LEGISLAÇÃO

DO TRABALHO
Publicação Mensal de Legislação, Doutrina e Jurisprudência

4
ANO 86 • 1\19 5 • 1\í!AIO DE 2.022 • Sll ·" BRAS!lí • ISSN i!l5!116·9i54
"' "'" "'

Diretores .Responsáveis Gabriela Mendizabal Bermudez

Universidad Autônoma del Est. de Morelos, México
BEATRIZ CASIMIRO COSTA
Gabriela Neves Delgado
MANOEL CASIMIRO COSTA
Universidade de Brasília

Conselheiros in Memoriam Guilherme Guimarães Feliciano

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~ Jean Michel Servais
AMAURI MASCARO NASCIMENTO (1989,2014) OlT- Universidade de Girona
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ARMANDO CASIMIRO COSTA FILHO (2014·2018) Universidade Federal de Pernambuco

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Ministro do Tilbun'al Superior dó Trabalho Universidade Federal de Sergipe
MARIA CRISTINA IRIGOYEN PEDUZZI Martha Elisa Monsalve Cuellar
Preside'nte do Tribunal Sup,eríor do Trabalho (2020M 2022) Instituto latino~Americano de Direito do Trabalho
NELSON MANNRICH e da Seguridade Social
MeStre e Doutor Pela Universidade de São Paulo Marco Antonio César Villatore
SÔNIA MASCARO NASCIMENTO Universidade Federal de Santa Catarina
Oesemhárgadora do'TRT dá ze Região Maria Cecília Máximo Teodoro
Pontifícia Universidade Católica, Minas Gerais
Coordenação Científica e Doutrinária
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JORGE CAVALCANTI BOUCINHAS FILHO Universidade do Chile
Diretor da Escola Swperlor de Advocacia - ESA, São Paulo Mário Garmendia Arigón
LOREIIIA.DE MELLO REZENDE COLNAGO Universidad de Punta del Este
Academia Brasileira de Direito Constitucional~ ABDCon.st,
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Universidade Federal de Goiás

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Conselho Editorial Universidad Católica do Perú

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Bento Herculano Duarte Neto Stefano Bellomo

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Carolina Tupinambá Susana Barcelón Cobedo

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro Universidade Carlos 111 de Madrid
 Vol. 86, n2 05, Maio de 2022 Revista LTr. 86-05/587

