
reduzirem a motilidade intestinal, podem ser RESIDÊNCIA MÉDICA – 2004
usados no manejo desses pacientes. A cloni- UNIVersidade DE SÃO PAULO – USP
dina, por promover uma redução tanto do trân- Homem de 66 anos de idade, portador de
sito intestinal como do volume das secreções hipertensão arterial sistêmica e diabetes mel-
entéricas, também apresenta efeitos benéfi- litus, dá entrada no pronto-socorro por quadro
cos na redução do número e do volume das de movimentos anormais no braço direito, inin-
evacuações em pacientes refratários a outras terruptamente, há 2 horas. Ao exame físico: o
medidas terapêuticas, sendo uma possibilida- paciente se encontra consciente e orientado,
de nesses casos. Resposta: B. PA = 160 x 120 mmHg, P = 86 bpm, FR =
12 rpm, apresenta movimentos clônicos em
membro superior direito, sem outras altera-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 ções do exame neurológico. A glicemia capilar
FUNDAÇÃO JOÃO GOULART – HOSPITAIS de entrada é de 370 mg/dl. O primeiro medi-
MUNICIPAIS – FJG camento a ser administrado é:
Homem, 56 anos, diabético há 15 anos, quei- a) Inibidor da enzima conversora.
xa-se de parestesias de extremidades, dor b) Fenitoína.
nas pernas em queimação, mais intensa à c) Diazepam.
noite, cãibra e insônia. Apresenta constipação d) Fenobarbital.
intestinal, plenitude gástrica, retenção urinária e) Insulina.
e hipotensão postural. Os testes de sensibili-
dade (vibratória, tátil e térmica), mostraram-se Calma!!! Você ainda não leu sobre esta
diminuídos. O diagnostico provável é: entidade... Deixamos para tecer comentários
a) Polineuropatia diabética sensitiva motora sobre ela somente nesta questão, já que é
periférica. extremamente rara e ausente nos principais
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 74

livros de referência da prova. Qual será o calosidade e úlcera de pressão nesta área.
diagnóstico? Trata-se da epilepsia parcial con- Além do distúrbio sensitivomotor, a neuropatia
tínua, caracterizada pela persistência de movi- autonômica prejudica a microcirculação dos
mentos clônicos em um dos membros, sem a pés e provoca anidrose (secura), facilitando
perda da consciência e bastante refratária aos o surgimento de fissuras cutâneas. Após abrir
anticonvulsivantes. Existem diversas causas uma porta de entrada (úlcera, ferida, fissura), o
para a síndrome, geralmente lesões estrutu- próximo passo é a infecção bacteriana!! Tais
rais nos gânglios da base. Contudo também infecções possuem uma elevada tendência de
há causas metabólicas, e a hiperglicemia é se disseminar para o subcutâneo, músculos
uma delas. Níveis glicêmicos > 300 mg/dl já e ossos, causando gangrena e osteomielite.
são suficientes para causar a síndrome que,
neste caso, melhora prontamente com o rápido Outro fator que não pode ser esquecido é a
controle da glicemia. Resposta E. doença arterial aterosclerótica das artérias
tibiais e fibulares, especialmente comuns nos
diabéticos tabagistas. A isquemia crônica da
4 – “Pé Diabético” extremidade distal é um fator a mais dificul-
tando a cicatrização de feridas e predispondo
Acabamos de estudar a neuropatia diabética a gangrena e a infecção, somada aos distúr-
e, nesse momento, sabemos perfeitamente bios intrínsecos da cicatrização (função do
que a mais representativa de todas as formas colágeno e metaloproteinases) e imunológicos
é a polineuropatia distal simétrica. No entan- (deficiência na defesa por polimorfonucleares).
to, além de reconhecer os sintomas que ve-
nham a incomodar o paciente (dor neuropá-
tica, disestesias etc.), é importante entender
as consequências que podem ser originadas.
Entre elas, a mais preocupante é o pé diabé-
tico. Mas como a polineuropatia não é o úni-
co fator participante, esta condição é estuda-
da como um item à parte, conforme veremos
a partir de agora. Figura 3: Lesões ulceradas característi-
cas do pé diabético.

Definição
Avaliação do Pé
Talvez não seja de conhecimento comum,
mas existe um Consenso Internacional sobre Todo paciente diabético deve ter anualmen-
Pé Diabético. Segundo ele, define-se pé te uma avaliação completa do pé. O primei-
diabético como infecção, ulceração e/ou ro passo se dá pela anamnese à procura de
destruição de tecidos moles associadas a possíveis fatores de risco.
alterações neurológicas e vários graus de
doença arterial periférica nos membros in- Confira os principais a seguir.
feriores. Em outras palavras, seriam as fa-
mosas úlceras de difícil cicatrização no pé, Fatores de risco para pé diabético:
estejam elas infectadas ou não.
• Amputação prévia
O DM é a principal causa de úlceras de mem- • História prévia de úlcera no membro inferior
bro inferior que não cicatrizam e de amputação • Neuropatia periférica
não traumática. As úlceras também são as
complicações mais comuns dos diabéticos – o • Deformidade nos pés
risco ao longo da vida de se desenvolverem • Doença vascular periférica
chega a 25% – infectando em 50% dos casos
e precedendo 85% das amputações. • Distúrbio visual
• Nefropatia diabética (principalmente na
fase dialítica)
Etiologia
• Baixo controle glicêmico
• Tabagismo
São vários, mas o principal é a neuropatia
diabética!! Nesse caso, o paciente perde, sem O exame físico se inicia por uma inspeção ge-
perceber, a sensibilidade dolorosa, térmica, ral, com a remoção dos sapatos e das meias
tátil, proprioceptiva e vibratória nos pés (ou (isso parece sem importância? Pois saiba que
seja, todas as sensibilidades!!), começando já foi tema de avaliação numa prova prática
pela região plantar. A perda da sensibilidade da USP...). Aqui devem ser avaliadas: (1) al-
impede que o paciente perceba pequenas terações dermatológicas (aspectos da pele,
feridas no pé e continue pisando firme, tornan- sudorese, avaliação intertriginosa, calos, ul-
do-as mais graves e profundas. Além disso, cerações) e (2) alterações musculoesquelé-
a perda da propriocepção modifica a mecâ- ticas (deformidades, atrofias).
nica muscular do pé, distribuindo mal o peso,
causando deformidades e sobrecarregando a Em seguida, inicia-se a avaliação neurológica.
base do hálux. Isto predispõe a formação de A ênfase não é exatamente na identificação
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 75

precoce da neuropatia diabética, mas da perda  Diapasão de 128Hz: também avalia fibras
de sensibilidade protetora (PSP ou LOPS, do grossas sensitivas, permitindo a avaliação
inglês loss of protective sensation). Para esta da sensibilidade vibratória. O teste é posi-
etapa, recomenda-se a seguinte avaliação: tivo quando o paciente deixa de sentir a
vibração, embora o examinador a continue
Estesiômetro ou monofilamento de nái- sentindo.
lon (Semmes-Weinstein) de 10 g (cor laran-
ja – kit SORRI) + 1 dos 4 testes abaixo:
• diapasão 128Hz
• martelo
• pino ou palito (pinprick sensation)
• batiestesiômetro (de custo elevado, mais
utilizado nos EUA)

1 ou mais testes anormais sugerem a PSP;


enquanto, pelo menos, dois normais (e na au-
sência de teste anormal), descarta-se a PSP.

Observem alguns detalhes sobre estes exa-


mes: Figura 6: Teste de sensibilidade vibrató-
ria com diapasão de 128Hz (o mesmo que
 Monofilamento de 10 g: os monofilamen- aprendemos nas aulas de Semiologia).
tos foram desenvolvidos inicialmente para
o diagnóstico de perda sensitiva na hanse-
níase. No diabetes, preconiza-se a utilização  Martelo: avalia fibras grossas motoras e
de um deles, o de 10 g. A incapacidade de deve ser utilizado para a pesquisa do re-
detectar a pressão em um ou mais locais da flexo aquileu.
superfície plantar testada já está associada
à alteração de fibra grossa. Para adequada  Pino (neurotip) ou palito: avalia fibras fi-
utilização do material, não se deve ultrapas- nas sensitivas, substituindo as tradicionais
sar dez pacientes por dia e um repouso de e traumáticas agulhas que acompanhavam
24h deve ser dado para atingir 500 horas de o martelo. Deve ser aplicado no hálux (per-
meia-vida do instrumento. cebam que ele será sempre um ponto de
referência!).

Figura 7: Neurotip – instrumento esté-


ril e calibrado para realização do teste
Figura 4: Kit de monofilamentos. do pino.

Figura 5: Aplicação do
teste do monofilamento de
nylon - 10 g (estesiômetro
Semmes-Weinstein). A força
aplicada deve ser o sufi-
ciente para curvar o estesi-
ômetro, conforme indicado
na figura e o paciente deve
estar de olhos fechados.
Ao paciente, deve ser de-
monstrada inicialmente no
membro superior a sensa-
ção pressórica que deve
detectar. Áreas calejadas
devem ser evitadas na ava-
liação. Embora o teste com-
pleto utilize mais pontos,
o Consenso Internacional
recomenda quatro locais
para uma avaliação inicial:
hálux, primeiro, terceiro e
quinto metatarsos.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 76

 Bioestesiômetro ou neuroestesiômetro: Prevenção


instrumento que quantifica o limiar da sen-
sibilidade vibratória (LSV) por meio da apli- Baseia-se, sobretudo nos controles glicêmi-
cação de uma haste de borracha dura na co e pressórico, assim como na cessação
face dorsal do hálux, registrando-se em volts do tabagismo. Uma vez presentes os sinais
a percepção do estímulo (faz-se uma média de neuropatia nos pés, a orientação é a
de três leituras, com ponto de corte em 25V). melhor medida!! Esses pacientes devem
ser orientados a nunca andarem descalços,
usarem calçados acolchoados e bem adap-
tados, evitarem o contato com água quente
e procurar um podologista para prescrever
palmilhas ou órteses ortopédicas apropria-
das para evitar a má distribuição do peso.
O paciente tem que examinar os pés todos
os dias... Qualquer sinal de calo ou ferida,
procurar imediatamente atendimento médi-
co. Tais medidas são altamente eficazes em
prevenir gangrena e amputação!!

Figura 8: Bioestesiômetro.
Tratamento

Cabe lembrar que, além da avaliação sensiti- As feridas e úlceras não infectadas ou calos
va, o exame da motilidade também é obriga- devem receber tratamento local, com cura-
tório. Após a avaliação neurológica, realiza- tivos em compressas úmidas ou tratamento
-se o exame vascular, inicialmente, a partir da cuidadoso do calo. Antissépticos locais são
palpação dos pulsos tibial posterior e pedioso, desaconselhados, pelo risco de hipersensibi-
em ambos os pés. Pacientes que apresentem lidade cutânea.
sintomas ou sinais de vasculopatia (redução
da temperatura, palidez, enchimento capilar O “pé diabético” infectado é reconhecido pelo
lentificado, distrofia ungueal, perda de pelos exame clínico. Cultura do raspado da úlcera
ou úlceras arteriais indolores, secas), bem não é confiável (bactérias contaminantes).
como aqueles com mais de 50 anos devem Casos brandos de infecção superficial (ex.:
realizar o índice tornozelo-braquial (ITB). Nes- discreta celulite em volta da úlcera ou ferida)
te índice, com a ajuda de um Doppler de 8 a podem ser tratados com antibiótico oral, mas
10 MHz, faz-se a divisão da maior pressão sis- os casos de infecção profunda ou sinais de
tólica do tornozelo (pediosa ou tibial posterior) gangrena indicam internação imediata para
pelo maior valor das pressões das artérias antibioticoterapia venosa e debridamento de
braquiais. Este índice é feito tanto para o tor- todos os tecidos desvitalizados!!
nozelo direito quanto o esquerdo. Considera- Os antibióticos devem ter amplo espectro,
-se como normal ITB > 0,9. Valores abaixo de voltados contra cocos Gram-positivos
0,9 estão associados com claudicação e abai- (estafilococo e estreptococo), Gram-nega-
xo de 0,4 com isquemia de repouso e necro- tivos entéricos e anaeróbios. Opções de
se. ITB acima de 1,3 sugerem rigidez arterial e primeira linha são amoxicilina-clavulanato,
são menos fidedignos. ampicilina-sulbactam, clindamicina + fluoro-
quinolona ou cefalosporina de segunda ou
Após esta avaliação, o paciente deve rece- terceira geração.
ber uma estratificação de risco para defini-
ção do melhor seguimento para o caso. Veja Toda úlcera infectada profunda deve esti-
na tabela 2 a seguir. mular o médico a pesquisar osteomielite,

Tabela 2 - Classificação do Risco – ADA-AACE 2008.

Recomendação
Risco Definição Seguimento
de tratamento
0 Sem PSP Educação Anual
(clínico ou
Sem DAP Calçados
especialista)
apropriados
Sem deformidades
1 PSP ± Prescrição Cada três a
deformidades de calçados seis meses
Cirurgia profilática
2 PSP ± DAP Prescrição Cada dois a três
de calçados meses (especialista)
Consulta com
vascular
3 Histórico + Como em 1, seguimento Cada um a dois
úlcera combinado com vascular meses (especialista)
Amputação
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 77

através da radiografia simples, cintilografia lares, e está apresentando uma complicação


com leucócitos marcados com Índio ou res- clássica do diabetes mellitus: pé diabético in-
sonância magnética. O exame padrão-ouro fectado. Aparentemente, a principal etiologia
é a biópsia óssea, realizada durante o des- deste pé diabético é neuropática (ausência
bridamento. A osteomielite deve ser tratada de sensibilidades vibratória e dolorosas). Os
com antibiótico venoso em curso prolongado pulsos pediosos presentes falam contra a etio-
+ cirurgia ortopédica. A isquemia do pé deve logia isquêmica. Assim, podemos dizer que:
sempre ser investigada com arteriografia e
o tratamento indicado é a revascularização A - O tratamento envolve antibioticoterapia de
distal. A amputação é o último recurso, porém amplo espectro (exemplos: ampicilina/sulbac-
necessária em muitos casos. Estima-se que tam, ceftriaxone + clindamicina, ciprofloxacina
20% dos “pés diabéticos” irão necessitar de + clindamicina, etc.) e o debridamento cirúrgi-
amputação em algum momento. co dos tecidos desvitalizados.

B - Se houvesse ausência de pulso, a avalia-


Questões... Questões... e mais Questões... ção cirúrgica para amputação ou revasculari-
zação seria mandatória.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
– UNIFESP RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
Paciente de 56 anos de idade, diabético há SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – BA
12 anos, queixa-se de ferida no pé direito Na profilaxia específica do pé diabético, o
há 1 mês. Ao exame físico, há formação de parâmetro mais efetivo a ser monitorizado é:
calosidade plantar ao nível da cabeça do 1.º a) Troficidade de unhas e fâneros.
metatarsiano com orifício central por onde há b) Presença de edema em MMII.
saída de secreção seropurulenta com odor c) Temperatura das extremidades.
fétido. À instrumentação da lesão com sonda d) Fluxo arterial de MMII com Doppler.
metálica não há contato ósseo. Os pulsos e) Sensibilidade proprioceptiva.
arteriais estão presentes em ambos os mem-
bros inferiores. O quadro é compatível com pé A perda da sensibilidade proprioceptiva
diabético do tipo: desestabiliza a musculatura do arco plantar,
a) Neuropático infeccioso. levando à distribuição da pressão de todo o
b) Isquêmico infeccioso. peso do corpo para apenas uma área, geral-
c) Neuropático não infeccioso. mente a região tenar, um local comum de úl-
d) Isquêmico e neuropático. cera diabética. A monitoração deste parâmetro
e) Simples não infeccioso. é, portanto, a medida mais eficaz na profilaxia
do pé diabético. Resposta: Letra E.
Como podemos perceber, este paciente
apresenta um pé diabético infeccioso (secre-
ção seropurulenta). Os pulsos são palpáveis, 5 - Manifestações
revelando a ausência de componente isquê- Dermatológicas
mico. Pela história característica de formação
de calosidade e o quadro arrastado, fica como As manifestações dermatológicas mais co-
principal hipótese o componente neuropático. muns do diabético são as piodermites, as
Resposta: A. úlceras neuropáticas, a candidíase e as ti-
nhas (dermatofitoses). A acantose nigricans,
relacionada à resistência insulínica, é uma
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 lesão hiperpigmentada que ocorre principal-
FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA mente nas pregas cutâneas anais e axilares.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Algumas raras dermatoses são típicas do dia-
– SP betes mellitus, como o caso da Necrobiosis
Homem, 67 anos, há 15 anos apresenta lipoidica diabeticorum (placas eritematosas
diagnóstico de diabetes tipo 2, em uso ir- pré-tibiais que evoluem com expansão, hi-
regular de hipoglicemiante oral. Há 5 dias perpigmentação, atrofia central e ulceração)
percebeu escurecimento e mau cheiro em e das pápulas pré-tibiais hiperpigmentadas.
4º artelho do pé esquerdo. Exame físico:
IMC = 29 kg/m2, PA = 160 x 98 mmHg, FC
= 92 bpm, pulsos pediosos palpáveis e si-
métricos, 4º artelho esquerdo enegrecido,
com secreção melicérica, fétida, aumento de
temperatura, hiperemia da região plantar e
sensibilidades vibratória e dolorosa ausentes.
A) Qual a conduta? B) No caso de ausência
de pulso, qual seria a conduta?

O paciente desta questão é diabético de


longa data, em tratamento irregular, já com
prováveis complicações micro e macrovascu- Figura 9: Necrobiose lipídica ulcerada.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 78

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 borda adquire discreta elevação conservan-


HOSPITAL NOSSA SENHORA do uma coloração vermelho-acastanhada,
DAS GRAÇAS – PR enquanto que o centro se torna deprimido
Paciente com placas assintomáticas brilhan- e adquire uma cor mais amarelada. Através
tes, de tamanhos variados há 3 anos em da epiderme atrófica, observam-se várias
face anterior das pernas. Inicialmente eram telangiectasias com dimensões variadas. As
eritemato-acastanhadas e tornaram-se ama- lesões podem coalescer e ulcerar. O trata-
relo-amarronzadas, deprimidas e atróficas. mento consiste em corticoides tópicos, e o
Diabética de longa data em uso irregular de controle do diabetes em nada interfere na
insulina. evolução da doença. Logo, resposta: alter-
Sobre o quadro descrito, é correto afirmar: nativa E (letra A e C corretas).
a) O quadro é sugestivo de necrobiose lipoí-
dica.
b) Necrobiose lipoídica é exclusivo de pacien- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2005
tes diabéticos tipo 1. FUNDAÇÃO ESCOLA DE
c) Ulceração é uma das complicações possí- SERVIÇO PÚBLICO RJ – FESP
veis. Mulher diabética procura ambulatório com pru-
d) O tratamento é efetivo com controle glicê- rido interdigital. A causa mais provável desse
mico. sintoma é:
e) Há duas corretas. a) Paroníquia bacteriana.
b) Neuropatia periférica.
A necrobiose lipoídica é um distúrbio cutâ- c) Vasculite isquêmica.
neo comumente, porém nem sempre asso- d) Intertrigo tricofítico.
ciado ao diabetes (20-30% dos pacientes
têm tolerância normal à glicose), sendo mais Prurido interdigital em uma paciente diabéti-
observado em adultos jovens e no início da ca nos faz pensar imediatamente em infecção
meia-idade, tanto em pacientes diabéticos fúngica, sobretudo nas cutâneas (dermatofito-
tipo I quanto tipo II. A lesão começa como ses) como a tinha. Temos aqui então um caso
uma pápula marrom-acastanhada ou cor da típico de tinha pedis, que tem como um dos
pele, que evolui para formar uma placa cérea agentes mais comuns o Tricophyton sp.
bem demarcada com dimensões variáveis. A Resposta D.

Complicações Macrovasculares

Representadas pelas doenças ateroscleró- ticas e utilizar a medicação de forma regular,


ticas que atingem a população geral (IAM, ele teria uma tabela, um “caderninho” com
AVE, isquemia de membros inferiores), sen- todas as aferições de glicemia capilar ano-
do que com maior gravidade e frequência tadas e seu controle glicêmico seria impecá-
a população diabética. São mais comuns no vel, até tendendo um pouco à hipoglicemia...
DM tipo 2, menos dependentes da hipergli-
cemia e mais relacionadas à HAS, dislipide- Agora acordem! Esse paciente não existe... E
mia, obesidade abdominovisceral, tabagismo muitas vezes ele é justamente a antítese de
e atividade plaquetária e pró-inflamatória tudo que foi tratado! Ele até segue algumas
exacerbadas. A sua prevenção é centrada das suas recomendações, mas seu controle
no controle de todos estes problemas fre- glicêmico tem alguns episódios de hiperglice-
quentemente relacionados aos diabéticos, mia. “Caderninho”?! Nem pensar. Mas ainda
no que costumamos chamar de Síndrome assim, será que poderíamos dizer que esse
Metabólica. Atualmente, as complicações paciente está fazendo tudo errado?
macrovasculares ateroscleróticas (es-
pecialmente o IAM) são as maiores res-
ponsáveis pela mortalidade precoce dos Talvez não! E vamos entender o porquê.
diabéticos.
Podemos dizer que toda a história de con-
Cada uma dessas condições é abordada em trole intensivo da glicemia começou com
apostilas específicas do MED. dois grandes estudos. Eles foram o Diabe-
tes Control and Complications Trial (DCCT)
Agora vamos entender um conceito impor- para o DM tipo 1 e o United Kingdom Pros-
tante sobre a relação entre controle glicêmi- pective Diabetes Study (UKPDS) para o DM
co e esse grupo de complicações... Procure tipo 2. Esses trabalhos demonstraram que
imaginar o “paciente dos sonhos”. Aquele o controle estrito da glicemia (HbA1c para
que chega cedo às consultas, que tem sem- níveis abaixo de 7-6%) reduzia o número de
pre todos os exames à mão (e de forma or- complicações e de mortes por diabetes. Até
ganizada!), que relata suas queixas da forma aí nenhuma novidade. O problema é que
mais objetiva e clara possível... Visualiza- subanálises de alguns desses mesmos es-
ram? Agora imaginem que ele também seja tudos e mais outros (ACCORD, ADVANCE
diabético. Como ele seria? Além de seguir e VADT) mostraram que nem sempre isso
estritamente as suas recomendações dieté- pode ser verdade. Pelo contrário, em al-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 79

guns casos, a hipoglicemia e o ganho de lores de HbA1c no início da avaliação e pou-


peso (ambos efeitos da insulina, se lem- ca doença aterosclerótica.
bra?) acabavam trazendo mais danos ao
paciente do que a hiperglicemia.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
Com a devida crítica que esses estudos pos- UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
sam ter (fatores de confundimento não ana- – UNIFESP
lisados, viés de seleção de pacientes, etc.) As principais causas de morte nos diabéticos
algumas conclusões podem ser obtidas. são:
Atualmente, o que se tem bem definido é que a) Choque séptico e convulsões.
o controle intensivo se presta muito bem à b) Insuficiência renal e coma hiperglicêmico.
prevenção das complicações microvascula- c) Infarto do miocárdio e acidente vascular
res (retinopatia, nefropatia, neuropatia). No encefálico.
entanto, este benefício pode não se estender d) Cetoacidose e coma hiperosmolar.
às complicações macrovasculares (doença e) Coma hipoglicêmico e gangrena gasosa.
cardiovascular), principalmente no DM tipo 2,
onde elas são mais exuberantes. O maior be- Como acabamos de ver, as complicações
nefício cardiovascular ocorreu para aqueles macrovasculares são as principais causas de
com pouco tempo de diabetes, menores va- óbito nesses pacientes. Resposta: C.

Resumindo...
A ideia que fica é que a glicemia atua de forma incisiva nas complicações microvasculares e
antes do desenvolvimento das complicações macrovasculares. Uma vez que as últimas es-
tejam bem estabelecidas, o controle glicêmico parece ter menor valor. A grande pergunta no
momento é: submeter um paciente ao controle glicêmico estrito é capaz de reduzir complica-
ções como o IAM? Ou ainda, há chance desta prática ser prejudicial ao paciente? Não se tem
a resposta definitiva! Todavia, apesar da polêmica, até o momento o alvo recomendado pela
AHA (American Heart Association) permanece HbA1c < 7%.

Outras morbidades associadas

Além das condições classicamente associa- • Baixos níveis de testosterona em homens.


das ao DM, como HAS, obesidade e dislipi- • Doenças periodontais (maior gravidade).
demia, existem outras que também devem • Neoplasias (possivelmente apenas DM 2),
ser lembradas na prática: como a hepática, pancreática, de endomé-
• Distúrbio da audição. trio, colorretal, mama e bexiga.
• Apneia obstrutiva do sono. • Fraturas.
• Esteatose hepática. • Deficit cognitivo.

O aluno pergunta...
Professores, ouvi dizer em uma palestra que diabetes pode causar câncer.
Esta afirmação é verdadeira?
Aproveitando a pergunta, vamos nos aprofundar mais um pouco... Este é um questionamento
que vem intrigando pesquisadores há algum tempo. Recentemente tivemos um posicionamento
de especialistas da American Diabetes Association e da American Cancer Society. O que se
pode dizer é que:
•O risco realmente existe e é maior para neoplasia hepática, pancreática e endometrial (2x
maior) e menor para colorretal, mama e bexiga (1,2-1,5x).
•Entre os mecanismos que poderiam explicar esta associação citam-se hiperinsulinemia,
hiperglicemia e inflamação aliados também à obesidade, envelhecimento e hábitos de vida.
•Alguns estudos sugerem que a metformina esteja associada a menor risco de câncer enquanto
a insulina, um risco maior. Talvez a glargina tenha um risco mais elevado que as demais, porém
essa informação ainda precisa ser confirmada.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 80

obesidade

Obra de Peter Paul Rubens, pintor flamen-


go do século XVII, valorizando contornos
associados ao armazenamento corporal de
gordura na obesidade.

DEFINIÇÃO: Estado de armazenamento ex- Diagnóstico:


cessivo de gordura corporal. - Quantitativo (Índice de Massa Corporal) e
FISIOPATOLOGIA: Consiste no desequilíbrio - Qualitativo (circunferência abdominal, índice
entre a quantidade de alimento ingerido e a cintura-quadril, TC).
quantidade de energia gasta. Nesta balança,
Tipos de obesidade:
existem importantes reguladores periféricos e
- Ginecoide e andrógena (de maior risco cardio-
centrais, entre os quais se destacam a leptina
vascular = obesidade abdominovisceral).
(“hormônio da saciedade”) e o neuropeptídeo
Y (ação orexígena).
TRATAMENTO:
ETIOLOGIA: Multifatorial, com a participação Não farmacológico: Dieta hipocalórica, ativida-
de fatores genéticos e ambientais. Apenas 1% de física, alteração comportamental.
dos quadros é secundário (principalmente en-
Farmacológico: orlistat, lorcaserina, topiramato
docrinopatias).
+ fentermina e sibutramina (retirada de comer-
cialização em vários países).
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS:
Cirúrgico:
Estão associadas às comorbidades apresenta-
das pelo paciente obeso. Envolvem alterações: - Restritiva
endócrinas; osteoarticulares; cardiovasculares;
- Predominantemente Disabsortivas
respiratórias; geniturinárias; neoplásicas; gas-
trointestinais; cutâneas; neuropsicológicas. - Predominantemente Restritivas

Definição e Epidemiologia Contudo, num período em que o excesso de


nutrientes não é contrabalanceado em virtude
A obesidade é entendida como um estado do sedentarismo, este acúmulo passa a se
de armazenamento excessivo de gordura perpetuar e tornar deletério.
corporal. Durante a evolução humana, em
que a disponibilidade de alimento era mui- Atualmente, a obesidade é encarada como
tas vezes escassa, tratava-se de um grande um problema mundial de Saúde Pública, sen-
mecanismo de sobrevivência durante os lon- do mais comum em pacientes de baixo nível
gos jejuns. Ao armazenar gordura no tecido socioeconômico. Estima-se que cerca de 1,7
adiposo na forma de triglicerídeos, o homem bilhão de pessoas no mundo sejam obesas
poderia quebrá-los, quando necessário, para e este problema vem aumentando bastante
utilizar o ácido graxo como fonte de energia. nos últimos anos, inclusive entre as crianças e

80
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 81

adolescentes. Recentemente, a pesquisa Vigi- tema nervoso central através da circulação


tel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção sistêmica ou do nervo vago. Lá, costumam agir
para Doenças Crônicas por Inquérito Telefô- em interação com os moduladores centrais.
nico) indicou que 50,8% dos brasileiros estão
acima do peso ideal e que, destes, 17,5% 4) Quem são os moduladores centrais?
são obesos. Uma boa notícia, no entanto, foi
a de que os resultados do estudo mostraram São peptídeos, monoaminas e derivados de
pela primeira vez a interrupção na média de lipídeos que regulam o centro do apetite e da
crescimento anual que vinha sendo registrada saciedade. Alguns dos principais exemplos são:
desde a primeira edição, realizada em 2006
– quando a proporção de pessoas acima do • Neuropeptídeo Y, sistema endocanabinoi-
peso era de 42,6% e de obesos era de 11,8%. de, proteína relacionada ao Agouti (AGRP),
hipocretinas e orexinas, noradrenalina e
galanina como orexígenos; e
Fisiopatologia
• Serotonina, neurotensina, urocortina, oci-
Pode parecer trivial, mas a lógica da obesida- tocina, interleucina1-beta, peptídeo CART
de é simples. Trata-se, a grosso modo, de um (Cocaine and amphetamine-regulated
desequilíbrio entre a quantidade de alimento transcript), TRH / CRH (hormônios libera-
ingerido e a quantidade de energia gasta. dores de tireotropina e corticotropina) e MSH
No entanto, quando entendemos que estes (hormônio estimulador de melanócitos) como
processos são regulados por diversos fatores anorexígenos.
neuroendócrinos e metabólicos, o tema passa
a ficar mais instigante. É por isso que o rimonabanto (descrito adian-
te), um inibidor do sistema canabinoide, pro-
Hoje se sabe que existem mecanismos regu- move redução da ingesta alimentar...
latórios bastante complexos e que ainda pre-
cisam ser mais compreendidos. Veja a seguir, Agora ficou um pouco mais fácil responder
a partir de perguntas bem direcionadas para esta questão tenebrosa:
a prova, os conceitos mais importantes:
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008
ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO CEARÁ
1) Que fatores influenciam no desenvolvi- – ESPCE
mento da obesidade? Sobre as leptinas, é correto afirmar que:
a) Inibe a melanocortina.
• Genéticos: polimorfismos (gene da leptina) e b) É antagonista da insulina.
algumas síndromes (ex.: Síndrome de Prader c) Estimula liberação de neuropeptídio Y.
Willi). d) Inibe liberação do hormônio corticotrófico.
e) Inibe liberação de orexinas.
• Ambientais: Maior oferta de alimentos calóri-
cos a baixo custo, sedentarismo, maior dispo- A leptina é um hormônio produzido no te-
nibilidade de produtos industrializados, etc. cido adiposo, também conhecido como “hor-
mônio da saciedade” por levar justamente à
sensação de saciedade e inibir o apetite. Mas
2) Quem regula a ingesta alimentar e o acú- como ela atua? Obviamente, será inibindo um
mulo de lipídeos? orexígeno ou estimulando um anorexígeno.
Sendo assim, ela bloqueia a liberação hipo-
São dois componentes principais: os hormô- talâmica do neuropeptídeo Y e, ao mesmo
nios periféricos e os moduladores centrais. tempo, estimula a secreção do alfa-MSH (um
Eles podem ser orexígenos (aumentam ape- promotor de saciedade), derivado do POMC
tite) ou anorexígenos (diminuem apetite). (pro-opiomelanocortina). Durante certo tem-
po, inclusive, acreditou-se que a obesidade
primária fosse causada essencialmente pela
3) Quem são os hormônios periféricos? deficiência ou resistência central à leptina, até
que esta teoria foi caindo, pois quase todos
São hormônios produzidos pelo intestino os obesos possuem níveis altos de leptina
(GLP-1, colecistoquinina), tecido adiposo e não há sinais bioquímicos de resistência
(leptina), estômago (grelina) e pâncreas central a este hormônio. Na verdade, a leptina
(amilina/insulina). Com exceção da grelina, é um marcador da obesidade: quanto mais
todos eles promovem a sensação de sacieda- obeso o paciente, maior é o nível plasmático
de e reduzem a ingesta alimentar. A mensagem de leptina.
é simples. Quando esses tecidos estão repletos
de nutrientes, eles tentam avisar ao cérebro, Mas prosseguindo, vejamos as opções:
especificamente no hipotálamo (centro do ape-
tite) e dizer: “vamos fechar a boca porque senão A e D – Melanocortina (MSH) e CRH são ano-
a coisa vai ficar feia aqui embaixo”! rexígenos e a leptina não inibe, mas sim esti-
mularia estes hormônios.
Os hormônios periféricos são liberados por
estímulo mecânico ou pela chegada de nu- B e C – Embora a hipoglicemia gerada pela
trientes no jejuno e no íleo e chegam ao sis- insulina tenha ação estimuladora sobre a in-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 82

gesta alimentar, o efeito central deste hormô- c) D, localizadas no corpo e antro gástricos, se-
nio é a inibição do neuropetídeo Y, atuando cretam gastrina que estimula a secreção ácida.
assim como anorexígena, a exemplo da lepti- d) G, localizadas no antro gástrico, secretam
na. Desse modo, as duas seriam agonistas e somatostatina que inibe a secreção ácida.
não antagonistas. Quanto ao neuropetídeo Y, e) Parietais, localizadas no corpo gástrico,
de ação orexígena, ele é inibido, e não esti- secretam fator intrínseco que facilita absorção
mulado pela leptina. de ferro.

Sobra apenas a opção E, pois a leptina inibe as Questão conceitual. A grelina é um hormô-
orexinas, um outro tipo de modelador central nio de ação orexígena, produzido por células
que, como o nome já sugere, é um orexígeno gástricas e que atua na modulação periférica
(abre apetite!). do apetite. Resposta: B.

E a adiponectina? Etiologia

Este é um hormônio também liberado pelo te- A obesidade tem origem multifatorial e pode ser
cido adiposo, mas cuja função não é interferir classificada em primária ou secundária. Nos
diretamente no centro do apetite hipotalâmico. quadros primários, já foi demonstrada clara-
A principal função da adiponectina é aumentar mente a predisposição familiar, relacionada a
a ação da insulina. Ou seja, na deficiência genes como o FTO e MC4R. Apesar da crença
da adiponectina, teremos um estado de re- equivocada de muitos, apenas 1% dos casos
sistência insulínica. Ah, então na síndrome de obesidade é secundário a outras doenças,
metabólica e algumas doenças cardiovas- entre as quais se incluem principalmente as
culares associadas eu posso ter redução da endocrinopatias. Observe a seguir as principais
adiponectina? Isso mesmo! Experimente fazer causas de obesidade secundária:
uma busca na internet com esses termos e
você irá se assustar com a quantidade de • Endocrinopatias (síndrome de Cushing, hi-
trabalhos publicados nessa área. potireoidismo, deficiência de GH, hipogona-
dismo).
Para tentar resumir esses fatores, veja o
quadro 1 a seguir. • Insulinoma.

Quadro 1: Sítio e função dos principais mo- • Síndrome do ovário policístico.


duladores do apetite.
• Síndromes genéticas (Prader-Willi, Alström,
Função Local Mediadores do
Bardet-Biedl, Cohen, Börjeson-Forssman-
Apetite
-Lehmann, Fröhlich).
Orexígenos Periférico Grelina
Central Neuropeptídeo Y • Drogas: haloperidol, anticonvulsivantes, an-
Sistema tidepressivo tricíclico, lítio, corticoides, glita-
Endocanabinoide zonas, sulfonilureias, insulina, antagonista
Proteína
adrenérgico.
relacionada ao
Agouti (AGRP)
Hipocretinas e • Transtornos alimentares (ex.: bulimia nervosa).
orexinas
Noradrenalina • Nutrição por sonda nasoentérica.
Galanina
Anorexíge- Periférico Leptina
nos GLP-1 Manifestações clínicas
Colecistoquinina
Amilina / insulina Os principais achados no paciente obeso se
Central Serotonina devem às comorbidades associadas. Com-
Neurotensina parando-os com indivíduos não obesos, eles
Urocortina apresentam um risco 50-100% maior de mor-
Ocitocina talidade por todas as causas. Vamos listar as
Interleucina1-beta principais condições relacionadas:
Peptídeo CART
MSH, CRH, TRH
 ENDÓCRINA: resistência insulínica e DM
tipo 2; puberdade precoce; dislipidemia;
ovários policísticos.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
UNIVERSIDADE FEDERAL DE  OSTEOARTICULAR: osteoartrite; discopa-
SÃO PAULO – UNIFESP tias; síndrome do túnel do carpo; hiperuri-
No estômago, as células: cemia e gota.
a) Principais do corpo gástrico secretam pep-
sinogênio-1 que se converte no tipo 2 na pre-  CARDIOVASCULAR: HAS; ICC; DAC;
sença de ácido. cor pulmonale; hipertensão pulmonar; car-
b) Endócrinas, localizadas no corpo gástrico, diomiopatia; fibrilação atrial; insuficiência
secretam grelina que tem ação orexígena. venosa e TVP.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 83

 RESPIRATÓRIAS: dispneia; apneia do tremidades, sendo diagnosticado síndrome de


sono; hipoventilação e asma. Pickwick. Os sinais e sintomas desta síndrome
estão relacionados à ocorrência de:
 GENITOURINÁRIAS: incontinência urinária a) Broncoespasmo.
de esforço, glomerulopatia, hipogonadismo b) Paralisia frênica.
em homens, complicações da gravidez, c) Doença difusa do parênquima pulmonar.
irregularidades menstruais. d) Compressão traqueal.
e) Hipoventilação alveolar.
 NEOPLÁSICAS: CA de mama; endométrio;
cérvice; ovário; próstata; esôfago; colorretal; Vamos aprender com a questão! A síndrome
pâncreas; fígado; vesícula e via biliar e rim. de hipoventilação por obesidade é conhecida
como síndrome de Pickwick, que pode ser de-
 GASTROINTESTINAL: DRGE; colelitíase finida quando um paciente obeso (IMC > 30)
(hipercolesterolemia); esteatose hepática; apresenta hipoventilação acordado (PaCO2 >
hérnias. 45 mmHg), não podendo ser atribuída a outros
distúrbios como doença pulmonar, restrição ós-
 CUTÂNEAS: infecções fúngicas; linfede- sea, fraqueza neuromuscular, hipotireoidismo
mas; abscessos; acantose nigricans. ou pleuropatia. A hipóxia crônica leva ao cor
pulmonale, de modo que boa parte dos pacien-
 NEUROLÓGICA: pseudotumor cerebri (hi- tes apresenta sinais de insuficiência ventricular
pertensão intracraniana idiopática); depres- direita (TJP, hepatomegalia, edema de mem-
são; demência; meralgia parestésica, AVE. bros inferiores), rubor facial (pela policitemia) e
episódios breves e frequentes de sono diurno.
 PSICOLÓGICAS e SOCIAIS: distúrbios Este último sintoma se deve à síndrome da hi-
alimentares, distorção corporal, isolamento popneia/apneia obstrutiva do sono (SHAOS),
social e estigmatização, baixa autoestima. que frequentemente coexiste com a síndrome
de Pickwick. Resposta: letra E.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009


HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
PEDRO ERNESTO – UERJ
Dentre as doenças abaixo, aquela que NÃO
está associada à obesidade mórbida é:
a) Nefrolitíase.
b) Câncer do cólon.
c) Asma brônquica.
d) Infecções fúngicas.

Como acabamos de ver, as opções B, C e D


Figura 1 se encaixam adequadamente. Por outro lado,
a litíase associada à obesidade é a biliar e não
a renal. Resposta A. Apenas para acrescen-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 tarmos sobre a importante relação do câncer
UNIVERSIDADE FEDERAL com a obesidade, nos EUA, estima-se que
DE PELOTAS – UFPEL 14% dos óbitos por neoplasias em homens e
São doenças e/ou condições associadas à 20% nas mulheres ocorram pela obesidade.
obesidade, EXCETO:
a) Diabetes mellitus tipo 2, hipoventilação alveo-
lar, esteato-hepatite não alcoólica. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2007
b) Apneia do sono, tireoidite de Hashimoto, UNIVERSIDADE FEDERAL
refluxo gastroesofágico (DRGE). DO PARANÁ – UFPR
c) Doença hemorroidária, fibrilação atrial, São doenças consideradas comorbidades da
asma brônquica. obesidade, EXCETO:
d) Anovulação, diabetes gestacional, doença a) Diabetes mellitus tipo 2, hipoventilação alveo-
hemorroidária. lar, esteato-hepatite não alcoólica.
e) Hipertrofia ventricular esquerda, hiperten- b) Hipertrofia ventricular esquerda, hipertensão
são arterial (HAS), gota. arterial, diabetes mellitus tipo 1.
c) Hipertrofia ventricular direita, esofagite de
Das opções listadas acima, a única que refluxo, gota.
podemos excluir é a opção B, já que tireoidite d) Anovulação, diabetes gestacional, doença
de Hashimoto, de base autoimune, teria asso- hemorroidária.
ciação com DM tipo 1 e não com obesidade, e) Apneia do sono, aumento do risco cirúrgico
que estaria mais associada ao DM tipo 2. e anestésico, hirsutismo.

