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Insere o excerto na estrutura global da obra:

A Farsa de Inês Pereira revela, ainda que de forma satírica, aspetos da vida
quotidiana da sociedade quinhentista.
Embora esta obra não apresente uma estrutura em atos e cenas, este
excerto pode dividir-se em três partes lógicas: a Inês antes do casamento, a
Inês casada com Brás da Mata, o escudeiro, e a Inês casada com Pêro
Marques.
Assim, este excerto pode ser inserido na estrutura global da obra, já que
Lianor Vaz, aqui, irá apresentar Pêro Marques a Inês Pereira, como proposta
de casamento. Episódio que se destaca pela combinação de casamento.

1. Neste excerto, existe um diálogo entre as três personagens femininas, Lianor


Vaz, Mãe de Inês Pereira e Inês Pereira, havendo uma representação do
quotidiano da época. Lianor Vaz que exerce o papel de comadre casamenteira
ou alcoviteira entra em cena com o objetivo de arranjar um marido para Inês
Pereira casar.
Lianor Vaz certifica-se junto da Mãe de Inês, mulher do povo, se Inês não
tem pretendente nem está comprometida. Lianor mostra honestidade e
sinceridade nas suas práticas casamenteiras, “Inês Pereira é concertada
pera casar com alguém?” vv 172-173.
Após a Mãe de Inês responder a Lianor que a filha estava livre para
casar, “Até ҅gora com ninguém não é ela embaraçada” vv. 174-175, Lianor
Vaz informa-as das suas intenções de apresentar uma proposta de casamento.
Mostra-lhes que sabe como lhe arranjar noivo e diz a Inês que lhe apresentará
um bom marido, rico, honrado e conhecido, “Eu vos trago um bom marido,
rico, honrado, conhecido; diz que em camisa vos quer.” vv. 185-187.

Uma vez que Inês rejeita a proposta de Pero Marques, por o considerar idiota,
rude e simples, Lianor é obrigada a reforçar uma visão positiva do apaixonado,
como podemos verificar ao longo do excerto, quando a alcoviteira aconselha-a
a não perder a oportunidade de casar com Pero Marques.
Concluindo, a alcoviteira facilita os encontros e dá a conhecer os sentimentos
e as intenções dos apaixonados.

2. Assim que chega a casa de Inês Pereira, Lianor Vaz conta um episódio
incomum e estranho.
Efetivamente, Lianor conta que ela foi assediada e violada por um clérigo,
“Vinha agora pereli / ao redor da minha vinha, / e um clérigo, mana minha,
/ pardeus, lançou mão de mi!”, vv. 82-85). Depois desta ter explicado a
situação insólita pela qual passou, a Mãe reagiu de forma irónica, desconfiando
da história de Lianor Vaz, pois esta não apresentava marcas do ataque
contado, “Não estás tu arranhada, / de te carpir, nas queixadas.”, vv. 136-
137.
Em suma, Gil Vicente faz uma critica ao clérigo (Clero), uma vez que quebrou
os votos de Celibato e Castidade.
3. Após Liana informar Inês Pereira e a Mãe de Inês de quais as suas
intenções, Inês Pereira questiona Lianor Vaz para quando será o casamento,
“E quando, Lianor Vaz?” v. 179. Inês mais do que conhecer o marido, mostra
presa em querer que o casamento se realize rapidamente. Lianor por sua vez,
tranquiliza Inês dizendo-lhe que será para breve, “Eu vos trago aviamento.” v.
180.
Inês rejeita os valores que estavam em vigor e não aceita um marido
qualquer. Refere que pretende um “homem avisado”, “discreto em falar”,
isto é um marido sensato, bem-falante, que tenha bom discurso, não se
importando que ele seja pobre.
Lianor Vaz, personagem pragmática, domina as artes casamenteiras,
enumera as qualidades do pretendente, “Eu vos trago um bom marido, rico,
honrado, conhecido;” vv. 185-186, atributos importantes para a época.
Percebe-se neste episódio um conflito de gerações e uma oposição de
interesses, por um lado Lianor Vaz e a Mãe de Inês representam o
conservadorismo e a reprodução dos valores da época. Por outro lado, Inês
idealiza e busca um casamento que lhe conceda liberdade e felicidade, não
pretende casar de qualquer maneira, por isso, refere que primeiro quer saber
como é o futuro marido, “Primeiro, eu hei de saber se é parvo, se sabiodo.”
vv. 188-189.

4. A Mãe cúmplice neste casamento, quer ver Inês ascender socialmente, ao


enaltecer os saberes da filha, “Hui! E ela sabe latim, e gramática e alfaqui, e
tudo quanto ela quer.” vv 196-198, cria uma de situação cómica ao usar a
palavra “alfaqui” erradamente. Usa o termo “alfaqui” para informar que a filha
tinha conhecimentos sobre uma ciência difícil, quando na realidade a palavra
designa um Sábio muçulmano.

5. Lianor Vaz

Mãe de Inês

Inês Pereira

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