SUBORDINAÇÃO ALGORÍTMICA: DIGITAL PLATFORM WORKER Apple, Google etc. O investimento anual na tecnolo- Ricardo Antunes afirma que:
gia promete saltar deU$ 28 bilhões (2018) para U$77,6 "Foi nesse contexto que as plataformas digitais
OU CROWDWORKING bilhões (2022), segundo dados da IDC- Intemational deslancharam. Lépidas no trato com o mundo digi-
Data Corporafion. O e-commerce, através do celular ou tal, dotadas de (insustentável) leveza, desbanca-
Algorithmic subordination: digital platjorm worker or crowdworking computador, propicia a compra e venda de bens de ram as corporações tradicionais e hoje se encontram
consumo sem a necessidade de manutenção de loja no topo do tabuleiro do capital. Conseguiram essa
física e vendedores. proeza combinando alta tecnologia digital e absorção
Dente os paradoxos assinalados, temos que: ampliada de força de trabalho sobrante."
Ivmzi Contini Bramante (*) Ricardo Antunes questiona o que explica, em
"Hoje, é possível criar uma unidade de riqueza
com muito menos trabalhadores, em comparação há pleno século XXI o aparente paradoxo que estamos
10 ou 15 anos, porque os custos marginais das empre- vivenciando? De um lado temos explosão dos algo-
sas digitais tendem a zero. Além disso, na realidade ritmos, inteligência artificial, big data, SG, internet
RESUMO: A evolução tecnológica atinge níveis extre- AssTRACT: Technological developments reach da era digital, muitas novas empresas oferecem 'bens das coisas, indústria 4.0 etc. De outro, uma massa
mamente elevados a cada instante e que impactam extremely high leveis at every moment and irnpact de informação' com custos praticamente nulos de crescente de trabalhadores e trabalhadoras, por conta
a vida de todos. Atualmente não se imagina a vida everyone's life. Currently, life without cell phones armazenamento, de transporte e de replicação. Algu- da desigual divisão sociossexual do trabalho, traba-
sem celulares e aplicativos de serviços, os quais des- and service applications, which we did not know mas empresas disruptoras de tecnologia parecem lhando jornadas exaustivas 12, 14 ou 16 horas por
conhecímnos há pouco tempo. Entretanto, a partir do recently, cannot be imagined. However, from the exigir pouco capital para prosperar. Empresas como dia, durante todos os dias da semana, sem qual quer
momento que a tecnologia altera a forma como vive- mornent that technology changes the way we live proteção de: descanso, férias, salários rebaixados,
o Instagram ou o WhatsApp, por exemplo, não exi-
mos e trabalhamos, impõe-se ao direito analisar seus and work, it is necessary for the law to analyze its condições degradantes e sem proteção de trabalho e
gem muito financiamento para iniciar, mudando o da seguridade social.
efeitos nas relações jurídicas, de modo a preservar a effects on legal relations, in arder to preserve the dig- papel do capital e a escala dos negócios no contexto
dignidade da pessoa e sua imprescindibilidade no nity of the person and their indispensability in the da quarta revolução industriaL Em geral, isso mostra Entre nós, ao abrir os jornais nos deparamos com
mundo cada vez mais tomado pelas máquinas. world increasingly taken by machines. como os retornos de escala encorajam a maior escala várias notícias sobre as precárias condições de traba-
PALAVRAS-CHAVE: evolução tecnológica; revolução 4.0; KEYWORDS: technological Evolution; revolution 4.0; e influenciam as mudanças de sistemas inteiros."! 2l lho via plataforma digital, dentre elas:
trabalho; plataformas digitais; subordinação. job; digital platforrns; subordination. Na área da Digitalização em 1990, as três maio- "Entregadores de aplicativos carregam comida
res empresas de Detroit possuíam uma capitalização de centenas de reais e comem marmita fria. Sombra
de mercado combinada de US$ 36 bilhões, fatura- de árvore é disputada na hora da refeição Guilherme
SuMÁRIO: 1. Mundo digital seus paradoxos. 2. O uso da inteligência artificial monitoramento do tra- Carvalho dos Santos, 30, come sentado na calçada
balho e pontuação de produtividade. 3. Trabalho em plataformas digitais: digital platform worker ou mento de US$ 250 bilhões, e 1,2 milhão de emprega-
dos. Em 2014, as três maiores empresas do vale do ao lado de uma lanchonete em urna das esquinas da
crowdworking. 4. Identidade dos elementos do fordisrno/taylorismo com a subordinação algorítmica. avenida Rebouças; arroz, feijão e frango; tudo frio.
S. Alteração da morfologia do poder de direção: teledireçiio telemática, digital e algorítmica. 6. Renovação silício tinham uma capitalização de mercado conside-
ravelmente mais elevada (US$ 1,09 trilhão), haviam Ele pedala da Raposo Tavares até ali todos os dias.
dos fundamentos e dos limites do poder diretivo sob o prisma finalístico: os direitos humanos funda- Ao seu lado, Gabriel Santana, 25, espera a fome bater
mentais. 7. Renovação dos indícios da subordinação jurídica telemática, digital, algorítmica. 8. Posição gerado aproximadamente as mesmas receitas (US$
para comer sua marmita também fria (...) Salgadi-
dos Tribunais sobre o trabalho nas plataformas digitais. 9. Perspectivas internacionais "pro homine" 247 bilhões), mas com cerca de 10 vezes menos
nhos e bolachas são opções na falta de alternativas
das novas tecnologias e inserção social do trabalho nas plataformas digitais. 10. Conclusão. empregados (137 mil).
mais nutritivas ..." Folhapress/Karime Xavier)
No contexto da era digital, fala-se que, em razão Novas nomenclaturas suavizadas são utilizadas
do trabalho em plataformas digitais, o emprego clás- para se referir ao trabalhador na era digital: colabora-
1. Mundo digital seus paradoxos sico e a indústria correm o risco de se tornarem obso- dor, parceiro, resiliência, sinergia etc. Não se olvide
(GE) cria peças metálicas (Fusão Metálica Direta a
letos. Tom Goodwin lembra que: que o chamado "trabalho uberizado" por meio das
Vivemos chamado "mundo digital", denominada Laser, ou DMLM (Direct Metal Laser Melting). Thys-
senKrupp fabrica elevadores com impressão 3D, "O Uber, a maior empresa de tc:íxis do mundor não plataformas digitais transforma o trabalhador, da
por Klaus Schwab de "quarta revolução industrial"
ou mundo 4.0. A revolução tecnológica-econômica- Hyundai e Volkswagen do Brasil na área de peças possui sequer um veículo. O Facebook, o proprietário noite para o dia, em "falsos empreendedoresn pois,
-social-cultural-política-jurídica, decorrente da era conta com impressora 3D à base de resina líquida e de mídia mais popular do mundo, não cria nenhum refém do algoritmo. Na realidade o custo dessa "falsa
da computação, da cibernética-digital-algorítmica, laser, BMW a produz ferramentas, moldes e gaba- conteúdo. Alibaba, o varejista mais valioso, não pos- autonomia" representa enfrentar péssimas condições
enseja uma profunda mudança em toda Sociedade a ritos específicos. A Blizzident imprime escovas de sui estoques. E o Airbnb, o maior provedor de hospe- de trabalho, arcar com os custos dos instrumentos de
ordem produtiva e de trabalho. Dentre as caracterís- dente personalizadas e sob medida para cada cliente dagem do mundo, não possui sequer um imóvel"Ol. trabalho (carros, motos, bicicletas, mochilas, celula-
ticas mais significativas das mudanças tecnológicas se encaixando à sua arcada denMria. Através da inter- res), sem salário fixo ou mínimo, sem seguro-saúde
De um lado, os avanços da era digital se tornaram
K!au~ Sch;.r_a~ cita: big data ou _megadados; a inteli- net das coisas(né possível a conexão e comando de ou cobertura previdenciária e outros direitos.
um imperativo corporativo para maximizar a com-
gencm arhftcml - software, a rmpressão em 3-D, a
objetos e eletrodomésticos entre si e com o usuário, petitividade, incrementar e potencializam a produ-
ir~.t~rn~t das coisas, intemet of things, ou plataformas 2. O uso da inteligência artificial monitoramento do
dtgrtars. através de sensores e software para funcionamento e tividade e alavancar a riqueza dos "dominantes das
tecnologiasn. De outro, a realidade mostra a interven- trabalho e pontuação de produtividade
ou iluminação, por meio de programações de voz ou
A impressão em 3-D passou a ser utilizada pela celular, com preços acessíveis, como a Alexa criada ção humana no trabalho e o excedente de força de
indústria sem intervenção humana.A General Electric No newsletter da mit technology review, sobre o
pela Amazon e o "google home". A inteligência arti- trabalho disponível, diante do desemprego massivo uso da iriteligência artificial monitoramento do trabalho e
ficial imita a mente humana (maclrine learning) com estrutural, em razão da substituição homem-maqui- pontuação de produtividade, alerta que a automação do
apreensão contínua de novos dados. Há carros inte- nismo telcnuítico. Ainda, aliada à crescente flexibiliza- processo de decisão está tomando espaços cada vez
(~) Dcsembargndora Federal do Tmbalho. Doutora pela
ligentes que dispensam motoristas e as entregas ção da legislação protetora do trabalho, pretextando m<:~iores, em que direitos básicos são negados.
Pontiffdn Universidade Católica. Especialista em Relações Coletiv,,
Comp.1rada pela OIT /Turim/Itália. Professora convidada do podem ser realizadas por drenes sem a intervençlío a criação de postos de trabalho.
Instituto Jus Gentium Conimbrigae de Direitos Humanos d.1 O Hubstaff é um software que registra as tecl<ls
humanas na sua realização. Mais de 35 mil empresas, digitadas nos teclados dos usuários, o movimento
Universidade de Coimbra. Professora Titular da Cadeira de Direito
do Tmbalho Faculdade de Direito de S.:lo Bernardo do Campo. startups e instituições de pesquisa atuam em inteli- (2) Op. cít.. p. 21
do mouse, e os sites visitados; o Time Doctor gravil
Membro da ABDSS- Academia Br.1sileim de Direito da Segurid.1de gência artificial, tais como: Netflix, Amazon, Spotify, (3)GOODWIN, Tom. "In thc Age of Disintermedi.:ttion the B<lttk vídeos das telas dos usuários, e tira fotos através da
Social. Membro do IPEDJS- Instituto de Pesquisa, Estudo e Defesa ís a!! for the Consumer Interface", 'fí'chCruncb, m.:tr. 2015. Disponível
de Direitos Sociais. Membro do Grupo de Estudos "O trabalho além em: <http:/ /techcrunch.com/2015/03/03/in-the-age-of- disinter· webcam a cada 10 minutos para checar a presencia-
do direito do trabalho" da Faculdade dil. USP. (l) /()/- "mlemc/ of lhíngs" mediation-thc- b.1ttle-is-a!l-for-the-customer-interf,Ke/>. lidade dos funcionários em seus computadores. A
Revista LTr. 86-05/588
empresa britânica, Status Today utiliza a ferramenta
"fsaak para monitor as interações entre os funcioná-
rios e identificar o melhor colaborador, ainda está
desenvolvendo um "softwure de machine learning"
para medir a velocidade da tarefa executada pelo
funcionário, atribuir a pontuação de produtividade e
sugerir formas de aceleração das tarefas.
Tommy Weir, fundador da Enaible, afirma que o
monitoramento tecnológico do ambiente de trabalho
é uma realidade irreversível e se tornará tão difun-
dido que será onipresente. A startap Enaible, sediada
em Boston, oferece um software de vigilâncin conhe-
cido como AI Productivity Platform que propicia:
(i) o rastreamento de e-rnail, Slnck, Zoom e buscas
na internet;
(ii) o monitorando por rastro de dados e o padrão
típico de comportamento do empregado, com uso do
algoritmo chamado "Trigger-Task-Time";
(iii) prende o fluxo de trabalho típico para dife-
rentes trabalhadores, as tarefas empreendidas, os
respectivos tempos de conclusão, e confere urna
"pontuação de produtividade" entre Oe 100;
(iv) inclui um algoritmo chamado Leaderslzíp
Recommendation, que identifica pontos específicos de
estrangulamento no fluxo de trabalho de um funcio-
nário e os pontos que poderiam ser mais eficientes.
Para algumas tarefas, pode significar timr o
humano do circuito e automatizá-la. Em um exem-
plo, a ferramenta sugeriu que automatizar uma tarefa
de verificação de qualidade de 40 segundos executada
por funcionários do atendimento ao cliente 186.000
vezes por ano economizaria 5.200 horas.
A empresa Enable fornece softwares de vigilância,
para os empregadores monitorar seus funcionários, e
os pedidos aumentaram com a pandemia da Covid-19
diante da potencialização do trabalho remoto, tais
como. Dentre as clientes temos a Delta Airlines e a
CVS Health. uma rede de cuidados de saúde e farmá-
cia dos EUA classificada em 5º lugar na lista Fortune
500. Ainda, a agência alfandegária de Dubai, que tem
como meta uma "economia na folha de pelgamento"
de US$ 75 milhões, nos próximos dois anos. A Omni-
com Media Group empresa de comunicações e rnar-
keting afirma que a ferramenta Enable faz a diferença
na medição da capacidade interna sem aumentar
nosso número de funcionários, que significa extrair
mais dos funcionários existentes.
O CEO da empresa Tommy Weir diz que
"A Enaible está promovendo seu software como
umel forma de as empresas identificarem os funcio-
nários que devem ser mantidos e "aqueles que estão
fazendo uma grelnde diferença no cumprimento
dos objetivos da empresa e na geração de lucros" e,
"garantir a motivação e o foco enquanto trabellham
de casa; também pode ser usado por gerentes pelra
escolher quem despedir"( 4l
(4) <https:/ I mittechreview .com.br I estu-stilftup-estu-usnndo-
·inteligenciu-artifidnl-parn-dnr-.1os-tr.1b,1lhadores-umn-pontuncno-
-de-produtividade/>. Acesso em: 16 dez. 2020.
Voi. 86, n2 05, Maio de 2022
Há críticas ao uso da inteligência artificinl, no
exercício do poder diretivo patronal no local de tra-
balho, por conta das desvantagens da nova tecnolo-
gia: abello del confiança entre us partes, traz prejuízo
moral; o objetivo de corte de custos e econorniel, o que
ensancha á possibilidade de identificação dos casos
em que o homem pode ser substituído pelo "maqui-
nismo algorítmico". Por isso, os trabalhadores
reivindicam a notificação prévia e u observância dos
princípios do consentimento, da necessidade e utili-
dade, para a instalação dos sistemas de vigilância.
Cori Crider, advogada do Reino Unido e cofunda-
dora da Foxglove, entidade sem fins lucrativos h·aba-
lha para impedir que governos e grandes empresas
façam uso indevido de tecnologia de monitorumento
do ambiente de trabalho, porque: os algoritmos de
machine lcaming também codificum inclinações ocul-
tas nos deldos e na avaliação dos funcionários; pode
ser dificil apelelr de uma análise injusta ou demissão;
os sistemas são celpciosos e não se tem transparênciu
sobre os valores que devem ser priorizados; e o que
se vê "é um esforço pma transformelr um humano em
umel máquina antes que a máquina os substituel"
Sinale-se, ainda a questão do trabalho em plata-
formas digitais.
3. Trabalho em plataformas digitais: digital platform
worker ou crowdworking
O trabalho em plataformels digitais é denominado
de digital platform worker ou crowdworking.
