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Bruno Alexandre Freitas

Infraestrutura como pilar do desenvolvimento econômico: o papel das Parcerias


Público-Privadas (PPPs)

Contextualização

A infraestrutura é um dos pilares para o desenvolvimento econômico de um país, pois quando


esta é inadequada, há um fator limitantes para o crescimento econômico e para a
competitividade. Por inadequação entende-se uma infraestrutura deficiente para atender a
demanda, de baixa qualidade, baixa confiabilidade ou insuficiente para as necessidades do
mercado.
Segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID (2015):
O desempenho de baixa qualidade da infraestrutura reflete os desafios preponderantes
que são enfrentados pelos governos. Em primeiro lugar, os países simplesmente não estão
gastando o suficiente para prover a infraestrutura necessária, seja por motivo de limitações
financeiras e/ou de outras prioridades fiscais. Em segundo lugar, o planejamento e a coordenação
ineficientes, a análise precária feita na seleção do projeto, a busca por vantagens políticas e a
corrupção fazem com que os recursos, já limitados, sejam gastos nos projetos errados. Além
disso, a oferta de bens/obras ou de prestação de serviços em infraestrutura chega a ser
decepcionante: a construção de novos equipamentos custa mais e leva mais tempo que o
planejado, enquanto a prestação de serviços é insuficiente.

O aumento nos investimentos em infraestrutura causa efeitos tanto do lado da demanda


quanto do lado da oferta. Com relação à oferta, maiores investimentos em infraestrutura podem
acarretar aumento da produtividade, aumento da competição devido às condições mais
favoráveis e redução horizontal dos custos. Já do lado da demanda, o aumento dos
investimentos em infraestrutura pode levar a ganhos em elevação do produto interno bruto, taxa
de emprego e aumento da arrecadação de tributos.
E no Brasil o problema da deficiência da infraestrutura é ainda maior no Brasil. Mas,
conforme Gesner de Oliveira (2018), “em razão do atual cenário brasileiro – modesto
crescimento do poder de compra dos indivíduos e elevado endividamento das famílias, a
infraestrutura representa a principal alternativa para injetar recursos na economia e impulsionar
a retomada do crescimento do PIB. Porém, nas últimas duas décadas, o investimento em

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infraestrutura no Brasil como porcentagem do PIB registrou percentuais inferiores em
comparação a outras nações emergentes.
Além de investirmos pouco em infraestrutura, tivemos um aumento vertiginoso na
população urbana do Brasil, causando um aumento na necessidade de investimentos para
atender a essa mudança demográfica.
Segundo estudo Perspectivas para o Avanço da Infraestrutura Brasileira: Os Desafios
da Pandemia e Seus Desdobramentos, estima-se que seria necessário um investimento anual de
cerca de R$ 339 bilhões para elevar a qualidade e a disponibilidade doméstica, e colocar a
infraestrutura do Brasil entre as 20 melhores do mundo no ranking de competitividade global
do Fórum Econômico Mundial. Isso seria o correspondente a cerca de 5,5% do PIB anualmente,
ou seja. Não investimento nem metade do necessário. Isso, já contando com cerca de 78% dos
investimentos vindo do setor privado

Justificativa e Relevância para o Programa de Pós-graduação em Políticas Públicas

Para atender essa demanda crescente, é necessária a expansão dos investimentos


públicos e privados para que seja possível atender aos desafios que o século XXI nos impõe.
Os setores não competitivos deveriam ser o foco das ações governamentais, seja em
investimentos diretos, seja em uma maior e melhor regulação. E nos setores competitivos, o
mercado deve expandir sua ação. O gráfico abaixo apresenta alguns dos desafios da
infraestrutura e como as parcerias público privadas podem colaborar na sua solução:

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Apesar de formalmente instituídas apenas em 2004, através da Lei 11.079/2004 (Lei
de PPPs), ou pode-se pensar em 1.995 através da Lei 8.987/95 (Lei de Concessões), a depender
da nomenclatura utilizada, esse é um instrumento que vem sendo utilizado desde muito antes,
podendo ser citado os grandes investimentos de capital para expansão da malha ferroviária no
início da República, que passou de 9,5 mil para 14,7 mil, em um período marcado pela expansão
da participação privada na economia do país. Ou até mesmo o movimento mais recente, mas
que foi um passo importante para definir que os bens públicos não precisam necessariamente
serem geridos pelo governo, que foi a Reforma Gerencialista do Bresser-Pereira.
Nessa nova ordem de ideias, tem-se que o Estado não deve nem tem condições de
monopolizar a prestação direta, executiva, dos serviços públicos e dos serviços de assistência social de
interesse coletivo. Esses podem ser geridos ou executados por outros sujeitos, públicos ou privados,
inclusive públicos não estatais, como associações ou consórcios de usuários, fundações e organizações
não-governamentais sem fins lucrativos, sempre sob a fiscalização e a supervisão imediata do Estado.
(MODESTO, 1999 apud Leite 2019).

Mas quais as vantagens de uma contratação via PPP?


Uma primeira a ser mencionada é o custo do ciclo de vida útil do projeto. Como há a
contratação de apenas uma SPE, ocorre uma integração desde a elaboração do projeto até a
construção com a prestação de serviço, a operação e a manutenção de do objeto, fato pode
reduzir significativamente o custo total do projeto. Essa integração incentiva a contratada a
realizar e finalizar cada etapa do projeto de maneira que minimize os custos, mas sem perder a
qualidade, pois será também responsável pela manutenção e operação do ativo no longo prazo.
Em um contrato de PPP bem desenhado, o parceiro privado tem incentivos para desempenhar
suas atividades em níveis de excelência, usando insumos e materiais de alta qualidade, até para
que consiga perseguir a rentabilidade prevista em seu plano de negócios.
Um segundo ponto é a transferência de riscos para o parceiro que melhor possa
gerenciá-los, ou seja, aqueles riscos que possam ser melhor mitigados pelo público, continuam
com eles, e aqueles melhor gerenciáveis pelo privado são transferidos para ele. Por serem
contratos longos que envolvem construção de ativos, operação, manutenção, as PPP’s
demandam do setor público uma visão de longo prazo, pois a duração dos contratos ultrapassará
diversos mandatos, tendo impacto na vida da população por vários anos, por isso, os processos
são mais rígidos e passam por diversos controles.
Importante ressaltar também o papel da inovação, pois ao dar liberdade para o privado
criar a solução a partir das necessidades mínimas do parceiro público abre uma janela

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oportunidade de inovação mais ampla, de forma que os entes privados procurem por soluções
inovadoras.
Há também um incentivo para maior utilização de ativos, haja vista que os parceiros
privados são incentivados a procurar fontes de receita adicionais para o contrato, as chamas
receitas acessórias.
Ocorre também uma mudança da lógica de resultados, permitindo ao poder público
cobrar metas e entregas do privado, ao invés de se preocupar com os meios e com os processos.
Os pagamentos do governo estão condicionados a que o parceiro privado atinja os resultados
esperados com a qualidade, a quantidade e os prazos estabelecidos.
Por fim, mas não menos importante, é que as PPPs podem oferecer fontes alternativas
de financiamento para gerar infraestrutura onde os governos enfrentam limitações financeiras.
Em um contrato que dura por décadas, a realização de investimentos de maior vulto a serem
remunerados no longo prazo viabiliza a modernização da infraestrutura sem onerar
excessivamente o caixa do poder concedente no curto prazo. As PPPs Tem o potencial de
transformar a percepção do cidadão sobre o papel do Estado e o papel da iniciativa privada.
Entretanto, as PPPs não podem ser consideradas uma panaceia para solucionar
problemas de desempenho de toda a infraestrutura. Existem problemas que as PPPs podem não
resolver, ou que, inclusive, podem contribuir para o agravamento:
Em primeiro lugar, aparentemente as PPPs reduzem os problemas de
financiamento mais do que realmente ocorre, uma vez que o comprometimento fiscal do
governo com as PPPs pode não ser claro. Isto pode
fazer com que os governos aceitem compromissos fiscais e riscos mais altos do que o aceitável,
como ocorreu em Portugal.
Segundo, ainda que as PPPs possam contribuir para melhorar o processo de análise de
projetos e para a adoção de ideias e práticas inovadoras, a responsabilidade pelo planejamento
e pela seleção do projeto final continua sendo, principalmente, do setor público, que muitas
vezes não está preparado adequadamente para isto.
Por fim, as vantagens da eficiência do setor privado na administração da infraestrutura,
bem como a maximização dos incentivos para a execução da manutenção periódica, também
dependem de que o governo faça uma gestão contratual e regulatória adequada, de forma que
haja um alinhamento dos incentivos.
Devido aos fatores citados acima, é importante um estudo que demonstre qual o
verdadeiro papel das parcerias público privadas no desenvolvimento da infraestrutura de um

