Você está na página 1de 11

Índice

Introdução..................................................................................................................................2
HISTÓRIA MILITAR MOÇAMBICANA................................................................................3
Organização dos Exércitos do Sul do Pais.................................................................................3
Equipamento...........................................................................................................................3
Organização e técnica de combate.........................................................................................4
Nas lutas entre moçambicanos...............................................................................................4
As vantagens do sistema de base etária e por regiões............................................................5
Nas lutas contra os portugueses..............................................................................................6
Aprendizagem.........................................................................................................................6
Amplitude das operações........................................................................................................7
A Batalha de Marracuene...........................................................................................................8
Conclusão...................................................................................................................................9
Bibliografia................................................................................................................................9
Introdução

2
HISTÓRIA MILITAR MOÇAMBICANA
Organização dos Exércitos do Sul do Pais
Equipamento
Em 1497, descrevendo a viagem de Vasco da Gama, Velho observou que em Inhambane “as
armas desta gente são arcos e flechas e azagaias de ferro”. Observou ainda que “há nesta terra
estanho e cobre que eles trazem numas guarnições de punhais e as bainhas deles são de
marfim”.
Em 1560, Fernandes escrevia que “todos trazem arcos e flechas e azagaias (1560:484)”.
Os “Landins”, que, segundo Soares, viviam na baía de Maputo mas que se tinham estendido
até Sofala, possuíam azagaias, escudos de couro de boi e uma espécie de machados para a
luta corpo-a-corpo. Soares notava que em Inhambane os “Macomatis” (“Chope”) ou “Chopi”
e os “Butongas” (“Bi-Tongas”) utilizavam arcos e flechas ervadas.
Descrevendo em 1796 as lutas entre “Landins” de Inhambane os guerreiros de Sofala, Gama
afirmou que os primeiros empregavam azagaias e escudos confeccionados com pele de búfalo
(1796:22).
Os Bi-Tonga serviam-se de espingardas, embora trouxessem sempre consigo duas ou três
azagaias; os “Mandingues” (Chopi) dispunham de arcos e flechas; finalmente, os “Landins”
(Tsonga) possuíam dois tipos de azagaias: a de folha estreita e cabo comprido para arremesso
e a de folha e cabo curto para luta corpo-a-corpo.
Os Tsonga tinham, ainda, cacetes pesados e curtos, terminados em bola que arremessavam
com destreza ao inimigo, bem como escudos ovais de pele de boi, búfalo ou zebra. Muito
velozes na carreira, desprezavam as armas de fogo por acharem cobardia matar de longe e
sem luta.
Após a invasão Nguni e a formação do Estado de Gaza em 1821, os Chopi, para se
defenderem dos ataques dos regimentos de Ngungunhane construíram fortificações com
grossos troncos de árvore. Depois que se formou o Estado de Gaza, e também o Império, o
armamento passou a englobar as seguintes peças: varapau, moca, azagaia de que havia uma
para arremesso e outra para a luta corpo-a-corpo (esta introduzida pelos Nguni.) e, também de
origem Nguni, o escudo de placa giratória (“chitlangu”), de forma oval, confeccionado com
pele de boi e pintado com várias cores para distinguir os regimentos. Através de um
mecanismo engenhoso, o escudo funcionava com uma placa giratória, desviando as azagaias
do inimigo se elas atingissem os cantos; mas se penetrassem no centro, o pau à volta do qual
rodava a pele amortecia-as.