O crowdworking é uma modalidade de prestação
de serviços através de plataforma digital, pela qual as
empresas oferecem trabalhos simples ou complexos
e, que podem ser aceitos pelas pessoas cadastradas no
sisternel, denominados crorvdworkcrs. Admite-se, por-
tanto, a atividade de tradução, pesquisa, desenvolvi-
mento ou mesmo criação de sistemas e produtos. Na
Alemanha, estima-se que a empresa Clickworker pos-
sua mais de um milhão de crowdworkers(S). Na pla-
taforma Amazon Mechanical Turk, em 2019, havia
250.810 MTurk workers, sendo 226.500 nos Estados
Unidos da América(o).
Uma elnálise superficial do trabalho em plataformas
digitais pode induzir a erro, no sentido de conside-
rar o trabalho como autônomo. Entretanto, não se
olvide que o computador em rede e demais parafernálias
telemáticas digitais srlo simultaneamente, instrumctlfo de
contratação, de trabalho e meio de controle da atividade do
trabalhador, que permitem a intensificaçiio do poder dire-
tivo sobre a atividade e el conduta do trabalhador.
Assim., dá origem ao chamado moderno taylo-
rismo assistido, porque presentes todos os elementos
da subordinelção, ora na modalidade digital-algorít-
mica. Posto isso, não há lógica no tratamento dife-
renciado dos trabalhadores em plataforma digital,
(5} <https:/ /www.deutschlnnd.de/ pt·br /topic/ cconomin/ cro-
wdworking-nu·alemanhn-o-mundo..Jo-trabulho-no·futuro>. Acesso
em: 30 nov. 2020.
(6) <https://www.doudrcse.1rch.com/rcsources/blog/hmv-many
-.1mnzon-mturk-workers-are-there/>. Acesso em: 30 nov. 2020.
Voi. 86r nº OS, Maio de 2022
em cotejo com os trabalhadores subordinados, ou a
menos equiparados aos avulsos ou aos intermitentesr
que gozam de proteção mínima constitucional, sob
pena de condução elO futuro sem futuro e, chancela
do lado negro do capitalismo, denominado por Klaus
Schwab de "mundo do precariado".
Bem anota Klaus Schwab,
"A quarta revolução industrial irá gerar grandes
benefícios e, em igual medida, grandes desafios. Uma
preocupação particular é a desigualdade exelcerbada.
Os desafios coloceldos pelo aumento da desigualdade
são difíceis de quantificar, pois, em grande maio-
riel, somos consumidores e produtores; dessa forma,
a inovação e a ruptura afetarão nossos peldrões de
vida e bem-estar tanto de forma positiva quanto
negativa."(?)
Conforme sábia conclusão de Klaus Schwab,
"O desafio que enfrentaremos trará novas for-
rnels de contratos sociais e de empregos, adequados à
mudança da força de trabalho e à natureza evolutiva
do trabalho. Devemos limitar as desvantagens da
nuvem humanel em termos de possível exploração,
enquanto ela não estiver cerceando o crescimento
do mercado de trabellho, nem impedindo as pessoas
de trabalhar da forma que desejarem. Se não con-
seguirmos felzer isso, a quarta revolução industrial
poderá nos conduzir para o lado negro do futuro do
trabalho, conforme descrito por Lynda Gratton, pro-
fessora de práticas de gestão da London Business
School, em seu livro The Shift: the Future of Work
is Already Here - aumento dos níveis de fragmen-
tação, isolamento e exclusão em toda a sociedade.
Conforme afirmo ao longo deste livro, a escolha é
nossa. Ela depende totalmente das decisões políticels
e institucionais que fizermos. E preciso estar ciente,
no entanto, de urna reação reguladora que reafirme
o poder dos formuladores de políticas no processo
e cause tensão às forças adaptativas de um sistema
complexo."(S)
Procede, pois o alerta dado por Valerio De Stefano,
segundo o qual:
"Almost no human contact happens in most crow-
dwork transactions: this contributes to the creation of
a new group o f "invísible workers", yet another phe-
nomenon that is by no means limited within the bou-
ndaries of the gig-econorny but is shared with other
sectors, such as domestic work and home-work"('11 •
Esperanza Macmena Sierra Benítez, mostra o
único pilar possível para o desenvolvimento sus-
tentável, na era algoritrna senl a proteção e a inclu-
são social: "para asegurar la efcctiva aplicación dei pilar
europco de dereclws sociales, es ncccsario dotarlo de ins·
(7) OJI- dl .. p- 23.
(8) Op. n/.. p. 57/SR
('J) <https://www .ilo.org/wcmsp5/ groups/ public /--ed._pro·
tcct/···protrav /··-tr.1vail/ document:>/publkation/ wcms_ H3267.
pdf>. Acesso em: 30 mw. 2020.
Revista LTr. 86~05/589
lntmentos 110rmativos suficientes que garauticc11 su
ntm plimicnto "( 101 •
4. Identidade dos elementos do fordismo/taylorismo
com a subordinação algorítmica
Ricardo Antunes aponta que u era algoritmos pro-
picia, com mais requinte, as técnicas do fordismo tay-
lorismo da exploração do trabalho humano: as novas
tecnologias são ferramentas de: contratação, de tra-
balho e de exercício do poder diretivo, controle e
fiscalização
O autor sustenta que condição de trabalho na
modalidade plataforma digitais merece acurada
analise:
"Suel condição "autônornel", então, é um tanto
curiosa: quem define a admissão? Quem determina
atividade, preço e tempo das entregas? Quem pres-
sionel, através de incentivos, para a ampliação do
tempo de trabalho? Quem pode bloquear e dispen-
sar sumelriamente, sem nenhuma explicação? Por
certo, não é o "autônomo". Assim, essa condição se
desvelnece, aflorando el subordinação e o assalaria-
mente. E exigir direitos é princípio basilar da digni-
dade mínima do trabalho. As plataformas dirão: mas
são os entregadores que as procuram. É verdade,
mas seria bom acrescentar que essa é a única alterna-
tiva hoje contra o desemprego. Aqui reside a base do
regozijo das plataformas. Será, então, que a culpa de
todo esse vilipêndio é dos algoritmos?"Ol)
Deste modo, no contexto da revolução e" plus valia"
das novas tecnologias digitais, mister se Jaz uma rclei-
tura do sistema indiciário doutrimírio e jurispruden-
cial na cmacterização da nova subordinação jurídica,
levando em consideração uma acunwlaçtio de indícios
re-veladores da intcgraçilo do trabalhador no âmbito orgmli-
za fivo em presa ria I- tefc1nática-i1iformacional-a Igorít 111 ica.
Aos novos indícios devem ser elgregados aos
velhos indícios e analisados prospectivamente, por
aproximelção e semelhanças, de acordo com o caso
concreto e, em confronto com as diferentes modelli-
deldes de trabalho com o uso das novas tecnologias. Os
novos elementos que devem ser tomados em consi-
deração, no sistema de indícios da novel subordina-
ção jurídica por algoritmos são: o software aplicativo,
a dependência tecnológica, o tipo de conexi'io telemático, a
inserÇtio do trabalhador no sistema htjomuítico- telemáti-
co-algoritmo da empresa c, outros indícios.m.l
Mauricio Godinho Delgado sinaliza que a subor-
dinação jurídica pode ser annlisada sob os prismas
subjetivo, objetivo e estrntural.
(10) So~l!'ni/1i/idad St~tía/en la Indu;/ ria 4.0. Dóa{ú> f1'7m la l/[·2010,
Social Sw•lama/>Jli!y ín Jndu~lty 4.0. Clmllense {ór lhe [U·20.10, a autora
t~l'mm:n Macarena Sícrm lknik;:;, Pmfe~om Coulmlada Pvclom dt'
fkredw dd fral~7fo y di' la Scguridad Socía!Unítw~idad de Se<'i!la (DOI:
<llllp-'·://doi .mg/1 U.20318/cd!.202U..5195 >)
(11) ANTUNES, Ricardo. Uberizaçiw, trabalho digital e lndüs·
tria 4.0 (Mundo do trab.1lho) Formato: e-Book Kindle.
(12) lbult'm, p. 50-59, pa;.;./111.
Revista LTr. 86-05/590
"( ...) a subordinação é encarada sob um prisma
objetivo: ela atua sobre o modo de realização d? pres-
tação e não sobre a pessoa do trabalhador. E, por-
tanto, incorreta, do ponto de vista jurídico, a visão
subjetiva do fenômeno, isto é, que se compreenda a
subordinação como atuante sobre a pessoa do traba-
lhador, criando-lhe certo estado de sujeição (status
subjectiones). Não obstante essa situação de sujeição
possa concretamente ocorrer, inclusive com inacei-
tável frequência, ela não explica, do ponto de vista
sociojurídico, o conceito e a dinâmica essencial da
relação de subordinação. Observe-se que a visão sub-
jetiva, por exemplo, é incapaz de captar a presença
de subordinação na hipótese de trabalhadores inte-
lectuais e altos empregados.( 13)
Em relação à subordinação estrutural, ensina o
citado autor:
"Essa moderna e renovada compreensão do fenô-
meno da subordinação, que efetivamente possui
nítido caráter multidimensional- tem sido percebida
não só pela doutrina e jurisprudência mais atentas e
atualizadas, como também pelo próprio legislador.
Nesta linha despontou a Lei n. 12.551, de 15.12.2011,
conferindo nova redação ao caput do art. 6Q da CLT
e lhe agregando novo parágrafo único, de modo a
incorporar, implicitamente, os conceitos de subor-
dinação objetiva e de subordinação estrutural- equi-
parando-os, para os fins de reconhecimento da
relação de emprego, à subordinação tradicional (clás-
sica), que se realiza por meios pessoais e diretos de
comando, controle e supervisão do trabalho alheio.
Desse modo, o novo preceito da CLT permite con-
siderar subordinados profissionais que realizem tra-
balho a distância, submetidos a meios telemáticos e
informntizados de comando, controle e supervisão.
Esclarece a regra que os " ... meios telemáticos e infor-
matizados de comando, controle e supervisão se equi-
param, para fins de subordinação jurídica, aos meios
pessoais e diretos de comando, controle e supervisão
do trabalho alheio". Ora, essa equiparação se dá em
face das dimensões objetiva e também estrutural que
caracterizam a subordinação, já que a dimensão tra-
dicional (ou clássica) usualmente não comparece nes-
sas relações de trabalho à distância.(14)
5. Alteração da morfologia do poder de direção:
teledireção telemática, digital e algot·ítmica
As mudanças produtivas e a incorporação das
novas tecnologias reabriram o antigo debate sobre
a concepção da subordinação jurídica, como critério
jurídico unitário de identificação e de qualificação
da relação de emprego e de tutela da legislação do
trabalho.
Muitos são os impactos das novas tecnologias no
mundo do trabalho: novos setores de atividadesn 5l,
(13) Crmo de Oirt'ilo dtl Trabalho. 18. ed. S."lo Paulo: LTr, 2019.
p. 349/35{).
(1-1) Op. cit., p. 353
(15) Com as nov.1s ternologias da /c/emâfim np<1recem novos
setores de ntividade, notadamente no setor de serviços. O setor
V oi. 86, n2 05, Maio de 2022
novas formas de organização empresarial, de geren-
ciamento produtivo, de trabalho, de retribuição, de
subordinação, de elevação do nível de qualificação,
bem como os novos riscos empresariais tecnológicos.
Isso sem contar o grau de dependência tecnológica
do trabalhador, surgindo os cybertravailleurs, teletra-
balltadores, trabalhadores em plataformas digitais.
A propósito dos cybertravailleurs veja-se Soshana
Zuboff na sua obra acerca do capitalismo na era do
algoritrno"The Age of Surveillance Capilalism". Cedric
Durand, economista de Sorbonne, autor da recente
obra "Tecnofeudalismo" trata da "dominaçiio digital, e
afirma que não há como escapar do"mundo tecnofeu-
dal". Isto porque, pois as redes e as plataformas digi-
tais se transformam em feudos e tiram seu sustentam
e lucram com seus vasto "território digital" povoado
de dados informacionais, Ainda, e ao mesmo tempo
assumem o controle total dos espaços de observa-
ção, captura de dados, gerenciamento da vida social,
de prestação de serviços e passam a ser considera-
das "indispensáveis". Demonstra Cedric Duram que
n concentração da "gleba digital" lucra com a explo-
ração pesada dos trabalhadores na "gig economy''
denominada de economia dos bicos. William Blake
e Bourroughs aponta que a única saída é a desorga-
nização do "controle digital" a ponto do jornalista
e correspondente internacional Pepe Scobar (www.
brasil247.com) professar que "esse é o novo futuro:
ou "hachers ou escravos."
Daí a noção clássica da subordinação jurídica,
como epicentro da relação de emprego, não é mais
suficiente para englobar as atividades multifacetadas
de trabalho na era cibernética, sendo falsa a noção
da ampla margem de liberdade. Advirta-se, não é
possível deduzir, a priori, que o trabalho com novas
tecnologias telenuíticas seja sinal de uma autono-
mia absoluta do trabalhador. Há que ser levado em
conta o seguinte paradoxo: as novas tecnologias da
telemática são, a um só tempo, instrumentos de seleçüo,
arregimentação, contrataçiio e de controle da prestaçi'io de
trabalho e serviços.
Há, por assim dizer, modernamente, uma altera-
ção na morfologia e ou modo de exercício do poder
diretivo e da subordinação, diante das novas tecnolo-
gias da era digital e dos algoritmos.
O trabalho mediante o usos do "maquinismo telcmá~
fico algoritmo" para muitos, apresenta certas caracte-
rísticas que provocam a rarefação da subordinação
jurídica, tais como: a externalização do trabalho; a
flexibilidade de jornada e horário; a não presencia-
lidade do empregado e, consequente ausência física
de serviços em 1999 comportou muis ou menos MS mil tmbalhu-
dores, sendo 140 mil telc-operad,Jre;; em gnmde p.1rte bcneficiadu,
utualmente pela extensão da Convenção Coletiva da Fedcruç.'io
Syntec, concluíd.1 em 5 de julho de 2001, um .1cordo nacionul relativo
a introduçJo de emprego, profissão ofícios de internet, no seio de
uma federnção compostu de 800 grupos e empresas francesas espc-
dali.tadns da profissJ.o de engenharia, de serviços de inform.itim, de
estudos e de conselho, de formação profissional. A extens.'ío resulta de
uma extensilo de um acordo concluído no qu.1dro du convençJo cole-
tiva nacionaL Disponível t.>m: <http://www.syntec.fr/convention.
htm>.
V oi. 86, n!! 05, Maio de 2022
do empregador ou seu representante na aç~'i.o de fis-
calização do trabalho; a preponderância da atividade
intelectual-informática; certa dose de auto-organiza-
ção, de autonomia e de independência tecnológica e;
em regra, a não integração na atividade principal da
empresa.
Qualquer observador nota que a estrutura produ-
tiva e de gestão, cada vez mais, dá lugar a uma rela-
ção sócio institucional caracterizada por uma relação
de fidúcia-colaboração, fundada na integração do traba-
lhador na empresa, na sua participação no resultado
produtivo, no clima de confidencialidade, na rela-
ção pessoal com n gerência 0 t>l. Essas características
tornam a relação de trabalho por meio das parafernálias
telemáticas, algorítmicas, digitais personalística, com o
consequente controle totaL
Melhado07l e Beltran° 8 l, de há muito, apontam que
diante dns novas tecnologias, foi cunhado um neo-
logismo para explicar os paradigmas da relação de
emprego: o termo parassubordinaçiio, que serve de ele-
mento identificador das situações que estão na zona
cinzenta entre o trabalho subordinado e a autonomiil.
Não se olvida que il crise terminal do velho Direito
do Trabalho arrastará consigo a subordhwçiio jurídica
direta c dará lugar a subordinação jurídica indireta, digi-
tal c algorítmica. Nesse sentido, Genro Tarso 0 '~) afirma
que o vetusto Direito do Trabalho não atende mais
a realidade do capitalismo pós-fordista. Isto porque:
"O seu caráter protecionista surgiu para envol-
ver relações com urna certa estabilidade (princípio
da continuidade) e subordinação fiscalizada (que
informa o seu caráter tutelar), categorias que tendem
a ser desagregadas por outras formas de exploração
e subordinação. Estas, ao mesmo tempo incentivarão
a autonomia e apertarão o cerco sobre a qualidade
do trabalho, em função da possibilidade de contro-
les mais rigorosos do resultado, sem o exercício da
subordinação direta, conformndora do contrato de
trabalho típico".
Os extremados, diante das novas tecnologias que
criam ambientes de trabalho que demandam novas
capacidades, autonomias, polivalências e multifun-
cionalidades, nnunciam a morte da subordinação jurí-
dica e a consequente passagem do trabalhador para o
status de colaborador.
(16) Sobre o as:;unto, entre nôs, ver Ot.ivio Pinto Si!vn, Subor-
dinaçüo, autonomia t' paraf.~111/>0rdinaçtio nas re!açiie'> de tmballro, Tese
de doutoramento em Direito do Trabalho Universid.1de de S.'io
P.1ulo. S.?ío Paulo, 2002.
(17) Rt.•gin,11do Melbado, Mrmdia{i::nçilo, 1/l'Oii/>mJ{i:;mo e ntwos
111.1rw~ nmcl'lllllli~ da ~ubordíunçüo, p. HS-86
(18) Ari Po~sidonio Beltran, flrxll>íli:II(<it>. slo/>a/i:nç;lo, /crct'l·
n:nrüo c ~~·u:; imi'ac/,1:; na;. rdaçi>c;. de tr,ll'alll(l, p. -191. Parn quem a
pam~-~ulw·diuaçilo {>critério ']Ul' !entu explk,1f .1s "..-ílllllÇ<il'::o que c'i/,/a
entre tl tra/>allw <;;Ubordíumlv c a autunomia, l'i,t de regra ri'lachmadtl;> wm
o,o lm/~lfh<~dt>n':• ddcnforó dcqualifimçr1t> mwloelcl~lda, wm gr.mde !'"der
Ct>nlm/ual, à pt•nlo de imprimir à fWtÍprÍil l'rc;.faç,Jo de ;en•ít;t'~ a!:;umas
car,JrlcrL;fiC,b típicas do /ra/>all/<11111/tÍIIOIIIt•"
(19) T.1rso Fernando Genro, A cri;,, terminal do pt'f/w dír.'IIH do
lml,al!w, hc>/111' pase du Associ.1çJo Nacion.1l dos !'vfagbtr.1dos do Tra-
bulho na lnlcmd, 1997.
Revista LTr. 86-05/591
Há os que ilfirmarn que a introdução das novas
tecnologias, que engendram novas formas de traba-
lho, não adelgaça o poder diretivo. Ao contrário, tor-
na~o mais penetrante, em cotejo com os outros tipos
de trabnlho, porque agora vem potenciado pelo auxí-
lio do maquinismo telemático.
Esse fenômeno ensanchn a análise dos fundamen-
tos do poder e o reconhecimento do surgimento de
um novo poder diretivo, dada os alterações no sun
morfologia, obrigando o jurista à uma reconstrução
do sistema de indícios utilizados para desvendá-
-la: a telearrcgimcntaçilo, a telecontrataçtio, o telctrablho,
a telcdireçilo, a tcleadministraçt"io, o telcgcreiiCiamento, a
telefiscalizaçiio etc.,í2111 que tem no outro polo a telessu-
bardinaçiio, também conhecida por subordinaçiio vir-
tual, lelenuítica, algorítimica etc.
Rosário Gallardo Moya120, diz que o computador
em rede, corno instrumento de trabalho e de controle,
altera a relação normal de subordinação, pois o poder
diretivo resulta expandido, potenciado, e muito mais
penetrante, porque possibilita as novas formas de
controle da atividade laboral: prclcríntencional, osten-
sivo e o controle ocultd22 1. Vários são os suportes infor-
máticos-telemáticos de controle são utilizados pelo
empregador ou tomador de serviços: o computador
em rede, os programas, o software e suas parafemâ-
lias aplicativas, a rede comunicacional eletrônica, as
telecâmeras, etc. Assim, a relação de mando ou subor-
dinaçiio e direção não é mais vertical-descendente, mas
coordenada ao centro da rede e propiciada pelo algoritmo.
Os meios telemáticos que são o instrumento de traba-
lho se convertem em mecanismo de controle em grau muito
mais ampla, rígido e penetrante com redução substancial
da autonomia. Isto porque permite o controle da pre-
sença, da imagem, da voz, da atividade, da conduta,
da jornada, do tempo, das pausas, dos erros, da nave-
gação virtual, da comunicação eletrônica, dos resul-
tados da prestação de serviços e, ainda dos dados
sensíveis das pessoas. Há meios de controle dos espa-
ços pnra respirar, o chamado controle total, o Big Brother
na relação de trabalho.
Referidas questões imbricam aqueloutras a res-
peito dos limites do poder diretivo informático, da legi-
timidade e ilegitimidade do controle, bem como,
da proteção dos direitos de personalidade, da vida
privada e intimidade do trabalhador. Enfim, tudo
dependerá da conjugação das variáveis relativas a:
onde, quando c como se dá o prestação de serviços; da
(20) Jean Emmanuel Ray, Noupcffes lcdmolosics, p. 53\.
(21) Rosário Gallardo Moya, Ofl. cit., p. 36~37.
(22) r.wlo Pi.t.li, I/lcll'fm,oru udla coulmlln::ivm• collettim, p. 2-10-
242. Ver, ainda, Alessandro 13ellavista, 11 nmtrollo ~·ui hmm1/orí, 1995.
Consult.1r, ainda Recomendnçlw da OlT - Monih'l'ilrg 1111d Srrr·
<'cillmiCI'. Nu Ah.•m.1nba além de ser \'edado o flllllroll' ocultt> h.í a
tendência que circunscreve o direito de controle informãtico sobre
o trub.1lhadnr ao princípio da CtJ-delcrmínaçüo, e portanto, não nega
complct.1mente a possibilidade dt.• recorrer .10 .1p.1rdh.1mcnto tdc-
má/iw pam s.1tisfazer o let;itimo interesse du empresa, como o de
controlar e fiscalizar ,1\guns aspectos do comportmnento do traba~
!b.1dor. A Itáli.1 utentu ;\ umu Diretiva da Comunidude Europei.1,
adotou o Decreto n. 626/199-l qw.' contém prescrição .1cerca do COll*
trole inform.ltíco sobn.' o tmbalhador.
Revista LTr. 86~05/592
qualidade do maquinismo telemático e o tipo comuni-
cacional utilizados.
Há casos em que não há predeterminação tempo-
ral da prestação da atividade., o trabalhador adere a
uma plataforma, na hora eleita por sua conveniên-
da, tipo trabalho avulso, por adesão e por demanda.
Mas uma vez feita a adesão, o empresário que exerce
a dominação digitnl-algorítmica equivale ao tomador
dos serviços., porque fixa a clientela, a cadência tem-
poral e ou o prazo de entrega do resultado do traba-
lho e ou outras condicionantes.
Uma assídua atividade do poder diretivo, de
comnndo, controle, vigilância e fiscalização sobre o
desenvolvimento da atividade laboral é elemento
imprescindível para avaliação da subsistência do
estndo de subordinação jurídica do trabalhador.
Entretanto, o lugar em que se realiza o trabalho não é
nota característica do vínculo de subordinação. Logo,
no sentido de que estn seria mais debilitada. Com
efeito, a distância a distância não tem qualquer inci-
dência negativa sobre a nota de subordinaçãof23l. O
uso prevalente do maquinismo telemático, à primeira
vista, confere ao trabalhador uma certa autonomia e
independência técnica, mas não anula, por completo,
a subordinação jurídica, agora na modalidade telessu-
bordinação ou subordinação virtual ou digital.
6. Renovação dos fundamentos e dos limites do
poder diretivo sob o prisma finalístico: os direitos
humanos fundamentais
A Consolidação das Lei do Trabalho, no art. 2º.,
estabelece que considera-se empregador a empresa,
individual ou coletiva, que, assumindo os riscos
da atividade econômica, admite, assalaria e dirige
a prestação pessoal de serviço. O poder diretivo
empresarial, nas dimensões comando, fiscalização e
disciplinar, consiste em um conjunto de faculdades
vocacionadas à direção da prestação dos serviços, e
encontra explicação em três teorias distintas: contra-
tualista, da propriedade privada, institucionalista.
A teoria co11tratualista se funda no contrato de
trabalho e na submissão ao poder de comando do
empresário. A teoria da propriedade privada esteia na
propriedade dos bens de produção que confere o
poder de controle<2n. A teoria da instituição vê na
empresa uma comunidade de homens e, por isso,
exerce uma função social. Cada uma das teorias ana-
lisa o poder direito possuem enfoques diferentes,
mas ambas se completam, pois: "a co11tratualista indica
a procedência do poder (contrato); a institttcionalista iden-
tifica os motivos justificadores do poder (necessidade); e a
da propriedade revela o e:1:ercente do poder (detentor dos
meios de produção)"<15 l.
(23) JnvierThibnult Ar.1nda, [! telt'lmlmju. Awili!Ú$ jurídico-lnl•oral,
p.+t
(24) Octávio Bueno Magano, Mmmal dt• dirt'ilo do lral'ililw: dirá/o
indi!'Ídua/ do trabalho, p. 45.
(25) Snndm Lia Simon, A tu/da consfifucional da intimidade t' da
Pida prhwda do emprt~ç;ado, p. 81.
Quanto a 11atureza jurídica do poder diretivo
empregador é um direito potestalivo e um dil·eitn-lím.
çilo,t l limitado pelos direitos humanos f~r~;~;~~:~:ii~
26
E por isso, um dever-poder atribuído ao
para cumprimento de um dever de função social
empresa.
Arnaldo Süssekind, em sua obra Instituições de·
Direito do Trabalho (2005:245), define a sulJordirla-
ção pelo prisma finalístico como:
"uma via de mão dupla: de um lado temos
faculdade do empregador de utilizar-se da força de
trabalho do empregado, como um dos fatores de
dução, sempre no interesse do empreendimento
risco assumiu e, de outro, a obrigação do en1pr·eg;acÍo
de sujeitar-se à direção do empregador,
fins a que este se propõe a alcançar."
Melhado<27l aponta o equívoco da ideia da .<ul:'""li- <
11ação jurídica aplacada da era digital pois a realidade
mostra uma relação de poder e de domínio das tec-
nologias. Assim, aponta a necessidade de revisitar os
novos fundamentos do poder empresarial- a saber:
(i) fundamentos intrínsecos, próprios da relação
mercantil de compra e venda da força de trabalho1
que inclui: a) o domínio da técnica e da tecnologia
como poder, e o controle maquinímico que permite
controle dos movimentos do trabalhador pela máquina
nunca o controle dos movimentos da máquina pelo traba~
llrndor; b) a divisão social do trabalho e os processos
de interação dela decorrente e; c) a discricionariedade
sobre as condições contratuais e;
(ii) fimdameutos heteronímicos, que são: a) a oferta
de mão de obra e a superpopulação relativa, assim o
desemprego crescente elimina a perspectiva de vida
e a subjetividade coletiva do trabalhador; b) a mobi-
lidade do capital frente a imobilidade do trabalho e
o chamado princípio da inversão; c) a crise dos para-
digmas do sindicalismo.
Há um expansionismo do poder do capital-infor-
macional pois:
(i) somente o capital é proprietário dos direitos
econômicos das descobertas científicas, no seio da
relação de emprego;
(ii) somente o capital é capaz de investir em pes-
quisa e desenvolvimento científico e, de dar unidade
de ação e de coordenação à pluralidade de conheci-
mentos necessária a cada nova mercadoria, podendo
"dar-se o luxo de prescindir da reunitio física dessa plura-
lidade comandando à distancia a atuaçiio de Í1llÍmeras pes-
soas que atuam em lugares distintos" 118 l;
(iii) somente o capital é capaz de concentrar o
conhecimento, de dominar a técnica, de controlar o maqui-
nismo, de promover a divisüo do trabalho; somente o
capital é capaz de "coarctaçüo do espaço da autonomia
(26) Luiz José de Mesquita, Direito discirlinar dl>lral>allw,1991,
(27) Reginaldo Me!h.1do, Mundia!i::::iiÇtío, ue<tlil>craliww e IWPtJS
marct>~ cvncl'i/uais da su/l(lrdinaçiio, p. 90~92.
(28) 1/>idem, p. 89~QO.
Vol. 86., n2 05, Maio de 2022
individual mediante imposiçiio de determinadas condições
con tratitais"!Z'll;
(iv) somente o capital controla as formas salariais,
movimentação na carreira., a qualidade e quantidade,
as técnicas gerenciais, a mmwgemcnf by objectives,
baseada na fixaç5o de metas, objetivos e prioridades
em todos os escalões.
Deste modo, "cada set01~ unidade ou individuo i: pcr-
mallentemente avalízado em funçiio dos resultados alcan-
çados e das metas estabelecidas, a empresa é .vista como
um todo orgânico, mas cada uma das SilOS wudades deve
'render' o suficiente, como se fora uma empresa dentro da
empresa", wn
A Carta Federal de 1988 agasalha a teoria institu-
cionalista, pois adotado entre nós o regime capita-
lista produtivo, inserido na Ordem Econômica e. os
ditames de compatibilização da com a Ordem Soctal.
A diretriz constitucional vem haurida do princípio da
Jitll ção sócio-econ Um ica-ambienta 1-con.s 1t meris ta-tcCJl oló~
zica-informacional da empresa, ao dtspor que: a pro-
Priedade atenderá a sua função social., nela incluída
a propriedade dos fatores de produção., natureza,
trabalho, capital e tecnologia, bem como, o respeito
ao meio ambiente e aos direitos do consumidor, con-
soante ditames do artigo 5•, XX!I e XXIII e artigo 170,
caput e incisos III, IV, V e VI; e artigo 218 e seguintes,
da Constituição.
Assim, forçosa é a demarcnção das novas frontei-
ms do poder diretivo a partir do seu caráter finalís-
tico e buscar os novos marcos conceituais idôneos
para caracterizar o trabalho por conta alheia: um
novo poder diretivo, agora potenciada pelas novas tccno~
logías c, que deve ser limitado pelos direitos humanos
fundamentais.
Por outras palavras, é fnctível, diante das situa~
çtlo de vulnerabilidade do homem trabalhador, a busca
da proteção da pessoa humana em todas ns normas do
ordenamento jurídico à vista do princípio da unidade~
funcionalidade do Direito e da supremacia da Cons~
tituição., que ensancha o constante apelo às normas
(princípios e regras) constitucionais, por conta não
só do fenômeno da constitucionalizaçi'io do Direito do
Trabnllro.
Desta feita, é possível traçar os limites dos poderes
contratuais e do poder diretivo patronal, fundados
nos princípios da dignidade da pessoa humana e valor
social do trabalho, incluídos os direitos ti vida, saúde, de
personalidade, de intimidade e vida privada, não discri-
minaçt7o, que se apresentam como limites dos limites,
e que demarcam a funçüo ccmtômica~sócio-ambiental­
-consumerista-tecnol6gica-itiformacional da empresa e a
Junçiio social do contrato (artigos Jll, III e IV; 52.' C1~p11t
e inciso X, incisos XXII e XXIII; 170, caput e mctsos
III, IV, V, VI; 218 e seguintes da Constituição. Ainda,
registre-se que o novo Código Civil brnsileiro ado~
tou a teoria da empresa (arts.966 a 980), alargou o
espectro dn responsabilidade empresarial (mts. 927
(29) 1/'!ticm, p. 91
(30) Reginaldo MeJh,,do, A1uudiilliZI1(Ütl, ncolíbl'mli"nw e IIOi'tl~
marc.Js wnaJ/uais da ~uh>rdillil(<l<•, p. 88-00
Revista LTr. 86~05/593
a 954 e 1228, § 12); demarcou os direitos de personali-
dade (arts. 11 a 21) como intangíveis e; ainda, traçou
o princípio e o regime da função social do contrato
(arts 421 a 426), tudo de modo fixar os limites dos
poderes contratuais.
7. Renovação dos indícios da subordinação jurídica
telemática, digital, algorítmica
Os artigos 2º e 3º combinado com artigo 62 da CLT
trazem as notas características da relação de empre-
gado: o poder diretivo e a subordinação jurídica.
"Art. 3º Considera-se empregado toda pessoa
física que prestar serviços de natureza não eventual
a empregador, sob a dependência deste e mediante
salário.
Parágrafo único- Não haverá distinções relativas
à espécie de emprego e à condição de trabalhador,
nem entre o trabalho intelectual., técnico e manual."
"Art. 6º Não se distingue entre o trabalho realizado
no estabelecimento do empregador, o executado no