Todas as comorbidades citadas nas alterna-


RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 tivas A, C, D e E se encaixam como associa-
HOSPITAL ANGELINA CARON – PR das à obesidade. Agora, DM tipo 1? Não! É o
Um indivíduo obeso chega ao ambulatório de DM tipo 2, relacionado à resistência insulínica,
pneumologia sonolento e com cianose de ex- que está. Resposta B.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 84

Figura 2

Diagnóstico Com os dados fornecidos chegamos a um


IMC de 35,9 kg/m2, o que caracteriza a obe-
De acordo com a OMS, a obesidade é defini- sidade grau II. Resposta: A.
da de forma quantitativa a partir do Índice de
Massa Corporal (IMC) ou índice de Quetelet,
sendo calculado dividindo-se o peso do pa- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2006
ciente (em kg), pela sua altura (em metros) ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA –
elevada ao quadrado (P/A2). Observe na Ta- UNIFESP
bela 1 a classificação da OMS para o IMC. Um paciente de 46 anos de idade, sexo mascu-
Cabe apenas ressaltar que, em idosos, situa- lino, branco, de origem mediterrânea, procurou
ção em que temos a redução da massa magra, um ambulatório de Clínica Médica com queixa
esses valores se alteram. de excesso de peso. Ao interrogatório negou
ter outros problemas, exceto o seu peso, ne-
Tabela 1: Classificação de peso pelo IMC. gando também qualquer antecedente mórbido
Classificação IMC (kg/m2) IMC (kg/m2) importante. Ao exame físico apresentava um
para idosos peso de 98 quilos e uma altura de 171 cm,
Baixo peso < 18,5 < 22 estando em bom estado geral, com pressão
Peso normal* 18,5 - 24,9 22 – 26,9 arterial de 150 x 100 mmHg, ausculta pulmo-
Sobrepeso 25 a 29,9 27 -31,9 nar e cardíaca normais, abdômen globoso,
Obeso I (leve) 30 a 34,9 >32* sem visceromegalias, circunferência abdomi-
Obeso II 35 a 39,9 – nal de 110 cm. Trazia consigo alguns exames
(moderado) realizados recentemente: glicemia de jejum de
Obeso III** ≥ 40 – 108 mg%, glicemia (2 horas pós 75 g de gli-
Superobeso ≥ 50 – cose via oral) de 136 mg%, ácido úrico de 9,4
Super-superobeso ≥ 60 – mg%, colesterol de 220 mg/dl e triglicerídios
* Estes valores podem variar de acordo com a idade de 230 mg/dl. No tocante ao estado nutricional
(> 65 anos) e etnia. do paciente e, de acordo com os critérios da
** Alguns autores se referem a esta categoria como OMS para o IMC (Índice de Massa Corpórea),
obesidade mórbida. No entanto, atualmente tem-se
pode-se dizer que:
dado preferência ao termo obesidade grave.
a) Se trata de um paciente com sobrepeso.
b) Se trata de um paciente com obesidade grau 1.
Só com esse simples conhecimento, você c) Se trata de um paciente obeso mórbido.
pode acertar algumas questões... d) Para aferirmos o grau de obesidade neces-
sitamos de bioimpedanciometria.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 e) Com base na sua circunferência abdominal,
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER – INCA pode-se afirmar que sua obesidade é grau 2.
Januário tem 58 anos, trabalha na construção
civil como ajudante de obra e há 2 meses, após Para acertar a questão é fundamental calcular
esforço físico importante, notou aparecimento o IMC deste paciente. Muito fácil: IMC = P/A2,
de abaulamento doloroso em região inguinal sendo P = peso em kg e A = altura em metros.
direita que diminuía de tamanho com repouso. Portanto, temos IMC = 98/(1,71)2 = 98/2,92 =
Nega queixas urinárias associadas e informa 33,5 kg/m2. Ora, se o IMC > 30 kg/m2, o paciente
ser fumante de 1 maço de cigarro/dia há 15 é obeso!! Qual o grau de obesidade? Passe o
anos. Ao exame clínico a altura é 165 cm e o olho nas páginas anteriores e verá que se en-
peso é 98 kg. Na avaliação de Januário o IMC caixa numa obesidade Grau I. Resposta B.
calculado pelo cirurgião revela:
a) Obesidade grau II.
b) Obesidade grau I. A obesidade também pode ser definida a partir
c) Sobrepeso. do aspecto qualitativo. Sabemos que o exce-
d) Peso ideal. dente do consumo sobre o gasto energético
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 85

é armazenado no tecido adiposo sob a forma • Redutores da absorção de gordura (inibição


de triglicerídeos. Esses adipócitos podem acu- da lipase pancreática): orlistat.
mular lipídios por aumento do seu tamanho
(hipertrofia) ou hiperplasia (aumento do núme- • Agonista serotoninérgico: lorcaserina.
ro de células). Indivíduos que engordam pela
hipertrofia dos adipócitos são aqueles com • Anorexígenos catecolaminérgicos: anfepra-
obesidade central (ou visceral – ver adiante) e mona (dietilpropiona), femproporex, mazin-
apresentam mais complicações metabólicas. dol, fentermina.

Resumindo, a obesidade pode ser do tipo • Sacietógenos adrenérgicos e serotoninérgi-


ginecoide (predomínio de gordura na região cos: sibutramina.
gluteofemoral) ou androgênica (gordura abdo-
minovisceral). A obesidade dita androgênica é
a que está relacionada com o aumento do risco Dentre elas, a que se tem maior conhecimen-
cardiovascular, sendo clinicamente definida to sobre o perfil de segurança e que é consi-
pela relação cintura/quadril (RCQ), quando derada a de primeira escolha por boa parte das
superior a 1,0 no homem e a 0,8 na mulher, ou diretrizes é o orlistat (Xenical®), VO, 120 mg
pela circunferência abdominal (CA) > 102 cm 3x/dia. Como atua inibindo a lipase pancreáti-
no homem e > 88 cm na mulher. Na verdade, ca, levando ao aumento na excreção de gor-
todas essas medidas nada mais são do que dura nas fezes, muitos são aconselhados a
aferições indiretas da gordura visceral, que utilizar multivitamínicos em associação. Re-
parece ser o principal componente aterogênico centemente, o FDA aprovou uma nova droga
da obesidade. Nesse caso, a tomografia com- que serviria como alternativa: a lorcaserina
putadorizada é o exame que melhor diferencia (Belviq®). Ela age especificamente nos recep-
o tipo de obesidade (visceral x subcutânea). tores de serotonina e, por isso, não deve ser
O valor total de gordura visceral normal para utilizada em conjunto com outras que aumen-
homens e mulheres, medida no nível das vér- tem os níveis deste transmissor ou ativem seus
tebras L4-L5, situa-se abaixo de 130 cm2. receptores (ex.: antidepressivos ou antienxa-
quecosos), pelo risco de síndrome serotoninér-
gica. Outra combinação aprovada pelo mesmo
Tratamento órgão foi a topiramato + fentermina (Qnexa®).
A vantagem é que a fentermina diminui a pa-
restesia e deficit cognitivo ocasionados pelo
1- Tratamento Clínico topiramato e a perda de peso é maior do que
quando usadas isoladamente. No entanto, está
contraindicada em pacientes com hipertensão
A) Não farmacológico arterial ou doença coronariana.

Consiste na tríade aplicável a todas as va- A sibutramina vem sendo cada vez mais ques-
riáveis associadas à doença cardiovascular e tionada por conta de seus efeitos cardiovascu-
amplamente discutidas ao longo desta apostila: lares deletérios, tendo a sua comercialização
dieta, exercício e modificação comportamental. já proibida em alguns países. Os anorexígenos
No caso da obesidade, esses fatores são ainda catecolaminérgicos também são normalmen-
mais importantes, já que o tratamento farma- te desencorajados pelos seus efeitos adver-
cológico não é tão eficaz (como no diabetes ou sos (irritabilidade, insônia, ansiedade, euforia,
na hipertensão) e a cirurgia está associada a boca seca, turvação visual, arritmias, hiperten-
alguns efeitos adversos (ver adiante). Um ob- são arterial e pulmonar, constipação). Nos dia-
jetivo realista seria a meta de perda ponderal béticos, outras opções seriam a metformina e
de 10% dentro de seis meses. os agonistas de GLP-1.

B) Farmacológico RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 –


R3 CLÍNICA MÉDICA
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
Indicações: PRESIDENTE DUTRA – MA
Uma nova droga, aprovada em 2012 pelo FDA,
O tratamento farmacológico está indicado a para tratamento de obesidade, é um agonista
pacientes com IMC ≥ 30 kg/m2 ou IMC ≥ 27 seletivo do receptor 2C da serotonina:
kg/m2 acompanhado de comorbidades e a) Fenfluramina.
que não tiveram sucesso como tratamento b) Dexfenfluramina.
conservador prévio. Um pouco diferentes das c) Sibutramina.
demais referências, segundo a diretriz da d) Lorcaserina.
ABESO, o IMC limite seria de 25 e não 27. e) Zonisemida.

Só para vocês perceberem que a droga já


Drogas disponíveis: começou a ser cobrada nas provas. Inicialmen-
te, em uma prova de R3, mas que poderia ser
São quatro as classes de drogas principais: também do acesso direto. Resposta: letra D.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 86

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008


SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE – RJ
Embora benefícios de caráter estético sejam o objetivo maior para muitos dos que buscam
emagrecer, o tratamento da obesidade é ainda mais importante para que se consiga adequa-
do controle metabólico e se reduzam os riscos de doença futura. Para tanto, várias novas
drogas têm mostrado resultados promissores, inclusive o rimonabanto, cujo mecanismo de
ação se vincula a:
a) Desacoplamento da proteína mitocondrial UCP-2.
b) Bloqueio seletivo do receptor canabinoide CB1.
c) Inibição direta da lipase gastrointestinal alfa.
d) Antagonismo do neuropeptídeo Y.

Figura 3

Vamos aprender mais um conceito com são, estando contraindicado em portadores


esta questão! Você já ouviu falar nessa dro- de doenças psiquiátricas.
ga: rimonabanto?
Agora vejam como a origem da droga é
Apesar de não constar nos livros-texto, essa curiosa... Era conhecido o fato de que usuá-
foi uma medicação bastante “badalada”, inclu- rios de maconha relatam uma vontade in-
sive na mídia comum, veiculada como a gran- controlável de se alimentar (principalmente
de droga para a síndrome metabólica. O rimo- de doces), conhecida como larica. Na ten-
nabanto (Acomplia®) atua inibindo o receptor tativa de entender este fenômeno, pesqui-
canabinoide CB1 encontrado no cérebro e sadores da Universidade Saint Louis, nos
órgãos periféricos e relacionado ao balanço Estados Unidos, descobriram que o THC
metabólico. No tecido adiposo, por exemplo, (delta-9-tetraidro­canabinol), o princípio ativo
o sistema endocanabinoide seria responsável da maconha, atua em receptores do centro
pelo acúmulo de lipídios e aumento da circun- do apetite, gerando a sensação de fome ca-
ferência abdominal. racterística. Mais tarde, descobriu-se inclu-
sive que o próprio organismo produz molé-
O mais interessante é que, além da perda culas semelhantes ao THC que foram deno-
ponderal, outros parâmetros também se al- minadas de endocanabinoides. A partir daí,
teram, como a melhora do perfil lipídico, re- não foi muito difícil entender que um inibidor
dução dos níveis glicêmicos e aumento da desse sistema atuaria na saciedade e con-
sensibilidade à insulina, embora em níveis trole do peso corporal.
quantitativamente menores em comparação
com tratamentos específicos para cada um No entanto, a Medicina, como sempre, tem
desses parâmetros. Outra vantagem seria suas surpresas! O rimonabanto, droga tão
sua utilização no tratamento da dependência promissora na ocasião, foi retirada do merca-
de nicotina. O grande efeito adverso dessa do em 2008 por conta de distúrbios psiquiátri-
droga são as alterações de humor e depres- cos associados e o risco de suicídio.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 87

2 - Tratamento Cirúrgico e doença hemorroidária, hipertensão in-


tracraniana idiopática (pseudotumor ce-
rebri), estigmatização social e depressão.
Imagine um paciente lhe fazendo esta per-
gunta: doutor, quanto de peso espera-se
perder sem o tratamento cirúrgico? Além disso, o paciente deve preencher os se-
guintes critérios:
A sua resposta deveria ser que, de forma
sustentável, é normalmente esperada uma • Falha na terapia dietética (tratamento clíni-
perda de apenas 10%. Os famosos (e mui- co prévio insatisfatório de, pelo menos, dois
tas vezes deletérios) programas de TV só anos);
mostram a perda ponderal inicial e dificil-
mente fazem acompanhamentos de longo • Estabilidade psiquiátrica (ausência de qua-
prazo para os convidados “ex-obesos”!!! É dros psicóticos ou demenciais graves a mo-
claro que, embora essa perda já seja sufi- derados) e ausência de dependência quími-
ciente para reduzir o risco de complicações ca (álcool e drogas ilícitas);
associadas à obesidade, ela ainda pode ser
insuficiente num obeso mórbido (obesidade • Conhecimento da cirurgia e de suas seque-
grave)! Ou seja, a terapia clínica para estes las por parte do paciente e familiares;
casos tem sucesso limitado no curto prazo e
quase inexistente a longo prazo. Para se ter • Motivação individual;
uma ideia, a chance de que venha a perder
peso suficiente para atingir um IMC < 35 kg/ • Ausência de problemas clínicos que se opo-
m2 é menor que 3%. Nesses casos, o méto- nham à sobrevida da cirurgia (pacientes aci-
do mais significativo para perda de peso são ma de 65 anos poderão realizar a cirurgia de
as cirurgias bariátricas! O melhor estudo até acordo com avaliação criteriosa do risco-be-
o momento que comprova tais benefícios é nefício, risco cirúrgico, presença de comor-
o The Swedish Obesity Study (SOS), que bidades, expectativa de vida e benefícios do
acompanhou pacientes submetidos à cirur- emagrecimento);
gia bariátrica e mostrou redução da morbi-
mortalidade a longo prazo. • Idade acima de 18 anos (adolescentes com
16 anos completos e menores de 18 anos
No entanto, apesar dos bons resultados ob- poderão ser operados, necessitando da con-
tidos, são muito menos seguras que as mu- cordância dos pais ou responsáveis legais,
danças no estilo de vida – não podemos nos da presença de pediatra na equipe multipro-
esquecer das complicações operatórias asso- fissional, da consolidação das cartilagens das
ciadas caso o paciente não siga estritamente epífises de crescimento dos punhos e outras
o plano terapêutico. Com esses conceitos em precauções especiais, com o risco-benefício
mente, vamos rever a partir de agora os prin- devendo ser muito bem analisado. Em meno-
cipais aspectos dessa modalidade terapêuti- res de 16 anos é considerada experimental).
ca que cresce cada vez mais, inclusive nas
questões de Residência. Quanto à equipe, é fundamental que seja ca-
pacitada para cuidar do paciente nos períodos
pré e transoperatórios e fazer o seguimento do
Indicações mesmo. Deve ser composta por: cirurgião com
formação específica, endocrinologista, psiquia-
De acordo com os principais consensos so- tra, nutrólogo, nutricionista, psicólogo. Se ne-
bre obesidade, incluindo os manuais mais re- cessário, para melhor tratamento dos pacien-
centes para prova, são duas as verdadeiras tes, outros especialistas, como cardiologistas e
indicações de cirurgia: pneumologistas, podem ser acionados.

1) Obeso mórbido (IMC ≥ 40 kg/m2). Veja o quadro-resumo e observe a seguir que


com esses simples conceitos já podemos
2) Obeso com IMC ≥ 35 kg/m² e comorbi- acertar várias questões:
dades agravadas ou causadas pela obe-
sidade, e que melhoram quando a mes- Categoria IMC
ma é tratada de forma eficaz, como: DM 25- 30-
2, apneia do sono, HAS, dislipidemia, Terapia 27-29,9 35-39,9 ≥ 40
-26,9 -35
doença coronária, infarto de miorcárdio Com
Farma-
(IM), angina, ICC, AVC, fibrilação atrial, Não comorbi- Sim
cológica
cardiomiopatia dilatada, cor pulmonale e dades
síndrome de hipoventilação, asma grave Com
Cirurgia Não Não Não comorbi- Sim
não controlada, hérnias discais, osteoar-
dades
trite, refluxo gastroesofágico com indica-
ção cirúrgica, colecistopatia calculosa,
pancreatites agudas de repetição, estea-
tose hepática, incontinência urinária de Contraindicações
esforço na mulher, infertilidade masculi-
na e feminina, disfunção erétil, síndrome Essas estão menos claras que as indicações.
dos ovários policísticos, veias varicosas Como a presença de comorbidade é uma in-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 88

dicação, a cirurgia deve ser contraindicada ou, segundo recomendações mais atuais do
apenas quando a comorbidade estiver tão SUS, 16 anos (D correta).
avançada que os benefícios do procedimen-
to não serão aproveitados pelo paciente (ex.:
insuficiência cardíaca grave). Aqueles que RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
em virtude do peso excessivo não possibili- ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – PR
tem a investigação complementar por méto- Qual das afirmativas é a errada?
dos de imagem ou mesmo a monitorização a) A indicação de cirurgia bariátrica é feita ba-
perioperatória também devem ser excluídos seada em I.M.C. acima de 40 kg/m2.
(nesse caso, sugere-se uma perda mínima b) Pode-se operar pacientes com I.M.C. en-
de peso antes do procedimento). O critério tre 35 e 40 kg/m2 desde que tenham comorbi-
idade normalmente relaciona pacientes de 18 dades tais como diabetes tipo 2, dislipidemia,
a 65 anos, no entanto, essa decisão pode ser hipertensão arterial, etc.
individualizada. Segundo recomendações re- c) Não se deve operar pacientes alcoolistas
centes do Ministério da Saúde, a idade para em pleno uso da bebida.
realização de cirurgia bariátrica passou a ser d) Transtornos psiquiátricos desde que con-
de 16 anos. Um comentário apenas! Apesar trolados clinicamente não contraindicam o
de colocada como uma contraindicação ab- tratamento cirúrgico da obesidade mórbida.
soluta nos livros de Cirurgia, pacientes com a e) Pacientes com I.M.C. abaixo de 30 kg/m2
síndrome de Prader-Willy poderiam ser sub- e portadores de Diabetes Mellitus tipo 2 são
metidos à cirurgia segundo algumas referên- excelentes candidatos a tratamento cirúrgico
cias pediátricas, revisões mais atuais sobre pelo bypass gástrico.
o tema e até mesmo o livro de clínica cirúr-
gica da USP. Por isso, MUITA ATENÇÃO no Como acabamos de ver, todos os itens
momento da prova! Trata-se de uma doença apresentados são verdadeiros com exceção
genética descrita na década de 50, com uma do item E, já que para haver indicação cirúr-
incidência de 1:15.000 nascidos vivos. O gica dois critérios básicos devem ser respei-
quadro clínico é caracterizado por deficiência tados: (1) IMC ≥ 40 kg/m2 ou (2) IMC ≥ 35
mental, hipotonia muscular, excesso de ape- kg/m² na presença de comorbidades clínicas
tite, obesidade progressiva, baixa estatura e importantes.
hipogonadismo. Após o quarto ano de vida,
inicia-se o quadro de hiperfagia e compulsão
alimentar, com isso, a obesidade e suas com- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
plicações como intolerância à glicose, doen- HOSPITAL MUNICIPAL DE SÃO
ças vasculares e respiratórias, reduzindo a JOSÉ DOS CAMPOS – HSJC
expectativa de vida. Sendo assim, o aspecto A cirurgia da Obesidade está indicada nos
mais importante do tratamento é o controle doentes com:
no ganho de peso com dietas hipocalóricas e a) Índice de massa corpórea (IMC) acima de 30.
medicamentos anoréticos. b) Uso de álcool ou drogas como forma de
emagrecimento.
c) Comorbidades como artropatia de joelhos,
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 diabetes e apneia do sono com IMC (Índice
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO de Massa Corpórea) acima de 35.
RIO GRANDE DO SUL – RS d) Peso acima de 110 kg.
São indicações de realização de Cirurgia Ba- e) Distúrbios psiquiátricos como depressão.
riátrica, EXCETO:
a) Índice de massa corporal superior a 40. Essa é a questão que mais se repete nas
b) Falha de um tratamento prévio para obe- provas sobre o tema... Indicação de cirurgia
sidade com reeducação alimentar e medica- na obesidade. Como acabamos de ver, a
mentos em paciente com índice de massa presença de IMC ≥ 35 kg/m² associada à co-
corporal de 37. morbidades clínicas importantes seria uma
c) Índice de massa corporal de 36 e hiperten- delas. Resposta: C.
são arterial sistêmica.
d) Paciente de 18 anos portador de obesida-
de grau III. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009
e) Paciente com índice de massa corporal de HOSPITAL DE URGÊNCIA
43, portador de artrose de joelho. DE GOIÂNIA – HUGO
Com relação aos critérios abaixo, qual é con-
Baseado nos critérios acima, podemos di- traindicação para cirurgia bariátrica:
zer que: IMC > 40 consiste em uma indicação a) Índice de Massa Corporal igual ou maior
clássica (A e E corretas); o paciente com IMC que 40 kg/m2.
entre 35 e 40 deve possuir comorbidades clí- b) Obesidade mórbida associada à diabetes
nicas o que não é informado na assertiva (B mellitus de difícil manejo.
INCORRETA); IMC entre 35 e 40 + comorbi- c) Obesidade de causa endócrina.
dade clínica é uma indicação – a hipertensão d) Índice de massa corporal maior ou igual
é resolvida em 65% dos casos (C correta); a 35 kg/m2 com comorbidades associadas à
paciente com 18 anos e obesidade grau III, obesidade.
ou seja, IMC > 40 apresenta indicação - a
cirurgia tradicionalmente não é recomenda- As opções A, B e D nada mais são do que
da para pacientes com menos de 18 anos clássicas indicações de cirurgia bariátrica. No
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 89

entanto, a obesidade de causa endócrina (ex.:  DISABSORTIVO: Reduzindo a absorção de


hipotireoidismo) deve receber tratamento es- alimentos, através da retirada de um seg-
pecífico para a disfunção glandular a que está mento absortivo do trato alimentar.
associada. Resposta: C.
Existe ainda a cirurgia MISTA, que nada mais
é do que uma mescla entre esses dois me-
SAIBA mAIS canismos. Como veremos adiante, represen-
ta a maior parte das técnicas, sendo que al-
Desde 2011 a International Diabetes Founda-
gumas são predominantemente restritivas e
tion (IDF) incluiu como indicação de cirurgia
outras disabsortivas.
a presença de IMC entre 30 e 35 (obesidade
grau I) desde que a doença diabética não
Vamos falar resumidamente dessas modali-
esteja controlada com fármacos e mudança
no estilo de vida. Essa recomendação foi dades cirúrgicas:
compatível com a orientação do FDA – tam-
bém no mesmo ano – de autorizar o uso da
banda gástrica ajustável para pacientes com Cirurgias Predominantemente
IMC ≥ 30 com, pelo menos, uma comorbidade Disabsortivas
relacionada à obesidade. Em todo caso, este
é apenas um alerta. Para as provas ainda Derivação biliopancreática (Scopinaro)
permanecem as indicações clássicas que (figura 4)
colocamos anteriormente.
Descrição: após a realização de uma gastrec-
tomia distal, o estômago proximal é anastomo-
Classificação sado aos últimos 250 cm do intestino delga-
do. O coto duodenal e o restante de delgado
 TÉCNICA que foram retirados durante a gastrectomia
drenarão a secreção biliopancreática para
Quanto à técnica, as cirurgias podem ser aber- uma anastomose feita nos últimos 50 cm do
tas ou laparoscópicas. A princípio, qualquer íleo terminal, denominada de “canal comum”.
uma pode ser realizada por via laparoscópica, Percebeu o tamanho da alteração?! Como a
sendo esta técnica associada a menor incidên- secreção biliopancreática é necessária para a
cia de eventos trombóticos e complicações absorção de proteína e gordura, a absorção
respiratórias e da ferida cirúrgica, menor ocor- destes nutrientes apenas será feita nos últimos
rência de hérnia incisional e menor tempo de 50 cm!!! E por que não podemos dizer que ela
internação. O Sabiston é bem claro ao dizer seja predominantemente restritiva? Compare
que se trata da técnica ideal!!! a capacidade do coto gástrico (150-250 ml)
com as bolsas formadas pela banda gástrica
ajustável (30 ml) que acabamos de ver pelo
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 by-pass gástrico descrito a seguir (20 ml) e
ASSOCIAÇÃO MÉDICA depois responda...
PARANAENSE – AMP
Todas as alternativas abaixo estão relaciona-
Figura 4
das à abordagem laparoscópica
do tratamento cirúrgico da obesidade, EXCETO:
a) Menor dor no período pós-operatório.
b) Menores complicações relacionadas à pa-
rede abdominal.
c) Maior perda de peso.
d) Menor resposta metabólica.
e) Recuperação mais rápida.

A opção pela cirurgia bariátrica via laparos-


cópica tem crescido por conta de seus muitos
benefícios pós-operatórios, como menor in-
cidência de hérnias incisionais, recuperação
mais rápida, etc., No entanto, nenhuma delas
envolve maior perda ponderal, visto que o
procedimento não é alterado, mas apenas a
via de realizá-lo. Resposta: C.

 MECANISMO DE AÇÃO
OBS. 1: Perceba que, na verdade, pratica-
O tratamento cirúrgico pode atuar de duas mente nenhuma cirurgia é puramente restritiva
formas principais: ou disabsortiva. Neste caso, ao criar uma bol-
sa gástrica de capacidade reduzida, estamos
 RESTRITIVO: Reduzindo a ingestão oral realizando também uma modalidade restritiva,
por mudanças físicas (bolsa de pequeno porém de intensidade muito menor... O próprio
volume) e sobre o eixo SNC-tubo digestivo CFM, em uma de suas resoluções, classifica
(saciedade precoce e redução do apetite). este tipo de procedimento como misto.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 90

OBS. 2: A cirurgia de Domene é semelhante à Cirurgias Predominantemente


cirurgia de Scopinaro – porém menos agressi- Restritivas
va por não realizar gastrectomia – associada
à cirurgia de Fobi-Capella (ver a seguir), que Desvio (By-pass) gástrico em Y de Roux
isola parte do estômago, todo o duodeno e
grande parte do jejuno e íleo. (Fobi-Capella ou Wittgrove – figura 6)

Descrição: nesta técnica é realizada secção


Switch Duodenal (figura 5) do estômago proximal que é utilizado para
formar uma pequena bolsa com a cárdia (capa-
Trata-se de uma modificação à técnica de de- cidade de 10-20 ml). No outro extremo, faz-se
rivação biliopancreática, em que o grande di- uma ressecção 30-40 cm distante do ligamento
ferencial é o tipo de gastrectomia realizada. de Treitz, pegando uma parte do jejuno pro-
Em vez de uma gastrectomia distal como na ximal. Em seguida, a bolsa é anastomosada
técnica de Scopinaro, aqui temos a realização com o restante do jejuno e trato alimentar
de uma gastrectomia “em luva” ou “em man- (desvio gastrojejunal). O restante do estôma-
ga” (Sleeve gástrico) da grande curvatura do go, duodeno e jejuno proximal ficam excluídos
estômago, com preservação do piloro. Dessa do trânsito para formar o Y de Roux. O tama-
forma, ficam excluídas as células parietais e nho do braço do Y de Roux depende do grau
principais (produtoras de HCl e pepsinogênio) de obesidade, 80-120 cm para IMC em torno
que estão presentes no fundo e no corpo gás- de 40 kg/m2 e 150 cm para IMC de 50 kg/m2.
trico. Tal procedimento foi desenvolvido para Quando a cirurgia é realizada pela via aberta
reduzir a incidência de úlceras anastomóticas e com a colocação de um anel no neoestôma-
que aconteciam com a derivação biliopancreá- go, chama-se Fobi-Capella e quando, por via
tica. Em seguida, o duodeno é seccionado 2 laparoscópica, ao invés do anel é realizada
cm além do piloro e a anastomose distal é feita uma sutura, chama-se cirurgia de Wittgrove
a 100 cm da válvula ileocecal (ficando o canal (procedimento de escolha na atualidade).
comum, portanto, com 100 cm). A apendicec-
tomia também faz parte do procedimento. Per- Resultado:
ceba que este procedimento pode ser dividido
em dois tempos, o que é de importância princi- Perda ponderal de 41,5 a 43,5 kg. Melhora
palmente para pacientes de alto risco cirúrgico. de 93,2% dos casos de diabetes e 87,2% de
Caso haja algum tipo de instabilidade durante a hipertensão!!!
cirurgia, o procedimento pode ser interrompido
apenas com a gastrectomia. Além disso, com a
perda de peso resultante desta primeira etapa, Obs: Você conseguiu entender mais uma vez
o paciente pode então completar a cirurgia pos- por que temos uma cirurgia mista? É simples!
teriormente com mais segurança. Com a formação de uma bolsa com a cárdia e
o estômago proximal ela cria restrição e sen-
Resultado: Perda ponderal de 46,4 a 53,1 sação de saciedade. Com a exclusão gastro-
kg. É a cirurgia com maiores médias de per- duodenal, ela reduz a absorção de alimentos!
da ponderal! O que não a torna, no entanto,
a cirurgia ideal, graças aos seus efeitos ad-
versos disabsortivos. Também mostra ótimos Complicações:
resultados no controle do diabetes e de outras
comorbidades. Gerais e Específicas: Mortalidade 0,3-1,0%.
As principais complicações incluem hérnias
Complicações: Gerais e Específicas: Mortali- incisionais e internas, hematoma/seroma,
dade: 0,9-1,1%. As complicações mais comuns infecção da ferida operatória, deiscência de
são relacionadas à ferida cirúrgica e deiscência anastomose (principalmente da gastrojeju-
de anastomose. A mais importante é a des- nostomia). Podem ocorrer ainda síndrome
nutrição que ocorre em 11,9% dos pacientes de Dumping e obstrução intestinal. Deficiên-
nos primeiros meses após a cirurgia, levando cia de ferro e vitamina B12 são os distúrbios
à internação hospitalar e à administração de metabólicos mais comuns. A encefalopatia de
nutrição parenteral por duas a três semanas. Wernicke também é uma complicação espera-
Nesses casos, torna-se necessária a reversão da, quando deve ser tratada com a reposição
da cirurgia ou aumentar o canal comum. de Tiamina (vitamina B1).
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 91

Figura 5

também esteve associado a complicações


inerentes ao extravasamento de seu conteúdo,
fato esse que foi contornado pela substituição
do mesmo por soro fisiológico, azul de meti-
leno ou ar. O FDA ainda criou critérios de se-
gurança para produção dos balões como a
presença de capacidade variável, superfície
lisa, material resistente à prova de vazamentos
e presença de um marcador radiopaco. Mes-
mo com toda a nova política de segurança na
produção e instalação dos balões, eles ainda
teriam indicações restritas de uso, como pa-
cientes que possuem um risco cirúrgico ina-
ceitável para realização de um procedimento
bariátrico ou no preparo pré-operatório de
pacientes obesos com elevado risco.

Figura 6

Cirurgias restritivas
Figura 7A

Balão Intragástrico
Banda gástrica ajustável
Não se trata propriamente de uma cirurgia,
mas de um método endoscópico. O conceito Descrição: Um anel ou banda (figura
é simples: uma prótese balonada é insuflada 7B/7C) de silicone é colocado por via lapa-
dentro do estômago para provocar saciedade roscópica de forma a envolver o estômago em
precoce, agindo como um método restritivo sua porção proximal, 1 cm abaixo da junção
(figura 7A). Embora pareça pouco invasivo, esofagogástrica. Com isso, é criada acima
o balão intragástrico é re­la­cionado a compli- do anel uma bolsa gástrica com capacidade
cações graves como ulcerações, hemorragias de apenas 30 ml a 50 ml. Este anel tem um
e migração inapropriada. Inicialmente, o balão reservatório inflável que pode ser ajustado
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 92

mediante a colocação ou retirada de solução cabeça, passava a se alimentar de milk-shakes


salina num dispositivo (porta ou reservatório) e outras “bombas” pastosas...
colocado sob a parede abdominal. Inicialmen-
te, a banda é colocada sem adição de salina
que passa a ser adicionada gradativamente Gastrectomia em manga (Sleeve
(de 1 em 1 ml) com objetivo de perda ponderal Gastrectomy) laparoscópica
de 2 kg/semana.
Descrição: é o mesmo procedimento da pri-
meira etapa do “switch duodenal” que acaba-
mos de ler, com uma bolsa gástrica menor e
extensão mais ampla ao antro (FIGURA 8).
Inclusive, foi a partir desta técnica que ela foi
desenvolvida: alguns pacientes submetidos à
primeira etapa do switch apresentavam perda
ponderal tão boa que não precisavam comple-
tar o procedimento! Como vantagem, temos a
simplicidade do método, a preservação do pilo-
ro (evitando a síndrome de Dumping), redução
dos níveis de grelina, prescindir de ajustes pos-
teriores (como requer a gastroplastia ajustável),
menor incidência de hérnias e disabsorção e
a possibilidade de realizar um procedimento
complementar posteriormente, como o “switch
Figura 7B duodenal” ou o “by-pass gástrico”. É também
referida como gastrectomia “em luva”, uma vez
que a gastrectomia vertical acaba por deixar o
Figura 7C
estômago com aspecto de cilindro ou luva.

Resultado: Perda ponderal de 34,8 a 39,7 kg. Resultados: tem perda de peso esperada de
A maior parte é obtida dentro dos primeiros 60% dentro de dois anos.
três anos após o procedimento.
Complicações:
Complicações:
A complicação mais temida é a fístula, que
Gerais: Inerentes a qualquer cirurgia intra-ab- geralmente ocorre no terço superior do es-
dominal (ex.: tromboembolismo pulmonar). tômago, junto à linha de grampo. No Sleeve,
elas tendem a ser mais complexas e de pior
Específicas: Mortalidade 0,02-0,1%. Distúr- manejo quando comparadas àquelas decor-
bios metabólicos são raros porque a técnica rentes do By-pass.
não é disabsortiva. A principal complicação é
o deslocamento do anel da posição original,
Figura 8
levando à estenose funcional, dilatação eso-
fagiana e desenvolvimento súbito de refluxo
gástrico, saciedade e intolerância aos alimen-
tos. Pode ser detectada pela posição do anel
na radiografia de tórax. Outras complicações
importantes incluem erosões e problemas na
porta de acesso do anel (reservatório).

Anteriormente, a técnica restritiva utilizada era a


gastroplastia com bandagem vertical (Mason).
No entanto, a técnica foi abandonada pela pe-
quena perda de peso a longo prazo, alta taxa
de estenose gástrica (a banda não era ajustável
mas suturada!) e tendência à utilização de dieta O Sabiston em sua última edição traz um
líquida de alto valor calórico. É isto mesmo! O quadro muito interessante sobre situações
obeso, que tinha tratado o estômago, mas não a em que esta técnica seria vantajosa.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 93

Situação Técnicas Vantagem da gastrectomia


contraindicadas em manga
Anemia ferropriva BGYR, DBP Preservação do duodeno
Doença de Crohn BGYR, DBP, SD e BGA se em Preservação do delgado
Deficiência vitamínica uso de corticoides
Pacientes transplantados com BGYR, DBP, SD (relativa) e Absorção mais estável da me-
terapia imunossupressora BGA se em uso de corticoides dicação
Insuficiência cardíaca BGYR, DBP, SD (relativa) Absorção mais estável da me-
dicação
Artrite grave em uso de AINE BGYR, DBP (risco de úlcera) Preservação do estômago per-
mite uso contínuo dos AINEs
Pacientes que possam perder BGYR, DBP, SD e BGA Menor risco de disabsorção e
seguimento prescinde de ajustes como na
BGA
Doença autoimune BGA É uma boa opção
BGA: Banda Gástrica Ajustável; BGYR: By-pass Gástrico com Y de Roux;
DBP: Derivação Biliopancreática; GGL: Gastrectomia “em manga” Laparoscópica;
SD: Switch Duodenal.

Quadro 3: Resumo das modalidades de cirurgia bariátrica.

Técnica Comentários
Restritiva
Banda gástrica ajustável Perda de peso moderada. Baixa taxa de complicações
Vem ganhando grande aceitação nos últimos anos.
Gastrectomia em manga Ótima opção quando outros procedimentos estão con-
traindicados.
Predominantemente Disabsortiva, Discretamente Restritiva
Maior perda ponderal e maior taxa de desnutrição pro-
Derivação biliopancreática (Scopinaro)
teica. O “Switch” duodenal reduz a incidência de úlceras
Switch Duodenal
da anastomose.
Predominantemente Restritiva, Discretamente Disabsortiva
É ainda a cirurgia mais realizada em diversas unida-
By-pass Gástrico com Y de Roux
des, devido à experiência acumulada e menor grau de
(Capella e Wittgrove)
disabsorção.
*Procedimentos cirúrgicos que não estão descritos neste quadro são ainda considerados experimentais
pelo CFM.

Saiba Mais! Embora o tratamento da obesidade


grave tenha como um dos pilares a
Componente Funcional das cirurgia (e sempre seja este o refor-
Cirurgias Bariátricas (cirurgias ço nas provas!!!), não podemos nos
hormonioincretínicas) esquecer de outros aspectos na
avaliação pré, per e pós-operatória.
Cirurgias como a gastrectomia em manga Afinal, o sucesso da cirurgia depen-
não devem ser consideradas meramente de de uma equipe multidisciplinar
restritivas ou mecânicas. Na verdade, com a – o paciente só estará apto para o
gastrectomia vertical e a exclusão do fundo procedimento, após ter sido ava-
gástrico, temos a redução dos níveis de gre- liado e liberado por nutricionista,
lina (orexígeno endógeno) e uma importante psiquiatra/psicólogo, enfermeiros
redução da ingestão alimentar. O mesmo se de apoio, além de uma avaliação
pode dizer para procedimentos que agregam minuciosa do risco cirúrgico e uma
entrevista prévia com equipe anes-
a derivação jejunoileal. Elas tentam mimetizar
tésica habituada ao procedimento.
o feedback negativo metabólico que existe
Outro detalhe importante é com
naturalmente após as refeições. Como o íleo
o espaço físico, que deverá ser
é estimulado mais cedo durante a digestão,
preparado para este atendimento.
hormônios responsáveis pela saciedade e Isso inclui portas e corredores com
redução do apetite são liberados de forma largura adicional, cadeiras de rodas
precoce como o GLP-1 (“freio ileal” ou ileal e macas específicas, balança que
break). Outras cirurgias funcionais propõem suportem elevados valores, mesa
ainda a ressecção de extensos segmentos de cirúrgica adequada, manguito com
jejuno e íleo, provocando alterações hormo- maior diâmetro, entre outras neces-
nais ainda mais profundas. sidades especiais.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 94

Vejamos como esse tema tem caído. bariátricas laparoscópicas estão associadas a
MENOS complicações trombóticas, respirató-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 rias e relacionadas à ferida operatória (ex.: hér-
HOSPITAL GERAL DE GOIÂNIA – GO nias incisionais). No entanto, são estas as cirur-
Em relação à hérnia de PETERSEN, podemos gias mais associadas à obstrução intestinal e
afirmar que: hérnias internas. Resposta: letra B.
a) Ocorre após cirurgia gastrojejunal em loca-
lização retroanastomótica.
b) Ocorre através do mesocólon transverso. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
c) Ocorre no forame de Winslow. HOSPITAL TARQUINIO LOPES FILHO – MA
d) É considerada uma hérnia omental. O procedimento bariátrico conhecido como
e) Ocorre na fossa paraduodenal de LAND- gastrectomia longitudinal em manga (slee-
ZART. ve gastrectomy), apresenta a seguinte ca-
racterística:
Vamos aprender com a questão! A hérnia a) Remove a parte gástrica secretora de Grelina.
de Petersen é uma hérnia interna que pode b) É considerado um procedimento bariátrico
surgir no pós-operatório das cirurgias bariátri- misto (restritivo e disabsortivo).
cas, principalmente nas cirurgias de by-pass c) Associa-se à vagotomia troncular ao pro-
gástrico em Y de Roux (cirurgia de Fobi-Ca- cedimento.
pella). Ela ocorre quando uma alça de delga- d) Impede a conversão para derivação bilio-
do se insinua no espaço posterior à anasto- pancreática.
mose gastrojejunal, geralmente entre a alça e) Produz má absorção de ferro, cálcio e áci-
do Y de Roux e o mesocólon transverso. Al- do fólico.
ternativa A correta.
A gastrectomia em manga (sleeve gas-
trectomy) consiste em procedimento restriti-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 vo, na qual se retira a grande curvatura do
CENTRO MÉDICO DE CAMPINAS – SP fundo gástrico, confeccionando-se um tubo
A técnica cirúrgica mais utilizada atualmen- vertical, não sendo realizada vagotomia tron-
te para o tratamento da obesidade mórbida cular. Por preservar o duodeno e não promo-
consiste em: ver o surgimento de uma síndrome disabsor-
a) Banda gástrica. tiva, é a técnica recomendada para pacientes
b) Balão intragástrico. com anemia ferropriva ou deficiências vita-
c) Gastroplastia em “luva” (“sleeve gastrec- mínicas. Além disso, apresenta como outras
tomy”). vantagens: preservação do piloro, redução
d) Gastroplastia à Mason. metabólica dos níveis de grelina (produzida
e) Gastroplastia vertical em Y de Roux (Fobi- no fundo gástrico), redução da incidência de
Capella). hérnias internas e possibilidade de se modi-
ficar a técnica posteriormente para uma gas-
A cirurgia bariátrica mais realizada é ainda troenteroanastomose em Y de Roux. Den-
o by-pass gástrico em Y de Roux, populariza- tre as desvantagens, podemos citar a maior
da por Fobi e Capella, sendo considerada por ocorrência de fístulas e o fato de os resulta-
muitos o padrão-ouro entre os procedimentos dos a longo prazo não serem tão bem carac-
bariátricos. A tendência atual é a realização terizados como no caso de outras técnicas
do procedimento pela via videolaparoscópi- cirúrgicas. Resposta: A.
ca, que passou a ser executado em 1990 e
apresenta diversas vantagens sobre a téc-
nica aberta, como menor perda de sangue, RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
redução da incidência de hérnia incisional e FACULDADE DE MEDICINA
infecção de ferida, rápida recuperação e me- DE PETRÓPOLIS – RJ
nor permanência hospitalar. Resposta: E. Paciente do sexo feminino, 55 anos, com IMC
de 40 kg/m², procura seu consultório para se
informar acerca da cirurgia de banda gástrica
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 ajustável para perda ponderal. Em relação a
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SP esta técnica cirúrgica, podemos afirmar que:
Complicação mais frequente na cirurgia ba- a) O risco de complicações é maior que nas
riátrica de derivação gástrica (gastric bypass) outras técnicas de cirurgia bariátrica.
com reconstrução em Y de Roux laparoscó- b) Tem boa eficácia nos pacientes superobe-
pica, quando comparada com a mesma de- sos (IMC “maior que” 50 kg/m²).
rivação feita por técnica convencional, por c) Pacientes com cirurgias gástricas prévias
laparotomia: não são bons candidatos para esta técnica.
a) Formação de aderências intracavitárias. d) É a técnica de cirurgia bariátrica com maior
b) Hérnias internas. número de anastomoses.
c) Complicações respiratórias.
d) Perda de peso no curto prazo. A banda ajustável é um método restritivo
e) Fístulas anastomóticas. puro que apresenta como principal vantagem
o fato de o índice de complicação cirúrgica
Vamos aproveitar essa questão para abordar ser muito baixo, já que se trata de um pro-
um conceito pouco falado, mas que está pre- cedimento laparoscópico simples. Não há
sente na última edição do Sabiston. As cirurgias necessidade, por exemplo, de divisão do es-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 95

tômago, de confecção de anastomoses, nem Como vimos, o sleeve gástrico é uma téc-
de ressecção de nenhum segmento intestinal, nica utilizada na cirurgia bariá­trica, onde se
podendo ser revertido com facilidade. Em faz a secção em luva do estômago, reduzin-
contrapartida, apresenta como desvantagem do assim o tamanho do órgão e conferindo ao
um percentual de perda ponderal menor que o paciente uma sensação de saciedade preco-
das outras técnicas, visto que o paciente pode ce. É uma técnica muito usada para compor,
voltar a engordar pela ingesta de líquidos por exemplo, a técnica de Switch duodenal.
de alto teor calórico. No que diz respeito às Resposta: letra C.
contraindicações ao procedimento, podemos
citar a presença de hipertensão portal, de
alguma doença do tecido conjuntivo em que RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
haja dismotilidade do esôfago e o uso crônico ALIANÇA SAÚDE – PR
de esteroides (contraindicação relativa). Por Um paciente submete-se à cirurgia bariátrica
mais que não seja um fator impeditivo para e apresenta, no pós-operatório, vômitos in-
a colocação da banda gástrica, a história de coercíveis, confusão mental, amnésia ante-
cirurgia gástrica prévia traz dificuldades para rógrada, nistagmo e ataxia. Qual das afirma-
o procedimento, o que torna estes pacientes tivas abaixo corresponde ao diagnóstico que
não candidatos a este tipo de intervenção. deve ter tratamento de emergência?
Assim, a melhor opção é a letra C. a) Síndrome de Wernicke-Korsakoff.
b) Polineuropatia sensoriomotora.
c) Síndrome do neurônio motor superior.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 d) Síndrome de Guillain-Barré.
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE e) Síndrome miastênica.
PORTO ALEGRE – HCPA
Em relação ao tratamento cirúrgico da obesi- O diagnóstico da questão tinha que ser
dade após insucesso do tratamento clínico, dado pela avaliação do quadro clínico. A
assinale a assertiva incorreta. deficiência de tiamina (vitamina B1), embo-
a) Está indicado para indivíduos com índice de ra possa ser encontrada em pacientes com
massa corporal IMC igual ou superior a 35 kg/m2 nutrição inadequada (ex.: alcoólatras), tam-
com comorbidades há pelo menos 2 anos. bém pode ocorrer em pacientes submetidos
b) Está indicado para indivíduos com IMC igual a cirurgias bariátricas, especialmente as di-
ou superior a 40 kg/m2, independentemente sabsortivas! Isso porque grande parte dessa
de comorbidades associadas. vitamina é absorvida no jejuno e no íleo. A
c) Reduz a mortalidade geral destes pacientes. deficiência tem como principal manifestação
d) Dependência química de álcool é uma con- neurológica a síndrome de Wernicke-Korsa-
traindicação para a cirurgia. koff, um termo que, na verdade, refere-se
e) Em relação à perda de peso, os proce- aos dois estágios da doença. A deficiência
dimentos restritivos são superiores aos que aguda gera a encefalopatia de Wernicke,
provocam má absorção. que é marcada por uma ataxia de marcha,
disfunção motora ocular – nistagmo, oftalmo-
Analisando a questão podemos perceber plegia – e confusão mental. Já a síndrome
que as opções A e B estão corretas, ade- de Korsakoff seria o estágio de deficiência
quando-se exatamente às indicações do tra- crônica de tiamina, caracterizado por amné-
tamento cirúrgico na obesidade. A opção C sia anterógrada e retrógrada, desorientação
também está correta por mostrar o benefício temporoespacial e confabulação. No caso
da modalidade nestes casos. Por outro lado, clínico, o paciente combina manifestações
o paciente não deve ser usuário de álcool e a de ambas e o tratamento é a reposição de
opção D também é verdadeira. Ficamos com tiamina (50-100 mg IV ou IM por 5 a 7 dias).
a opção E, já que a perda de peso é mais Espera-se que as manifestações mais agu-
acentuada nos procedimentos disabsortivos das sofram reversão e que as relacionadas
e não nos restritivos. Resposta: E. à síndrome de Korsakoff sejam irreversíveis.
Resposta: letra A.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011


HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO
PERNAMBUCO – SEGUNDA FASE RIO GRANDE DO SUL – RS
Paciente deu entrada no Serviço de Emer- O By-pass Gastrojejunal sem anel, também
gência do Hospital referindo azia, dor epigás- conhecido como Cirurgia de Capella, é o pro-
trica e vômitos há cerca de 2 dias. Refere que cedimento cirúrgico mais indicado no Brasil e
este quadro o acompanha há cerca de 6 me- nos Estados Unidos para o tratamento da Obe-
ses quando teve que realizar uma cirurgia de sidade Mórbida. Em relação ao mecanismo de
“Sleeve gástrico’’. Dentre as patologias abai- ação dessa cirurgia, é correto afirmar que:
xo relacionadas, assinale a principal indica- I. É um procedimento disabsortivo, porque
ção para a realização do “Sleeve gástrico’’ ou desvia o trajeto alimentar dos primeiros 50 cm
gastrectomia vertical: de intestino delgado.
a) Adenocarcinoma de corpo gástrico. II. É um procedimento restritivo, porque reduz
b) Úlcera gástrica. a capacidade gástrica de receber volume ali-
c) Obesidade mórbida. mentar.
d) Carcinoma precoce de fundo gástrico. III. É um procedimento misto, porque associa
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 96

restrição gástrica e desvio alimentar da porção Wittgrove, como vimos, é uma variação do
inicial de intestino delgado. by-pass gástrico, em que, por via laparoscópi-
Quais estão corretas? ca, se utiliza a sutura na anastomose gastroje-
a) Apenas I. junal ao invés da colocação de um anel como
b) Apenas II. se faz na técnica de Capella. Outro conceito é
c) Apenas III. a de que as cirurgias restritivas não se aplicam
d) Apenas I e II. aos pacientes com ingestão calórica elevada e
e) Apenas II e III. vômitos de repetição pelo aumento do resíduo
gástrico (opção D correta). Por último, ficamos
Vamos relembrar como é feita esta técnica definitivamente com a opção E como resposta
cirúrgica: (1) secção do estômago proximal, por trazer uma complicação esperada da deri-
formando uma pequena bolsa com a cárdia, vação biliopancreática, daí o desenvolvimento
com capacidade de 10-20 ml (intenção cirúrgi- do switch duodenal para contorná-la.
ca restritiva); (2) ressecção intestinal 30-40 cm
distante do ligamento de Treitz, pegando uma
parte do jejuno proximal; (3) Anastomose da RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
pequena bolsa gástrica com o restante do je- UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRAN-
juno e trato alimentar (desvio gastrojejunal); (4) DE DO NORTE – UFRN
O restante do trato intestinal (duodeno e jejuno Exames de rotina, em um paciente de 52 anos,
proximal) fica excluído do trânsito para formar revelam a existência de cálculo urinário. Como
o Y de Roux, não permitindo contato do alimen- antecedente, há dez anos, ele foi submetido
to com grande parte da superfície absortiva a um procedimento cirúrgico de by-pass jeju-
(intenção cirúrgica disabsortiva). Perceba que noileal para obesidade mórbida. Em relação
é um procedimento MISTO (restritivo e disab- a esse caso, considera-se uma complicação
sortivo). Assim, apenas a afirmativa III está do by-pass.
completamente correta. Resposta: C. a) Hiperuricosúria.
b) Pseudo-hiperparatireoidismo.
c) Hiperoxalúria.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 d) Hipercistinúria.
UNIVERSIDADE FEDERAL
DO PARANÁ – UFPR Como qualquer doença disabsortiva, o
Com relação ao tratamento cirúrgico da obe- excesso de ácido graxo que se liga ao cálcio
sidade, assinale a alternativa INCORRETA. na luz intestinal, deixa mais oxalato livre para
a) As cirurgias disabsortivas puras caíram em ser absorvido... Resposta: C.
desuso, porém podem ser usadas em casos ex-
cepcionais como método temporário em supero-
besos androides com abdômen de difícil acesso. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
b) A técnica de Wittgrove e Clark fundamenta- SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DE
-se na estenose da anastomose gastrojejunal SANTA CATARINA – SES
para oferecer maior fator de restrição. Uma paciente submetida à cirurgia bariátrica,
c) Na técnica de Capella e Fobi coloca-se uma moradora de zona rural e sem acompanha-
prótese em forma de anel poucos centímetros mento ambulatorial nos últimos 12 meses e
antes da anastomose gastrojejunal para ofe- que nega uso de medicamentos dá entrada no
recer maior restrição. pronto-socorro com história de cefaleia, irrita-
d) As cirurgias restritivas se prestam a pacien- bilidade e fadiga. Ao exame físico se observa
tes que não sejam alcoolistas ou comedores nistagmo, marcha atáxica e oftalmoplegia. O
de doces compulsivos. que está ocorrendo com a paciente?
e) Na derivação biliopancreática com desvio a) Tumor cerebral.
duodenal (duodenal switch), a retenção do b) AVC isquêmico.
estômago distal comprovadamente produz um c) Meningoencefalite.
modelo ulcerogênico que limita sua utilização. d) Deficiência de vitamina B1.
e) Intoxicação por organofosforado.
De fato, devido aos níveis elevados de des-
nutrição, as cirurgias puramente disabortivas A clínica é característica de um quadro de
foram sendo substituídas pelos procedimentos encefalopatia de Wernicke (deficiência de vi-
mistos e hoje restam poucas indicações para tamina B1 – Tiamina) que, como acabamos de
elas, como em superobesos para facilitar o ver, é uma característica esperada de algumas
procedimento (opção A correta). A técnica de cirurgias bariátricas. Resposta: D.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 97

Boletim Operatório 1

O transplante de pâncreas é uma terapia substitutiva peculiar. Na


maior parte dessas cirurgias, busca-se recuperar uma função vital, já
que na sua ausência ocorrerá incapacitação funcional ou morte. É o caso
dos transplantes cardíacos, pulmonares e hepáticos. Qual seria, então,
o objetivo do transplante de pâncreas? Levar à normalização completa
dos níveis de glicose dos pacientes com diabetes insulinodependente. Ok!
Mas a terapia com insulina já faz muito bem essa papel! Por que submeter
um paciente à cirurgia e deixá-lo imunossuprimido e sujeito a uma miríade
de complicações se eu posso manejar a doença clinicamente?

Essa foi a justificativa que os clínicos utilizaram por décadas para evitar
o transplante pancreático. No entanto, ao observarmos a evolução
dos diabéticos insulinodependentes, foi percebido que a despeito do
controle glicêmico, havia ainda taxas razoáveis de complicações micro
e macrovasculares. Com o avanço da terapia imunossupressora, o
transplante de pâncreas passou a ser uma grande arma na luta contra o
diabetes do tipo 1.

 Procedimento: transplante de pâncreas

 Anestesia: geral

Indicações Não existem indicações emergencias para


o transplante isolado de pâncreas. No caso
Segundo a portaria Nº 2.600, de 21 de outubro dos transplantes duplos (pâncreas-rim), a im-
de 2009, lei que regulamenta as indicações possibilidade de acesso à diálise passa ser
de transplantes no Brasil, podem ser listados considerada critério emergencial.
para o transplante de pâncreas:
Contraindicações
 Pacientes que preencham esses critérios
isolados: diabetes mellitus tipo I, insulino-
dependente, com clearance de creatinina As contraindicações presentes na mesma por-
> 60 ml/min/m². taria são relativas, sujeitas a variação segundo
a equipe de transplantes. Elas são focadas
 Paciente com diabetes mellitus tipo I, insu- para avaliação do doador:
linodependente, que preencham critérios
associados. I - IMC > 35 kg/m2
II - usuário de droga injetável
• Cirurgia simultânea para transplante de rim, III - usuário de droga inalatória (cocaína ou crack)
devendo que, neste último caso, o clearance IV - amilase sérica > 200 U/L
de creatinina endógena seja igual ou menor V - creatinina sérica > 1,5 mg/dl
a 20 ml/min/m². VI - glicemia > 150 g/dl
VII - exame sorológico positivo para:
• Já submetidos a transplante renal, com a) chagas;
função do enxerto renal estável, mas com b) hepatite B (anti-HBc ou HBsAg);
progressão do diabetes. c) hepatite C (anti-HCV);
d) sífilis;
• Se já inscrito para rim/pâncreas, este man- e) toxoplasmose (IgM);
terá a data de inscrição, para contagem de f) citomegalovírus (IgM).
tempo na lista de espera.
Obs: Reparem que se tratam de contraindicações relati-
vas!!! A presença de doador com sorologia positiva para
toxo e CMV, por exemplo, para diversas equipes não
Existe alguma indicação emergencial? contraindica o transplante.

97
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 98

Tempos Cirúrgicos

Comentário inicial: para que esse procedimento ganhe a adesão


Apesar de todo o respaldo já obtido com esse dos clínicos e endocrinologistas? Existem
tratamento, grande parte dos serviços perma- poucos estudos que demonstram o custo-be-
nece ainda indicando o transplante somente nefício de uma vida sujeita a imunodepressão
quando há doença renal terminal pelo diabetes em relação àquela submetida a complicações
(transplante duplo, pâncreas-rim) ou quando o com nefropatia, retinopatia, polineuropatia,
rim transplantado para um diabético com IRC doença coronariana, doença arterial periféri-
também começa a ser afetado pela doença de ca... Talvez com o maior número de trabalhos
base. Infelizmente poucos são os transplantes e com o advento de imunossupressores mais
isolados de pâncreas, que, quando realizados modernos e seguros, o transplante pancreá-
precocemente, podem prevenir todas as com- tico possa conquistar de vez o seu merecido
plicações geradas pelo diabetes. O que falta lugar ao sol.

Captação do órgão podem ser manejados com insulina exógena


e diálise (nos casos de falência renal).
(1) Incisão e inspeção
Na presença de um doador cadáver, sempre
que possível a maior quantidade de órgãos O pâncreas é um órgão retroperitoneal.
passíveis de doação é captada. A cirurgia é Como examiná-lo antes da extração?
iniciada com uma esternotomia mediana para
preparação do coração e pulmões. A seguir a Lembrando-se das profundezas dos primeiros
equipe responsável pela captação dos órgãos períodos da faculdade, você é capaz de per-
abdominais assume a cirurgia, continuando a ceber que o pâncreas é um órgão que compõe
incisão torácica em uma laparotomia xifopu- a parede posterior da bursa omental. Bursa
biana. Uma exposição grande é necessária, omental? A bursa omental nada mais é do que
pois caberá ao cirurgião avaliar a viabilidade um saco, um espaço vazio dentro do peritônio
dos órgãos para doação. No caso do pâncre- localizado atrás do estômago. Ah, então é só
as, é importante buscar ativamente por sinais retirar o estômago e ver o pâncreas? Até es-
de esclerose, gordura intraparenquimatosa, taria certo, mas existe uma maneira mais fácil.
hematoma, calcificação ou descoloração, já Basta seccionar o ligamento hepatogástrico
que, quando presentes, desqualificam o órgão (omento menor) e observar o pâncreas por
para o procedimento. Outro passo importan- cima do estômago (figura 1).
te é a avaliação de possíveis anormalidades
vasculares que inviabilizariam o transplante. (2) Acesso
Como o pâncreas e o fígado recebem grande Com a viabilidade do órgão confirmada, o
parte de sua vascularização pelo tronco celí- cirurgião procederá a sua extração. Agora,
aco, a atenção deve ser redobrada no exame como será necessário um campo maior, a via
de seus ramos. de acesso pelo ligamento hepatogástrico será
insatisfatória. A manobra a ser realizada é a
seguinte: a incisão do omento maior e do liga-
Em caso de variação anatômica arterial, o mento gastrocólico (figura 2). Ela permitirá
que fazer? a separação do estômago e cólon transverso,
implicando o acesso direto à parede posterior
Nas variações que impossibilitam o transplan- da bursa omental. Ué, não é exatamente igual
te, nada pode ser feito. No entanto, existem ao que fazem na necrosectomia pancreática?
aquelas que permitem a retirada do fígado ou Exatamente! A visualização de toda extensão
do pâncreas, sendo que a integridade de uma do parênquima pancreático é fundamental nos
interfere diretamente no suprimento vascular de dois procedimentos. A diferença é que aqui,
outra. Nessas situações, a prioridade sempre para facilitar o deslocamento do estômago, as
será do fígado, uma vez que é um órgão que artérias gástricas curtas e gástrica esquerda
pode salvar diretamente uma vida, enquanto podem ser ligadas próximas a parede do órgão,
que os pacientes que aguardam um pâncreas já que ele não será mais utilizado (figura 2).

Figura 1
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 99

Figura 2 gastroduodenal, origem da artéria pancreato-


duodenal superior, é ligada e seccionada. O
ducto biliar comum também é ligado e sec-
cionado próximo ao pâncreas. Uma manobra
de Kocher é então efetuada para mobilizar a
cabeça do pâncreas, seccionando as ade-
rências peritoneais (figura 3). Aproveita-se
a manobra para dissecar a veia cava inferior
no segmento infrarrenal a as partes ainda não
acessadas da base da artéria e veia mesenté-
ricas superiores. O duodeno é completamente
liberado com uma segunda secção na altura
do ângulo de Treitz, novamente com o bisturi
(3) Preparo do lúmen duodenal ou com um grampeador.
Pela sonda nasogástrica é administrada uma
solução iodopolvidina/anfotericina e antibióti-
Figura 3
cos com a finalidade de preparar o lúmen duo-
denal para o procedimento. Não queremos que
haja supercrescimento de micro-organismos
na alça que será transplantada para indivíduo
que será imunossuprimido.

Transplante de alça?
Mas não era de pâncreas?

Entenda: para transplantar todo o órgão é ne-


cessário trazer conjuntamente o duodeno, já
que é impossível separar a vascularização do
duodeno da cabeça do pâncreas. Recorde que
as artérias que nutrem nessa região são arté- (6) Heparinização e perfusão
rias pancreaticoduodenais superiores e inferio- Uma vez dissecado, o pâncreas precisa ser
res, ramos da gastroduodenal e mesentérica resfriado para sua conservação antes de
superior, respectivamente. A primeira incisão sua completa extração. Para isso o doador
duodenal é feita próxima ao piloro e pode ser é heparinizado e a artéria aorta é ligada ou
realizada com bisturi ou com um grampeador. clampeada ao nível de sua bifurcação, sendo
Muito cuidado é tomado para que não haja posteriormente canulizada, como se fosse
tecido gástrico acompanhando o segmento de para instalação de circulação extracorpórea.
alça retirado. A seguir, a aorta é clampeada novamente no
seu seguimento supracelíaco e as veia porta
(4) Dissecção – Corpo e Cauda hepática e mesentérica inferior (tributária da
A remoção do pâncreas de seu leito come- mesentérica superior) são seccionadas a cer-
ça com a sua cauda. Note que a cauda do ca de 1 cm do pâncreas. Pela cânula aórtica é
pâncreas está intimamente ligada com o hilo injetada uma solução de preservação (solução
do baço. Então vamos retirar o baço, certo? da Universidade de Wisconsin) resfriada a 4oC
Ainda não! A próxima manobra é realmente (figura 4).
interessante. O cirurgião irá utilizar o baço
como alavanca para ajudar a retirar o pân- Figura 4
creas do seu leito. Para isso, os ligamentos
que prendem o baço são seccionados sobre
visualização direta (gastrolienal, lienofrênico,
esplenorrenal e esplenocolônico) (figura 4).
O baço é tracionado para fora e para direita, o
que permitirá a visualização da face posterior
do pâncreas e a lise direta de suas estruturas
fixadoras (ex.: aderências ao rim esquerdo e
a glândula suprarrenal). Na dissecção romba
da parede posterior do pâncreas são também
isolados a artéria esplênica e a veia esplêni-
ca, que possuem trajeto paralelo e posterior
ao órgão. Outras estruturas nobres que serão
expostas através da divulsão dos gânglios lin-
fáticos retroperitoneais são o tronco celíaco e
a base da artéria mesentérica superior.
(7) Extração
(5) Dissecção - Cabeça A seguir o cirurgião realiza os procedimentos
Com a preparação já realizada para mobiliza- finais para remoção do órgão. Como o me-
ção do corpo e cauda pancreáticos, chegará o sentério de todo intestino delgado é fixado na
momento mais delicado da cirurgia. A dissec- parede anterior do pâncreas, ele é incisado e
ção da cabeça e do colo. Inicialmente a artéria retirado. Atenção deve ser dada a esse pro-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 100

cedimento já que a artéria mesentérica supe- realizada com um grampeador, uma sutura de
rior, veia mesentérica superior, seus ramos e reforço será executada (figura 5).
tributárias passam por dentro do mesentério.
Assim, esses vasos devem ser adequadamente
ligados em sua base. Para facilitar o processo, O implante
pode ser utilizado um grampeador com a “boca”
larga, capaz de seccionar o mesentério e ligar (1) Incisão e acesso
os vasos ao mesmo tempo. Para o implante do órgão, 2 tipos de incisão
podem ser feitos no abdome. Uma mediana
O próximo passo é a retirada completa do ou uma lateral (nos flancos e fossa ilíaca).
órgão. Aqui, a equipe cirúrgica precisa decidir Quando é realizado o transplante pâncreas-
se a remoção do pâncreas e do fígado será -rim as duas também podem ser realizadas,
feita em conjunto (em bloco) ou separadamen- sendo que incisão lateral facilita que o rim seja
te. Não há muita diferença se desacoplação colocado em uma posição retroperitoneal.
dos órgãos é realizada “in situ” ou “ex vivo”. O pâncreas, independentemente da incisão
Para realização desse processo, basta ligar e realizada, será colocado intraperitoneal. No
seccionar as artérias esplênica e mesentérica transplante duplo, o pâncreas é geralmente o
superior, separando-as da aorta e do tronco primeiro órgão a ser colocado para evitar sua
celíaco respectivamente. isquemia prolongada. Se houver 2 equipes
disponíveis para o transplante, a ordem pode
(8) Coleta de “patch” arterial ser invertida, sendo o pâncreas preparado en-
Ao término da remoção, o segmento arterial quanto o rim é implantado. Essa abordagem
da artéria ilíaca comum nas ilíacas interna e teria o benefício teórico de diminuir o edema
externa é retirado com a finalidade de recons- de perfusão pancreático, já que a filtração
truir o fluxo arterial no pâncreas (ver adiante). glomerular teria retornado.

(2) Dissecção dos vasos ilíacos


Preparo do pâncreas Seja qual for a via de escolha, as artérias e
veia ilíacas comuns são dissecadas e mobili-
Após sua captação o pâncreas é mergulhado zadas, de preferência no lado direito.
em mais solução de preservação resfriada. A
artéria e veia esplênicas são dissecadas e sec-
cionadas próximas a sua base, separando o Por que o lado direito?
baço. A linha em que o mesentério e os vasos
mesentéricos superiores foram seccionados é Note que na fossa ilíaca esquerda está pre-
inspecionada e uma sutura de reforço é con- sente no cólon sigmoide, que dificultaria o
feccionada. O fluxo arterial do pâncreas sofre- posicionamento adequado do pâncreas.
rá uma reconstrução. O seguimento retirado
da bifurcação das ilíacas será anas­tomosado Mas e na fossa ilíaca direita fica o ceco! Sim,
da seguinte maneira: o óstio da base da artéria mas o ceco, apesar de ser uma estrutura fixa,
mesentérica superior será acoplado à artéria é mais complacente e ocupa menos espaço
ilíaca externa, enquanto o óstio da artéria que o cólon sigmoide.
esplênica, na ilíaca interna. Essa enxertia de
vasos permite que apenas 1 anastomose ar-
terial (da artéria ilíaca comum) seja realizada Por que a questão do espaço é tão
no receptor. As pontas livres do duodeno tam- importante?
bém devem ser alvo de preparação. Se elas
foram seccionadas com bisturi, uma ligadura Se o pâncreas for implantado “torto”, maior é
com sutura corrida para inversão das bordas a probabilidade de trombose vascular (venosa
pode ser confeccionada. Se a separação foi ou arterial) e perda do implante.

Figura 5
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 101

(3) Confecção das anastomoses vasculares Perceba que para mudar a drenagem do pân-
A etapa seguinte é a confecção das anastomo- creas seria necessária a modificação de toda a
ses vasculares. O enxerto de artéria ilíaca aco- cirurgia. Existe uma técnica alternativa de trans-
plado ao pâncreas do doador é anastomosado plante que permite que a anastomose venosa
com artéria ilíaca comum e a veia porta com seja realizada diretamente com a com a veia
a veia ilíaca comum. Ambas as anastomoses cava inferior. Note que a cabeça do pâncreas
são feitas de forma término-lateral, com fios ficaria voltada para cima (figura 7)! Assim a
de polipropileno agulhados nas duas extre- drenagem seria efetuada através de anasto-
midades. Para a realização desse tempo da mose do duodeno lateralmente com uma alça
cirurgia, convém que o paciente esteja hepa- de delgado ou com uma alça em “y” de Roux.
rinizado, embora alguns autores afirmem que
tal precaução é desnecessária em pacientes
com insuficiência renal. Repare que com essa
anastomose, a cabeça do pâncreas ficará
voltada para baixo e a cauda para cima (fi-
gura 6). Com o retorno da vascularização,
o pâncreas reaquecido já está apto a secretar
insulina na corrente sanguínea.

Figura 6

Figura 7

(5) Fechamento
Terminada a drenagem, poderá ser efetuado
o fechamento por primeira intenção de todos
os planos. Não é necessário nenhum tipo de
drenagem.

Complicações

Pronto? Ainda não...


Rejeição

Lembre-se de que o pâncreas é órgão que Assim como todo transplante de órgão, a cirur-
possui funções endócrinas e exócrinas. Mes- gia de transplante de pâncreas está sujeita a
mo que para o transplante somente seja ne- rejeição pelo organismo do receptor. Um dado
cessária a primeira, o órgão não cessará sua curioso é que a cirurgia conjunta de transplan-
produção de enzimas digestivas... O que fazer? te pâncreas e rim está menos sujeita a rejeição
do que a cirurgia do pâncreas isoladamente
(4) Drenagem do pâncreas exógeno (o mesmo não é válido para cirurgia de rim
O último tempo da cirurgia é dedicado à dre- isolada). Geralmente, quando há rejeição os
nagem do sulco pancreático. Como a cabeça dois órgãos são afetados conjuntamente.
do órgão está voltada para baixo a via de es-
colha para escoamento da secreção pancre-
ática será a bexiga. Isso mesmo, a bexiga!!! E como se manifesta a rejeição?
O restante de duodeno presente na peça
cirúrgica é suturado junto na região póstero- Inicialmente não há um quadro “florido”. Altera-
-superior da mesma e uma incisão paralela é ções laboratoriais como aumentos na amilase
efetuada em ambos. Com um fio inabsorvível e lipase são os principais marcadores, como se
uma sutura contínua é confeccionada para fosse um episódio de pancreatite assintomá-
ligar as bordas da incisão, anastomosando os tica. Note que órgão transplantado está des-
órgãos. Posteriormente uma sutura de reforço nervado, sendo a dor um sintoma incomum...
é confeccionada. Posso esperar hiperglicemia então? Está aí
um erro grave nos cuidados ao paciente que
recebeu um transplante pancreático. Assim
Como a bexiga será capaz de cicatrizar como na pancreatite crônica, a hiperglicemia é
com a passagem suco pancreático e uri- uma das últimas manifestações e ocorre quan-
na pela anastomose? do a maior parte das ilhotas pancreáticas foi
destruída. Marcadores mais precoces devem
Para facilitar o processo cicatricial é recomen- ser buscados. Um bom exemplo é o rastreio de
dada a passagem de um cateter vesical por disfunção renal nos transplantes combinados.
um período de 5 a 7 dias. Na dúvida, a realização de biópsia (padrão-
-ouro) fará o diagnóstico definitivo.

Existe outra maneira de drenar o pâncreas? Como tratar?


Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 102

O tratamento da rejeição se baseia na corti- o implante na fossa ilíaca direita. O uso de an-
coterapia com altas doses e nos anticorpos ticoagulantes no pós-operatório é controverso.
contra células T, além da manutenção do tra-
tamento imunos­supressor.
Pancreatite
Saiba Mais!
Outra complicação que ocorre precocemen-
Recorrência autoimune te no pós-operatório. Pode ser causada por
• Alguns casos de perda do transplante po- problemas circulatórios (isquemia, lesão de
dem ser secundários a recorrência da do- perfusão, lesão de reperfusão) ou traumáti-
ença autoimune que provocou a destruição cos secundários a cirurgia. O quadro clínico
do pâncreas original. Como assim? Doença pode ser difícil de diferenciar da rejeição do
autoimune com pâncreas de outra pessoa? implante, mas, quando mais intensa, provoca
Exatamente! O quadro é semelhante a um dor abdominal difusa, inflamação local e sis-
episódio de rejeição. Quanto mais próximo têmica, leucocitose e hiperamilasemia. A TC
for o complexo de histocompatibilidade pode revelar um edema peripancreático difuso.
(HLA) entre doador e receptor, menor é
a probabilidade de rejeição. Entretanto, a O tratamento é clínico de suporte, com uso do
chance de recorrência autoimune é maior.
cateter de Foley nos pacientes com derivação
Ficamos entre cruz e a espada, não? Se pu-
pancreático-vesical. O uso de octreotide é re-
déssemos escolher, quanto maior parecido
comendado por alguns autores.
o HLA, melhor seria, já que as recorrências
autoimunes são eventos mais raros e de
evolução mais insidiosa. Outras complicações

São descritas ainda como complicações:


Trombose fístula, abscesso, uretrite, ulceração uretral,
hematúria e infecções urinárias recorrentes.
É a complicação não imune mais comum. Ela As complicações urológicas são tratadas com
é responsável pela perda de 12% de todos cateterização vesical e ablação do foco de he-
os transplantes, seja arterial ou venosa. Até o morragia. Caso recorram, a derivação vesical
momento não há fatores de risco claros para a será mudada para derivação com alça em y
oclusão vascular. Na sua prevenção é adotado de Roux.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 103

Boletim Operatório 2

A o acompanharmos tantas notícias sobre a cirurgia bariátrica


nos últimos anos, podemos ficar com a impressão de que
procedimentos como o by-pass gástrico sejam novidade... Isso
está completamente equivocado! Esta cirurgia é realizada há
pelo menos 50 anos e foi descrita inicialmente por Mason e Ito em 1969.
Eles observaram que pacientes com doença ulcerosa péptica submetidos à
gastrectomia parcial e derivação jejunal emagreciam involuntariamente. A
genialidade foi perceber que era possível confeccionar um procedimento
parecido, que promovesse emagrecimento com mecanismo misto, restritivo
e disabsortivo, diferente de tudo que já havia sido descrito.

Até os dias de hoje, inúmeras modificações foram realizadas nesse


procedimento cirúrgico. As mais famosas foram realizadas por Fobi e por
Capela. A mais nova revolução foi aventada em 1994, quando Wittgrove
e Clark descreveram a técnica laparoscópica da cirurgia bariátrica, que
em pouco tempo se tornou o padrão-ouro para abordagem. A despeito da
criatividade desses cirurgiões, você pode se perguntar: será que eu, pobre
mortal, conseguirei entender um procedimento com tantas anastomoses?
Fique atento, pois faremos uma abordagem simples e didática para que você
consiga captar a essência da cirurgia.

 Diagnóstico: obesidade (grau II com comorbidades ou grau III).


 Procedimento: by-pass gástrico em y de Roux por via laparoscópica.
 Anestesia: geral.

103
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 104

Considerações sobre a anestesia:


A anestesia das cirurgias bariátricas merece uma atenção especial. Não
é que a técnica de abordagem seja diferente, mas existem dificuldades
inerentes à doença de base do paciente. As duas principais são a ob-
tenção de um acesso venoso e o manejo das vias aéreas.
Nos grandes obesos, é comum não conseguirmos puncionar um acesso
venoso periférico, devido à abundância de tecido subcutâneo. Nes-
ses casos, nos resta a opção de realizar um acesso venoso periférico
para que o paciente fique apto a receber drogas e reposição volêmica.
Quando possível, 2 acessos periféricos devem ser assegurados antes
do procedimento operatório.
A abordagem das vias aéreas nos pacientes obesos oferece um desafio.
É recomendado, nessas cirurgias, que o anestesista seja experiente na
abordagem de vias aéreas difíceis e que seja capaz de empregar mé-
todos como a intubação por videotelescopia ou por laringoscopia com
fibra óptica, sobretudo nos casos em que o Malampati é alto (III e IV).
Outro fato que devemos atentar nesses pacientes é que a farmacocinética
dos anestésicos é diferente nos obesos. Eles apresentam uma fração de
água corporal menor que o normal, maior quantidade de tecido adiposo,
alteração no processo de carreamento das drogas por proteínas séricas
e aumento da volemia. Dessa maneira, é de bom tom que as doses e
fármacos sejam revisados e individualizados para cada paciente.

Tempos Cirúrgicos

Comentário inicial: características restritivas e disabsortivas.


O by-pass gástrico em y de Roux é uma Vamos demonstrar como chegaremos nesse
cirurgia que provoca medo e aversão na- resultado ao final.
queles que não gostam das especialidades
cirúrgicas. Mesmo para os aficcionados por Figura 1
centro cirúrgico, entender o procedimento
de primeira é uma tarefa bem difícil. Por
isso, é necessário que antes de dominar a
técnica cirúrgica, o conceito seja entendido.
Qual é o objetivo da cirurgia?
É a restrição da ingestão alimentar e indução
da perda ponderal por diminuir a absorção de
nutrientes e suprimir o apetite.
Ok, como eu consigo restringir o consumo
de alimentos?
Através da redução do estômago. O estôma-
go será dividido em 2, sendo que somente
a menor parte receberá os alimentos. Essa
pequena bolsa gástrica provocará saciedade
precoce e é responsável pela parte restritiva
de cirurgia.
A cirurgia deve ser aberta ou por via
E a diminuição da absorção de nutriente? laparoscópica?
Para evitar a absorção dos alimentos, temos
A descrição inicial da cirurgia foi o método
que evitar que ele passe pelo duodeno, região
aberto, que possui eficiência semelhante ao
responsável pela absorção da maior parte das
método laparoscópico. Entretanto, já exis-
proteínas, gorduras e carboidratos. Para isso,
tem vários estudos que comprovam que a
o trânsito alimentar do “novo” estômago é
via laparoscópica está relacionada a menos
desviado (by-pass) diretamente para o jejuno,
complicações diretas das feridas, alta pre-
através de anastomose em y de Roux. Essa é
coce e uma menor taxa de complicações
a parte disabsortiva da cirurgia. É importante
gerais no pós-operatório. Assim, por apre-
notar que o by-pass gástrico inibe a secreção
sentarem resultados semelhantes e taxas
de grelina, diminuindo o apetite do paciente.
de complicação diferentes, a escolha lógica
Pronto, agora você se localizou no procedi- recai sobre a via laparoscópica. Além disso,
mento. Para melhor compreensão, observe os benefícios estéticos e a preferência dos
atentamente um esquema com procedimento pacientes falam, indiscutivelmente, a favor
completo (figura 1). Observe as principais dessa via de acesso.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 105

(1) Acesso – Posicionamento dos trocartes


A cirurgia é iniciada com a formação do pneu-
moperitônio e a inserção dos trocartes. Maiores
detalhes sobre essa técnica podem ser revistos
na descrição de colecistectomia (apostila de
síndrome ictérica). Aqui, apontaremos as prin-
cipais diferenças.

O primeiro trocarte, responsável pelo início do


pneumoperitôneo e pela passagem da ótica Figura 4: Dreno de Penrose
para visualização laparoscópica da inserção
dos outros trocartes deve ser aplicado abaixo
do gradil costal direito, na altura da linha hemi- É preciso ainda notar que de nada adianta
clavicular. A sua manipulação durante a cirurgia seccionar a alça se o mesentério não deixa
ficará a cargo da mão esquerda do cirurgião. que as pontas se afastem. Dessa forma, o
cirurgião deve seccioná-lo em uma linha reta
A localização dos outros trocartes é a seguintes: até sua base.
• Próximo ao apêndice xifoide, para o afasta-
dor de fígado. (3) “Calibração” do By-pass
• Supraumbilical, para a fibra-óptica. O próximo passo é delimitar a extensão da
• Retal esquerda ou pararretal esquerda, para alça do y de Roux. Enquanto deixamos a ponta
a mão direita do cirurgião. de jejuno proximal repousar no lado direito da
• No hipocôndrio e flancos esquerdos, para as cavidade abdominal, a ponta marcada com o
mãos direita e esquerda do assistente, res- Penrose é tracionada cefalicamente e medida
pectivamente. Totalizam-se um total de 6 em sua extensão. Pacientes com IMC < 50,
trocartes (figura 2). devem receber uma alça de 80 a 120 cm. Já
os portadores de IMC > 50 recebem uma alça
de aproximadamente 150 cm.
Figura 2

Uma vez medida a alça a partir da ponta com


Penrose, será realizada a primeira anasto-
mose da cirurgia, entre a ponta de jejuno
proximal, que estava repousando a direita, e
extremidade da alça na qual foi delimitado o
comprimento desejado (entero-enterostomia).
Para que ela seja efetuada, é necessário que
ambas as alças sejam aproximadas com uma
sutura seromuscular e sofram incisões para-
lelas para dar passagem ao grampeador, que
se encarregará de confeccionar a anastomose
(figura 5).

(2) Confecção do “y” de Roux Figura 5


O primeiro tempo da cirurgia consiste na con-
fecção da alça responsável pela formação do
y de Roux. Deve-se, então, obter uma visão
adequada do jejuno. Para isso, o omento maior
é rebatido superiormente e o ângulo de Treitz
é localizado. Lembre-se de que a partir des-
se ponto o delgado deixa de ser o duodeno e
recebe a denominação de jejuno.

O cirurgião mede cerca de 30 a 40 cm de je-


juno (40 a 50 cm para algumas referências) e
secciona a alça com um grampeador (figura
3). A ponta distal será a ponta do y de Roux.
Para que não haja mistura de alças e para fa-
cilitar o procedimento, um dreno de Penrose
(figura 4) é fixado na mesma.
Você deve estar se perguntando: e a incisão
Figura 3 que eu fiz para passagem do grampeador?
Como será fechada? Aqui serão feitas sutu-
ras contínuas convencionais, que podem ser
reforçadas ou não. Em alguns serviços, é
prática fechá-las com o próprio grampeador.
No entanto, tal prática está relacionada com
uma maior probabilidade de estenose de alça
Secção do jejuno com grampeador no pós-operatório.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 106

(4) Passagem da alça para anastomose procedimento algumas vezes para separar o
Pronto, com a perna do y confeccionada, basta estômago e confeccionar a pequena bolsa que
levá-la até o estômago. ficará responsável por receber o alimento do
esôfago (figura 7).

Como, se o cólon transverso está no cami- Figura 7


nho, entre o delgado e o estômago?

Existem duas maneiras:

1- A alça pode ser passada pela frente do cólon


transverso (transposição antecólica).

2- O mesocólon pode ser incisado, permitido


a passagem por trás do cólon transverso
(transposição retrocólica). A incisão é reali-
zada acima e a esquerda do ligamento de
Treitz, permitindo que a curvatura maior do
estômago seja visualizada. A alça pode ser (6) Anastomose gastrojejunal
passada pela frente do estômago (antegás- Com o estômago separado, a alça que foi
trica) ou por trás do mesmo (retrogástrica). colocada atrás do órgão poderá ser visuali-
Essa última via é geralmente a de escolha, zada. Agora, é preciso anastomosá-la com o
pois representa o menor caminho entre a “novo” estômago para completar o by-pass.
alça e estômago (figura 6). Assim haverá À semelhança da primeira anastomose con-
menos tensão na anastomose e menor pro- feccionada na cirurgia, ambas as estruturas
babilidade de deiscência ou fístula. devem ser aproximadas lado a lado com uma
sutura seromuscular e incisões paralelas são
Figura 6 realizadas para passagem do grampeador (fi-
gura 8). Após confeccionada a anastomose,
as incisões são fechadas com suturas contí-
nuas, que podem ser reforçadas com pontos
de invaginação (ex.: pontos Lembert).

(5) Confecção do “pouch” gástrico


Chegou o momento de realizar a parte restri-
tiva da cirurgia, com a secção do estômago.
Para isso, o cirurgião precisará de campo.
Assim, o afastador de fígado é colocado e a
maca do paciente é acomodada, de forma que
a cabeça fique mais alta que os pés (posição
de Trendelenburg reversa).

A abordagem do estômago é iniciada com dis- Figura 8


secção da junção gastroestofágica direita. O
peritônio (omento menor) é incisado na região
do ângulo de His por até 3 cm em direção à Existe outra maneira de fazer a anastomose
curvatura menor. gastrojejunal?

Sim. É possível fazer uma anastomose com


Com que finalidade o cirurgião incisa o grampeador circular, desde que a ogiva (bi-
omento menor? gorna) do grampeador esteja dentro da bolsa
estomacal. Para esse fim, ela pode ser passa-
Para permitir a passagem do grampeador ao da por via transoral com auxílio de endoscopia
redor do estômago. Entenda: não é possível ou sondagem. Ela também pode ser colocada
seccionar o estômago com uma só “gram- antes da secção do estômago, através de uma
peada”. O cirurgião necessita realizar esse incisão (figura 9).
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 107

Figura 9

(7) Revisão das anastomoses e fechamentos


dos defeitos mesentéricos

Ao término da cirurgia, a integridade de todas


as anastomoses deve ser checada. Isso pode
ser realizado com a administração de azul de
metileno endoluminal, gás pela sonda naso-
gástrica (“prova do borracheiro”) ou mesmo
por uma endoscopia digestiva alta.

Ufa! Acabou!

Nem pense em parar por aqui... Você repa-


rou na quantidade de espaços vazios que o
cirurgião acabou de criar? Não? Vamos citar Figura 10
os principais – acompanhe pela figura 10.

A) Ao criar uma passagem pelo mesocólon, Qual é o grande problema desses espaços?
um “buraco” maior do que alça foi aberto.
Alças intestinais podem herniar através deles,
B) Lembra-se de que para realizar secção do promovendo obstrução intestinal (hérnias in-
jejuno o mesentério foi seccionado? Quando ternas adquiridas). Dessa forma, todos eles
a perna do y de Roux foi levada em direção precisam ser ocluídos com uma sutura contí-
ao estômago, foi criado um espaço posterior- nua com fio inabsorvível.
mente à alça, mais conhecido como espaço
de Petersen. Somente após o fechamento desses defeitos
os trocartes são retirados sob visualização
C) Ao confeccionar a primeira anastomose laparoscópica e o pneumoperitônio é desfeito.
(entero-enterostomia) surgiu um espaço ante- Os sítios de incisão são suturados em cama-
riormente inexistente, posterior a essas alças. das com pontos simples.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 108

MED R3
CLÍNICA MÉDICA

SEÇÃO 1 – Diabetes

 Nenhuma dificuldade adicional, apenas os conceitos clássicos já explorados na


prova de acesso direto.