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país e como isso pode colaborar para o desenvolvimento econômico. Por ser uma temática
relativamente nova no Brasil, a literatura ainda carece de estudos que façam essa relação e que
demonstrem vantajosidades e desvantagens desse modelo de investimentos, e que mensurem
os resultados dos projetos já executados por essa modalidade, de forma a verificar quais foram
os impactos resultantes dela, se atingiram os objetos, os maiores desafios de execução, pontos
a serem melhorados.
Isso vai de encontro com a linha de pesquisa análise e gestão de políticas públicas do
Mestrado strictu sensu em Políticas Públicas da Universidade Federal do ABC, haja vista que
esta linha de pesquisa abrange pesquisas no campo da análise de políticas públicas, e relaciona
temas como políticas implementadas pelo governo, considerando os diversos atores envolvidos;
novos arranjos institucionais; instrumentos de execução de políticas públicas; avaliação de
políticas públicas; análises críticas sobre as condicionantes e limitações das políticas públicas
na contemporaneidade.
Todos os temas elencados acima, podem ser contemplados na pesquisa proposta, a
qual pode em muito contribuir para a construção de uma literatura mais robusta sobre o assunto.

Objetivos
O projeto de pesquisa tem como objetivo analisar o papel das parcerias público
privadas como uma das alternativas para desenvolvimento da infraestrutura de um país,
tomando como base a situação do Brasil, e demonstrar como o desenvolvimento da
infraestrutura impulsionado pelo estado pode ser um pilar fundamental para o desenvolvimento
econômico de um país. Poderão ser discutidos termas, como o papel do estado, as teorias de
estado, o papel do estado e do mercado para o desenvolvimento econômico, o papel da
infraestrutura para o desenvolvimento, as necessidades de investimento na área e como as
parcerias público privadas podem ajudar a alavancar os investimentos. Além disso, outro
objetivo é avaliar qual o verdadeiro papel das parcerias público privadas no desenvolvimento
da infraestrutura de um país e como isso pode colaborar para o desenvolvimento econômico.
Por ser uma temática relativamente nova no Brasil, a literatura ainda carece de estudos que
façam essa relação e que demonstrem vantajosidades e desvantagens desse modelo de
investimentos, e que mensurem os resultados dos projetos já executados por essa modalidade,
de forma a verificar quais foram os impactos resultantes dela, se atingiram os objetos, os
maiores desafios de execução, pontos a serem melhorados.

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Metodologia e Plano de Trabalho

O presente trabalho pretende realizar pesquisas tanto qualitativas quanto quantitativas.


A pesquisa qualitativa pretende avançar sobre os estudos e documentos já produzidos sobre a
temática, tanto nacional como internacionalmente, de modo a entender e sintetizar o que já foi
produzido. Além disso, pretende realizar entrevistas com atores que participam da cadeia de
processos de uma parceria pública privada, incluindo governo, órgãos de apoio,
concessionárias, consultorias.
Por outro lado, a pesquisa quantitativa será usada para coletar a analisar dados sobre as
parcerias público privadas, infraestrutura e desenvolvimento econômico, através de pesquisas
em bancos de dados nacionais e internacionais sobre as temáticas.
Dessa forma, pretende-se produzir uma pesquisa não só teórica, mas também aplicada,
de forma a desenvolver soluções práticas que podem contribuir com a discussão sobre o tema
na sociedade.

MES/ETAPAS 1,2 3,4 5,6 7,8 9,10 11,12 13,14 15,16 17,18 19,20 21,22 23,24
Delimitação X X
do tema
Levantamento X X X X X X X
bibliográfico
Elaboração X X
do
anteprojeto
Apresentação X
do projeto
Coleta de X X X X X
dados
Análise dos X X X X X
dados
Organização X X
do
roteiro/partes
Redação do X X
trabalho
Revisão e X
redação final
Entrega da X
monografia
Defesa da X
monografia

Referências Bibliográficas

6
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