domicílio do empregado e o realizado a distância,
desde que estejam caracterizados os pressupostos da
relação de emprego.
Pan1grafo único. Os meios telemáticos e informa-
tizados de comando, controle e supervisão se equi-
param, para fins de subordinação jurídica, aos meios
pessoais e diretos de comando, controle e supervisão
do trabalho alheio."
Vários fatores concorrem como elementos indi-
ciários da autonomia e contribuem para as dúvidas
sobre a qualificação jurídica: o lugar de trabalho, a
distância, a presencialidade, o instrumento e o modo
de trabalho. As novas tecnologias da telemática e o
trabalho em rede interno ou externo comporta mul-
tifacetados tipos de trabalho: o trabalho altamente
qualificado, tecnicamente independente, com inde-
pendência das estruturas, prevalentemente intelec-
tual, dotado de autonomia, com acentuado perfil de
colaboração; o trabalho menos qualificado e com a
presença da dependência tecnológica e subordinação
jurídica telemática.
Uma análise superficial do trabalho em plataformas
digitais pode induzir a erro, no sentido de conside.rar
o trabalho como autônomo. Entretanto, não se olvtde
que o computador em rede é, simultaneamente, ins-
trumento de arregimentação, de contratação, traba-
lho e meio de controle da atividade do trabalhador,
que permite a intensificação do poder diretivo sobre
a atividade e a conduta do trabalhador e, que dtí
origem ao chamado taylorismo assistido mediante o
software aplicativo.
No que pertine iiO software aplicativo, a nota da
subordinação vem retratadil na sujeição às diretrizes
e controle empresarial e deve ser analisada a partir do
programa informático e do softvvare aplicativo que
determina e controla a prestação de trabalho. A par-
tir do login, da conexlio informática, a subordinação se
manifesta em cada fase das instruções do programa,
milxime quando há hcterodireçiío em que ao empresário
Revista LTr. 86~05/594
é facultado eleger ou substituir, unilateralmente, o
progmma operativo específico de softwareP 11
Outro critério da subordinação que se renova é
a dependência técnica, agora considerada dependêrz-
cia tecnológica. De sorte que, se o know ltow pertence
à empresa resta fixada a presunção, por indícios, de
que a qualificação jurídica do trabalho é subordinada,
salvo prova em contrário. Se o trabalhador desempe-
nha o trabalho submetido ao poder de organização e
direção da empresa, que impõe o programa infor-
mático a ser utilizado para materialização dos servi-
ços, tal indício é de telessubordinação ou subordinação
algorítmica.P2) ao maquinismo telemático e à infraestru-
tura material e técnica ou manancial de informações
e dados tratados, tudo pertencente ao tomador de
serviços. Não se olvide que o controle é imediato e,
em tempo real, e permite o controle de onde, quando e
como a tarefa é realizada e, se o trabalhador está cum-
prindo o seu dever. O poder diretivo, assim, apresenta-
-se sob novas formas: controle ostensivo prévio; controle
ostensivo concomitante; controle preterintcncional; con-
trole ostensivo a postcriori, controle oculto intencional em
qualquer fase da execução do trabalho.
O software aplicativo permite controlar a atividade
laboral, minuto a minuto; se o terminal do trabalhador
está conectado; qual é o tempo transcorrido desde a
última atividade executada; qual é o tempo de pulso
de uma tecla; a comunicação com o cliente e o tempo
de espera da resposta e; registrar o tempo do trabalho
efetivo; as pausas obrigatórias; o número de opera-
ções realizadas; a reconstituição das tarefas; os erros;
a cadência do trabalho.
Por vezes, o trabalhador deve obedecer às instru-
ções do empresário, que já vem incorporadas no
próprio instrumento de trabalho e, a partir do login
abre-se na tela do computador todas as ordens de
serviço. Ainda, por vezes, o trabalhador deve respei-
tar uma série de procedimentos codificados e senhas,
vinculados pam a realização da tarefa, cujo descum-
primento impede a continuidade do trabalho, pelo
bloqueio do programa, por ausência ou erro na ope-
ração ou no procedimento predeterminado. Acresça-
-se que o empresário pode conceder ao trabalhador
maior autonomia no emprego do tempo, mas, à con-
trapartida, exigir maiores resultados no trabalho con-
tratado por metas, resultados e objetivos.
(31) O Tribunal Supremo em Espanha, em decisão de 22 de abril
de 1996, deixou claro o entendimento de que para a qualificação de
um tdt'lralm/Jwdor como trabalho dependente, por conta alheia, entre
outros indícios, é preciso consider.u uma estrita direção verificada
através de um programa informático confeccionado pela empresa.
Ver Javier Thibault Aranda, E/ tdelralmjo. Amilisis jurfdico-/al'tlra/,
P· 51.
(32) Sentença do TSJ- Baleares, de 30.05.1995, Ar. 1790, que
analisa a relação trabalhista de tr,1balhador especialista em informa~
çJ.o, no sentido de que a autonomia do trabalhador é muito relativa
se a empresa "fifar a/amtcmlim opaalim a seguir, )f, ala! efccto. lia/ria
{ilcililado 11 los adores 1111 pwgram11 íuformâlico uorm11Iizndo, que cs/os
lwllían incorporado 11 SIIS ordmadores persona/e:; y C/1 cuyo 1111111ejo fuen.m
dt'l>ldl1111t'lllt' insfruúfos lllt'tÚIIIIfe los nm't'SJWIIdit·nlt's cursillw;;, pmgrama
qm• lmitm qut' ulíU:ar 1lflra 11 11111/l'riali:nciôn. No mesmo sentido STS,
de 22.0'1.1006, Ar. 3334. Ver Moya, ob.cil., p. 72, nota 93.
Vol. 86, n2 05, Maio de
Destarte, ainda que presente a independência
cional, o elemento subordinaçilo, ainda que diferenciado,
pode subsistir quando o trabalhador está inserido
sistema informâtico-conumicadonal, e que deve substi-
tuir o vetusto critério da inserçâo material na unidade
produtiva. Assim, abstraídas as dimensões espaçá--
-tempo, a hierarquia e a presencialidade, o trabalha-
dor não é estranho e aos escopos aos interesses vitais
da empresa, de organização produtiva e da clientela,
que se vale dos instrumentos telemáticos para otimi-
zar o alcance das metas e produtividade.
Logo, elemento "inserçüo do trabalhador no ciclo pro~
dutivo ou na 01ganização telemática, dig-ital algorítmica
da empresa" 011 que arregimenta, contr~ta, inl:ermedia, . .•
determina, canaliza e controla a atividade laboral, é
critério que assume importância vital caracterizante
da fattispecie social típica do trabalho subordinado
algoritmo.
Entre nós, Maurício Godinho Delgado, de há
muito, anota que a subordinação tradicional foi dese-
nhada para a realidade da produção fordista e taylo-
rista, fortemente hierarquizada e segmentada, na
qual prevalecia o binômio ordem-subordínaçcio:
"A readequação conceitual da subordinação -
sem perda de consistência das noções já sedimenta-
das, é claro - de modo a melhor adaptar este tipo
jurídico às características contemporâneas do mer-
cado de trabalho, atenua o enfoque sobre o comando
empresarial direto, acentuando, como ponto de des-
taque, a inserção estrutural do obreiro na dinâmica
do tomador de seus serviços. Estrutural é, pois, a
subordinação que se manifesta pela inserção do tra-
?alhador na dinâmica do tomador de seus serviços,
mdependentemente de receber (ou não) suas ordens
diretas, mas acolhendo, estruturalmente, sua dinâ-
mica de organização e funcionamento."(J.tl
Na era tecnológica digital, de gestão flexível, pre-
valece o binômio colabomçlfo/dependência, mais com-
patível com uma concepção estruturalista em que
predomina a denominada subordinação estrutural ou
integrativa, característica do trabalho pós-industrial,
retratada pela inserçiio do trabalhador na dinâmica do
tomador de sc1viços, independentemente de receber ordens
diretas do real beneficüirio do proveito econômico prestaçtio
de Se17JÍÇOS.
Outros indicadores autorizam a qualificar o cará-
ter de subordinaçrlo algorítmica do trabalho no contexto
do trabalho em plataformas digitais: (i) o controle pos-
terior e direto da atividade mediante os dados regis-
trados no suporte telemático computador; (ii) o
controle posterior indireto, incidente sobre determi-
nados aspectos da prestação; (iii) a indicação de clien-
tela e de zonas geográficas pam desenvolvimento do
trabalho, (iv) controle das visitas aos clientes; (v) o
controle do fator tempo, porque, em regra, o traba-
lhador deve ativar algum dispositivos para iniciar ou
concluir o trabalho.
(33) Guiseppc s.mtoro Passarelli, lllal'OI't' f'ilrilSUb(>rdilwlo, 1979.
(34) DELGADO, Mauricio Godinho. Direitos Fundamentais na
relação de trab.1lho. Rt'1>isla do Mi11islfrio Público do frah1l!w, 13rasili.:J.;
Procurndoria Gemi do Trt~balho, mar./2006, n. 31, p. 20-16 (p.45-16).
Vol. 86, ní! 05, Maio de 2022
s. Posição dos Tribunais sobre o trabalho nas plata-
formas digitais
Na França, em 2016, o Cansei/ de Pntd'lwmmcs
decidiu pelo vínculo em relação aos motoristas do Lc
cnbP5l Em 2017, a Cour d'nppel de Paris decidiu que
entregadores não eram empregados, decisão refor-
mada em 2018, pela Cour de Cassatíon, o mesmo ocor-
rendo em relação a uma motorista di.l plataforma
Uber./361 Em 2019, a Justiça espanhola reconheceu que
os prestadores de serviços da plataforma Glovo eram
empregados para todos os efeitos.rm
No Informativo 43/20 o Bundcsarbeitsgerícltt- Tri~
bunal Federal do Trabalho da Alemanha, considerou
vínculo de emprego do "Status de Jtmciomírio de "cro-
wdworkers", conforme razões do julgado$ em tradu-
ção livre:
"A execução efetiva de pequenas encomendas
("micro jobs") por usuários de uma plataforma online
("crowdworker") com base em um acordo-quadro
firmado com sua operadora ("crowdsource") pode
resultar na qualificnção da relação jurídica como rela-
ção de emprego. A ré controla a apresentação de pro-
dutos de marca no varejo e em postos de gasolina em
nome de seus clientes. Ela tem as próprias ativida-
des de controle realizadas por crowdworkers. A sua
tarefa consiste, em particular, em tirar fotos da apre-
sentação do produto e responder a perguntas sobre a
publicidade dos produtos. Com base num "contrato
básico" e termos e condições gerais, a demandada
oferece os "micros empregos" através de uma pla-
t.lforma online. Cada usuárío da plataforma online
pode aceitar pedidos relativos a pontc:'s de venda
específicos por meio de uma conta conftgurada pes-
soalmente, sem estar contratualmente obrigado a
fazê-lo. Se o crowdsourcer aceita um pedido, ele
deve fazê-lo regularmente em duas horas, de acordo
com as especificações detalhadas do crowdsour-
cer. Os pontos de experiência são creditados em sua
conta de usuário por trabalhos concluídos. O sistema
aumenta o nível com o número de trabalhos concluí-
dos e permite que vários trabalhos sejam aceitos ao
mesmo tempo. O reclamante executou 2.978 ordens
para o réu pela última vez em um período de onze
meses, antes de anunciar, em fevereiro de 2018, que
não iria mais oferecer-lhe ordens para evitar futuras
discrepâncias. Em sua ação, ele primeiro pediu para
estabelecer que as partes tinham uma relação ~e tra-
balho por tempo indeterminado. No curso da dtsput~
judicial, o réu rescindiu qualquer vínculo empregatt-
cio existente por precaução em 24 de junho de 2019.
Em seguida, o autor interpôs sua ação, com a qt~al
também inter alia. Reivindicações de remuneraçao
perseguidas, expandidas pura incluir um pedido
de proteção de demissão. Os tribunais rejeitaram a
(35) dlttp: 1lwww .rfi.fr lbrI franc.1/2018020B·justica-frt~ncesa·
-nega-direitos-trabalhistas-par<"!-motonsto-dn-uber>.
(36) <https:llwww.lemonde.fr/emploilarticll'I2019IOII11 I
le-lien-unissant-un-chauffeur-et-uber-reconnu-contrat·de-tra-
v,1il_5407507 _1698637.html>.
(37) <https;l 1e\ame ..Jbril.com.br I c.ureir.11tribunal-de·m,1dri-
-deddt'-qUl'-entreg.1dores-::.ao- fundonario::.-do-..1pp I>.
Revista LTr. 86-05/595
reclamação. Você negou a existênciu de uma relação
de trabalho entre as partes. O recurso do reclamunte
foi parcialmente bem-sucedido. O Nono Senado da
Justiça Federal do Trabalho reconheceu que a autora
mantinha vínculo empregatício com a ré na época da
rescisZio cnutelar em 24 de junho de 2019. De acordo
com a Seção 61!a do Código Civil Alemão (BGB), o
status de um funcionário depende do funcionário
que executa um trabalho que está sujeito a instruções
e depende pessoalmente de terceiros. Se a efetiva
implementação de uma relação contt·atual ~ostr~r
que se trata de uma relação de trabalho, a destgnaçao
no contrato é irrelevante. A avaliação geral de todas
as circunstâncias exigidas pela lei pode mostrar que
os crowdworkers devem ser considerados funcioná-
rios. Trata-se de uma relação de trabalho se o cliente
controla a cooperação através da plataforma online
por ele operada de tal forma que ~ ~ontratante não
pode desenhar livremente suas ahvtdades em ter-
mos de localização, tempo e conteúdo. Este é o caso.
O queixoso executou o trabalho de uma forma ~ue
estava ligada a instruções e controlada por tercetros
e era pessoalmente dependente. Ele não estava con-
tratualmente obrigado a aceitar ofertas do réu. A
estrutura organizacional da plataforma online ope-
rada pela demandada, no entanto, foi ori~ntada para
o fato de os usuários cadastrados e tremados por
meio de uma conta aceitarem continuamente paco-
tes de pequenas encomendas simples, passo a passo,
especificadas contratualmente, a fim de concluí-los
pessoalmente. Apenas um nível no sistema de clas-
sificação que aumenta com o número de empregos
realizados permite que os usuários da plataforma
online aceitem vários empregos ao mesmo tempo, a
fim de concluí-los em uma rota e, assim, alcançar um
salário por hora mais alto. Este sistem~ de incentiv~s
induziu o demandante a exercer contmuamente ati-
vidades de fiscalização no distrito de sua residência
habitual. O Nono Senado do Tribunal Federal do Tra-
balho, no entanto, rejeitou amplamente o recurso do
reclamante, pois a rescisão declarada como medida
cautelar encerrou efetivamente a relação de trabalho
entre as partes. No que diz respeito às _ações _in~en~­
zatórias apresentadas pela autora, a dtscussao JUdi-
cial foi remetida ao Tribunal Regional do Trabalho. O
demandante não pode simplesmente exigir o pagn-
mento de uma remuneração de acordo com os hono-
rários que recebeu como supostamente fr~elancer.
Se uma relação de trabalho supostamente hvre aca-
bar sendo uma relação de trabalho em retrospecto,
geralmente não se pode presumi: q:te. o va}or da
remuneração acordado para o funCionano autonomo
também seja acordado para o emprego como funcio-
nário. A remunemção usual no sentido de Seção 612
(2) BGB, cujo valor o tribunal regional do trabalho
deve esclarecer ."(lSJ
O STJ/CC 164.544/MG (D)e 04/09/2019) que,
diante de Conflito Negativo de Competência entre
Juiz do Trabalho e Juiz Estadual, determinou a com-
(3S) <http:l ljuris.bundesarbeitsgericht.de I cgi-binl rcchtspre·
chungldocument.py?Gt.•richt=bag&Art=pm&nr=24710>. Acesso
em; 07 dez. 2020, tr.1d. livre.
 Revista LTr. 86-05/596
Vol. 86, n2 05, Maio de 2022 Revista LTr. 86-05/597