SEÇÃO 2 – obesidade

 Esse tópico cai muito mais para o R3 de Cirurgia, focando nas modalidades de
cirurgia bariátrica! Em todo caso, algumas questões também aparecem para o
R3 de Clínica; portanto, sugerimos que você dê atenção especial a este tema,
sobretudo em relação à indicação e vantagens de cada técnica.

108
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 109

Questões R3 – Clínica Médica


RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 – c) Administração de insulina ao deitar e HbA1c
R3 – CLÍNICA MÉDICA = 7,5%.
FACULDADE DE CIÊNCIAS d) Mudanças do hábito alimentar, exercício fí-
MÉDICAS DA UNICAMP – SP sico, cloridrato de metformina e HbA1c = 7,5
Homem de 83 anos, institucionalizado, tem a 8,5%.
poliúria e febre há cinco dias. Desde o dia an-
terior está com alteração da consciência e já Duas glicemias de jejum acima de 125 mg/
está há 24 horas sem urinar. Usa, regularmen- dl confirmam o diagnóstico de diabetes mellitus,
te, metformina e glibenclamida por diabete o que não é nenhuma surpresa numa doente
tipo 2. Ao exame físico apresenta-se desidra- idosa, hipertensa e com sobrepeso. Confirma-
tado 4+/4; corado; eupneico; FC = 120 bpm; do o diagnóstico, o tratamento deve ser iniciado
PA = 90 x 60 mmHg; FR = 20 irpm; T.Ax. = de imediato, com orientações higieno-dietéticas
38,5ºC; Glasgow = 10. Ex. laboratoriais: glico- e farmacoterapia oral com metformina, a dro-
se = 600 mg/dl; creatinina = 2,2 mg/dl; ureia = ga de primeira linha no tratamento do DM 2 na
100 mg/dl; sódio = 156 mEq/l; potássio = ausência de contraindicações (como ClCr < 30
3,2 mEq/L; hemograma- leucocitose com ml/min). Lembre-se de que para pacientes mui-
neutrofilia e 12 % de bastonetes; urina I- leu- to idosos a meta de HbA1c fica entre 7,5-8,5%,
cócitos > 100/campo; hemácias em número pois valores mais baixos se associam com mais
normal e leucoesterase positiva. Assinale a hipoglicemia iatrogênica e maior morbimorta-
alternativa que contém os diagnósticos cor- lidade nessa população, sem auferir grandes
retos e o tratamento adequado. benefícios em termos de expectativa de vida, a
a) Sepse de foco urinário, diabetes descom- qual já é naturalmente mais baixa nesses indiví-
pensado, estimular a ingestão hídrica e admi- duos. Resposta: letra D.
nistrar insulina.
b) Estado hiperglicêmico hiperosmolar, sepse
de foco urinário e insuficiência renal aguda, RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 –
antibioticoterapia, hidratação intravenosa e R3 – CLÍNICA MÉDICA
insulina regular em infusão contínua. INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA
c) Cetoacidose diabética, sepse de foco uri- MÉDICA AO SERVIDOR
nário, antibioticoterpia e insulina regular sub- PÚBLICO ESTADUAL – SP
cutânea. Assinale a alternativa que apresenta o medi-
d) Insuficiência renal aguda, diabetes des- camento que MAIS se encaixa como um in-
compensado, diálise e insulina endovenosa. cretinomimético.
a) Acarbose.
Um idoso com hiperglicemia acentuada e sin- b) Repaglinida.
tomática (= 600 mg/dl), desidratação hipertôni- c) Liraglutida.
ca (hipernatrêmica), comprometimento hemo- d) Gliclazida.
dinâmico e alteração do sensório, na ausência e) Pioglitazona.
de cetoacidose, são elementos que configuram
um diagnóstico de estado hiperglicêmico hipe- Dentre os medicamentos com ação increti-
rosmolar. Trata-se de uma complicação aguda nomimética, isto é, aquelas que simulam a fun-
típica do DM tipo 2, geralmente desencadea- ção euglicêmica dos hormônios incretínicos,
da por algum insulto orgânico subjacente. No temos os inibidores da DPP-IV (“gliptinas”),
caso, temos febre, leucocitose e piúria com leu- enzima esta que inibe a degradação das in-
coesterase positiva na urina, isto é, um quadro cretinas e os análogos de GLP-1 (exenatide;
sugestivo de ITU! Como o paciente tem IRA liraglutide, lixisenatide), sendo o GLP-1 uma
pré-renal pela desidratação/sepse, ele deve das incretinas. Assim, nossa única resposta é
ser tratado com HV, insulina regular IV e ATB. a letra C.
Resposta: letra B.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 –


RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 – R3 – CLÍNICA MÉDICA
R3 – CLÍNICA MÉDICA INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA
FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICA AO SERVIDOR
MÉDICAS DA UNICAMP – SP PÚBLICO ESTADUAL – SP
Mulher de 80 anos com IMC = 27 kg/m2, hiper- São alvos da ação dos fármacos utilizados
tensa controlada tem glicemia = 162 mg/dl. para o tratamento do diabetes mellitus do
Repetido o exame, o resultado foi 174 mg/dl. tipo 2, EXCETO:
Como deve ser feito o tratamento e qual é o a) Cotransportador de sódio-glicose do tipo 2.
objetivo em relação ao controle do diabetes, b) Enzima dipeptidil peptidase 4.
usando-se como parâmetro a determinação c) Receptores nucleares PPAR gama.
da hemoglobina glicada? d) Enzima alfa-glicosidase.
a) Mudanças do hábito alimentar, atividade e) Enzima transglutaminase.
física e HbA1c = 7%.
b) Administração de sulfaniluréia e HbA1c = O SGLT-2 (cotransportador sódio-glicose
7,5 a 8,5%. tipo 2) é expresso no túbulo proximal e parti-

109
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 110

cipa da reabsorção de 90% da glicose filtra- caso em tela), só vamos iniciar a insulina
da pelo rim. Portanto, sua inibição promove a após reposição prévia de K+, pois a insuli-
excreção renal de glicose, com modesta re- na faz o K+ entrar nas células, o que pode
dução da glicemia. O GLP-1 (peptídeo 1 se- agravar agudamente a hipocalemia e de-
melhante ao glucagon) promove estímulo da sencadear uma arritmia ventricular fatal. Por
síntese e secreção de insulina dependente outro lado, se o K+ estiver na faixa normal
da glicemia, inibição da secreção de gluca- a insulina poderá ser iniciada de imediato,
gon e retardamento do esvaziamento gástri- devendo-se, contudo, repor K+ no soro con-
co. As gliptinas são inibidores da DPP-IV (di- comitantemente. A explicação é que como o
peptidil peptidase IV), droga que degrada o doente com CAD apresenta - por definição
GLP-1, que então fica mais disponível para - redução do pool corporal de K+ (espoliado
aumentar a secreção de insulina. Os recep- pela diurese osmótica secundária à glicosú-
tores nucleares PPAR gama são os alvos de ria, após saída do K+ de dentro das células
ação das glitazonas (tiazolidinedionas), que por efeito da acidose), mesmo tendo um K+
aumentam o efeito insulínico na captação e sérico inicialmente dentro da faixa de nor-
utilização energética da glicose, principal- malidade (o que não reflete a real magnitude
mente no músculo esquelético. Os inibidores do K+ corporal total) é esperada uma queda
da alfa glicosidase (acarbose) inibem a ab- do K+ sérico por efeito da insulina, devido a
sorção gastrintestinal de glicose. Já a enzima translocação de K+ do extra para o intrace-
transglutaminase é uma enzima de múltiplas lular. Se o K+ sérico inicial estiver elevado,
funções (apoptose, diferenciação celular, ci- começamos a insulina sem reposição de K+
toesqueleto...), mas não é um alvo terapêu- no soro, devendo iniciar tal reposição a par-
tico possível no diabetes mellitus. Resposta: tir do momento em que o K+ sérico atingir a
letra E. faixa de normalidade. Assim, para o nosso
paciente vamos fazer SF 0,9% + potássio. A
insulina fica para depois. Resposta: letra C.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 –
R3 – CLÍNICA MÉDICA
UNIVERSIDADE ESTADUAL RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 –
PAULISTA – SP R3 – CLÍNICA MÉDICA
Mulher de 16 anos apresenta poliúria, polifa- SANTA CASA DE MISERICÓRDIA
gia e dor abdominal há 2 dias. FC: 110 bpm; DE SÃO PAULO – SP
PA 80 x 50 mmHg. Exames complementa- Em relação à Cetoacidose Diabética (CAD) e
res: cetonúria ++++; creatinina 1,8 mg/dL; o Estado Hiperosmolar Hiperglicêmico (EHH)
ureia 219 mg/dL; glicemia 580 mg/dL; K + assinale a alternativa INCORRETA:
3,0 mEq/L; Na+167 mEq/L; HCO3-2,0 mEq/L; a) A CAD pode ocorrer no diabetes tipo 2 em
pH 7,0. A conduta inicial é: casos de grande estresse, como trauma e
a) S0,45% + potássio + noradrenalina. infecção.
b) S0,45% + insulina EV + diálise. b) São considerados diagnósticos diferen-
c) SF0,9% + potássio. cias de CAD: intoxicações alcoólicas e ou-
d) SF0,9% + bicarbonato de sódio+ insulina EV. tras substâncias, além de erros congênitos
metabólicos.
A ressuscitação emergencial de um qua- c) O quadro clínico da CAD e do EHH são se-
dro de Cetoacidose Diabética (CAD) depen- melhantes, com evolução insidiosa, dor ab-
de de três condutas básicas: (1) expansão dominal, náuseas e vômitos.
volêmica com SF 0,9%, (2) insulina regular d) A hidratação é ponto fundamental no trata-
intravenosa (bolus + infusão contínua) e (3) mento da CAD e do EHH.
reposição de K+. No entanto, nem sempre e) As complicações mais frequentes do trata-
essas três medidas poderão ser tomadas ao mento da CAD são a hipoglicemia e a hipo-
mesmo tempo. A expansão volêmica é a úni- calemia.
ca que SEMPRE poderá ser realizada ime-
diatamente, pois, em geral, portadores de Vamos analisar as alternativas separada-
CAD encontram-se bastante hipovolêmicos mente:
e desidratados. Vale lembrar, inclusive, que a) Apesar de ser uma complicação aguda
se a hipovolemia for grave (ex.: taquicardia, clássica do diabetes tipo I, a cetoacidose dia-
hipotensão arterial, sinais de má-perfusão bética pode ocorrer no diabetes tipo II de es-
periférica, oligúria), a expansão volêmica tresse extremo (infecções graves, trauma e
deverá preceder a administração de insuli- emergências cardiovasculares). (CORRETA)
na. A insulina faz a glicose entrar na célula,
levando consigo a água. Se dermos insuli- b) Outras causas de acidose e cetose aca-
na para o doente hiperglicêmico na vigência bam sendo diagnósticos diferencias da ce-
de hipovolemia esta será AGRAVADA, pois toacidose diabética, tais como cetoacidose
a glicose vai entrar nas células junto com a alcóolica, de jejum e erros inatos do metabo-
água intravascular, reduzindo ainda mais (e lismo. (CORRETA)
de forma súbita) o volume circulante efetivo. c) O estado hiperosmolar hiperglicêmico cos-
O resultado pode ser o choque circulatório. tuma evoluir de forma mais insidiosa, se ma-
Com o doente “volemicamente” reposto, an- nifestando inicialmente através de sintomas
tes de começar a insulina temos que olhar típicos de hiperglicemia (poliúria, polidipsia e
para o K+. Se este estiver baixo (como no perda ponderal), sendo seguido por manifes-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 111

tações neurológicas que podem culminar com tar presente no quadro clínico desses pacien-
coma. Enquanto isso, a cetoacidose diabéti- tes (correta).
ca costuma ter apresentação mais abrupta, Resposta: letra B.
com dor abdominal e vômitos. (INCORRETA)
d) A hidratação é o carro-chefe do tratamento
de ambas as complicações. (CORRETA) RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 –
R3 – CLÍNICA MÉDICA
e) Como uma parte importante do tratamento HOSPITAL DAS CLÍNICAS
da CAD é a administração parenteral de insu- DO PARANÁ – PR
lina, a hipoglicemia e a hipocalemia (uma vez Considere os seguintes dados: pH = 7,2;
que a insulina coloca a glicose para dentro da bicarbonato = 17 mEq/l; PCO = 33 mmHg;
célula e esta carreia consigo o potássio) são ânion-gap = 19. É compatível com acidose
complicações invariavelmente observadas. metabólica com ânion-gap aumentado:
(CORRETA) a) Hiperaldosteronismo primário.
Resposta: letra C. b) Síndrome de Liddle.
c) Diarreia.
d) Cetoacidose diabética.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 – e) Adenoma viloso do cólon.
R3 – CLÍNICA MÉDICA
HOSPITAL DAS CLÍNICAS A questão quer saber qual distúrbio justi-
DO PARANÁ – PR fica uma gasometria com acidose metabóli-
Você recebe um paciente com suspeita de ca com Ânion-Gap (AG) aumentado (normo-
crises de hipoglicemia. Com relação ao diag- clorêmica). Lembre-se que o AG aumenta
nóstico diferencial desses casos, assinale a sempre que ocorre um aumento de algum
alternativa INCORRETA. novo ânion no plasma que não seja o cloro
a) A base clínica para o diagnóstico é a docu- nem o bicarbonato. As principais causas são:
mentação da tríade de Whipple, preferencial- acidose lática (choque, PCR, sepse, convul-
mente confirmada por médico ou profissional sões, isquemia mesentérica), cetoacidose
de saúde. (diabética, alcoólica, jejum), síndrome urêmi-
b) A demonstração de glicemia de jejum normal ca e intoxicação exógena (salicilatos, meta-
exclui o diagnóstico de insulinoma. nol, etilenoglicol). Diarreia e perdas digestivas
c) Hiperinsulinemia absoluta ou relativa com do piloro para baixo são causas de acidoses
níveis altos de peptídeo C ocorre nos casos com AG normal (hiperclorêmicas) – LETRA C
de insulinoma e uso de sulfonilureias. incorreta. A diarreia do tumor viloso do cólon-
d) O tratamento intensivo de diabetes não -reto é a única exceção à regra, sendo causa
reduz complicações macrovasculares e au- de alcalose metabólica, ao invés de acidose
menta o risco de episódios hipoglicêmicos metabólica – LETRA E incorreta. Hiperaldos-
mais graves. teronismo primário e síndrome de Liddle não
e) Hipoglicemia precipitada pela ingestão são causas de acidose metabólica (letras A e
de álcool ou por jejum prolongado pode ser B incorretas). Resposta: LETRA D.
a manifestação inicial de hipopituitarismo na
vida adulta.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 –
Vamos analisar as alternativas separada- R3 – ENDOCRINOLOGIA
mente: ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO
A) A tríade de Whipple, a qual é formada pela RIO GRANDE DO SUL – RS
ocorrência de sintomas compatíveis com hi- Em relação à Cetoacidose Diabética (CAD),
poglicemia, na presença de níveis baixos de considere as seguintes assertivas:
glicose (medidos por um método confiável) e I. Falhas na aplicação de insulina, omissão
com posterior alívio dos sintomas após infu- ou redução nas doses e infecções são os
são de glicose, é, sem dúvida, a base clínica principais desencadeantes de CAD.
para o diagnóstico de hipoglicemia (correta). II. É a manifestação inicial do Diabetes Melito
tipo 1, independentemente da idade do pa-
B) Aproximadamente 10% dos pacientes com ciente.
insulinoma cursam apenas com hipoglicemia III. Se não receberem manejo apropriado, os
pós-prandial (incorreta). pacientes com CAD podem evoluir para ede-
C) Como tanto no insulinoma quanto no uso ma cerebral ou até mesmo óbito.
de sulfonilureias nós temos um aumento da IV. A cetoacidose alcoólica deve ser consi-
secreção de insulina, os níveis de peptídeo-C derada um diagnóstico diferencial, especial-
estarão aumentados (correta). mente em adolescentes e adultos jovens.
V. A leucocitose não faz parte dos achados
D) O tratamento intensivo do diabetes está laboratoriais comuns na CAD e prontamen-
associado a redução das complicações mi- te deve indicar o início de antibioticoterapia
crovasculares, e não das macrovasculares, empírica, enquanto se aguardam as culturas.
e pelo fato de buscar um controle glicêmico Quais estão corretas?
mais rigoroso, pode vir a predispor episódios a) Apenas I e III.
de hipoglicemia (correta). b) Apenas III e IV.
E) A hipoglicemia no hipopituitarismo ocor- c) Apenas I, II e III.
re pela redução da secreção de GH e ACTH d) Apenas I, III e IV.
(hormônios hiperglicemiantes), podendo es- e) Apenas II, III e V.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 112

A Cetoacidose Diabética (CAD) é uma da terapia manter a HbA1c < 7%. Nos pa-
complicação aguda clássica do DM tipo 1, cientes com diabetes diagnosticado há pou-
propiciada pela ausência completa ou qua- co tempo, elevada expectativa de vida e sem
se completa de insulina. Vamos analisar as doença cardiovascular significativa, valores
alternativas. mais baixos podem ser considerados (HbA1c
< 6,5%). Por outro lado, podemos ser mais
I – CORRETA – Em 90% dos casos de CAD é tolerantes com certos grupos em que não se
possível reconhecer um fator desencadean- provou benefício de um controle mais estri-
te, que costuma estar relacionado com uma to da glicemia, especialmente aqueles com
condição de estresse metabólico agudo (in- baixa expectativa de vida, com complicações
fecção, cirurgia etc), ou suspensão inadver- micro e macrovasculares avançadas e histó-
tida da insulinoterapia por um paciente com ria de hipoglicemia. Resposta: LETRA D.
DM tipo 1.

II – INCORRETA – Apenas uma minoria de RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 –


diabéticos tipo 1 abre a doença de forma tão R3 – CLÍNICA MÉDICA
abrupta que tem como primeira manifestação UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – SP
do diabetes a cetoacidose (a CAD é o primei- Mulher de 56 anos, assintomática, vem enca-
ro sintoma da doença em 17% dos adultos). minhada por achado de elevação de amino-
Em crianças e adolescentes, ela já assume transferases em exame de rotina. Anteceden-
uma importância maior, abrindo o quadro em tes pessoais: hipertensão arterial sistêmica;
até 30% dos casos. nega tabagismo ou etilismo. Nega transfusões
sanguíneas prévias. Exame clínico: Índice de
III – CORRETA – Uma das complicações da Massa Corpórea (IMC) = 30 kg/m²; circunfe-
CAD é o edema cerebral. Uma das explica- rência abdominal = 100 cm. Restante do exa-
ções para sua formação é a hiper-hidrata- me sem alterações. Exames laboratoriais: ALT
ção realizada durante o tratamento. Como = 102 UI/L; AST = 89 UI/L; fosfatase alcalina
os neurônios demoram a dissipar suas mó- = 85 UI/L; gama glutamil transpeptidase = 140
leculas osmoprotetoras, cria-se um gradiente UI/L; glicemia de jejum = 148 mg/dl; colesterol
osmótico, pois o SNC permanece transitoria- total = 198 mg/dl; triglicérides = 287 mg/dl;
mente hiperosmolar em relação ao plasma, hemoglobina = 11,0 g/dl; hematócrito = 33%;
criando um movimento de água para dentro volume corpuscular médio = 78 fl.; leucócitos
das células, com consequente edema celular. = 5200 células/mm³; plaquetas = 210.000/
mm³; ferritina = 980 µg/dl; saturação do ferro
IV – CORRETA – Outras causas menos co- = 46%. Qual é a provável causa para as alte-
muns de cetoacidose devem ser consideradas rações do perfil de ferro apresentado?
como diagnóstico diferencial da CAD, como a
cetoacidose alcoólica. Vejam que interessante: a preocupação
inicial que motivou o acompanhamento desta
V – INCORRETA – A CAD pode provocar pacientes foi uma hepatite, ao menos labora-
leucocitose neutrofílica de até 25.000/mm3, torial, já que apesar de assintomática, havia
mesmo na ausência de infecção. uma elevação de transaminases. Porém, na
investigação, embora não tenham solicitadas
Portanto, apenas as alternativas I, III e IV es- sorologias virais, pode-se dizer que ao excluir-
tão corretas. Resposta: LETRA D. mos o hábito etílico, estamos provavelmente
diante de uma esteato-hepatite não alcoólica,
cuja principal causa está relacionada aos com-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 – ponentes da síndrome metabólica.
R3 – ENDOCRINOLOGIA
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO GABARITO: SÍNDROME METABÓLICA OU
RIO GRANDE DO SUL – RS SÍNDROME PLURIMETABÓLICA.
Qual o padrão-ouro para o acompanhamento
em longo prazo do controle glicêmico de pa- Qual é o tratamento a ser instituído?
ciente com Diabetes Melito? A principal medida é a modificação dos há-
a) Glicemias de jejum. bitos de vida que levem à perda ponderal.
b) Glicemias de jejum e pós-prandiais. Além disso, apesar de termos apenas uma
c) Controle regular com glicemia capilar (HGT). dosagem da glicemia de jejum, não seria
d) Hemoglobina glicada. equivocado dizer que se trata provavelmen-
e) Frutosamina. te de uma paciente diabética e que, por isso,
já mereceria tratamento medicamentoso. In-
Todos os consensos concordam que o me- clusive, mesmo em pré-diabéticos de risco
lhor parâmetro de um bom controle glicêmi- mais elevado, a metformina teria o seu be-
co em diabéticos é a hemoglobina glicada nefício – daí a banca ter aceitado como parte
(HbA1c). Ela deve ser solicitada pelo menos da resposta também.
2 vezes por ano ou a cada 3 meses naque-
les que não atingiram o alvo terapêutico ou GABARITO: ATIVIDADE FÍSICA / DIETA HI-
que tenham alterado seu esquema terapêu- POCALÓRICA OU REDUÇÃO DE PESO /
tico. Atualmente, recomenda-se como alvo CLORIDRATO DE METFORMINA
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 113

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 – dos – a furosemida, posteriormente, poderia


R3 – MEDICINA INTENSIVA DISCURSIVA fazer parte do esquema.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – SP
- Diabetes com controle adequado com uso
Homem de 72 anos vem ao ambulatório para
combinado de metformina e insulina basal:
consulta de seguimento. Tem antecedente
devido à disfunção renal é prudente retirar a
de hipertensão arterial sistêmica, diabetes
metformina do esquema.
mellitus tipo 2 há 10 anos e doença renal
crônica. A ultrassonografia de vias urinárias - Disfunção renal avançada com proteinúria,
realizada durante a investigação evidenciou acidose metabólica e hiperfosfatemia, sem
sinais de nefropatia parenquimatosa com rins anemia: se não foi feito ainda, referenciar ao
normais em tamanho, sem estenose arterial nefrologista, além de iniciarmos tratamento
hemodinamicamente significativa ao doppler. com quelante de fosfato (carbonato de cálcio)
Estava em uso de atenolol 100 mg/dia, an- e reposição de bicarbonato. Como o hemató-
lodipino 10 mg/dia, metformina 850 mg crito está normal, não há indicação para o
2x/dia e insulina NPH 24UI SC ao deitar. Se- início de eritropoetina.
guia uma dieta hipocalórica, com refeições
GABARITO: captopril ou enalapril ou losarta-
em intervalos regulares. Traz exames de 3
na; anlodipino; atenolol; insulina NPH; carbo-
meses atrás, que evidenciaram: hemoglobina
nato de cálcio; bicarbonato de sódio (descon-
= 13,3 g/dl; hematócrito = 40%; leucócitos =
tar 1,5 se prescrever metformina).
9.400/mm³; creatinina = 2,8 mg/dl (clearance
estimado de 20 ml/min); ureia = 86 mg/dl;
sódio = 140 mEq/L e potássio = 3,8 mEq/L.
Hoje o paciente retorna sem queixas, manten- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 –
do boa aderência à terapia medicamentosa. R3 – CLÍNICA MÉDICA
Exame clínico: bom estado geral, FC = 58, FR HOSPITAL ANGELINA CARON – PR
= 16, PA = 168 x 90 mmHg, SatO2 = 98% em O primeiro objetivo diante de um paciente com
ar ambiente. Os exames cardiopulmonar, ab- cetoacidose é restabelecer as condições bá-
dominal e de membros inferiores não eviden- sicas de vida através de tratamento agressivo
ciaram anormalidades. Traz novos exames de e rápido do choque e da instabilidade hemo-
controle: hemoglobina = 13,0 g/dl; hematócri- dinâmica. Entre os cuidados gerais para um
to = 39%; leucócitos = 9.200/mm³; creatinina paciente nessas condições é incorreto:
= 2,7 mg/dl (clearance estimado de 21 ml/min); a) Avaliar o paciente na abordagem inicial
ureia = 80 mg/dl; sódio = 138 mEq/L; potássio quanto ao ABC.
= 3,9 mEq/L; cloro = 108 mEq/L; cálcio iônico b) Prevenir a aspiração por estase gástrica e
= 4,5 mEq/L; fósforo = 6,0 mEq/L; PTH = íleo metabólico nos pacientes que apresenta-
120 pg/dl; gasometria venosa: pH = 7,29; rem vômitos ou encontram-se torporosos.
pO2 = 40 mmHg; pCO2 = 34 mmHg; bicarbo- c) Implantar o tratamento insulínico mesmo
nato = 17 mEq/L; glicemia de jejum = em vigência de hipocalemia (< 3,3 mEq/L).
96 mg/dl, HbA1c = 6,5%; proteinúria de 24h d) Reidratar o paciente para recompor o volume
= 1,0 g/vol; ECG: sobrecarga de ventrículo intravascular, pois aumenta a sensibilidade à
esquerdo. Faça a nova prescrição ambulato- insulina e a resposta ao tratamento insulínico.
rial do paciente (não são necessárias doses). e) Aferir a glicemia capilar e revisar o estado
neurológico a cada hora.
Inicialmente, vamos listar e analisar os pro-
Não há dúvidas de que a abordagem inicial
blemas que este paciente apresenta:
com a sequência determinada pelo BLS (melhor
- HAS sem controle adequado com duas dro- seria C/A/B, mas vamos relevar...) é fundamen-
gas, já com lesão de órgão-alvo (betabloquea- tal para qualquer paciente grave – A correta.
dor e anlodipino): teremos de melhorar com a Também não há o que negar sobre as opções
adição de IECA ou BRA-II. Num paciente B, D e E que tratam simplesmente do manejo
idoso, com FC 58 bpm e sem cardiopatia is- inicial destes pacientes. No entanto, a opção C
quêmica, o betabloqueador não é um anti-hi- deve ser a resposta, pois a presença de níveis
pertensivo adequado, podendo ser retirado do adequados de potássio é condição básica para
esquema (o gabarito não contemplou este que a insulina seja iniciada. Isso porque a insu-
dado). Como já existe disfunção renal impor- lina promove o influxo celular de potássio, dimi-
tante, os tiazídicos não se encontram indica- nuindo a concentração sérica do íon.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 114

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 – R3 – PEDIATRIA


HOSPITAL MUNICIPAL DR. MÁRIO GATTI – SP
Quanto às características das insulinas, é correto afirmar que:
a) A insulina regular tem pico de ação mais tardio que a insulina NPH.
b) A insulina NPH tem duração de ação mais prolongada que a insulina regular.
c) A insulina Lispro tem início de ação mais lento que a insulina regular.
d) A insulina Lispro tem duração de ação mais prolongada que a insulina NPH.

Para respondermos esta questão, vamos recordar os principais tipos de insulina disponíveis:

Tipo de insulina Início de Ação Pico Duração


Ação ultrarrápida
- Lispro (Humalog®)
5-15 min 30 min-1h 3-5h
- Asparte (Novorapid®)
- Glulisina (Apidra®)
Ação Rápida 2-4h 5-8h
30 min-1h
- Regular
Ação Intermediária
- NPH 2-4h 6-12h 10-18h
- Lenta
Ação Prolongada
- Glargina (Lantus®) 2-4h Sem pico 20-24h
- Detemir (Levemir®) 1-3h 6-8h 18-22h

Assim, podemos dizer que a insulina regular tem pico mais precoce que a NPH (A errada);
que a Lispro tem início de ação mais rápido que a regular (C errada) e menos prologada que
a NPH (D errada). Resposta: letra B.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 – insulina regular) e hidratação venosa, houve


R3 – CLÍNICA MÉDICA redução significativa da glicemia e correção
SELEÇÃO UNIFICADA do pH sanguíneo, mas a cetonúria, medida
PARA RESIDÊNCIA MÉDICA por fita reagente, acentuou-se. Nesse caso, a
DO ESTADO DO CEARÁ – CE conduta mais indicada é:
Paciente obeso em avaliação de possível dia- a) Manter o mesmo tratamento utilizado, visto
betes retorna a seu consultório para iniciar seu que o comportamento da cetonúria medida
tratamento com os seguintes resultados de pelas fitas reagentes era esperado.
exames que você mandou repetir: glicemia de b) Aumentar a velocidade de infusão venosa
jejum 189 mg/dl e Hb glicosilada (A1C) 7,2%. de insulina e repetir a cetonúria após 6 horas
Você orienta mudanças no estilo de vida e do aumento da infusão.
inicia a medicação mais adequada. Qual o c) Pesquisar uma fonte não identificada de
mecanismo de ação desta medicação? infecção que pode aumentar a cetonúria e
a) Aumento da produção de glucagon. iniciar antibioticoterapia.
b) Redução da absorção intestinal de glicose. d) Mudar o tipo de insulina que estava sendo
c) Redução da produção hepática de glicose. usada para insulina ultrarrápida, que apresen-
d) Aumento da secreção pancreática da insulina. ta início de ação mais rápida.
e) Prolongamento da ação do peptídeo gluca-
gon-símile 1. Vamos aproveitar esta questão para re-
cordar um importante conceito a respeito
Apesar do enunciado mais rebuscado, não da avaliação da resposta ao tratamento da
podemos titubear! Diante de um paciente cetoacidose diabética. O principal parâme-
diabético adulto e obeso, ou seja, muito pro- tro de que nós dispomos é a compensação
vavelmente do tipo 2, a medicação mais ade- da acidose metabólica (HCO3 > 15 mEq/L,
quada para iniciar o tratamento é a metformi- AG < 12 e pH > 7,30), que ocorre após uma
na – uma droga que atua sobre a resistência média de 16 horas. Não devemos acom-
à insulina no fígado, levando à redução da panhar pela cetonúria! Lembre-se de que
produção hepática de glicose. Resposta: C. o corpo cetônico predominante no sangue
e na urina desses pacientes é o beta-hi-
droxibutirato. Contudo, a fita que mede a
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 – R3 – cetonúria não detecta o beta-hidroxibutira-
CLÍNICA MÉDICA to, mas sim o acetoacetato e a acetona. A
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO insulinoterapia, antes de depurar todos os
ONOFRE LOPES – UFRN – RN cetoânions, irá converter o beta-hidroxibuti-
Menina de 12 anos de idade, diabética tipo 1, rato em acetoacetato e pode até aumentar
deu entrada em serviço de urgência em Natal, a cetonúria logo após a compensação da
apresentando cetoacidose diabética. Após cetoacidose. Esta só desaparecerá numa
insulinoterapia (infusão contínua venosa de fase mais tardia. Resposta: A.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 115

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 – a) Insulina.


R3 – CLÍNICA MÉDICA DISCURSIVA b) Repaglinida.
UNIVERSIDADE FEDERAL SÃO PAULO – SP c) Metformina.
Paciente 64 anos, sexo feminino, afrodescen- d) Tiazolidinediona.
dente, menopausada apresenta hipertensão
arterial, dislipidemia, diabetes mellitus tipo 2. Temos nesse caso um paciente com dia-
Atualmente em uso de captopril 75 mg por dia, betes tipo 2 e controle metabólico francamen-
sinvastatina 20 mg por dia, propranolol 80 mg te inadequado (HbA1C > 10%!!!) e já em uso
por dia. Vem ao ambulatório de clinica médica de sulfonilureia. Dentre as comorbidades, é
com queixa de choro fácil, pesadelos, insônia, um cardiopata também descompensado (ede-
mialgia e constipação intestinal. Ao exame: ma + crepitação) e com creatinina tocada, o
Bom estado geral, hipocorada, eupneica, afe- que para um paciente de 62 anos já pode
bril. FR 12 ipm; PA 180 x 100 mmHg (sentada representar um grau importante de disfunção
e em pé); altura 1,50; peso 90 kg. Aparelho renal. O que fazer? Por conta da creatinina,
respiratório: sem alterações. Aparelho cardio- não iremos iniciar a metformina, melhor droga
vascular: ritmo cardíaco regular em dois tem- para a doença desse paciente diabético e
pos, bulhas normofonéticas com sopro sistóli- obeso. Também não poderemos fazer uso da
co em foco aórtico 2+/6+, abdome sem altera- glinida. A sulfonilureia deve ser retirada pelo
ções. Extremidades: edema membros inferio- mesmo motivo, já que se eleva o risco de hi-
res 2+/4+ Exames laboratoriais: Hb 9,0 g/L; poglicemia iatrogênica. A tiazolidinediona ou
Htc 28%; (VCM 80; HCM 28); leucócitos 8.000; glitazona não é uma droga adequada para
AP 90%; TGO 80 U/L; TGP 110 U/L; GGT90 pacientes portadores de insuficiência cardíaca
U/L; colesterol total 200 mg/dl; LDL 160 mg/dl; classe III. O que nos sobra então? Não havia
DHL 30 U/L; triglicérides 520 mg/dl; PCR 5 mg/L; nem o que perguntar. Com tamanha disglice-
glicemia de jejum 100 mg/dl; glicemia pós- mia, ainda que não apresentasse tais comor-
-prandial 220 mg/dl. Cite a classe de dois hipo- bidades, a insulina já seria a melhor opção.
glicemiantes orais para diminuir a glicemia pós- Resposta: A.
-prandial.

Observamos nesse caso que o principal RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 –


problema desta paciente é a glicemia pós-pran- R3 – NEFROLOGIA DISCURSIVA
dial. Tal fato costuma ser suspeitado quando HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
um paciente, apesar de glicemias de jejum PEDRO ERNESTO – RJ
normais, apresenta elevações da HbA1C. Um paciente de 48 anos, de raça negra, tem
Bom, mas que drogas deveríamos citar para diagnóstico de hipertensão arterial e diabetes
agir nesse caso? melito do tipo 2 há 7 (sete) anos. Ele faz uso
- Glinidas (nateglinida) (repaglinida) diário de clortalidona 12,5 mg, glimepirida
2 mg e metformina 1000 mg. A pressão arterial
- Inibidor da alfaglicosidase (acarbose) é de 146/86 mmHg e o índice de massa cor-
- Incretinomimeticos (sitagliptina) (vildagliptina). poral de 30 kg/m2. O restante do exame físico
é essencialmente normal. Um exame de san-
Cite dois tratamentos farmacológicos para gue, realizado dois anos antes, mostrava: ureia
obesidade nesta paciente. 32 mg/dl e creatinina 0,9 mg/dl. Na mesma
ocasião, o exame de elementos anormais e
Sibutramina e orlistate. Apesar das restrições sedimento urinário só mostrava glicosúria +/4+.
nacionais à sibutramina, para citar duas pos- No presente, a função renal encontra-se no
sibilidades, ela deve ser incluída na resposta. mesmo patamar e o resultado da pesquisa de
microalbuminúria em amostra isolada de urina
foi de 62 mg/g de creatinina (sendo o resultado
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 – confirmado com uma segunda coleta). Com-
R3 – CLÍNICA MÉDICA parando-se com o diabetes do tipo 1, qual é a
FACULDADE DE CIÊNCIAS probabilidade de haver progressão para nefro-
MÉDICAS DA UNICAMP – SP patia diabética? Justifique a resposta.
Homem, 62 anos, avaliado por mau controle
glicêmico. Ele tem diabete melito tipo 2 há 6 Ótima questão para ilustrar um conceito
anos, hipertensão, dislipidemia, doença corona- mais recente sobre nefropatia diabética. No
riana crônica e insuficiência cardíaca congestiva passado, acreditava-se que pacientes com
classe II-III. Está em uso de glibenclamida 15 diabetes do tipo 1 tinham maior probabilidade
mg/dia, AAS 100 mg/dia, captopril 75 mg/dia, de progressão, mas estudos longitudinais não
sinvastatina 40 mg/dia. Ao exame físico: pres- confirmaram essa observação. A probabilida-
são arterial 125/80 mmHg, pulso 84 bpm, índice de é semelhante, em torno de 20 a 40%, sen-
de massa corpóreo 33,1 kg/m2. Estertores cre- do ainda maior em indivíduos da raça negra.
pitantes em bases e edema de extremidades No entanto, como a prevalência de diabetes
(++/4). Exames laboratoriais: Glicemia jejum do tipo 2 é maior do que do tipo 1, também é
288 mg/dl, hemoglobina glicosilada 10,2%, maior a prevalência de nefropatia diabética
creatinina 1,8 mg/dl, AST 55 U/L e ALT 62 U/L. associada à diabetes do tipo 2.
QUAL A INTERVENÇÃO TERAPÊUTICA MAIS
APROPRIADA NO MOMENTO PARA CON- Qual a conduta terapêutica apropriada para
TROLAR A GLICEMIA DESTE PACIENTE? proteger a função renal do paciente?
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 116

Como existe excreção urinária aumentada de a) Para pacientes com microalbuminúria de-
albumina e o controle da pressão arterial está tectável, deve-se acrescentar Inibidores da
inadequado, há indicação de adicionar uma ECA ou bloqueadores do receptor de angio-
droga com ação sobre o sistema renina-an- tensina II para reduzir proteinúria e progressão
giotensina – um bloqueador do receptor da de doença renal.
angiotensina II ou um inibidor da sua enzima b) O controle estrito de glicemia para pacien-
conversora. A substituição do tiazídico, que tes com diabetes de longa duração e lesões
pode piorar a glicemia, por essas drogas órgãos-alvo avançadas não tem mostrado
também seria uma possibilidade. Medidas reduzir complicações microvasculares ou ma-
adicionais incluem bom controle da glicemia crovasculares em médio e longo prazo.
e dislipidemia. c) O controle estrito da glicemia no início da
doença tem se mostrado mais efetivo para
redução de complicações macrovasculares do
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 – que microvasculares em médio e longo prazo.
R3 – CLÍNICA MÉDICA d) O uso de terapêuticas adjuvantes, como
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE – RJ estatinas e aspirina, em pacientes com DM de
O Diabetes Mellitus tipo II é uma doença crô- longa duração, é fortemente indicado para
nica em que níveis glicêmicos persistentemen- prevenção de dano tecidual adicional e disfun-
te elevados acarretam em glicosilação não ção orgânica.
enzimática dos vasos sanguíneos, com conse-
quente isquemia, aterosclerose e lesão teci- Ora, a questão anterior da mesma prova
dual, levando a várias complicações e morbi- responde essa questão. Nesse caso, a letra
mortalidade aumentada. O controle da glicemia C vai de encontro ao conhecimento vigente já
é fundamental para redução das complicações que o benefício é maior para as complicações
do diabetes. Assinale, dentre as alternativas MICROvasculares. Resposta: C.
abaixo, aquela em que o controle estrito de
glicemia está FORTEMENTE INDICADO:
a) Paciente com diabetes de dois anos de RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 –
evolução, apresentando polineuropatia perifé- R3 – CLÍNICA MÉDICA
rica em luvas e botas. ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – PR
b) Paciente com creatinina de 2,9 mg/dl e pro- Os testes de triagem para diabetes devem ser
teinúria nefrótica para prevenção de doença considerados em indivíduos assintomáticos
renal crônica dialítica. acima de 45 anos e repetidos a cada 3 anos.
c) Paciente com diabetes e coronariopatia, Em qual das seguintes situações abaixo esta-
com placa obstruindo 80% na DA e 70% na riam indicados em pacientes mais jovens ou
CD para prevenção de IAM. com maior frequência?
d) Paciente de 86 anos apresentando retino- a) Pacientes com parentes de segundo grau
patia diabética não proliferativa e osteoporose. com diabetes.
b) Presença de hipertensão sistêmica.
Boa questão da prática para pensarmos c) Níveis de triglicerídeos acima de 200 mg/dl.
juntos. É claro que em todo paciente diabético d) Membros de uma população de risco, como
teremos como objetivo o controle glicêmico, os caucasianos.
sendo o alvo atual uma Hb glicosilada < 7%. e) Obesos com mais de 110% do peso corpo-
Contudo, sabemos também que o controle ral desejável.
estrito se mostrou mais importante para as
complicações microvasculares que as macro- Idade ≥ a 45 anos é fator de risco bem es-
vasculares, podendo ser até deletérias para tabelecido para diabetes mellitus, por isso a
estas últimas, segundo alguns trabalhos re- recomendação de se rastrear indivíduos as-
centes. Assim, esse controle mais rigoroso não sintomáticos após a entrada nesta faixa etária.
estaria indicado para o paciente da letra C, por Todavia, devemos lembrar que existem outros
exemplo. No caso da letra B, a principal me- fatores que podem igualmente indicar o scree-
dida seria o controle pressórico e da proteinú- ning ou modificar a idade de sua realização
ria com o uso de IECA ou antagonistas da como o sobrepeso acompanhado de: história
angiotensina II. E quanto às opções A e B que familiar em parente de PRIMEIRO grau; se-
representam importantes complicações micro- dentarismo; grupos étnicos de alto risco (mas
vasculares em que o controle mais apurado NÃO os caucasianos); história de parto ma-
da glicemia está indicado? Bom, cuidado... Na crossômico (pesquisar DM na mãe); hiperten-
opção D já temos um paciente com 86 anos!!! são arterial; dislipidemia (HDL ≤ a 35 mg/dl e
E sabemos que, quanto mais idosos e adoe- TG ≥ a 250 mg/dl); síndrome dos ovários
cidos, menor o benefício de um controle mais policísticos etc. Obesidade por si dó não indi-
rigoroso. Resta-nos então a opção A, já que a caria. Assim, dentre as opções, ficaremos com
neuropatia diabética requer como principal a letra B.
medida justamente o ajuste da glicemia.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 –


RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 – R3 CLÍNICA MÉDICA
R3 – CLÍNICA MÉDICA ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – PR
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE – RJ Qual das medicações abaixo diminui a absor-
Com relação ao Diabetes Mellitus (DM), assi- ção intestinal de carboidratos, podendo ser
nale a afirmativa INCORRETA: utilizada no tratamento do diabetes melitus?
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 117

a) Ezetimibe. pacientes com diabete mellitus, poliarterite


b) Acarbose. nodosa e síndrome de Guillain-Barré, são,
c) Sitagliptina. respectivamente:
d) Metformina. a) Polineuropatia desmielinizante, mononeu-
e) Glimepirida. rite múltipla, polineuropatia axonal.
b) Polineuropatia desmielinizante, polineuro-
A famosa acarbose (Glucobay®) é um ini- patia axonal, mononeurite múltipla.
bidor da enzima alfaglicosidase, responsável c) Polineuropatia axonal, mononeurite múlti-
pela absorção de carboidratos na mucosa pla, polineuropatia desmielinizante.
intestinal. É pouco utilizada nos dias de hoje d) Polineuropatia axonal, polineuropatia des-
devido a um importante - e incômodo - efeito mielinizante, mononeurite múltipla.
adverso: a flatulência. Resposta: B. e) Mononeurite múltipla, polineuropatia axonal,
polineuropatia desmielinizante.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 Uma questão que resume três grandes cau-
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ANTÔNIO sas de neuropatia periférica: a primeira, por
PEDRO – RJ – R3 – CIRURGIA GERAL diabetes, caracterizada por uma polineuropatia
A insuficiência respiratória na obesidade mór- distal simétrica, de cunho axonal, pegando
bida está associada tanto à síndrome de obe- precocemente fibras grossas; a segunda, as-
sidade/hipoventilação, quanto à síndrome de sociada à poliarterite nodosa na forma de vas-
apneia obstrutiva do sono, ou a uma combi- culite, levando classicamente ao padrão de
nação das duas, o que é comumente chama- mononeurite múltipla; e, por último, a síndrome
da de: de Guillain-Barré, cuja marca é o processo
a) Apneia de Wernick. desmielinizante do sistema nervoso periférico,
b) Síndrome de Pickwick. levando a um quadro essencialmente motor,
c) Síndrome de compressão brônquica. simétrico e ascendente. Resposta: C.
d) Síndrome de “windflow”.
e) Apneia de Hoffler.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
A síndrome de Pickwick é um dos nomes HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ANTÔNIO
classicamente utilizados para a designação da PEDRO – UFF – R3 – CIRURGIA
síndrome obesidade-hipoventilação, caracteri- A colecistite aguda enfisematosa é mais co-
zada por obesidade (IMC > 30) e hipoventilação mumente encontrada em pacientes:
com o paciente acordado (PaCO2 > 45 mmHg), a) Jovens do sexo feminino com história fami-
não podendo ser atribuída a outros distúrbios liar de colelitíase.
como doença pulmonar, restrição óssea, fra- b) Do sexo masculino e em portadores de
queza neuromuscular, hipotireoidismo ou pleu- diabetes mellitus.
ropatia. Muitos desses pacientes apresentam c) Do sexo masculino com história de alcoolismo.
também a Síndrome da Apneia/Hipopneia d) Idosos e portadores de hiperparatireoidismo.
Obstrutiva do Sono (SHAOS), condição carac- e) Do sexo feminino, multíparas e portadoras
terizada por sonolência diurna associada a de hipoparatireoidismo pós-operatório.
episódios frequentes de hipopneia e/ou apneia
durante o sono, também frequentemente asso- A colecistite enfisematosa (colecistite com
ciada à obesidade. Veja que houve um peque- gás na parede e no interior da vesícula biliar)
no erro conceitual na questão, já que a síndro- é uma forma incomum de colecistite aguda,
me de Pickwick corresponde à síndrome obe- porém de instalação mais rápida e curso clí-
sidade-hipoventilação, e não à combinação nico mais grave que a colecistite aguda con-
desta com a SHAOS. vencional. Seu tratamento deve sempre ser
cirúrgico, e realizado precocemente. Acomete
O nome desta síndrome remete ao persona- preferencialmente os pacientes do sexo mas-
gem Joe, da obra “As aventuras de Pickwick” culino, idosos (> 60 anos) e, especialmente,
do escritor inglês Charles Dickens, de 1830. diabéticos. Resposta: B.