3
O “chitlangu” era eficaz contra as azagaias, mas não contra as balas de espingarda, e os
Portugueses e mesmo os Ingleses não utilizavam azagaias, mas espingardas de repetição e
artilharia. Por isso, a aristocracia de Gaza procurou apetrechar os seus regimentos com
espingardas: Junod referiu algumas centenas (1934, I: 432), Omer-Cooper duas mil
(1966:62), Enes mencionou “milhares” para o combate de Marracuene, duas a três mil para o
de Coelela (1945:85, 428). Ngungunhane recebera, por duas vezes armas e munições da
British South África Company (BSAC)63.
63 British South African Campany foi uma instituição Política e Económica à semelhança
das Companhias Majestáticas de Moçambique e do Niassa que operaram em Moçambique no
período da economia arrendatária.
Procurando uma saída para o mar a BSAC tentou aliciar o monarca assinando com ele em
1890 um acordo pelo qual Ngungunhane recebeu 1000 espingardas 30 mil cartuchos e uma
pensão anual de 500 libras.
O traje de guerra também foi introduzido pelos Nguni e compunha-se de um capacete cónico,
encimado por penas de avestruz e de outras aves e assente num gorro de pele de lontra; de
colares à volta de pescoço, ao que parece com significado mágico; de um saiote feito de peles
e caudas de pequenos animais; de cintos de crinas brancas de boi que guarnecíamos bicípites
e a s barrigas das pernas; de um cinto grande que rodeava os rins, finalmente, de braceletes
confeccionadas com pevides negras do tamanho de cerejas e oriundas do Norte, que
rodeavam os tornozelos e, também, as barrigas das pernas (Junod (1934, I: 428-429;Rita-
Ferreira,1974:207).

Organização e técnica de combate


Na zona sul, os guerreiros usaram basicamente a táctica de combate corpo a corpo o que tem
a ver com as tradições de lutas trazidas pelos Ngunis da Zululândia, e o facto da ausência de
obstáculos naturais: pedras, elevações, troncos e árvores. A abundância de planícies e capim
impediu-os de usar as fortificações como no caso da região centro.

Nas lutas entre moçambicanos


Antes da chegada dos Ngunis em 1820 a arte militar era simples não envolvendo grandes
contingentes militares.
Os pequenos exércitos colocavam-se em linha recta para se afrontarem.
Quando os Nguni de Sochangane chegaram a Moçambique (sul) avançando em meia-lua e
atacando com precisão os exércitos das chefaturas locais foram facilmente vencidos: Maputo,
Tembe, Matola.

4
Aos poucos e poucos foi introduzida e/ou adoptada a concepção mais desenvolvida e
permanente da arte militar Nguni. Ao mesmo tempo os guerreiros das chefaturas vencidas
passaram a fazer parte dos regimentos Nguni competindo lhes efectuar o ataque de
vanguarda. Ficaram conhecidos por Mabuiandlela (os que preparam o caminho).
Exércitos Impérios estavam organizados em Batalhões (mabutju), por classes de idade
formando cada agrupamento dessas classes de idade um “butju’’ comandado por um induna
assistido por oficiais chamados liphini.
Um batalhão subdividia-se em várias companhias (“mintlaua” “mabandla”). Cada regimento
tinha o seu grito de guerra particular, o qual consistia na imitação do som do anumal por que
o regimento se identificava. Havia 24 regimentos até 1897 ou 1898.
No tempo de Ngungunhane, o grande comandante-em-chefe (“nduna muculu ua impi”) foi
Maguiguane.
A organização do exército de Ngungunhana era feita por regiões e por ano de nascimento, de
forma a que os guerreiros de cada manga64, tivessem aproximadamente a mesma idade.
Quer dizer que, à medida que os regimentos se extinguissem por morte ou velhice, outros,
novos, iam sendo formados, para preenchimento dos lugares vagos.
Isso contribuiu para o rejuvenescimento militar.
O comando dos regimentos era atribuído aos tios e a outros membros da família real.
O caso de Maguiguana, o Cossa que assumia o cargo de Chefe Maior do Exército, foi uma
excepção, devida à sua grande valentia e bravura.

As vantagens do sistema de base etária e por regiões


1. Primeiro, permitia pôr os mais fortes nos lugares mais vulneráveis;
2. Segundo, porque, sendo longas as distâncias e deficiente rede de comunicação o
recrutamento regional permitia mobilizar, com rapidez, os batalhões que se encontrassem
mais próximo da zona de combate.
Feita a mobilização para a guerra através do sopro do chipalapala, os guerreiros afluíam
rapidamente à povoação do chefe, onde formavam em círculo nos respectivos batalhões. Na
sua máxima força, o exército de Gaza devia totalizar 40 mil homens, dispondo cada
regimento de 1300 a 1600 guerreiros.
Depois de executadas as cerimónias de motivação (canções de luta, danças e recepção de
medicina de guerra), os guerreiros partiam para o combate.
A ordem de combate era organizada fazendo-se avançar primeiro os rapazes, com os
batedores à cabeça Aos mais jovens competia cercar a posição inimiga e fazer assalto. A

5
retaguarda compunha-se do que se chamava o “peito do chefe”. O chefe conduzia a
retaguarda, protegido pelos batalhões de veteranos.