petên~ia da Justiça Estadual sob o argumento para

de que o princípio constitucional da livre iniciativa PROVIMENTO.!. Discute-se a possibilidade de reco- com n utilização de plntaforma tecnolôgica de gestão
aprecw: o terna trabalho em plataforma digitais, sob garante aos agen~es econômicos liberdade para ele-
os segumtes fundamentos: nhecimento de vínculo de emprego entre motorista de oferta de motoristas-usuários e demanda de clien-
ger suas estratégtas empresariais dentro do marco profissional que desenvolve suas ntividades com uti- tes-usuários, não se dá para a platnformn e nii.o atende
_ "O~ fundamentos de fato e de direito da causa legislativo vigente. lização do aplicativo de tecnologia "Uber" e a sua aos elementos configuradores da relação de emprego
nao. dtzem respeito a eventual relação de emprego Veja-se a ementa: criadora, Uber do Brasil Tecnologia Ltda. li. Pelo previstos nos artigos 22 e 3º da CLT, inexistindo, por
havtda entre as partes, tampouco veiculam a pre- prisma da transcendência, trata-se de questão jurí- isso, relação de emprego entre o motorista profis-
te~são de recebimento de verbas de natureza traba- "DIREITO DO TRABALHO. AÇÃO DECLARA-
dica nova, uma vez que se refere à interpretação da sional e ê1 desenvolvedora do aplicativo, o que ntio
lhista. A pretensão decorre do contrato firmado com TÓRIA DA CONSTITUCIONALIDADE E AÇÃO legislação trabDlhista (arts. 2º, 3º, e 6º, da CLT), sob acarreta violnção do disposto no art. 1º, IH e IV, da
empresa detentora de aplicativo de celular, de cunho DIRETA DE INCONSTITUCIONALlDADE
enfoque em relação ao qual ainda não há jurispru- Constituição Federal . VII. Agravo de instrumento de
e~menternente civil." (...) "As ferramentas tecnoló- TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS. LEi dência consolidada no âmbito do Tribunal Superior que se conhece e a que se nega provimento" (AIRR-
gtcas dispo~íveis atualmente permitiram criar uma 11.442/2007, QUE PREVIU A T5R~~~~~i~~~ do Trabalho ou em decisão de efeito vinculante no 10575-88.2019.5.03.0003, 4' Turma, Relator Ministro
nov~ modalidade de interação econômica, fazendo DA ATIVIDADE -FIM. VÍNCULO
Supremo Tribunal Federal. Logo, reconhece-se a Alexandre Luiz Ramos, DEJT 11.09.2020).
surgtr a economia compartilhada (sharing economy), CQMERCIAL. NÃO CONFIGURAÇÃO DE RELA- transcendência jurídica da causa (nrt. 896-A, § 1º, IV,
e~ que a pr~stação de serviços por detentores de ÇAO DE EMPREGO. 1. A Lei n. 11.442/2007 "AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE
da CLT). III. Na hipótese, o Tribunal Regional man- REVISTA. ACÓRDÃO PUBLICADO NA VIGÊNCIA
Veiculo~ particulares é intermediado por aplicati- (t) t_:egulamentou n contratação de transportadores :
teve, pelos próprios fundamentos, a sentença em DA LEI N. 13.015/2014. VÍNCULO DE EMPREGO.
vos gendos por empresas de tecnologia. Nesse pro- autonomos de carga por proprietários de cargn e por que se reconheceu a condição de trabalhador autô- MOTORISTA. UBER. AUSÊNCIA DE SUBORDINA-
cesso, os motoristas, executores da atividade, atuam emp~e~as ~rnnspo~ta_doras de carga; (ii) autorizou
nomo do Reclamante. No particular, houve reconhe- ÇÃO. Em razão de provável caracterização de ofensa
como empreendedores individuais, sem vínculo de tercemzaçao d~_ahvtdade-fim pelas empresas
cimento na instância ordinária de que o Reclamante ao art. 3º, da CLT, dá-se provimento ao agravo de
emp:;go com a empresa proprietária da plataforma." portêldoras; e (m) afastou a configuração de vínculo ostentava ampla autonomia na prestação de serviços, instrumento para determinar o prosseguimento do
(.~ ..) ~s mo~oristas de aplicativo não mantêm rela- de emprego nessa hipótese. 2. É legítima a terceiri-
çao ~Ierár_qmca com a empresa UBER porque seus za5ão ?a~ atividndes-fim de uma empresa. Como sendo dele o ônus da atividade econômico. Regis- recurso de revista. Agravo de instrumento provido.
s~rvtços sao prestados de forma eventual, sem horá- f?I ?e_ctdt~o pelo_Supremo Tribunal Federal, n Cons- trou-se, ainda, a nusência de subordinação do tra- RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO PUBLICADO
nos pré-estabelecidos e não recebem salário fixo o htuiçao nao trnpoe uma única forma de estruturar a bnlhador para com a Reclamada, visto que "o autor NA VIGÊNCIA DA LEI N. 13.015/2014. VÍNCULO
que descaracteriza o vínculo empregatício entre' as pro~uçã~. (\? ~ontriírio, o princípio constitucional não estava sujeito ao poder diretivo, fiscalizador e DE EMPREGO. MOTORISTA. UBER. AUSÊNCIA DE
partes." ~a hvre lntCtativa garante aos ngentes econômicos punitivo da ré". Tais premissas são insusceptíveis SUBORDINAÇÃO. TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA
hberdade para eleger suas estratégias empresariais de revisão ou alteração nes&'l instância extraordiná· RECONHECIDA. Destaque-se, de início, que o ree-
Em recente decisão, o Supremo Tribunal Fede- de~tro do marco vigente (CF/1988, art. 170). A pro- ria, conforme entendimento consagrado na Súmula xame do caso não demanda o revolvimento de fatos e
ral, na ADC 48 e ADI 3961 (DJE n. 123, de 18.05.2020) n. 126 do TST. IV. A relação de emprego definida provas dos autos, isso porque a transcrição do depoi-
teçao constttuCiona! ao trabalho não impõe que toda
JUlgo~ a~ duas ações conjuntas, que inquinam a e qualquer prestaçao remunerada de serviços confi- pela CLT (1943) tem como padrão a relação clós- mento pessoal do autor no acórdão recorrido con-
~o~tttucwnalidade do artigos 52, caput e parágrafo sica de trabalho industrial, comercial e de serviços. templa elemento fático hábil ao reconhecimento da
gure relação de emprego (CF/1988, art. 7•). Prece-
umco: e 18 Lei n.11.442/2007, que trata da natureza As novas formas de trabalho devem ser reguladas confissão quanto à autonomia na prestação de servi-
dent:': A!JPF 524: Rel. Min. Luís Roberto Barroso.
do vmculo de emprego de transportadores autô- 3. Nao ha mconstituc10nahdade no prazo prescricio- por lei própria e, enquanto o legislador não a editn, ços. Com efeito, o reclamante admite expressamente
non:os na contratação de terceirização da ativida- nal de ~ (um) ano,_a contar da ciência do dano, para a não pode o julgador aplicar indiscriminadamente a possibilidade de ficar "off line", sem delimitação de
de-fim, por proprietários de carga e por empresas propositura de nçao de reparação de danos prevista o padrão da relação de emprego. O contrato regido tempo, circunstância que indica a ausência completa
transportadoras.
no art. 18 da Lei 11:442/2007, à luz do art. 7•, XXIX, pela CLT exige a convergência de quatro elemen- e voluntária da prestação dos serviços em exame, que
A lei inquinada de inconstitucional determina CF, uma vez que nao se trata de relação de trabalho tos configuradores: pessoalidade, onerosidade, não só ocorre em ambiente virtual. Tnl fato traduz, na
CI_.~~' mes~n~ quando for inequívoc~ ~_natureza emprega- mas de ~r~lação com~rci~l. 4.. Procedência da açã~ eventualidade e subordinação jurídica. Esta decorre prática, a ampla flexibilidade do autor em determi-
tnm do_ vmculo, deve prevalecer artificmlmente a natureza declar~_ator~a da co~stituc10nahdade e improcedência do poder hierárquico da empresa e se desdobra nos nar sua rotina, seus horários de trabalho, locnis que
C~lt~er~ral predeft_nida, á vista dos princípios da livre-i- da açao dtreta de mconstitucionalidade. Tese: "1 poderes diretivo, fiscalizador, regulamentar e disci- deseja atunr e quantidade de clientes que pretende
n_tctativa e ?a liberdade de exercício de qualquer ofí- ~ L:i _11.iJ!2!2007 é cot~s~itucional, uma vez que a Cons- plinar (punitivo). O enquadramento da relação esta- atender por dia. Tal autodeterminação é incompatí-
CIO o~ p:oftssão. Ainda, fundamentou que a proteção tztwçao nao veda a te:c..~emzaçiio, de atividade-meio ou fim,_ belecida entre o motorista de aplicativo e a respectiva vel com o reconhecimento da relação de emprego,
L:onstztu~wnal não i~npõe qu~ toda ou qualquer prestação 2 - O prazo prescnctonal estabelecido no art. 18 da Lei plataforma deve se dar com nquela prevista no orde- que tem como pressuposto básico a subordinação,
1emzmewda de serVIÇOS configure relações de emprego", e 11.442/2007 é vâlido porque niio se trata de créditos resul- namento jurídico com maior afinidade, como é o cnso elemento no qual se funda a distinção com o traba-
qu~ nem to~o o trabalho pessoal e oneroso recai no ~m~~e~ de relaçr~o ~e trabalho, mas de relaçi'io comercial, 1Ulo da definida pela Lei n. 11.442/2007, do transportador lho autônomo. Não bastasse a confissão do recla-
regtme celetista. Reconheceu que, no caso da plata- mudm~o na lupotese o art. 72, XXIX, CF. 3 - Uma vez autônomo, assim configurado aquele L1Ue é proprie- mante quanto à autonomia para o desempenho de
for~a ,~ecno!?gica o trabalho se dá "pela" plêltaforma ~reen~chzdo~ os requisitos dispostos na Lei n. 11.442/2007, tário do veículo e tem relação de natureza comercial. suas atividades, é fato incontroverso nos autos que
e ~1ao. para. a plataforma, portanto não atende aos tstara configurada a relaçilo comercial de natureza civil e O STF já declnrou constitucional tal enquadramento o reclamante aderiu aos serviços de intermediação
cnténos definidos nos artigos 22 e 32 da CLT. Isto afastada a confíguraçiio de vínculo trabalhista". jurídico de trabalho autônomo (ADC 48, Rel. Min. digital prestados pela reclamada, utilizando-se de
porque, o _usuá:i~-~otoristêl pode dispor livremente C? Tribunal Superior do Trabalho, no "case UBER", Roberto Barroso, DJE n. 123, de 18.05.2020), a evi- aplicativo que oferece interface entre motoristas pre-
quando dts~~mbth.zará seus serviços de transportes denciar a possibilidade de que nem todo o trabalho viamente cadastrados e usuários dos serviços. Den-
t;a lmha ~es~aA li~1a do julgado STF I ADC 48, sina-
para os us~a:tos·chentes, sem qualquer exigêncb de liza pel? I~extstencw de relação empregatícia, diante pessoal e oneroso deve ser regido pela CLT. V. O tra- tre os termos e condições relacionados aos referidos
tra~alho mtmmo, de número mínimo de viagens por balho pela plataforma tecnológica - e n5o para ela serviços, está a reserva ao motorista do equivalente a
da ausenCia de subordinação do trabalhador visto
~en<:do, de faturamento mínimo, sem qualquer fisca-
qu~ "o autor nã? _estava sujeito ao poder diretivo, fis- -, nôo ntende aos critérios definidos nos artigos 22 75% a 80% do valor pago pelo usuário, conforme con-
hzaçao ou punição.
calizador e pumtivo da ré": e 32 da CLT pois o usuário-motorista pode dispor signado pelo e. TRT. O referido percentual revela-se
Para o re_lator Ministro Roberto Barroso, urna livremente quando e se disponibilizará seu serviço superior no que está Corte vem admitindo como bas-
"AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO
vez preencludos os requisitos dispostos na Lei DE REVI?TA INTERPOSTO PELA RECLAMANTE de transporte para os usuários-clientes, sem qualquer tante à camcteriznçiio da relação de parceria entre os
n. 11.442/200~, está configuradêl relação comercial ACÓRDAO REGIONAL PUBLICADO NA VIGÊN~ exigência de trabalho mínimo, de número mínimo de envolvidos, uma vez que o r<-1teio do valor do serviço
de natureza ctvil e afastada a configuração de vín- viagens por período, de faturamento mínimo , sem em alto percentual a uma das partes evidencia van-
CIA DAS LEIS NS. 13.015/2014 E 13.467/2017
culo tra~a~hista. Isto porque, o STF, no julgamento PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO. RELAÇÃO DÉ qualquer fiscalização ou punição por esta decisão do tagem remuneratória n5o condizente com o liame de
da Argtuçao de Descumprimento de Preceito Fun- EMPREGO. RECONHECIMENTO DE VÍNCULO motorista, como constou dns premis&1S fátims incor· emprego. Precedentes. Recurso de revista conhecido
damental (ADPF) 324 e do Recurso Extraordimírio TRABALHADOR AUTÔNOMO. MOTORISTA. porndas pelo acórdão Regional, ao manter a sentença e provido" (RR-1000123-89.2017.5.02.0038, 5' Turma,
(~E~ 958252~ considerou legítima a terceirização das APLIC}\TIVO. UBER. IMPOSSIBlLIDADE. TRANS~ de primeiro grau por seus próprios fundamentos, em Relator Ministro Breno Medeiros, DE)T 07.02.2020).
ahvtdades-ftm de uma empresa, sob o fundamento procedimento sumnríssimo. VI. Sob esse enfoque, "AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO
CENDÊNCIA JURIDICA RECONHECIDA. NÃO fixa-se o seguinte entendimento: o tmbalho prestado DE REVISTA. MOTORISTA DE APLICATIVO.
 Revista LTr. 86·05/598
Voi. 86, n2 05, Maio de Voi. 86, n2 05, Maio de 2022 Revista LTr. 86-05/599