Apenas um lembrete:
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
Qual é o outro “Pick” que você deve saber para INSTITUTO DO CÂNCER DO CEARÁ – ICC
as provas??? É a doença de Pick, também – R3 – CLÍNICA MÉDICA
conhecida como demência frontotemporal, Paciente masculino, 53 anos, em campanha
marcada por alterações primariamente do de prevenção no posto de saúde apresenta
comportamento, geralmente com algum grau glicemia sérica de 240 mg/dl tendo almoçado
de desinibição sexual. há três horas. Relata que tem sentido muita
sede e reporta fraqueza e tontura recorrentes.
Neste momento, qual é a conduta adequada?
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 a) Encaminhá-lo para tratamento de diabetes
HOSPITAL SÃO LUCAS DA PUC – mellitus.
RS – R3 – CLÍNICA MÉDICA b) Realizar o teste em jejum, uma vez que o
Em relação às neuropatias periféricas, as for- fato de ter almoçado impossibilita a avaliação
mas clínico-eletromiográficas típicas para do teste.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 118

c) Realizar o teste de tolerância à glicose oral. Agora sim, vejamos o que foi encontrado na
d) Repetir o teste em um ano uma vez que a análise desse estudo... Após 10 anos de acom-
glicemia pós-prandial está normal. panhamento, os principais resultados foram:
e) Encaminhá-lo ao pronto-socorro para insu-
linoterapia. • O controle glicêmico do grupo intensivo com
manutenção de uma hemoglobina glicada em
A presença de sintomas de hiperglicemia 7%, em comparação com 7,9% do grupo de
e descompensação metabólica aguda (ou tratamento conservador, reduziu significati-
sintomas óbvios de diabetes) associados a vamente a instalação de complicações mi-
uma glicemia ao acaso (não há necessidade crovasculares, como retinopatia, nefropatia
de ser de jejum) ≥ 200 mg/dl já estabelecem e neuropatia. Para cada redução de 1% da
o diagnóstico de diabetes mellitus. Sendo as- hemoglobina glicada se observou uma redu-
sim, o paciente já deve iniciar o tratamento! ção de 35% de complicações microvascula-
Resposta: A. res (A CORRETA).

• O controle mais estrito da PA reduziu signi-


RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 ficativamente o número de acidentes vascu-
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO lares cerebrais, mortes relacionadas ao dia-
DE MATO GROSSO DO SUL – betes, insuficiência cardíaca, complicações
UFMS – R3 – CLÍNICA MÉDICA microvasculares e amaurose (B CORRETA).
O UKPDS (United Kingdon Prospective Dia-
betes Study) demonstrou vários resultados • Não houve no UKPDS diferença significativa
importantes, EXCETO: na incidência de complicações macrovascu-
a) O controle glicêmico intensivo com manu- lares entre o grupo intensivo (glicada de 7%)
tenção de uma hemoglobina glicada em 7%, e o grupo controle (glicada de 7,9%) – C
em comparação com 7,9% do grupo de con- ERRADA.
trole glicêmico conservador, reduziu significa-
tivamente a instalação de retinopatia, nefro- • Não houve diferença entre o tratamento an-
patia e neuropatia. ti-hipertensivo com betabloqueadores (ate-
b) O controle adequado da PA (130/85 mmHg) nolol) ou inibidores da ECA (captopril) no que
reduziu significativamente o número de aciden- diz respeito a mortes relacionadas ao diabe-
tes vasculares cerebrais, mortes relacionadas tes, infarto agudo do miocárdio e complica-
ao diabetes, insuficiência cardíaca, complica- ções microvasculares (D CORRETA).
ções microvasculares e amaurose.
c) O tratamento intensivo reduz significativa- • O grupo de tratamento intensivo com sulfo-
mente as complicações macrovasculares do nilureias, ou com insulina, não apresentou
diabético quando comparado ao tratamento aumento do risco de doença cardiovascular
convencional. ou morte, apesar do maior ganho de peso e
d) Não houve diferença entre o tratamento maior insulinemia nesses pacientes, quando
anti-hipertensivo com betabloqueadores ou comparados ao grupo com tratamento con-
inibidores da ECA no que diz respeito a mortes vencional. Resposta: C.
relacionadas ao diabetes, infarto agudo do
miocárdio e complicações microvasculares.
e) O tratamento intensivo com sulfonilureias, RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
ou com insulina, não aumentou o risco de HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFSC – R3
doença cardiovascular ou morte, apesar do – CLÍNICA MÉDICA
maior ganho de peso e maior insulinemia nes- Um paciente negro, 54 anos, que trabalha
ses pacientes, quando comparados ao grupo em fábrica de lâmpadas apresenta os se-
com tratamento convencional. guintes exames laboratoriais: gasometria ar-
terial pH 7,30, pO2 85, pCO2 37, Bicarbonato
Uma pausa para respondermos essa ques- 19. Parcial de Urina: pH 5,2, 10.000 leucó-
tão: o que foi o estudo UKPDS??? citos, 5.000 hemácias, proteínas ++, glico-
se++. Exames séricos: Glicemia de jejum
Saiba Mais! 88 mg/dl, hemoglobina glicosilada 5,5, só-
O UKPDS (United Kingdon Prospective Dia- dio 138 mEq/L, potássio 3,0 mEq/L, Cloro
betes Study) foi um estudo desenhado para 108 mEq/L, Hemoglobina 10,9 g/dl, VCM 88,
avaliar a eficácia de diferentes regimes de hemácias normocrômicas. Em relação a es-
tratamento do diabetes (dieta, sulfonilureia, tes dados fornecidos, não se constitui uma
metformina e insulina) no controle glicêmico hipótese diagnóstica para esse paciente:
e nas complicações de aproximadamente a) Diabetes mellitus.
4000 pacientes com diagnóstico recente de b) Intoxicação por mercúrio.
diabetes tipo 2. Os pacientes foram divididos c) Mieloma múltiplo.
em dois grupos: (1) Grupo de tratamento d) Doença de Wilson.
intensivo, que recebeu tratamento com sulfo- e) Amiloidose.
nilureia ou insulina + metformina; e (2) Grupo
de tratamento convencional, que era tratado Vamos analisar os dados: para começar,
somente com dieta, sendo que medicações uma glicemia de jejum de 88 mg/dl e uma he-
apenas eram iniciadas se houvesse sintomas moglobina glicada de 5,5% não são compatí-
ou glicemia > 270 mg/dl. veis com o diagnóstico de diabetes mellitus!!!
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 119

Mas... E a glicosúria??? A glicosúria pode ocor- glicêmico em diferentes horários do dia; e (2)
rer quando o rim não é capaz de reabsorver Estabelecer a quantidade necessária de in-
a glicose filtrada no túbulo proximal, apesar sulina antes das refeições para obtenção de
dos níveis plasmáticos normais (é a chamada uma meta glicêmica.
glicosúria renal) ou quando a quantidade de
glicose filtrada supera a capacidade de reab- Resposta: D.
sorção do rim (geralmente quando a glicemia
plasmática é superior a 180 mg/dl). A glicosú-
ria renal pode ocorrer como defeito isolado ou RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
estar associado a outras disfunções do túbulo HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFSC – R3
proximal, como hipofosfatemia (hiperfosfatú- – CLÍNICA MÉDICA
ria), hipouricemia (hiperuricosúria), acidose Os critérios diagnósticos de estado hiperos-
tubular renal e aminoacidúria. Estas altera- molar hiperglicêmico, segundo a American
ções, em conjunto, caracterizam a síndrome Diabetes Association, são:
de Fanconi, cujas causas incluem doença de a) Glicemia capilar > 250 mg/dl; cetonemia; e
Wilson, mieloma múltiplo, amiloidose e intoxi- pH < 7,3.
cação por metais pesados (chumbo, mercúrio b) Glicemia > 400 mg/dl; osmolalidade > 320
etc.). Resposta: A. mosm/kg de água; e pH > 7,3.
c) Glicemia > 600 mg/dl; sódio > 150 mEq/L
e pH < 7,3.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 d) Glicemia > 600 mg/dl; osmolalidade > 320
Hospital Universitário mosm/kg de água; e pH > 7,3.
Onofre Lopes – e) Glicemia > 600 mg/dl; osmolalidade > 320
UFRN - HUOL – R3 – PEDIATRIA mosm/kg de água; e pH < 7,3.
Acerca do tratamento de pacientes diabéti-
cos de tipo 1, é correto afirmar que: Questão direta! Resposta: D. Aproveite
a) O rodízio de locais de aplicação de insuli- para rever os critérios:
na não é necessário em crianças pequenas.
b) Os análogos de insulina (rápidos e basais)  Hiperglicemia extrema
devem ser usados desde o início da doença. (Glicemia > 600 mg/dl)
c) O uso de carboidratos de absorção rápida  Hiperosmolaridade acentuada
não pode ser restringido em crianças diabéticas. (Osm efetiva pl > 320 mOsm/L)
d) A adoção de rotina de automonitorização  Ausência de acidose e cetose im-
frequente é indispensável para um bom con- portante
trole da doença. (pH > 7,30, HCO3 > 18 mEq/L, ce-
tonúria < +2)
Vamos analisar as alternativas:

A ERRADA: A lipoatrofia é uma complicação


da repetição da aplicação de insulina em um RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
mesmo sítio e pode ser prevenida pelo rodízio UNIVERSIDADE FEDERAL DE
adequado dos locais de aplicação. Isto vale SÃO PAULO – UNIFESP –
para todos os pacientes diabéticos (crianças R3 – CLÍNICA MÉDICA
e adultos). Entre as ações dos medicamentos utilizados
para o tratamento do diabetes mellitus do tipo
B ERRADA: Os análogos de insulina ultrar- 2, é correto afirmar que:
rápidos (lispro, aspart e glulisina) e de ação a) Os miméticos do GLP1 diminuem o tempo
lenta (glargina e detemir) são excelentes op- de esvaziamento gástrico e aumentam a se-
ções de insulina para o tratamento de pacien- creção de glucagon.
tes diabéticos tipo 1. Entretanto, não devem b) As sulfonilureias estimulam a secreção de in-
ser usados obrigatoriamente desde o início sulina e inibem a produção hepática de glicose.
da doença. As insulinas NPH e regular po- c) As glitazonas inibem a produção hepática
dem ser utilizadas para o tratamento destes de glicose, suprimem a produção de ácidos
pacientes. graxos não esterificados e a perda de glicose
na urina.
C ERRADA: A terapia nutricional é de extre- d) Os inibidores da alfaglicosidase inibem a
ma importância no tratamento dos pacientes absorção de glicose intestinal e diminuem a
com diabetes do tipo 1, sendo que a restrição secreção das incretinas.
de carboidratos de absorção rápida (como a e) A metformina aumenta a sensibilidade he-
sacarose) é uma das medidas adotadas na pática à insulina e diminui a produção hepáti-
dieta, inclusive de crianças. Antigamente a ca de glicose.
sacarose era totalmente excluída da dieta
dos diabéticos. Atualmente, tem-se permitido Vamos analisar as alternativas:
que corresponda a no máximo 10% do total
dos carboidratos. A ERRADA: Os incretinomiméticos análogos
do GLP1, como o exenatide, agem aumen-
D CORRETA: A automonitorização glicêmica tando a secreção de insulina estimulada pela
é fundamental no tratamento intensivo dos glicose, suprimindo o glucagon e retardando
pacientes com diabetes tipo 1. Seus princi- o esvaziamento gástrico (ou seja, aumentan-
pais objetivos são: (1) determinar o controle do o tempo de esvaziamento gástrico).
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 120

B ERRADA: O mecanismo de ação das sul- sulina (fases avançadas), resistência à insuli-
fonilureias é através da estimulação direta da na, produção hepática excessiva de glicose e
secreção basal de insulina pelas células be- metabolismo lipídico alterado. Os genes que
tapancreáticas. o predispõem ainda não foram completamen-
te identificados, porém polimorfismos nos ge-
C ERRADA: As glitazonas intensificam o ar- nes da calpaina 10, PPAR-gama, KCNJ11 e
mazenamento dos ácidos graxos e reduzem TCF7L2 podem estar envolvidos.
a resistência periférica à insulina através do
estímulo à expressão dos receptores mus- C ERRADA: A resistência insulínica no fíga-
culares GLUT4. Também podem, em menor do se reflete na incapacidade da hiperinsuli-
grau, inibir a gliconeogênese hepática, mas nemia suprimir a gliconeogênese, resultando
não têm efeito conhecido sobre a glicosúria. em aumento da produção hepática de glicose
durante o jejum (principalmente à noite).
D ERRADA: inibidores da alfaglicosidase (acar-
bose) inibem a absorção gastrointestinal de gli- D correta: O aumento dos ácidos graxos não
cose, porém não reduzem a secreção de incre- esterificados, citoquinas inflamatórias (TNF-
tinas. -alfa), adipoquinas e disfunção mitocondrial
concorrem para o desenvolvimento da resis-
E CORRETA: A metformina inibe a gliconeo- tência à ação da insulina.
gênese hepática através do aumento da sen-
sibilidade hepática à insulina e ainda reduz E correta: a resistência insulínica se carac-
a resistência periférica à insulina (de forma teriza pela incapacidade da insulina exer-
menos intensa que as glitazonas). cer seus efeitos nos tecidos alvos, sendo
um defeito proeminente do diabetes do tipo
Resposta: E. 2. Esta resistência resulta da combinação
de fatores genéticos e obesidade. A resis-
tência insulínica isoladamente pode não ser
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 capaz de desenvolver o diabetes tipo 2 em
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO todos pacientes, já que indivíduos normais
– UNIFESP – R3 – CLÍNICA MÉDICA também podem ter uma baixa sensibilidade
Com relação ao diabetes mellitus do tipo 2, à insulina.
qual das afirmações não está correta?
a) Glicotoxicidade, lipotoxicidade e formação Resposta: C.
amiloide concorrem para a disfunção da cé-
lula beta.
b) Polimorfismos nos genes para calpaina RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
10, PPAR-gama, KCNJ11 e TCF7L2 podem ALIANÇA SAÚDE – PUC – PR –
estar envolvidos na predisposição genética R3 – CLÍNICA MÉDICA
da doença. Com relação à polineuropatia em pacientes
c) A produção hepática de glicose no dia- com diabetes mellitus, é CORRETO afirmar:
betes mellitus do tipo 2 está diminuída e é I. O processo de glicosilação não enzimáti-
responsável pela tendência à hipoglicemia ca avançada não acarreta dano às proteínas
noturna é hiperglicemia de jejum. nervosas.
d) Aumento dos ácidos graxos não esterifi- II. O controle sanguíneo da glicemia não con-
cados, citoquinas inflamatórias, adipoquinas segue reduzir a gravidade dos acometimen-
e disfunção mitocondrial concorrem para o tos neuropáticos.
desenvolvimento da resistência à ação da III. A polineuropatia simétrica é a forma de neu-
insulina. ropatia mais frequente nesta doença.
e) Aproximadamente 25% dos indivíduos nor-
mais podem ter sensibilidade à insulina tão a) Todas estão corretas.
baixa como as encontradas nos indivíduos b) Apenas a I está correta.
com diabetes mellitus do tipo 2. c) Apenas a I e III estão corretas.
d) Todas estão incorretas.
Vamos analisar as alternativas: e) Apenas a III está correta.

A correta: a sensibilidade à insulina e sua se- Vamos analisar as alternativas:


creção estão inter-relacionadas. Inicialmente,
a secreção de insulina aumenta em resposta I ERRADA: O comprometimento do sistema
ao aumento da resistência insulínica. Com o nervoso periférico é uma complicação crôni-
tempo surge disfunção da célula beta e a se- ca frequente do diabetes mellitus, afetando
creção de insulina diminui, sendo que alguns até 50% dos pacientes DM do tipo 2 e pa-
fatores que estão envolvidos nesta disfunção cientes DM tipo 1 em menor proporção. O
são a glicotoxicidade (elevação dos níveis de mecanismo proposto para tal complicação
glicose prejudicando a função da célula beta), é uma combinação de um efeito metabóli-
a lipotoxicidade (elevação dos ácidos graxos co (hiperglicemia, glicação não enzimática,
livres prejudicando a função da célula beta) e estresse oxidativo, ativação da proteína C
formação de substância amiloide. quinase, etc) dependente do acúmulo de
sorbitol nos axônios, associado ao compro-
B correta: o diabetes mellitus do tipo 2 é ca- metimento isquêmico endoneural, devido à
racterizado por deficiência na secreção de in- lesão microvascular.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 121

II ERRADA: A hiperglicemia é um fator etio- quirida): parece que os hormônios tireoidia-


lógico importante da neuropatia, conforme nos aumentam a atividade da Na/K ATPase.
evidenciado pelos estudos DCCT e UKPDS, O tratamento das crises de PHP é realizado
que também mostraram que o controle gli- com a administração oral de cloreto de po-
cêmico reduz a incidência desta e de outras tássio (60 a 120 mEq), que costuma resolver
complicações microvasculares. os episódios em 15-20 minutos. Resposta: C.

III CORRETA: A polineuropatia simétrica


distal é a forma mais comum de neuropa- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
tia diabética. Esta forma de neuropatia está HOSPITAL DAS CLÍNICAS
relacionada à exposição crônica à hipergli- DO PARANÁ – HC – UFPR –
cemia, possui caráter insidioso e irreversí- R5 – NEUROFISIOLOGIA
vel, podendo ser uma das manifestações de Quanto ao tratamento dos sintomas na
abertura do quadro de DM2. Os sintomas po- neuropatia diabética, assinale a alternativa
dem ser brandos ou extremamente limitan- correta.
tes. Os sintomas são referidos inicialmente a) A lamotrigina, um antidepressivo tricíclico,
nos pés, especialmente na região plantar e é o tratamento de escolha na fase inicial da
variam desde parestesias (dormência, formi- dor neuropática.
gamento), disestesias, a dor neuropática ou b) Analgésicos tópicos (capsaicina) devem
hiperpatia (dor ao toque). A dor é o sintoma ser utilizados principalmente quando existi-
mais limitante, podendo surgir em repouso, rem lesões ulceradas.
geralmente com caráter em queimação, pio- c) A fludrocortisona deve ser utilizada nos ca-
ra noturna (impedindo o paciente de dormir) sos de neuropatia dolorosa grave.
e melhorando com a deambulação. d) Os antidepressivos tricíclicos podem ser
utilizados como primeira escolha na dor neu-
Resposta: E. ropática.
e) Os bloqueadores de canal de cálcio não de-
vem ser utilizados nesse tipo de neuropatia.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
HOSPITAL SÃO LUCAS DA PUC-RS – R3 – Questão bem específica sobre a neuropa-
CLÍNICA MÉDICA tia diabética... Ótima para o treinamento do
Homem, 17 anos, atleta, diabético insulino- R3. Vamos conferir!!
dependente e asmático, apresenta históri-
co de consultas no setor de emergência por No tratamento sintomático da neuropatia dia-
paralisias temporárias dos MsIs. Que exame bética dolorosa várias medicações podem
laboratorial melhor contribui para o esclare- ser usadas, incluindo:
cimento desta situação clínica?
a) Glicemia. (1) Antidepressivos tricíclicos: vários estudos
b) Cortisolemia. já demonstraram benefícios destas medica-
c) Potassemia. ções no tratamento da dor neuropática, par-
d) Natremia. ticularmente da amitriptilina e da imipramina.
e) Magnesemia. São drogas consideradas de primeira linha
e que atuam através do efeito modulador da
Questão bem difícil!!! Você já matou o atividade dos receptores nociceptivos das fi-
diagnóstico??? bras C e no bloqueio da recaptação sináptica
de noradrenalina nos sistemas de controle da
A Paralisia Hipocalêmica Periódica (PHP) é dor. A lamotrigina não é um antidepressivo tri-
uma doença rara caracterizada por episó- cíclico, mas sim um anticonvulsivante.
dios potencialmente fatais de fraqueza mus-
cular e paralisia, que podem atingir inclusive (2) Anticonvulsivantes: a gabapentina e a
a musculatura respiratória. Durante as crises pregabalina são medicações que já demons-
ocorre uma súbita movimentação do potás- traram benefício no tratamento da neuropa-
sio para o interior da célula, diminuindo a tia. A Fenitoína não é recomendada para
concentração plasmática do potássio em 1,5 este tratamento.
a 2,5 mEq/L. Estes ataques podem ser pre-
cipitados por exercício, estresse e por uma (3) Inibidores seletivos da recaptação da se-
refeição rica em carboidratos, que são situa- rotonina e noradrenalina: a duloxetina é um
ções associadas a liberação de adrenalina e representante deste grupo que já demons-
insulina. Lembre-se de que a insulina é ca- trou benefício no tratamento da neuropatia
paz de colocar o potássio para dentro da cé- diabética.
lula, sendo por isso, usada como tratamento
da hipercalemia. Portanto, em um paciente (4) Ácido alfalipoico: também chamado de
diabético (que usa insulina) e asmático (que ácido tióctico, pode ser utilizado no tratamen-
usa beta-agonistas adrenérgicos) a hipocale- to da neuropatia pelo seu efeito antioxidante.
mia pode ocorrer. A patogênese da forma fa- Seus efeitos benéficos já foram demonstra-
miliar da PHP é desconhecida, sendo que a dos por alguns estudos de curto prazo. Por
doença é de transmissão autossômica domi- isso, esta medicação fica reservada para os
nante. A PHP também pode ser encontrada pacientes que não responderam ou não tole-
em pacientes com tireotoxicose (forma ad- ram os tricíclicos ou os anticonvulsivantes.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 122

(5) Opioides: drogas como o tramadol, a oxi- d) Hipertensão arterial.


codona e a metadona podem ser utilizadas
em casos selecionados para o alívio da dor. Ninguém tem dúvidas de que a acantose
nigricans está relacionada à síndrome meta-
(6) Creme de capsaicina a 0,075%: uma bólica, não é verdade? E justamente por estar
substância presente na pimenta que age ini- associada à resistência insulínica, relaciona-
bindo o neurotransmissor substância P, pode se também à obesidade, diabetes tipo 2 etc.
ser indicada para casos de dor localizada. Ir- Resposta: A. Outras causas seriam drogas
ritação local pode ocorrer com o tratamento, que levam à resistência insulínica como cor-
portanto, não devemos utilizar este creme em ticoides e niacina ou endocrinopatias como a
lesões ulceradas. síndrome de Cushing. Aproveitando a oportu-
nidade, vamos recordar que essa é uma con-
(7) Fludrocortisona: é utilizada no tratamento dição nem sempre tão benigna, podendo es-
da neuropatia diabética autonômica, para pa- tar associada a algumas doenças neoplásicas
cientes com hipotensão postural. (sobretudo gastrointestinais e pulmonares).
Embora o mecanismo não esteja bem defini-
(8) Bloqueadores do canal de cálcio: não são do, a hipótese é a mesma: atuação de fatores
usualmente utilizados no tratamento da neu- de crescimento sobre a pele, principalmente
ropatia diabética, mas podem ser úteis em nos queratinócitos (daí seu aspecto elevado).
pacientes que apresentem taquicardia de- As lesões costumam ser assintomáticas, mas
corrente da disautonomia e que apresentam alguns pacientes podem se queixar de dor e
contraindicações aos betabloqueadores. cheiro desagradável. O diagnóstico é clínico,
embora em casos duvidosos, possamos reali-
Resposta: D. zar biópsia que mostrará hiperqueratose, pa-
pilomatose epidérmica e aumento do núme-
ro de melanócitos. O tratamento consiste na
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 perda ponderal e no tratamento da doença de
HOSPITAL DA POLÍCIA MILITAR – HPM – base (mesmo as malignidades). Preparações
MG – R5 – ENDOSCOPIA queratolíticas à base de retinoide podem ser
A presença de Acantose nigricans pode estar usadas, bem como terapia com laser. Em al-
relacionada à: guns casos, é necessária a utilização de sa-
a) Diabetes mellitus. bões antibacterianos para limpeza local ou
b) Tireoide palpável. mesmo antibióticos tópicos na presença de
c) Menarca precoce. odor fétido.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 123

MED R3
CIRURGIA GERAL

SEÇÃO 2 – obesidade
(CIRURGIA BARIÁTRICA)

 Tema campeão de questões para o R3 de Cirurgia!!! Muitas das questões


que já colocamos sobre o tema na nossa apostila apareceram tanto para R1
como R3. Sendo assim, sugerimos que você retorne ao capítulo e as reveja.

123
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 124

Questões R3 – cIRURGIA geral


RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 – d) Maior que 60 kg/m2.
R3 – MASTOLOGIA e) Maior que 65 kg/m2.
HOSPITAL NACIONAL DO CÂNCER – RJ
O tratamento cirúrgico da obesidade mórbida De acordo com a OMS, classificamos os
é conhecido como cirurgia bariátrica. Ele tem pacientes de acordo com IMC da seguinte
sua origem nos anos de 1950. Existem inúme- forma:
ras operações para o tratamento da obesida- - Peso normal: IMC > ou igual a 18,5 até
de mórbida. Assinale a alternativa que não é 24,9 kg/m2;
indicação para cirurgia bariátrica: - Sobrepeso: IMC > ou igual a 25 até
a) Portador da síndrome de Prader-Willi. 29,9 kg/m2;
b) Índice de Massa Corpórea (IMC) maior do - Obesidade grau I: IMC > ou igual a 30,0 até
que 40 kg/m2. 34,9 kg/m2;
c) Índice de Massa Corpórea (IMC) maior do - Obesidade grau II: IMC > ou igual a 35,0 até
que 35 kg/m2 com comorbidade clínica asso- 39,9 kg/m2;
ciada agravada pela obesidade. - Obesidade mórbida: IMC > 40,0 kg/m2;
d) Paciente obeso mórbido com falha na tera- - Superobeso: IMC > 50,0 kg/m2.
pia nutricional.
Alternativa C correta.
De acordo com os principais consensos
sobre obesidade, as duas principais indica-
ções para cirurgia bariátrica são: (1) obesida- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 –
de mórbida (IMC ≥ 40 kg/m2) e (2) obeso com R3 – CIRURGIA GERAL
IMC ≥ 35 kg/m2 e comorbidades clínicas as- HOSPITAL DAS CLÍNICAS DO PARANÁ – PR
sociadas ou agravadas pela obesidade (DM, É critério para indicação de cirurgia bariátrica:
doença cardiovascular, HAS, apneia do sono, a) Paciente com quadro psicótico ou demen-
dislipidemia e artropatia degenerativa). Além cial moderado ou grave.
disso, o paciente deve preencher os seguintes b) Melhora da estética corporal.
critérios: falha na terapia dietética (por pelo c) Alcoolismo.
menos 2 anos), estabilidade psiquiátrica e d) Pacientes com história familiar de câncer
ausência de dependência química (álcool e gástrico e sobrepeso.
drogas ilícitas), conhecimento da cirurgia e e) Índice de massa corporal superior a 40 kg/m2.
suas sequelas, motivação individual, bom
risco cirúrgico e idade acima de 16 anos. Des- De acordo com os principais consensos
sa forma, as alternas B, C e D trazem indica- sobre obesidade, são duas as grandes indica-
ções clássicas de cirurgia para obesidade... ções de cirurgia:
Por outro lado, a Síndrome de Prader-Willi
(SPW) é uma doença complexa, multissistê- 1) Obeso mórbido (IMC ≥ 40 kg/m2)
mica, caracterizada por hipotonia, retardo
mental, características dismórficas, baixa 2) Obeso com IMC ≥ 35 kg/m2 e comorbidades
estatura, hiperfagia e compulsão alimentar clínicas importantes associadas ou agravadas
devido à disfunção hipotalâmica. É a forma pela obesidade (exemplo: DM, doença cardio-
sindrômica mais comum de obesidade. O tra- vascular, HAS, apneia do sono, dislipidemia e
tamento específico da obesidade na SPW artropatia degenerativa).
deve ser feito principalmente através do con-
trole da ingestão calórica. O tratamento far- Além disso, o paciente deve apresentar esta-
macológico também pode ser benéfico. Já o bilidade psiquiátrica e ausência de dependên-
tratamento cirúrgico da obesidade nessa cia química (A e D incorretas), falha na terapia
condição é controverso, pois há poucos estu- dietética, conhecimento da cirurgia e de suas
dos que comprovaram benefícios a longo sequelas, motivação individual, ausência de
prazo... Portanto, embora possa ser realizada problemas clínicos que se oponham à sobre-
para alguns pacientes, a cirurgia bariátrica vida de cirurgia e idade acima de 16 anos
NÃO é recomendada rotineiramente para pa- (critério SUS). Resposta: LETRA E.
cientes com SPW. Resposta: A

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 –


RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 – R3 – CIRURGIA
R3 – CIRURGIA GERAL UNIVERSIDADE FEDERAL
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO DE SÃO PAULO – SP
RIO GRANDE DO SUL – RS A cirurgia bariátrica e metabólica pode produ-
A partir de qual Índice de Massa Corporal zir alterações fisiológicas benéficas por efeitos
(IMC) o paciente pode ser considerado um sobre entero-hormônio sacietógeno (I), orexí-
Superobeso? geno (II) e incretínico (III). Os entero-hormô-
a) Maior que 40 kg/m2. nios I, II e III são respectivamente:
b) Maior que 45 kg/m2. a) Grelina, GLP-1 e leptina.
c) Maior que 50 kg/m2. b) PYY 3-36, ghrelina e GLP-1.

124
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 125

c) GLP-1, glucagon e grelina. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 –


d) Amilina, grelina e polipeptídeo pancreático. R3 – CIRURGIA GERAL
e) Leptina, oxintomodulina e PYY 3-36. HOSPITAL DAS CLÍNICAS
DO PARANÁ – PR
Vamos recordar a atuação de alguns me- Quanto ao tratamento cirúrgico da obesidade
diadores relacionados ao metabolismo inter- mórbida, é INCORRETO afirmar:
mediário: a) As técnicas cirúrgicas para tratamento da
obesidade são didaticamente divididas em
- Peptídeo YY 3-36: é um peptídeo de 36 ami- restritivas, disabsortivas e mistas.
noácidos liberado pelas células do íleo e do b) A cirurgia de Domene consiste em uma
cólon em resposta à alimentação, reduzindo derivação biliopancreática com preservação
o apetite (sacietógeno). gástrica distal videolaparoscópica.
c) A gastroplastia a Fobi ou Capella tem como
- Grelina: hormônio da fome, produzido prin- princípio a criação de um reservatório gástrico
cipalmente nas células do fundo gástrico e tem de pequeno volume com um fator restritor ex-
ação hipotalâmica no centro da fome, aumen- terno (ao redor do pequeno estômago – tela
ta também a excreção de GH. Os níveis de de polipropileno ou anel de silicone) e uma
grelina aumentam no jejum desencadeando a anastomose do pequeno estômago (“pouch”
sensação de fome (orexígeno). gástrico), com o jejuno a uma determinada
distância do ângulo de Treitz (“y de Roux”).
- GLP-1: produzido pelas células neuroendó- d) Os métodos disabsortivos puros foram as
crinas L da mucosa intestinal, sua secreção é primeiras técnicas realizadas (nos anos de
estimulada após alimentação, estimula secre- 1950) e são, hoje, os mais utilizados.
ção de insulina e inibe glucagon (incretínico). e) A via de acesso laparoscópica trouxe, sem
dúvida, grande avanço à cirurgia bariátrica
Resposta: letra B. e, desde que possível, deverá ser o método
de escolha.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 – Analisando esta questão, podemos perce-


R3 – CIRURGIA GERAL ber que a letra A é absolutamente correta,
SECRETARIA ESTADUAL trazendo apenas a divisão conceitual das ci-
DE SAÚDE - RIO DE JANEIRO – RJ rurgias bariátricas. Da mesma forma que a
Em relação à gastroplastia vertical tubular, é letra E, que traz a vantagem da incorporação
CORRETO afirmar que: da técnica videolaparoscópica a esse tipo de
a) Tem maior risco de hérnia interna quando cirurgia. A opção B é correta, pois a cirurgia
comparada ao by-pass gástrico em y de Roux. de Domene é semelhante à cirurgia de Sco-
b) É gastrorrestritiva e leva à diminuição da pinaro (porém menos agressiva por não rea-
produção de grelina. lizar gastrectomia), associada à cirurgia de
c) Não leva à perda ponderal. Fobi-Capella que isola parte do estômago,
d) Não preserva o piloro. todo o duodeno e grande parte do jejuno e
íleo. Também está correta a letra C que des-
A gastrectomia vertical (sleeve gastrectomy) creve o by-pass gástrico em y de Roux da
é a modalidade da cirurgia bariátrica (C errada) técnica de Capella. Nossa resposta é então a
que secciona o estômago de forma vertical na letra D, uma vez que as cirurgias disabsortivas
grande curvatura, desde 2 a 3 cm acima do puras não são as mais utilizadas atualmente,
piloro até o ângulo de His, com grampeador em virtude da perda ponderal exacerbada e
linear, tratando-se, portanto, de um procedi- da maior taxa de desnutrição proteica.
mento puramente restritivo, com preservação
pilórica (D errada). Devido à ressecção de
parte do estômago proximal, onde se encon- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 –
tram as células parietais, produtoras de grelina, R3 – ENDOSCOPIA
há uma queda substancial desse hormônio, HOSPITAL DA POLÍCIA MILITAR – MG
auxiliando na perda ponderal através da redu- Sobre a endoscopia na obesidade mórbida é
ção do estímulo para a alimentação – alterna- CORRETO afirmar que:
tiva B correta e resposta da questão. Por últi- a) O deslizamento do anel é complicação co-
mo, a hérnia interna paraduodenal é uma mum, e ocorre em mais de 10% dos casos
complicação grave da gastroplastia em y de submetidos à cirurgia de Capella.
Roux, que se manifesta como obstrução de b) A úlcera de boca anastomótica é complica-
delgado, com dor abdominal, náuseas e vômi- ção frequente no pós-operatório da cirurgia de
tos e necessita de tratamento urgente. Ocorre Capella.
devido ao mau fechamento (ou não fechamen- c) A doença inflamatória intestinal é uma das
to) do mesentério aberto pelo cirurgião duran- contraindicações para colocação endoscópica
te o procedimento, sendo o principal local de do balão intragástrico.
herniação o recesso paraduodenal. Como na d) O deslocamento da banda gástrica para
gastrectomia vertical não há manipulação duo- dentro do estômago ocorre mais comumente
denal nem abertura do mesentério, essa com- entre o primeiro e o segundo mês após a co-
plicação não ocorre nesses casos. locação da banda.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 126

Na cirurgia de Capella (gastroenteroanasto- a) Gastroplastia vertical em banda.


mose em y de Roux), não há colocação de anel b) Derivação gástrica em Y de Roux.
gástrico (A errada), mas apenas na técnica de c) Desvio biliopancreático.
Fobbi, que utiliza um anel de silicone. A úlcera d) Colocação de banda gástrica laparoscópica.
de boca anastomótica era uma complicação
frequente da cirurgia de Capella até a introdução Apesar das discrepantes classificações que
do tratamento de erradicação do H. pylori no permeiam as cirurgias bariátricas, a questão
pré-operatório, quando tais úlceras se tornaram é enfática ao cobrar aquela com INTENSA
incomuns (B errada). Doenças que acometem má-absorção. As letras A e D se referem a
a mucosa gástrica e que apresentam potencial procedimentos restritivos e a letra B a um
de sangramento ou perfuração contraindicam proeminentemente restritivo. Sobra-nos então
a colocação de um balão intragástrico (C cor- a derivação biliopancreática como resposta
reta). O deslocamento superior da banda gás- – um procedimento relacionado à frequente
trica (gerando um quadro semelhante à acalá- desnutrição, exatamente por seu mecanismo
sia) é uma complicação TARDIA do procedi- disabsortivo. Opção C.
mento. Resposta certa: C.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010


RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 – HOSPITAL DAS CLÍNICAS
R3 – CIRURGIA GERAL DA UFPE – R3 – CIRURGIA GERAL
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – PR Sobre a obesidade mórbida e seu tratamento,
A Obesidade é definida como um acúmulo é correto afirmar que:
excessivo de gordura no tecido adiposo do a) Está associada ao câncer de mama, do
organismo decorrente de um desequilíbrio sistema nervoso central e pâncreas.
entre o ganho e o gasto calórico. Baseado b) Apenas os obesos com IMC acima de
nos tipos de cirurgia atualmente aceitos pelo 40 kg/m2 têm indicação de cirurgia.
CFM de acordo com a Resolução do CFM c) A cirurgia aberta e laparoscópica apresen-
N°1.766/05 (11 de Julho de 2005) Marque tam incidência similar de tromboembolismo
alternativa correta: pulmonar.
I) Cirurgia restritiva: Mason e banda gástrica; d) A derivação biliopancreática não tem sido
II) Cirurgia disabsortiva: Payne (by-pass Jeju- associada à deficiência de cálcio.
nojejunal) e Capella;
III) Cirurgia mista: Fobi-Capella e Scopinaro. Recentes estudos mostraram que a chan-
ce de morrer de câncer aumenta muito nos
a) I e II estão corretas. indivíduos obesos, e que o sobrepeso e a
b) I e III estão corretas. obesidade são responsáveis por 14% das
c) Apenas a I está correta. mortes por câncer em homens e 20% nas
d) Apenas a II está correta. mulheres. Tanto em homens, quanto em mu-
e) Apenas a III está correta. lheres, um IMC elevado se associou com
maiores taxas de mortalidade de câncer por:
Dentre as diferentes técnicas de cirurgia ba- (1) esôfago, (2) cólon e reto, (3) fígado,
riátrica, são puramente restritivos os seguintes (4) vesícula biliar, (5) pâncreas, (6) rim,
procedimentos: (1) balão intragástrico, (2) gas- (7) linfoma não Hodgkin e (8) mieloma múltiplo.
troplastia vertical bandada (Mason), (3) banda Existem, também, tumores relacionados à
gástrica ajustável (afirmativa I correta). Atual- obesidade com risco aumentado na depen-
mente, a gastrectomia em luva também pode- dência do sexo do paciente:
ria ser incluída nesta categoria. É puramente
disabsortiva apenas a técnica de by-pass jeju- HOMENS = estômago e próstata;
nojejunal (Payne), uma técnica abandonada na
atualidade, devido a uma elevada taxa de com- MULHERES = mama, endométrio, colo uteri-
plicações pós-operatórias a longo prazo (me- no e ovário. O câncer do SNC não possui
tabólicas e nutricionais). A cirurgia de Capella, relação com a obesidade (A ERRADA).
embora predominantemente restritiva, é um
procedimento “misto” (afirmativa II errada). Obesos com IMC acima de 40 kg/m2 e obesos
Dentre as cirurgias “mistas”, temos aquelas com IMC acima de 35 kg/m2 + comorbidades
com maior componente restritivo, como a cirur- relacionadas à obesidade (diabetes, doença
gia de Fobi-Capella, e aquelas com maior com- cardiovascular, hipertensão arterial, apneia do
ponente disabsortivo, como a cirurgia de Sco- sono, dislipidemia e artropatia degenerativa)
pinaro (afirmativa III correta). Resposta: B. têm indicação de cirurgia (B ERRADA).