Nas lutas contra os portugueses


A técnica do ataque Nguni era impressionante. Primeiro, os guerreiros formavam em arco de
círculo, na formação de combate com que sempre atacavam; a seguir, sentavam-se sobre os
calcanhares, como se em concentração; depois, principiavam o avanço com passo ginástico,
rápidos e ordenados;
Estugavam-no finalmente para cair em turbilhão sobre o inimigo, como aconteceu em Magul,
onde Ngungunhana fez intervir nove regimentos.
As batalhas eram travadas com exércitos dispostos na planície em meia-lua avançando em
batalhões para cercar e asfixiar o inimigo enquanto formações de atiradores protegidos pelas
árvores e muros de muché faziam fogo constante preparando terreno para combate corpo-a-
corpo.
Em todas as grandes batalhas a táctica moçambicana consistiu no ataque de frente em meia-
lua e na busca do corpo-a-corpo com a azagaia de folha larga e cabo curto, oferecendo os
regimentos um “formidável alvo” às espingardas e metralhadoras portugueses.
A maior parte das grandes batalhas não intervieram as tropas de elite de Gaza mas antes, as
subjugadas.
No combate travado em Marracuene, em 1895 pelos mabutju65 de Mahazuli (de Magaia) e
Mnuanamtibjane (de Zixaxa) os guerreiros de Ngungunhana estiveram no local e poderiam
ter intervido dando à batalha o selo da vitória. Mas não o fizeram por nesse sentido terem
recebido ordens de Ngungunhane, que desejava uma solução negociada do conflito, à
margem da confrontação militar.
A participação da fina flor militar de Gaza só se verificou em Magul. Embora o grande
combate a descoberto tivesse predominado nos momentos maios decisivos da luta contra o
inimigo, alguns chefes do império empregaram também emboscadas.
Mahazuli e Matibjana empreenderam surtidas nocturnas em Marracuene quando dos
primeiros confrontos.
Nas terras da Coroa, os oficiais portugueses reconheceram que a agilidade, o conhecimento
do terreno e a sua “habitual” táctica de emboscada e surpresa asseguravam, aos guerreiros das
chefaturas, vantagens que poderiam ter sido decisivas.

Aprendizagem

6
Em épocas recuadas, a aprendizagem e treino na zona sul, tal como se verificava no Norte e
no Centro, limita-se à prática de:
o Jogo de dardo que desempenhou um papel importante na aprendizagem militar;
o O teatro dançando que permitia a encenação dos grandes arquétipos tácticos, isto é, a
maior parte do conteúdo das danças consistia em representação de autos66 de guerra.

Amplitude das operações


A história de Gaza parece ter sido profundamente marcada por inúmeras guerras e constantes
deslocações de massas de guerreiros, apesar das tentativas efectuadas pela aristocracia Nguni
para criar uma identidade étnica quer através de uma sólida organização político-
administrativa, quer através da difusão de uma cultura comum a todas as comunidades.
As guerras e as mobilizações de guerreiros tornaram-se mais frequentes e intensas quando os
portugueses decidiram ocupar militarmente o sul.
A enorme rede tributária criada no Império permitia sustentar as campanhas militares de
grande envergadura.