AUTONOMIA NA PRESTAÇÃO DOS SERVI- A matéria não é pacifica, encontra-se em aberto

ÇOS. VÍNCULO EMPREGATÍCIO NÃO CON- em construção, de modo que novos elementos podem países emergentes, 15% dos lares possuem acesso à nah Arendt fundamenta o seu ponto de vista sobre os
FIGURADO. O Tribunal Regional consignou que ser ngregados como indícios ou presunção de subor- internet. Entre 1980 e 2016, a parcela dos 1% mais direitos humanos como invenção que exige a cidadn-
os elementos dos autos demonstram autonomia dinação. Aliás, encontra-se em aberto o debate sobre ricos da população mundial viu o seu rendimento nia através de urna distinção ontológicn que diferen-
do reclamante na prestação dos serviços, especial- o próprio trabalho humano. globnl aumentar 27%, enquanto os 50% mais pobres cia a esfera do privado da espera do público. Para eln,
mente pela ausência de prova robusta acerca da receberam apenns mais 12%; e 36,1% da força de tra- a condição básica da ação e do discurso, em contraste
subordinação jurídica. Ademais, restando incontro- Para concluir este articulado, temos que n solu- balho global trabalha um número excessivo de horas, com o labor e trabalho, é o mundo comum da plurali-
verso nos autos que, " pelos serviços prestados aos ção mnis adequada seria a aplicação de uma proteção mais de 48 horas por semana.Htll dade humana. Esta tem uma caraterística ontológica
usuários, o motorista do UBER, como o reclamante geral de qualquer modalidade de trabalho, com obje- dupln: a igualdade e a diferença. Se os homens não
Assim, traçou que fossem iguais, não poderiam entender-se. Por outro
aufere 75% do total bruto arrecadado como remu- tivo de proteção da força de trabalho e do homem traba-
"existem condições de trabalho que implicam para lado, se não fossem diferentes não precisariam nem
neração, enquanto que a quantia equivalente a 25% llrador em sua dignidade, na co11sideraçt1o de que o homem
grande parte das pessoas, a injustiça, a miséria e as da palavra, nem da ação para se fazerem entender.
era destinada à reclamada (petição inicial item 27 é o princípio e o fim da própria Humanidade, e ,
inserido em dada Comunidade jurídica (Estado e Socie- privações, o que gera um descontentamento tal que (... ) É com base nesta dupla camterística da plurali-
- id. 47af69d), como pagamento pelo fornecimento
a paz e a harmonia universais são postas em risco; e dade que ela insere a diferença na esfera do privado e
do aplicativo ", ressaltou o Tribunal Regional que, dade) deve ser o centro das preocupações. E, no contexto
"pelo critério utilizado na divisão dos valores arre- das novas tecnologias professar o desenvolvimento susten- (... ) é urgente melhorar essas condições. Hoje como a igualdade na esfera do público"(·121 •
cadados, a situação se aproxima mais de um regime tável na senda da inclusão e proteção social, e reversilo da então, a paz e a estabilidade duradouras dependem Destarte, para Celso Lafer('13l, a expressão "direito
da justiça sociaf.Nll''
de parceria, mediante o qual o reclamante utilizava sua "plus valia" em prol da Sociedade e "pro homine" a ter direitos" significa "acesso pleno à ordem jurí-
a plataforma digital disponibilizada pela reclamada, Ana Arendt, na sua obra Origens do Totalitarismo dica que somente a cidadania oferece". E factível con-
em troca da destinação de um percentual relevante, 9. Perspectivas internacionais upro homine" das (1989, p. 332,) assevera <.]Ue o conceito de cidadania cluir, que qualquer trabalhado merece a proteção e
calculado sobre a quantia efetivamente auferidn com novas tecnologias e inserção social do trabalho significa "direito a ter direitos", e que comporta dois a retribuição mínima prevista na Constituição Fede-
os serviços prestados ". Óbice da Súmula n2 126 do plataformas digitais sentidos: o termo "direito" significa que "deve-se tra- ral, que traz uma pauta dos direitos "ao trabalhador"
TST. Incólumes os artigos 1º, UI e N, da Constituição tar a todos os seres humanos como pessoas perten- independente do regime jurídico de contrntação.
Federal e 22,32 e 62, parágrafo único, da CLT. Agravo A OIT vem sistemnticamente professando o uso centes n algum grupo humano ao qual corresponde Nesse diapasão, na dúvida sobre a presença das
de instrumento conhecido e não provido" (AIRR- das novas tecnologias "pro lwmine", em favor do ser uma proteção" e; o termo "direitos" condiz com um notas de laboralidade protegida exsurge no campo
11199-47.2017.5.03.0185, 8' Turma, Relatora Ministra humano em sua dignidade. O Informe dn OIT: l11e prévio pertencimento a uma comunidade política e das novas tecnologias o princípio "pm homine"
Dora Maria da Costa, DE)T 31.01.2019). Higt Road To Teleworking '"' publicado do ano de gozo dos direitos civis, políticos, sociais, econômi- (art. 218 usque 219, CF/88) o que atrai a pauta de
2001, já apontava para o nproveitamento máximo das cos e culturais. A humanidade, para Ana Arend sig- valores constitucionnis e de direitos do trabalho e de
Notícias do TST, de 2 de dezembro de 2020. No possibilidades das novas tecnologias sob uma pers-
case TST /RR 100353-02.2017.5.01.0066, ainda pen- pectiva humanistica, de modo que "el capital hwnano, nifica pluralidade humana pois "os homens, e não o seguridade social, mínimos irredutíveis, pela amal-
dente de conclusão no julgamento o Relator Min. la nueva tecnología y las 1mevas formas de or~anización Homem, vivem na Terra e habitam o mundo". Deste gama dos artigos, 1º, IV, 32, 62, 72, 8º, 9º, 10,1_1, e 201
Mnuricio Godinho Delgado afirma que na relação dei trabajo puedan combinarse para genernr c;ecimiento, modo deve-se considerar a pluralidade do ponto de da Carta cidadã de 1988. Ainda, não se olvtde que
entre aplicntivos de transporte como Uber e moto- empleo y mms mejores condiciones laborales." vista de umn comunidade global, capaz de amparar a legislação infraconstitucional (art. 6º e parágrafo
ristas dessas plataformas estão presentes os cinco e proteger os indivíduos resguardando-os enquanto único, CLT) não distingue o trabalho comum com
elementos que configuram o vínculo empregatício. O relatório da OIT do ano 2017, sobre o futuro do sujeitos de direitos e deveres, dentro de uma ordem aquele exercido "pela" ou "para" as parnfemálias tcle-
Portanto, há relação de emprego. O Ministro afirmou trabalho fixou a "necessidade de efetivação do trabalho jurídica que lhes permita viver em segurança e com- mtíticas~digitais-algorítmas. Pois, só assim sertí possível
partilhar o mundo. afirrnnr e reafirmar uma sociedade, justa fraterna e
que o Brasil é um dos poucos países do mundo que online decente com direito à liberdade sindical e negociação solidária e comprometida com os direitos civis, polí-
já têm legislação que se aplica "como uma luva" a coletiva, salário mínimo em vi~or na regiilo, ser o t~·abalha­ E factível concluir que somente é possível ter ticos, sociais, econômicos e culturais.
casos de "uberização". Trata-se do parágrafo único dor indenizado por trabalho p~rdido cn~ caso de problemas "direito a ter direitos" quando se é membro de uma
No que tange ao plano legislativo, muito se dis-
do artigo 62 da CLT, segundo o qual "os meios telemá- técnicos ligados à tarefa ou plataforma". comunidade, inserido no aparato legal, que garnnta o cute, atualmente, a regulamentação jurídica dos tra-
ticos e informati::ados de comando, controle e supervisão se No centenário da OIT do ano de 2018, a Comis- pertencimento e o natural convívio em uma comuni- balhadores que prestam serviços por aplicativos e as
equiparam, para fins de subordinação jurídica, aos meios são Mundial sobre o Futuro do trabalho - Trabalhar dade política, que resguarda a aquisição e manuten- opiniões e decisões são contraditórias a respeito de
pessoais e diretos de comando, controle e supervisão do tra. para um futuro melhor informa que: 200 milhões de ção dos direitos civis, políticos, sociais, econômicos e tais atividades e sua adequada subsunção jurídica.
balJro alheio". Assim, a subordinação por meio tele- pessoas bnseiam seu sustento em emprego infor-. culturais. O mote de qualquer Sociedade é, pois, abo-
mático já existe no ordenamento, mas curiosamente, mal; 19.0 ~ilh~s ~e pessoas estão desempregadas, lir a exclusão sodal, caminhar na senda da constru- Em Portugal, o artigo 10, número 10, da Lei
"mlo vem sendo prestigiada na análise do assunto". 64,8 mllhoes sao JOVens; 300 milhões de pessoas ção da inclusão e da igualdade na era digital. n. 45/2018, determina a aplicação do artigo 12º, do
Código de Trabalho, aos motoristas de plataformas,
No julgado TST /RR RR-392-53.2014.5.02.0038, v~vem em pobreza extrema com menos deU$ 1,90/ Celso Lafer anota que o sentido Arendtinno confe- ou seja, impõe a presunção de laboralidade de tais
a ministra Maria Helena Mallmann fundamentou, dta; 53.6% dos lares possuem ncesso à internet. Nos rido à cidndania é um princípio e um meio de cons- empregados:
em apertada síntese que: não é necessário o controle trução público/privado da igualdade:
efetivo de horário pelo empregador para afastar o "10 - Ao vínculo jurídico estabelecido entre o
(39) Revistn da Organização Internacional do Trab.11h0 "A reflexão arendtinna, no entanto, vai mais além. operador de TVDE e o motorista afeto à atividade,
enquadramento no direito as horas extras, basta a n. 38/2001, p. 7-8. Segundo relatório do Fórum Econômico Mundial O que ela nfirma é que os direitos humanos pressu- titulado por contrato escrito assinado pelas partes, e
possibilidade de fnzê-lo, ainda que indiretamente. (FEM), de 2016, sobre o futuro dos empregos e as consequências do põem a cidadania não apenas como um fato e meio, independentemente da denominação que as partes
~undo 4.~: estimn·se ate 2022, 75 milhões de empregos desapareCt,"-
Assim, o fornecimento do celular pela empresa é r,w; 133 m1lhões novas vag.1s serão criadas. Estudos realizados entre mas sim como um princípio, pois a privação da cida- tenham adotado no contrato, é aplicável o disposto
compatível com o controle da jornada, ninda que indi- 2018 e 2019, a Universidade de Br.1süia, com base na Relaç.'io Anual dania afeta substantivamente a condição humana, no artigo 12º do Código do Trabalho."
reto, pois a "inserção de smartphones na dinâmica da de Infom1<1ções Sociais (RAIS) e na dassificnçiio o~NET Job Zone, uma vez que o ser humano privado de suas qunli-
organização do trabalho é um avanço indiscutível( ...) que separa as funçôes ocupacionais em cinco grupos conforme o dade acidentais - seu estatuto político- vê-se pri- A sua vez, o artigo 122, do Código de Trabalho
grnu de preparo necessário. concluiu que o Brasil tem m.1is emprc~
"que decorre do desenvolvimento global na última gos ameaçados de extinção do que os Est.1dos Unidos (47'%,), porém vado de sua substância, vnle dizer: tornado pura português prevê:
décadn, com reflexos tanto na qualidade da execução menos que Europa (59%) e países como Uruguai (63'Y<>), Argentina substancia, perde a qunlidade substancial, que é de "Artigo 12º- Presunç5o de contrato de trabalho
quanto no controle das tarefas do empregado". Deste (65%) ~e Guatem.1.la, que te~ o. maior índice (75')'" dos empregos ser tratado pelo outros como um semelhante. Han-
modo, resta configumdo o direito as horas extras, poder.m ser exerctdos por maqumas). Acredíta·sc que S.l% das pes- 1 -Presume-se a existência de contrato de traba-
quando comprovado que empresn fornecia e contro- soas ocupadas em funções cl.1ssiftcadus com probabilidude "alta" lho quando, na relação entre a pessoa que presta uma
(60% a 80%) ou "muito i'l.ita" (acima de 80%) de serem substituí- (40) <https://ww\V j!o.org/wcmspS/ groups/publk/-europcl
lava, ainda que indiretamente, a jornada de tmbalho das por máquinas e ou inteligênd,1 artifidul. Funçôe::.· "tipicamentt: ·-· ro ·gc neva I-- i\o-! bbon I documenb I publica tion I wcms_ 677383
p~r. meio do celular corporativo; que o empregado rotin~iras e nJcxognitivus": Ex: .1scensorista de elevador (9{),9%) pdf, nce55o em: 30 nov. 2020> (42) LAFER, Celso." A Reconstruç;'ío dos Din.•itos Humanos: um
utilizava o celular para dar baixa nas visitas realizn- t.1qU1g~.1h? (99_5<:;,), coletor de hxo (89,3'}<.). T.uefas cognitivas de (41) <https://www .ilo.orglwcmsp.'il groups/ pub!k/·-t:urope I di.ilogo com o pen:;.1mento de Hunnab Arendt". Companhia d.1s
recepcmntsta de hotel (99,1%), cobrador de ônibus (99,3'!'.,) e gerente Letras, S.ío Puulo, J()SS, p. 150 11~'/llt' 151.
das diretamente no sistema da empresa. de almoxarifado (93,4%). -ro·geneva ( ilolisbonl documents/ publki'l hon I wcms _677383 .pdf>-
Acesso em: 30 no v. 2020. {43) Of1. cil,, p. 166.