O tromboembolismo pulmonar é a maior cau-


RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 sa de mortalidade no pós-operatório de qual-
HOSPITAL DA POLÍCIA MILITAR MG – R3 quer cirurgia bariátrica! Segundo o tratado de
– ENDOSCOPIA cirurgia Sabiston, em sua última edição, a ci-
Marque a alternativa CORRETA. Em relação rurgia laparoscópica apresenta menor índice
ao mecanismo de ação das operações bariá- de complicações da ferida operatória, compli-
tricas, qual delas é a discretamente restritiva cações respiratórias e complicações trombó-
e provoca intensa má-absorção: ticas (C ERRADA).
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 4 127

A derivação biliopancreática com gastrectomia b) O antro remanescente deve ser o maior


distal (cirurgia de Scopinaro) é técnica basi- possível.
camente disabsortiva, que consiste numa c) Associa-se vagotomia troncular ao proce-
gastrectomia parcial + gastroileostomia com dimento.
um longo segmento em y de Roux levado até d) Impede a conversão para derivação bilio-
o remanescente gástrico. A principal compli- pancreática.
cação deste procedimento é a desnutrição e) Produz má-absorção de ferro, cálcio e áci-
proteica, que ocorre em quase 12% dos pa- do fólico.
cientes. Deficiência de ferro, vitaminas lipos-
solúveis, vitaminas do complexo B e cálcio A gastrectomia longitudinal em luva ou em
também ocorrem (D ERRADA). manga (sleeve gastrectomy) foi um procedi-
mento inicialmente desenvolvido para o tra-
Apesar de o gabarito oficial ter sido a letra C, tamento de pacientes superobesos, compon-
esta questão não possui resposta correta. do a primeira etapa do “switch duodenal”. O
procedimento consiste em uma gastrectomia
parcial laparoscópica, na qual a maior parte
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 – da grande curvatura do estômago é removi-
R3 – CIRURGIA da e um estômago tubular é criado. Este
UNIVERSIDADE FEDERAL estômago tubular possui pequena capacida-
DE SÃO PAULO – SP de (ou seja, o procedimento é restritivo), é
Conhecido como sleeve gastrectomy, a gas- resistente à distensão e resulta na diminuição
trectomia longitudinal em manga é um procedi- da produção de grelina (produzida principal-
mento bariátrico com a seguinte característica: mente no fundo gástrico), um hormônio que
a) Remove a parte gástrica secretora de gre- é responsável pelo estímulo de fome. Res-
lina (ghrelin). posta: Letra A.
131 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 4/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 RESIDÊNCIA MÉDICA 2016


(ACESSO DIRETO 1) (ACESSO DIRETO 1)
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UFU – MG
PEDRO ERNESTO – RJ 6 – Mateus, 16 anos, com diabetes mellitus tipo 1 é trazi-
<p> </p> <p>

1 – Uma paciente de 48 anos com obesidade grau II pro-


<p> </p> <p> do pelos pais ao pronto-socorro por causa da preocupa-
curou atendimento médico relatando ter verificado glice- ção com Cetoacidose Diabética (CAD), pois já teve três
mia capilar acima do valor da normalidade. Negou perda episódios nos últimos seis meses. Quais alterações e sin-
ponderal, polifagia, polidipsia e poliúria. A avaliação clínica tomas diagnósticos são específicos de CAD? Assinale a
não evidenciou lesões atribuíveis à alteração glicêmica. alternativa CORRETA: </p>

Contudo, o diagnóstico de diabetes mellitus poderá ser a) Hipotensão, desidratação, hálito frutado.
firmado se houver: </p> b) Hiperglicemia, cetose, acidose metabólica.
a) Glicemia pós-prandial de duas horas de 160 mg/dl. c) Poliúria, polidipsia, fadiga.
b) Glicemia de jejum repetida de 120 mg/dl. d) Glicemia de 600 mg/dl, diante das altas concentrações
c) Glicemia randômica de 180 mg/dl. de insulina.
d) Hemoglobina glicada de 7%. e) Níveis altos de HCO3 e glicose.

RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 RESIDÊNCIA MÉDICA 2016


(ACESSO DIRETO 1) (ACESSO DIRETO 1)
HOSPITAL MUNICIPAL DE SÃO ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO RIO
JOSÉ DOS CAMPOS – SP GRANDE DO SUL – RS
2 – Qual dos hipoglicemiantes abaixo tem maior ação na
<p> </p> <p> 7 – As primeiras manifestações clinicolaboratoriais da ne-
<p> </p> <p>

glicemia pós-prandial? </p> fropatia diabética incluem: </p>

a) Metformina. c) Glibenclamida. a) Hiperfiltração glomerular e microalbuminúria.


b) Acarbose. d) Clorpropamida. b) Hematúria microscópica e leucocitúria.
c) Macroalbuminúria e doença renal crônica.
d) Nefrite intersticial crônica e hipertensão.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 e) Hipoaldosteronismo hiporreninêmico e acidose tubular renal.
(ACESSO DIRETO 1)
HOSPITAL PROFESSOR EDMUNDO
VASCONCELOS – SP RESIDÊNCIA MÉDICA 2016
3 – A determinação de “Peptídeo C” nos fornece uma ava-
<p> </p> <p> (ACESSO DIRETO 1)
liação de níveis plasmáticos de: </p> ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO
a) Cortisol. RIO GRANDE DO SUL – RS
b) Insulina. 8 – Na abordagem de pacientes com cetoacidose diabé-
<p> </p> <p>

c) Relação Renina / Aldosterona. tica, é CORRETO afirmar que: </p>

d) PTH. a) Nas primeiras 3h, devemos repor apenas 1 L de SF 0,9%.


e) Glucagon. b) A infusão contínua de insulina regular deve ser imediata-
mente iniciada, independente do nível sérico de potássio.
c) A reposição intravenosa de potássio deve ser realiza-
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 da logo que identificamos que o nível sérico de potássio
(ACESSO DIRETO 1) esteja abaixo de 6 mEq/L.
HOSPITAL MUNICIPAL DR. MÁRIO GATTI – SP d) A glicemia capilar deve ser medida a cada 4h.
4 – No tratamento de cetoacidose diabética o primeiro
<p> </p> <p> e) Devemos diminuir a dose de insulina regular contínua
passo mais importante é: </p> quando a glicemia estiver entre 150-210 mg/dl e a acido-
a) Reposição de fluidos por via intravenosa. se resolvida.
b) Antibiótico.
c) Ingestão de etilenoglicol.
d) Insulina. RESIDÊNCIA MÉDICA 2016
(ACESSO DIRETO 1)
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DO PARANÁ – PR
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 9 – Paciente de 52 anos de idade, sexo masculino, pro-
<p> </p> <p>

(ACESSO DIRETO 1) cura assistência médica para tratamento de diabetes


SANTA CASA DE MISERICÓRDIA mellitus tipo 2. Ele é portador de insuficiência cardíaca
DE LIMEIRA – SP com fração de ejeção reduzida com classe funcional III
5 – O estado hiperosmolar caracteriza-se por:
<p> </p> <p> </p> (NYHA) e doença renal crônica com taxa de filtração glo-
a) Instalação súbita e rápida de sintomas, idade do pa- merular 28 ml/minuto. O exame laboratorial apresenta gli-
ciente inferior a 40 anos, acidose metabólica. cemia de jejum 210 mg/dl e hemoglobina glicosilada 9,8%.
b) Dor abdominal, náuseas, vômitos, taquipneia, respira- Qual dos medicamentos abaixo é o mais apropriado para
ção de Kussmaul. o controle do diabetes mellitus deste paciente? </p>

c) Desidratação profunda, estupor ou coma, níveis glicêmi- a) Glibenclamida.


cos em geral acima de 500 mg/dl, com pH acima de 7,30. b) Insulina.
d) Paciente em estado de vigília, alerta e agitado, glicemia c) Metformina.
em torno de 250 mg/dl, hiperpotassemia, hiponatremia e d) Pioglitazona.
hemodiluição. e) Repaglinida.
132 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 4/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 RESIDÊNCIA MÉDICA 2016


(ACESSO DIRETO 1) (ACESSO DIRETO 1)
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – PR HOSPITAL DAS FORÇAS
10 – Paciente do sexo masculino, de 36 anos de ida-
<p> </p> <p> ARMADAS – DF
de, veio para consulta de rotina. Encontra-se assintomá- 13 – Considere, hipoteticamente, menina de seis anos de
<p> </p> <p>

tico. Nega comorbidades. História familiar de hipertensão idade, com história de vômitos, dor abdominal e cansaço
arterial. Ao exame apresenta PA 124 x 78 mmHg, peso há um dia. Mãe relata perda de peso da criança no último
62 kg, estatura 1,70 m, exame segmentar normal. Traz mês, associado à poliúria e polidipsia. Ao exame físico,
exames: glicemia em jejum 100 mg/dl; HbA1C 6%; coles- observa-se criança desidratada, respiração de Kussmaul
terol total 182 mg/dl; HDL colesterol 55 mg/dl; triglicerídeos e apresenta glicemia capilar de 400 mg/dl. A esse respei-
110 mg/dl. A melhor estratégia preventiva e a conduta re- to, assinale a alternativa que melhor define o quadro de
comendada são, respectivamente: </p> cetoacidose diabética: </p>

a) Metformina, seguimento em 3 meses. a) Glicemia plasmática > 200 mg/dl e pH de sangue ar-
b) Metformina, seguimento em 6 meses. terial < 7,3.
c) Modificação intensiva do estilo de vida, seguimento anual. b) Glicemia plasmática > 200 mg/dl, pH de sangue arterial
d) Modificação intensiva do estilo de vida e seguimento < 7,2 cetonúria = 1+ e HCO3 < 20 mEq/L.
em 3 meses. c) Glicemia plasmática > 200 mg/dl, pH de sangue arterial
e) Modificação intensiva do estilo de vida, metformina e < 7,3, cetonúria = 2+ e HCO3 < 15 mEq/L.
seguimento em 3 meses. d) Glicemia plasmática > 200 mg/dl e sinais clínicos de
diabetes (poliúria, polidipsia e perda de peso).
e) Glicemia plasmática > 200 mg/dl, teste de tolerância
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 oral à glicose com glicemia = 200 mg/dl na coleta após
(ACESSO DIRETO 1) 120 minutos do teste e glicosúria.
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UEL – PR
11 – Paciente, 62 anos de idade, sexo feminino, portadora
<p> </p> <p>

de diabetes mellitus há 18 anos, em uso de metformina e RESIDÊNCIA MÉDICA 2016


gliclazida. Também é hipertensa, em uso de losartana. Nega (ACESSO DIRETO 1)
queixas. Ao exame físico, apresenta perda de sensibilidade FUNDAÇÃO BANCO DE OLHOS
vibratória em tornozelos e abolição dos reflexos aquileus. DE GOIÁS – GO
Sobre o quadro descrito, assinale a alternativa CORRETA: </p> 14 – Paciente feminina, 15 anos, deu entrada no hospital
<p> </p> <p>

a) A ausência de parestesias ou de dor neuropática é su- com dispneia, mal-estar e grande agitação. Sua respira-
ficiente para excluir o diagnóstico de neuropatia diabética. ção era ruidosa, com alta frequência e com hiperventila-
b) O diagnóstico de neuropatia diabética só pode ser con- ção. Em seus exames, foi encontrada acidose metabólica
firmado com certeza com uma eletroneuromiografia. bem como glicemia de 620 mg/dl. Sendo, então, aborda-
c) O diagnóstico mais provável é de mononeuropatia dia- da como cetoacidose metabólica decorrente de primeira
bética focal acometendo nervos tibiais bilateralmente. manifestação clínica, assim hidratada e iniciada insulina.
d) O uso de anticonvulsivantes ou antidepressivos tricíclicos Após melhora inicial, começou novo quadro, agora de re-
está indicado, pois se associa à recuperação da sensibilidade. baixamento de consciência e nova dificuldade respira-
e) Outras causas de perda de sensibilidade devem ser afasta- tória. Sendo suspeitada complicação cerebral. Aponte a
das, pois a neuropatia diabética é um diagnóstico de exclusão. alternativa contendo o POSSÍVEL diagnóstico para esse
quadro clínico: </p>

a) Edema cerebral citotóxico.


RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 b) Encefalopatia diabética.
(ACESSO DIRETO 1) c) Mielinólise pontina.
SELEÇÃO UNIFICADA PARA RESIDÊNCIA d) Hipertensão cerebral por hiperemia.
MÉDICA DO ESTADO DO CEARÁ – CE
12 – Homem de 56 anos, hipertenso, obeso, sedentário, re-
<p> </p> <p>

cebeu diagnóstico recente de diabetes mellitus. Seus exa- RESIDÊNCIA MÉDICA 2016
mes na consulta inicial revelaram uma glicemia de jejum de (ACESSO DIRETO 1)
126 mg/dl, hemoglobina glicada de 8,0%, triglicerídeos de HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
250 mg/dl e HDL-colesterol de 30 mg/dl. Retornou para con- JÚLIO MÜLLER – MT
sulta de reavaliação referindo intolerância gastrointestinal à 15 – Em pacientes com diabetes mellitus tipo 1, a avalia-
<p> </p> <p>

metformina. Além das medidas não farmacológicas, a conduta ção da massa residual de células beta, quando indicada,
medicamentosa mais adequada nesse momento é prescrever: </p> deve ser realizada por: </p>

a) Gliptina. a) Dosagem do peptídeo C sérico.


b) Metiglinida. b) Dosagem de insulina sérica.
c) Sulfonilureia. c) Cintilografia do pâncreas.
d) Insulina NPH subcutânea. d) HOMA-R.
133 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 4/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 monofilamento em ambos os pés (perda da sensibilidade


(ACESSO DIRETO 1) protetora ao teste do monofilamento em ambos os pés).
UNIVERSIDADE FEDERAL DE Traz os seguintes exames: Glicemia de jejum = 105 mg/dl;
CAMPINA GRANDE – PB Hemoglobina glicada = 6,8%; Creatinina = 0,8 mg/dl (VR =
16 – Os resultados do EMPA-REG publicados em setem-
<p> </p> <p> 0,5-1,2); TGO; TGP; sódio e potássio normais. A conduta
bro de 2015 mostraram redução da morbimortalidade car- recomendada para esse caso é: </p>

diovascular em diabéticos tipo 2 em uso de empagliflozi- a) Trocar metformina por glimepirida.


na. O mecanismo de ação da droga é melhor descrito na b) Trocar repaglinida por glimepirida.
seguinte alternativa: </p> c) Trocar metformina por vildagliptina.
a) Sensibilização periférica à insulina, com predomínio d) Trocar repaglinida por vildagliptina.
hepático.
b) Sensibilização periférica à insulina, com predomínio
muscular e adiposo. RESIDÊNCIA MÉDICA 2015
c) Inibição da DPP-IV, com efeito incretinomimético. (ACESSO DIRETO DISCURSIVA)
d) Inibição do cotransportador sódio-glicose no túbulo con- UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – SP
torcido proximal. 19 – Indique um antidiabético oral mais adequado para o
<p> </p> <p>

e) Estímulo à liberação de insulina pelas células beta- caso clínico a seguir: Homem de 40 anos de idade, com
pancreáticas. diabetes mellitus tipo 2 em uso de insulina glargina 40 UI
por dia + metformina 850 mg 3x/dia. Exames: Hb glicada
= 7,8%; peptídeo C normal. Traz os seguintes controles
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 glicêmicos: Jejum 110 mg/dl; antes do almoço 94 mg/dl;
(ACESSO DIRETO 1) após almoço 215 mg/dl; antes do jantar 96 mg/dl; após
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE jantar 140 mg/dl. </p>

DO ESTADO DE PERNAMBUCO – PE
17 – Danilo, 12 anos, diabético desde os 4 anos tem qua-
Questão discursiva
<p> </p> <p>

dro de pneumonia e descompensação clínica, evoluin-


do para cetoacidose. Exames laboratoriais: glicemia =
650 mg/dl; pH = 7,1; pCO2 = 20 mmHg; pO2 = 98 mmHg;
SatO2: 97%; bicarbonato: 5 mEq/L; BE: -14 mEq/L; ceto-
nas urinárias ++++. A respiração é acidótica e apresenta RESIDÊNCIA MÉDICA 2015
algum grau de confusão mental. A conduta inicial mais (ACESSO DIRETO DISCURSIVA)
apropriada é a seguinte: </p> UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – SP
a) Terapia de reidratação na primeira hora; insulinoterapia 20 – Mulher de 60 anos de idade, diabética tipo 2 há 20
<p> </p> <p>

imediata em dose suficiente para reduzir a glicemia para anos em uso de metformina 2.000 mg e glibenclamida
150 mg/dl; administração de potássio e bicarbonato. 20 mg/dia. Há 3 semanas passou a apresentar cãibras
b) Hidratação venosa com soro fisiológico 0,9%, 20 ml/kg na noturnas e dor em queimação nas pernas. Qual é o diag-
primeira hora e reposição lenta nas 24/48 horas seguintes; nóstico mais provável? </p>

insulinoterapia na segunda hora; administração de potássio


após a diurese.
Questão discursiva
c) Reposição de volume com soro fisiológico 0,9 %; insu-
lina intermediária associada à regular (N+R) até que se
resolva a acidose; máscara com O2 úmido.
d) Expansão de volume com SF 0,45% e albumina; in-
sulina NPH na segunda hora; administração de potássio RESIDÊNCIA MÉDICA 2015
após diurese. (ACESSO DIRETO 1)
e) Hidratação venosa com soro fisiológico 0,9%, 10 ml/kg HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE
na primeira hora e reposição padrão nas 12/24 horas se- DE MEDICINA DE RP DA USP – SP
guintes; insulinoterapia NPH na segunda hora; administrar 21 – Homem, 64 anos, recentemente mudou-se para Ri-
<p> </p> <p>

bicarbonato de sódio na primeira hora. beirão Preto, comparece para atendimento de rotina na
Unidade de Atenção Primária à Saúde. Nega problemas
de saúde, a não ser uma discreta baixa de acuidade visual
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 em olho esquerdo há 3 anos. Refere que há mais de 20
(ACESSO DIRETO 1) anos não é submetido a consultas médicas de rotina e não
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO usa medicações. Ao exame físico, apresenta bom estado
ONOFRE LOPES UFRN – RN geral, sobrepeso (índice de massa corporal de 27 kg/m²),
18 – Mulher de 74 anos, com história de diabetes mellitus
<p> </p> <p> ausência de alterações na ausculta cardíaca e pulmonar
tipo 2 e hipertensão arterial, há cerca de 20 anos, em uso e exame de abdome sem alterações. Ao exame de fundo
de metformina 500 mg 2 vezes ao dia e repaglinida 1 mg de olho, apresenta disco óptico com contorno e coloração
antes das refeições, além de losartana 50 mg/dia, vem sem alterações, arteríolas e vênulas com calibres normais,
com queixas de mal-estar, sudorese fria, palpitações e presença de micro-hemorragias e microaneurismas reti-
episódios de desorientação, usualmente no meio da ma- nianos em ambos os olhos, com perda de brilho macular
nhã, principalmente nos dias em que não faz lanche nesse em olho esquerdo. Baseado no quadro acima, qual é a
período, mas, esses sintomas também surgem, algumas principal hipótese diagnóstica? </p>

vezes, antes de dormir. Refere, ainda, que tais episódios a) Hipertensão arterial sistêmica.
melhoram quando toma um copo de leite com açúcar ou b) Hipercolesterolemia.
ingere qualquer outro alimento. A paciente nega episó- c) Diabetes mellitus.
dios semelhantes aos esforços. No exame físico, desta- d) Gota.
cam-se: IMC = 24,8 kg/m²; PA = 130 x 80, alteração do
134 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 4/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 a) Soro fisiológico 60 ml/kg e antibioticoterapia por via


(ACESSO DIRETO 1) parenteral na primeira hora.
FACULDADE DE CIÊNCIAS b) Hidratação com soro fisiológico 0,9%, reposição de po-
MÉDICAS DA UNICAMP – SP tássio e insulinoterapia por via endovenosa.
22 – Mulher, 16 anos, queixa-se de dor abdominal de forte
<p> </p> <p> c) Hidratação com soro fisiológico 0,9%, insulinoterapia e
intensidade há 12 horas. Exame físico: desidratada ++/4+; correção de bicarbonato para 15 mEq.
descorada +/4+; T = 36,2°C; FC = 134 bpm; FR = 32 irpm; d) Soro fisiológico 60 ml/kg, antibioticoterapia por via pa-
oximetria de pulso = 96% (ar ambiente); PA = 96 x 64 mmHg. renteral, reposição de sódio e bicarbonato nos primeiros
Ausculta cardíaca e pulmonar normais. Abdome: levemen- 30 minutos.
te distendido com dor difusa à palpação profunda; punho-
-percussão lombar: negativa. Rigidez de nuca: ausente.
Extremidades: frias. Glicemia capilar = 342 mg/dl. A con- RESIDÊNCIA MÉDICA 2015
duta inicial é: </p> (ACESSO DIRETO 1)
a) Tomografia de abdome. UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – SP
b) Administração de insulina. 26 – Adolescente de 17 anos apresenta há 6 dias poliúria,
<p> </p> <p>

c) Hidratação e dosagem de potássio. polifagia e perda ponderal de 4 kg. Há 2 dias refere náu-
d) Dosagem de amilase e lipase. seas, vômitos e fraqueza. Exame físico: desidratação leve,
respiração rápida e profunda, FR: 25 irpm; hálito cetônico e
irritabilidade. Exames laboratoriais: glicemia 437 mg/dl; Na+
RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 143 mEq/L; K+ 3,2 mEq/L; pH 7,12; HCO3 – 12 mg/dl. Após
(ACESSO DIRETO 1) a hidratação, a próxima conduta é a reposição de: </p>

INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA a) Insulina.


AO SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL – SP b) Bicarbonato.
23 – O fármaco utilizado no controle glicêmico, cuja prin-
<p> </p> <p> c) Potássio.
cipal ação ocorre em nível renal, é: </p> d) Sódio.
a) Saxagliptina.
b) Repaglinida.
c) Dapagliflozina. RESIDÊNCIA MÉDICA 2015
d) Acarbose. (ACESSO DIRETO 2)
e) Liraglutide. UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – SP
27 – Criança com 10 anos, com história de emagrecimen-
<p> </p> <p>

to, polifagia e poliúria há um mês, dor abdominal, vômitos


RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 e diurese abundante há dois dias. Exame físico: boca se-
(ACESSO DIRETO 1) ca, pulsos normopalpáveis, tempo de enchimento capilar
UNIVERSIDADE FEDERAL DO menor que dois segundos, FC = 100 bpm; FR = 30 irpm.
RIO DE JANEIRO – RJ Exames: HGT = 500 mg; gasometria arterial em ar am-
24 – Paciente com diabetes mellitus tipo 2 há 20 anos
<p> </p> <p> biente: pH = 7,30; HCO3 = 10 mmol/L; PO2 = 100 mmHg;
em uso de insulina, com retinopatia diabética e microal- PCO2 = 23 mmHg. Este paciente apresenta: </p>

buminúria, desenvolveu quadro de náuseas, saciedade a) Cetoacidose diabética, hiperventilação por mecanismo
precoce, distensão abdominal e hipoglicemias pós-pran- compensatório da acidose metabólica que ocorre por au-
diais tardias nas últimas quatro semanas. O diagnóstico mento da produção de cargas ácidas (cetoácidos), com
mais provável é: </p> normocloremia e ânion-gap aumentado.
a) Insuficiência suprarrenal. b) Cetoacidose diabética, causa da acidose metabólica nor-
b) Isquemia enteromesentérica. moclorêmica com ânion-gap aumentado, e uma pneumonia,
c) Gastroparesia diabética. responsável pela hiperventilação e alcalose respiratória.
d) Doença celíaca. c) Cetoacidose diabética, e hiperventilação por mecanis-
mo compensatório da acidose metabólica, que ocorre por
perda de bases, com hipercloremia e ânion-gap normal.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 d) Cetoacidose diabética, e hiperventilação por mecanis-
(ACESSO DIRETO 1) mo compensatório da acidose metabólica pelo aumento
HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN – SP da produção de cargas ácidas (cetoácidos), com hiperclo-
25 – Menina de 8 anos de idade, admitida no pronto
<p> </p> <p> remia e ânion-gap aumentado.
atendimento, há duas semanas com perda progressiva
de peso, dor abdominal e vômitos, sem febre. Ao exame
de admissão: REG, sonolenta, gravemente desidratada, RESIDÊNCIA MÉDICA 2015
frequência cardíaca = 128 batimentos/minuto, pressão (ACESSO DIRETO 2)
arterial = 92 x 50 mmHg, pulso fino, perfusão periférica FUNDAÇÃO JOÃO GOULART
= 6 segundos, frequência respiratória = 40 incursões/mi- HOSPITAIS MUNICIPAIS – RJ
nuto com tiragem de fúrcula, ausculta pulmonar e cardía- 28 – Sobre o manejo do diabetes tipo 2, sabe-se que:
<p> </p> <p> </p>

ca normais. Diurese clara. Recebeu expansão com so- a) A metformina é o fármaco de escolha para pessoas com
ro fisiológico 0,9% 20 ml/kg. Exames laboratoriais: Na = sobrepeso, apresentando melhores resultados quanto aos
130 mEq/L, K = 5,0 mEq/L; Ureia = 30 mg/dl, creatinina desfechos (mortes e complicações cardiovasculares).
= 0,5 mg/dl; Gasometria venosa: pH = 7,1; Bicarbonato = b) Após iniciar tratamento com metformina, deve-se monito-
8,0 mmol/L; Glicemia = 320 mg/dl; Hemograma: Hb = rar a glicemia capilar com cautela, para evitar hipoglicemia.
13,3 g/dl; HT 40%; leucócitos = 16.000/mm³ (60% seg- c) No início do tratamento deve-se solicitar hemoglobina
mentados, 30% linfócitos), Plaquetas = 360.000/ml; Urina: glicosilada mensalmente, até atingir controle satisfatório.
densidade = 1005. Glicose = 2+ Cetonas 3+; Leucócitos d) A meta de hemoglobina glicosilada é 6%.
12.000/mm³. As próximas etapas do tratamento devem ser: </p>
135 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 4/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 RESIDÊNCIA MÉDICA 2015


(ACESSO DIRETO 1) (ACESSO DIRETO 1)
PROCESSO SELETIVO UNIFICADO – MG ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – PR
29 – Em relação às complicações crônicas do diabetes
<p> </p> <p> 31 – Paciente em 28º pós-operatório de artroplastia de
<p> </p> <p>

mellitus, assinale a alternativa ERRADA: </p> quadril, relata 5 dias de polidipsia, evoluindo com mal-
a) Microangiopatia que acomete o coração pode explicar a -estar geral, dor abdominal difusa e náuseas. História de
etiologia da cardiomiopatia congestiva em pacientes sem hipertensão e diabetes, em uso de hidroclorotiazida, met-
doença coronariana aparente. formina e sitagliptina. Ao exame apresenta-se com PA =
b) Mononeuropatia múltipla acomete mais comumente 110/64 mmHg; FR = 28 irpm; FC = 112 bpm; temperatura
nervos cranianos e tibiais, gerando anormalidades pre- axilar = 38,2ºC; abdome com dor à palpação profunda di-
dominantemente sensitivas. fusamente; sem sinais de peritonite. Ferida operatória sem
c) Nefropatia manifesta-se, inicialmente, por proteinúria; alterações. Hemograma com 24.000 leucócitos e 24% de
subsequentemente, a função renal diminui e há aumento bastonetes; gasometria venosa com pH = 7,1; bicarbonato
da ureia e creatinina séricas. = 7,2; PaCO2 = 24; glicemia = 412 mg/dl; fita urinária com
d) Retinopatia proliferativa resulta na oclusão de pequenos glicose ++ e cetona ++. Levando em consideração o caso,
vasos e está associada à formação de novos capilares e é CORRETO afirmar que: </p>

tecido fibroso na retina e na câmara vítrea. a) O hiato aniônico é normal.


b) O grau de acidose está associado ao nível de hiperglicemia.
c) O sódio sérico medido é aumentado em decorrência
RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 da hiperglicemia.
(ACESSO DIRETO 1) d) A principal complicação não metabólica da terapia é o
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE edema cerebral.
PORTO ALEGRE – RS e) A presença de leucocitose indica a necessidade de ex-
30 – Paciente masculino, de 56 anos, veio à consulta de
<p> </p> <p> ploração do sítio cirúrgico.
revisão clínica de Diabetes Melito (DM). Relatou sentir-se
bem, exceto por episódios frequentes de hipoglicemia (em
média 1 vez/semana), mais comuns à noite. Negou dispneia, RESIDÊNCIA MÉDICA 2014
dores torácicas e nos membros inferiores, dificuldade visual (ACESSO DIRETO DISCURSIVA)
ou visitas à emergência. Referiu boa adesão ao tratamento UNIVERSIDADE FEDERAL
farmacológico, porém cuidado irregular com a dieta. Em sua DE SÃO PAULO – SP
história, havia registro de DM desde os 28 anos (diagnos- 32 – Paciente de 52 anos de idade é internada na sala
</p> <p>

ticado durante exame admissional), sem internações, e de de emergência em cetoacidose diabética por má aderên-
início do uso de insulina há 10 anos. Foi diagnosticado com cia à insulina. Foi prescrito jejum oral, hidratação venosa
hipertensão arterial por volta dos 35 anos, fazendo uso de vigorosa, bomba de insulina e reposição de potássio.
enalapril desde então. O pai e dois tios maternos faleceram Após 24 horas de tratamento, evoluiu com melhora. Cite
por problemas cardíacos, tios paternos e avó materna apre- um parâmetro laboratorial que indica que a cetoacidose
sentavam DM. Exceto pela obesidade (IMC de 31 kg/m²), o está resolvida. </p>

exame clínico foi inexpressivo. Trouxe resultados de exames


laboratoriais: hemoglobina glicada de 8,6%, glicemia de je-
Questão discursiva
jum de 86 mg/dl, albuminúria de 47 mg/l e creatinina sérica
de 0,84 mg/dl. A avaliação com oftalmologista revelou reti-
nopatia diabética não proliferativa leve. Faz uso de metfor-
mina (500 mg, 2 vezes/dia) e de insulina NPH (38 UI antes
da janta). Assinale a assertiva que contempla o diagnóstico RESIDÊNCIA MÉDICA 2014
do paciente em relação ao tipo de DM. </p> (ACESSO DIRETO 1)
a) Trata-se de DM1, considerando a idade do paciente, o qua- FACULDADE DE CIÊNCIAS
dro clínico por ocasião do diagnóstico e o tratamento em uso. MÉDICAS DA UNICAMP – SP
b) Trata-se de DM1, considerando o tratamento em uso, 33 – Mulher, 60a, faz seguimento por diabetes mellitus há
<p> </p> <p>

as complicações crônicas e os resultados dos exames 15 anos em uso de metformina 500 mg (0-1-1) e gliben-
apresentados. clamida 5 mg (1-1-0). Exames laboratoriais: creatinina =
c) Trata-se de MODY (Maturity Onset Diabetes of the 2,2 mg/dl; Hb glicada = 8,5%; controle de glicemia capi-
Young), considerando o quadro clinicolaboratorial. lar feito na unidade básica de saúde, com valores entre
d) Trata-se de DM2, considerando a história familiar, o 150-180 mg/dl. A conduta é: </p>

tratamento em uso e a evolução da doença. a) Aumentar apenas a metformina.


e) Trata-se de DM2, considerando a idade do paciente por b) Aumentar a glibenclamida e a metformina.
ocasião do diagnóstico, os sintomas atuais e as compli- c) Associar insulina aos hipoglicemiantes orais.
cações apresentadas. d) Suspender os hipoglicemiantes orais e iniciar insulina.
136 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 4/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 a) II e IV. d) III e IV.


(ACESSO DIRETO 1) b) I e III. e) I e II.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO c) II e III.
RIO DE JANEIRO – RJ
34 – Segundo o Consenso de Diabetes “o diagnóstico de
<p> </p> <p>

nefropatia diabética pode ser feito utilizando-se diferen- RESIDÊNCIA MÉDICA 2014
tes tipos de coleta de urina, mas deve-se iniciar preferen- (ACESSO DIRETO 1)
cialmente pela medida de albumina em amostra de urina, UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – SP
devido à acurácia diagnóstica e a facilidade desse tipo de 38 – Mulher de 64 anos, obesa, apresenta-se com poliúria
<p> </p> <p>

coleta”. Um paciente diabético, há mais de 10 anos, com e polifagia. Hb glicada 11%, e glicemia de jejum 310 mg/dl.
os seguintes resultados de exame em amostra de urina: De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes, além
albumina = 10,0 mg/dl e creatinina = 50 mg/dl, indica: </p> de orientar mudanças no estilo de vida, a conduta é: </p>

a) Nefropatia diabética. a) Repetir os exames para confirmar o diagnóstico.


b) Síndrome nefrótica. b) Metformina.
c) Glomerulonefrite crônica. c) Insulina.
d) Pielonefrite crônica. d) Metformina + incretinas.
e) Tiazolidinedionas.

RESIDÊNCIA MÉDICA 2014


(ACESSO DIRETO 2) RESIDÊNCIA MÉDICA 2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DO (ACESSO DIRETO 1)
RIO DE JANEIRO – RJ HOSPITAL ALVORADA – SP
35 – Homem, 60 anos, diagnosticado como diabético tipo
<p> </p> <p> 39 – Paciente feminino de 52 anos de idade, obesa, dá
<p> </p> <p>

II, com perda de peso acentuada, deve ser tratado inicial- entrada no setor de emergência apresentando quadro de
mente com: </p> agitação e sudorese intensa após médio esforço físico
a) Insulina. de uma caminhada. Como refere ser diabética em uso
b) Metformina. de Glibenclamida, realizamos exame de glicemia capilar,
c) Rosiglitazona. sendo, então, encontrado o valor de 62 mg/%. A respeito
d) Glibenclamida. desse quadro clínico, podemos afirmar que: </p>

a) Caso ocorra reversão completa do quadro com ofer-


ta de glicose, podemos considerar que hipoglicemia é o
RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 diagnóstico clínico.
(ACESSO DIRETO 1) b) Não podemos considerar o quadro como decorrente
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO de hipoglicemia decorrente se o exame demonstrar valor
PEDRO ERNESTO – RJ acima de 40 mg/%.
36 – Marcela, 25 anos, com diabetes mellitus tipo 1, em
<p> </p> <p> c) Medicações da família das sulfonilureias não causam
tratamento irregular com insulinas NPH e regular, é admi- quadro de hipoglicemia.
tida em um Centro de Tratamento Intensivo em função de d) Mesmo que a paciente não melhore o quadro clínico com
cetoacidose diabética. A descompensação diabética pa- a infusão de glicose, esse diagnóstico está estabelecido.
rece ter sido devido a uma sinusite arrastada. No dia se-
guinte, ela tem um agravamento do nível de consciência,
tornando-se comatosa, além de exibir proptose ocular à RESIDÊNCIA MÉDICA 2014
esquerda, associada com oftalmoplegia externa e edema (ACESSO DIRETO 1)
subconjuntival local. À inspeção das narinas, observa-se a HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE JUNDIAÍ – SP
saída de secreção fétida e a presença local de lesões ne- 40 – Mulher de 58 anos, diabética há 12 anos, em tra-
<p> </p> <p>

cróticas, que se estendem ao palato duro. Após parecer do tamento regular com dieta e medicamentos (gliclazida
especialista, deve ser iniciado tratamento direcionado para: </p> 120 mg/dia, metformina 1.700 mg/dia). Nos últimos meses,
a) Herpes-zóster oftálmico. refere perda acentuada do peso, mesmo com a alimen-
b) Granuloma de linha média. tação habitual. Tem exame físico normal e com exames
c) Mucormicose rino-orbitocerebral. complementares: glicemia: 327 mg/dl; hemoglobina glica-
d) Sinusite pneumocócica complicada com abscesso cerebral. da: 10,6%; peptídeo C: 0,3 ng/dl; pesquisa negativa dos
anticorpos anti-GAD. Assinale a alternativa que contém o
diagnóstico provável e a melhor orientação terapêutica. </p>

RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 a) Diabetes mellitus tipo 1 (tardio) descompensado e de-


(ACESSO DIRETO 1) ve-se insulinizar a paciente.
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE b) Diabetes mellitus tipo 2, com falência pancreática se-
SUS – SÃO PAULO – SP cundária e estaria indicada a insulinização da paciente.
37 – Considere:
<p> </p> <p> c) Diabetes mellitus tipo 2 descompensado e deveríamos
I. Baixo nível sérico de peptídeo C; aumentar as doses dos antidiabéticos orais.
II. Genética poligênica; d) Diabetes mellitus tipo 1, com descompensação cetoaci-
III. Associação com HLA; dótica e estaria indicada a hidratação e “bomba de insulina”.
IV. Cetoacidose apenas se houver estresse intenso. e) Diabetes mellitus tipo 2 com descompensação hiperos-
São características do diabetes mellitus do tipo 2: </p> molar, sendo indicada hidratação e insulinização.
137 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 4/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 RESIDÊNCIA MÉDICA 2014


(ACESSO DIRETO 1) (ACESSO DIRETO 1)
FACULDADE DE MEDICINA DO ABC – SP HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE
41 – Quais as alterações fisiológicas observadas no perfil
<p> </p> <p> PORTO ALEGRE – RS
glicêmico de um indivíduo no estado de jejum prolongado 45 – Associe as insulinas às suas características farma-
<p> </p> <p>

(mais de 48 horas de jejum)? </p> cocinéticas.


a) Glicemia cai, secreção de insulina é suprimida, resultando 1 - Glargina;
em diminuição na captação de glicose periférica e aumento 2 - Regular;
da glicogenólise, lipólise, proteólise e neoglicogênese. 3 - Aspart;
b) Glicemia é mantida, secreção de insulina é mantida, mas 4 - Lispro;
há resistência à sua ação periférica pelo aumento do glu- 5 - NPH;
cagon e pelo estímulo à glicogenólise e neoglicogênese. ( ) Início de ação em 5-15 minutos, pico em 30-90 minu-
c) Glicemia é mantida, secreção de insulina é suprimida, tos, duração em 4-6 horas;
resultando em diminuição na captação de glicose perifé- ( ) Início de ação em 30-60 minutos, picos em 2-3 horas,
rica e aumento da lipólise e proteólise. duração de 8-10 horas;
d) Glicemia cai, secreção de insulina é mantida, resultando ( ) Início de ação em 2-4 horas, pico em 4-10 horas, du-
em aumento dos hormônios contrarregulatórios (glucagon, ração de 12-18 horas.
cortisol, norepinefrina e GH) e consequentemente aumen- A sequência numérica CORRETA, de cima para baixo, é: </p>

to da resistência periférica à ação da insulina. a) 2 - 1 - 5. d) 4 - 2 - 5.


b) 3 - 2 - 1. e) 4 - 3 - 2.
c) 3 - 4 - 1.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2014
(ACESSO DIRETO 1)
SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE – SP RESIDÊNCIA MÉDICA 2014
42 – NÃO é alteração laboratorial comum da cetoacidose
<p> </p> <p> (ACESSO DIRETO 1)
diabética: </p> HOSPITAL SÃO LUCAS DA PUC – RS
a) Pseudo-hiponatremia. 46 – Em relação ao rastreamento da retinopatia diabética,
<p> </p> <p>

b) Hipofosfatemia. são feitas as assertivas seguintes:


c) Concentração hidrogeniônica aumentada. I. No diabetes tipo 1, o rastreamento deve ser iniciado
d) Ânion-gap diminuído. após a puberdade, ou após cinco anos de diagnóstico do
e) Osmolalidade sérica aumentada. diabetes, se este começou após a puberdade;
II. No diabetes tipo 2, o rastreamento deve ser iniciado
cinco anos após o diagnóstico;
RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 III. Pacientes que planejam engravidar devem ser alerta-
(ACESSO DIRETO 1) das sobre os riscos de piora da retinopatia diabética; mu-
CENTRO MÉDICO DE CAMPINAS – SP lheres com diabetes surgido na gravidez (diabetes ges-
43 – A presença de calosidades plantares, pele seca e
<p> </p> <p> tacional) não precisam ser rastreadas.
descamativa, dedos em “garra” ou em “martelo”, mal per- Está/Estão CORRETA (S) a (s) afirmativa (s): </p>

furante plantar e deformidades osteoarticulares caracte- a) I apenas. d) II e III apenas.


riza pé diabético: </p> b) II apenas. e) I, II e III.
a) Infeccioso superficial. c) I e III apenas.
b) Isquêmico.
c) Infeccioso profundo.
d) Pé diabético neuropático. RESIDÊNCIA MÉDICA 2014
(ACESSO DIRETO 1)
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – PR
RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 47 – Quanto à classificação etiológica do diabetes melito,
<p> </p> <p>

(ACESSO DIRETO 1) assinale a alternativa CORRETA. </p>

FUNDAÇÃO JOÃO GOULART a) O diabetes tipo 1 dá origem habitualmente a uma defi-


HOSPITAIS MUNICIPAIS – RJ ciência absoluta de insulina.
44 – Em relação às drogas para o tratamento do diabetes
<p> </p> <p> b) O diabetes tipo 2 está relacionado à destruição das
mellitus tipo 1 e tipo 2, é CORRETO afirmar que: </p> células betapancreáticas.
a) A metformina reduz a produção hepática de glicose e c) O diabetes MODY 1 e MODY 2 estão relacionados a
melhora a utilização periférica de glicose. formas incomuns de diabetes de mediação imune.
b) A acarbose aumenta a absorção da glicose no tubo d) A acromegalia está relacionada ao diabetes por defeitos
gastrointestinal. genéticos na ação da insulina.
c) Os inibidores da DPP-IV inibem a ação do GLP-1 endógeno. e) A síndrome de Down e a síndrome de Turner estão fre-
d) As glitazonas diminuem a utilização da glicose. quentemente associadas ao diabetes.
138 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 4/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 escurecida com cheiro forte há 3 dias. Exame físico: sono-
(ACESSO DIRETO 1) lenta; prostrada; desidratada 2+/4+; PA = 110 x 56 mmHg;
SELEÇÃO UNIFICADA PARA RESIDÊNCIA FC = 98 bpm; FR = 33 irpm; T = 37,5°C. Glicemia capilar =
MÉDICA DO ESTADO DO CEARÁ – CE 320 mg/dl. APÓS A COLOCAÇÃO DE CATETER DE O2, A
48 – Homem de 60 anos comparece para avaliação de
<p> </p> <p> GASOMETRIA ARTERIAL ESPERADA É: </p>

diabetes. Ele recebeu o diagnóstico há cerca de oito anos, a) pH 7,2; PaO2 95 mmHg; PaCO2 22 mmHg e HCO3 9,7
quando iniciou uso de metformina, 2000 mg/dia, mas des- mEq/L, ânion-gap = 8.
de então não tem seguimento médico. Seu índice de mas- b) pH 7,1; PaO2 92 mmHg; PaCO2 47 mmHg e HCO3 25
sa corporal é 38 kg/m². Seus exames mostram glicemia mEq/L, ânion-gap = 8.
de jejum 312 mg/dl; Hemoglobina glicosilada (HbA1c) c) pH 7,2; PaO2 98 mmHg; PaCO2 21 mmHg e HCO3 8,2
12%; sumário de urina normal e microalbuminúria de mEq/L, ânion-gap = 16.
100 mg/24h (ref.: < 30 mg/24h). Qual seria a ação farma- d) pH 7,1; PaO2 93 mmHg; PaCO2 38 mmHg e HCO3 21
cológica mais desejável ao acrescentar um medicamento mEq/L, ânion-gap = 16.
adicional, nesse caso, dentre as opções atuais? </p>

a) Aumentar a concentração sérica basal de insulina por


via exógena. RESIDÊNCIA MÉDICA 2013
b) Estimular a produção de insulina e reduzir a produção (ACESSO DIRETO 1)
de glucagon. UNIVERSIDADE FEDERAL
c) Diminuir a resistência à insulina e reduzir a produção DO RIO DE JANEIRO – RJ
de glicose. 51 – Homem, 55 anos, com Diabetes Mellitus tipo 2, obeso
<p> </p> <p>

d) Estimular a produção de insulina pelas células beta e assintomático, em uso de metformina 2 g ao dia, com
do pâncreas. hemoglobina glicada de 8,1%. Para controle glicêmico
deste paciente, o mais adequado é associar: </p>

a) Insulina regular pré-prandial de acordo com glicemia capilar.


RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 b) Sulfonilureia, droga capaz de reduzir a resistência à insulina.
(REVALIDA) c) Inibidor da enzima dipeptidil peptidase-4 envolvido na
REVALIDA NACIONAL – INEP – DF metabolização do GLP-1.
49 – Um homem com 34 anos de idade, sem antecedentes
<p> </p> <p> d) Acarbose, secretagogo de insulina, que aumentam a
patológicos prévios, procurou ontem uma unidade básica capacidade de secreção de células betapancreáticas.
de saúde porque vem evoluindo nos últimos quatro me-
ses com queixas de poliúria, polidipsia e perda ponderal
de cerca de 7 kg nesse período. Há dois meses realizou RESIDÊNCIA MÉDICA 2013
exames complementares que evidenciaram glicemia de (ACESSO DIRETO 1)
jejum 348 mg/dl (valor de referência = 75-99 mg/dl). Nega HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN – SP
história de diabetes na família. Desde então, faz uso de 52 – São apresentados os mecanismos de ação de alguns
<p> </p> <p>

doses crescentes de metformina e glibenclamida, atual- medicamentos do arsenal terapêutico usado no diabetes
mente com 1.700 mg/dia e 10 mg/dia, respectivamente. mellitus tipo 2:
As auscultas cardíaca e pulmonar são normais. Refere I. secretagogo de insulina de longa duração;
persistência dos sintomas e os exames complementares II. secretagogo de insulina de curta duração;
colhidos hoje revelaram: glicemia de jejum = 296 mg/dl; III. sensibilizador de ação periférica de insulina.
glicemia 2h após o café da manhã = 412 mg/dl; hemo- Metformina, repaglinida e gliclazida correspondem, res-
globina glicada 10,1% (valor de referência = 3,8%-6,4%). pectivamente, a: </p>

Ao exame físico, paciente mostra-se desidratado; co- a) II, III e I. d) III, II e I.


rado; pressão arterial = 110 x 75 mmHg; circunferência b) III, I e II. e) II, I e III.
abdominal = 92 cm; Índice de Massa Corporal (IMC) = c) I, II e III.
23,3 kg/m²; peso = 60 kg. Além de referenciar para o es-
pecialista, a conduta adequada para esse paciente é: </p>

a) Aumentar as doses de glibenclamida e de metformina, RESIDÊNCIA MÉDICA 2013


adicionar insulina NPH antes de dormir. (ACESSO DIRETO 1)
b) Manter as doses de glibenclamida e metformina, adicio- UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – SP
nar insulina NPH antes do café da manhã e antes do jantar. 53 – Mulher de 55 anos apresenta-se assintomática. Exa-
<p> </p> <p>

c) Suspender glibenclamida e metformina, adicionar insu- me físico: IMC: 36 kg/m². Exames laboratoriais: glicemia de
lina NPH antes do café da manhã e antes de dormir, bem jejum: 118 mg/dl; GTT de 2 horas: 188 mg/dl; HbA1c: 6,2%.
como insulina regular antes das refeições. O diagnóstico e a conduta são, correta e respectivamente: </p>

d) Suspender glibenclamida, manter metformina, adicionar a) Pré-diabetes; orientar dieta para perda de peso, ativi-
insulina NPH antes do café da manhã e antes do jantar, dade física e considerar uso de metformina.
bem como insulina regular antes do café da manhã. b) Diabetes mellitus; iniciar metformina e modificações no
estilo de vida.
c) Pré-diabetes; orientar dieta para perda de peso e iniciar
RESIDÊNCIA MÉDICA 2013 tiazolidinedionas.
(ACESSO DIRETO 1) d) Hiperglicemia pós-prandial; orientar mudanças no estilo
FACULDADE DE CIÊNCIAS de vida e iniciar orlistat.
MÉDICAS DA UNICAMP – SP e) Diabetes mellitus; orientar mudança no estilo de vida,
50 – Mulher, 19 anos, com gestação única de 31 semanas,
<p> </p> <p> iniciar qualquer classe de droga, desde que haja o con-
diabética há 4 anos, em uso de insulina NPH, apresenta trole da glicemia.
queixa de dor abdominal; náuseas e mal-estar; além de urina
139 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 4/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2013 b) Realizar USG abdominal e indicar colecistectomia


(ACESSO DIRETO 1) laparoscópica.
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – c) Solicitar endoscopia digestiva e tratar impactação alimentar.
SUS – SÃO PAULO – SP d) Solicitar TC abdominal com pesquisa de ureterolitíase
54 – Das abaixo, a preparação de insulina que apresenta
<p> </p> <p> e encaminhar para avaliação com urologista.
início de ação de 2 a 4 horas, pico de 4 a 10 horas e du- e) Iniciar hidratação e analgesia, administrar antiemético
ração efetiva de 10 a 16 horas é a: </p> e dar alta hospitalar.
a) Aspart.
b) Regular.
c) Glargina. RESIDÊNCIA MÉDICA 2013
d) Lispro. (ACESSO DIRETO 1)
e) NPH. ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO
RIO GRANDE DO SUL – RS
58 – Para indicação de transplante de pâncreas, qual a
<p> </p> <p>

RESIDÊNCIA MÉDICA 2013 dosagem sérica utilizada com mais frequência para o diag-
(ACESSO DIRETO 1) nóstico diferencial entre diabetes do tipo I e II? </p>

HOSPITAL NACIONAL DO CÂNCER – RJ a) Proteína C-reativa. d) Insulina NPH.


55 – Na nefropatia diabética, a lesão glomerular típica
<p> </p> <p> b) Incretinas. e) Peptídeo C.
consiste em: </p> c) Insulina regular.
a) Proliferação de células mesangiais.
b) Microtrombos em capilares glomerulares.
c) Glomeruloesclerose. RESIDÊNCIA MÉDICA 2013
d) Fibrose intersticial. (ACESSO DIRETO 1)
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DO PARANÁ – PR
59 – O diabetes mellitus é caracterizado pela homeostase
<p> </p> <p>

RESIDÊNCIA MÉDICA 2013 anormal da glicose. Em relação a crianças e adolescentes,


(ACESSO DIRETO 1) é CORRETO afirmar: </p>

SANTA CASA DE MISERICÓRDIA a) O diabetes mellitus pode ser classificado em tipos 1 e


DE BELO HORIZONTE – MG 2, ambos de etiologia autoimune e com fatores ambientais
56 – Paciente de 24 anos, masculino, diabético desde os
<p> </p> <p> desencadeantes da doença.
sete anos, em uso irregular de insulina NPH; etilista e usuário b) O diabetes mellitus tipo 1 costuma ser mais insidioso que o
de crack. Deu entrada no pronto-socorro queixando tosse tipo 2 e raramente está associado com quadro de obesidade.
com expectoração amarelada, dispneia e dor torácica venti- c) Em crianças com história de poliúria, polidipsia, ema-
latório-dependente. Os sintomas tiveram início há dois dias, grecimento e hiperfagia, deve-se realizar a curva glicêmica
com piora importante nas últimas seis horas. Ao exame, es- para confirmar o diagnóstico de diabetes mellitus tipo 1.
tava ansioso, desidratado e hipocorado. Dados vitais: PA: d) A cetoacidose diabética é uma complicação aguda do dia-
88 x 60 mmHg; FC: 134 bpm; FR: 44 irpm; SpO2: 88%. Ha- betes mellitus tipo 1 e seu tratamento requer correção da aci-
via consolidação em lobo inferior direito na radiografia de dose, hidratação e administração de insulina, nessa ordem.
tórax. Os exames laboratoriais iniciais foram: Gasometria e) A cetoacidose é um estado catabólico que cursa com
arterial: pH: 7,10; HCO3: 9,4 mEq/L; PCO2: 38 mmHg; Hemo- efluxo de sódio, potássio e fósforo do meio intracelular.
grama: Hb: 12,5; Leucócitos: 24.000, com 15% de bastões;
Plaquetas: 450.000; Proteína C-reativa: 110 mg/dl (VR: até
0,5 mg/dl); Ureia: 120 mg/dl; Creatinina: 0,8 mg/dl; Na: RESIDÊNCIA MÉDICA 2013
145 mEq/L; K: 4,5 mEq/L; Cl: 110 mEq/dl; Glicemia: (ACESSO DIRETO 1)
708 mg/dl; Cetonemia: positiva. Os seguintes medicamentos ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – PR
estão indicados no manejo do caso acima, EXCETO: </p> 60 – Com respeito aos antidiabéticos orais, assinale a al-
<p> </p> <p>

a) Solução de cloreto de sódio a 0,9%. ternativa CORRETA: </p>

b) Solução de cloreto de potássio a 10%. a) As sulfonilureias são compostos secretagogos de insu-


c) Insulina regular diluída em solução fisiológica. lina, com forte potencial para hipoglicemia, mas neutras
d) Solução isotônica de bicarbonato de sódio. em relação ao ganho de peso.
b) As glinidas, como a repaglinida, têm como ação primá-
ria a sensibilização das células hepáticas e musculares
RESIDÊNCIA MÉDICA 2013 à ação da insulina. Diminuem o pré-condicionamento is-
(ACESSO DIRETO 1) quêmico cardíaco.
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – c) As tiazolidinedionas, como a pioglitazona, podem piorar
SUS – BAHIA – BA quadros de insuficiência cardíaca, devido a seu potencial
57 – Paciente do sexo masculino, 26 anos de idade, sem
<p> </p> <p> de retenção de líquido. Podem diminuir a velocidade de
outras comorbidades, no pós-operatório tardio de cirurgia perda de células betapancreáticas.
bariátrica, evolui com dor em mesogástrio tipo cólica, sem d) Os inibidores da dipeptidil peptidase-4 diminuem o tem-
vômitos, com parada na eliminação de flatos e fezes. A po de ação do GLP-1 na circulação, desta forma não pre-
conduta mais indicada deve ser: </p> dispondo à hipoglicemia.
a) Iniciar hidratação, realizar RX de abdome, iniciar anal- e) A metformina tem baixo potencial para hipoglicemia,
gesia e realizar videolaparoscopia diagnóstica. mas tende a fazer retenção de líquidos e ganho de peso.
140 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 4/2017

1 Comentário A retinopatia diabética é a principal


</p> <p> para prevenção de cegueira através da fotocoagulação.
forma de cegueira irreversível no Brasil. Ela é assin- No diabetes tipo 1, o rastreamento deve ser iniciado
tomática nas suas fases iniciais, mas evolui ao longo após a puberdade, ou após cinco anos de diagnóstico do
do tempo, acometendo a maioria dos portadores de diabetes se este começou após a puberdade. Pacientes
diabetes após 20 anos de doença. A presença de retino- que planejam engravidar devem ser alertadas sobre os
patia é um marcador precoce de início das complicações riscos de piora da retinopatia diabética; mulheres com
microvasculares e do risco de comprometimento renal. O diabetes gestacional não precisam ser rastreadas.
rastreamento tem como objetivo o diagnóstico precoce Resposta: opção C. </p>
141 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 4/2017

2 Comentário O que está alterado nos exames


<p> é a mudança no estilo de vida , com melhorias no padrão
</strong>

de rotina? Resposta: os parâmetros glicêmicos do pacien-


<em> dietético aliada à prática de atividades físicas. Tal conduta
te! Ele não possui critérios diagnósticos para diabetes
<em> foi superior a todas as estratégias farmacológicas de pre-
mellitus, porém, apresenta glicemia de jejum alterada venção do diabetes (redução de risco da ordem de 60%
(entre 100-125 mg/dl), o que o coloca na categoria “pré- versus 30% com o uso de medicamentos). Evidentemente,
<em> </em>

-diabetes”. Esta impressão é corroborada pela dosagem tudo isso terá que ser acompanhado bem de perto: com
de HbA1c, que reflete o comportamento de sua glicemia o seguimento verificaremos se o paciente aderiu às re-
média nos últimos 3 meses (valores entre 5.7% e 6.4% comendações propostas, bem como poderemos flagrar
também possuem o mesmo significado diagnóstico). precocemente o eventual surgimento de um quadro de <em>-

Ora, a melhor conduta para pacientes “pré-diabéticos” diabetes mellitus declarado! Resposta certa: C. </p>
142 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 4/2017

3 Comentário Vamos avaliar as características


< <p> fato de existir uma concordância de diabetes tipo II em
separadamente: I) Como o peptídeo C é secretado em gêmeos idênticos de 70-90%. A doença é considerada
conjunto com a insulina, níveis baixos dessa molécula poligênica e multifatorial, pois, além dos polimorfismos
se correlacionam com estados de redução da produção genéticos, fatores ambientais (obesidade e atividade física)
de insulina, o que é característico do diabetes tipo I. Os auxiliam na modulação do fenótipo (correta). III) Polimor-
pacientes diabéticos tipo II na verdade, possuem inicial- fismos no complexo HLA são responsáveis por 40-50% do
mente hiperinsulinemia, com níveis elevados de peptídeo risco genético de se desenvolver diabetes tipo I. A maioria
C; conforme a doença vai avançando, até pode surgir um dos pacientes diabéticos tipo I possuem haplótipos do
estado de hipoinsulinemia, mas a maioria dos pacientes HLA DR3 e/ou DR4 (incorreta). IV) Apesar da cetoaci-
não apresentam tal alteração. Logo, não podemos dizer dose diabética ser uma marca do diabetes tipo I, pacientes
que um peptídeo C reduzido é CARACTERÍSTICO do diabéticos tipo II podem desenvolver esta complicação em
diabetes tipo II (incorreta). II) Sabemos que o diabetes tipo condições de alto estresse metabólico (infecções graves
II possui um forte componente genético, o que justifica o e IAM) - correta. Alternativa A CORRETA. </p>
143 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 4/2017

4 Comentário Os sintomas apresentados pela


<p> ser administrada em bolus (0,1 U/kg), seguida por infu-
<em> </em>

menina são típicos da cetoacidose diabética: perda de são contínua em bomba infusora (0,1 U/kg/h) e ajustada
peso, dor abdominal, vômitos, rebaixamento do nível de conforme glicemias. A terceira medida é a reposição de
consciência e taquipneia. A avaliação complementar evi- potássio, pois a insulinoterapia precipitará hipocalemia. O
denciando hiperglicemia, acidose metabólica e cetonúria eletrólito precisa ser reposto sempre que a calemia estiver
selam o diagnóstico. Vamos ao tratamento! A primeira entre 3,3-5,2 mEq/L, devendo atrasar provisoriamente a
medida, antes mesmo da administração de insulina, é a insulina quando menor que 3,3 mEq/L. Devemos ainda
reposição volêmica. Soro fisiológico 0,9% deve ser infun- nos atentar na reposição de fósforo e na possibilidade de
dido na taxa de 15-20 ml/kg/h na primeira hora. Após a correção do bicarbonato. A última só está indicada quando
soroterapia inicial, a hidratação venosa precisa ser man- o pH sanguíneo se encontra menor que 6,9 de acordo
tida, pois estes pacientes são extremamente hipovolêmi- com a ADA ou menor que 7, segundo alguns livros-textos.
cos. A segunda medida é a insulinoterapia, a qual deve Somente a letra B mostra tratamento adequado. </p>
144 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 4/2017

5 Comentário A insulina sintetizada pelas célu-


</p> <p> (30 minutos) e o fato de não sofrer metabolização hepá-
las beta do pâncreas é armazenada como pró-insulina e tica significativa, além de um clearance mais previsível.
<em> </em>

composta de duas cadeias (A e B) unidas pelo peptídeo O peptídeo C pode ser utilizado para avaliar a viabilidade
C. Durante a secreção de insulina, o peptídeo C é cliva- das células betapancreáticas (níveis indetectáveis no
do por uma protease e liberado junto com o hormônio. DM tipo 1 e acima de 0,1 ng/ml no DM tipo 2), além de
Clinicamente, o peptídeo C é um marcador independente auxiliar na diferenciação entre a hipoglicemia por causas
da secreção endógena de insulina, apresentando algu- endógenas (valores elevados no insulinoma) ou exóge-
mas vantagens em relação à determinação da dosagem nas (valores suprimidos no uso inadvertido de insulina).
da insulina plasmática, como a meia-vida mais longa Resposta: B. </p>
145 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 4/2017

6 Comentário Vamos recordar os critérios


<p> glicemia (os “polis”, como polifagia, polidipsia, poliúria e
diagnósticos de diabetes mellitus: 1 - Glicemia de jejum
<em> </em> perda ponderal); 3 - TOTG ≥ 200 mg/dl; 4 - Hemoglobina
≥ 126 mg/dl em duas ocasiões distintas; 2 - Glicemia ran- glicada ≥ 6,5%. Logo, dentre os critérios que foram apre-
dômica ≥ 200 mg/dl na presença de sintomas de hiper- sentados nas opções, apenas a letra D é válida. </p>
146 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 4/2017

7 Comentário A Neuropatia Diabética (ND) pode


<p> </p> <p> por períodos prolongados), nefropatia, neuropatia des-
ser encontrada em até 50% dos diabéticos de longa data mielinizante crônica, neuropatias hereditárias e vascu-
(como a paciente em questão), sem controle glicêmico lites (alternativa E correta). Existem várias formas de
adequado. Devemos fazer o rastreamento (alternativa expressão clínica da ND (polineuropatia distal simétrica,
A incorreta. Temos que detectar a neuropatia antes dos mononeuropatia, seja periférica, de pares cranianos ou
sintomas) da polineuropatia distal simétrica com testes radicular, mononeuropatia múltipla, neuropatias proxi-
clínicos simples (alternativa B incorreta), avaliando a mais e neuropatia autonômica), sendo a polineuropatia
sensibilidade dolorosa (palito ou agulha), tátil (algo- distal simétrica a mais comum, com forte predomínio
dão ou monofilamento de Semmes-Weinstein), térmica sensitivo, acometendo os membros em bota (principal)
(quente/frio) e vibratória (diapasão de 128Hz ou bioes- e luva, com dor neuropática, parestesias, hipoestesias,
tesiômetro), além da pesquisa de reflexos tendinosos disestesias e cãibras. Os sintomas motores incluem
(aquileu, patelar e triciptal). A combinação de mais de paresia, atrofia, marcha atáxica e desequilíbrio. Nossa
um teste apresenta sensibilidade superior a 87% na de- paciente tem perda da sensibilidade profunda e do re-
tecção da polineuropatia! Cabe ressaltar que, no caso flexo aquileu por este tipo de acometimento “em bota”!
de quadros mais graves, outras causas devem ser ex- Os anticonvulsivantes estão indicados apenas para a
cluídas, como intoxicações, alcoolismo, deficiência de dor neuropática, e não se associam à recuperação da
vitamina B12, (especialmente usuários de metformina sensibilidade (alternativa D incorreta). Gabarito: E! </p>
147 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 4/2017

8 Comentário A empagliflozina pertence à classe


</p> <p> descreve o mecanismo de ação das glitazonas (ex.: piogli-
dos inibidores do SGLT-2 (cotransportador de sódio e gli- tazona). O item C refere-se a drogas inibidoras da DPP-4,
cose), um canal presente na membrana apical das células como vildagliptina e sitagliptina. Já o efeito de liberação
do túbulo proximal do néfron responsável pela reabsorção de insulina pelo pâncreas é clássico das sulfonilureias (ex.:
de cerca de 90% da glicose filtrada (letra D correta). A le- glibenclamida, glimepirida, gliclazida) e também das glinidas
tra A traz o mecanismo de ação da metformina. A letra B (ex.: repaglinida, nateglinida). Portanto, alternativa correta: D! </p>
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9 Comentário Aproveite aqui para revisar. Glip-


<p> <p> nista de GLP-1 que induz a secreção insulínica por um
tinas agem inibindo a enzima DPP-IV, secretada no tubo efeito glicose-dependente (E errada). Os medicamentos
digestivo com o objetivo de degradar o GLP-1 (A erra- da classe inibidores de SGLT-2 (cotransportador de sódio
da). As glinidas, por sua vez, agem no próprio pâncreas, e glicose), como a canagliflozina e a dapagliflozina, agem
estimulando secreção insulínica (B errada). A acarbose, nos túbulos renais (especificamente nos SGLT-2 do túbulo
que reduz a absorção intestinal de glicose, age no tubo contorcido proximal), reduzindo a reabsorção de glicose.
digestivo (naturalmente, D errada). O liraglutide é um ago- Resposta: C. </p>
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10 Comentário Seguindo a lógica da individua-


<p> <p> controle glicêmico otimizando a secreção de insulina em
lização da terapia, considerando que o paciente é obe- resposta à ingesta de glicose, isto é, não aumentam a
so, o ideal é prescrever algum antidiabético oral que não insulina independentemente da glicose ingerida, e assim
promova ganho ponderal! A insulina e os secretagogos, não se associam a ganho de peso nem hipoglicemia. De
como glinidas e sulfonilureias, por elevarem a insulinemia, fato, se o paciente tiver condições de arcar com seu custo,
exercem efeito anabolizante, isto é, favorecem o ganho esta classe seria a opção ideal para o referido paciente que
de peso! Já as gliptinas, que representam os inibidores persiste com descontrole glicêmico leve (jejum < 200 mg/dl,
da DPP-IV de uso oral (incretinomiméticos) melhoram o hemoglobina glicada entre 7-8%). Resposta certa: A. </p>
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32 questão
<p> <p><em>

GABARITO OFICIAL: Normalização do ânion-gap, OU ânion-gap < 12 OU bicarbonato acima de 18 mEq/L OU norma-
lização do bicarbonato. </p></em></p><p>

11 Comentário Diante de um quadro de cetoaci-


<p> é finalmente atingido, podemos iniciar a insulina subcutâ-
dose diabética, devemos lembrar que a nossa abordagem nea (desligando a bomba de insulina 1-2 horas após a
é constantemente guiada por parâmetros clinicolaborato- sua administração) e iniciar a dieta. Como gabarito oficial,
riais. Após a instituição do tratamento adequado (hidrata- tivemos apenas menção ao ânion-gap e ao bicarbonato.
<em> </em>

ção-insulina-potássio), devemos observar se o paciente já Isto provavelmente porque o pH pode estar bom, mas com
preenche os critérios de resolução: pH > 7,3; bicarbonato acidose não resolvida plenamente. Além disso, sabe-se
> 18 mEq/L (algumas referências trazem > 15 mEq/L); que glicose normal também não é garantia de que esteja
glicemia < 200-250 mg/dl e ânion-gap < 12. Quando isto
<em> </em> resolvida a acidose. </p>
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12 Comentário A sintomatologia de poliúria, poli-


<p> <p> utilizados na gliconeogênese hepática. O resultado será a
fagia e perda ponderal, é clássica do diabetes mellitus , que
<em> </em> ocorrência de níveis bem elevados de glicemia e produção
é confirmado neste caso pela glicemia capilar de 500 mg/dl. exacerbada de corpos cetônicos, levando à cetoacidose
A cetoacidose diabética é a complicação metabólica aguda diabética. Esta acidose metabólica é normoclorêmica, isto
clássica do DM tipo 1, ou seja, ausência completa ou quase é, com AG aumentado, por causa dos cetoânions - acetoa-
completa de insulina. Sem insulina, o estado catabólico tor- cetato e beta-hidroxibutirato, derivados da dissociação dos
na-se exagerado – a lipólise lança na circulação uma quan- ácidos acetoacético e beta-hidroxibutírico, respectivamente.
tidade enorme de ácidos graxos que serão transformados Quanto à redução da PaCO2, ela se deve à hiperventilação
em corpos cetônicos no fígado. O hipercatabolismo também para compensar a acidose (respiração de Kussmaul). Res-
libera glicerol, aminoácidos e lactato dos tecidos, que serão posta, portanto, opção A. </p>
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13 Comentário A glibenclamida e clorpropamida


<p> <p> principais reações responsáveis pela hiperglicemia persis-
são antidiabéticos da classe das sulfonilureias, que atuam tente dos diabéticos tipo 2. A acarbose é um inibidor da alfa-
nas células betapancreáticas aumentando a secreção basal -glucosidase do trato gastrointestinal, impedindo a digestão
de insulina, através do bloqueio dos canais de K+ ATP- dos carboidratos polissacarídeos em monossacarídeos,
-dependentes da membrana plasmática. A metformina per- como a glicose e, por isso, retarda a absorção intestinal de
tence à classe das biguanidas e atua através da ativação glicose (reduzindo a hiperglicemia pós-prandial). Portanto,
da AMP-quinase, que aumenta o efeito da insulina nos he- dentre as drogas citadas, a que possui maior efeito em inibir
patócitos, bloqueando a glicogenólise e gliconeogênese, o pico de glicemia pós-prandial é a acarbose. Resposta: B. </p>
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14 Comentário Questão clássica. A hiperfiltra-


<p> <p> rações na estrutura do tufo glomerular (espessamento
ção glomerular secundária à hiperglicemia crônica é da membrana basal e expansão mesangial) que aca-
um evento básico e ocorre em virtualmente TODOS os bam permitindo o extravasamento de proteínas, ao que
pacientes diabéticos. 20 a 40% dos diabéticos, porém, chamamos de MICROALBUMINÚRIA ou NEFROPATIA
acabam evoluindo ao longo de aproximadamente 10 DIABÉTICA INCIPIENTE, início da lesão renal diabética.
anos para um novo estágio, no qual observamos alte- Resposta certa: A.</p>
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15 Comentário Após a primeira década de doen-


<p> </p> <p> precoce e distensão abdominal, e em usuários de insulina
ça, a frequência de complicações microvasculares do dia- é comum também uma maior frequência de hipoglicemia,
betes (neuro, nefro e retinopatia) se torna significativamen- pois o paciente toma a insulina antes de comer, mas o
te aumentada, e em geral o paciente apresenta mais de alimento não é absorvido a tempo (já que demora mais
um tipo de complicação. Uma das formas mais mórbidas a passar do estômago para o intestino), resultando em
de neuropatia diabética é a neuropatia autonômica, que
<em> </em> hipoglicemia durante o pico de ação da insulina — mo-
geralmente acomete tanto o tubo digestivo quanto o trato mento em que não haverá glicose sendo absorvida pelo
geniturinário! No tubo digestivo, uma das manifestações intestino. As demais opções não se aplicam ao caso (A e
mais frequentes é a síndrome de gastroparesia, condição
<em> </em> B são condições agudas que cursam com dor abdominal
em que o estômago tem sua peristalse diminuída e há um e D é uma condição de lenta instalação marcada pela
importante retardo ao esvaziamento gástrico. A clínica é presença de uma síndrome disabsortiva com esteatorreia).
marcada pelas queixas de náuseas, vômitos, saciedade Resposta certa: C.</p>
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16 Comentário Vamos relembrar as indicações de


</p> <p> polidipsia + polifagia, com glicemia de jejum > 250 mg/dl, ou
insulinoterapia no DM tipo II? (1) Pacientes refratários à dieta glicemias aleatórias persistentemente acima de 300 mg/dl;
+ exercícios + monoterapia com metformina ou terapia com- (3) Troca de diagnóstico: o que parecia ser um DM tipo II, é
binada (metformina + sulfonilureia, por exemplo); (2) Pacien- na verdade um LADA ou (4) Situações especiais: gestantes,
tes em franco estado catabólico: emagrecimento + poliúria + pré-operatório, doentes críticos. Alternativa C CORRETA. </p>
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17 Comentário O quadro clínico descrito é su-


<p> </p> <p> é, obrigatoriamente, a reposição de insulina, assim como
gestivo de diabetes mellitus tipo 1 (início relativamente
<em> </em> no DM1 habitual. Não adianta dar secretagogo para esse
bem demarcado de hiperglicemia grave e sintomática em doente (como a glibenclamida), pois o problema básico
paciente não obeso). O que confundiu o colega médico é a destruição autoimune das células beta gerando in-
que inicialmente prescreveu hipoglicemiantes orais (pen- sulinopenia absoluta. A metformina pode ser usada em
sando em DM tipo 2) foi a idade de apresentação: em conjunto com a insulina, porém, tal conduta é reservada
pessoas com mais de 30 anos não é comum o apare- para portadores de franca resistência tecidual à insulina,
cimento de DM1! Sem embargo, temos que lembrar de como acontece, por exemplo, no paciente obeso (não é
uma forma especial da doença, o chamado LADA (Latent <strong> </strong> <em> o caso aqui). Desse modo, devemos suspender as me-
Autoimmune Diabetes of the Adult). No LADA, o DM1 se
</em> dicações prescritas e iniciar a insulinização plena deste
inicia em uma faixa etária mais elevada, e o tratamento paciente. Resposta certa: C. </p>
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18 Comentário Temos aqui um paciente no pós-


<p> <p> tuação aqui é diferente. No caso de cirurgia bariátrica,
-operatório tardio (então não pode ser um ileoparalítico) pacientes que se apresentam com um quadro clínico
de cirurgia bariátrica, que evolui com uma síndrome de ou radiográfico de obstrução precisam de reoperação.
obstrução intestinal, aparentemente completa (parada Isso porque o potencial para as hérnias internas depois
na eliminação de flatos e fezes). Bom, nos pacientes desse tipo de procedimento faz da obstrução com es-
operados por qualquer outro motivo, como uma cirur- trangulamento um evento frequente de obstrução intes-
gia ginecológica, nossa principal hipótese seria brida tinal e os pacientes devem ser operados de imediato.
(principal causa de obstrução intestinal). Porém, a si- Resposta: letra A.</p>
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19 Comentário Vamos lembrar as características


<p> </p> <p> minutos após a administração, com pico sérico em 30
dos diferentes tipos de insulina presentes na questão: minutos – 1 hora e meia; sua duração efetiva é de 4-6
• Glargina: insulina de ação prolongada; tem seu início horas. • Lispro: insulina de ação ultrarrápida; assim
de ação 2-4 horas após a administração e não apre- como a Aspart tem seu início de ação em 5-15 minutos
senta pico sérico. Sua duração efetiva gira em torno após a administração, com pico sérico em 30 minutos
de 24 horas. • Regular: insulina de ação rápida; tem – 1 hora e meia; sua duração efetiva é de 4-6 horas.
seu início de ação em 30 minutos – 1 hora após a sua • NPH: insulina de ação intermediária; tem seu início de
administração, com pico sérico em torno de 2-3 horas; ação em 2-4 horas, com pico sérico em 4-8 horas após a
sua duração efetiva é de 5-10 horas. • Aspart: insulina administração; sua duração efetiva vai de 10 a 18 horas.
de ação ultrarrápida; tem seu início de ação em 5-15 Logo, resposta correta: letra D.
</p>
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20 Comentário A albuminúria pode ser quantifi-


<p> <p> racional para este cálculo é a seguinte: sabe-se que, em
cada na urina de 24h ou, como é preferível pelos atuais seres humanos, a excreção urinária de CREATININA é
consensos nacionais e internacionais, por meio de uma relativamente constante e homogeneamente distribuída ao
amostra urinária isolada (idealmente a primeira urina da longo das 24h, girando em torno de 1 grama/dia. Logo, se
manhã). A coleta tecnicamente perfeita de uma “urina de dosarmos creatinina e albumina em uma amostra urinária
24h” costuma ser problemática para muitos pacientes, o isolada, podemos estimar a quantidade de albumina ex-
que compromete a acurácia de seus resultados. Lembre- cretada ao longo de 24h se fizermos uma correlação entre
-se de que a definição de microalbuminúria é: excreção de a quantidade de albumina encontrada com a quantidade
30-300 mg/dia de albumina na urina, o que, no contexto equivalente em gramas de creatinina. No caso em tela,
do diabetes mellitus, indica seguramente a existência de
<em> </em> temos 50 mg/dl de creatinina, o que equivale a 0,05 g/dl.
nefropatia diabética incipiente. Pois bem: estudos cien- Dividindo 10 mg/dl de albumina por 0,05 g/dl de creatinina,
tíficos demonstraram que a estimativa da albuminúria encontramos o valor de 200 mg de albumina para cada
diária em uma amostra urinária isolada apresenta boa grama de creatinina. Logo, não resta dúvida de que se
correlação com a albuminúria corretamente medida na trata de microalbuminúria e, por conseguinte, já existe
urina de 24h, desde que se faça um certo cálculo. A base nefropatia diabética. Resposta certa: A. </p>
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21 Comentário As alterações mais precoces da


<p> </p> <p> apresentações histopatológicas: a glomeruloesclerose di-
nefropatia diabética são o espessamento da membrana fusa e a glomeruloesclerose nodular (também chamada
basal glomerular, a hipertrofia glomerular e a expansão me- de Kimmelstiel-Wilson), sendo esta última específica da
sangial ACELULAR, correspondendo a um material amorfo nefropatia diabética, desde que excluídos alguns poucos
eosinofílico PAS positivo. A organização intraglomerular diagnósticos (amiloidose e doença de cadeia leve). Logo,
dos depósitos mesangiais PAS positivos determina duas resposta correta: letra C.
</p>
161 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 4/2017

22 Comentário Inicialmente, observando apenas


<p> </p> <p> (C errada). Temos que entender, no entanto, que pacientes
o enunciado, não se pode dizer exatamente o quadro que diabéticos mal controlados podem apresentar sintomas de
esta paciente tem. É claro que temos uma glicemia capilar hipoglicemia com níveis mais elevados que o habitual pela
no limiar inferior, mas será que ela é de fato a responsável incapacidade de utilizar a glicose plasmática (B errada). O
pelos sintomas? Não poderia ser até mesmo um IAM, por diagnóstico é então firmado com a tríade de Whipple, em
exemplo? Certamente precisaríamos de um ECG para que temos a presença de hipoglicemia documentada, as-
descartar um evento coronariano, mas esse não é o foco sociada a sintomas neuroglicopênicos compatíveis e que
da nossa questão. Nós precisamos saber se é ou não melhoram prontamente com a administração de glicose
da hipoglicemia, ponto! Motivo ele tem, pois as sulfonilu- (A certa). Ou seja, não melhorar o quadro após a adminis-
reias fazem parte da classe de drogas orais com maior tração de glicose nos direciona para outra possibilidade
potencial hipoglicemiante, diferentemente da metformina diagnóstica (D errada).</p>
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23 Comentário A miocardiopatia diabética é


<p> </p> <p> retinopatia diabética, a lesão microvascular da retina resul-
uma das lesões de órgão-alvo que pode aparecer nesta ta em isquemia multifocal do tecido retiniano, o qual reage
doença, e tem como base fisiopatológica a microangio- secretando localmente fatores de crescimento vascular. O
patia que acomete o leito coronariano após as coronárias resultado é a proliferação de neovasos, que são friáveis
epicárdicas, que assim podem ser normais (A correta). A e podem se romper, gerando hemorragia e descolamento
nefropatia diabética é, na maioria das vezes, uma glo- de retina, o que culmina em retrações fibróticas reacionais
merulopatia, que se inicia com microalbuminúria (lesão na câmara vítrea (D correta). Enfim, na mononeuropatia
incipiente) e evolui com graus progressivos de proteinúria múltipla, o paciente apresenta comprometimento misto do
não seletiva e perda cumulativa de néfrons, chegando ao nervo, tanto motor, quanto sensitivo, mas o predomínio é
estágio de doença renal em fase terminal (C correta). Na do componente motor. Logo, resposta certa: B. </p>
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24 Comentário Em situações de grande aumento


<p> </p> <p> produção ácida na CAD, (1) a concentração de íon hidro-
da glicemia (como a cetoacidose diabética), aumenta gênio eleva-se, diminuindo o pH e (2) a dissociação dos
também a osmolalidade do plasma, sendo que o efeito ácidos eleva a quantidade de ânions não mensuráveis
osmótico da glicose faz com que haja reabsorção de no sangue, causando elevação do ânion- gap . A hipo-
<em> </em>

água em direção ao plasma, diluindo a natremia, deter- fosfatemia também é comum nesse contexto. Resposta
minando pseudo-hiponatremia. Como há aumento da certa: letra D.
</p>
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25 Comentário Estamos diante de um cená-


<p> </p> <p> metformina (a dose de metformina varia de 1.000 mg a
rio clínico bastante frequente na prática: paciente DM2 2.550 mg/dia), podemos optar pela associação de qualquer
que não atinge as metas glicêmicas preconizadas após um dos fármacos a seguir: (1) sulfonilureia, (2) inibidor da
a monoterapia inicial com metformina (lembrando que DPP-IV, (3) glitazona, (4) insulina basal ao deitar (“bedtime
<em>

idealmente este indivíduo também deveria seguir as insulin”) e (5) exenatide. Então, por que marcar a letra C?
<em>

recomendações para mudança terapêutica no estilo de Muito simples. A letra A está errada porque a insulinização
vida: dieta + atividades físicas). As metas glicêmicas no plena é indicada somente quando o paciente DM2 falha
tratamento do DM tipo 2 são: (1) hemoglobina glicada com a terapia combinada (falência do controle glicêmico
< 7%; (2) glicemia de jejum entre 70-130 mg/dl; adequado após a combinação de 2 ou 3 agentes hipogli-
(3) glicemia pós-prandial < 180 mg/dl. O que fazer nes- cemiantes orais com mecanismos de ação diferentes). A
ta situação? Na ausência de franca descompensação letra B está errada porque as sulfonilureias são SECRE-
glicêmica aguda ou outra intercorrência clínica grave - TAGOGOS, isto é, drogas que aumentam a secreção de
situações que demandam o uso imediato (e provavel- insulina pelas células beta das ilhotas pancreáticas, sem
mente transitório) de insulina - a conduta preconizada interferir na sensibilidade dos tecidos periféricos a este
é a associação de um segundo agente hipoglicemiante hormônio. E a letra D está errada porque a acarbose é
oral! Mas que agente utilizar? A escolha por uma droga um inibidor da alfaglicosidase, enzima presente na “borda
específica pode se basear no nível de HbA1c que o pa- em escova” dos enterócitos importante para os processos
ciente apresenta. Para indivíduos que continuam com a de digestão e absorção intestinal dos carboidratos. Logo,
hemoglobina glicada entre 8-10% com uma dose alta de a única alternativa viável é a letra C!</p>
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26 Comentário A hidratação venosa é parte


<p> por frasco de soro). Com o K > 5 mEq/L a insulina deve
essencial da conduta perante a Cetoacidose Diabética ser iniciada sem potássio, sendo a calemia checada de
(CAD), devendo-se repor pelo menos 1 litro de salina (SF 2/2h (quando cair abaixo de 5 mEq/L a infusão de K deve
0,9%) na PRIMEIRA HORA de tratamento (A errada). O ser iniciada conforme já explicado) - C errada. A glicemia
momento de iniciar a insulinoterapia intravenosa depende capilar, no início do tratamento, idealmente deve ser ve-
da calemia inicial do paciente. Se houver franca hipocale- rificada a cada hora (D errada). Enfim, quando a glicemia
mia (K < 3,3 mEq/L) deve-se primeiro corrigir o distúrbio atingir valores < 200-250 mg/dl devemos reduzir a dose de
do potássio (ministrando 40 mEq de K) antes de começar insulina regular contínua e iniciar a reposição de glicose no
a insulina (B errada). Quando o potássio está entre 3,3 e soro (adicionando SG 5%)! O objetivo é manter a glicemia
5 mEq/L podemos iniciar a insulina sem problemas, mas é entre 150-200 mg/dl até que a cetoacidose se resolva por
preciso começar junto a infusão venosa de K (20-30 mEq completo. Resposta certa: E. </p>
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27 Comentário Estamos diante de um caso


<p> </p> <p> mas só após a administração inicial de 1 a 1,5 litros de
clássico de cetoacidose diabética. O pilar de tratamento, soro fisiológico de modo a corrigir a desidratação e a
inicialmente, é a hidratação venosa, e não a insulina, já hipotensão inicial. Só depois disso é que passaremos a
que esses pacientes estão, por via de regra, muito de- “nos preocupar” com o sódio. Logo, a opção A (SF 0,9%)
sidratados. Além disso, o início da insulinoterapia leva à também é pertinente ao caso. Por fim, o bicarbonato.
entrada intracelular de glicose, que leva consigo líquido, O valor exato depende da referência consultada, mas
agravando a hipovolemia caso seja administrada antes realmente só administramos bicarbonato de sódio em
da hidratação venosa. Por fim, o início da insulina irá pacientes com CAD em casos extremos, com gasome-
precipitar a queda acentuada da calemia e fosfatemia, tria arterial demonstrando pH muito baixo (segundo a
pois a correção da acidose precipita a entrada desses Associação Americana de Diabetes, só nos casos de pH
íons nas células. A reposição de KCl geralmente é iniciada < 6,9). Por que não administrar sempre? Em primeiro
quando o K é inferior a 5,2 mEq/L, ou seja, este paciente lugar, porque a acidose será corrigida pela própria insu-
deve receber reposição de potássio desde o início do tra- linoterapia. Depois, porque existem riscos da adminis-
tamento. E a hidratação? Não seria com salina a 0,45%, tração do NaHCO3, como hipocalemia, acidose liquórica
já que o paciente está tendendo à hipernatremia? Sim, paradoxal e mesmo alcalose. Resposta: letra D. </p>
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28 Comentário Pacientes com ClCr abaixo de