Mas a intensificação das guerras suscitadas pelas rebeliões e pelas lutas de acesso ao poder
(Muzila e Mawewe), pelas deslocações à procura de n ovas terras de pasto para o gado e,
ainda e sobretudo, pelas operações contra os portugueses, ultrapassou as capacidades
produtivas do Império e fez com que a depredação fosse a prática de um sistema formal de
abastecimento.
O Império não estava preparado para enfrentar o contínuo saque a que foram expostas as
povoaçaões, quer em gad, quer em géneros agrícolas. No que respeita ao gado, parece ter sido
muito importante para o exército de Gaza, em que a pilhagem foi tão radical, que em muitas
regiões ele desapareceu.
As próprias depredações do exército português, aquando do início da guerra em 1895, vieram
agravar a situação.
Por esta razão que os alimentos tenham faltado quando Gaza deles mais precisou para lutar
contra os Portugueses particularmente em Setembro de 1895.
É assim que, 25 a 30 mil guerreiros de armas acampados há semanas à espera de orden de
Gungunhana, os batalhões Tongas, não tendo que comer, dispersou-se.
A falta de alimentos foi atribuida a uma praga de gafanhotos que devastou em 1894/95 as
culturas da férteis regiões de Gaza.
Na difícil situação, os bois abatidos destinavam-se somente ao consumo dos chefes e os
guerreiros contentavam-se com gafanhotos.

7
A Batalha de Marracuene
Combate de Marracuene, ou Gwaza Muthine, foi um combate que se travou a 2 de fevereiro
de 1895, nas proximidades de Marracuene, Moçambique, entre as forças rongas comandadas
pelo jovem príncipe Zixaxa e forças portuguesas comandadas pelo major Alfredo Augusto
Caldas Xavier. A batalha, ocorreu no contexto das operações de ocupação colonial
portuguesa, ao tempo referidas como as Campanhas de Conquista e Pacificação.

Em finais de Janeiro de 1895 uma força portuguesa, comandada pelo major José Ribeiro
Júnior e tendo como segundo-comandante o major Alfredo Augusto Caldas Xavier, avança
para Marracuene, na margem direita do rio Incomati. Devido a doença do major José Ribeiro
Júnior a força passa a ser efectivamente comandada pelo major Caldas Xavier, o qual foi o
responsável quase único pela condução das operações. Integram a expedição 37 oficiais e 800
soldados.
As forças ronga, totalizando cerca de 4 000 homens, eram comandadas pelo jovem príncipe
ronga nuã-Matidjuana caZixaxa iMpfumo, que ficaria conhecido na historiografia portuguesa
por Zixaxa, e que seria, um ano mais tarde, um dos prisioneiros deportados para os Açores. O
chefe de Moamba já se tinha aliado aos portugueses e só Matibejana e Mahazul combatiam.

Ao aproximarem-se do local, as forças militares portugueses, que incluíam as praças


indígenas de Angola e da ilha de Moçambique, entrincheiraram-se num quadrado militar e
prepararam-se para o combate. O confronto dá-se na madrugada de 2 de Fevereiro de 1895. A
força portuguesa, disposta em quadrado, vale-se do poder dos canhões e metralhadoras e
consegue rechaçar os assaltos das forças ronga, que por duas vezes romperam o quadrado,
com enorme bravura de ambos os lados.

No final, a superioridade das armas de fogo ocidentais foram cruciais para a vitória da tropa
Portuguesa. No terreno ficaram mortos cerca dos 66 guerreiros vaRonga. Segundo o relatório
do combate, os mortos no local foram enterrados e os feridos eliminados amontoados e
cremados com petróleo, deixando um cheiro nauseabundo no ar. Do lado português foram
contabilizados 24 mortos e 28 feridos.

8
Dias depois, os portugueses retiraram-se para Lourenço Marques, enquanto as forças ronga se
reorganizaram em torno de Magude, onde os régulos Nwamatibyane e Amgundjuana se
refugiaram, ficando sob a protecção de Ngungunhane que lhes aceitou a vassalagem.
Mahazul não combateu em Marracuene, da mesma forma que recusara participar no ataque a
Lourenço Marques.

O confronto de Marracuene é hoje por vezes referido em Moçambique por Gwaza Muthine,
expressão em idioma xiRonga que significa lugar do trespasse com a lança. Neste contexto
muthine significa lugar e gwaza pode ser traduzido por trespassar, atravessar com uma lança
ou ainda azagaiar.

9
Conclusão

10
Bibliografia

11

Você também pode gostar