Revista LTr. 86-05/600
actividade e outra ou outras que dela beneficiam, se
verifiquem algumns das seguintes características:
a) A actividade seja realizada em local pertencente
ao seu beneficiário ou por ele determinado;
b) Os equipamentos e instrumentos de trabalho
utilizados pertençam ao beneficiário da actividade;
c) O prestndor de nctividade observe horas de iní-
cio e de termo da prestação, determinadas pelo bene-
ficiário da mesma;
d) Seja paga, com determinada periodicidade,
uma quantia certa ao prestador de actividade, como
contrapartida da mesma;
e) O prestador de actividade desempenhe funções de
direcção ou chefia na estmtura orgânica da empresa.
2 - Constitui contra-ordenação muito grave
imputável ao empregador a prestação de actividade,
por forma aparentemente autónomn, em condições
características de contrato de trabalho, que possa
causar prejuízo ao trabalhador ou ao Estado.
3 -Em caso de reincidência, é aplicada a sanção
acessória de privação do direito a subsídio ou bene-
fício outorgado por entidade ou serviço público, por
período até dois anos.
4 - Pelo pagamento da coima, são solidaria-
mente responsáveis o empregador, as sociedades
que com este se encontrem em relações de participa-
ções recíprocas, de domínio ou de grupo, bem como
o gerente, administrador ou director, nas condições
a que se referem o artigo 334º e o n. 2 do artigo 335."
No Brasil, a Lei Maior determinou de forma clara
e expressa, no inciso XXVII, do artigo 7º, que o traba-
lho deve ter "proteçiio em face da automaçilo, na forma da
lei". A Emenda Constitucional85/15 sinaliz;J ;J explo-
ração das novas tecnologias "pro lwmine''. Isso não
significa que as novas tecnologi;Js não devem ser bar-
radas, mas que a sua evolução deve ser compatível
com a dimensão social, econômica e cultural. criadas,
desenvolvidas e utilizadas para o bem comum dos
seres humanos em suas inter-relações e, não como
mecanismo criador de maiores disparidades sociais
e exclusão social, sob pena de violação frontal à ratío
da Constituição.
A Emenda Constitucional n. 85/15, traça clara-
mente a compatibilização ente ordem econômica
e soci;Jl, e fixa a fimçüo sócio-econômico-tecnológico da
empresa. De modo que a "plus valia" das novas tecno-
logias deve reverter em prol da sociedade, mediante:
a) proteção do mercado interno tecnológicos que intec;;ra
o patrimônio nacional; b) incentivo de modo a vi;bi-
lizar o desenvolvimento cultural e socioeconômico,
o bem-estar da população; c) viabilização da forma-
ção e aperfeiçoamento de seus recursos humanos e
que pratiquem sistemas de remuneraçüo que assegurem
ao empregado, desvinculada do salário, participaçüo 11os
ganhos econômicos resultantes da produtividade de seu
trabalho.
O art. 218, da Carta Federal estabelece que o
Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento
científico, a pesquisa, a capacitação científica e tecno-
V oi. 86, n!!: 05, Maio de
lógica e a inovação e que a pesquisa científica básica
e tecnológica receberá tratamento prioritário do
Estado, tendo em vista o bem público e o progresso
da ciência, tecnologia e inovação, voltada preponde-
rantemente para a solução dos problemas brasilei-
ros e para o desenvolvimento do sistema produtivo-
nacional e regional.
No paragrafo 3º, do artigo 218, estabelece que o
Estado apoianí a formação de recursos humanos
áreas de ciência, pesquisa, tecnologia e lo·va.cn<>
il"
inclusive por meio do apoio às atividades de
são tecnológica, e concederá aos que delas se ocupem
meios e condições especiais de trabalho.
E, especificamente, no que se refere ao trabalho
humano, o artigo 218, § 42, da Carta Federal esr<lOe<
Ieee que a lei apoiará e estimulará as empresas
invistam em pesquisa, criação de tecnologia
quada ao País, formação e aperfeiçoamento de
recursos humanos e que pratiquem sistemas de m.ml<flC·
ração que assegurem ao empregado, desvinculada do
rio, participação nos ganhos econômicos resultantes
produtividade de seu trabalho.
Há uma clara sinalização de proteção ao
cado interno tecnológico, no sentido que o mercado
interno integra o patrimônio nacional e será ínc:entiv·ad.o S
de modo a viabilizar o desenvolvimento cultural
socioeconômico, o bem-estar da população e a
nomia tecnológica do País, nos termos de lei federal.
Muito bem andou o legislador constituinte
ao assegurar uma sociedade justa, fraterna e
daria, sem discriminação ou desigualdades (art. 32,
CF/88), bem como assegurar os direitos sociais dos
trabalhadores em geral, independente do regime
clico de contratação privada (arts. 62, 72, 8º, 92,
201 e seguintes CF/88) pátrio. Ainda, andou bem o
legislador ordinário ao inovar, no parágrafo
artigo 6º, da CLT, ao estatuir que:
"Parágrafo único "os meios telemáticos e mtmm•'·
tizados de comando, controle e supervisão se
param, para fins de subordinação jurídica, aos
pessoais e diretos de comando, controle e supervisão
do trabalho alheio".
Enfim, o debate sobre as novas tecnologias e o
trabalho humano apenas começou. A preocupação
volta-se com a construção de uma Sociedade justa e
solidária: (i) a igualdade de tratamento do trabalho
digital platform worker em cotejo com o tr<tbatlh,a·'
dor comum; (ii) as garantias de direitos trabalhistas
e sociais; (iii) os direitos de personalidade, nas ver-
tentes do direito à intimidade e a vida privada do
trabalhador.
10. Conclusão
Inúmeras são as indagações que nos assombram:
O digital platform workcr pode ser considerado como
o novo modo d trabalho, apenas quanto a "t<,cnol<>-)
gia" empregada, mas com aplicação da mesma nor-
matividade celetista? Ou depende da análise de cada
caso concreto? O trabalho em pl;Jtaforma digital
pode ser reconduzível a fattispecie de trabalho subor-
Revista LTr. 86-05/601
V oi. 86, n2 OS, Maio de 2022
Quanto ao vetor humanitc.írio e de cidadania, não
dinado, ;;1gora na modalidade subordinaçllo algorit~
obstante as mudanças sociais, políticas, econômicas
mica? Os requisitos específicos do trabalho clássico
culturais e tecnológicas, a sociedade é constituída por
são aplicáveis à modalidade de trabalho em platafor-
seres humanos e deve para eles ser desenvolvida. De
mas digitais, tais como: liberdade do tempo-trabalho, acordo com a teoria antropocêntrica, do grego anthro-
liberdade de eleger o lugar da prestação de servi-
pos, "humano"; e, ke11trou, "centro", considera-se que
ços e, a ausência de vigilância constante e direta do o "ser humano'' deve ser o centro dos cuidados e de
empregador? Como tratar a questão da igualdade e preocupações. De modo que o trabalho em platafor-
da proteção mínima constitucional assegurada a tra- mas digitais deve ser analisado de acordo com a pre-
balho humano na plataforma digital? De que maneira missa do "homem contextualizado" e realizado em
pode o trabalhador participar da vida da empresa e seu favor "pro homine".
da vida sindical? Estas interrogações são fonte de
Não se olvide a função do Direito é o de regular
preocupações, pois os velhos problemas jurídicos do
e dar estabilidade social a determinada comunidade
antigo trabalho clássico hodiernamente, adquirem política e juridicamente organizada. Não há funda-
maior intensidade diante das novas tecnologias. mento plausível para a construção de um modelo
Mister se faz, assim, uma revisão, revaloração e social em que o homem passa a ser a figura secundá-
redefinição da dogmática do Direito do Trabalho, ria, com priorização dos meios telemáticos, informa-
uma (re)análise dos fundamentos do poder diretivo tizados, cibernéticos, digitais, inteligência artificial e
e as considerações sobre a subordinação jurídica. A algorítmica, como meio de "plus valia" em favoreci-
intenção é provocar um giro centrípeto de inclusão mento de alguns que dominam as "tecnologias" e ou
da "laboralidade protegida" ao menos na vala da tcle- em prol de mercado externo; em detrimento da pro-
subordinaçi'ío, subordinaçtio virtual, subordi11açrio algorít- teção da maioria dos trabalhadores e também mem-
mica, que tem 11a outra face a tcledírcção, direção virtual e bros da sociedade brasileira.
direçiio algorífluica. Quanto ao vetor segurança jurídica, a proteção ao
trabalho humano frente a automação, novas tecnolo-
As mesmas diretrizes aplicadas ao teletrabalha-
gias e inteligência artificial requer máxima urgência,
dor, podem e devem se aplicadas ao digital platfonn
para que seja dada segurança jurídica aos empreen-
workcr de acordo com a subordhwçílo estmtuml e inserçüo dedores e trabalhadores e evitar a precarização. O
do trabalhador na estmtura telenuítíca- cibemética-digítal sistema capitalista exige, para seu funcionamento,
do explorador da mão de obra humana.
a existência de meios de produção e de consumo,
Domvante deve ser levado em conta que os instntmento simbiose que não comporta divórcio. Não por outro
e ou maquinismo telemâtico apresenta uma multiftmção: motivo, o Reino Unido, a partir de 1807, passou a
é a um só tempo instrumento utilizado pelo empregador, pressionar o mundo pelo fim da escravatura, modali-
tomador ou intermcdüírio, para seleção, arregimentação, dade de trabalho que não permite a criação de grupo
contrataçüo, controle c fiscalização do trabalhado realizado consumidor, e que induz à total inutilidade da pro-
pelo empregado ou prestador de serviços. dução e do incremento dos meios produtivos.
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