<p> </p> <p> conseguiria sozinha fazer a hemoglobina do paciente
30 ml/min não devem utilizar metformina, enquanto que chegar no alvo. Dessa forma, a insulina é a melhor droga
quem tem clearance abaixo de 50 ml/min não deve usar
<em> </em> para ser usada nesse paciente, mas devemos atentar
glibenclamida. A repaglinida não precisa de ajuste de sempre para os sinais de hipoglicemia, especialmente
dose na doença renal, mas não conseguiria trazer a he- se o paciente faz uso de betabloqueador, que pode mas-
moglobina glicada do paciente para o alvo objetivado. carar parte dos sintomas. É comum que em pacientes
Uma boa sulfonilureia para pacientes renais crônicos é renais crônicos, sejamos obrigados a reduzir as doses
a glipizida, que não necessita de ajuste de dose e pode de insulina com o passar do tempo ao invés de aumen-
ser usada até para clearances menores que 10 ml/min,
<em> </em> tá-las, devido à progressão da doença renal e a maior
mas não está entre as opções da questão e também não circulação da droga. </p>
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29 Comentário Justamente por aumentarem


</p> <p> póreo é de DIMINUIÇÃO DO PESO (E errada). Enfim, as
a secreção de insulina (um hormônio “anabolizante”), as tiazolidinedionas , como a pioglitazona, promovem retenção
<em> </em>

sulfonilureias (principais representantes da classe dos “se- de sal e água e, consequentemente, podem agravar os
cretagogos”), acarretam risco de hipoglicemia e ganho de quadros de insuficiência cardíaca congestiva, piorando sin-
peso (A errada). As glinidas também são secretagogos, tomas já estabelecidos ou desencadeando os sintomas em
aumentando a secreção de insulina pelas células beta do pacientes com IVE subclínica. Como se tratam de drogas
pâncreas (B errada). A dipeptidil peptidase-4 é uma enzi- que “sensibilizam” tecidos periféricos aos efeitos da insulina,
ma que degrada o GLP-1. Logo, seus inibidores (como a elas têm o potencial de desacelerar a perda de células
sitagliptina) aumentam o tempo de ação do GLP-1 natural betapancreáticas, pois a hiperinsulinemia decorrente da
(D errada). A metformina tem um BOM potencial de redu- resistência periférica à insulina (que hiperestimula as refe-
ção da glicemia (queda na hemoglobina glicosilada entre ridas células, aumentando a deposição local de substância
1,5-2%), porém, sabemos que seu efeito sobre o peso cor- amiloide destrutiva) pode ser reduzida. Resposta certa: C. </p>
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30 Comentário Paciente diabética, com doença


<p> </p <p> tos, taquipneia, desidratação e rebaixamento do nível de
iniciada na vida adulta, vinha em tratamento com hipoglice- consciência), o que afasta a presença de cetoacidose e
miantes orais em doses otimizadas + dieta, até que passa estado hiperosmolar não cetótico. Além disso, o enun-
a apresentar descontrole dos níveis glicêmicos (glicemia ciado traz um peptídeo C bem reduzido, o que denota
de jejum e hemoglobina glicada bem elevadas) associado a presença de insuficiência insulínica! Logo, temos uma
a emagrecimento, o que costuma acontecer em pacientes paciente diabética tipo II, de longa data, que evolui para
descompensados em franco estado catabólico. Podemos um quadro de insuficiência insulínica secundária, devendo
notar também que a mesma não apresenta sinais de ne- iniciar tratamento com insulina exógena! Logo, a resposta
nhuma complicação AGUDA da doença (náuseas, vômi- correta é a letra B.
</p>
170 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 4/2017

31 Comentário Vamos ver cada uma das op-


</p> <p> para o diagnóstico do DM, e na presença de sintomas
ções: A) Incorreta. Sabemos que o DM tipo 1 é de etio- como poliúria, polidipsia e perda ponderal, uma glice-
logia autoimune, o que não pode ser dito sobre o tipo 2. mia casual acima de 200 mg/dl já nos dá o diagnóstico.
B) Incorreta. O DM tipo 1 não costuma ter início insidioso. D) Incorreta. O tratamento da CAD requer as medidas
Na maioria dos casos, o quadro clínico é bastante suges- apresentadas na opção, mas não na ordem em que apa-
tivo, com polidipsia, polifagia, poliúria e perda ponderal e, recem. Devemos lembrar que a hidratação é a prioridade
caso não haja suspeição diagnóstica, o paciente progride na primeira hora da cetoacidose. E) Na CAD temos uma
com quadro de desidratação e acidose, podendo evoluir redução dos reservatórios corporais de diversos eletrólitos,
para a cetoacidose diabética. C) Incorreta. Como sabe- tais como o potássio, o sódio, magnésio, cálcio e fósforo.
mos, não é necessária a realização de curva glicêmica CORRETA. Alternativa E correta. </p>
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32 Comentário Sabemos que o tratamento farma-


</p> <p> clássicos da doença, como poliúria, polidipsia ou perda
cológico inicial do diabetes tem, como primeira opção, o ponderal, o tratamento deve ser iniciado com insulinotera-
uso de metformina, se tolerada e não contraindicada. En- pia, devido ao franco estado catabólico dos doentes que
tretanto, em pacientes que se apresentam com sintomas assim se manifestam. Resposta certa: letra A. </p>
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33 Comentário A dosagem do peptídeo C reflete a


<p> </p> <p> baixa produção de insulina, o nível de peptídeo C estará bai-
produção da insulina endógena, devido a tal, permite diferen- xo, ao contrário do diabetes tipo II, cuja resistência insulínica
ciar um quadro de diabetes tipo I e tipo II. Na tipo I, devido à eleva a produção de insulina e peptídeo C. Resposta: letra E. </p>
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34 Comentário O tratamento da cetoacidose


<p> <p> é calculado em relação ao peso: até 10 kg: 100 ml/kg,
diabética com sinais de choque (pulsos periféricos fracos 10-20 kg: 50 ml/kg; > 20 kg: 25 ml/kg); b) Composição
e redução do nível/conteúdo de consciência) inicia-se eletrolítica: SF 0,9% + Água Destilada, em partes iguais
com: 1) Estabilização (“ABC”): manutenção de vias aé- a fim de formar soro 0,45%. Quando a glicemia sérica
reas pérvias e ventiladas/oxigenadas, acesso venoso atingir 250 mg/dl, modificar para soro glicofisiológico
periférico, monitorização cardíaca e oximetria de pulso (1:1); c) Potássio: se o K sérico for < 3,3 mEq/L, acres-
e avaliar antibióticos em pacientes febris, após coleta de centar 40 mEq de KCl para cada litro de soro da solu-
culturas; 2) EXPANSÃO VOLÊMICA: 10-20 ml/kg IV de ção; se K sérico estiver entre 3,3-5,5 mEq/L, acrescentar
NaCl 0,9% ou Ringer Lactato (RL) em 1-2 horas, poden- 20-30 mEq de KCl para cada litro de soro da solução; Se
do-se repetir se necessário (sem ultrapassar 30 ml/kg). K sérico > 5,5, adiar a reposição de potássio, e colher
Após restabelecimento da diurese, inicia-se a hidratação novo exame em 2 horas. 3) INFUSÃO CONTÍNUA DE
venosa (próximas 24 horas): a) Volume: manutenção + INSULINA REGULAR: 0,05 – 0,1 µ/kg/h. Não se utiliza
perdas. Nas desidratações leves (perda de 5% do peso mais o bolus de insulina regular, haja vista o risco de
<em> </em>

corporal), usa-se um volume de perdas de 50 ml/kg; hipoglicemia e hipocalemia pela queda abrupta da gli-
nas desidratações moderadas (perda de 7% do peso cose plasmática. A insulina deve apenas ser iniciada 1 a
corporal) usa-se um volume de perdas de 70 ml/kg; e 2 horas após a reposição volêmica, pois se feita antes,
nas desidratações graves (10% do peso corporal) usa- ainda na fase de expansão volumétrica poderá acarretar
-se um volume de 100 ml/kg. O volume de manutenção edema cerebral. Portanto, gabarito: letra B. </p>
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35 Comentário A insulina sintetizada pelas cé-


</p> <p> (A correta). Ele possui vantagens em relação à dosagem
lulas beta do pâncreas é armazenada como pró-insulina da insulina plasmática, como a meia-vida mais longa
e composta de duas cadeias (A e B) unidas pelo peptí- (30 minutos; a da insulina é de apenas 4 minutos), o
deo C. Durante a secreção de insulina, esse peptídeo fato de não sofrer metabolização hepática significativa,
é clivado por uma protease e liberado em conjunto com além de um clearance mais previsível (B incorreta). Só
<em> </em>

a insulina pelas células beta das ilhotas pancreáticas. por curiosidade, o HOMA-R é um índice calculado por
Quando as células beta são destruídas por mecanismos uma fórmula matemática a partir dos valores de insuli-
autoimunes (DM tipo 1), os seus níveis séricos geral- na e glicemia em jejum e reflete o grau de resistência
mente são indetectáveis. Quando viáveis (DM tipo 2), os insulínica do paciente (D incorreta). A cintilografia do
seus níveis encontram-se acima de 0,1 ng/dl. Portanto, pâncreas geralmente é reservada para pesquisa de tu-
o peptídeo C é utilizado clinicamente como forma de mores primários ou metastáticos do órgão (C incorreta).
avaliar a reserva funcional de células beta do pâncreas Resposta: A! </p>
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36 Comentário Não há dúvidas quanto a este


</p> <p> na se o potássio for menor que 3,3 mEq/L. Nestes casos
diagnóstico: quadro típico de cetoacidose diabética. O precisamos repor o potássio na taxa de 20-30 mEq/h, até
primeiro passo do tratamento é sempre a hidratação ve- que este atinja níveis > 3,3 mEq/L. Naqueles que possuem
nosa. Na primeira hora devemos infundir cerca de 1000 a valores de calemia entre 3,3 a 5,2 mEq/L está autorizada
1500 mililitros de soro fisiológico 0,9%. Isto deve ser feito a terapia com insulina, mas esta deve ocorrer concomi-
mesmo antes da insulinoterapia. Antes de instituir a infusão tantemente à reposição de potássio a fim de evitar a hipo-
de insulina em bomba de infusão precisamos também nos calemia. Somente aqueles com potássio > 5,2 mEq/L não
certificar dos níveis de potássio. Sabidamente a insulina recebem reposição logo de cara, mas os valores precisam
reduz a calemia, então não devemos administrar insuli- ser reavaliados sequencialmente. </p>
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20 questão
<p> <p><em>

GABARITO UNIFESP: Neuropatia periférica (OU neuropatia diabética OU neuropatia).


GABARITO PÓS UNIFESP: Neuropatia periférica (OU neuropatia diabética OU neuropatia). </p></em></p><p>

37 Comentário Temos aqui um quadro de dia-


<p> <em> queimação na sola dos pés que impede o paciente de
betes mellitus com mais de 10 anos de duração. Isso,
</em> dormir. O sintoma tende a se agravar no período noturno,
por si só, já aumenta a probabilidade de complicações e MELHORA com a deambulação (por isso que o paciente
microvasculares nos órgãos-alvo dessa doença, como não dorme). O tratamento envolve, além de uma otimiza-
neuro, nefro e retinopatia diabética, que geralmente estão ção do controle glicêmico, um cuidado redobrado com os
presentes após a primeira década de doença. Ora, uma pés (fazendo-se o autoexame regularmente à procura de
das queixas mais típicas da neuropatia diabética (uma lesões indolores), aliado ao uso de medicamentos para dor
polineuropatia sensitivo-motora simétrica de predomínio neuropática como os antidepressivos tricíclicos em baixa
nas extremidades, em particular nos membros inferiores) dose (ou inibidores da recaptação de serotonina e nora-
é justamente a dor em queimação e outras alterações drenalina — ex.: duloxetina) e certos anticonvulsivantes
sensitivas incômodas (como cãibras), classicamente uma como a pregabalina e a gabapentina. </p>
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38 Comentário Os sinais e sintomas apresen-


<p> <p> ção direta com o grau de acidose, pois pode ser o caso,
tados permitem o diagnóstico de cetoacidose diabéti- por exemplo, do paciente ter ingerido muito açúcar – nes-
ca: (1) sintomas como polidipsia, dor abdominal, náu- ta situação, mesmo uma CAD inicial, com acidose leve,
seas e mal-estar geral; (2) hiperglicemia (> 250 mg/dl); pode ser acompanhada por importante hiperglicemia.
(3) acidose metabólica grave e (4) cetonúria/cetonemia. C errada : na CAD, por efeito da diluição osmótica do só-
</strong>

Pois bem, é possível um paciente portador de DM2 (pro- dio sérico exercida pelo aumento da glicose (que “puxa”
vável tipo de DM neste caso, já que o paciente fazia a água para o intravascular), espera-se HIPOnatremia.
uso apenas de hipoglicemiantes orais, sem insulina) D certa : uma das mais temíveis complicações do trata-
<em> </em>

desenvolver um quadro de CAD? Sim, é possível, prin- mento da CAD é o edema cerebral, cuja fisiopatologia
cipalmente se houver algum fator desencadeante como ainda é pouco compreendida. Sabemos que ele tende
uma infecção. Lembre-se de que em uma situação de es- a acontecer em crianças e, principalmente, nos pacien-
tresse fisiológico como uma infecção grave, pode haver tes que recebem bicarbonato de sódio no tratamento
um desequilíbrio tão intenso entre hormônios “contrain- da CAD. E errada: a leucocitose com desvio à esquerda
<em>

sulínicos” e a produção endógena de insulina que surge pode ocorrer somente pela CAD em si, mas pode tam-
um “hipoinsulinismo relativo profundo”, fazendo a balan- bém significar a coexistência de um processo infeccioso.
ça pender para o lado da cetogênese hepática. Então, O diagnóstico de infecção da FO é feito visualmente,
considerando este diagnóstico, vamos às alternativas. pela inspeção da ferida (eritema, edema e secreção). A
A errada : a CAD é uma acidose metabólica com ânion-
<em> </em> <em> </em> <em>- mera presença de leucocitose não garante infecção da
gap aumentado à custa do acúmulo de corpos cetônicos. <strong> FO: a infecção, na realidade, pode estar em outros locais
B errada: o grau de hiperglicemia nem sempre tem rela-
</em> (ex.: urina, pulmão, pele, ossos etc). Resposta certa: D. </p>
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39 Comentário A mucormicose rino-orbitocere-


<p> </p> <p> tecidos dos seios paranasais, ocorrendo necrose extensa
bral é uma complicação infecciosa clássica e gravíssima que costuma atingir os ossos e ser acompanhada de
do diabetes mellitus mal controlado que pode aparecer
<em> </em> secreção tipicamente fétida. A infiltração por contiguidade
também em outras situações que cursam com imuno- da órbita e do encéfalo justifica as demais manifestações
depressão espontânea, como as neoplasias hematológi- observadas: proptose ocular associada a edema e erite-
cas. Trata-se de uma infecção subaguda das vias aéreas ma (bloqueio à drenagem venosa do globo ocular) e pa-
superiores por fungos dos gêneros Mucor , Rhizomucor , <em> </em> <em> </em> ralisias de nervos cranianos, envolvendo principalmente
Rhizopus e/ou Cunninghamella que, se não reconhecida
<em> </em> <em> </em> os nervos da motricidade ocular. O tratamento consiste
e tratada a tempo, costuma progredir e invadir os tecidos em debridamento cirúrgico repetitivo associado a altas
adjacentes, levando o paciente ao óbito. No caso do DM1 doses de antifúngicos sistêmicos (anfotericina), além, é
- vale ressaltar - geralmente existe um quadro de cetoa- claro, do controle dos fatores predisponentes (no caso
cidose diabética associado à infecção ativa! Os fungos em tela, controle do DM1 descompensado). Resposta
da mucormicose exercem ação destrutiva local sobre os certa: C.</p>
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40 Comentário Na abordagem terapêutica do


<p> <p> de glicotoxicidade (a hiperglicemia acentuada promove
<em> </em>

diabetes mellitus tipo 2, a conduta inicial varia confor-


<em> </em> disfunção potencialmente reversível das células beta-
me o nível de hiperglicemia em jejum do paciente. Com pancreáticas). Em muitos casos, porém, a insulinização
valores acima de 300 mg/dl, recomenda-se insulinizar será permanente, o que tende a ser mais provável em
o paciente imediatamente! Vale ressaltar que, neste pa- um paciente com história prolongada de diabetes (que
ciente, a metformina, a princípio, deverá ser mantida, já pode ter evoluído mesmo para disfunção definitiva
pois trata-se de medicação que aumenta a sensibilidade das células beta devido ao acúmulo de depósitos ami-
dos tecidos periféricos à insulina, além de especialmen- loides, o que acontece em fases tardias do DM2). Vale
te indicada em pacientes obesos (pois em face de um lembrar que, no caso em tela, em vista da presença de
melhor controle metabólico, a metformina pode ajudar microalbuminúria (albumina urinária entre 30-300 mg/dia
a perder peso). A insulinização exógena até pode ser = sinal de nefropatia diabética incipiente), está indicado
posteriormente revertida em alguns casos, se houver iniciar um IECA ou um BRA, objetivando a nefroproteção.
uma hipossecreção de insulina secundária a um efeito Resposta certa: A. </p>
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41 Comentário Questão boa para revisarmos os


<p> </p> <p> tanto reduzem a liberação hepática de glicose quanto a
aspectos farmacológicos do tratamento dos diabéticos. resistência periférica à insulina. Pode causar hipoglice-
Letra B: Sabemos que a acarbose, como uma inibidora mia. Letra D incorreta. Letra A: A metformina, como uma
de alfaglicosidase, inibe a absorção intestinal da glicose! biguanida atua reduzindo a gliconeogênese hepática e
Não causa hipoglicemia. Impede hiperglicemia pós-pran- aumentando a utilização de glicose pelos músculos. Não
dial, já que reduz a absorção de monossacarídeos no causa hipoglicemia. Ademais, pelo seu efeito anorexí-
trato digestivo. Portanto, a alternativa B está incorreta. geno, pode levar a perda de peso ou sua estabilização.
Letra C: Os inibidores de DPP-IV são capazes de, ao Reduz o risco cardiovascular em pacientes diabéticos do
aumentar as concentrações plasmáticas de GLP-1, esti- tipo II. Os comprimidos devem ser ingeridos logo após
mular a produção de insulina pelas células betapancreá- uma refeição, para evitar os famosos efeitos colaterais
ticas e reduzir a secreção de glucagon pelas células alfa. gastrointestinais, tais como diarreia e náuseas. Resposta
Letra C incorreta. Letra D: As glitazonas, por sua vez, certa: Letra A.
</p>
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42 Comentário A cetoacidose diabética é a com-


<p> </p> <p> e produção exacerbada de corpos cetônicos, levando à
plicação metabólica aguda clássica do DM tipo 1, ou seja, cetoacidose diabética. Clinicamente, a cetoacidose dia-
ocorre devido à ausência completa ou quase completa bética manifesta-se com sintomas gastrointestinais (dor
de insulina. Sem insulina, o estado catabólico torna-se abdominal, náuseas, vômitos), dispneia, rebaixamento do
exagerado – a lipólise lança na circulação uma quantidade nível de consciência, poliúria, polidipsia, desidratação e
enorme de ácidos graxos que serão transformados em hálito frutado (cetótico). Já os achados mais específicos
corpos cetônicos no fígado. O hipercatabolismo também que constituem o tripé diagnóstico são: (1) hiperglicemia
libera glicerol, aminoácidos e lactato dos tecidos, que se- (glicemia > 250 mg/dl); (2) acidose metabólica (pH < 7,30
rão utilizados na gliconeogênese hepática. O resultado e HCO3 < 18-15 mEq/L) e (3) cetose moderada (cetonemia
será a ocorrência de níveis bem elevados de glicemia ou cetonúria de 3+ ou 4+). Portanto, resposta correta: B. </p><p></p>
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43 Comentário Pé diabético é o termo emprega-


<p> </p> <p> que muitas das vezes o paciente acabe por se lesionar
do para nomear as diversas alterações e complicações sem identificar o ocorrido. Acarreta também na atrofia
ocorridas nos pés ou membros inferiores dos pacientes da musculatura intrínseca do pé, causando desequilíbrio
diabéticos. Infelizmente, em um percentual considerável entre músculos flexores e extensores, desencadeando
dos pacientes, teremos o desenvolvimento de lesões deformidades osteoarticulares (exemplos: dedos “em
nos nervos periféricos de difícil prevenção e que se garra”, dedos “em martelo”, hálux valgo ). Tais deformi-
<em> </em>

associam ao tempo de doença e do controle inadequa- dades alteram os pontos de pressão na região plantar
do. Uma vez instalada a neuropatia, pode ocasionar levando à sobrecarga e reação da pele com hiperce-
ressecamento da pele, dores musculares nas pernas, ratose local (calo), que com a contínua deambulação
cãibras e frequentemente formigamentos, diminuição evolui para ulceração (mau perfurante plantar). Gabarito
da sensibilidade até anestesia dos pés, o que faz com letra D.
</p>
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44 Comentário Temos uma paciente jovem com


<p> </p> <p> TE, é a hidratação venosa, e não a insulina, já que esses
dor abdominal, desidratação e taquipneia, que dá entrada pacientes estão, via de regra, MUITO DESIDRATADOS.
na emergência com glicemia capilar = 342 mg/dl. É exa- Além disso, o início da insulinoterapia leva à entrada in-
tamente assim que muitos pacientes abrem o quadro de tracelular de glicose, que leva consigo líquido, agravando
DM1, com um episódio de Cetoacidose Diabética (CAD)! a hipovolemia caso seja administrada antes da hidrata-
Mas, e esse “abdome agudo”? Postula-se que ocorra na ção venosa. Portanto, a primeira medida é realmente a
CAD devido ao atrito entre os folhetos peritoneais, que se hidratação venosa, que deve ser feita inicialmente com
encontram desidratados – podendo inclusive simular um solução salina a 0,9% ou a 0,45% (dependendo do sódio
abdome cirúrgico. A leucocitose também pode “enganar” sérico, se normal/baixo ou elevado). O volume inicial deve
nesses casos, já que a maioria dos pacientes se apresenta ser de 20 ml/kg rápido em crianças e adolescentes, ou
com discreta leucocitose, devido à intensa atividade do 1.000 ml em adultos. Outras medidas de suporte úteis
córtex adrenal. E como iniciar o tratamento? Ao contrário incluem oxigenoterapia para pacientes dispneicos e moni-
do que muitos pensam, o mais importante, INICIALMEN- torização eletrocardiográfica. Resposta, portanto, opção C. </p>
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45 Comentário Bem, pelo relato, a paciente


<p> <p> Que droga colocar em seu lugar? Outro secretagogo,
<em> </em>

parece estar fazendo hipoglicemias frequentes. Con- como glimepirida? Claro que não. Vamos preferir um
siderando que o risco de hipoglicemia com a MTFM é moderno incretinomimético, drogas que produzem bom
desprezível, o culpado só pode ser a repaglinida, uma controle glicêmico com risco também desprezível de hi-
secretagogo oral de ação ultrarrápida que na prática poglicemia. A vildagliptina (Galvus ) é um bom exemplo.
</em>

funciona como a insulina regular (pico de insulina cerca Os incretinomiméticos aumentam a secreção pancreática
de 30min após a tomada). O risco de hipoglicemia com de insulina somente em resposta à glicose absorvida
essas drogas é baixo, mas sem dúvida superior ao da pelo tubo digestivo, logo, são bastante seguros e efica-
MTFM. Assim, vamos ter que suspender o medicamento. zes. Resposta certa: D.</p>
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46 Comentário Questão sobre o tratamento do


<p> </p <p> randomizado no DM tipo 2), foi a única droga que reduziu
DM2! A metformina ativa a AMP-quinase, uma enzima o risco de eventos cardiovasculares ateroscleróticos nos
que atua como sensor da carga de energia celular. Como diabéticos obesos - opção A correta (gabarito)! Todos os
resultado, temos o aumento do efeito da insulina nos consensos concordam que o melhor parâmetro de um
hepatócitos, bloqueando a glicogenólise e a gliconeogê- bom controle glicêmico em diabéticos é a HEMOGLO-
nese, principais reações responsáveis pela hiperglicemia BINA GLICOSILADA (HbGli; HbA1c). Ela deve ser soli-
persistente dos diabéticos tipo 2. Por não estimularem citada pelo menos 2 vezes por ano ou a cada 3 meses
a secreção pancreática de insulina (ou seja, não cau- naqueles que não atingirem o alvo terapêutico ou que
sam hipoglicemia - opção B incorreta) e por um pequeno tenham alterado seu esquema terapêutico. Atualmen-
efeito anorexígeno, as biguanidas promovem redução te, recomenda-se como alvo da terapia manter a HbGli
de peso nos obesos. No estudo UKPDS (maior estudo < 7% (C e D incorretas).</p>
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47 Comentário Trata-se de um caso de diabe-


<p> </p> <p> <em> voca grave disfunção das células beta das ilhotas pancreá-
tes mellitus tipo 2 (tanto que o paciente vem em uso de
</em><em> </em> ticas. O problema é que, sendo uma doença de herança
metformina), restando a diferenciação entre DM2 clássica autossômica DOMINANTE, o pai ou a mãe teriam que ser
e MODY, já que o paciente relata ter sido diagnosticado diabéticos para que este paciente pudesse ter a “chance”
aos 28 anos de idade. A famosa síndrome MODY (Matu- <em> de herdar o gene, o que não é o caso (há relato apenas de
rity Onset Diabetes of the Young ) descreve um grupo de tios e avó com DM). Existem 6 tipos de MODY, de acordo
indivíduos entre 10-30 anos (média: 20-25 anos) que de- com o tipo de gene afetado pela mutação. O mais comum
senvolvem diabetes mellitus não autoimune (autoanticorpos
<em> </em> é o MODY 3, cujo gene alterado é o HNF-1-alfa (HNF =
negativos, peptídeo C normal), geralmente assintomáticos Hepatocyte Nuclear Factor). Face ao exposto, a alternativa
<em> </em>

ou oligossintomáticos, podendo ser obesos ou magros, uma mais provável é que se trate de um caso de DM2 clássico
vez que não são observados os fatores de risco clássicos com instalação mais precoce que a habitual, já que história
para DM2. O MODY é uma doença genética, com herança familiar, tratamento atual e evolução da doença são com-
autossômica dominante, na qual um gene defeituoso pro- patíveis com esta hipótese. Resposta: opção D. </p>
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48 Comentário A medida isolada de maior im-


<p> </p> <p> Se baixo (< 135 mEq/L), a solução continua sendo o SF
pacto no tratamento da cetoacidose diabética é reposição 0,9%. Em crianças menores, a infusão de SF a 0,9% tam-
volêmica vigorosa, sendo a solução de escolha inicial- bém é preferível pelo menor risco de edema cerebral. A
mente a salina isotônica (SF 0,9%), com um volume em taxa de reposição deve ser ajustada entre 250-500 ml/h
torno de 1.000 ml na primeira hora (A correta). Embora (4-14 ml/kg/h). Após entrar o primeiro litro de soro, a insu-
seja parte essencial do tratamento, o início da insulina linoterapia é iniciada (dose em bolus de 0,1 U/kg seguido
<em> </em>

antes da reposição volêmica inicial pode agravar a hipo- de imediato por 0,1 U/kg/h em infusão venosa contínua).
volemia e precipitar o choque hipovolêmico, pois a insulina Uma outra etapa importante do tratamento é a reposição
promove a captação celular de glicose, que provoca a de potássio e fósforo, que terão seus níveis séricos redu-
entrada de água nas células, espoliando o intravascular zidos após início da insulinoterapia. A antibioticoterapia
(D incorreta). Após a primeira hora de hidratação, o ideal é não é utilizada no tratamento específico da CAD, mas sim
a dosagem do sódio sérico, que deve ser corrigido pela hi- caso haja suspeita de infecção como fator precipitante
perglicemia. Se o sódio corrigido estiver normal ou elevado (B incorreta). A ingestão de etilenoglicol é uma outra
(> 135 mEq/L), a reposição deve continuar com salina a causa de acidose metabólica com ânion-gap aumentado <em> </em>

0,45% (misturar SF 0,9% + água destilada; meio a meio). (C incorreta). Portanto, resposta: A. </p>
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49 Comentário O edema cerebral é uma das


<p> </p> <p> <strong> necessita de TC de crânio para sua confirmação, ainda
principais complicações da Cetoacidose Diabética (CAD), que seja desejável lançar mão deste último exame caso
ocorrendo tipicamente após o início do tratamento com haja suspeita de edema cerebral. Sua exata fisiopatogê-
insulina (nas primeiras 24h, geralmente entre 4-12h), nese é desconhecida, mas acredita-se que se trate de
sendo mais frequente nas crianças, no primeiro episódio uma forma de edema cerebral “citotóxico” (os neurônios
de CAD e nos pacientes que apresentam elevação da é que ficam edemaciados). Após suspeita clínica (piora
ureia e/ou acidose muito profunda. Nos dias de hoje ele evolutiva do status neurológico, com vômitos, cefaleia e
<em> </em>

responde por 50-80% dos óbitos em crianças com CAD, confusão mental) deve-se reduzir a taxa de hidratação
apresentando mortalidade de 20-25% a cada episódio e iniciar manitol IV (devendo-se intubar o paciente caso
(10-15% dos sobreviventes desenvolvem sequelas neu- chegue a ocorrer importante redução do sensório). Res-
rológicas permanentes). O diagnóstico é clínico, e não posta certa: A. </p>
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50 Comentário Após 48h de jejum, naturalmente,


<p> </p> <p> está havendo aporte energético adequado, ocorre gli-
a glicemia acaba caindo. A ausência de aporte energético cogenólise (quebra do glicogênio), liberando glicose na
externo vai levar ao consumo da glicose circulante (letras circulação, além de quebra de proteínas e lipídios, com
B e C incorretas). Além disso, quando o corpo se depara vistas a liberar ácidos graxos para servir como fonte de
com uma hipoglicemia, ele lança mão de mecanismos energia em determinados tecidos e aminoácidos para fa-
compensatórios para elevar a glicemia. Dessa forma, a zer gliconeogênese, isto é, produção de nova glicose a
liberação de insulina na circulação se reduz. Como não partir dos aminoácidos. Resposta certa: letra A. </p>
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51 Comentário A utilização dos diversos tipos


<p> </p> <p> (NPH): início de ação 2-4h, pico 4-10h, duração 10-18h.
de insulina é baseada nos seus períodos para início de - Insulinas de ação prolongada: glargina - início de ação
ação, pico e duração de ação. Elas são classificadas em 2-4h, sem pico, duração 20-24h; detemir - início de ação
4 grandes grupos de acordo com tais parâmetros. Vamos 1-3h, pico 6-8h, duração 18-22h. Dessa forma, embora
revisá-los: - Insulinas de ação ultrarrápida (lispro, aspart exista uma pequena variação relacionada à duração da
e glulisina): início de ação 5-15min, pico 30-60min, du- ação (10-16 x 10-18h), isso pode se dever à referência
ração 3-5h. - Insulina regular: início de ação 30-60min, bibliográfica consultada. Não há dúvida de que a questão
pico 2-3h, duração 5-8h. - Insulina de ação intermediária trata da insulina NPH.</p>
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52 Comentário O Diabetes Mellitus (DM) que esta


<p> </p> <p> <em> </em> contrarreguladores, ou “contrainsulínicos” (ex.: glucagon,
<em> </em>

paciente desenvolveu aos 15 anos de idade certamente é cortisol, adrenalina - hormônios que vão contra a tendên-
o DM tipo 1. Podemos fazer esta afirmativa porque: (1) A cia da insulina de inibir a cetogênese hepática), o que faz
doença se iniciou na infância/adolescência, o que é mais o equilíbrio pender para o lado da cetogênese. Este fator,
sugestivo do tipo 1, apesar de o tipo 2 ser cada vez mais diga-se de passagem, geralmente é uma infecção e no
frequente em crianças obesas; (2) A paciente é “insuli- caso em tela temos sinais sugestivos de infecção urinária
nodependente” desde o início do quadro, o que reflete (gravidez é fator de risco, e a paciente refere urina escura
a existência de insulinopenia absoluta precoce (no DM2 e fétida há alguns dias). Ora, após esta rápida avaliação, a
inicialmente há resistência à insulina e hiperinsulinemia, principal suspeita clínica passa a ser de CAD associada a
surgindo insulinopenia absoluta somente após décadas de uma infecção urinária, uma verdadeira emergência médica
doença). Pois bem, o que temos OBRIGATORIAMENTE que pode custar não só a vida da paciente como também
que pensar, SEMPRE, em um paciente DM1 que abre um a de seu feto. Assim, é mandatório agir rápido, coletando
quadro de dor abdominal, náuseas e vômitos? A hipótese uma série de exames cruciais para definição diagnóstica e
que deve ser imediatamente pesquisada é a Cetoacido- <em> estratificação de gravidade (ex.: hemocultura, urinocultura,
se Diabética (CAD), através de exame clínico cuidadoso,
</em> hemograma, bioquímica etc) sem se esquecer de incluir
pesquisa de cetonúria no EAS, glicemia e, idealmente, a GASOMETRIA ARTERIAL. O que esperar na “gaso”
uma gasometria arterial (para avaliação do status aci-
<em> </em> <em> de um paciente em CAD? (1) Em primeiro lugar, espera-
dobásico). A CAD é consequência do deficit de insulina <em> </em> mos a existência de acidose (pH < 7.35); (2) Esta acidose
cuja vigência aumenta a cetogênese hepática (produção tem que ser primariamente “metabólica” (HCO3 baixo);
de corpos cetônicos pelo fígado como o ácido beta-hi- <em> (3) Estando a pCO2 reduzida, em função da taquipneia
droxibutírico e o ácido acetoacético, isto é, ÁCIDOS que
</em> <em> </em> compensatória (pCO2 “esperada para o grau de acidose”
se acumulam no sangue). O deficit de insulina pode ser <em> </em> = (1,5 x HCO3) + 8); (4) Ânion-gap (hiato aniônico) aumen-
<em> </em>

absoluto e isolado, como acontece quando o paciente tado, devido ao acúmulo de corpos cetônicos no sangue
deixa de aplicar a insulina, ou pode ser “relativo”, quando (AG > 12). Qual é a única alternativa que se encaixa neste
existe algum fator que aumenta a secreção de hormônios padrão? Resposta certa: letra C. </p>
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53 Comentário Os parâmetros laboratoriais de


<p> </p> <p> devem receber medidas terapêuticas, sobretudo em re-
pré-diabetes são: Glicemia de jejum: 100-125 mg/dl (gli- lação a condições associadas, como obesidade (perda
cemia de jejum alterada), TOTG 75: 140-199 mg/dl após de 7% do peso corporal) e sedentarismo (150 minutos
2h (intolerância à glicose), HbA1c: 5,7-6,4%. Uma vez de atividade moderada, como caminhadas, por semana).
classificados como pré-diabéticos, estes pacientes devem A metformina também deve ser considerada, especial-
ser monitorados anualmente para o desenvolvimento de mente naqueles com menos de 60 anos, IMC > 35 kg/m²
diabetes. Segundo o último consenso de Diagnóstico e e mulheres com história prévia de diabetes gestacional.
Abordagem de Pré-diabéticos da American College of
<em> O importante é sempre reconhecermos que este grupo
Endocrinology, essa monitorização poderia ser feita com
</em> de pacientes apresenta maior risco de desenvolver DM
TOTG e microalbuminúria anualmente e glicemia de jejum, tipo 2 (25-40% dentro de 5 anos) e doenças cardiovascu-
HbA1c e lipidograma semestralmente. Estes pacientes lares. Resposta: letra A.
</p>
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54 Comentário A metformina está contraindicada


<p> </p> <p> (que inclusive pode ser profunda e prolongada, igual-
na vigência de disfunção renal (a paciente tem franca mente colocando a vida do paciente em risco). Assim,
azotemia, com Cr = 2,2 mg/dl). Manter ou aumentar a para nossa paciente diabética e nefropata crônica, cujo
dose de metformina nesse contexto acarreta risco de controle glicêmico vem se mantendo completamente fora
acidose lática grave (que pode levar o paciente ao óbito). do “alvo” (hemoglobina glicada muito acima de 7%), a
Os hipoglicemiantes orais do grupo dos “secretagogos” melhor conduta consiste na suspensão de seu atual es-
também não devem ser usados se houver disfunção re- quema terapêutico — que além de ineficaz tornou-se
nal. A menor TFG provoca aumento na meia-vida dessas também arriscado — seguida pela introdução de insuli-
drogas, o que acarreta enorme risco de hipoglicemia noterapia plena. Resposta certa: D.</p>
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55 Comentário O estado hiperosmolar não cetótico


<p> </p> <p> último devido ao aumento da osmolaridade sérica e a própria
representa uma das duas grandes complicações agudas do desidratação. A glicemia nesses casos pode ultrapassar
diabetes (a outra seria a cetoacidose diabética) manifestan- 1.000 mg/dl, permanecendo frequentemente acima de
do-se inicialmente com sintomas típicos de hiperglicemia 500 mg/dl. Em contraste com a cetoacidose diabética, o es-
(poliúria, polifagia, polidipsia), podendo evoluir para desidra- tado hiperosmolar não cetótico cursa com pH e bicarbonato
tação severa e rebaixamento do nível de consciência, este sérico normais, ou levemente reduzidos. Alternativa C correta.
</p><p> </p>
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56 Comentário Questão simples: Metformina:


<p> </p> <p> contudo, diferentemente das sulfonilureias, aumentam
ativa a AMP-quinase, uma enzima que atua como senso o pico rápido de insulina pós-prandial, por estimularem
da carga de energia celular. Como resultado, temos o outros receptores de membrana. Gliclazida: sulfonilureia
aumento do efeito da insulina nos hepatócitos, bloqueando que atua nas células betapancreáticas, aumentando a
a glicogenólise e a gliconeogênese, principais reações secreção basal de insulina, através do bloqueio dos canais
responsáveis pela hiperglicemia persistente dos diabéticos de K+ ATP-dependentes da membrana plasmática. Ação
tipo 2. Repaglinida: as glinidas são fármacos que atuam mais prolongada que as glinidas. Portanto, sequência
na célula betapancreática como secretagogos de insulina; correta III, II, I.
</p>
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57 Comentário A Cetoacidose Diabética (CAD) é


<p> </p> <p> o que pode subestimar a cetonemia pelo excesso relativo
a complicação mais grave do diabetes mellitus tipo I (DMI)
<em> </em> inicial de beta-hidroxibutirato. Clinicamente o paciente refere
com mortalidade de 100% se não tratada. Três achados poliúria, polifagia, polidipsia, associada à astenia e perda
clínicos marcam a doença: hiperglicemia, cetonemia e ponderal, principalmente nos dias antes da instalação do
acidose metabólica com ânion-gap elevado. A glicemia
<em> </em> quadro. Náusea, vômitos e dor abdominal são frequentes.
varia de 400-800 mg/dl e, isoladamente, não é parâmetro Tipicamente o paciente está desidratado, taquicárdico e
de gravidade. Os principais cetoácidos produzidos são o hiperventilando (respiração de Kussmaul), como resposta
ácido beta-hidroxibutírico, o ácido acetoacético e a acetona à acidemia. A alternativa que irá definir o quadro de CAD é
(que é volátil, liberada na respiração, justificando o hálito a que traz hiperglicemia cetonemia/cetonúria acidose me-
cetônico). As fitas de urina só identificam o acetoacetato, tabólica (HCO3 < 15). Gabarito: C. </p>
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58 Comentário Questão tranquila! Vamos pensar


<p> <p> condição pode apresentar evolução insidiosa até amauro-
juntos. Qual é a causa mais importante de amaurose entre se completa, sendo classicamente visualizada, ao exame
indivíduos de 20-74 anos? Qual doença causa complica- de fundo de olho, microaneurismas e micro-hemorragias?
ções microvasculares retinianas em cerca de 80-100% dos A resposta para essas perguntas é uma só: a retinopatia
casos após 20 anos de doença, sendo muito comum em diabética. Logo, o diabetes mellitus é a principal hipótese
<em> </em>

pacientes que não realizam rastreamento adequado? Qual diagnóstica. Resposta, portanto, opção C. </p>
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19 questão
<p> </p <p><em>

GABARITO UNIFESP: Glinida (OU nateglinida).


ACRÉSCIMO DE GABARITO: OU repaglinida; OU acarbose. </p></em></p><p>

59 Comentário Temos aqui um paciente diabé-


<p> </p -prandiais. Podemos fazer isso utilizando uma insulina
tico com controle glicêmico inadequado (hemoglobina gli- rápida (ex.: insulina regular 15-30min antes das refei-
cada > 7%), cujo mapa de glicemias capilares revela uma ções ou análogos ultrarrápidos durante as refeições)
glicemia pós-prandial acima do desejável de acordo com ou um “equivalente oral” das insulinas rápidas, como
a sociedade brasileira de diabetes (“desejável” = glicemia os secretagogos da classe das glinidas (nateglinida
<em> </em>

capilar pós-prandial < 140 mg/dl). As glicemias de jejum e repaglinida), que possuem rápido início de ação. A
e pré-prandiais estão boas (entre 80-130 mg/dl). Ora, a acarbose também é uma opção, por reduzir a absorção
fim de tentar melhorar o controle glicêmico, devemos, intestinal de glicose, amenizando o pico hiperglicêmico
por conseguinte, atuar nas excursões glicêmicas pós- pós-prandial.</p>
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60 Comentário Vamos de baixo para cima?


<p> </p> <p> exemplo, é causado por uma mutação no gene HNF-4,
Postula-se que certas condições genéticas, como as ao passo que o MODY 2 se relaciona a defeitos no gene
síndromes de Down e Turner, aumentem a chance de da glicoquinase (C errada). O DM2 está primariamente
DM1 em seus portadores em comparação com pessoas associado ao fenômeno de resistência à insulina nos te-
normais. No entanto, não poderíamos marcar a letra E cidos periféricos. Até pode ocorrer destruição das células
pelo seguinte motivo: ainda assim a frequência abso- betapancreáticas nas fases avançadas dessa doença,
luta de DM1 é baixa nesses indivíduos, pois a imensa porém, tal evento é tardio e secundário à sobrecarga
maioria não desenvolve tal doença! A acromegalia está dessas células, que sofrem degeneração progressiva ao
relacionada ao diabetes mellitus porque o GH (hormônio
<em> </em><em> </em> secretarem grandes quantidades de insulina (B errada).
de crescimento) é um contrarregulador da insulina (efeito
<em> </em> No DM1, por outro lado, o processo fisiopatológico é
hiperglicemiante) - D errada. Os MODY ( Maturity Onset <strong> </strong> <em> caracterizado por uma destruição autoimune das célu-
Diabetes of the Young ) representam formas monogêni-
</em> las beta, acarretando insulinopenia absoluta! Resposta
cas hereditárias de diabetes mellitus . O MODY 1, por
<em> </em> certa: A.
</p>
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